Upload
ititur
View
235
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Enfermagem
Citation preview
FAMEC – FACULDADE METROPOLITANA DE CAMAÇARI
ENFERMAGEM
ITANA DE OLIVEIRA AZEVEDO
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO MANEJO DA
ÚLCERA POR PRESSÃO EM PACIENTES DA INTERNAÇÃO DOMICILIAR
Camaçari
2015
ITANA DE OLIVEIRA AZEVEDO
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO MANEJO DA
ÚLCERA POR PRESSÃO EM PACIENTES DA INTERNAÇÃO DOMICILIAR
Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II em Enfermagem como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Enfermagem pela Faculdade Metropolitana de Camaçari - FAMEC. Orientadora: Profª Rejane Costa
Camaçari
2015
ITANA DE OLIVEIRA AZEVEDO
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO MANEJO DA
ÚLCERA POR PRESSÃO EM PACIENTES DA INTERNAÇÃO DOMICILIAR.
Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II em Enfermagem como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Enfermagem pela Faculdade Metropolitana de Camaçari - FAMEC.
Aprovada em 16 de julho de 2015.
Banca Examinadora:
____________________________________________ Profª Rejane Costa – Orientadora
Mestranda em Ciências da Educação e Multidisciplinaridade pela Faculdade do Norte do Paraná (FACNORTE). Especialista em UTI adulto pela FTC. Especialista em Enfermagem Saúde Coletiva pela FACINTER/IBPEX; Graduada em Enfermagem pela FAESA. Docente e Coordenadora de Enfermagem na FAMEC.
____________________________________________ Profª Januvete Pereira Santos – Avaliadora
Especialista em Obstetrícia pela Faculdade Bahiana de Medicina. Graduada em Enfermagem pela Faculdade São Tomáz de Aquino. Preceptora Assistencial da FAMEC.
____________________________________________ Profª Luzia Mota – Avaliadora
Especialista em Urgência e Emergência e Especialista em Docência do Ensino Superior pela UNINTER/IBPEX. Graduada em Enfermagem pela FSS-Bahia. Preceptora Assistencial da FAMEC.
Dedico este trabalho à minha estimada família como resultado de nossos
esforços, pelo apoio e incentivo incondicionais que recebi, quando o
desânimo tentava se aproximar, durante estes cinco anos de formação acadêmica.
Itana Azevedo
AGRADECIMENTOS
Pessoas especiais e essenciais me ajudaram muito para a concretização
deste trabalho, restando-me, através de poucas palavras, prestar os meus sinceros
agradecimentos:
A Deus, por ter iluminado e guiado os caminhos que precisei percorrer;
A minha família, símbolo de amor e base essencial para o meu
desenvolvimento e evolução;
A minha orientadora, Rejane Costa, pela dedicação, paciência e
aconselhamento durante este período;
À preceptora, co-orientadora e amiga Luzia Mota, que dedicou o seu tempo,
conhecimento e carinho para me nortear na construção desta monografia;
Às demais preceptoras, Gleice Oliveira, Januvete Pereira, Laila Souza, Núbia
Oliveira e Vanessa Oliveira que certamente facilitaram e muito o meu aprendizado
com as práticas de enfermagem, a vocês o meu carinho e gratidão distintos;
A todos os mestres que facilitaram o entendimento teórico da Enfermagem e
muito contribuíram para o meu crescimento acadêmico;
Aos colegas de trabalho da Internação Domiciliar, em especial enfermeiras
Leane Santos e Roberta Barros, que compartilharam o saber e me fizeram amar
ainda mais a profissão, através da enfermagem humanizada que praticam;
Aos meus amigos que compreenderam os meus anseios e me deram
coragem para atingir os meus objetivos;
E a todos que colaboraram direto e indiretamente com o trabalho, muito
obrigada!
"A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la
como arte, requer uma devoção tão
exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a
obra de qualquer pintor ou escultor; pois o
que é tratar da tela morta ou do frio mármore
comparado ao tratar do corpo vivo, o templo
do espírito de Deus? É uma das artes;
poder-se-ia dizer, a mais bela das artes!"
(Florence Nightingale)
RESUMO
Úlcera por pressão (UP) é uma lesão de pele que tem acometido inúmeros pacientes internados, inclusive no domicílio, sendo considerada uma relevante causa de morbimortalidade. A Internação Domiciliar (ID) é uma estratégia do SUS que surgiu como proposta de reversão do modelo de atenção à saúde brasileira, ainda hospitalocêntrica e curativista, sendo a sua lógica a prestação de assistência junto ao domicílio do paciente. A atuação do enfermeiro com a aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), nesta nova modalidade, é essencial, principalmente no manejo da UP. Este estudo objetivou analisar a relevância da SAE no manejo das úlceras por pressão em pacientes assistidos pela ID, tendo como objetivos específicos: Descrever os principais fatores que predispõem o surgimento de UP nos pacientes da ID; Apresentar os principais diagnósticos de enfermagem em pacientes da ID com risco para desenvolver UP; Identificar alternativas e a existência de plano assistencial para a prevenção e tratamento de UP em pacientes da ID. Trata-se de pesquisa descritiva e sistemática de evidências científicas presentes em bibliografia disponível, realizado no período de agosto de 2014 e maio de 2015, através de levantamento literário de artigos científicos que tinham como termos descritores “Internação Domiciliar”, “Úlcera por Pressão”, “Enfermagem na Atenção Domiciliar”, “Sistematização da Assistência de Enfermagem” e “Enfermagem e Úlcera por Pressão”. Feita a leitura sistemática dos textos e a condensação de informações, buscou-se conceituar e descrever a internação domiciliar, sua composição e funcionamento; conceituar a SAE e explanar suas etapas; definir UP, abordando etiologia, fatores de risco, classificação, medidas preventivas e tratamento. Em seguida foi abordada a maneira de como sistematizar a assistência de enfermagem no manejo da UP em pacientes da ID. Constatou-se que o enfermeiro e a SAE, através de instrumentos como Escala de Braden, formulário de inspeção da pele e protocolo de feridas, é fundamental para tornar possível um cuidado domiciliar responsável, competente, humanizado e eficaz na prevenção/recuperação/manutenção da saúde do paciente acometido ou em risco de desenvolver úlcera por pressão. Palavras-chave: Internação Domiciliar. Úlcera por Pressão. Sistematização da Assistência de Enfermagem.
ABSTRACT
Pressure ulcers (PU) is a skin lesion that has affected many hospitalized patients, including at home, and is considered a leading cause of morbidity and mortality. The Home Care (HC) is a SUS strategy that emerged as proposed reversal of the Brazilian health care model, and even hospital-curative, and its logic to provide assistance with the patient's home. The work of nurses in applying the Nursing Assistance of Systematization (NAS), this new mode, it is essential, especially in the management of PU. This study aimed to analyze the relevance of NAS in the management of pressure ulcers in patients assisted by HC, with the following objectives: Describe the main factors that predispose the emergence of PU in patients HC; Present the main nursing diagnoses at risk with HC patients to develop PU; Identify alternatives and the existence of assistance plan for the prevention and treatment of PU in HC patients. It is descriptive and systematic research of present scientific evidence available literature, conducted between August 2014 and May 2015, through literary survey of scientific articles that had terms as descriptors "home care", "Pressure Ulcer" "Nursing in Home Care", " Nursing Assistance of Systematization " and "Nursing and pressure ulcer." Made systematic reading of texts and condensation of information, sought to conceptualize and describe home care, its composition and functioning; NAS conceptualize and explain its stages; set PU, addressing etiology, risk factors, classification, preventive measures and treatment. Then addressed the way how to nursing assistance of systematization in the management of PU in HC patients. It was found that the nurse and the NAS, through instruments such as the Braden Scale, inspection form and skin wounds protocol, it is essential to make possible a home care responsible, competent, humane and effective in the prevention / recovery / maintenance health of the patient affected or at risk of developing pressure ulcers. Keywords: Home Care. Pressure Ulcer. Nursing Assistance of Systematization.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Etapas da Análise de Dados 27
Figura 2. Tecido Necrótico 37
Figura 3. Tecido Fibrinoso 37
Figura 4. Tecido de Granulação 37
Figura 5. Tecido de Epitelização 37
Figura 6. Lesão Suspeita de Perda Tecidual 38
Figura 7. Estágio I 38
Figura 8. Estágio II 39
Figura 9. Estágio III 39
Figura 10. Estágio IV 40
Figura 11. Não Classificável 40
Figura 12. UP Classificada como Estágio III Pós Desbridamento 41
Figura 13. Locais Predisponentes para o Surgimento de Úlcera por Pressão 44
Figura 14. Tratamento conforme Estadiamento da Úlcera por Pressão 48
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Representação Esquemática do Processo de Enfermagem 32
Quadro 2. Medidas Preventivas Segundo Pontuação da Escala de Braden 45
Quadro 3. Intervenções de Enfermagem Segundo Autores Estudados 51
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Escala de Braden 42
Tabela 2. Escala de Norton 42
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AD Atenção Domiciliar
AGE Ácido Graxo Essencial
AVC Acidente Vascular Cerebral
BIREME Biblioteca Regional de Medicina
BVS Biblioteca Virtual de Saúde
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
COFEN Conselho Federal de Enfermagem
COREN Conselho Regional de Enfermagem
DE Diagnóstico de Enfermagem
EMAD Equipe Multidisciplinar de Atenção Domiciliar
EMAP Equipe Multidisciplinar de Apoio
EPUAP European Pressure Ulcer Advisory Panel
FAMEC Faculdade Metropolitana de Camaçari
ID Internação Domiciliar
LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe
LTP Lesão Tecidual por Pressão
MS Ministério da Saúde
NANDA Associação Norte-americana dos Diagnósticos de Enfermagem
NPUAP National Pressure Ulcer Advisory Panel
OMS Organização Mundial da Saúde
PE Processo de Enfermagem
SAD Serviço de Atenção Domiciliar
SAE Sistematização da Assistência de Enfermagem
SESAB Secretaria de Saúde do Estado da Bahia
SCIELO Scientific Electronic Library Online
SUS Sistema Único de Saúde
UP Úlcera por Pressão
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
2 INTERNAÇÃO DOMICILIAR 17
2.1 Internação Domiciliar Brasileira: Um Breve Histórico e Bases Legais
17
2.2 O Cuidar no Domicílio 19
2.3 O Enfermeiro e o Cuidado Domiciliar 21
3 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAE) 23
3.1 Histórico de Enfermagem 25
3.2 Diagnóstico de Enfermagem 26
3.3 Planejamento de Enfermagem 28
3.4 Implementação de Enfermagem 30
3.5 Avaliação de Enfermagem 31
4 ÚLCERA POR PRESSÃO 34
4.1 Conceito 34
4.2 Etiologia e Fatores de Risco 35
4.3 Classificação e Estadiamento 36
4.4 Escalas de Predição 41
4.5 Outras Medidas Preventivas 43
4.6 Tratamento 46
5 SISTEMATIZANDO A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PARA O MANEJO DAS ÚLCERAS POR PRESSÃO EM PACIENTES DOMICILIADOS
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS 55
REFERÊNCIAS 58
ANEXO A – FICHA DE AVALIAÇÃO DE ELEGIBILIDADE
ANEXO B – FICHA DE AVALIAÇÃO SOCIAL
ANEXO C – FORMULÁRIO DE INSPEÇÃO DA PELE DA INTERNAÇÃO DOMICILIAR
ANEXO D – PROTOCOLO DE FERIDAS DA ATENÇÃO DOMICILIAR/SESAB
13
1 INTRODUÇÃO
O perfil demográfico, epidemiológico e as taxas de morbimortalidade do país
têm sofrido constantes alterações com o aumento de sobrevida da população e das
doenças crônicas que, junto a outros fatores, aumentam a demanda da internação
hospitalar, o que resulta em hospitais abarrotados, número insuficiente de leitos e
elevação de custos com a saúde. Diante disto, observa-se que urge a formulação e
fomento de políticas públicas de saúde, que possibilitem atendimento pleno à saúde
da população.
Constantemente divulga-se pela mídia notícias que refletem inúmeros
problemas enfrentados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Frente à crise do
modelo de atenção à saúde brasileira, ainda curativista e hospitalocêntrico, surge o
programa Internação Domiciliar (ID), como proposta de reversão do modelo de
atenção à saúde no Brasil, a partir do atendimento a pacientes crônicos em estado
grave estável e/ou em cuidados paliativos no domicílio, tendo como foco a
desospitalização e a humanização da assistência (MENDES, 1996).
No campo da saúde pública observa-se ainda que são notáveis os avanços
nos cuidados e tecnologias voltadas para o setor em questão, no entanto, as úlceras
por pressão (UP) continuam sendo uma relevante causa de morbimortalidade, fato
este que impacta tanto a qualidade de vida do paciente e de seus familiares, quanto
o próprio sistema de saúde, pois acarreta no prolongamento de internações, riscos
de infecção e outros agravos evitáveis, configurando um problema social e
econômico, seja em âmbito hospitalar ou domiciliar.
Segundo Carvalho (2012), anteriormente, os idosos eram os mais atingidos,
porém, com o número cada vez maior de acidentes automobilísticos, a UP tem sido
observada entre jovens e adultos em idade produtiva. Logo, a ocorrência desta
patologia tem acometido todos os níveis da população, o que chama a atenção de
estudiosos e se torna um sério problema de saúde pública.
