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7/22/2019 Monografia Sebastião Paraná
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPRDEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
João Luís da Silva Bertolini
SEBASTIÃO PARANÁ - UM CONSTRUTOR DA EDUCAÇÃOConstrução de um imaginário na Primeira República (1889-1930)
Monografia apresentado ao Departamento deHistória no setor de Ciências Humanas Letras eArtes sob a orientação da Prof. Dra. Ana MariaBurmester
Dezembro/2000
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Agradecimentos
A Francisco Moraes Paz, Etelvina Trindade, Ana Paula Vosne Martins
A Ana Maria de Oliveira Burmester, orientadora e amiga, que com suapaciência e exemplo, não nos deixou desistir deste caminho de pedras que é aeducação
Aos amigos Maíra Souza Nunes, Eduardo F Pereira , Cleusa Gomes,Tatiana Takatuzi., ao inesquecível amigo-irmão Pity e outros que esqueçoagora, mas que com certeza contribuíram para este trabalho.
A minha Família que nunca me deixou esmorecer, diante dasdificuldades, que não foram poucas, Victor, Ana, minha Irmã, Tiago, Dani eCristiano e é claro aos inesquecíveis mãe e pai que sempre estiveram
presentes em minhas lembranças.
E as mulheres de todo o mundo, pois são elas que me inspiram eimpulsionam para frente.
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Introdução
Para analisar o autor Sebastião Paraná e sua obra foi necessário
conduzir nossa investigação pelos meandros de uma sociedade e de um
Estado em vias de formação. Formação urbana ,política e cultural, marcada
pelo movimento republicano em sua pretensão de estabelecer novos
parâmetros à convivência social.
O Dr Sebastião Paraná nasceu em Curitiba, a 19 de Novembro de
1864 e ai faleceu a 8 de Março de 1938(...) Modesto e amável , foi dos
que muito trabalharam pelo engrandecimento do torrão nativo. Honesto
e sincero, só amizades conquistou.(...) foi nomeado secretário da JuntaComercial do Paraná. Logo depois, prestou ótimo concurso , sendo
nomeado lente de geografia geral e corografia do Brasil do Ginásio
Paranaense e da Escola Normal. Exerceu ainda os cargos de: Inspetor
escolar, deputado do Congresso Legislativo do Estado, Diretor da
Biblioteca Pública, superintendente do ensino, diretor do Ginásio
Paranaense e da Escola Normal1
Investigar e analisar a vasta participação do Sr Sebastião Paraná em jornais, revistas, relatórios oficiais, livros didáticos, estudos geográficos entre
outros, seria impossível dentro de uma monografia, o que nos fez fazer uma
leitura criteriosa, separando o material que contivesse análises de Sebastião
Paraná sobre a Instrução Pública em Curitiba e no Paraná.
Assim sendo centramos nosso trabalho nos livros didáticos e nos
relatórios escritos para o governador do Estado e para o diretor Geral da
Instrução Pública do Paraná, estes trabalhos continham material necessáriopara se levantar muitas problemáticas, mas procuramos ler nestas fontes
como Sebastião Paraná vai contribuir no processo de construção de uma
identidade paranaense e a contradição entre o discurso de Sebastião Paraná
como autor de manual didático para escolas primárias e como Inspetor de
Ensino de Curitiba.
Uma das obras analisada será O Brasil e o Paraná, manual didático que
teve 22 edições entre 1903 e 1941 que foi utilizada nas escolas primárias e
1 VULTOS. Gazeta do Povo, Gazeta na literatura. Curitiba. 19 de Março 1967.
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que teve aval entre outros do Diretor Geral de Instrução Pública do Paraná e
de uma comissão de notáveis, o que a credencia para essa investigação uma
vez que é um manual oficial que vai ser lido e estudado por um grande
número de alunos no período.
Em 1889 o jovem Sebastião Paraná já nos brindava com seu EsboçoGeográfico do Paraná e em 1899 com sua Chorografia do Paraná obra
utilizada no Ginásio Paranaense e na Escola Normal, onde o próprio Sebastião
Paraná era professor. O autor vai produzir seus principais livros didáticos até
o inicio dos anos 30.
Fica vem claro , que uma análise do sistema educacional no período
não poderia deixar de dar prioridade ao trabalho dos Inspetores de ensino não
só porque o próprio Sebastião Paraná foi Inspetor, mas porque o trabalhodesses inspetores é de crucial importância para a análise do imaginário
republicano, marcado por uma forte crença no progresso do Estado.
O estudo foi dividido em dois capítulos, o primeiro deles analisando as
ações dos Intelectuais na construção da República que vai culminar na
criação de um movimento chamado paranista, onde artistas intelectuais
literatos entre outros, vão construir através de suas várias ações o novo
Paraná.Este movimento vai ter características progressistas e modernizantes
baseadas no positivismo de August Comte e sua visão científica e laica da
sociedade. Ainda neste capítulo foi analisada a situação do ensino no Paraná
através das ações dos inspetores de ensino, visto quem são eles que possuem
o poder específico, que investigam, avaliam e agem solicitando a resolução
dos problemas aos seus superiores.
No segundo capítulo analisamos num primeiro momento as ações de
Sebastião Paraná na construção da Instrução Pública, dentro de uma visão
republicana e positivista encontrada nos textos dos relatórios da inspeção e
em algumas de suas obras. Ainda dentro deste analisamos suas ações como
autor de livros didáticos, construindo um imaginário do Paraná ideal, através
de sua população e sua natureza.
SEBASTIÃO PARANÁ - Um Construtor da Educação no Paraná.
Construção de um imaginário na Primeira República ( 1889 - 1930 )
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Capítulo I - Paraná, Paranismo e Educação
O Paraná do final do século XIX e início do XX era um Estado que
carecia de uma identidade cultural; a construção desta seria a
grande pretensão paranista. Este movimento tinha como objetivo
central a construção de uma identidade regional para o Estado e
contará com a adesão de intelectuais, artistas, literatos etc.
Segundo Luís Fernando Pereira, neste período :Apareciam os primeiros fotógrafos como João Baptista Groff ... sendo o
primeiro a filmar as riquezas do Estado como as cataratas do Iguaçu, a
febre dos colecionadores de postais, o footing na Rua XV de
Novembro, os primeiros historiadores como Romário Martins, uma
geração inicial de pintores, a estatuamania que toma conta da cidade,
(...)2
Este trecho do seu livro “Paranismo : O Paraná Inventado”, demonstra
bem a atmosfera em que estes pensadores transitavam. Os elementos de
modernidade marcarão o imaginário popular da Primeira República e “farão
com que os paranaenses construam uma identidade regional impregnada de
uma forte crença no progresso e no desenvolvimento social”3.
Curitiba é uma cidade onde se tornam cada vez mais evidentes os
sinais de “modernização”.
Por todo o plano urbano, ruas se abrem e se pavimentam; edificações
se elevam, ostentando uma arquitetura inovadora; o traçado se torna
mais compacto. O governo aprimora os serviços: higieniza o centro
urbano com irrigação, limpeza pública, água esgotos; implementa a
2 PEREIRA, Luís Fernando. Paranismo : o Paraná Inventado. Cultura e Imaginário no Paraná daPrimeira República. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1997, p. 72
3 Idem, p. 73.
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arborização e instala iluminação pública; cria inclusive, uma guarda
municipal.4
A cidade diversifica, ainda, espaços públicos com cafés e salas de
espetáculo; parques e praças.
Nessa nova Curitiba, vai-se também encontrar os representantes de um
ativo círculo literário: (...) um grupo que circula não apenas nos salões
de clubes elegantes, como em inúmeros grêmios, associações e
congregações. São eles que dão ao universo pensante da cidade um
toque de paixão, ação, sonhos, medos e esperanças, idéias e práticas.
Sua vigorosa produção literária gesta um sem números de livros,
revistas e jornais5
Este grupo terá uma atuação importante na construção de um
imaginário republicano, suas ações na educação, nas artes e na produção
literária irão contribuir para construção do novo Paraná.
1.1 O Paranismo
O Paranismo surge no início do século em uma Curitiba que vive a
efervescência cultural propiciada pelo surto econômico da erva mate e, acima
de tudo em uma época que carecia de novas representações políticas e
tradições regionais, já que desaparecera a figura do Imperador que consagrava
em torno de si a Nação, sendo necessário que se constituíssem novas
identidades. Segundo Romário Martins:
Quem introduziu entre nós foi Domingos Nascimento, em 1906, ao
regressar de uma viagem ao norte do Estado, onde notara que ninguém
os chamava paranaenses e sim paranistas. A palavra nascera ali
4 TRINDADE, Etelvina M. Clotildes e Marias, Mulheres de Curitiba na primeira república. Tesede Doutorado. USP, 1992, p. 8.
