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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS - EESC DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO - SAP MONOGRAFIA: UM ARQUITETO E UMA CIDADE

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS - EESC DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO - SAP 1 LOS ANGELES, CALIFÓRN IA 2 Danilo Eric dos Santos Gabriel Nery Prata Rafael Goffinet de Almeida Rafael de Oliveira Sampaio Rafael Neves Rodrigues Alves Vítor Locilento Sanches 3

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS - EESC DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO - SAP

MONOGRAFIA: UM ARQUITETO E UMA CIDADE

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2

L O S A N G E L E S , C A L I F Ó R N I A

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3

Danilo Eric dos Santos

Gabriel Nery Prata

Rafael Goffinet de Almeida

Rafael de Oliveira Sampaio

Rafael Neves Rodrigues Alves

Vítor Locilento Sanches

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4

INTRODUÇÃO ............................................................................................ 6 INFLUÊNCIAS E HISTÓRIA ............................ ........................................ 17 INFLUÊNCIAS ....................................... ................................................... 18

DESENHOS .............................................................................................. 24

NEUTRA E A PRIMEIRA GRANDE GUERRA MUNDIAL ......... ............. 31

DA ESLOVÁQUIA A SUÍÇA – DE TREN ČIN À ZURIQUE ..................... 38

SUÍÇA E ALEMANHA .................................. ............................................ 41

BRADENBURGO, ALEMANHA ............................. .................................. 51

ERIC MENDElSOHN ................................................................................ 56 CONCEITOS ............................................................................................. 62

INFLUÊNCIAS PRÁTICAS E TEÓRICAS ................... ............................ 63

RELAÇÕES HUMANAS ENTRE ARQUITETOS E CLIENTES ...... ........ 66

SOBRE DESENHOS ................................................................................ 74

DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZADO ............... ..................... 77

DO ORGÂNICO ........................................................................................ 85

RICHARD NEUTRA E OS ESTADOS UNIDOS ................ ...................... 88

INFLUÊNCIAS E REFERÊNCIAS ......................... ................................... 89

CONTEXTO HISTÓRICO ....................................................................... 105

LOS ANGELES........................................ ............................................... 106

PRINCIPAIS OBRAS 1925 - 1935 ...................... ................................... 133

LOVEL HEALTH HOUSE – 1927 ......................... .................................. 134

VAN DER LEEUW RESEARCH HOUSE - 1932 ............... ..................... 139

Conona School – 1935 .............................. ............................................ 157

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5

CONTINUIDADE ..................................................................................... 168

DÉCADA DE 40 – NOVA YORK E CHICAGO ................ ...................... 169

DÉCADA DE 40 – LOS ANGELES ........................ ................................ 175

VIAGENS ................................................................................................ 178

ARQUITETURA SOCIAL ................................ ....................................... 182

O MUNDO RURAL PEDE ARQUITETOS ..................... ......................... 183

ESCOLAS RURAIS E CENTROS SOCIAIS EM REGIÕES DE CLIM A AMENO ................................................................................................... 189

A ESTRUTURA DA ESCOLA RURAL ....................... ........................... 196

ESCOLAS EM PEQUENAS CIDADES ....................... ........................... 202

O PRINCÍPIO DA FELXIBILIDADE....................... ................................. 204

A ÁREA BÁSICA DA SALA DE AULA ..................... ............................ 206

DEPÓSITO .............................................................................................. 210

ÁREAS SEPARADAS ................................... ......................................... 212

GABINETE DE CIÊNCIAS NATURAIS ..................... ............................. 214

OFICINA DE ARTES INDUSTRIAIS ...................... ................................ 216

SEÇÃO DE ECONOMIA DOMÉSTICA ....................... ........................... 219

REFEITÓRIO .......................................................................................... 221

ESCRITÓRIO DAMINISTRATIVO E SALA DE REPOUSO PARA O DOCENTE ............................................................................................... 223

INSTALAÇÕES SANITÁRIAS ............................ ................................... 224

RICHARD NEUTRA E O BRASIL ......................... ................................. 226

APROXIMAÇÕES ...................................... ............................................. 227

ÍNDICE DE OBRAS ................................... ............................................. 238

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INTRODUÇÃO

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Richard Neutra em seus pensamentos e trabalhos tem

sempre demonstrado grande preferência por projetos de alta significação social, como sejam escolas, serviços de saúde problemas de habitação, planejamento de cidades e seus arredores. Mesmo quando o cliente é um particular, Neutra considera a futura obra por seu duplo aspecto: primeiro, atendendo as necessidades do cliente, para o que estuda ate ao Maximo seus problemas e desejos; segundo, procurando ser útil a coletividade do lugar no qual será construído o novo prédio, de forma que este possa integrar-se harmoniosamente no conjunto. Para isso, realiza estudos e pesquisas especiais (integração entre o edifício e o ambiente).

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Clara e conscientemente, Neutra teve sua atenção presa a muitos problemas originados pelo advento de novos métodos e processos de fabricação que tornariam a maior parte de seus desenhos aproveitáveis como padrões para a produção em serie, ou para a larga aplicação de utensílios e materiais modernos. Mas, por maior que seja a beleza e o significado de seus trabalhos e por mais que mereçam ser considerados do ponto de vista do individuo, Neutra durante três décadas apresenta ou em suas obras um amplo aspecto social, fértil e altamente instrutiva para uma geração destinada a agir no cenário mundial.

Neutra parte da noção de que a arquitetura nasceu das necessidades de se abrigar o homem, os historiadores traçam uma derivada da primeira caverna habitada por seres humanos. Mas tal abrigo, hoje muito mais do que naqueles períodos, não é somente uma moradia; é também escola, igreja, fabrica e teatro - a arquitetura desdobrou-se no urbanismo e em sua mais ampla acepção e a serviço da coletividade em todos os setores da atividade humana.

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Sua concepção arquitetônica se embasa na funcionalidade,

que se destina a necessidades humanas, libertada de formalismos excessivos. São, dessa forma, necessariamente equilibradas e harmoniosas e sua compreensão humana se revela cada vez mais profunda.

Segundo Russel Hitchcock:

“A organização técnica de Neutra, a sua habilidade com relação à possibilidade e oportunidade nos planejamentos coletivos, é ainda mais significativa do que seu trabalho de arquiteto. Ele tem atuado também como crítico, não somente por nos trazer informações a respeito de métodos de construção. Seus livros, com suas informações de ordem técnica e

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seus projetos minuciosos, são de tanta importância quanto os prédios que tem idealizado e construído”.1

Sua atividade literária tem alcançado todos os continentes

sendo traduzida em todas as línguas cultas do mundo, estimulando a opinião publica de muitos países, assim como a sua constante colaboração em numerosas revistas, tem esclarecido, guiando e interessando a milhares de pessoas, particularmente das novas gerações, muitas das quais nunca o viram pessoalmente, mas são por ele influenciadas através da publicação e reprodução de seus estudos e projetos.

Outro importante setor de influencia de Neutra sobre o

desenvolvimento da arquitetura e do urbanismo são os numerosos projetos para iniciativas particulares e os que têm realizado para o governo norte-americano e outros. Todos estes projetos, uma vez entregues para estudos, têm merecido o melhor de seus esforços.

1 HITCHCOCK, Russel in NEUTRA, Richard. Arquitetura Social em países de clima quente, São Paulo: Gerth Todtmann, 1948, pp. 14.

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Além disso, Neutra tem participado de comissões para concursos nacionais.

Apesar de todos os grandes problemas teóricos que é

constantemente obrigado a resolver, Neutra gosta de fixar sua atenção ate o menor detalhe das estruturas que lhe sai confiadas, pois, para ele, nenhum deles é tão pequeno que não mereça o melhor de seus interesses. Ele não é somente pesquisador de infinita paciência e rigorosos método que experimenta a utilização de algum material como também é sociólogo e psicólogo dos indivíduos para os quais é chamado para construir. Em todos seus trabalhos demonstra dedicação realmente escrupulosa, desde a elaboração do programa e dos preliminares até o mobiliário e o estudo da conservação e do funcionamento do edifício.

Neutra desenvolveu algumas inovações valiosas vinculadas

a proposições de âmbito social, uma delas foi a introdução a projetos e desenhos modernos para casas mínimas, o que seria, alias o dever social do projetista de tal momento. Neutra

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desenvolveu projetos de casas de 3000 a 3500 dólares executadas individualmente e com todo o mobiliário embutido, inovações no planejamento de projetos de habitação incluindo instalações especiais de uso das comunidades e um método de urbanização muito adiantando para o período que terminou com a segunda guerra mundial.

Projetos de escolas; combinação de salas de aula com

espaços ao ar livre, o que representa o primeiro estudo racional de salas de aula em escola públicas. Projeto de um complexo sistema de escolas urbanas e rurais em Porto Rico. Estudo racional para a solução de problemas dos serviços de a saúde publica, analise minuciosa e desenho de centros de saúde na cidade e no âmbito rural, especialmente em contrate com hospitais antigos, e estudos para clínicas de doenças pulmonares, venéreas, de maternidades com seus serviços de proteção a gestantes e a parturiente e clínicas para crianças.

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Estudo para o uso de fontes de luz indireta, do lado externo de paredes transparentes, para a iluminação de interiores, e outras idéias pratica do mesmo gênero. Também foi ele o primeiro a usar em casas pequenas, aquecimento e paredes e assoalhos através de radiadores embutidos, como fez em 1935, na casa Berad e pela qual mereceu a medalha de ouro no concurso “Better Hommes in America”, quando o júri que sempre fora conservador, impressionado com três trabalhos de Neutra, para a surpresa de todos rompeu com a tradição de voltar pelas sempre premiadas repetições convencionais.

Neutra apresentou também construções que serviram de

padrão para a construção em série. Desenvolveu um dos fundamentos de elementos pré-fabricados, apresentou tipos padronizados de construção em madeira e mostrou a aplicação destes em projetos contemporâneos, fez o uso sistemático e bem sucedido do “Plywood” e foi um dos primeiros a usá-lo como revestimento exterior. Neutra usou também chassis de aço padronizados em moradias como, por exemplo, a “Health House”,

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em 1927, e ainda o primeiro a apresentar o esqueleto de aço previamente soldado, como se viu na “Backstrand House”, em 1938.

Neutra possuía ainda pesquisas vinculadas a mobiliário, foi

o autor de um mobiliário absolutamente novos em suas estruturas funcionais, inclusive poltronas de mola, assim como mesas de usos múltiplos para moradias pouco espaçosas , e um grande numero de outros desenhos de moveis econômicos para uma produção em escala industrial e uso popular.

Em prefácio para o livro “Arquitetura Social”, Gregory

Warchavichk faz uma abordagem bastante apaixonada sobre o arquiteto. De acordo com Warchavichik, os métodos de Neutra, as suas pesquisas e experiências da vida prática são refletidos em suas obras e em seus projetos de urbanização, muitas vezes bem avançados para sua época, mas realizados com absoluto senso das realidades humanas. A solução realmente aplicável, aquela

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para qual tendem tanto a técnica moderna como a consciência social, é sempre a que seu trabalho indica e talvez esteja melhor representada em seus trabalhos relativos a educação e a saúde publica.

De fato, em sua escola experimental para Los Angeles, Neutra prestou benefícios às crianças de duas cidades e à junta local de educação. Esses benefícios ainda atingiram a outros, pois pela primeira vez se combateu toda a oposição convencional da época, Neutra acabou criando uma combinação flexível da sala de aula ligada com o ar livre, própria para um método de ensino em que o aluno aprende variando suas ocupações. Condenou a antiga sala de aula em que o aluno era obrigado a permanecer sentado apenas ouvindo as preleções do professor e com isso mereceu elogios entusiasmados de diretores, professores e país.

Do ponto de vista econômico, técnico, estético e humano, essa estrutura oferece uma solução ideal, um melhoramento sobremodo feliz e que abre caminho para maiores

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aperfeiçoamentos. A fama dessa escola já se espalhou pelo mundo afora e ela foi considerara um exemplo único.

Os projetos de Neutra para o vasto programa de serviços de educação e de saúde da ilha de Porto Rico, incluindo neste volume que trata da arquitetura social, estão moldados no mesmo espírito dos projetos para os serviços de utilidade coletiva, idealizados para a Califórnia, e testemunham seu alto senso de consciência social.

Neutra não se limita ao pleno do mínimo de todos os recursos técnicos e nem aos seus tão proveitosos estudos a respeito das necessidades sociais, acima de tudo isso através da sensibilidade artística incomum, paira uma compreensão instintiva e uma extra-ordinária sabedoria sobre os homens e as coisas.

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INFLUÊNCIAS E HISTÓRIA

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INFLUÊNCIAS

Richard Neutra era filho de Elizabeth Glaser, irmão de

Siegfried Neutra, engenheiro mecânico, Guilermo Neutra, médico,

e Josefina, sendo o mais novo dos quatro filhos do casal. Os

irmãos tiveram um caráter muito marcante com relação as suas

influências artísticas. Schopenhauer chegou a ser o favorito de

Neutra em sua adolescência e começou a se interessar por

Nietzche devido a Siegfried através da obra O Nascimento da

Tragédia. Do irmão Guilermo, são provindas as influências médico-

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fisiológicas, que guiarão Neutra ao longo de toda sua história e

produção arquitetônica.

Muito das influências que Neutra obteve vieram da

infância: a percepção infantil, o fato de que o espaço da casa

possuía peso significativo no desenvolvimento da criança e a

importância da criada, que representa uma época diferente. A

respeito de dias de faxina em casa, Neutra cita que “as tarefas

domésticas são nossas companheiras inseparáveis, porém de

nenhum modo prazerosas”2.

Siegfried sofrera uma hemorragia pulmonar quando tinha

seus 19 anos, quando voltara de Praga, onde estivera por nove

meses. Quando adoecera, Guilermo chamara um renomado

médico de Viena, o Dr. Schretter Von Cristelli. Neutra descreve a

cena que o impressionara durante sua juventude: o clínico

analisara o estado de seu irmão e dera um diagnóstico. Siegfried

era sangravam muito, porém o problema não era tão grave como

2 Neutra, Richard. Vida y forma – Ed. Marimar. Buenos Aires, 1972. Pág. 37.

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aparentava ser. Segundo Cristelli, com aqueles pulmões, viveria

bem até os setenta anos. Cinqüenta anos depois, Siegfried, com

seus 69 anos, falecera em uma clínica para tuberculosos, seis

meses antes de completar seus 70 anos. Neutra se diz

impressionado durante toda sua vida com a precisão do clínico que

avaliara o caso de seu irmão e de seu diagnóstico. Um fato

realmente extraordinário tal como a sagacidade clássica que o

impressionara naquela etapa inicial de sua vida. Cristelli

representara para Neutra um console em casos em que, como

arquiteto, apenas poderia apoiar-se em outras coisas que não

fossem meras observações.3 Acaba colocando que um arquiteto

também pode se converter neste destacado clínico caso identifique

em certos rastros as provas que lhe interessem. Pode, e deve

realizar sua tarefa sem respaldo de qualquer fundação Rockfeller.

Em 1900, aos oito anos, ainda que sem muita precisão e

certeza, Neutra seguramente decidiu se tornar arquiteto, devido a

uma viagem realizada em um ônibus metropolitano em Viena,

3 Ibid. Pág. 62.

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cujas estações foram desenhadas por Otto Wagner. Passou a

sentir um grande apreço por Otto Wagner, por suas construções e

sua luta contra uma vigorosa oposição e ridículo públicos. Era um

missionário, o homem que viera para destruir um passado sem

vigência. Em seu caráter de mestre recentemente designado da

Academia Imperial de artes, iniciou seu curso com um manifesto

sobre a arquitetura moderna e contemporânea4. Para Neutra

naquela época, constituía em seu arquiteto ideal.

Neste período, Otto Wagner e Louis Sullivan – intitulados

por Neutra como o homem maior e o gênio mais jovem,

respectivamente – tinha que lutar contra uma oposição ao mesmo

tempo divertida e cruel de uma política ditatorial de Karl Lueger em

Viena5. Décadas depois, Neutra analisa tal contexto e afirma que

4 Ibid. Pág. 65. 5 Karl Lueger (1844-1910) foi o presidente da câmara de Viena entre 1897 e 1910 e foi o líder do partido social cristão que tomou o poder dos liberais alemães em Viena e combateu os sociais democratas. Sendo apenas uma pequena facção no parlamento austríaco, o partido social cristão ganhou uma posição minoritária câmara de Viena em 1895 e subseqüentemente ajudou Lueger a adquirir a maioria. Após três recusas, o imperador Franz Josef acabou por finalmente sancionar a sua eleição em 1897. Conhecido pelo seu Anti-semitismo, Lueger foi

Evocação de torres e campanários de uma igreja. A alma tem muitas portas. Tournay.

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nem com um ditador experiente e com todas as ações políticas do

mundo poderia ser ponto de partida de uma época criadora ou de

trabalhos geniais. Critica o fato de ter um lento processo de

absorção de obras de um artista, podendo sobreviver trabalhos

mesmo depois da morte de seu autor, ou seja, a aceitação tardia.

Refere-se ao episódio como

“uma grande esperança de um futuro melhor sepultada

em uma tempestade que se iniciava por obra de uma

astuta e fria intriga política, que aos olhos do povo

parecia uma atitude de virtuosa solicitude pela nobre

herança comum.” 6

Posteriormente, em seus 48 anos, Neutra perceberia

como que se destruíam valores que ele mesmo, em colaboração

tido por Adolf Hitler como uma inspiração para a forma mais tarde ainda mais virulenta do Anti-semitismo. Ele também advogava políticas racistas contra todas as minoria de língua não-alemã na Áustria-Hungria. O seu racismo inspirou alguns dos líderes da república austríaca (entre 1918 e 1938), tais como Ignaz Seipel, Engelbert Dollfuss e Kurt von Schuschnigg. 6 Ibid. Pág. 69.

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com amigos, havia criado em anos de trabalho árduo e, quase

literalmente, com o sangue e energia de seu coração.

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DESENHOS

Neutra nascera com olhos cujas capacidades de visão

eram bem distintas, o que tomara como base para concluir, quando

adulto, que se tratava de uma condição que constituía parte vital de

sua estrutura. Havia incorporado um caráter e tendências

específicos, mas não somente uma visão específica e importante e

dúbia sobre o mundo, mas também percepção de dimensões

distintas, atmosferas diferentes e variadas conseqüências de

caráter criadora vida e ao mundo em que vivia. Seu olho direito era

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bastante míope e acabara desenvolvendo hipermetropia no olho

esquerdo ao longo dos anos. Considerava tais características

como partes de um processo vital, assim como percebera a

mudança de coloração dos cabelos e dos olhos ao longo da vida e,

principalmente, o fato de seus pais terem a deficiência visual

ampliada com o tempo. Seu par de olhos nunca cooperava para

que ele tivesse a mesma visão que os demais, de modo que seu

mundo visual envelhecera de maneira distinta. E é esta a

substância que determinaria a evolução de um indivíduo, segundo

este seu pensamento.

Seus desenhos datados a partir de 1906 já começam a

evidenciar essa peculiaridade de seu olho direito. Em 1899,

desenhava diariamente com um método até bastante frio cenas da

Guerra dos Boers7, porém acabara despertando sentimentos que

se voltavam a favor dos valentes boers que lutavam pela liberdade.

7 As guerras boers ou guerras dos boers (ou bôeres) foram dois confrontos armados na África do Sul que opuseram os colonos de origem holandesa e francesa ao exército britânico que pretendia apoderar-se das minas de diamantes recentemente encontradas naquele território. A Primeira Guerra dos Bôeres deu-se em 1880-81 e foi ganha pelos boers, mas a segunda, entre 1899 e 1902, levou à

A Acrópole eterna, dominando o cemitério dos seres de vida curta, Atenas.

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Admirava o caráter progressista da indústria e tecnologia

britânicas, considerando a marinha inglesa a materialidade disso

tudo e desenhava com prazer as embarcações de complexas

maquinas bélicas e nobre forma. Segundo seu irmão Siegfried, a

industrialização era o destino da época e a Inglaterra mantinha os

instrumentos de tal destino.

Neutra, em contato com os ensinamentos do irmão

acerca de motores e apitos a vapor, desenhos de seções

transversais e longitudinais de peças, tudo isso o preparara para o

que teria anos depois: os detalhados sistemas de tubulação

reproduzidos nos tabuleiros de desenho em Chicago.

Ao desenhar árvores no verão vienense, Neutra as

desenhava a partir do olho direito e as massas de folhagem

segundo o olho esquerdo e se perguntava qual de suas visões era

a autêntica.

anexação das repúblicas boeres do Transvaal e do Estado Livre de Orange à colônia britânica do Cabo.

Praça de touros espanhola, ao fundo o crucifixo. Ruído, crueldade e destreza,

também quietude e piedade. Chinchón.

O rio Tejo serpenteia calmamente e se solta abaixo de Toledo, a cidade orgulhosa de suas espadas.

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Em 1907-8 sua produção de desenhos já se encontrava

bastante desenvolvida. E aos 18 anos, dedicou-se durante 14 dias

a percorrer um bosque de Bohemia em companhia de Edmund

Kalischer, seu condiscípulo, levando consigo em uma mochila um

caderno de desenho, pincéis e uma caixa de aquarela, a fim de

produzir desenhos e enriquecer seu traço e sua forma de desenho.