Conforme a National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP) apud Brasil
(2013c) a prevalência de UP em hospitais dos EUA é de 15% e a incidência é de
7%, já no Reino Unido, 4% a 10% dos pacientes admitidos desenvolvem UP em
hospitais. É difícil fazer um levantamento destes dados no Brasil, em virtude de
haverem poucos estudos sobre incidência e prevalência, no entanto, em um hospital
geral universitário evidenciou uma incidência de 39,81%.
14
O percentual de incidência e prevalência da UP apresenta-se variável nos
estudos literários, quanto às características dos pacientes e ao grau do cuidado, que
pode ser classificado em cuidado de longa permanência, cuidado agudo e atenção
domiciliar. No cuidados de longa permanência, o percentual de prevalência varia
entre 2,3% a 28% e de incidência entre 2,2 % a 23,9%; No cuidado agudo, as taxas
de prevalência estão em torno de 10 a 18% e de incidência variam entre 0,4% a
38%; Quanto a Atenção Domiciliar (AD), as taxas de prevalência variam entre 0% e
29% e as de incidência variam entre 0% e 17% (BRASIL, 2013c).
Em atenção aos dados acima, principalmente em relação à Atenção
Domiciliar, fica evidente que a prevenção é uma medida que se torna o principal foco
dos profissionais envolvidos com o cuidado do paciente, devendo ser uma
abordagem multidisciplinar e multiprofissional, iniciando na identificação precoce de
pacientes suscetíveis, abrangendo a equipe cuidadora, os familiares e o próprio
paciente, quando possível, através da educação em saúde.
Neste sentido, insere-se o profissional enfermeiro, cuja atuação entende-se
ser essencial nesta nova modalidade de atenção, que é a Internação Domiciliar, por
ter saber técnico-científico e gerencial, obtidos na formação acadêmica, que o torna
competente e capaz para o desempenho de ações nos diversos segmentos da área
da saúde, sobretudo no que tange à prática da educação em saúde, tendo como
base a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE).
A SAE, instrumento exclusivo do enfermeiro, é uma atividade crucial que
norteia sua atuação, aplicando-se métodos científicos que subsidiam ações de
promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde.
A obtenção sistematizada de dados para determinar o estado de saúde do
paciente e identificar qualquer problema real ou potencial, permite a identificação de
elementos objetivos e subjetivos. As informações obtidas através da história de
saúde e do exame físico possibilitam uma visão do paciente no contexto
biopsicoespiritual, identificando as necessidades afetadas e adotando condutas
relativas às manifestações do paciente de maneira direcionada (BRASIL, 2002).
Assim, diante desta constatação, e devido a inquietações surgidas na autora
diante do alto número de pacientes portadores de úlcera por pressão que eram
admitidos no programa da Internação Domiciliar, setor onde trabalhava, na ocasião
do desenvolvimento desta pesquisa, é que houve a necessidade de realizar um
estudo sobre a maneira com que a SAE interfere no manejo da úlcera por pressão
15
em pacientes que recebem os cuidados em seus domicílios. Vale frisar que o
tratamento de feridas é uma atribuição inerente ao enfermeiro, que tem cada vez
mais se especializado, o que tem tornado o profissional capacitado, competente e
com credibilidade para o tratamento desta patologia.
Considerando a grande incidência de UP em pacientes domiciliares,
respaldado no assunto que é complexo, na necessidade de reduzir as complicações
conseqüentes das UP e os riscos aos pacientes é que este estudo se fez
necessário, uma vez que a temática ainda desafia os gestores e profissionais de
saúde.
A questão norteadora utilizada foi “Em que medida a Sistematização da
Assistência de Enfermagem interfere no manejo da úlcera por pressão?” e foi
trabalhada a hipótese de que a Sistematização da Assistência de Enfermagem
interfere no manejo da úlcera por pressão, promovendo a prevenção e recuperação.
Este estudo objetivou analisar a relevância da sistematização da assistência
de enfermagem no manejo das úlceras por pressão em pacientes assistidos pela ID,
tendo como objetivos específicos: Descrever os principais fatores que predispõem o
surgimento de úlceras por pressão nos pacientes da ID; Apresentar os principais
diagnósticos de enfermagem em pacientes da ID com risco para desenvolver úlcera
por pressão; Identificar alternativas e a existência de plano assistencial para a
prevenção e tratamento de úlceras por pressão em pacientes da ID.
Trata-se de uma pesquisa sistemática, descritiva e qualitativa, com base em
dados existentes, fundamentada em evidências científicas presentes na bibliografia
disponível na literatura, por meio de trabalhos e artigos científicos.
Para a concretização deste trabalho, percorreu-se um caminho metodológico
que envolveu seleção de livros, trabalhos e artigos científicos, levando-se em
consideração o critério de visibilidade e acesso para a pesquisadora, o que valida a
evidência científica da bibliografia estudada. Foram utilizados dados ou categorias
teóricas já discorridas por outros pesquisadores e registrados devidamente. A
pesquisadora atuou a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos
constantes dos textos.
Para a coleta de dados, realizada no período compreendido entre agosto de
2014 e maio de 2015, primeiramente foi reunido o material bibliográfico encontrado.
As buscas foram realizadas junto a sites de dados informatizados como Scientific
Electronic Library Online (SCIELO), Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de
16
Pessoal de Nível Superior (CAPES), Biblioteca Regional de Medicina (BIREME),
Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Ministério da Saúde e Literatura Latino-
Americana e do Caribe (LILACS), com ênfase em artigos publicados nos últimos
anos que fizessem alusão ao tema desta pesquisa. Além disso, foram consultados
livros disponibilizados na Biblioteca da Faculdade Metropolitana de Camaçari
(FAMEC), como também do acervo particular da pesquisadora.
Alguns cruzamentos foram utilizados para melhor filtrar os resultados, através
da utilização de termos descritores como “Internação Domiciliar”, “Úlcera por
Pressão”, “Enfermagem na Atenção Domiciliar”, “Sistematização da Assistência de
Enfermagem” e “Enfermagem e Úlcera por Pressão”.
Foram localizados 97 itens literários em artigos científicos, publicações, livros
e periódicos que interessavam ao estudo, posteriormente à identificação e leitura
exaustiva do que foi encontrado. Ainda assim, deste total, selecionou-se 55,
materiais estes que atendiam melhor ao que era proposto pela pesquisa,
promovendo uma visão mais objetiva e delimitada, levando-se em consideração a
importância de cada assunto. Desta forma, foram rejeitados 42 materiais de estudo
por não estarem de acordo com os critérios da autora.
Buscando uma melhor disposição do material selecionado, este foi dividido
conforme o assunto/tema abordado, posteriormente utilizou-se o sistema de
organização de ordem cronológica, para facilitar a construção da pesquisa,
verificando de que forma a literatura tem evoluído quanto à análise da utilização da
Sistematização da Assistência de Enfermagem na recuperação de pacientes
domiciliares, portadores de Úlceras por Pressão.
Análise é o processo onde dados são ordenados e organizados em padrões,
categorias e unidades básicas descritivas; interpretação envolve atribuição de
sentidos para análise, delineando os padrões encontrados e procurando por
relacionamentos entre as dimensões descritivas (PATTON, 1980).
Desta forma, foi realizada uma leitura sistemática dos textos, a partir da
seleção dos materiais bibliográficos, o que tem como finalidade ordenar, condensar
e consolidar as informações contidas nas Fontes, de maneira que estas possibilitem
a obtenção de respostas ao problema da pesquisa.
Todos os dados foram obtidos através de documentos e sistemas públicos,
com acesso disponível à população em geral. Como o estudo foi de revisão
bibliográfica, não foi necessário submetê-lo ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
17
2 INTERNAÇÃO DOMICILIAR
Reforçando o que foi dito, a Internação Domiciliar (ID) é uma estratégia do
SUS que surgiu como proposta de reversão do modelo de atenção à saúde
brasileira, ainda hospitalocêntrica e curativista, sendo a sua lógica a prestação de
assistência junto ao domicílio do paciente.
2.1 Internação Domiciliar Brasileira: Um Breve Histórico e Bases Legais
Logo que nasceu, nos Estados Unidos em 1887, o conceito de Internação
Domiciliar ressaltava os benefícios que teriam os usuários com esse tipo de
atendimento. Não demorou o surgimento de instituições formadas por grupos
organizados de enfermeiras domiciliares, que visualizaram uma importante redução
de custos que este tipo de assistência, ao ser implantada, proporcionaria e esta
motivação econômica impulsionou a expansão da novidade por vários países
(FONSECA, 2015).
Considerada como uma expansão do hospital, a internação domiciliar surgiu
em 1947 para desocupar leitos dos hospitais. A partir de então, as experiências
deste tipo multiplicaram-se na América do Norte e Europa (REHEM; TRAD, 2005).
Assim, segundo Freitas et al. (2000), a atenção domiciliar se fortalece e se
difunde no mundo, há mais de um século. As ações realizadas no domicílio do
paciente, como alternativa ao atendimento ambulatorial e/ou hospitalar, são os
pilares desta modalidade de atenção, e vão muito além da simples reabilitação do
paciente.
Interessante o início desta prática no Brasil. A princípio, os “médicos de
família”, realizavam a assistência à classe que detinha dinheiro e poder, em suas
residências, claro com humanização e qualidade. A caridade, curandeiro e medicina
popular (caseira) era o que era proporcionado aos demais (SAVASSI et al., 2006).
Os serviços de atenção domiciliar surgiram na década de 1960 e têm se expandido no País com maior força a partir da década de 1990, fazendo com que haja necessidade de regulamentação de seu funcionamento e de políticas públicas de modo a incorporar sua oferta às práticas institucionalizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) (SILVA et al., 2010, p.167).
18
A prática da internação a domicílio iniciou-se integrada à proposta do SUS,
considerando-se seus princípios da integralidade, da equidade e da universalidade.
Registros da literatura que discutem a atenção domiciliar (AD) abordam o
envelhecimento da população como um dos principais fatores responsáveis pelo
desenvolvimento do cuidar no domicílio, assim como, o aumento significativo das
doenças crônico-degenerativas e suas complicações, acidentes automobilísticos e
violências (causas externas), sendo que um dos objetivos principais da AD é a
“desospitalização” (MENDES, 2001).
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1959, reconheceu o grande
valor da ID e passou a recomendá-la a países variados. A execução deste serviço
não segue um padrão, tendo em vista a necessidade de se adaptar às
peculiaridades e às condições de cada região/local (SILVA, 2006).
Uma base legal da ID é a Lei nº. 10.424, de 15 de abril de 2002, que
regulamenta a Internação Hospitalar Domiciliar no SUS, acrescenta o capítulo e
artigo à lei 8080, de 19 de setembro de 1990 e dispõe sobre as condições para
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento de
serviços correspondentes e dá outras providências (BRASIL, 2002).
A regulamentação da ID foi através da Legislação em Vigilância Sanitária,
Resolução RDC nº. 11, de 26 de janeiro de 2006, que dispõe sobre o Regulamento
Técnico de Funcionamento de Serviços que prestam Atenção Domiciliar, Publicado
no Diário Oficial da União do Poder Executivo, de 30 de janeiro de 2006. Pública ou
privada, a instituição que realiza esta assistência deverá adotar os padrões de
funcionamento definidos nesta resolução (SILVA, 2006).
Surge então o conceito de Internação Domiciliar, pelo Ministério da Saúde
como: “[...] um conjunto de ações de promoção à saúde, prevenção e tratamento de
doenças e reabilitação prestadas em domicílio, com garantia de continuidade de
cuidados e integrada às Redes de Atenção à Saúde” (BRASIL, 2012).
A ID é vista como a modalidade mais específica de atenção domiciliar, pois,
durante a visita domiciliar, é praticado o que é recomendado, com utilização de
materiais, equipamentos e medicamentos, envolvendo a presença sistematizada e
constante de uma equipe multiprofissional de saúde (LACERDA, 2006).
O Ministério da Saúde, através da portaria nº. 2529, de 19 de outubro de
2006, estabelece requisitos para credenciamento e critérios para realização de
19
internação domiciliar no SUS, revogando a Portaria nº. 2416, de 23 de março de
1998 (BRASIL, 2006).
Representando um marco e tendo a atenção domiciliar como prioridade, o
Governo Federal lançou o Programa Melhor em Casa no dia 08 de novembro de
2011 (BRASIL, 2012).
Em 24 de agosto de 2011, através da Portaria nº 2029, o Ministério da Saúde
(MS) institui a Atenção Domiciliar no âmbito do SUS, estabelecendo as normas para
cadastro e habilitação dos Serviços de Atenção Domiciliar (SAD) e os valores do
incentivo para o seu funcionamento (BRASIL, 2011).