5 TRINDADE, Op. cit., p. 8
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espontaneamente. A população das nossas terras do setentrião. Na sua
quasi unanimidade, constituída de paulistas, e êstes, por natural
aproximação com o nome dado aos naturais de seu Estado,
designavam os paranaenses de paranistas. Domingos Nascimento,
poeta de rara sensibilidade artística, paranaense cem por cento, nativo
da terra dos lírios bravos, -viuna palavra não somente a beleza mas
também que no sufixo ista encerrava significação de cultor de alguma
coisa: - de paranaense devotado, defensor de sua terra por exemplo6
O Paraná acabara de experimentar a perda de parcela de seu território
para Santa Catarina pós-Contestado por acordos políticos, onde a habilidade
política catarinense foi maior, em particular nas negociações e pressões sobre
o governo central. Além disso, o Paraná, com mais de 2/3 de seu territóriodesocupados, procurava no incentivo à imigração resolver tal problema de
povoamento, o que gerava outras preocupações, particularmente no que diz
respeito à construção de uma unidade territorial.
Para tal era preciso inventar as tradições. Este é um dos pontos
positivos dos debates com Santa Catarina pela parcela territorial perdida pelos
paranaenses; estes, para justificar suas pretensões tiveram que se debruçar
com maior vigor sobre a história regional. Era preciso criar a identidadeparanaense.
Uma das primeiras preocupações de tal movimento se dará em relação
ao verdadeiro xadrez étnico presente no Estado pelo incentivo à imigração. O
Paraná não era formado somente por paranaenses, mas era preciso abarcar
toda a heterogeneidade presente no Estado para construção desta identidade
cultural.
Por isso o movimento se chamou Paranista7
, pois desta forma seriacapaz de abarcar todas as culturas presentes em seu território para construção
deste novo Paraná. Era preciso criar a identidade de um Estado que até então
6 PEREIRA, Luís Fernando. Paranismo: O Paraná Inventado p. 857 Paranismo, este termo é utilizado para designar todo aquele que nutria uma afeição sincera pelo
Paraná. Nas palavras de Romário Martins, paranista é todo aquele que tem pelo Paraná uma afeiçãosincera, e que notavelmernte a demostra em qualquer manifestação de actividade digna, útil à coletividadeparanaense. Paranista é aquele que em terras do Paraná lavrou um campo, cadeou uma fábrica, lançouuma ponte, construiu uma machina, dirigiu uma fábrica, compoz uma estrophe, pintou um quadro,
esculpiu uma estatua, redigiu uma lei liberal, praticou a bondade, iluminou um cérebro, evitou umainjustiça, educou um sentimento, reformou um perverso, escreveu um livro, plantou uma árvore (Mensagem do Centro Paranista) Apudi. PEREIRA, Luís Fernando Paranismo: Cultura e Imaginário noParaná dos anos 20, p. 276.
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não tinha a garantia sequer de suas fronteiras territoriais. Influenciados pelos
ideais positivistas de progresso que marcaram a Primeira República, os
paranistas pretendiam que o Paraná entrasse na modernidade com a
urbanização e a proliferação das produções culturais em Curitiba. Construir a
imagem do Paraná progressista seria contribuir para a construção da idéiapositivista de Nação.
Este positivismo adotado pelos paranistas é oriundo da segunda fase do
positivismo de August Comte, onde ele funda uma verdadeira religião cívica.
Segundo José Murilo de Carvalho, após o encontro com Clotilde de Vaux,
August Comte desenvolveu os elementos utópicos e religiosos de seu
pensamento.
Para Murilo de Carvalho, o sentimento foi colocado em primeiro plano,deslocando a razão, a base de sua obra anterior, para uma posição
subordinada: “o positivismo comtiano evoluiu na direção de uma religião da
humanidade, com sua teologia, seus rituais, sua hagiografia.
Pretendendo ser uma concepção laica, fundia o religioso com o cívico,
ou melhor, o cívico se tornava religioso”8. José Murilo de Carvalho ainda coloca
que o positivismo criara além de um ritual, personagens (Santos) e até uma
teologia: “Os santos da nova religião eram os grandes homens da humanidade,
os rituais eram as festas cívicas, a teologia era sua filosofia e sua política, os
novos sacerdotes eram os positivistas”9.
Isto é bem percebido quando analisamos o Relatório de Victor Ferreira
do Amaral e Silva, Diretor Geral da Instrução Pública, apresentado ao Sr. Dr.
Secretário do Interior, Justiça e Instrução Pública, em 31 de dezembro de
1903. Victor Ferreira do Amaral refere-se à educação cívica, como fator mais
valioso da formação do caráter nacional, instituindo, nos dias de festa nacional,
conferencias de ensino cívico, em lugares públicos, com assistência dos
professores. Ele inicia assim seu discurso no Theatro Guayra (1903):
Inaugurando conferencias cívicas, dizia eu, outro escapo não tive que
pontificar em nome da religião da Pátria, fazendo praticar nos dias de
festa nacional a thurificação pomposa do patriotismo;(...) alem do culto
ao deus de seus pais, deve também, o alumno prestar culto ao lábaro
8 CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas, imaginário da República no Brasil. SãoPaulo : Companhia das Letras, 1990, p. 130.
9 Ibid., p 130
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sagrado de nossa pátria (...) Se as conferências, ficaram em grande
parte, acima da comprehensão da maioria dos alumnos, não deixavam
ellas de ser proveitosas, actuando sobre a emotividade dos jovens
ouvintes, pela enscenação que as circundava, fazendo vibrar em seus
ternos corações a fibra sagrada do amor pátrio, gravando em sua
memória as nossas datas celebres e o nome dos vultos notáveis de
nossa história10
Além dos grandes homens da humanidade das festas cívicas e da
política a mulher vai ter um papel importante no imaginário da Primeira
República.
A República vai utilizar a mulher como uma de suas representações.
Isso tem origem na obra Cours de philosophie , de August Comte, em que ele
usa as descobertas da biologia e visões católico-feudais, e afirma a
superioridade social e moral da mulher sobre o homem.
A mulher representa a reprodução da espécie, o lado afetivo e o
altruísmo da natureza humana; seu papel não se limita à reprodução, este se
daria especialmente na família, em que, como mãe, teria a responsabilidade da
formação moral do futuro cidadão, “daí à alegorização da figura feminina era
um passo.A virgem católica, alegoria da Igreja, tornou-se no positivismo a virgem-
mãe da humanidade”11. Para o comtismo as repúblicas deveriam ser
verdadeiras comunidades, extensões da família. “As repúblicas seriam as
“matrias” com aspectos comunitários e afetivos, voltando, ao mesmo tempo, ao
imaginário feminino.
Daí também a possibilidade de representar a pátria republicana por
meio da figura da mulher”.12
Segundo essa versão, a Pátria tem a função demediadora entre a família e a humanidade, caracterizando-se pelos dons
femininos do sentimento e do amor. O papel da mulher, na família, na
República e na educação é amplamente usado pelos paranistas.
O autor em um artigo para o jornal Diário da tarde de 12.11.1917
intitulado Chronica , ressalta as qualidades da mulher, e seu papel diante das
10 Paraná. Governador . Relatório do Sr Victor Ferreira do Amaral e Silva ao Sr Dr Secretário
do Interior , justiça e instrução pública, referente ao ano de 1903, pág 130.11 CARVALHO, Op. cit., p. 130.12 Ibid., p. 131
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dificuldades do momento de guerra que o país passava, e seu dever frente ao
chamado da Nação. É possível observar a influência de Comte neste artigo:
Pois até a mulher?!Sim ! até a mulher brasileira nos socorrerá material e moralmente;
Alentar-nos á na grande guerra neste “dies irae” neste dia de juízo final,
nesta phase de afflicção e de angustia para o genero humano (...) A
mulher brasileira é tão brava como as damas de Esparta. Tão cheia de
heroísmo, abnegação, firmeza, austeridade e estoicismo... A mulher
brazileira foi sempre enthusiasta e patrióta, altruísta e abnegada, como
o testificam as acções que registra a história deste bellissimo paíz.
Hoje,a mulher brazileira exercita as suas bellas qualidades nos laresdomésticos e nos círculos da sociedade.
Nos lares, formando o coração e a alma da creança, polindo seu
caráter educando os filhos santamente e despertando nelles, junto com
o amor e à virtude, o amor à patria.