Em 1911 viajara até Trieste, com Ernest Freud, filho de

Sigmund Freud, que se simpatizaram muito com a viagem e

acabaram discutindo o percurso com o professor Alexander, irmão

de Freud, viajante e homem de negócios, conhecedor de todas as

pousadas da pouca freqüentada costa do Adriático Oriental.

Visitaram várias localidades, dentre elas Pola, Split, Sebenico,

Trogir, Korcula, Lesina, Gravosa e Lacroma e o preparo de rápidos

croquis se convertera em hábito cotidiano. Levara uma câmera

fotográfica e, o mais importante que considerava, folhas de papel e

lápis de médias durezas. Costumava evitar ao máximo o uso da

borracha, pois ela destruía o estímulo de linhas desenhadas umas

atrás das outras.

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No fim do verão de 1911, com outro condiscípulo,

conhecera Tirol, onde fora visitar a família de Freud que passava

suas férias em Bozen. De lá, conheceu Torbole, Verona, vales de

Bergano, Brescia, Milão, Florença, Gênova, Livorno, Bastia,

Bologna, Ferrara e Veneza. A velocidade com que passou a

realizar os croquis impressionava aos amigos, porém não possuía

pretensões com relação à esfera artística.

Em 1913, ingressou no curso de graduação de

Arquitetura na Universidade Técnica de Viena, aprendendo a

desenhar seminus com grande destreza , leveza e soltura no traço.

Linhas e movimentos quase contínuos, variando densidades e

outras propriedades do traço. Tivera aulas com o Prof. Heller,

anatomista que realizava conferências veementes e animadas

sobre morfologia humana, inclusive autópsias e dissecações de

corpos humanos perante seus educandos de arquitetura. Neutra

considerava Heller um artista de segunda ou terceira ordem, porém

um expositor robusto e tremendamente dinâmico.

A cidade das vias de água. Obra humana estática e perdurável entre água e as nuvens. Veneza.

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Neutra acreditava que, enquanto muitas pessoas bebiam

café ou vodca para ativar o cérebro e estimular as glândulas, para

ele o hábito de desenhar realizava tais ações perfeitamente bem.

Entre seus dezoito e dezenove anos, enquanto estava no

serviço militar, aprendera a dar movimento aos desenhos, através

de croquis feitos enquanto observava Victor Imhoff Von

Reutlinghof, seu professor de equitação. Desenhara cavalos

trotando, galopando e saltando. Cponhecera Threska Sturn a qual

também desenhava quando se encontravam depois das horas de

faxina no ateliê de costura de Kroell.

Antes do começo da 1ª Grande Guerra Mundial,

participara de uma excursão ao longo do Rio Danúbio, cidade de

Krems e Stein. Continuava com seus desenhos à mão em uma

colaboração íntima com a visão e ruídos.

Em 1912, com 20 anos, no curso de Arquitetura, em

aulas com o professor Mayreder, desenhara templos jônicos e

coríntios, estudando minuciosamente seus detalhes, com inclusão Neve natalina, feita há muitos anos, velho, porém inesquecível. Austria.

Arbusto seco, afundado na neve profunda do inverno.

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de sombras e indicações exatas das proporções medidas e

moduladas. Ficara fascinado com o quão humano era o material

com que os gregos aprenderam a produzir lentamente.

Aprenderam a refinar as matizes até que no fim tudo deveria

compreender em um objeto harmônico.

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NEUTRA E A PRIMEIRA GRANDE GUERRA MUNDIAL

Durante a 1ª grande Guerra Mundial, desenhava muito

nas horas vagas entre um serviço militar e outro em Hezergovina,

Montenegro e Albânia.

No verão de 1914, um mês antes do início da 1ª Grande

guerra mundial, o arquiduque Francisco Fernando fora

assassinado em Sarajevo e um mês depois seu herdeiro e sua

viúva foram vítimas mortais de um atentado, que muitos afirmaram

ter ocasionado a guerra.

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Neutra ingressara nas Forças Armadas acreditando que

dali a seis meses estaria de volta e poderia viajar pela Itália. Porém

uma vez incorporado ao serviço como muitos, Neutra acabou

ficando obrigado no exército entre nove e doze meses. Mesmo

assim, durante julho de 1914, com seus 22 anos, Neutra tivera a

breve oportunidade de conhecer a antiga cidade provincial turca de

Moztar, a caminho da fortaleza de Trebinje, onde começou a

enxergar que o contexto em que se encontrava inserido era de

grandiosas proporções de preocupação. Via-se como um arquiteto

pacífico de Viena, onde estavam as suas figuras principais: Otto

Wagner, Joseph Hoffman, Fabiani e Adolf Loos, este em um lugar

especial, a quem Neutra se referia a como um revolucionário de

distinto caráter.

Otto Wagner fora ídolo de Neutra até antes de ele

conhecer Fank Lloyd Wright e Sullivan nos EUA, país para onde

posteriormente se instauraria e ao qual se referia como o amor não

correspondido de Loos. Pensava em ir para a Califórnia, onde,

segundo ouvia muito dizer, morava Wright.

Porta da cidade no deserto da Nigéria Setentrional – elo do mundo exterior ao mundo interior.

Do poço de água, argila para uma cidade. Saara Meridional.

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Porém era obrigado a deixar tais pensamentos de lado e

se focar no cenário de guerra em que se encontrava. Lutara no

exército de Habsburgo. Durante a guerra, Neutra aprendera eslavo

meridional e, assim como seriam todas as outras línguas

aprendidas no decorrer da vida, sem a necessidade de livros.

“Durante o primeiro ano de guerra, não

participaram Itália nem África. As outras grandes

potências militares haviam comprometido em uma

terrível exibição de energia e armamentos acumulados

durante os tempos de paz. O destino de minha vida era

a construção, porém ali e então tudo se orientava era a

destruição em escala sem precedentes.”

Neutra elabora algumas reflexões em 1915, enquanto na

guerra, a respeito dos equipamentos sociais – escolas, centros

comunitários – e casas que haviam deixado de ser construídas

para se financiar aparatos bélicos e a economia da guerra.

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Também refletiu sobre o desenvolvimento tecnológico e

orçamentário desde a expulsão dos filisteus, e calculou

“[…]o custo de duas horas de bombardeio

naval a uma curva ferroviária que havia sido reformada

na mesma tarde. Todavia, hoje procuro calcular quanto

menor é o custo da paz quando se utiliza de arquitetos

em atendimento civil, precisamente o que eu ansiava

então.” 8

“O arquiteto que não vivera sua própria

odisséia, que está vivendo em uma área metropolitana

e conhece apenas um pouco mais do que seu próprio

meio provinciano, em verdade, não pode servir à

humanidade em sua forma atual em um mundo que se

tem contraído notavelmente.” 9

8 Ibid. Pág. 111. 9 Ibid. Pág. 111.

Seiva de uma árvore se lançando sobre o rio Congo.

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Com a 1ª Grande Guerra Mundial, Neutra percebera que

existiam várias regiões que necessitavam de desenvolvimento e

que, apesar de incapacitado de exercer a profissão, aprendera

muitas coisas que o ajudariam a posteriori em sua produção.

Destaca a região montanhosa de Montenegro, no leste europeu,

como sendo uma das áreas mais problemáticas dos centros

civilizados e que nem nas Américas, África ou Ásia havia tantos

lugares remotos e esquecidos pelo progresso cultural.

Durante as ocupações em período de guerra, com o

idioma mais decantado, Neutra se permitira participar mais da vida

civil das cidades onde permanecera, podendo ter uma apreensão

maior daqueles que habitavam aquelas cidades, sobre seus

costumes, arquiteturas, modos de vida, cultura e geografia.

“A viagem aportou muitos dadospráticos de

caráter antropológico.[…] Os habitantes das zonas

rurais de Montenegro davam a impressão de serem

provavelmente os camponeses mais nobres e dignos

que pudesse encontrar, quiçá ainda mais do que os

Pátio de um monastério protegido do vento. Lima.

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espanhóis. Em uma cidade como Cetinje, é possível se

encontrar com pessoas que haviam vivido um par de

anos nos Estados Unidos e que se dedicam a vender

licores ou administrar bordéis. Porém a maioria dos

habitantes são maravilhosas réplicas do nobre

selvagem descrito por Chateaubriand em fins do século

XVIII, quando exaltou aos peles-vermelhas. Porém

quando alguém entrava em uma casa em modos de

caverna e inesperadamente veria a parede coberta por

tarjas postais e fotográficas de parentes de residiam

nos EUA, a coisa parecia incongruente e perdeu a

hierarquia e o caráter desse meio primitivo. É fácil

destruir a harmonia cultural dos seres humanos e dos

animais em um ambiente abundante de névoa, cuja

contemplação constitui uma experiência tão notável

para o arquiteto e ao projetista do meio humano.” 10

10 Ibid. Pág. 119.

Ladeira ensolarada no ártico. Quiçá no curso deste século o átomo transmitirá calor e fecundidade ao território do noroeste?

Page 37: MonografiaNeutra

37

Durante a guerra, Neutra visitara várias localidades,

dentre elas, as cidades de Kotor, Nis, Podgorica, Cetinje,

assentamentos em Shkodër e a cidade de Lesh, ondeo batalhão de

345 soldados e 06 oficiais – dentre estes último, estava Neutra –

adoecera de malária, cólera e tifóide, restando apenas 65 das

centenas de soldados e apenas Neutra dos oficiais, que contraíra

malária nesse ínterim, logo no começo de sua grande busca por

hospitais para se tratar junto com os homens restantes. Além

destas, também conhecera Trenčin e Budapeste.

Page 38: MonografiaNeutra

38

DA ESLOVÁQUIA A SUÍÇA – DE TREN ČIN À ZURIQUE

Quando na Albânia, durante a guerra, Neutra conhecera

o subtenente Herzka, que posteriormente o reconheceria em

Trenčin, Eslováquia. Por estar mais familiarizado do que Neutra na

cidade, porém infectados pela malária, Herzka encontrara um

quarto para Neutra fora do hospital, na casa da baronesa

Zahoransky, uma húngara cujo marido havia vivido na Inglaterra e

nos Estados Unidos e construíra sua residência seguindo o estilo

A colombiana Cartagena, outrora centro de atividade, agora sonolenta e pacífica.

Page 39: MonografiaNeutra

39

anglo-saxão, com seus elementos característicos. Foi aí um

contato marcante de Neutra com esse estilo diferente.11

Aos 25 ou 26 anos, ainda em Trenčin, Neutra tem como

alimento arquitetônico os elementos e paisagens daquela região. O

castelo, a cidade, a igreja, as criptas da sinagoga, uma sinistra

catacumba em uma sombra estranha de um monte, com santos

solitários erguidos entre as sombras, restos de um monastério

abandonado, nas margens opostas do rio Trenčin.12

Na primavera de 1918, sob uma licença de três meses

do serviço militar, Neutra voltou para Viena e concluiu o curso e

retirou seu diploma universitário. No mesmo ano, após o

comandante militar conceder a permissão para Neutra sair de

Trenčin e atravessar o país recentemente liberado, a anfitriã donde

Neutra estava hospedado pediu que ele entregasse uma carta de

apresentação a uma prima dela que estava trabalhando como

enfermeira na Suíça e administrava uma casa de descanso

11 Ibid. Pág. 126. 12 Ibid. Pág. 129.

Page 40: MonografiaNeutra

40

próxima ao lago de Zurich. Durante sua ida, perguntava-se o que o

povo dali de Trenčin poderia se dedicar a construir no lugar de

ruínas e destruição. Neutra conhecera o arquiteto vienense

naturalizado suíço o Sr. Steinhoff. Ao chegar à cidade, foi parar no

pequeno Hotal Simplon, projetado há 50 anos por Gottfried

Semper, cujo Teatro da Corte, em Viena, era objeto de admiração

de Neutra. Suíça era um país pacífico e equilibrado, segundo

Neutra, e isso o encantava demais. Porém era evidente a escassez

de oportunidades de trabalho.

O espaço e o tempo, medidos mais direta e intimamente por meio da dança do que instrumentos de medição. Sevilha.

Vagabundo mexicano diante de um mural moderno. Humilde desconcerto.

Page 41: MonografiaNeutra

41

SUÍÇA E ALEMANHA

A caminho de Zurich, conhecera o novelista e poeta

Alfred Niedermann, autor de Dione Peutinger, A médica de

Ingolstadt, cujo retrato de sua neta, Regula, feito por Neutra,

encontra-se em Westwood, Califórnia, em um departamento-jardim

de um ambiente ocupado por padres construído por Neutra em

meados de 1948. Regula acompanhava o arquiteto quando este

fora para Califórnia depois da 2ª Grande Guerra Mundial e o

Page 42: MonografiaNeutra

42

auxiliou muito na promoção da felicidade das pessoas através de

recursos da arqutietura.13

Neutra acreditava que Zurich oferecia muitas satisfações

do ponto de vista do campo da arqutietura, exceto pelo que talvez

fosse seu orgulho, a avenida principal, que ia da estação de trem

até a paisagem do lago. Via a cidade como uma moeda antiga:

pulcramente perfilada e peculiarmente sólida e prateada14.

Interessava-se profundamente pelas características daquele país

cheio de geleiras, cujos percursos entre as montanhas foram

franqueados por mais estrangeiros do que os que cruzaram os de

Caxemira, que Neutra conhecera muito tempo depois.

“Apesar de sua hospitalidade e universidade

cosmopolita, Suíça e ainda mais Zurich são lugares

ignorados por muitos estrangeiros. Porém cheguei a

senti-la muito próxima de meu coração.” 15

13 Ibid. Pág. 131. 14 Ibid. Pág. 132. 15 Ibid. Pág. 133.

Dois estilos em fusão religiosa. Gante.

Um império consagrado ao céu se sentindo confortável em Viena e em Flandres. E se estendia de Madrid a Manila. Malinas.

Page 43: MonografiaNeutra

43

Trabalhara em Zurich em uma empresa dedicada ao

embelezamento de terrenos e paisagens, a Otto Froebel’s Erben –

dos herdeiros de Otto Froebel – sob a supervisão de Gustav

Amman, aluno de Jacobs Ochs e de Carl Foerster, de Hamburgo,

que veio a conhecer 40 anos depois e pôde comprovar que era um

velho entusiasta apaixonado pela arte de desenhar paisagens.

Neutra se relacionara com ele quando a Universidade da Berlim

Ocidental o honrara amavelmente com o título de doutor.

As noções de paisagismo de neutra foram adquiridas na

Suíça, através da idéias de Ammann e Foerster. O estúdio de

Ammann, os terrenos de cultivo com plantas perenes em floração e

os arbustos em latas e caixas, o sótão onde Neutra preparava

estacas sob a guia do capataz Brauchli e do jardineiro Rusterholz

foram o ponto de partida de experiências que abriram os olhos do

arquiteto vienense sobre vegetais e paisagens. A longo de

conversas com Ammann, conhecera idéias de Foerster sobre o

acondicionamento do ser pelas plantas no jardim; por parte dos

seres humanos, atribuem a elas um caráter secundário, apesar de Corpos humanos, desenhados antes da Primeira Guerra Mundial; envelheceram muito desde então. Viena.

Page 44: MonografiaNeutra

44

que elas expressam sua própria biologia natural primária e,

portanto, colorem a paisagem com sua fisionomia. O projetista da

paisagem pode manipular tanto o caráter cultural quanto a

fisionomia natural para manter seu trabalho de criação de lugares e

a concordância destes últimos com o meio representado pela

paisagem natural e cultural. Tais conceitos refletem mais o modo

com que Neutra começou a trabalhar tais pensamentos.

Aprendera a classificar plantas de acordo com seu

crescimento, tamanho, cor, florescência, bem como associações

que pudessem vincular o caráter da paisagem de acordo com o

cenário que se tratava, bem como a fisionomia da paisagem

poderia se manifestar a todos.

Neutra gostava de observar os equilíbrios naturais da

ecologia vegetal e o micro clima gerador de lugares. Passou a

pensar que poderia prestar a mesma atenção ao crescimento e

Page 45: MonografiaNeutra

45

biodinâmica dos seres humanos. Por que suas raízes e seu

florescimento haveriam de ser menos interessantes?16

Os laços afetivos com a família Niedermann começavam

a se estreitar, cheganod ao ponto de Neutra ser considerado um

membro adotivo, filho da senhora Antoinelle Niedermann, mãe de

Trude, Anita, Vrene e Dione. Esta última era a filha música da

família. Tocava violino e possuía educação musical voltada à

música clássica. Havia estudado em Genebra e praticava solos de

Bach e as danças de Franz Lachner. Neutra notara que Dione,

gradualmente e com certa audácia, começou a se adiantar de suas

irmãs e ele pôde afirmar que se tratava de uma espécie de noiva

informal. Ele sentia um profundo agradecimento pela hospitalidade

que encontrara na Suíça.

Quando Dione fora para Viena estudar violoncelo,

passando a morar com amigos da família, Neutra passou a

16 Ibid. Pág. 134.

Page 46: MonografiaNeutra

46

trabalhar em Wädenswill, na orla meridional do lago Zurich, no

pequeno estúdio dos arquitetos Wernli e Staeger.

“O destino não é o fruto de um plano. E uma pessoa não

elege seu companheiro, nem o educa. Tais bendições

simplesmente recaem sobre nossas humildes cabeças.” 17

Segundo Neutra, Dione era movida por um espírito

devoto, penetrando quase silenciosamente na essência dos

problemas criativos e das relações humanas, sem perder sua

própria identidade, ao que tampouco jamais adotara atitudes

defensivas. Com sua sinceridade pôde conquistar corações em

Porto Rico, Guam, Vancouver, Cuzco, Karachi, Oslo e Viena. Sua

capacidade de assimilação é tão considerável tanto nas distâncias

sociais quanto nas geográficas. Jamais se mostrara dona de nada.

17 Ibid. Pág. 140.

Esquiadores canadenses descansando depois de sua fatigosa atividade. Alberta.

Page 47: MonografiaNeutra

47

Neutra chega a estabelecer um paradoxo entre a função

do arquiteto como planejador e o destino que o toma e o faz

reconhecer sua própria condição.

“É surpreendente quanto dinheiro e quantas

esperanças se confiam a um arquiteto, quantos fundo e

quantas esperanças para que antecipe e preveja um

futuro, se ele mesmo deve reconhecer sua própria

ignorância. […] Os problemas do individualismo e a

coesão dos seres humanos, assim como o

conhecimento dos mesmos, se encontram na base da

vida. Muitas vezes tem-se pensado que as relações

matrimoniais e amorosas dos grandes e pequenos

arquitetos apontam dados de profundo interesse; por

suposto, à margem de qualquer forma de murmúrios. É

possível que não possa se afirmar o mesmo dos

engenheiros civis.” 18

18 Ibid. Pág. 141.

Page 48: MonografiaNeutra

48

Neutra regressa à Viena pouco antes de 14 de abril de

1920 – 19º aniversário de Dione – e é acometido por uma gripe

junto com sua namorada. Gripe que já havia dizimado vários

homens, dentre eles, Egon Schiele, artista de grande admiração

dos vieneses, inclusive Neutra, e sua esposa. O pai de Neutra

também falecera pela tal gripe, não tendo oportunidade de

conhecer Dione, e sua mãe também, após doze anos viúva. Neutra

acreditava que a base mais firme para um casamento era ter tido

pais cuja união fora feliz.

Em junho de 1920, Dione partira de Viena e Neutra realizou

esforços desesperados para procurar emprego, até que tivera um

primeiro contato com a Missão dos Amigos Britanicos e Norte-

americanos, instituição que fora instalada nos palácios vienenses

de Singerdtrasse e Herrengasse. Neutra estava decidido a

aprender inglês e obter um visto para entrar nos Estados Unidos da

América. Enquanto aguardava o visto, aceitara trabalhar com

Ernest Freud em Berlim, com mais dois arquitetos, Pinner e

Neumann, sem se aprofundar muito nos projetos. Berlim o

desconcertava. A exceção de algumas grandes construções e

Dione Neutra, música e noiva há quatro décadas, 1923.

Page 49: MonografiaNeutra

49

estações de transporte metropolitano, acreditava que havia

abundância de arquitetura de caráter duvidoso. De todo modo, as

proporções materiais e os museus eram fatores impressionantes

da cidade.

Aos 28 anos, passou a desenhar jardins em Dahlen,

enquanto Freud projetava casas. Morava em Gleditschstrasse.

Fora apresentado pela Sra. Niedermann a Otto Krueger, passando

a trabalhar com o proprietário de uma grande empresa de artefatos

de iluminação, realizando várias viagens de negócios pela

Alemanha Ocidental.

“Fosse como fosse, simpatizei-me com meus

cordiais anfitriões. Desejava-lhes bem e me confortava

em meus bons sentimentos. Era uma grande

experiência estar relacionado com seres humanos em

um lugar tão estranho como a grande Berlim daquela

época.” 19

19 Ibid. Pág. 144.

Page 50: MonografiaNeutra

50

Acabou trabalhando também no escritório do professor K…,

um arquiteto de renome da sociedade alemã, cujo estilo heimat

(nativo) era bastante prestigiado. Pouco depois, Neutra soubera

que um dos empregados dali acabara de renunciar a um emprego

com Baurat Bischof na Oficina Municipal de Construções da cidade

de Luckenwalde, em Bradenburgo, substituindo o colega, deixando

o escritório do professor R.

Page 51: MonografiaNeutra

51

BRADENBURGO, ALEMANHA

Neutra, em sua condição de estrangeiro capaz de

manifestar empatia, sempre acabava se incorporando à vida das

cidades por onde passava. Em Bradenburgo não fora diferente.

