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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O INSTITUTO DA ADOÇÃO NO ATUAL DIREITO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DE SEUS PRINCIPAIS EFEITOS JURÍDICOS MÁRCIO HASS DA SILVA Itajaí, 30 de maio de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O INSTITUTO DA ADOÇÃO NO ATUAL DIREITO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE

DE SEUS PRINCIPAIS EFEITOS JURÍDICOS

MÁRCIO HASS DA SILVA

Itajaí, 30 de maio de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS

CURSO DE DIREITO

O INSTITUTO DA ADOÇÃO NO ATUAL DIREITO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE

DE SEUS PRINCIPAIS EFEITOS JURÍDICOS

MÁRCIO HASS DA SILVA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor: MSc. Maria Fernanda do Amaral Pereira Gugelmin Girardi.

Itajaí, 30 de maio de 2008.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a DEUS por estar comigo a todos

os instantes, por me proteger e me abençoar,

mesmo que eu, na felicidade as vezes dele me

esqueça.

Ao meu pai JOSÉ NILTON DA SILVA e a Minha

Mãe MARLI HASS DA SILVA, que,com muito

esforço, dedicação, amor e orações, puderam me

ajudar, pois sem eles, esta conquista não teria

sido possível.

Aos meus amigos de turma ELISA PEREIRA

LISBOA, JOÃO JOSÉ MARTINS FILHO e

ROSANA AMALLIA APPELT, que, souberam me

compreender e me ajudar nos momentos que

precisei.

A minha orientadora, professora, MSc. MARIA

FERNANDA DO AMARAL PEREIRA

GUGELMIN GIRARDI. Pela dedicação,

paciência, empenho, zelo e ainda, por

compartilhar seus conhecimentos comigo.

“Buscai antes o reino de Deus, e todas estas

coisas vos serão acrescentadas” (Lucas 12:31)

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho as duas pessoas mais

importantes da minha vida e responsáveis pela

minha existência que muitas vezes os fiz chorar.

À minha mãe MARLI HASS DA SILVA e ao meu

pai JOSÉ NILTON DA SILVA.

“O laço do amor que une uma família verdadeira

não é o de sangue, mais sim o de respeito e

alegria pela vida um do outro”

(Márcio Hass da Silva)

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 30 de maio de 2008

Márcio Hass da Silva Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Márcio Hass da Silva, sob o título

O Instituto da Adoção no Atual Direito Brasileiro: uma análise de seus principais

efeitos jurídicos foi submetida em 11 de junho de 2008 à banca examinadora

composta pelos seguintes professores: MSc. Maria Fernanda do Amaral Pereira

Gugelmin Girardi. (Presidente), e __________________________(examinadora) e

aprovado com a nota ________ ( ________).

Itajaí, 30 de maio de 2008

Professor: MSc. Maria Fernanda Gugelmin Girardi, Orientador e Presidente da Banca

Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias1 que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.2

Adoção

"Podemos então defini-la como ato sinalagmático e solene, pelo qual, obedecidos

os requisitos da lei, alguém estabelece, geralmente com um estranho, um vinculo

fictício de paternidade e filiação legítimas, de efeito limitado e sem total

desligamento do adotando da sua família de sangue3. "

Adolescente

É o indivíduo de 12 a 18 anos incompletos, [...]4

Adotado

[...] É aquele que em decorrência de uma situação fática, encontra-se em

condições de adoção, tornando-se adotado após a efetivação do ato5.

Adotante

“[...] É o agente provocador do ato. É ele que, através de manifestação de

vontade que dá início ao procedimento da adoção 6“.

Criança

“[...] é o sujeito de direito que possui menos de 12 anos de idade.7”

1 “Categoria é a palavra ou expressão estratégica a elaboração e/ou a expressão de uma idéia”. PASSOLD, César Luiz. Pratica da pesquisa jurídica: Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 8ª ed. Florianópolis: OAB/SC editora, 2003. p.40. 2 Conceito operacional [=cop] é uma definição para a palavra e/ou expressão com o desejo de que tal definição que seja aceita para o efeito das idéias que expomos. PASSOLD, César Luiz. Pratica da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 56. 3 CHAVES, Antônio. Adoção. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p.23. 4 CAMPOS, Ângela Valadares Dutra de. O menor institucionalizado: U desafio para a sociedade. Petrópolis: Voszes, 1995, p 47. 5 GATELLI, João Delciomar. Adoção Internacional: Procedimentos legais utilizados pelos países do Mercosul. Curitiba: Juruá, 2003. p. 29. 6 GATELLI, João Delciomar. Adoção Internacional: Procedimentos legais utilizados pelos países do Mercosul. p. 27. 7 LISBOA,Roberto Senise. Manual de Direito Civil: direito de família e das sucessões. V. 5. 3. ed. ver., atual. e ampl. Da 2ª ed. do livro Manual elementar do direito civil. v. 5. Direito de família e das sucessões. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 339.

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Família Substituta

”[...] É aquela na qual será integrada a criança ou o adolescente, a título de

adoção, tutela ou guarda.8”

Família

“[...] é o grupo de pessoas, ligadas pelo parentesco, seja este consangüíneo, civil

ou decorrente da afinidade9.”

Poder familiar

“[...] é o complexo de direitos e deveres quanto à pessoa e bens do filho,

exercidos pelos pais na mais estreita colaboração, e em igualdade de

condições10.”

Homossexualidade

"[...] é a disposição para buscar prazer sensorial através do contato corporal com pessoas do

mesmo sexo, preferindo-o ao contato com o outro sexo11."

União Estável

Entende-se por união Estável a “ vida prolongada de um homem e uma mulher

sob o mesmo teto com a aparência de sociedade conjugal”12

Família Monoparental

Entende-se por família monoparental aquela que “os filhos se encontram,

necessariamente, vinculados só ao pai ou só a mãe.”13

8 LISBOA,Roberto Senise. Manual de Direito Civil: direito de família e das sucessões. P. 339. 9 NEVES, Murilo Sechieri Costa. Direito Civil, Direito de Família, 2ª ed. São Paulo, Saraiva, 2007. p. 1 10 NEVES, Murilo Sechieri Costa. Direito Civil, Direito de Família. p. 111. 11 BRITO, Fernanda de Almeida. União afetiva entre homossexuais e seus aspectos jurídicos. São Paulo: LTr, 2000, p. 46. 12 SIDOU, J. M. Othon. Dicionário Jurídico. Academia brasileira de Letras Jurídicas. Rio de janeiro: Forense Universitária, 1997. p. 809. 13 LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. A situação Jurídica de Pais e mães separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal. 2 ed. São Paulo: Revista dos tribunais, 1997. p. 08.

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................ X

INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ....................................................................................... 4

ASPECTOS HISTÓRICOS E ATUAIS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO ................................................................ 4 1.1 VISÃO SINTÉTICA DA ORIGEM DO INSTITUTO DA ADOÇÃO. ................... 4 1.2 BREVE VISÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO: ........................................................................................................ 8 1.2.1 ADOÇÃO NO BRASIL COLÔNIA ........................................................................... 8 1.2.2 ADOÇÃO NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO DE 1.916 ............................................ 10 1.2.3 ADOÇÃO NO CÓDIGO DE MENORES ................................................................. 13 1.3 O ATUAL INSTITUTO DA ADOÇÃO ............................................................. 15 1.3.1 BASES CONCEITUAIS E FINALIDADES DA ADOÇÃO ............................................. 15 1.3.2 CARACTERÍSTICAS DA ADOÇÃO ...................................................................... 18

CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 20 2.1 PRESSUPOSTOS LEGAIS DA ADOÇÃO: ................................................... 20 2.1.1 IDADE DOS ADOTANTES .................................................................................. 20 2.1.2 IDONEIDADE MORAL ....................................................................................... 22 2.1.3 DIFERENÇA DE IDADE MÍNIMA ENTRE ADOTANTE E ADOTADO ............................. 23 2.1.4 ESTADO CIVIL DOS ADOTANTES ....................................................................... 24 2.1.5 PESSOAS QUE NÃO PODEM ADOTAR ................................................................ 26 2.1.6 ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA .............................................................................. 28 2.1.7 INSCRIÇÃO DOS ADOTANTES E O DEVIDO PROCESSO LEGAL ............................... 29 2.2 PRINCIPAIS EFEITOS JURÍDICOS DA ADOÇÃO ....................................... 33

CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 37

QUESTÕES CRÍTICAS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO ATUAL DIREITO BRASILEIRO ..................................................................... 38 3.1 ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS .................................................. 38 3.2 ADOÇAO INTERNACIONAL ......................................................................... 42 3.3 ADOÇÃO À BRASILEIRA ............................................................................. 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 52

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 55

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RESUMO

A presente monografia tem como objeto o instituto da

adoção. Seu objetivo geral é analisar, com base legal e doutrinária, o instituto da

adoção, enfatizando sua aplicabilidade no atual Direito Brasileiro. Quanto ao

desenvolvimento da pesquisa: no primeiro capítulo trata-se da evolução histórica

do instituto da adoção. O segundo trata dos principais efeitos jurídicos da adoção

no Brasil conforme a analise da legislação da Constituição da República

Federativa do Brasil, do Código Civil de 2002, do Estatuto da Criança e do

Adolescente, das doutrinas e entendimentos de alguns Tribunais de Justiça

pátrios. O terceiro capítulo elucida as questões criticas da adoção por casais

homoafetivos e a adoção à brasileira. Quanto à Metodologia empregada, registra-

se que nas fases de Investigação e do Relatório dos Resultados, foi utilizado o

Método Indutivo, acionadas as Técnicas do Referente, da Categoria, do Conceito

Operacional e da Pesquisa Bibliográfica. Ao final, observa-se que o instituto da

adoção somente terá aplicabilidade em caso de real benefício para o adotando.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o instituto da

adoção no atual Direito Brasileiro.

Os seus objetivos são: a) institucional: produzir uma

monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito pela Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI; b) geral: analisar, com base legal e doutrinária, o

instituto da adoção, enfatizando sua aplicabilidade no atual Direito Brasileiro; c)

específicos: obter dados atualizados sobre os institutos jurídicos, da adoção,

segundo a legislação e doutrina pátrias; verificar, legal e doutrinariamente, as

formas possíveis de se efetuar uma adoção, enfatizando sempre o bem estar da

criança ou do adolescente com objetivo de observar, com base na doutrina

brasileira, a caracterização e aplicabilidade da adoção.

A opção pelo tema deu-se pela vontade do acadêmico em

se aprofundar nos conhecimentos sobre a adoção tema relevante que atribui ao

adotado condição de filho ou seja dando a ele além do bem estar, os mesmos

direitos que os filhos biológicos.

Quanto à Metodologia14 empregada, registra-se que nas

fases de Investigação e do Relatório dos Resultados, foi utilizado o Método

Indutivo15, acionadas as Técnicas do Referente16, da Categoria17, do Conceito

Operacional18 e da Pesquisa Bibliográfica.

14 “Na categoria metodologia estão implícitas duas Categorias diferentes entre si: Método e

Técnica”. In: PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica - Idéias e ferramentas úteis

para o pesquisador do Direito. 9. ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2005, p. 103. (destaque no

original).

15 O referido método se consubstancia em “pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e

colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral.” In: PASOLD, César Luiz. Prática

da Pesquisa Jurídica - Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 104.

16 “REFERENTE é a explicitação prévia do(s) motivo(s), dos objetivo(s) e produto desejado,

delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente

para uma pesquisa.” In: PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica - Idéias e

ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 62.

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Esta Monografia se encontra dividida em três Capítulos.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando dos aspectos históricos e atuais

do instituto da adoção no direito brasileiro, como: visão sintética da origem da

adoção, A adoção no Brasil Colônia, A adoção do código civil de 1916, A adoção

no código de menores, As bases conceituais e finalidades da adoção e Por fim, as

características da adoção.

O Capítulo 2 trata dos pressupostos e efeitos jurídicos do

instituto da adoção no atual direito brasileiro, tendo assim a idade dos adotantes,

Diferença de idade mínima entre o adotante e o adotado, Estado civil dos

adotantes, Pessoas que não podem adotar, O Estágio de Convivência, A

inscrição dos adotantes e o devido processo legal, e por Ultimo os Principais

efeitos jurídicos da adoção.

No Capítulo 3, estudar-se-á o as questões críticas do

instituto da adoção no atual Direito brasileiro, tendo essas críticas a adoção por

casais homoafetivos, A adoção Internacional, e a adoção à brasileira.

A presente Monografia parte das seguintes perguntas de

pesquisa:

a) A quem compete adotar? Quais são os principais deveres

dos adotantes em relação ao adotado?

b Quais são os requisitos para a adoção?

c) Como se concede a adoção? Quando geram os efeitos?