Que preciosos exemplos nos apresenta a mulher brazileira, através da
História (...) ao ser lançada pelo Sr Custódio Pedroso a idéia da
fundação de um corpo de enfermeiras, que constituisse a Cruz
vermelha Alice da Silva, num impeto de exaltação patriótica, exclamou:
“Prompto! Aqui esta a primeira. Se o Brazil for para a guerra eu seguirei
com o batalhão Ruy Barbosa. Deixarei meus filhinhos, esses pedaços
de minha alma, entregues a minha mãe, Carolina da Silva, e irei
convosco”(...) Se morrer, há! Morrerei satisfeita, e meus filhinhos
encontrarão Segunda mãe na minha adoração da Pátria, que velará por
elles com minha mãe. O exemplo foi dado com espontaneidade e
abundância de fervação affecto à mãe Pátria por uma mulher brazileira,
humilde mais digna pelos seus nobres e elevados sentimentos.
Sigamol-o13
Ciente dessa “missão” feminina pôde o governo conferir à mãe e, sob
seu modelo, ao mestre e à escola, a responsabilidade da formação do
sentimento cívico de cada cidadão; uma missão que Julia Wanderley recolhe e
resume ao enfatizar o dever fundamental da pátria educativa: formar o homem
13 PARANÁ, Sebastião. Chronica. Diário da tarde, Curitiba, 12 nov. 1917.
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para a família, o indivíduo para a sociedade e o cidadão para a Pátria.
Recomendação esta que faz eco à imprensa local:
Dentre os ensinamentos ministrados àqueles que cursam as escolas
primárias, o que se refere à história pátria é sem dúvida um dos quedevem merecer a maior soma de carinho por parte do professor
As lições de história do Brasil dadas nas escolas primárias devem ser
de natureza tal que os que aprendem delas tirem um valor prático, que
bebam noções de moral e de civismo, que fiquem conhecendo qual a
ação dos nossos grandes homens, o nosso aperfeiçoamento através
dos anos, a nossa evolução política e intelectual, o papel que
representamos no concerto das nações, enfim os fatores que
contribuíram para a nossa formação de povo civilizado”14
Na mesma linha, temos o discurso feito pelo secretário geral do Estado
Alcides Munhoz sobre a dimensão cívica da mulher na República:
So nós, as Lacedemônias, dizia a esposa de Leônidas, (...) só nós é
que dominamos nossos maridos, porque só nós é que sabemos fazer
homens
Ëstas mesmas palavras, vós as podereis pronunciar distintíssimas
professoras. Vós também deveis dizer como as Lacedemônias- nós é
que garantimos a honra e a integridade da Pátria, porque só nós é que
sabemos ou podemos fazer brasileiros15
O movimento paranista buscava criar uma tradição que tivesse eficácia
ritual e simbólica e que ao mesmo tempo se encaixasse no ideal modernizante,
para isso sendo necessária toda uma reformulação do passado. “Este passadoelaborado pelos paranistas seria positivado e ligado artificialmente com o
presente que se pretendia construir de um Paraná de progresso e força...”16,
para isso sendo utilizados os heróis e as comemorações cívicas, além de
outros artifícios:
14 Apud TRINDADE, Etelvina Maria de C. CLOTILDES ou MARIAS, p.180.15 Apud TRINDADE, Op. cit., p. 181.16 PEREIRA, Luis Fernando. Paranismo: Cultura e Imaginário no Paraná. P. 279.
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O passado construído e seus heróis serviriam de apoio e de força
pedagógica para um presente que se pretendia construir de um Estado
que estaria crescendo e se fortalecendo. Mas a fragilidade de uma
herança histórica mais forte, os paranistas teriam de recorrer a outros
artifícios para a construção desta identidade regional. Por isso a
importância da produção artística que procurará atingir os corações dos
paranaenses e levá-los a demonstrar todo seu afeto ao Paraná ; da
mesma forma que se valerão das lendas indígenas para suprir a falta
de exemplos a serem seguidos em sua história e ainda projetarão o seu
tipo ideal para o futuro, como sendo aquele que semeia o Paraná do
futuro...17
A construção do passado privilegiava a história política encontrada nosdocumentos oficiais, tentando impor tal visão ao presente, que seria a
continuidade de um passado glorioso. Fabricando heróis e criando
estereótipos, os paranistas pretendiam legar um exemplo à população.
Esta elaboração de heróis e a construção de um passado de glórias
para o Paraná, ligado ao presente, serão a tônica das pretensões paranistas
de construção de um Estado com base no progresso, na ordem, na civilização:
A produção dos paranistas ganha as ruas e se integra com o imaginário
popular, nas comemorações cívicas, sejam elas de caráter regional ou
nacional .É nesse sentido que os republicanos, logo no início do
período, construirão as datas cívicas afirmando que o sentimento de
fraternidade universal não pode se desenvolver convenientemente sem
um systema de festas públicas destinadas à comemorar a continuidade
e a solidariedade de todas as gerações humanas.
Nessas festas destacam-se o 21 de abril, dos precursores daindependência resumidos em Tiradentes; o 13 de maio como a festa da
fraternidade dos brasileiros; o 14 de julho como comemoração da
República, da liberdade e da independência dos povos americanos e o
15 de Novembro não como a festa da República, mas da Pátria
brasileira.18
17 PEREIRA, Luís Fernando. Paranismo: Cultura e Imaginário no Paraná dos anos 20, pp. 279-280.
18Apud PEREIRA, Luís Fernando. Paranismo: o Paraná inventado. Cultura e Imaginário noParaná da Primeira República. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1997, p. 173
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Outro exemplo desta criação de heróis são as pompas fúnebres de João
Gualberto, coronel da milícia paranaense, enviado à região do Contestado para
resolver os problemas com os fanáticos religiosos que teriam criado tumulto
em terras paranaenses.
Segundo jornais da época, todos acreditavam que João Gualbertovoltaria tendo cumprido a sua missão, mas acabou sendo morto nos campos
do Irany, não sabendo ao certo em que circunstâncias, pois os relatos de sua
morte, produzidos já com a intenção de construir um mito, falam da luta do
coronel com o próprio monge José Maria, lider dos fanáticos:
Logo ao primeiro embate, a polícia perdia doze homens e os fanáticos
outros tantos. O Monge, no ardor da peleja, arrancou do seu facão e
procurou enfrentar o capitão João Gualberto; este, porém, deu-lhe dois
tiros de revólver, um no peito e outro na boca, ao mesmo tempo que,
como uma clava, o seu facão vigorosamente descia sobre a cabeça do
intrépido capitão. E ambos, o cabecilha dos fanáticos e o chefe da força
legal, cahiram pesadamente ao chão. O primeiro, morto; o segundo,
apenas bastante atordoado com a pancada recebida na cabeça. Mas o
fanático de nome Delffino Pontes não o deixou com vida por muitos
minutos: com seu facão partiu a cabeça do capitão Gualberto.19
O fato é que o coronel da milícia paranaense morre e a partir daí os
jornais da capital, em particular o Diário da Tarde , de maior circulação,
começam a construir o mito do herói, daquele que morreu lutando pelo Paraná
e pela República:
O Vulto desse bravo e luzido patriota que se foi, pelo espiral do
heroísmo, da via ao Pantheon, ficará gravado no nosso coração como
uma urna sempre florida das pétalas a nossa grande saudade.
Tombado, embora, nas cochilias do Irany, em horrível entrevero, João
Gualberto restará, na história do Paraná contemporâneo, erecto como
um píncaro que emergisse em vasta planície, dominando os annos e
admirado pelas gerações sucessivas. João Gualberto nasceu para a
nobre missão do civismo: a sua vida foi uma serie continua de actos e
19 D’ASSUMPÇÃO, Herculano Teixeira apud PEREIRA, Luís Fernando. Paranismo: o Paranáinventado. Cultura e Imaginário no Paraná da Primeira República. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1997, p.65.
