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PODER JUDICIÁRIO - JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO 01ª Vara Federal de Nova Friburgo Processo nº 0000641-84.2012.4.02.5105 (2012.51.05.000641-1) Autor: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL Réu: DERMEVAL BARBOZA MOREIRA NETO E OUTROS DECISÃO A Procuradoria da República em Nova Friburgo peticiona nos presentes autos requerendo a concessão de medida cautelar de afastamento do requerido Dermeval Barboza Moreira Neto ao exercício das funções de Prefeito deste município. Argumenta, nos termos do art. 20, parágrafo único, da Lei 8429, que o requerido agiu e age de forma a obstar, iludir e embaraçar a instrução não somente desta ação de improbidade, como das demais que responde e cuja instrução não foram ainda encerradas. Posteriormente, aditou o requerimento trazendo mais fatos, que corroborariam o afirmado. Há pedido de sigilo até a apreciação, razão pela qual retardei a digitalização das peças. DECIDO. Inicialmente, cumpre historiar que este magistrado, nos autos do processo 2011.51.05.000825-7, deferiu o afastamento do requerido Dermeval Barboza Moreira Neto, visto que, naqueles autos, restou comprovada, em juízo liminar, sua atuação com vistas a forjar documentos, notadamente montagem 941 Assinado eletronicamente. Certificação digital pertencente a EDUARDO FRANCISCO DE SOUZA. Documento No: 63293731-57-0-941-23-431567 - consulta à autenticidade do documento através do site www.jfrj.jus.br/autenticidade

MPF APONTA O CIBERAGITADOR POLÍTICO DE NOVA FRIBURGO/CONFIRA NA MATÉRIA!

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Segundo postagem de autoria de Vinicius Paiva, no Facebook, em 13/07/2012, trazida pelo MPF (anexo ao aditamento): “e outra este mesmo que se acha o tal me procurou em outubro de 2011 por saber de minha amizade com Demerval para pedir o mesmo que lhe desse a administração da região de São Pedro da Serra onde receberia R$1200,00 mensais para tal, sendo que o prefeito Demerval disse não para esse aproveitador que queria apoiá-lo nas redes sócias em troca do favor , já após receber o não começou com publicações contra o Demerval, mas será que o JORNAL NOVA IMPRENSA sabe disso senhor Clandestino? ...........háaaaaaaaaaa amor você achou que eu não fosse puxar sua ficha corrida senhor CLANDESTINO rsrsrs........agora para finalizar s

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PODER JUDICIÁRIO - JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO 01ª Vara Federal de Nova Friburgo

Processo nº 0000641-84.2012.4.02.5105 (2012.51.05.000641-1)

Autor: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL Réu: DERMEVAL BARBOZA MOREIRA NETO E OUTROS

DECISÃO

A Procuradoria da República em Nova Friburgo peticiona

nos presentes autos requerendo a concessão de medida cautelar

de afastamento do requerido Dermeval Barboza Moreira Neto ao

exercício das funções de Prefeito deste município. Argumenta,

nos termos do art. 20, parágrafo único, da Lei 8429, que o

requerido agiu e age de forma a obstar, iludir e embaraçar a

instrução não somente desta ação de improbidade, como das

demais que responde e cuja instrução não foram ainda

encerradas.

Posteriormente, aditou o requerimento trazendo mais

fatos, que corroborariam o afirmado.

Há pedido de sigilo até a apreciação, razão pela qual

retardei a digitalização das peças.

DECIDO.

Inicialmente, cumpre historiar que este magistrado, nos

autos do processo 2011.51.05.000825-7, deferiu o afastamento

do requerido Dermeval Barboza Moreira Neto, visto que,

naqueles autos, restou comprovada, em juízo liminar, sua

atuação com vistas a forjar documentos, notadamente montagem

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de processos administrativos que versavam sobre contratações

realizadas por este município por ocasião da tragédia

climática de janeiro de 2011. Ademais restou comprovado,

sempre em sede cautelar, o embaraço a órgãos fiscalizadores,

como o TCU e CGU, bem como a ausência de respostas a ofícios

do MPF e do MPRJ, sem falar de ofensas pessoais dirigidas a

um Procurador da República. Tal afastamento foi mantida em

instâncias superiores, seja pelo Tribunal Regional Federal da

2ª Região, seja pelo Superior Tribunal de Justiça, este

último limitando os efeitos da decisão ao prazo de 180 dias.

Posteriormente, o requerido veio a ser afastado por

decisões proferidas na Justiça Estadual desta comarca, tendo,

ao que se sabe, tais decisões sido confirmadas pelo Tribunal

de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

Paralelamente a tais feitos, o poder legislativo

municipal deflagrou processo político que culminou em novo

afastamento, conforme pertinente decreto-legislativo. O ora

requerido insurgiu-se contra o referido afastamento, tendo a

Justiça Estadual em Nova Friburgo repelido seu inconformismo.

Em sede de recurso perante o TJRJ, deferiu-se, em juízo de

retratação, pedido liminar para suspender o andamento do

impeacheament, instaurado no legislativo friburguense.

No dia 08 do corrente mês, o Superior Tribunal de

Justiça, em decisão da lavra do seu eminente Presidente, Min.

Ari Pargendler, concedeu a suspensão dos efeitos da liminar

proferido no processo, que tramita na Justiça Estadual1.