Buscando respostas preliminares às perguntas de pesquisa,

foram levantadas as seguintes hipóteses:

17 Categoria é “a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia” In:

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica - Idéias e ferramentas úteis para o

pesquisador do Direito, p. 31.

18 “Conceito Operacional (=Cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de

que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. In: PASOLD, Cesar Luiz.

Prática da Pesquisa Jurídica - Idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 56.

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a) Compete a adotar qualquer pessoa que tenha idade igual

ou superior a 18 anos. E que seus deveres com o adotando são os mesmos

deveres dos pais biológicos, ou seja, tem o dever de dar uma vida sadia,

prestando auxilio, carainho, amor, educação, saúde, e assim consecutivamente.

b) os requisitos especificados são os de possuir idoneidade

moral, ter condições de criar uma criança não deixando de prestar qualquer

auxilio garantido pela Constituição pelo Código Civil e pelo Estatuto da Criança e

do Adolescente.

c) A adoção se concede através de um processo judicial,

que lhe conferirá o Pátrio poder e se dará através de uma sentença constitutiva.

Os efeitos que são gerados pela adoção, produzem a partir do trânsito em

julgado da sentença.

Devido ao elevado número de categorias fundamentais à

compreensão deste trabalho monográfico, optou-se por listá-las em rol próprio,

contendo seus respectivos conceitos operacionais.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, aduzindo-se sobre a confirmação ou não das hipóteses

trabalhadas, seguido da estimulação à continuidade dos estudos e de reflexões

sobre o tema.

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CAPÍTULO 1

ASPECTOS HISTÓRICOS E ATUAIS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO

1.1 VISÃO SINTÉTICA DA ORIGEM DO INSTITUTO DA ADOÇÃO.

A adoção na antiguidade, originou-se do dever de perpetuar

o culto doméstico.

A mesma religião que obrigava o homem a se casar, que

concedia o divórcio em caso de esterilidade, que em caso de impotência ou de

morte prematura, substituía o marido por um parente, conferiam o direito também

a adoção sendo este, o último recurso para escapar da temida “ DESGRAÇA DA

EXTINÇÃO” 19.

Na Antiguidade, o principal objetivo da adoção era a

continuação dos cultos fúnebres.

Desta forma, Coulanges20, relata que, aquele a quem a

natureza não deu filho, pode adotar um, para que as cerimônias fúnebres não

extingam.

Assim, a adoção na Antiguidade, não era permitida senão a

aqueles que não possuíam filhos. A lei dos hindus era formal a esse respeito. A

de Atenas não o é menos; nenhum texto preciso prova que o mesmo acontecesse

com o direito romano antigo. Sabemos que no tempo de Gaio um mesmo homem

podia ter filhos naturais e por adoção, porém, no tempo de Cícero não era

admitida esse direito. Exprimia o orador: “não é necessário que o adotante esteja

19 FUSTEL, de Coulanges. A cidade antiga. p. 38 20 FUSTEL de Coulanges. A cidade antiga, p. 40.

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em idade de não ter mais filhos, e que antes de adotar tenha procurado tê-los?

Adotar é pedir a religião porque não se pode conseguir com a natureza.21

Quando alguém adotava um filho precisava, antes de tudo,

iniciá-lo no seu culto, “ introduzi-lo na sua religião doméstica, aproximá-lo dos

seus Deuses e do lar”.22

Toda adoção era realizada através de uma cerimônia

sagrada, praticamente igual à cerimônia do nascimento de um filho.

O adotado era posto no lar e, assim, associava-se a religião

do pai adotivo, deuses, objetos sagrados, ritos, preces, tudo se tornava comum

entre ambos. Diziam-lhe então: in sacra transiit: 23 Passou para o culto de sua

nova família.24

Passando a ser de uma nova família, o filho adotivo não

podia sacrificar a dois lares tendo que o filho deixar o culto da antiga família. A

casa paterna tornava-se estranha não tendo nada mais em comum com o lar que

vira a nascer.25

Também não podia oferecer banquetes fúnebres a seus

antepassados, pois a partir do momento da adoção, quebrava-se o vínculo do

nascimento. Também não podia voltar mais à família antiga.26

A lei permitia-lhe a adoção, desde que deixasse em seu

lugar na família que o adotara, um filho seu, assegurando assim a continuidade

dessa família. Porém tinha de romper todos os laços que o ligavam a seu filho.27

A adoção correspondia à emancipação. Para que um filho

pudesse entrar em nova família era necessário a autorização para sair da antiga.

Isto é, que sua religião o permitisse.28

21 FUSTEL de Coulanges. A cidade antiga. p. 40. 22 FUSTEL de Coulanges. A cidade antiga. p. 40. 23 Tradução livre do autor. 24 FUSTEL de Coulanges. A cidade antiga. p. 41. 25 FUSTEL de Coulanges. A cidade antiga. p. 41. 26 FUSTEL de Coulanges. A cidade antiga. p. 40. 27 FUSTEL de coulanges. A cidade antiga. p. 41.

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O homem tornava-se, a tal ponto estranho à sua família

primitiva que, se morresse, o pai natural já não tinha o direito de encarregar-se

dos funerais e lhe dirigir o enterro. 29

Na Idade Média30, a igreja31 exerceu forte

influência contrariamente à adoção, uma vez que a obtenção de um herdeiro prejudicava a donátio post óbitum32, feita pelos ricos, senhores feudais que morriam sem deixar descendência. 33

A adoção cai em desuso na idade média devido as Invasões

Bárbaras que de fato, tanto aos senhores feudais como à Igreja Católica o

instituto em questão não convinha. Aos primeiros, posto que muitas vezes

contrariava seus direitos hereditários sobre seus feudos, sendo somente admitido

quando lhes interessava do ponto de vista sucessório. À Igreja Católica por ser a

adoção considerada contra os princípios que se formava de família cristã e do

sacramento do matrimônio, que tinha como finalidade única a procriação.34

A influência do direito canônico fez com que os senhores

feudais contrariassem seus interesses. Conforme lição de GRANATO, os

ensinamentos do cristianismo afastaram o enorme temor que antes existia no

homem. Se morresse sem um descendente para perpetuar seu culto fúnebre,

seria ele condenado ao sofrimento eterno.

Os germanos também praticavam a adoção como meio de

perpetuar o chefe da família. Assim seus efeitos bélicos teriam continuidade.35

O adotando precisava necessariamente, demonstrar suas

habilidades e qualidades de combatente recebia o nome, as armas, e o poder

público do adotante.

28 FUSTEL de Coulanges. A cidade antiga. p. 42 29 FUSTEL de Coulanges. A cidade antiga. p. 41. 30 Idade Média – Período compreendido entre os séculos IV e XVI. 31 Igreja – Diz-se da Igreja Católica Apostólica Romana. 32 Tradução livre do autor. Doação pós a morte. 33 COSTA, José Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional, Belo Horizonte, Del Rey, 1998, pág. 44. 34 Disponível em http://www.franca.unesp.br/A%20Evolucao%20historica%20do%20instituto.pdf retirado em: 18.02.2008 às 11:45min. 35 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção: doutrina e prática, Curitiba, 1ªed. Juruá, 2005, pág. 37.

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Nesta temática assevera GRANATO: 36

Os germanos não acarretavam vínculos de parentesco que

impedissem o casamento, também não herdavam os bens do pai

adotivo e só poderia suceder-lhe por ato de ultima vontade ou

adoção entre vivos. Diferentemente dos francos que seguiam o

direito romano, onde a adoção era feita em cerimônia solene e o

adotando herdava todos os bens do pai adotivo.

Segundo GRANATO37, foi em Roma Antiga que o instituto

da adoção mais se desenvolveu. Os romanos tinham como necessidade a adoção

para que lhe assegurassem o culto doméstico e que lhe perpetuassem o seu

nome. E era requisito básico o adotante ser do sexo masculino e sem filhos.

Para GRANATO38:

Além da necessidade de se perpetuar o culto doméstico e dar

continuidade à família, ali a adoção atingiu também finalidade

política permitindo que plebeus se transformassem em patrícios e

vice e versa [...]

Os longobardos, povos bárbaros que ocuparam a Alemanha,

entre outros países tinham o instituto da gairethinx, semelhante a affatomia. A

cerimônia da adoção era realizada perante o povo em armas39.

Os visigodos segundo GRANATO, não se desenvolveu tanto

quanto os romanos.

Para BARROS, Roma havia duas formas de adoção: a ad-

rogação e a adoção propriamente dita. Pela primeira (arrogátio) adotavam-se as

pessoas e todos os seus dependentes. Exigia o ato, efetiva intervenção do Poder

Público. Além do consentimento do adotante e do adotado ornava-se que o povo,

especialmente convocado pelo pontífice, anuísse também. A segunda (datio in

adoptionem) adotavam-se apenas a pessoa. O povo era substituído pelo

36 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção: Doutrina e Prática, p. 39. 37 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção: Doutrina e Prática, p. 39 38 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção: Doutrina e Prática, p. 37. 39 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção: Doutrina e Prática, p. 39

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magistrado, perante quem se processava o cerimonial complicado, abrangendo,

primeiro, a extinção do pátrio poder do pai natural e, depois, num segundo tempo,

sua transferência para o adotante. A diferença fundamental entre a primeira e a

segunda vinha expressa neste texto de Modestino: “ adoptantur filiifamilias,

adrogantur qui sui juris sunt”40.

O direito Hispano-Português foi um instituto muito parecido

com a adoção. A nomeação se dava por perfilhamento e perfilhado. A finalidade

do perfilhamento era conceder ao perfilhado a condição de herdeiro. Era feito por

documento privado, escrito e devia ser confirmado pelo príncipe41.

Verifica-se que, tanto na Idade Média Como na Idade Antiga

o instituto da adoção visava apenas a transferência de nome, patrimônios ou em

perpetuar os cultos religiosos e fúnebres.

Atualmente com se observa adiante, na interpretação do Estatuto da Criança e do

Adolescente levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as

exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais coletivos e a

condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em

desenvolvimento.

1.2 BREVE VISÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO DIREITO

BRASILEIRO:

1.2.1 Adoção no Brasil colônia

O Instituto da adoção no direito Português passou a ser

direito pátrio.

São palavras de CHAVES:42

A mesa do desembargo Paço criada no Rio de Janeiro por alvará

de 22/04/1828, havia conservado a sua antiga atribuição de

40 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: São Paulo, V. 02, 38 ed. Saraiva, 2007, Pág. 334-335. 41 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção: Doutrina e Prática. p. 40. 42 CHAVES, Antônio, Adoção, Belo Horizonte, Del Rey, 1994, Pág. 53.

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despachar as confirmações de perfilhamentos; todavia, como o

imperador não concentrava em si todo o poder político, nem podia

a seu talante alterar o direito, as antigas cláusulas especiais de e

extraordinárias que costumavam ser impetradas não podiam mais

ser inseridas nas cartas de confirmação que expedisse.

CHAVES é quem traça o mais preciso histórico da evolução

por que passou a adoção no direito pátrio que precedeu o Código civil de 1916:

Que não tendo até a época em que escrevia o prometido código,

continuava a vigorar no império por força da lei20/10/1823 um dos

primeiros e mais importantes atos da assembléia geral constituinte

e legislativa convocada pelo Príncipe regente. – as ordenações,

as leis, regimentos, alvarás, decretos e resoluções, promulgadas

pelos reis de Portugal pelos quais se governava o país, com as

modificações impostas pela organização social nova ou trazidas

pelas necessidades ou circunstâncias detentor de lugar43.

São palavras SZNICK44:

Vigoraram entre nós, até a Independência, as Ordenações

Filipinas a primeira legislação que se refere a adoção pela lei de

1828. Com a vinda da família real para o Brasil e já que as cartas

de perfilhamento eram expedidas pela mesa de desembargo do

Paço instituto por Dom João IV, foi criado outro tribunal do paço,

em 1808, no Rio de Janeiro. A carta de perfilhamento, de acordo

com o § 118 dessa normativa, passou a ser atribuição do tribunal

da Relação sediado no Rio de Janeiro.

Com a criação da lei, como a de 22 de setembro de 1828, foi

extinto esse tribunal, conferida a atribuição da adoção aos juízes de primeira em

instância. (art. 2º, nº. 1).45

As Ordenações Filipinas que vigoraram sobre a adoçãoi até

bem pouco entre nós, ( CC de 1916) possuía inúmeros textos e passagens se

43 CHAVES, Antônio, Adoção. Belo Horizonte. p. 53 44 SZNICK, Valdir, Adoção. Livraria e Editora universitária de Direito, 2 ed., São Paulo, 1993, pág. 25. 45 SZNICK, Valdir, Adoção. p. 25.