O Ministério da Saúde, em maio de 2013, através da Portaria nº 963, resolve
redefinir a Atenção Domiciliar. Por meio deste documento, é possível conhecer a
organização e funcionamento da Atenção Domiciliar, bem como a composição das
suas equipes, que assim são dispostas (BRASIL, 2013a):
a) Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar (EMAD) Tipo 1:
profissionais médicos, com somatório de carga horária semanal (CHS) de, no mínimo, 40 (quarenta) horas de trabalho;
profissionais enfermeiros, com somatório de CHS de, no mínimo, 40 (quarenta) horas de trabalho;
profissional fisioterapeuta e/ou assistente social, com somatório de CHS de, no mínimo, 30 (trinta) horas de trabalho; e
auxiliares/técnicos de enfermagem, com somatório de CHS de, no mínimo, 120 (cento e vinte) horas de trabalho. b) Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar (EMAD) Tipo 2:
profissional médico, com CHS de, no mínimo, 20 (vinte) horas de trabalho;
profissional enfermeiro, com CHS de, no mínimo, 30 (trinta) horas de trabalho;
1 (um) fisioterapeuta com CHS de, no mínimo, 30 (trinta) horas de trabalho ou 1 (um) assistente social com CHS de, no mínimo, 30 horas de trabalho;
auxiliares/técnicos de enfermagem, com somatório de CHS de, no mínimo, 120 (cento e vinte) horas de trabalho.
c) Equipe Multiprofissional de Apoio (EMAP) que terá composição mínima de 3 (três) profissionais de nível superior, escolhidos dentre as ocupações: assistente social; fisioterapeuta; fonoaudiólogo; nutricionista; odontólogo; psicólogo; farmacêutico e terapeuta ocupacional.
2.2 O Cuidar no Domicílio
Os hospitais públicos brasileiros existentes não são suficientes para atender à
demanda constante de internações, o que acarreta em superlotações, leitos
improvisados em corredores hospitalares, inexistência explícita de assistência
qualificada e humanizada ofertada à população. Além disso, cada leito hospitalar
ocupado onera e muito as despesas de uma instituição (BRASIL, 2012).
20
Observa-se ainda que muitos pacientes internados, com quadros estáveis,
poderiam continuar o seu tratamento, não necessariamente em ambiente hospitalar,
reduzindo desta maneira os riscos de uma infecção hospitalar. Percebe-se a
necessidade de reverter esta situação caótica, e a Internação Domiciliar, surge como
instrumento para prosseguir a assistência de um paciente, em seu domicílio, com
toda estrutura, equipamentos e materiais necessários para sua pronta recuperação
(BRASIL, 2012).
Ao devolver o paciente ao seu meio familiar, pretende-se que haja uma
cumplicidade e interação entre este, sua família e o profissional de saúde visando o
seu devido restabelecimento. É preciso que o paciente seja incentivado a se tornar
independente, ativo e participativo. Tem-se como resultado, a redução de custos e a
melhoria da qualidade de vida deste indivíduo (BRASIL, 2012).
Reiterando o que já foi dito, a internação domiciliar possui alguns objetivos
prioritários, como: Educar usuário e familiar/cuidador, para que se tornem capazes
de realizar o cuidado necessário, procedimentos básicos (ex.: banho de leito,
curativo simples, nebulização...); Oferecer assistência individualizada, conquistando
a confiança do paciente e seus familiares; Ofertar o cuidar humanizado, ao
proporcionar ao paciente recuperação da saúde no aconchego do lar; Disponibilizar
leitos hospitalares a usuários que não podem ser atendidos a domicílio, devido a
quadros clínicos mais complexos; Reduzir risco de infecção hospitalar, que aumenta
conforme a permanência no hospital; Prestar assistência com a mesma segurança
ofertada em um hospital, porém, com menos custo (SILVA, 2006).
O cuidador é uma pessoa responsável pelo acompanhamento do paciente
durante a assistência domiciliar. Este é de livre escolha do paciente e é a referência
para as trocas de informações com a equipe da ID, recebendo adequada orientação
para os cuidados básicos necessários. É importante frisar que sem um cuidador, o
paciente não pode ser admitido no programa, já que a assistência da ID,
diferentemente de um hospital e de serviços de “homecare”, não presta assistência
24h por dia (BRASIL, 2012).
Assim, percebe-se que o paciente pode se tornar independente, bem como,
ter uma apropriada manutenção de qualidade de vida (higiene, alimentação e
conforto), se alguns cuidados básicos com alguns procedimentos simples forem
aprendidos, desde que devidamente orientados por profissionais de enfermagem.
Estas orientações são estratégias do processo de educação em saúde, que iniciam
21
na admissão do paciente, através das trocas de informações, e segue no
aprendizado e prática dos cuidados básicos.
2.3 O Enfermeiro e o Cuidado Domiciliar
Sabe-se que o enfermeiro tem participação ativa e essencial em todos os
momentos que envolvem o processo da internação domiciliar.
Começa com a captação e busca ativa de pacientes, que envolve a avaliação,
junto ao médico e à assistente social, dos critérios de elegibilidade para o programa.
Estando o paciente considerado elegível, inicia-se o processo de mudança do
mesmo, do hospital para o seu domicílio; a adequação de modelos de cuidado a
serem adotados, bem como a elaboração do plano de cuidados e assistência
terapêutica (esta prescrita pelo médico) (BRASIL, 2012).
O enfermeiro e os técnicos de enfermagem (que são devidamente
capacitados e orientados pelo enfermeiro) são responsáveis por acompanhar a
evolução clínica do paciente, já instalado no domicílio, identificando as dúvidas e
necessidades dos envolvidos (paciente/cuidador/família), além de orientar a melhor
forma que pode ser realizado o cuidado (LACERDA; OLINSKI, 2003).
É imprescindível que haja relação de confiança e simpatia entre o enfermeiro
e paciente/cuidador/família, pois somente desta forma é que os objetivos do cuidado
poderão ser atingidos e a humanização praticada. A educação em saúde e o plano
de cuidados, para serem eficazes, deverão considerar o meio sócio-cultural-
econômico em que os assistidos encontram-se inseridos, pois assim a proposta da
ID poderá ser compreendida e aceita com maior facilidade. Qualquer mudança no
domicílio ou na relação familiar exige nova avaliação dos critérios de elegibilidade
para a permanência do paciente no programa (BRASIL, 2012).
Seguindo este contexto, Lacerda e Olinski (2003) afirmam que o saber
informal dos familiares/cuidadores deve ser reconhecido e valorizado pelo
enfermeiro, pois são estes os envolvidos diretamente na assistência dos pacientes.
Através da troca de conhecimentos e saberes que é realizada no domicílio, é
possível ao enfermeiro perceber quais informações foram assimiladas, identificar
limitações e capacidades de cada um, adequando-se o plano de cuidados ao perfil
do paciente e seu cuidador. O enfermeiro, assim, poderá treinar o cuidador quanto
22
aos cuidados higiênico-sanitários, alimentação, administração de medicação, sinais
de agravamento do quadro etc.
Ainda no domicílio do paciente, cumpre ao enfermeiro e ao assistente social a
orientação e conscientização do cuidador/familiar quanto à necessidade de se
manter o ambiente limpo e organizado, de modo de que este incentive de forma
positiva e satisfatória na recuperação do paciente. Quanto à organização do cuidado
domiciliar, tem-se como estratégia o prontuário espelho, uma pasta que possui cópia
de todas as evoluções (registro das atividades) dos profissionais, bem como dados
como terapia medicamentosa, diagnóstico, exames e procedimentos realizados com
o usuário (BRASIL, 2012).
Manter a organização do prontuário do paciente é uma das atribuições do
enfermeiro, bem como a liberação de materiais, equipamentos e medicamentos;
comunicação aos demais integrantes da equipe assistencial, dos quadros clínicos
que tiveram algum tipo de alteração significativa, considerando que o enfermeiro é o
profissional que desenvolve maior interação com o usuário (BRASIL, 2012).
Conforme Santos et. al. (2009), constitui característica marcante do
enfermeiro, a sua atuação na organização do trabalho e capacidade de se articular
com diversos profissionais de saúde, no entanto, é preciso refletir se é aceitável para
o profissional esta evidência dentre os demais profissionais da equipe de saúde,
como aquele que “faz”, “soluciona” e toma para si a maioria ou todas as
responsabilidades, sem compartilhá-las com os colegas de trabalho.
Destaca-se que o papel do enfermeiro no serviço de internação domiciliar
ultrapassa a organização da assistência de enfermagem, este precisa ser também
um “político”, pois é necessária uma articulação contínua com os demais serviços e
profissionais que compõem a gestão municipal de saúde, para que o paciente seja
assistido de forma integral em suas necessidades.
23
3 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
Sintetizando a evolução histórica da SAE, inicia-se a história da enfermagem
com Florence Nightingale, conhecida como a dama da lamparina, no século XIX,
que se destacou na Guerra da Criméia, devido aos cuidados que prestou às vítimas
da guerra. No ano de 1955, a expressão “processo de enfermagem” (PE) é
empregada pioneiramente por Lídia Hall para definir as ações e reações do
enfermeiro em relação ao desempenho do paciente. Em 1968, no Brasil, é publicado
o primeiro artigo sobre diagnóstico de enfermagem por Wanda Horta, que em 1979
propôs seis fases para o PE: histórico, diagnóstico, plano assistencial, plano de
cuidados, evolução e diagnóstico (SANTOS, 2014).
Segundo Amante et al. (2009), as práticas de enfermagem, durante um bom
tempo, se basearam em crenças e normas tradicionais, no entanto houve a
necessidade de se investigar para edificar o saber, iniciando-se na década de 50 o
incremento de conhecimentos específicos, através da criação de teorias próprias da
enfermagem. Este fato favoreceu a descentralização do modelo biomédico e o foco
do cuidado de enfermagem ao paciente e suas necessidades básicas.
Os diversos modelos teóricos, usados como referência para a elaboração da
SAE, colaboram e muito para a ciência da enfermagem. A enfermagem passa a
utilizar métodos específicos e sistemáticos para organizar as suas ações, desde a
coleta de dados à implementação e avaliação do cuidado. Desta maneira, a
enfermagem deixa de ser empírica e passa a ser científica (AMANTE et al., 2009).
Atualmente, é possível conceituar e organizar sistematicamente as práticas
de enfermagem graças ao Processo de Enfermagem, também conhecido como
precursor da SAE.
A SAE pode ser equiparada ao método utilizado para solucionar problemas,
onde informações são coletadas, visando a identificação de algo que não esteja
dentro da normalidade (problema), para que em seguida sejam elaboradas
alternativas para a resolução do problema, opte-se por uma adequada, teste-se e
avalie-se os resultados, até que estes sejam satisfatórios (ATKINSON, 1989).
Segundo Daniel (1979), o processo de enfermagem objetiva melhorar a
assistência de enfermagem ao paciente, pois permite que se integrem elementos de
pensamento crítico para fazer julgamentos e adotar ações com base na razão, além
de exigir empenho do profissional em entender e conhecer o paciente como
24
indivíduo, através de seus conhecimentos e habilidades técnico-científicos, para
implementação das ações sistematizadas.
[...] a Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE, sendo atividade privativa do enfermeiro, utiliza método e estratégia de trabalho científico para a identificação das situações de saúde/doença, subsidiando ações de assistência de Enfermagem que possam contribuir para a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde do indivíduo, família e comunidade (COFEN, 2002).
Potter (1998) entende que a SAE configura um conjunto de atividades
interligadas e praticadas de maneira sistemática que possibilita identificar um
problema de saúde, intervir e conduzi-lo, de modo a fornecer uma assistência
eficiente. Logo, o enfermeiro deverá sempre aplicar a SAE, que é composto pelas
fases: histórico (entrevista e exame físico), diagnóstico de enfermagem,
planejamento de enfermagem, implementação de enfermagem e avaliação de
enfermagem.
Percebe-se que é um processo de trabalho contínuo e ininterrupto, onde o
paciente é reavaliado sistematicamente, de forma individualizada, estando todas as
etapas inter-relacionadas. Tem como vantagens tornar a enfermagem mais
específica, promover um cuidar humanizado e oferecer uma assistência contrária ao
modelo biomédico.
Existem diversas bases legais que validam a SAE e determinam a sua
legitimidade, tais como: Lei 7.498 de 25/07/86 – Decreto Lei 94.406 de 08/06/87:
Regulamentação do exercício profissional de enfermagem; Resolução COFEN
240/2000: Aprova o código de ética dos profissionais de enfermagem; Decisão
COREN-BA 007/2000: Normatiza a implantação da SAE nas instituições de saúde
no âmbito do Estado da Bahia; Decisão COREN-BA 007/2001: Normatiza os
princípios gerais para ações que constituem o Registro de Enfermagem; Resolução
COFEN nº 272/2002, afirma que a implementação da Sistematização da Assistência
de Enfermagem – SAE deve ocorrer em toda instituição da saúde, pública e privada
(COFEN, 2015; COREN-BA, 2015).
A seguir, para facilitar a compreensão do processo de enfermagem, será feita
uma abordagem conceitual e descritiva de cada fase que constitui a Sistematização
da Assistência de Enfermagem.
25
3.1 Histórico de Enfermagem
Segundo Potter (1997), o histórico de enfermagem é a coleta de dados sobre
o nível atual de bem estar do sujeito do cuidado, incluindo uma revisão dos sistemas
corporais, história familiar e de saúde, história sócio-cultural, saúde espiritual e
reações mentais e emocionais à doença. São utilizados a entrevista, o exame físico
e os resultados de exames (diagnósticos e laboratoriais) para obtenção das
informações necessárias ao levantamento dos prováveis diagnósticos.
Durante a entrevista, é preciso haver um diálogo entre o paciente e o
enfermeiro, o que requer conhecimento científico, critério, tato e experiência.
Segundo Smeltzer e Bare (2006), a entrevista clínica é uma das etapas mais
importantes da relação enfermeiro-paciente. É a partir disto que se estabelece a
qualidade de relacionamento, primando-se por uma relação de empatia e respeito,
obtém-se informação satisfatória para uma verificação minuciosa do estado de
saúde do paciente e se tem o embasamento para o diagnóstico de enfermagem.
