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Ano 15, no 39, junho/setembro de 2007

Editorial

MosaicoApoio

Pastoral

Ano 15, no 39Junho/Setembro de 2007

Publicação da Faculdade deTeologia da Igreja Metodista/Universidade Metodista deSão Paulo (UMESP).

Reitor da Faculdade de Teo-logia: Rui de Souza Josgril-berg; Reitor da UMESP: Márciode Moraes; Diretor Adminis-trativo da Faculdade de Teo-logia: Otoniel Luciano Ribei-ro; Coordenador da Editeo:Ronaldo Sathler-Rosa; Edito-ra do Mosaico: Magali doNascimento Cunha; Coorde-nador de Produção: LuizCarlos Ramos.

Conselho Editorial: Blanchesde Paula, Fábio N. Marchiori,José Carlos de Souza, LuizCarlos Ramos, Magali do Nas-cimento Cunha, Natália deSouza Campos, Nelson LuizCampos Leite, Otoniel LucianoRibeiro, Rui de Souza Jos-grilberg, Ronaldo Sathler-Rosa, Stanley da Silva Moraese Tércio Machado Siqueira

Projeto gráfico: Luiz CarlosRamos; Editoração e Arte fi-nal: Glória Pratas; Capa: Jo-vanir Lage; Edição e monta-gem de imagens: Glória Pra-tas; Tiragem deste número:2.000 exemplares. Distribui-ção gratuita.

** * *

*

Mosaico Apoio PastoralEDITEO

Caixa Postal 5151, RudgeRamos, São Bernardo doCampo, CEP 09731-970

Fone: (0__11) 4366-5983 Fax: (0__11) 4366-5962

[email protected]

Editorial

Há umaresponsabilidade

cristã com o meioambiente muitas

vezes ignorada, oudesprezada, que

precisa serenfatizada em

tempos dealarme global.

Nunca se falou tan-to nos últimostempos em cui-

dado com o meio ambien-te. Afinal, o que antes eracoisa de ecologistas, atémesmo “de gente desocu-pada”, está sendo sentidona pele de pessoas espa-lhadas por todo o planetaTerra, a nossa “casa co-mum”. Desde o aumentode tempestades e catástro-fes, resultantes das altera-ções nos mares e na at-mosfera com o aqueci-mento global, as estaçõesdo ano que não mais se-guem o seu curso normalpassando pelo aumentoda incidência de câncer depele, os gemidos da cria-ção são parte da nossavida hoje.

E os cristãos e cristãs,o que têm a ver com isto?E as igrejas? O que diz aBíblia? Qual é a leitura te-ológica apropriada aotema? O que têm sido fei-

to? Mosaico Apoio Pas-toral oferece uma sériede contribuições quebuscam responder a es-tas questões. São aborda-gens diversas, mas comum elemento em co-mum: há uma responsa-bilidade cristã com omeio ambiente muitasvezes ignorada, ou des-prezada, que precisa serenfatizada em tempos dealarme global. Vale apena refletir.

Outras contribuiçõescompletam o mosaico detemas no campo da edu-cação cristã, da questão daviolência urbana e da re-cente Declaração CatólicaRomana Dominus Iesus, doVaticano. Como parte dasua vocação, MosaicoApoio Pastoral traz abor-dagens contemporâneaspara contribuir com a prá-tica nas comunidades lo-cais. O diálogo está sem-pre aberto!

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MeioAmbiente

Andréia Fernandes

A cada dia os noti-ciários anunciamalterações climáti-

cas e suas conseqüênciaspor todo mundo: polui-ção das águas, incêndiosflorestais, ondas insupor-táveis de calor, vendavais,terremotos e outros fenô-menos que acontecempor toda parte. Tudo issonos faz perguntar: o queestá acontecendo com acriação? Mas, será esta apergunta correta? Não se-ria melhor perguntar “oque fazemos com a cria-ção?” Sim, esta é a melhorpergunta, pois grandeparte do que acontece,hoje, diz respeito ao que,durante muito tempo,

homens e mulheres fize-ram e têm feito.

Humanidadee criação

Ao final da criação danatureza e da humanida-de, Deus contempla a suaobra e conclui que tudoo que havia feito, não eraapenas bom, era muitobom (Gênesis 1.31). Talopinião, possivelmenteadvinha de uma percep-ção de que, humanidadee criação, a partir de umarelação dialógica, pudes-sem não só in-teragir, mas secontemplar e secompletar.

Conclusões e percep-ções inadequadas do pa-pel da humanidade na di-nâmica da relação com acriação acabaram por ge-rar uma série de equívo-cos que hoje se traduzemem intenso desequilíbrioecológico.

À humanidade, criadaà imagem e semelhançade Deus, coube a tarefade cuidar da natureza,administrá-la e guardá-la.Gênesis 2.15 nos apontatal função: “Javé Deustomou o homem e o co-locou no jardim de Éden,

para que o cul-tivasse e guar-dasse” (EdiçãoPastoral). En-

tretanto, a história ecoló-gica escrita pela humani-dade não demonstra ocuidado pela natureza,antes reflete uma relaçãodesregrada e desleal.

Imagem esemelhança,de quem?

Por que será que o serhumano, feito à imagem esemelhança de Deus nãose relaciona de forma har-moniosa com a criação,como Deus faz? A ques-tão é justamente a inade-quada interpretação do queé ser imagem e semelhan-ça de Deus. As más fasesda história humana se de-

O que está acontecendocom a criação?

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ram e se dão pelos senti-mentos de onipotência ecobiça que invadem o co-ração humano, enchendo-o, como se diz por aí, dodesejo de ser igual a Deus...Penso que esta é uma defi-nição inadequada.

O Deus da vida e da his-tória é o Deus que se movepor uma tamanha paixãopelo outro, agindo e reali-zando a promoção e a pre-servação da vida. Logo, osentimento que invade ahumanidade não é o de sersemelhante a Deus, já queDeus usa o seu poder para“empoderar” e não paraoprimir; usa o seu amorpara libertar e não paraenclausurar; sonha, para omundo e a humanidade,uma vida em comunidadenão em sociedades devas-tadas e divididas.

À pergunta “o queestá acontecendo com acriação?” cabe a respos-ta: ela perece por contada humanidade que pordeixar cada vez mais deser imagem e semelhan-ça de Deus e enxerga-secomo um ser superior àcriação, relaciona-se comela de forma inadequadae destrutiva.

Quem éresponsável?

Diante de tal conclu-são, uma outra perguntasurge: o que acontecerácom a criação? Ao tentarrespondê-la, recordo-mede uma historinha, muitoconhecida, que fala sobre

dois jovens que queriamtestar a sabedoria de umaanciã da aldeia. Um dia,um deles pegou um pas-sarinho e o escondeu namão, em seguida faloupara a sua companheira:“vamos até aquela sábiamulher e perguntemos seo passarinho que está naminha mão está vivo oumorto. Se ela responderque está vivo, eu o matocom as mãos, mas se elaresponder que o passari-nho está morto, eu o sol-to”. Assim fizeram. Chega-ram até a sábia mulher eperguntaram-na a respeitodo pássaro. A mulher, à talpergunta respondeu: “a res-posta está em suas mãos”.

A resposta da sábiamulher se aplica à nossaindagação sobre o queacontecerá com a criação:“a resposta está nas nos-sas mãos!”. Como estão asnossas mãos? Como estáo nosso coração para queoriente a ação das nossasmãos? De forma poéticao bispo Isaac Aço nos fezpensar:

Há mãos que sustentam emãos que abalam

mãos que limitam e mãosque ampliam;

mãos que se abrem emãos que se fecham;

mãos que afagam e mãosque se rasgam;

mãos que ferem e quecuidam das feridas;

mãos que destroem emãos queedificam;

mãos que batem e mãosque recebem as pancadaspor outros.

Há mãos que escrevempara promover

e há mãos que escrevempara ferir;

há mãos que operam ecuram e mãos que geramamargura;

há mãos que se apertampor amizade

e mãos que se empurrampor ódio;

Onde está a diferença?Não está nas mãos, masno coração.

Há mãos e... mãos!

As tuas, quais são? Deque são? Pra que são?

Aresponsabilidadecristã

Muitas mãos e cora-ções engajam-se hoje eminúmeras campanhas depreservação e promoçãoda natureza. É tempo delutar e educar, é tempo dese transformar, ou me-lhor, de reciclar! A Igrejanão pode ficar fora dessadinâmica. Dos púlpitos àsclasses de escola domini-cal passando pelos gruposde discipulado existentesem todas as nossas igrejasé preciso dar espaço, in-cluir a questão ecológicano que diz respeito à pre-servação do meio ambien-te, já que isso significa apreservação da vida. UmaIgreja comprometida coma proclamação do evange-

lho integral nãopode se esquivarMeio

Ambiente

de engajar-se de formaséria, planejada e compro-metida com as questõesecológicas tão relevantesnesses tempos. “Quais sãoas mãos da igreja? De quesão? E pra que são?”.

Sei que as mãos daIgreja são mãos que aco-lhem, educam e direcio-nam. Muitas vozes cla-mam por uma nova mo-ralidade no que diz respei-to à relação da humanida-de com a criação. Não seise é a construção de umanova moralidade o cami-nho para tal equilíbrio en-tre seres humanos e meioambiente. Creio que, tal-vez, se a humanidade sereencontrar como ima-gem e semelhança deDeus, e desenvolver suarelação ecológica comotal, muitas coisas boas enovas podem acontecer.Nisto a igreja pode e deveajudar, mas, para tanto, elamesma precisa se encon-trar e se reinventar comoimagem e semelhança deDeus. À igreja, a mim e avocê descortina-se o desa-fio de inspirar-se no Deusapaixonado e, diante dassituações, transformar-sede apática a simpática paraque uma nova história devida e preservação da Cri-ação seja escrita.

Andréia Fernandes é pastorametodista e integra a equipe doDepartamento Nacional de EscolaDominical da Igreja Metodista.

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A ecologia tem-seconstituído emum dos grandes

temas multi-disciplinaresda atualidade. Ela é obje-to de pesquisas e ensaiosem diversas áreas do saberhumano. A teologia é umadessas áreas onde a con-tribuição ao debate torna-se fundamental.