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bem que sem uma normativa específica e, quase sempre tratam de referência

fragmentárias.46

SZNICK, traduziu em sua obra o entendimento das

Ordenações Filipinas: 47

A ordenação, livro I, título 3.º 1º, confere a desembargadores do

Paço a atribuição de despachar cartas de legitimação, a

confirmação e de perfilhamento. O livro 2.º, título 35 , § 12, o filho

do perfilhado que se chama em direito adotivo ou arrogado, não

sucedia nos bens da coroa . A Ord. L. 2.º tit. 56 estabelece que,

os respectivos privilégios de vizinho ao que for perfilhado não

valia.

A Ordenação L. 3.º, 59, § 11, disse que os contratos com

testemunhas, sem escritura da perfiliação, excluí entre pai e filho

natural e não adotivo. A Ord., L. 3 título 85, § 2.º, diz que “ não

haverá... cartas de legitimação, perfilhamento”.

Valdir esclarece que “vê referências incidentais ao instituto,

referindo-se, várias vezes, a adotivo. O instituto como visto, adquiriu nas

Ordenações, o nome de perfilhamento. O objetivo era de tomar, como herdeiro,

na sucessão o filho tido quer como espúrio quer como adulterino.”48

Entendeu-se que a o perfilhamento era muito parecido com

a adoção e era deferida por juizes, e pela mesa dos desembargos, que

concediam ou não a sucessão dos bens tanto por espúrio como por adulterino.

1.2.2 Adoção no Código Civil Brasileiro de 1.916

Dias aduz que:49

No código civil de 1916 a adoção era concedida tanto a

menores como a maiores. A referida adoção era feita por escritura pública e o

vínculo de parentesco se limitava ao adotante e adotado.

46 SZNICK, Valdir, Adoção. p. 24. 47 SZNICK, Valdir. Adoção. p. 24. 48 SZNICK, Valdir, Adoção. p..24 49 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito de família. 3. ed. rev., atual. Ampl. São Paulo. Revista dos tribunais, 2006, pág. 384.

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RIZZARDO transcreve um comentário de Hugo Nigro

Mazzilli sobre os entraves da adoção: 50

Com as excessivas exigências originalmente previstas no código

civil é de 1916, estava fadada a ser o instituto sem penetração

esperada (somente o maior de 50 anos, sem descendentes

legítimos ou legitimados, poderia adotar, e desde que fosse pelo

menos 18 anos mais velho que o adotado, conforme artigo 368 e

seguintes.)

É necessário salientar que para adotar, nesta época, além

dos requisitos de idade, era necessário que o casal estivesse casado há pelo

menos cinco anos.

PEREIRA enfatiza que as leis para a adoção eram muito

rígidas, severas e a continuação dos vínculos do adotado com sua família

desestimularam sua prática. 51

O código civil de 1916, disciplinou a adoção na forma porque

era tradicionalmente regulada alhures , isto é, como instituição destinada a dar

filhos, ficticiamente, aqueles a quem a natureza os havia negado. 52

No regime do código civil em de estudo, a adoção era

permitida somente às pessoas maiores de 50 anos, e a diferença de idade entre o

adotante e o adotado era de 18 anos e a ainda sua prole nada herdaria.

RODRIGUES aduz que: 53 o entendimento dos legisladores

era que, ao atingir essa idade, o casal já desanimava de ter filhos, sendo ademais

provável que não viesse a tê-los.

A lei nº. 3133 de 08 de maio de 1957, trouxe algumas

modificações quanto a idade e a diferença de idade entre adotante e adotado.

50 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: Lei n. 10.406, de 10.01.2002. 5. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 538. 51 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito de família – Direito de Família, vol. V, 16ª ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2006, pág. 389. 52 RODRIGUES, Silvio. Direito civil. p. 377. 53 RODRIGUES, Silvio. Direito civil. p. 377.

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MARTINS, discorre sobre as referidas mudanças: 54

O Estatuto da Adoção, de 1957, e também o Código de Menores,

de 1979, embora com algumas modificações: podia adotar-se aos

30 anos, a diferença de idade entre adotante e adotando passou a

ser de 16 anos, eliminou-se o requisito de que só casais sem

filhos podiam adotar e se dispensou o prazo de cinco anos de

casamento; ainda guardava desigualdades de direitos. Só com a

Carta Constitucional, de 1988, e com o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), de 1990, conseguiu-se eliminar todas as

diferenças entre filhos adotivos, espúrios, ilegítimos ou outras

denominações e filhos biológicos.

Pode-se, através da citada Lei, notar uma pequena evolução

no que se refere ao caráter da adoção, uma vez que menos entraves são

impostos a quem queira adotar.

Com o advento da lei 3.133/1957, o parentesco que

resultava da adoção, possuía efeitos somente entre o adotante e o adotado,

porem não se extinguia o vínculo com a família biológica.

Em conformidade com Alvin:55 na sucessão hereditária, o

adotante, possuía o direito somente da metade do quinhão que possuíam os

filhos biológicos.

Estabelecia ainda a Lei nº 3.133/57 que o parentesco resultante

da adoção tinha efeitos apenas para o adotante e adotado. Com

exceção do pátrio poder, que era transferido, os demais direitos e

deveres em relação ao parentesco natural não se extinguiam.

Além disso, em se tratando de sucessão hereditária, o adotante

tinha direito a apenas metade do quinhão a que tinham direito os

filhos biológicos, segundo o artigo 1.605 do Código Civil, que foi

revogado pelo artigo 227, § 6º da Constituição Federal de 1988,

que proíbe qualquer distinção entre filhos legítimos ou legitimados.

54 MARTINS, Ricardo Ferreira. Disponível em: http://www.urutagua.uem.br//02adocao.htm retirado em 15 de abril de 2008 às 10:36min. 55 ALVIN, Eduardo Freitas. Disponível em: http://www.franca.unesp.br/A%20Evolucao%20historica%20do%20instituto.pdf retirado em 15 de abril de 2008 às 11:42min.

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Com a entrada em vigor da Lei nº. 4655/65, foi permitido que

o registro de nascimento fosse cancelado sendo ele substituído por um novo

tendo todas as informações atuais, porém, não foram extinguidos os requisitos de

que haveria de ter a esterilidade comprovada, que os adotantes fossem casados

e sem filhos biológicos.

Verifica-se que no instituto da adoção do código de 1916, se

dava maior ênfase ao bem estar dos adotantes, pois visava dar filhos a pessoas

que a natureza o privou.

1.2.3 Adoção no Código de Menores

O Código de Menores, Lei nº. 6.697/1979 substituiu a

legitimação adotiva pela adoção plena, mas manteve o mesmo espírito. 56

Nos dizeres de PEREIRA:57

A legitimação adotiva é introduzida pela lei n.º 4.655/ 65 onde foi

revogada expressamente pelo Código de Menores - Lei 6.697/79,

que passou a ser disciplina-la nos artigos 29 à 37, Esclarecendo

ainda, que, além da adoção pelo código civil, sobrevieram no

sistema jurídico nacional duas modalidades de adoção na vigência

do Código de Menores: “simples” prevista no artigo 27, relativa ao

“menor em situação irregular” a qual dependia de autorização

judicial, e a “adoção plena”, regulada pelo mesmo “código”, nos

artigos 29 / 37 e 107 / 109.

Porém RIZZARDO salienta que:58

A lei de limitou, restringiu apenas a menores em situação irregular.

Em outras palavras, deveria ter-se referido a menores em estado

de abandono ( quer material ou moral ) e aí a menores expostos.

Pela primeira vez, é notável a percepção de que o legislador

deu ênfase e se voltou a dar importância ao menor e não ao adotante, de forma

56 PEREIRA, Tânia da Silva. Da adoção, 3ª ed. Belo Horizonte, Del Rey, 2003, pág. 158. 57 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituição do direito civil. p. 391. 58 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. p. 539.

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contrária a todo o direito antigo em que o adotante era o ponto de reflexão, onde o

adotante era quem deveria ser prestigiado com cultos fúnebres ou a quem a

natureza não o permitiu filhos biológicos.

Na concepção de RODRIGUES as adoções eram duas:59

A adoção simples, disciplinada no Código Civil, criava um

parentesco civil entre o adotante e adotado, parentesco que

circunscrevia a essas duas pessoas, não se apagando jamais os

indícios de como esse parentesco se constituíra. Ela era

irrevogável pela vontade concordante das partes e não extinguia

os direitos e deveres resultantes do parentesco natural.

A adoção plena, ao contrário, apagava todos sinais de parentesco

natural do adotado, que entrava na família do adotante como se

fosse filho de sangue. Seu acento de nascimento era alterado, os

nomes dos progenitores e avós paternos substituídos, de modo

que, para o mundo, aquele parentesco passava a ser o único

existente.

A Revista Brasileira de Direito de Família traz um comentário

de Oliveira, onde ele escreve sobre a duplicidade de adoção prevista no Código

Civil de 1916:

Não obstante a duplicidade de regimes de adoção previstos no

código civil de 1916 e no Estatuto da Criança e do Adolescente (

Lei n.º 8.069/90 ) , aplicáveis, respectivamente, para maiores e

para menores de 18 anos, seus efeitos se tornaram equiparados

diante o preceito maior da igualdade de todos os filhos ( art. 227, §

6º , da Constituição Federal de 1988 ). Importa dizer que todos os

filhos, inclusive os havido por a adoção, tem os mesmos direitos

qualificações na ordem jurídica.

A Lei nº. 3133/57 (Código de Menores) trouxe importantes

modificações na adoção as quais CHAVES descreve da seguinte forma: 60

Quanto aos requisitos dos adotantes: a) redução, de 50 para

trinta anos, da idade mínima; b) eliminação da exigência de não

ter prole legítima ou legitimada; c) acréscimo do decurso, para 59 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil; direito de família. São Paulo, Saraiva, 1980. V. 6. Pág.379. 60 CHAVES, Antônio, Adoção. p. 58.

Márcio Hass da Silva
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casados, de cinco anos após o casamento, salvo no caso do

homem maior de 50 e da mulher maior de 40 anos; d) redução da

diferença de idade com relação ao adotando de 18 para 16 anos.

Quanto ao adotando: exigência é explícita do seu

consentimento, sem maior, e do representante legal em se

tratando de nascituro.

Quanto aos efeitos da adoção: a) eliminação da regra

determinado a não produção dos mesmos, se ficar provado que o

já estava concebido no momento da adoção e sua substituição

pelo princípio de que, quando o adotante tiveram filhos ilegítimos,

legitimados ou reconhecidos, a relação que a adoção não envolve

a de sucessão hereditária; b) possibilidade de o adotado formar

seu apelido ou nome dos pais de sangue os do adotante, ou

usando somente os do adotante, com a exclusão dos apelidos dos

pais de sangue.

Ao fim, falhas persistiram, porém não deixaram de contribuir para

atualizar e popularizar o instituto que só se unificou com o advento da adoção plena e

com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

acabando em parte com a discriminação.

1.3 O ATUAL INSTITUTO DA ADOÇÃO

1.3.1 Bases conceituais e finalidades da adoção

A adoção e um ato pelo qual pessoas estranhas ou não,

buscam criar uma relação entre pai e filho independente se há vinculo biológico.

Nas palavras de RODRIGUES61: a adoção vem ser o ato jurídico

solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém

estabelece, independentemente de qualquer relação de

parentesco consangüíneo ou afim, um vinculo fictício de filiação,

trazendo para a sua família, na condição de filho, pessoa que,

geralmente, lhe e estranha.

61 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito de família. p. 333.

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Nesta temática DINIZ62 complementa, que a adoção é portanto,

um vinculo de parentesco civil, em linha reta, estabelecendo entre

adotante, adotantes, e o adotado um liame legal de paternidade e

filiação civil. Tal posição de filho será definitiva e irrevogável para

todos os efeitos legais, uma vez que desliga o adotado de

qualquer vinculo com os pais de sangue, salvo os impedimentos

para o casamento ( CF, art. 227, §§ 5º e 6º ), criando verdadeiros

laços de parentesco entre o adotado e a família do adotante.

Segundo os autores acima citados, a partir do momento em

que ocorre a adoção, nasce uma relação jurídica de parentesco civil entre o

adotante e adotado. Este parentesco mesmo que fictício, gera uma relação

afetiva, em que a relação com os pais sanguíneos se extingue.

VENOSA63 traz que a adoção e a modalidade artificial de filiação

que busca imitar a filiação e natural. Daí ser também conhecida

como filiação civil, pois não resultante uma relação biológica, mas

a manifestação de vontade.

A adoção então, passa a ser um ato ou um negocio jurídico,

no qual o adotado passa a gozar do estado de filho de outra pessoa possuindo

todos direitos e deveres de um filho biológico.

É necessário salientar que é vedado expressamente pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente a adoção por procuração. Art. 39 § Único.

No artigo 41 do estatuto da Criança e do adolescente, (Lei

8.069/90) preceitua que:

Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com

os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios,

desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo

os impedimentos matrimoniais.