Aprendera a andar de bicicleta para se dirigir a um projeto de

habitações bastante afastado, concebido como obra semi-rústica.

Vivera com uma família cujo chefe maltratava a mulher e cuja única

filha possuía uma bela voz de soprano e cantava músicas

ensinadas pelo pai.

Tilly, cavalo de batalha de Neutra, encilhado, em 1914. Montenegro.

Page 52: MonografiaNeutra

52

Trabalhara também em uma realocação de operários

industriais, muitos dos quais viviam em sótãos na cidade. Enquanto

trabalhava em projetos de habitação semi-rurais, Neutra via de

modo bastante próximo como se destituía uma família urbana ao

ser transportada para as condições rurais, pois cada membro se

ajustava num folheto distinto com determinadas instruções de

cultivo, colheita e de alimentação dos animais. Os problemas

humanos que se escondiam por trás dos eixos econômicos

concretos fascinavam Neutra e seus ecos o acompanhariam

durante toda sua vida de construtor de habitações.

A realocação de famílias a cargo de funcionários, bem

como qualquer outro tipo de transplante, gera fricções e indícios de

tensão. A observação deste fenômeno acompanhava e inquietava

o arquiteto permanentemente.

Neutra se via como um médico que receitava moradias

e, ao viver com seus pacientes, estava administrando a si mesmo

sua própria medicina e assistia à destruição da vida familiar. Deste Casas burguesas no Haiti negro, Era Pós-napoleônica. Tout comme chez nous.

Page 53: MonografiaNeutra

53

ponto de vista estrutural e formal, todas as expressões

arquitetônicas eram excelentes, porém não se acabava por

entender os seres humanos. O desenho não se subordinava de

todo às necessidades da supervivência.

Neutra cita que, quando pequeno, fora educado como

confidente, o que pressupõe que permitiu a ele uma grande

utilidade em uma sociedade como arquiteto.

Richard Neutra, quando se tornara projetista oficial do

Cemitério do Bosque de Luckenwalde, um projeto municipal de

cunho socialista, recebera, pela primeira vez, uma crítica a um

projeto seu, por parte do conselheiro Bauchwitz, que atacara o

plano e o projeto com argumentos claros e convincentes,

demonstrando que a construção de um projeto de cemitério em um

bosque era loucura e insensatez do ponto de vista orçamentário,

político, moral e da engenharia civil. Neutra considera o episodio

como uma maravilhosa demonstração da política na engenharia

civil. Porem, como tinha apoio da maioria da cidade, dera

Uma religião universal como o budismo assume um colorido diferente segundo as distintas paisagens. Rangún.

Page 54: MonografiaNeutra

54

continuidade aos planos.20 Enquanto analisava o sistema de

espaços distribuídos ao longo dos bosques, a elaboração e

promulgação de normas sobre as lápides permitidas, a vinculação

de todos os aspectos estéticos e da paisagem com a capela e a

entrada, Neutra apontava tal produto integral de seu cérebro com

um folheto que abundava dados de investigações e explicações

técnicas.

A empresa representava uma tremenda experiência no

domínio do silêncio. O resultado parecia conseqüência de um

pensamento filosófico e técnico posto a serviço dos mortos, ou dos

que sofriam e se recordavam. Concebera muitas idéias enquanto

passeava pelos bosques da cidade. Baurat Bischof atribuíra a

Neutra todo o mérito do projeto. Um gesto pouco habitual, mas que

significou, pela primeira vez a Neutra, que veria seu nome

estampado e vinculado a um tema que havia assimilado com

esforço tenaz e com um entusiasmo autodidata.

20 Ibid. Pág. 147.

Page 55: MonografiaNeutra

55

Page 56: MonografiaNeutra

56

ERIC MENDElSOHN

Certo dia, Neutra fora presenteado por Eric Mendelsohn,

arquiteto conhecido graças a seu projeto da Torre Einstein, com

croquis em cores vivas de uma fábrica de chapéus, que a Neutra

se pareceu uma manifestação de arte expressionista e algo

estranho para se presentear um inspetor municipal de construção

em Luckenwalde. Porém, um mês depois, Neutra trabalhava com

Mendelsohn em Berlim. Procuravam atingir os mesmo objetivos e

Page 57: MonografiaNeutra

57

Neutra se simpatizara com Mendelsohn por este não se importar

com sua inexperiência.

Passou a morar na casa da família Boldin, na colônia de

Eich Kamp, trinta minutos do caminho da Reichskanzler Alle, onde

Mendelsohn ocupava o último piso de uma casa de três

pavimentos. Em Berlim, Neutra era o terceiro associado, junto com

Mendelsohn e com o conhecido escultor P. P. Henning. No ateliê,

Neutra assumiu imediatamente o projeto de ampliação do edifício

de Berliner Tageblatt, encargo que Mendelsohn revebera de

Lachman Mosse, o Willian Randolph Hearest. Lachman lembrava a

Neutra à figura do sereníssimus, caricatura alemã que

representava a grande arsitocracia. Só vinte anos mais tarde, na

Califórnia, que Neutra comprovou que Lachman era muito capaz e

um homem excelente.

“O edifício Mosse suportou muitas

vicissitudes, pois violava todas a s normas municipais

com sua estrutura monumental, bem aproveitada e ao

mesmo tempo heterodoxa, que se lançava no centro

Em todo o globo, cerimônias nas fronteiras; sem demora, a separação é uma ficção. Ahmedabad.

Page 58: MonografiaNeutra

58

cuidadosamente regulamentado de Berlim. Eu

negociava com o Ministério do bem-Estar da Prússia e

recolhia impressões pessoais dos funcionários do

governo neste setor do mundo, comparando-os com os

austríacos. Desde então, quantos conheci em todos os

países do mundo! Em verdade, também eles são seres

humanos!

“De qualquer modo, o testemunho dos

experts se impulsiona à burocracia. No curso de um

ágape oferecido para promover o apoio de um jurado

de arquitetos ao projeto arquitetônico – que também

era nosso projeto – conheci o magnífico Hans Poelzig,

com seu estridente apoio às idéias modernas. Seu

título popular para a fama era o teatro que havia

construído para Max Reinhardt.” 21

21 Ibid. Pág. 151.

Edifício Mosse, E. Mendelsohn e R. Neutra

Page 59: MonografiaNeutra

59

Com o projeto desse edifício, Neutra se deparou com a

experiência mais desastrosa do meio da construção civil que

poderia se dar na vida de um arquiteto. Durante a obra, uma

grande quantidade amontoada de areia sobre uma laje de cimento

vários pisos e levou ao chão outras lajes de outros pavimentos

inferiores, além de homens e mulheres que trabalhavam na obra,

gerando vítimas fatais.

Enquanto Erich Mendelsohn se encontrava no Oriente

Médio, antecipara em seus desenhos muitos aspectos do

expressionismo de Oscar Niemeyer. Entretanto, em Berlim,

encarreguei-me do projeto de desenho de quatro casas para o

subúrbio de Zehlendorf. Uma plataforma giratória que se movia ao

apertar um botão e apresentava qualquer uma da três seções

completamente fornecidas, era contigua a cada sala de estar, para

permitir um uso mais flexível. Essas seções consistiam em uma

sala de música, uma sala de jantar com mesa posta e uma

agradável biblioteca. Tal disposição caída no desuso chamou a

atenção de todos e provocou artigos periódicos, bem como

caricaturas e versos humorísticos nos jornais diários. Mãe e filho diante do santuário ancestral. Permanente

dependência ao longo das gerações. Ise.

Page 60: MonografiaNeutra

60

Em 1922, Neutra e Dione se casam em Hagen,

Westfalia. Posteriormente, tiveram dois filhos, um chamado Frank

Lloyd e o outro Dion, masculino de Dione, em homenagem,

respectivamente, ao patrono de Neutra nos Estados Unidos e sua

esposa.

Page 61: MonografiaNeutra

61

Page 62: MonografiaNeutra

62

CONCEITOS

Page 63: MonografiaNeutra

63

INFLUÊNCIAS PRÁTICAS E TEÓRICAS

Neutra afirma que começou a odiar coisas de difícil

manejo durante a infância, uma vez que tais objetos, como janelas

com portas-esquadria de bronze, perturbavam os sentimentos de

uma criança acerca do mundo no qual estava inserida,

principalmente com relação ao exterior.22 Destaca sua simpatia por

espelhos, vidros e demais materiais reflexivos, uma vez que

consideravam maravilhosas as janelas e vidros para uma criança

22 Neutra, Richard. Vida y forma – Ed. Marimar. Buenos Aires, 1972. Pág. 38.

Page 64: MonografiaNeutra

64

posta em um ambiente interno e fechado. 23 Com sensibilidades

acerca do universo infantil, o arquiteto evidenciaria o papel do

espaço na formação da criança, desde detalhes das paredes, das

pinturas, até dos eventos que aconteciam além das janelas, tudo

aquilo possuía amplo caráter de representação aos olhos de uma

criança.

Procura encontrar relações de projetos em andamento

com experiências já vividas anteriormente.

De modo geral, Neutra, tanto em física como na esfera

épica grega ou literatura alemã, obtivera uma educação muito mais

permanente no colégio secundário do que na universidade. Assim

como todos os idiomas que aprendera, fora através das dezenas

de viagens que lhe proporcionaram experiências, inclusive

lingüísticas, importantíssimas.

23 Ibid. Pág. 38.

Page 65: MonografiaNeutra

65

Seus estudos formais foram complementados pelos

fatores que o estimulavam a participar de discussões seriais.

Freqüentava a biblioteca da universidade, onde tivera contato com

as primeiras investigações fundamentais sobre psicologia

fisiológica e experimental de Wilhelm Wundt, interessando-se ainda

mais pelas obras de Sigmund Freud e também por

condicionamentos psicológicos de uma pessoa, individual ou em

contexto social.

Page 66: MonografiaNeutra

66

RELAÇÕES HUMANAS ENTRE ARQUITETOS E CLIENTES

A amizade entre ele e aqueles que trabalham consigo se

fundam na empatia com sentimentos e necessidades. Neutra adota

uma atitude bastante sistemática caracterizada por digestão de

sentimentos mediante o lóbulo frontal. Quando se sente só ou

querido, medita sobre o assunto utilizando termos fisiológicos.

Segundo os fisiólogos, existe uma tendência em localizar na

porção frontal do cérebro os processos que adotam formas

Page 67: MonografiaNeutra

67

conscientes como pensamentos conceituados. 24 O desconcerto

intelectual não deve prejudicar a consciência. Neutra acredita que

o arquiteto nunca deve se permitir atitudes desconcertantes, muito

menos para com os clientes, aqueles cuja confiança representa a

possibilidade de realização de um trabalho criativo. Para ele, os

clientes são mais do que simples clientes. São verdadeiros

clientes-pacientes.

A palavra dita possui algo que eleva a confiança

perdurável, permitindo o nascimento de um edifício, e que

necessita se voltar constantemente a conversas com o cliente.

Além da palavra e do modo que o arquiteto e o cliente se

aconselham, o grau de instrução e experiência do arquiteto o

permite harmonizar tudo aquilo que aprendeu e aprende em

conjunto com o cliente. Um arquiteto necessita compreender os

sentimentos alheios, caso queira ser algo além de um simples

técnico, caso queira se mover pela necessidade e pela paixão – o

desejo o move e o transforma num artista da interação humana.

24 Ibid. Pág. 58.

Velas negras frente a Shangai.

Page 68: MonografiaNeutra

68

Deve também calibrar as possíveis influências que se exerçam em

um grupo e sobre cada um de seus indivíduos, assim como as

manifestações em condições de um futuro imaginado e concebido

como sentido criador.

“Uma arte impregnada de ciência exerce sobre mim um

estranho atrativo25 […] A arte nunca pode se separar totalmente da

curiosidade científica do homem.“ 26

Conhecer as personalidade humanas e suas fisiologias,

a relação empática para com os clientes e percepções de

profundidade ocultas destes permitem ao arquiteto a formulação de

uma arquitetura mais exata de uma vida que lhe foi confiada com

esperanças e sentimentos. Conseqüentemente o arquiteto pode

elaborar uma profecia prática de uma vida saudável e feliz. Tudo

isso exige mais do que simples conhecimentos de materiais de

construção. Deve-se desenhar, através da Arquitetura, uma

situação biológica prolongada e previsível.

25 Ibid. Pág. 59. 26 Ibid. Pág. 60.

Page 69: MonografiaNeutra

69

“De nenhum modo pretendo sugerir que se deva

descartar a pesquisa sistemática, ou que não seja

possível aplicar seus métodos à Arquitetura, no marco

da qual se desenha um meio para uma situação

biológica prolongada e previsível: para o homem, a

mulher e o menino, e para todas as atividades nos anos

futuros. Pelo contrário, estou convencido de que a

investigação metódica e muito detalhada é imperativa.

Porém também estou convencido de que o clínico

dotado de intuição – o artista médico assim como o que

se ocupa das individualidades biológicas representadas

pelos clientes de quem constrói ‘casas’ para o homem

– é a princípio a pessoa mais adequada para orientar e

oferecer linhas de experimentação ao pesquisador. O

pesquisador de laboratório necessita da experiência e

da opinião do clínico para indicar as mais adequadas

linhas de experimentação, e o que se falta clarear

Page 70: MonografiaNeutra

70

mediante a investigação.27 […] É possível que a

profissão de arquiteto siga este curso que vai dos

tantos humildes à sistemática influente? Por acaso se

conhece alguma profissão que em um breve lapso

tenha sido capaz de realizar tamanha façanha?” 28

“Há se demonstrado que no curso de meio século

– mediante a ação coordenada e um sistema de

educação que tem consciência da psicologia social e se

fala intimamente vinculado à pesquisa contemporânea

que se desenvolve em algumas ciências afins – um

grupo ou organização profissional pode modificar sua

situação na sociedade e aos olhos do mundo. Nada

impede que a arquitetura alcance o mesmo objetivo,

sem adotar uma atitude missionária, baseada em

critérios objetivos que lhe permita demonstrar seu

próprio valor. Um arquiteto também pode ser um artista

intuitivo, porém pode confirmar e desenvolver sua

27 Ibid. Pág. 62. 28 Ibid. Pág. 63. A luta se transforma em jogo.

Oaxaca.

Page 71: MonografiaNeutra

71

intuição aprendendo certas coisas que outras

profissões conhecem melhor e outros profissionais

manipulam com maior destreza. Geralmente se espera

que o arquiteto resolva problemas de engenharia;

apesar do qual, atribui-se a ele a condição de uma

versão medíocre e de segunda mão do que seria um

engenheiro. Há quem chega, inclusive, a crer que o

arquiteto se limita a ‘vender planos’. E ainda na própria

profissão, muitos poucos homens podem oferecer uma

explicação clara e comumente aceitada, ou um

diagnostico diferenciado de sua especialidade. Quiçá

pode se afirma que, em linhas gerais, necessita-se

menos de especialidade do que universalidade? Quais

podem ser as provas objetivas de uma decisão

arquitetônica válida? A incerteza neste ponto é

exatamente o que afetou e desmoralizou uma profissão

capaz de assumir a responsabilidade de fazer felizes

não somente aos clientes considerados

individualmente, e capaz de promover não somente o

bem-estar das pessoas ‘em um período de amortização

Page 72: MonografiaNeutra

72

senão também a supervivência de da raça, grande

parte da qual está cada vez mais enclausurada em

meio artificiais e complexos. Se bem que um grande e

solitário arquiteto haveria de impressionar depois com

suas obras realizadas, comecei por presenciar a

maravilhosa ação de um famoso médico. Em meu

espírito infantil haveria de combinar ambas as imagens,

e, todavia, hoje retenho com amor esta fusão.” 29

A personalidade humana é, de maneira muito natural, a

fusão e o resultado de todas as circunstâncias. Estas, que são

estruturas e deficiências congênitas que guardam uma intrínseca

relação com o fenômeno de condicionamento. A própria vida,

segundo Neutra, observada e analisada, apelando-se a todos os

meios possíveis, é indubitavelmente educadora fundamental e

suprema. É a mais plasmante do que suas próprias seqüências.

Desenvolve seus próprios percursos, a princípio heterodoxos. Tudo

aquilo que se passara em uma juventude são experiências

29 Ibid. Pág. 64.

Page 73: MonografiaNeutra

73

externas de uma vida jovem que exerceram seu próprio impulso

sobre ela mesma. Circunstâncias inatas têm o desenvolvimento da

missão de um homem – a destreza de suas mãos ou a perícia de

seus olhos, por exemplo. Características consideradas defeitos,

mas que podem converter em benefícios que podem contribuir

para o enigma fascinante da individualidade biológica. Neutra

colocara a idéia de indivíduo através de novas defesas, através do

fisiólogo, cuja observação é detalhista, ou do patologista, que

possui esperança de se converter em terapeuta. Questiona ainda o

que seria um homem natural e quais os elementos que

conformariam um indivíduo?

Page 74: MonografiaNeutra

74

SOBRE DESENHOS

Neutra desenhava muito e tais fragmentos se registram

em uma série indeterminável de experiências de uma vida. Com

profundo sentido hospitaleiro, a Universidade da Califórnia, em Los

Angeles, dedicara uma pequena sessão de sua gigantesca

biblioteca para arquivar trabalhos do arquiteto. Ainda no âmbito da

discussão do hábito do desenho, Neutra busca ligações intrínsecas

ente tal processo e processos bioquímicos.

Decadência e crescimento… por toda parte.

Page 75: MonografiaNeutra

75

“Seria falso ver este volume de linhas, em cores

ou em branco e preto, como uma colossal inversão de

tempo. Se medimos o tempo com relógios mecânicos,

advertimos que em suma se necessitava de breves

períodos de atenção cerebral. Esta importante

manifestação nervosa só revela centésimos de

segundos de uma vida. O olho humano é mais veloz do

que uma câmera, a retina é uma película que trabalha

com rapidez, e os dedos que seguram o lápis preto ou

colorido se acostumam a trbalahar com desenvoltura.

Enquanto se desenha uma linha ou se marca um ponto

no papel, as glândulas internas se ocupam em

descarregar moléculas de substâncias bioquímicas. De

um modo consciente ou semiconsciente, ativam

ligeiramente a manifestação de certas emoções: uma

linha estimula a seguinte, um ponto de cor que dará

continuidade ao se justapor ao primeiro, gerando

constraste ou harmonia. […] Quantos órgãos humanos

e capazes de expressar a individualidade aparecem

com esse começo, em um desenvolvimento que parte

Page 76: MonografiaNeutra

76

de um bom princípio, evolui e conclui ‘detendo-se ao

tempo’?”

“Se alguma vez este reflexo de meu mundo

encostou-se à arte, devo ter feito muito casualmente.

De todos os modos, uma autêntica experiência humana

se derramou, gotejou e salpicou – e às vezes se verteu

abundantemente sobre todos os tipos de papel que

estavam ao alcance da mão. A palavra falada ou

escrita reflexivamente não pode expressar do mesmo

modo esta vida anterior, vivida em minúsculas frações

temporais.” 30

30 Ibid. Pág. 80.

Page 77: MonografiaNeutra

77

DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZADO

Tendo em vista a compreensão dos defeitos e virtudes,

Neutra afirma que trabalhar com um grande mestre e observá-lo

representava a influência mais profunda. Muitos outros, além dos

mestres, permitiam-se serem testemunhas de sua execução

exemplar. Alega que a escola possui pequena parcela na formação

humana. As pessoas aprendiam coisas muito antes que a inscrição

oficial e massiva de alunos se ajustasse à idade e às horas de

ensino. Muito antes que as escolas organizadas formalmente

começassem a funcionar e expedir certificados. Muito depois,

aceitaria em seu escritório, em seu ateliê, em sua sala de desenho, Antiga, porém sempre verde é a natureza.

Palomar.

Page 78: MonografiaNeutra

78

um número elevado de aprendizes que possuíam ou não algum

grau de instrução formal. Ele conclui também que, em muitos

casos, os anos de instrução formal não valeram a pena, não

respondendo às expectativas. Não generaliza, porém sustenta a

afirmação que as escolas podem oferecer muito aos estudantes.

Reconhece que muitos mestres durante sua formação

colegial foram importantes influências sobre sua formação.

Destaca o Dr. Regen, zoólogo croata, professor que detestava os

alunos, lançando gritos e rugidos, assombrando a classe com

insetos e perguntas ininteligíveis que refletiam em notas não muito

agradáveis. A estupefação dos alunos era complacente ao Dr.

Regen. Neutra afirma nunca ter aprendido muito sobre artrópodes,

dedicando-se ao desenhod e edifícios com tendências cada vez

mais acentuadas de caráter fisiológico e biológico. A influência do

professor Regen se mostra indubitável jeito com que reconhecera

independente e espontaneamente a dívida que havíamos

comprado dele.

Page 79: MonografiaNeutra

79

Posteriormente, procurou trabalhar em seu estúdio em

equipe, o que lhe permitiu gerar conclusões acerca da interação

orgânica percebida entre os indivíduos que tendia a alcançar certa

criatividade coletiva mutuamente estimulada e um problema

bastante sugestivo, bem como tanto os problemas humanos

quanto o modo como conseguimos fazer com que os outros sintam

e pensem são questões que sempre parecem importantes.