Nesta fase, o enfermeiro deve atentar para os aspectos éticos como
comunicar o objetivo e uso dos dados fornecidos; respeitar a decisão do paciente
em participar ou não da entrevista; proporcionar um ambiente isolado e confortável
para a coleta de dados, além de deixar claro quanto à segurança do sigilo. A análise
de dados deve ser impessoal, descritiva, concisa e completa, utilizando o
pensamento crítico, prevendo que uma queixa leva a várias perguntas até chegar a
um diagnóstico. A coleta de dados realizada de forma negligenciada levará a análise
errônea e conseqüentemente a um plano de assistência inadequado (SMELTZER;
BARE, 2006).
Não havendo conhecimento e sabedoria adequados, o enfermeiro não
conseguirá identificar os problemas potenciais ou existentes do sujeito, assim como
se faz necessária habilidade de comunicação interpessoal, para que se estabeleça
relação de confiança e respeito, considerando medos e anseios, crenças e valores,
a diversidade de gênero, raça e religião de cada indivíduo. Deve-se ainda atentar
para a abordagem, escolhendo as palavras corretas para que haja efetividade na
coleta de dados e a comunicação não verbal, quando apenas o corpo que “fala”,
pois a linguagem física é o reflexo do que o paciente está passando, sendo o tempo
para a entrevista fundamental para que o paciente sinta-se acolhido e respeitado
(MORAES, 2008).
26
Os resultados de exames diagnósticos e laboratoriais complementam a
identificação ou corroboram alterações observadas ou relatadas pelo paciente
durante a entrevista.
Já o exame físico é um levantamento das condições gerais do paciente,
envolvendo questões físicas e psicológicas, visando à obtenção de elementos
significativos para a enfermagem, que possam subsidiar a assistência a ser
prestada. Trata-se de uma revisão céfalocaudal, envolvendo cada sistema corpóreo
do paciente, utilizando-se a inspeção, palpação, percussão e ausculta que fornece
informação objetiva sobre o mesmo e permite que o enfermeiro faça julgamentos
clínicos (POTTER, 1997).
3.2 Diagnóstico de Enfermagem
O diagnóstico de enfermagem (DE) é a segunda etapa do processo de
enfermagem. Segundo Potter (1997) é a expressão usada para classificar problemas
de saúde dentro do domínio da enfermagem. Deve-se entender problema de
enfermagem como toda a situação e/ou condição apresentada pelo indivíduo, família
e comunidade que exija assistência profissional.
Diagnóstico de enfermagem é conceituado pela Associação Norte-americana
dos Diagnósticos de Enfermagem (NANDA) como “Um julgamento clínico das
respostas do indivíduo, da família ou da comunidade aos processos vitais ou aos
problemas de saúde atuais ou potenciais, os quais fornecem a base para a seleção
das intervenções de enfermagem, para atingir resultados, pelos quais o enfermeiro é
responsável” (CARPENITTO, 2002, p. 33).
Entende-se que o enfermeiro julga clinicamente, envolvendo sua experiência,
visão holística (esferas biológicas, sociais, psicológicas e espirituais), percepção e
também intuição, embasado em evidências, sobre a resposta do paciente aos
problemas de saúde, elaborando assim, os diagnósticos. Assim, diagnóstico de
enfermagem é uma constatação de um agravo instalado ou possível que necessita
da intervenção de enfermagem.
Para Potter (1998), o processo de diagnóstico de enfermagem inicia-se com a
análise dos dados (Figura 1), ocorrendo então a identificação das necessidades do
paciente e dos problemas de enfermagem. O diagnóstico de enfermagem visa
identificar as necessidades e determinar o grau de dependência, que pode ser total,
27
onde a enfermagem faz pelo paciente tudo que ele não tem condições de fazer, e
parcial, onde a enfermagem pode situar-se em termos de ajuda, orientação,
supervisão e encaminhamento.
Figura 1. Etapas da Análise de Dados
Fonte: Potter (1998).
Ao avaliar a figura acima, verifica-se que para analisar os dados é preciso
realizar um julgamento clínico, estabelecendo um padrão de comparação entre o
que foi encontrado no cliente e o que é determinado como fisiológica e
anatomicamente normal dentro do conhecimento científico.
A partir desta análise, para validar o diagnóstico, a NANDA fornece
características que são critérios clínicos encontrados durante o histórico de
enfermagem, ou seja, são os problemas de enfermagem encontrados (sinais e
sintomas apresentados). Deve-se também reconhecer os fatores relacionados, que
causam ou associam-se ao problema existente ou fatores de risco, que podem levar
ao acontecimento ou aumentam a vulnerabilidade do problema em potencial. Podem
3. Tirar uma conclusão bem pensada
Ex: Risco para integridade da pele prejudicada Ingesta nutricional inadequada
2. Comparar com padrões normais
Ex: Pele sem alterações Ingesta nutricional adequada
1. Reconhecer um modelo ou tendência
Ex: Eritema em locais da pele Fraqueza
28
ser elementos ambientais, fisiológicos, psicológicos, genéticos ou químicos (NANDA,
2012).
É fato que já se avançou bastante no quesito formulação dos diagnósticos de
enfermagem, com uma nomenclatura global para sistematizar a prática de
enfermagem, definindo os cuidados mais atuais baseados em hipótese humanística
e em evidências clínicas. Desde então, acontecem reuniões internacionais para
discutir as reformulações da Taxonomia NANDA, o que gera novas versões que
estão sendo publicadas, a cada dois anos, em idiomas variados (MORAES, 2008).
Segundo Moraes (2008), os diagnósticos de enfermagem norteiam o
planejamento e a escolha dos cuidados de enfermagem necessários ao paciente.
Além disso, facilitam a comunicação entre enfermeiros e auxiliam no planejamento
para alta; auxiliam na prioridade de atendimento ao paciente; encoraja a
comunicação organizada e servem como indicação para melhoria da qualidade de
assistência.
3.3 Planejamento de Enfermagem
Silva (2011) afirma que após as necessidades de cuidados e diagnósticos
serem identificados, é chegado o momento de o enfermeiro traçar uma trajetória, um
plano voltado para a manutenção e recuperação da saúde do paciente. É um ato
sistematizado que precisa ser documentado para que toda a equipe multidisciplinar
e de enfermagem possam ter conhecimento, o que se constitui o Planejamento de
Enfermagem.
É o conjunto de medidas decididas pelo Enfermeiro, que direciona e coordena a assistência de Enfermagem ao paciente de forma individualizada e contínua, objetivando a prevenção, promoção, proteção, recuperação e manutenção da saúde (COFEN, 2002).
Conforme Tannure e Gonçalves (2008), a etapa do planejamento envolve
alguns passos como formulação das prioridades para os diagnósticos,
estabelecimento de resultados visando minimizar ou corrigir os problemas e
anotação organizada dos diagnósticos, resultados esperados e prescrições de
enfermagem.
29
Verifica-se que é importante a formulação de um plano de cuidados, pois
assim é possível facilitar a interação entre os cuidadores, bem como direcionar o
cuidado e promover registros que poderão ser consultados para avaliações, estudos
de caso, pesquisas científicas etc.
Segundo Silva (2011), o planejamento de enfermagem utiliza o planejamento
estratégico, tático e operacional da ciência da administração. Para se alcançar os
resultados positivos e em curto prazo, é necessário fazer a provisão e previsão dos
recursos disponíveis (humanos, materiais...), que sejam suficientes para atingir os
objetivos propostos e fornecer uma assistência de qualidade ao paciente.
[...] a implementação da SAE não é subsidiada apenas pelo plano das ações, mas perpassa por uma organização que começa no cuidador, em suas motivações de cuidar, e segue pelo ambiente contextual do sujeito cuidado, fora das fronteiras das instituições de saúde – na família e comunidade (nível estratégico). Esse processo envolve a estrutura física, humana e material do espaço de promoção/recuperação da saúde, ou seja, a administração da unidade (nível tático); e conflui para os procedimentos de enfermagem voltados para cada problema identificado (nível operacional) [...] (SILVA, 2011, p. 562).
Durante o planejamento, o enfermeiro deve enumerar os problemas e
diagnósticos do paciente, priorizar os que precisam de cuidados imediatos, pois
estes podem causar instabilidade no quadro do paciente e levá-lo a óbito, separando
daqueles que podem receber tratamento a médio e longo prazo (TANNURE;
GONÇALVES, 2008).
Nota-se que para cada diagnóstico de enfermagem identificado, deverá haver
uma prescrição de enfermagem com o resultado esperado. Avaliando-se o resultado
esperado é que será possível verificar se a prescrição de enfermagem foi eficaz, se
solucionou ou reduziu as deficiências do paciente. Se os resultados não forem
alcançados, significa que o enfermeiro deverá reavaliar os diagnósticos, os cuidados
prescritos e o tempo estipulado.
Ressalta-se que os resultados esperados devem ser focados no paciente e
não no enfermeiro, devem ser claros e sucintos, mensuráveis, tangíveis
considerando os recursos disponíveis na unidade de saúde, com uma estimativa de
tempo para o seu alcance e direcionamento para a continuidade da assistência
(TANNURE; GONÇALVES, 2008).
30
3.4 Implementação de Enfermagem
Pode-se dizer que a 4ª etapa da SAE, implementação, corresponde à
concretização do plano assistencial de enfermagem que coordena a ação da equipe
de enfermagem na execução dos cuidados adequados ao atendimento das
necessidades básicas específicas, diagnósticos identificados do sujeito que
necessita de intervenção.
A Resolução COFEN Nº 358/2009 dispõe que a implementação é a execução
das ações e intervenções que foram elaboradas no planejamento de enfermagem,
necessárias à obtenção dos resultados esperados (COFEN, 2009).
É nesta etapa que são realizadas e registradas as prescrições de
enfermagem pelo enfermeiro, no intuito de monitorar o quadro de saúde do paciente,
minimizar riscos, manter em controle o agravo identificado, fornecer auxílio para as
rotinas da vida diárias e promover a saúde. Deverão se basear no fator relacionado
e características definidoras (sinais e sintomas) dos diagnósticos levantados, para
assim definirem os cuidados capazes de reduzir ou eliminar fatores que contribuam
para os problemas dos pacientes (TANNURE; GONÇALVES, 2008).
Para Silva (2011), a implementação está inserida no planejamento,
evidenciando-se a conjuntura biopsicossocial, cultural, ambiental, espiritual que a
implementação assume em Semiologia e Semiotécnica, e que envolve o ambiente
de intervenção assistencial no processo de cuidar do indivíduo/família/comunidade.
Alguns fatores são imprescindíveis para a validade e eficácia das prescrições,
estas devem possuir a data em que foram formuladas, ações a serem realizadas no
verbo infinitivo, o profissional responsável por cada ação, frases descritivas (o que,
como, quando, onde, freqüência, tempo estimado/duração do tratamento) e a
assinatura com o COREN do enfermeiro que elaborou as prescrições. Uma boa
redação é essencial para impactar a assistência e despertar o interesse de todos os
envolvidos (TANNURE; GONÇALVES, 2008).
Vale frisar que cumpre ao enfermeiro a prescrição de cuidados para as
complicações fisiológicas e necessidades humanas básicas do paciente,
diferentemente dos profissionais médicos que tratam as condições clínicas e
prescrevem tratamentos.
Tannure e Gonçalves (2008) relatam que existem dois tipos de prescrição,
dependente, quando o médico solicita e independente, que pode solucionar o
31
problema do paciente sem intervenção médica. Há também as prescrições
interdependentes onde há a participação e interação de mais componentes da
equipe de saúde em prol da melhoria da saúde do paciente.
Pode-se entender, até o momento, que para cada diagnóstico de
enfermagem, se espera um resultado, que para ser alcançado, é necessário uma
prescrição de enfermagem. Este processo deverá ser revisto, observando-se as
respostas do paciente ao tratamento, verificando a eficácia das prescrições, que
deverão ser claras e objetivas, não permitindo dúvidas para quem lê, o que
comprometeria a assistência.
É preciso lembrar que não se deve estabelecer prescrições pré-elaboradas,
para serem completadas, visto que a SAE preza pelo cuidado individualizado,
através de uma abordagem holística.
3.5 Avaliação de Enfermagem
Segundo o que preconiza a Resolução do COFEN nº 358/2009, a última
etapa da SAE, a avaliação de enfermagem, é um processo decisivo e sistemático
que observa ininterruptamente as mudanças nas respostas do paciente, para
verificar se as intervenções de enfermagem atingiram ou não o resultado esperado;
e se será necessário mudanças no planejamento de enfermagem (COFEN, 2009).
Silva (2011) afirma que esta etapa é como um item norteador e regulador da
SAE, que no processo de avaliação e reavaliação de todas as etapas busca
resultados positivos para a condição de saúde do paciente.
Isto exige da enfermeira conhecimento e articulação científica, sensibilidade, intuição, habilidade cognitiva-motora-emocional para (re)delinear estratégias ao alcance dos resultados esperados; ela precisa assim, de uma práxis sistematizada, cientificamente embasada, contextualmente verificada, sensivelmente analisada e humanamente compreendida na atitude de ser-saber-fazer o Cuidado de Enfermagem (SILVA, 2011, p. 563).
