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1- Espaço escolar sob a ótica pedagógica e sociológica. 1.1. Espaço Escolar A escola é o espaço de aprendizagens, um lugar de aquisição de conhecimentos que conduz a uma cultura de diversidades de saberes. Sob o olhar da pedagogia e seus teóricos clássicos, o espaço escolar é um ambiente de construção e desenvolvimento das múltiplas dimensões do ser no aspecto social, intelectual, coletivo, espiritual, político, humano. Desse modo, evidencia-se o filósofo com faceta de pedagogo Jonh Dewey que entende a escola como experiência social,segundo Beltrán (2003), Dewey “afirmava que o objetivo da escola é ensinar a criança a viver no mundo em que se encontra” (p.54), compreende a escola como uma instancia exemplar da vida social em que a educação tem a função de oportunizar situações cotidianas relacionadas à organização da sociedade, logo, a escola não é um local preparatório para a vida social, é a própria vivencia da vida real partindo das necessidades e experiências dos alunos somatizando com as possibilidades de novas experiências escolares do processo de “descoberta, indagação e experimentação associado às relações produtivas que contribuem para a vida da coletividade” (BELTRÁN, p.56), nessa perspectiva sua proposta educacional considerava a escola como agência de reforma social e não de reprodução.

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1- Espaço escolar sob a ótica pedagógica e sociológica.

1.1. Espaço Escolar

A escola é o espaço de aprendizagens, um lugar de aquisição de

conhecimentos que conduz a uma cultura de diversidades de saberes.

Sob o olhar da pedagogia e seus teóricos clássicos, o espaço

escolar é um ambiente de construção e desenvolvimento das múltiplas

dimensões do ser no aspecto social, intelectual, coletivo, espiritual, político,

humano.

Desse modo, evidencia-se o filósofo com faceta de pedagogo Jonh

Dewey que entende a escola como experiência social,segundo Beltrán (2003),

Dewey “afirmava que o objetivo da escola é ensinar a criança a viver no mundo

em que se encontra” (p.54), compreende a escola como uma instancia

exemplar da vida social em que a educação tem a função de oportunizar

situações cotidianas relacionadas à organização da sociedade, logo, a escola

não é um local preparatório para a vida social, é a própria vivencia da vida real

partindo das necessidades e experiências dos alunos somatizando com as

possibilidades de novas experiências escolares do processo de “descoberta,

indagação e experimentação associado às relações produtivas que contribuem

para a vida da coletividade” (BELTRÁN, p.56), nessa perspectiva sua proposta

educacional considerava a escola como agência de reforma social e não de

reprodução.

Por isso a escola deve ser democrática em toda sua organização

enquanto instituição, desde o espaço físico ate os conteúdos lecionados, pois a

“educação deve possibilitar a cada um ter sua felicidade realizada na medida

em que possibilita que as condições dos outros melhorem” BELTRÁN (apud

DEWEY, p.55)

A médica educadora Maria Montessori uma das referencias nos

estudos pedagógicos, parte da medicina para a pedagogia. Segundo

Maran(1977) a educadora tem como eixo central da ação pedagógica um

principio básico, a criança como um ser capaz de aprender naturalmente,

compreendendo a criança como única, racional ávida por descobertas desde

que o ambiente escolar possibilite isso.

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Pontua três valores que estruturam a prática pedagógica, a criança

diferente do adulto, concreta educadora de si mesma, aprende a ser

independente a auto gerir-se; o ambiente escolar que é o conjunto de todas as

coisas que impulsiona a criança ao seu desenvolvimento, crescimento e auto

aperfeiçoamento, pois para a educadora a escola é sinônimo de ambiente

preparado, sendo assim, “a escola educa quando permite o livre

desenvolvimento da atividade da criança”MARAN( apud MONTESSORI,p.44);

e o educador sendo o canal entre a criança e o ambiente.

Sendo assim, a tríade criança, ambiente preparado e educador

inter-relacionados resultam em aprendizagem, formação do homem orientado

pela linha pedagógica de educar a pessoa, o ser humano onde a escola é o

espaço promovedor de tal filosofia, isso por que:

O ambiente preparado é fundamental para que haja aprendizagem. O ambiente preparado deve estar de acordo com as necessidades e interesses da criança. Devem respeitar as leis de desenvolvimento da criança, os “períodos sensíveis” satisfazendo seus impulsos interiores alimentando sua vida física, psíquica e espiritual. (MARAN, 1977, p 23)

Concepção positiva de Montessori descrito por Maran seu seguidor,

o espaço escolar voltado ao ambiente educador como local de exploração de

saberes estimulando aprendizagens com foco no educando enquanto

construtor.

Ainda na linha de aquisição de aprendizagem, destaca-se Jean

Piaget biólogo, mas um contribuidor da educação no que diz respeito o

desenvolvimento da inteligência humana dos processos de incorporação dos

conhecimentos. Segundo Delval (2003):

Piaget considera o desenvolvimento da inteligência e a formação do conhecimento- para ele dois processos indissociáveis como um resultado que se inicia na atividade biológica dos seres humanos e em sua capacidade de adaptação do meio. A construção da inteligência é um processo que segue as mesmas leis de funcionamento que permite aos seres vivos se manterem em equilíbrio com seu meio e sobreviver. (DELVAL,2003,p.110)

Ou seja, para Piaget o conhecimento é adquirido pela interação do

individuo com o meio, é construído, não pode ser somente entendido como

influencia do ambiente social, mas compreendida pelo viés também da

interiorização do próprio sujeito, pois o processo de tal formação se dá pelo

atrito de contato com o meio exterior ao interior. Interiormente há uma espécie

Page 3: Monografia Revisão de Literatura

de choque entre o conhecimento já existente em relação ao novo, gerando a

visão do “ser humano em um organismo que ao agir sobre o meio e modifica-

lo, também modifica a si mesmo” (DELVAL, 2003, P.110).

Explicita o conhecimento como processo de criação em que a escola

é o local oportunizador de desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos

bem como de sua inteligência, nesse sentido a tarefa do professor “não é

ensinar mas procurar as condições para que o aluno aprenda”(p.112).Nessa

linha de raciocínio tem Vygotsk, de acordo com Rego(2002), a principal ideia

dele refere-se a relação entre individuo e sociedade, afirma que “as

características humanas não estão presentes desde o nascimento do individuo,

nem são resultados das pressões do meio externo,resulta da interação dialética

do homem e seu meio sócio cultural”(REGO,2002,p.41),considera as definições

biológicas do ser humano mas evidencia a dimensão social como propiciador

de aprendizagem por meio da interação com o outro, daí a valorização do

papel da escola para o desenvolvimento da cognição na apropriação do

conhecimento.

A escola é organizada de forma sistemática, conteúdos

programados de maneira linear, atividades com intencionalidade de promover e

verificar aprendizagens, assim, o educando ao fazer parte desse processo

formalmente sequenciado passa a desenvolver a cognição ao interagir com o

conhecimento que lhe é proposto aprendendo a ler, escrever usar o cérebro

para solução de problemas lógicos do cotidiano, logo, “O aprendizado

pressupõe uma natureza e um processo através do qual as crianças penetram

na vida intelectual daqueles que a cercam” REGO (2002, p.71 VYGOTSK,

1984, p.99).

Quanto à concepção do espaço escolar não poderia deixar de

elencar as ideias do magnífico pedagogo Paulo Freire que acredita na

educação como meio de transformação social do individuo por um viés político

e cultural. Dessa forma, de acordo com Osório e Freire(2003):

O pensamento de Freire não apenas leva em conta o sujeito como construtor do conhecimento, mas, também valoriza a importância do contexto social. A unidade dialética entre aprender e ensinar, educar e educar-se, introduz uma perspectiva sociocritica no processo de conhecer (somos mediados pelo mundo) e faz da comunicação entre sujeitos (intersubjetividade) o instrumento para a apropriação de um conhecimento ativo e critico. (OSORIO; FREIRE, 2003, p.135)

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Propõe uma pedagogia critica que tem seu inicio a parti da

compreensão da realidade do educando, do contexto social considerando o

universo temático do sujeito das experiências de vida e saberes acumulados

sob uma perspectiva dialógica baseada na visão do educando propiciando pela

educação a compreensão do mundo e sua dinamicidade por uma educação

libertadora avessa ao deposito de conhecimentos, de alunos receptores

acríticos entendendo que toda ação pedagógica não é neutra.

Por isso, o ato de educar “não é transferir conhecimento, mas criar

as possibilidades para a sua própria produção e construção”

(FREIRE,2010,p.47). Assim o educador tem relevância como um ser mediador

no ensino e aprendizagem com postura critica sobre sua pratica orientado pela

práxis junto ao pensamento político, até por que ensinar é compreender que :

A educação é uma forma de intervenção no mundo.Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento.Dialética e contraditória, não poderia ser a educação só uma ou outra dessas coisas, nem apenas reprodutora nem apenas desmascaradora da ideologia dominante.Neutra, “indiferente” a qualquer destas hipóteses, a da reprodução da ideologia dominante ou a de sua contestação, a educação jamais foi, é, ou pode ser.(FREIRE,2010,p.98-99)

Significa dizer que a educação não é uma porção mágica de

transformação do mundo e tampouco se deve ter um olhar pessimista, ingênuo,

mecanicista da educação enquanto processo que é complexo, por ser

constituída de dualidade e contrastes configurada pela reprodução dominante e

seu desmascaramento.