Um primeiro desafioque enfrentamos quandodecidimos abordar a eco-logia a partir das tradiçõesbíblicas é o de reler afir-mações que se tornaramcomuns na discussão eco-lógica. A tradição bíblica,que confere ao ser huma-no a tarefa de “dominar”e “sujeitar” a terra, temservido como uma auto-rização religiosa para a de-vastação. Aqui temos umproblema de interpreta-ção. Nossa proposta éapontar outras possibili-dades de apropriação dotexto bíblico, tendo comoreferencial a relação como meio ambiente. O quequeremos é tirar da tradi-ção bíblica o papel legiti-mador dessa destruição.Para isso, necessitamosrecuperar as tradições queinvertem esse papel eapresentam novas possibi-lidades de compreensãodo problema.

O segundo desafio que

enfrentamos é o de en-contrar textos e tradiçõesno Novo Testamento quese abram para uma discus-são ecológica, uma vezque não há no Novo Tes-tamento material direta-mente relacionado com omeio ambiente e as con-cepções do papel do serhumano no mundo cria-do, como acontece, porexemplo, nos relatos dacriação contidos na BíbliaJudaica (o Antigo Testa-mento dos cristãos).

Para enfrentar esse de-safio, vamos abordar doistextos que, ao tratar de te-mas teológicosdiversos, usam arelação com a na-

tureza como suporte. Comisso, entendemos queapontaremos para um ca-minho de interpretaçãoque pode ser utilizado naabordagem a outros tex-tos, sem pretender resu-mir toda a relação doNovo Testamento com aecologia as passagensabordadas.

Romanos8.18-23

Vamos iniciar com estetrecho de Romanos poruma predileção a esta car-ta – é um dos textos teo-

lógicos densosdo Novo Testa-mento. O tema

central é o confronto en-tre a vida debaixo da Lei ea vida debaixo da Graça.Na estrutura da carta, oscapítulos de 1 a 7 tratamdo tema da vida debaixoda Lei. A conclusão sobreos caminhos de uma vidavivida debaixo da condu-ção da Lei é sombrio e oresultado é um corpo demorte do qual o ser hu-mano não pode se livrar(7.24). Já os capítulos de9 a 14 apresentam a vidadebaixo da Graça. O re-sultado dessa vida é rela-cional. A vida vivida de-baixo da graça de Deus seexpressa na construção deuma nova relação com ooutro, com os fracos da

Meio Ambiente na Bíblia:um caminho de interpretação

Paulo Roberto Garcia

MeioAmbiente

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comunidade e, até mesmo,com os inimigos.

Nessa estrutura, o ca-pítulo 8 de Romanos re-presenta a “dobradiça” dacarta. Ele marca a passa-gem da vida debaixo daLei para a vida debaixo daGraça. Essa mudançaacontece por intermédiodo Espírito. A maior ocor-rência da palavra “Espíri-to” nos escritos paulinos sedá nesse capítulo. Pela açãodo Espírito a vida humanasai de uma ênfase baseadano “eu” e entra em uma di-mensão relacional. Aquiencontramos não só oponto central da cartacomo também o eixo quenos interessa. Essa novavida que se expressa emsentido relacional tem umacaracterística cósmica.

Na texto selecionadoaqui, o pecado humano,responsável pelo fracassodas tentativas de se viveruma vida debaixo da Lei edo qual resulta um corpode morte, atinge tambéma natureza.

Embora o autor colo-que a glória dos filhos deDeus como central, perce-bemos que nessa tradiçãoo pecado humano tem di-mensão cósmica e, domesmo modo, a salvação

se inscreve em uma visãoda restauração cósmica. Oque é importante frisar éque nos escritos paulinosessa restauração não se dáem um tempo vindouro,mas é um processo que seinicia na passagem da vidadebaixo da Lei para a vidadebaixo da Graça - porisso a posição deste capí-tulo na estrutura da carta.Deste modo, a renovaçãode todo o cosmos é simul-tânea à renovação da vidahumana a partir da expe-riência religiosa.

Com isso, nesse textopaulino a vida cristã éapresentada como umamudança de paradigmas,sai do egocentrismo e in-gressa em uma dimensãorelacional da existênciaem que as relações sãorestauradas: a relaçãocom o outro; a relaçãocom os fracos; a relaçãocom os inimigos; e, tam-bém, a relação com a na-tureza.

De acordo com essapassagem, não há vidacristã que destrua o meioambiente. Um cristianis-mo que não tenha na re-lação com o meio ambi-ente uma das expressõesda restauração da vida en-contra-se, ainda, preso ao

corpo de morte. A natu-reza é parte integrante danova vida proporcionadapelo Espírito.

Apocalipse6.12-17

Nesta passagem nosencontramos em um gê-nero literário diferente, oapocalíptico. Passamospor uma carta e agora va-mos abordar um escritode uma comunidade apo-calíptica da Ásia do finaldo primeiro século. O gê-nero apocalíptico é carac-terizado por uma lingua-gem simbólica para ex-pressar um juízo sobre opresente e animar a fé dacomunidade com as espe-ranças futuras. Podería-mos compará-lo a um ál-bum de fotografias da fa-mília. Toda vez que alguémolha as fotos se lembra dopassado e isso anima o pre-sente. O livro lança mão deimagens e símbolos que fa-zem parte da tradição dopovo para criticar o tempopresente e exortar a comu-nidade a permanecer firmee não perder a dimensão daesperança futura.

No livro do Apoca-lipse, os seis primeiros se-los – nos quais esta passa-gem está inserida – mos-

tram um julgamento da vi-olência que tomou contado mundo e o resultadodisso na vida dos cristãos.Os quatro primeiros, querevelam cavalos de coresdiferentes, apresentam umprojeto de vitória, a vitó-ria da violência. O primei-ro cavalo, de cor branca –que é a cor usada no Apo-calipse para representar avitória –, significa a vitó-ria específica desse proje-to. Ele é caracterizado porarmamentos militares. Osegundo, vermelho, repre-senta a ação do primeiro.É a guerra e sangue der-ramado. O terceiro cava-lo, também conseqüênciado anterior, da cor da noi-te, representa a carestia. Abalança, numa referênciaao comércio, pesa os pro-dutos e o preço deles éabusivo. O quarto e últi-mo cavalo, esverdeado, éum resumo dos anteriorese representa a morte. Mor-te pela guerra, pela fome,pela peste, pelas feras daterra. Esse é o primeiroprojeto de vitória, a vitóriados que exercem o poderpela violência.

O quinto selo apresen-ta outro projeto de vitó-ria, a vitória dos que mor-reram em nome do teste-

MeioAmbiente

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munho. Eles clamam pelajustiça e pela vingança di-vina. Recebem uma corbranca e representam avitória deles. Aqui o pro-jeto de vitória é apresen-tado a partir do testemu-nho de fé, a qual não sedobra aos projetos de vi-olência e que prefere mor-rer a participar da estru-tura de violência e morte.

Nesse confronto deprojetos, o texto apresentaa catástrofe escatológica.Os sinais são aterrorizantes:

12 Vi quando o Cordeiroabriu o sexto selo. Houve,então, um grande terre-mo-to. O sol ficou negrocomo saco de carvão. A luainteira, cor de sangue. 13Asestrelas do céu despenca-ram sobre a terra, como péde figo soltando figos ver-des quando bate vento for-te.14 O céu se enrolou, fei-to folha de pergaminho. Asmontanhas todas e as ilhasforam arrancadas do lugar.

Diante desta catástrofe,os “reis da terra, os mag-natas, os capitães, os ricose os poderosos, todos, es-cravos e homens livres” –temendo o juízo de Deus– pedem socorro às mon-tanhas. Todos os que vivi-am a partir do projeto daviolência buscam proteçãodelas contra o julgamentodivino. É estranho, mas a

natureza aparece aquicomo cúmplice dos pode-rosos e é evocada comoprotetora deles diante dajustiça de Deus. Nessa tra-dição, o cosmos está mar-cado pela violência e pelopecado. Ele se torna ins-trumento e parceiro dosviolentos em seu projetode destruição. Com isso,poderíamos esperar que oresultado do julgamentodivino seria, além do juízosobre os poderosos, umjuízo sobre a natureza,destruindo-a juntamentecom todos aqueles e aque-las que praticaram injusti-ça e derramaram o sanguedas testemunhas. Porém,não é isso o que acontece.

O livro do Apoca-lipse é duro com aquelesque integram o sistemade poder que provoca amorte, porém apresentapara a natureza a espe-rança da renovação docosmos. A inauguraçãodo reinado escatológicoconsiste, também, na re-novação do cosmos(confira, por exemplo,em Ap 21.1 onde há apromessa de um novocéu e nova terra que sur-gem em decorrência dafalência do primeiro céue da primeira terra, que

marcados pelo projetode violência irão passar).

Deste modo, o cosmosse insere na história hu-mana e, de um lado, écooptado pelos projetosde violência, tornando-secúmplice, porém, na tra-dição apocalíptica, o jul-gamento escatológico e osurgimento do Reino deDeus passam pela reno-vação do céu e da terra.As leituras marcadas porum antropocentrismo a-histórico colocam a aten-ção da escatologia unica-mente no ser humano.Porém, quando olhamosos textos percebemos queo mundo como espaçovital do ser humano é par-te integrante do processode renovação. O cosmosque se contorce junto aosprojetos de injustiça serearticula diante da inau-guração do novo tempo.

ConclusãoA abordagem das duas

passagens distintas, tantoem termos cronológicosquanto em termos de tra-dição teológica e de gêne-ro literário, aponta que,mesmo sem tratar direta-mente a relação entre osseres humanos e o meioambiente, ela aparece co-

mo subentendida na dis-cussão teológica. Na tradi-ção bíblica o cosmos é par-te integrante da criação di-vina e, assim, participaigualmente das dores, daviolência, da indignação, dacooptação e, também, daesperança de restauração.

Na teologia do NovoTestamento há uma pro-funda vinculação entre aspropostas de renovaçãoda condição humana – emespecial dentro dos crité-rios de justiça e juízo – e arenovação do cosmos.Isso significa que não épossível desvincular as lu-tas pela dignidade huma-na, justiça e paz – lutasoriginadas nos ideais bíbli-cos e neotestamentários –daquelas em favor da in-tegridade da criação. Cos-mos e seres humanos sãoparte da criação de Deuse gemem conjuntamentepela renovação da vida.