A avaliação ou evolução, segundo Tannure e Gonçalves (2008), é o ato de
acompanhar as reações do organismo do paciente ao que lhe foi prescrito, à terapia
que lhe foi proposta, sendo que este procedimento deverá ser registrado em
prontuário ou documento específico, através de anotações de enfermagem. Durante
este processo, o enfermeiro estará avaliando criteriosamente o avanço da situação
32
do paciente, revendo o que está no planejamento e aplicando medidas corretivas, se
for o caso.
Uma supervisão minuciosa do que engloba os cuidados prestados ao
paciente é uma ferramenta que proporciona maior qualidade e excelência à
assistência de enfermagem e às práticas de saúde como um todo, garantindo ações
mais seguras e eficazes, daí a sua importância (MORAES, 2008).
Tannure e Gonçalves (2008) ainda observam que a avaliação ocorre durante
todo o processo de enfermagem, desde o exame físico do paciente que deve ser
diário, até a reavaliação dos diagnósticos, resultados esperados e prescrições já
estabelecidas, assim, percebe-se, que mesmo sendo a última etapa da SAE, isso
não significa que o processo de enfermagem, junto ao indivíduo, tenha findado. O
processo de enfermagem se configura como um ciclo, onde as etapas se
interrelacionam, e somente será interrompido com a alta hospitalar por melhora do
paciente, por transferência ou até mesmo óbito.
Quadro 1. Representação Esquemática do Processo de Enfermagem
AVALIAÇÃO
Investigação
Diagnóstico
Planejamento
Implementação
Coletar todos os dados subjetivos e objetivos do paciente, através de exame físico, exames e entrevista.
Analisar as informações coletadas e identificar os possíveis diagnósticos, priorizando os considerados mais graves.
Estabelecer plano de ações e estratégias, com resultados esperados, para os problemas encontrados.
Prescrever ações de enfermagem que visem atingir os resultados esperados e solucionar os problemas.
Fonte: Tannure e Gonçalves (2008).
Cabe ainda citar que nesta fase, o enfermeiro precisa investigar se a
assistência que esta sendo fornecida ao paciente está conforme o planejado e
previsto, se as prescrições estão surtindo efeito e caso contrário, identificar as falhas
cometidas e buscar corrigi-las o mais breve possível, pois caso haja um
agravamento da situação do paciente, supõe-se que houve equívoco em uma ou
mais etapas do processo de enfermagem (MORAES, 2008).
Nota-se que a SAE representa um processo que agiliza e otimiza a
assistência, contribuindo para a equipe multiprofissional com a certeza da qualidade
33
e continuidade do cuidado e é capaz de unir os laços profissionais de toda uma
equipe comprovando sua eficácia como um instrumento técnico-científico. Logo,
torna-se um instrumento norteador da assistência que deve ser implementado pela
Internação Domiciliar, por proporcionar a organização do cuidado, gerando
autonomia ao profissional enfermeiro perante a equipe de saúde, e garantindo que o
cuidado realizado atenda às reais necessidades do cliente.
34
4 ÚLCERA POR PRESSÃO
A úlcera por pressão é um agravo e problema de saúde que ainda persiste
como desafio para a assistência de enfermagem prestada aos pacientes, com
destaque para os que se encontram restritos ao leito ou portadores de plegias.
Segundo Costa (2003) a UP recebe denominações bastante variadas,
principalmente como “úlcera de decúbito” e “escara”, erroneamente, pois a escara é
uma nomenclatura aplicada para o tecido necrosado seco, que forma uma crosta
consistente na ferida.
Percebe-se que é relevante o conhecimento da nomenclatura mais adequada
para este tipo de ferida, bem como a sua etiologia, classificação, fatores de risco,
prevenção e tratamento.
4.1 Conceito
A Úlcera por Pressão (UP) é definida internacionalmente, segundo o
American National Pressure Ulcer Panel (NPUAP) e European Pressure Ulcer
Advisory Panel (EPUAP), como uma lesão situada no tegumento ou tecidos e
estruturas subjacentes, geralmente sobre uma proeminência óssea, secundária a
um aumento de pressão externa, ou pressão combinada com fricção e cisalhamento.
Para Costa et al. (2005), úlceras de pressão são decorrentes de insuficiência
de oxigênio no tecido local provocada pela mudança da representação da dor em
pacientes com lesão medular (tetraplégicos, paraplégicos ou hemiplégicos) ou
pacientes debilitados, idosos ou cronicamente doentes.
A UP compreende áreas de morte tissular, que tendem a ocorrer quando há
uma compressão do tecido mole por uma proeminência óssea e um plano externo,
por extenso período (DINIZ et al., 2014).
Paranhos e Santos (1999), concordam ao afirmarem que a UP é um local da
pele onde houve morte de células por ter sido comprimido por uma saliência óssea e
uma superfície densa, por um tempo prolongado.
Entende-se que a lesão cutânea da UP é resultante da falta de oxigenação
das células, decorrente da falta de irrigação sanguínea para o local, visto que a pele,
principalmente onde há protuberância óssea, é pressionada contra camas, macas,
cadeiras de rodas, talas ou qualquer objeto de característica rígida.
35
4.2 Etiologia e Fatores de Risco
Compreender a maneira como a úlcera por pressão acontece é um processo
um pouco complexo.
Irion (2005) consegue descrever alguns fatores de risco que favorecem o
acometimento por UP, dentre os quais se pode enfatizar: nível de consciência
alterado; sensibilidade diminuída por lesões medulares ou cerebrais; imobilidade
física; lesões traumáticas; coma, anestesia, dor; umidade em excesso por
incontinência urinária e fecal; edema; desnutrição; ausência de mudança de
decúbito, superfícies de sustentação impróprias; déficit de higiene e do autocuidado.
Blanes et al. (2004) afirmam que tanto fatores intrínsecos, quanto extrínsecos
aos pacientes podem causar as UP’s, destacando quatro fatores extrínsecos que
são a pressão, fricção, cisalhamento e umidade.
Diniz et al. (2014) consideram que a UP possui uma etiologia multifatorial de
riscos extrínsecos e intrínsecos. Ainda citam que alguns trabalhos sinalizam como
fatores extrínsecos as forças de fricção e cisalhamento e, intrínsecos, a maior idade
(a partir de 80 anos), limitação das atividades rotineiras, incontinência urinária e/ou
fecal, anemia, infecções, estado nutricional, dentre outros.
Já para Rodrigues et al. (2008), as UP se desenvolvem por motivos variados,
abrangendo questões externas (ambiente) e internas (organismo). Sendo assim,
referem que distúrbios individuais do paciente somados ao tipo de cuidado que lhe é
ofertado é que pode proporcionar o surgimento de uma UP.
A pressão, cisalhamento e fricção, considerados fatores externos, ao
dificultarem a circulação sanguínea, prejudicando assim a nutrição e oxigenação das
células e tecidos da pele, atuam de maneira negativa na estrutura da lesão
(RODRIGUES et al., 2008).
Carvalho (2012) cita ainda que em pacientes debilitados, em estado de
desnutrição, restritos ao leito, com incontinências ou problemas mentais, o
cisalhamento, pressão e fricção atuam de modo mais enérgico no mecanismo da
ferida.
Segundo Costa (2003), pressão é uma força que envolve duração e
intensidade, que devido à gravidade, age de maneira perpendicular à pele, o que
provoca um esmagamento do tecido por dois itens, algo inerente ao próprio paciente
e outro que lhe é externo como a maca, cama, cadeira de rodas etc.
36
Irion (2005) define fricção como o ato de arrastar ou puxar uma superfície ou
um corpo de forma direta sobre outra, provocando o atrito, fato que pode ser visto ao
se movimentar um paciente no leito sobre o lençol.
O cisalhamento é o mesmo que uma modificação que um corpo sofre devido
à ação de forças cortantes (BRASIL, 2013c).
Paranhos (1999) entende que a combinação entre as forças da pressão e
fricção, paralelas no tegumento é que resulta no cisalhamento.
A pressão física é considerada o fator mais importante no desenvolvimento de LTP, ocorre quando o tecido mole é comprimido entre uma saliência óssea e superfície dura, o que impede o fluxo eficiente de sangue, causando isquemia e podendo até levar a morte dos tecidos (necrose) devido a hipóxia. O cisalhamento acontece quando o cliente permanece imóvel na cama, enquanto as camadas da pele movimentam-se. Se duas superfícies são esfregadas uma contra outra, como por exemplo: no arrastar o cliente ao invés de levantá-lo, as camadas superiores das células epiteliais são removidas, isto é chamado de fricção. A umidade que é freqüente quando o cliente sofre de incontinência urinária, fecal ou apresenta suor excessivo, pode aumentar o efeito da fricção (RODRIGUES et al., 2008, p. 569).
Quanto aos fatores internos, Blanes et al. (2004), dão ênfase para as
condições nutricionais, temperatura corporal, tabagismo, perfusão e oxigenação dos
tecidos, doenças crônicas (diabetes mellitus), doenças degenerativas, doenças
cardiovasculares e terapia medicamentosa em uso pelo paciente.
4.3 Classificação e Estadiamento
Sabe-se que a inspeção da pele diária, identificando os fatores de risco é
essencial para a correta classificação das UP’s e adequado plano de cuidados para
o tratamento do paciente.
Os tipos de tecidos que podem compor uma úlcera por pressão, no processo
cicatricial, servem para classificá-la, bem como para identificar a fase em que a
lesão está, conforme Ministério da Saúde (BRASIL, 2002, p. 26):
a) Tecido necrótico: varia de coloração, desde a cor preta, cinza, esbranquiçada, marrom, até a esverdeada e preta. Corresponde ao tecido morto, desidratado, podendo estar presente também o pus e o material fibroso, que favorecem a multiplicação de microorganismos. A crosta é um tipo de tecido desvitalizado, devido a sua exposição ao ar, ocasionado pelo ressecamento e desidratação celular;
37
b) Tecido fibrinoso: apresenta cor amarela, de consistência cremosa, devido à quantidade de degradação celular. A fibrina pode recobrir toda a extensão da úlcera ou se apresentar como pontos de fibrina recobrindo parcialmente a lesão; c) Tecido de granulação: tem aspecto vermelho, brilhante e úmido. O tecido doente tem aspecto pálido-escuro, podendo sangrar espontaneamente e com aparência friável (que se parte facilmente), indicando processo infeccioso em andamento; d) Tecido de epitelização: tem aspecto branco rosado, que migra a partir da margem para o centro da úlcera.
Para uma melhor visualização e identificação dos tecidos acima abordados,
foram selecionadas ilustrações representadas pelas Figuras 2, 3, 4 e 5.
Figura 2. Tecido Necrótico Figura 3. Tecido Fibrinoso
Fonte: Brasil (2002, p. 26). Fonte: Brasil (2002, p. 26).
Figura 4. Tecido de Granulação Figura 5. Tecido de Epitelização
Fonte: Brasil (2002, p. 27). Fonte: Brasil (2002, p. 27).
Existe ainda uma classificação conforme o grau de profundidade da UP,
reconhecida e praticada internacionalmente, definida pela NPUAP, que o profissional
enfermeiro utiliza no estadiamento das UP’s, o que permite definir o perfil da lesão e
facilita a elaboração de estratégias capazes de proporcionar um tratamento mais
efetivo (BRASIL, 2012).
Conforme Wada et al. (2010), as UP’s eram classificadas em quatro estágios
(I, II, III e IV), no entanto, em 2007, a NPUAP adicionou mais dois estágios, lesão
38
suspeita de perda tecidual profunda e não classificável. Sendo assim, pode-se dizer
que a classificação nos dias atuais é:
Estágio 0 – Lesão suspeita de perda tecidual profunda, como o título já
sugere, a profundidade desconhecida. Geralmente caracterizada pelas cores
marrom, púrpura ou roxa, em áreas de pele íntegra ou pela presença de bolhas de
sangue conseqüentes da ação do cisalhamento nos tecidos. Este estágio é muito
difícil de ser identificado em pacientes de pele escura (CARVALHO, 2012).
Figura 6. Lesão Suspeita de Perda Tecidual
Fonte: Carvalho (2012, p.182).
Estágio I – Nesta fase a pele encontra-se íntegra e apresenta em pele de cor clara
e em peles de cor escura, geralmente é uma área descolorida, quente ou até mesmo
endurecida. Estas alterações são identificadas em regiões de saliência óssea, com
eritemas que não ficam pálidos quando pressionados (CARVALHO, 2012).
Figura 7. Estágio I
Fonte: Carvalho (2012, p.182).
39
Vale frisar que no Estágio I, as chances de recuperação são altas, logo, reforça a
necessidade de avaliação criteriosa por profissionais de saúde, principalmente pelo
enfermeiro, da pele de pacientes suscetíveis ao desenvolvimento de UP’s.
Estágio II – Este estágio se caracteriza por uma cratera rasa, um abrasão, com o
leito da úlcera de cor vermelha ou rósea, verifica-se uma perda parcial de camadas da
pele, como a derme e a epiderme, não havendo tecidos necrosados (WADA et al., 2010;
CARVALHO, 2012).
Figura 8. Estágio II
Fonte: Carvalho (2012, p.182).
Estágio III – As complicações aumentam com perda total da espessura da pele,
envolvendo o tecido subcutâneo, com danos ou até mesmo morte do tecido. Apresenta-
se com uma cratera profunda, onde se visualiza a gordura subcutânea e a fáscia
muscular, sem exposição de ossos e tendões (WADA et al., 2010; CARVALHO, 2012).
Figura 9. Estágio III
Fonte: Carvalho (2012, p.182).