De acordo com Freire a educação tem como finalidade libertar da

realidade opressiva, injusta opondo-se a tradição autoritária do sistema escolar

por acreditar que a escola não é um espaço fechado de narrativas onde só o

professor falam,contudo, resumiu em sua declaração como secretário de

educação “a escola não é um espaço físico.É um clima de trabalho, uma

postura, um modo de ser”(OSÓRIO;FREIRE,p..141), basicamente um espaço

de troca de experiências onde ninguém sabe tudo, e não de imposição e

hierarquização.

Diante do elenco desses autores da pedagogia pode-se identificar a

convergência quanto ao espaço escolar como local adequado e destinado ao

desenvolvimento do individuo embora com abordagem pedagógica de foco

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diferenciado; Dewey com a experiência social, Montessori evidenciando o

ambiente escolar preparado, Piaget com a contribuição dos processos de

conhecimentos em que a escola é o ambiente estimulador das potencialidades,

Vygotsk com a aprendizagem de cunho social e Freire com o dialogo, ação

social e proposta de uma escola “aberta”.

1.2. Mercado escolar

Uma das funções da escola como instituição educacional é de

transmitir conhecimento atestando aprendizagens por meio de diplomas, este

como suporte para ascensão social dos indivíduos. Cobra-se que a escola

ensine e o aluno aprenda, todavia, para que haja de fato ensino é necessário a

aprendizagem como produto, sendo esta consolidada por condições, métodos,

aspectos culturais/sociais, postura do professor.

Desde cedo à criança incorpora comportamentos, costumes,

vocabulário da sua origem familiar, sendo assim, o lugar familiar aponta o grau

de cultura que seus descendentes poderão obter, onde o garoto de periferia

terá dificuldades a ponto de desisti, se caso optar por ser médico, poderá

consegui, se ultrapassar obstáculos de gastos com passagens, alimentação,

livros de alto custo da área médica, indumentária, necessitará de tempo

disponível, pois geralmente o curso de medicina é integral, porém o garoto de

classe média que decida adquirir formação na área médica terá todas as

condições favoráveis de sucesso no curso.

Alunos de classes favorecidas trazem de berço uma herança

cultural, uma espécie de Capital Cultural, termo utilizado por Bourdieu usado

metaforicamente para explicar como a cultura transforma-se em moeda que as

classes dominantes utilizam sutilmente para atenuar desigualdades, sendo

assim:

A noção de capital cultural impôs-se, primeiramente, como uma hipótese indispensável para dar conta das desigualdades de desempenho escolar de crianças provenientes das diferentes classes sociais, relacionando o “sucesso escolar”, ou seja, os benefícios específicos que as crianças das diferentes classes e frações de classe podem obter no mercado escolar, a distribuição do capital cultural entre as classes e frações de classe. Este ponto de partida implica em uma ruptura com os pressupostos inerentes, tanto a visão comum que considera o sucesso ou fracasso escolar como efeito de

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“aptidões” naturais,quanto as teorias do capital humano.(BOURDIEU,2010,p.73).

O termo sugere articulação entre vida escolar e vida social

evidenciando relação entre desempenho escolar e origem social sob uma ótica

de mercado escolar reforçada pela:

Ação pedagógica que é objetivamente uma violência simbólica, num primeiro sentido, enquanto que as relações de força entre os grupos ou as classes constitutivas de uma formação social estão na base do poder arbitrário que é a condição da instauração de uma relação de comunicação pedagógica, isto é, da imposição e da inculcação de um arbitrário cultural segundo um modo arbitrário de imposição e de inculcação(educação).(BOURDIEU;PASSERON,2011,p.27)

Expressa-se uma relação de poder traduzida pela imposição de

padrões culturais de sobreposição de culturas, em que a posse desigual de

capitais desencadeia no ambiente escolar alunos favorecidos versus alunos

desfavorecidos com origens sociais subjetivas, singulares; a estas experiências

pessoais de acumulação de saberes o capital cultural é revestido por três

estados, segundo Pierre Bourdieu.Inicialmente uma criança que se desenvolve

em meio leitura de clássicos da literatura em geral, filha de pais letrados,

convive em um ambiente cuja comunicação é ajustada a norma culta, herda um

vocabulário polido, rebuscado que será parte integrante do seu ser

naturalmente é denominado estado incorporado pois “a acumulação de capital

cultural exige uma incorporação que, enquanto pressupõe um trabalho de

inculcação e de assimilação,custa tempo que deve ser revestido pessoalmente

pelo investidor”(BOURDIEU,2010,p.74)

Assim como, alunos que não tiveram contato através da família com

o capital cultural em forma de materialidade, livros, computadores, acesso a

lugares como museus, teatros, concertos, viagens, terão dificuldades na

trajetória educacional ao domínio da linguagem escolar, que seria o estado

objetivado, “assim os bens culturais podem ser objeto de uma apropriação

material, que pressupõe o capital econômico, e de uma apropriação simbólica

que pressupõe o capital cultural” (BOURDIEU, 2010, p.77). Basicamente para a

construção do capital cultural também se faz necessário investimento

econômico que logo se transformará em conhecimento certificado de fato, por

títulos, diplomas por meio do estado institucionalizado, afinal, “com o diploma

essa certidão de competência cultural que confere a seu portador um valor

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convencional constante e juridicamente garantido no que diz respeito à cultura”

(BOURDIEU, 2010, p.78).Concomitante ao capital cultural o acúmulo de

contatos, amizades, relações socialmente estabelecida por um individuo com

determinado grupo poderá ser proveitoso, benéfico na sua vida social e

profissional o qual denomina-se de Capital Social que é “a vinculação a um

grupo, em conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades

comuns passives de serem percebidas pelo observador pelos outros ou por

eles mesmos,mas são unidos por ligações permanentes e

úteis”(BOURDIEU,2010,p.67), correlacionando a cultura refletida sobre as

condições de vida dos indivíduos.

Bourdieu considera o individuo enquanto herdeiro de uma bagagem

culturalmente adquirida, por isso, filhos de pais diplomados terão mais chances

de ascender na carreira escolar por possuir a cultura que a escola demanda,

em contra partida, filho de pais analfabetos possuem cultura adversa à escola

que lhes causam estranhamento e consequentemente dificuldades refletidas no

rendimento escolar, a esse aspecto Apple reitera:

“As escolas exercem papéis importantes na criação das condições necessárias para a acumulação de capital (elas ordenam, selecionam e certificam um corpo discente hierarquicamente organizado),e para a legitimação elas mantêm uma ideologia meritocrática imprecisa e, portanto, legitimam as formas ideológicas necessárias para a recriação da desigualdade.(APPLE,2001,p.29)

Michael Apple compreende a educação pelo viés econômico por

relação de contradição, detectando dois grupos/classes na perspectiva

educacional, o grupo de conhecimentos “oficial” contrapondo o grupo de

conhecimento” popular” discutindo a importância do papel da escola na

produção bem como na atribuição do conhecimento nos aspectos reprodutivos

embutidos nas praticas curriculares que levam alunos que cresceram em

contextos diferenciados, pensarem que as dificuldades por eles encontradas

seria ausência de inteligência, onde:

O tipo de conhecimento considerado como legitimo na escola, o qual atua como um completo filtro para estratificar grupos de alunos, está conectado as necessidades especificas de nosso tipo de formação social.As escolas produzem conhecimento de um tipo particular, portanto, ao mesmo tempo que recriam categorias de desajustamento, que estratificam os alunos, a criação de desajustamentos e a produção de capital cultural estão indissoluvelmente conectados.(APPLE,2001,p.37)

Page 8: Monografia Revisão de Literatura

Formação social baseada na seleção realizada pela escola de

conhecimentos seletos em detrimento de outros mascarados pelo e no principio

da universalidade, estratificando alunos pelos seus capitais contribuindo para a

conservação das classes, dominantes e dominadas, contrapondo o olhar da

pedagogia sobre a escola que considera o espaço escolar como local de

aprendizagem, cujo objetivo é de desenvolvimento do individuo e não

classifica-lo, um ambiente preparado oferecido de igual forma para todos

fazendo alusão a educadora Montessori.

1.3 Meritocracia

O acesso à educação é um direito inerente básico do individuo,

contudo, não significa dizer que todos que frequentam a escola serão bem

sucedidos, já que esta cobra valores globais independente da particularidade

plural de seu público. Partindo desse raciocínio a escola não é uma instituição

desvinculada da organicidade social, mas é integrada a ela, por isso contribui

na lógica de incorporação do modo de produção capitalista sendo um

mecanismo de reprodução do sistema capitalista, no tocante:

A Educação institucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu no seu todo ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário a maquina produtiva em expansão do sistema, como também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, como se não pudesse haver nenhuma alternativa a gestão da sociedade, seja na forma “internalizada”(isto é, pelos indivíduos devidamente “educados” e aceitos) ou através de uma dominação estrutural e uma subordinação hierárquica e implacavelmente impostas.(MÉSZAROS,2008,p.35)

Mészaros aponta que a educação é disposta como mercadoria, mas

acredita que esta não deve qualificar para o mercado, parafraseia um

pensamento de Pracelso, pensador do século XVI reafirmando que a

“aprendizagem é nossa vida” por permear todas as fases de vida do ser

humano, sendo isto, verdade é necessário reivindicar uma educação para a

consciência, a fim de formar indivíduos político, ou seja, uma educação além

do capital.