A adoção é uma forma de dar filhos para aqueles a quem a

natureza não os permite de ter.

62 DINIZ,Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, direito de família, São Paulo, Saraiva, 2007, V.5. ed. 22ª, Pág. 483. 63 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil, direito de família, 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, pág. 253.

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PEREIRA, conceitua a adoção como:

A adoção é o ato jurídico pelo qual, uma pessoa recebe de

outra, como filho, independentemente de existir entre elas qualquer relação de

parentesco consangüíneo ou afim.64

RIZZARDO65 vai um pouco mais além quando conceitua a

adoção da seguinte forma:

Dada a grande evolução verificada nas ultimas décadas sobre o

assunto, consegue-se atualmente a definição mais no sentido

natural, isto e, dirigido como a conseguir um lar para crianças

necessitadas e abandonadas em face de circunstâncias varias,

como a orfandade, a extrema pobreza, desmantelamento da

família. Objetiva o instituto outorgar a crianças e adolescentes

desprovidos de famílias ajustadas, um ambiente de convivência

comunitária sob direção de pessoas capazes de satisfazer ou

atender os reclamos materiais afetivos e sociais que um ser

humano necessita para se desenvolver dentro da normalidade

comum.

A adoção passa a ser um ato de caráter humanitário

segundo a qual uma família passa a atender as necessidades afetivas e também

cumprir com o dever social.

Continuando com os ensinamentos de RIZZARDO66, aduz

que o objetivo do instituto é o purgar a crianças e adolescentes desprovidos de

famílias ajustadas um ambiente de convivência comunitária, sob a direção de

pessoas capazes de satisfazer ou para atender os reclamos materiais, afetivos e

sociais que um ser humano necessita para desenvolver dentro da normalidade

comum.

Daí, nasce juridicamente, o laço de parentesco civil entre o

adotante e o adotado que se faz pela afetividade e pelo interesse social.

64 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. p. 392. 65 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. p. 534. 66 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: 5ª ed., Forense, 2007 pág. 535.

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1.3.2 Características da Adoção

DIAS, traz como uma característica da adoção o afeto e a

importância cultural.67

A filiação não é um lado da natureza, mas uma construção

cultural, fortificado na convivência, no entrelaçamento dos afetos,

pouco importando sua origem. Neste sentido, o filho biológico é

também adotado pelos pais no cotidiano de suas vidas.

PEREIRA68 elencou em sua obra três aspectos que se

destacam no instituto da adoção.

O primeiro é que hoje não se comporta mais o caráter

contratualista, que foi assinalado anteriormente, como a praticado

entre adotante e o adotado . Em consonância com o preceito

constitucional com caráter impositivo, será assistida pelo poder

público, na forma da lei, isto é, o legislador ordinário de dar as

regras do segundo as quais o poder público dará a assistência

aos atos de doação. O segundo aspecto a considerar é que,

resultando da adoção a filiação civil, o preceito contido no § 5º do

artigo 227 da constituição não se dissocia do princípio amplo do §

6º do mesmo artigo, segundo o qual “os filhos, havidos ou não da

relação de casamento, ou por adoção, ter eram os mesmos

direitos e qualificações proibidas quaisquer designações

discriminatórias relativas à filiação”. E o terceiro é o contexto do

artigo 227, segundo o qual é dever da família, da sociedade e do

estado, assegurar à criança e ao adolescente prioridade absoluta

relativamente ao o amparo ao sustento a proteção e é dignidade

humana.

Ainda é irrevogável a adoção, ou seja, uma vez concedida

não poderá ser desfeita. E, vindo a falecer os pais adotivos não será retomado o

vínculo com os pais biológicos. Desse modo, procedendo-se a adoção é extinto

qualquer vínculo com a família biológica, não tendo-se direito à pensão

alimentícia, à herança deixada por esses, ou outros direitos e deveres.

67 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. P. 385. 68 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições do direito civil. p. 396.

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Na interpretação do Estatuto da Criança e do Adolescente

terá que se levar em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do

bem comum, os direitos e deveres individuais coletivos e a condição peculiar da

criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.

Interna, tecer algumas considerações quanto à figura da

mãe biológica: suas razões, seu conforto ou desconforto ao entregar seu filho à

adoção.

SOUZA descreve: 69

Por certo, existem as mães que podem imaginar que, em

inviabilizando a adoção a seu filho, implicará a inafastável certeza de que este

ficará melhor. A conseqüência é o raciocínio de que nem sempre dar o filho em

adoção possa significar desamor. São mães abandonadas pelo estado e pelos

companheiros, mães que até lutariam, mas se sentem desestimuladas se pela

fragilidade em que se encontram. Quedam-se, então, a ruptura e carregam o peso

da culpa para o resto de suas vidas. Aqui, pode-se raciocinar que o relevo foi o

da generosidade. Já outras tantas são adolescentes, que a mais precisariam de

um colo, de amparo, do que propriamente amparar. Imaturas, sentem-se

impelidas a dar a seus filhos em adoção, sob o enfoque de que também ficariam

em melhor situação, e elas, que mais se sentem na condição de quererem ser

filhas, ainda que também adotadas, não precisaria mudar o curso natural de suas

vidas, o que, sobre sua ótica, significaria estagnar.

Assim, a adoção se caracteriza por ser um instituto que visa

o bem estar da criança. Visa sempre dar as melhores condições possíveis, de

modo que tenha ela um lar equilibrado, confortante e acima de tudo que ela possa

ser amada.

69 SOUZA Anabel Vitória Mendonça de. Revista brasileira de direito de família. Porto Alegre, IBDFAM, 1999, pág. 83

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CAPÍTULO 2

PRESSUPOSTOS E EFEITOS JURÍDICOS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO VIGENTE DIREITO BRASILEIRO

2.1 PRESSUPOSTOS LEGAIS DA ADOÇÃO:

2.1.1 Idade dos Adotantes

A Lei n°. 10.406, de 2002, em seu artigo 1.618, preceitua a

idade mínima que o adotante deve ter para adotar uma pessoa: que são 18 anos

de idade.

Ordenava o parágrafo único do artigo 368 do código civil

revogado que, ninguém pode adotar sendo casado, senão decorridos cinco anos

após o casamento, porém este requisito não veio expresso na corrente

legislação, ou seja para adotar, basta que se análise a idade mínima e demais

requisitos.

Seja ela uma adoção singular ou conjunta, deve-se

obedecer os requisitos do referido dispositivo legal.

Art. 1.618 – Só a pessoa maior de 18 anos pode adotar.

Parágrafo único - a adoção por ambos os cônjuges ou um

poderá ser formalizada, desde que um deles tenha

completado 18 anos de idade, comprovada a estabilidade da

família.

DINIZ ensina que é imprescindível a efetivação por maior de

18 anos independente de estado civil desde que seja comprovada a estabilidade

familiar. 70

70 DINIZ,Maria Helena; CURSO DE DIREITO CIVIL BRASILEIRO. p. 487.

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Quando a doutrinadora fala em adoção singular, ela se

refere a pessoas solteiras e quando se refere à a adoção conjunta a um

matrimônio ou em união estável, entidade familiar reconhecida

constitucionalmente.

Neste sentido RIZZARDO71 aduz que:

(...) o limite de 18 anos não é suficiente para o adotante ter

consciência plena de seu ato, embora atingida a maioridade. É

que a maioridade e não significa maturidade. Nem condições

psíquicas, econômicas e emocionais a maioria das pessoas revela

na fase da vida.

VENOSA, explica que a maturidade é um requisito que deve

ser analisado pelo juiz cada caso.

No estatuto, a idade mínima de adoção foi sensivelmente

diminuída nessa modalidade: podiam adotar os maiores de 21

anos, independentemente do estado civil (art. 42 ECA). O corrente

código civil, levando em conta a maioridade que assume, permite

que a pessoa maior de 18 anos possa adotar ( art. 1618 ). A

idade, que passa a ser doravante de 18 anos, é, portanto requisito

o objetivo para o adotante. A questão subjetiva, maturidade para a

adoção, por exemplo, é o aspecto de oportunidade e conveniência

ser analisado pelo juiz no caso concreto.

O artigo 1622 do Código Civil preceitua que:

Art. 1622 – Ninguém pode ser adotado por duas pessoas,

salvo se forem marido e mulher ou se viverem em união

estável.

Parágrafo único – Os divorciados e os judicialmente

separados poderão adotar conjuntamente contanto que o

acordam sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o

estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da

sociedade conjugal.

71 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: Lei nº. 1.406, de 10.01.2002. pág. 544.

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Se porventura alguém vier a ser adotado por duas pessoas

(a adoção conjunta ou cumulativa) que estas pessoas não sejam marido e mulher,

nem conviventes, prevalecerá tão-somente a primeira à adoção sendo

considerada nula a adoção da segunda pessoa, caso contrário ter-se-ia a

situação absurda de um indivíduo com dois pais com duas mães. 72

2.1.2 Idoneidade Moral

A idoneidade moral é um requisito muito importante para o

processo da adoção.

Esse requisito faz a identificação moral do adotante,

perfazendo sua capacidade perante a sociedade. E mais com a idoneidade moral

fica comprovada a eficácia da futura adoção no aspecto de bons tratos ao

adotado.

A idoneidade designa a qualidade de boa reputação, do bom

conceito que se tem de uma pessoa. Uma pessoa ter idoneidade moral significa

que ela é considerada uma pessoa honesta e honrada no meio em que vive, ou

seja, é uma pessoa de bem. 73

A idoneidade moral pode ser comprovada mediante uma

declaração que uma terceira pessoa fará atribuindo boas qualidades a respeito do

adotante. Ela deverá ser assinada por duas testemunhas com firma reconhecida.

É importante salientar que com essa declaração o adotante deverá juntar

certidões negativas de antecedente criminais.

Com relação à idoneidade moral, JUNIOR74, diz que

72 DINIZ,Maria Helena; Curso de direito Civil Brasileiro, Direito de Família. p. 488. 73 Disponível em: http://www.unitau.br/universidade/pro-reitorias/administracao-pra/diretoria-de-recursos-humanos/servico-de-recrutamento-selecao-e-treinamento-srst-1/arquivos/instrumentos_de_orientacao.pdf retirado em 20 de abril de 2008 às 00:29min. 74 CAVALCANTE, Enock. Disponível em: http://www.paginadoe.com.br/mostrar_noticias.asp?id=2551&opcao=noticias retirado em 20 de abril de 2008 às 00:42min.

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“[...] Idoneidade moral é o atributo da pessoa que, no agir, não

ofende os princípios éticos vigentes em dado lugar e época. É a

qualidade da pessoa íntegra, imaculada, sem mancha, incorrupta,

pura". Já para De Plácido e Silva, "idoneidade e boa reputação

são termos que se completam. Idoneidade moral é a que se gera

da honestidade ou dos modos de ação das pessoas no meio em

que vivem, em virtude do que é apontada como pessoa de bem".

A importância da idoneidade moral visa exclusivamente o bem

estar da criança fazendo com que não haja pessoas que maltratam ou demonstrem

mal exemplo.

Aí pode se entender que idoneidade moral é o conjunto ou

qualidades morais da pessoa que faz com que esta seja bem conceituada na

comunidade em que vive, em virtude do fiel cumprimento dos deveres e dos bons

costumes.

2.1.3 Diferença de idade mínima entre adotante e adotado

Também é requisito para adoção a diferença de no mínimo

16 anos de idade entre adotante e o adotado.

O artigo 1.619 do Código Civil é que estabelece o requisito

de 16 anos de diferença entre o adotante e adotado nas seguintes palavras:

Art. 1.619 – O adotante deverá ser pelo menos dezesseis anos

mais velho que o adotado.

O adotante deverá ser pelo menos 16 anos mais velho que o

adotado, pois não se pode o filho ter idade igual ou superior ao pai ou da mãe.

DINIZ75 ensina que para o pai ou a mãe exercerem,

cabalmente, o exercício do poder familiar é necessária esta diferença de idade.

E se for casal, basta que um dos cônjuges tenha a diferença de idade imposta

pelo artigo 1619 do código civil.

75 DINIZ,Maria Helena; Curso de direito civil brasileiro, direito de família. p. 488-489.

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24

Outro requisito importante é a concordância do adotado se

ele for maior que 12 anos de idade ou por seus representantes legais se for

menos de 12 anos.

Só será dispensado o consentimentos dos pais do adotado

se eles tiverem sido desconstituídos do poder familiar.

Ainda que um dos cônjuges tenha atingido a idade mínima é

necessário o requisito de estabilidade familiar.

Nessa temática RIZZARDO76 acevera que:

Na verdade, deve existir entre o adotante e o adotado uma

idade não muito distanciada. Do contrário, nem sempre o

adotante tenha uma disposição de um preparo próprios para

a criação e educação de uma criança. Nem se adaptaria há

uma situação totalmente diferente, com abertura para novas

idéias e atitudes.”