Paulo Roberto Garcia é pastormetodista, doutor em Ciências daReligião e professor de Novo Tes-tamento da FaTeo, onde tambémé Coordenador do Curso de Teolo-gia. Este texto é um extrato, adap-tado, do artigo do mesmo autor “Aecologia na perspectiva neotesta-mentária”, publicado em CASTRO,Clovis Pinto de (org). Meio Ambi-ente e Missão: a responsabilidadeecológica das igrejas. São Ber-nardo do Campo: Editeo/UMESP,2003, p. 55-66.

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Gercymar Wellington Lima e Silva

Certamente o meioambiente enfrentaum dos problemas

mais marcantes dos diasatuais. Não é difícil com-preender que o futuro daraça humana depende dereflexões e ações em tor-no da causa ecológica e domeio ambiente. A com-preensão disso deveria le-var a humanidade a defen-der a ordem estabelecidacomo princípio de equilí-brio.

Theodore Runyon, nolivro A Nova Criação. Teo-logia de João Wesley hoje[Editeo, 2002], lembra que“isso é inerente ao papelda humanidade como por-tadora do que Wesley cha-ma de ‘imagem política deDeus’, a vocação para sero fiador da justiça e daordem natural em relacio-namento com o resto dacriação”. Wesley tambémnunca situou a Criaçãonum lugar menos rele-vante na obra divina. Ditode outra forma, a Criação,no seu todo, compõe aplena manifestação deDeus e da sua Graça.

Wesley, nas Notas Ex-plicativas aos Romanos, co-mentando o texto de Ro-manos 8.18-28, ressaltaque: “a própria criaçãoserá redimida – A destrui-

ção não é redenção; por-tanto, o que é destruído,ou que deixa de existir,simplesmente não é redi-mido”. A Criação geme,a humanidade geme e oEspírito geme, aguardan-do a expectativa de reden-ção. As contribuiçõespara uma interpretaçãoteológica que revelampreocupação com a ques-tão ecológica não repre-sentam somente a supe-ração do antropocen-trismo inerente ao ser hu-mano, mas envolve, so-bretudo, o modocomo a humani-dade interpreta asua relação con-

sigo mesma e com omundo que a circunda.

Salvação dacriação

O movimento wesley-ano não estabeleceu aquestão ecológica comopreocupação central deseus esforços, embora pos-sa se verificar que Wesleytinha “interesse e fascíniopelas ciências e pelo mun-do natural”. ConformeTheodore Runyon, esse“interesse se estendeu das

observações so-bre a imensa va-riedade de espé-cies que habitam

o globo até as condiçõesclimáticas ao redor da ter-ra e os fenômenos cientí-ficos, tais como eletricida-de, com a qual ele fez ex-perimentos, familiarizan-do-se com aqueles condu-zidos por BenjamimFranklin e outros”.

O metodismo trans-plantado para o Brasil nãosó foi distorcido e desvir-tuado, como foi pouco fielà tradição do metodismonascente, o que torna, decerto modo, sua atualiza-ção e re-significação pou-co promissora se nãoatentarmos para esse fato,como acentua Cláudio deOliveira Ribeiro em dife-rentes escritos, entre eles“Ecologia e teologia me-todista: reflexões prelimi-nares para se perceber oslimites e as possibilidadesdessa aproximação” [emMeio Ambiente e Missão: aresponsabilidade ecológica dasigrejas. Editeo/UMESP,2003]. Nesse caso, recriaro metodismo hoje não éuma tarefa simples. Den-tre os principais impedi-mentos, pode-se destacara leitura descontextua-lizada do pensamento deWesley.

Deus, como fonte desalvação, é resposta sote-riológica de toda a forma

Metodismo e a nova criação

Considerações para uma Teologia da Salvação da Criação

MeioAmbiente

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de vida existente. Portan-to, é fundamental reler eavaliar a expectativa pre-sente na leitura bíblica deRomanos 8.18ss. É sur-preendente e valiosíssimatambém a abordagem deWesley no sermão 56, “Obeneplácito de Deus porsuas obras”. Isso ajuda aavaliar o sentido que tema Criação como fonte te-ológica, representado umareafirmação vigorosa pelapromoção e defesa da vidae todas as suas formas deexistência. É indispensávellembrar ainda que huma-nidade e cosmos estão in-trinsecamente ligados. Aversão brasileira para asfontes teológicas wes-leyanas – Bíblia, Tradição,Razão, Experiência e Cri-ação – tem a intenção deresgatar o valor teológicosubstancial da temática daCriação, reafirmando oanúncio das obras damãos de Deus (Salmo 19).

A nova criação

É preciso nutrir umareflexão teológica sistê-mica, assim como fazerecologia, de modo res-ponsável, sem cair em in-genuidade ou trabalho fú-til, tornando-se verdadei-ramente comunidade mis-sionária a serviço do povo.A tarefa teológica precisaascender à prática, envol-vendo a Ig reja numaevangelização compro-metida com uma nova vi-são de salvação – a Salva-ção da Criação. Isso re-quer uma autêntica inter-pretação bíblica, não ne-cessariamente nova.

Um exemplo é rever

Gênesis 1-2 na perspec-tiva do zelo do ser huma-no pela Criação e não odomínio. Há um proble-ma de interpretação nes-se texto em relação aooriginal, o que requer oseu reestudo.

O pacto da Graça deDeus com a humanidadenão reduziu a concepçãodo Antigo Testamento deque “os céus proclamama glória da mão de Deus eo firmamento anuncia aobra de sua mão” (Salmos19.1). A interpretaçãocristológica da salvaçãonão exclui a Criação comoum dos eixos da revelaçãode Deus, tampouco o sig-nificado de salvação queabrange o cosmos, o quala Igreja é chamada a con-siderar em seu kerygma (emsua pregação). De outraforma, a relação da huma-nidade com o mundo que

a circunda ficará eviden-temente comprometida.

É razoável, portanto,“a necessidade de respon-der às demandas teológi-cas que emergem nessenovo milênio, especial-mente em torno da temá-tica da Nova Criação”.Theodore Runyon lembraque “apesar de os londri-nos reclamarem forte-mente da fumaça causadapor muitas larei-ras a carvão, aecologia não es-tava na ordem do

dia dos tempos de Wes-ley”. Runyon indaga porpistas no pensamento deWesley, se é que “suas vi-sões são suficientementecompletas e amplas paraserem aplicadas a temasque ele não confrontou di-retamente”.

Teologia emissão nometodismo

É de “forma criativa”e, sobretudo, baseado em“diálogos abertos paraexperiências”, “voltadapara nossa vida no mun-do”, “de natureza essen-cialmente prática” quenasceu no Brasil uma ver-são do Quadrilátero Wes-leyano. Esse quadro meto-dológico (ver ilustração),além de constituir uma im-portante atualização teo-lógica, contribuiu para re-

forçar a dimensão ecle-siológica e missionária dasigrejas no Brasil, funda-mentando, no seu sentidoestrito, uma responsabili-dade ecológica das igrejas.

É óbvio que todo es-quema tende a ser redu-tivo. Mas, “a premissa éque Wesley estava con-vencido de que o centroda fé cristã encontra-serevelado na Bíblia, é ilu-

minado pela tra-dição, é desper-tado pela expe-riência na vida,

é fortalecido pela razão,e pode ser observado nacriação”.

O metodismo no Bra-sil assumiu, já no seu ad-vento, ênfases individua-listas e intimistas da heran-ça norte-americana, “oque faz inviabilizar as dis-cussões em torno da pro-blemática social da fé cris-tã”. Conforme Ribeiro,em texto já citado, “ometodismo implantadono Brasil é pouco wes-leyano e reduziu-se a umaforma especial de pie-tismo”.

Mas, discursos dua-listas sustentam as separa-ções entre preocupaçõesespirituais e materiais.Uma pergunta atinente é:“Como pode a teologiawesleyana nos auxiliarnesse contexto?”. Infeliz-mente, no Brasil, reforça-ram-se as interpretaçõesmetafísicas sobre a salva-ção, reduzindo-a a umacompreensão individual,negando o seu aspectosocial e, sobretudo, cós-mico, como indicado nosescritos bíblicos e nas re-flexões teológicas maisconsistentes.

O metodismo tem odesafio de refletir sobretrabalho teológico quesurge em torno da temá-tica da Criação, conside-rando a possibilidade deentrelaçar-se com a mis-são das igrejas locais e nosdiversos contextos que aIgreja se faz presente.

Gercymar Wellington Lima e Sil-va é pastor metodista na 4ª RegiãoEclesiástica e Especialista em Es-tudos Wesleyanos.

Experiência Tradição Bíblia

Razão Criação

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Ano 15, no 39, junho/setembro de 2007

Luciano Sathler

Rogério Pereira da Silva

A cada dia ouvimosfalar na questãodo aquecimento

global, das mudanças noclima, no desequilíbrio danatureza, seja em conver-sas informais seja pelamídia. É um assunto po-lêmico, com posições con-traditórias. Há os catas-tróficos e os que achamque as abordagens sãoexageradas, mas na co-munidade científica éconsenso que o climamundial está mudando eque a principal causa é aação do ser humano.

Os problemas climáti-cos do planeta têm gera-do sérias conseqüências,não apenas ecológicas eambientais, mas tambémsociais. Secas de um lado,tempestades e inundaçõesde outro, o avanço do mardevido ao descongela-mento das geleiras pola-res. Essa situação temobrigado populações in-teiras a abandonarem oslocais que habitaram du-rante gerações, procu-rando outro ponto parase estabelecer, o que geraimpactos sociais e eco-nômicos: onde e comoacolher populações deforma apropriada, comestruturas suficientes dehabitação, alimentação,educação e trabalho, ga-

rantindo não somente asobrevivência, mas tam-bém a dignidade?

Além das mudançasno clima, os recursos doplaneta começam a mos-trar esgotamento. O aces-so à água potável tem setornado uma das maiorespreocupações da atualida-de. (veja nas páginas 14 e15 a Declaração sobreÁgua para a Vida do Con-selho Mundial de Igrejas/CMI). Há outros gravesproblemas ambientais queafetam o planeta: desmata-mentos e queima-das que destróema biodiversidade,levando animais e

plantas à completa extinção,a emissão de gás metano naatmosfera contribuindopara o desequilíbrio do efei-to estufa, gerando o aque-cimento global.