A educação para além do capital, segundo a lógica do autor seria

um pensamento educacional baseado na superação da moldagem do

capitalismo e suas ramificações como o lucro, individualismo, competição,

alienação, da dissecção da internalização que corresponde a inculcação e

Page 9: Monografia Revisão de Literatura

adestramento dos indivíduos recebido de forma inconsciente frente à ideologia

do capitalismo, o que não significa uma mera reforma do sistema, pois:

Não se pode realmente escapar da “formidável prisão” do sistema escolar estabelecido, reformando-o, simplesmente. Pois o que existia antes de tais reformas será certamente restabelecido, mais cedo ou mais tarde, devido ao absoluto fracasso em desafiar por meio de uma mudança institucional isolada, a lógica autoritária global do próprio capital. O que precisa ser confrontado e alterado fundamentalmente é todo o sistema de internalização com todas as suas dimensões visíveis e ocultas. Romper com a lógica do capital na área da educação equivale, portanto, substituir as formas onipresentes e profundamente enraizadas de internalização mistificadora por uma alternativa concreta abrangente. (MÉSZAROS, 2008, p.46/47).

A superação da internalização do capital é feita pela “atividade da

contrainternalização coerente e sustentada, que não esgota na negação”

(p.56), mas na transformação emancipatória da educação pela tomada de

consciência do processo capitalista e suas relações de poder:

Portanto, seja em relação a “manutenção”, seja em relação a “mudança” de uma dada concepção de mundo, a questão fundamental é a necessidade de modificar, de uma forma duradoura, o modo de internalização historicamente prevalente. Romper a lógica do capital no âmbito da educação é absolutamente inconcebível sem isso. E mais importante, essa relação pode e deve ser expressa também de uma forma concreta. Pois através de uma mudança radical no modo de internalização agora opressivo que sustenta a concepção dominante do mundo, o domínio do capitão pode ser e será quebrado. (MÉSZAROS,2008,p.52/53)

O domínio do capital na educação quebrar-se-á quando houver uma

educação que propicie aos indivíduos um olhar compreensivo dos mecanismos

da sociedade mercantil que permita reconhecer que o sistema capitalista traz

desigualdades velada pela ideologia “ que todos são iguais perante a lei”, livres

para construir seus bens pelo esforço individual.

Nesse contexto que surge a palavra Meritocracia de acordo com

Barbosa tem micro destaque conceitual na sociedade brasileira, escassez de

pesquisas seguida de inconsciência da sociedade civil em discutir a questão.

Pontua o termo como “uma das mais importantes ideologias e a principal

critério de hierarquização social da sociedade modernas, que permeia todas as

dimensões de nossa vida social no âmbito publico”(p.21)

Apresenta a meritocracia em duas dimensões, inicialmente, a

negativa refere-se ao “conjunto de valores que rejeita toda e qualquer forma de

privilégios hereditário e corporativo que valoriza e avalia as pessoas

Page 10: Monografia Revisão de Literatura

independentemente de suas trajetórias e biografias pessoais”(BARBOSA,p.22),

sob esse raciocínio a meritocracia é um consenso ,ou seja, avalia-se com única

finalidade aferir competências desconsiderando posição social, enquanto a

dimensão afirmativa tem como critério “desempenho das pessoas, ou seja, o

conjunto de talentos, habilidades e esforços de cada um”(BARBOSA,p.22),

nesta dimensão não é consensual por considerar diversas formas de avaliar

por desempenho.

Explicita que a meritocracia em sua vertente afirmativa na sociedade

contemporânea é uma espécie de conquista positiva para o homem moderno

pela característica de individualização baseado na ideia que cada um recebe

segundo seu esforço construindo uma tipologia de homem autônomo,

competitivo, criativo esforçado aos moldes da versão thatcheriana produto da

ideologia neoliberal baseada no lema “o mundo não deve nada a

ninguém”(BARBOSA, 2006), em que “o primeiro passo prático das

meritocracias, portanto, é garantir igualdade de condições para a competição, e

o segundo é estabelecer processos de avaliação que permitam a identificação

precisa de hierarquias de desempenho”(BARBOSA,.p.34).

Igualdade de condições que desconsidera experiências pessoais

com foco em testar e mensurar. Pergunta-se até que ponto o mérito suplantará

a trajetória social?

Barbosa, ainda coloca que como princípio organizativo da sociedade

atual, dita igualitária de indivíduos livres há uma espécie de sistema de direitos

que é a Constituição no qual assegura que todos comungam da condição de

liberdade e igualdade por isso não é levado em conta aspectos social já que

todos nascem livres para conquistar seus ideais, daí a relação facetada de

igualdade e meritocracia, existente em uma:

Relação clara entre sociedades modernas, complexas e igualitárias e a vigência de uma ideologia meritocrática. O fato de uma sociedade hierarquizar seus membros para determinados fins, tomando como base seus atributos e talentos pessoais, não faz dela uma sociedade igualitária. Ou seja, ela não vai considerar sempre os indivíduos como tabulas rasas e diferenciá-los entre si apenas por meio de seus respectivos desempenhos, desconhecendo os atributos adquirido ou por nascimento ou por status. (BARBOSA,2006,p.32)

Page 11: Monografia Revisão de Literatura

O sistema meritocratico é uma exigência da sociedade democrática

sobre o principio de oportunidades de todos, cuja intencionalidade real é

selecionar evidenciando os melhores para as mais altas posições. Existe uma

diferença entre sistema meritocratico e ideologia meritocratica; a meritocracia

como critério lógico de ordenação social hierarquiza os indivíduos a parti de

seu talento ou esforço pessoal para especifico domínio social somente,

enquanto a meritocracia como ideologia assegura os lugares de destaque para

os melhores, ou seja.

Num universo social fundado numa ideologia meritocrática, as únicas hierarquias legítimas e desejáveis são aquelas baseadas na seleção dos melhores. Prestígio honra, status e bens materiais devem ser concedidos àqueles selecionados como melhores. (BARBOSA, 2008, p31)

Mais quem são os melhores?Quais são seus capitais culturais?

Quem seleciona? A inserção da meritocracia no Brasil sempre foi por ação de

Estado, desde a primeira constituição de 1824, que estabelecia “Todo cidadão

pode ser admitido aos cargos públicos civis, políticos ou militares, sem outra

diferença que não seja por seus talentos e virtudes” (BARBOSA, p.49).

Assegurava e pontuava um critério meritocrático de acordo com o

universo de saberes e desempenho do individuo, haja vista, posteriormente e

atualmente no Brasil;

A legitimação da diferença de resultados entre as pessoas é interpretada como desigualdade ontológica entre indivíduos, e não como diversidade de resultados. Ela suscita perguntas como “por que ele não eu”? “O que ele tem que eu não tenho”? É uma diferença que se define por faltas e carências que parecem indicar uma diferença não de desempenho, mas de natureza entre pessoas.Consequentemente, torna-se impossível a atribuição institucional legitima de recompensas a indivíduos com realizações diferenciadas. (BARBOSA, p.62)

A meritocracia na concepção brasileira faz referência a diferenças de

natureza enquanto “ser”, individuo. O desempenho atrelado à avaliação é um

poder arbitrário, desigual, excludente, seletivo, recebido com resistência.

Segundo Barbosa, isso se dá em virtude do fator cultural desde a

colonização do país, o qual o meio de sobrevivência sempre foi feito a parti da

exploração do outro, escravo, a ideia que se tinha do trabalho braçal era

indigna, louvacionavam a ociosidade enquanto na ótica norte-americana existia

uma relação mútua entre homem/trabalho/riqueza/dignidade (p.66/67), desta

Page 12: Monografia Revisão de Literatura

feita na sociedade norte-americana “as desigualdades naturais e de

desempenho, estas sim são consideradas substantivas, pois delas resultam

produtos individuais diferentes, sendo legitimas essas distinções para fins de

reconhecimento e hierarquização social (BARBOSA, p.65), as diferenças são

transformadas em resultados positivos sob responsabilidade de todo

organicidade social.E no Brasil as habilidades desiguais é de responsabilidade

do individuo em que as “desigualdades naturais são interpretadas,

exclusivamente, como oriundas das condições sociais dos indivíduos e não

como conteúdo distintos de uma mesma forma”(BARBOSA,p.65), sendo

estigmatizado de incompetente por não atingir as exigências, o perfil de homem

que a aristocracia impõe.

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Capitulo 2

2- O Sistema avaliativo e a noção de campo e habitus de Bourdieu

2.1.Pedagogia e o sistema avaliativo

Universalmente a escola é o espaço de aprendizagem e ensino com

sujeitos definidos, ações determinadas e resultados esperados, isso porque a

organização pedagógica metodológica é pautada por concepções de valor

implicitamente. Então pergunta-se, qual é o objetivo da educação?