40
Estágio IV – Há completa destruição dos tecidos e espessura da pele,
podendo haver necrose. Neste estágio visualiza-se e pode-se palpar músculos,
ossos e tendões. Observa-se também a presença de escaras, incluindo
descolamento ou túneis com produção de exsudato (WADA et al., 2010;
CARVALHO, 2012).
Figura 10. Estágio IV
Fonte: Carvalho (2012, p.183).
Não classificável – Verifica-se que há perda total da espessura da pele nesta
fase, no entanto a lesão é recoberta por tecido necrótico ou escara, o que não
possibilita a visualização da profundidade e dos tecidos acometidos, sendo assim,
nestes casos é necessário realizar um desbridamento, que é a retirada do tecido
morto, para poder ser feito o estadiamento da UP (WADA et al., 2010; CARVALHO,
2012).
Figura 11. Não Classificável
Fonte: Carvalho (2012, p.184).
41
Figura 12. UP classificada como Estágio III Pós Desbridamento
Fonte: Carvalho (2012, p.184).
4.4 Escalas de Predição
De acordo com Alves et al. (2008), um paciente ao ser admitido em unidade
hospitalar deverá ser avaliado, quanto ao risco de desenvolver UP, nas primeiras
seis horas de internação, devendo ser reavaliado após 48 horas de sua admissão.
É de amplo conhecimento que existem diversos instrumentos e técnicas para
que se possa avaliar e identificar o risco que um paciente possui em desenvolver a
úlcera por pressão.
Conforme preconiza o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013c), todo paciente,
no ato da admissão, deverá ser avaliado minuciosamente, considerando-se as
fragilidades, vulnerabilidades e fatores de risco, através de escalas preditivas
específicas e confiáveis.
Segundo Carvalho (2012), uma das Escalas mais comumente utilizadas no
Brasil para a avaliação de risco de um cliente desenvolver UP é a Escala de Risco
de Braden (Tabela 1), que inclusive foi validada por pesquisadoras brasileiras
Paranhos e Santos (1999).
Observa-se na tabela abaixo, que a Escala de Braden envolve seis
parâmetros: percepção sensorial, mobilidade e atividade, estes relacionados a
determinantes críticos da pressão; e umidade, nutrição, fricção/cisalhamento que
possuem influência sobre o quanto a pele suportará ser pressionada (IRION, 2005;
CARVALHO 2012).
42
Tabela 1. Escala de Braden 1 2 3 4
Percepção sensorial
Completamente Limitada
Muito limitada Discreta limitação Sem
comprometimento
Umidade Constantemente
úmido Úmido
Ocasionalmente úmido
Raramente úmido
Atividade Restrito ao leito Restrito à cadeira Caminha
freqüentemente Caminha
ocasionalmente
Mobilidade Completamente
imóvel Muito limitada Discreta limitação Sem limitações
Nutrição Muito deficiente Provavelmente
inadequada Adequada Excelente
Fricção e Atrito
Problema Problema potencial Nenhum problema
aparente
Fonte: Irion (2005).
Percebe-se ainda que as subescalas possuem pontuação de 1 - 4, apenas
fricção/cisalhamento que possui de 1 - 3. Desta forma, a pontuação máxima que a
escala pode atingir é de 23 pontos, o que significa nenhum risco para o paciente.
Uma pontuação ≤18 já pode ser considerada como alerta e risco para uma pessoa
desenvolver a UP. Quanto menor a pontuação, maior o risco (BERGSTROM et al.,
1987; IRION, 2005).
Ao desenvolverem a Escala de Braden, Braden e Bergstrom objetivavam
otimizar as estratégias de prevenção e assim reduzir as taxas de incidência e
prevalência das úlceras por pressão (CARVALHO, 2012).
De acordo com Bergstrom et al. (1987), cabe destaque para outra escala, que
foi uma das pioneiras a serem elaboradas, a Escala de Norton, que possui cinco
aspectos, condições físicas, mentais, atividade, mobilidade e nível de consciência,
com pontuação que varia de 1 - 4, chegando a variar no intervalo entre 5 - 20.
Tabela 2. Escala de Norton
4 3 2 1
Condição Física Boa Média Deficiente Má
Condição Mental Alerta Apático Confuso Estupor
Atividade Deambulante Caminha com auxílio Dependente de cadeira Estupor
Mobilidade Plena Limitação discreta Muito limitada Imóvel
Incontinência Não Ocasional Usualmente de urina Dupla
Fonte: Irion (2005).
43
Comparando-se a Escala de Norton com a Escala de Braden, verifica-se que
o que basicamente diferencia é a inclusão do fator nutrição e fricção/cisalhamento
na Escala de Braden, no entanto, a lógica da pontuação é a mesma, ou seja, o total
de pontos é inversamente proporcional ao risco, se uma pessoa apresenta pequena
pontuação, ela está com alto risco de ser acometida por UP, conforme pode ser visto
na Tabela 1.
Carvalho (2012) ressalta que a úlcera por pressão além de configurar um
grave problema de saúde que os profissionais se deparam constantemente, custa e
afeta incontáveis pacientes, sejam eles assistidos nos domicílios, unidades de saúde
ou rede hospitalar. A autora ainda complementa afirmando que as UP’s são
evitáveis, que isto depende do nível de conhecimento do profissional de saúde
envolvido em relação aos aspectos dos pacientes e das escalas preditivas.
No entanto, pode-se dizer que para uma avaliação precisa e plano de
cuidados eficaz, as escalas não são instrumentos suficientes, o profissional de
saúde, mais especificamente o enfermeiro, deve observar também os fatores
extrínsecos e intrínsecos que levaram ao desenvolvimento deste agravo, bem como,
utilizar outras medidas complementares de prevenção, que serão abordadas a
seguir.
4.5 Outras Medidas Preventivas
Como já foi visto, um paciente deverá ser avaliado, após sua admissão, para
que seja feita uma análise dos riscos que este possui em desenvolver uma lesão,
conforme escala de predição mais adequada, visando a prevenção.
Além das escalas, outras medidas de prevenção devem ser adotadas,
conforme perfil e evolução do quadro clínico de cada paciente. Alves et al. (2008)
citam quatro ações preventivas importantes para que o plano de cuidados tenha
êxito: Avaliação de risco; cuidados com a pele e tratamento imediato; minimização
da carga mecânica e utilização de superfícies de suporte; educação.
Carvalho (2012) faz uma colocação interessante, a autora fala que existe uma
relação paradoxal entre a simplicidade das medidas preventivas e o número cada
vez maior de pessoas que sofrem com UP, o que tem incomodado diversos
estudiosos.
44
Uma ação bastante simples e conhecida é a mudança de decúbito, que ajuda
a aliviar a pressão, que deverá ser realizada de duas em duas horas, se o risco para
UP for alto. Outras estratégias utilizadas para o alívio da pressão é a utilização de
almofadas, coxins, rolos de espuma que apóiam e distribuem o peso do corpo sobre
o leito. Já para diminuir a ação do cisalhamento, é recomendado que o paciente
acamado fique posicionado no leito com a cabeceira no ângulo máximo de 30º
(CARVALHO, 2012).
Figura 13. Locais Predisponentes para o Surgimento de Úlcera por Pressão
Fonte: Matos (2010, p. 09).
Os locais citados na Figura 13 são os que merecem maior atenção durante o
exame físico do paciente. Neste momento, deve-se utilizar métodos propedêuticos
como visuais, palpação, inspeção da pele em busca de sinais que incluem pele
seca, eritema, calor ou frio no local (CARVALHO, 2012).
Carvalho (2012) chama a atenção para a importância da realização do exame
de digitopressão na pele, que poderá identificar se o eritema existente é não
branqueável, ou seja, aquele que não sofre alteração quando é pressionado. Este é
um indicador que aponta alto risco para o desenvolvimento de UP, por representar a
diminuição de oxigenação dos tecidos.
45
Costa e Costa (2007) citam outros cuidados que deverão ser praticados junto
à pele: utilização de barreira tópica e absorventes higiênicos para controle da
umidade, nutrição adequada, uso de hidratantes específicos que evitem calor ou frio
em excesso, proporcionar uma posição correta para o paciente a fim de evitar a
pressão e cisalhamento, uso de coberturas que protejam locais sensíveis de atritos.
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2013c), elaborou um Protocolo onde são
recomendadas medidas preventivas conforme classificação de risco pela Escala de
Braden, que pode ser observado no Quadro 2.
Quadro 2. Medidas Preventivas Segundo Pontuação da Escala de Braden
Risco baixo (15 a 18 pontos na escala de Braden)
Cronograma de mudança de decúbito; Otimização da mobilização; Proteção do calcanhar; Manejo da umidade, nutrição, fricção e cisalhamento, bem como uso de superfícies de redistribuição de pressão.
Risco moderado (13 a 14 pontos na escala de Braden)
Continuar as intervenções do risco baixo; Mudança de decúbito com posicionamento a 30°.
Risco alto (10 a 12 pontos na escala de Braden)
Continuar as intervenções do risco moderado; Mudança de decúbito frequente; Utilização de coxins de espuma para facilitar a lateralização a 30º.
Risco muito alto (≤ 9 pontos na escala de Braden)
Continuar as intervenções do risco alto; Utilização de superfícies de apoio dinâmico com pequena perda de ar, se possível; Manejo da dor.
Fonte: Brasil (2013c).
O profissional de saúde na prática da prevenção, segundo Irion (2005), deve
se preocupar em minimizar umidade, focando em pacientes que tenham problemas
de incontinência urinaria ou fecal, atentando para a integridade da pele,
proporcionando medidas que impeçam o ressecamento. Além disso, é importante a
atuação conjunta de fisioterapeuta para evitar atrito e fricção, uso de coberturas a
exemplo de hidrocolóides e filme transparente, assim como de utensílios de apoio
para reduzir pressão.
46
Complementando as medidas já citadas, Diniz et al. (2014) observa a
importância da prática da educação em saúde, principalmente para pacientes
assistidos nos domicílios, pois muitas vezes têm como cuidadores os próprios
familiares, que por sua vez, não possuem conhecimento adequado para lidar com a
patologia. Sendo assim, torna-se crucial que os cuidadores sejam inseridos na
equipe de saúde, recebendo educação necessária quanto a UP, como também
sejam envolvidos no planejamento dos cuidados.
4.6 Tratamento
O tratamento da úlcera por pressão deverá ser iniciado quando todos os
métodos possíveis de prevenção foram utilizados, não sendo capazes de impedir o
surgimento da lesão.
Segundo Costa e Costa (2007), o processo do tratamento engloba quatro
princípios básicos:
Identificar os motivos que promoveram o surgimento das UP’s e eliminá-los;
Analisar criteriosamente a ferida, otimizando o ambiente e identificando qual a
terapia tópica mais adequada, removendo tecidos necróticos quando indicado; Dar
apoio ao paciente, controlar a dor, monitorar as condições nutricionais, observar
presença de infecções na ferida, que retardam a cicatrização, promover o controle
ou eliminar estas infecções; Facilitar o entendimento da doença e seu tratamento,
através de educação para pacientes e familiares.
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2002) preconiza que o tratamento, após
devida avaliação da lesão, inicia-se com a limpeza da úlcera para retirada de tecidos
desvitalizados, restos de células ou microorganismos.
O recomendado é que a limpeza seja realizada através de delicada irrigação
com soro fisiológico a 0,9%, pois esta solução não agride os tecidos e promove a
cicatrização (BRASIL, 2002).
A pressão aplicada no ato de irrigar vai variar conforme o tipo de tecido e o
que se pretende com a limpeza:
Para úlceras com tecido de granulação, deve-se utilizar seringa sem agulha, equipo adaptado diretamente no frasco do soro fisiológico ou jato obtido por pressão manual do frasco de soro fisiológico (bolsa plástica) furado com agulha de grosso calibre (40/12 ou 25/8). Para úlceras com tecido necrótico infectadas, a irrigação deverá ser feita com seringa com agulha, para
47
aumentar a efetividade da remoção da população microbiana (BRASIL, 2002, p. 32).
Sabe-se que é preciso remover tecidos desvitalizados, necrosados, resíduos
metabólicos e exsudatos de uma ferida, visando a exibição dos tecidos vivos e o
aceleramento do processo cicatricial. Este processo é conhecido como
desbridamento (CARVALHO, 2012).
Existem várias técnicas utilizadas para desbridar uma ferida, no entanto, as
mais comuns são (BRASIL, 2002):
Desbridamento cirúrgico – procedimento que só pode ser realizado por
médico ou enfermeiro capacitado, com a utilização de instrumentais cirúrgicos
(pinças, tesouras, bisturis...) e, a depender da gravidade, deverá ser realizado com
anestesia no centro cirúrgico.
Desbridamento mecânico – compreende a aplicação de força mecânica, que
inclui a utilização de gaze úmida a seca para fricção ou esfregaço (movimentos
circulares do centro para as bordas da ferida), objetivando a remoção dos tecidos
necróticos, mas é uma técnica não-seletiva, pode atingir também tecidos de
granulação e causar dor ao paciente (BRASIL, 2002; CARVALHO, 2012).
Desbridamento enzimático – A base desta técnica é a utilização de enzimas
(colagenase, fibrinolisina, papaína), apenas no tecido de necrose, para dissolvê-lo,
atentando-se para não atingir tecidos vivos, o que iria causar irritação. É preciso
curativo com cobertura úmida para aumentar a eficácia da enzima. Este
procedimento não é indicado para pacientes que tenham algum distúrbio de
coagulação.
