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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO AMAPÁ 5º OFÍCIO EXMO(A). SR(A). JUIZ(A) FEDERAL DA 4ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO AMAPÁ Distribuição por dependência: operação pantalassa Notícia de Fato nº 1.12.000.001392/2017-12 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do Procurador da República signatário, com fundamento no art. 129, inciso I, da Constituição Federal, no art. 6º, inciso V, da Lei Complementar n.º 75/1993 e no art. 24 do Código de Processo Penal, oferece DENÚNCIA em desfavor de EDIVAL CARDOSO GOMES, brasileiro, natural de Macapá/AP, MARCELO ADRIANO SCHMIDT, brasileiro, natural de Ijuí/RS, 96 3213 7800 - www.prap.mpf.mp.br Avenida Ernestino Borges, n. 535 – Centro – Macapá/AP Página 1 Documento assinado via Token digitalmente por EVERTON PEREIRA AGUIAR ARAUJO, em 09/10/2017 17:36. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave B839D6A1.BF5114FF.383A3FFC.C0531E09

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO AMAPÁ

5º OFÍCIO

EXMO(A). SR(A). JUIZ(A) FEDERAL DA 4ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO

ESTADO DO AMAPÁ

Distribuição por dependência: operação pantalassa

Notícia de Fato nº 1.12.000.001392/2017-12

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do Procurador da

República signatário, com fundamento no art. 129, inciso I, da Constituição Federal, no art.

6º, inciso V, da Lei Complementar n.º 75/1993 e no art. 24 do Código de Processo Penal,

oferece DENÚNCIA em desfavor de

EDIVAL CARDOSO GOMES, brasileiro, natural de Macapá/AP,

MARCELO ADRIANO SCHMIDT, brasileiro, natural de Ijuí/RS,

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RUILLY JUAN DOS SANTOS LOPES, brasileiro, natural de

Calçoene/AP,

;

THIAGO FREITAS COSTA, brasileiro, natural de Anápolis-GO,

XIE PING, chinesa,

pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:

1. DOS FATOS INVESTIGADOS. DA MATERIALIDADE E DA AUTORIA.

Tramitou perante a Superintendência Regional de Polícia Federal no Amapá o

Inquérito Policial n.º 0133/2016-4–SR/DPF/AP (autos n.º 4123-29.2016.4.01.3100),

instaurado em 25/3/2016, com a finalidade de apurar possível ocorrência dos crimes

tipificados no art. 55 da Lei n.º 9.605/98 c/c art. 2º da Lei n.º 8.176/92; arts. 288, 317 e 333,

todos do Código Penal; art. 1º, § 2º, I, da Lei n.º 9.613/98; além de outros que, porventura,

delineassem-se no decorrer da perscrutação.

O referido procedimento investigatório, que redundou na operação policial

denominada “Pantalassa”, iniciou a partir de delatio criminis efetuada em 23/2/2016 (fls. 41-

43), da qual sobressaíram informações que apontaram para a prática de diversas condutas

criminosas, consubstanciadas, em síntese, na extração ilegal de madeira e minério, em

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diversas áreas de assentamento do Estado do Amapá, pela empresa Pangea Mineração Ltda.,

a qual, supostamente, desenvolveria seus serviços mediante prestação de vantagens indevidas

a servidores públicos.

Ademais, deu-se conta de que na sede da empresa sempre haveria quantidade

expressiva de dinheiro e de minério – especialmente ouro – bem como notável fluxo de

pessoas – principalmente servidores públicos e políticos –, as quais, nos termos da

comunicação de crime, receberiam propina para realização de transações ilegais, circunscritas,

prima facie, ao funcionamento da empresa Pangea Mineração Ltda.

Por derradeiro, a comunicação de crime apontou três pessoas como

responsáveis pela administração da empresa, na condição de sócios, in verbis:

“(...) QUE esta empresa possui como sócios o SÍLVIO, o MARCELO e o THIAGO; QUE THIAGO é o tesoureiro; QUE SÍLVIO é “como se fosse o direto”, onde “tudo passa por ele”; QUE SÍLVIO possui muito dinheiro na casa para pagar “propina” aos funcionários públicos que lá frequentam; QUE MARCELO é o “braço direito” de SÍLVIO, responsável por receber as pessoas que vão até a empresa e repassar para o SÍLVIO; QUE a casa é frequentada por muitas pessoas, normalmente funcionários do INCRA, do IMAP e alguns funcionários do IBAMA (…); QUE tanto SÍLVIO, quanto THIAGO e MAERCELO também se encontram com servidores e empresários no estacionamento do shopping Macapá; (...)”.

Pois bem, recebida a delatio criminis, foram adotadas algumas diligências

inaugurais, em sede policial, com o intuito de levantar informações úteis à investigação. Para

tanto, realizou-se vigilância local na sede da Pangea Mineração Ltda., conforme Relatório n.º

01/2016-NO/DELEMAPH/DRCOR/SR/DPF/AP (fls. 5-16), a fim de (i) confirmar os sócios-

proprietários da empresa e seus veículos de maior utilização; (ii) reconhecer as demais

pessoas frequentadoras da sede empresarial, bem como os seus respectivos automóveis; e (iii)

realizar acompanhamento veicular, para identificação de demais logradouros ligados aos

sócios-proprietários.

O relatório demonstrou, em suma, intenso fluxo de veículos e pessoas na sede

da empresa, especialmente quando na presença de Silvio Veriano Porto, um de seus atuais

sócios (já denunciado nos autos do IPL n. º 133/2016-4-SR/DPF/AP, pela prática dos

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crimes insculpidos no art. 50-A da Lei n.º 9.605/98, no art. 333 do Código Penal – três vezes,

em continuidade delitiva – e no art. 1º, § 1º, da Lei n.º 12.850/13).

Ademais, observou-se que os frequentadores da Pangea Mineração Ltda.

geralmente portavam documentos e maletas em suas visitas. Além disso, três veículos e outros

dois endereços residenciais foram evidenciados como vinculados às atividades dessa empresa.

Termo de declarações de colaborador anônimo (fls. 204-206), colhido em

26/8/2016, delineou, superficialmente, a administração, operacionalização e movimentação da

empresa Pangea Mineração Ltda., ratificando as investigações até então realizadas por equipe

da SRPF/AP, bem como trazendo novos elementos, conforme trechos a seguir:

“QUE sócios da empresa são THIAGO FREITAS COSTA e MARCELO ADRIANO SCHIMTD; QUE esses são os sócios formais, mas quem manda na empresa é SILVIO VERIANO PORTO (…); QUE MARCELO viaja muito pelo interior, coordenando os trabalhos da empresa no interior do Estado; QUE THIAGO é o responsável pela parte mais administrativa, estando mais presente na empresa; (...) QUE o principal objeto da empresa é extração de madeira; QUE não vê muita movimentação em relação a mineração na empresa; (…) QUE acredita que apenas façam pesquisa; (…) QUE a antiga casa de SILVIO fica na QUE nessa casa hoje mora ANDRE, que veio para Macapá fazer assessoria política, não sabendo delimitar se essas assessoria[sic] seria[sic] em favor de SILVIO ou de outra pessoa; QUE ANDRE se diz sobrinho do Senador Sarney; QUE ANDRE também é a pessoa que fazia contato com XU, empresário chinês que fez negócios com SILVIO em relação a exploração de madeira; QUE SILVIO e XU pretendiam exportar madeira para a China; (…) QUE considerando entradas e saídas, a empresa chegava a movimentar dinheiro na ordem dr R$ 1.000.000,00 por mês; QUE existem pagamentos que SILVIO faz por fora, não registrando nada nos arquivos da empresa; (…) QUE XU já foi investidor da empresa, mas atualmente não faz mais negócios com a PANGEA; QUE XU costumava passar valores na ordem de R$ 100.000,00 por mês para a empresa; QUE dona ANA XIE PING também já foi investidora da PANGEA; QUE ela ainda faz negócios com a PANGEA (…); QUE a PANGEA alugou uma casa para ANA XIE PING em Macapá/AP; QUE a PANGEA paga algumas despesas de ANA XIE PING, tais como segurança e transporte; QUE ANA XIE PING frequenta a empresa; QUE a PANGEA trabalha com 4 contas bancárias; QUE uma delas é no nome da própria empresa, com os seguintes dados Banco ; QUE outra é uma conta de THIAGO FREITAS COSTA na CEF, B