Segundo as Diretrizes Curriculares Gerais da Educação Básica, a

educação deve (DCN’S, 2013, p.16) “fundamenta-se na ética e nos valores da

liberdade, na justiça social, na pluralidade, na solidariedade, cuja finalidade é o

pleno desenvolvimento dos seus sujeitos”; concepção que contempla a

heterogeneidade, aspectos sociais/culturais, o desenvolvimento físico,

cognitivo, corroborando, o espaço escolar é considerado como uma

“organização temporal que deve desprende-se da rigidez, segmentação,

uniformização a fim de que os estudantes indistintamente possam adequar

seus tempos de aprendizagens de modo menos homogêneo e idealizado”

(DCN’S, 2013, p.16), definição que descreve uma instituição harmônica,

igualitária com suas regras mais amenas considerando e reconhecendo a

diversidade dos alunos, contudo, o real distancia-se do ideal, por isso, qual é a

função real da escola?

A escola enquanto instituição é subordinada ao Estado no qual

segue diretrizes gerais preconizadas por este, sendo assim, percebe-se uma

espécie de tradição educacional no que tange os componentes organizativos

nas escolas a parti de uma sequencia didática obedecida em: ensino,

conteúdos, (possível) aprendizagem e avaliação, esta ultima sob o olhar do

professor, já que no âmbito escolar o sujeito do processo avaliativo sempre é o

aluno, então, o objetivo do espaço escolar é a aprendizagem?

Luckesi (2001, P.17) a esse respeito diz “a nossa prática educativa

escolar passou a ser direcionada por uma pedagogia do exame”, em que a

escola ensina, ou melhor, “treina” os educandos para resolver provas de

vestibulares, propondo um ensino direcionado, baseado em conteúdos seguido

Page 14: Monografia Revisão de Literatura

de avaliação, porém, “nem tudo que é ensinado é avaliado, nem tudo que é

avaliado foi devidamente ensinado”, explicita Perrenoud (1999)

A escola está associada a notas, aprovações, reprovações,

desempenho a parti de avaliações que são aferidos conhecimentos com

finalidade de classificar alunos em aceitos e não aceitos, excelente, bom.

regular acompanhado por notas respectivas 10,9 e 7, prática fundamentada

pelo ritual avaliativo das escolas em geral “após um período de aulas e

exercícios escolares, denominado unidade de ensino, os professores procedem

a atos e atividades que compõem o que é denominado avaliação da

aprendizagem escolar”(LUCKESI, 2001, p. 67).

Sob esse ângulo de avaliação escolar atrelada a classificações e

hierarquizações, Zabala pontua:

Os professores, as administrações, os pais e os próprios alunos se referem a avaliação como instrumento ou processo para avaliar o grau de alcance de cada menino e menina em relação a determinados objetivos previstos nos diverso níveis escolares.Basicamente, a avaliação é considerada como instrumento sancionador e qualificador, em que o sujeito da avaliação é o aluno e somente o aluno, e o objeto da avaliação são as aprendizagens realizadas segundo certos objetivos mínimos para todos. (ZABALA,1998,p.195)

O autor coloca que o foco da avaliação é o aluno pela tradição

escolar avaliadora cuja “avaliação” é considerada um instrumento de

aprovação, admissão no qual seleciona alunos para continuar ou não a

escolarização, desse modo, a escola hierarquiza os alunos por graus de

conhecimentos em “bons de leitura”, “melhores em ciência”, “fracos em

matemática” resultando em aprovações, reprovações e evasões. Ainda

Perrenoud reitera nessa linha de certificação, dizendo:

A avaliação é tradicionalmente associada na escola, a criação de hierarquias de excelência.Os alunos são comparados e depois classificados em virtude de uma norma de excelência, definida no absoluto ou encarnada pelo professor e pelos melhores alunos.(PERRENOUD,1999,p.11)

Apesar de que se diga pedagogicamente que o ato de avaliar é

diagnostico, a verdade se distancia na pratica, quando são notas registradas no

histórico escolar estereotipando o aluno para toda a vida, por isso, que Zabala

(2007,p.199) acredita que “quando o ponto de partida é a singularidade de

cada aluno é impossível estabelecer níveis universais”, considerando isto há

Page 15: Monografia Revisão de Literatura

superação do processo de avaliar por competências possibilitando a

participação do aluno como sujeito de sua aprendizagem.

Portanto avaliar na perspectiva pedagógica não é sinônimo de

exames representados por semanas avaliativas registrado em calendário

escolar com objetivos de testar aprendizagens, ao contrario:

Avaliar é o ato de diagnosticar uma experiência, tendo em vista reorientá-la para produzir o melhor resultado possível; por isso, não é classificatória nem seletiva, é diagnostica e inclusiva.O ato de avaliar tem seu foco na construção dos melhores resultados possíveis, enquanto o ato de examinar está centrado no julgamento de aprovação ou reprovação.(LUCKESI,2002,p.05)

Acredita-se na avaliação como diagnóstica, onde a atribuição do

valor visa compreender o estágio de aprendizagem do aluno a parti de

decisões que favoreçam o processo de aprendizagem para o progresso

educacional e não reprovação ou estagnação.

Em consonância com a concepção anterior, Hoffmann entende que

avaliar não é julgar referindo-se ao termo como “um conjunto de procedimentos

didáticos que se estendem por um longo tempo e em vários espaços escolares,

de caráter processual visando a melhoria do objeto avaliado”

(HOFFMANN,2012,p.13), evidenciando que os instrumentos avaliativos não

devem ser confundidos por “avaliação” quando se é citado “procedimento

didático”, estes são instrumentos que integram o processo,logo, avaliar exige

um fazer pedagógico voltado para o desenvolvimento do sujeito avaliado sob

uma postura de ação-reflexão-ação de quem avalia, o professor.

A parti das concepções pedagógicas em torno da avaliação escolar

discutida neste estudo, a figura do educador é ressaltada no que tange sua

atuação como avaliador, se é praticante de uma pedagogia classificatória ou da

pedagogia do diagnóstico, que dependerá do seu olhar sobre a educação e da

incorporação do seu oficio, se atua como critico de sua pratica ou é um

integrante da pedagogia do fingimento; se compreende a educação como meio

propiciador de um cabedal para leitura de mundo que impulsiona o aluno a uma

experiência de reflexão, já que “uma das tarefas precípuas da pratica

educativo-progressista é exatamente o desenvolvimento da curiosidade crítica,

Page 16: Monografia Revisão de Literatura

insatisfeita, indócil”(FREIRE,2010,p.32) em que o desabrochamento da

criticidade florescerá da vivencia contextualizada, voltada para a valorização

da cultura individual de cada aluno como individuo proveniente de uma

organicidade particular.

2.2. Crítica sociológica ao sistema escolar segundo Bourdieu

Se para a pedagogia a escola é um espaço democrático de ensino

com foco na aprendizagem do aluno, local educativo de desenvolvimento do

individuo. Para Bourdieu a escola perpetua desigualdades funciona como um

lugar de hierarquização social de valores dominantes através da violência

simbólica instrumentalizada pela ação pedagógica.

Isso porque cada um de nós possui um habitus que está relacionado

ao seu lugar de vivência a um campo, equivalente ao seu meio de

pertencimento. Cada pessoa é um se único, cresce e se constrói enquanto

sujeito social pelos processos de socialização em uma organicidade particular

onde adquire interiorizações a parti das estruturas externas do meio que são

reproduzidas internamente são estas interiorizações que determinam o gosto,

as preferências, opiniões, visão de mundo denominado de habitus que é:

Esse principio unificador e gerador de todas as práticas e, em particular, destas orientações comumente descritas como “escolhas” da “vocação”, e muitas vezes considerados efeitos da “tomada de consciência”, não é outra coisa senão o habitus, sistema de disposições inconscientes que constituem o produto da interiorização das estruturas objetivas e que enquanto lugar geométrico dos determinismo objetivos e de uma determinação do futuro objetivo e das esperanças subjetivas, tende a produzir praticas e por esta via, carreira objetivamente ajustadas as estruturas objetivas.(BOURDIEU,2007,p.201/202)

É uma espécie de encarnação das estruturas sociais adquirida de

forma inconsciente como se tomassem posse de nós principiando um modo de

agir, perceber, apreciar, julgar em que dentro desse agir há uma classificação

que é a particularidade de cada um, desse modo, o habitus é a somatização de

aspectos objetivos (sociedade) e aspectos subjetivos(individuo), é um principio

gerador de práticas e ao mesmo tempo sistema de classificação de tais

práticas ligado a um campo como define a cima Bourdieu.

