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Ministério da Justiça - MJ Secretaria de Direito Económico - SDE Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor - DPDC Coordenação-Geral de Políticas e Relações de Consumo - CGPRC End.:Esplanada dos Ministérios. Bloco T- Edifício Sede - Sala 509 - Cep: 70064-900 - Brasília - DF Fone: (Oxx61)3429-31631 Fax: (Oxxól) 3429-9170Home Page: n-ww.mi.fov.brábdc OFÍCIO CIRCULAR N°3 X? /CGPRC/DPDC/SDE/MJ Brasília/DF, O h de fevereirode Aos Senhores Promotores de Defesa do Consumidor dos Ministérios Públicos Assunto: Encaminhamento de Nota Técnica e de Decisão Processo Administrativo 08012.004147/2002-11 Senhor (a) Dirigente, Cumprimentando-o (a) cordialmente, encaminhamos a Vossa Senhoria cópia da Nota Técnica 23-2009/CGAJ/DPDC/SDE e da Decisão 06/2008-DPDC/SDE de 16 de janeiro de 2009, (fls n°s 223 a 231), para conhecimento e providências que entenderem pertinentes. Atenciosamente, / -> PATRÍCIA GALDINO DE FARIA BARROS Coordenadora Geral de Políticas e Relações de Consumo CGPRC/DPDC/SDE

Ministério da Justiça - MJ Secretaria de Direito Económico ... · tratados no Código de Defesa do Consumidor".(fl. 133) Intimada para apresentar defesa, em 13 de abril de 2006,

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Ministério da Justiça - MJSecretaria de Direito Económico - SDE

Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor - DPDCCoordenação-Geral de Políticas e Relações de Consumo - CGPRC

End.:Esplanada dos Ministérios. Bloco T- Edifício Sede - Sala 509 - Cep: 70064-900 - Brasília - DFFone: (Oxx61)3429-31631 Fax: (Oxxól) 3429-9170Home Page: n-ww.mi.fov.brábdc

OFÍCIO CIRCULAR N°3 X? /CGPRC/DPDC/SDE/MJ

Brasília/DF, O h de fevereiro de

Aos Senhores Promotores de Defesa do Consumidor dos Ministérios Públicos

Assunto: Encaminhamento de Nota Técnica e de DecisãoProcesso Administrativo n° 08012.004147/2002-11

Senhor (a) Dirigente,

Cumprimentando-o (a) cordialmente, encaminhamos a VossaSenhoria cópia da Nota Técnica n° 23-2009/CGAJ/DPDC/SDE e da Decisão n°06/2008-DPDC/SDE de 16 de janeiro de 2009, (fls n°s 223 a 231), paraconhecimento e providências que entenderem pertinentes.

Atenciosamente,

/ ->

PATRÍCIA GALDINO DE FARIA BARROSCoordenadora Geral de Políticas e Relações de Consumo

CGPRC/DPDC/SDE

MINISTÉRIO DA JUSTIÇArARIADE DIREITO ECOTtfM:

SECRETARIÂlDE DIREITO ECONÓMICODEPARTAMENTO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR

COORDENAÇÃO-GERAL DE ASSUNTOS JURÍDICOS

Nota Técnica n.Protocolado:Data:Representante:Representada:Assunto:Ementa:

£3 -2009/CGAJ/DPDC/SDE08012.004147/2002-11

j e de oi de 2009.Associação Brasileira dos Produtores de CalDamasceno - Indústria e Comércio de CalDireito à Informação e colocação no mercado de produto impróprio aoconsumo.Processo Administrativo. Violação ao princípio da boa-fé e transparência(artigo 4°, caput eido Código de Defesa do Consumidor - CDC). Violaçãoao direito de informação (art. 6° III e 31 do CDC). Comercialização deproduto em desacordo com a norma técnica e inadequado ao fim a que sedestina (artigo 18, §6°, II e III e 39, caput e VIII do CDC). Aplicação demulta no valor de R$ 46.800 (quarenta e seis mil e oitocentos reais).

Sr. Coordenador-Geral de Assuntos Jurídicos,

F) Relatório

Consta nos autos averiguação preliminar instaurada em face da empresa DamascenoIndústria e Comércio de Cal, em virtude de denúncia encaminhada pela Associação Brasileira dosProdutores de Cal, tendo como objeto a suposta comercialização da "Cal Hidratada Damasceno" emdesacordo com a norma técnica específica do setor, a NBR 7175, bem como a inadequação doproduto para o fim a que se destina, (fls. 2 a 32 e anexo de fls. 33 a 74).

