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Atibaia - 23 a 25 de fevereiro 2018 OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL #só fazemos sentido juntos

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Atibaia - 23 a 25 de fevereiro 2018

OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

#só fazemos sentido juntos

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Ministériosorientados por

Missões

Você, porém, seja sóbrio em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério. – II Tm. 4.5

“Quando os cristãos dizem que a vida de Cristo está dentro deles, não estão se referindo simplesmente a algo mental ou moral. (...) essa não é simplesmente uma forma de dizer que eles estejam pensando em Cristo ou tentando imitá-lo. Eles querem dizer que Cristo está realmente operando por meio deles; que toda a massa de cristãos compõem o organismo �sico por meio do qual Cristo atua – que nós somos os seus dedos e músculos, as células do seu corpo, e talvez isso explique algumas coisas” (grifo nosso)

Tanto o texto bíblico quanto a citação acima do livro Cris�anismo puro e simples de C.S. Lewis ajudam a explicar muita coisa sobre a maneira que Deus, por meio de Cristo Jesus, atua no mundo. Existe uma forte relação entre quem somos, o que fazemos e a maneira pela qual Jesus Cristo é percebido pelas pessoas. Antes de olharmos para eles, precisamos dar alguns passos iniciais.

Unificado#18. Uma ponte de transição

Conta-se a história de dois irmãos que eram muito amigos, desde a infância. Eles eram vizinhos, �nham suas fazendas muito próximas. Um dia, por causa de uma discussão, a amizade entre esses dois irmãos acabou. Esta foi a primeira briga entre eles em 50 anos de convivência. Até então, eles sempre trabalharam

juntos nas plantações e cuidando das fazendas, e sempre ajudavam um ao outro em momentos di�ceis.

A briga começou por causa de um pequeno mal entendido, o que pode acontecer de vez em quando com todo mundo, mas a discussão foi crescendo até se tornar uma forte briga repleta de palavras de fúria e raiva, seguidas de semanas de silêncio e afastamento.

Um dia, um dos irmãos estava em casa quando alguém bate na porta. Ao abri-la, depara-se com senhor de idade um pouco avançada, de barba branca, segurando uma caixa de ferramenta. "Sou carpinteiro, meu senhor, e meu trabalho pode ser ú�l", disse ele. "O senhor precisa de algum reparo na sua casa e na sua fazenda?". Sim, disse o irmão.

«Eu tenho um trabalho para o senhor. Do outro lado do riacho tem uma fazenda, que pertence ao meu irmão mais novo. Até então, toda a área entre as nossas casas era muito verde, mas ele mudou o curso do riacho para criar um �po de fronteira entre nós. Tenho certeza que ele fez isso porque tem raiva de mim, mas eu vou dar uma resposta a ele...", disse o irmão mais velho. "Está vendo aquelas árvores perto do celeiro? Eu quero que o senhor faça uma cerca de três metros de altura com elas, pois eu nunca mais quero vê-lo, para o resto da minha vida.»

O carpinteiro ouviu a história, e pensou em silêncio por alguns minutos depois de ouvir a história, e disse: "Entendi, senhor."

O fazendeiro então ajudou o carpinteiro a carregar as ferramentas e a madeira, e depois disso par�u para a

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cidade para resolver alguns assuntos ro�neiros. Ao voltar no fim da tarde, viu que o carpinteiro �nha terminado o serviço. Porém, ao se aproximar do riacho, ele ficou furioso. Seus olhos pareciam soltar faíscas de tanta raiva, e ele mal conseguia pronunciar uma palavra.

No lugar onde deveria estar a cerca, agora havia uma ponte. Uma ponte diferente, muito peculiar e especial. Parecia uma verdadeira obra de arte, com um belo corrimão delicadamente esculpido pelo carpinteiro. Nesse mesmo tempo, o irmão mais novo apareceu. Ele correu, cruzando a porte, e abraçou o irmão mais velho, dizendo:

"Você é muito especial, meu irmão... Construir essa ponte, depois de tudo o que te fiz e disse a você!" Ao ver os irmãos se abraçando, o carpinteiro silenciosamente recolheu suas ferramentas, colocou-as de volta na caixa e começou a caminhar. Um dos irmãos foi atrás dele e disse: "Por favor, fique aqui por mais alguns dias - precisamos consertar mais algumas coisas aqui". Então o carpinteiro diz: "Eu gostaria muito de ficar, meu senhores, mas tenho mais pontes para construir e outros consertos para fazer em outros lugares..."

Dois irmãos, uma briga que os separou, um riacho que os distancia e torna-os o “irmão do lado de cá” e o “irmão de lado de lá”. Essa, de alguma forma não é a própria história de humanidade? Desde a criação o homem tem criado muros de separação por causa de suas desavenças. A Bíblia mesmo diz que o pecado causa separação entre Deus e o homem. Caim e Abel �veram uma desavença tão intensa que não houve o distanciamento, ocorreu uma tragédia. A igreja (os do lado de cá), por vezes também levanta muros para não se relacionar com o mundo (os do lado de lá). Os muros, os r iachos cr iam uma falsa segurança, um sen�mento de que estamos isolados, que podemos viver sozinhos, que somos melhores, somos diferentes e que a relação com quem não pensa como a gente é uma relação que realmente deve não exis�r.Quem decide construir a ponte não é nenhum dos dois irmãos, mas o velho carpinteiro que entra na história para mudar a vida dos dois. O que aconteceria se ele construísse a cerca solicitada? Com certeza os ânimos seriam mais acirrados e a dor e distanciamento só aumentariam para os dois lados.O que isso tem a ver conosco nesse momento? Departamentos geralmente criam muros e

ministérios precisam criar pontes! Vamos olhar para nossa realidade e pensarmos juntos:O departamento tem como alvo a�ngir um �po de pessoa ou cumprir um �po de a�vidade e usa como meios estratégias geralmente voltadas para eventos e programações para ajudar esse público alvo. Ajudar a que? A que eles se mantenham na igreja, certo? Parece, portanto, que a orientação a que um departamento se volta é a manutenção.Veja o moto oficial da UMAP: “Que o Senhor nos veja e nos guarde enquanto es�vermos separados uns dos outros” - a ideia é que precisamos estar juntos, unidos – a união da mocidade. Isso é bom? Lógico que é! Mas sem perceber estamos de alguma forma dizendo que o único mo�vo para nos separarmos é estar juntos de novo e a única coisa que pode acontecer enquanto estamos separados é que sejamos guardados por Deus do mal e do mundo que nos cerca, mas que não devemos nos relacionar porque ele é mau e nós somos bons! Pronto, muro criado! O obje�vo de um departamento, portanto, é garan�r que aquele público seja man�do dentro do arraial da igreja, sem se contaminar. Programações, horários, ensino, estratégias são pensadas para o público alvo de tal maneira que a manutenção seja alcançada. Enfim, Departamento A , orientado para a manutenção se u�liza de eventos e programas com o obje�vo de alcançar o público A de dentro da igreja e mesmo entre si (os departamentos) são criados muros de separação.Ah, você vai dizer: “mas nós fazemos eventos para chamar amigos de fora”. Sim, é verdade. No geral, se fazem convites, se distribui folhetos, batem-se nas portas do bairro da igreja, fazemos cartazes, disponibilizamos memes nas redes sociais para pessoas que no geral nosso relacionamento é mínimo e não oferecemos uma ponte de travessia, o que oferecemos é como se disséssemos: “estamos lá do outro lado do riacho, sei que é bem di�cil chegar lá, mas esse é o preço, se quiser vai nadando que eu já estarei lá”. Poucos se dispõe a ir e se não decidirem ficar (aceitar o apelo evangelís�co ao final do culto) o que vai acontecer em geral? Voltarão para o outro lado do rio e lá ficaram porque eles são de lá, eles não são de cá.O momento em que estamos vivendo necessita que entendamos a necessidade de construir pontes. Esse unificado de alguma forma se propõe a isso. A Igreja Adven�sta da Promessa vive uma transição do modelo departamental para o modelo ministerial de atuação. O Unificado#18 tem a intenção de se tornar uma ponte para essa

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transição. Para isso, esses conceitos precisam estar claros: estamos do lado de cá e existe um rio, um mar que nos separa do lado de lá. Podemos con�nuar construindo cercas e muros de proteção para manter os que estão do lado de cá, mas podemos ter a ousadia de criar uma ponte de travessia. Só constrói a ponte, só sobe na ponte quem entende que do outro lado tem alguma coisa que importa. Vamos juntos, passo a passo, para que você, como líder, possa decidir fazer a travessia.

Em nossas discussões, orientados pelo Espírito de Deus, concordamos que o primeiro passo nessa ponte é entender que ministérios são orientados para cumprir a missão de Deus, pois se não o fazem, eles são orientados para si mesmos. Sempre que isso acontece, pode até se ter nome de “ministério”, mas a mentalidade con�nuará s e n d o a d e p a r t a m e n t a l . A e s t r u t u r a departamental, é preciso dizer, serviu e talvez para alguns ainda serve, em muitos contextos de “ponte” para outras gerações. Não se pode desprezar o que fomos até aqui, como se não �vesse valor. Quando estudamos, como igreja, biblicamente a nomenclatura se percebe que ministério é mais próximo do conceito da Palavra de Deus para as atuações no contexto da igreja. Já conversamos sobre isso largamente no Unificado#17 e em outras instâncias de denominação. Independente de nomenclaturas, a proposta é entender que a orientação precisa sair de voltada para a manutenção e se voltar para cumprir a missão. “Por que?”, talvez, seja a primeira pergunta que deve ser feita e respondida.

Uma sociedade secularizada e pluralL e s s l i e N ew b i g i n te m u m a te s e m u i to interessante para nos ajudar nessa resposta. Ele vai dizer que vivemos numa sociedade pluralista e secularizada e essa deveria ser a principal mo�vação para termos uma a�tude missionária nos contextos que vivemos. Assim, já sabemos e, como denominação, decidimos mudar o termo departamental para ministerial por compreender que a Bíblia assim nos direciona. Esse é o primeiro porquê, mas vamos dar o segundo passo. Este trata-se de perceber o �po de sociedade em que estamos inseridos.Newbigin foi um teólogo e missionário britânico, falecido em 1998. Na década de 40 ele foi enviado a Índia e serviu ao Senhor por muitos anos no contexto missionário. Ele e sua esposa, Helen,

retornaram do campo missionário em 1974 e o que ele encontrou na Inglaterra o fez refle�r sobre a postura da igreja de então e que ainda fala conosco hoje.Ele vai dizer em seu livro Open Secret que a igreja que foi evangelizar os pagãos se paganizou porque deixou de ser missionária para si mesma. Seguindo o seu raciocínio, o que ele quer dizer é o seguinte. Nas décadas de 40, 50 e, talvez, até 60 a cosmovisão cristã impera na sociedade europeia. A é�ca cristã era a base da sociedade, da moral e dos bons costumes. O conceito de família da sociedade de então era muito parecido com o conceito de família oferecido pela igreja (marido e mulher vivendo em uma relação de fidelidade e criando filhos com princípios morais elevados). Mesmo os que não eram católicos ou protestantes �nham esse princípio como válido para suas vidas. O certo e o errado eram comuns para ambos os lados. Usando a analogia da ponte, talvez estavam todos do mesmo lado, ainda que com diferenças na maneira de viver, mas chamar alguém para ir à igreja era algo que não causava estranheza para quem chegava: a maneira de se ves�r, o �po de música cantada, a maneira como se falava, os horários que os cultos aconteciam, enfim, tudo isso e mais estavam perfeitamente adaptados e contextualizados para os de dentro da igreja e os de fora. O que precisava era “simplesmente” um entendimento da necessidade de Jesus como Salvador porque no restante, o mundo de então pensava basicamente da mesma forma – a sociedade �nha uma base cristã, mesmo não sendo em sua totalidade cristã.Só que isso mudou em meados de 60 e 70. Aconteceu a revolução sexual e os jovens passaram a ques�onar suas famílias e a moral sob a qual viviam. A sociedade entrou defini�vamente em um tempo de pluralização. A base dessa sociedade plural não é mais o cris�anismo. Cada um pensa como quer, vive como quer. O certo e o errado são rela�vos. O que é uma família hoje? Quais são as palavras que ontem nunca apareceriam em público e que hoje são comuns. A forma de tratamento entre pessoas mais velhas e mais novas já não é mais a mesma. O respeito pelas ins�tuições, seja o governo, o casamento, a igreja já não é mais o mesmo. O que molda o pensamento de uma geração que vive em uma sociedade pluralista? A escola, a mídia, os amigos, as diversas religiões e a igreja cristã, tudo faz parte de um caldo cultural e as pessoas moldam sua maneira de pensar e ver a vida através dessa lente mul�cultural e pluralista, onde Deus já não é mais

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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o centro da sociedade. O século XX que começa desencantado por causa das duas grandes guerras está baseado em uma filosofia e mesmo em uma teologia que ques�onou o amor de Deus e sua jus�ça. Ques�onou a verdade das Escrituras e aquilo que começou como teoria de teólogos e filósofos se tornou na nova moralidade de europeus e norte-americanos: Deus sai do centro, entra o próprio homem e a vida agora se tornou repar�da em dois mundos: o espiritual, de foro ín�mo e o secular, que acontece no ambiente público. A igreja europeia aceitou essa condição e entramos em 70 e 80 com a mentalidade de que nós precisamos nos proteger do mundo que se paganizou com valores contrários ao evangelho e todo o foco se voltou para os cultos. Então, no sábado ou no domingo as igrejas pregam a verdade para que haja san�ficação e tentou a todo custo manter as abordagens culturais que faziam sen�do para as an�gas gerações, aquela que viveu uma sociedade cris�anizada. Então, criamos muros para nos proteger dos novos es�los de música, das novas roupas, dos novos programas de televisão, das novas palavras e criamos, talvez sem perceber, a subcultura evangélica com palavras próprias, jeito próprio e distanciados cada vez mais da sociedade que foi para o outro lado do riacho.A intenção foi posi�va, sem dúvida, porque realmente a Bíblia nos diz que devemos ter uma vida santa, que o mundo jaz no maligno, que precisamos ser diferentes e que não devemos nos colocar em jugo desigual com os infiéis. Só que a postura adotada trouxe também efeitos nega�vos. O muro, que se levantou entre nós e eles, também nos afetou. Porque temos que viver na sociedade, certo? Trabalhamos nas empresas deles, consumimos no comércio e nos shopping deles, frequentamos os restaurantes deles. A fé se tornou o ambiente da in�midade (do culto, da reunião dos crentes) e o crente quando vai para o mundo secularizado age de maneira secular porque ele precisa ter salário, viver lá. Não se fala mais da fé porque lá fora o crente é um e aqui dentro ele é outro. O crente, em geral, se acostumou a viver a fé na in�midade dos membros da igreja e a ser secularizado naquilo que parece que a fé não alcança mais: o trato com o dinheiro, o trato com a família, os pequenos vícios etc.O muro que era para a manutenção e para a san�ficação acabou por criar crentes que se sentam nos bancos para receber alimento sem

querer compar�lhar o que recebem. A fé é somente para a edificação própria e poucos a compar�lham. Criamos consumidores e não cristãos dispostos a cumprir a missão.

A proposta missionalA par�r dessa realidade, acompanhe o raciocínio de Newbigin:

- Lá, no campo missionário, as igrejas funcionam de maneira diferente do que no contexto original, porque estão em uma cultural não cristã.- Lá, no campo, as igrejas não imaginam que os visitantes de seus cultos �vessem familiaridade com o cris�anismo, por isso umas das primeiras missões de um missionário é se adaptar com a língua e os costumes locais para poder fazer pontes de contato com a mensagem cristã.- Lá, no campo, se vive em uma sociedade com valores radicalmente diferentes do que aprendiam na igreja, porque não é hábito da tribo africana ou do povo indiano conhecer os costumes cristãos.- Longe do ocidente, as igrejas não �nham um departamento de missões, os cristãos estavam em missão em cada área da vida pública e privada porque somente assim a mensagem faria alguma diferença na vida daquele povo que veria não somente um culto ou uma pregação, mas a vida do missionário.Newbigin defende que (desde 60, 70) a igreja deixou de percebeu que não se vivia mais em um ambiente cristão, mas sim em um ambiente secularizado e plural que tem as mesmas caracterís�cas de um campo missionário:

- A cultura ocidental estava se tornado uma sociedade não cristã (campo missionário), mas a igreja estava fazendo poucos ajustes.- As igrejas na Europa e América �nham que lidar com o fato de não estarem mais operando numa cultura cristã.

Daí emerge o conceito de ser missional. Gruder, no livro Missional Church, defende que o conceito nasce da preocupação que a igreja está enviando missionários para lugares distantes, mas está enfrentando questões culturais e de afastamento na própria sociedade ocidental e que, por isso, precisaria se enxergar missionária ou missional

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em sua própria cultura. Assim, a palavra “missionário”, geralmente, nos traz a imagem de alguém enviado para um campo missionário distante. A palavra “missional” é destacada para trazer a imagem de uma postura de vida que deve ser adotada pelo cristão para cumprir a missão em seu próprio contexto cultural. Ser missionário é visto como uma função, ser missional é adotar um es�lo de vida. No contexto de nosso tema, uma ação miss ionár ia é um evento ou uma programação de um departamento, ser missional é a postura ministerial que precisa ser adotada no contexto secular que vivemos.

A proposta bíblica é missional

Analisamos como agem, de maneira geral, os departamentos e como era e agora como está a nossa sociedade para defender a postura e a orientação para a missão de nossos ministérios. Agora, resta o mais importante: o que a Bíblia diz sobre tudo isso? A Bíblia se apresenta missionária ou missional em seu contexto? Qual a postura do An�go Testamento? Qual a visão e ação do povo de Deus no Novo Testamento?

Em resumo, o An�go Testamento apresenta uma postura missionária. Se não, vejamos o chamado de Abraão:

“E o Senhor disse a Abraão: Sai da tua terra, dos meios dos teus parentes e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei. Farei de � uma grande nação e te abençoarei (...) e todas as famílias da terra serão abençoadas por meio de �” Gn. 12. 1 – 3 (grifo nosso)

Em geral, os comentaristas apresentam esse texto a par�r de uma bênção tríplice a Abraão: descendentes (uma grande família) terra (vai para terra que te mostrarei) e bênção (ele e seu povo seriam os mais abençoados da terra). A leitura missionária sugere uma dupla bênção. Leia o texto atentamente percebendo a postura missional apresentada por Deus. Deus cria um povo, lhe dá uma terra e o abençoa grandemente – essa é a primeira bênção. Então, Abraão é escolhido “precisamente para que a bênção possa

chegar a todas as nações, a todas aquelas 70 nações que Deus havia espalhado sobre a face da terra”.

