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PROCESSO N1Processo n 0000232-64.2012.5.15.0158ROFirmado por assinatura digital em 10/06/2014 conforme Lei 11.419/2006 - AssineJus ID: 041800.0915.668098PROCESSO N. 0000232-64.2012.5.15.0158RECURSO ORDINRIO - 3 TURMA - 5 CMARARECORRENTE:CLAUDIO FIRMINO ALVESRECORRIDO:AGROINDUSTRIAL SANTA JULIANA S.A.ORIGEM:VARA DO TRABALHO DE IGARAPAVAJUIZ SENTENCIANTE:RODRIGO PENHA MACHADOVistos etc...Inconformado com a r. sentena de fls. 292/294, complementada pela deciso dos embargos de declarao (fl. 309), que julgou procedentes em parte os pedidos, recorre o reclamante (fls. 311/329), alegando, em sntese, que: faz jus ao adicional de insalubridade, s diferenas de horas extras, inclusive quanto ao intervalo intrajornada suprimido, devoluo dos descontos de faltas injustificadas e tempo disposio para troca de turno; diferenas de horas de percurso e de adicional noturno. Requer, ainda, a devoluo dos descontos a ttulo de contribuio confederativa. Por fim, entende que sofreu dano moral, postulando a indenizao correspondente.Contrarrazes da reclamada s fls. 336/348. o relatrio.V O T O1.-Conheo do recurso, por atendidos os pressupostos legais. 2.-Adicional de insalubridadeA r. sentena indeferiu o adicional em apreo, apesar de o laudo pericial ter constatado exposio ao agente vibrao no perodo em que trabalhou como tratorista no veculo trator Valtra.Segundo o d. Magistrado, as pausas inerentes atividade de motorista realizadas pelo trabalhador ao longo da jornada de trabalho diria atuaram como agente neutralizador dos efeitos insalubres.Ouso discordar.Constou do laudo pericial que Para o tempo de exposio de 6 horas/dia o clculo de A(8) igual a 0,723m/s. Caracterizando POTENCIAL DE RISCO PARA A SADE. (fl. 191). Em outro trecho o perito esclarece que o tempo efetivo de exposio no trator era em torno de 6horas/dia (fl. 190).Como se pode notar, o expert considerou o tempo de efetiva exposio para concluir pela caracterizao da insalubridade, o que permite asseverar que as pausas foram observadas no clculo, j que a jornada de trabalho do reclamante era de, no mnimo, sete horas e vinte minutos dirias e no de apenas seis.Sendo assim, dou provimento ao recurso do reclamante para condenar a reclamada ao pagamento do adicional de insalubridade em grau mdio, como constatado pela percia realizada.3.-Horas extrasEntende o reclamante que os cartes de ponto no podem ser validados por apcrifos, devendo ser acolhida a jornada de trabalho aduzida na exordial.A r. sentena considerou os horrios consignados nos cartes de ponto consoantes queles alegados na petio inicial. Acrescentou que o horrio informado pela testemunha do reclamante foi inferior ao da prefacial. Por tais razes, reputou os controles apresentados pela r vlidos, inclusive quanto ao intervalo intrajornada. Deferiu, contudo, as diferenas de horas extras que o reclamante logrou comprovar, mediante demonstrativo (fl. 276).Partilho da concluso do d. Magistrado da origem.De incio, saliento que ao se manifestar quanto defesa e aos cartes de ponto, o reclamante no requereu a juntada dos controles de jornada manualmente anotados, limitando-se a postular a inverso do nus da prova (fls. 263/265). Ainda, que entendimento desta E. Cmara que a ausncia de assinatura no invalida os controles de jornada apresentados pela empregadora.Ademais, as jornadas mencionadas pelo reclamante na petio inicial so compatveis com as anotaes contidas nos cartes de ponto e no foram infirmadas por outro meio de prova, mormente, pela prova oral produzida pelas partes.Em relao ao intervalo para refeio e descanso, tratando-se de fato extraordinrio, a pr-anotao contida nos controles deveria ser elidida por prova que incumbia ao autor. Contudo, a prova oral restou dividida, j que a testemunha obreira afirmou que no havia intervalo e que almoavam na colhedora, enquanto a testemunha patronal asseverou que j presenciou o reclamante fazer 1hora de intervalo para refeio (fl. 291). Portanto, no procede o pleito.J as faltas que afirma terem sido indevidamente lanadas foram ratificadas tanto pelas advertncias recebidas (fls. 134/139), quanto pela testemunha patronal, ao afirmar que o reclamante costumava faltar (fl. 291).Por outro lado, em relao ao tempo disposio para troca de turno, no importe de vinte minutos, entendo que tem razo o reclamante em seu inconformismo.A prpria testemunha da reclamada confirmou que a troca de turno era feita aps o encerramento do turno com uma carncia de 20 min, que duravam at s 15h20. (fl. 291). A r. sentena consignou que a testemunha no informou se o fato se dava antes ou aps a marcao de ponto. (fl. 293 v.). Contudo, entendo que tal assertiva favorece a tese do obreiro quanto a tal interregno no ser lanado nas anotaes de jornada, pois em trecho anterior a mesma testemunha afirmou que trabalhavam das 6h s 15h (fl. 291).Sendo assim, dou provimento parcial ao recurso do reclamante no tpico, para incluir na condenao vinte minutos de horas extras com adicional e reflexos conforme parmetros fixados em sentena.4.