Aresponsabilidadehumana diante dacriação

O CMI tem debatidoo assunto desde 1990,quando as mudanças cli-máticas mundiais foramidentificadas pela comuni-

dade científicacomo uma dasquestões sociaise ecológicas que

afetariam todas a Criação,e, aliadas a elas outras duasintimamente ligadas: o de-senvolvimento científico etecnológico e a economia.

O desenvolvimentotecnológico e científicopode trazer tanto benefíci-os ao planeta como gran-des males. Assim como atecnologia pode ser usadana cura de doenças e me-lhora da qualidade de vida,também poder ser usadapara produzir morte e des-truição, como a tecnologiabélica. Há delicados pon-tos nessas novas descober-tas que envolvem valoreséticos e religiosos, ressalta-dos no documento “Fé,

Mudanças Climáticas:preocupações, reflexõese ações das Igrejas

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Ano 15, no 39, junho/setembro de 2007

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Ciência e Tecnologia” doCMI (disponível em http://www.oikoumene.org/?id=3125).

Da mesma forma aglobalização da economiaé realizada de forma uni-lateral, sem respeito às di-versidades das culturas lo-cais e regionais, gerando,por um lado, riquezas nasmãos de minorias e, poroutro, miséria e explora-ção das camadas mais po-bres, numa lógica que bus-ca a mão-de-obra mais ba-rata, incluindo-se aí traba-lho infantil e escravo.

O fosso das desigual-dades entre pessoas e en-tre nações é cada vez mai-or e o capital especulativotoma governos e cidadãoscomo reféns, ameaçando“fugir” à sombra de qual-quer risco, fazendo comque o planejamento eco-nômico dos países visemmuito mais ao dinheirodos investidores internaci-onais do que às necessida-des de suas próprias po-pulações. É necessário terum modelo econômicoque coloque a vida em pri-meiro lugar, que leve emconsideração as questõesétnicas, culturais, ecológi-cas, respeitando toda aCriação e dignificando oser humano.

No entendimento dasigrejas unidas no CMI, oestilo de vidas das naçõesricas, transplantado paraas nações periféricas, temcontribuído para as gran-des e negativas transfor-mações do clima planetá-rio. É não somente umaquestão de justiça inter-nacional, mas de justiçacom as gerações vindou-

ras, que sofrerão as con-seqüências.

Ações por ummundo melhor

Na Conferência das Na-ções Unidas para o MeioAmbiente e o Desenvolvimen-to, em 1992, conhecidacomo ECO 92/Rio de Ja-neiro, o CMI formou umgrupo de trabalho sobremudanças climáticas, quetem atuado desde então.Uma importante contri-buição do trabalho ecu-mênico sobre mudançasclimáticas é a capacidadede juntar diferentes atores– cientistas, empresas,ONG’s, governos – numdiálogo comum para umaanálise ética e moral da si-tuação. O CMI contribuiuna construção e manuten-ção de uma rede com pes-soas engajadas, estabele-cendo parceria com igre-jas, concílios nacionais,organizações ecumênicasregionais, estabelecendoligações, inclusive, comagencias e organizaçõesseculares, mas que estãopreocupadas com a ques-tão climática mundial.

O Grupo de Trabalhosobre Mudanças Climáti-cas do CMI tem trabalha-do com vistas a desafiosespecíficos:• Prevenir o colapso do

Protocolo de Kyoto: a-companhar as negoci-ações e encaminha-mentos referentes aoProtocolo assinado noJapão, que regula aquantidade degases na at-mosfera emi-tida pelas na-

ções, especialmente asmais industrializadas. Odesafio é pressionar ospaíses para que o Pro-tocolo não seja trans-formado em instru-mento de troca domercado, sem a realpreocupação com a re-dução das metas deemissão de gases.

• Desenvolver um novocenário para o períodoapós 2012: é necessá-rio pensar uma políti-ca justa e eqüitativasobre o clima globalapós 2012, quando seencerra a primeira eta-pa do acordo estabele-cido em Kyoto, quetraga soluções para odesenvolvimento sus-tentável.

• Chamar a atenção paraa adaptação ao impac-to das mudanças cli-máticas: estimular po-líticas de apoio a pro-gramas de adaptaçãonos países onde as mu-danças climáticas sãomais sentidas, comatenção especial aosriscos relacionados àágua. O CMI está pre-sente nesses países deforma solidária, auxili-ando iniciativas e pro-jetos de adaptação e nabusca por sistemas al-ternativos de energia.

• Transformação domodelo econômicoque atualmente preva-lece: O CMI chama aatenção para a neces-sidade de estilos devida alternativos, com

mais respeito ànatureza e às re-lações humanas,obser vando o

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cuidado mútuo base-ados na justiça e nasolidariedade, rejeitan-do a ilusão de autono-mia individual e con-forto material semuma espiritualidadecomunitária.

• Identificar novos hori-zontes para o testemu-nho e ação das igrejas:Convocação às igrejasa clamar publicamentepor ações consistentesna implementação nocenário político inter-nacional sobre mudan-ças climáticas e ques-tões ligadas a ela. Issoinclui os programas doCMI focados em áre-as como superação dapobreza, água para to-dos/as, biotecnologia,gênero e HIV/AIDS.Muitas igrejas têm

ações voltadas para a edu-cação e podem ser exem-plo para seus membros epara a sociedade. O desen-volvimento de um estilo devida alternativa que enfatizeo valor do relacionamentocom a Terra, com a famíliae com a comunidade acimadas compulsões materiais econsumismos são essenci-ais para a construção dessenovo mundo.

Conheça os projetos eações do CMI, acesse:

http://www.oikoumene.-org/es/programas/justicia-y-diaconia/climate-change-and-water/public-campaign-on-climate-change.html

http://wcc-coe.org/wcc/what/jpc/ecology.html

Rogério Pereira da Silva é leigometodista e assistente da Área deComunicação e Relações Externasda FaTeo.

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Fabio B. Josgrilberg

Pois a criaçãoficou sujeita à

vaidade(Rm 18. 20)

Certa vez, “eu visi-tei o máximo depessoas que pude.

Encontrei alguns deles emporões; outros nos seussótãos, famintos e comfrio, somados à fraquezae dor. Mas não encontreium deles desempregado,que rastejasse pelo quar-to. Como é fraca e maldo-sa a falsa objeção comum:‘Eles só são pobres por-que são ociosos’. Se vocêvisse essas coisas com osseus próprios olhos, pode-ria desperdiçar dinheiroem ornamentos e superfi-cialidades?” A perguntaque se fez John Wesley emseu diário, em registro dosdias 9 e 10 de fevereiro de1753, toca em duas ques-tões fundamentais para anossa geração: 1) a inca-pacidade do sistema eco-nômico atual de garantiras condições necessáriasde vida para a população,mesmo entre os que estãoempregados; 2) a conde-nação de uma culturaconsumista, marcada pelodesperdício.

Nos dias de hoje, as

distorções do sistema eco-nômico capitalista apre-sentam mais um agravan-te: a degradação ambientale a conseqüente ameaça àexistência humana. Sem asmudanças culturais neces-sárias, a tendência é queesse quadro se agrave ace-leradamente.

Como um dos grandespalcos dos processos eco-nômicos contemporâneos,temos as cidades, comopólos de desenvolvimentoe espaços de sobrevivênciade um número cada vezmaior de pessoas. Para seter uma idéia, um estudo di-vulgado pelo Fundo de Po-pulação das Nações Unidas(UNFPA, ver http://www.unfpa.org.br)indica que, em2008, mais da

metade da população vi-verá em áreas urbanas,ou seja, algo em torno de3,3 bilhões de pessoas.Segundo a mesma pes-quisa, esse número deve-rá chegar a 5 bilhões dehabitantes em 2030. Atítulo de comparação, aexpectativa é de que apopulação mundial, ur-bana e rural, chegue a 9bilhões em 2050.

Duas observações sedestacam no estudo feitopelo UNFPA: 1) o aumen-to da população será mai-or entre as camadas maispobres; 2) o crescimentodas cidades não virá dachegada de mais migran-

tes, ou seja, osatuais habitantessustentarão ocrescimento.

Demandas daexplosão urbana

Não é preciso ser umgrande especialista emgeografia humana paraperceber os riscos do cres-cimento populacional noscentros urbanos. Os e-xemplos de desigualdadesocial e degradação do am-biente são muitos; qual-quer habitante de uma árearelativamente urbanizadaos conhece. Portanto, de-vemos refletir sobre os ca-minhos para se evitar ouatenuar as conseqüênciasda concentração urbana.Mais do que isso, precisa-mos nos perguntar sobreo papel das comunidadescristãs na luta por condi-ções mais justas de sobre-vivência humana.

A cidade como fonte de esperançae campo missionário

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Se, como indicam aspesquisas, o crescimentodas cidades é inevitável, anossa ação deve tentarimpedir a expansão urba-na desordenada. É crucial,antes de mais nada, aten-tar para a situação da po-pulação carente e ao cres-cimento dela sem as con-dições adequadas de mo-radia. Pode-se destacar,por exemplo, a necessida-de de melhorias nas estru-turas de saneamento, sis-tema rodoviário, transpor-te público, fornecimentode energia elétrica e cole-ta de lixo. É óbvio que nãose trata de uma tarefa sim-ples. No entanto, somen-te de maneira planejada,envolvendo o poder pú-blico em todas as suas ins-tâncias, o setor privado ea sociedade civil organiza-da, é que conseguiremosfrear a destruição defini-tiva do ambiente ou o caosnas cidades.

O que supostamente éo pior dos cenários, porincrível que pareça, trazparte da solução. É nascidades que está, em tese,a saída para um uso maisadequado do ambiente. Orelatório apresentado peloUNFPA vê na concentra-ção urbana uma tensãoentre “desolação” e “espe-rança”. Se por um lado aconcentração pode au-mentar a insegurança, vio-lência ou problemas am-bientais, por outro, as ci-dades são mais propíciaspara a participação sociale política, oferecem me-lhores serviços de saúde e,em alguns casos, maisoportunidades de trabalho– ainda que as taxas de

desemprego sejam altas.Um dos maiores inte-

lectuais brasileiros, o geó-grafo Milton Santos, tam-bém via nas concentra-ções urbanas, e tambémna proximidade propicia-da pelos atuais meios decomunicação, uma opor-tunidade: “O cotidiano decada um se enriquece pelaexperiência própria e pelado vizinho, tanto pelas re-alizações atuais como pe-las perspectivas de futu-ro”. Em outras palavras, aproximidade leva à per-cepção das diferenças, aoquestionamento da reali-dade e, quem sabe, a umanova forma de se pensaras relações humanas.