Afim de melhor instruir o procedimento este Departamento oficiou o InstitutoNacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Inmetro, para realização de análisestécnicas de conformidade no produto comercializado pela denunciada, a fim de se obter um laudotécnico oficial, que determinasse a real situação e composição da "Cal Hidratada Damasceno",principalmente em face da Norma 7175/92 da ABNT. Após todas as avaliações realizadas, deacordo com os ensaios divulgados ampla e publicamente pelo Inmetro, o produto não passou nostestes de granulometria, sendo a fornecedora notificada a prestar esclarecimentos ao respectivoórgão acerca dos resultados obtidos.

O processo administrativo foi, então, instaurado em face da representada foiinstaurado, em razão da constatação de indícios de infracão ao disposto nos artigos 4°, caput e I; 6°III; 18, §6° II e III; 31 e 39 caput e VIII; todos do Código de Defesa do Consumidor e no artigo 12,DC, 'a' e 'd' do Decreto n. 2.181/97, como restou verificado na Nota Técnica da Coordenação-Oeralde Assuntos Jurídicos, cujo trecho se transcreve:

"[...] ao comercializar um produto em desobediência às normas técnicas da ABNT enão informar adequadamente ao consumidor sobre a qualidade do mesmo, arepresentada colocou no mercado produto inadequado ao uso, além de não fornecerinformação indispensável ao consumidor, caracterizando vício de qualidade e de

informação, assim como também uma ofensa ao princípio da transparência e bia-fétratados no Código de Defesa do Consumidor".(fl. 133)

Intimada para apresentar defesa, em 13 de abril de 2006, a representada alegou,síntese, que "a inicial inadequação do produto 'cal hidratada' deu-se por absolutodesconhecimento do fato irregular, porém que não mais causa prejuízo para o consumidor e,ainda, dito senão verificou-se por pouquíssimo e exíguo tempo, já que as medidas saneadorasforam de logo adotadas ".(fls. 143/146). Foi juntada, ainda, cópia de documentos relativos aoInquérito Civil 011/2004 promovido pelo Ministério Público do Estado da Bahia, dentre os quais o"Termo de Compromisso de Ajustamento N.12/2004-PJC" firmado com o objetivo de a denunciadaadequar-se aos tennos da norma regulatória vigente.

Após solicitação dos representantes legais da Associação Brasileira dos Produtoresde Cal, foi realizada audiência neste Departamento, no dia 22 de setembro de 2006, oportunidade naqual foi informada a realização de novos laudos de avaliação da conformidade das empresasfabricantes de cal hidratada, conforme a Ata n. 20/2006 (fls. 184 e 185). Foi juntado,posteriormente, extrato comparativo entre os produtos comercializados nos anos de 2001 e 2006,ressalvando-se que, desde maio de 2004, não têm sido encontrada nas revendas de materiais deconstrução cal hidratada produzida pela denunciada.

Devidamente notificada para apresentação de alegações finais (fls. 205), arepresentada ratificou os argumentos de defesa e acrescentou, em síntese, que suspendeu asatividades com o produto "cal hidratada", quando ciente da irregularidade, voltando a comercializá-lo apenas quando adequou sua produção aos termos da NBR 7175/03 (fls. 207/209). Foi juntada,igualmente, cópias de laudos expedidos pelo laboratório do CEPED/UNEB demonstrando aconformidade da empresa aos tennos da norma regulatória de produção e comercialização de calhidratada (fls. 210/214).

Por fim, após solicitação dos representantes legais da Associação Brasileira dosProdutores de Cal, foi realizada audiência neste Departamento, no dia 30 de janeiro de 2007,quando foram reiterados pela denunciante os aspectos técnicos de fato e de direito, conforme a Atan. 02/2007 (fls. 217).

É o relatório.

II) Pás razões da representada

Insurgiu-se a representada contra decisão proferida pelo Sr. Diretor do Departamentode Proteção e Defesa do Consumidor, publicada no Diário Oficial da União em 13 de abril de 2006,por meio da qual foi determinada a instauração de processo administrativo vislumbrando apossibilidade de infração ao disposto nos artigos 4°, caput e I; 6°, I, III, IV e VI; 18, §6° II e III; 24;31 e 39 caput e VIII, todos do Código de Defesa do Consumidor e no artigo 12, DC, 'a' e 'd' doDecreto n. 2.181/97.