Toda a história subsequente de Israel (o êxodo, o trono de Davi, as crí�cas dos profetas) estão baseadas e encontram início no chamado de Abraão. É um povo abençoado, porque tem as leis e a promessa de Deus, sem dúvida. Mas também é um povo chamado para ser luz para as nações, para abençoar as nações e para servir de ponte de retorno a Deus para todos aqueles que se distanciaram.

Não é possível se estender aqui, mas a leitura de todo o An�go Testamento mostra como o povo de Israel fracassou em sua missão porque quando se afastou em san�dade criou máscaras e hipocrisias e quando se aproximou das nações por muitas vezes se deixou corromper adotando princípios e a�tudes que desagradaram a Deus. Se pudesse resumir a a�tude de Israel, a nação se encantou com o privilégio e muitas vezes o desprezou (ser uma nação santa, um povo adquirido e amado pelo Deus da aliança). Por outro lado, a nação negligenciou a responsabilidade de ser luz para as nações e, ao contrário, serviu para o afastamento ainda maior quando se contaminava e vivia como os povos ao redor.

O fracasso só não foi maior porque toda essa história está dentro do plano de Deus que por meio de Israel, predito por seus profetas, levantaria o descendente da mulher que seria bênção para as nações: Jesus, o Cristo. Ele é o ideal de missionário e de vida missional. Ele vem para uma terra distante (se encarna) e aqui vive como servo dos demais, ensinando e pregando a par�r das realidades que as pessoas entendiam, andando com eles, sendo luz e sal para a sociedade exatamente como pregava. Suas palavras e suas a�tudes eram coerentes e ele ia a sinagoga, mas a maior parte do seu ministério e das histórias dos Evangelhos acontecem nas casas , nas ruas , no mar, em conversas par�culares, nas festas do povo, enfim, Jesus foi enviado em missão e a viveu intensamente, em qualquer circunstância que a vida terrena o colocou. Além de ensinar e pregar, ele curava,

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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consolava e conversava com as pessoas independente do resultado final, pois assumiu a forma de servo e decidiu servir ao próximo, seja ele aparentemente digno ou indigno de seu serviço.

A igreja que nasce a par�r do ministério de Jesus assume a mesma postura de seu mestre e Senhor. E, agora sim, podemos relacionar o contexto de então com o atual contexto. A igreja primi�va surge no ambiente cultural religioso de Jerusalém. Suas primeiras pregações, em Atos se dão ao redor do templo para pessoas que conheciam a religião de Israel, suas leis e seus profetas. Só que rapidamente, orientados pela palavra de Jesus ela caminharia para Samaria e até os confins da terra (At. 1.8). Essa pregação fora do ambiente de Israel jogaria a igreja cristã para uma arena paganizada. Os costumes não eram os de Israel, a linguagem não era a do templo de Jerusalém, os profetas não eram parte fundamental da leitura de suas escolas. A igreja entre os gen�os surge a par�r de um povo que tem costumes muito diferentes do que o que se �nha em Israel. Por isso, tantas vezes nas cartas, Paulo aparece dizendo que, antes, os cristãos levavam uma vida e pra�cavam a�tudes que eram contrárias ao conselho da Palavra de Deus.

Quando chegamos à igreja de An�oquia, em Atos 13, vemos uma igreja com alguns homens que são separados e enviados em missão. A proposta é a mesma, em comparação, a Abraão. Eles são separados (por isso são abençoados, são especiais para Deus), mas eles também são enviados (tem uma missão, serão bênção para outros). Qual a postura dessa igreja e desses homens? Eles precisam se voltar para Cristo, precisam dar ouvidos ao Espírito Santo e temos o registro do que isso gerou – uma igreja com forte consciência missionária a par�r de vários textos podemos inferir isso:

- Jesus diz que somos sal e luz do mundo (Mt. 5.13 e 14)- Pedro diz que precisamos responder a quem perguntar a razão da esperança (I Pd 3.15)- Paulo diz que devemos fazer o bem a todos (Gl. 6.10)

- Judas diz que devemos salvar quantos pudermos do fogo (Jd. 1.23)- Paulo diz que se fez de tudo para com todos para salvar alguns (I Co. 9.22)

Por esse breve panorama é possível perceber que tanto o An�go Testamento, como o Novo Testamento apresentam o povo de Deus com privi légios de seu chamado, mas com a responsabilidade de sua missão, que nada mais é do que cumprir a própria missão de Deus que está resgatando o mundo em Cristo Jesus para viver em sua presença.

Ministérios orientados para a missão

Se a sociedade que vivemos se parece mais com as nações gen�licas, que a igreja se lançou a pregar movida pelo Espírito Santo e não mais com a Israel religiosa; se a Bíblia apresenta um povo chamado por Deus para viver em missão, o cumprimento do ministério também precisa reconhecer essa lógica e enfrentar a realidade de seu contexto. Nossa igreja e nossos ministérios vivem em uma sociedade totalmente contrária a visão que carregamos. Vivemos em uma sociedade plural, secularizada e priva�zada, como já apresentamos. Não fomos chamados para o isolamento, mas para a ação transformadora. O chamado à san�dade é também um chamado à missão.

Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. – I Pd. 2.9 (grifo nosso)

Somos especiais, a menina dos olhos de Deus, mas tudo isso não resulta somente em bene�cio próprio, tem uma razão maior de ser: anunciar, sair em missão para que assim, como fomos chamados das trevas para a luz, possamos chamar outros a viver a mesma experiência.

Então, voltemos ao texto inicial e a história dos dois irmãos que se separaram pelo riacho. Paulo diz claramente a Timóteo que ele deve cumprir “plenamente o seu ministério”. Se você ler o contexto vai perceber algumas coisas importantes sobre cumprir o ministério de maneira plena:

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- é necessário pregar a Palavra e ensinar a doutrina (v. 2)- é necessário discernir os tempos em que a pregação e o ensino acontecem (v. 3)- é necessária moderação e capacidade de sofrer pelo evangelho (v. 5)- é necessária uma vida dedicada integralmente ao ministério (v. 6 e 7)- é necessário amar a vinda do Senhor (v. 8)

Agora perceba que diretamente ligado a frase final e, porque não dizer central, do texto em questão está uma afirmação que não deveria ser desprezada por Timóteo, nem por nenhum de nós ao cumprir plenamente o ministério: faça a obra de um evangelista. Eugene Peterson, eu sua tradução A Mensagem diz assim: “mantenha a mensagem viva”! Todo o ministério (a pregação, o ensino, o sofrimento, a vida dedicada, a expecta�va pelo retorno do Senhor) precisa ser cumprido com a orientação do evangelho, da boa no�cia. Nossos ministérios precisam fazer a obra do evangelho, manter a chama da mensagem viva, atual, relevante e acessível aos que vivem longe do Senhor.

Essa é a proposta de Deus para o seu povo de todos os tempos, essa é a postura que a igreja adota em meio a uma sociedade paganizada. Ser luz, ser sal, fazer o bem, servir, amar, apresentar o evangelho em palavras, mas também através do es�lo de vida! Como nossos ministérios podem refle�r essa realidade? Sendo orientados para a missão. Tendo como perspec�va de par�da em qualquer planejamento a ideia de que estamos em uma sociedade corrompida e somos chamados a ir em missão levando o evangelho com a vida, com nossas a�tudes e como nosso es�lo de viver e se portar no mundo. Mas vale a ênfase: isso se dá no mundo e não somente dentro das quatro paredes confortáveis e seguras de nossos locais de reunião e culto.

Assim como vale a ênfase, vale também um parêntese: é uma postura que apresenta riscos? Sim, com toda a certeza! Mas parece já te ficado claro que Jesus assumiu todos os riscos por nós. A manutenção é mais tranquila? Sim! Pelo menos

na aparência afastamos nossos jovens, mulheres, cr ianças e músicos do mundo! Quando assumimos a postura missional o que se cria é uma ponte! E uma ponte é uma possibilidade de movimento e transição de um lado para outro. O risco está posto. Israel não soube viver entre as nações. A igreja primi�va teve também suas dificuldades que ficam claras nas cartas, mas em nenhum momento a revelação bíblica retrocede de maneira a desis�r da missão. O risco é evidente, mas precisa ser enfrentado. Como? A própria postura missional responde. Aqueles que antes eram o obje�vo, na visão de manutenção, tornam-se o próprio ministério e através da capacitação do público em questão (jovens, mulheres etc) tornam-se preparados para viver o evangelho e contribuírem para que outros venham conhecer e par�cipar do ministério em um processo constante de serem discipulados até o ponto de estarem preparados para transpor a ponte anunciando o evangelho, cumprindo plenamente o ministério, fazendo a obra do evangelho por meio da missão de anunciar as obras daquele que nos �rou das trevas para sua maravilhosa luz.

Em nosso contexto promessista, vale a pena apresentar algumas sugestões prá�cas para pensarmos sobre o assunto:

- Nosso ministério precisa conhecer o seu público (interno e externo) a ponto de cumprir a missão com uma linguagem que alcance a todos;- Nosso ministério precisa ser intencional em desenvolver estratégias que contribuam para que os par�cipantes dos ministérios alcancem seus amigos e sejam influenciadores na maneira de viver e se portar diante da vida e das situações que vivem em sociedade;- Nosso ministério precisa fazer com que todos os par�cipantes percebam que o alimento espiritual, gerado em nossas reuniões, não são exclusivos p a r a a a l i m e n t a ç ã o í n � m a , m a s fundamentalmente para a capacitação para servir aos outros;- Nosso ministério precisa pensar em como ser sal e luz para as nações, dentro de seus contextos, a medida em que nos tornamos atracionais (pelo es�lo de vida) e relevantes (a par�r do serviço e intervenções sociais que podemos fazer);- Nosso ministério precisa entender a disposição

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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para o sofrimento, adquirindo paciência, moderação e resiliência diante das dificuldades (porque o fato de construirmos a ponte não significa que o fluxo de travessia será enorme).

Para terminarmos, pense novamente nos dois irmãos. Nenhum dos dois teve a intenção de construir a ponte, porque eles estavam magoados, eles �nham, na cabeça deles, diferenças irreconciliáveis. Foi um terceiro (o sábio carpinteiro) que construiu a ponte. O mesmo acontece na história humana. Criamos o muro da inimizade, diz Paulo aos efésios. O filho do carpinteiro de Nazaré, Jesus homem. O Filho eterno de Deus, Verbo encarnado, decidiu construir uma ponte de aproximação. O fato de ter a ponte construída gerou em um dos irmãos um sen�mento inesperado até então. Isso quebrou suas barreiras emocionais e fez com que ele atravessasse para abraçar o seu irmão que estava do outro lado. Um ministério orientado para a missão precisa gerar o mesmo sen�mento naqueles que estão de fora. Temos o risco de perder alguns por causa da ponte? É um risco real, por isso que nossos ministérios precisam contribuir claramente para o amadurecimento e capacitação espiritual de nossas crianças, adolescentes, jovens e mulheres. Eles precisam viver o evangelho e estarem preparados para fazer a diferença sem se contaminar, mas sendo sal e luz para um mundo em trevas.A intenção maior e real é que ao construirmos pontes, as pessoas percebam que as amamos, que queremos que elas se aproximem do lar novamente, que nós não temos preconceito com elas, que nós não queremos contribuir para aumentar a hos�lidade e inimizade, mas que intenc iona lmente queremos mostrar o evangelho, uma vida baseada no amor, graça e perdão de Deus que eles também podem viver. Somos a geração promessista chamada a construir pontes para que cumpramos o ministério plenamente, fazendo a obra de um evangelista, com a vida e com as palavras, com as a�tudes e com a pregação, com a doutrina e com a maneira contextualizada de viver e se colocar no mundo. Com certeza, precisamos con�nuar a cuidar da san�ficação e da comunhão dos de dentro, mas que a orientação – a direção - seja a missionária. Que a postura assumida por cada um de nossos ministérios tenha a base bíblica e contextual de nossos tempos: somos missionários intencionais e atracionais para um tempo e uma geração que se afastou completamente de Deus e

de seus valores. Quais são os próximos passos? Quais são os desafios que essa postura traz a nossa igreja? É o que queremos compar�lhar com os demais temas, na fiel tenta�va de reconhecer nossos contextos internos e nossos desafios para que essa postura venha a ser bênção para toda a igreja. Cada um dos demais temas foi preparado com a clara intenção de nos ajudar a fazer essa transição com moderação, paciência, suportando os sofrimentos da mudança, mas na certeza que não podemos fugir a responsabilidade de fazer a obra de um evangelista, cumprindo plenamente o ministério que Cristo Jesus nos entregou, nos separou e nos chamou a cumprir. Que Deus nos ajude e sempre nos conceda o privilégio e o poder real e necessário do Espírito Santo para não ficarmos pelo caminho.

BibliografiaGOHEEM, Michael W. A igreja missional na Bíblia. Ed. Vida Nova. São Paulo, 2014GRUDER, Darrel. Missional Church.LEWIS, C.S. Cris�anismo puro e simples. Ed. Thomas Nelson Brasil. Rio de Janeiro, 2017.NEWBIGIN, Lesslie. The Open Secret. Idem. A igreja em sua sociedade Pluralista.

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Líderesque precisam ser

Ovelhas

Encontro Unicado de Lideranças

“Seja a a�tude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. ” - Filipenses 2.5-11 - NVI.

Introdução

Somos convocados a liderar uma pequena parte no Reino de Deus. E, por menor que seja, é importan�ssima e indispensável. Seja um Pequeno Grupo, um Ministério Regional, uma igreja, um campo pastoral ou uma Convenção. Deus nos deu o Seu melhor, que é Jesus. Devemos então exercer o ministério com o nosso melhor. Há sempre uma forma mais excelente de liderar. Não sabemos tudo. Um líder sábio é aquele que está sempre pronto a aprender: “Instrua o homem sábio, e ele será ainda mais sábio; ensine o homem justo, e ele aumentará o seu saber. ”- .Pv9.9

A proposta desafiante dos nossos dias é uma mudança de princípios em nossas a�vidades

internas. Uma migração de a�vidades como “Departamentos” para “Ministérios”. Uma igreja com v i são “Miss iona l”, vo l tada para o “Discipulado”. Parece simples como apenas uma mudança de nomenclaturas. Mas, na verdade, isto inclui uma mudança de paradigmas, de posicionamentos espirituais e administra�vos envolvendo toda a estrutura da Igreja. Isto demanda le i turas , reflexões , reun iões , treinamentos e muita cautela para não perdermos ninguém, mas conduzi-los a um crescimento saudável e bíblico, que glorifique o nome do Senhor. Como igreja, precisamos sempre buscar a excelência, ajustando melhor a Eclesiologia à Bíblia nas áreas de dons, discipulado e ministérios.Nada acontece sem uma liderança bíblica e empenhada na busca do melhor para o Senhor.O modelo que devemos buscar é a liderança servil, tendo Jesus como nosso exemplo maior.

1 – Nosso modelo de liderança é Jesus – v.5 - “Seja a a�tude de vocês a mesma de Cristo Jesus”

Ter a a�tude de Cristo ou “o mesmo sen�mento” é pensar, agir como Ele agiu. Ter ainda a mesma escala de valores que Ele possuía. Os mesmos obje�vos. O mesmo caráter. A mesma missão e visão de vida.Fomos salvos por Cristo. Todos os nossos ritos

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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falam dEle. Ele é o personagem central da Bíblia Sagrada. Ele é o Começo, Meio e Fim de todas as coisas. O Soberano. Ele é o Sumo Pastor. O Noivo. O Senhor de Tudo. O Senhor da Igreja. Nossas a�vidades só têm sen�do se Jesus for o modelo e o alvo final.Não dá para ser líder no Reino de Deus, sem antes ter sido salvo, ter �do um encontro pessoal com o Senhor. A cruz e o túmulo vazio de Jesus devem ser uma realidade para todos os líderes cristãos. Sem esta iden�ficação de conversão, o prejuízo é enorme para o povo de Deus. Muitos problemas da igreja são causados por l íderes não conver�dos. Não precisamos de profissionais da fé, mas de gente nascida de novo, que não tem apenas uma aparência de piedade, mas que têm Jesus como Senhor e Salvador. Encher os quadros organizacionais com pessoas animadas sem levar em conta a a�tude do coração ou os dons espirituais irá certamente matar uma igreja. Deixar que o povo de Deus sirva de acordo com os dons espirituais que lhes foram dados faz a igreja crescer.

2 – O abandono da vaidade – vs 6, 7 - “que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. ”

Jesus nos dá o exemplo do desapego de qualquer vaidade pessoal. Sendo Deus não quis ser Deus. Não quis se apegar ao que era em essência. Como nosso líder supremo mostra que a escada da liderança é para baixo e não para cima. Ele “esvaziou-se”. Ele assumiu o caminho da “servidão”. Tudo que temos e que sabemos foram dádivas da maravilhosa graça de Deus. Só tem sen�do se as u�lizarmos com humildade, para servir a Deus e ao nosso próximo. O líder cristão é servo. Não é um déspota, exigindo ser servido, querendo ser um fim em si mesmo, uma lealdade cega. O “eu”, o ego deve ser subs�tuído por “Ele”. Não devemos querer ser o que não somos. A liderança deve ser apenas um meio de edificação de vidas para a glória de Deus. Quem lidera precisa primeiro se esvaziar. Depois, precisa se iden�ficar com os liderados, tendo por eles amor incondicional. Cargos e funções são passageiros. O melhor �tulo é o de servo. A roupa mais bonita é a da

humildade.O líder cristão, portanto, deve exercer sua autoridade espiritual com base em: fidelidade com responsabilidade; o exercício do amor; honra c o m p r e s t a ç ã o d e c o n t a s ; r e s p e i t o à individualidade sem abafar outras lideranças; disposição de abrir mão das próprias ideias para abraçar ideias melhores. O sacri�cio, a humildade e a obediência à Palavra ainda são os remédios para a cura das lideranças desajustadas.Considerando que Jesus realmente habitou entre nós (Jo. 1.14), a pergunta é: quando nós vamos realmente habitar entre as pessoas que estão ao n o s s o re d o r, c o m o fe z J e s u s , a m a n d o incondicionalmente, compreendendo e ajudando de verdade?