De fato, até do pontode vista ambiental, a con-centração urbana tende acausar menos problemasdo que a ocupação de re-giões muito extensas. Alógica é simples: o aumen-to do número de habitan-tes por metro quadradoem cidades, ou seja, demaneira concentrada,atinge um menor númerode ecossistemas porqueocupa um espaço de terralimitado. Além disso, aconcentração também fa-vorece a busca de soluçõesplanejadas e comuns.

E os cristãoscom isto?

O planejamento ante-cipado das cidades exigeuma nova postura dosgovernantes, mas não ésuficiente para resolver osproblemas senão mudarmos anossa culturaconsumista e a

relação com o ambiente.Portanto, a possível contri-buição das comunidadescristãs está tanto no acom-panhamento das políticaspúblicas municipal, estadu-al e federal, quanto na lutapela promoção de práticasde consumo e de organi-zação social mais justas.

A nossa responsabili-dade pela Criação remon-ta a uma das atribuiçõesdelegadas aos seres huma-nos por Deus (Gênesis1.26). O compromissocom a cidade também foiregistrado em diversos re-latos bíblicos (Jeremias29.7; Hebreus 13.14). Natradição cristã wesleyana,a preocupação de JohnWesley com a Londres doséculo XVIII tem o seumaior exemplo na Fundi-ção, sede do movimentometodista que contavacom projetos de educaçãopopular, saúde, dentreoutras atividades.

A atuação dos cristãose cristãs metodistas podese ancorar em premissasainda mais fundamentais.A Boa Nova trazida porJesus Cristo tem por ins-piração primeira o amorao próximo; sua mensa-gem é de esperança e pro-moção da vida. Mais doque palavras, temos emCristo um testemunhomarcado por ações quetransformaram o mundo.Hoje, há que se promoveruma nova transformaçãoradical do mundo; há quese reinventar uma culturade séculos de consumo

d e s e n f r e a d o ,marcada pela fal-ta de atenção aosrecursos naturais

da Terra e desprezo pelascondições de vida dosmais pobres.

Não se trata apenas dereduzir o consumo aquiou ali. Sabe-se, por exem-plo, que se todos os habi-tantes do planeta atingi-rem o padrão de vida dasclasses médias de paísesdesenvolvidos não haverárecursos naturais suficien-tes na Terra para dar con-ta de tamanha demanda deenergia. Não é difícil per-ceber isso. Vejam os pro-blemas que já temos eimaginem cada famíliacom dois carros, TV, ge-ladeira, computador,DVD etc.

É preciso planejar ocrescimento das cidades,buscar fontes de energiarenováveis, estimular oplanejamento familiar, areciclagem, mas tambémmudar a cultura consu-mista de valorização desupérfluos e desperdício.Cabe às comunidadescristãs o compromissocom o anúncio da espe-rança, a fiscalização dasações dos poderes públi-cos, a atenção aos maispobres, mas também otestemunho, por ações epalavras, de práticas deconsumo que revelem oAmor pela vida. Um dosnossos principais camposmissionários? A cidade.

Fábio B. Josgrilberg é leigo me-todista, doutor em Ciências da Co-municação e professor da Univer-sidade Metodista de São Paulo. Éum dos criadores e editores doPortal Fundição – Fé, Cidadania eAção - http://fundicao.jor.br

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Declaração do Conselho Mundial de Igrejas

O texto a seguir éuma declaraçãoaprovada na 9ª

Assembléia do ConselhoMundial de Igrejas, reali-zada no Brasil, em feverei-ro de 2006. O documen-to denuncia o problemada escassez de água nomundo, que é uma dasmais graves questões am-bientais do presente.

Declaração sobreágua para a vida

1. A água é símbolo davida. A Bíblia afirma quea água é a fonte de vida,expressão da graça de

Deus concedida perpetu-amente a toda a criação(Gn 2.5ss). É a condiçãobásica de toda a vida so-bre a terra (Gn 1.2ss) e háde ser conservada e com-partilhada em benefício detodas as criaturas e de todaa criação. A água é fontede saúde e bem-estar eexige de nós, os seres hu-manos, uma ação respon-sável, como co-participan-tes e sacerdotes da Cria-ção (Rm 8.19ss, Ap 22).Como igrejas, somos cha-mados a partici-par na missão deDeus e engen-drar uma nova

criação na qual se assegu-re, a todos, vida em abun-dância (João 10.10; Amós5.24). Por isso, é precisodenunciar e atuar quandoa água que dá a vida se vêameaçada de forma tãosistemática e generalizada.

2. O acesso à água po-tável é uma questão cadavez mais urgente em todoo planeta. A sobrevivên-cia de 1 bilhão e 200 milpessoas se encontra atual-mente em perigo por fal-ta de serviços suficientesde água e saneamento. Oacesso desigual à água cau-sa conflitos entre pessoas,comunidades, regionais enacionais. Também a bio-diversidade está ameaçadapor causa do esgotamen-to e da contaminação dosrecursos de água doce oudos efeitos das grandesbarragens, da mineraçãoem larga escala e do plan-tio intenso (irrigação), oque freqüentemente pro-voca o desalojamento for-çado de pessoas e trans-tornos ao ecossistema. Aintegridade e o equilíbriodo ecossistema são cru-ciais para garantir o aces-so à água. As matas cons-tituem uma parte indis-

pensável doecossistema deáguas e é neces-sário protegê-las.

Contribuem para agravara crise as mudanças climá-ticas e a intensificação deseus efeitos por conta defortes interesses econômi-cos. A água é tratada, cadavez mais, como um bemcomercial sujeito a condi-ções de mercado.

3. A escassez de águaé também uma fonte cres-cente de conflitos. Osacordos sobre cursos deágua e bacias fluviais inter-nacionais devem ser maisconcretos, estabelecer me-didas para se fazer cumpriros tratados e incorporarmecanismos detalhados desolução de conflitos em ca-sos de controvérsias.

4. Há respostas positi-vas e criativas, tanto noâmbito local como no in-ternacional, que dão rele-vância ao testemunhocristão sobre os proble-mas da água.

5. As igrejas do Brasile da Suíça, por exemplo,fizeram uma DeclaraçãoEcumênica Conjunta so-bre a Água como DireitoHumano e Bem Públicocomum, que constitui umexcelente exemplo de co-operação ecumênica. OPatriarca Ecumênico Bar-tholomew afirma que aágua nunca pode ser con-siderada ou tratada comopropriedade privada nem

Água para a vida

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se converter em meio efim de interesses indivi-duais. Ele sublinha que aindiferença frente à vitali-dade da água constitui tan-to uma blasfêmia contra oDeus Criador, como umcrime contra a humanida-de. As igrejas de váriospaíses e seus ministériosespecializados se uniramem uma Rede da Águapara trabalhar em favorda provisão de água po-tável e de serviços sanitá-rios adequados e defen-der o direito à água. Oacesso à água é certamen-te um direito humano. AOrganização das NaçõesUnidas estabeleceu a ce-lebração de uma DécadaInternacional para a Ação“A água, fonte de vida”,2005-2015.

6. É imprescindívelque as igrejas e os orga-nismos cristãos traba-lhem unidos e cooperemcom outros co-partici-pantes, incluídas outrastradições religiosas, e asONGs, em particular asorganizações que traba-lham com populaçõesvulneráveis e marginaliza-das, que têm convicçõeséticas similares. É neces-sário empenhar-se em de-bates e atividades em rela-ção com as políticas hi-drológicas, incluindo o di-álogo com os governose instituições multilateraise empresariais. Isto é es-sencial para promover aimportância do direito àágua e colocar em destaqueoutras formas possíveis deviver, que são muito maisrespeitosas com os proces-sos ecológicos e mais sus-tentáveis a longo prazo.

Resolução

A 9ª Assembléia doConselho Mundial deIgrejas, reunida em PortoAlegre, Brasil, de 14 a 23de fevereiro de 2006:• aprova a declaração so-

bre a Água para a Vidae pede às igrejas e as-sociados ecumênicosque trabalhem unidoscom o fim de:

a) promover a conscien-tização e adotar todasas medidas necessáriaspara conservar os re-cursos hídricos e pro-tegê-los do consumoexcessivo e da contami-nação como parte inte-grante do direito à vida;

b) empregar esforços desensibilização para aelaboração de instru-mentos e mecanismosjurídicos que garantamo cumprimento do di-reito à água como di-reito humano funda-mental em nível local,nacional, regional e in-ternacional;

c) fomentar a cooperaçãodas igrejas e dos inter-locutores ecumênicosnos objetivos relacio-nados à água median-te a participação naRede Ecumênica daÁgua;

d) apoiar iniciativas base-adas nas comunidades,destinadas a potencia-lizar a população localpara que controle, ge-rencie e regule de ma-neira responsável osrecursos hídricos, eimpedir suaexploraçãopara fins co-merciais;

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DECLARAÇÃO

BRASIL-SUÍÇA

A Declaração sobre Água para a Vidamenciona a assinatura da DECLARAÇÃO

ECUMÊNICA SOBRE A ÁGUA COMODIREITO HUMANO E BEM PÚBLICO pelas

igrejas do Brasil e da Suíça. Essedocumento foi assinado em abril de

2005, em reunião promovida na cidadede Berna (Suíça), relacionada à Década

Internacional para a Ação

“A ÁGUA, FONTE DE VIDA”,2005-2015.

Assinam a declaração o ConselhoNacional de Igrejas Cristãs do Brasil, aConvenção de Igrejas Evangélicas da

Suíça, a Conferência Nacional de BisposCatólico-Romanos do Brasil e a

Conferência dos Bispos Católico-Romanos da Suíça.