Page 17: Monografia Revisão de Literatura

Pierre Bourdieu entende a organização da sociedade por campos,

que são espaços orientados por características peculiares em que seu

funcionamento é regido por leis próprias, relacionado a uma forma dominante

de capital, assim cada campo é dotado de praticas especificas correspondente

a um habitus. O campo religioso prima por dogmas e doutrina enquanto o

campo jornalístico volta-se para verdades relativas para desconstrução de

verdades absolutas buscando versões para uma mesma noticia já o campo

educacional é orientado por uma cultura erudita, letrada, conteúdos que exige o

domínio dos alunos, por isso:

Compreender a gênese social de um campo é apreender aquilo que faz a necessidade especifica da crença que o sustenta do jogo de linguagem que nele se joga, das coisas materiais e simbólicas em jogo que nele se geram, é explicar, tornar necessário, subtrair ao absurdo do arbitrário e do não motivado os atos dos produtores e as obras por eles produzidas e não como geralmente se julga, reduzir ou destruir.(BOURDIEU, 2007,p.69)

A constituição do individuo se dá pela incorporação das estruturas

sociais por experiências cumulativas na família e comunidade; a essas

construções geradoras de praticas coletivas e individuais é o habitus adquirido

no campo, local de especificidades correspondente a um capital especifico,

sendo assim, quem possui o capital exigido de um determinado campo é

participante deste por comungar da mesma filosofia em que:

Cada uma das posições típicas no campo correspondente, uma forma típica de relação entre a fração dominante- dominada. Em termos mais precisos, é através da relação que as categorias de agentes vinculados a cada uma destas posições mantêm com o mercado e através da relação que se define o grau como o que se enfatiza objetivamente a pertinência ou a exclusão e paralelamente a forma da experiência que cada categoria de agente. (BOURDIEU, 2007, p.193)

Então, cada agente possui uma posição especifica no interior de

cada campo que depende do grau de apropriação de capital exigido no campo.

No campo escolar é cobrada aquisição de conteúdos de todas as disciplinas

ministradas por meio da avaliação que é a prova transformada em notas,

quando maior a nota que geralmente é 10, maior ascensão de sucesso escolar

em contra partida quando menor for à nota mais o individuo se distancia do

habitus do campo escolar.

Nessa lógica, o sistema escolar é um campo com suas idealizações,

valores, filosofia, modelo de homem que contribui para o favorecimento de

diferenças de cunho social, classifica por desempenho, avalia posturas,

Page 18: Monografia Revisão de Literatura

atitudes por uma ótica padronizada, onde os mais propícios ao sucesso são

comumente os herdeiros de famílias privilegiadas com posição econômica

elevada, partindo desse principio que:

A cultura da elite é tão próxima da cultura escolar que as crianças originárias de um meio pequeno burguês não podem adiquirir senão penosamente o que é herdado pelos filhos de classes cultivadas: o estilo, o bom gosto, o talento, em síntese, essas atitudes e aptidões que só aparecem naturais e naturalmente exigíveis dos membros da classe cultivada, por que constituem a “cultura” dessa classe.Não recebendo de suas famílias nada que lhes possa servir em sua atividade escolar a não ser uma espécie de boa vontade cultural vazia, os filhos de classe médias são forçados a tudo receber da escola, e sujeitos ainda por cima a ser repreendido pela escola por suas condutas por demais “escolares”(BOURDIEU,2010,p.55)

A escola é o espaço de saberes globais, caracterizada por ensino,

métodos, critério de avaliação no qual trata o indivíduo como se não fosse

único em seu saber, anula os conhecimentos dos alunos quando exige

conhecimentos de todos desconsiderando as trajetórias sociais funcionando

como um campo de reprodução de valores dominantes da cultura letrada

reafirmada pela classificação de alunos, enquanto uns já estão preparados,

naturalizados em tal cultura e outro não possui este privilégio, por isso:

O indivíduo que tem um nível de instrução mais elevado tem as maiores chances de ter crescido em um meio culto. Ora, nesse domínio, o papel da incitação difusas propiciada pelo meio familiar é particularmente determinante.Se a ação indireta da escola (produtora dessa disposição geral diante de todo tipo de bem cultural que define a atitude “culta”) é determinante, a ação direta, sob a forma de ensino artístico ou dos diferentes tipos de incitação à prática (visitas organizadas, etc) permanece fraca: deixando de dar a todos, através de uma educação metódica, aquilo que alguns devem ao seu meio familiar.(BOURDIEU,2010,p.60/61)

A escola não coloca em balança as diferentes culturas dos alunos

que provém de meios sociais desiguais evidenciando a importância de cada

uma, ao contrário oportuniza vantagem para quem já tem vantagem, destaca

os melhores alunos em detrimento dos maus alunos pelo discurso do mérito de

‘quem estuda certamente conseguirá aprovação escolar’ disseminado por um

mecanismo invisível que não é sentido, mas é imposto violentamente que é a

violência simbólica justificada pela:

Ideologia do “dom”, chave do sistema social que contribui para encerrar os membros das classes desfavorecidas no destino que a sociedade lhe assinala, levando-os a perceberem como inaptidões naturais o que não é se não efeito de uma condição inferior, e perssuadindo-os de que eles devem o seu destino social (cada vez

Page 19: Monografia Revisão de Literatura

mais estreitamente ligado ao seu destino escolar) a medida que a sociedade as racionaliza a sua natureza individual e a sua falta de dons.O sucesso excepcional de alguns indivíduos que escapam ao destino coletivo dá uma aparência de legitimidade a seleção escolar e dá credito ao mito da escola libertadora junto aqueles próprios indivíduos que ela eliminou fazendo crer que o sucesso é uma simples questão de trabalho e de dom.(BOURDIEU,2010,p.59)

Segundo Bourdieu a ideia de dons/aptidão/mérito é impetrada pela

escola por violência simbólica por meio da ação pedagógica, é justamente a

violência simbólica com sua “função política de instrumento de imposição ou de

legitimação da dominação que contribuem para assegurar a dominação de uma

classe sobre outra contribuindo para domesticação dos dominados como

segundo a expressão de Weber”(BOURDIEU,2007,p.11), que mascara o mérito

como fator de ascensão desprezando a influência da história social do

indivíduo com discurso impecavelmente articulado pela :

Ação pedagógica que implica o trabalho como trabalho de inculcação que deve durar o bastante para produzir uma formação durável, isto é, um habitus em produto da interiorização dos princípios de um arbitrário cultural capaz de perpetuar-se após a cessação da ação pedagógica e por isso de perpetuar nas práticas os princípios do arbitrário interiorizado. (BOURDIEU; PASSERON, 2011, p.53)

A escola pela ótica Bourdiessiana é um espaço de lutas de certa

forma inconsciente daqueles que não possuem os meios de aquisição do

habitus escolar que são os capitais no seu estado incorporado, objetivado e

institucionalizado frente aos que detém socialmente estes meios por isso são a

classe dominante com toda chance de sucesso educacional por dialogar no

mesmo nível cultural com o sistema escolar.

Page 20: Monografia Revisão de Literatura

Capitulo 3

3-Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM): uma critica a equidade e

diversidade padronizada fundamentada em Pierre Bourdieu.

3.1 Histórico ENEM:

O ENEM foi instituído no governo de Fernando Henrique Cardoso

(FHC) em 1988 por meio da Portaria Ministerial n° 438 de 28 de maio de 1998,

em seu artigo 1°:

Art. 1º Instituir o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, como procedimento de avaliação do desempenho do aluno, tendo por objetivos: I – conferir ao cidadão parâmetro para autoavaliação, com vistas à continuidade de sua formação e à sua inserção no mercado de trabalho; II – criar referência nacional para os egressos de qualquer das modalidades do

ensino médio;

III – fornecer subsídios às diferentes modalidades de acesso à educação superior; IV – constituir-se em modalidade de acesso a cursos profissionalizantes pós-

médio

Objetivava avaliar o desempenho do estudante ao fim da educação

básica, buscando contribuir para a melhoria da qualidade desse nível de

escolaridade.

Entretanto no governo de Luís Inácio da Silva em 2006 houve uma

remodelagem no foco do exame apontando indícios de acesso ao ensino

superior por meio do ENEM a outros programas governamentais ,segundo a

Portaria n°7, de 19 de janeiro, inciso iv: Art. 2º Constituem objetivos do Enem:

[...] IV - possibilitar a participação e criar condições de acesso a programas

governamentais. O Enem nesse período configurava-se por uma prova de 63

questões de caráter interdisciplinar realizada em um dia.

A partir de 2009 passou a ser utilizado como mecanismo de seleção

para o ingresso no ensino superior. Foram implementadas mudanças no

Exame que contribuem para a democratização das oportunidades de acesso às

vagas oferecidas por Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), bem

como, acesso ingresso em diversos programas do governo Federal como o,

PROUNI (Programa universidade para todos) , PRONATEC e CIENCIAS SEM

Page 21: Monografia Revisão de Literatura

FRONTEIRAS também por financiamento estudantil FIES, esses programas

são as portas que o Enem propicia.Há essas alterações definiu-se também

novas referencias na estrutura da prova pelo órgão responsável pela aplicação

do exame (INEP) constituída de quatro áreas do conhecimento, sendo quatro

provas com 180 questões seguindo o padrão interdisciplinar com realização em

dois dias.

De acordo com a Diretriz do novo Enem (Matriz de referencia)/Inep

no item 8 que discorre sobre a estrutura do exame;

item 8.2 “O exame será constituído de redação em língua

portuguesa e quatro provas objetivas contendo cada uma 45 questões de

múltipla escolha”:

item 8.3 As quatros provas objetivas e a redação avaliarão as

seguintes áreas de conhecimentos do Ensino Médio e os respectivos

componentes curriculares:

Ciências Humanas e suas tecnologias

(História, Geografia, Filosofia e Sociologia)

Ciências Humanas e suas tecnologias

(Química Física e Biologia)

Linguagens, códigos e suas tecnologias e redação.