QUE existe mais uma conta no Banco do Brasil, em nome da PANGEA MINERAÇÃO; QUE existe também uma conta

em nome do segurança de SILVIO, RUILLY JUAN DOS SANTOS LOPES (CPF ); QUE essa conta foi aberta recentemente; QUE apenas SILVIO E JUAN movimentam essa conta; QUE JUAN um dia perguntou para a Colaboradora se ele conseguiria abrir uma conta

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para movimentar valores altos; (...) QUE EDIVAL CARDOSO GOMES também costuma frequentar a empresa; QUE a PANGEA costuma passar valores altos a EDIVAL quase toda semana; QUE sabe que EDIVAL tem uma AUTEX no nome dele; QUE SILVIO explora madeira em uma área de EDIVAL; QUE EDIVAL[sic] (SILVIO) faz algum trabalho com EDIVAL em lugar chamado TUCANO, não sabendo determinar que trabalho é esse; QUE sabe que são passados valores para EDIVAL para custear óleo para máquinas, pagamentos de pessoas e outras coisas referentes a esse trabalho; (…) (grifos nossos).

A par do contexto indicioso, suscitou-se a necessidade de interceptação

telefônica, para melhor estabelecer o grau de relação entre as três pessoas, até então,

identificadas como administradoras da Pangea Mineração Ltda., a saber: MARCELO

ADRIANO SCHMIDT, THIAGO FREITAS COSTA e Silvio Veriano Porto.

Assim foi que, com base em áudios captados pelas interceptações telefônicas

deferidas – especialmente a teor de conversas entre Silvio Veriano Porto (sócio da empresa

Pangea ) e EDIVAL CARDOSO GOMES , verificou-se a possível abertura irregular de um

ramal, na comunidade de “Tucano II”, em Pedra Branca do Amapari/AP, nos seguintes termos

transcritos pela Polícia Federal (fl. 214-verso):

Telefone Data/hora inicial Data/hora final Duração Interlocutores

04/08/2016 11:18:36 04/08/2016 11:31:18 00:12:42 SilvioxEdival

--- 6 min ---SÍLVIO: Tu falou que com 20 mil (reais) eu abriria aquela estrada. Cê falou ou não falou? (…) 35 mil real eu já tenho só de trator de esteira.EDIVAL: Tu dissesse pra mim que a gente tinha 100 mil pra colocar na estrada. (…) Tu dissesse que a gente ia pegar 400 mil...SILVIO: Na hora que você me der um documento que eu possa trabalhar eu tenho pra ti dar. Agora não tem documento.

--11min 40seg –EDIVAL: Então amanhã... eu vou dizer pro Cleo ir embora lá pro Tucano (…) Aí eu fiz um mapa até aqui, depois eu te mostro, de tudo... de onde tá o trator eles me mandaram. (…) Do ramal todo pronto em mapa. Entendeu? Então tá tudo prontinho (…) O Sandro tá trabalhando aqui direto nessa porra dessa anuência. Ele tá todo agoniado que é pra tirar logo. Pra poder trabalhar, parceiro.SÍLVIO: Cadê... as PLG saiu? (…)EDIVAL: Já. Já (…) Aí tu sabe que a gente tem que dar a conta das duas PLG pra ele.

Diante disso, equipe da SRPF/AP realizou diligências, nos dias 5 e 6 de

setembro de 2016, nas localidades denominadas “Tucano I” e “Tucano II”, tendo encontrado,

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na oportunidade, uma área identificada em nome de EDIVAL, autorizada, junto ao

Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM (Processo n.º 48416-858.201/2008),

para pesquisa de minério de ouro, o que fortaleceu os indícios sobre a existência de um ramal

irregular, naquela proximidade. Ademais, segundo captado nas interceptações telefônicas

analisadas pela SRPF/AP, embora a área estivesse em nome de EDIVAL, o investimento no

empreendimento caberia a Silvio Veriano Porto (Informação n.º 108/2016-

DELEMAPH/DRCOR/SR/PF/AP – fls. 189-191).

Nessa linha, em nova diligência à área do “Tucano II”, realizada por equipe da

SRPF/AP, juntamente com geólogo do DNPM, logrou-se confirmar uma área desmatada, com

extensão de 6.256,039731 metros, pela qual EDIVAL, que também acompanhou a diligência,

assumiu a responsabilidade, revelando que realizara a abertura do referido ramal sem

autorização ambiental do órgão competente, para subsidiar apoio e acesso à área sob sua

titularidade, referente ao Processo Minerário n.º 48416-858.201/2008 (Informação n.º

121/2016-DELEMAPH/DRCOR/SR/DPF/AP – fls. 207-214).

Nessa mesma oportunidade, EDIVAL noticiou que, a teor da ilegalidade do

desmatamento ocorrido para abertura do ramal, uma multa de R$ 5.000,00 havia-lhe sido

aplicada. Tal informação, no entanto, levantou suspeitas às investigações, a teor do ínfimo

valor – se comparado ao dano ambiental causado – que lhe foi infligido como sanção

administrativa (fl. 214).

Consonante com a suspeita levantada, desvendou-se, no trâmite do apuratório

realizado no IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP, que uma Autorização Ambiental havia sido

expedida pelo Imap (fls. 261-264), em 22/11/2016 – posteriormente à abertura irregular do

ramal –, em favor do mencionado empreendimento, tendo por objeto “abertura, limpeza e

manutenção de 8.000 metros de ramal para uma área de pesquisa mineral (…) DNPM de n.º

858.201/2008, localizada na zona rural, comunidade de Tucano 2”.

Outrossim, no mesmo intento, também descobriu-se (porém no bojo do IPL n.º

50/2017-4-SR/DPF/AP) a expedição de uma licença de operação, pelo Imap (Licença de

Operação n.º 561/2016), meses após o início das atividades de abertura do ramal no “Tucano

II”.

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Logo, em razão da ilegalidade evidenciada, foi elaborado o Laudo Pericial n.º

108/2017 (fls. 270-277), concluído após a diligência ao ramal aberto no “Tucano II”, o qual

revelou que “foi desmatada uma área de seis hectares em formato longilíneo para abertura

de ramal com mais de seis quilômetros, gerando um perímetro de 12,4 km, que colocou sob

efeitos de borda uma área de cento e cinco hectares”. Ainda, consignou que se poderia

afirmar que a abertura do ramal foi realizada antes de setembro de 2016 (confirmando,

assim, que a autorização ambiental e a licença de operação expedidas pelo Imap se deram de

forma irregular).

Por derradeiro, o exame pericial apontou que, “sem contabilizar os danos

ambientais, custos de recuperação e sem incluir a área sob efeito de borda”, o valor mínimo,

estimado, “da madeira em pé existente na área atingida diretamente”, seria de R$ 50.000,00

(o que também confere característica de ilicitude à multa, no valor ínfimo de R$ 5.000,00,

aplicada a EDIVAL como sanção administrativa, pelo desmatamento da área).

Outrossim, por ocasião, ainda, da diligência empreendida em setembro, na área

do “Tucano II”, constatou-se que a extensão ilegalmente desmatada havia sido, até 7/3/2016,

abrangida pelo Processo Minerário n.º 48416-858.201/2008, de titularidade de EDIVAL

CARDOSO GOMES. Contudo, desde essa data a atividade ali desenvolvida encontrava-se

irregular, em razão da extinção do referido diploma minerário, pelo não pagamento da Taxa

Anual por Hectare, por dois anos consecutivos, e por encontrar-se, tal área, encravada nas

adjacências da reserva indígena Wajãpi (fls. 2017 e 207-v).

Foi constatado, ainda, que, em 7/7/2016, a poligonal outrora referente ao

diploma minerário de EDIVAL havia sido requerida ao DNPM/AP por Silvio Veriano Porto.

E, mais a frente, também por Milene Silva Castro, esposa de EDIVAL. Ambos, após a

extinção do diploma minerário de EDIVAL, buscaram obter Permissão de Lavra Garimpeira

(PLG), tendo-se levantado suspeitas de ilegalidade nos processos para obtenção de PLG (fl.