Desbridamento autolítico – O que diferencia este desbridamento do
enzimático, é que neste são utilizadas enzimas produzidas pelo próprio corpo para
liquefazer a escara e os esfacelos da ferida. É um método seletivo, que não danifica
tecidos vivos, mas não é indicado quando a úlcera estiver infectada. São utilizadas
coberturas especiais, para manter os fluidos da lesão em contato com o tecido
morto, tais como filme transparente, hidrocolóide, hidrofibras, ácido graxo essencial
(AGE) e hidrogel (BRASIL, 2002; CARVALHO, 2012).
Matos (2010) elaborou um protocolo que determina o tratamento da úlcera por
pressão conforme o estágio em que ela se encontra, conforme pode ser observado
na figura a seguir.
48
Figura 14. Tratamento conforme Estadiamento da Úlcera por Pressão
Fonte: Matos (2010, p. 16).
49
5 SISTEMATIZANDO A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PARA O MANEJO
DAS ÚLCERAS POR PRESSÃO EM PACIENTES DOMICILIADOS
Geralmente os pacientes admitidos para acompanhamento pela ID são
oriundos da Clínica Médica, Clínica Cirúrgica e Emergência de uma unidade
hospitalar. São pacientes com médio e alto nível de complexidade, como pacientes
neurológicos com seqüela de Acidente Vascular Cerebral (AVC), cardiopatas,
portadores de paralisia infantil, politraumatizados por acidente automobilístico ou
perfuração por arma de fogo, portadores de câncer etc. que provocam complicações
secundárias ao paciente, como por exemplo, a úlcera por pressão (BRASIL, 2013c).
Percebe-se que é fundamental a atuação do enfermeiro no manejo deste
agravo, através da sistematização da assistência de enfermagem, seja no nível
primário (prevenção), secundário (diagnóstico e tratamento) ou terciário
(reabilitação).
Segundo Rodrigues et al. (2008), a SAE oferece ao paciente um
acompanhamento mais organizado, baseado no saber técnico-científico, o que
amplia a possibilidade das intervenções serem bem sucedidas. Neste processo, o
enfermeiro tem papel ativo no cuidado individualizado, devendo sempre refletir suas
ações de maneira dinâmica.
Cafer et al. (2005) através de seus estudos afirmam que, em vista do elevado
índice de UP em unidades hospitalares, a implementação da SAE é essencial, aliada
a ações de enfermagem que visem fornecer uma assistência diferenciada, para
proporcionar a manutenção da saúde, apoiando na recuperação e prevenindo
seqüelas como a UP, permitindo, assim, o restabelecimento do paciente e o seu
retorno ao convívio social.
Conforme Medeiros et al. (2009), o enfermeiro precisa conhecer os distintos
estágios existentes da UP, para se tornar apto a tomar as decisões apropriadas
quanto à assistência.
Como já foi explanado, a SAE é composta de cinco etapas: histórico,
diagnóstico, planejamento, implementação e evolução de enfermagem, sendo
assim, para a prevenção e cura da UP no domicílio, o enfermeiro deve seguir as
etapas, envolvendo o cuidador/responsável pelo paciente em todo o processo.
50
No ambiente domiciliar, membros da família são freqüentemente os únicos provedores de cuidados contínuos e, às vezes, as avaliações realizadas pelos profissionais de saúde podem ser fragmentadas. Assim, a rotina de observação do familiar, quanto ao progresso do paciente, deve servir de referência para a tomada de decisão quanto ao plano de cuidados. Assim, torna-se imperativo que os cuidadores familiares sejam considerados componentes essenciais da equipe de saúde, recebendo educação quanto à prevenção de UP, bem como o incentivo para a participação no planejamento dos cuidados de saúde (DINIZ et al., 2014, p. 122).
No histórico, que envolve o exame físico, o enfermeiro da ID deve obter todas
as informações necessárias para identificar fatores de risco a que o paciente está
exposto, bem como observar a integridade da pele. Dentre os dados importantes,
destaca-se: idade, doença de base, estado nutricional, imobilidade, medicamentos
em uso, resultados recentes de exames, presença de lesões ou edemas, turgor e
elasticidade tegumentar, incontinências urinária e fecal (RODRIGUES et al., 2008;
BRASIL, 2013b).
A assistência de enfermagem junto à UP requer ações relacionadas ao
acompanhamento de forma integral do paciente, através dos fatores de risco
identificados, da utilização de escalas de predição de risco (Escala de Braden), além
da conjuntura socioeconômica do paciente (MEDEIROS et al., 2009).
Neste momento, o profissional enfermeiro da ID tem à sua disposição três
instrumentos que subsidia a obtenção dos dados: Ficha de Avaliação de
Elegibilidade (Anexo A), Ficha de Avaliação Social (Anexo B) e Formulário de
Inspeção da Pele (Anexo C) (RODRIGUES et al., 2008; BRASIL, 2012).
A identificação dos dados obtidos durante o histórico do paciente possibilita
que o enfermeiro avance para a segunda etapa que é elaborar os diagnósticos de
enfermagem para o paciente em risco de desenvolver UP. Diagnósticos de
enfermagem bem estabelecidos proporcionarão um plano de cuidados mais
adequado e eficiente, portanto, se torna uma fase de extrema importância
(RODRIGUES et al., 2008).
Diversos autores concordam ao relacionarem os DE (baseados nos
diagnósticos da NANDA) mais comuns para pacientes em risco para UP: Integridade
da pele prejudicada; Mobilidade física prejudicada; Déficit no autocuidado para
banho e higiene; Mobilidade prejudicada na cama; Déficit no autocuidado para
vestir-se e arrumar-se; Risco para infecção; Risco para integridade da pele
prejudicada; Incontinência urinária total; Incontinência intestinal; Dor; Nutrição
51
alterada: menor que as demandas corporais; Senso-percepção alterada (FARO,
1999; CAFER et al., 2005; RODRIGUES et al., 2008; ANDRADE, CHIANCA, 2013).
A assistência de enfermagem deve ter como meta principal impedir que a UP
se desenvolva, para isso é preciso identificar a UP logo no estágio I, onde não há
rompimento da pele. Assim, com medidas preventivas adequadas é possível evitar
que ocorram maiores complicações, demonstrando que o cuidado pode ser eficaz
(RODRIGUES et al., 2008).
Estabelecidos os DE, é chegado o momento em que o enfermeiro deverá
elaborar o plano de cuidados e pontuar as intervenções que deverão ser realizadas,
conforme o perfil do paciente, de maneira individualizada. É nesta fase que o
enfermeiro tem como objetivo adotar medidas que visem solucionar os problemas
identificados na fase do DE, conforme dito anteriormente.
Conforme autores consultados, o plano de cuidados com as intervenções
mais adequadas, que envolvem medidas preventivas e curativas, para um paciente
com risco para UP ou que já tenha a patologia instalada, seria o descrito abaixo:
Quadro 3. Intervenções de Enfermagem Segundo Autores Estudados
AUTOR INTERVENÇÕES PROPOSTAS
Andrade e Chianca,
2013
Cuidado com o Repouso no Leito; Supervisão da Pele; Controle de Pressão Sobre Áreas do Corpo; Posicionamento: Cadeira de Rodas; Assistência no Autocuidado; Posicionamento; Posicionamento: Neurológico; Controle da Dor; Promoção da Mecânica Corporal; Controle da Sensibilidade Periférica; Controle de Medicamentos; Supervisão: Segurança; Cuidados Circulatórios: Insuficiência Venosa; Precauções Circulatórias; Cuidado com os Pés.
Brasil, 2013c
Avaliação de úlcera por pressão na admissão de todos os pacientes, conforme Escala de Braden; Reavaliação diária de risco de desenvolvimento de UP de todos os pacientes internados; Inspeção diária da pele e diminuição da pressão; Manejo da umidade: manutenção do paciente seco e com a pele hidratada; Otimização da nutrição e da hidratação.
52
Cafer et al., 2005
Terapia com exercícios: deambulação e mobilidade articular; Posicionamento; Assistência no autocuidado: banho e higiene; Assistência no autocuidado: vestir-se/arrumar-se; Controle e proteção de infecção; Controle de pressão sobre áreas do corpo; Cuidados na incontinência urinária; Controle da constipação/impactação; Cuidados com local de incisão; Supervisão da pele; Cuidados com lesões; Controle da disreflexia; Alimentação; Assistência no autocuidado: alimentação; Ensino: processo da doença; Cateterização vesical; Cuidados na retenção urinária; Controle da dor.
Faro, 1999
Orientar e treinar paciente e cuidador para: Os cuidados com a integridade da pele; À necessidade de hidratação da pele; À utilização de dispositivos para controle da incontinência urinária; À mudança de decúbito a cada 2 horas; Ao posicionamento no leito ou na cadeira de rodas; À ingestão de 2 a 3 litros de líquido por dia, para manutenção da pele; À observação diária da pele; À ingestão de alimentos ricos em proteínas e vitaminas; Aos cuidados higiênicos, evitando contato com fezes ou urina.
Rodrigues et al., 2008
Avaliar diariamente o paciente com risco para UP, priorizando as proeminências ósseas, utilizando a Escala de Braden; Posicionar o paciente de maneira correta no leito; Manter a pele limpa, evitando força e fricção; Reduzir a ação de agentes externos como umidade e exposição ao frio; Hidratar a pele, não massageando nas saliências ósseas; Reduzir o contato da pele com a umidade por incontinência urinária, fecal ou drenagem de ferida, fístula, estomas ou perspiração; Atentar para ingestão nutricional adequada, solicitando a avaliação do nutricionista, nutrição quando necessário; Criar escala de mudança de decúbito com intervalos de 2/2h ou conforme a necessidade; Proteger região sacral, trocantérica e calcânea; Diminuir tensão nos tecidos.
Conforme quadro acima, observa-se que os autores defendem a utilização da
Escala de Braden como estratégia para avaliação de risco para UP, bem como
indicam intervenções simples e bem divulgadas no público em geral (mudança de
53
decúbito, hidratação da pele, higiene, nutrição, redução da pressão...), que podem
ser facilmente praticadas no domicílio, tanto pelo enfermeiro e sua equipe de
enfermagem, como pelo cuidador/responsável pelo paciente, pois é o integrante que
deve estar ao lado do paciente, prestando cuidados vinte e quatro horas por dia.
Verifica-se também no Quadro 3, que as medidas de prevenção e
intervenções de enfermagem praticamente não sofreram alterações no período
compreendido entre 1999 e 2013, apenas foram aprimoradas, conforme estudos
sobre a evolução da patologia.
Rodrigues et al. (2008) destacam que a prevenção é a melhor opção, já que
poupa a dor e consternação do paciente, além de diminuir o tempo de internação e
os custos com o tratamento, tornando inegável o emprego do cuidado direcionado e
individualizado de forma integral.
Esgotando-se os recursos de prevenção e não obtendo êxito, será necessária
a implementação de procedimentos de acordo com a necessidade individualizada de
cada paciente que foi acometido pela lesão da UP. O tratamento medicamentoso e
as técnicas de curativo obedecerão à realidade do paciente e protocolo de feridas
específico da ID (Anexo D), bem como, será realizado com base em evidências e
estudos científicos, cujas foram discutidas previamente, em tratamento das UP
(BRASIL, 2002; CARVALHO, 2012; BRASIL, 2013c).
Sabe-se que a evolução de enfermagem, que faz parte do prontuário do
paciente, é o instrumento utilizado para todos os registros dos cuidados dispensados
ao paciente pela equipe de enfermagem. Nela são registrados os procedimentos
realizados, que tem a sua eficácia avaliada constantemente, para verificação da
necessidade de alteração do plano de cuidados.
Na Internação Domiciliar, além do prontuário original, que fica armazenado na
instituição onde o programa funciona, existe também o prontuário espelho com cópia
de todas as prescrições médicas e evoluções dos profissionais da EMAD e EMAP,
que deve permanecer no domicílio do paciente, com fácil acesso, tanto para as
equipes que compõe a ID, bem como para o cuidador/responsável, que poderá dar
continuidade à assistência, conforme orientações verbais e registradas na evolução
de enfermagem, contida no prontuário (BRASIL, 2012; BRASIL 2013b).
A evolução de enfermagem deve ter registrado os dados dos diagnósticos e o
plano de cuidados elaborado, contendo as mudanças sensoriais e as intervenções
prescritas conforme a situação clínica (RODRIGUES et al., 2008).
54
Diante do exposto, considerando o que foi abordado por Irion (2012) e Brasil
(2013b), percebe-se que é papel do enfermeiro orientar e educar intensivamente o
cuidador e familiares do paciente sobre os cuidados com a pele, a fim de prevenir
lesões ou evitar o agravamento das UP já existentes, para que desta maneira se
possa ofertar uma assistência digna e de qualidade ao paciente em seu domicílio.
55
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Úlceras por pressão apresentam-se como uma das principais complicações
que acometem enfermos domiciliados. Percebe-se que é um agravo que, além de
aumentar o tempo de internamento do indivíduo, facilita o surgimento de outros tipos
de complicação. Logo, a prevenção se torna um quesito fundamental para minimizar
ou até mesmo evitar sofrimento e dor para o paciente. Neste sentido, a SAE ganha
destaque, pois este instrumento viabiliza trabalhar com a prevenção, proporcionando
uma assistência individualizada, direcionada, integral e humanizada para o cliente.
