Ministerio Publico Rozangela Cardozo

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    Ministrio Pblico Estadual Luz da Constituio de 1988

    Rozangela Valria Cardozo

    1. Introduo

    O Ministrio Pblico vem ocupando posio cada vez mais destacada na

    organizao do Estado, dado o alargamento de suas funes de proteo de direitos

    indisponveis e de interesses coletivos.

    Neste estudo analisaremos a posio que a Constituio Federal deu para a

    instituio, apontando seus princpios, funes, garantias e vedaes, bem como sua

    importncia para a consecuo da justia no pas.

    2. Noes Gerais

    Em seu artigo 127 a atual Constituio da Repblica Federativa do Brasil (2008,

    p.96) afirma que O Ministrio Pblico instituio permanente, essencial funo

    jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurdica, do regime

    democrtico e dos interesses sociais e individuais indisponveis. (CRFB, 1989) Com

    isso nossa carta magna mostra a imensa importncia que a instituio ora em estudo tem

    para o pas.

    Contudo, em sua origem remota, o Ministrio Pblico (MP) no possua

    exatamente essa funo, segundo Antonio Cintra, Ada Grinover e Cndido Dinamarco;

    Foi numa ordonnance francesa do incio do sculo XIV que pela primeira vez se fez

    meno a ele, porm na qualidade de mero encarregado da defesa judicial dos interesses

    do soberano. (GRINOVER, 2001) Felizmente isso mudou e a cada novo sculo o MP

    ganha maior importncia e independncia, sendo hoje um rgo essencial consecuo

    da justia e manuteno do Estado Democrtico de Direito.

    A Propsito da instituio, podemos lembrar uma passagem de Calamandrei:Entre todos os cargos judicirios, o mais difcil, segundo me parece, o do

    Ministrio Pblico. Este, como sustentculo da acusao, devia ser to parcial

    quanto um advogado; como guarda inflexvel da lei, deveria ser to imparcial

    quanto um juiz.

    Advogado sem paixo, juiz sem imparcialidade, tal o absurdo psicolgico no

    qual o Ministrio Pblico, se no adquirir o sentido do equilbrio, se arrisca,

    momento a momento, a perder, por amor da sinceridade, a generosa

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    combatividade do defensor ou do amor da polmica, a objetividade sem paixo

    do magistrado. (CALAMANDREI, 1991).

    Este brilhante pensamento mostra o quo complica, porm importantssima a

    funo exercida pelos membros doparquetem nossa sociedade.

    3. Princpios

    Dentre os princpios que regem o trabalho da instituio, destacamos os trs

    constantes na prpria Constituio Federal e outro na esfera doutrinria, porm de no

    menor importncia do que os constitucionais.

    No Art. 127 1 a nossa Carta Poltica assevera que So princpios

    institucionais do Ministrio Pblico a unidade, a indivisibilidade e a independncia

    funcional.

    O princpio da unidade, segundo Hugo Nigro Mazzili significa que os

    promotores e procuradores de um Estado integram um s rgo sob a direo de um s

    chefe enquanto o princpio da indivisibilidade, para o mesmo autor, significa que seus

    membros podem ser substitudos uns pelos outros, porm, no de forma arbitrria, mas

    segundo a estabelecida em lei. (MAZZILI, 1989).

    Ambos os princpios so muito parecidos, convergindo na concluso de que o

    Ministrio Pblico uma instituio una, cujos membros fazem parte de uma mesma

    instituio e que os trabalhos so exercidos em nome desse rgo e no pelos seus

    agentes individualmente, pois como afirma Pedro Lenza: quem atua no o promotor

    individualmente, mas o MP (LENZA, 2007), disso decorrendo a possibilidade de um

    promotor poder ser substitudo por outro (conforme a lei), pois quem est na causa no

    o promotor, mas o prprioParquet.

    J o princpio da independncia funcional significa, em primeira anlise, que

    cada membro da instituio age segundo sua prpria conscincia jurdica, submetendo-se apenas s leis e constituio, sem interferncia de nenhum dos poderes, nem mesmo

    dos rgos superiores do prprio Ministrio Pblico. Tal independncia primordial

    para que o MP possa exercer suas funes constitucionais de forma justa e imparcial.

    Alm disso, tal princpio garante que o rgo tenha competncia para observado

    o disposto no Art. 169, propor ao Poder Legislativo a criao e extino de seus cargos

    e servios auxiliares, provendo-os por concurso pblico de provas ou de provas e

    ttulos, a poltica remuneratria e os planos de carreira e para elaborar sua propostaoramentria dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes oramentrias.

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    Com isso o MP se torna independente dos outros poderes, sendo, inclusive,

    discutido por alguns autores se a instituio seria ou no uma espcie de quarto Poder,

    j que no se submete a nenhum dos outros. Contudo, o renomado constitucionalista

    Jos Afonso da Silva, opina da seguinte forma:

    No aceitvel a tese de alguns que querem ver na instituio um quarto

    Poder do Estado, pois suas atribuies, mesmo ampliadas, so ontologicamente de

    natureza executiva, sendo, pois uma instituio vinculada ao Poder Executivo,

    funcionalmente independente. (SILVA, 2006).