VENOSA77 argumenta que essa diferença exigida é

estipulada no intuito de a adoção imitar, tanto quanto possível, a família biológica.

Afinal, nem sempre o adotante possui os preparos próprios e necessários para

criação e mantença de um filho, por outro lado, nem sempre o adotante tem

maturidade suficiente para conceber e criar uma criança.

2.1.4 Estado civil dos adotantes

A adoção pode se dar por pessoas solteiras, casadas,

divorciadas, separadas judicialmente, viúvos e por pessoas que vivem em união

estável.

A adoção por pessoas solteiras é conceituada como uma

família monoparental. Segundo Diniz,78Se a adoção se der por pessoa solteira ou

que não viva em união estável, formar-se-á uma entidade familiar, ou seja, uma

família monoparental. 76 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: Lei nº. 1.406, de 10.01.2002, 2007 pág. 544. 78 DINIZ,Maria Helena; CURSO DE DIREITO CIVIL BRASILEIRO, DIREITO DE FAMÍLIA. p. 488.

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A adoção do menor pelo marido ou companheiro de sua

mãe ainda que estabeleça o parentesco civil não exclui o vínculo com sua mãe

biológica, que desta forma mantém o poder familiar.

Entretanto neste mesmo sentido estabelece o artigo 1.626

do código civil.

Art. 1.626. A adoção atribui a situação de filho ao adotado,

desligando o de qualquer vínculo com os pais e parentes com

sanguíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento.

Parágrafo único. Se um dos cônjuges ou companheiros adota o

filho do outro, mantém se os vínculos de filiação entre o adotado e

o cônjuge ou companheiro do adotante e os respectivos parentes.

VENOSA acentua que: 79

O cônjuge ou companheiro pode adotar o filho do consorte,

ficando mantidos o vínculo de filiação entre com o adotado e o

cônjuge ou companheiro do adotante e respectivos parentes (art.

41 § 1º. ECA). A lei busca situação de identidade dessa filiação

adotiva com a filiação biológica, harmonizando o estado do

adotado para o casal. Como notamos, a lei permite que, com a

adoção, o padrasto ou madrasta assume a condição de pai ou

mãe.

É necessário salientar que a obrigação de alimentar, o

direito sucessório, e o direito de visitas continuarão a existir como se não tivesse

havido o divórcio entre os cônjuges, ou rompimento entre os companheiros.

Desde que não haja nenhuma restrição quanto ao estado

civil do adotante, a adoção pode ser singular, ou conjunta.

Como afirma DINIZ 80:

Os divorciados, separados judicialmente poderão adotar

conjuntamente se o estágio de convivência com o adotado houver

iniciado na constância da sociedade conjugal e se fizerem acordo

79 VENOSA, Silvio de Salvo; Direito civil, direito de família. p. 268. 80 DINIZ, Maria Helena; Curso de direito civil brasileiro, direito de família. p. 488.

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sobre a guarda do menor e o regime do direito de visitas ( C.C.

art. 1.622 Parágrafo único).

Art. 1.622. Ninguém poderá ser adotado por duas pessoas, salvo

se forem marido e mulher, ou se viverem em união estável.

Parágrafo Único – os divorciados e os judicialmente separados

poderão adotar conjuntamente, como tanto que o acordem sobre

a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio de

convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade

conjugal.

RIZZARDO 81 lembra que esta regra visa a regra solucionar

a situação da adoção no caso do artigo 1622 parágrafo único do código civil se o

estágio de convivência tiver sido iniciado anteriormente ao curso do processo de

separação.

Portanto, não somente os solteiros, casados, divorciados e

separados judicialmente podem adotar. As pessoas que vivem em união estável,

também estão autorizadas a adotar conforme prevê o artigo 1622 do código civil

brasileiro.

2.1.5 Pessoas que não podem adotar

Entre aqueles que podem adotar, o legislador vedou a

adoção entre irmãos e ascendentes, pois a adoção possui em uma de suas

características a formação e a junção do adotado com todos os parentes do

adotando, e neste caso a adoção de um irmão ou ascendente não seria plausível

ante ao parentesco que já se possuem.

O artigo 42 § 1º do ECA, é claro e estabelece a regra.

Art. 42. Podem adotar os maiores de 21 anos,

independentemente de estado civil.

§ 1º não podem adotar o ascendentes e os irmãos do adotando.

81 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: Lei nº. 1.406, de 10.01.2002, Rio de Janeiro. p. 545.

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SZNICK82 afirma que a vedação foi justa, pois o irmão

possui todos os meios necessários para amparar a menor, sem a necessidade de

recorrer a uma adoção, até mesmo porque a adoção rompe todos os vínculos

naturais de parentesco, estabelecendo novos vínculos onde o irmão passa a ser

pai do irmão adotado.

Para RODRIGUES83:

A proibição de adotar um neto talvez se justifique no qual, o fato

poderá afetar e trazer prejuízos a legítima de herdeiro necessário

mais próximo, tal como o filho. Como o neto adotado assumirá a

posição de filho, para todos os efeitos, ele concorrerá igualmente

com seu próprio pai, na sucessão do avô. Imaginando-se por

hipótese, caso de desavença entre pai e filho.

Quando se fala em adoção por irmãos RODRIGUES84 é

claro afirmando que não vê justificativa para tal proibição, ante ao fato que

afastaria na sucessão do casal a concorrência de outros colaterais.

Pensa CHAVES que: 85

Não tem sentido um avô adotar o seu neto como seu filho,

ensejando uma confusão familiar, já que seu filho passaria a irmão

do seu neto, ou pai irmão do próprio filho, ou ao ainda o filho

cunhado da sua mãe. Não teria sentido o marido mais velho que

sua mulher 16 anos a adotasse como filha; ou a esposa nas

mesmas condições de diferença de idade adotasse o marido

como filho. Não é necessário que a lei escrita o diga com todas as

letras que adoções como as enunciadas não são permitidas, já

que o direito não foge ao bom senso.

No entanto a doutrina é majoritária e tende a concordar com

a legislação, que dispõe sobre a proibição da adoção entre ascendentes e irmãos,

haja visto que o irmão possui a qualidade de dar o que o menor precisa sem

modificar os vínculos já enraizados. E que a adoção de netos traz incoerência

jurídica uma vez que o filho passa a ser irmão de seu próprio pai. 82 SZNICK, Valdir, Adoção. p. 301. 83 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. p. 383. 84 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. p. 383. 85 CHAVES, Antônio, Adoção. p. 245.

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2.1.6 Estágio de convivência

Segundo o entendimento de VENOSA86, o estágio de

convivência tem por finalidade a adaptação proporcionando ao adotando um novo

lar, a uma nova família, isto é trata-se de um período em que se consolida a

vontade de adotar e de ser adotado. Nesse estágio terá um juiz e seus auxiliares,

com condições de avaliar a convivência para o deferimento da adoção. O juiz

poderá dispensar o estágio se o adotando tiver idade inferior a um ano ou se,

qualquer que seja sua idade, e já estiver na companhia do adotante tempo

suficiente para poder ser avaliada a convivência da constituição do vínculo (art.

46, §1º).

A Criança com pouca idade consegue se adaptar com

facilidade à nova família; daí o porque de poder ser dispensado o estágio de

convivência, porém quando o artigo 46 fala em “ poderá “ não significa que o juiz

terá que dispensar o estágio, ou seja fica ao critério do magistrado a fixação do

estágio de convivência.

Em palavras de RODRIGUES: 87

A finalidade do estágio de convivência é comprovar a

compatibilidade entre as partes que há probabilidade de sucesso

da adoção. Daí determina a lei a sua dispensa em duas hipóteses:

a ) quando um adotando for infanti de menos de um ano, pois

nesse caso é extremamente improvável o ajuste do menor com

seu novo progenitor;

b) qualquer que seja a idade do adotando, quando este já estiver

na companhia do adotante durante os tempo suficiente para se

poder avaliar a convivência da constituição do vínculo.

Conforme o artigo 1621 § 1º. do Código Civil e o artigo 45 §

1º do ECA, serão dispensados os consentimentos dos pais, se os mesmos

estiverem desaparecidos ou se forem destituídos do pátrio poder.

86 VENOSA, Silvio de Salvo; Direito civil, direito de família. p. 273. 87 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, direito de família. p. 345.

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RIZZARDO88, afirma de que, nessa convivência realiza-se

em um estudo social o um acompanhamento por técnicos designados pelo juiz

onde se processa o pedido.

Assim, passado o estágio de convivência e autorizado o

casal a efetuar a adoção, o adotado e está autorizado a acompanhar os novos

pais de onde provieram não se impondo quaisquer outras medidas pelo juiz.

2.1.7 Inscrição dos adotantes e o devido processo legal

Só há adoção após processo judicial. A conclusão decorre

da exigência de que a adoção seja, em qualquer caso, assistida pelo poder

público, independentemente da idade do adotando. (art. 1.623 e parágrafo único

do Novo Código Civil). 89

A inscrição dos adotantes decorre o estudo psicológico e

social, por meio de entrevistas psico-sociais, das quais resultam laudos de ordem

psicológica e econômico-social no qual o magistrado vai se orientar para decidir

se o adotante é ou não apto a participar do processo de adoção.

Quanto à documentação, cada comarca possui um rol de

documentos a serem exigidos para instruir a habilitação e definir a capacidade da

adoção dos candidatos.

Sendo considerado apto, o casal ou pretendente é inscrito

em dois cadastros, um na comarca onde reside e outro geral, organizado pela

Comissão Judiciária de Adoção, ( CEJA ) a fim de que sejam avisados quando

surgir uma criança e/ou adolescente que preencha as características por ele

desejadas.

88 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: Lei nº. 1.406, de 10.01.2002, 2007 pág. 601. 89 Disponível em : http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/cao_infancia_juventude/doutrina/doutrinas_artigos/REFLEX%C3%95ES%20SOBRE%20O%20INSTITUTO%20DA%20ADO%C3%87%C3%83O%20%C3%80%20LUZ%20DO%20NOVO%20C%C3%93DIGO%20CIVIL.doc retirado em 01.05.2008 às 17:31 min.

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Segundo SANTANA:90

A etapa mais longa é a da aprovação dos adotantes. Depois das

entrevistas, da visita às residências dos pretensos adotantes, e

depois de esclarecidas todas as dúvidas dos técnicos do Juizado,

este processo segue para o Promotor que manifestará sobre a

habilitação e, finalmente, o processo segue para o Juiz que,

encontrando-o satisfatoriamente instruído, poderá deferir a

habilitação dos adotantes. Os pretensos adotantes, depois de

aprovados pelo juiz, estarão em condições de adotar e passarão a

integrar um cadastro, ou relação, de possíveis adotantes.

É importante salientar que o adotante deve sempre ser o

mais claro possível quanto às características importando o sexo, a cor da pele, a

cor dos cabelos, a cor dos olhos, a idade etc. Assim, quando a primeira criança

disponível aparecer para a adoção não coincidir com as características preferidas

pelos adotantes inscritos em primeiro lugar, ela será encaminhada ao segundo

adotante da lista e assim sucessivamente.

No processo de adoção não existe direito de preferência.

Desta forma, ele se dará seguindo a data de aprovação da ficha de habilitação

dos adotantes.

Quanto menos requisitos dos adotantes em relação ao

adotado maiores serão as chances de receberem o encaminhamento da criança

mais rapidamente.

Toda adoção obedecerá ao devido processo judicial,

conforme o artigo 1.623 do Código civil e artigo 47 do Estatuto da Criança e do

Adolescente, sendo vedada a adoção por Escritura Pública.

A adoção será processada nas varas de família da comarca

correspondente ou nas varas da infância e juventude, quando se tratar de

situação de risco.

90 SANTANA, Danilo. Disponível em: http://www.jurisway.org.br/v2/curso2.asp?id_titulo=814&id_curso=45&id_pagina=000&tipocurso=JurisSimples retirado em 19 de abril de 2008 às 23:44min.

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O Código Civil em seu artigo 1621, prevê a oitiva do adotado

quando ele tiver mais de 12 anos de idade.

Art. 1.621. A adoção depende de consentimento dos pais ou dos

representantes legais, de quem se deseja adotar, e da

concordância deste, se contar mais de doze anos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente também prevê o

consentimento do adotado quando ele possuir idade superior a 12 anos. (art. 45 §

2º.)

Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do

representante legal do adotando.

§ 2º Em se tratando de adotando maior de 12 anos de idade, será

também necessário o seu consentimento.

DIAS91, acrescente que em sua obra , que, a opinião do

adotado é muito importante, porém não deve ser realizada a escuta pelo juiz, mas

sim por um profissional especializado, da área da psicologia ou do serviço social.