3 – Autoridade conquistada – v. 8 (a, b) - 8 E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente...

Exemplos de Cristo

Jesus conquistou Sua autoridade com humildade e obediência. A humildade não foi uma imposição das situações que viveu. Foi uma escolha pessoal: “... humilhou-se a si mesmo...”. Ensinou também: “Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos. Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" - Mc 10.43-

45. Serviço humilde é o exigido dos líderes. Ele mesmo se declarou: “Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. ”– Mt 11.29. Quão maravilhoso é aprender dEle, que é manso e humilde de coração. Quando somos servos, a vontade pessoal desaparece e o que prevalece é a vontade do Senhor.A humildade gera a obediência. E quando somos obedientes aos preceitos divinos, a vida testemunha a verdade. Jesus viveu dentro destes parâmetros. Aproximava-se a crucificação, sen�u o peso do pecado, a agonia da morte, seus poros transpiraram sangue e ainda assim disse: “... Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como

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tu queres." - . É uma contradição querer Mt 26.39

ser um bom líder, quando não se é um bom liderado. Um bom discipulador, quando não se é um bom discípulo. Quando se diz algo que não combina com a prá�ca. Aliás, viver é melhor do que dizer, servir em vez de mandar. Jesus é o líder por excelência porque não comissionou sem antes dar o exemplo.Para Jesus, o modelo de liderança era o serviço. Ele jamais serviu a si mesmo. Num primeiro momento, liderou como servo do Pai Celes�al, o qual lhe dera a missão. Se observarmos a vida de Jesus de um nível mais elevado, veremos que tudo o que ele fazia estava a serviço da sua missão. Sua missão especial era servir, não à sua própria vontade, mas à vontade do Pai. Jesus disse: “Por que eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade; e, sim, a vontade daquele que me enviou” – Jo 6.38.

No lava-pés, em João 13, vemos Jesus:· Consciente da sua missão – vs. 1, 3.· Consciente da sua responsabilidade – v. 3.· Amando seus liderados até o fim – v. 1.· Despojando-se da sua capa (túnica) – v. 4.· Cingindo-se de uma toalha – v. 4.· Derramando água numa bacia – v. 5.· Lavando os pés dos seus liderados – v. 5.· Fazendo mais que a obrigação – v.5.· I n t e g r a n d o q u e m n ã o e s t a v a

compreendendo – vs.6-10.· Lavando até mesmo quem destoava do

grupo, como traidor – vs. 10, 11.· Mostrando que mesmo o líder pode ser

servo – vs. 13, 14.· Ordenando a repe�ção dos seus atos – vs.

14, 15.· Afirmando que a obediência produz

felicidade – v. 17.Quando Jesus deixou a mesa para tomar a forma de servo e fazer um trabalho de escravo, estava oferecendo uma visão real de sua missão. Ele já ensinara que a sua missão não era “ser servido, mas servir e dar a sua vida em resgate de muitos” – Mc 6.4,5. O ato de descer da posição de úl�mo cordeiro pascal para ser servo humilde equiparou-se à sua descida do céu para a cruz. Ao mudar da mesa principal para o mais ínfimo dos lugares do grupo, Jesus ofereceu uma ilustração visual da

missão da sua vida. A missão era ser o servo sofredor de Deus... Naquela noite, a bandeira do Reino foi uma toalha suja.Você quer ser líder? Então, saia da mesa, dispa-se da túnica, cinja-se de uma toalha, tome a bacia com água, ajoelhe-se, fique abaixo de todos, e faça o improvável, o serviço de servo, “Pois todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado" - . Lc14.11

Autoridade

Todo cristão, sem exceção, está debaixo de autoridade. Primeiro, a Bíblia Sagrada como autoridade sobre a nossa vida de fé e prá�ca. A Bíblia é inerrante em sua essência. Tudo o que ela revela sobre Deus como atributos, personalidade e ações é verdadeiro. Em sua soberania, Deus não a contraria. A Bíblia é, sem dúvida, a revelação especial de Deus para o Seu povo. Em segundo lugar, as autoridades cons�tuídas na Igreja.No tocante à parte e administra�va da Igreja, temos também a responsabilidade com nossos líderes e com os nossos liderados. Não somos um ponto isolado na Igreja. A igreja é um organismo, o Corpo de Cristo. Paulo em 1 Corín�os 12 nos dá uma lição maravilhosa: “Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois em um só corpo todos nós fomos ba�zados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito. O corpo não é composto de um só membro, mas de muitos. Se o pé disser: "Porque não sou mão, não pertenço ao corpo", nem por isso deixa de fazer parte do corpo. E se o ouvido disser: "Porque não sou olho, não pertenço ao corpo", nem por isso deixa de fazer parte do corpo. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria a audição? Se todo o corpo fosse ouvido, onde estaria o olfato? De fato, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade. Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, há muitos membros, mas um só corpo. O olho não pode dizer à mão: "Não preciso de você! " Nem a cabeça pode dizer aos pés: "Não preciso de vocês! "Pelo contrário, os membros do

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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c o r p o q u e p a r e c e m m a i s f r a c o s s ã o indispensáveis, e os membros que pensamos serem menos honrosos, tratamos com especial honra. E os membros que em nós são indecorosos são tratados com decoro especial, enquanto os que em nós são decorosos não precisam ser tratados de maneira especial. Mas Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela �nham falta, a fim de que não haja divisão no corpo, mas, sim, que todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros. Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele. Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo. ” - .1 Corín�os 12:12-27

Podemos destacar na visão do Corpo de Cristo que:

· Cristo é o cabeça deste Corpo – Cl 1.18.· Somos um organismo, o Corpo de Cristo.· Todos possuem a mesma energia vital que

é o Espírito Santo. · Somos interdependentes. “O Corpo de

Cristo precisa de mim e eu preciso do Corpo de Cristo.”

· Como membros, somos ao mesmo tempo uma “diversidade” inserida na “unidade”.

· A Divindade se revela, capacita e coordena este Corpo: Há diferentes �pos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes �pos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos.” - .1 Co 12.4-6

· Todos os membros são igualmente importantes.

· Todos trabalham para o bem comum do Corpo.

· Todos têm uma liberdade para agir com responsabilidade e maturidade.

· Nossa alegria ou sofrimento produzirá reações no Corpo de Cristo.

· Membros independentes do Corpo são situações anômalas.

Considerando que a Igreja de Cristo é um organismo vivo (1 Co 12.12-27), as perguntas são: o Corpo de Cristo numa Igreja local pode ficar preso em suas a�vidades? Se não pode, por que

não cresce como deveria? Como não aprisioná-lo?

Precisamos saber o nosso lugar no Corpo de Cristo e respeitar as autoridades espirituais cons�tuídas. Quando compreendemos os parâmetros de autoridade somos abençoados pela nossa humi ldade e obediência . A rebeld ia às autoridades cons�tuídas e a Deus é um grave pecado: “Pois a rebeldia é como o pecado da fei�çaria, e a arrogância como o mal da idolatria...” - .1 Sm15.23

Um bom líder deve ter autoridade conquistada por suas boas ações e não apenas autoridade imposta. Um líder tem autoridade conquistada quando vive os princípios da humildade e da obediência. Ninguém vive o topo isolado da liderança. Em nossa denominação, a Diretoria Geral Execu�va (DGE) está submissa às decisões das Assembleias Gerais e da Junta Geral Delibera�va (JGD). As Diretorias das Convenções Regionais se submetem às decisões das Assembleias Regionais e à DGE. Os Pastores se reportam às Diretorias das Convenções Regionais. Os ministérios locais se submetem aos Pastores e Conselhos locais. Sem contar os Estatutos que permeiam as decisões de todas as casas administra�vas.A genuína autoridade espiritual emana do próprio Deus. Aqueles que exercem tal autoridade são v a s o s p r e p a r a d o s q u e t r a n s m i t e m o s pensamentos e desejos de Deus para o Seu povo. É este �po de autoridade que devemos buscar na Igreja hoje. Precisamos desesperadamente de homens que falem quando Deus fala com eles, que liderem de acordo com Sua direção e que mani festem Suas reve lações . A grande necessidade não é daqueles que foram apenas treinados, eleitos ou indicados para posições de autoridade, mas daqueles que são também ín�mos de Deus e através dos quais Ele pode transmi�r livremente Sua vontade.

O exemplo de Davi

Davi nos dá um grande exemplo de como respeitar uma autoridade cons�tuída. Ele �nha pres�gio nacional, unção de Samuel e ainda assim, não �rou a vida de Saul, quando teve a chance numa caverna.“E então disse a seus soldados: Que o

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SENHOR me livre de fazer tal coisa a meu senhor, de erguer a mão contra ele; pois é o ungido do Senhor". 1 Sm 24.6.A lição de Paulo aos Corín�os

Paulo corrige um problema em Corinto, quando estavam divididos quanto à autoridade. Ele deixa claro que na igreja de Cristo, a honra maior é de Deus e não humana. Quem disputa liderança é criança espiritual e carnal. Não podemos nos dividir. A igreja de Cristo não pode ser palco de d isputa pol í�ca. Todos são igua lmente importantes: “Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos? Pois quando alguém diz: "Eu sou de Paulo" e outro: "Eu sou de Apolo", não estão sendo mundanos? Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor atribuiu a cada um. Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fazia crescer; de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. O que planta e o que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho.” - .1 Co 3.1-8

Autoridades civis

Quanto às autoridades c iv is temos que reconhecê-las como vindas de Deus. Mesmo os governos ímpios têm a permissão para atuar. “ Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus ins�tuiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos. Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que pra�cam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pra�que o bem, e ela o enaltecerá. Pois é serva de Deus para o seu bem.

Mas se você pra�car o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem mo�vo. É serva de Deus, agente da jus�ça para punir quem pra�ca o mal. Portanto, é necessário que sejamos submissos às autor idades , não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de consciência. É por isso também que vocês pagam imposto, pois as autoridades estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a esse trabalho. Dêem a cada um o que lhe é devido: Se imposto, imposto; se tributo, tributo; se temor, temor; se honra, honra. ” - . A exceção é Rm 13.1-7

quando exigem algo contrário à Palavra de Deus como nos exemplos de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego e Daniel – Dn 3 e 6. Quando ocorrer, a vontade de Deus é soberana em contraste com a vontade humana.

4 – O sacri�cio do líder – v.8 (c)- até a morte, e morte de cruz!

Jesus, em nenhum momento, se desviou do Seu propósito em ser o Salvador do mundo. A cruz não o pegou de surpresa, porque o plano já havia sido estabelecido antes da fundação do mundo – 1 Pe 1.18-20. Mas não podemos pensar que tenha sido fácil ser julgado injustamente, ferido cruelmente e ultrajado emocionalmente. O caminho da cruz foi terrível e ainda assim o Filho de Deus não o abandonou. Como líder, deixou o legado que o verdadeiro exemplo se dá com a própria vida e não uma parte dela.Quando morreu na cruz auten�cou as palavras "Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. ” João 10.11.Jesus, desde o princípio, sabia que a missão maior era salvar e que a cruz era indispensável. É importante o líder cristão saber onde chegar, qual o obje�vo das suas ações. Hoje não precisamos ir para a cruz, porque isto Jesus fez por nós. Nossa missão é mostrar o que Jesus fez. Mas não pense que não há sofrimento e desprezo em nossa missão. Que não temos que viver o que nos ensina Lucas 9.23: “Jesus dizia a todos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. ”As palavras de Bill Hibels nos desafiam a prosseguir, a despeito das adversidades: “Algum dia, ficaremos face a face com o Filho de Deus que

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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nunca desis�u de seu chamado redentor. Vamos ficar face a face com o Consumador, que não desis�u quando seus ensinamentos foram cri�cados; quando seus seguidores de confiança desertaram; quando foi ridicularizado, espancado e cuspido; quando os pregos foram cravados, através de suas mãos e de seus pés e quando seu sangue expiador foi derramado de suas veias na poeira sob a cruz. Somente quando o ministério de Jesus foi completamente cumprido, quando sua corrida foi completada, ele disse, com autor idade, estas palavras finais : “Está consumado. Meu trabalho acabou. Fiz o que meu Pai me pediu. Perseverei por todo o caminho, até o fim, e cumpri o meu ministério”.Se ser líder é negar-se a si mesmo, tomar a cruz e seguir a Jesus (Lc 9.23), para quais coisas estamos dizendo não? Para quais coisas, na obra de Cristo, estamos dizendo sim?

5 – A recompensa de um bom líder – vs. – 9-11 –“Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.”

Jesus foi o líder mais excelente que o mundo teve. Insuperável em todos os aspectos. Por isso foi exaltado à mais alta posição e recebeu o nome sobre todo nome, sendo Senhor sobre todas as coisas. Uma boa liderança terá a sua recompensa. Nada que fizermos para o Reino de Deus será em vão. Empenhemo-nos na obra do Senhor: “E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos.” - . Não Gl 6.9

espere recompensa no tempo presente. Se receber alguma honra, agradeça e glorifique o Senhor. A recompensa mesmo virá no futuro, quando ouviremos: "...Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco; eu o porei sobre o muito. Venha e par�cipe da alegria do seu senhor! ”- Mt25.23Se a recompensa do líder é para o futuro (1 Pe 5.4), a pergunta é: por que muitos se esforçam somente se as a�vidades forem em sua gestão?

Conclusão

Podemos resumir as qualidades de um bom líder cristão:

· Tem um encontro real com Jesus.· A Bíblia Sagrada é autoridade espiritual

sobre a sua vida.· Jesus é o modelo de vida para ele.· Sabe o seu lugar no Corpo de Cristo.· Respeita os seus superiores, realizando

prestação de contas. · É um bom exemplo para os seus liderados.· Está sempre disposto a aprender.· Vive para a glória de Deus.

Tão somente nos resta tomar as palavras de 1 Corín�os 15.58 e fazê-las nossas: “Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inú�l.”Se o Sacerdócio de Cristo é universal, ou seja, para todos os crentes (1 Pe 2.9), a pergunta é: como envolver todos os crentes nesta missão?

Departamento Ministerial

Bibliografia:

Baumann, Igor Pohl, Autoridade Espiritual: A quem devemos lealdade, A.D. Santos Editora, Curi�ba – PR, 2015Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional, NVI, Ed.Palavra, Brasília - DF, 2011Dyer, David W., Autoridade Espiritual Genuína, Ministério Grão de Trigo, Vitória – ES, 2010.Hybels, Bill, Liderança Corajosa, Editora Vida, São Paulo, SP, 2002.Swuindoll, Charles, Eu, um servo? Você está brincando! Editora Betânia, Belo Horizonte – MG, 1983.Wilkes, C. Gene, O úl�mo degrau da liderança, Editora Mundo Cristão, São Paulo – SP, 1999.

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Líderadaptado aos novos

Contextos

I - Desafios dos Líderes Cristãos para as Novas

Gerações

Num passado não muito distante, os

líderes da igreja acompanhavam o mesmo

sistema patriarcal exercido nas famílias. A igreja

era uma extensão deste sistema, no qual os

homens mandavam e as mulheres e filhos

obedeciam sem ques�onar. Este comportamento

�nha a total aprovação da sociedade da época, e

avançava na sua área de atuação, definindo os

relacionamentos nas escolas seculares, nos

ambientes de trabalho e nos meios de

comunicação existentes.

No entanto, com o passar do tempo,

aconteceram mudanças profundas na sociedade,

que a�ngiram em cheio as famílias, a igreja, e

todos os outros núcleos sociais que os membros

da igreja par�cipam. Hoje, é muito di�cil

encontrar nas famílias uma única voz de

autoridade. A família sucumbiu aos padrões da

atualidade, ditados pela mídia, com destaque

para a internet que, por meio das redes sociais,

constrói e desconstrói conceitos e padrões com

uma rapidez impressionante. Atualmente as

crianças e os jovens recebem uma educação

secular que os levam a ques�onar todas as

decisões que lhes dizem respeito, e a opinar

mesmo que isto não seja requerido deles.

A estrutura ministerial que estamos

abraçando, exige uma liderança que procure

entender os desafios propostos pelas novas

gerações. Como líderes temos que fazer a leitura

do nosso tempo e buscar soluções para atender a

demanda do ensino, do discipulado e da

proclamação do evangelho, que está sob a nossa

responsabilidade.

Exercer uma liderança eficaz nunca foi

uma tarefa fácil, porém hoje este trabalho

alcançou níveis de alta complexidade. O cenário é

assombroso e as dificuldades são imensas, porém

o mesmo Deus que criou os céus e a terra, e que

mantem todas as coisas sob o seu controle até o

dia de hoje, nos comissionou para este tempo, e

assim, certamente, nos capacitará para enfrentar

os desafios propostos e nos dará o êxito em nosso

trabalho (Ap 4:11; Mt 28:18-20).

Devemos trabalhar com a perspec�va de

não poupar esforços para valorizar ao máximo, o

potencial da geração que temos para cuidar hoje,

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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e nos preparar para maiores desafios, que o

futuro certamente nos trará, até que venha o

Senhor (2 Tm 3:1).

Elencamos abaixo, 5 temas que são

extremamente desafiadores para que a liderança

da igreja exerça o seu trabalho ministerial. Cada

um dos temas tem um cenário proposto, que

exigirá líderes conver�dos e destemidos, em

busca de oportunidades e soluções para enfrentar

situações tão aversivas à vida cristã.

1. FAMÍLIA

· A mudança do conceito de família. Definir

família se tornou uma tarefa exaus�va.

· Famílias formadas fora do padrão bíblico,

que ensina claramente a cas�dade até o

casamento.

· Famílias mosaicas. As mais diferentes

f o r m a ç õ e s f a m i l i a r e s ( d i v e r s o s

c a s a m e n t o s , fi l h o s d e d i v e r s o s

casamentos, casamento homossexual

como proposta familiar, filhos com

produção independente, etc).

· O crescimento assolador das famílias não

funcionais, com pais que não cumprem o

seu papel de educadores, mentores,

provedores, que não corrigem, que não

têm autoridade, que têm medo dos filhos,

que não são exemplos, que são ausente e

distantes dos filhos, etc.

· Desiquilíbrio emocional, parental e filial,

que surgem por diversos fatores (doenças

emocionais, como, estresse, ansiedade e

depressão, etc).

· Conceito de ideologia de gênero.