Em suas razões de defesa, a representada alegou, primeiramente, que já promoveu aadequação de seus produtos aos termos da Norma NBR 7175/03, tendo em vista a existência deTermo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público do Estado da Bahia, segundoo qual, num prazo de seis meses a contar de sua assinatura, a representada forneceria cal hidratadaobedecendo às normas da ABNT e abstendo-se de comercializar o referido produto enquanto nãopromovesse as adequações necessárias, o que se comprovaria por análises laboratoriais bimestrais aserem encaminhadas ao "Parquet" durante um ano (fls. 143/146).

Por fim, informou que recebeu o relatório dos ensaios realizados pelo Inmetro^ de. f J -acordo com o qual o seu produto não atendeu os limites especificados pela NBR 7175 no ensaio, de &finura, e "visando cumprir as exigências para solucionar o problema da granulometria do seirproduto, a representada firmou contrato de financiamento de crédito com o Banco do Brasil S.A,para aquisição de novos equipamentos que atendessem ao normativo legar (fl. 145).

Iin Do Mérito

3.1. Do descumorimento ao direito básico de informar previsto no Código de Defesa doConsumidor.

O Código de Defesa do Consumidor constitui um microssistema jurídico quedetermina a prevalência dos princípios da boa-fé e transparência nas relações de consumo, com ointuito de garantir a harmonização do interesse das partes. Tais princípios estão previstosexpressamente no artigo 4° do referido Codex, determinando que o consumidor e o fornecedorcontratem com lealdade e segurança recíprocas.

Considerando, pois, o necessário alinhamento dos valores e princípiosorganizacionais das empresas com a política de oferta dos produtos e serviços no mercado, apreocupação em relação à informação que é dirigida ao consumidor, bem como à adequação aoconsumo apresenta-se como um indicativo sensível e revelador dos padrões éticos das relações deconsumo.

Deve-se observar, inicialmente, que as informações sobre os produtos/serviços,transmitidas ao consumidor na fase pré-contratual, são essenciais para a garantia de um consumoadequado, configurando-se como um direito básico, assegurado no artigo 6°, III, da Lei n. 8.078/90.É o que ensina Cláudia Lima Marques:

"Enquanto tratado como simples dever secundário pela doutrina contratual, odever de indicação e esclarecimento tinha origem somente no princípiojurisprudencial de boa fé e só atingia determinadas circunstâncias consideradaspelo Judiciário como relevantes contratualmente. Era um dever de cooperaçãoentre contratantes, portanto, restrito pelos interesses individuais (e comerciais)de cada um. No sistema do CPC este dever assume proporções de deverbásico, verdadeiro ónus imposto aos fornecedores, obrigação agora legal.cabendo ao art. 31 do CDC determinar quais os aspectos relevantes a seremobrigatoriamente informados"' (grifo nosso)

Com efeito, o legislador pátrio conferiu proteção ao consumidor não apenas durantea relação contratual, mas principalmente no momento em que antecede a concretização do contrato.Há que se ater ao fato de que o consumidor não detém os conhecimentos técnicos acerca daprodução e distribuição dos produtos, de forma que o fornecedor possui a obrigação de informá-lopreviamente a respeito das características, qualidades, composição, entre outros dados essenciaisdos produtos que oferece no mercado.

No presente caso, da análise da cópia da embalagem acostada aos autos (fls. 67),verifica-se que o produto "Cal Hidratada Damasceno" é identificado ostensivamente como "CALHIDRATADA", todavia não constam quaisquer indicações acerca de sua composição, omitindo-se

MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2'ed., p. 242 - grifos nossos.

a representada de informar ao consumidor acerca de dado essencial do produto que certamente O Linfluenciaria na sua decisão de compra. O mesmo pode ser constatado da análise da embalagera^juntada às fl. 123 dos autos.