208).

Por conseguinte, todo esse cenário de ilicitudes ganhou contorno ainda mais

verossímil, quando cotejado com as conversas entre EDIVAL e Silvio, obtidas por meio das

interceptações telefônicas, as quais direcionaram, ainda, para a prática de suborno de

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funcionários do Imap, com o intuito de agilizar processos, executar multas em valores

ínfimos e regularizar operações fraudulentas, senão, veja-se a transcrição feita pela

SRPF/AP, de alguns excertos da interceptação (fl. 215-verso):

Telefone Data/hora inicial Data/hora final Duração Interlocutores

09/09/2016 10:55:48 09/09/2016 11:01:24 00:05:36 SilvioxEdival

--- 18 seg ---EDIVAL: Cara, eu tô acabando de sair daqui do IMAP, com o Sandro (geólogo) (…) Eu conversei agora com Aderval, o engenheiro que eu levei lá (…) Então o Aderval vai fazer dois processos pra nós, de licenciamento (…) Eu tava querendo... tu te lembra que eu te mandei no teu celular (…) aquela área que o 'menino' requereu pra nós? (…) Eu queria que tu imprimisse... porque tá lá na mão do cara, a gente não pagou o cara né, Silvio... e eu vou passar pra ele (Aderval), pra ele fazer os licenciamento (…)SÍLVIO: E se já num levar um dinheiro lá pro cabra, num fica melhor? (…) Levar uns dois mil pra ele.EDIVAL: Mas eu tô querendo rápido, também, é por causa do licenciamento que o Aderval quer dar entrada, em tudo. O Aderval, ele é policial, tenente da PM (…) Se tu não tiver, eu vou conseguir com Sandro. (…) Ele, o Aderval, vai fazer o projeto todo pra nós. Cara, é muito complicado aqui em Macapá, rapaz. Até pro corte raso, se você não tem o DOF, num licencia a sua madeira. (…) Ele tá dentro da Secretaria. Então ele sabe de tudo. E ele tá dentro do IMAP.

--- 2 min 54 seg ---EDIVAL: Só entende bem: o que é que a gente tem? A gente não tem título, cara. Ele tá vendo se começa só com aquele requerimento do SIGEF. Porque só iam dar licença pra nós se nós tivesse título (…) Aí já quer ir por trás dos pano, lá por dentro do IMAP, fazer do jeito que ele quer fazer, pra poder dar licença pra nós.

--- 4 min 21 seg ---EDIVAL: Aí, quem vai coordenar a parada lá vai ser lá dentro do IMAP, e é ele, aquele pessoalzinho que tu sabe que a gente tem na mão. A gente dando um daqui, um dali.

Consoante se depreende do trecho acima transcrito, a área de 6.256,039731

metros, irregularmente desmatada, foi operacionalizada por EDIVAL e financiada por Silvio,

ambos utilizando-se de “Aderval” – Aderval Alfaia Lacerda – como facilitador das transações

ilícitas perante o Imap, havendo, ainda, outros servidores envolvidos, conforme ressaltado por

EDIVAL ao final da conversa com Silvio.

Nesse contexto, cumpre destacar, ainda, os demais áudios captados a partir da

interceptação telefônica deferida nos autos do IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP, que

evidenciam as condutas criminosas denunciadas nesta ocasião e, por consectário, robustecem

os elementos até então discorridos, senão, veja-se:

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a) em 4/8/2016, Silvio Veriano Porto e EDIVAL CARDOSO GOMES

conversaram sobre a abertura do ramal no “Tucano II”, ocasião em que Silvio relatou que já

havia investido mais de R$ 35.000,00 na atividade (fls. 803 e 803-verso);

b) no dia 6/8/2016, MARCELO ADRIANO SCHMIDT e THIAGO

FREITAS COSTA citam que Silvio recebeu R$ 150.000,00 de XIE PING (“DONA ANA”)

para abertura da estrada no “Tucano II” (fl. 804);

c) em outro diálogo, no dia 8/8/2016, EDIVAL CARDOSO GOMES solicita

recursos a THIAGO FREITAS COSTA, para “liberar” a madeira já derrubada no ramal do

“Tucano II” (fls. 803-verso e 804);

d) em nova conversa, no dia 9/9/2016, Silvio e EDIVAL comentam sobre a

participação de uma terceira pessoa, nominada Aderval Alfaia Lacerda, Engenheiro Florestal

membro do atual Conselho Titular do CREA/AP, que facilitaria, ilicitamente, a obtenção das

licenças ambientais necessárias à continuação da abertura do ramal no “Tucano II”. Nessa

oportunidade, EDIVAL comenta com Silvio que conseguiria agilizar o processo “por trás dos

panos”, com servidores do próprio Imap, ressaltando que ambos teriam “nas mãos” pessoas de

dentro do órgão, bastando, para tanto, que fossem pagas propinas (fls. 804-805);

e) em diálogo no dia 13/9/2016, MARCELO ADRIANO SCHMIDT diz a

um interlocutor, identificado como Marco Angeleti, que foi aberto um ramal no “Tucano II”

para que pudessem chegar até uma área de exploração de ouro. Ademais, MARCELO

corrobora, ao final do áudio, que tal atividade havia sido realizada sem licença alguma, sendo

que a área desmatada ainda estava em vias de regularização. Por fim, faz crer que a

denunciada XIE PING (“DONA ANA”) é a verdadeira investidora do local (fl. 806);

f) em 14/9/2016, EDIVAL informa Silvio sobre a situação da área do

assentamento do “Tucano II”, indicando, inclusive, a existência de multa a ser incidida no

local, em razão da irregularidade no licenciamento. Ao final da conversa, observa-se que foi

paga propina para que não fosse lançada no sistema, pelos servidores do Imap, a multa que foi

aplicada na área do “Tucano II”, bem como para que a expedição da licença ambiental fosse

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realizada de forma célere e/ou sem observância dos requisitos legais (fls. 805 e 805-verso).

Válido colacionar excerto da transcrição feita pela Polícia Federal:

Telefone Data/hora inicial Data/hora final Duração Interlocutores

14/09/2016 15:16:32 14/09/2016 15:24:39 00:08:07 SilvioxEdival

--- 28seg ---EDIVAL: É o seguinte: Eu tô aqui no IMAP, porque a área, vamos supor, peguei aquela multa, tudinho né. Aí ficou, ficou assim: pra eles aceitarem (…) o pedido nosso aqui de licenciamento tudinho bacana tem duas situações: primeira, é, eu vou ter que dar 2 mil aqui dentro do IMAP pra quatro salas aqui dentro (…) e segundo (…) pelo menos tem que pagar um cheque daquele por lá de Santana pra pegar as poligonal dele, tudinho (…) E os marco tudinho pra poder me darem a prévia que eu disse que quero no máximo até dia 20 (de setembro) po (…). Pra chegar dia 25 e a gente tá com a “bicha” na mão (…). Pelo menos a L.I. (Licença de Instalação) na mão, tá entendendo (…). Eles botaram pressão pra cima de mim (…) Porque Ministério Público Federal, Polícia Federal, DNPM... tu sabe (…) Então nóis tamo numa área de fronteira (…) Mas eu tenho o pessoal do nosso lado aqui, po. (…)(…)

--- 3 min 56 seg ---EDIVAL: Hoje é o IMAP, que nóis tamo na mão do IMAP. Que hoje as terra passaram pro Estado (…) Então a gente depende desses “fila da puta” daqui. Quem é? É o IMAP. (…) E eu tenho um cara, que é o Aderval...

--- 5 min 11 seg ---SÍLVIO: Fala que amanhã cê dá a propina.