(Língua portuguesa, literatura, língua estrangeira, artes,

educação física e tecnologias da informação)

Embora a proposta do Enem seja aversão à aprendizagem

mecânica primando por uma aprendizagem construída ao longo da vida

educacional pauta-se em conteúdos curricular descrito acima, com questões

longas obedecendo à linguagem formal com muitas questões, um sistema de

avaliação que exige habilidade leitora, compreensão rápida que nem todos

possuem a nível de Brasil .

O Enem é orientado por eixos cognitivos comuns as áreas de

conhecimento de acordo com o portal do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas (INEP EIXOS COGNITIVOS), no item “conteúdos de provas”:

Page 22: Monografia Revisão de Literatura

I. Domínio de linguagem: dominar a norma culta da língua

portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e cientifica das

línguas espanholas e inglesas.

II. Compreensão de fenômenos: Construir e aplicar conceitos das

áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de

processos históricos geográficos, da produção tecnológica e das manifestações

artísticas.

III. Enfrentar situações problemas: selecionar, organizar, relacionar,

interpretar dados e informações representados de diferentes formas para tomar

decisões e enfrentar situações-problema.

IV. Construção de argumentos: relacionar informações,

representadas em diferentes formas e conhecimentos disponíveis em situações

concretas para construir argumentação consistente.

V. Elaboração de proposta: recorrer aos conhecimentos

desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária

na realidade, respeitando os valores humanos considerando a diversidade

sociocultural.

No anexo IV da Matriz de referencia do Enem/Inep referencia a

redação subsidiada por cinco competências:

I. Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua

portuguesa.

II. Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das

várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites

estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

III. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos,

opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

IV. Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos

necessários para a construção da argumentação.

V. Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado,

respeitando os direitos humanos.

Uma prova com requisitos exigíveis cuja avaliação não deixa de ser

conteudista permeada por domínios atrelados a formalização escolar.

Page 23: Monografia Revisão de Literatura

No artigo 36 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9394/96 evidencia

diretrizes para o currículo do ensino médio, vale destacar o inciso II o qual

afirma que esta etapa da educação deverá adotar “ Metodologias de ensino e

de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes”(p.96). Será que o

sistema de ensino tem apresentado a avaliação como uma etapa auxiliadora na

aprendizagem do aluno ou como algo punitivo e qualificador, e quanto o Enem

tem sido um instrumento de democratização a fim de oportunizar acesso a

todos sem distinção ou instrumento de padronização de competências

sancionador com obrigação de domínio dos diversos conteúdos das quatro

áreas de conhecimento?

Afinal “os alunos não são indivíduos abstratos que competem em

condições igualitárias na escola, mas atores socialmente constituídos que

trazem em larga bagagem social e cultural diferenciada” (NOGUEIRA;

NOGUEIRA, 2002, P.03)

O Enem é uma prova optativa acontece anualmente, em sua

primeira edição alcançou “157 mil estudantes inscritos”, e em seu quarto ano,

em 2001, “o exame alcançou a primeira marca expressiva: 1,6 milhão de

inscritos e de 1,2 milhão de participantes”, ano passado “2014 foram cerca de

8,7 milhões” (PORTAL BRASIL, 2013)

No ano corrente excepcionalmente segundo o atual ministro Renato

Janine Ribeiro o Enem será realizado nos dias 24 e 25 de outubro. Entre as

novidades deste ano estão “o horário de aplicação das provas, se dará

somente meia hora após o fechamento dos portões, os candidatos terão das

12h a 13 h para chegarem aos locais de prova; além disso, o cartão de

confirmação que era enviado pelos correios deverá ser acessado e impresso

pelo candidato no site do Enem, como medida de economia em 18 milhões,diz

Ribeiro ,e por fim o aumento da taxa de inscrição de 35,00 para 63,00 e a

revogação do direito da isenção do exame para aqueles que não

comparecerem no dia da prova” (PORTAL EBC, 2015).

Page 24: Monografia Revisão de Literatura

3.2 Crítica a equidade

A Constituição Federal de 1988, no capitulo I - dos direitos e deveres

individual e coletivo, no artigo 5°, garante o principio de igualdade a todos:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade(...) (BRASIL, 2008,p. 5)

Assegura a equidade em nível geral buscando promover o bem de

todos independente de origem/raça/cor.Ainda garante em seu artigo 205 a

educação como direito de todos e dever do estado no capitulo III, da Educação,

Cultura e Desporto, seção I:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 2008, p.136).

Explicita claramente o papel do Estado como bem feitor em garantir

oportunidades educacionais igualitárias. Atualmente essas oportunidades estão

ligadas a ampliação de portas de acesso a educação básica em especifico o

ingresso ao nível superior pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) cujo

objetivo é “ acesso a educação superior, tanto em programas do ministério da

educação como SISU, SISUTEC(sistema de seleção unificada técnico e

profissional), Ciências sem Fronteiras(bolsas de estudos no exterior),PROUNI

(programa universidade para todos) quanto em financiamento estudantil FIES “

(INEP)

O ENEM é um sistema de avaliação unificado aplicado nas cincos

regiões do Brasil no qual avalia desempenho dos estudantes nas quatro áreas

de conhecimento fundamentado pelo discurso de democratização da educação

e ascensão por mérito. Nas palavras do ex ministro Aloizio Mercadante em

24/01/12 fica claro essa ótica, declara : “O Enem é a vital porta de acesso que

tende igualar a distribuição de oportunidades que o ensino superior dá aos

jovens” (REDE DE COMUNICADORES, 2012).

Como igualar oportunidades desconsiderando as diferenças de

vivencia regional e experiências de vida particular de cada região? Que

equidade é essa promovida pelo governo que não leva em conta os capitais

Page 25: Monografia Revisão de Literatura

culturais e habitus de milhões de alunos de todo o Brasil, pois na medida em

que o Enem avalia por padronização de conhecimentos nesse momento divide,

estratifica, lógica reafirmada as palavras do ex-ministro da educação Henrique

Paim “O Enem além de ser uma porta de acesso a educação superior, é uma

régua que se define para o país inteiro, coloca os melhores estudantes nas

melhores universidades do Brasil1”( PORTAL UFAL, 2014).

A nomenclatura “melhores” tem sido perpetuado e atrelado a

esforço, virtudes e dons, o sistema avaliativo Enem configura-se nesta

perspectiva, até por que:

A igualdade que pauta a prática pedagógica serve como máscara e justificação para a indiferença no que diz respeito as desigualdades reais diante do ensino e da cultura transmitida, ou melhor exigida. Toda sociedade onde se proclamam ideais democráticos, protege melhor os privilégios do que a transmissão aberta dos privilégios. (BOURDIEU, 2010,p. 53)

O Enem é uma realidade latente de acesso ao ensino superior como

produto de uma seleção que acontece ao longo do percurso escolar camuflado

por justificativas ideológicas que atribuem a responsabilidade de fracasso ao

aluno. Avaliação de caráter classificatório voltada para o aluno e não sobre si

mesma correspondendo a uma prática avaliativa antipedagógica de literal

constatação.

Em que a relevância do exame concentra-se na evidência de

quantidades de saberes e não no aluno enquanto sujeito, no domínio das 120

exigências e habilidades distribuídas em quatro áreas de conhecimento sendo

em Linguagens 9 áreas de competência e 30 exigências de habilidades,

Matemática e sua tecnologias 8 áreas correspondendo a 30

habilidades,Ciências da natureza 6 contemplando 30 habilidades (INEP

MATRIZ DE REFERÊNCIA). Vale destacar algumas dessas competências e

habilidades referenciada pela diretriz do Enem/Inep a fim de compreender se

tal universalização do saber considera as condições sociais de todos ou

favorece a poucos.

1 Entrevista realizada em 31/10/2104 pela jornalista Simoneide Araujo com Henrique Paim na época ministro da educação pelo portal da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Extraído do site:http://www.ufal.edu.brpaim, em 19 . jan. 2014.

Page 26: Monografia Revisão de Literatura

Competência de área 2, habilidade 14 de Linguagens, códigos e

suas tecnologias pontua, “Reconhecer o valor da diversidade artística e das

inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários

grupos sociais e étnicos”

Como? Se a escola é voltada para valorização de uma arte, a

rebuscada, teatro, Musica Popular Brasileira que nada tem de popular, livros

clássicos em detrimento a arte de rua dita marginal como o grafite e Hip hop

proveniente da favela.

Em Ciências da natureza e suas tecnologias, competência de área

8 , habilidade 28 estabelece “ associar características adaptativas dos

organismos com seu modo de vida ou com seus limites de distribuição com

diferentes ambientes em especial em ambientes brasileiro” E por que não

ambientes regionais? A fim de contemplar a diversidade cultural do aluno, seu

espaço de vivencia.

Competência de área 5, habilidade 24 de Ciências humanas e suas

tecnologias referencia “ relacionar democracia e cidadania na organização das

sociedades”

Paradoxal citar democracia em uma sociedade desigual dividida por

aspectos econômicos e sociais onde a cidadania é relacionada à alfabetização

e ao voto.