Este estudo propôs objetivos que atendem à necessidade de levantar novos
conhecimentos sobre úlceras por pressão e o seu manejo na atenção domiciliar.
Dentre os objetivos propostos, constatou-se a relevância da SAE no manejo da UP
em pacientes assistidos pela Internação Domiciliar. Foi possível listar os principais
fatores de risco para a doença (extrínsecos e intrínsecos), os diagnósticos de
enfermagem mais utilizados, bem como, as melhores alternativas e planos de
cuidados de enfermagem aplicados no tratamento da UP no domicílio, incluindo um
Protocolo Assistencial de Feridas da Internação Domiciliar (Anexo D).
A revisão literária, sistemática e descritiva utilizada nesta pesquisa,
proporcionou uma melhor compreensão sobre o programa Internação Domiciliar e o
papel do enfermeiro junto a esta recente proposta de assistência à saúde do SUS;
sobre a sistematização da assistência de enfermagem e as cinco etapas envolvidas
neste processo; sobre os fatores que envolvem a úlcera por pressão desde a sua
prevenção até a sua cura, através da atuação do enfermeiro embasado na SAE.
O surgimento de UP esteve relacionado com o quadro clínico do paciente e
com sua capacidade funcional, sendo considerado que a manifestação de UP é um
resultado de assistência à saúde deficiente, mesmo em atendimento prestado junto
ao domicílio.
Portanto, os profissionais que atuam na área de saúde precisam otimizar seus
conhecimentos e aptidões, pautados em produções científicas, visando desta
maneira, que haja êxito no tratamento e prevenção de lesões resultantes de UP,
para minimizar indicadores negativos e melhorar a qualidade da assistência
fornecida ao paciente domiciliar.
Observou-se que o cuidado prestado pela ID envolve equipes
multidisciplinares, sendo um fator imprescindível para uma correta intervenção
56
clínica e evolução terapêutica do paciente. Todavia, o papel do enfermeiro junto ao
manejo da UP ainda é preponderante, aliado à função do cuidador e da família, que
através da educação em saúde se torna hábil para colaborar de forma eficaz no
auxílio domiciliar.
Nota-se também que é preciso e plausível aplicar uma escala sistematizada
para avaliação de clientes com risco de desenvolver UP, destacando-se a Escala de
Braden, e outra ferramenta padronizada para identificação e observação da
evolução das feridas para pacientes que já são acometidos, o que na ID é feito
através do Formulário de Inspeção da Pele (Anexo C).
Com a implementação da SAE no manejo da UP corrobora-se a prática do
pilar da enfermagem: o cuidar do paciente quando este não pode realizar o seu
autocuidado, ou quando o faz com auxílio e orientação.
Verificou-se que a SAE é um técnica que orienta a prática de enfermagem,
que baseada em saber científico, possibilita que o enfermeiro a partir da
identificação das necessidades do enfermo, julgue, trace objetivos e intervenções
tendo em vista a recuperação do indivíduo com UP.
A úlcera por pressão comprovou-se ser tema bastante debatido nos meios
científicos, principalmente a abordagem da sua prevenção, já que é considerada
altamente prevenível. No entanto, atualmente é uma patologia com a qual o
profissional enfermeiro se depara constantemente durante a sua atuação, até
mesmo na assistência domiciliar, daí a relevância de enfatizar e estudar a
implementação da SAE voltada para o cuidado desta doença.
Este estudo não teve a pretensão de mudar esta realidade, mas pretende-se
no mínimo, apontar caminhos, abordar alternativas e soluções, além de demonstrar
para os profissionais de saúde, principalmente enfermeiros, que mesmo diante dos
variados fatores de risco, há uma gama de medidas preventivas consideradas de
simples execução, além de formas de tratamento disponíveis, que utilizados com
uma assistência sistematizada, tornam possível ao paciente um cuidado qualificado
e humanizado.
Foi evidente, durante a pesquisa, que existe um número reduzido de obras
científicas referente a ocorrência de UP, principalmente relacionado a assistência
domiciliar. Este fato chama a atenção para a necessidade de um olhar mais crítico
quanto à gravidade que é a problemática que envolve a UP e audácia para discutir
57
estratégias e ações que modifiquem esta realidade. Sugere-se que sejam realizadas
mais pesquisas com esta temática, especialmente no país.
Sendo assim, justifica-se a produção do presente estudo que servirá como
estímulo e auxílio para a prática assistencial de enfermagem com a utilização da
SAE, facilitando o processo de tomada de decisões segundo um cuidado pautado
em evidências teórico-científicas, além de colaborar com a educação e incremento
de novas abordagens nesta área através das reflexões tratadas neste estudo.
58
REFERÊNCIAS
ALVES, A.R. et al. A importância da assistência de enfermagem na prevenção da úlcera por pressão no paciente hospitalizado. Rev. Inst. Ciênc. Saúde. 2008; 26(4):397-402. AMANTE, L. N; ROSSETTO, A. P; SCHNEIDER, D. G. Sistematização da Assistência de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva sustentada pela Teoria de Wanda Horta. Rev. Esc. Enferm. USP, 2009; 43 (1): 54-64. ANDRADE, L. T; CHIANCA, T. C. M. Validação de intervenções de enfermagem para pacientes com lesão medular e mobilidade física prejudicada. Rev. Bras. Enferm. 2013 set-out; 66(5): 688-93. ATKINSON, Leslie D; MURRAY, Mary Ellen. Fundamentos de Enfermagem: Introdução ao processo de enfermagem. 4. ed.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989. v.1. BERGSTRON, N. et al. The Braden Scale for predicting pressure score risk. Nursing Research. 1987;36(4):205-10. BLANES, L. et al. Avaliação clínica e epidemiológica das úlceras por pressão em pacientes internados no hospital São Paulo. Revista da Associação Médica Brasileira. 2004;50(4):182-7. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual de condutas para úlceras neurotróficas e traumáticas / Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. ________ Ministério da Saúde. Portaria nº 2.529, de 19 de outubro de 2006. Institui a Internação Domiciliar no âmbito do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. ________ Ministério da Saúde. Portaria nº 2.029, de 24 de agosto de 2011. Institui a Atenção Domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério da Saúde, 2011. ________ Ministério da Saúde. Portaria nº 963, de 27 de maio de 2013. Redefine a Atenção Domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério da Saúde, 2013a. ________ Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Caderno de Atenção Domiciliar. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012. v. 1. ________ Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Caderno de Atenção Domiciliar. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013b. v. 2.
59
________ Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Protocolo para Prevenção de Úlcera por Pressão. Brasília: Ministério da Saúde, 2013c. CAFER, C. R. et al. Diagnósticos de enfermagem e proposta de intervenções para pacientes com lesão medular. Acta. Paul. Enferm. 2005;18(4):347-53. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução n. 272, de 27 de agosto de 2002. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE – nas Instituições de Saúde Brasileiras. Rio de Janeiro: COFEN; 2002. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução n. 358, de 15 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE – e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências. Rio de Janeiro: COFEN; 2009. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Legislação. Disponível em: <www.cofen.gov.br/categoria/legislacao>. Acesso em: 07 fev. 2015. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DA BAHIA. Legislação. Disponível em: <www.coren-ba.gov.br/>. Acesso em: 07 fev. 2015. CARPENITTO, L. J. Diagnóstico de Enfermagem: aplicação à prática clínica. 8.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. CARVALHO, Evanilda Souza de Santana. Como cuidar de pessoas com feridas: desafios para a pratica multiprofissional. Salvador: Atualiza, 2012. COSTA, I. G. Incidência de úlcera de pressão e fatores de risco relacionados em pacientes de um centro de terapia intensiva. 2003, p. Dissertação (Mestrado), Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. COSTA, F. M. F; COSTA, S. H. P. Assistência de Enfermagem ao Cliente Portador de Úlcera de Pressão: abordando a Importância do Conhecimento e Informação Rev. Meio Amb. Saúde 2007; 2(1):22-32. COSTA, N. J; LOPES M. V. O. Revisão sobre úlcera de pressão em portadores de lesão medular. Rev. de Enfermagem do Nordeste (RENE). 2003;1(4):109-15. COSTA, M. P. et al Epidemiologia e Tratamento das Úlceras de Pressão: experiência de 77 Casos. Acta. Ortop. Bras. 2005: 13(3). DANIEL, L. F. A enfermagem planejada. São Paulo: EPU/DUSP, 1979. DINIZ, I.V; SOARES, M. J. et al. Manejo do Enfermeiro em Úlceras por Pressão Infectada no Ambiente Domiciliar. Rev. Enferm. UFPE. Recife, 8(1):121-7, jan., 2014. FARO, A. C. M. Fatores de Risco para Úlcera de Pressão: subsídios para a prevenção. Rev. Esc. Enf. USP, v.33, n.3, p.279-83, set. 1999.
60
FONSECA, F. Indicadores de qualidade nutricional em Home Care. Disponível em: <www.medlar.com.br/informes>. Acesso em: 07 abr. 2015. FREITAS, A. V. S; BITTENCOURT, C. M. M; TAVARES, J. L. Atuação de enfermagem no serviço de internação hospitalar: relato de experiência. Rev. Baiana de Enfermagem, Salvador, v.13, p. 103-7, 2000. GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002. IRION, G. Feridas Novas abordagens, manejo clínico e Atlas em cores. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. LACERDA, M. R. et. al. Ação à saúde no domicílio: modalidades que fundamentam sua prática. Revista Saúde e Sociedade. São Paulo, v. 15, n. 2, 2006. LACERDA, M. R; OLINSKI, S. R. A. família e a enfermeira no contexto domiciliar: dois lados de uma realidade. Texto & Contexto Enferm. 2003;12(3):307-13. MARCONI, M.A; LAKATOS, E.M. Fundamentos de metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2007. MATOS. Águeda Glória de. Protocolos de Enfermagem. Prevenção e tratamento de úlcera por pressão. Rio de Janeiro: Hemorio, 2010. MEDEIROS, A. B. F; LOPES, C. H. A. F; JORGE, M. S. B. Análise da prevenção e tratamento das úlceras por pressão propostos por enfermeiros. Rev. Esc. Enferm. USP, v.43, n.1, p.223-228, 2009. MENDES, E. V. Uma agenda para a saúde. São Paulo: Hucitec, 1996. MENDES, W. Home Care: uma modalidade de assistência à saúde. Rio de Janeiro: UNERJ, UNATI, 2001. MORAES, Márcia V. G. de. Sistematização da assistência de enfermagem em saúde do trabalhador: instrumentos para coleta de dados direcionados aos exames ocupacionais da NR7 e à exposição aos agentes ambientais. São Paulo: Iátria, 2008. NANDA INTERNATIONAL. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: definições e classificação 2012-2014. Porto Alegre: Artmed, 2012. PARANHOS, W. Y; SANTOS, V. L. C. G. Avaliação do risco para úlceras de pressão por meio da Escala de Braden, na língua portuguesa. Revista da escola de Enfermagem da USP. 1999;33:191-206. PATTON, Michael Q. Qualitative evaluation methods. Beverly Hills, CA: Sage, 1980.
61
POTTER, Patricia A. Fundamentos de enfermagem: conceitos, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. v.1. POTTER, P. A; PERRY, A. G. Grande tratado de enfermagem prática clínica e prática hospitalar. 3. ed. São Paulo: Santos, 1998. REHEM, T. C. M. S. B; TRAD, L. A. B. Assistência domiciliar em saúde: subsídios para um projeto de atenção básica brasileira. Revista Ciênc. Saúde Coletiva. 2005;10: 231-42. RODRIGUES, M. M; SOUZA, M. de S. e; SILVA, J. L. Sistematização da Assistência de Enfermagem na Prevenção da Lesão Tecidual por Pressão. Cogitare Enferm. 2008 Out/Dez; 13(4):566-75 SANTOS, J. L. G; GARLET, E. R; LIMA, M. A. D. S. Revisão sistemática sobre a dimensão gerencial no trabalho do enfermeiro no âmbito hospitalar. Rev. Gaucha Enferm. 2009;30(3):525-32. SANTOS, W. N. Sistematização da assistência de enfermagem: o contexto histórico, o processo e obstáculos da implantação. J Manag Prim Health Care 2014; 5(2):153-158. SAVASSI, L. C. M; DIAS, M. F. Grupos de estudo em saúde da família. Módulo Visita Domiciliar, 2006. Disponível em: http://www.smmfc.org.br/gesf/gesfvd.htm. Acesso em: 07 de fev. 2015. SILVA, L. W. S. Sistematização da Assistência de Enfermagem - A Práxis no Ser-Saber-Fazer o Cuidado. Cogitare Enferm. 2011 Jul/Set; 16(3):560-4. SILVA, J. R. S. Sistema Único de Saúde: modalidades de atendimento e suas inter-relações – um olhar da enfermagem. Rio Grande: FURG, 2006. (Dissertação de Mestrado em Enfermagem e Saúde), Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=67097> Acesso em: 07 de fev. 2015. SILVA, K. L. et al. Atenção domiciliar como mudança do modelo tecnoassistencial. Rev. Saúde Pública. 2010;44(1):166-76. SMELTZER, S.C; BARE, B.G. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. TANNURE, M. C; GONÇALVES, A. M. P. SAE Sistematização da Assistência de Enfermagem: guia prático. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. WADA, A; NETO, N. T; FERREIRA, M. C. Úlceras por pressão. Rev. Med., v.89, n.3/4, p.170-177, 2010.
62
ANEXOS