--- 5 min 27 seg ---EDIVAL: Vai acontecer assim: aquela multa, eles não vão lançar no sistema agora, pra num (…) deixar o processo correr. Porra, dá 2 mil e a gente num vai colocar a multa lá.

g) em 17/11/2016 e 18/11/2016, MARCELO e EDIVAL conversam sobre as

facilidades conseguidas dentro do Imap e a expectativa para a expedição da licença, deixando

claro o nome de Josiel Lima e Silva, chefe de gabinete do Imap à época, como principal

facilitador das demandas ilícitas para abertura do ramal no “Tucano II”. Ainda, durante esse

áudio, EDIVAL diz a MARCELO que Josiel é seu amigo e que a “Autorização Ambiental”

já teria sido expedida, razão pela qual os trabalhos de abertura do ramal poderiam continuar,

desde que devagar, para não chamar a atenção dos órgãos fiscalizadores. Tal afirmação se

ratifica diante da emissão da Licença de Operação n.º 561/2016 e da Autorização Ambiental

n.º 524/2016, nos dias 22 e 23 de novembro de 2016, respectivamente, logo após o

mencionado diálogo (fls. 807 e 807-verso);

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h) ainda em 18/11/2016, EDIVAL liga para Josiel e diz que está com um

“queijo” para entregá-lo, o que apenas corrobora o pagamento de propina para a concretização

do licenciamento (fls. 807-verso e 808);

i) em áudio captado em 19/11/2016, Silvio e MARCELO comentam que XIE

PING (“DONA ANA”) havia visitado a área do “Tucano II” e deixam claro o financiamento

por ela realizado (fl. 806);

j) no dia 22/11/2016, Aderval conversa com EDIVAL e comenta que já deixou

o “negócio” nas mãos da “menina” (provavelmente identificada como Cleiane) e que o

processo já estaria na mesa de Josiel, para assinatura. Ainda no mesmo dia, Aderval informa a

EDIVAL que a “criança” já estaria “no colo” (referindo-se à autorização do Imap) e que o

dinheiro já poderia ser liberado por XIE PING (“DONA ANA”) (fl. 808);

k) já em 23/11/2016, Silvio e MARCELO comentam que EDIVAL estaria

tratando diretamente com XIE PING (“DONA ANA”) a respeito da área do “Tucano II”, em

uma possível tentativa de tirá-los da negociata. Fica claro, no diálogo, que XIE PING

(“DONA ANA”) repassa dinheiro também para EDIVAL, a fim de que este suborne

servidores do Imap (fl. 806-verso);

l) já em 1/12/2016, MARCELO e um indivíduo não identificado conversam

sobre a área do “Tucano II”, onde detalham todo o investimento feito por XIE PING

(“DONA ANA”) (fls. 806-verso e 807).

Como se vê, o conjunto fático-probatório, até aqui narrado, subsidia, de forma

irrefutável, a autoria e a materialidade desta peça acusatória, consubstanciada na perpetração,

pelos denunciados, de crime ambiental (desmatamento e exploração econômica de floresta

nativa, sem autorização do órgão competente) e contra a Administração Pública (oferecimento

e promessa de vantagem a funcionários públicos, para determiná-los a praticar atos de ofício),

de modo associado e estruturalmente ordenado, caracterizado pela divisão de tarefas.

Nada obstante, impende mencionar ainda que, em 19/12/2016, compareceu,

espontaneamente, na Procuradoria da República no Estado do Amapá, THIAGO FREITAS

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COSTA, com o intuito de colaborar com as investigações em andamento nos autos do IPL n.º

133/2016-SR/DPF/AP. Na ocasião, colocou à disposição do Ministério Público Federal e da

Polícia Federal no Amapá seu celular pessoal e dois pendrives, para serem periciados e, bem

assim, terem seus respectivos conteúdos espelhados, a fim de que os dados e informações

neles contidos pudessem auxiliar no apuratório (fls. 252-255).

A partir disso, foi instaurado, no âmbito do MPF/AP, procedimento tombado

sob o nº 1.12.000.001374/2016-41, nos autos dos quais este Parquet procedeu à formalização

da delação premiada de THIAGO, a qual, por conseguinte, foi remetida ao Juízo da 4ª Vara

da Seção Judiciária do Amapá, para homologação.

Nesse cenário, cabe destacar, essencialmente, do conteúdo dos dados extraídos

das mídias e do aparelho celular de THIAGO FREITAS COSTA, apreendidos após a entrega

espontânea, realizada em sede da colaboração já citada, e formalizada no Auto de Apreensão

n.º 228/2016 (constante do Apenso I – Volume único – do IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP),

(i) as imagens de diversos extratos bancários, TED's, depósitos, consultas de saldo, dentre

outras atividades bancárias realizadas, principalmente, nas contas de THIAGO e de RUILLY

JUAN DOS SANTOS LOPES (segurança pessoal de Silvio Veriano Porto, em nome de

quem foi aberta conta corrente para movimentar altos valores relativo à empresa Pangea

Mineração Ltda), e em favor da Pangea, de Silvio e de MARCELO (fls. 2-verso a 6), (ii) os

prints anexados à fl. 9 do Apenso I – Volume único – do IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP, cujo

conteúdo revela uma conversa entre THIAGO e MARCELO, na qual comemoram a

liberação da documentação (já comprovadamente irregular) destinada à área do “Tucano II”,

bem como (iii) os demais prints de conversas entre THIAGO, MARCELO e Silvio, e entre

THIAGO e demais pessoas que possuíam negócios e/ou que prestavam serviços para a

referida empresa.

Além disso, frise-se que, em complementação ao apuratório realizado pela

SRPF/AP, este órgão ministerial requereu, a esse Juízo, as medidas cautelares de prisão

preventiva, em desfavor de Silvio Veriano Porto, e de busca e apreensão e de condução

coercitiva em desfavor dos denunciados e de outros possíveis envolvidos nos crimes

investigados no bojo do IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP, com o objetivo de trazer aos autos

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outros elementos de convicção a respeito dos indícios e demais provas que haviam se

apresentado, até aquele momento.

Nessa linha, deferidos os requerimentos, as cautelares foram devidamente

cumpridas, conforme documentos acostados às fls. 280-653.

Às fls. 795-842, por conseguinte, foi acostado o relatório policial das

investigações.

Denunciado, nos autos do IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP, o investigado Silvio

Veriano Porto, instaurou-se Procedimento Investigatório Criminal, no âmbito do Ministério

Público Federal no Amapá, para dar continuidade às apurações quanto aos demais

investigados e quanto aos demais crimes perscrutados naquele IPL, para posterior propositura

da ação penal.

Dito isso, ressalta-se que, na presente denúncia, o Ministério Público Federal

analisará as condutas típicas relacionadas somente aos crimes do artigo 50-A da Lei n.º

9.605/98, art. 333 do Código Penal e art. 1º, § 1º, da Lei n.º 12.850/2013, atribuídas a

EDIVAL CARDOSO GOMES, MARCELO ADRIANO SCHMIDT, RUILLY JUAN

DOS SANTOS LOPES, THIAGO FREITAS COSTA e XIE PING.

2. DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS.

2.1 Quanto a EDIVAL CARDOSO GOMES

EDIVAL CARDOSO GOMES figura como um dos principais responsáveis

pela abertura irregular do ramal no “Tucano II”. É o que se pode concluir, especialmente, da

análise das interceptações telefônicas, conforme relatório policial às fls. 797-842, senão, veja-

se:

a) em 4/8/2016, Silvio Veriano Porto e EDIVAL CARDOSO GOMES

conversaram sobre a abertura do ramal no “Tucano II”, ocasião em que Silvio relatou que já

havia investido mais de R$ 35.000,00 na atividade (fls. 803 e 803-verso);

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b) em outro diálogo, no dia 8/8/2016, EDIVAL CARDOSO GOMES solicita

recursos a THIAGO FREITAS COSTA, para “liberar” a madeira já derrubada no ramal do