2. CULTURA

· Decadência comportamental, emocional

e espiritual:

· Hedonismo, materialismo, individualismo,

re l a� v i s m o, d i s t ú r b i o s p o l í � co s -

governamentais, homossexualismo,

r e l a c i o n a m e n t o s d e s c a r t á v e i s ,

sexualidade X sexualismo, ero�zação da

infância, ateísmo crescente, religiões não

cristãs, vícios (drogas lícitas, ilícitas,

pornografia, etc), ídolos (futebol, ar�stas,

filmes, ícones famosos etc.).

· Desconstrução dos valores cristãos para o

indivíduo e a família.

· Centralização humanista.

3. EDUCAÇÃO SECULAR

· Deficiência no ensino e aprendizagem.

· Falta de perspec�vas para trabalho futuro

e sustento dos educandos.

· Escola invasiva nas questões que estão

fora da sua área de atuação, como

sexualidade, relação familiar, religião e

etc.

· A falta de conteúdo foi subs�tuída por

doutrinação.

· Escola omissa na missão de formar a

criança e o jovem com valores de

cidadania (é�ca, moral, respeito e etc).

· A família transmite a escola a função de

educar, formar caráter. A escola, por sua

vez, desvaloriza a família.

· Problema do bullyng.

· A f r o n t a a o c r i s � a n i s m o e

engrandecimento das religiões afro e

asiá�cas.

4. O AVANÇO DA TECNOLOGIA

· Uso inadequado da tecnologia: roubo da

infância e da adolescência; crianças que

n ã o b r i n ca m m a i s ; i nfl u ê n c i a n o

Encontro Unicado de Lideranças

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relacionamento familiar, falta de diálogo e

mau uso do tempo; distanciamento dos

relacionamentos, informações duvidosas,

perigosas e perniciosas; youtubers como

mentores e oráculos; livre uso da internet

por crianças e adolescentes; pais e líderes

alienados do processo tecnológico.

· Repensar o bom uso: leitura da Bíblia,

pesquisa de assuntos tratados nas aulas

ou mensagens, evangelismo, EAD,

ferramenta de trabalho, etc.

5. CENÁRIO EVANGÉLICO

· Igrejas evangélicas medíocres, que não

pregam o evangelho de Cristo, crentes

nominais e indiferentes aos ensinos

bíbl icos, descompromisso com as

a�vidades propostas pela igreja, teologia

neopentecostal pregando o evangelho

desconfigurado do que é ensinado pela

Bíblia, mediocridade nos púlpitos,

interesse financeiro, igrejas como grandes

negócios, culto à personalidade, shows

evangél icos , bancada evangél ica ,

d e c e p ç ã o c o m o “ e v a n g e l h o ”,

desvalorização da graça, ausência de

programas de plantação e revitalização de

igrejas, péssimo testemunho dos que se

dizem cristãos, etc.

II. O QUE SE ESPERA DE UM LÍDER PARA AS

NOVAS GERAÇÕES

1. O Líder Vocacionado

O Espírito Santo capacita a todos com

dons, e estes dons devem ser usados para a

edificação do corpo de Cr isto e para o

cumprimento da nossa missão como cristãos (1

Co 12:4-6). Todo mundo recebe ao menos um

dom, e quem os distribui como quer, é o Espírito

Santo (1 Co 12:7, 11). Há diferentes ministérios, ou

se ja , áreas para que estes dons se jam

desenvolvidos e onde podemos servir ao corpo e

ainda há diferentes formas de se atuar dentro dos

ministérios específicos. É interessante refle�r

sobre isso, porque parece que a atuação no corpo

está limitada a cantar, tocar um instrumento,

pregar e dar aulas. Há muito que se fazer para o

reino de Deus e em muitos lugares, não apenas na

igreja.

É maravilhoso ter a convicção de que Deus

nos trouxe ao mundo com um propósito, que

podemos chamar de vocação. Portanto, o líder

deve ser uma pessoa vocacionada, que esteja no

lugar certo fazendo aquilo que Deus o chamou

para fazer. Não apenas uma pessoa que está

ocupando um espaço vazio. Ocupar espaços

vazios era o caminho que a mentalidade

departamental seguia, pois não poderia conceber

a ideia de que todos os cargos não seriam

preenchidos. Aí cargos eram dados a pessoas

erradas, o que causava muitos prejuízos, como:

frustrar a pessoa com uma a�vidade para a qual

não foi chamada, pessoas sobrecarregadas,

abandonos no meio do caminho. Quando

mudamos a mentalidade, passamos a considerar

a vocação da pessoa e a importância de estar no

lugar certo, sendo orientada para cumprir sua

vocação da melhor maneira.

Procure compreender qual ou quais as

formas de atuação que o Senhor escolheu para

que desenvolva neste mundo, porque seria triste

chegar ao final da vida arrependido de não ter

feito tudo o que Ele esperava que fosse feito.

Como ouvimos no Primeiro Encontro Unificado

através do Pr. Eleilton Wiliam de Souza “No fim,

Deus não cobrará de nós pelo que fizemos, mas

por quanto realizamos do que nos pediu para

fazer!”. Certamente, há muita gente no lugar

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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errado, porque insiste em fazer algo para o qual

não foi chamado e não possui a habilidade exigida

para a função. Pense nisso, avalie sua vocação.

Talvez o desgaste que sente não é pelo ônus

natural da missão, mas por estar no lugar errado.

2. O Líder Equilibrado

� A compreensão correta de nós mesmos é

essencial para sermos bons líderes. Para que

possamos ajudar uns aos outros é essencial que

aprendamos a fazer uma autoanálise, olhando

para quem éramos e para quem somos. O texto de

1 Corín�os 6:9-11 mostra Paulo dizendo aos

irmãos corín�os que antes foram pecadores,

contudo agora haviam sido lavados, san�ficados e

jus�ficados no nome de Jesus e no Espírito de

Deus.

A lista de pecados citados pelo apóstolo

Paulo é bem direta ao afirmar que aqueles que

foram salvos não �nham sido boas pessoas antes.

O apóstolo não tem dificuldade em recordar

quem eram os irmãos. Os seus pecados não

sumiram de uma hora para outra, mas

aprenderam a mudar de vida ao serem

encorajados a imitar Jesus.

Muitos líderes precisam compreender que

são humanos, tem suas tendências pecaminosas e

ainda estão em construção. É essencial ter isso

em mente ao se tornar referência para os

liderados. Não nos tornamos líderes porque

somos melhores, mas porque aceitamos a missão.

Não podemos ter uma postura distanciada dos

liderados. Contudo, espera-se que o líder seja

aquele que caminha em direção a ser parecido

com Cristo e que seja bem resolvido internamente

para exercer sua missão com dignidade.

Quando Jesus orou disse “não nos deixe

cair em tentação, mas livra-nos do mal” (Mt

6:13a). Fez a oração no plural, porque levou em

conta a comunidade. Admi�u que pecados

fossem comuns à igreja, portanto deveríamos orar

por nós e pelos demais, e ajudarmos uns aos

outros a vencer pecados. Não é saudável ter uma

postura de “super san�dade”, porque não é real e

evidencia falta de autoanálise gerando falta de

altruísmo. Isso não é bom nem para os de dentro,

nem para os de fora. Os de dentro tendem a ter

uma postura mascarada almejando uma

aparência de san�dade irreal e os de fora tendem

a observar atentamente as incoerências.

Um líder que inspira pessoas a cumprir seu

chamado, é uma pessoa comum tanto quanto os

liderados, mas com a responsabilidade de liderar,

apenas isso. Estamos pouco acostumados a nos

mostrarmos como somos, nossas fraquezas,

frustrações e até doenças. Contudo, esta é uma

excelente forma de aproximar o líder do liderado,

pois promove iden�ficação e facilita que o líder

possa ser uma pessoa de influência.

3. O Líder Missional

A p e s a r d e e x i s � r e m d i f e r e n t e s

ministérios, como liderança da igreja de Cristo, é

preciso ter um único foco, apresentar Jesus as

pessoas, ou seja, se concentrar na missão de Deus

para sua igreja. Jesus colocou seus discípulos de

frente para o exterior, e os enviou com a missão de

transformar o mundo por meio do evangelho.

Sendo assim, os líderes atuais devem mo�vados

por esta visão.

Tendo isso em mente, é importante perceber

que os modelos em que a concentração de poder

e serviço estão localizados em uma única pessoa

ou grupo como, por exemplo, o modelo

departamental, não são ideais, porque a missão

não é exclusividade do pastor, ou do líder, mas de

todos. É importante que cada membro da igreja

esteja engajado na missão e mul�plique. Isso

implica menor ênfase na figura do líder e maior

ênfase nas pessoas. Lembrando-se do conceito

Encontro Unicado de Lideranças

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reforçado em 1 Pe 2:9, cada cristão é um

sacerdote. Quando o sacerdócio individual é

negligenciado há concentração de poder e serviço

nas mãos de poucos líderes, ao passo que há

inércia e conforto dos membros da igreja que não

entenderam sua missão. Há um potencial que foi

c o n c e d i d o p e l o E s p í r i t o S a n t o p a ra o

cumprimento da missão e sinalização do Reino no

mundo que é ignorado.

O líder não é somente engajado na missão de

Cristo, mas também influencia pessoas a fazer o

mesmo. Líderes precisam “expandir influência e

não retê-la para si.”. Para isso, deve encorajar os

membros a descobrir seus dons e talentos e

colocá-los em prá�ca de forma que o reino seja

sinalizado no mundo. Isso sempre se faz de modo

re l a c i o n a l , o l í d e r p re s e nte i nfl u e n c i a

posi�vamente as pessoas a sua volta.

O l íder deve ser um disc ípulo e um

discipulador. Ele precisa compreender sua missão

de pregar o evangelho e fazer discípulos que deem

frutos e também deve mobilizar as pessoas a fazer

o mesmo. Essa visão é essencial, pois, foi por meio

do discipulado que o Evangelho chegou até nós, e

se almejamos que chegue às próximas gerações,

dos nossos filhos e netos, precisamos ter uma

igreja com um processo de discipulado, já que

uma igreja que não o tem, tende a morrer, como é

ensinado por Rainer e Geiger no livro Igreja

Simples. Cada pessoa deve assumir a sua

responsabilidade no reino, pois esta é a

implicação de ser um discípulo de Cristo.

Com essa visão, é importante entender que o

ministério não deve ser monopolizado, mas

compar�lhado. Para isso, ciúmes, ego inflado e

necessidade de demarcar seu território devem ser

dissipados. A lógica do reino de Cristo é a da

igualdade entre as pessoas. Na mentalidade

departamental, focamos nossos olhares para

dentro da igreja onde seremos “usados” e para as

a�vidades voltadas unicamente aos membros,

mas nossos olhos devem ser movidos para fora,

como fez Jesus em seu ministério, cercando-se de

pecadores, publicanos e gen�os.

Que, como líderes, tenhamos as nossas forças

voltadas a cumprir a missão de Cristo e que

i n c e n � v e m o s t o d o s a a s s u m i r e m s u a

responsabilidade e se comprometerem a

par�cipar da história de Deus no mundo.

4. O Líder Contextualizado

Cerca de 50% da população mundial tem

menos de 25 anos. Desta população, 25% se

declara sem religião e 50% nunca ouviu falar do

evangelho. Ainda é importante saber que 77% dos

brasileiros tomam uma decisão defini�va por

Cristo nesta faixa etária, portanto é essencial

evangelizar crianças, adolescentes e jovens.

Contudo, infelizmente, o que temos visto é

contrário a esta necessidade, pois uma boa

parcela dos próprios adolescentes nascidos na

igreja não permanece nela, ou seja, estão

intramuros, mas não se convertem. Há estudos

que dizem que de cada 10 pessoas que nasceram

na igreja, 8 sairão até completar 25 anos de idade.

Você tem visto isso acontecer na sua igreja? Isso

acontece, possivelmente, porque não nos

comunicamos eficazmente com as novas gerações

de acordo com a cultura contemporânea.

É importante lembramos diariamente que

a razão de ser da Igreja é levar a pessoa e a

mensagem de Jesus aqueles que vivem inseridos

na cu l tura pós -moderna e urbana que

caracterizam a sociedade do século XXI. Sendo

assim, nosso desafio é tornar a Igreja relevante ao

mundo em que estamos inseridos. Ao invés disso,

muitos de nós ficamos presos a uma postura

contrária a qualquer referência cultural,

demonizamos a cultura e não encontramos nela

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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as oportunidades que nos dá para evidenciar

Cristo.

O papel do líder é contribuir para que a

Igreja seja relevante culturalmente e que pregue

de forma simples e completa a mensagem do

evangelho de Cristo. Para isso, é necessário fazer

uma exegese do nosso ambiente, da cidade, do

contexto em que a Igreja local está inserida, para

assim pregar uma mensagem contextualizada que

irá responder as perguntas que a sociedade faz a

respeito de Deus. Que nossa linguagem não seja

aquela que apenas nosso “gueto” religioso saiba

compreender, mas uma linguagem acessível que

comunique às diferentes pessoas.

5. O líder apologeta

Um líder que esmera-se em entender, estudar,

criar material de ensino para discipular e criar

defensores da fé, além de ele mesmo fazer isso (1

Pe 3:15).

Bibliografia: WIRSBE, W. Warren. Sendo um líder para Deus. Trad. Ana Argen�na. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2014.KORNFIELD, David. O líder que brilha: sete relacionamentos que levam à excelência. São Paulo: Ed. Vida, 2007.NETO, João, WAGNER, Adriana, STREY, Marlene (org.) Coleção E agora.com: a era da informação e a vida co�diana. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2010.Folheto Ins�tuto Teenstreet BrasilPastoreando a nova geração. Disponível em: h�p://www.irmaos.com/sepal019p-calebe-ribeiro-

pastoreando-a-nova-geracao/. Acesso em: 2 fev 2018. PHILLIPS, K. W. A formação do discípulo. Tradução Elizabeth Gomes. 2 ed. São Paulo: Editora Vida, 2008. RAINER, T. S.; GEIGER, E. Igreja Simples. Brasília: Editora Palavra, 2012.

SILVA, R. A. da. Igreja? Tô fora. Santa Bárbara d'Oeste,SP: Z3 Editora e Livrarias, 2007. STETZER, E. Igrejas que transformam o Brasil: sinais de um movimento revolucionário e inspirador. 1. Ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2017.

Encontro Unicado de Lideranças

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Discipuladoe formação de novos

Líderes

importante pontuar algumas premissas básicas que norteiam nossa reflexão sobre o discipulado:

a) Fazer discípulos é o mandamento da grande comissão (Mt 28.19);

b) Todo cristão é por definição, um discípulo, um seguidor de Jesus;

c) Discipular é conduzir alguém a um processo de maturidade cristã;

� Desse modo, pretendo dizer que esta exposição não tem o propósito de reafirmar as bases teológicas do discipulado. Pressuponho que você já entenda que o discipulado é a maneira mais eficaz de produzir a vida de Cristo nas pessoas e expandir o reino de Deus. E essa é nossa vocação mais básica.

2. Discipulado ministerial

F r e q u e n t e m e n t e , p e n s a m o s e m discipulado sob a perspec�va que parte da evangelização, ou seja, conduzir alguém sem Cristo à maturidade cristã. Entretanto, proponho nesta fala, refle�r sobre a necessidade do discipulado com um viés ministerial. Proponho que pensemos neste ato, no discipulado que parte de crentes já conver�dos e razoavelmente

Introdução� Você deve ter tomado conhecimento da morte do famoso evangelista estadunidense, Billy Graham, em 21 de fevereiro deste ano. O notável pregador foi um dos cristãos mais influentes dos úl�mos anos. Cerca de 77 milhões de pessoas ouviram e presenciaram seus sermões e outras 215 milhões viram seus discursos por algum meio de comunicação. Desse modo, não há duvidas de que o legado de Graham é indiscu�vel.

Entretanto, devemos reconhecer que nosso conhecimento de Deus e amadurecimento na fé não têm o célebre evangelista como principal referência. Não pretendo, de modo algum, diminuir a importância que Billy Graham para a fé cristã, mas apenas chamar sua atenção para algo muito importante: por melhor que tenha s ido o grande evangel ista, nosso discipulado ocorreu por vias anônimas. A maioria de nós tem em sua história de vida cristã, pais, parentes próximos, amigos e outros inúmeros cristãos desconhecidos. O que nos faz perceber a grande importância do discipulado cristão e concluir que não necessitamos ser “celebridades” para gerar a vida de Cristo em outras pessoas.

1. Pressupostos básicos

Antes de prosseguirmos, creio ser

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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maduros em Cristo. Observe esta ênfase de Paulo, escrevendo

aos Efésios, na versão A Mensagem, de Eugene Peterson:

Ele concedeu dons... para treinar os seguidores de Cristo, para que haja um serviço de qualidade no corpo de Cristo, a igreja. Ele fez isso para que todos possam trabalhar juntos em perfeita harmonia e sintonia, numa resposta cheia de gra�dão e dedicação eficiente ao Filho de Deus, como a d u l to s p l e n a m e nte m a d u ro s , p l e n a m e n t e d e s e n v o l v i d o s , plenamente cheios de vida, como Cristo (Ef 4.11,12).

Ao ler este texto, podemos ficar com a impressão de que Paulo falava de uma utopia: “...para que todos possam trabalhar juntos em perfeita harmonia e sintonia...”. Acontece que nossa vida comunitária é, frequentemente, marcada por atritos de relacionamento. Nossa realidade, por vezes, parece estar distante do ideal apresentado por Paulo. Contudo, é esse o paradigma que devemos perseguir! Jesus deu dons aos cristãos para treinar outros, obje�vando qualidade na atuação da igreja no mundo. Perceba que recebemos dons também para treinar os seguidores de Cristo. É isso o que chamo de discipulado ministerial: a preparação dos discípulos de Jesus para servir no reino de Deus por meio de seus dons.

2.1 Por que discipulado ministerial?

Quero propor uma ilustração para ajudá-lo na compreensão da necessidade de falar em discipulado ministerial. Vou lhe contar a história do burro do meu pai. Antes que você me interprete mal, devo esclarecer que meu pai é um homem muito inteligente e que comprou um burro, a quem deu o nome de Penacho. Meu pai é pecuarista e desde sempre lidou com animais. Quando mais jovem, ele foi boiadeiro, como aqueles que tocavam bois na estrada e montavam cavalos chucros. Bem, a história dele com o burro começou quando ele viu o animal em uma cavalgada. Na ocasião, por alguma razão, o Penacho assustou-se e começou a pular com o

cavaleiro, que não conseguiu dominá-lo. Vendo a cena, o velho boiadeiro não teve dúvidas: “Eu ajeito esse burro!”. Reconhecendo o potencial do animal, meu pai o comprou e iniciou um processo d e r e a d e s t r a m e n t o . O r e s u l t a d o f o i impressionante! Depois de um ano de trabalho diário, o Penacho tornou-se calmo e responde muito bem aos comandos do cavaleiro.