Para acessar esse documento,basta visitar o link:

http://www.conic.org.br/index.php?system=news&news_id=

279&action=read

e) desafiar governos eorganismos internaci-onais de ajuda paraque dêem prioridadee designem fundossuficientes e outrosrecursos a programasencaminhados paraque as comunidadeslocais tenham acessoà água e promovertambém o desenvol-vimento de sistemas eprojetos de serviçossanitários adequados,considerando as ne-cessidades das pesso-

as com deficiên-cia para que te-nham acesso aesses serviços

de água doce e sani-tários;

f) acompanhar as con-trovérsias e os acordosrelacionados a recur-sos hídricos e a baciasfluviais, com a finalida-de de garantir que taisacordos contenhamdisposições detalha-das, concretas e claraspara a solução dosconflitos;

g) contribuir com a Dé-cada Internacionalpara a Ação “A água,fonte de vida”, 2005-2015, examinando edestacando as dimen-sões éticas e espirituaisdas crises de água.

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Ano 15, no 39, junho/setembro de 2007

Educação

Josué Adam Lazier

A fábula de Jotão(Juízes 9.7-15) de-nuncia as ações de

um dos filhos de Gideãoque se utilizou de expedi-entes reprováveis para as-sumir a liderança do povoe, para isto, contou com aomissão das lideranças dasfamílias naquela época. Ofilho mais novo do juizmorto, que havia consegui-do livrar-se das loucuras doirmão mais velho, Abi-meleque, começou a con-tar a fábula das árvores paraadvertir o povo sobre aspropostas de governo deseu irmão. Jotão comparou-as ao espinheiro, que nãoproduz nada além dos es-pinhos, ao contrário das ou-tras árvores da fábula, a oli-veira, a figueira e a videiraque produzem bons frutos.

Nesta reflexão queroapropriar-me da mensa-gem da fábula e compará-la ao mercado educacionalque cresce em nosso paíse transforma a educaçãoem produto de vendagense de aplicação em bolsasde valores, ao espinheiro.Considero que a educaçãopreconizada pela IgrejaMetodista, e definida nosdocumentos Plano para aVida e Missão e Diretrizespara a Educação na IgrejaMetodista, é a boa árvore,cujos frutos podem sersimbolizados nos da oli-veira, da figueira e da vi-deira. É claro que não é so-mente a IgrejaMetodista quepreconiza umaeducação nestesníveis de resistên-

cia ao mercado, há outrasinstituições confessionaisque também o fazem.

Da mesma forma quecresce o mercado educa-cional, ou a proposta doespinheiro, crescem tam-bém as preocupações deque esta tentação e ten-dência cheguem aos arrai-ais confessionais, incluin-do aí o metodista. Crescetambém a desconfiança deque a Igreja, como insti-tuição humana, que traba-lha com o sagrado, nãoconsiga resistir aos apelosdo mercado e sucumbaante as propostas do “es-pinheiro”. Considero que

isto não seriapossível levan-do-se em contaque a Igreja, hámuitos anos,

abandonou o cumprimen-to da sua missão, em for-ma de finalidades, parauma concepção maisabrangente a partir do Rei-no de Deus, que é o eixocentral da sua missão e arazão de ser Corpo Vivo deCristo, ou estaria engana-do quanto a isto?

Educação emissão

Quando falo em mis-são estou me referindo àeducação também, poisela está inserida na con-cepção de missão que aIgreja Metodista preconi-za. O Plano para a Vida eMissão, vigente desde1982, assim se expressa:

A Educação como parte daMissão é o processo quevisa oferecer à pessoa e co-munidade, uma compreen-são da vida e da sociedade,comprometida com umaprática libertadora, recrian-do a vida e a sociedade, se-gundo o modelo de JesusCristo, e questionando ossistemas de dominação emorte, à luz do Reino deDeus (Plano para a Vida eMissão, item C).

Com relação à educa-ção, a Igreja Metodistaabandonou uma tendên-cia liberal e individua-lizante desde a aprovaçãodo documento com as Di-retrizes para a Educação

Não há lugar para o espinheiro

Edição de imagem: Jovanir Lage

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em 1982 e, ao fazer isto, ex-purgou os seguintes ele-mentos dessa tendência:

preocupação individualistacom a ascensão social;acentuação do espírito decompetição; aceitação doutilitarismo como normade vida e colocação do lu-cro como base das relaçõeseconômicas (Diretrizes paraa Educação na Igreja Meto-dista, item III).

Desta forma, as basesbíblico-teológicas quefundamentam o docu-mento indicam uma prá-tica educativa vinculadaaos valores do Reino deDeus e não aos do merca-do e contrapõem movi-mentos que anseiam poruma educação na perspec-tiva do neoliberalismo.

Missão vstensões epressões

Logicamente, a Igrejaé instituição formada porpessoas sofrem todo tipode pressões e tensões.Como em qualquer insti-tuição, também na Igrejahá sempre movimentos detransformações e disputasinternas pelo poder e pelostatus que a religião confe-re aos seus líderes. Mas háaqueles/as que resistem eajudam a Igreja a superarestes momentos. Destaforma, considero que aproposta do “espinheiro”não encontra guarida em

nosso meio, institu-cionalmente falando. Paraque isto viesse a ocorrerseriam muitas as rupturas.Elenco algumas:1. O Reino de Deus teria

que deixar de ser o eixocentral da missão daIgreja e das ações edu-cativas, pois uma mis-são vivenciada na pers-pectiva da justiça des-te Reino não combinacom valores mercan-tilizados da nossa so-ciedade. Ao assumirvalores mercantilistas aIgreja se transformarianum grupo de pesso-as acentuadamente in-dividualistas e não seidentificaria mais co-mo povo de Deus;

2. Algumas páginas doEvangelho de Cristoteriam que ser jogadasfora, pois ele advertesobre o “deus” do pre-sente século que é opoder monetário, omercado que desgraçaa vida das pessoas, eorienta para uma vidaem sociedade onde aética, o respeito e avida são prioridades;

3. Parte da herança quenutriu os metodistasem quase 300 anos dehistória e de serviçosprestados aomundo, sejapor meio daevangeliza-

ção, da educação, dotrabalho social e dapresença sacerdotal eprofética na sociedade,teria que ser apagadada nossa memória;

4. Documentos construí-dos de forma coletiva,participativa, reflexiva,confessional e proféti-ca, que amadurecerame deram respaldo teo-lógico à missão, teriamque ser desrespeitados.Como exemplo, cito odocumento Diretrizespara a Educação na Igre-ja Metodista que afirmao seguinte:Não se pode mais aceitaruma educação elitista, quediscrimina e reproduz a si-tuação atual do povo brasi-leiro, impedindo transfor-mações substanciais emnossa sociedade. Tambémnão podemos nos confor-mar com a tendência quefavorece a imposição dacultura dos poderosos, im-pedindo a maior participa-ção das pessoas e aumen-tando cada vez mais seu ní-vel de dependência (Diretri-zes para a Educação na IgrejaMetodista, item IV);

5. A experiência pessoalde milhares de pesso-as com a gratuidadedo amor de Deus e,portanto, transforma-dora da vida e das re-

lações, teria queser anulada defi-nitivamente.

Para que tu-Educação

do isto acontecesse, diver-sos Concílios Gerais daIgreja Metodista teriamque ser realizados. Mesmoque em alguns houvesseretrocessos, em outroshaveria avanços mais sig-nificativos. Tem sido as-sim a história dos concíli-os metodistas.

Diante disto, está cla-ro para mim que a opçãoda Igreja, para todas assuas áreas de missão, épela proposta da oliveira,da figueira e da videira, ouseja, pelos frutos da cida-dania, da solidariedade, datolerância, da vivência depaz, da convivência deamor, da fraternidade, dadialogicidade, do com-panheirismo e da sinaliza-ção do Reino de Deus. As-sim se combate os proje-tos do espinheiro, que es-tão presentes em nossa so-ciedade e que seduzem aIgreja, seja na área educa-cional ou em qualqueroutra da vida ou da mis-são. Não há lugar para oespinheiro entre nós. Queele seja anátema, bemcomo toda tentativa de ne-gação da identidade econfessionalidade que ca-racteriza o povo chamadometodista.

Josué Adam Lazier é Bispo Ho-norário da Igreja Metodista e pro-fessor da FaTeo na área de Edu-cação Cristã.

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Ano 15, no 39, junho/setembro de 2007

Reflexão

Welinton Pereira da Silva

A frase acima não éminha, foi inspira-da em uma faixa

exposta durante um jogono Maracanã com quaseos mesmo dizeres.

Está na ordem do diaa discussão sobre a maio-ridade penal. É incrível vercomo um tema toma con-ta da população com amídia que ateia fogo nocirco armado, incentivan-do o espírito de vingançae raiva. Vendem-se jornais,revistas e pontos no Ibopena apresentação de solu-ções simplistas; o clamorpopular ou a opinião pú-blica como um deus dese-joso de sacrifício exigemudanças já; na socieda-de do “fast food”, a crimi-nalização dos “menores”surge como a grande sal-vadora da pátria; o Con-gresso Nacional que senotabilizou por absolverseus pares mensaleiros eem não votar nada a nãoser as medidas provisóriasdo Executivo, votou trêsalterações na lei de segu-rança em apenas 24 horas.

O psicanalista e colu-nista do jornal Folha de SãoPaulo Contardo Galligarisdenuncia a hipocrisia denossa sociedade, citando

Michel Foucault, ao afir-mar que “ a prisão é umainstituição hipócrita desde

sua invenção moderna, elaprotege o cidadão, evitan-do que os lobos circulem

pelas ruas, pune o crimi-noso, constrangendo seucorpo, mas nossa alma

“Olho por olhoe acabaremos todos cegos”

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“generosa” dorme melhorcom a idéia de que a pri-são é um empreendimen-to reeducativo, no qual asociedade emenda suasovelhas desgarradas”.Quem conhece nossasprisões superlotadas eimundas sabe que as mes-mas funcionam comoverdadeiros depósitos deseres humanos, para nãodizer uma universidadedo crime.

Ficamos todos angus-tiados e revoltados commortes como a de JoãoHélio, que teve sua vidaceifada de maneira tão trá-gica e violenta (arrastadonum carro, preso pelo cin-to de segurança) com ape-nas seis anos de idade.Mas será que os que de-fendem a redução da mai-oridade penal realmenteacreditam que isto vai re-solver nossos problemasde violência e inseguran-ça? Será que a ida de nos-sos adolescentes para ascadeias mais cedo vai aju-dar na reeducação deles?