“Tucano II” (fls. 803-verso e 804);

c) em nova conversa, no dia 9/9/2016, Silvio e EDIVAL comentam sobre a

participação de uma terceira pessoa, nominada Aderval Alfaia Lacerda, Engenheiro Florestal

membro do atual Conselho Titular do CREA/AP, que facilitaria, ilicitamente, a obtenção das

licenças ambientais necessárias à continuação da abertura do ramal no “Tucano II”. Nessa

oportunidade, EDIVAL comenta com Silvio que conseguiria agilizar o processo “por trás dos

panos”, com servidores do próprio Imap, ressaltando que ambos teriam “nas mãos” pessoas de

dentro do órgão, bastando, para tanto, que fossem pagas propinas (fls. 804-805);

d) em 14/9/2016, EDIVAL informa Silvio sobre a situação da área do

assentamento do “Tucano II”, indicando, inclusive, a existência de multa a ser incidida no

local, em razão da irregularidade no licenciamento. Ao final da conversa, observa-se que foi

paga propina para que não fosse lançada no sistema, pelos servidores do Imap, a multa que foi

aplicada na área do “Tucano II”, bem como para que a expedição da licença ambiental fosse

realizada de forma célere e/ou sem observância dos requisitos legais (fls. 805 e 805-verso);

e) em 17/11/2016 e 18/11/2016, MARCELO e EDIVAL conversam sobre as

facilidades conseguidas dentro do Imap e a expectativa para a expedição da licença, deixando

claro o nome de Josiel Lima e Silva, chefe de gabinete do Imap à época, como principal

facilitador das demandas ilícitas para abertura do ramal no “Tucano II”. Ainda, durante esse

áudio, EDIVAL diz a MARCELO que Josiel é seu amigo e que a “Autorização Ambiental”

já teria sido expedida, razão pela qual os trabalhos de abertura do ramal poderiam continuar,

desde que devagar, para não chamar a atenção dos órgãos fiscalizadores. Tal afirmação se

ratifica diante da emissão da Licença de Operação n.º 561/2016 e da Autorização Ambiental

n.º 524/2016, nos dias 22 e 23 de novembro de 2016, respectivamente, logo após o

mencionado diálogo (fls. 807 e 807-verso);

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f) ainda em 18/11/2016, EDIVAL liga para Josiel e diz que está com um

“queijo” para entregá-lo, o que apenas corrobora o pagamento de propina para a concretização

do licenciamento (fls. 807-verso e 808);

g) no dia 22/11/2016, Aderval conversa com EDIVAL e comenta que já deixou

o “negócio” nas mãos da “menina” (provavelmente identificada como Cleiane) e que o

processo já estaria na mesa de Josiel, para assinatura. Ainda no mesmo dia, Aderval informa a

EDIVAL que a “criança” já estaria “no colo” (referindo-se à autorização do Imap) e que o

dinheiro já poderia ser liberado por XIE PING (“DONA ANA”) (fl. 808);

h) já em 23/11/2016, Silvio e MARCELO comentam que EDIVAL estaria

tratando diretamente com XIE PING (“DONA ANA”) a respeito da área do “Tucano II”, em

uma possível tentativa de tirá-los da negociata. Fica claro, no diálogo, que XIE PING

(“DONA ANA”) repassa dinheiro também para EDIVAL, a fim de que este suborne

servidores do Imap (fl. 806-verso).

Em seu interrogatório, em sede policial, EDIVAL CARDOSO GOMES, em

síntese, contradisse-se ao afirmar “não conhecer pessoas dentro do IMAP”, porém, logo em

seguida, citar os nomes de Felício e Josiel – servidores do Imap –, noticiando, inclusive, haver

entrado em contato telefônico com Josiel para questionar o andamento do processo de

licenciamento do empreendimento do “Tucano II”.

Por outro lado, confessou a abertura do ramal anteriormente à expedição das

licenças devidas, bem como que o financiamento do empreendimento se deu pela Pangea

Mineração Ltda., representada por XIE PING, e intermediada por Silvio Veriano Porto.

Ademais, apesar de haver utilizado diversas teses defensivas para se furtar às

suas responsabilidades penais, o plexo probatório dos autos deixa evidente que, com suas

condutas de (i) intermediar a resolução, ainda que ilicitamente, do licenciamento do ramal no

“Tucano II” e (ii) de providenciar, junto a Silvio e à XIE PING o financiamento para a

expedição ilegal de licenças ambientais junto ao Imap, com pagamentos de vantagens

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indevidas a servidores desse órgão, incidiu, inquestionavelmente, nas figuras típicas

relacionadas aos crimes do artigos 50-A da Lei n.º 9.605/98 e art. 333 do Código Penal.

Irrefutável, outrossim, sua conduta como integrante da organização criminosa

composta por, pelo menos, Silvio Veriano Porto, MARCELO ADRIANO SCHMIDT,

THIAGO FREITAS COSTA, XIE PING e RUILLY JUAN DOS SANTOS LOPES, por

meio da qual se efetivaram os crimes previstos no art. 50-A da Lei n.º 9.605/98 (uma vez

desmatada floresta nativa em terras de domínio público, sem autorização do órgão

competente) e no art. 333 do Código Penal (posterior licenciamento da área do “Tucano II”,

por via ilegal, consubstanciada em pagamentos indevidos a funcionários públicos).

Portanto, conclui-se que EDIVAL CARDOSO GOMES, ao associar-se com,

pelo menos, outras cinco pessoas, de forma estruturalmente ordenada e caracterizada pela

divisão de tarefas, desmatou e explorou economicamente floresta nativa em terras de domínio

público, sem autorização do órgão competente, bem como ofereceu e prometeu vantagem

indevida a funcionários de órgãos públicos ambientais, para determiná-los a praticar atos de

ofícios que facilitassem procedimentos burocráticos (autorização/licenciamento ambiental)

referentes às atividades da empresa Pangea Mineração Ltda., especialmente quanto ao

empreendimento irregular do “Tucano II”.

Desse modo, o denunciado, ao integrar tal organização criminosa, praticando

atos que possibilitaram a perpetração dos crimes narrados, incidiu nas figuras típicas

relacionadas aos crimes do artigos 50-A da Lei n.º 9.605/98, art. 333 do Código Penal e art. 2º

da Lei n.º 12.850/2013.

2.2 Quanto a MARCELO ADRIANO SCHMIDT

O denunciado, como sócio da Pangea Mineração Ltda. e braço direito de

Silvio Veriano Porto, detinha conhecimento sobre todas as ilegalidades perpetradas para

possibilitar as atividades e os empreendimentos irregulares da referida empresa (em especial o

empreendimento do “Tucano II”) e, ainda assim, com suas atribuições operacionais frente à

referida pessoa jurídica, franqueava a concretização de tais ilicitudes. É o que se pode

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concluir, de primeira, da análise das interceptações telefônicas, conforme já delineado no

“item 1” desta peça acusatória, veja-se:

a) em diálogo no dia 13/6/2016, MARCELO diz a um interlocutor,

identificado como Marco Angeleti, que o ramal foi aberto no “Tucano II” para que pudessem

chegar até a área de exploração, titularizada por Edival. Ademais, o denunciado corrobora, ao

final do áudio, que tal atividade havia sido realizada sem licença alguma. Por fim, faz crer que

a chinesa identificada como Dona Ana (Xie Ping) é a verdadeira investidora do

empreendimento (fls. 805-verso e 806);

b) no dia 6/8/2016, MARCELO, em conversa com Thiago Freitas Costa (ex-

sócio da empresa Pangea), comenta que Silvio recebeu R$ 150.000,00 de Dona Ana (Xie

Ping) – investidora chinesa da Pangea Mineração Ltda. – para abertura da estrada no “Tucano

II”;

c) em outra conversa, no dia 9/9/2016, Silvio e MARCELO comentam sobre

uma visita feita por geólogo do DNPM, na área de Edival, a teor de denúncia recebida sobre

desmatamento e exploração na referida localidade (fls. 804-verso e 805);

d) em 17/11/2016 e 18/11/2016, MARCELO e Edival conversam sobre as

facilidades conseguidas dentro do Imap e a expectativa para a expedição da licença, deixando

claro o nome de Josiel Lima e Silva, chefe de gabinete do Imap à época, como principal

facilitador das demandas ilícitas para abertura do ramal no “Tucano II”. Ainda, durante esse

áudio, Edival diz a MARCELO que Josiel é seu amigo e que a “Autorização Ambiental” já

teria sido expedida, razão pela qual os trabalhos de abertura do ramal poderiam continuar,

desde que devagar, para não chamar a atenção dos órgãos fiscalizadores. Tal afirmação se

ratifica diante da emissão da Licença de Operação n.º 561/2016 e da Autorização Ambiental

n.º 524/2016, nos dias 22 e 23 de novembro de 2016, respectivamente, logo após o

mencionado diálogo (fls. 807 e 807-verso);

e) em áudio captado em 19/11/2016, Silvio e MARCELO comentam que

Dona Ana havia visitado a área do “Tucano II” e deixam claro o financiamento por ela

realizado (fl. 806);

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f) já em 23/11/2016, Silvio e MARCELO comentam que Edival estaria

tratando diretamente com Dona Ana a respeito da área do “Tucano II”, em uma possível

tentativa de tirá-los da negociata. Fica claro, no diálogo, que o denunciado participa das

investidas ilícitas (fl. 806-verso);

g) já em 1/12/2016, MARCELO conversa com um indivíduo não identificado,

e detalha todo o investimento feito por Dona Ana na área do “Tucano II” (fls. 806-verso e

807).