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de iniciativas patrióticas, que o sagraram benemérito; (...) o calor do
santo enthusiasmo pela pátria, a fé robusta que nutria pelo futuro do
Paraná e pela grandeza do Brasil. João Gualberto era uma alma
vontada para o irradeação da glória. (...) O seu feito, attirando-se como
um heroe contra hordas barbaras dos desertores da lei, indo buscar a
morte onde estivesse a glória, poderia ser um erro de estratégia, como
dizem uns, ultrapassando as ordens recebidas, mas foi,
indubitavelmente, um rasgo memorável desta bravura indomita que era
característica dos grandes guerreiros.(...) Erros estratégicos! Deixemos
o futuro a missão de reconhecêrlos e julga-los .Morto em combate pela
civilização contra o banditismo, pelo prestígio da autoridade
paranaense, João Gualberto paira acima da crítica, como uma victima
da gloria e da dedicação ao Paraná. Não foi um triunphador, mas umheroe que morreu (...) sacrificou a existência pelo Paraná, pela lei e
pela Ordem, devemos mais que a muda homenagem do bronze, todo o
nosso immenso reconhecimento e toda a nossa imperecível saudade.20
João Gualberto morreu representando a civilização contra a barbárie
dos sertanejos tidos como retrógrados e primitivos, em particular pela proposta
de um retorno à Monarquia, embora na realidade não estivessem falando em
termos de regime político, mas em termos de imaginário popular e de
preocupação com as populações da região que, após a proclamação da
República foi completamente esquecida pelas autoridades governamentais. O
funeral de João Gualberto.
tem toda a pompa de um herói, com carruagens estilo Luís XV, túmulo
construído pelo governo para ser um monumento etc. Aqui se percebe
a construção progressiva da imagem de João Gualberto e esta foi, semdúvida, ainda em 1912, a primeira grande festa paranista e o coronel o
primeiro herói imolado pelo futuro do Paraná, pois heróis são símbolos
poderosos, encarnação das idéias e aspirações, sonhos ou referências,
fulcros de identificação coletiva. São instrumentos eficazes para atingir
a cabeça e o coração dos cidadãos21
20 Apud PEREIRA, Luís Fernando. Paranismo: O Paraná Inventado..., p. 65.21 PEREIRA, Luís Fernando. Paranismo: Cultura e Imaginário no Paraná dos anos 20 p. 291.
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O que devemos observar no movimento paranista é a sua idéia de
progresso, a idéia de um novo regime. A República requeria uma nova atitude
frente às questões que se apresentavam no período. O modelo utilizado, o
positivismo, deu elementos que vão ser seguidos por estes pensadores (elites),
e estes não se privaram de usá-los.A criação de heróis, a valorização das datas cívicas, a mulher como
representação da República são estratégias usadas por estes intelectuais,
artistas e literatos. Nos atemos mais na análise das ações deste grupo, na
criação dos mitos: de heróis forjados como João Gualberto e a própria
mitificação das mulheres.
1.2. Educação no Paraná
O final do século XIX e início do XX é marcado no Brasil por grandes
mudanças. A substituição da Monarquia pela República traz consigo a idéia de
substituição do antigo pelo novo. A criação de uma nova idéia de nação passa
pela educação de seus cidadãos.
A preocupação com a educação parece ter sido uma das bases do
pensamento dos paranaenses do período, e é neste contexto que a educação
vai ser percebida, como setor que deveria ser ampliado, pois se tratava de
elemento fundamental para a transformação da sociedade.
Segundo Lilian Anna Wachowicz:
A instituição escolar é inserida assim, no contexto de uma organização
estatal que, sem dúvida para o governo, tinha a autoridade, o direito e o
dever de dirigi-la, a partir de determinações concebidas de cima para
baixo. Nesse contexto, o autoritarismo era uma consequência lógica do
estado ético e protetor das massas22.
A apreensão do saber científico nas escolas era crucial para a
superação da fase mítica da sociedade representada pela Monarquia. No
22 WACHOWICZ. Lilian Anna. Relação Professor-Estado no Paraná tradicional, São Paulo,Editora Cortês, 1984, p.81.
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Paraná, o trabalho dos inspetores escolares vai ser importante neste sentido,
pois são eles que fiscalizam o funcionamento das escolas.
Na Curitiba republicana, a escola pública primária é uma reivindicação
constante das autoridades de ensino, desde o final do século XIX. Os relatórios
dos inspetores gerais solicitam com freqüência a construção de prédios
destinados especificamente às práticas escolares; rejeitam as pequenas salas
de aula sem ar ou luz, apontam os inconvenientes das casas de aluguel, de
onde se ausentam as mínimas condições de higiene. E defendem, ao raiar do
século XX, a organização do ensino primário e secundário.
Neste período, a direção do ensino no Paraná compete ao Presidente
do Estado, que é assessorado pelo Secretário do Interior, Justiça e Instrução
Pública. Este por sua vez, é auxiliado pelo superintendente, diretor ou inspetor
geral de ensino, responsável pelo cumprimento das leis, dos regulamentos e
das deliberações da instrução, além do Conselho Superior de Ensino, dos
conselhos municipais, dos delegados de ensino (encarregados da inspeção
técnica das escolas) e finalmente pelos Inspetores escolares.
No Paraná a inspeção das escolas é considerada elemento fundamental
para o funcionamento do sistema, e encarada como função de representação
política, sendo que os inspetores locais trabalhavam sem remuneração, agratificação do trabalho era representada pelo exercício do poder na
localidade.
Em Curitiba, o trabalho destes inspetores escolares dá resultados: “as
três únicas edificações destinadas exclusivamente ao ensino em 1893,
multiplicam-se, em 1916, em dez grupos escolares.”23
Nascidas num período de entusiasmo pela educação, estas novas
escolas corporificam a crença republicana de que a multiplicação dasinstituições escolares conduziria a uma popularização do ensino, determinante
do desenvolvimento das nações. Este período é marcado também pelo
otimismo pedagógico, que pretende introduzir na escola a fé nas
potencialidades humanas; a prática do sentimento patriótico, a ideologia do
progresso e a neutralidade religiosa do ensino.
A escola pública republicana deve ser humanista, democrática e
progressista, e o sucesso desta idéia passa pelo trabalho dos inspetoresescolares e dos professores.
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No início do século XX havia, como já foi dito, um número reduzido de
escolas em Curitiba, não sendo diferente no interior do Estado. Havia falta de
tudo, desde o material escolar, por mais elementar que fosse, até as próprias
escolas. No interior no Estado, com raríssimas exceções, o ensino não ia além
das duas primeiras operações fundamentais, e os alunos concluíam o cursoprimário sem saber ler adequadamente.
Algumas escolas só existiam no nome, pois os professores
“desconheciam a estrada por onde deviam seguir para cumprir seu dever, mas
conheciam bem o caminho do thesouro para receber os vencimentos a que
honestamente não tinham direito. (...) A falta de fiscalização na maioria das
localidades era quase completa, cada professor ensinava o que sabia, como
podia e, geralmente, quando queria.”
24
.A educadora Lilian Wachowicz, lembra que:
No Paraná, a instabilidade política até o final do século XIX, quando os
presidentes se sucediam no cargo, após alguns meses de gestão,
trouxe para a institucionalização da escola, algumas dificuldades; os
regulamentos estabelecidos por um governo, eram criticados e
revogados, por outro de tal forma que as mudanças prejudicavam o
trabalho das escolas25.
A fiscalização nas pequenas localidades era quase nula, e feita por
inspetores escolares de pouca instrução, sem terem a menor noção dos mais
elementares preceitos pedagógicos para poder auxiliar aos professores,
conforme constatou Lilian Wachowicz ao analisar os relatórios dos inspetoresque passam a viajar pelas circunscrições.
surge a constatação de inúmeros problemas: um inspetor afirma que
quase nenhuma das escolas visitadas se acham em perfeito acordo
com regulamento da instrução pública. (...) Quanto aos inspetores
nunca visitam suas escolas, dão licenças injustificadas, e pela prática
23 TRINDADE, Op. cit ., p.11.24 MOREIRA, Fernando A. O ensino primário no Estado do Paraná, agosto 1924, p. 24.25 WACHOWICZ, Op. cit. p. 82.
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do favoritismo, são na verdade reais impecilhos à boa fiscalização
geral26.
Sebastião Paraná, inspetor de ensino da comarca de Curitiba, ao
analisar os alunos vindos do interior para ingressar na escola normal27 na
capital, dirigindo-se ao Diretor Geral da Instrução Pública:
Bem sabe V.Exa, como é ministrado o ensino nos pequenos
centros de população de nosso Estado (...). Alem disso, os
inspetores escolares, quasi todos illetrados, nenhum interesse
ligam ao cargo que exercem sem remuneração alguma. Entretanto,
podem os certificados de exames de segundo grau, assignadospelas auctoridades de ensino, dar ingresso na Escola Normal a
candidatos innabeis e mal apparelhados para os prelios da
inteligencia28
Neste período é criado o Conselho Superior de Ensino Primário, ao qual
era submetida a aprovação dos livros a serem adotados nas escolas. O ensino
público tomou nova feição: foi mais ou menos uniformizado nos centros demais fácil acesso, mas continuou com os antigos problemas nas localidades
mais distantes. No governo de Afonso Camargo.