Neutra discorre sobre o processo de aprendizado de um

indivíduo inserido em coletivo, afirmando que do processo de

aprendizado não se deve absorver apenas as informações de

caráter técnico, mas também todas as atitudes e hábitos de

trabalho, um modo de pensar cujo indivíduo tenha predisposição

ao sacrifício e à animada cooperação. Afirma ser complicado de se

ensinar isso em uma escola, porém em um ambiente de trabalho

criador e fecundo, o indivíduo aprende a se compreender como um

membro útil e ativo de um grupo, devendo respeitar sempre pela

empatia a atitude considerada de cada membro diante da

intensidade de sentimentos dos outros. Independentemente da

tarefa, o aprendiz deve se relacionar com muitos outros seres

Page 80: MonografiaNeutra

80

humanos comprometidos e os mestres devem adverti-lo que,

dependendo do modo como que se comunica, pode-se facilitar ou

prejudicar o esforço produtivo , pois cada ato, por mais minúsculo

que seja, influi sobre a confiança mutua de modo que esta pode se

desenvolver em um exercício permanente, como convém que

ocorra, ou se desmanche paulatinamente. Uma ação equivocada

neste contexto, pode colocar todo o progresso que vinha se

construindo até o momento em ruínas. E não somente em um

trabalho de equipe, mas em qualquer relação humana. No âmbito

do exercício da arquitetura, conquistar e manter a confiança do

cliente não é estratégia de venda, pois na arquitetura o produto não

está feito, mas se forma lentamente. Para o projetista de meios

destinados ao ser humano, a principal qualidade é a fascinação

com a riqueza e a variedade de outras individualidades, mais que o

excesso de complacência em sua própria personalidade. Tal

atitude permite adquirir confiança, sendo um instrumento natural

para a criação possível, um apoio intrínseco e apaixonante

desejado à contribuição de um indivíduo ao benefício social.

Permite-se que se degenere em um recurso comercial, é possível

conservar a confiança.

Page 81: MonografiaNeutra

81

Para Neutra, ser compreendido é uma experiência

maravilhosa, pois é um sentimento que todo ser humano anseia e

que se vincula ao tipo particular de desenvolvimento de nosso

cérebro – alegando que talvez os animais não projetem tal

compreensão, nem se sintam isolados em meio a uma multidão,

nem busquem ou dêem conselho, sendo tudo isto traços humanos.

Receber a ajuda de profissionais experientes para realizar e

desenvolver motivações e aspirações íntimas é estritamente

humano, dotada de tensão, um drama humano e às vezes uma

tragédia.

A confiança profissional é uma glorificação para o

arquiteto. Neutra compara situações específicas do meio médico –

da confiança e seguridade que este deve ter e passar para o seu

paciente – e relaciona com o profissional da arquitetura, intitulando

o arquiteto como projetista da felicidade permanente.

Porém observar a permanente agitação do arquiteto em

seu esforço por produzir em pouco tempo valores destinados a um

Page 82: MonografiaNeutra

82

grande período de amortização – ou ainda à infinita transição que

faz com que o homem imagine que é a eternidade – resulta

significativamente para o pulso contemporâneo.31

Neutra levanta ainda alguns pontos sobre o processo de

desenvolvimento da idéia. É interessante e necessário Aprender a

observar as qualidades de cada indivíduo, a capacidade de cada

cliente de interpretar planos e assimilar idéias durante a conversa.

As pessoas sempre têm direito a uma linguagem que seja

compreensível. Em certo sentido, todas as soluções são

temporárias, retrocessos e avanços à medida que a vida

prossegue a sua marcha. As experiências técnicas e espirituais

são os produtos mais significativos de cada episodio e é melhor

guardá-los e cuidar deles para benefício futuro.

A educação transcende além dos limites das tarefas

individuais. A equipe de colaboradores deve sentir e compreender

esta perpétua e fértil sedimentação no que se refere à

31 Ibid. Pág. 89.

Page 83: MonografiaNeutra

83

superposição infinita de experiências de projeto, e há de se

relembrar e utilizar tais experiências como base de um

desempenho cuja estrutura se renova constantemente.

A correspondente imersão emocional de grande alcance

não deve ser fragmentada e nem se perder. São necessárias

ordem e claridade de pensamento, bem como registrar, arquivar e

cuidar das pequenas execuções de cada detalhe. Quando

cristalizados, contribuem para o esforço criador futuro. A

transmissão de idéias e diálogos é necessária através de desenhos

e palavras faladas. E tanto um quanto o outro possuem

gigantescos estímulos para desenvolver ou destruir relações

humanas ou gerar desconcertos durante a produção.

Neutra prefere o ensino prático em grupo ao ensino

teórico, pois o aprendiz deve ter oportunidades de vivenciar

inquietudes e entusiasmos de veteranos que assumem grandes

responsabilidades. Acredita ser mais eficaz o estudo da fisiologia e

biologia a partir da observação de processos funcionais vivos.

Posteriormente, passa a realizar reuniões em que seus aprendizes

Page 84: MonografiaNeutra

84

e colaboradores se confrontavam e pressupunha-se que haveria

trocas de informações e experiências, a fim de se evitar o

confinamento de segredos entre os indivíduos do grupo. Neutra

afirma ter apreendido no decorrer de sua carreira orgânica que isso

era necessário, uma vez que se tratava de oferecer uma

compreensão humana e conceitualidades biológicas necessárias

ao desenvolvimento tanto de seus colegas veteranos quanto de

seus aprendizes. Ainda que cada um esteja envolto em sua

individualidade, em um mundo que apenas o assimila ou vive, cada

um nunca pôde detalhar ou descobrir com verdade total seu

próprio desenvolvimento interior e a característica intimidade

possibilidades humanas próprias. O aprendiz pode se projetar no

veterano mais facilmente do que o contrário. A princípio, supõe que

a sociedade não se ajusta uniformemente de modo algum a um

sistema de rápidos rearranjos.

Page 85: MonografiaNeutra

85

DO ORGÂNICO

Tanto Regen como posteriormente Wilhelm Wundt

gravaram profundamente conceitos de necessidade de se

compreender a natureza orgânica. O elo ocorrera muitos anos

antes de Neutra projetar a Lovell Health House, ou de escrever as

páginas de Survival Through Design. Assemelhara-se a James

Joyce pelo fato de escrever diários a respeito de toda essa

discussão, mesclando esboços fisiológicos, citações de cientistas,

filósofos antigos e contemporâneos a sua época, descrições de

empregadas de restaurantes e de outros seres humanos, com

Page 86: MonografiaNeutra

86

todos os detalhes da anatomia e dos elementos da postura e

expressão fisionômica.

Sobretudo, os seres humanos precisam estar consciente

dos arranjos de toda uma vida antes de depositar seus fundos nas

mãos de alguém que adotará critérios definitivos para organização

de seus espaços.

A concepção do homem arrancado de sua natureza

original induzira Neutra a respeitar o estudo do cenário pré-humano

e o fez se converter em um arquiteto naturalista. A arquitetura, por

pressuposto, também se desenvolvera a partir de um cenário

histórico de criações humanas, cuja responsabilidade é única e

exclusivamente deste último.

“A arquitetura é a arte menos abstrata.

Dedicam-se vinte e quatro horas diárias ao contato

mais estreito com respostas concretas. Respostas

elaboradas naturalmente e adquiridas ao longo da vida

Page 87: MonografiaNeutra

87

e em todas elas se manifesta uma vital realidade: o

realismo biológico.”

Page 88: MonografiaNeutra

88

RICHARD NEUTRA E OS ESTADOS UNIDOS

Page 89: MonografiaNeutra

89

INFLUÊNCIAS E REFERÊNCIAS

Tudo começou quando Mendelsohn e Neutra ganham um

concurso em Haifa, no centro comercial do mediterrâneo. Para

Neutra, representou um projeto novo e grandioso de planejamento

e desenho urbano e, com o prêmio, permitiu que seu salto aos

Estados Unidos da America fosse realizado.

Adolf Loos, o mais heterodoxo dos arquitetos, foi o primeiro

patrono dos interesses de Neutra em ir para os EUA, sendo

Page 90: MonografiaNeutra

90

considerado hoje uma das figuras mais importantes do incipiente

desenvolvimento da Arquitetura Moderna.

“Começou com uma arquitetura que procurou

retornar a uma consciência mais clara da coincidência,

um acordo e correspondência com sua própria época.

Como não se interessava por ornamentos, com relação

às produções arquitetônicas de sua época, Loos

apreciara aos olhos da maioria de seus

contemporâneos com um peso leviano, com um

divertido fracasso, um verdadeiro fanfarrão.”32

Neutra não conhecera ninguém que demonstrasse tanto

entusiasmo pelos EUA como Loos. Tal como este, Neutra afirmava

que o povo norte-americano era o povo mais amável do mundo,

porém que tanto a generosidade quanto a frieza de sentimentos

respondiam a razões econômicas. Loos considerara a situação do

novo país como um jogo socioeconômico33 que aprendera a

jogar.Apreciara os relatos de Loos, que se tornaram válidos às 32Neutra, Richard. Vida y forma – Ed. Marimar. Buenos Aires, 1972.. Pág. 155. 33 Ibid. Pág. 160.

Page 91: MonografiaNeutra

91

margens das próprias experiências de Neutra, e percebera que era

possível de se fazer carreira e ganhar benefícios através do amor e

simpatia com o povo norte-americano.34

Apesar dos jogos norte-americanos de poder, dívidas e

grandes empresários que alimentavam as esperanças dos

arquitetos e que depois, com o tempo, faziam-nos perder o brilho.

Loos e Neutra comentam que ainda assim gostavam daquele povo

e alguns norte-americanos, em especial de Walt Whitman,

correspondiam a um material humano valioso.35 Em relatos de

Loos, este afirmara que

“para melhor ou para pior, os Estados Unidos

representavam em todo o mundo um importante

catalisador a longa distância; em certos lugares, atrás

do áspero cortinado político, uma civilização

tecnológica de natureza igualmente quantitativa

também comprime ao indivíduo. Este desenvolvimento

misterioso da evolução permitirá que esta forma 34 Ibid. Pág. 159. 35 Ibid. Pág. 161.

Page 92: MonografiaNeutra

92

sobreviva? Tal problema pode chegar a ser o aspecto

fundamental do crescimento humano.”36

Nem o Art-Nouveau ou o Jugenstiel ou até mesmo a

exaltação da máquina por Sullivan. Neutra acreditava que havia um

baixo sustenido orgânico e humano que não passaria, que

matizava permanentemente o que se poderia e se deveria fazer

para conservar nossa vitalidade.37

Além dos relatos de Loos, a produção de Frank Lloyd

Wright se mostra grande parcela das influências sobre Neutra.

Na biografia de Wright, Neutra encontrara aspirações

humanas expostas por aquele que acabavam merecendo a

simpatia dele. Conhecera Wright através de um pequeno

mostruário publicado na Alemanha em 1911, em que Neutra pôde

avaliar as obras de Wright e algo referente à produção

arquitetônica norte-americana.38

36 Ibid. Pág. 162. 37 Ibid. Pág. 163. 38 Ibid. Pág. 166.

Page 93: MonografiaNeutra

93

“Os desenhos e os planos me maravilharam.

Pareciam completamente distintos de quando havia

conhecido. Em verdade, estas casas careciam de

paredes. As habitações se abriam em todas as

direções. Quase se poderia dizer que as havia

construído em um país tropical, onde sopravam ventos

de inverno, o qual, naturalmente, não era o caso.”39

Neutra quis conhecer aquele, seja lá quem fosse, e, por

mais obstáculos que tivesse, iria aos lugares onde Frank Lloyd

Wright respirava e trabalhava.

Em meados de 1904, lera em um jornal vienense um artigo

sobre Chicago, que eletrificara num raio de 65 km toda sua malha

ferroviária com o intuito de diminuir a poluição e melhorar as

condições de vida da população e, em tal época, eletricidade era

algo novo. Em 1924, já estabelecido nos EUA, comprovara que o

lugar era bem diferente daquilo que Wright descrevera – uma vez

que com tais publicações, imaginava que os EUA fosse um país

39 Ibid. Pág. 156.

Page 94: MonografiaNeutra

94

romântico e rural –, diferente também de algumas versões que

Loos relatara e do que Lea em periódicos vienenses.40

Não existia um autentico Estados Unidos rural ao redor da

maioria das produções wrightianas. A maioria dos edifícios fora

construída em regiões de subúrbios de metrópoles que cresciam

velozmente e alguns cidadãos que ganhavam bem poderiam

gastar algumas somas com construção. Wright estava criando o

que lhe agradava se tratar de um renascimento do espírito da

pradaria nas casas ostentosas nos subúrbios, segundo Neutra, e a

paisagem circundante das obras vistas no catálogo de Wright

estavam no espírito de Neutra quando este saíra de Nova York,

depois de conhecer a apertada porção norte-americana que Loos

conhecera. Neutra ficara ansioso por conhecer as pradarias de

Chicago. Conhecia apenas James Jackson Forrestall, advogado

em Chicago, que o instalara no Centro de Assistência James

Adams. Conheceram-se em Viena, na Missão dos Amigos, durante

o período de guerra. O professor John Fischer, do Goshen College,

em Indiana, também trabalhara em Viena na Missão e também era

40 Ibid. Pág. 168.

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95

estudioso de Kant. Foi a primeira pessoa que auxiliara Neutra a

obter o visto de entrada nos EUA.41

Ao chegar aos EUA, Neutra não se desanimara com a

sordidez da sociedade. Como fora aprender inglês depois de muito

tempo no Brooklyn e se aperfeiçoar em Boulevard Hollywood, era

normal a geração de mal-entendidos. O nível de imperfeição nos

idiomas falados transmitia certa simpatia, segundo Neutra, bem

como o uso de expressões faciais e gestos em Nova York eram

essenciais.42ao conhecer as cidades dos EUA, logo se encontrava

casas e pátios sombrios dos quais Loos sempre se referia com

otimismo humano. O que antes Neutra via com olhos críticos, com

a experiência dos relatos de Dickens, acabou se interessando

pelos bairros pobres, pois neles gerava certo tipo de bondade.

Percebera depois que Londres era maravilhosa por isso e deveria

descobrir uma dimensão de profunda humanidade nisso tudo.43

Não poderia se sentir decepcionado. Maravilhara-se por Nova York

41 Ibid. Pág. 170. 42 Ibid. Pág. 164. 43 Ibid. Pág. 165.

Page 96: MonografiaNeutra

96

e, em suas visitas aos lugares mais sórdidos, concluía aquilo que

aprendera anteriormente com alguns relatos de Loos.

Em Chicago, Neutra começou sua carreira dando aulas de

desenho. Pouco tempo depois, passou a procurar as casas de

Wright. Sra. James Adams, administradora do centro no qual

estava instalado, dissera outrora que conhecera Wright quando

jovem, comentando também que ele largara da família e fugira com

uma esposa de um vizinho de Oak Park. Wright tinha uma

reputação não muito bem-vista. Quando Neutra pensara em levar

Dione pra conhecer o arquiteto, Sra. Adams achou tal atitude uma

loucura.44

“Chicago era por si mesma um lugar áspero,

porém no meio do continente. Não era uma ilha onde

se pudesse aterrizar, nem um porto natural do mundo

como Nova York.”45

44 Ibid. Pág. 172. 45 Ibid. Pág. 156.

Page 97: MonografiaNeutra

97

Conhecera a Robie House, porém com sua já quinta

proprietária, que comprara a casa por um preço baixo e que, a

princípio nada funcionava muito bem. A casa tinha seus quinze

anos e havia sido vítima de descuidos.46

Neutra acabou não encontrando aquela população que

tinha sido afetada pela arquitetura, como imaginaria, ou os homens

que haviam se encarregado de produzir tal arquitetura do futuro e

que agora passavam os fins de seus dias dentro das casas e

felizes nela. A realidade era diferente e desconcertante. Os

moradores e os moveis pareciam lamentavelmente inadaptados.

Ao conhecer as obras de Louis H. Sullivan, que fora mentor

de Wright e, assim como este e Neutra, também era arquiteto da

segunda geração, Neutra logo comparara com o que Otto Wagner

produzira em Viena. Tal comparação era a suprema glorificação

que Neutra poderia das a um produto arquitetônico.47 Conhecera

Sullivan quando este possuía já seus 63 anos, dotado de uma

46 Ibid. Pág. 173. 47 Ibid. Pág. 174.

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98

péssima saúde, desmoralizado, sem prestígio e na miséria. Um

gênio solitário.48

Neutra conhecera Frank Lloyd Wright no funeral de Sullivan

e, em uma conversa com o tão procurado arquiteto das pradarias,

acabou sendo convidado a fazer uma visita a Taliesin, onde Wright

estava trabalhando. Sullivan impressionara muito profundamente

ao jovem Wright tanto pelo pensamento quanto pela linguagem e a

criação entusiasta de floridos e originais adornos.49 Tanto Wright

quanto seu aluno Albert McArthur haviam explicitado o panorama

das possibilidades da arquitetura (ou ausência da mesma) em

território norte-americano.

“Um arquiteto moderno não consegue trabalho

digno desse nome neste país, especialmente em

Chicago.”50

48 Ibid. Pág. 175. 49 Ibid. Pág. 176. 50 Frase dita por Frank Lloyd Wright a Neutra. Ibid. Pág. 176.

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99

A separação de Wright e Sullivan, para Neutra, fora mais do

que uma desavença e, sim, uma tragédia. E o fato de ele ter

começado a trabalhar com Wright e falando de Sullivan e de seus

sentimentos para com ele com muito apreço entristeciam Wright.

Neutra quisera conhecer não as casas de Wright, visto que já as

estudara profunda e detalhadamente em Viena, mas queria

conhecer as pessoas que nelas moravam. Mas nada perdurara.

Tudo caminha. O pessimismo de Wright; o mesmo pessimismo de

Sullivan.

Anos depois, Neutra percebera que, a princípio, ele mesmo

sobrepensava as necessidades o programa, os eixos e os lugares

físicos, retorcendo o fio para tecer sua própria trama quando

começava a desenhar. Afirmava que um arquiteto também poderia

ser um cientista, um contador de histórias.

Neutra percebia que a arquitetura horizontal de Wright à

cena social norte-americana – com questões de equidade e jsutiça

presentes nos projetos – eram bem-vistas e referenciadas no

exterior, mas não no contexto norte-americano. Wright acreditava

Page 100: MonografiaNeutra

100

ser um regionalista, mas não era assim visto onde estava. Neutra

perguntava-se

“…se esta não era a sorte constante do

‘regionalismo intencional’, da forma conferida

ingenuamente, de tudo o que se cria com um propósito

e não se desenvolve a partir de um simples hábito

interior e de uma tradição externa comum.”51

As experiências comentadas por Loos despertaram uma

admiração em Neutra pela tecnologia industrializada dos EUA.

“Era evidente que, por razões econômicas e

políticas, se abarcava quase um continente, sem

barreiras aduaneiras e com mercado continental que se

ampliava tremendamente.

“Pelo menos aqui [nos Estados Unidos] havia

uma melhor oportunidade de servir a um comum

denominador orgânico da espécie, porque se contava

51 Ibid. Pág. 180.

Page 101: MonografiaNeutra

101

com a amplitude e os meios para sustentar

precisamente tal atitude!” 52

“A juízo de um europeu, este tremendo mercado

deveria subministrar a oportunidade e o impulso inicial

de uma cautelosa investigação que daria origem a uma

indústria dinâmica e robusta, especialmente no campo

dos acessórios da construção, e criaria uma tecnologia

dotada de recursos abundantes e de uma informação

realmente atualizada. Deste modo, a humanidade

obteria um novo equivalente à produção dos pequenos

artesãos, que de todo modo, em sua condição,

haveriam perdido o contato tradicional com os seres

humanos. Estados nidos promoveria a arquitetura

moderna como não poderia fazer nenhuma outra

nação. Não apenas colocaria o engenho e as máquinas

indispensáveis para organizar uma nova produção

auxiliar de manufaturas amplamente adaptáveis, senão

que, por sobretudo, colocaria à disposição do êxito

52 Ibid. Pág. 181.

Page 102: MonografiaNeutra

102

biológico, porque o consumo poderia ser, teria de ser,

amplo e exatamente observado. Cantava com o

sistema de distribuição, as organizações de venda por

correspondência e seu sistema de controle à distância.

Desde a dieta até o micro clima criado pelo homem em

sua vivência, a biologia poderia triunfar. Todo o

fundamental parecia estar ao alcance da estrutura

básica, e caberia supor que não estávamos muito

cansados da semana de trabalho de quatro dias. Quiçá

fosse possível o florescimento do individualismo

democrático, não a mera democracia numérica nem a

distribuição de artigos exatamente iguais. A

investigação fragmentária em pequena escala não era

coisa daquela época. Aqui e agora deveriam

subministrar os elementos de uma atividade em grande

escala.”53

53 Ibid. Pág. 182.

Page 103: MonografiaNeutra

103

Com o passar dos anos, Neutra foi se animando cada vez

menos com a confiança no individualismo norte-americano e sua

manifestação com mais êxito do que ocorrera há séculos.

Analisando o contexto sócio-econômico dos EUA, Neutra

chegara à conclusão que, com tamanha amplitude de mercado,

uma arquitetura contemporânea seria criada, fosse ela seguindo

um estilo de pradarias, seja qualqer que fosse. A arquitetura

simplesmente se adaptaria ao consumidor.

Em 1920, Neutra expõe que, enquanto na Europa o

arquiteto era dedicado até os mais finos detalhes – dando ênfase

nos detalhes manuais – a lógica nos EUA consistia na

estandartização dos elementos da produção, fazendo com que o

detalhe, como ornamento, se perdesse.