A dinâmica do Enem é organizada a fim de hierarquizar alunos

frente suas diversidades culturais por impor um conjunto de habilidades e

competências comuns para todos. Para tanto coloca os alunos como vilões

atribuindo-lhes incapacidades, desinteresses, desajustamentos de

aprendizagens faz isso com seus métodos, programas curriculares sutilmente,

cumprindo o ato de conservar socialmente pelo nível de conhecimento

cientifico adquirido pelos alunos somente do espaço escolar gerando

portadores de uma cultura elitizada e portadores de uma cultura inferior, dessa

forma:

Page 27: Monografia Revisão de Literatura

Se considerarmos seriamente as desigualdades socialmente condicionadas diante da escola e da cultura, somos obrigados a concluir que a equidade formal a qual obedece todo sistema escolar é injusta de fato, e que, em toda sociedade onde se proclamam ideais democráticos, ela protege melhor os privilégios do que a transmissão aberta dos privilégios.Com efeito, para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Em outras palavras, tratando todos os educandos, por mais desiguais que sejam eles de fato, como iguais em direitos e deveres, o sistema escolar é levados a dar sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura. (BOURDIEU, 2010, p.53)

Desempenho, habilidades, exigências, hierarquizações são adjetivos

que delimitam o perfil do aluno para o exame desconsiderando que somos

falantes da mesma língua, mas não falamos a mesma linguagem, não

utilizamos os mesmos meios de comunicação para nos expressarmos, não

adquirimos conhecimentos de uma única e mesma fonte, não frequentamos

mesmos lugares, não compartilhamos de códigos em comum, nem todos

participam da cultura erudita fora da escola enfim não comungamos do mesmo

capital cultural e tampouco somos dotados de habitus iguais.

Por que então exigir saberes globais que é o oposto da proposta de

diversidade? Aquele individuo que possui mais experiências sociais próximas

da escola tem maior acumulo de capital cultural e certeza de sucesso! Ou será

que o garoto pobre é enxergado na escola como “nerd”? Há disseminação de

discursos em transformar privilégio sociais em naturais, haja vista:

A ‘inteligência’, o ‘talento’ ou o ‘dom’, são os títulos de nobreza da sociedade burguesa que a escola consagra e legitima ao dissimular o fato de que as hierarquias escolares que ela produz por uma ação de inculcação e de seleção aparentemente neutra, reproduzem as hierarquias sociais no duplo sentido do termo, por esta via, o sistema de ensino não cumpre apenas uma função ideológica, mas de fato concede a sanção de seus veredictos a uma das formas mais encobertas e mais eficazes do privilégio de classe, aquilo que se poderia denominar o privilégio de uma forte aceleração ( BOURDIEU, 2007, p.241)

Indaga-se nesse estudo, se o Enem como sistema avaliativo é

pautado de fato pela equidade de acesso ao ensino superior? Desta forma,

cabe ilustrar a pior média de desempenho no Enem no ano de 2013, segundo o

Page 28: Monografia Revisão de Literatura

Jornal Folha de São Paulo2 “ Três das dez escolas com os piores resultados no

ENEM 2013 estão o Maranhão, no povoado de Cachimbos município de Jatobá

( a 433 km de São Luis) é a ultima das 14.715 no ranking: a escola Aluisio

Azevedo”(FOLHA DE S.PAULO, 2013) Será novidade? Vamos ser realistas! O

que se tem presenciado é o mais baixo nível de ensino aqui e em muitas

regiões do país, não precisa nem ser pesquisador para admitir tal crueldade,

pois já estar em demasiado evidência, como diz o professor de inglês desta

escola maranhense Reijunior Santos Soares, “ Temos uma estrutura precária

falta de material, de orientação e gestão, essa é a realidade daqui” (FOLHA DE

S. PAULO, 2013) .Considero que democratizar a educação é oferecer

subsídios de estruturação física, material, instrumentalização pedagógica,

professores com formação sólida, legislação de pratica e não só de fala, gestão

de ensino democrática, conteúdos, metodologias para o aluno e também

considerar sua especificidade de localidade seja bairro, cidade, estado, país

pautando praticas e procedimentos correspondente as condições socioculturais

destes, não dá para homogeneizar a avaliação do processo educativo por que

estamos falando de gente e gente diferente.

Ainda a matéria encerra pontuando a nota média da escola no

exame “foi de 397,03 corresponde a pouco mais da metade do desempenho da

melhor escola no ENEM, o colégio Objetivo Integrado de São Paulo(esfera

privada) com média de 737,152 com maior número de escolas com melhores

resultados contabilizando 77; [ainda] entre as 100 piores escolas 44 estão no

nordeste com 15 escolas nesta lista o Piauí é o estado com maior número de

escolas com menor desempenho, em seguida Maranhão 9, Ceara 7, Sergipe 5,

Rio grande do Norte 4 e Bahia 4.” (FOLHA DE S.PAULO, 2013)

Ora diante de tal disparidade entre região sudeste e nordeste no

exame, pergunta-se: Por que a diferença de resultados? Será que os alunos de

São Paulo são melhores estudantes que devem por merecimento próprio

ingressar nas ‘melhores’ universidades? O que quer dizer a expressão ‘melhor

universidade’? Os alunos do Maranhão não são inteligentes? Há diferença

2 Divulgação realizada e tabulada pelo jornal Folha de São Paulo tendo como fonte o MEC (Ministério da Educação). Disponível em: < http://www.folha.uol.piores_escolas_enem > em 19. Abr.2105.

Page 29: Monografia Revisão de Literatura

entre a educação da escola pública e privada?Qual a finalidade de classificar

escolas em piores ou melhores?É correto classificar alunos estereotipando por

notas? A diferença de resultados se dá por apropriação de informações a

meios culturais (internet ,TV a cabo, celular) diferenciadas entre os alunos?

Há dissimulação em mérito escolar o que são de fato heranças

culturais no qual:

Compreende-se que para desempenhar-se completamente dessa função de conservação social, o sistema escolar deva apresentar a ‘hora da verdade’ do exame como sua verdade da equidade escolar, portanto formalmente irrepreensível que o exame opera e assume, dissimula a realização da função de sistema escolar, obnubilando pela oposição entre os aceitos e os recursados a relação entre os candidatos e todos os que o sistema excluiu de fato do número dos candidatos, e dissimulando assim os laços entre o sistema escolar e a estrutura das relações de classes. (BOURDIEU; PASSERON, 2011, p 195)

Assim a definição de aprovados e reprovados via exame nacional do

ensino médio inicia antes mesmos da efetivação da prova pois é pensado para

um determinado perfil econômico cultural relacionando o insucesso ao mérito

ocultando a questão de desigualdade de oportunidades de um arbitrário

dominante.

3.3 Padronização

O Enem é caracterizado como uma das mudanças mais

significativas no aspecto educacional nos últimos tempos por ser uma prova

diferente dos vestibulares tradicionais cuja proposta volta-se para solução de

problemas sobre o cotidiano, o aluno é avaliado por conceitos que saibam

aplicar no dia a dia em uma perspectiva interdisciplinar combatendo a

“decoreba”, contudo tem como parâmetro básico padronizar saberes através de

uma serie de habilidades e competências descritas no capitulo anterior com o

discurso de garantir iguais condições de participação entre estudantes de

qualquer região do país sob o principio de neutralidade.

Page 30: Monografia Revisão de Literatura

Vale mencionar um dos requisitos padronizados e cobrados na

redação cuja organização é dada a parti de uma situação problema de ordem

política, social e cultural com produção de texto dissertativo argumentativo por

competência precípua “Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da

língua portuguesa”. Porém mais uma vez ao privilegiar a norma culta da língua

portuguesa promove distinção entre os que possuem uma trajetória social

configurada por capital cultural rebuscado e os que possuem uma cultura de

vivencia em ambientes poucos escolarizados, de linguagem e comportamento

popular que não são norteados por regras gramaticais ou “bons modos” de

etiqueta, são excluídos por serem destituídos de condições sociais e históricas

exigidos para a produção redacional do exame, desta feita:

Uma das funções do sistema de ensino seria assegurar o consenso das diferentes funções acerca de uma definição minimal do legitimo e do ilegítimo, dos objetivos que merecem ou não ser discutidos, do que se pode ignorar, do que pode e deve ser admirado. (BOURDIEU apud GONÇALVES; GOLÇALVES, 2011, p.69)

Nesse sentido o Enem avalia de maneira que exclui os incluídos

segundo a expressão de Vasconcellos(2011), tem proposta de contemplar a

diversidade dos alunos do Brasil por homogeneização de conhecimentos assim

não leva em conta as variações de linguagem inerente ao individuo impondo

como legitimo o que o sistema de ensino determina.