O cargo de Director do Gymnasio e Escola Normal foi exercido pelo
Exmo. Snr. Dr Sebastião Paraná que muito contribuiu (...) para o
desenvolvimento do ensino no Paraná, como inspector escolar da
Capital, cargo que exerceu durante annos, já como escriptor didático29
Sebastião Paraná exerceu o cargo de inspetor de ensino de Curitiba de
1900 a 1908. Em seus relatórios, sempre denunciou a falta de prédios para o
ensino, a falta de materiais e de livros adequados para os alunos. A situação
26Op. cit. p. 120.27 AMARAL, Aline Bessa, A escola normal. O Brazil Civico, Curitiba, v 1, n 1 , 1918, pg 77. A
escola Normal é destinada a formação de professores para as escolas, primárias e intermediarias do Estado
. 28 PARANÁ, Sebastião . Relatório do Inspetor de ensino de Curityba . Curytiba : Typ. D'aRepública ,1906, p. 22.
29 MOREIRA, Fernando A. O ensino primário no Estado do Paraná. 1924, p. 27
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difícil do ensino em outras localidades, os males da ignorância para o indivíduo
e para a Pátria, enfim, era um dos paranistas mais ativos na questão do
ensino. Nas palavras do inspetor:
Continua sensivel a falta de edificios apropriados para o funcionamentodas escolas nesta cidade. (...) Vejo, com pesar, escolas funcionando
em salas de edificios particulares, sem os requisitos necessários
prescriptos pela moderna arte de ensinar. (...) E conveniente insistir V.
Ex.a. No sentido de serem construidos edifícios apropriados, isto é,
altos, espaçosos, claros e fartamente arejados, havendo nas paredes
inscripções que concitem as crianças ao cumprimento do dever cívico.30
Em seus escritos é possível perceber como o trabalho dos inspetores
escolares é importante, juntamente com os dos professores, na instalação de
um pensamento republicano no Paraná.
30 PARANÁ, Sebastião .Relatório do Inspetor de ensino de Curityba , p. 23
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Capítulo II - O Intelectual e as suas atuações
O papel da escola na República é de formar o homem para a família, o
indivíduo para a sociedade e o cidadão para a Pátria, é dentro desta
perspectiva que devemos analisar o trabalho de Sebastião Paraná, dentro do
seu trabalho como inspetor de ensino, ele tenta criar condições para o bom
aprendizado e bom funcionamento da escola. É dentro deste pensamento que
devemos ler suas críticas nos diversos documentos. A falta de materiais
básicos nas salas de aula, livros inadequados, péssimas condições dos locais
de ensino etc.
Ao evocar os grandes homens como Jules Simom e Chateaubriand ele
acaba buscando um referencial sólido para suas palavras, e um alerta às
autoridades, sobre seus fracos esforços para o bom funcionamento da
educação. O progresso da nação depende destes homens que formados nas
escolas
Em seu ensaio de título o patriotismo, escrito na revista “Brasil Cívico”,
na qual é redator, Sebastião Paraná nos apresenta uma direção do que é ser
patriota:
É um sentimento nobilitante, próprio das almas delicadas e altruístas(...
) São os que concorrem para formar o coração e o caráter da infância e
da mocidade.
Patriotas são os bons professores que, ao serviço da colletividade,
ensinam seus discípulos a amar o Brasil e por ele viverem(...) Patriotas
são todas as mestras de creanças que se sintam um pouco mães
dessas creanças, e que se interessem pela sorte, pelo futuro dos
pequeninos seres em formação (...)Patriotas são os que estão á frente
da missão civilizadora da escola e da oficina (...) Patriotas são todos
aqueles que labutam nas industrias. São os que amanham a terra
mater e della retiram o necessário à vida individual e colletiva (...) são
os que se insurgem contra os vícios, contra os defeitos do espírito e as
tendências sordidas da matéria
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Patriotas são também os que se dedicam à cultura da terra; os que
votam dedicação às cousas da Pátria; sos que redem culto de affetcto e
veneração às bellas tradições do passado; são os que se esforçam pela
fraternidade universal, pela victória da civilização, da liberdade, do
direito e da justiça31
Nesta citação é possível ver os elementos da família, da Pátria e a
humanidade, elementos estes que vão ser percebidos na maioria de seus
escritos.
2.1 O trabalho de Inspetor Escolar
Como já foi citado Sebastião Paraná é autor de vários livros, entre eles
temos o Esboço Geográfico do Paraná de 1889, onde o jovem escritor
demostra todo seu amor por esta terra. Angustiado com a situação do Paraná
de da República ele acaba demonstrando sua esperança no futuro:
Hontem, trevas, miséria...escravidãoHoje, liberdade, alguma luz
Muito esperança...
Amanha- liberdade, luz riqueza....
Muita liberdade!
Nada fomos, pouco somos, porem muitos seremos.
Paraná ! Paraná ó terra de meus pais! ... Nenhuma tradição gloriosa se
liga a tua curta história!
Avistando as riquezas que te acenam prossegues cabisbaixo, comoquem esmola o pão de cada dia; mas sossega, ó minha terra: serás
grande porque assim o quer o teu destino, (...)32
No final do século XIX, em 1899 Sebastião Paraná escreve a obra
Chorografia do Paraná, e logo em seguida seu manual didático, O Brasil e o
Paraná, para escolas primárias, que entra em circulação em 1903, obra que
31 PARANÁ, Sebastião. Patriotismo. .Brazil Civico.: educação- estudos sociais,Curitiba, v 1, n1 ,p. 74-76. 1918.
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analisaremos mais adiante. Dentro desta sua produção temos obras voltadas
para educação, como o manual didático Os Estados da República 1911- 1925,
Paízes da América ( 1922) e Paizes da Europa ( 1926).
Dentro o espírito da República e do paranismo, Sebastião lança o livro,
Galeria Paranaense, em homenagem ao primeiro centenário da Independênciado Brasil, onde fala sobre os grandes personagem, os chamados Vultos. Como
Inspetor escolar da capital, deixou uma grande contribuição para o ensino do
Paraná. Suas ações como Inspetor de Ensino muito contribuem para este
trabalho.
A crítica nos relatos, a seriedade, o sentido do dever são características
de seu trabalho. No seu relatório ao Diretor Geral da Instrução Pública, de
dezembro de 1906 observa-se já na apresentação, sua preocupação com aInstrução Pública, que para ele era o “magno problema, um caos de vida e
morte para as sociedade modernas”, continua ainda nesta apresentação. O
estudo desenvolve o indivíduo e da brilho e destaque à colletividades, espangir
os germens do ensino por toda parte, é dos deveres primordiais da
democracia. Ignorância e República são idéias antagônicas que se repelem”33.
Neste trecho da apresentação do relatório é possível perceber como
Sebastião Paraná vê a função da Instrução Pública. A Instrução Púbica
segundo ele é um dos deveres primordiais da democracia. A idéia de
progresso na República não está só modernização das cidades, mas também
na preparação do homem, tornando-se num cidadão útil e isso é uma das
funções da escola, é nela que isso se realiza. Sebastião Paraná comenta
sobre as funções da escola citando Jules Simon “O povo que possui as
melhores escolas é o primeiro povo; se não for hoje sel-o-há amanhã.”34
Sebastião Paraná usa as estatísticas para demostrar que a maioria dos
criminosos é composta de ignorantes, citando o historiador Ingles Macalay fala
sobre a tarefa do Estado:
Para cohibir os delitos o Estado tem somente dois caminhos a seguir:
ou tornar os homens melhores e mais prudentes, ou mais infames e
miseráveis, isto é, instruilos ou castiga-los. Não pode haver dúvida na
escolha, e o Estado que não liberaliza o ensino, alem de faltar aos
32 PARANÁ, Sebastião. Esboço Geográfico da Província do Paraná. Rio de Janeiro. Ed
Pinheiros & c, 1889, p. 73.33 PARANÁ. Oficio do Inspetor escolar Sebastião Paraná ao Diretor da Instrução Pública.Curitiba Typ d’a República 1906, p.15.
34 Idem, p.15.
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25
deveres de sua creação, torna-se cumplice em todos os attentados
provenientes da ignorância.35
Ao permitir a ignorância o Estado é visto como um dos responsáveispelo atraso do desenvolvimento social e do progresso. Os intelectuais do
chamado paranismo, e entre eles o próprio Sebastião Paraná, vêem a
República como o novo que vem substituir o velho, uma idéia de progresso que
deve ser levada a diante, pelo poder público do Estado.