Page 104: MonografiaNeutra

104

Page 105: MonografiaNeutra

105

CONTEXTO HISTÓRICO

Page 106: MonografiaNeutra

106

LOS ANGELES

Los Angeles é atualmente uma das maiores metrópoles dos

EUA, e a mais importante do Estado da Califórnia. Concentra uma

população de mais de 3,9 mi de habitantes abrigando ainda em

seu condado cerca de outras 80 pequenas cidades.

Reconhecida como uma cidade global, se tornando

importante objeto de estudo para a arquitetura e o urbanismo

contemporâneos, Los Angeles apresenta-se como uma

“mercadoria, algo para ser anunciado e vendido para o povo dos

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107

Estados Unidos, como automóveis, cigarros e desinfetante bucal” 54.

Porém, a Los Angeles de Richard Neutra corresponde

aquela certo que o arquiteto segue sua produção acompanhando a

trajetória metropolitana da cidade, trabalhando até por volta dos

anos 70. Contudo a análise empreendida debruça-se ainda nos

seus primeiros momentos no país, a parir de 1920, até meados de

1940, quando conquista um notável reconhecimento, alterando de

certa forma a natureza inicial de seus projetos.

O que seria, portanto, a Los Angeles do início do século

XX? Qual a perspectiva de Richard Neutra, uma vez inserido num

país onde a arquitetura moderna não encontrava o mesmo

estímulo substancial ao seu desenvolvimento?

Em verdade, havia nos EUA o que muitos teóricos e

historiadores chamaram de “espírito americano” com relação à

produção arquitetônica, um estado que apontava em direção

54 MAYO, Marrow. Los Angeles, Nova York 1933, pp. 319.

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108

favorável à uma produção moderna. A atmosfera de liberdade que

acatava os aventureiros do “Novo Mundo”, mesmo em tempos

mais contemporâneos, era uma condição única de

desenvolvimento, o que naturalmente significava o desprendimento

a valores e normas pré-estabelecidos e ao peso da tradição, como

ocorria no ambiente Europeu. O solo norte-americano oferecia,

dessa forma, um campo de possibilidades novas. A essa

atmosfera, somam-se ainda as experiências arquitetônicas do

período de colonização, que oferecera ao passado arquitetônico

americano um respaldo importante na contemplação de uma

arquitetura fundamentada em termos de funcionalidade, de formas

simples e concisas e demais aspectos tão importantes à

arquitetura moderna.

De fato, o processo histórico de formação dos Estados

Unidos tem sua primeira fase marcada pelo período de

colonização, quando diversas nacionalidades européias enviaram

missões para a ocupação do vasto território norte-americano.

Esses grupos se instalaram em regiões distintas onde puderam

introduzir seus modos e suas culturas em virtude da própria

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109

sobrevivência e prosperidade da colônia. Dessa forma é que, em

cada uma das regiões ocupadas, nota-se a influência de estilos

regionais (quase sempre rurais), correspondentes ao país

colonizador: no Vale do Mississipi encontra-se a influência da

técnica francesa “poste sobre añojal”; no Vale do Hudson e na Ilha

de Manhattam os holandeses introduziram a fachada de “arguilón”

e, em toda a Califórnia, a colonização espanhola nos apresenta as

residências coloniais, igrejas barrocas, etc.

Los Angeles fora fundada em 1781 enquanto “pueblo” da

colonização Espanhola, a fim de incrementar o suprimento de

comida e garantir a defesa da província. Não por menos, apresenta

forte influência da arquitetura espanhola - como também mexicana

em determinados pontos - durante o seu desenvolvimento.

Segundo Helene Trocme:

“Nas regiões colonizadas pela Espanha, desde a

Flórida até a Califórnia, se percebe muito mais

nitidamente a rigidez das regras de urbanismo

determinadas na Lei da Índias de Felipe II”

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110

“Cada cidade deveria incluir uma praça principal,

orientada segundo os quatros pontos cardinais, de

dimensões precisas, e acessível por quatro ruas

principais”. 55

55 TROCME, Helene. Los Americanos y su Arquitectura, Madri: Ediciones Cétedras, 1983, pp. 77-78.

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111

Plano de implantação e perspectiva da Missão de San Juan Capistrano, 1812

Page 112: MonografiaNeutra

112

Embora pouco tenha restado desses planos, trata-se

de um fato facilmente observado na Old Spanish Plaza,

situado na então região histórica da cicidade Los Angeles.

Com relação aos edifícios, esses planos eram

basicamente constituídos por igrejas, para a evangelização

tão importante nas missões espanholas, edifícios militares,

para abrigar os soldados e possíveis prisioneiros, e algumas

residências. Como técnica construtiva nota-se a adesão de

técnicas vernaculares conhecida pelos brasileiros como o uso

do tijolo de adobe e a taipa de mão, sendo o clima tropical um

fator determinante.

No início do século XIX, as construções em adobe

começam a dar lugar para as soluções em pedra e madeira,

caracterizadas pelos ranchos californianos. É o momento em

que o domínio dos espanhóis começa a declinar devido ao

enfraquecimento do Império. A partir disso, o México passa

Imagem da Old Spanish Plaza, 1860.

Page 113: MonografiaNeutra

113

avançar sobre tais territórios, concedendo terras californianas

a grandes proprietários.

Porém, como se refere a historiadora Sally

Woodbridge, o passado hispânico, não só de Los Angeles,

como de boa parte da Califórnia, sofre sua devastação a partir

de 1850, quando acontece um importante desenvolvimento

econômico do Estado com a descoberta de minérios

preciosos, como o ouro. Dá-se início ao “Gold Rush”,

marcando de sobremaneira a transformação das cidades do

oeste dos EUA com o progresso da exploração de minérios, a

posterior introdução de indústrias de madeira, além de um

grande fluxo de migrantes de todo o território dos Estados

Unidos.

Nesse momento a cidade de Los Angeles passa a

consolidar a configuração ortogonal com que se apresenta

atualmente, em decorrência da vigência do Plano Red. Votado

no Congresso Americano, em 1785, o plano nasce da

concepção de estabelecer um controle federal sobre o

Page 114: MonografiaNeutra

114

território dos EUA, em especial “ao oeste dos Apalaches,

onde os colonos desejavam estabelecer-se livremente” 56, e

ao mesmo tempo também fundamentar um sistema simples

para facilitar a repartição e aquisição de terras, como uma

forma de impulsionar o desenvolvimento urbano57.

Em verdade, desde o início do século XIX o

desenvolvimento das cidades já seguia a configuração

estabelecida pelo plano. Porém, nesse sentido, tomando-se

em mente natureza do plano, é possível deduzir o quão

importante passou a ser para o país, com relação a essas

cidades, no período caracterizado pela expansão em massa

em direção ao “oeste dos Apalaches”.

56 Ibidem, pp. 87-88. 57 Vigorava, então, a divisão quadrangular de seis milhas cada lado, orientados em eixos norte-sul, leste-oeste (base line e range line) e subdividios em trinta e seis quadrados, estes com lados de uma milha de distância. Estes são numerados e vendidos ao preço de um dólar o acre. Uma das cosequências do plano foi justamente o desenvolvimento do processo de especulação, quando até mesmo cidades privadas acabaram surgindo.

Page 115: MonografiaNeutra

115

Imagem de Los Angeles registrada de um balão, 1887 Mapa de Los Angeles, 1917

Page 116: MonografiaNeutra

116

É a partir desse momento, também, que as

construções típicas do período colonial são substituídos pelas

tendências arquitetônicas provenientes da Europa. Conforme

Woodbridge:

“o ´Gold Rush´ atraiu arquitetos, como

todos os “boom times” fazem. Por um

momento, nos anos de 1850, a

arquitetura em emulou estilos

internacionais” 58

A influência européia que, então a princípio contribuíra

com o desenvolvimento do “espírito americano”, nesse

momento estabelecerá uma relação desinteressante nesse

aspecto. Contrariando a possibilidade de consolidação de

uma arquitetura norte-americana própria, boa parte dos

58 WOODBRIDGE, S. B. California Architectura, San Francisco: Chronicle Books, pp. 43, 1988.

Page 117: MonografiaNeutra

117

arquitetos, durante muito tempo, irá se preocupar em importar

os estilos históricos europeus, que no mais, justamente

“refletiam as mudanças de gosto das classes cultas“ 59.

A partir de 1850, diversos estilos aportavam na

Califórnia, seja através de impressos, livros ou mesmo pelos

próprios arquitetos, estrangeiros ou não, a ponto de ser

possível identificar para cada qual um período

correspondente, conforme o entusiasmo provocado.

Woodbridge relacionará esse primeiro momento, os

1850s, como o referente aos estilos do neo-renascimento, das

mansões e edifícios comerciais inspirados nos estilos italianos

(italianate buildings). E os anos de 1880s e 1890s, como

contemplação dos estilos romanescos das igrejas

californianas - por adaptar a construção em pedra pela

madeira no estilo gótico.

59 TROCME, Helene. Los Americanos y su Arquitectura, Madri: Ediciones Cátedras,1983, pp. 19.

Page 118: MonografiaNeutra

118

Há ainda, com maior destaque, a presença de estilos

bastante vinculados à idéia do pitoresco, gerando uma relação

de maior identidade com as condições locais e ambientais das

cidades californianas. Portanto, estilos como Queen Anne,

com seus planos irregulares e uma variedade de cor, textura e

também de materiais (madeira, tijolos e pedras), Eastlake

(uma variação muito próxima do Queen Anne) são mais

predominantes em terras do extremo oeste dos EUA, entre

1860 e 1890. Tratam-se de estilos trabalhados originalmente

na Inglaterra, sendo o Queen Anne consagrado por um dos

arquitetos mais importantes dos século XIX, Norman Shaw, e

introduzido nos Estados Unidos através da “Centenial

Exposition” de 1876, na Filadélfia. Já o estilo Eastlake, é

resultado do trabalho de Charles Lock Eastlake, disseminado

no oeste dos norte-americano a partir de 1872 quando da

edição de seus livros.

Residência no estilo Eastlake, Los Angeles

Page 119: MonografiaNeutra

Contudo, paralelamente a tais estilos, o fluxo

migratório também trouxera algumas soluções técnicas, como

o “Salt Box”, comum em Nem Engalnd, porém de difícil

disseminação devido ao tempo e intensidade de trabalho que

demandava; as “Casas Ortogonias”, que prezavam pela

salubridade promovida pela constante circulação de ar,

resultado da ventilação cruzada que suas faces

contemplavam; além das casas pré-fabricadas, vale lembrar

que não se trata do sistema pré-frabricado atual, mas sim do

sistema muito recorrente logo no início do “Gold Rush”, por se

tratar justamente d eum sistema de fácil montagem e de custo

bastante reduzido com relação a um edifício tradicional,

porém com sérios problemas de padronizações de tamanho e

qualidade de material.60

60 “(…) they should have been easy to reassemble, enough accounts testify to the contrary to show why they failed to compete with local industry when it got to start” The majority of prefabs were probably samall, even miniature by today´s norm”. (WOODBRIDGE, S. B. California Architectura, San Francisco: Chronicle Books,, 1988, pp. 37).

Page 120: MonografiaNeutra

Em meados do século XX, algumas cidades da

Califórnia, como San Francisco e até mesmo Los Angeles, já

estão muito distantes daquele cenário colonial de origem e se

apresentam como uma metrópole em potencial, abarcando

importantes setores industriais para o país. A prosperidade

econômica promovida pelo impulso industrial das atividades

mineradoras, atraía para as cidades californianas setores

importantes de atividades financeiras como banqueiros e altos

comerciantes, muitos deles vindos de cidades já consagradas,

como New York. Desse modo, ainda nos anos de 1890s dá-se

início a uma proliferação de edifícios inspirados nas escolas

de Belas-Artes, principalmente em San Francisco. Arquitetos

estrangeiros como Willis Polk ou Bernard Maybeck,

desempenham grande influência entre os novos homens

importantes da cidade, construindo bancos e residências com

a monumentalidade dos estilos neo-clássico e neo-

renascentistas.

À respeito de Los Angeles, novos centros urbanos são

formados peculiares à paisagem urbana de Chicago. Em

Imagem da cidade de Los Angeles, 1890

Centro comercial de Los Angeles, 1930

Page 121: MonografiaNeutra

verdade, a cidade é palco de um desenvolvimento econômico

muito mais profundo quando participa do crescimento

industrial norte-americano com a instalação de indústria

petrolíferas. Uma nova dinâmica da cidade, pautada pelas

novas tecnologias de produção e de transporte, como os

automóveis,faz que os arquitetos transformem os edifícios em

função de um fator extremamente novo e fascinante: a

mobilidade das cidades capitalistas. É nesse contexto que

surgem projetos inspirados pelo estilo Art-Deco ou o

“Streamline Moderne”.

Portanto, ainda que alguns arquitetos insistissem no

emprego de recursos estilísticos, a arquitetura norte-

americana apresentava nesse período a influência de

arquitetos alinhados à uma produção descomprometida com

os modelos históricos europeus. Chicago era, nesse sentido,

um foco disseminador dessas idéias apresentando-se como

berço para a formação de nomes fundamentais para o

desenvolvimento da arquitetura moderna americana, ou

mesmo de uma arquitetura genuinamente americana. Foi a

Page 122: MonografiaNeutra

partir de arquitetos como os Greenes, Irvin John Gill, Frank

Lloyd Wright, todos eles influenciados pelo arquiteto

americano Louis Sullivan, que surgiram as primeiras

manifestações arquitetônicas nesse sentido, tanto nos EUA

quanto mais especificamente na Califórnia - e em especial na

cidade de Los Angeles.

Charles Summer Grrene and Henry Mather Greene,

americanos, chegaram à Pasadena, Califórnia, em 1893, onde

desenvolveram projetos pautados nos parâmetros

desenvolvidos pelo movimento concepções estão fielmente

definidas em um questionário respondido em 1906 para

Charles Lummis, do Los Angeles Public Library Department of

West History, à respeito de sua apromiximação do design

doméstico, em que constava:

“1º para compreender tantas fases da

vida humana quanto possível;

2º para prover por seus requisitos

individuais no meio mais prático e útil;

Page 123: MonografiaNeutra

3º para fazer tais coisas necessárias e

úteis agradáveis” 61.

Além disso, os Greenes contemplam habilidades com

materiais muito usados ao longo da história da Califórnia.

Suas obras se relacionam de uma maneira muito satisfatória

com a paisagem californiana, através do uso da madeira e

dos blocos cerâmicos, seus “Bangalows” chegam a ser

comparadas por Woodbridge às Casas de Pradaria de Frank

Lloyd Wright.

Irvin John Gill, natural de Nova Iorque, também

chegara a escritório de Sullivan em Chicago, um fato

determinante para a sua produção, reconhecida como

difusora de uma arquitetura fundamentada, justamente, na

construção de edifícios definidos por formas simples e

concisas. Em 1913, conclui a construção da La Jolla Women´s

Club, em San Diego, onde a forma retangular pura é marcada

por um rítimo de arcos que lhe definem as aberturas e uma 61 WOODBRIDGE, S. B. California Architectura, San Francisco: Chronicle Books, 1988, pp. 69-70).

Page 124: MonografiaNeutra

marquise de pergolas estende o interior do edifício à

paisagem. Notadamente ainda se observa a marcante

referência colonial, o que sugere, portanto, uma busca pela

construção de uma arquitetura americana própria, valendo-se

de um repertório construtivo original do país, no caso, das

cidades californianas.

Outro projeto fundamental de Gill, nesse aspecto, e

tida pelos historiadores como sua obra-prima, é a casa Walter

P. Dodge e, Los Angeles. Construída em 1916, traz

explicitamente muitos dos preceitos consagrados pelo

movimento moderno da arquitetura, como o uso de formas

retangulares bem definidas, valendo-se das aberturas para

uma composição integral do edifício.

Casa Walter P. Dodge, Los Angeles, 1916

Page 125: MonografiaNeutra

Como visto, a virada de século XIX para o XX

correspondeu aos Estados Unidos a um momento decisivo

para a constituição de uma nova arquitetura, tanto quanto na

Europa. Porém, há uma diferença fundamental e que pode ser

identificada desde agora, seguindo a passagem de Alan

Colquhoun à respeito da arquitetura moderna em solo norte-

americano:

“os avanços decisivos para a arquitetura moderna

se produziram no setor privado. Inclusive os

projetos públicos eram financiados por organismos

privados (...) e isto tendia a inibir o

desenvolvimento da arquitetura moderna

immpulsionada pela ideologia, mesmo que chegou

a eliminá-la de todo” 62.

O autor segue, assim, apontando para a contradição

existente entre o contexto cultural dos EUA a conjuntura 62 COLQUHON, Alan. La Arquitectura Moderna: Uma historia desapasionada, Barcelona: Editora Gustavo Gili, 2005.

Page 126: MonografiaNeutra

européia no processo de consolidação do movimento

moderno - o que resultaria, portanto, em movimentos

essencialmente distintos nesses lugares. Para tanto, discorre

sobre dois fatores fundamentais: primeiramente, a inexistência

de movimentos sociais e até mesmo de vanguardas artísticas

nos Estados Unidos; mais tarde, as conseqüências

provocadas pela II guerra mundial, tanto na Europa como na

América.

Colquhon explicará, então, a partir da exposição de

1932 no Museu de Arte Moderna (MoMA) em New York, o

processo pelo qual a arquitetura moderna receberia ampla

divulgação no país. Por meio do trabalho de Hitchcock e Philip

Johnson à respeito do chamado International Style, é

reforçado o fato de que a arquitetura moderna nos EUA

representa uma produção que se colocava distante de

debates políticos e sociais tal qual aquele movimento

europeu, sendo tratado mais como um modo conceber os

projetos.

Page 127: MonografiaNeutra

A respeito da relação entre o movimento e a Segunda

Guerra Mundial, a contradição se terna evidente, uma vez que

fora justamente a condição precária em que se encontravam

os países europeus após a guerra, que estimulara mais do

que nunca o enfoque social da arquitetura. Além disso, a

recuperação das cidades destruídas pelas batalhas seria

financiada pelo dinheiro público decorrente dos programas

governamentais.

De fato, em 1925, Neutra já compreendia que os

Estados Unidos eram bastante diversificados e amplos e que

Nova York e Chicago eram lugares importantes do mundo.

Viajara para Califórnia no inverno com sua família, pois ali era

o único lugar onde Wright pudera realizar alguns trabalhos

durante o período em que Neutra estivera nos Estados

Unidos. Na Califórnia, Neutra diz ter encontrado um povo mais

flexível do que em outras regiões do país, não se

preocupando com opiniões heterodoxas, desde que não

fossem políticas.

Page 128: MonografiaNeutra

Logo, a atmosfera lhe pareceu apta para ensaiar aquilo

que se destacaria dos hábitos até então trilhados, europeus e

até mesmo americanos, e também para tratar de se

familiarizar com pensamentos e pautas humanas de conduta,

por assim dizer, em uma sorte de esfoliação tropical.

“Muitas das pessoas que haviam ido à

Califórnia não haviam sido conduzidas por razoes

de tensão econômica, diferente das que haviam

migrado cem anos antes, desde os Catskills a

Ohio, desde Ohio a Illinois. Naqueles tempos,

antes das tempestades de areia de Oklahoma

ocidental, a fome não conduzia o povo para o

Oeste. Como trariam consigo seus bens,

acabaram ficando nas ‘terras meridionais’

simplesmente para melhorá-las. As principais

comunidades, por exemplo a colônia de Indiana

que agora se chama Pasadena, ou Redlands, ou

qualquer um dos assentamentos mais antigos na

região ‘naranjera’, foram fundados por populações

acomodadas. Haviam sido pessoas de êxito em

Page 129: MonografiaNeutra

suas respectivas profissões – advogados,

médicos, profissionais variados – e depois

emigraram e fundaram ou um colégio ou uma

igreja, por suposto, sub bdividindo a terra

circundante para sua venda em lotes. Eram pion

eiros de espécie diferente e a campina era um

horto frutífero com sua própria ‘indústria no

campo’, granjas cheias de máquinas mais do que

fábricas e manufaturas. Nessa época, a Califórnia

tinha um céu azul e não existia poluição. Los

Angeles era uma cidade bastante pequena

quando eu cheguei; porém ainda na década de

1890, quando a população não ultrapassava os 50

ou 60 mil habitantes, teria arquitetos como o

britânico John S. Austin e John Parkinson […]

Continuavam praticando serenamente mais ou

menos a mesma arquitetura para a companhia de

gás, para os banqueiros locais e para os

comerciantes ; porém pude conseguir pelo menos

Page 130: MonografiaNeutra

alguns pequenos trabalhos utilizando outros

enfoques das coisas.63

“Porém eu havia escutado e seguido o

chamado da distante Califórnia, a região de clima

benigno que me convidava aviver entre outros

seres transplantados, gozando e ainda

compartindo um pouco sua flexibilidade e a

faculdade de devolver a vida ao Sul, não de um

modo abstrato nem teórico, senão calidamente,

segundo ummodo novo, concreto e real. Creio que

Frank Lloyd Wright e Walter Gropius não tiveram

formulado conceitos muito favoráveis acerca da

Califórnia. Porém haveria de converter-se na mais

contemporânea região do sul em busca de um

modo de vida apropriado para nossa época. Pelo

que sei, Mies e Le Corbusier nunca a visitaram. Se

tivessem feito, dificilmente se teriam mostrado

cordiais com sua ingenuidade cultural, que por

toda parte a beira da desordem. Porém supondo 63 Ibid. Pág. 199.