Talvez você esteja se perguntando: O que esta história tem a ver com discipulado? Eu explico. O discipulado, em certo sen�do, é semelhante a uma doma. Todo cristão precisa ser bem orientado nos princípios da fé e na maneira como deve desempenhar suas tarefas no reino de Deus. Ignorar a necessidade de um discipulado b e m - f e i t o p o d e c r i a r c e r t o s v í c i o s e comportamentos perigosos, di�ceis de serem rever�dos. Segundo meu pai, o Penacho foi mal adestrado. Por isso, estava dando muito trabalho aos an�gos donos. Se nada fosse feito, ele certamente acabaria sendo sacrificado. De igual modo, líderes que não foram bem discipulados, p o d e m s e t o r n a r p e s s o a s d e d i � c i l relacionamento. Resistentes à autoridade de seus superiores, extremamente impuls ivos e potenciais candidatos a causar sérios estragos.

O discipulado bem-feito formará líderes competentes, que compreendem bem o seu papel e servem bem em equipe. Em certo sen�do, o discipulado é o processo de “amansar o burro”, torná-lo dócil, bem preparado para seu trabalho, para não dar “coices” em ninguém. Consegue entender a ilustração? Meu pai percebeu que aquele violento animal �nha potencial, mas precisava ser reorientado, e com algum trabalho, poderia apresentar bons resultados. Os líderes precisam treinar seus liderados para que desenvolvam a contento seus papéis no reino de Deus. Todo crente possui pelo menos, um dom espiritual, que deve ser desenvolvido para exercer um serviço de qualidade para a glória de Deus. O discipulado capacitará os líderes a serem tratáveis e eficazes em cumprir bem sua missão no mundo.

2.1.1 Feudos ministeriaisDeixe-me apresentar outras duas razões

para pensarmos em discipulado ministerial. A primeira delas é o risco dos feudos ministeriais. Se n ã o fo r b e m co m p re e n d i d a , a re l a çã o dom/ministério pode levar algumas pessoas se sen�rem “senhores feudais” em determinado serviço no reino. A jus�fica�va para esse

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comportamento poderia ser algo do �po “eu tenho um chamado para essa área, Deus me chamou para estar aqui e agora ninguém me �ra, vão ter que engolir...”. Infelizmente, ainda existem muitos líderes que se sentem “os donos do p e d a ç o ” e n ã o c e d e m e s p a ç o p a r a o desenvolvimento de outros cristãos. A�tudes como esta, dificultam demais o trabalho pastoral e da igreja como um todo.

2.1.2 Prazo de validadeA segunda razão que considero jus�ficar a

discussão sobre discipulado ministerial é a questão do prazo de validade. A questão é muito simples: crentes também envelhecem e morrem. Esse é o processo natural da vida. Nós nascemos, envelhecemos e morremos. Chega o tempo em que nos falta o vigor e a disposição da juventude e prec i samos preparar pessoas para dar con�nuidade ao trabalho. Isso nos leva a uma conclusão muito importante: discipulado é um processo de sucessão!

3. O processo de sucessão

Somente Jesus Cristo é eterno. E veja que mesmo ele preparou pessoas para con�nuarem o que começou. Foi este conceito de sucessão que o apóstolo Paulo desejou transmi�r a Timóteo quando o escreveu: “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem aos outros” (II Tm 2.2).

Imagine o discipulado como as corridas de revezamento com bastão, uma modalidade do atle�smo. Nela, uma equipe é formada por quatro corredores, tendo como obje�vo levar o bastão da largada até a linha de chegada. Para isso, cada atleta deve percorrer um trecho da corrida levando o bastão até o próximo corredor. Um dos momentos mais determinantes da corrida, é aquele em que um compe�dor entrega o bastão para o próximo depois dele. Eles devem ter muita sincronia para não perderem o ritmo da corrida e passarem o bastão no momento certo. Se a passagem não for bem-feita, se o bastão cair, a equipe poderá ser desclassificada, porque eles não podem chegar até o final sem o bastão.

Semelhantemente, estamos na corrida da fé, e levamos o evangelho do reino. Ele deve ser

transmi�do àqueles que nos sucedem. Não podemos falhar! E certamente não podemos completar a prova sozinhos. Ass im é o discipulado, um movimento sincronizado, em equipe, para levar o evangelho de Cristo adiante, até que finalmente, Cristo nosso Senhor apareça nos ares e então nossa missão estará completa. Por isso, quero compar�lhar com vocês, alguns princípios importantes para construirmos uma compreensão saudável do discipulado como um processo de sucessão.

4. Avalie-se

É necessário desenvolvermos, com regularidade e competência, uma autoavaliação. Devemos reconhecer que não se trata de uma tarefa fácil, mas é extremamente importante. Poucos de nós desenvolvem habilidades de autopercepção.

Recentemente, �ve uma feliz conversa com um membro de minha igreja. Ele me compar�lhava que par�cipou do ministério de louvor de uma igreja onde serviu ao Senhor. Entretanto, ele notou que, quando conversava com outros rapazes, membros da equipe de música, ele não �nha o mesmo entusiasmo que eles para fa lar sobre música, bandas e instrumentos musicais. Foi então que ele chegou a uma conclusão raríssima: não fui chamado para esse ministério! Essa não é minha vocação! Pouquíssimas pessoas conseguem avaliar-se com essa franqueza. Principalmente em se tratando de uma tarefa tão desejável do serviço cristão como cantar no grupo de louvor. Hoje, esse irmão serve a Deus com muita disposição em nosso ministério de pequenos grupos. Ele compra livros sobre o assunto, me telefona para trocar ideias sobre nossos PGs, pra�ca e incen�va o discipulado na igreja local. Não tenho dúvidas de que ele abraçou seu chamado específico.

4.1 Ouça as pessoas que você ama

Também desejo oferecer-lhe outro método de avaliação bastante significa�vo. Ouça as pessoas que você ama. Elas lhe darão boas

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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dicas sobre prosseguir ou interromper determinada tarefa e poderão lhe ajudar em uma avaliação sincera quanto ao que estamos fazendo. Pessoas amadas, geralmente, oferecem uma opinião transparente e muito próxima da realidade.

Por ignorar avaliação de pessoas amadas, sen� na pele, perdas e frustrações por não enxergar o que estava evidente. Por isso, aprendi a duras penas, que precisamos ouvir as pessoas que amamos. Lembre-se de como foi importante para Moisés, dar ouvidos a seu sogro, Jetro. Moisés estava tentando ser um líder melhor do que poderia, mas estava se desgastando demais. Foi nesse momento que seu sogro lhe aconselhou sobre uma forma melhor de liderar o povo. Por ouvir o precioso conselho, Moisés teve sucesso em julgar as causas dos israelitas. Portanto, bons conselhos poderão vir de pessoas que amamos e precisamos levar isso em conta.

4.2 Seja mentoreado

Contudo, nem sempre as pessoas que amamos têm condições de oferecer uma avaliação mais técnica de nossas a�vidades ministeriais. Por isso, considere também a importância de ser mentoreado. A mentoria consiste em contar com alguém experiente em minha área de atuação que possa servir como um orientador. O mentor é aquela pessoa que irá compar�lhar suas experiências, que já passou pelas situações que estamos enfrentando e poderá nos mostrar “o caminho das pedras”. Por isso, é importante encontrar alguém maduro, de bom senso e boas percepções que lhe sirva de mentor, para ajudá-lo a tomar decisões, avaliar sua conduta e lidar com os problemas que surgirem.

Mas atenção! Tome cuidado para não confundir os papéis. Saiba que um mentor não é um solucionador de problemas. A caracterís�ca de um mentor de verdade é ajudar o outro a ficar de pé com suas próprias duas pernas. A mentoria permi�rá que você tome decisões sensatas e se responsabilize por elas. Eu também tenho alguém que tomo como um mentor, a quem recorro em determinados momentos para ser aconselhado e

ajudado.Um princípio importante dessa relação de

mentoria, que nos auxilia no processo de desenvolvimento cristão é a prestação de contas. Por meio dela, assumimos a responsabilidade de cumprir determinadas tarefas e construir uma relação de subordinação. Assim, o líder pode reconhecer que não está acima de qualquer coisa. Todavia, prestar contas não inclui tornar-se responsável pelas decisões tomadas pela outra pessoa. Isso nem é saudável! Em vez disso, seja um suporte e um guia ao longo do caminho para atravessar os problemas e as dificuldades juntos. Portanto, a mentoria com prestação de contas pode ser uma ferramenta eficaz na liderança de ministérios em nível regional. Procure seus liderados e estabeleça com eles uma relação semelhante, em que você poderá ajudá-los no desenvolvimento de suas tarefas nas igrejas locais.

4.3 Saiba quando parar

Há ainda um outro aspecto que quero destacar sobre a autoavaliação é, saiba quando parar. Nem sempre é fácil reconhecer o momento de dizer: Chega! No entanto, é necessário perceber quando precisamos passar o bastão para o próx imo corredor. Um re lato b íb l i co interessante a esse respeito aconteceu com Moisés. Depois de muitos anos de trabalho, Deus o chamou no monte, fez com que avistasse a terra prome�da e lhe disse: “Apenas olhe, porque a sua carreira termina aqui”. Era hora de parar. O ministério de Moisés foi primoroso, mas havia chegado ao fim. A Bíblia declara que Moisés rogou para que pudesse passar adiante, porém o Senhor se irritou com ele e disse: “Basta! Não me fales mais nisso” (Dt 3.26b). O grande líder precisou entender que, por mais que desejasse atravessar o Jordão, ele deveria ficar e entregar o bastão para Josué prosseguir com a missão.

Imagine você se o corredor ignorasse os demais atletas e tentasse, ele sozinho, levar o bastão até o final. Provavelmente se cansaria, não teria o mesmo rendimento que os demais compe�dores e estaria sujeito ao fracasso. Essa percepção não foi fácil para Moisés e, certamente,

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não é fácil para nenhum de nós. Às vezes, nos convencemos de que precisamos con�nuar, encontramos boas razões para não parar e pensamos que sem nós, a missão também irá parar. Todavia, precisamos confiar que quem chama e capacita é Deus.

4.4 Sucesso e esgotamento

O processo de avaliação também deve se preocupar com dois perigos: a pressão pelo sucesso e o esgotamento. O primeiro perigo sobre o qual devemos estar alertas diz respeito a avaliar os efeitos do nosso sucesso. É óbvio que esperamos bons resultados em tudo o que fazemos. Mas não raramente, a pressão para obter bons resultados pode ser uma rota de ruína. Corremos o risco de comprometer nossa integridade e nossa vida com Deus, por causa do desejo pelo sucesso. No afã de a�ngir números impressionantes, corremos o risco de exceder os limites do justo e do conveniente. Lembre-se de Saul, ansioso pela chegada do profeta Samuel e vendo o povo se dispersando, precipitou-se, e ofereceu holocausto sem autoridade para fazê-lo. E por que fez? “Fui forçado pelas circunstâncias”; a r g u m e n t o u o e s t a b a n a d o r e i . C o m o consequência, Deus o rejeitou como rei sobre Israel.

Note como o sucesso pode ser perigoso. Em sua alta posição, Saul pensou que sua a�tude seria jus�ficada. Mas não devemos nos enganar. Sucesso não equivale à aprovação de Deus. É um erro pensar que se está dando certo, então Deus está aprovando. Esta não é uma relação necessariamente precisa. Por isso, é importante uma cuidadosa análise dos resultados do nosso sucesso. Corremos o risco de medir a legi�midade de algo, pelos resultados posi�vos. Não são os resultados que legi�mam nossas ações, mas a vontade de Deus.

Além disso, os bons resultados podem nos deixar autoritários. Podemos pensar que nossas ações eficazes nos fazem inques�onáveis. Pensamos: quem é esta pessoa para me avaliar ou me dizer tais coisas? Afinal, ele não tem o currículo que eu tenho! Essa maneira de encarar os bons efeitos de nosso trabalho, não nos torna

líderes, mas ditadores. Em governos �picamente ditatoriais, os líderes são inques�onáveis e intransferíveis. Não aceitam ser contestados e não cedem sua posição para outros. Por isso é importante falarmos em discipulado ministerial, para que os líderes sejam servos do rebanho e não dominadores dele (I Pe 5.2,3). Para que entendamos que nossas ações são em favor do reino de Deus e não de nós mesmos. Para que entendamos que todo o líder é importante, mas apenas Cristo é essencial.

O segundo perigo é natural a todo o líder dedicado e intenso em seu trabalho no reino. O esgotamento pode reduzir a intensidade e qualidade do que estamos fazendo. Pode gerar fuga de nossas responsabilidades e nos induzir a culpar outros se não a�ngirmos os resultados esperados. Um líder esgotado corre o risco de se vi�mizar e achar que é o único que, de fato, se importa. Veja como se comportou Elias, depois de obter bons resultados em um desgastante desafio contra os profetas de Baal. Ameaçado por Jezabel, fugiu, desejou a morte e enclausurou-se. Deus providenciou alimento, ele dormiu, mas con�nuou fugindo. Confrontado por Deus, o profeta responde: “Con�nuo sendo zeloso, mas estou lutando sozinho!” Elias sen�u-se cansado e estava perdendo de vista o foco de sua missão. Em que somos diferentes de Elias? Em nada! Estamos sujeitos às mesmas paixões que o grande profeta (Tg 5.17). Portanto, devemos evitar o preciosismo ao nos sen�rmos desgastados com o importante t raba lho que estamos fazendo. Para o esgotamento, a receita é óbvia: alimente-se, descanse e volte ao trabalho!

Vimos então, que o discipulado deve começar por uma criteriosa autoavaliação. Esta etapa deve ser feita com um autoexame, mas também deve contar com a par�cipação de pessoas amadas e sábios mentores. Devemos considerar o momento apropriado de passar o bastão, mas não sem antes estar sempre alerta ao perigo do sucesso e esgotamento. A próxima etapa que proponho é aquela em que passamos a iden�ficar os sucessores.

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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5. Iden�fique os sucessores

Sendo o discipulado um processo de sucessão, é urgente que o líder esteja atento às pessoas que poderá discipular. É claro que ninguém entrega um grande tesouro nas mãos de qualquer pessoa. Ninguém faz isso! O bastão do evangelho é precioso demais para ser entregue nas mãos de um atleta despreparado. Por isso, elenquei alguns princípios para que se realize um bom processo sucessório.

5.1 São poucos, mas existem!

Elias estava aborrecido, sen�ndo-se o úl�mo dos profetas. Deus lhe tranquilizou dizendo: “Ainda tenho sete mil que não se dobraram a Baal!” Elias deveria saber que não estava sozinho. Ainda havia servos fiéis na terra. Às vezes, pensamos que não existem pessoas habilitadas a realizarem certas tarefas, mas precisamos entender que Deus sempre mantém servos fiéis.

O profeta �sbita recebeu uma boa no�cia: ainda tenho sete mil! Mas perceba que Deus não disse a ele: “Venha Elias! Lidere estes sete mil homens e vamos mostrar algumas coisinhas a Acabe e Jezabel”. Não, não foi assim! Deus disse a Elias: “Tenho sete mil, mas o teu trabalho será com três apenas” (I Re 19.15-18). Entre eles, Elias deveria ungir Elizeu como o profeta que o subs�tuiria. Note que não sabemos quem são esses milhares de fiéis. Nem Elias sabia quem eram, pois seu trabalho era com apenas três homens. Aprendemos aqui que o processo de sucessão, de desenvolvimento ministerial, geralmente, não vai se realizar entre a mul�dão. É natural apreciarmos o trabalho feito com a mul�dão. Ficamos empolgados quando vemos igrejas cheias, grandes públicos para serem ministrados. Reconheço que isso é muito bom e desejável, mas o trabalho de Deus conosco, na maior parte do tempo, acontece com os poucos, no “um a um”. Talvez o discipulado mais importante que você tenha de fazer nesse momento seja com seu filho, com a esposa ou outra pessoa próxima. As mul�dões são sempre fascinantes, mas acredite que entre os inúmeros

anônimos das massas, sempre haverá uns poucos a quem você chamará pelo nome.

Para Elias, um nome foi especial: Elizeu. Este deveria ser preparado para assumir o lugar do experiente profeta. Observe aqui, o discipulado ministerial de modo muito claro. Um crente sendo preparado para assumir um ministério específico, dando con�nuidade à missão de Deus no mundo. Isso nos leva ao segundo princípio do discipulado.

5.2 Considere a disposição em servir

Bons discípulos sempre serão pessoas dispostas a servir. Interessante observar na Bíblia que Deus jamais chama desocupados para o serviço do reino. Todas as pessoas que foram chamadas por Deus estavam ocupadas. Vimos isso acontecer quando Jesus chamou os doze (Mt 4.18-22; Lc 5.27,28) e também quando chamou a Paulo. É verdade que ele estava querendo acabar com os crentes, mas não podemos negar que ele estava profundamente engajado naquilo que acreditava ser correto (At 9.1-6).

O mesmo aconteceu no chamado de Elizeu. Ele estava lavrando a terra quando Elias o c h a m o u p a r a o m i n i s t é r i o p r o f é � c o . Imediatamente, ele se pron�ficou em servi-lo como discípulo (I Re 19.19-21). Observe também que quando o Senhor estava para tomar Elias, o jovem discípulo não se apartava do experiente profeta. Ele sabia que Deus �nha algo por fazer e sua dedicação era admirável (II Re 2.1-6).

Observe pessoas que demonstram a mesma disposição e interesse. Pessoas engajadas, que estão sempre dispostas a servir. Alguns costumam apontar o dedo, outros estendem a mão. Certa vez, um pastor amigo, compar�lhou que foi abordado por uma irmã na igreja, alertando-o sobre a “necessidade” de corrigir um jovem que estava frequentando os cultos usando uma bermuda. “Pastor, é preciso conversar com esse rapaz. Isso não é jeito de vir à igreja!”. Ao que o pastor respondeu: “Pois é, minha irmã, você notou que ele só vem com essa bermuda?”. Uns gostam de apontar defeitos, outros preferem resolvê-los. Este princípio do serviço foi magistralmente ensinado por Jesus durante o lava-pés. Ao fazê-lo, era como se es�vesse

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dizendo: eu não quero ser aquele que aponta as tuas sujeiras, mas aquele que te ajuda a se livrar delas. Essa disposição em servir é sinal de quem segue a Jesus.