    A opinio de Jos Afonso, contudo, no amparada pelo texto constitucional,

    que colocou o MP em captulo apartado do referente ao Poder Executivo, levando-nos a

    concluso de que oParquetno est vinculado a nenhum dos trs poderes, no obstante

    exercer funes executivas.Outro princpio importantssimo, mas que no fora includo no texto

    constitucional, o que garante o direito ao Promotor Natural que segundo Coelho:

    Pelo princpio do promotor natural estaria impedida a criao da figura do

    promotor de exceo. Conceitualmente, pois, poderamos dizer que tal princpio

    assegura que a independncia funcional do membro do Parquet e mesmo os direitos

    subjetivos do cidado somente so respeitados na medida em que sejam vedadas

    designaes arbitrrias de membros do Ministrio Pblico para uma Promotoria ou

    Procuradoria de Justia ou para as funes de Promotor ou Procurador, com prejuzo

    das atribuies e prerrogativas legais do ocupante natural do cargo, segundo os

    critrios abstratos e pr-determinados pela lei. (COELHO, 2006).

    Assim como o princpio do juiz natural fundamental para que se tenha um

    devido processo legal, tambm de extrema importncia a no existncia de promotor

    de exceo e que todos os membros do MP tenham autonomia para buscar a realizao

    da justia em cada caso em que atue.

    4. Funes

    O Artigo 129 da Constituio Federal aponta, em seus incisos, as principais

    funes do Ministrio Pblico, dentre elas destacamos: 1) A promoo, privativa, da

    ao penal pblica; 2) Zelar pela proteo, por parte dos poderes pblicos, dos direitos

    garantidos na constituio; 3) Promover o inqurito e a ao civil pblica na defesa dos

    direitos difusos e coletivos; 4) promover a ao de inconstitucionalidade ou

    representao para fins de interveno da Unio e dos Estados, nos casos previstos na

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    Constituio; 5) Defender, no judicirio, os direitos das populaes indgenas; 6)

    Exercer o controle externo da atividade policial.

    Alm dessas, a constituio tambm elenca outras funes que podem ser

    analisadas na consulta ao artigo 129 da Carta Magna. A considerao desse dispositivo

    constitucional nos permite perceber o quo significativo o papel exercido pela

    instituio, hora em estudo, na busca pela garantia do Estado Democrtico de Direito

    em nosso pas.

    5. Garantias

    O artigo 128 da Carta Poltica brasileira aponta como garantia dos membros do

    parquet a vitaliciedade (aps dois anos de exerccio do cargo), a irredutibilidade de

    subsdios e a inamobilidade (salvo por motivo de interesse pblico, respeitado o

    contraditrio e a ampla defesa).

    A vitaliciedade garante que os promotores e procuradores, decorrido os dois

    anos de estgio probatrio, s percam seu cargo mediante deciso judicial transitada em

    julgado. Tal medida visa assegurar que os membros da instituio tenham tranquilidade

    para atuar sem qualquer temor de represlias.

    Com a irredutibilidade de subsdios, fica assegurado que por nenhuma razo os

    membros do Ministrio Pblico tero seus subsdios reduzidos, contudo, essa garantia

    no abrange as perdas salariais oriundas de variao inflacionria.

    A inamobilidade, por sua vez, garante que nenhum integrante do parquet seja

    removido da sede de suas funes sem que tenha autorizado, ou que pelo menos haja

    motivo de interesse pblico, assegurado neste caso, o direito ao contraditrio e a ampla

    defesa.

    6. Vedaes

    vedado aos membros no Ministrio Pblico, nos dizeres do art. 128 5 inc.

    II, da CRFB (2008 p. 97):

    a) receber, a qualquer ttulo e sob qualquer pretexto, honorrios, percentagens ou

    custas processuais; b) exercer a advocacia; c) participar de sociedade comercial, na

    forma da lei; d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra funo pblica,

    salvo uma de magistrio; e) exercer atividade poltico-partidria. f) receber, a

    qualquer ttulo ou pretexto, auxlios ou contribuies de pessoas fsicas, entidades

    pblicas ou privadas, ressalvadas as excees previstas em lei.

    No h necessidade de nos prendermos explicao de cada uma dessas

    vedaes. Nos limitamos a transcrever o que o diz o promotor de justia Mrio Jos de

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    Lima, para quem as vedaes: servem para assegurar que o promotor no possua

    nenhuma espcie de relao ou atividade que prejudique sua imparcialidade. (LIMA,

    1999).

    O que denota a imensa preocupao do constituinte em que os membros do

    parquetexercessem suas funes de forma imparcial e justa.

    7. Consideraes Finais

    Foi com grande acerto que nossa Constituio inclui o Ministrio Pblico entre

    as funes essenciais justia, pois conforme fora analisado, o papel exercido pelos

    membros do MP de vital importncia para que se consiga alcanar, ou pelo menos se

    aproximar da verdadeira equidade.

    , portanto, essencial que essa instituio obtenha cada vez mais fora para

    conseguir cumprir, de forma satisfatria, as suas funes.

    8. Referncias:

    CALAMANDREI, Piero. Chiovenda: Lembranas de Juristas. 1. ed. Rio deJaneiro. LZN Editores, 2003.

    CINTRA, Antnio Carlos de Arajo; DINAMARCO, Cndido Rangel;

    GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria geral do processo. 17. ed. So Paulo: MalheirosEditores, 2001.

    COELHO, Inocncio Mrtires. O ministrio pblico na constituio de 1988. RT

    668/228. 2006. Disponvel em: . Acesso

    em: 09 out. 2009.

    LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 11. ed. So Paulo: Editora

    Mtodo, 2007.

    LIMA, Mrio Jos. Noes acerca do Ministrio Pblico brasileiro. 1. ed. SoPaulo. Malheiros Editores, 2006.

    MAZZILI, Hugo Nigro. Ministrio pblico na constituio de 1988. 1. ed. So

    Paulo: Editora Saraiva, 1989.

    SILVA, Jos Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 27. ed. So Paulo:

    Malheiros Editores, 2006.