Ademais, todo o contexto fático-probatório já discorrido, especialmente a

atuação operacional do denunciado frente à Pangea Mineração Ltda., com pleno

conhecimento sobre as atividades ilícitas desenvolvidas em benefício dessa empresa, ratifica-

se pelas declarações de José Raimundo de Nasaré Silva (ex-funcionário da empresa Pangea,

que realizou a delatio criminis ensejadora da investigação do IPL n.º 133/2016-4-

SR/DPF/AP), conforme excerto abaixo transcrito (fs. 41-43):

“(...) QUE MARCELO é o “braço direito” de SÍLVIO, responsável por receber as pessoas que vão até a empresa e repassar para o SÍLVIO; (…) QUE tanto SÍLVIO, quanto THIAGO e MARCELO também se encontram com servidores e empresários no estacionamento do shopping Macapá; (...)

Outrossim, as informações prestadas por Naiana Janaila Lima da Conceição

(fls. 224-229), ex-secretária da empresa Pangea Mineração Ltda., corroboram no mesmo

sentido:“QUE começou a trabalhar na PANGEA MINERAÇÃO LTDA em fevereiro de 2016; (…) QUE sócios da empresa costumavam ser THIAGO FREITAS COSTA e MARCELO ADRIANO SCHMIDT; (…) QUE recentemente SILVIO entrou no quadro societário da empresa e THIAGO foi retirado; QUE MARCELO viaja muito pelo interior, coordenando os trabalhos da empresa no interior do Estado; (…) QUE o principal objeto da empresa é extração de madeira; (…) QUE a PANGEA normalmente extrai madeira em área de assentamento; (...)

Observe-se, ainda, que, os dados extraídos das mídias e do aparelho celular do

denunciado THIAGO também corroboram o até aqui exposto.

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Nesse sentido, ressaltam-se os prints anexados à fl. 31 do Apenso I – Volume

único – do IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP, cujo conteúdo revela uma conversa entre Thiago e

MARCELO, na qual comemoram a liberação da documentação (já comprovadamente

irregular) destinada à área do “Tucano II” (o que demonstra que o denunciado tinha, sem

dúvidas, conhecimento a respeito do licenciamento ilícito financiado e/ou intermediado por

Silvio Veriano Porto, EDIVAL e XIE PING).

Ademais, em seu interrogatório, em sede policial, MARCELO ADRIANO

SCHMIDT, em síntese, confessou a abertura do ramal anteriormente à expedição das licenças

devidas, bem como que o financiamento do empreendimento se deu pela Pangea Mineração

Ltda.

Além disso, apesar de haver utilizado diversas teses defensivas para se furtar às

suas responsabilidades penais, o plexo probatório dos autos deixa evidente sua coautoria nas

atividades irregulares do empreendimento localizado no “Tucano II”, quando, por exemplo, (i)

visitou, por mais de uma vez, o ramal do “Tucano II”, para acompanhamento do

empreendimento irregular; (ii) tratou com o denunciado EDIVAL sobre o licenciamento

irregular da área, através de pagamentos de propinas a servidores do Imap; e (iii) tratou,

diretamente e por mais de uma vez, com XIE PING, sobre os investimentos na área

irregularmente desmatada.

Indubitável, nessa mesma vereda, sua conduta como integrante da organização

criminosa composta por, pelo menos, Silvio Veriano Porto, THIAGO FREITAS COSTA,

EDIVAL CARDOSO GOMES, XIE PING e RUILLY JUAN DOS SANTOS LOPES, por

meio da qual se efetivaram os crimes previstos no art. 50-A da Lei n.º 9.605/98 (uma vez

desmatada floresta nativa em terras de domínio público, sem autorização do órgão

competente) e no art. 333 do Código Penal (posterior licenciamento da área do “Tucano II”,

por via ilegal, consubstanciada em pagamentos indevidos a funcionários públicos).

Portanto, conclui-se que MARCELO ADRIANO SCHMIDT, ao associar-se

com, pelo menos, outras cinco pessoas, de forma estruturalmente ordenada e caracterizada

pela divisão de tarefas, desmatou e explorou economicamente floresta nativa em terras de

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domínio público, sem autorização do órgão competente, sendo conhecedor e tendo

contribuído, ademais, para a concretização dos pagamentos de vantagens indevidas a

funcionários de órgãos públicos ambientais, para determiná-los a praticar atos de ofícios que

facilitassem procedimentos burocráticos (autorização/licenciamento ambiental) referentes às

atividades da empresa Pangea Mineração Ltda., mormente quanto ao empreendimento do

“Tucano II”.

Desse modo, o denunciado, ao integrar tal organização criminosa, praticando

atos que possibilitaram a perpetração dos crimes narrados, incidiu nas figuras típicas

relacionadas aos crimes do artigos 50-A da Lei n.º 9.605/98, art. 333 do Código Penal e art. 2º

da Lei n.º 12.850/2013.

2.3 Quanto a THIAGO FREITAS COSTA

Como sócio da Pangea Mineração Ltda., o denunciado detinha conhecimento

sobre todas as ilegalidades perpetradas para possibilitar as atividades da referida empresa (em

especial o empreendimento do “Tucano II”) e, ainda assim, com suas atribuições operacionais

e financeiras frente à referida pessoa jurídica, franqueava a concretização de tais ilicitudes.

Tal conclusão é permitida pela análise das interceptações telefônicas deferidas

no bojo do IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP, conforme relatório policial de fls. 797-842 e,

especialmente, pelos dados extraídos das mídias e do aparelho celular de THIAGO,

apreendidos após a entrega espontânea, realizada em sede da colaboração já citada, e

formalizada no Auto de Apreensão n.º 228/2016 (constante do Apenso I – Volume único – do

IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP).

Nesse sentido, ressalta-se, por exemplo, um diálogo captado no dia 6/8/2016,

em que Marcelo Adriano Schmidt e THIAGO citam que Silvio recebeu R$ 150.000,00 de Xie

Ping, para abertura da estrada no “Tucano II” (fl. 804).

Além disso, os inúmeros prints de conversas entre o denunciado e os demais

sócios da Pangea Mineração Ltda., MARCELO e Silvio, bem como entre o denunciado e

demais pessoas que possuíam negócios e/ou que prestavam serviços para a referida empresa,

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revelam as atividades desenvolvidas por THIAGO dentro da Pangea e sobre seu efetivo

conhecimento sobre o empreendimento do “Tucano II”.

Veja-se, por exemplo, os prints anexados à fl. 31 do Apenso I – Volume único –

do IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP, cujo conteúdo revela uma conversa entre THIAGO e

MARCELO, na qual comemoram a liberação da documentação (já comprovadamente

irregular) destinada à área do “Tucano II” (o que demonstra que o denunciado tinha, sem

dúvidas, conhecimento a respeito do licenciamento ilícito financiado e/ou intermediado por

Silvio Veriano Porto, EDIVAL CARDOSO GOMES e XIE PING).

Ademais, não se olvide da plena caracterização de seu papel de operador

financeiro da empresa, consoante demonstra a maioria da imagens extraídas de seu celular,

que evidenciam diversos extratos bancários, TED's, depósitos, consultas de saldo, dentre

outras atividades bancárias realizadas em sua conta, em favor da Pangea, de Silvio

(especialmente) e de MARCELO.