Se analisarmos os da-dos das Secretarias de Se-gurança Pública de nossosestados vamos constatarque o índice de crimescometidos por adolescen-

Reflexão

tes é infinitamente menordos que os praticados poradultos. Esse tipo de cri-me é, portanto, uma pe-quena ponta do iceberg daviolência, da insegurançae da corrupção presentesem nossa sociedade. Cer-tamente, se desejarmos re-solver, de fato, a questãoda criminalidade nas gran-des cidades, nossa reflexãoe atuação precisa ser bemmais séria e responsável enão resultar na hipocrisiaque presenciamos princi-palmente da parte dosnossos dirigentes que vêma público fazer propostasque eles mesmos sabemque não são viáveis.

Revi recentemente ofilme “174” que retrata oepisódio vivido pelos pas-sageiros do ônibus no Jar-dim Botânico, no Rio deJaneiro, os quais Sandro,ex-menino de rua e sobre-vivente da Chacina daCandelária faz reféns. Éimpressionante a sucessãode erros e a falta de equi-pamentos da Polícia Mili-tar que estava atuando nocaso. O desfecho foi o as-sassinato de Sandro e deuma refém quando o casoestava praticamente resol-vido. Certamente aquela

jovem estudante não esta-ria morta, não fosse a açãoatabalhoada dos policiaisatuantes no caso.

Com toda indignaçãoque tais casos devem nosprovocar, e com solidari-edade às famílias, gostariamuito que houvesse amesma indignação e revol-ta contra todas as injusti-ças e corrupção que têmassolado o nosso país, quetêm jogado e mantido pes-soas na cadeia sem a me-nor chance de recupera-ção. Precisamos dar umbasta à hipocrisia se dese-jamos resolver os proble-mas da violência e segu-rança. É consenso entreos que conhecem minima-mente nossas instituiçõesque o problema não estána lei e sim nas instituiçõespúblicas que não funcio-nam. É grande a sensaçãode impunidade; a mudan-ça na lei pode até dar à so-ciedade a sensação de terresolvido a questão mascertamente o problemapersistirá.

Numa sociedade emque poucos são muito ri-cos e muitos são muitopobres, em que a sensaçãode impunidade tornou lu-gar comum, não basta

mudar as leis de seguran-ça; nossa mudança preci-sa ser bem mais profun-da, uma verdadeira con-versão como propõem osEvangelhos: Certa vez res-pondendo à pergunta dos dis-cípulos sobre “quem era o mai-or no Reino de Deus” Jesuschamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse: eu lhesgaranto: se vocês não se conver-terem e não se tornarem comocrianças, vocês nunca entrarãono Reino dos Céus (Mt. 18.2).

Espero que aconteci-mentos recentes, como amorte de João Hélio e oassassinato da avó por ummenino de 12 anos a fa-cadas depois de ter chei-rado solvente (prática co-mum entre meninos quevivem nas ruas) desper-tem nossa sociedade des-se sono profundo da in-diferença.

Welinton Pereira da Silva é pastormetodista e assessor de RelaçõesCristãs da ONG Visão Mundial.

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Ano 15, no 39, junho/setembro de 2007

Crônica

Paulo Ayres Mattos

O Papa Bento XVI, como era de se es-perar, continua aprontando das suas. Claroque por trás da nota do Santo Ofício está não

o dedo mas toda a mão de Bento XVI. O que mais meimpressionou nesta última ação não foi a declaração daIgreja de Roma como a única verdadeira Igreja, mas,sim, de publicamente manifestar sua aversão con-tra Leonardo Boff, único teólogo católico contempo-râneo que tem explicitamente citada no documento umaobra sua Igreja, Carisma e Poder. Parece que Ratzinger nãoperdoa o Boff de verdade e de jeito nenhum!

Mas, deixando de lado afalta de amor (como se issofosse possível a um cristão oucristã), quanto ao conteúdo damensagem, “nada de novo noquartel de Abrantes”, isto é, noVaticano. Só explicita o que jáestá dito nos documentoseclesiológicos do Vaticano II.E nisso a nota está cem porcento correta. Somente quemnão leu tais documentos estra-nha o conteúdo da mensagem,que, aliás, o CardealRatzinger, já em 2000, tinha ex-posto na sua Dominus Iesus. Nasminhas aulas de ecumenismo quando trato doVaticano II e o ecumenismo peço aos alunos e alunaspara lerem a Lumen Gentium e a Unitatis Redintegratio eidentificarem o que mudou e o que não mudou naeclesiologia católica no Vaticano II. E aí fica claroque a Igreja de Roma no Vaticano II não abriu mãode ser a única Igreja onde subsiste a verdadeira Igrejade Cristo.

O problema não é o conteúdo mas o contexto emque a mensagem é publicada. E é aí que tudo se com-plica. É claro que o que está em jogo é a perda depoder que o catolicismo e todas as demais mainlinechurches (“igrejas principais”), estão sofrendopelo mundo afora, inclusive a Metodista, comperda de membros e/ou de influência na so-ciedade. É a situação também daquelas que

estão crescendo numericamente mas não conseguemconviver com o avanço dos direitos humanos indivi-duais e sociais, como no caso das fundamentalistas eneo-pentecostais. É a luta contra a modernidade e após-modernidade. A luta contra a possibilidade de sesuspeitar das verdades de cada uma dessas igrejas juraser a revelação positiva da única verdade divina.

Mas também para nós, na América Latina, a mensa-gem tem de ser considerada no contexto da recente Con-ferência Episcopal de Aparecida a partir da qual fica cla-ro o buraco que o pentecostalismo, em suas diferentes

versões, tem aberto na Cristan-dade Católico-Romana daAmérica Latina. Com as deci-sões de Aparecida é claro queo Catolicismo Romano Latino-Americano está pretendendoentrar para valer na competiçãopela clientela do mercado debens religiosos e disputar comoutras religiões, particularmen-te com o pentecostalismo, aparte que pensa “lhe caber nes-te latifúndio religioso”. Daí ne-gar a eclesialidade de todas asdemais Igrejas não-Romanas, e,especialmente, as pentecostais.

Ora, qualquer movimento ecumênico sério nosdias de hoje não pode deixar de reconhecer a legiti-midade eclesial de grande parte das Igrejas Pente-costais, mesmo que muitas vezes se venha discordarde suas práticas e doutrinas. Mas não, “paraestancar minha hemorragia, sangro o meu próximo!”Aí é cada um por si e salve-se quem puder! Farinhapouca, meu pirão primeiro! “Homessa”, diria o Eça,“eitcha lógica besta!”

Sou ecumênico e continuarei a ser ecumênico nãopor causa disto ou daquilo que essa ou aquela Igrejadiz ou deixa de dizer, faz ou deixa de fazer, principal-

mente do que a minha ou a Igreja de Ro-ma pensa ou deixa de pensar! Sou ecumênicoe continuarei ecumênico porque creio que estaé a vontade de Jesus Cristo expressa no Evan-

A Igreja Metodista no Brasile a encruzilhada entreBento XVI e o G-12

Com as decisões deAparecida é claro que o

Catolicismo RomanoLatino-Americano está

pretendendo entrar paravaler na competição

pela clientela domercado de

bens religiosos

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Crônica

gelho, e, no meu caso de metodista, porque o funda-dor da “minha seita”, John Wesley, foi um homem deespírito católico, que sem abrir mão de suas profundasexperiências e convicções teológicas, que animaramtodo o seu ministério de evangelista e avivalista,pensou e deixou os outros pensarem, a ponto de, dis-cordando das doutrinas e práticas da Igreja de Roma,criticando-as radicalmente em diversos de seus escri-tos ao longo de seu ministério, no final de sua vida, nosermão “Sobre a Igreja” não ousar negar a eclesialidadeda Igreja de Roma e excluí-lada Igreja Católica (Universal)de Cristo! Por isso, creio quenão se pode nunca esquecerque, acima de tudo, o Evan-gelho do Reino de uma novavida foi vivido e proclamadopor Jesus no meio dos pobres,dos doentes, dos endemo-niados, dos herejes, dos ré-probos, dos excluídos, dasprostitutas e publicanos,marginalizados pela socieda-de e religião de sua época.

Portanto, em fidelidade aoEvangelho e ao MetodismoHistórico, sou e continuareisendo ecumênico! E não adi-anta os irmãos e irmãs anti-ecumênicas ficarem a bater palmas por causa da farra-pada anti-ecumênica de Bento XVI e a pensar que agorase pode “lançar uma pá de cal sobre os remanescentesamantes da Igreja Católica e do ecumenismo”. Respei-tando e defendendo veementemente o direito de ter-mos opiniões diferentes sobre assuntos de doutrina eprática, creio que não é assim que vamos no espíritode Cristo resolver nossas diferenças. Se repugnamosveentemente o Santo Oficio Romano, com muito maisrazão devemos repugnar o Santo Ofício Metodista,pois não foi caça às bruxas, de um lado ou deoutro, que o Concílio Geral da IgrejaMetodista no Brasil, por exemplo, decidiu!

Ao mesmo tempo, contudo, o respeito à

diferença não significa indiferença frente a doutrinasque ferem o metodismo histórico como é o caso docripto-movimento G-12 crescente em diferentes regi-ões da Igreja Metodista brasileira, que, como se escon-dendo por trás da prática wesleyana de pequenos gru-pos, acaba por instituir dentro de muitas igrejas locaisuma eclesiologia da igreja em células “dentro da vi-são” e subordinadas e condicionadas às experiências de-senvolvidas nos encontros com Deus, fora do ambienteda igreja local, mas que acabam por impor sua lógica à

vida de nossas igrejas locais. Li-deranças são marginalizadas eexcluídas porque, em razão deconsciência e fidelidade àproposta de uma igreja inclu-siva de dons e ministérios, nãoaceitam submeter-se a tal lógi-ca. O argumento de que omodelo de igrejas em célulasfaz a igreja crescer numerica-mente é freqüentemente ou-vido e justifica uma série deatropelos na vida de nossasigrejas locais. A lógica de queo que funciona é por si mes-mo bom, não resiste à lógicado Apóstolo quando ele afir-ma “tudo me é lícito, masnem tudo me convém”!