Registra DIAS: 92

Tanto a adoção de menores (art. 47 ECA), como também a de

maiores de 18 anos (art. 1623 CC.), só poderá ocorrer mediante

processo judicial e por se tratar de ação de Estado é obrigatória a

presença do MINISTÉRIO PÚBLICO (art. 82 CPC II).

Tal processo judicial se faz necessário para dar total

transparência e ratificar a eficiência da educação, bem estar e felicidade do

adotando.

Art. 1.623. A adoção obedecerá a processo judicial, observados

os requisitos estabelecidos neste código.

91 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias., p. 399. 92 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias., p. 399.

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Parágrafo Único. A adoção de maiores de 18 anos dependerá,

igualmente, da assistência efetiva do poder público e de sentença

constitutiva.

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial,

que será inscrita no Registro Civil mediante mandado do qual não

se fornecerá certidão.

As crianças, adolescentes e pessoas maiores 18 anos

dependem igualmente da assistência efetiva do poder público e de sentença e

constitutiva que segundo PEREIRA93 “pretendeu o legislador unificar o sistema da

adoção”.

Segundo GONÇALVES94, “a adoção no sistema do Código

de 2002 produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença que a

deferiu , exceto o novo caso de ação post mortem. ‘caso em que terá força

retroativa à data do óbito’”.

Primeiramente, estudar-se-á, a adoção quando houver

expressa concordância dos pais biológicos e do adotante.

O artigo 165 do estatuto da criança e do adolescente

estabelece os requisitos para a colocação em família substituta.

Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de

concessão em família substituta:

I – qualificação completa do requerente e de seu eventual convite,

ou companheiro, com expressa anuência deste;

II – indicação de eventual parentesco do requerente e de seu

cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente,

especificando se tem ou não parente vivo;

III – qualificação completa da criança ou adolescente e de seus

pais, se conhecidos;

93 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições do direito civil. p. 404.. 94 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, direito de família, São Paulo, 2007, pág. 358.

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IV – indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,

ameaçando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;

V – declaração sobre a existência de bens, direitos ou

rendimentos relativo à criança ou ao adolescente.

Parágrafo Único. Em se tratando de adoção observar-se-ão

também os requisitos específicos.

ALICKE discorre sobre o assunto: 95

Os efeitos da sentença concessiva da adoção se produzem a

partir do trânsito em julgado, exceto no caso da adoção póstuma

(art. 1.628 do Novo Código Civil, que repete o art. 47 § 6º do

ECA). Um desses efeitos, porém, é antecipado por força de lei:

havendo consentimento dos pais, a simples publicação da

sentença concessiva de adoção impede a retratação. A adoção,

deferida por sentença transitada em julgado, é irrevogável (arts.

48 e 49 do ECA). Não há regra semelhante no Novo Código Civil,

mas a adoção seguirá sendo irrevogável por duas razões:

primeira, porque atribui ao adotado a condição de filho; segunda,

porque é sempre deferida por sentença judicial.

Para tanto, constitui-se o vínculo da adoção com seu trânsito

em julgado, dando ao adotado os iguais direitos de um filho biológico.

2.2 PRINCIPAIS EFEITOS JURÍDICOS DA ADOÇÃO

Os principais efeitos da adoção são divididos em Pessoais e

Patrimoniais.

GONÇALVES96 classifica os efeitos pessoais referente ao

poder familiar, ao parentesco e ao nome do adotado já os de ordem patrimonial

concernem aos alimentos e ao direito sucessório.

95 ALICKE, Kosé Luis. Disponível em: http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/cao_infancia_juventude/doutrina/doutrinas_artigos/REFLEX%C3%95ES%20SOBRE%20O%20INSTITUTO%20DA%20ADO%C3%87%C3%83O%20%C3%80%20LUZ%20DO%20NOVO%20C%C3%93DIGO%20CIVIL.doc retirado em 01.05.2008 às 17:42 min. 96 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, direito de família. p.125

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O processo de adoção de crianças e adolescentes produz

efeitos aos quais o artigo 41 do ECA dispõe:

Art. 41. A adoção atribui à condição de filho ao adotado, com os

mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o

de qualquer vínculo como pais e parentes, salvo boas

impedimentos matrimoniais.

A Constituição Federal de 1988 também referencia os

mesmos direitos entre filho biológico e adotado em seu artigo 227:

Art. 227 . É dever da família, da sociedade e do estado assegurar

à criança e ao adolescente, com a absoluta prioridade, o direito à

vida, a saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, a

profissionalização, à cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade

e à convivência familiar e comunitária, alem de coloca-los a salvo

de toda forma de negligência, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão.

§ 6.º Os filhos havidos ou não da relação do casamento ou por

adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, e proibidas

quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

RODRIGUES97, quando ensina, sobre a adoção, que os

filhos havidos de um processo de adoção são como se fossem filhos biológicos.

Ainda é importante ressaltar que, a adoção é irrevogável.

Conforme o artigo 48 do ECA que assim prevê:

Art. 48. A adoção é irrevogável.

VENOSA98 acentua que a morte dos adotantes ou do

adotado não restabelece o vinculo com os pais naturais.

O poder familiar é assumido pelos adotantes a partir da

sentença que defere a adoção, assumindo assim os adotantes, todos os deveres

respectivos, substituindo o poder familiar dos pais biológicos 99.

97 RODRIGUES, Silvio. Direito civil; direito de família. São Paulo, 1980. V. 6. Pág., 346. 98 VENOSA, Silvio de Salvo; Direito civil, direito de família, São Paulo, 2007, pág. 277.

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NEVES100 ensina que com a adoção é atribuída ao adotado

a condição de filho do adotante desligando-o de qualquer vínculo com pais ou

parentes consangüíneos, gerando assim, perfeita integração do adotado a família

do adotante.

Ainda em sua obra NEVES101 discorre que todos os direitos

e deveres decorrentes da filiação são verificados na relação que se estabelece

pela adoção. Por exemplo, é recíproco direito aos alimentos e à sucessão. Além

disso, o adotado passa a usar em razão da adoção, o sobrenome do adotante. O

prenome poderá ser alterado caso o adotados seja menor, a pedido deste e do

adotante.

A decisão favorável que confere a adoção implica ao

adotado a usar o sobrenome do adotante, podendo ainda determinar a

modificação de seu prenome, se menor, a pedido do adotante ou do adotado

conforme o artigo 1627 do Código Civil e o artigo 47 § 5º do ECA.

Art. 1.627. A decisão confere ao adotado o sobrenome do

adotante, podendo determinar modificação de seu prenome, sem

menor, a pedido do adotante ou do adotado.

Depois da sentença transitada em julgado será enviado ao

registro civil mediante mandado para a inscrição do nome do adotado com o

sobrenome do adotante.

Preceituam os parágrafos do artigo 47 do ECA, que o

mandado será arquivado e cancelará o registro original do adotado. Também não

poderá constar nenhuma observação sobre a origem do ato nas certidões.

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial,

que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não

se fornecerá certidão.

§ 2.º o mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro

original do adotado.

99 VENOSA, Silvio de Salvo; Direito civil, direito de família. p. 277. 100 NEVES, Murilo Sechieri Costa. Direito Civil, Direito de família.p. 110. 101 NEVES, Murilo Sechieri Costa. Direito civil, Direito de família. p. 111.

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§ 3.º nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar

nas certidões do registro.

§5.º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a

pedido deste, poderá determinar a modificação do prenome.

Para tanto, as conseqüências jurídicas da adoção só terão

efeitos após o transito em julgado da sentença.

Quanto aos efeitos patrimoniais, GONÇALVES ensina que:

São devidos os alimentos reciprocamente, entre adotante e

adotado pois tornam-se parentes. O adotante, enquanto no

exercício do poder familiar é o usufruto a rádio e administrador

dos bem adotado ( CC, art. 1689 I e II). Com relação ao direito

sucessório, o filho adotivo corre, hoje, em igualdade de condições

com os filhos de sangue, em face da paridade estabelecida pelo

art. 227, §6º da constituição e do disposto no art. 1628 do Código

civil.

A igualdade estabelecida veio com o fim de igualar os

direitos entre os filhos havidos ou não do casamento.

De acordo com a legislação RIZZARDO102 justifica que a

adoção cessa todos os vínculos com a família anterior. Ele também menciona a

cessão no sentido hereditário, ou seja, com a adoção o adotado perde os direitos

dos pais consangüíneos porém adquire os direitos do adotante.

PEREIRA103 explica que se o adotante vier a falecer no

curso do procedimento, à sentença terá força retroativa a data do óbito.

Verifica-se então que os efeitos pessoais e patrimoniais da

adoção ocorrem somente depois do transito em julgado da sentença, salvo se o

adotante vier a falecer no curso do processo judicial, e que, além do mais os filhos

provenientes da adoção correm com igualdade em todos os sentidos com os

filhos biológicos sendo proibida qualquer tipo de discriminação.

102 RIZZARDO, ARNALDO. DIREITO DE FAMÍLIA: LEI Nº. 1.406, DE 10.01.2002. p. 555. 103 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito de Família e o novo código civil, 4 ed. 2tir. Ver. atual. Del Rey, Belo Horizonte, 2006 pág. 140.

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37

Observados os pressupostos básicos da adoção, bem como

seus principais efeitos jurídicos pessoais e patrimoniais, no capítulo que segue

será abordada a adoção por casais homoafetivos, a adoção internacional e a

adoção à brasileira.

CAPÍTULO 3

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38

QUESTÕES CRÍTICAS DO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO ATUAL DIREITO BRASILEIRO

3.1 ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS

A adoção na atualidade é um dos temas mais discutidos devido ao

bem estar a discriminação que pode sofrer o adotado.

Etimologicamente, "a palavra homossexual é formada pela

junção dos vocábulos ‘homo’ e ‘sexu’. Homo, do grego ‘hómos’, que significa

semelhante, e sexual, do latim ‘sexu’, que é relativo ou pertencente ao sexo.

Portanto, a junção das duas palavras indica a prática sexual entre pessoas do

mesmo sexo" .104

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul já se

manifestou (e assim continua fazendo) acerca do reconhecimento da união

estável homoafetiva, com as seguintes palavras:

“RELAÇÃO HOMOERÓTICA. UNIÃO ESTÁVEL. APLICAÇÃO

DOS PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS DA DIGNIDADE

HUMANA E DA IGUALDADE. ANALOGIA. PRINCÍPIOS

GERAIS DO DIREITO. VISÃO ABRANGENTE DAS ENTIDADES

FAMILIARES. REGRAS DE INCLUSÃO. PARTILHA DE BENS.

REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL. INTELIGÊNCIA DOS

ARTIGOS 1.723, 1.725 E 1.658 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002.

PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. Constitui união estável a

relação fática entre duas mulheres, configurada na convivência

pública, contínua, duradoura e estabelecida com o objetivo de

constituir verdadeira família, observados os deveres de lealdade,

respeito e mútua assistência. Superados os preconceitos que

afetam ditas realidades, aplicam-se os princípios constitucionais

da dignidade da pessoa, da igualdade, além da analogia e dos

princípios gerais do direito, além da contemporânea modelagem

das entidades familiares em sistema aberto argamassado em

104 CORREIA, Jadson Dias. União civil entre pessoas do mesmo sexo. Disponível em : http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2669&p=2 retirada em 17.03.2008.

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regras de inclusão. Assim, definida a natureza do convívio, opera-

se a partilha dos bens segundo o regime da comunhão parcial.

Apelações desprovidas”. 105

Porém a legislação (art.1622) preceitua tacitamente que nenhuma

pessoa poderá ser adotada por duas pessoas salvo se forem marido ou mulher ou

conviverem em união estável, o que gera discussão sobre o entendimento da adoção

homoafetiva.

A Constituição da República Federativa do Brasil em seu artigo 3º

inciso IV, acentua como objetivos fundamentais:

Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República

Federativa do Brasil:

IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,

raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de

discriminação.

Ainda no texto constitucional pode-se observar que:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito a

vida, a liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

A adoção por um homossexual, vem sido admitida através

de um cuidadoso acompanhamento psicológico colocando em primeiro lugar o

bem-estar e os direitos da criança e dos adolescentes, sempre buscando o

melhor para o adotando.

GONÇALVES pensa a respeito: 106 “A adoção por homossexual,

individualmente, tem sido admitida mediante cuidadoso estudo

psicossocial por equipe interdisciplinar que possa identificar na

relação o melhor interesse do adotando”.

105 TJRS, Apelação Cível nº. 70005488812, Sétima Câmara Cível, Relator: José Carlos Teixeira Giorgis, julgado em 25/06/2003 106 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, direito de família, p.345.

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Mesmo que no Código Civil e na Constituição Federal não

sejam permitidas a adoção por casais homossexuais, os doutrinadores e a

jurisprudência pátria começa a se pronunciar a favor da referida adoção.