Entretanto, há o outro lado da moeda quando um aluno pobre

socialmente excluído consegue ser aprovado com louvor no Enem superando

expectativas, contrariando estatísticas provando que com esforço se consegue

vencer na vida como o caso do aluno João Vitor Claudiano dos Santos “O nerd

que acertou 95% do ENEM” (PORTAL O POVO, 2014)

Dada à relevância de tal feito e significativa repercussão em diversos

jornais do país de elevada notoriedade, interessa destacar aqui trechos da

matéria e da fala do estudante:

“Criado pela mãe, a aposentada Ana Maria Santos, moradora do

bairro Vila União, o 4° dos cincos irmãos, João Vitor será o primeiro da família

Page 31: Monografia Revisão de Literatura

no ensino superior; João completa: Sou um garoto que não conheceu o pai que

sempre sofreu bullying por ser nerd por causa do cabelo, do sapato, da minha

magreza. O estudo não combateu minha timidez, mas me ajudou a ser

feliz”(PORTAL O POVO, 2014)

Fica claro que a escola ainda continua a ser a única via de acesso à

cultura para as camadas desfavorecidas haja vista que “João Vitor sempre foi

estudante da escola pública e frequentador assíduo da biblioteca de sua escola

Governador Adauto Bezerra em Fortaleza (CE), onde assegura que a sua ficha

de biblioteca vai na 2° folha e ultrapassou mais de 40 livros lidos e afirma

“minha estratégia foi me adaptar a leitura, ler livros grandes com linguagem

rebuscada” (PORTAL O POVO, 2014). Traduzindo, não possuindo o habitus do

sistema escolar João busca adquiri-lo incessantemente na biblioteca, os

códigos que a escola demanda, sendo assim:

A cultura erudita em sua qualidade de código comum é o que permite a todos os detentores destes códigos, associar o mesmo sentido as mesmas palavras aos mesmos comportamentos e as mesmas obras, pode-se compreender por que a escola, incumbida de transmitir esta cultura, constitui o fator fundamental do consenso cultural nos termos de uma participação de um senso comum entendido como condição da comunicação. (BOURDIEU, 2007, p. 207)

Para se estabelecer comunicação no campo escolar o que seria o

processo de ensino e aprendizagem é necessário que haja mínima condição de

comunicação denominada por Bourdieu de consenso cultural como descrito a

cima em suas palavras, como falar a mesma língua possuir previamente as

mesmas palavras do acervo fundamental da escola.

Ainda a matéria coloca: “A recente conquista é assisti a luta entre a

timidez do garoto acostumado aos livros do que a grandes conversas e o

orgulho de quem está vendo o esforço recompensado; quanto a isso o

estudante revela dormia em média quatro horas por dia para garantir o bom

desempenho” (PORTAL O POVO, 2015).

Destaca-se neste trecho a frase esforço recompensado apontando

que João Vitor não é um herdeiro da cultura formalizada reafirmada pelas

Page 32: Monografia Revisão de Literatura

quatro horas de sono que dormia todos os dias sendo oito horas o ideal, ou

seja, para alcançar o “êxito” necessitou abdicar de suas horas de sono levando

a constatação que para uns a aprendizagem é uma conquista permeado de

desafios enquanto para outros é uma herança em que “as crianças oriundas

dos meios mais favorecidos não devem ao seu meio somente hábitos

utilizáveis nas tarefas escolares, herdam também saberes, gostos e um bom

gosto”(BOURDIEU, 2010, p.45)

Corroborando a questão meritocrática de resultados obtidos como

consequência do esforço individual citado em João Vitor cabe evidenciar o

discurso da presidenta Dilma Rousseff realizado em 25/06/14 durante

cerimônia de lançamento da segunda etapa do programa Ciências sem

Fronteiras que qualifica estudantes de área especifica como engenharia,

computação, medicina, física cursar parte do ensino superior fora do Brasil

para o desenvolvimento tecnológico do país ; expressa: “Eu gostaria de

sinalizar que o ciências sem fronteiras faz parte de uma das portas do caminho

que é aberto pelo Enem.Esse é um caminho de oportunidades para estudantes

de ensino superior no Brasil[..] O Enem é um processo que mostra o

aproveitamento de cada um dos alunos, para fazer jus ao Ciências sem

fronteiras há um critério meritocrático, tem de ter tido 600 pontos no Enem, com

isso, não importa a classe social da pessoa se ela se esforçou ela será

contemplada com uma bolsa no Ciências sem fronteira.” (PLANALTO, 2014)

O governo estimula a diversidade de estudantes no Enem mais não

levam em conta questões de moradia, experiências sociais, pais analfabetos ou

letrados, capital cultural. A essa postura de classificação social Bourdieu em

uma entrevista a Loyola em 2002 na França verbaliza: “A escola diz que uma

criança é boa em matemática sem ver que há cinco matemáticos em sua

arvore genealógica, ou então diz que é ruim em línguas sem ver que provém

de um meio de imigrantes3.”, transforma em mérito questões culturais através

de aferição de aprendizagens.

3 Entrevista realizada na França em 2002, por Maria Andrea Loyola, professora titular de antropologia da Universidade do Rio de Janeiro,.Entrevista exibida em 06/12/2000 pelo canal universitário do Rio de Janeiro(UTV), extraído do site: <http://www.youtube.com.watch?v=oddyhoo, em 18.ago.2014.

Page 33: Monografia Revisão de Literatura

O Enem perpassa pela leitura de quantificar para dividir no auge do

atual lema do governo “Pátria educadora”, lançado no discurso de posse da

presidenta Rousseff em 1/1/15, assim discursa: “Gostaria de anunciar agora o

novo lema do meu governo. Ele é simples, é direto, e é mobilizador [...]Trata-se

de lema com duplo significado, ao bradarmos ‘Brasil, pátria educadora’

estamos dizendo que a educação será a prioridade das prioridades[...]Só a

educação liberta um povo e lhe abre as portas de um futuro

próspero.Democratizar o conhecimento significa universalizar o acesso a um

ensino de qualidade em todos os níveis da creche a pós-graduação.Significa

também levar a todos os segmentos da população dos mais marginalizados,

aos negros, as mulheres e a todos os brasileiros a educação de

qualidade”(CÂMARA, 2015)

Concomitante ao slogan “Pátria educadora”, o atual ministro da

educação Renato Janine manifestou-se sobre o lema durante uma entrevista

ao Grupo RBS, expõe: “Defendo o slogan, a pátria já foi muito mal utilizada,

empregada de forma autoritária, agora é hora de recuperarmos para nós”, nós

quem? Uma conjuntura?

Quando perguntado sobre o Enem, se é a favor do modelo de

avaliação e como pode ser aprimorado, responde: “O Enem trouxe alguns

avanços significativos, serve para ver como foi o ensino médio, para dizer a

sociedade inteira onde o ensino médio está bom ou ruim, todos aos alunos e

suas famílias tem que saber se aquela escola vale a pena ou não; fora disso

também se criou via de acesso a universidade com grandes êxitos. [Quanto a

aprimoração] você tem todo um instrumento de avaliação que tem que mudar

com muita frequência estou falando em tese [frisa] por que chega uma hora

que as pessoas trabalham o instrumento e não a realidade, o Enem se tornou o

fim em si, você passa ter colégio que prepara para o Enem ,cursinhos focado

nisso4”(GRUPO RBS, 2015)

4 Entrevista realizada em 09/04/2015 pela jornalista Carolina Bahia ao Grupo RBS com o atual ministro Renato Janine Ribeiro.Disponível em: :< http://www.clicrbs.com.br.diariocatarinense> Acesso em : 28.abr. 2015.

Page 34: Monografia Revisão de Literatura

A primeira parte da verbalização do ministro chama atenção na

seguinte colocação “todos os alunos e suas famílias tem que saber se aquela

escola vale a pena”.E precisa divulgar dados para tal constatação? Está mais

que denunciado a precariedade de condições de funcionamentos das escolas

públicas!Não vale a pena é esse “discursinho” de metas, programas, pesquisas

e nada de resultados, resultados que beneficiem o ser humano enquanto

individuo um sistema de avaliação digno, justo e igual para o plural.

Na segunda parte percebe-se um reconhecimento discreto do

ministro Janine em “o Enem se tornou o fim em si”, admite que com o advento

do Enem, hoje se ensina direcionado por objetivos do exame, as escolas

treinam alunos baseados em tais competências são simulados semanais ao

seu molde a fim de condicionar os alunos , aulas planejadas segundo o critério

do enem convergente a isso tem os cursinhos preparatórios com verdadeiro

arsenal de treinos, treinos e mais treinos rumo a aprovação, é importante

pontuar que quem frequenta esses cursinhos são alunos de classe econômica

favorecida ,e geralmente o empenho desprendido em proporcionar o possível

de conteúdos ao critério do Enem acontece nas escolas privadas.

Portanto “Pátria educadora” para o governo é educar todos os

segmentos da sociedade do país “marginalizados, negros, mulheres” (diz a

presidenta) , através da universalização do saber? Então esta ratifica que todos

os alunos do Brasil estão ao padrão de conhecimentos exigido pelo Enem

importando dedicação para obtenção de êxito, assim “o sistema de ensino

contribui para manter a defasagem entre a cultura produzida pelo campo

intelectual e a cultura escolar ‘banalizada’ racionalizada pelo e para a

necessidade de inculcação”( BOURDIEU, 2007,p.123).

Inculcação mantida e estabelecida por meio do Enem como sistema

avaliativo com discurso orquestrado meritocratico onde quem deseja beneficiar-

se com acesso ao ensino superior deve merecer como diz Vasconcellos (2011)

“A escola burguesa foi feita para não funcionar! fracasso não é fracasso, mas

busca de qualidade (o que seria do ensino se todos fossem aprovados?),

seleção social através da escola não é seleção social é preparação para a

vida”, (VASCONCELLOS,2011,p.6) É a retroalimentação da ótica medíocre de

Page 35: Monografia Revisão de Literatura

inclusão generalizante atribuída ao merecimento por avaliação desleal e cruel

que se diz pensada para todos quando é para poucos.

Page 36: Monografia Revisão de Literatura

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