E ficamos nós, metodistas brasileiros, na mesmaencruzilhada do primitivo metodismo norte-america-no quando, entre a escravatura e o crescimento da Igre-ja, optou pelo crescimento numérico, preferindo seruma igreja grande do que ser povo em santidade, tudosob as vistas do Bispo Asbury, que um dia teria ditoque preferia ter uma igreja santa ao invés de uma igrejagrande, e mais tarde se dobrou à lógica do “porquefunciona é certo”. Entre nós, mais uma vez, se repeteessa queda da graça, mais uma vez com o argumento

do crescimento numérico, e tudo isto sob oguarda-chuva de um programa de discipulado.Estamos cada vez mais engolfados pela ten-tação de ser uma Igreja grande ao invés de

Qualquer movimentoecumênico sério nosdias de hoje não pode

deixar de reconhecer alegitimidade eclesialde grande parte dasIgrejas Pentecostais,mesmo que muitas

vezes se venhaa discordar de suaspráticas e doutrinas.

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Ano 15, no 39, junho/setembro de 2007 )

uma Igreja Santa. E nos esquecemos de que grande-za não faz parte das marcas da Igreja, mas santidadesim!

E, surpreendentemente, entre os irmãos e irmãsque atacam o ecumenismo muitos há que promovem,ardentemente em suas igrejas e regiões, a adoção domodelo G-12 das igrejas em células. Entretanto, creioque não se trata de demonizar a proposta do G-12,mas de deixar claro, como já o fez o Colégio Episco-pal da Igreja Metodista em outras circunstâncias, quese esta proposta é válida para outros grupos cristãos,ela não é e não pode ser a eclesiologia da Igreja Meto-dista no Brasil. Isso porquefere frontalmente a propostade uma igreja em dons e mi-nistérios que é inc lusivapor reconhecer que todosos crentes, mulheres e ho-mens, crianças, jovens, adultose idosos, como diria Wesley,independente de seu grau defé, somos todos parte do Povode Deus. Portanto, nenhumpastor ou pastora, nenhumleigo ou leiga, tem permissãopara promover dentro de nos-sas regiões e igrejas locais aadoção e desenvolvimento dequalquer prática eclesiásticaque seja excludente.

No fundo a lógica de Ben-to XVI é a mesma dos defensores do G-12. O que fornecessário se fazer para ou evitar-se a evasão de mem-bros ou fazer a igreja crescer numericamente, é lícito eválido, não importando a que preço ou qualquer outraconsideração eclesiológica e missionária. É por isto quetanto Bento XVI como os anti-ecumênicos e pratican-tes do cripto-G-12 têm uma comum agenda ultra-con-servadora, quase ou totalmente fundamentalista, e com-partilham causas comuns tanto no nível da Igreja como

Crônica

da sociedade. E todos que ousam não se pautar por talagenda são considerados inimigos que devem ser var-ridos, como no caso de Boff ou como no caso da par-ticipação metodista no Conselho Nacional de IgrejasCristãs (CONIC).

No fundo ambos acreditam e praticam a guerrasanta seguindo a lógica da Batalha Espiritual, tão emvoga entre nós. É por isso que anti-ecumênicos esfre-gam suas mãos radiantes com a declaração da Igrejade Roma sobre sua exclusiva eclesialidade, apregoamo fim do ecumenismo, e querem lançar uma pá de cal,claro que sobre o cadáver, de quem pensa diferente. A

que ponto nós chegamos! Creioque todos nós que amamos aIgreja e queremos ver a paz rei-nar entre nós pautados pelo ló-gica da santidade de coração evida, mediante o amor a Deus eao próximo, de maneira particu-lar aos “inimigos”, devemos re-jeitar a lógica da batalha espiri-tual, venha de onde vier.

Oro para que a ComissãoEspecial nomeada pelo ColégioEpiscopal para assessorá-lo noencaminhamento da questãoecumênica na Igreja Metodistano Brasil, não se deixe levar nempela lógica de Bento XVI nempela lógica daqueles que queremvarrer da Igreja os que creêm

que o metodismo é por natureza ecumênica e, a exem-plo de Wesley, rejeitam negar a eclesialidade da Igrejade Roma apesar de suas errôneas doutrinas e prá-ticas anti-biblicas.

Paulo Ayres Mattos é Bispo Emérito da Igreja Metodista, doutorandoem Teologia e professor licenciado da FaTeo para a conclusão da tesede doutorado.

Estamos cada vezmais engolfados

pela tentação de seruma Igreja grandeao invés de uma

Igreja Santa. E nosesquecemos de que

grandeza não fazparte das marcas da

Igreja, massantidade sim!

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Publicações

Wesley e o MundoAtual

Theodore W. Jennings Jr.

Wesley é cada vez mais re-conhecido como pensadorque soube articular diferentesfaces da herança cristã compráticas missionárias à alturados desafios enfrentados poruma sociedade em aceleradoprocesso de transformação. Omais curisoso é que o carátersistemático de sua teologia e asua decisiva orientação para apráxis da fé, antes vistos comosua mais evidente fraqueza,são hoje grandemente valori-zados. Não é de se admirar,portanto, que numa época decrise como a nossa, Wesley sejamais uma vez reinterpretado eque a sua contribuição sejaposta à prova, inclusive na ilu-minação de questões sobre asquais ele mesmo não refletiudiretamento ou que não esta-vam presentes em seu hori-zonte imediato.

Lançamentos da Editeo em 2007

Revista Caminhandono. 19

A revista Caminhando, co-mo sempre, conta com articu-listas da Faculdade de Teolo-gia e da Pós-graduação emCiências da Religião da Uni-versidade Metodista de SãoPaulo. Além disso, este núme-ro conta com contribuições daFaculdade de TeologiaBennett, Rio de Janeiro, e daCandler School of Theology,Atlanta, EUA.

Pluralismo e amissão da Igrejana atualidade

Inderjit S. Bhogal

[Colaboradoras: Magali doNascimento Cunha eSandra Duarte de Souza]

A liberdade religiosa é umvalor importante e uma tarefacontínua. O pluralismo nãoimpede a missão e jamais nosisenta da tarefa de comparti-lhar o Evangelho com toda anação. Pelo contrário: o teste-munho cristão é uma voz afavor de transformações pro-fundas de nações, das institui-ções e de pessoas; coloca napauta nacional a complexida-de humana como seu maiordesafio que precisa ser discu-tido pelo bem de todos; afir-ma a graça divina como razãoda sua maior esperança, de quemudanças são possíveis.

Para adquirir estas obras,ligue para:

(11) 4366-5982ou envie um e-mail para

[email protected] ainda, um fax para:

(11) 4366-5962Informações sobre as recentespublicações da Editeo, com os

respectivos preços, podem ser obtidaspor meio da página eletrônica daFaculdade de Teologia da Igreja

Metodista/Umesp:http://www.metodsta.br/fateo

[clicar no menu “Editeo”]

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m o s a i c oapoio pastoral

IntróitoCântico que expresse que a comunidade está voltadapara a Palavra[Durante o cântico, dá-se a entrada da Bíblia e acendem-se as duas velas (repre-sentando as naturezas divina e humana de Cristo)

Hino: HE 140

[Leitura de Filipenses 4.4]

Palavra de acolhida

Cântico: “Alegrai-vos sempre no Senhor” [Filipenses 4.4;música de autoria desconhecida (Cânon)]

Oração de adoração

Convite à confissão: “Leitura de Marcos 9.33-34”Silêncio

Hino: HE: 251 (1ª e 2ª estrofes)

[Leitura de Tiago 3.13-4.3]

Confissão

Hino: HE: 251 (3ª e 4ª estrofes)

Palavra de graça e perdão[Leitura de Marcos 9.35-37]

Louvor[Dois cânticos que expressem a Criação, frutos, sementes - Durante o primeirocântico, entrada de cestos de flores silvestres]

Edificação

Texto base sugerido: Salmo 1Cântico de aclamação da Palavra

Prédica: Oração pela pazÓ Deus, desde que o sangue de Abel gritou a ti, do

fundo da areia que o bebeu,esta tua terra tem sido manchada pela mão de seu

irmão, e todos os séculossoluçam ante o horror sem fim da guerra. A arro-

gância dos que se assentamnos lugares de poder e a cobiça dos fortes têm sem-

pre levado nações pacíficas à matança. Os hinos do passado e a pompa dos exércitos têm

sido usados parainflamar as paixões do povo. O nosso espírito grita

a ti, em revolta contra isso,e sabemos que a nossa justa indignação reverbera

na tua ira santa.

Quebra o feitiço que embriaga as nações com a von-tade das batalhas, a qual faz delas

instrumentos de morte. Dá-nos uma mente tran-qüila, quando nossa própria

nação clama por vingança ou agressão. Fortificanosso senso de justiça e da igual dignidade

de outros povos e raças. Dá, aos que governamnações, fé

na possibilidade da paz por meio da justiça, e con-cede às pessoas comuns

um entusiasmo novo e intenso pela causa da paz.Abençoa nossos soldados

e marinheiros em sua prontidão para obedecer eseu desejo de responder

ao chamado do dever. Mas, a despeito disso, inspi-ra neles o horror pela guerra,

e que eles nunca, jamais, por amor à glória, provo-quem sua eclosão. Ó tu, Pai de todas as nações,

reúne tua grande família em torno do senso de umsangue

e um destino comuns; que a paz venha sobre a ter-ra, finalmente, e o teu sol faça brilhar a sua luz

num universal regozijo sobre uma santa irmandadede todos os povos.

[Contra a Guerra: Walter Rauschenbusch]CânticoUm que expresse o desejo e o sonho da paz no mundo

[Durante o cântico, cada um/a pega uma flor e oferece a alguém, juntamente com oabraço da paz]

Momento da comunidade

Oração final

Bênção

Poslúdio[Projeção de flores se abrindo — Saída da Bíblia e apagar das velas]

Coordenação de Liturgia da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista,em setembro de 2006. Sugestão de roteiro para o Dia Mundial de Ora-ção pela Paz em 21 de setembro de 2007.

O homem justo,a mulher piedosa

... são como a árvore plantada junto a

corrente de águas, que, na devida esta-

ção, dá o seu fruto. (Sl 1.3)