Sebastião Paraná aponta soluções em seu relatório mas mantém
esperança no sucesso da Pátria e para que isso ocorra pede que sejam
dobrados os esforços para a evolução do ensino popular:
Em face do progredimento extraordinário que rebentou no Brazil, depois
da proclamação da república, temos bem fundadas as esperanças de
que nossa Pátria, guiada pelo fanal da Instrucção, há de seguir
desassombrada pela derrota esplendente da civilização, mantendo a
integridade nacional(...) Felizmente, cumpre dizer bem alto, alçar o
ensino ao ponto culminante a que elle tem direito, é uma das maiores
preocupações do poder público do Estado. Secundemos os seusesforços; trabalhe cada um, à medida de suas forças, em pró da
desenvolução do ensino popular. Façamos do livro uma trincheira para
nos livrar dos ataques funestos da ignorância. Façamos da escola um
reducto, um bastão, um instrumento afiado da obra do nosso
alevantamento moral.
Que vigore a tibieza desta exhortação a seguinte phase de
Chateaubriand: Derramemos a instrucção sobre a cabeça do povo:
devemos-lhes esse batismo.36
Neste trecho da apresentação do relatório do inspetor de ensino
devemos destacar, a escola como reduto da moral, e elementos da religião
cívica do positivismo, a instrução é ritualizada como um batismo dos
ignorantes, uma espécie de salvação das trevas, a busca da luz no
conhecimento, e a escola como local da moral.
35 Idem, p.16.36 Idem, p.14.
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26
Neste mesmo relatório, em sua fala sobre o regime escolar, Sebastião
citando Manoel F. Correia define o que pretende a escola quanto ao menino e
a menina, há uma clara distinção do papel de ambos na sociedade e isso e
colocado como uma das funções do escola. Sobre a matéria diz Sebastião
Paraná:
Uma das questões a que liguei interesse foi o regimen disciplinar. A
este respeito disse o eminente estadista Dr Manoel Francisco Correia
em favor da desenvolução do ensino popular no Brazil; Que se
pretende do menino? Que, como particular e como cidadão, trilhe o
caminho do dever e da virtude. Que se pretende da menina?. Que seja
o anjo velador do lar, a carinhosa promotora da educação da família.Pois o regime disciplinar da escola deve ser o mais acomodado para
que o menino forme-se o homem de bem e na menina a matrona
exemplar37
Sobre este tema de disciplina no ambiente escolar, o inspetor, relata a
sua desaprovação quanto aos castigos físicos, diz que não se pode dar a
escola o aspecto sombrio que vem da opressão e do terror, que o castigo
corporal é uma mancha nas escolas e que por isso expediu um aviso ao
professorado da capital, utilizando as bases legais sobre este assunto junto
.com o regulamento das obrigações dos professores na escola em 02 de
Março de 1906:
No artigo 4 do regulamento da Instrucção Púbica contem a seguinte
disposição:
São absolutamente prohibidos nas escolas públicas dos castigoscorporaes e os que possam prejudicar a saúde e a moral dos alumnos,
sendo a infracção punida com multa(...)
De conformidade com o art. 6 do regulamento da Instrução Pública, os
professores são obrigados:
1 Dar exemplos de polidez e moralidade em seus actos, tanto nas
escolas como fora dellas;(...)
3-Participar à Inspectoria Escolar sempre que deixarem de dar aula,expondo –lhe o motivo(...)
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27
4 Manter nas escolas a devida disciplina e conservando-as em rigoroso
estado de mundicia;
5 - Apresentar-se decentemente trajados nas escolas onde devem dar
exemplo de asseio e conduta:
7 - Escriptura cuidadosamente todos os livros que as escolas devem
ter.
8- Esforçar-se para que os alumnos adquiram hábitos de ordem, de
actividade, de economia e, de asseio e polidez, cultivando(...) o bello
sentimento de Pátria e dever.38 (?)
Sebastião Paraná citando John Locke termina seu texto;
Locke, respeitavel pensador inglez, também dizia: Para corrigir meninosnada há mais impróprio que pancadar, castigo que inspira-lhes natural
aversão as cousas que aliás o professor deve esforçar-se por fazer
amar. Nada mais comesinho do quever meninos odiarem logo certas
cousas desde que a ellas são constrangidos por meio de apancadas 39
O inspetor não só envia ao professorado leis que proíbem os castigos,
como junto os regulamentos de seu comportamento, reforçando regras e uma
moral que achava necessário para o bom funcionamento da escola e para o
atingir o objetivo maior que era criar o cidadão e o amor pela Pátria.
O trabalho de inspetor de ensino tem uma função estratégica para os
governos, isto é percebido mesmo no período da Monarquia, quando são
definidas as funções destes inspetores. Em 1857 o inspetor geral da Instrução
pública, Joaquim Ignácio Silveira Mota relata a função do inspetor:
Dentro de sua circunscrição, o inspetor constitui-se o diretor domovimento regrado da Instrução Pública, estuda os meios de melhora-
la para torna-lo mais uniforme e de utilidade mais geral, organiza
estatística do ensino e por ela julga da disseminação da instrução, e
apresenta seu relatório até dezembro de cada ano as idéias que o
estado de coisas lhe sugerir, em ordem a se aumentarem os meios de
propagação e a chamar à escola o maior número, assim como a se dar
37 Idem, p.14.38 Idem, p.19.39 Idem, p.19.
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28
mais perfeição ao trabalho pedagógico... é o intermediário com os
professores.40
Nas atribuições citadas acima do Inspetor escolar, uma em particular
nos chamou a atenção, a de que é sua função estudar analisar as condições
de ensino, em seus relatórios anuais os inspetores tem que repassar aos seus
superiores a real situação das escolas, quanto ao ensino, quanto as condições
dos prédios onde funcionam as escolas, sobre o mobiliário o material didático
utilizado etc.
Num destes relatos sobre as condições do ensino no Paraná , o inspetor
Sebastião Paraná relata ao Governador do Estado, Francisco Xavier da Silva,
“É Lamentável estado de atraso em que se acham os estabelecimentos de
ensino em diferentes pontos do interior e do litoral; o ensino oficial não
corresponde aos esforços e sacrifícios feitos pelo erário”41 .
Em outro anterior, para o diretor geral da Instrução Pública, Victor
Ferreira do Amaral e Silva, já relatava quadro semelhante: “tristíssima a fase
que a instrução pública apresenta no Estado, comparando com o lema de que
ignorância e República são idéias que se repelem.”42 Outros exemplos
poderíamos citar a este respeito, mesmo na capital é possível verificar
problemas com o ensino:
Continua sensível a falta de edifícios apropriados para o funcionamento
das escolas desta cidade.
É verdade que existem aqui algumas casas escolares; essas porem
são insuficientes para acomodar a considerável população escolar
existente(...) Vejo, com pesar, escolas funcionando em salas de
edifícios particulares sem os quesitos necessários prescritos pelamoderna arte de ensinar (...) quanto a utensílios é completa a falta
deles nas escolas!(...) O Regulamento determina que os livros para
matrícula, actas de exames e termos de visitas serão distribuídos por
conta do Estado, Entretanto, se os professores não fizessem acquisição
40 PARANÁ. Relatório do Inspetor Geral da Instrução Pública, Joaquim Ignácio Silveira damota, ao Presidente da Província, Dr Francisco Liberato de Mattos, em 31./12.1857, Curitiba, tipografiaLopes, 1858, p. 3.
41 PARANÁ, Oficio. Relatório do Docente visitador, Sebastião Paraná. ao governador do Estado,Francisco Xavier da Silva, em abril de 1901.DAMI, Officios. 1901 vol 5. Doc manuscrito.
42 PARANÁ, Oficio do Inspetor escolar Sebastião Paraná ao Diretor Geral da Instrução Pública.Victor Ferreira do Amaral e Silva, em 26.12.1900.DAMI.fficios, 1900, vol 14.Doc manuscrito.
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desses livros a expensas próprias, teriam de effetuar a escripturação
respectiva em folhas avulsas de papel!43
É interessante observar como os relatórios dos Inspetores, com
exceções, tenta cumprir a função estabelecida em 1857 que é a de fiscalizar
uniformizar e melhorar a Instrução Pública. Sebastião Paraná alem da função
de Inspetor Público de Curitiba, função esta não remunerada.
É neste período também escritor de livro manuais didáticos, em O Brasil
e o Paraná para escolas primárias, faz um relato completamente diferente
sobre a situação do ensino no Paraná, colocando o Estado como o primeiro na
Instrução Pública no País.