5.3 Ore, use o bom senso e confie na direção de Deus

Pe n s o q u e e sta s t rê s c o i s a s s ã o fundamentais para tomarmos boas decisões na vida: oração, bom senso e confiança em Deus. Vejo Jesus fazendo isso em seu ministério. No capítulo 6 do seu evangelho, Lucas diz que Jesus subiu ao monte e passou a noite orando a Deus. Ao amanhecer, ele reuniu seus discípulos e chamou 12 entre eles, para que fossem apóstolos. Escrevendo sobre o mesmo episódio, o evangelista Marcos nos informa que Jesus chamou “os que ele mesmo quis” (Mc 3.13). Fico imaginando que Jesus não fez algo do �po: “Ei pessoal! Es�ve no monte, passei a noite em oração, paguei o preço e Deus me deu 12 nomes. A quem eu chamar venha à frente...”. Jesus não foi orar pra buscar uma lis�nha com os nomes dos escolhidos. Ele falou com o Pai e quando desceu do monte, chamou a quem ele quis. Sabe o que eu aprendo? Que a oração não é um expediente de pedir pra Deus lis�nhas do que fazer. A oração é comunhão com ele, para que o nosso coração seja como o dele. Nós oramos e usamos a inteligência e o bom senso que recebemos do Criador para tomarmos decisões maduras. Na maioria das vezes, Deus não nos dá listas detalhadas, mas uma consciência renovada na presença dele.

Portanto, fale com ele, use sua capacidade de avaliar, ponderar, ques�onar, deduzir, discernir e confie que ele te conduz em boas escolhas.

5.4 Invista em treinamento

Treinar é o discipulado em si mesmo. Desenvolver os dons e as habilidades recebidas para a�ngir resultados saudáveis. Jesus fez isso. Ele treinou seus discípulos por mais de três anos, caminhou com eles, comeu com eles, viajou, resolveu problemas, pregou, curou. Jesus dispensou mais tempo com os doze durante seu

ministério do que com qualquer outro. Eles estavam o tempo todo, ao lado do mestre, aprendendo a refle�r, ques�onar, servir e orar.

Portanto, invista em treinamento. Gaste tempo com isso. Seja o treinamento formal (em sala de aula, com livros, cadernos, trabalhos) ou o informal (promover boas conversas, viajar juntos, reservar tempo de lazer, realizar pequenas tarefas e estudos bíblicos...). Prepare-os para as mais diversas situações. Presenteie-os com livros, compar�lhe informações relevantes, façam cursos juntos. Use sua cria�vidade para aplicar diferentes formas de preparo.

5.5 Teste-os!

Deixe que eles desenvolvam certas tarefas. Avalie o desempenho deles. Aprecie o que foi bem-feito e corrija o que não foi bom, mostrando como poderia ser feito. Jesus também fez isso. Ele treinou, deu instruções e enviou discípulos a pregar. Eles sempre voltavam apresentando relatório das tarefas. Por vezes, foram bem-sucedidos, por outras, não. Isso garan�u ao Mestre oportunidades para orientá-los, preparando-os para o tempo em que não o teriam entre eles (Mt 17.14-21; Lc 9.1-6; Lc 10.1-12; 17-20).

Às vezes, ficamos preocupados em fazer tudo, mas o discipulado será mais eficaz se os discípulos puderem exercitar as a�vidades ministeriais para as quais foram chamados. Talvez você conheça um interessante esquema do processo do discipulado, assim:

a) Eu faço, você observa;b) Eu faço, você me ajuda;c) Você faz, eu te ajudo;d) Você faz, eu observo.

Note que é um movimento gradual e progressivo. Par�ndo da observação, depois para o auxílio, em seguida desempenho com apoio e, finalmente, desempenho supervisionado. Esse processo permite que o discípulo execute as tarefas com confiança e de modo mais preciso.

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Considerações finais

Certa vez, o pastor chinês Benjamin Wong afirmou: “sucesso sem um sucessor é um fracasso”, e prosseguiu, “logo no começo da minha vida cristã, meu pai espiritual costumava dizer-me: 'Ben, ter filhos não é o suficiente. É bom tornar-se um pai, mas você precisa ter netos para realmente ter sucesso'. É claro que ele estava se referindo a filhos e netos espirituais”.

Meu sucesso será bem avaliado, se aquele meu discípulo começar a produzir isso na vida dos outros também; se ele mul�plicar a vida de Cristo na vida de outros. Foi exatamente isso que Paulo queria que Timóteo fizesse. Foi isso que Jesus quis que os apóstolos fizessem e é o que nós devemos fazer. No livro, A formação de um discípulo, Keith Phillips afirmou:

O d i s c i p u l a d o c r i s t ã o é u m relacionamento de mestre e aluno baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo que o aluno é capaz de treinar outros para que ensinem outros.

Então, nós também podemos fazer isso. Treinar, capacitar e discipular para que isso também aconteça na vida de outras pessoas. Recentemente, quando começo um estudo bíblico com uma pessoa, procuro fazê-la entender que meu obje�vo é que ela não apenas absorva o conteúdo para si mesma, mas que seja capaz de ensinar outras pessoas mais tarde. Portanto, acredito que o discipulado de Jesus não é um pedido por ajuda, mas a construção de um legado. Jesus não buscou ajudantes, mas sucessores. Jesus não chamou os doze para fazerem um “trabalhinho”, mas para prepará-los a darem con�nuidade à obra da redenção na terra.

Que Deus nos ajude a espalharmos esses princípios na vida de outros irmãos, nas igrejas loca is . Que de a lgum modo, possamos compar�lhar com eles, valores, princípios do evangelho do reino, o caráter de Cristo. Para que eles sejam maduros na fé, para que eles não se sintam “donos do pedaço”, mas entendam que nosso papel é transitório e devemos deixar um

legado para as gerações futuras. Que nossos líderes entendam: Deus não nos chamou para estabelecermos “feudos ministeriais”. Deus nos chamou para expandirmos o reino dele. Vamos expandir o re ino de Deus por meio da mul�plicação de discípulos preparados para serem bons líderes nas igrejas. Dóceis, íntegros e comprome�dos com o evangelho.

Talvez, em cinquenta anos, não estejamos mais aqui. Mas meu desejo é que nossos discípulos estejam correndo com o bastão pra passá-lo adiante. Que o Espírito Santo nos ajude a con�nuar fazendo o que Jesus começou, para a glória de Deus.

REFERÊNCIAS

WONG, Benjamin. Fazendo toda a diferença: inves�ndo sua vida em outras. Curi�ba: Ministério Igreja em Células, 2009.

PHILLIPS, Keith W. A formação de um discípulo. Trad. Elisabeth Gomes. São Paulo: Ed. Vida, 2008.

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Ministériose a mesma

essência

Múltiplos

Em um domingo desses, como de costume, fui à igreja com minha família e sinto que Deus, em sua soberania, decidiu me ajudar, de maneira muito simples, para que eu �vesse um pouco mais de clareza do momento em que estamos vivendo enquanto igreja e ministérios. Foi inusitado, é verdade, porque não aconteceu nenhuma iluminação durante os louvores, nem se tratou de um insight enquanto se recolhia a oferta e se tem ali um tempo para pensar em diversas coisas. Não foi fruto de nada que o pregador falou ao longo de sua mensagem e preciso dizer que também não foi em nenhum dos momentos de oração. Por um mo�vo básico: eu não par�cipei daquele culto naquele domingo. Meu filho menor não deixou. Explico!O João começou a andar cedo e nesse dia ele devia estar com cerca de 1 ano e 4 meses. A calçada da frente da igreja que congrego tem um leve declive. Ele estava chorando mais que o normal e minha esposa �nha responsabilidades com o louvor, então decidi sair com ele para acalmá-lo. Lá fora, ele começou a fazer algo de que gosta muito. Subir e descer a calçada, entre a porta principal da igreja e o outro portão por onde se acessa os banheiros. Tornou-se um �po de exerc íc io: sobe e desce, sobe e desce, incansavelmente. Eu decidi ficar no ponto mais baixo para protege-lo porque o diver�do para ele era descer rápido até se encontrar com minhas pernas e soltar uma gargalhada. E assim passamos aquela noite de domingo. Sobe e desce...

Então, foi aí que o cuidado de Deus, pelo menos em meu ponto de vista, apareceu para me direcionar e instruir. Já estava noite e no meio daquele sobe e desce, de repente atrás de mim �nha uma senhora, na faixa dos seus 60 – 65 anos, parada me olhando. Ela estava trajando uma roupa de corrida (calça legging, moleton e tênis) e quando olhei para trás percebi sua presença. Não saberia dizer quanto tempo, mas o detalhe é que quando ela viu que eu a notei, ela perguntou:- Boa noite, tudo bem?- Tudo bem e a senhora?- Lindo seu filho!- Obrigado!- Posso te fazer uma pergunta?- Claro, por favor!- Qual é o traje que eu posso vir nessa igreja?- A senhora pode vir como quiser, inclusive se quiser entrar fique à vontade!- E qual a caracterís�ca básica dessa igreja?- Caracterís�ca básica...hum...- Você está ocupado com seu filho, pode deixar que pergunto para essa senhora....Nesse instante passa por mim, vindo do banheiro uma diaconisa da igreja e elas conversam um pouco distante de mim, daqui a pouco vejo as duas entrarem na igreja e ela assis�u o culto até o fim, recebeu oração e depois soube que chegou a voltar outras vezes, mas ainda não dá para dizer que é uma frequentadora.Não consegui parar mais de pensar naquela conversa incompleta, sem final. A diaconisa foi muito melhor que eu para deixa-la à vontade para

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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entrar. Gosto de pensar que, para mim, o que Deus �nha através daquela mulher, era me jogar, como uma bomba, duas perguntas para eu responder e que a par�r de agora quero dividir com todos os leitores e aqueles que par�ciparam do Unificado#18. As perguntas parecem simples e, realmente, são. Mas, elas guardam uma profundidade, um senso de urgência e uma necessidade clara que temos de responder, se possível, melhor do que eu pude fazer naquele domingo.Se realmente assumirmos uma postura e uma orientação missional em nossos ministérios, como já estudamos nesse material, as perguntas dessa pessoa, que não faz parte de nossos membros, nem mesmo parece entender porque estamos ali, são fundamentais. Ela perguntou duas coisas extremamente básicas, que nós precisamos estar prontos para responder como igreja e como ministérios. E elas (as perguntas) vão nos ajudar, com certeza, a cumprir nosso obje�vo com esse material: sugerir a proposta de que todo ministério precisa ter a mesma essência, ainda que sejam muitos e diferentes os que estão presentes no contexto da sua ou da minha igreja local.

A questão cultural – “Qual é o traje que eu posso vir nessa igreja?”

Essa foi a sua primeira pergunta. Ao perguntar isso, ela demonstra o interesse em entrar, concorda? Mas a preocupação dela é outra. Ela está preocupada com a sua roupa, se de alguma forma é um desrespeito ou algo assim entrar como está. Vale aqui abrir um parêntese, antes de prosseguir: como descrevi acima, ela aparentava ter mais de 60 anos. Para meus ouvidos, essa pergunta é natural dessa geração: ela valoriza as ins�tuições, como família, governo, igrejas. Ela carrega o conceito de não ser ofensiva ou desrespeitosa com quem está lá dentro e, mais, ela não quer de jeito nenhum chamar atenção para si, se entrar. Ela faz parte da geração dos boomers (nascidos após a segunda Guerra Mundial) e, apesar de não ser nosso assunto aqui, essa geração traz consigo valores como respeito, fidelidade, honra etc. Ela pode não ser cristã, mas ela nasceu e cresceu em uma sociedade que valorizava os valores cristãos em geral quando se trata de família e bons costumes. Se essa mesma conversa, na porta da igreja, acontecesse com alguém das gerações X, Y ou Z (aqueles que estão

abaixo dos 45 anos até os nossos adolescentes) provavelmente a pergunta seria outra (se é que perguntariam): “Viu, tô a fim de entrar, beleza?” – porque essas gerações já não têm mais tão clara essa questão de respeito às ins�tuições. Principalmente um “Y” ou um “Z” não tem muita dificuldade em pensar que a roupa que ele gosta é própria para entrar em qualquer ambiente e se i s s o i n c o m o d a a l g u é m , “ p ro b l e m a d o incomodado”. Para não alongar, o detalhe que você precisa perceber é que a senhora de mais de 60 anos que fez a pergunta demonstra que ela convive com filhos (X), netos (Y e Z) e esse tempo a influenciou de tal forma que ela mantem o valor do respeito – próprio de um boomer (por isso a pergunta), mas quer entrar na igreja como está, pois parece que para ela não teria problema algum entrar com aquela roupa, afinal ela foi para a porta da igreja daquele jeito. No máximo, se a minha resposta fosse: - olha, a senhora precisa ir em casa e colocar uma roupa mais adequada...” talvez ela nunca mais voltaria a pisar naquela calçada. Fecha parênteses.O problema do traje para ir à igreja tem um pano de fundo notório para con�nuarmos nossa conversa. Em outras palavras, o que ela pergunta é mais ou menos assim: “Qual a relação com a cultura que vocês têm? Vocês são muito fechados (e existe aqui uma linguagem própria que só vocês entendem, um código de ves�menta próprio que só vocês usam)? Ou vocês são mais abertos (e entendem que apesar dessa roupa estou tão necessitada de Deus como qualquer outra pessoa que vem aqui todo domingo)?”Dependendo de como respondermos essa questão de ênfase na cultura, será o �po de ministério que estaremos construindo. Ser missional significa, dentre outros aspectos, ir ao mundo para levar o evangelho. Entrar na cultura, tanto para entende-la e se apropriar dela para que a mensagem do Evangelho seja entendida, como também para denunciar os ídolos da cultura que afastam as pessoas de Jesus Cristo. Isto é, um ministério com orientação missional precisa ser contextualizado e relevante para o seu tempo, sem perder o referencial bíblico. Isso o torna atracional (as pessoas têm vontade de se aproximar) e também é necessário que tenha uma postura intencional de ir ao encontro daquele que não tem Cristo (planejamos e decidimos deliberadamente nos aproximar para ser sal e luz e levar o evangelho, de maneira que sejamos claramente entendidos e, para isso, a decisão de como se relacionar com a cultura é fundamental).

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Como responderemos essa pergunta feita por aqueles que sentem que precisam de Deus, mas se sentem inadequados para nossos ambientes e programações? Então, qual será a nossa relação com a cultura?

A questão de propósito – “Qual a caracterís�ca básica dessa igreja?”

Note que a primeira pergunta eu respondi, já a segunda, eu �ve bastante dificuldades naquela noite e foi a que mais me incomodou, porque eu mesmo, que par�cipo a�vamente da igreja a muito tempo, não sabia exatamente o que responder. Em minha cabeça, na velocidade da luz, passou algumas possibilidades, todas resumidas naquele “...hum...”. Poderia dar uma resposta dogmá�ca, ou ainda teológica. Poderia falar sobre a caracterís�ca da igreja local que congrego, mas o que eu mesmo procurei na minha mente, e não achei, foi uma resposta simples e obje�va que respondesse àquela senhora de tal maneira que ela soubesse que ali, seja através dos cultos, de qualquer um de nossos ministérios ou mesmo pessoas que ela viesse a conhecer, enfim, por qualquer um desses canais, ela percebesse que a minha resposta seria condizente com qualquer outra experiência que ela �vesse com a igreja. Queria poder falar algo que demonstrasse que eu, cada membro ou frequentador e cada líder de ministério es�vesse tão seguro de nossa caracter í s�ca b ás ica q u e es�véssemo s caminhando para a mesma direção, cumprindo a mesma missão e todos colaborando para que tal obje�vo fosse alcançado por qualquer pessoa que se aproximasse de nós. Mas, eu não �nha essa resposta.Vamos considerar as respostas possíveis. A primeira que passou em minha mente foi a dogmá�ca. Falaria mais ou menos assim: “somos 'adven�stas' porque cremos na segunda volta de Cristo e guardamos o sábado; 'da promessa' porque cremos no recebimento do ba�smo no Espírito Santo através do dom de línguas e vale alerta-la que somos abs�nentes”. Essa era uma resposta comum e penso que ainda hoje seria a resposta de muitos de nós e afirmo que ela retrata a verdade de nossa denominação. A segunda possibilidade seria a resposta teológica: “somos parte da igreja de Cristo na terra, servindo a Ele de maneira a expressar o seu Reino ao mesmo tempo que aguardamos o seu completo estabelecimento na Terra. Já que a igreja é de Cristo, ressalto ainda

que somos um povo alcançado pela graça de Deus e dela somos dependentes porque não há nada que façamos que possa nos salvar, somente a graça de Cristo, por meio da fé nele”. Em minha perspec�va, nenhuma das duas possibilidades de resposta atendem de maneira direta a pergunta feita. Na primeira (dogmá�ca), falo da maneira de expressar a fé de nossa denominação, o que é amplo e importante, com certeza. Penso que é básico também de qualquer igreja que par�cipa de nossas convenções, mas seria uma resposta fria demais para uma pessoa que está em busca de relacionamento e ajuda. Esses aspectos dogmá�cos encontrarão a hora certa para ela, mas não parece ser ideal nesse primeiro contato, porque a impressão que passa é de uma “nota de corte” com coisas que ela pode ou não fazer a par�r do momento que passar pelas portas daquela comunidade. Na segunda (teológica), considero mais básica ainda e extremamente importante para qualquer igreja que se diz cristã. Alguns defenderiam essa abordagem, dizendo que nessa resposta já estaria pregando o evangelho para ela. Só que essa é (ou pelo menos deveria ser) a caracterís�ca básica de qualquer igreja cristã, de qualquer esquina, de qualquer cidade.Então, poderia responder a par�r do jeitão (caracterís�ca básica?) de ser de minha igreja local: “somos uma igreja familiar, acolhedora, com alguns defeitos porque somos humanos, composta de pessoas simples e trabalhadoras que se reúnem para adorar a Jesus e seria um prazer receber a senhora”. Eu gosto dessa resposta, ela é convida�va, tem um componente de humildade, é a realidade da igreja que congrego, mas essa é uma resposta evasiva. Sinceramente não parece ser isso o que ela quer saber. O que ela quer saber é a tal da “caracterís�ca básica”, o porquê estamos ali, qual o nosso propósito para aquele local e para as pessoas que se achegam. Qual a nossa missão e se isso de alguma forma poderia ajudá-la a viver. Como você responderia essa questão? Qual a caracterís�ca básica da sua igreja, isto é, qual a missão para a qual foi chamada e como ela cumpre essa missão?