Page 131: MonografiaNeutra

que Loos me havia educado para que simpatizara

com a desordem de humilde origem social”.64

Los Angeles era um lugar muito especial e oferecia

uma posição que, para Neutra, mostrou-se bastante

vantajosa, pois se tratava de uma região meridional que não

era um lugar improvável e que poderia se constituir em um

local apropriado para o desenvolvimento da espécie humana

e das idéias acerca da criação de mecanismos e construções

que readaptassem a população ao meio em que se

encontravam, e não propor novos formalismos. Constituía-se

em uma situação agradável, ainda que os norte-americanos

não digerissem tão facilmente as idéias, porém tratava-se por

se projetar uma ampla visão de futuro e pressupostamente

permitiria por toda a parte a criação de um clima mais ameno

para a população.

A Califórnia, para Neutra, tratava-se de uma região

que se industrializara, porém mantendo características de sua

origem natural, cujo clima subtropical possuía muitos atrativos

64 Ibid. Pág. 202.

Page 132: MonografiaNeutra

em prol da implantação da Nova Arquitetura, bastante

adaptável às necessidades biológicas e a um novo modo de

vida. A estrutura de tais idéias representaria a completa fusão

entre interior e exterior – tal qual foi o rótulo que a difundira.

Califórnia era, sem dúvida, um lugar estratégico para tais tipos

de ensaio.

Page 133: MonografiaNeutra

PRINCIPAIS OBRAS 1925 - 1935

Page 134: MonografiaNeutra

LOVEL HEALTH HOUSE – 1927

Colinas de Griffith Park Los Angeles – Califórnia

Em 1927, começara a trabalhar no projeto da

Casa de saúde, para o Dr. Philip Lovell, um protótipo no

sentido de seu profundo interesse em atitudes biológicas

incorporadas às intenções da arquitetura e também pelo fato

do cliente, o Dr. Philip, ter o estimulado, compartilhando dos

mesmos critérios.

Page 135: MonografiaNeutra

A Sra. Lovell e sua irmã compartilhavam de certo

apreço pela arquitetura de Wright, o que facilitou a Neutra

implantar uma linguagem diferente da neocolonial espanhola

que se difundia sem barreiras pela costa oeste norte-

americana.

O Dr. Lovell queria participar de um experimento

futurista. Seria o homem capaz de antecipar a saúde e o

futuro em uma estranha e complicada estrutura de aço

revestida por uma fina camada de material sintético,

amplamente aberta, aplicada com destreza e exatidão

naquele fragmento inclinado de uma natureza inclinada. A

idéia de comunicação visual com aquela natureza original da

Califórnia seduzia Philip Lovell. O projeto constituía uma

aparição aparentemente estranha no cenário geral de 1927.

Segundo o projeto, poderia ser avistada de longe, incrustada

em uma encosta, quase escarpada, sobre o fundo das altas

colinas de Griffith Park, com ampla perspectiva do sul, sobre

as árvores que cresciam num primeiro plano e que se Imagem de 1932

Page 136: MonografiaNeutra

prolongavam até atingirem o mar distante. Pela primeira vez

se utilizara estrutura metálica tão detalhada e específica em

uma residência.

Graças à fusão entre interior e exterior, pouco

conhecida até então, a saúde se beneficiara, mediante a

continuidade das esquadrias, que representavam o vínculo

com a paisagem, ponder-se-aria novamente a contribuição

dos elementos que haviam caracterizado uma cena natural

vitalmente dinâmica durante cem mil anos e lhe atribuía outra

vez a condição de habitat humano. Quando as cortinas eram

abertas, penetrava-se uma perspectiva e uma paisagem

esplendidas ao interior.

Fora uma das primeiras casas com fechamentos

têxteis por detrás dos vidros, em uma época em que todo o

continente, desde Montreal até Rio de Janeiro, Lima e Buenos

Aires, era virgem nesse aspecto. Gerações e gerações

posteriores foram influenciadas por Neutra e sua obra, que

Page 137: MonografiaNeutra

foram reconhecidos e obtiveram destaque no contexto

arquitetônico da época.

A Lovell Health House fora concebida a parti de

estudos acerca das relações humanas entre os habitantes e

membros da família, das relações entre os habitantes e suas

atividades corriqueiras, da rotina familiar e da necessidade de

relação de todas as ações com a natureza. Neutra procurou

estabelecer um programa construtivo que deveria ser

interpretado como algo que contribuísse para o bem-estar

psico-fisiológico dos moradores, centralizando seus estudos

no impacto benéfico de um ambiente bem-projetado sobre a

saúde geral do sistema nervoso dos usuários. A planta aberta

refletia a personalidade expansiva de Lovell, que

representava em si atributos atléticos e progressistas do

International style.

Sala de estar

Vista interior

Page 138: MonografiaNeutra

Projeto residencial onde o autor põe em prática

sua atitude fisiológica frente à arquitetura65.

Tal obra é considerada a apoteose do

International Style, incorporando vários aspectos das idéias

que vinha desenvolvendo até então a respeito de relações

biológicas e fisiológicas dos indivíduos com ambientes

saudáveis, colocando em prática suas conceituações acerca

do realismo biológico, tornando a Lovell Health House uma

forte e decisiva influência no decorrer da carreira de Neutra.

65 J. M. Borthagaray.

Page 139: MonografiaNeutra

VAN DER LEEUW RESEARCH HOUSE - 1932 2300 E. Silver Lake Boulevard

Los Angeles – Califórnia

Neutra pretendia que seu novo complexo familiar fosse

um experimento entre tecnologia e espacialidade, uma casa

experimental, de modo que se promovesse a saúde e

Page 140: MonografiaNeutra

comodidade aos seres humanos que nela se abrigariam, e

demonstrar que

“o homem é um ser estável, que a nova

arquitetura não é um estilo passageiro, podendo

se adaptar bem a qualquer geração subseqüente,

a quaisquer respostas humanas.”66

Foi a oportunidade de desenvolver uma casa de

estudos sobre os materiais e um protótipo de uma vida –

trabalho protótipo, um laboratório que parece muito mais

espaçoso que 214 m2. Neutra escolheu um terreno similar a

aquele de seu patrocinador, o magnata industrial holandês C.

H. Van Der Leeuw, cuja casa Roterdam se assemelha ao

Kralingse Plaslaan. A casa de Neutra ocupava uma suave

encosta de 18 x 21 m, área que se localizava a cerca de 30

metros de Silver Lake, aparentando fazer parte da paisagem

66Neutra, Richard. Vida y forma – Ed. Marimar. Buenos Aires, 1972. Pág. 251.

Page 141: MonografiaNeutra

e da vegetação da Califórnia, em uma acidentada vizinhança

residencial não muito longe do centro de Los Angeles, agora

muito conhecido pela forte presença de uma das pequenas e

brilhantes casas feitas por Neutra, J. R. Davison, John

Lauther, Rudolf Schindler e por Gregory Ain, H. H. Haris e

Raphael Soriano. Estes últimos três arquitetos trabalharam

para Neutra na sala de projeto da primeira VDL em 1930.

O material empregado constituía de uma gama dos

mais novos e variados produtos de pré-fabricação de

natureza standard, cuja utilização fora empregada de maneira

adequada, respeitando também as características dos

materiais.

O assimétrico complexo em forma de H foi

elegantemente resolvido num programa muito exigente. Como

um sofisticado kit de peças, e elasticamente respondia a um

número de diferentes ocupações, de um aprendiz de desenho

Imagem da construção

Page 142: MonografiaNeutra

para grupos de música para membros da família. Para cunhar

as palavras de Neutra que o programa incluía uma

“família mínima convivendo com uma

kitinete e um estúdio na parte de traz; conviver

com um solteiro; viver em um alojamento com sala

de jantar, cozinha, varanda para o lago e uma ala

separada de quarto... um porão com área de

trabalho... um playground para crianças, dois

terraços no telhado, dois jardins”.

Existem duas portas na entrada da estrutura principal

de dois andares, uma para o norte visando o estúdio-

escritório de Neutra, e a outra voltada para a ala da família na

parte superior, onde há um jardim de cobertura (varanda) com

sua parte de trás baixa com um sofá de couro que separa a

vivência dos cômodos de dormir (quartos). A perna do H que

junta a parte oeste e a leste contem um quarto de empregada

(onde um pequeno terraço aberto se localiza agora); um

Page 143: MonografiaNeutra

minúsculo quarto que futuramente foi utilizado por uma

variedade aprendizes ao longo dos anos; começando com

Raymond Neutra, uma lavanderia-quarto; e uma área de se

vestir que duplicava a área de trabalho interna.

A forma H estrutura um dos componentes que

conecta os volumes, empurrando a vista frontal e de trás para

as ruas. A estratégia permitiu a Neutra preencher os espaços

que sobraram com ambientes externos, desta maneira

garantia que tais ambientes permitissem um contato com a

natureza em mais dois lados da casa. O novo código de

construção e zoneamento permitiu a Neutra construir seus

principais edifícios de 1932 quase até a calçada.

Neutra apresentou o quarto de hóspedes ao

departamento de construção como sendo uma garagem para

qualificá-lo de novo e construí-lo sem problemas. Uma peça

integral do design com 1333 pés quadrados completada em

tempo para o natal de 1939. Ela continha uma área de Planta pavimento de acesso

Page 144: MonografiaNeutra

vivência/área de jantar de 5 x 7 m e uma cozinha; e custou

US$ 4,3 mil para construir, escreveu Neutra. Uma das

principais características foi a adoção de três portas de ferro e

vidro que se abriam totalmente para o oeste e a sala de estar

para o jardim cujo pavimento estava isolado. Suaves luzes

fugazes poderiam ser projetadas à noite e se encontrar no

interior e exterior da residência, de forma a promover um

aumento to contato entre a casa e os ambientes externos.

Em uma exibição fotográfica etiquetada “Dione

Neutra´s Guesthouse” aparecem imagens em que grandes

ramos de palmeiras adentram a sala de estar de visitas tão

longos e horizontais que parece ter alguém segurando-os,

apresentando o fator que determina a integração entre

ambiente interno e externo.

Em contraponto a projetos já desenvolvidos,

direcionados a vivência de apenas uma família, o programa

Page 145: MonografiaNeutra

desta casa e a relação da mesma com o terreno

reconfiguraram constantemente a vida da família Neutra.

Iluminação, mobiliário e acabamento foram mudados

constantemente, buscando-se sempre uma forma mais

apropriadapara a uma habitação que foi pensada para

responder a constantes condições de mudanças.

A intimidade das fachadas de vidro é guardada pelos

reflexos da iluminação natural exterior, estando incorporado

ao projeto todo um estudo de iluminação e também de

ventilação – direção e aproveitamento dos ventos dominantes

–, tudo relacionado com as atividades psico-fisiológicas dos

usuários, e não somente para preservar as atividades

rotineiras.

As fundações da residência foram feitas em madeira,

segundo Neutra, para a casa suportar os sismos que

ocasionalmente abalam a costa oeste norte-americana.

Page 146: MonografiaNeutra

A estrutura modular de madeira foi queimada em 21

de março de 1963, no período em que Richard e Dione

viajavam pela Europa, devido a problemas nas instalações

elétricas. O quarto de visitas foi destruído. A vida da

empregada foi salva, pois ela conseguiu passar pela outra

porta que levava à área externa.

Dion Neutra foi creditado tenazmente por resgatar

muito dos arquivos do escritório e materiais sobre a casa

destruída. Com o aval e aceitação de Richard Neutra,

reconstruiu a casa, remodelando-a no mesmo terreno,

utilizando-se também da lógica de projeto de concepção da

obra de seu pai.

Page 147: MonografiaNeutra

Planta subsolo Planta pavimento de acesso

Page 148: MonografiaNeutra

Planta segundo pavimento Planta "penthhouse"

Page 149: MonografiaNeutra

Cortes longitudinais

Page 150: MonografiaNeutra

Cortes transversais

Page 151: MonografiaNeutra

Vista pavimento de acesso Vista do boulevard Silverlake, para o sul

Page 152: MonografiaNeutra

Abrigo do terraço, com visão parcial do plano envidraçado Abrigo do terraço, 1950

Page 153: MonografiaNeutra

Garden house

Page 154: MonografiaNeutra

Garden Room, interior Garden House, pátio e sala de estarGarden Room, canto sudoeste

Page 155: MonografiaNeutra

Sala de estar com área de jantar

Page 156: MonografiaNeutra
Page 157: MonografiaNeutra

Conona School – 1935 3835 Bell Avenue

Bell, California

Construída no mesmo ano que a Academia militar da

Califórnia (feita toda com estrutura de aço), está escola de

ensino fundamental, feita com estrutura de madeira, foi a

primeira oportunidade de Neutra de implementar suas idéias

radicais de design escolar no qual ele já vinha trabalhando,

Page 158: MonografiaNeutra

desde sua primeira formulação em “Rush City Reformed”, no

final da década de 20.

A obra, porém, só fora realizada graças a Nora Sterry, a

inteligente diretora da escola, e também à participação de

membros da Liga das Mulheres Votantes em uma reunião da

Junta de Educação de Los Angeles, que apoiaram Neutra em

sua concepção de educação mais voltada para um contato direto

com a natureza.

A educação, particularmente no ensino fundamental,

era visto por Neutra como um evento baseado em relações de

efeito e causa: assim uma boa arquitetura era fundamental para

gerar uma boa educação.

Neutra rejeitou assim o modelo tradicional de volume

monolítico múltiplo-pavimentado, descentralizando-o em uma

estrutura mono-pavimentada de classes térreas.

Page 159: MonografiaNeutra

Incorporara todos os estudos preliminares sobre

edifícios de instituições educacionais que deveriam manter

algumas características relacionadas a questões naturais

externas às salas de aula, como estudos da Ring Plan School,

de 1926, que fora construída posteriormente em 1961, com o

nome em homenagem ao arquiteto, e também como o Activity

class room study, de 1928, no qual Neutra propôs salas de aula

uniformemente orientadas, bilateralmente iluminadas e com seus

próprios pátios externos de trabalho.

O contato com a natureza deveria ser facilitado,

utilizando-se métodos que permitissem dobrar o ambiente

destinado a atividades, através dos espaços destinados a aulas

externas. Assim as portas de todas as salas poderiam ser

abertas para modificar o espaço. Imagem de uma típica aula no pátio da classe

Page 160: MonografiaNeutra

Na Corona School o bloco principal consiste em cinco

salas de aula vinculado a um bloco secundário que possui dois

jardins de infância, situados na ala sul do bloco principal.

Essa escola foi projetada para ser uma experimentação

da tentativa de articulação dos novos métodos educacionais. O

bloco principal consiste em cinco salas de aula, em que cada

uma composta por quarenta alunos de 6 a 10 anos, todas em

pavimento térreo. Áreas abertas separadas por vegetação baixa

servem para aulas ao ar livre, que são possíveis durante quase o

ano todo devido às temperaturas amenas e baixa amplitude

térmica.

Page 161: MonografiaNeutra

Planta das salas de aula

Page 162: MonografiaNeutra

Sismos são comuns na cidade de Los Angeles e por

isso as construções ficam sujeitas a estresses laterais. Por essa

razão, o arquiteto introduz à arquitetura californiana o uso de

materiais que respondem bem a essas condições, como madeira

leve, estruturas metálicas, gesso, etc. Enfim, o uso de métodos

que, depois de feitas pesquisas, provaram ser mais satisfatórios

que outros métodos e materiais, tanto tecnologicamente quanto

economicamente. As fundações foram todas feitas com concreto

reforçado. A cobertura possui um vazio que serve para isolar as

salas de aula do calor que incide na mesma e o teto foi tratado

com um eficiente sistema de absorção acústica à base de gesso.

Janelas e grandes portas de correr, em estrutura metálica, foram

cuidadosamente detalhadas pelo arquiteto. O chão é coberto

com um madeiramento resistente tratado com cera

antiderrapante.

Quando a escola foi finalizada, em 1935, uma

reportagem de um jornal de Los Angeles publicou que a

Page 163: MonografiaNeutra

construção parecia ser um mercado drive-in ou uma cobertura

em Marte. Mas Neutra explicou aos repórteres que o método de

um professor que senta na frente dos alunos com lugares fixos

causa uma pobreza de instrução e que essa escola trazia um

novo método de ensino no qual os professores se tornam

membros de um grupo ativo em que podem circular livremente

pela sala e manipular materiais e ferramentas de ensino

juntamente com as crianças.

Após quinze anos de experiência, autoridades

educacionais declararam que essa escola experimental provou

ser um grande sucesso e se tornou um “protótipo” para uma

contínua produção em série.

Page 164: MonografiaNeutra

Planta de implantação

Page 165: MonografiaNeutra

Layout de uma sala de aulaCorte do edifício de salas de aula

Page 166: MonografiaNeutra

Elevação leste

Elevação oeste

Page 167: MonografiaNeutra

Vista do corredor de acesso às salas de aula Vista do pátio das salas de aula

Page 168: MonografiaNeutra

CONTINUIDADE

Page 169: MonografiaNeutra

DÉCADA DE 40 – NOVA YORK E CHICAGO

Neutra trabalhara em vários escritórios, uma vez que

sua investigação o levou a ocupar dezenas de empregos dos

quais alguns trabalhava como único desenhista, em outros,

apertado com mais seis ou oito pessoas em um pequeno

apartamento. Por fim, chegou a trabalhar na Holabird & Roche,

em Chicago, empresa que projetava muitos dos edifícios mais

notáveis do Meio Oeste e que mais tarde seria encarregada de

Page 170: MonografiaNeutra

outras construções como os Hotéis Statler, em Washington, Los

Angeles e em outras grandes cidades. Neutra entrara no

escritório no projeto da Palmer House, a ser construída

posteriormente ao incêndio da primeira, em 1871. O hotel

possuía cerca de 2400 apartamentos e o mesmo número para

banheiros, 04 restaurantes distintos em quatro níveis diferentes.

Projeto de complexidade tamanha que Neutra começou a redigir

notas que utilizaria ele próprio posteriormente. Tais notas iam

por si só se ampliando, o que gerou o livro Wie baut Amerika,

publicado em 1926, sobre os interessantes recursos modernos

destinados a servirem ao homem através da criação de um meio

que, por hora, era viável. Não analisara apenas a construção de

um hotel e seu significado para o país, mas também sua

estrutura completa de um edifício multifuncional erguido no

centro da cidade de Chicago. Neutra alega que a verdadeira raiz

dessa obra era a exploração clínica intuitiva e sistemática da

interação humana e social.67

67Neutra, Richard. Vida y forma – Ed. Marimar. Buenos Aires, 1972. Pág. 187.

Page 171: MonografiaNeutra

Colaborou também em outro livro, Amerika – Neues

Baunen in der Welt (Novos métodos de construção no mundo),

incorporado à obra tudo o que sabia de seus precursores.

Fotografias de trabalhos de Irving Gill, R. M. Schindler, Burleigh

Giffin, John W. Root e seu Monadnock Block, Louis Sullivan e

conceitos de Wright.68 Referia-se à arquitetura norte-americana.

Em 1926, desenvolvia-se num movimento em favor da

Arquitetura Moderna nos EUA, que achou uma grande falsidade

lisa e plana. Na época, qualquer desenho que pudesse ser

considerado contemporâneo se difundiria muito lentamente,

porém seguramente. A Costa Oeste era mais flexível do que a

Leste com relação a incorporações de valores modernos.

Neutra não aprenderia muito na Holabird & Roche

sobre desenhos seguindo lógicas biológicas, porém estava

disposto em aprender ao máximo tudo aquilo que iria obter de

experiência. Realizara progressos enormes do ponto de vista

técnico. Fora promovido de desenhista 208 ao posto oficial de

68 Ibid. Pág. 189.

Page 172: MonografiaNeutra

mediador entre os diferentes departamentos da empresa e o

diretor de projetos, Sr. Pellini, vindo da Escola de Belas Artes de

Paris, cujas seqüências de pensamento arquitetônico

aparentavam ser estranhas, superpondo-se de modo

inverossímil ao concreto e ao real.

No escritório, percebia que a arquitetura obrigava cada

um a enxergar sua própria personalidade nos outros, mais do

que atender aos problemas técnicos de caráter meramente

técnico. Todos eram seres humanos. E uni-los de maneira

harmônica era a questão principal. Percebia isso também na

integração entre os departamentos. Cita que grande parte da

antiga curiosidade concreta do realismo técnico da cidade de

Chicago pertencia ao passado quando Neutra chegara ali. Os

escritórios tinham se fortalecido, mas importavam projetistas de

Paris e continuavam vendendo importações. O pequeno

arquiteto não tinha importância alguma perante os grandes

estúdios, verdadeiras máquinas eficazes, com seus projetistas

franceses aplicando toques superficiais.

Page 173: MonografiaNeutra

Quando Neutra chegara em Nova York, considerava a

Singer Tower um dos maiores edifícios do mundo. Enquanto se

construía o edifício Woolworth, tinha-se o exemplar mais belo do

gótico, superior à Catedral de Canterbury, pois suas gárgulas e

adornos reforçados foram feitos de folhas de aço, reduzindo com

a tecnologia nova, o peso do edifício.