Esta contradição entre o discurso do autor de material didático e do
Inspetor pode ser explicada pelo regionalismo da época pelo sentimento de
amor ao Paraná, junto com um projeto de construção do próprio Estado, que
foi estudo mais detalhadamente no primeiro capítulo.
2.2 O Autor de manuais didático
O Paraná não se destaca, felizmente, pelo o atraso da Instrução
Popular. Os poderes públicos, convencidos de que educar e instruir a
43 PARANÁ (1906), Op. cit ., p. 20.
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infância e lançar-lhe no espirito o germen da prosperidade e da virtude,
não se furtam ã abrir as arcas do erário sobre as cearas da inteligencia
infantil, difundindo escolas por toda parte, desde as cidades até as mais
humildes povoações.44
Esta descrição da situação do ensino no Paraná que esta contida em
seu manual didático e difere do que ele fez como Inspetor de ensino, onde em
relatórios a seus superiores, faz uma série de críticas e sugestões para o
desenvolvimento do ensino no Estado, sempre lembrado que “Ignorância e
República são idéias que se repelem”.
Esta aparente contradição no discurso de Sebastião Paraná, deve ser
entendida no contexto da construção de uma memória para o Estado, os dois
textos tem públicos distintos, sendo um destinado à alunos do curso primário e
o outro às autoridades que exercem o poder efetivamente, em nenhum dos
dois casos Sebastião Paraná vai perder o caracter de construtor, ora lutando
para o crescimento da Instrução Pública, ora exercendo o papel de mestre
propagandista de um Paraná idealizado por um grupo que chamamos de
paranista.
Sebastião Paraná quando se refere a Instrução popular no Estado do
Paraná, em seu manual didático O Brasil e o Paraná 45 , descreve a eficiência
desta no Estado e o empenho das autoridades em difundir a Instrução para as
humildes povoações.
(...) abrir escolas é alargar o caminho do progresso, é levantar altares
ao trabalho, à moral e ao direito, facilitar pois, o ensino a todos as
classes da sociedade, amplia-lo, difundi-lo até pelas mais remotas
paragens do nosso vasto território deve ser a aspiração mais ardosa o
mais sincero voto de todos que se interessam pelo progredimentoparanaense , da Pátria e da humanidade.
A ignorância, miopia do espirito, é um infortúnio como a catarata que
produz cegueira completa ou parcial46
44 PARANÁ, Sebastião Paraná. o Brazil e o Paraná, para uso nas escolas primárias.22. edMelhor. Curitiba, 1941, p.10.
45Este manual didático que se destina às escolas primárias tem sua primeira edição em1903 e a última em 1941 foram 22 edições que sofreram pouquíssimas modificações durante
seu período de uso, esta obra vai receber um parecer favorável de uma comissão composta porEmiliano Perneta, Chichorro Junior, Darío Veloso e pelo Diretor da Instrução Pública da época osr Victor Ferreira do Amaral e Silva para ser utilizado nas escolas primária.
46 PARANÁ, Sebastião. Chorografia do Paraná. Coritiba .Ed Rocha & C. 1899 p 137
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Na citação anterior o autor vai descrever qual é função dos poderes
públicos, como este poder deve buscar o progredimento do Paraná expulsando
deste, a ignorância citado por ele como miopia do espírito. Sebastião Paraná
continua dizendo que:
Não Basta que o povo saiba ler e escrever: para melhorar sua situaçãomoral é necessário que elê adquira o gosto do aperfeiçoamento
intelectual indispensavel ao homem47.
Nesta obra está a descrição do Paraná de forma mais reduzida, visto
que foi baseada em outra obra de Sebastião Paraná, Chorografia do Paraná
de 1899, esta sim com uma descrição mais detalhada do Estado. Encontramos
em O Brasil e o Paraná, o Estado sendo visto como um verdadeiro paraíso na
terra. No texto sobre os imigrantes percebemos esta sua visão do Paraná
(...) a terra póde, de facto, offerecer aos infelizes da Europa, aos
desanimados, aos que só querem paz e sossego para o trabalho,
melhores condições que o Paraná, clima mais saudável, elementos
mais variados de prosperidade, circunstancias mais excepcionaes,modo de existência mais commodo, mais sereno, mais ao abrigo de
todas as convulções políticas e sociaes?48
Em seus livros didáticos, Sebastião Paraná analisa a vinda dos
imigrante como algo necessário para o desenvolvimento do Brasil e do Paraná,
mas deixa claro que tipo de estrangeiro deseje que imigre para o Brasil e qual
a sua finalidade.
Venham! Venham os que sofrem nos penates de seus antepassados.
(...) Venham espontaneamente, não os improbos, os vadios, os
mutilados, mas os válidos, os operários, os agricultores, principalmente
os agricultores, que na terra brasileira hão de encontrar mansão de47 Op. cit. p.138.
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tosa, um oásis em flor, grandioso e magnífico. (...) Mais cedo ou mais
tarde virão assentar seus lares nesta região paradisíaca49.
No final do século XIX e início do XX o Paraná contava com cerca de
2/3 de seu território desocupado, necessitava assim da vinda dos imigrantes.Sebastião Paraná manifestava:
O Paraná não tem ainda população nem para a décima parte de seu
grande e soberbo território, portanto, introduzam-se nelle desde já
miliares de imigrantes morigerados e operosos, e em menos de meio
século não teremos mais nenhum destes; mas, em compensação a
sua prole innumeravel, composta de individuos e vinculados pelos laços
de amor e de interesse ao solo que lhes serviu de berço, concorreráeffizcamente para a opulencia colletiva50
A imigração é vista por Sebastião Paraná como salvação para a
ocupação deste vazio territorial:
Com o braço, com a inteligência, com as tradições de vida, doscostumes e do trabalho(...) os imigrantes europeus trazem valiosos
subsídios para a exploração de nossos recursos naturaes. Com a sua
vinda para o nosso Estado, onde a densidade da população é
insignificante, attenta a vastidão do território eles concorrem para a
prosperidade pública51
Neste livro didático Sebastião Paraná dá um especial destaque quando
se refere ao povo Brasileiro, enaltecendo suas qualidades e seu patriotismo:
Não há povo mais hospitaleiro mais afavel, mais magnanimo do que o
povo brasileiro. E lhe peculiar a virtude sublime da caridade, que
santifica as almas e os corações. Surte efeito magnifico qualquer brado
em prol de estabelecimentos nosso comiais , qualquer apelo feito em
48 Idem, p.25.49 PARANÁ. Sebastião. O Brasil e o Paraná, Curitiba, Ed. Livraria Guignone, 1941, pp.46-47.50PARANÁ, Sebastião. Chorografia do Paraná, Op. cit. p. 362.51 Idem, p.26.
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bem dos orfãos da fortuna, de todos os que tropeçam e caem a beira
da estrada dolorosa do infortúnio52
Sebastião Paraná em seu texto coloca o Paraná como o local idealpara a vinda dos imigrantes, pois oferecia todas as condições para o bom
estabelecimento destes. Em suas palavras.
Por sua posição geográfica, felizes condições topographicas,
amenidade do clima e fertilidade do solo, o Paraná é a provincia do
Brazil mais apropriada para receber em seu seio immigrantes de todos
os paizes, colonos laboriosos que: procurem novo lar e uma patria onde
encontrem o seu bem-estar e elementos para firmar o futuro de seus
filhos. A sua natureza é esplendida: quem não a conhece attribuirá à
phantasia a mais pallida descrição de suas riquezas naturaes53.
Já no prefácio de sua obra, Chorografia do Paraná o autor demonstra
a sua visão sobre o Estado e como ele pretende que seja visto o Paraná.
Descreve o autor:
Escrevi este livro afim de proporcionar, especialmente aos meus diletos
conterrâneos, um meio fácil de conhecer, posto que perfunctoriamente,
as magnificiencias de nossa terra, a belleza soberana de seus pampas,
a imponência majestosa de suas selvas, a begnidade incomparável de
seus climas, a fauna, a flora, em summa - as inestimáveis riquezas
naturais que nosso estado encerra em admirável e surprehendente
profusão54
Mas mesmo dentro do Paraná, o educador deixa claro qual região tem
as condições mais favoráveis para se viver e reúne as condições ideais para
acolher o imigrante.
52 Idem, p.96.53 Op. cit. p.363.54 Op. cit. p.11.
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O clima de cerra-acima é incomparavelmente superior ao da marinha; e
a prova mais eloqüente de asserção fornecem os proprios moradores
dalli que estão quase sempre subindo a cerra do mar, uns para
veranear, outros para fortalecer a saúde, agravada pelo ar quente e
humido do litoral55.