Igreja, cultura e missão – uma relação que precisa de respostas

Ministérios orientados por missão trabalham na direção de contribuir para a missão de Deus por meio da igreja. Se temos a real intenção de

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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dirigirmos nossas ações e esforços para os de fora, para que sejam alcançados. Se temos clareza de que os par�cipantes de nossos ministérios não estão ali somente para receber e para que se trabalhe a manutenção deles, mas ao contrário, primordialmente são discípulos de Jesus sendo preparados para servir em missão. E, por fim, se entendemos que discípulos de Cristo que cumprem a missão precisam ter a mesma postura de Cristo que veio para servir e para isso se encarnou, se iden�ficando conosco, então, precisamos seriamente responder qual a relação queremos ou devemos estabelecer entre a cultura, a missão e a igreja.Fazendo isso, consequentemente, estamos buscando encontrar uma base comum para a construção de nossos ministérios. Uma essência que nos iden�fique um com o outro de tal forma que possamos dizer com clareza que, cada um a par�r de sua perspec�va está contribuindo com a missão da igreja. Se isso é verdade, o primeiro passo é responder à questão do propósito e da missão. Para que exis�mos? Qual o propósito de nossos ministérios? Qual é o nosso chamado? Em seguida, precisamos responder à questão cultural – como nossos ministérios se relacionam com a cultura com intencionalidade missionária, contextualização de linguagem e disposição em servir e alcançar aqueles que precisam de Deus e estão em nosso raio de ação.Feito isso, com a ajuda da Palavra de Deus poderemos ter convicção e clareza para responder as duas questões daquela senhora, seja quem for que fizer as perguntas.

A visão ministerial na igreja de Éfeso

Antes de começar a responder, é necessário estabelecer uma base bíblica mínima para a compreensão da ação ministerial na perspec�va das igrejas do Novo Testamento. Nesse aspecto, a carta de Paulo aos efésios é fundamental, porque ela, como nenhuma outra, apresenta a questão ministerial na perspec�va de que todo e qualquer ministério se baseia no propósito da igreja e como eles interagem na busca de resultados para a própria igreja.Analisando a carta da perspec�va eclesiológica, os três primeiros capítulos tratam da “unidade em Cristo” que agora alcança judeus e gen�os, pois em Jesus se quebrou o muro de separação que outrora exis�a. Assim, em Cristo se encontra a novidade de vida que nos faz um com Ele, por sua

graça e não por nossos méritos (Ef. 2.8 a 10). A segunda parte da carta oferece uma visão sobre “o lugar da igreja no plano de Deus” para ser fiel a esse plano eterno de reunir e convergir tudo em Cristo Jesus (Ef. 1.10 a 12). Assim, a igreja tem um papel claro de ser uma agente do plano de Deus, da missão de Deus. Paulo apresenta a vívida figura do corpo de Cristo, demonstrando que a igreja deve agir organicamente, com todos os seus dons e por meio de todos os seus membros para cumprir seu propósito. Em outras palavras, é o que diz E. F. Sco�: “A Igreja tem como finalidade a reconciliação do mundo para a qual veio Cristo: e em todas suas relações entre si, os cristãos devem buscar realizar esta ideia forma�va da Igreja”.Se a igreja é um corpo a�vo e orgânico que trabalha para a reconciliação do mundo, ela deve em todas as suas “relações”, portanto em seus ministérios ter essa perspec�va em vista. E é exatamente dessa questão que Paulo se ocupa no capítulo 4 da carta, oferecendo uma visão ministerial para a igreja, que, nas palavras do próprio texto, possa levar a “unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus (...) à medida da estatura completa de Cristo” – Ef. 4.13. Não perca a linha de raciocínio: a igreja está baseada em um propósito claro: ser agente da missão de Deus, isto é, cumprir o plano eterno de convergir todas as coisas ao reinado soberano de Cristo Jesus. Para tanto, os ministérios são meios que, quando cumprem o seu papel, alcançam um claro resultado: edificação do corpo de Cristo para que todos alcancemos a maturidade.

A essência do ministério

Estamos diante da essência ministerial: qualquer ministério tem como base o propósito da igreja e tem como alvo a maturidade dos discípulos de Jesus que compõem a igreja como corpo de Cristo. Essa é a perspec�va em todo o Novo Testamento. Poderíamos dizer, em outras palavras que a igreja e seus diversos ministérios cumprem sua missão e vão ao encontro de seus obje�vos quando são canais de adoração, comunhão, discipulado, serviço e evangelização – as igrejas e ministérios que tem essa clareza são aqueles que podemos chamar de “essenciais”. Inclusive, para os autores do livro Igreja Essencial, a igreja evangélica ocidental perdeu a sua capacidade de ser essencial para as novas gerações. Nas pesquisas que realizaram nos úl�mos anos, eles constatam que as gerações mais jovens têm deixado a igreja

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não necessariamente por pecados ou questões teológicas ou mesmo filosóficas sérias. As jus�fica�vas são as mais banais, tais como:

1- Simplesmente queria dar um tempo da igreja

2- Membros da igreja pareciam moralistas ou hipócritas

3- Mudei-me para a faculdade e deixei de frequentar a igreja

4- Responsabilidades no trabalho me impediram de ir

5- Mudei-me para longe da igreja e por isso deixei de ir

6- Tornei-me ocupado demais, embora desejasse con�nuar frequentando a igreja

7- Não me sen�a conectado às demais pessoas em minha igreja

8- Discordava das posições da igreja em relação a questões polí�cas e sociais

9- Escolhi passar mais tempo com amigos fora da igreja

10- Ia à igreja apenas para agradar aos outros

Se atentarmos aos resultados consolidados acima, a maioria das decisões de afastamento são casuais. Para os autores do livro, a conclusão é simples: as pessoas deixam de frequentar a igreja “porque não a consideram essencial para suas vidas”. Aparentemente, elas não têm nada de grave contra a igreja, mas parece claro que qualquer coisa é mo�vo para distanciamento ou falta de compromisso. Acrescento à analise dos autores, que a leitura mais detalhada da pesquisa e dos testemunhos que são apresentados ao longo do livro, permitem perceber que, nesses contextos, a igreja perdeu relevância cultural para a sua realidade, bem como são pessoas que não estão conseguindo entender ou se conectar ao propósito maior que é fazer parte da igreja. Sem contar um outro detalhe: eles veem a igreja como um local que devem ir ou deixar de ir, quando na verdade a igreja é um corpo que se deve fazer parte ou não. Isto é, nós não vamos à igreja, nós somos à igreja. Quando se reunir em comunhão perde o sen�do é porque não está claro porque nos reunimos, sob qual base e em busca de quais obje�vos e o quanto isso pode impactar a vida, a história e as relações daquele que se aproxima de Cristo.

Por que uma proposta essencial?

Parece urgente uma proposta de base essencial. Se ficarmos perdidos em um emaranhado de p r o g r a m a ç õ e s , a g e n d a s c a r r e g a d a s e descontextualizadas do ritmo de vida daqueles a quem Deus nos chamou a servir, somente estamos contribuindo para que muita gente se afaste da igreja por não perceber sua grandeza, sua posição de destaque e o quanto ao par�cipar do corpo de Cristo, as pessoas têm a chance de par�cipar do maior projeto, da maior missão de todo o universo.Sendo mais específico à nossa realidade, pensar em uma proposta essencial nos coloca em um trilho na mesma direção. Cada um dos ministérios que compõe a Igreja Adven�sta da Promessa pode ser um braço a contribuir com a missão da igreja. Não podemos mais estar presos ao modelo departamental: um compar�mento que faz a manutenção de uma parte da igreja, criando eventos e programações para protege-los do mundo. A visão ministerial nos coloca no trilho do serviço e do amadurecimento de cada pessoa que par�cipa de um ministério. Nesse sen�do, a sua manutenção não depende de eventos ou programações, mas depende de um projeto de treinamento, ele é um discípulo em processo e o foco concentra-se no serviço que esse ministério pode oferecer através dos diversos dons que seus componentes tenham e disponibilizem para a edificação da igreja e o cumprimento de sua missão.O ponto chave aqui é entender que esse trilho precisa ser “essencial”! Para que todos estejamos alinhados e trabalhando na mesma direção, precisamos concordar com um caminho essencial, fundamental que todos caminharemos através dele. Só, então, a cria�vidade e aspectos peculiares de nosso ministério específico podem ser pensados. U�lizando a mesma metáfora, os trens serão diferentes em tamanho, cor, modelo, velocidade etc, mas todos estaremos sob o mesmo trilho, a mesma essência.

O exercício da essência para qualquer ministério

Que trilho é esse, afinal? Que essência é essa que pode ser comum a qualquer ministério? Como vivemos um momento de transição de modelo em nossa denominação, não basta conhecer o modelo. Haverá um processo exaus�vo de se exercitar para que alcancemos uma prá�ca

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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ministerial relevante. O primeiro contato com a essênc ia pode levar mui tos de nós ao desconforto, porque estamos acostumados a fazer do nosso jeito e qualquer nova metodologia gera minimamente um desassossego. Vai requerer esforço para entender a proposta, para coloca-la em prá�ca, para realmente fazer um exercício de pensar em novas abordagens para o ministério que desenvolvemos na igreja.Os pesquisadores que escreveram o livro Igreja Essencial apresentam uma proposta com 4 componentes principais que caracterizam comunidades essenciais. Além disso, igrejas orientadas por missões, da mesma forma, ressaltam 4 aspectos importantes para a atuação de seus ministérios. Nos apropriaremos dessas duas bases para construirmos nossa proposta. A par�r delas será possível construir nossa essência ministerial, bem como responder às duas questões iniciais desse texto (a questão de propósito e a questão cultural), sem perder a perspec�va bíblica para comparar e confrontar os 4 componentes sugeridos com Efésios 4.

Respondendo com clareza a quem es�ver na sua calçada

Quem já está na nossa calçada, por assim dizer, ou já anda conosco dentro da igreja ou tem interesse em entrar. Esse público talvez não necessite ser alcançado, mas precisa entender mais claramente qual o nosso propósito como igreja. O Pr. Timothy Kel ler afirma que quatro são as frentes ministeriais que, na verdade, são 4 aspectos que precisam estar presentes em qualquer ministério:

1- Colocar as pessoas em contato com Deus;

2- Colocar as pessoas em contato entre si;3- Colocar as pessoas em contato com o

entorno;4- Colocar as pessoas em contato com a

cultura.

Por sua vez, o Pr. Thom Rainer apresenta 4 componentes essenciais de um ministério:

1- Simplificar – acertar a estrutura2- Aprofundar – acertar o conteúdo3- O b j e � va r – a c e r t a r a a � t u d e 4 -

Mul�plicar – acertar a ação

Essas duas séries precisam estar na mente daqueles que buscam construir um ministério orientado para missão. Os dois primeiros itens (de cada uma das duas listas) nos ajudam a responder à questão de propósito, bem como os dois úl�mos a responder à questão cultural. Sendo assim, vamos nos dedicar agora aos dois primeiros itens, que falam diretamente com quem já está na nossa calçada, isto é, com os membros de nossos ministérios e os interessados em conhecer nossa igreja e nossos ministérios.

A. SIMPLIFICAR

Um dos autores do livro Igreja Essencial é também co-autor do livro Igreja Simples. Em ambos, eles afirmam que a simplicidade da igreja e de seus ministérios talvez não seja o item mais importante, porque o aprofundamento, a obje�vação e a mul�plicação tratam mais do conteúdo da atuação ministerial da igreja. Mesmo assim, eles defendem que ministérios com estruturas complexas são fadados a afastar as pessoas, porque elas se envolvem em programas e eventos, mas não conseguem perceber uma clareza de onde aquilo tudo pode levar. Ainda que a estrutura seja secundária em relação ao conteúdo, sem uma estrutura simples os componentes mais importantes se tornam inalcançáveis.É importante perceber que essa faceta essencial de um ministério precisa permear todos os ministérios e, por conseguinte, toda a igreja. Senão, estamos de novo direcionando esforços cada um para um lado, o que não é produ�vo. Exatamente por isso, todos os autores voltados para a construção de igrejas com foco missional, apresentam os ministérios dentro do contexto maior que é a igreja e nunca isolados. Por isso, quando cri�cam ministérios de alguma forma cri�cam as igrejas locais, dizendo que algumas congregações parecem mais com “uma rede de a�vidades, de algum modo, relacionadas, e que não possuem um obje�vo claro e definido”. Mais uma vez torna-se evidente que a igreja pode ter múl�plos ministérios, mas a necessidade de um alinhamento, de uma busca de essência entre todos em submissão a autoridade pastoral da igreja local é fundamental para que tudo caminhe na direção de cumprir a missão de Deus.Sendo assim, a simplificação envolve clareza de propósitos, movimento, alinhamento e foco.

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Quando falamos em clareza, estamos dizendo que qualquer ministério precisa ter uma definição simples e direta de porque existe. Como exemplo, um ministério jovem conhecedor dos obje�vos de sua denominação e como a igreja local apresenta esses obje�vos para sua comunidade poderia chegar a seguinte definição de propósito: “Conectar jovens a Deus, uns aos outros e ao serviço voluntário”. Essa definição seria fruto de uma longa discussão a par�r do fato de que a igreja local se entende como chamada para “adorar a Deus, proclamar Jesus Cristo e fazer discípulos no poder do Espír ito Santo”. Hipote�camente, essa discussão foi fruto das seguintes percepções:

� - conectar jovens a Deus – é missão de nossa igreja adorar a Deus e testemunhar no poder do Espírito Santo, portanto, nosso ministério precisa oferecer uma conexão com a Palavra de Deus e com a presença marcante do Espírito Santo para que tenhamos esse poder proclamador.� - conectar jovens uns com os outros – é missão de nossa igreja fazer discípulos. Biblicamente é possível notar que o discipulado acontece em grupo, em comunidade (Jesus selecionou 12 mais próximos, as igrejas do Novo Testamento se reuniam em casas...), portanto precisamos aproximar os jovens uns dos outros de tal maneira que eles mesmos se ajudem na caminhada e sejam parceiros de jornada e possam contribuir para o discipulado uns dos outros juntamente com a liderança.� - conectar jovens ao serviço voluntário - é missão proclamar o evangelho e a proclamação acontece com palavras e a�tudes, portanto, jovens precisam descobrir seus dons e talentos, precisam servir ao Senhor em suas comunidades, em seus contextos de trabalho e estudo. Assim, o serviço voluntário é outra forma de dizer que ele também deve se entender parte atuante do ministério engajado em alguma ação de proclamação com palavras ou atos.

Tendo essa clareza, fica mais fácil perceber os outros passos da simplificação. É necessário que os par�cipantes do ministério percebam “movimento”. Isto é, ninguém gosta de algo estagnado. O discípulo que está em um ministério, precisa entender seu processo de amadurecimento, em outras palavras: “as igrejas simples são intencionais com respeito a auxiliar seus membros em sua jornada rumo a maior maturidade”. Então, usando o mesmo exemplo o

jovem par�cipante desse ministério precisa perceber que o maior contato com Deus e o maior grau de comunhão com o grupo é o que vai conduzi-lo a atuação ministerial por meio do serviço voluntário. A liderança precisa conseguir deixar claro onde ele está e aonde ela espere que ele chegue nos 3 níveis (relacionamento com Deus, com os outros e com o serviço cristão).O próximo passo rumo à simplificação fala de “alinhamento”. É uma outra palavra para dizer que os processos ministeriais precisam andar 'unificados”. Como diz Rainer: “o alinhamento é a organ ização de todos os min i stér ios e colaboradores em torno desse processo simples”. Aqui não é necessário nos alongarmos, pois é exatamente a proposta desse tema: manter uma unidade essencial entre todos os ministérios.O úl�mo passo rumo à simplificação, talvez seja o mais di�cil, é o foco. O problema aqui é que talvez se toque em eventos consagrados, pra�camente “san�ficados” pelos líderes. O foco diz sim para aquilo que abrange o processo simples do ministério e não para todo o resto. É comum ouvir aqui: “mas esse evento já tem 20 anos, não podemos acabar com ele...”; “mas nessa data sempre fizemos desse jeito...”; “porque vamos parar de fazer isso? Tudo bem que o outro ministério tem mais a ver com esse processo, mas sempre foi a gente que cuidou e agora vão �rar da gente?”. Aqui, vale uma dica importante: dizer “não” é mais fácil do que eliminar algo que já existe. Portanto, a nossa realidade apresenta aspectos bem di�ceis, pois a maioria de nós não vai par�r do zero e sim construir em cima de coisas que já existem. Portanto, naquilo que será implementado que haja discernimento para dizer não para aquilo que é desnecessário para o propósito adotado. Perceba que os 4 aspectos presentes em ministério orientados por missões (colocar as pessoas em contato com Deus, com os outros, com a comunidade e com a cultura) de forma direta ou indireta precisam aparecer no propósito do ministério, estando presente desde a sua estrutura simples. Para finalizarmos esse aspecto resta ainda olharmos se isso tem validade na visão ministerial do Novo Testamento, a par�r de Efésios 4. Paulo escreve no verso 10 que Jesus designou “alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”. Nessa listagem ainda que tenhamos a presença de dons, podemos também apreender atuações ministeriais na igreja primi�va. Apóstolos, profetas e evangelistas ainda que es�vessem

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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ligados a uma igreja local, as cartas do novo Testamento demonstram que essas 3 funções eram exercidas de maneira i�nerante. Além disso são funções ligadas a estruturas maiores da igreja para além da igreja local. Não é nosso obje�vo aqui, mas nesse contexto ministerial que estamos entrando vale a pena pensar que apóstolos têm uma visão mais abrangente e estratégica da missão da igreja, bem como profetas são homens da visão, da confrontação e ação do Espírito Santo e evangelistas são parte de uma estratégia maior de ação da igreja em diversas localidades. Em outra oportunidade, podemos pensar, ou melhor, repensar a atuação dos ministérios gerais e regionais a par�r dessas ideias: visão abrangente, estratégias, ações integradas entre diversas igrejas ou regiões.O que nos interessa especificamente para fins desse módulo é a atuação de pastores e mestres. A maioria dos comentaristas vão dizer que “pastores e mestres” tratam da mesma função. Além disso também vão concordar que eles têm atuação local fixa. Eles contribuem para o propósito da igreja (note a simplificação): “aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef. 4.12). Além do processo simples, a estrutura é simples, a par�r da visão de Efésios – pastores e mestres . Parafraseando essa rea l idade neotestamentária, podemos propor que a estrutura simples de um ministério, pelo menos do ponto de vista orgânico, seja composta por líderes (pastores) com o chamado para cuidar e a l imentar os membros , bem como por especialistas (mestres) que contribuam dentro dos obje�vos do ministério. Nas palavras de Barclay a liderança ministerial precisa:

� empenhar-se para que os membros da mesma sejam formados, ajudados, guiados, cuidados e buscados em caso de extravio, em forma tal que cheguem a ser o que têm que ser.