Nessa linha ainda, salienta-se que o denunciado cumpria todas as ordens

emanadas por Silvio, relativas à destinação dos recursos da Pangea Mineração. Fica claro, a

partir da simples leitura das conversas entre ambos, que THIAGO sabia das origens e das

finalidades dos valores administrados por Silvio e, ainda assim, realizava todas as operações,

proporcionando a consolidação das transações ilícitas.

Frise-se, outrossim, que o conjunto fático-probatório até aqui delineado,

especialmente a atuação operacional e financeira do denunciado frente à Pangea Mineração

Ltda., com pleno conhecimento sobre as atividades ilícitas desenvolvidas em benefício dessa

empresa, ratifica-se pelas declarações de José Raimundo de Nasaré Silva (ex-funcionário da

empresa Pangea, que realizou a delatio criminis ensejadora da investigação do IPL n.º

133/2016-4-SR/DPF/AP), conforme excerto abaixo transcrito (fs. 41-43):

“(...) QUE esta empresa possui como sócios o SÍLVIO, o MARCELO e o THIAGO; QUE THIAGO é o tesoureiro; (…) QUE tanto SÍLVIO, quanto THIAGO e MARCELO também se encontram com servidores e empresários no estacionamento do shopping Macapá; (...)”

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Além disso, as informações prestadas por Naiana Janaila Lima da Conceição

(fls. 224-229), ex-secretária da empresa Pangea Mineração Ltda., corroboram no mesmo

sentido:

“QUE começou a trabalhar na PANGEA MINERAÇÃO LTDA em fevereiro de 2016; (…) QUE sócios da empresa costumavam ser THIAGO FREITAS COSTA e MARCELO ADRIANO SCHMIDT; (…) QUE recentemente SILVIO entrou no quadro societário da empresa e THIAGO foi retirado; QUR THIAGO é o responsável pela parte mais administrativa, estando mais presente na empresa; (…) QUE a PANGEA trabalha com 4 contas bancárias; QUE uma delas é no nome da própria empresa (…); QUE outra é uma conta de THIAGO FREITAS COSTA (...)

Logo, não há dúvidas de que, na condição de sócio da Pangea Mineração Ltda,

THIAGO FREITAS COSTA detinha conhecimento sobre as ilegalidades perpetradas em

favor das atividades dessa pessoa jurídica, para as quais, aliás, contribuía com sua alçada

operacional e financeira.

Nesse sentido, plenamente comprovada, pelo plexo documental dos autos, sua

coautoria nas atividades irregulares do empreendimento localizado no “Tucano II”.

Indubitável, nessa mesma vereda, sua conduta como integrante da organização criminosa

composta por, pelo menos, Silvio Veriano Porto, MARCELO ADRIANO SCHMIDT,

EDIVAL CARDOSO GOMES, XIE PING e RUILLY JUAN DOS SANTOS LOPES, por

meio da qual se efetivaram os crimes previstos no art. 50-A da Lei n.º 9.605/98 (uma vez

desmatada floresta nativa em terras de domínio público, sem autorização do órgão

competente) e no art. 333 do Código Penal (posterior licenciamento da área do “Tucano II”,

por via ilegal, consubstanciada em pagamentos indevidos a funcionários públicos).

Portanto, conclui-se que THIAGO FREITAS COSTA, ao associar-se com,

pelo menos, outras cinco pessoas, de forma estruturalmente ordenada e caracterizada pela

divisão de tarefas, desmatou e explorou economicamente floresta nativa em terras de domínio

público, sem autorização do órgão competente, sendo conhecedor e tendo contribuído,

ademais, para a concretização dos pagamentos de vantagens indevidas a funcionários de

órgãos públicos ambientais, para determiná-los a praticar atos de ofícios que facilitassem

96 3213 7800 - www.prap.mpf.mp.brAvenida Ernestino Borges, n. 535 – Centro – Macapá/AP Página 22

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procedimentos burocráticos (autorização/licenciamento ambiental) referentes às atividades da

empresa Pangea Mineração Ltda., especialmente quanto ao empreendimento irregular do

“Tucano II”.

Desse modo, o denunciado, ao integrar tal organização criminosa, praticando

atos que possibilitaram a perpetração dos crimes narrados, incidiu nas figuras típicas

relacionadas aos crimes do artigos 50-A da Lei n.º 9.605/98, art. 333 do Código Penal e art. 2º

da Lei n.º 12.850/2013.

2.4 Quanto a RUILLY JUAN DOS SANTOS LOPES

Este denunciado, na condição de segurança pessoal e homem de confiança de

Silvio Veriano Porto, procedeu à abertura de conta corrente em seu nome, para franquear a

movimentação de altos valores referentes às atividades da Pangea Mineração Ltda., dentre

elas, os empreendimentos ilícitos perpetrados pela organização criminosa integrada por, pelo

menos, Silvio Veriano Porto, MARCELO ADRIANO SCHMIDT, EDIVAL CARDOSO

GOMES, XIE PING e THIAGO FREITAS COSTA.

Nesse sentido corroboram as informações prestadas por Naiana Janaila Lima

da Conceição (fls. 224-229), ex-secretária da empresa Pangea Mineração Ltda.:

“(…) QUE a PANGEA trabalha com 4 contas bancárias; QUE uma delas é no nome da própria empresa, com os seguintes dados Banco

QUE outra é uma conta de THIAGO FREITAS COSTA na CEF, Banco , ; QUE existe mais uma conta no Banco do Brasil, em nome da PANGEA MINERAÇÃO; QUE existe também uma conta em nome do segurança de SILVIO, RUILLY JUAN DOS SANTOS LOPES (CPF ); QUE essa conta foi aberta recentemente; QUE apenas SILVIO E JUAN movimentam essa conta; QUE JUAN um dia perguntou para a Colaboradora se ele conseguiria abrir uma conta para movimentar valores altos; (...)

Ademais, o conteúdo dos dados extraídos das mídias e do aparelho celular de

THIAGO FREITAS COSTA, apreendidos após a entrega espontânea, realizada em sede da

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colaboração já citada, e formalizada no Auto de Apreensão n.º 228/2016 (constante do Apenso

I – Volume único – do IPL n.º 133/2016-4-SR/DPF/AP), revela diversas imagens de extratos

bancários, TED's, depósitos, consultas de saldo, dentre outras atividades bancárias realizadas

na conta corrente de RUILLY JUAN DOS SANTOS LOPES, e em favor das contas da

Pangea, de Silvio e de MARCELO.

Outrossim, ainda a teor dos dados extraídos das mídias fornecidas por

THIAGO, verifica-se que o valor de R$ 1.384,20, oriundo da conta corrente de RUILLY

JUAN , foi pago ao Imap como “taxa” referente a um dos requerimentos de licença ambiental

efetuados por EDIVAL , para a área do “Tucano II” . Detalhe importante é que o pagamento foi

realizado no mesmo dia em que expedida a Licença de Operação n.º 561/2016 (fruto do já

exaustivamente discorrido procedimento irregular de licenciamento da área do “Tucano II”).

Some-se ao já exposto, outrossim, que as interceptações telefônicas revelam

conversas entre RUILLY JUAN, EDIVAL e outros parceiros da Pangea, em que dialogam

sobre atividades irregulares dessa empresa (fls. 839-verso e 840).

Desse modo, o denunciado, ao integrar organização criminosa composta por,

pelo menos, cinco pessoas (Silvio Veriano Porto, MARCELO ADRIANO SCHMIDT,

EDIVAL CARDOSO GOMES, XIE PING e THIAGO FREITAS COSTA), embora com

participação sem poder de gerência, incidiu na figura típica relacionada ao crime do artigo 2º

da Lei n.º 12.850/2013.