Em seu Esboço Geográfico da Província do Paraná , o autor reforça a
idéia de ocupação dos vazios da terra do Paraná, mas alerta quanto ao
isolamento. Escreve Sebastião Paraná:
É muito justo povoarem-se os lugares desertos: mas também tanto vale
alguem já disse, não ter colônias como tel-as, em pontos afastados,
onde não chega o ruído da vida externa, é onde o homem segregado
della tanto mais sente encontrar-lhe n'alma o desanimo quanto maior é
a colheita que faz (...) Os terrenos que circundam a cidade são optimos
para cultura das hortaliças, cereais e frutos europeus56 .
O imigrante é percebido como imprescindível ao progresso no Paraná
ao ocupar os espaços vazios, principalmente em torno das cidades. Para o
autor a sociabilidade do imigrante traria vantagens para o desenvolvimento do
Paraná, mesmo quando estes não se ajustam perfeitamente. Segundo
Sebastião:
A população deste nucleos compõe-se de allemães, polacos e italianos
que se empregam na pequena lavoura. Se os braços de tais
immigrantes promettem melhorar o estado, pouco agradável de nossa
agricultura, a sua boa indole também garante-nos a manutenção dosocego público. Nos Allemães, a quem Curityba deve o incremento
geral e progressivo, o que tem attingido, notam -se probidade e
perseverante, dedicação ao trabalho. Há porém, uma circumstancia que
depõe um tanto contra este individuos: são poucas assimiláveis aos
nacionais. Mas que importa isso desde que comnosco colaboram para
a prosperidade do paíz?57
55 Op. cit. pp. 166-167.56 PARANÁ. Sebastião. Esboço geografico da província do Paraná, Rio de Janeiro, Pinheiro &Cia, 1889. Pp. 42-43.
57 Op. cit. p.42.
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Em sua obra O Brasil e o Paraná Sebastião fala sobre as qualidades
do povo brasileiro e no que ele se distingue dos outros povos. O autor
enobrece e exalta as qualidades inerentes ao tipo brasileiro
Não há povo mais hospitaleiro, mais afável, mais magnanimo do que o
povo brasileiro. Ë lhe peculiar a virtude sublime da caridade, que
santifica as almas e os corações. Surte efeito magnifico qualquer brado
em prol de estabelecimentos noso comiais, qualquer apelo feito em
bem dos órfãos da fortuna, de todos os que tropeçam e caem a beira
da estrada dolorosa do infortúnio 58.
É perceptível neste trecho do autor uma idealização do homem
brasileiro, pois esta imagem será utilizada para a criação do imaginário do
cidadão republicano, que como este homem ideal vai servir a pátria, quando
esta chamá-lo. O Autor segue idealizando este homem:
Distinguem-se os brasileiros pela urbanidade, pelos delicados
sentimentos afetivos, pela lucidez da inteligência e pelo patriotismo.Pelo Patriotismo sim, pois, quando a bandeira auri-verde-símbolo
sagrado da soberania nacional, é menosprezada pelo estrangeiro, êste
belo e louvável predicado dos nacionais chega às ráias do fanatismo 59.
Ao escrever seus livros didáticos Sebastião Paraná, usa a natureza, os
homens , representados pelo brasileiro e pelo imigrante, sempre com a idéia
forte do positivismo, do republicanismo.
É perceptivel o simbolismo nos seus escritos, a idéia de construção, o
imigrante tem sua função, desenvolver e integrar-se à terra, o homem
brasileiro tem que educar-se , tem que crescer virar um cidadão para que a
república prospere e a natureza é algo que já foi fornecido e deve ser
explorado em benefício , em desenvolvimento do progresso. Só assim o Brasil
e principalmente o Paraná serão o que preconiza o próprio Sebastião Paraná
58 PARANÁ. Sebastião. O Brasil e o Paraná. Op. cit. p. 66.59Op. cit. p. 67.
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no seu livro Esboço Geográfico do Paraná quando angustiado proclama o
futuro desta terra '' serás grande porque assim o quer o teu destino ".
Conclusão
Durante nossa investigação nos chamou atenção a contradição dodiscurso de Sebastião Paraná como Inspetor de ensino da Capital e como
produtor de manuais didáticos. No primeiro momento ele faz críticas a
situação do ensino no Paraná, dizendo mesmo que é tristíssima sua situação
e num segundo momento faz elogios, dizendo que o Paraná não se destaca
felizmente pelo atraso na instrução pública, ao contrário de outros Estados.
Partimos então para a análise de seus escritos , tentando provar que o
autor, forjava uma história da educação no Paraná, que criava uma situaçãoque não existia na realidade da Instrução pública do Estado. Estávamos
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corretos. Mas de imediato não percebemos a coerência dos textos , por
analisa- los friamente, sem vincula-los ao homem Sebastião Paraná.
Na nossa pesquisa nos deparamos com artigos em jornais de seus ex-
alunos, textos dos que tiveram algum tipo de contato profissional com ele,
escritos de amigos etc .Em todos estes só encontramos elogios a suacompetência ao seu caracter, a sua seriedade e a sua bondade .
Em seu artigo intitulado O significado de Sebastião Paraná , Valfrido
Piloto se diz emocionado ao percorrer na Biblioteca Pública a exposição
comemorativa pelo centenário de nascimento de Sebastião Paraná, diz
Valfrido Piloto:
(...) senti esvoaçarem ao meu lado, irem e virem no meu coração,
recordações tão ligadas a um reencontro comigo mesmo e retornar ao
tumultos das ruas senão como quem se engolfava na noite próxima,
levando já, um belo sonho apaziguador de tantas lutas. Aquele mestre
admirável é para mim, como será para tantos de tantas gerações ai
misturadas na liça, um desses chamados 'tipos inesqueciveis'.60
Ao lermos os testemunhos de sua seriedade e dedicação a causa da
educação e da Pátria, percebemos que não havia contradição entre o discursode inspetor de ensino e o de autor de material didático.
Ao acreditar que é na formação do cidadão que se consegue a
felicidade da Pátria, Sebastião Paraná não poupou esforços para atingir este
ideal, devemos ler nas suas críticas sobre a falta de materiais, prédios
inadequados e mesmo em suas angustias quanto a falta de preparo de alguns
professores e Inspetores de ensino a busca da construção de um Paraná e de
um Brasil republicano onde a ignorância deve ser tratado como doença, ainstrução como vacina.
Quando produz seus manuais didáticos Sebastião Paraná, escreve este
Paraná ideal, que busca a vitória da luz sobre as trevas, por isso seus
personagens devem ser caridosos, trabalhadores, idealistas e dotados de uma
visão progressista e acima de tudo amantes incondicionais da Pátria.
Lourenço de Souza no artigo: Dr. Sebastião Paraná, escrito no jornal A escola
em janeiro de 1910, manifesta sua admiração pelo educador paranaense.
60 PILOTO, Valfrido. O significado de Sebastião Paraná. Estado do Paraná, Curitiba, 29 deNovembro de 1964.
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O encargo de official de inspector Escolar não tinha moralmente valia
alguma. (...) O Sr. Dr. Paraná porém elevou em importância moral e
social o encargo de que o investiram em boa e feliz hora parainstrucção popular concretizando uma dedicação enorme e um
devotamento preexcelso para com o glorioso empreendimento de
alevantar e propellir o ensino pelos caminhos venturosos de uma
evolução brilhante, o preclaro patriota não se eximiu a esfôrço nem
sacrificio algum. (...) Em todas as circumstancias se manifestou a
solicitude do Sebastião Paraná, que por meio de relatórios luminosos
em que infructiferamente invocava a attenção dos proceres da politica
em favor da instrucção, relatórios que conjecturamos nem foram lidos,quanto mais observados e attingidos. (...) o Dr. Sebastião Paraná tem
jus a gratidão popular, pelos serviços preexcellentes que ha prestado
á Patria, a quem deu tudo, numa consagração sublime de amor e de
civismo: - a sua intelligencia para a exalçar, o sangue para
defender. 61
61 SOUZA. Lourenço. Dr. Sebastião Paraná. Jornal: A escola, Curitiba, janeiro/ março de 1910.pp. 85-86.
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Anexos
NICOLAS. Maria e P.M.C. Vultos paranaenses, Curitiba, 1942, datilografado.
PARANÁ. Sebastião. Credo Paranista. Arquivo de recortes da divisão de
Documentação Paranaense, Biblioteca Pública do Paraná, s/d.
____ . Bustos. Arquivo de recortes da divisão de Documentação Paranaense,Biblioteca Pública do Paraná, s/d.