Cumpre salientar, outrossim, que a Norma n. 7175 da Associação Brasileira deNormas Técnicas - ABNT, que trata da Cal Hidratada para Argamassas, possui disposiçãoespecífica no sentido de que o produto comercializado em sacos deverá possuir impresso nestes, deforma visível, em cada extremidade, a sigla CH-I, CH-II ou CH-III, o que especifica e esclarece aoconsumidor o tipo de cal fabricada. Em análise oficial realizada com o fito de verificar a situação domercado de cal hidratada, o Instituto Nacional de Metrologia e Qualidade Industrial (Inmetro)asseverou quanto à necessidade de tal informação constar na embalagem:

"É importante destacar que a cal hidratada pode ser classificada em três tipos: CHI, CH n e CH III. Todos os tipos têm que ser submetidos aos mesmos ensaios, masas exigências de resultados melhores para a cal CH I são maiores do que para a CHn, que exigem mais do que para a CH Itt Isto significa que se o consumidor quiseruma cal mais "pura" ele deve adquirir uma CH I, já que para ser definida destamaneira, seus resultados obedecem a limites acima dos exigidos para a CH ID. Otipo CH D seria o meio termo. Esta informado deve estar presente naembalagem do produto (grifo nosso)

Não obstante tal determinação, apesar de ser comercializado em sacos, o produto emquestão não apresenta na embalagem a referência do tipo de cal hidratada que é ofertada (CH-I,CH-II ou CH-III), constando apenas, à frente, a marca e o nome do fabricante. O consumidor, dessaforma, não tem o conhecimento prévio acerca da qualidade da cal hidratada, se mais pura ou não, eadquire o produto sem a certeza de que esse corresponderá as suas necessidades.

Vislumbra-se, nesta conjuntura, clara ofensa aos princípios da boa-fé e transparência,bem como violação ao direito básico do consumidor à informação, tratado pela Lei n. 8.078/90,tanto em sua sustentação principiológica, nos artigos 4° e 6°, como também no artigo 31, que diz:

"A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informaçõescorreias, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suascaracterísticas, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos devalidade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam àsaúde e segurança dos consumidores"

Deveras, o mencionado dispositivo legal impõe ao fornecedor o dever de beminformar aos consumidores acerca das características essenciais dos produtos ou serviços que insereno mercado, o que se consubstancia em um autêntico instrumento de prevenção de danos. Deacordo o Ministro Castro Filho do Superior Tribunal de Justiça, nos autos do Recurso Especial n.81269/SP, em decisão publicada em 25 de junho de 2001:

"Na sociedade de consumo, o consumidor, muitas vezes, propositalmente, é malinformado. E. em informado incompleta, pode ficar privado de fazer umaescolha livre e de sua maior conveniência.Em consequência, faz necessária a intervenção do Estado para assegurar, face aomau funcionamento do mercado, que as informações imprescindíveis sejamprestadas aos consumidores (...)" (grifo nosso)

2 http://www.innietro.gov.br/consuniidor/produtos/calhidratada.a8DtfensaiQS. acessado em 12/01/2009.

No que tange especificamente ao mercado ̂ e cal hidratada, a informaçãoacerca da qualidade e composição dos produtos assume papel ainda mais importante na garanti!adequada de consumo. Isso porque a cal hidratada possui a função precípua de fixar materiais deconstrução civil e o seu poder aglomerante depende do percentual de óxidos totais presentes nacomposição do produto. Ocorre que cada tipo de cal pode apresentar diferentes teores de óxidos nãohidratados e de carbonatos, o que influencia no seu desempenho final nas argamassas, daí arelevância das informações que deveriam estar acostadas na embalagem do produto.

O Inmetro, quando da apresentação dos resultados obtidos nos ensaios realizados emamostras de produtos, salientou oportunamente que:

"A análise das amostras de cal hidratada está de acordo com o procedimento doPrograma de Análise de Produtos, visto que é um produto muito consumido eobserva-se que o consumidor necessita de maiores informações, corretas cclaras na obtenção deste produto nos prontos de venda, a fim de que oproduto adquirido atenda realmente às suas necessidades, garantido oatendimento ao Código de Protecão e Defesa do Consumidor.'^ f grifo nosso)

Por fim, importante consignar apenas a alegação da representada de que não maisdefine em suas embalagens a cal por ela produzida como hidratada (fls. 93 e 123). Tal alegação nãomerece prosperar tendo em vista que o que se observa às fls. 123 dos autos é apenas a alteração daidentificação do produto na embalagem para "Cal combinada com Água", que nada mais é que adenominação informal da Cal Hidratada, não eximindo assim a denunciada do dever de atender aospreceitos da NBR 7175/92 também para aqueles produtos.