LOBO esclarece que: 107

“A afirmação de homossexualidade do adotante, preferência

individual constitucionalmente garantida, não pode servir de

empecilho à adoção de menor, se não demonstrada ou

comprovada qualquer manifestação ofensiva ao decoro e capaz

de deformar o caráter do adotado, por um mestre cuja atuação é

também entregue à formação moral e cultural de muitos outros

jovens.”

Conforme entendimento do Tribunal de Justiça do Rio

Grande do Sul e do Tribunal Regional Federal da 4ª Região tem-se reconhecido a

união estável entre homossexuais como entidade familiar. 108

De acordo com a corte supramencionada acordo pioneiro,

admitindo a adoção por casal formado por duas pessoas do

mesmo sexo, como a seguinte ementa: “reconhecida como

entidade familiar, merecedora da proteção estatal, a união

formada por pessoas do mesmo sexo, com características de

duração, publicidade, a continuidade tem intenção de constituir

família, em decorrência de nao fazer instável é a possibilidade de

que seus componentes possam adotar. Os estudos

especializados não apontam qualquer inconveniente em que

crianças sejam adotadas por casais homossexuais, mas se

importando a qualidade do vínculo houver do afeto que permeia o

meio familiar em que serão inseridas e que as liga aos seus

cuidadores. É hora de abandonar de vez preconceitos e atitudes

hipócritas desprovidas de base científica, adotando-se uma

postura de firme defesa da absoluta prioridade que

constitucionalmente é assegurada aos direitos das crianças e dos

adolescentes ( art. 227 da constituição federal ). Caso em que o

laudo de especializado comprova o saudável, existente entre as

crianças e o adotante.

107 LOBO, Paulo Luiz Netto, Código civil comentado, v. XVI, p. 148. 108 TJRS, Ap. 70.013.081.592, 7ª Cam. Civ., Dês. Luiz Felipe Brasil Santos, j. 5-4-2006.

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Assim o artigo 227 da Constituição da República Federativa

do Brasil preceitua:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado

assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta

prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão.

Ocorre que nem todos ainda são favoráveis a adoção por

pessoas do mesmo sexo. MARMITT é totalmente contra, colocando a adoção

como uma ofensa moral e à integridade do menor.

O doutrinador acima citado tem sua posição diferente da

maioria. Em seu livro intitulado “Adoção”, escreveu um capítulo denominado

“Adoção por pessoas contra-indicadas” no qual diz que: 109.

Se de um lado não há impedimento contra o impotente, não vale o

mesmo quanto aos travestis, aos homossexuais, às lésbicas, às

sádicas, etc., sem condições morais suficientes. A inconveniência

e a proibição condiz mais com o aspecto moral, natural e

educativo.

Conforme pesquisas científicas, não é a orientação sexual

que determina se o indivíduo apresenta conduta que possa prejudicar o

desenvolvimento de um menor sob seus cuidados, até porque muitos

heterossexuais têm como rotina a dita vida desregrada o que é atribuída a gays e

lésbicas.

Neste diapasão para Conforme PINTO,110

o maior sonho destes pequenos indivíduos é se sentir amado e

protegido, é se perceber como parte de uma família, pois jamais

vivenciaram tal situação, tendo que conviver no meio de outros 109 MARMITT, Arnaldo. Adoção. Rio de Janeiro: Aide, 1993, p. 112/113. 110 PINTO, Flavia Ferreira. Adoção por homossexuais. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2669&p=3 retirado em 19.03.2007.

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tantos sofredores que partilham sua sorte, sem receber atenção

individualizada, sem obter manifestações de afeto. Isso sem

contar o trauma da crueldade ou rejeição da família biológica, que

obviamente deixou profundas marcas em suas personalidades.

Entende-se então, que a família possui proteção

constitucional, ou seja deve ser vista como unidade fundamental para a

sociedade, ainda que seja por casais do mesmo sexo. O que se deve levar em

conta é o vínculo de afeto e o bem-estar do adotando.

Verifica-se ainda que o texto constitucional é democrático e

abomina qualquer tipo de discriminação.

O intuito da adoção então, é colocar crianças menores

abandonadas em um lar aonde possam receber carinho, afeto, felicidade e

principalmente amenizar o trauma de uma rejeição ou de maus tratos dos pais

biológicos que não souberam dar valor ao bem mais importante de uma família,

que é uma criança feliz e amada.

3.2 ADOÇAO INTERNACIONAL

A adoção internacional é o instituto jurídico de ordem pública

que concede a uma criança ou adolescente em estado de abandono a

possibilidade de viver em um novo lar, em outro país, assegurados o bem-estar e

a educação, desde que obedecidas as normas do país do adotado e do adotante. 111

A adoção por estrangeiros, ficou regulamentada pelos

artigos de 51 e 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente. No Código Civil está

estabelecida no artigo 1629, que assim reza:

Art. 1.629. A adoção por estrangeiro obedecerá aos casos e

condições que forem estabelecidos em lei.

111 LOVEIRA, Julio. Adoção Internacional. Disponível em: http://www.loveira.adv.br/material/adocao1.htm retirado em 19.06.2008 às 14:51min.

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A adoção por estrangeiros, ficou a regulamentada pelos

artigos de 51 e 52 do estatuto da criança e do adolescente.

A adoção por estrangeiros, residentes ou domiciliadas fora

do país tem despertado polêmicas devido as “irregulares adoções”, ao tráfico de

crianças por exemplo, que tem sido freqüentes e que acima de tudo, este, é um

problema social e deve ser neste país solucionado.

Há uma nova realidade sobre as adoções internacionais

após a ratificação pelo Brasil da Convenção relativa à Proteção e a Cooperação

Internacional em Matéria de Adoção Internacional aprovada no mês de maio de

1993 na 17ª seção da conferência de leis privadas sem internacionais.

É importante ressaltar que com o Decreto nº. 3.087/99, o

Brasil ratificou-a, impondo-se portanto, a orientação do ministério da justiça que

passou a exercer as funções de Autoridade Central a indicada no documento

internacional.

PEREIRA acevera que: 112

O entendimento consolidado no que concerne a adoção de

estrangeiros e brasileiros fora do país devem submeter à comissão estadual

judiciária de adoção – CEJA, os documentos para adoção; aqueles que residem

em território nacional, comprovado ou o ânimo de permanência, serão tratados

como os nacionais, dispensando a apresentação dos documentos previstos no

artigo 51 do ECA e submetendo aos procedimentos próprios da Justiça da

Infância e Juventude

De acordo com a recomendação do XIII Congresso da

Associação Internacional de Magistrados de Menores e Família, realizado em

Turim, Itália, em 16 a 21/09/90, verifica-se “Que seja confirmado o caráter

subsidiário da adoção internacional, a qual poderá ocorrer somente depois de

112 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito de família e o novo código civil, 3ªed. 2.tir. rev. atual. Belo Horizonte, Del Rey, 2003, pág. 170.

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esgotados todas as possibilidades de manutenção da criança na própria família

ou em outra família no país de origem”. 113

Essa postura se dá com a finalidade propiciar ao máximo a

cultura de origem do adotando, visando a preservação de sua nacionalidade.

Ainda nas palavras de PEREIRA114:

Essas pessoas serão avaliadas em seu cotidiano, pela

equipe interprofissional do Juizado da Infância e juventude, o que permitirá uma

melhor apreciação deste ânimo de permanência no Brasil. Nestas hipóteses

devem ser considerados, primordialmente, os documentos comprobatórios ou

elementos que indiquem, de forma irrefutável, o ânimo de permanência no

território nacional”.

Mesmo que a lei do país do estrangeiro radicado no Brasil

seja contra o instituto da adoção, poderá este em condições de igualdade a dos

brasileiros, participar do processo para a adoção.

GONÇALVES115 explica que:

“A jurisprudência tem prestigiado a atuação da Comissão

Estadual Judiciária de Adoção ( CEJA ). Considerando necessário o certificado de

habilitação que fora por ela expedido para a adoção por pessoas estrangeiras.”

A Convenção de Haia, ratificada pela legislação pátria por

meio do Decreto Legislativo 3087/99, aponta os requisitos da adoção

internacional em seu artigo 4º:

Artigo 4º.

As adoções abrangidas por esta Convenção só poderão ocorrer

quando as autoridades competentes do Estado de origem: 113 HOUDALI, Amira Samih Hamed Mohd. A adoção internacional e

suas diretrizes no direito brasileiro. Disponível em: http://sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/adocao.pdf retirado em: 18.06.2008 às 13:56min. 114 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito de família e o novo código civil. p. 170 – 171. 115 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, direito de família. p. 365.

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a) tiverem determinado que a criança é adotável;

b) tiverem verificado, depois de haver examinado adequadamente

as possibilidades de colocação da criança em seu Estado de

origem, que uma adoção internacional atende ao interesse

superior da criança;

c) tiverem-se assegurado de:

1) que as pessoas, instituições e autoridades cujo consentimento

se requeira para a adoção hajam sido convenientemente

orientadas e devidamente informadas das conseqüências de seu

consentimento, em particular em relação à manutenção ou à

ruptura, em virtude da adoção, dos vínculos jurídicos entre a

criança e sua família de origem;

2) que estas pessoas, instituições e autoridades tenham

manifestado seu consentimento livremente, na forma legal

prevista, e que este consentimento se tenha manifestado ou

constatado por escrito;

3) que os consentimentos não tenham sido obtidos mediante

pagamento ou compensação de qualquer espécie nem tenham

sido revogados, e

4) que o consentimento da mãe, quando exigido,não tenha sido

manifestado após o nascimento da criança; e

d) tiverem-se assegurado, observada a idade e o grau de

maturidade da criança, de:

1) que tenha sido a mesma convenientemente orientada e

devidamente informada sobre as conseqüências de seu

consentimento à adoção, quando este for exigido;

2) que tenham sido levadas em consideração a vontade e as

opiniões da criança;

3) que o consentimento da criança à adoção, quando exigido,

tenha sido dado livremente, na forma legal prevista, e que este

consentimento tenha sido manifestado ou constatado por escrito;

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4) que o consentimento não tenha sido induzido mediante

pagamento ou compensação de qualquer espécie”.

WEBER116 traça seus fundamentos:

“ Os casais estrangeiros, diferente dos brasileiros, constantemente

realizam adoções visando a ajuda humanitária, estando mais

abertos a adotar crianças de etnias diferentes das suas, bem

como de mais idade, crianças que em nosso país são

consideradas inadotáveis, tendo em vista a grande procura por

parte de casais brasileiros de filhos adotivos que possuam

características físicas semelhantes às suas, visando, desta forma,

evitar a constatação imediata da origem da filiação por parte de

terceiros”

È de extrema importância lembrar que por criança adotável

se entende aquela desprovida de qualquer vínculo familiar.

Tal situação, qual seja de abandono, é difícil de ser

declarada, uma vez que, os pais, apesar de não entrarem em contato com os

filhos por anos, ainda possuem o poder familiar e não pretendem abrir mão deste,

o impossibilitando a adoção, haja vista que é necessário que a criança não tenha

os pais, seja por desconhecimento ou destituição do poder familiar deste, para

que seja realizada a adoção.

A grande finalidade é a proteção a criança e ao adolescente,

evitando-se que esta venha sofrer transtornos no país de origem dos adotantes,

considerando-se que existem países que vedam a adoção de estrangeiros por

seus cidadãos, devendo a adoção ser precedida de estudo, com o objetivo de

apurar se o casal adotante possui reais condições de receber um filho com

diferente características físicas e sociais das suas.

O Brasil possui como forma de cadastro dos estrangeiros

interessados em adotar uma criança brasileira, Agências de Adoção Internacional,

e as Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção Internacional (CEJAI)

116 WEBER, Lídia Natália Dobrianskyj, O filho universal – um estudo comparativo de adoções nacionais e internacionais. revista Direito de Família e Ciências Humanas – Caderno de Estudos, n.º 2, 2004. p. 119/125.

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facultando-se aos candidatos que compareçam ao país somente no momento de

encontrar a criança.

E não for possível o seu comparecimento imediato no país,

também é possível que o adotantes habilitem-se diretamente junto ao órgão oficial

do Brasil e em seu país de origem, sendo necessário que os estrangeiros,

primeiro, procedam a habilitação em seu pais de origem, para obter homologação

em seu pedido no Brasil.

É muito comum encontrarmos nos abrigos e casas de

passagem, crianças deixadas pelos pais e que passam anos sem vê-las, não

obstante, estes não abrem mão do poder familiar, o que impossibilita a adoção,

salvo ser for decretada judicialmente a perda desta, em razão do abandono.

Para toda a adoção internacional é obrigatório o estágio de

convivência no território nacional (15 dias para crianças com idade até 2 anos e

30 dias para crianças com idade superior a 2 anos.). conforme o artigo 46, § 2º do

ECA.