-Horas de percursoRequer o reclamante a nulidade do acordo coletivo de trabalho, suscitando contrariedade teoria do conglobamento e negociao de direito que reputa indisponvel. Sucessivamente, requer o pagamento da jornada de percurso comprovada nos autos para o perodo em que inexistente norma coletiva.Pois bem.Prevalece nesta E. Cmara o entendimento de que as normas coletivas devem ser reputadas vlidas quanto ao tempo fixado a ttulo de horas de percurso, exceto em casos de supresso ou renncia total do direito, o que no ocorre na hiptese dos autos, em que o reclamante sempre recebeu duas horas dirias sob o ttulo.No entanto, quanto ao perodo em que no h norma coletiva, tem razo o reclamante.Sua testemunha afirmou que o tempo gasto por percurso de 1h30 a 2h30 (fl. 290), enquanto a testemunha patronal asseverou ser de 2h a 4h (fl. 291). Portanto, na mdia, o tempo mdio seria de 2h30 em cada sentido, totalizando 5h por dia de efetivo trabalho, como calculado pelo reclamante e apresentado em recurso.Restando incontroverso que o local de trabalho era fazendas de cana-de-acar diversas, evidencia-se como de difcil acesso.Sendo assim, dou provimento parcial ao recurso para incluir na condenao trs horas de percurso por dia efetivamente trabalhado descontando-se as duas horas j recebidas com adicional e reflexos, conforme parmetros estabelecidos pela r. sentena (fl. 293), mas somente de 01/03/2012 ao trmino do contrato de trabalho, por ausncia de acordo coletivo de trabalho vlido para o perodo.5.-Dano moralO reclamante pugna pela reforma da r. sentena, sob o fundamento de que a prova produzida comprovou o descumprimento da NR 31 e as condies degradantes de trabalho em razo da ausncia de local para se alimentar e acondicionar refeio/marmita, bem como de sanitrios, fazendo jus indenizao postulada.A r. sentena indeferiu o pleito por acolher a prova oral patronal, que afirmou haver reas de convivncia com barracas e banheiros. Ainda, por entender que o fato de eventualmente no ter sido montado banheiro, por si s, no gera dano moral ao trabalhador (fl. 293 v.)Com a devida vnia, ouso discordar.Analisando a prova oral produzida (audincia de fls. 290/291), observa-se que a testemunha do autor foi mais especfica ao mencionar que no tinham acesso aos banheiros dos cortadores de cana, pois permaneciam acerca de 3km, que almoavam dentro do veculo de trabalho e no tinham onde acondicionar suas marmitas, que, por vezes, azedavam e a reclamada no fornecia refeio substitutiva.A testemunha patronal, por sua vez, mencionou que havia barraca sanitria, sendo que ultimamente so montados centros de convivncia com barracas e banheiros. Confirmou que a refeio fica com o trabalhador e alegou desconhecer se a refeio do reclamante alguma vez chegou a azedar.Considerando a prova oral produzida, as caractersticas da atividade desenvolvida, as condies de trabalho normalmente constatadas e processo precedente envolvendo a reclamada julgado por este relator (n 0000516-72.2012.5.15.0158), reputo que poca da prestao de servios pelo reclamante, as condies de trabalho no observaram as diretrizes previstas na NR-31, caracterizando-se situao de trabalho degradante e vexatria, que impe a condenao da reclamada ao pagamento de indenizao compensatria.O dano moral leso que se opera no mago do indivduo e se encontra respaldado pelo inciso V, art. 5, da CF/88.Nesse sentido e na fixao do justo e razovel valor da indenizao, cabe ao magistrado levar em conta a extenso do dano, a capacidade econmica das partes e o carter punitivo do instituto. Assim, arbitro a indenizao em R$2.000,00, valor que reputo condizente com os elementos supra.Provejo, em parte.6.-Adicional noturno - diferenasA r. sentena considerou que o deferimento de diferenas de horas extras corrigir as diferenas de erro nos clculos de adicional noturno, reputando o pleito em epgrafe prejudicado.O reclamante discorda, alegando que a reclamada no observava as horas noturnas trabalhadas em prorrogao de jornada, insistindo na necessidade de condenao especfica.Tem razo.Considerando tratar-se de entendimento jurisprudencial, a condenao deve ser especfica, para determinar que seja observada a Smula n 60, II, do C. TST na apurao das diferenas de adicional noturno e reflexos.Nesses termos, provejo, no tpico.7.-Contribuio confederativaA r. sentena indeferiu a devoluo dos valores descontados sob o ttulo, em razo da existncia de autorizao por escrito do reclamante.No merece reforma.Incumbia recorrente a prova de que o reclamante era sindicalizado, mas deste nus no se desincumbiu, limitando-se a apresentar a autorizao firmada pelo obreiro (fl. 132).Ocorre que referido documento no merece guarida, pois a conduta patronal era impositiva, tanto que o reclamante assinou ainda outra autorizao mais genrica, autorizando descontos diversos, datada de 03/04/2010, ou seja, por ocasio da admisso, contra o que o trabalhador, a toda evidncia, no se oporia, diante do receio de obstar-lhe o emprego.Nessa esteira, dou provimento ao recurso para deferir a devoluo dos descontos realizados a ttulo de contribuio confederativa.DISPOSITIVODiante do exposto, decido conhecer do recurso de CLAUDIO FIRMINO ALVES e o prover em parte para incluir na condenao diferenas de horas extras e de horas de percurso e respectivos adicionais e reflexos; adicional noturno e reflexos; adicional de insalubridade em grau mdio; indenizao por dano moral e devoluo de desconto a ttulo de contribuio confederativa, tudo na forma da fundamentao. Custas pela reclamada, no importe de R$300,00, calculadas sobre o valor da condenao, ora rearbitrado em R$15.000,00.SAMUEL HUGO LIMA Des. Relatorimrsp