Assim, qual a quan�dade de pessoas que compõe um ministério? Em nossa linguagem, qual a sua diretoria ou equipe? Biblicamente falando, deve ser composta por líderes e especialistas que contribuam para o processo do ministério, para que todos os que par�cipam do ministério experimentem a edificação e o amadurecimento necessários para que não sejam somente consumidores do ministério, mas ministros também que entendem a necessidade de contribuir para o corpo de Cristo.

B. APROFUNDAR

Essa parece ser uma das grandes crises da igreja evangélica como um todo e dos ministérios em par�cular. A questão é que parece haver uma decisão que precisa ser tomada: querer ser profundo vai impedir que o ministério seja relevante. Parece que as pessoas não querem se aprofundar, isto é, não querem ler, não querem pensar muito nem mesmo se dedicar com responsabilidade a nada. Então, resta fazer a escolha pela superficialidade oferecendo entretenimento para que os jovens, as mulheres, músicos ou crianças permaneçam na igreja. Essa é uma falsa dicotomia. Ser relevante não impede de também ser profundo. Afinal, o que estamos querendo dizer com aprofundar relacionado a essência ministerial?A estrutura, como vimos, deve ser simples e clara. Mas o conteúdo do ministério deve buscar a profundidade. Todo ministério deve contribuir com o processo de discipulado de seus membros. E o discipulado acontece basicamente pela pregação e estudo da Palavra de Deus, seja em grandes ou pequenos grupos de estudo. Assim, Rainer sugere que discípulos que são alimentados pela pregação da Palavra de Deus, que se envolvem com pequenos grupos de estudo e comunhão, bem como são encorajados a estudo da Bíblia por conta própria “raramente desistem e se juntam ao grupo dos afastados”. Nenhum ministério pode abdicar-se desse componente essencial: contribuir para o ensino consistente da Palavra de Deus, por meio do estudo e da própria convivência com outros par�cipantes do ministério que já estejam mais maduros na caminhada da fé. No aprofundamento é mais evidente perceber a presença de processos que coloquem às pessoas em contato com Deus e uns com os outros, pois são os dois aspectos que diretamente vão contribuir para uma vida e um conhecimento mais profundo de Deus: a sua Palavra e o convívio com outros irmãos ou líderes mais experientes. Podemos encontrar isso na visão ministerial apresentada por Paulo na carta de Éfeso? Entendemos que sim. O v. 13 do capítulo 4 diz a s s i m : “a t é q u e t o d o s c h e g u e m o s a o conhecimento do filho de Deus, e cheguemos à maturidade, a�ngindo a medida da plenitude de Cristo”. A proposta de Paulo é, por assim dizer, muito profunda. O que se busca, através do conteúdo do ministério, é alcançar a medida de Cristo, é tornar-se um reflexo de Cristo na terra.

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Ainda que seja uma meta distante para a maioria de nós, a perspec�va de profundidade não é descartada pela visão ministerial da igreja de Éfeso, muito ao contrário, ela é incen�vada, pois se Jesus Cristo é o alvo com certeza não se está falando de uma vida que fica na super�cie.Simplificar e aprofundar fala diretamente com quem está dentro par�cipando do ministério, desde o núcleo da liderança até aqueles que estão dando os primeiros passos dentro da igreja em qualquer ministério. De alguma forma, a simplicidade e a profundidade estão ao alcance de todos aqueles que se aproximam e são processos que vão ajudar no amadurecimento da fé e na compreensão que par�cipar do ministério significa bem mais do que ir a eventos ou receber bênçãos ou mesmo alimento espiritual. Significa capacitar-se para servir a outros. Então entramos nos dois úl�mos processos que falam, com certeza, com os que estão dentro, mas são mais dirigidos para os que estão do outro lado da calçada sem um aparente interesse em se aproximar.

Atravessando para o outro lado da rua com a mesma clareza

Uma igreja recheada de ministérios com a essência bíblica consegue responder com clareza a quem se aproxima e oferecer um processo de discipulado que envolva a maturidade e o a p r o f u n d a m e n t o . M a s , a e s s ê n c i a neotestamentária não permite que nos concentremos somente em quem se achega, por outro lado, nos incen�va a ir em busca daqueles que estão do “outro lado da rua”. Ministérios orientados por missões não somente esperam e trabalham a manutenção de seus membros. Além de serem atracionais, eles também precisam criar processos intencionais de ir ao encontro do perdido, dentro de sua cultura. Então, precisamos pensar no terceiro componente essencial de um ministério, a obje�vação.

C. OBJETIVAR

A obje�vação fala essencialmente sobre desenvolver uma a�tude correta. Se temos uma estrutura simples, apresentada de maneira clara e também temos processos de aprofundamento, isso precisa estar obje�vado em expecta�vas

coerentes com os processos anteriores. Existe um outro mito contemporâneo que diz que as gerações mais novas não querem nada sério de verdade, não querem compromisso e não estão em busca de sen�do para a vida, só querem “cur�r o momento”. Ainda que essas afirmações tenham uma relação muito forte com as atuais gerações, não é toda a verdade sobre elas. As gerações mais velhas decidiam por uma profissão ou pela par�cipação a�va e regular em uma igreja orientada pela “obediência”, pelo s e n s o d e v e r. O s e n s o d e d e v e r, d e responsabilidade era muito forte. Por isso, para muitos que pensam a par�r da cosmovisão das gerações mais velhas é di�cil compreender a relação de responsabilidade e obediência para os jovens. Ainda que tenhamos crí�cas a esse fato, a orientação geral, o eixo condutor das novas gerações migrou da obediência para o propósito. Um jovem escolhe sua universidade preocupado com salário e senso de dever? Com certeza, mas um outro componente é fundamental: o sen�do, o propósito que ele vai cumprir através daquilo. Ir à igreja não se relaciona primariamente para as novas gerações com obedecer a Deus, mas com par�cipar de sua missão e encontrar propósito que dê significado e direção para a sua vida.Toda a superficialidade aparente dos jovens entra em crise quando encostam a cabeça em seus travesseiros. Eles se perguntam: “o que estou fazendo da minha v ida? ”. Aqui entra a obje�vação. Como a igreja e seus ministérios, por vezes, não conseguem ter isso apresentado de maneira clara, jovens buscam realizar suas expecta�vas elevadas de encontrarem propósitos na filosofia, na música, em uma profissão, na cultura, no ateísmo, na ciência, em religiões orientais e mís�cas que convidam e oferecem a respostas profundas e um processo de obje�vação dessas respostas para a vida das pessoas.Afinal, do que se trata a obje�vação? Para Rainer, é uma questão de a�tude ministerial, isto é, deixar claro quais são as responsabilidades e as expecta�vas do ministério a par�r de sua estrutura e de seu conteúdo. Vamos, então, u�lizar nosso exemplo do ministério jovem. Quando se fala em conectar o jovem a Deus, é preciso deixar claro que se espera do par�cipante do ministério a presença em pelo menos, por exemplo, 75% dos encontros de culto ou estudo daquele ministério. Quando se fala em conectar jovens uns aos outros é necessário que esteja claro que cada par�cipante tem o obje�vo de orar

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

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ao longo do ano por pelo menos 5 outros jovens e também conhecer 5 novos jovens do ministério ao longo do ano, não ficando restrito somente aos seus amigos mais chegados. Quando se fala em se conectar ao serviço voluntário, precisa estar claro para o jovem que após 6 meses de par�cipação com o grupo, espera-se dele que assuma pelo menos uma função de serviço voluntário dentro das a�vidades oferecidas pelo ministério. Ele tem que saber, ser avaliado e aconselhado a cumprir tais metas. E quando as expecta�vas não são alcançadas é uma boa hora para pastorear o par�cipante e tentar entender o porquê ele parou ou decidiu parar de crescer em Cristo.Aparentemente, a obje�vação fala com os que já estão do nosso lado da calçada, mas não só. Ela fala diretamente com os que estão do outro lado. Sem se sen�rem desafiados, as novas gerações não se sentem atraídas ou encorajadas a atravessar a rua e conhecer nossos ministérios. A busca pelo desafio, pelo profundo, por cumprir expecta�vas acima do que se espera deles é inerente a essa geração superficial, por incrível que pareça. Em outras palavras, eles não se sentem desafiados com a perspec�va de obedecer, mas se sentem extremamente desafiados com a possiblidade de encontrar significado, então a obediência vem de carona, obedecem a Jesus e sua palavra não por dever, mas por gra�dão e senso de pertencimento, por fazer parte do projeto dele e contribuir para a sua missão na terra. Eles estão em busca da maior aventura de todas e encontrarão no Evangelho se soubermos apresenta-lo de maneira obje�vada.Precisamos, ainda, perguntar: isso está próximo da visão apresentada aos efésios? Parece que sim. Leia o verso 15: “antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.” O crescimento, o desenvolvimento de cada membro é apresentado na perspec�va de seguir a “verdade em amor” e de estar ligado à “cabeça, Cristo.” Existe uma evidente obje�vação de como o aprofundamento e os propósitos do ministério podem acontecer na vida de cada membro. É esperado que se conheça a verdade, sem desprezar a graça e o amor. É também esperado que isso aconteça em dependência de Cristo, como cabeça do corpo e não em isolamento e cada um à sua maneira.

D. MULTIPLICAR

Se até aqui os aspectos de colocar às pessoas do

ministério em contato com Deus, com os outros foram marcantes e presentes em todos os 3 aspectos, na mul�plicação os aspectos da comunidade do entorno e da cultura são predominantes. É essencial uma estrutura simples e propósitos claros? Sim! É essencial que t o d o m i n i s t é r i o c o n t r i b u a p a r a o amadurecimento do discípulo de Cristo e que ele possa ter a noção do que se espera dele ao sem envolver com o ministério? Sim! Mas para realmente sermos ministérios orientados por missões, é essencial que esse aspecto seja contemplado: a mul�plicação.É necessário um senso, dentro do público alvo do ministério, de desenvolver processos que envolvam o incen�vo à mul�plicação, por meio do evangelismo e da ação social. Em outras palavras, é preciso olhar para fora e buscar salvar o perdido e os afastados para que se conectem novamente com Deus e seus propósitos eternos. Um ministério que não contempla essa perspec�va se parece mais com um clube com seus sócios do que com um ministério com perspec�va bíblica com a clara intenção de contribuir para que tudo e todos sejam restaurados e levados ao reinado de Cristo Jesus.Quando falamos em processos de mul�plicação, são várias as frentes que precisam ser pensadas: nos círculo de amigos de trabalho, escola ou bairro; em familiares afastados, na comunidade do entorno e possíveis ações de impacto que demonstrem a presença do evangelho e seu poder transformador, bem como em ações para um público alvo específico, sempre tendo em vista os que não tem igreja, que estão distantes de qualquer igreja, pois esses precisam de salvação e devem ser o alvo primordial. Nesse ponto, Ra iner faz um parêntese interessante: mais uma vez se pensa a mul�p l i cação como um fator oposto a possibilidade do aprofundamento. Isto é, se houver uma doutrina bíblica sólida, as pessoas se distanciam. De acordo com sua pesquisa, a convicção doutrinária de uma igreja é fator relevante para uma pessoa que não conhece igrejas sen�r que ali existe seriedade e fidelidade ao que se crê. O que está em questão não é exatamente o fato de que as pessoas se interessam primordialmente por doutrina, mas elas percebem quando não há verdadeira convicção do que se prega e se diz acreditar. Se há dubiedade, isso gera desconfiança, portanto convicção e fidelidade doutrinárias não são fatores que repelem, ao contrário, demonstram a

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seriedade dos líderes e da própria igreja.Ao mesmo tempo, acrescento, fidelidade doutrinária não deve servir como jus�fica�va para se afastar da comunidade ou não se relacionar com a cultura. Uma comunidade cr istã contextualizada e com ministérios que guardam a essência bíblica tem o dever de ir ao mundo como luz e sal, se apresentar ao mundo com disposição para fazer a diferença e apresentar o evangelho como resposta para os dilemas contemporâneos e para as crises existenciais das novas gerações. Vamos novamente olhar para a visão ministerial presente no capítulo 4 de Éfeso para validar a nossa tese.O verso 16 diz que, em Cristo, “todo o copo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função. (grifo nosso). Paulo apresenta a ideia de um corpo que cresce e se desenvolve quando todos os membros cumprem a sua função. Os ministérios, cada a sua maneira, ligados à mesma essência contribuem juntamente para o crescimento do corpo de Cristo. Então, na sequência Paulo vai discorrer como vivem os gen�os, dissertando sobre o fato que não é assim a vida dos que se aproximam de Cristo (Ef. 4. 17 a 20). Note o verso 22, pois ele é fundamental para o ponto em questão: “quanto a an�ga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem...” A igreja, os membros do corpo de Cristo eram pessoas que, antes, viviam como os gen�os, os que não tem Jesus. Se “antes”, eles eram afastados e distantes, em algum momento eles foram alcançados pela mensagem do evangelho e se aproximaram de Cristo, e para usar os termos da carta, eles estavam longe, mas foram chamados para perto de Jesus (Ef. 2. 16 a 18). Esses alcançados pelo evangelho foram alvos da mentalidade de mul�plicação presente na igreja primi�va que �nha por pilar a pregação do evangelho, o cumprimento da missão, com a convicção de que era necessário resgatar pessoas das trevas para a luz.

Conclusão

Enfim, temos as respostas para as perguntas daquela senhora. A pergunta sobre o porquê exis�mos como comunidade precisa estar presente na essência de cada ministério e ação da igreja. A resposta à questão de propósito precisa ser dada de maneira simples e clara, ao mesmo

tempo que se oferece um processo de amadurecimento. Para usar o exemplo de nosso ministério jovem presente ao longo do texto, imagine poder responder assim: “basicamente, aqui, nós conectamos as pessoas a Deus, uns aos outros e ao serviço voluntário” Quem sabe ela poderia me perguntar: “que interessante, mas como vocês fazem isso?”. E eu poderia responder: “através do conhecimento da Palavra de Deus e de seu Filho Jesus Cristo”. Não sei se isso teria um efeito maior para ela entrar, mas com certeza em poucas palavras ela teria claro porque estamos presentes ali.A resposta à questão cultural ainda está aberta. Ter um propósito simples e claro, bem como processos de discipulado e aproximação de Cristo sem que haja vida para mostrar é um “�ro no pé”. Se ela entrasse e passasse a conviver com essa comunidade, ela precisaria em pouco tempo de convívio perceber pessoas em processo que sabem aonde estão na caminhada cristã, porque são desafiadas por seus líderes, porque são apresentadas a expecta�vas reais e ao mesmo tempo elevadas do discipulado cristão. Essa senhora se uniria ao ministério feminino e encontraria mulheres em processo, algumas mais experientes e outras ainda em formação, mas todas fazendo parte do processo. Ela, sem mesmo perceber, se sen�ria confrontada com uma co nt ra c u l t u ra d e s a fi a n d o a c u l t u ra d e superficialidade de nosso tempo. Ela também veria uma comunidade que se dispõe a servir os de dentro e os de fora com uma capacidade de amar e servir ao próximo, cumprindo o chamado para ser sal e luz do mundo. Se não houver uma clara relação com o entorno e com a cultura dificilmente a missão da igreja e o conteúdo bíblico do aprofundamento farão sen�do para quem cresceu fora dos muros das igrejas cristãs. Essas pessoas precisam ver palavras e a�tudes andando em conformidade, senão logo perceberam nossa hipocrisia. Para dizer o mínimo, logo notaram que não cremos realmente naquilo que pregamos.Então, sem mesmo perceber essa senhora poderia estar vivendo numa comunidade com a visão ministerial de Éfeso e as palavras de Paulo, ao final do capitulo 4 fariam todo o sen�do para ela, não somente porque ela leu, mas porque ela chegaria a conclusão que o que ela está lendo é a expressão da verdade naquela comunidade, por meio daquele ministério que ela passou a par�cipar:

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OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

Page 42: MINISTÉRIOS IGREJA LOCAL - fesofap.portaliap.org · Ministérios orientados por Missões Você, porém, seja sóbrio em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista,

“Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo”. – Ef. 4. 31 e 32.

Ainda que tenhamos múl�plos ministérios, mas se decidirmos nos exercitar nesse momento de transição para construirmos ministérios alinhados, integrados à missão da igreja, submissos a autoridade pastoral, com uma firme d e c i s ã o d e d e s e n v o l v e r d i s c í p u l o s e contextualizados aos novos tempos e desafios que se apresentam, então, será notória a necessidade de buscarmos a mesma essência, uma essência que além de válida para as novas gerações tem uma sólida base bíblica. Que assim, a par�r da essência básica possamos validar a necessidade de cada ministério e suas estruturas,

garan�r sua durabilidade na perspec�va do amadurecimento de cada discípulo ou discípula de Cristo, bem como incen�var sua fru�ficação e mul�plicação por meio do evangelho que alcança os perdidos e os tornam parte do corpo de Cristo, como um dia aconteceu comigo e com você.

BibliografiaBARCLAY, W. Efésios.GONZÁLEZ, J. Cultura e Evangelho. Ed. Hagnos. São Paulo, 2011.GORMAN, M. Introdução à exegese bíblica. Ed. Thomas Nelson. Rio de Janeiro, 2017.KELLER, T. Igreja Centrada. Ed. Vida Nova. São Paulo, 2014.RAINER, T. RAINER, S. Igreja Essencial. Ed. Palavra. Brasília, 2001.

OS MINISTÉRIOS NO CONTEXTO DA IGREJA LOCAL

Encontro Unicado de Lideranças

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