2.5 Quanto a XIE PING

A denunciada figurava como a principal investidora da empresa Pangea

Mineração Ltda., mormente quanto à abertura do ramal do “Tucano II”, sendo ciente da

irregularidade desse empreendimento. Ademais, ainda na condição de principal investidora,

buscou resolver a irregularidade da área do “Tucano II” através de EDIVAL, repassando-lhe

dinheiro para pagar propinas a servidores do Imap, com o intuito de agilizar o processo de

licenciamento da atividade. É o que se pode concluir, de primeira, da análise das

interceptações telefônicas, conforme relatório policial às fls. 797-842. Veja-se:

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a) em diálogo no dia 13/6/2016, Marcelo Adriano Schmidt diz a um

interlocutor, identificado como Marco Angeleti, que o ramal foi aberto no “Tucano II” para

que pudessem chegar até uma área de exploração de ouro. Ademais, Marcelo corrobora, ao

final do áudio, que tal atividade havia sido realizada sem licença alguma. Por fim, faz crer que

a chinesa XIE PING (“DONA ANA”) é a verdadeira investidora do local (fls. 805-verso e

806);

b) no dia 6/8/2016, Marcelo Adriano Schmidt (sócio da Pangea) e Thiago

Freitas Costa (ex-sócio da Pangea) citam que Silvio recebeu R$ 150.000,00 de XIE PING

(“DONA ANA”), para abertura da estrada no “Tucano II” (fl. 804);

c) em nova conversa, no dia 9/9/2016, Silvio e Edival comentam sobre a

participação de uma terceira pessoa, nominada Aderval Alfaia Lacerda, Engenheiro Florestal

membro do atual Conselho Titular do CREA/AP, que facilitaria, ilicitamente, a obtenção das

licenças ambientais necessárias à continuação da abertura do ramal no “Tucano II”. Nessa

oportunidade, Edival comenta com Silvio que conseguiria agilizar o processo “por trás dos

panos”, com servidores do próprio Imap, ressaltando que ambos teriam “nas mãos” pessoas de

dentro do órgão, bastando, para tanto, que fossem pagas propinas (fls. 804-805);

d) em 17/11/2016 e 18/11/2016, Marcelo e Edival conversam sobre as

facilidades conseguidas dentro do Imap e a expectativa para a expedição da licença, deixando

claro o nome de Josiel Lima e Silva, chefe de gabinete do Imap à época, como principal

facilitador das demandas ilícitas para abertura do ramal no “Tucano II”. Ainda, durante esse

áudio, Edival diz a Marcelo que Josiel é seu amigo e que a “Autorização Ambiental” já teria

sido expedida, razão pela qual os trabalhos de abertura do ramal poderiam continuar, desde

que devagar, para não chamar a atenção dos órgãos fiscalizadores. Tal afirmação se ratifica

diante da emissão da Licença de Operação n.º 561/2016 e da Autorização Ambiental n.º

524/2016, nos dias 22 e 23 de novembro de 2016, respectivamente, logo após o mencionado

diálogo (fls. 807 e 807-verso);

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e) em áudio captado em 19/11/2016, Silvio e Marcelo comentam que XIE

PING (“DONA ANA”) havia visitado a área do “Tucano II” e deixam claro o financiamento

por ela realizado, na empreitada ilícita (fl. 806);

f) no dia 22/11/2016, Aderval conversa com Edival e comenta que já deixou o

“negócio” nas mãos da “menina” (provavelmente identificada como Cleiane) e que o processo

já estaria na mesa de Josiel, para assinatura. Ainda no mesmo dia, Aderval informa a Edival

que a “criança” já estaria “no colo” (referindo-se à autorização do Imap) e que o dinheiro já

poderia ser liberado pela chinesa (XIE PING) (fl. 808);

g) já em 23/11/2016, Silvio e Marcelo comentam que Edival estaria tratando

diretamente com XIE PING (“DONA ANA”) a respeito da área do “Tucano II”, em uma

possível tentativa de tirá-los da negociata. Fica claro, no diálogo, que XIE PING

(“DONA ANA”) repassa dinheiro também para Edival, a fim de que este suborne servidores

do Imap (fl. 806-verso);

h) já em 1/12/2016, Marcelo e um indivíduo não identificado conversam sobre

a área do “Tucano II”, onde detalham todo o investimento feito por XIE PING (“DONA

ANA”) (fls. 806-verso e 807).

Não há dúvidas, portanto, de que o panorama até aqui delineado aponta XIE

PING como uma das principais responsáveis pela abertura irregular do ramal no “Tucano II”

e, ainda, que a Autorização Ambiental e a Licença de Operação expedidas pelo Imap, para

regularização do referido empreendimento, foram facilitadas por servidores desse órgão, após

pagamento de vantagem indevida.

Em seu interrogatório, em sede policial, XIE PING (“DONA ANA”), em

síntese, embora haja confessado ter financiado a abertura do ramal do Tucano, utilizou

diversas teses defensivas para se furtar às suas responsabilidades penais. Todavia, o plexo

probatório dos autos deixa evidente que, com suas condutas de (i) financiar a abertura do

ramal do “Tucano II”, consciente da ausência do devido licenciamento ambiental e de (ii)

repassar dinheiro a EDIVAL, para pagamento de vantagens indevidas a servidores do Imap,

com o intuito de obter, ilicitamente, o licenciamento do ramal do “Tucano II”, incidiu,

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inquestionavelmente, nas figuras típicas relacionadas aos crimes do artigos 50-A da Lei n.º

9.605/98 e do art. 333 do Código Penal.

Não se olvide, nessa mesma vereda, de sua conduta como integrante da

organização criminosa composta por, pelo menos, Silvio Veriano Porto, MARCELO

ADRIANO SCHMIDT, EDIVAL CARDOSO GOMES, XIE PING e RUILLY JUAN

DOS SANTOS LOPES, por meio da qual se efetivaram os crimes previstos no art. 50-A da

Lei n.º 9.605/98 (uma vez desmatada floresta nativa em terras de domínio público, sem

autorização do órgão competente) e no art. 333 do Código Penal (posterior licenciamento da

área do “Tucano II”, por via ilegal, consubstanciada em pagamentos indevidos a funcionários

públicos).

Portanto, conclui-se que XIE PING (“DONA ANA”), ao associar-se com, pelo

menos, outras cinco pessoas, de forma estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão

de tarefas, desmatou e explorou economicamente floresta nativa em terras de domínio

público, sem autorização do órgão competente, bem como financiou pagamentos de vantagens

indevidas a funcionários de órgãos públicos ambientais, para determiná-los a praticar atos de

ofícios que facilitassem procedimentos burocráticos referentes às atividades da empresa

Pangea Mineração Ltda., especialmente quanto ao empreendimento irregular denominado

“Tucano II”.

Desse modo, a denunciada, ao integrar tal organização criminosa, praticando

atos que possibilitaram a perpetração dos crimes narrados, incidiu nas figuras típicas

relacionadas aos crimes do artigos 50-A da Lei n.º 9.605/98, art. 333 do Código Penal e art. 2º

da Lei n.º 12.850/2013.

3. DO PEDIDO

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL oferece a presente

denúncia para que, recebida e autuada, seja instaurado o devido processo penal, com a

promoção da citação dos denunciados, bem como para que, ao final da regular instrução,

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sejam EDIVAL CARDOSO GOMES, MARCELO ADRIANO SCHMIDT, THIAGO

FREITAS COSTA e XIE PING condenados às penas do art. 50-A da Lei n.º 9.605/98, do

art. 333 do Código Penal e do art. 2º da Lei n.º 12.850/2013, todos na forma do art. 69 do

Código Penal, e, RUILLY JUAN DOS SANTOS LOPES, às penas do art. 2º da Lei n.º

12.850/2013.

Macapá (AP), 9 de outubro de 2017.

EVERTON PEREIRA AGUIAR ARAÚJO Procurador da República

ROL DE TESTEMUNHAS:

1. João Paulo Bastos, Delegado de Polícia Federal, Matrícula n.º 19517;2. Heitor Scarpati Liuth, Agente de Polícia Federal, Matrícula n.º 20614;3. Antônio Tupinambá Portela Neto, Agente de Polícia Federal, Matrícula n.º 20832;4. Naiana Janaila Lima da Conceição, , residente

5. Italo Tarcísio de Souza Rigamonti, Analista Ambiental, matrícula nº 1513205, lotado no IBAMA/AP;

6. Alírio de Macedo Mory, Analista Ambiental, matrícula nº 1511070, lotado no IBAMA/AP;

7. Bertholdo Dewes Neto, Diretor-Presidente do IMAP/AP.

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