3.2. Pa colocação no mercado de consumo de produto cm desacordo com norma técnica eiimdcQUfldo 8o fim n QUC se destina» eni violação 8o Código de Pefcsfl do Consumidor

Neste contexto, outra questão que merece atenção refere-se ao cumprimento do deverlegal do fornecedor de garantir padrões de qualidade e desempenho dos produtos e serviços quecoloca no mercado é exatamente o que dá corpo ao princípio basilar da confiança, instituído pelaLei n. 8.078/90. De acordo com os ensinamentos de Cláudia Lima Marques,

"No sistema do CDC, leis imperativas irão proteger a confiança que oconsumidor depositou no vínculo contratual, mais especificamente na prestaçãocontratual, na sua adequação ao fim que razoavelmente dela se espera, irãoproteger também a confiança que o consumidor deposita na segurança doproduto ou do serviço colocado no mercado".4 (grifo nosso)

Conforme já salientado anteriormente, o consumidor não detém os conhecimentostécnicos acerca da fabricação dos produtos e, no momento da aquisição, cria a legítima expectativade que são apropriados ao uso e consumo, depositando sua confiança no resultado final da atividadedo fornecedor. Vislumbrando tal conjuntura, o legislador pátrio conferiu protecão ao consumidor,de modo que lhe fosse garantida a oferta de produtos de qualidade e, principalmente, adequados aosfins a que se destinam.

No presente caso, o produto fabricado e comercializado pela ora representadatratava-se de cal hidratada, cujas características exigíveis são fixadas pela NBR 7175, que versaespecificamente sobre "Cal Hidratada destinada a ser empregada em Argamassas para a Construção

3 http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/calhidratada.asp , acessado em 20.05.2008.Marques, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 4" ed. São Paulo: RT, 2002. pág. 979.

Civil". Segunde es t>arâmetios vigentes à época do recebimento da denúncia (fls. 64/65),atender às condições físicas adequadas, a cal hidratada deveria apresentar retenção acumulimáxima de 0,5% na peneira 0,600 mm (n. 30) e 15% na peneira 0,075 mm (n. 200). Sãojustamente, esses percentuais limites que garantem a finura do produto auxiliando na sua melhoraplicação nas argamassas, dando ao produto final maior durabilidade e segurança, evitando-se aindacomprometimento da saúde dos consumidores.

O Instituto Nacional de Metrologia e Qualidade Industrial (Inmetro), nos termos dorelatório oficial elaborado pelo Programa de Análises de Produtos e realizado com o fito deverificar a situação do mercado de cal hidratada, esclarece que,

"Por ser um produto muito fino, a cal, funciona como um perfeito lubrificante,que reduz o atrito entre os grãos da areia presentes na argamassa,proporcionando uma boa 'liga' à massa, ainda fresca, o que permite uma melhoraplicação. Os ensaios que pertencem a esta categoria [ensaios fisicos] verificamse a cal foi bem molda no processo de fabricação, se é económica, se é boa parao pedreiro trabalhar com ela e se a argamassa desta cal retém a água da misturaou a perde para a parede onde a argamassa foi assentada. Neste ensaio [Finura]faz-se um peneiramento das amostras, em duas peneiras diferentes, e verifica-sequanto de material ficou retido em cada peneira. A norma especifica um valormáximo para estas quantidades, por que quantidades maiores do que asespecificadas demonstram que a cal não foi bem moída".5

Da mesma forma, o Instituto de Tecnologia de Sistema em Engenharia Ltda.(TESIS), órgão gestor do "Programa da Qualidade da Cal Hidratada" - programa setorial dequalidade registrado no "Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat", promovidopelo Ministério das Cidades6, elaborou relatório de acordo com o qual:

"Com relação aos requisitos fisicos, pode-se dizer que quanto maior for aporcentagem de material fino no interior da cal hidratada, maior será a suaretenção de água e plasticidade, duas propriedades das argamassas que maiscontribuem para a perfeita união de elementos construtivos (tijolos, blocos, etc).A granulometria adequada da cal hidratada proporcionará também uma maiorcapacidade de incorporação de areia na mesma, aumentado o seu rendimento naconfecção das argamassas. Por outro lado, o alto teor de material grosso nascales podem implicar em problemas de estabilidade (...) A presença departículas com grannlometrias superiores aos valores especificados naNBR 7175/92 podem comprometer a estabilidade das cales, possibilitando oaparecimento de trincas, fissuras ou o descolamento das argamassas" (fls.54 - grifo nosso).