“Nova York é uma cidade profunda e

humanamente cálida, e povoada por homens

pateticamente dispostos a chorar sobre nossos

ombros em um bar ou em um restaurante

automático, e ainda frente ao volante de um táxi. De

todas as cidades de proporções gigantescas, por

acaso talvez seja a mais orgânica. Em Manhattan,

sobre um extremo de uma rua ou sobre outro,

sempre se pode ver uma bela linha horizontal de

água, e na primavera ou no outono, quase sempre

um céu italiano cobre tudo. Recordo-me, todavia, da

cidade de Loos, o lugar onde ele vira a todos os

Page 174: MonografiaNeutra

pobres lutadores não assimilados que se animavam

depois de ter passado estupefatos, admirados e

quase como um rito, em frente à Estátua da

Liberdade em olhares sobrecarregados e devagar.

Logo chegavam à Oficina de Imigração de Ellis

Island, com seu severo São Pedro que guardava a

chave do paraíso. Para mim, com as associações

que se elevam em um horizonte longínquo e

promissor é em verdade um aspecto importante de

Nova York.” 69

Em 1930, Neutra passa a trabalhar no projeto do

Edifício da Universal Pictures, enquanto projetava casas em

Connecticut e em uma ilha no Atlântico, próxima de Manhattan.

69 Ibid. Pág. 196.

Page 175: MonografiaNeutra

DÉCADA DE 40 – LOS ANGELES

No início dos anos 30, com os traçados da Corona

School Bells, conquistara lentamente, sempre em sua condição

de estrangeiro, a confiança de uma junta de escola firmemente

unificada em sua posição.

“Os seres que habitam a maior cidade do

mundo parecem indivíduos mais curiosos, mais

empreendedores do que os de outros lugares. Não é

fácil encontrar uma resposta. Nova York pareceu

sempre cheia de lições construtivas para oferecer ao

mundo e não cabem dúvidas de que é uma cidade

que transborda interesses humanos. Acredito que

Page 176: MonografiaNeutra

nos próximos anos lhe atribuirão um papel ainda

mais destacado.”70

No início da década de 20, Neutra iniciara um trabalho

que só fora concluído dez anos mais tarde, a chamada cidade

Dinâmica Reformada, um núcleo cada vez mais amplo de

estudos de problemas urbanos, desde questões sociais até de

infra-estrutura de uma localidade. Profetizava tal estudo que era

inevitável uma renovação urbana de âmbito integral. Isto, mais

tarde, fez Neutra ser designado membro e presidente da Junta

de Planejamento Estadual em um estado que quintuplicara sua

população durante o período de elaboração de planos do

arquiteto. Durante os anos 1923 e 1930, atividades importantes

nas esferas de revisão geral e renovação de planificações

passaram a ser realizadas ao longo dos Estados Unidos e ao

redor do restante do mundo.

70 Ibid. Pág. 197.

Page 177: MonografiaNeutra

A arquitetura californiana saudável, proposta por

Neutra, procurara prevalecer um conceito sereno, bem como no

projeto enviado para a Liga das Nações em Genebra, da qual

participara com Schindler.

Page 178: MonografiaNeutra

VIAGENS

Neutra realizara várias viagens ao redor do mundo

durante sua carreira. Visitara com Le Corbusier, em 1929, a casa

Stocklet, de Hoffman e Klimt. Dione o acompanhara em suas

viagens a Lima, Rio de Janeiro, Boston, Copenhague, Tóquio,

Tailândia, Manila, Índia, Istambul, Cidade do Cabo e Caracas,

Suíça, Áustria, Holanda, África – do Egito a Nairobi, Cabo,

Congo belga, Senegal –, Canal do Panamá, México, Guatemala,

Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Argentina, Havaí,

Kamakura, Nara, Berlim, Hong Kong, Singapura, Colombo,

Page 179: MonografiaNeutra

Aden, Port Said, Tóquio, Yokohama, Osaka, Kyoto, Macao, Ouro

Preto, Bruxelas, Paris, Londres, Anatólia e Grécia, Congo e

Zurique. Além de ser colaboradora de Neutra em tudo que fosse

necessário, e de ter sido responsável pela educação de seus

três filhos, Dione nunca descuidara de exercer sua própria arte e

talento criador.

Em meados de 1956, Neutra vira a realidade na África

do Sul, pronunciara conferências aos africanos, aprovara o

exame de arquitetura, fizera novas amizades e desenhara

croquis desde Stellenbosch, na província de Cabo, até a capital

em Transvaal. Bloemfontain.

“Pretoria e o Presidente Kruger me

pareciam ainda nomes cálidos e sonoros, e me

comovia ao desenhar as coisas dos povos de cor da

Ásia e dos negros a quem o destino havia empurrado

a essa confusa situação”.71

71 Ibid. Pág. 73.

Page 180: MonografiaNeutra

Nestas viagens, Neutra aproveitava para analisar os

lugares, gerando verdadeiros estudos antropológicos, de

arquitetura e de geografia locais, tendo em vista as informações

que absorvia. Coletava dados e situações os quais analisara e

utilizara como parâmetros, exemplos e objetos de estudos para

suas conceituações acerca do realismo biológico e todas as

relações que procurava explicitar com a biologia, fisiologia e

arquitetura. Havia pessoas interessadas na atividade prática da

coletividade humana em quaisquer desses lugares. A discussão

fecunda recorria a uma variedade de terras, de geologia ao

tráfego.

Page 181: MonografiaNeutra
Page 182: MonografiaNeutra

ARQUITETURA SOCIAL

Page 183: MonografiaNeutra

O MUNDO RURAL PEDE ARQUITETOS

Segundo Neutra a América Latina apresenta uma

variedade infinita de todos os pontos de vista; e nos impressiona

sobremaneira quando pensamos em seu grande futuro e em

todo o desenvolvimento que a próxima geração poderá ali

realizar. Neutra demonstra que se tem um grande respeito

quando relata essas assombrosas possibilidades de progresso

dentro da civilização técnica em marcha, civilização essa que

Page 184: MonografiaNeutra

deveria ser aceita com lealdade, pois seria responsável por

cumprir o futuro destino de todos.

Neutra acredita que foram razões mais de ordem psico-

sociologica do que dificuldades técnicas que impediram a

civilização de se expandir uniformemente por todas as regiões

do planeta.

Os técnicos, sobretudo os arquitetos estavam se

aglomerando nas grandes cidades, já tão congestionadas de

todos os pontos de vista, e estavam concentrando sobre os

problemas relativos ás condições de vida das minorias

metropolitanas. Os arquitetos deveriam compreender que os

seus serviços seriam tão úteis quanto maiores fosse as áreas

por eles atingidas, eles deveriam se dedicar a isso como um

verdadeiro prazer.

Atualmente, a força política das zonas rurais, nos campos ou nas

montanhas, tende a aumentar e assim seria necessário dar mais

atenção a essas regiões, provendo-as de acordo com suas

Page 185: MonografiaNeutra

necessidades físicas e espirituais, contribuindo para a execução

do planejamento cuidadoso de todos os melhoramentos. Os

governos deveriam assim, dar apoio à imensa tarefa de

desenvolver os recursos e as possibilidades das regiões

abandonadas.

Neutra explicita sua opinião sobre as próximas décadas

de seu tempo, ele acreditava que o afluxo exagerado da

população rumo à cidade grande teria de ser restringido,

combatendo-se a solidão, o tédio e a falta de saneamento e das

facilidades que tornam a vida mais suave, a técnica moderna e a

compreensão das necessidades humanas poderiam realizar

esse milagre.

Não seria necessário nem possível entrar nos detalhes de

planejamento em questão, suas modificações e proposições.

Nem todas as variantes e considerações relativas à escolha dos

terrenos apropriados, como soes acontecer como em

planejamentos concretos. Por mais importante que isto seja para

Page 186: MonografiaNeutra

a realização desses planejamentos, a intenção de Neutra em seu

texto é a de apenas estimular outras atividades de planejamento

para as zonas rurais e paras as pequenas cidades situadas nas

belas regiões das zonas de predominância latina da America.

A nova civilização depende automaticamente de uma

economia democrática que faculte todos os gozos de seus

benefícios, e não poderia ser sufocado pelas condições restritas

impostas por uma oligarquia econômica de limitado poder

aquisitivo e concentrada em poucos pontos. Tudo aquilo que o

arquiteto moderno necessita para seu trabalho para seu

trabalho, como janelas, ferragens, aparelhos para a cozinha e

banheiros, todo e qualquer material a ser previamente fabricado,

tem de ser produzido e distribuído, o que somente seria possível

quando existe uma grande procura pelo mesmo. As indústrias

responsáveis pela produção de tais produtos não podem se

desenvolver sem a garantia de um consumo de massa.

Page 187: MonografiaNeutra

Tal fato leva ao jovem arquiteto, mesmo que este esteja

livre de qualquer sentimentalismo, a tomar maior interesse pelas

necessidades da população deste globo em vez de permanecer

preso a algum ambiente abastado. Segundo Neutra, por razões

de ordem técnicas, seu tempo seria marcado pela indispensável

produção industrial do material necessário para a construção, a

produção industrial garantiria o material necessário para o

arquiteto trabalhar, seria o que é a pedra para o canteiro, o que é

a floresta para o carpinteiro nos tempos primitivos.

Tratando-se se um exemplo, segundo Neutra o sul da

Califórnia talvez seja a extensa região rural dentro do mundo

“civilizado”. Neutra explicita sua opinião, a Califórnia deveria

servir de base para estudos de adestramento concernentes ao

planejamento rural e, ao mesmo tempo, progressista. Durante as

múltiplas viagens feitas por Neutra pela a América Latina, o

arquiteto pode verificar as afinidades existentes entre estes e a

Califórnia, o que não ocorreria em outras regiões do norte dos

EUA. Surge assim a necessidade de modificar o conceito

Page 188: MonografiaNeutra

largamente difundido, de que a fria Europa e fria America do

norte deveriam servir de exemplo para todos os

empreendimentos em planejamento.

A arquitetura do futuro é a de projeção mundial e,

partindo de um conceito cosmopolita mais flexível, pode ser

adaptada e desenvolvida segundo todas as exigências regionais.

Os projetos que se seguem se referem a estudos que Richard

Neutra planejou como arquiteto e consultor do Governo de Porto

Rico.

Page 189: MonografiaNeutra

ESCOLAS RURAIS E CENTROS SOCIAIS EM REGIÕES DE CLIMA AMENO

A nossa civilização tecnológicas, mais do que qualquer outra,

está apta a se expandir para as vastas zonas rurais, e também

essas regiões quase desertas, distantes dos congestionados

mas tão atraentes centros urbanos , poderiam conter importantes

setores de vida civilizada.Excluindo as razões econômicas em

jogo, as constantes migrações das populações rurais para as

cidades, onde as populações esperam encontrar melhores

Croqui para escola rural

Page 190: MonografiaNeutra

condições de vida, todo o conforto e assistência que por

enquanto somente a grande metrópole pode proporcionar.

O que a cidade e fácil, como por exemplo, a direção

central e o controle de toda a organização escolar, de acordo

com os programas estabelecidos, tornam-se quase que

impossível no campo.

As zonas rurais, de fato, possuem muito os problemas:

especialmente difícil é a fiscalização de tantas pequenas

unidades escolares espalhadas pelos vários distritos e, por

vezes, em regiões montanhosas desprovidas de boas vias de

acesso. Já a própria construção representa um problema;

depois, as manutenções de numerosas unidades escolares e as

uniformidades do processo educacional criam dificuldades de

organização.

Page 191: MonografiaNeutra

Teoricamente, não há necessidade de imponentes

edifícios para se administrar uma boa instrução para as crianças,

sobretudo em zonas de clima ameno.

A escola rural tem sido tratada, na maioria dos casos,

como uma imitação barata da escola urbana e o preconceito de

que o caboclo não merece coisa melhor, parece prevalecer em

todos os espíritos. Deveria-se assim se desenvolver uma

arquitetura especifica voltada para a disseminação da educação

no ambiente rural, utilizando-se de métodos inovadores. Esses

métodos deveriam explicitar uma nova didática vinculada às

potencialidades do meio extra-urbano, onde o contato entre o

estudante e a natureza seria utilizado de forma a prover um

ensino de ótima qualidade.

Sabe-se que, no passado, filósofos e santos orientais

costumavam a sentar-se com seus discípulos à sombra de uma

mangueira, conseguindo transmitir-lhes a sua sabedoria sem

quaisquer edificações de concreto armado. Mas eram grandes

Page 192: MonografiaNeutra

homens e grandes espíritos; souberam aproveitar o universo

inteiro como matéria didática e com simples recursos de sua

inteligência e sua fantasia.

Para se desenvolver a escola rural dever-se-ia assim

evitar qualquer excesso de teoria e abstrações nos programas

de ensino, dando-se maior importância à parte prática e às

realidades da vida, um centro voltado para a formação de futuros

núcleos sociais, tendo provavelmente de servir não somente as

crianças como também os adultos.

Esses projetos, com seus pátios abertos e bem arejados,

foram considerados bem eficientes mesmo em países de clima

mais rigoroso; em regiões quentes, o próprio clima se encarrega

de por a prova as suas vantagens. Diretores e professores que

trabalharam em escolas projetadas por Neutra na Califórnia,

manifestaram-se favoráveis a seu respeito.

Anexo à escola Neutra considera importante também a

construção de uma pequena oficina de carpintaria, provida das

Page 193: MonografiaNeutra

mesmas ferramentas indispensáveis, onde os adolescentes

poderão aprender, à noite, os rudimentos necessários para a

confecção de moveis muito simples; poderiam ser fabricadas

peças de mobília para ser futuramente incorporada a mobília

original da escola.

A escola rural, dotada de um aparelho de radio - receptor,

também se presta para ponto de reunião, instrução e recreio de

adultos, congregados em escolas de costura, de agricultura e

pecuária, despertando assim na população um sentimento amplo

de simpatia pela escola, que se tornaria quase uma instituição de

formação coletiva.

Neutra ainda acredita que essas escolas rurais deveriam

dispor de uma área suficiente para nela se instalarem outros

serviços públicos, como centros de saúde, lactários, cozinhas

para a demonstração formas de alimentação, um grande pátio

para conferencias sobre educação das crianças, arte culinária,

nutrição, ciências domesticas, enfermagem e outras matérias

Page 194: MonografiaNeutra

úteis.Tais ambiente poderiam também dispor de uma possível

fonte de água pura e saudável a disposição da população, assim

como uma grande pista cimentada que poderia servir de

ambiente para uma maior integração da população entre si e um

maior contato com a escola.

Assim, a escola rural teria dupla utilidade: servindo

durante o dia como escola primaria e a noite e transformaria num

centro de atividades culturais e sociais para a comunidade em

geral.

Page 195: MonografiaNeutra

Proposta de agrupamento de escola rural

Page 196: MonografiaNeutra

A ESTRUTURA DA ESCOLA RURAL

A primeira medida seria dividir a verba disponível e

construir o maior numero possível de unidades, mesmo que

modestas, em vez de poucas escolas modelo, mas de custo

elevado. A pré-fabricação de certas partes e elementos da

construção num ponto central, a padronização dos moldes de

concreto, e o transporte dos mesmos de um lugar para o outro,

contribuirão substancialmente para o barateamento das obras.

Page 197: MonografiaNeutra

As unidades escolares apresentadas de modo a servirem

para um pequeno grupo de crianças numa região de

povoamento escasso em localidades mais populosas, onde haja

maior número de professores, constroem-se um grupo delas.

Calcula-se para cada sala de aula a dimensão mínima de

7,50 x10 m, dimensão essa apenas tolerável pela possível

extensão da sala para o espaço exterior, ao ar livre. Para fechar

as salas, podem-se usar portas; havendo, porém, falta de meios

suficientes, estas não devem ser consideradas tão essenciais

quanto outras características, como sejam: condições sanitárias

satisfatórias e eficiente métodos educacionais.

O corredor pelo qual estão ligadas as salas de aula nas

escolas urbanas de outras regiões é aqui substituído por uma

passagem protegida pelo beiral do telhado, com rústica

pavimentação de cimento. Uma série de armários pré-fabricados,

medindo 1,80 m de altura, estabelece meia separação entre

essa passagem e as salas de aula, nas quais se entra através de

Page 198: MonografiaNeutra

uma abertura sem porta. Do lado oposto, a sala de aula abre

sobre o pátio interno que forma o prolongamento exterior da

sala, duplicando assim a área da sala sem aumentar a

dispendiosa cubagem do edifício.

Objetos miúdos, tais como livros, material de escrita,

desenho ou modelagem, e os trabalhos inacabados dos alunos,

podem ser guardados nesses armários e fechados a chave; os

bancos escolares e as mesas poderão ser colocados, fora das

horas de aula, perto da parede dos fundos e até presos por meio

de um cadeado num forte anel fixado na mesma. Em lugares

onde não for possível se cercar todo o terreno em que não seja

aconselhável conservar as salas completamente abertas, serão

usadas portas leves que se abrem em sentido horizontal e cujo

funcionamento permita que sejam usadas como toldos quando

levantadas. O seu eixo se acha a 2,30 m de altura do chão.

Conforme os projetos apresentados, essas portas poderão ser

de madeira ou de alumínio e permitem a livre circulação das

pessoas e a remoção dos moveis e de outros objetos de dentro

1. modelo de escola rural

Page 199: MonografiaNeutra

Freqüentemente esses dois espaços, o de fora e o de

dentro, serão combinados de modo a formarem uma só unidade,

e em tais ocasiões, tem-se a impressão de não haver porta.

Assim a ampla abertura de frente da sala de aula é subdividida

pela porta basculante que, na posição aberta, intercepta os raios

solares, e passa a possuir a utilidade de um segundo beiral.

Essa é uma disposição bastante agradável nas regiões

de intensa irradiação solar, principalmente quando a orientação

do prédio teve de dar mais importância a direção dos ventos par

melhor ventilação das classes do que as conveniências de

insolação, muitas vezes excessiva. O telhado será levemente

inclinado; isto será útil para drenar as águas desviando-as para

uma cisterna higiênica e apropriada, o que será uma inovação

para as regiões rurais onde todos estão habituados aos telhados

de palha infestados de pragas e bichos. O teto inclinado, voltado

com a beirada alta para o lado da brisa predominante, produz,

devido às leis de gravidade, um constante movimento do ar e,

internamente pintado de cor clara refletira a luz a altura das

Page 200: MonografiaNeutra

mesas de trabalho. Para a livre circulação das correntes de ar,

onde elas se fazem mais necessárias, isto é, logo abaixo do teto

bem como para o mencionado efeito óptico de distribuição de luz

natural, indireta ou refletida, é absolutamente necessário que na

existam vigas nem traves paralelas a frente que imprecam a

concretização dos objetivos visados.

Entre os tipos de estrutura possíveis, selecionados dois

esquemas que foram especialmente estudados e

experimentados. Um deles sugere a colocação de três vigas

longitudinais de secção retangular, no topo da laje do telhado,

que por sua vez, é suspensa em vigas e traves externas em

ambas as frentes. Onde for preciso drenar as águas, as vigas

serão perfuradas e nelas introduzidos os encanamentos

necessários. O segundo esquema apresentado sugere que seja

construída mais baixo do que o usual a viga frontal de concreto,

destacando-se do telhado. Este pousara sobre as vigas

transversais que, por sua vez, se apóiam sobre o topo da viga

frontal principal. O espaço aberto entre esta viga e a parte

Page 201: MonografiaNeutra

inferior da laje do telhado, que obedece a dimensão standard de

12,5 cm, serve ao mesmo tempo para a livre passagem das

correntes de ar abaixo do teto e o tão desejado influxo livre da

luz que, incidindo no teto, é por ele refletida para baixo, sobre as

mesas escolares. Na mesma viga serão também fixados os pivot

das portas toldos basculantes.

Do projeto em questão, devido a varias simplificações,

resultariam certas economias que tornariam possíveis outros

melhoramentos, assim como maior espaço para guardar o

material de ensino, o que sem duvida, nos edifícios escolares

contemporâneos, tem mais importância do que a própria

cubagem de concreto e da alvenaria.

Modelo de escola rural

Page 202: MonografiaNeutra

ESCOLAS EM PEQUENAS CIDADES Estudos de tipos apropriados para regiões de clima ameno

As instituições escolares tornam-se obsoletas

O período de guerras, segundo Neutra seria um fator que

apressariam a obsolescência de muitas instituições e edifícios,

de tal forma que foi necessário se reestruturar os métodos de

ensino para que a demanda de homens necessários, tanto no

frete de batalha quanto na retaguarda, fossem rapidamente

supridos. De certa forma foi criada assim uma mentalidade

Proposta de escola rural

Page 203: MonografiaNeutra

adaptada a certos tipos de organização de trabalho,

especialmente de ação em conjunto ou de trabalho de equipes

que passaram a demonstrar um maior aproveitamento da

capacidade individual.

Esse novo sistema foi o objeto de analise para a

formação de novos planos de educação, que passariam a

permitir que países até então pouco desenvolvidos em virtude de

más condições políticas, geográficas e econômicas, passassem

agora a ter a possibilidade de construir edifícios inteiramente

novos. Esses países, segundo Neutra, não precisariam hesitar

na aceitação de tais idéias já que para eles, as novas

construções não significavam a desvalorização de investimentos

anteriores.

Page 204: MonografiaNeutra

O PRINCÍPIO DA FELXIBILIDADE

Como a evolução dos métodos educacionais ainda não

haviam formando um corpo único, Neutra considerava que seria

essencial adotar um princípio de flexibilidade a suas construções

para que elas jamais se tornassem ineficientes ou antiquadas a

algum tipo de uso. Este princípio de elasticidade de adaptação,

para que um determinado edifício possa ser útil embora variem e

evoluam os vários setores da atividade humana, pode ser

Page 205: MonografiaNeutra

aplicado, por exemplo, a salas de aula problemáticas, onde

professores matem sempre a mesma posição, na qual os alunos

sempre ocupam o mesmos lugares e onde os material de ensino

e o mobiliário estão sempre dispostos da mesma forma.