3.3 ADOÇÃO À BRASILEIRA

A adoção à brasileira, não tem sido aceita no Brasil, tendo

em vista que toda adoção deve ser regular e obedecer a um processo judicial

como prevê o artigo 1623 do Código Civil.

Nesta temática LÔBO menciona que:117

Na tradição do direito de família brasileiro, o conflito entre a

filiação biológica e a filiação sócio-afetiva sempre se resolveu em

benefício da primeira. Em verdade, apenas recentemente a

segunda passou a ser cogitada seriamente pelos juristas, como

categoria própria, merecedora de construção adequada. Em

outras áreas do conhecimento, que têm a família como objeto de

investigação, a exemplo da sociologia, da psicanálise, da

antropologia, a relação entre pais e filhos fundada na afetividade

sempre foi determinante para sua identificação.

117 LÔBO, Paulo Luiz Netto, Disponível em: Direito ao estado de filiação e direito à origem genética. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4752 retirado em 28.05.2008 às 15:42min.

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A adoção à brasileira, se dá a partir do momento em que

uma pessoa ou um casal, apresentam documentos falsos para registrar uma

criança nascida de outra mulher, impondo-se como seu filho.

LÔBO ainda ressalta que:

Dá-se com declaração falsa e consciente de paternidade e

maternidade de criança nascida de outra mulher, casada ou não,

sem observância das exigências legais para adoção. O declarante

ou declarantes são movidos por intuito generoso e elevado de

integrar a criança à sua família, como se a tivessem gerado.

Contrariamente à lei, a sociedade não repele tal conduta; exalça-

a. Nessas hipóteses, ainda que de forma ilegal, atende-se ao

mandamento contido no art. 227 da Constituição, de ser dever da

família, da sociedade e do Estado assegurar à criança o direito "à

convivência familiar", com "absoluta prioridade", devendo tal

circunstância ser levado em conta pelo aplicador, ante o conflito

entre valores normativos (de um lado o atendimento à regra matriz

de prioridade da convivência familiar, de outro lado os

procedimentos legais para que tal se dê, que não foram

atendidos). Outrossim, a invalidade do registro assim obtido não

pode ser considerada quando atingir o estado de filiação, por

longos anos estabilizado na convivência familiar.

É oportuno relembrar que para a adoção produzir seus

efeitos é necessário o transito em julgado da sentença via processo judicial.

Assim quando uma mulher ou um homem registra em seu

nome uma criança sem o devido processo legal, logicamente os vínculos com a

família anterior não cessam, o que mais tarde caso a mãe biológica venha se

arrepender, poderá tomar o filho da mãe que a registrou.

O afeto não é fruto da biologia, os laços de afeto e de

solidariedade derivam da convivência familiar e não do sangue, a história do

direito se revela muito ao destino do patrimônio familiar. Logo, a vontade

individual é a seqüência ou o complemento necessário do vínculo.

Em primeiro lugar a adoção para ter efeitos jurídicos plenos

deverá ser processada e autorizada pela via judicial. O ato de

receber uma criança para criar e registrá-la não é legal e é

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facilmente comprovável pela via do exame do DNA. Nestes casos,

muitas das vezes, depois de vários anos, a mãe biológica se

arrepende e usa a justiça para retomar a criança.118

A adoção à brasileira, é uma questão complicada pois gera

muita tristeza tanto para a criança quanto para as famílias que ficam muito

abaladas psicologicamente.

Ante a esta tristeza é necessário salientar que a adoção à

brasileira é considerada crime pelo Código Penal conforme o artigo 241 e 242.

Art. 241. Promover no registro civil a inscrição de nascimento

inexistente.

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Art. 242. Dar parto alheio como próprio; registrar como seu filho

ou de outrem; ocultar recém nascido ou substituí-lo; suprimindo ou

alterando direito inerente ao estado civil.

Pena – Detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos podendo o juiz deixar

de aplicar a pena.

DINIZ119, classifica a adoção à brasileira como

INEXISTENTE, pois é necessário o requisito “ intervenção judicial”.

Muitos motivos levam alguém ao optar pela adoção a

brasileira. Marmitt120 se manifesta da seguinte forma:

Muitos casais que não podem ter filhos e tem condições para cria-

los não desejam submeter-se aos trâmites legais, como

constituição de advogado, audiências no foram, entrevistas com

técnicos do juizado, etc. Também não querem tomar público que

tem adotado uma criança. Procuram, então simplificar as coisas.

Apoderam-se algum recém-nascido, abandonado pela mãe,

geralmente solteiras, e se dirigem ao cartório e, fazendo o registro

118 Disponível em http://www.consumidorbrasil.com.br/consumidorbrasil/textos/paratodos/adocao.htm#Irregular retirado em: 28.05.2008 às 16:15min. 119 DINIZ,Maria Helena; Curso de direito civil brasileiro, direito de família. p. 511. 120 MARMITT, Arnaldo. Adoção. P. 159.

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em seu nome, como filho biológico fosse. Semelhante

procedimento tem incentivado por médicos, enfermeiras,

assistentes sociais, religiosas e até autoridades judiciárias, que

tem fechado os olhos, em vista dos fins nobres e sociais de

elevado teor humanístico e assistencial, que o ato colima.

Dentre os motivos que levam alguém a efetuar o falso

registro de nascimento, possivelmente o maior deles seja o medo de que lhe seja

tirado do convívio familiar uma criança que, afetivamente, já lhe é filho, para que a

mesma seja entregue a outro pretendente, já cadastrados, e a para receber uma

criança.

A adoção à brasileira não encontra terminologia na

legislação. Essa denominação é uma criação da jurisprudência, conforme

menciona Gonçalves121.

A simulada ou a brasileira é uma criação da jurisprudência. A

expressão “a adoção simulada” foi empregada pelo Supremo

Tribunal Federal ao se referir a casais que registram filho alheio,

recém-nascido, como o próprio, com a intenção de dar-lhe um Lar,

de comum acordo com a mãe e não com a intenção de tomar-lhe

o filho.

A questão que envolve a adoção à brasileira não deve ser

vista apenas como um ilícito penal, uma vez que, regra geral, o que se busca na

adoção ilegal é o amparo material e afetivo a criança, uma vez que os genitores

biológicos da mesma não puderam oferecer, ora porque não quiseram, ora

porque não puderam.

O parágrafo único do artigo 242 do Código Penal poderá

deixar de ser aplicado quando for comprovado que o crime foi cometido por

motivo de nobreza.

Para Caráter e exemplificativo, segue a jurisprudência do

Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. 122

121 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de Família. p. 102

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EMENTA: CRIME CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO - A

APLICAÇÃO DO ARTIGO 242 , PARÁGRAFO ÚNICO, DO

CÓDIGO PENAL - PERDÃO JUDICIAL CONCEDIDO – PLEITO

MINISTERIAL ALMEJANDO A CONDENAÇÃO -

IMPOSSIBILIDADE - MOTIVO DE NOBREZA

CARACTERIZADO. RECURSO DE IMPROVIDO

O requisito de intervenção judicial entende-se como ação de

adoção onde será discutido e avaliado as condições do adotante, a reflexão dos

pais biológicos quanto ao ato de dar seu filho a pessoa estranha, e principalmente

estudar e garantir o bem estar do adotado.

Adotar um filho, nos revela o poder de amar, transcendendo

os laços sangüíneos, a raça, a cor de pele e a condição econômica, mas exige

sempre o respeito aos direitos humanos de todos os envolvidos nessa decisão,

em especial os direitos de crianças e adolescentes.

122 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Apelação criminal 2004.004073-3 da 1ª Câmara Criminal. Comarca de Anchieta. Relator Des. Juiz José Carlos Cartens Kohler. Data da Decisão: 06/04/2004. Disponível em www.tj.sc.gov.br. Acessado em 30 de maio de 2008.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objeto o instituto da adoção

no atual direito brasileiro, dando ênfase aos efeitos jurídicos e as delimitações

críticas que se produzem na atualidade sobre o tema.

Com o término deste trabalho, algumas considerações

acerca do tema “Adoção”, devem ser feitas, destacando-se, no entanto, a

complexidade e importância do assunto para a Ciência Jurídica.

No primeiro capítulo, tratou-se da história do instituo da

adoção sendo que na antiguidade o instituto originou-se do dever de perpetuar o

culto doméstico, a continuação dos cultos fúnebres,, pois se o pai não tivesse um

filho para instituir esses costumes a tradição se extinguiria.

Ainda, neste capítulo, foi abordada a instituição da adoção

na Idade média que teve uma forte influência contrária à adoção, pois a Igreja

Católica Apostólica Romana era contra e os Senhores feudais também, visto que

a adoção prejudicava a sucessão hereditária, o que fez nesta época cair em

desuso.

Foi na Roma antiga que o instituto da adoção mais se

desenvolveu. Os romanos tinham como necessidade a adoção para que lhe

assegurassem o culto doméstico. Podemos verificar que, tanto na Idade Média

Como na Idade Antiga o instituto da adoção visava apenas a transferência de

nome, patrimônios ou em perpetuar os cultos religiosos e fúnebres.

Já no segundo capítulo, observaram-se, os pressupostos

legais do instituto, dando ênfase aos requisitos para poder se adotar uma criança.

Tanto quanto a idade, como também sua idoneidade. Foi pesquisado a

possibilidade de estado civil dos adotantes, assim como as pessoas que não

podem adotar. E ainda neste capítulo foram elencado os efeitos jurídicos que

geram a partir do transito em julgado da sentença que defere a adoção.tantos os

efeitos pessoais como os patrimoniais.

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No terceiro capítulo, foram estudadas as questões mais

críticas do instituto da adoção, cujas questões os doutrinadores e a própria

legislação se contrariam.

Com relação às hipóteses levantada na introdução, após

estudo,passa à verificação se foram confirmadas ou não:

a) O instituto da adoção, tal qual é conhecido atualmente,

deita raízes legais na Idade Antiga. Os povos antigos a conheciam e a aplicavam

em virtude da religião da época que exigia de cada família descendentes para

que o culto sagrado não fosse extinto.

Esta hipótese se confirmou totalmente porque foi observado

que só quem não havia filhos é que podia adotar, e que para uma eternidade

confortável era necessário que o progenitor tivesse um filho que praticasse o culto

fúnebre. Indispensável, então, a adoção para a própria perpetuação de toda a

família.

b) Compete a adotar qualquer pessoa que tenha idade igual

ou superior a 18 anos. E que seus deveres com o adotando são os mesmos

deveres dos pais biológicos, ou seja, tem o dever de dar uma vida sadia,

prestando auxílio, carinho, amor, educação, saúde, etc. Os requisitos

especificados são os de possuir idoneidade moral, ter condições de criar uma

criança não deixando de prestar qualquer auxílio garantido pela Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, pelo Código Civil Brasileiro e pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente.

Esta hipótese se confirmou totalmente porque foi observado

que seja qual for a preensão do adotante, dever ser, primeiramente, estudado e

refletido os direitos da criança e do adolescente, garantido, assim, o melhor para

o adotando.

c) Não há legislação específica no Brasil sobre a adoção de

crianças por casais homoafetivos. Referida ausência implica na impossibilidade

de adoção por casais homoafetivos.

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Esta hipótese restou parcialmente confirmada. A adoção por

casais homoafetivos, hoje, não encontra respaldo na legislação (o ECA e o CC

prevêem que duas pessoas somente poderão adotar caso sejam casadas entre si

ou vivam em união estável). Entretanto, começam a surgir no país

posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais em sentido contrário, ou seja,

permitindo a adoção por casais homoafetivos, desde que seja proveitoso para o

adotando.

d) A adoção de crianças brasileiras por estrangeiros, mais

conhecida como adoção internacional tem aplicabilidade em último caso, quando

estiverem esgotadas todas as tentativas de adoção por casais brasileiros.

Esta hipótese se confirmou totalmente. Para que a adoção

internacional seja levada a efeito, deverá ter todas as chances esgotadas por

casais brasileiros.

e) Dá-se adoção à brasileira quando uma criança (ou

adolescente) é adotada sem o devido processo judicial. Os adotantes

simplesmente reconhecem ou registram uma criança como se fosse filho

biológico. Trata-se de ilícito que pode acarretar, caso descoberto, anulação do

ato.

Esta hipótese se confirmou parcialmente porque embora

seja a adoção à brasileira um crime e passível de anulação, na esfera cível, tais

conseqüências não serão aplicadas se o melhor interesse do adotado for

permanecer com a família que cometeu o ilícito. Há, do ponto de vista criminal, a

possibilidade de ser aplicado o perdão judicial e, junto com ele, a possibilidade de

não haver anulação da adoção. Em outras palavras, a aplicabilidade do perdão

judicial, gera uma “legalização” posterior da adoção à brasileira.

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