Não obstante os parâmetros, então, exigidos pela NBR 7175, o TESIS, ao testar aqualidade de cales hidratadas fabricadas e comercializadas por diversas empresas no período entre01 de outubro de 1996 e 27 de junho de 2001, constatou que a cal hidratada da marca"DAMASCENO", fabricada pela representada, apresentou granulometria inadequada, conforme seconstata dos resultados da analise:

"Analisando os resultados obtidos, verificam-se que 83% das amostrasauditadas apresentaram teores de material retido na peneira no. 30 superiores aolimite estabelecido na norma NBR 7175, atingindo em média valores até 24vezes superiores ao limite máximo para esta peneira. Com relação à peneira no.

5 http://www.inmetro.Bov.br/consumidor/orodutos/calhidratada.aaD. acossado em 13.01.2009.6 http://www2.cidades.gov.br/pbaD-h/oroietos simac pSQ82.ohp?id psq=49 acessado em 13.01.2009.

4 -200 observa-se que uma amostra apenas se apresentou em não conformidade, oque demonstra que o produto possui partículas excessivamente grossas, mu^lomais danosas á estabilidade do produto", (fl. 62)

Cumpre atentar-se, neste cenário, à declaração da própria representada às fls. 93 dosautos, nos termos da qual reconhece as deficiências apontadas em seu produto e atesta odesconhecimento da existência de urna norma que regulamenta a produção de cal hidratada. Talfato, somado ao Termo de Compromisso de Ajustamento (fls. 160 a 163) firmado com o MinistérioPúblico do Estado da Bahia, segundo o qual admite ter comercializado cal hidratada emdesconformidade com as normas técnicas NBR 7175 e se compromete a adequar sua produção numprazo de seis meses da sua assinatura, acabam por confirmar os termos da presente denúncia e odescumprimento aos termos da norma regulatória vingente.

Desse modo, verifica-se que a cal hidratada outrora fabricada e comercializada pelarepresentada não atendia a sua pecípua finalidade, porquanto não apresentava o desempenhoesperado na preparação das argamassas, fato que coloca potencialmente em risco a saúde esegurança do consumidor. Uma vez caracterizado o desacordo em relação à norma técnicaespecífica, bem como a inadequação ao fim a que se destina, está-se diante de um produtoimpróprio ao consumo, como prevê expressamente o artigo 18, §6°, incisos II e III do Código deDefesa do Consumidor,

"São impróprios ao uso e consumo:I - os produtos cujos prazos de validades estejam vencidos;n - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados,corrompidos, fraudados, nocvios à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aquelesem desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuiçãoou apresentação;III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fima que se destinam" (grifo nosso)

Impõe-se ressaltar que as normas técnicas expedidas pela ABNT, no caso de nãoexistirem normas específicas expedidas pelos órgãos públicos competentes, revestem-se de caráterobrigatório, conforme entendimento consubstanciado na Nota Técnica n. 318/DPDC/2006 efundamentado com base no artigo 39, inciso VHI, da Lei n. 8.078/90, o qual assinala o seudescumprimento como prática abusiva. Cumpre frisar que as normas técnicas possuem a significativafunção de ditar os padrões mínimos de qualidade dos produtos e serviços, de forma a garantir aadequação destes ao consumo e, conseqúentemente, a satisfação do consumidor. Conforme bemassevera o Ministro do Superior Tribunal de Justiça, António Herman V. Benjamin:

"A qualidade é, sem dúvida, o objetivo maior da normalização. No mercadopós-industrial é impossível alcançar-se a qualidade - como padrão universal -sem um esforço de normalização. Não é por outra razão que se diz que 'aqualidade tem ligações tão estreitas com a normalização que podem serconsideradas como indispensáveis: a espiral da normalização acompanhasempre a da qualidade".

Em sua defesa, a representada alega que, após a assinatura do Termo de•mpromisso de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público estadual da Bahia, promoveu a

adequação do seu produto, apresentando-se, assim, dentro dos critérios exigidos pela norma técnica

' '?^IN°VER' Ada Pelkgrini. et. ai. Código de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteproieto Ted. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001. pág. 327/328.