Page 206: MonografiaNeutra

A ÁREA BÁSICA DA SALA DE AULA

Segundo Neutra, a área útil da sala de aula deveria ser

pouco obstruída, quanto mais a escola se apresentasse como

um simples auditório, mais espaços livres de circulação ela

deveria possuir. Neutra considerava a psicologia de seu tempo

muito avançada, ela garantiria novas formas de ensino as

crianças, graças a estudos já era possível se constatar que as

crianças não conseguiam permanecer atentas quando eram

obrigadas a permanecer muito tempo sentadas, isso mostrava

Page 207: MonografiaNeutra

que os antigos métodos de ensino eram falhos e não deveriam

ser mais utilizados.

A demonstração pratica juntamente com a participação

ativa do aluno, possibilitariam ao aluno uma compreensão e

assimilação mais fáceis e profundas. Tal processo pedagógico

exigiria assim uma reformulação na estrutura espacial da escola:

espaços livres nos quais seja possível dispor os mais variados

objetos desde relevos de geografia ate problemas de geometria,

por conseguinte, os assentos deveriam ser removíveis, os

moveis deslocáveis e as portas das salas de aulas deveriam ser

largas para possibilitar o acesso para as salas adjacentes e

principalmente para o ar livre, aumentando-se a sala de aula

quando fosse necessário.

Essa extensão para o exterior tornaria-se mais

necessária quando se levasse em conta que muitas vezes por

motivo de economia as salas de aula são reduzidas para um

tamanho mínimo e ficam muitas vezes lotadas e insalubres.

Page 208: MonografiaNeutra

Neutra considera que quanto melhores forem as salas de aulas e

melhores elas aproveitarem as características do ambiente como

a iluminação e a ventilação, menores serão os problemas com

doenças. Salas convencionais, sem um conforto ambiental

adequado, são suscetíveis a propagação de doenças em larga

escala como a tuberculose.

A ampla abertura para o pátio, proposta por Neutra,

possibilitaria como conseqüência varias e continuas renovações

de ar por minuto, mesmo em dias de aparente calmaria,

correntes inicialmente imperceptíveis de apenas 1,5 km/h

resolveriam o problema de circulação de ar de forma eficiente.

Tal fato permitiria também o aproveitamento da parte exterior

para o uso de outras atividades escolares, desde que tal área

estivesse rodeada de sebes e arbustos e também fosse

sombreada por árvores.

Ao se estruturar esses sistema espacial, foi sugerido

também, em escolas de 08 classes, a interligação entre 3 salas

Page 209: MonografiaNeutra

de aula por meio de portas. Segundo Neutra tal dispositivo havia

sido incluído em todas as plantas apresentadas, pois poderiam

ser usadas como exemplo de utilidade geral das escolas assim

como a explicitação do conceito de flexibilidade. Essa

intercomunicação foi projetada, na maioria dos casos, para salas

do andar térreo em que é possível ampliar as salas por meio do

pátio externo, resultando assim num espaço bem grande, próprio

para reuniões de maior escala, como representações teatrais e

outras atividades comunitárias.

Page 210: MonografiaNeutra

DEPÓSITO

Neutra demonstra preocupações também com áreas de

deposito, segundo ele, as plantas dos projetos apresentado, já

estão indicados espaços para armários e estantes, ocupando em

cada sala de aula, metade do comprimento da parede na parte

superior, ao lado da passagem coberta pelo beiral do telhado. A

altura desses armários é igual a porta da entrada do lado da

passagem.

Page 211: MonografiaNeutra

Um grande espaço para depósitos, especialmente para

livros na usados no momento, foi planejado adjacente ao

escritório do diretor. Pode servir também para guardar material

de ensino e suprimentos de diversas espécies, o que é muito

mais importante em escolas rurais d que nas urbanas, pois estas

podem ser providas do que precisam com mais facilidade.

O deposito para apetrechos esportivos se localizaria

próximo aos banheiros e do chuveiro, fazendo parte da ala

reservada a administração.

Page 212: MonografiaNeutra

ÁREAS SEPARADAS

Neutra demonstras preocupações com espaços

destinados a estudos específicos, principalmente para alunos de

séries mais avançadas.

A principal duvida acerca das vantagens dessa

separação sistemática no ensino de matérias que requerem

ambientes próprios e professores que especializados, está em

que os alunos terão contato com maior número de professores.

Page 213: MonografiaNeutra

Tão grande a variedade de influencias não constituiria uma

condição pedagógica vantajosa para as crianças, pois Neutra

acreditava que quanto menor o numero de professores na vida

de escolar de uma criança, tanto mais seria eficiente o ensino,

dado pela maior intimidade e conhecimento mútuo entre o

professor e o aluno. Daí não representar grande desvantagem a

escassez de habilidades de mestres-escola nas pequenas

cidades.

Page 214: MonografiaNeutra

GABINETE DE CIÊNCIAS NATURAIS

Por conseguinte, neutra concorda com muitos

especialistas que dizem que o ensino de ciências elementares e

gerais, a sala de aula não deve ser especializada demais, mas

adaptável aos diversos programas, sem desperdício de espécie

alguma. O currículo inicial de ciências deveria ser

essencialmente prático e possuir uma forte conexão com

problemas práticos.

As aulas deveriam ser feitas como conferencias

cientificas, ás quais podem assistir varias turmas juntas, e serem

Page 215: MonografiaNeutra

também ilustradas com projeções de fotografias ou de fitas

cinematográficas, podem ser realizadas num salão formado por

várias salas de aula comunicáveis entre si, como já foi descrito

acima.

Esse ambiente seria equipado com uma mesa de

demonstração, uma mesa cumprida e colocada junto ás janelas

e carteiras escolares comuns, constituindo um arranjo mais

prático, uma sala assim preparada poderia ser usada em caso

de necessidade, por outro professor, para qualquer trabalho

escolar normal.

A riqueza da vida subtropical, nas vizinhanças da escola,

e as favoráveis condições de clima, permitem assim a reunião de

material de ensino muito mais atraente do que os existentes em

escolas urbanas de regiões mais frias. Era necessário, segundo

Neutra, somente tirar maior vantagem possível de todas as

facilidades oferecidas pelo local em vez de seguir métodos

importados.

Page 216: MonografiaNeutra

OFICINA DE ARTES INDUSTRIAIS

Neutra também considera importante a introdução de

conhecimentos vinculados a maquinaria simples. Esses

conhecimentos se fariam mais necessário em regiões distantes

onde os profissionais vinculados a essa pratica são cada vez

mais raros.

Em climas amenos, muitas atividades de adestramento

manual possuiriam uma grande importância, Neutra acredita que

tais atividades poderiam ser ministradas em alpendres cobertos,

Page 217: MonografiaNeutra

contanto que o respectivo pátio fosse isolado convincentemente,

para não gerar conflito com conjunto de atividades que ocorrerão

simultaneamente. Trabalhos de modelagem, cerâmica,

encanamento, de forja, consertos, de automóveis, aulas de

carpintaria em maior escala, assim como o trabalho com

cimento.

O interior da oficina serviria para várias modalidades de

trabalho, a serem praticadas naturalmente em horários diversos.

O trabalho com desenhos técnicos exigia mesas e pranchetas e

outros objetos que seriam guardados em compartimentos

próprios quando não estiverem em uso. Um automóvel,

caminhão ou trator, poderá entrar na oficina através de uma

larga porta corrediça, e posto em posição apropriada junto a

mesa de trabalho metalúrgico, a qual será provida de tornos para

trabalhar o metal, fornalha elétrica em miniatura, equipamentos

para a soldagem e a fundição.

Page 218: MonografiaNeutra

A idéia de Neutra era que todo esse ambiente, assim

como o mobiliário disposto por ele, possuísse um intenso contato

pratica de todos os equipamentos de forma pratica, funcional e

acima de tudo segura.

Como a oficina era por sua natureza um lugar

relativamente ruidoso, ela deveria ficar afastada da área de

estudos. Tal consideração levava Neutra a deduzir que a cozinha

e o refeitório deveriam ficar no mesmo edifício da escola, assim

como a secção de economia domestica em que a culinária seria

uma das principais matérias ensinadas, gradativamente por

conta de uma espécie de programa, seriam obtidos

agrupamentos naturais de todas as instalações.

Page 219: MonografiaNeutra

SEÇÃO DE ECONOMIA DOMÉSTICA

Seria também importante para Neutra, o ensino de arte

culinária, usando matérias primas do lugar, e de artes domestica

em geral, como seja a de servir s mesa, arranjar e conservar o

mobiliário, obedecendo sempre às condições próprias de cada

região, e ainda para aulas de corte e costura.

A ala do prédio que servirá aos objetivos acima referidos,

foi projetada por Neutra, exatamente com a seção transversal

das salas de aula comuns e dos laboratórios, do refeitório, assim

Page 220: MonografiaNeutra

como as demais dependências, executando-se somente a oficina

de trabalhos manuais ou te artes industriais, que para serem

eficientes deveriam possuir uma maior metragem e

profundidade. Tal uniformidade permitiria assim, agrupar com

maior facilidade as partes elementares do edifício escolar

segundo as várias localizações e as condições do terreno, que

diferem de lugar para lugar.

Entre as varias possibilidades de localização, neutra

apresenta um conjunto: uma constituída pelo afastamento da

escola propriamente dita das seções em que o ruído é inevitável.

Outra se daria pela localização do refeitório escolar próximo a

cozinha. Uma terceira se formaria através de uma entrada

especial para a recepção do material.

Como previsto pelo conceito da flexibilidade, as paredes

não suportarão o peso do edifício, e a segurança necessária

será obtida através do uso de concreto armado não inflamável

na estrutura.

Page 221: MonografiaNeutra

REFEITÓRIO

Os desenhos de Neutra mostram dois refeitórios e

cozinhas, de tamanhos diferentes, ambas com instalações de

serviço automático. Considerando que o refeitório seria dirigido

pelo professor de economia domestica, e que a dispensa poderá

servir tanto para abastecer a cozinha d refeitório quanto a

cozinha-escola, seria de grande utilidade situar as duas secções

no mesmo agrupamento. Como em ambas o ruído é inevitável,

convém construí-las na proximidade da oficina de artes

Page 222: MonografiaNeutra

industriais, possibilitando assim o uso de uma única de material

para as três secções.

A cozinha , como Neutra apresenta, seriam equipadas

com um balcão no qual seriam embutidos uma ampla pia,

secadores de louça, gavetas e armários, ao lado do próprio

balcão de serviço, do fogão e do refrigerador. Foram previstos

também depósitos separados, com prateleiras e compartimentos

especiais, e armários embutidos para guardar utensílios

necessários ao serviço. O planejamento das refeições e a

discussão do valor nutritivo dos alimentos, a colheita de legumes

e frutas, em época certa na própria horta da escola, a elaboração

de listas para compras de gêneros, a aquisição a preparação e

os cuidados de acondicionamento dos mesmos, a ação de servi-

los, a lavagem dos pratos e a arrumação do refeitório são

atividades que tornarão esta sala algo mais do que um simples

cômodo que abriga crianças durante as refeições.

Page 223: MonografiaNeutra

ESCRITÓRIO DAMINISTRATIVO E SALA DE REPOUSO PARA O DOCENTE

A recepção de visitantes seria feita no escritório principal

da escola, onde também se acham a escrivaninha e os fichários

da secretaria e do diretor. Essa área se localizara próximo da

entrada da escola e vizinha da biblioteca, essa secção também

possuirá uma sala de repouso do corpo docente. Sala esta

equipada com uma mesa para conferencias e discussões.

Page 224: MonografiaNeutra

INSTALAÇÕES SANITÁRIAS

Banheiros para meninos e professores de um lado, banheiro

para meninas e professoras de outro, foram projetados de forma

a estabelecer dos grupos separados.

Page 225: MonografiaNeutra
Page 226: MonografiaNeutra

RICHARD NEUTRA E O BRASIL

Page 227: MonografiaNeutra

APROXIMAÇÕES

Como visto, o arquiteto Richard Neutra ao longo de sua

carreira fora capaz de desenvolver suas próprias concepções

arquitetônicas. Através da influência de arquitetos pioneiros na

elaboração de uma arquitetura moderna, como Adolf Loos, Luis

Sullivan e de certo modo de Frank Lloyd Wright, Neutra pôde

oferecer ao movimento mais do que verdadeiras obras primas;

ele absorvera de tal maneira os novos métodos e conceitos da

arquitetura da sociedade moderna a ponto de, juntamente com a

Page 228: MonografiaNeutra

suas experiências nos EUA, incrementá-la com outras questões

tão pertinentes quanto.

As influências do arquiteto no Brasil, embora muito pouco

estudadas, decorrem justamente da rica elaboração de uma

arquitetura preocupada com o conforto ambiental, bem como,

com as relações que o ambiente interno dos edifícios estabelece

com o exterior, no caso de Neutra, com o trabalho paisagístico –

naturalmente fundamental à cultura arquitetônica de regiões de

clima quente.

Nesse sentido, não é por menos que em arquitetos como

Osvaldo Bratke, Rino Levi, entre outros sugerem tal

aproximação.

Bratke, de acordo com o arquiteto Fernando Serapião,

apresenta três fases de produção: a primeira caracteriza-se por

obras ecléticas em bairros nobres de São Paulo; a segunda

trata-se de um período de transição para a última fase,

Page 229: MonografiaNeutra

“francamente” moderna. A respeito da última, Serapião dirá,

justamente, ter fortes relações com a arquitetura Californiana e

segue, de maneira determinante:

“Bratke visitou a Califórnia em 1948 e conheceu

de perto algumas obras que já admirava. Um

ano mais tarde, desenhou uma casa para morar

com sua família na gleba do Morumbi. O projeto

- marcado pela modulação expressa nas

fachadas, pelo pátio interno (que divide os usos

entre diurno e nortuno) e por inovações técnicas

- tornou-se um clássico da arquitetura

brasileira”.

Page 230: MonografiaNeutra

Casa Oswaldo Bratke, 1951 Planta casa Oswald Bratke

Page 231: MonografiaNeutra

Com relação à Rino Levi, são obras como a casa de

Milton Guper, em São Paulo, de Castor Delgado Peres e a

residência Olívio Gomes que levantam a hipótese. Todas elas

são marcadamente constituídas por uma relação estrutural com

o paisagismo, sendo este parte constituinte do projeto. Tanto a

casa de Milton Guper, quanto a de Castor D. Peres, apresentam

uma configuração de planta pautada em torno de pátios com a

possibilidade de expansão, lateralmente, para ambientes

externos. Já na residência de Olívio Gomes, o destaque está

para o conforto térmico do edifício.

Page 232: MonografiaNeutra

Casa Milton Guper, 1951 Casa castor delgado peres, 1958

Planta, casa castor delgado peres

Page 233: MonografiaNeutra

Residência Olívio Gomes, 1960

Page 234: MonografiaNeutra

Ainda com maior evidência, estão os projetos modernos

para as escolas públicas brasileiras, em meados dos anos de

1950. É sabido que Richard Neutra tem fundamental importância

na produção de edifícios escolares, fato que amplifica possíveis

referências em seu nome. E, de fato, trata-se de uma suposição

com bases bastante sólidas ao levar em conta, ainda, seu livro

“Arquitetura Social em países de clima quente”, produzido

justamente para servir como referência de soluções técnicas,

espaciais e construtivas. Além disso, o livro é resultado tanto das

obras empreendidas pelo arquiteto, em trabalho para os Estados

Unidos, em Porto Rico quanto de sua visita em 1945 ao Brasil.

Logo, é muito provável que o desenvolvimento da Escola

Parque, pelo arquiteto Hélio Duarte, tenha se inspirado em

soluções de Richard Neutra. Embora o programa provenha de

referências diretas às escolas fundamentas pelo pedagogo John

Dewey nos Estados Unidos e introduzidas aqui pelo educador

brasileiro Anísio Teixeira – após concluir seu curso de pós-

graduação naquele país -, o projeto de arquitetura em específico,

Page 235: MonografiaNeutra

apresenta várias adaptações às condições climáticas, sociais e

culturais do Brasil. Dentre elas, a preocupação com a iluminação

e ventilação e a relação com espaço externo.

Porém, no artigo “Por uma arquitetura social: a influência

de Richard Neutra em prédios escolares no Brasil”, os autores

Luiz Amorim e Claudia Loureiro discorrem sobre uma notável

influência de Neutra na obra para o Instituto de Educação de

Pernambuco, elaborado pelos arquitetos Marcos Domingues da

Silva e Carlos Falcão Correia Lima.

Resultado de um concurso, em 1956, o projeto

compreende a edificação de quatro unidades: a sede do instituto,

uma escola primária, um colégio, e um jardim de infância. É

neste último que os autores identificam, com maior clareza, as

idéias “neutraianas” do projeto, conforme a descrição:

“O edifício tem, como foco central, o playground e recreio coberto. Em torno deste núcleo se organizam, em alas, os espaços didáticos e os

Maquete projeto IEP, Marcos DS e Carlos Falcão CL, 1956

Planta jardim de infância, projeto IEP, 1956

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espaços administrativos. São quatro conjuntos de sala de aula, compostos, cada um, por um sanitário, uma área que serve de guarda-volume e vestíbulo de entrada para o conjunto e uma sala que se prolonga para um pátio exterior, através de uma porta pivotante que se abre horizontalmente, tal como proposto por Neutra (1948: 43).

Tais aproximações, muito embora, e como já dito, não

tenham um respaldo oficial dentro do cenário acadêmico da

arquitetura e urbanismo, podem ser tomadas como importantes

reflexões a respeito da produção tanto arquitetônica quanto

teórica de Richard Neutra. A possibilidade de identificar em

obras importantes como as dos arquitetos modernos brasileiros

apontam para a solidez das idéias formuladas por Neutra e o

quão válido é, dessa forma, a sua contribuição para o movimento

moderno na arquitetura.

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ÍNDICE DE OBRAS

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RESIDENCIAIS

The Health House, Los Angeles, 1927 Research House, Los Angeles, 1932 Residência William Beard, Altadena, 1935 Residência Dr. Grant Beckstrand, 1937 The All Steel Residence (Ayn Rand), San Fernand Valley, 1936 Residência J. N. Brown, Fishers Island, 1936 Residência H. G. McIntosh, Los Angeles, 1937 Casa David Malcolmson, Santa Monica, 1937 Casa Philip Gill, Glendale, 1938 Residência Dr. Scioberetti, Berkely, 1939 Casa Harry Berger, Hollywood, 1939 Residência Sidney Kahn, Telegraph Hill, 1940 Residência John B. Nesbitt, Brentwood, 1942 The Desert House, 1946 Residência Warren Tremaine, Santa Barbara, 1947

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APARTAMENTOS

Apartamentos Beach, Los Angeles, 1926 Apartamentos Garden, Los Angeles, 1927 Apartamentos Strathmore, Westwood, 1938 Apartamentos Landfair, Westwood, 1938 Apartamentos Kelton, Westwood, 1942 Casa Holiday, Malibu Beach, 1948 Apartamentos Elkay, Westwood, 1948

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CONSTRUÇÕES EXPERIMENTAIS E INDUSTRIAIS Casas Pré-fabricadas Diatom, 1923 Ladies Home Journal, Competição Casa Pequena Casa Pré-fabricada “One plus two”, 1926 Three Small Houses in an Orchard, Los Altos, 1935 Casa Modelo Plywood, 1936 Edifício Universal Pictures, Los Angeles, 1930 Edifício Schoits Advertizing, Los Angeles, 1937 Edifício Evans Plywood, Lebanon, 1940 Parque Garagem Open-air Multistory, 1940 Showroom e Garagem Kaiser-Fraser, Hollywood, 1948 Equipamentos de Saúde e Edifício de Suprimentos Aloe, Los Angeles, 1948 Milereek Summit Maintenance Yard, 1949

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EDUCAÇÃO E SAÚDE

Projeto-Escola Ring Plan, 1926 Activity Class Room Study, 1928 Planetário de Los Angeles, 1931 Centro de Arte, 1935 Corona School Bell, Los Angeles, 1935 Academia Militar da California, Los Angeles, 1936 Emerson Junior High School, Westwood, 1938 Centros Administrativos National Youth, Sacramento e San Luis Obispo, 1939 Teatro e Centro de Arte para o Colégio Wheaton, Massachusetts, 1937 Colégio Goucher, Maryland, 1938

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Escolas Urbanas Puerto Rico, 1944 Escolas Rurais Puerto Rico, 1944 Sub-centros Rurais de Saúde Puerto Rico, 1944 Centros de Saúde Puerto Rico, 1944 Colégio Palomar, 1944 Sanatório Universitário Italiano SUI, 1948/50

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PROJETOS

University Library of the Near East, 1923 Congregation Building, 1924 Rush City Reformed, 1923/1935 Rush City Air-Transfer, 1927 Sea-Land-Transfer, 1930/1946

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CIDADES JARDINS

Housing Project for Jacksonville, Los Angeles, 1939/41 First Study for “Amity Compton”, Compton, 1939 Progressive Builders Home, Los Angeles, 1942 Avion Village, 1941 Channel Heights, San Pedro, 1942

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REFERÊNCIAS

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REFERÊNCIAS

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