• 3,específica de cal hidratada,« busca comprovar anualidade do seu produto por meio de relatórios de tflaudos técnicos realizados em seus produtos nos anos de 2004 e 2005 pelo Centro de Pesquisa e fDesenvolvimento da Universidade do estado da Bahia, cujos resultados demonstram a evoluçãoproduto até sua conformidade com os limites especificados em norma técnica (fls. 210/214), mpelo qual defende a improcedência da denúncia. Observa-se, entretanto, que em 2004, em ensaio à"Damasceno" realizado pelo Inmetro, foram apuradas inconformidades em relação àproduto exigida pela NBR 7175; resultados dos quais a empresa foi devidamente intimada pelorespectivo órgão.

Ora, não procede a argumentação da representada, visto que o produto "CalHidratada Damasceno", apesar da alegada adequação aos termos da norma específica, continuou aser comercializada, não havendo qualquer comprovação nos autos de que os lotes do produto emdesconformidade com a regulamentação, objeto da presente denúncia, foram retirados decomercialização evitando assim que outros consumidores viessem a adquirir produtos fora dospadrões de qualidade exigidos pelos normas regulatórias.

Importante consignar ainda que, mesmo que os novos produtos fossem adequados aoconsumo, tal fato não elidiria a sua responsabilidade pela anterior colocação de produtos imprópriosno mercado de consumo e a exposição dos consumidores a potenciais riscos à saúde e segurança.Não se deve olvidar que um produto julgado como impróprio ao consumo, após análise de novasamostras, pode tornar-se próprio, assim como o inverso, o que não afasta, de forma alguma, aresponsabilidade do fornecedor pela prática levada a efeito.

Diante de todo o exposto, os autos fornecem suficientes provas da inobservância aospreceitos do Código de Defesa do Consumidor, mostrando-se necessária a intervenção desse órgão,tendo em vista que a representada, Damasceno - Indústria e Comércio de Cal, afrontou o dispostonos artigos 4°, caput s I; 6° III; 18, §6° II e III; 31 e 39 caput e VIII; todos do Código de Defesa doConsumidor.

IV) Conclusão:

Por conseguinte, considerando a gravidade e a extensão da lesão causada a milharesde consumidores em todo o país, a vantagem auferida e a condição económica da empresa, nostermos do artigo 57 da Lei n. 8.078/90, opino pela aplicação da pena de R$ 46.800 (quarenta e seismil e oitocentos reais), tendo sido adotados como critérios de imposição de pena o consumo "percapita" por ano8 e a média do preço dos produtos comercializados diretamente aos consumidores,combinado com o disposto nos artigos 25 II, III e 26 III e VI, ambos do Decreto n. 2.181/97, pois aprática infrativa além de causar riscos à saúde e segurança do consumidor, perpetuou-se no tempo,causando um dano à coletividade de consumidores. Sugere-se, ainda, que a representada deposite ovalor definitivo da multa em favor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos, nos termos daResolução CFDD n. 16, de 08 de março de 2005, consoante determina o artigo 29 do Decreto n.2.181/97 e a expedição de oficio circular aos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional deDefesa do Consumidor, dando ciência e encaminhando cópia da decisão em tela.

HUMBERTO RODRIGUES QUEIROZ ANDREIA ARAÚJO PORTELLAAssistente Técnico Chefe de Divisão

' httoV/www.inmetro.gov.br/consumidor/orodutos/calhidratada.asD. acessado em 13/01/2009.

33.1De acordo. AoHSenhor Diretor. [•/

ff

,,UJRY MARTINS DE OLIVA

Coordenador Geral de Assuntos Jurídicos

Decisão n. O b /2009 - DPDC/SDE Data: ^ 6 / &i /2009

Em acolhimento às razões técnicas consubstanciadas na Nota Técnica supra,adotando-a como motivação e, desse modo, considerando a gravidade e a extensão da lesão causadaa milhares de consumidores em todo o país, a vantagem auferida, bem como a condição económicada empresa, nos termos do artigo 57 da Lei n. 8.078/90 e dos artigos 25 II e II e 26 III e VI doDecreto n. 2.181/97, aplico à representada a sanção de multa no valor de RS 46.800 (quarenta e seismil e oitocentos reais), devendo o valor definitivo ser depositado em favor do Fundo de Defesa deDireitos Difusos, nos termos da Resolução CFDD n. 16, de 08 de marco de 2005, consoantedetermina o artigo 29 do Decreto n. 2.181/97.

Intime-se a representada para ciência e cumprimento da presente decisão. Determino,por fim, a expedição de oficio circular aos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional deDefesa do Consumidor, dando ciência e encaminhando cópia da presente decisão.

Publique-se.

RICARDO MORISHITA WADADiretor do DPDC