1 SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA Nº 1.626 – RJ (2012/0157932-

0) REQUERENTE : DERMEVAL BARBOZA MOREIRA NETO ADVOGADO : RODRIGO DE MATTOS SOARES E OUTRO(S) REQUERIDO : DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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No dia 09, o Sr. Vereador Presidente da Câmara de

Vereadores ajuizou medida cautelar n. 0013284-

42.2012.8.19.0037 (3ª Vara Civil) e Mand. Segurança n.º

0013283-57.2012.8.19.0037(2ª Vara Civil), ambos perante o

juízo estadual desta comarca, requerendo e obtendo a prolação

de medida cautelar visando obstar o retorno do ora requerido

ao cargo de prefeito, visto que a decisão do eminente

Presidente do STJ não determinava necessariamente o seu

retorno, apenas suspendia a liminar proferida em um dos

processos aos quais o requerido responde (diferentemente do

que alguns setores desinformados da imprensa sugerem),

estando em vigor o Decreto-legislativo que o afastava do

Executivo municipal.

Importante se mencionar tais fatos por dois motivos: o

primeiro, a necessidade de evitar qualquer maliciosa e

criminosa alegação descumprimento às decisões das instâncias

superiores (no caso da Justiça Federal, o TRF 2ª Região e o

STJ) e o segundo, para retratar o ambiente político-

DECISÃO 1. Os autos dão conta de que o Ministério Público do Estado do Rio

de Janeiro ajuizou ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra Dermeval Barboza Moreira Neto e outros (fl. 57/168).

(...) Na espécie, ao contrário das circunstâncias da SLS nº 1.498, RJ, a

medida carece de fundamentos concretos. A decisão da MM. Juíza de Direito está fundada em conjeturas e possibilidades, a saber:

"... caso os requeridos Dermeval e Hélio retornem ao exercício de cargo de Prefeito e Secretário Municipal poderiam prosseguir em tais condutas, causando novos prejuízos ao erário, além de terem acesso a documentos e provas que poderiam ser alteradas ou mesmo suprimidas. Poderiam ainda influenciar testemunhas com o exercício do cargo, em especial os funcionários municipais envolvidos nas contratações em tela, a serem possivelmente ouvidos no curso da instrução processual" (fl. 171).

Defiro, por isso, o pedido de suspensão, em relação ao Requerente, Dermeval Barboza Moreira Neto.

Comunique-se, com urgência. Intimem-se. Brasília, 08 de agosto de 2012. MINISTRO ARI PARGENDLER Presidente

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administrativo atual e as implicações de um eventual retorno

do requerido.

Primeiramente, tal como se fez nos autos do processo

2011.51.05.000825-7 (MINISTERIO PUBLICO FEDERAL vs. DERMEVAL

BARBOZA MOREIRA NETO E OUTROS), onde restou deferido o

afastamento do requerido, cumpre deixar claro que o

afastamento dos gestores públicos precisa obedecer ao

entendimento doutrinário e jurisprudencial consolidado em

torno do art. 20 da Lei de Improbidade, que exige atos que

demonstrem o embaraço da instrução processual. Naquela

ocasião foi exposto:

“No que concerne ao pleito de afastamento liminar dos cargos ocupados pelos requeridos DERMEVAL BARBOZA MOREIRA NETO e JOSÉ RICARDO CARVALHO DE LIMA, tal pretensão tem amparo no art. 20, parágrafo único, da Lei 8.429/92, que, ao seu turno, o prevê para “quando a medida se fizer necessária à instrução processual”.

O dispositivo enuncia o caráter genuinamente cautelar da medida de afastamento do agente público, vez que o seu manejo deve estar atrelado à finalidade de conservar a fase instrutória do processo. Seu deferimento exige a demonstração de requisitos, consistentes no receio de lesão grave ou de difícil reparação (perigo da demora), bem como na plausibilidade do direito ameaçado (fumaça do direito), ou, mais detalhadamente, “deverão estar presentes o risco de dano irreparável à instrução processual (periculum in mora), bem assim a plausibilidade da pretensão de mérito veiculada pelo (fumus boni juris)”2. Cumpre ressaltar que sobreditos requisitos devem estar devidamente comprovados, mediante a indicação de elementos probatórios aptos a demonstrar o embaraço processual e indícios da improbidade administrativa. Com efeito, “não bastam simples ilações, conjecturas ou presunções. Cabe ao juiz indicar, com precisão e baseado em provas, de que forma - direta ou indireta - a instrução processual foi tumultuada pelo agente político que se pretende afastar” (STJ, AGRSLS -857; Relator Min. Humberto Gomes de Barros; DJE de 01/07/2008). Neste sentido, a doutrina de José Antonio Lisbôa Neiva (Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Impetus, 2009, p. 213).”

Saliento, uma vez mais, que nas mais diversas

instâncias superiores resultou reconhecido acerto daquele

decisum, inclusive pelo E. STJ, que julgando SLS 1.1626 fez

referência a contrario senso ao decidido por este juízo,

quanto a existência de fundamentos concretos. Ressalto, 2 GARCIA, Emerson; ALVES, Emerson Pacheco. Improbidade administrativo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2011, p. 900.

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ademais, nos termos do entendimento do Colendo Supremo

Tribunal Federal, igualmente adotado pelo Superior Tribunal

de Justiça, descabe falar em descumprimento do decidido pelo

STJ no SLS 1.498, visto que pertinente a uma ação diversa3,

ocasião em que sequer fora ajuizada a presente ação de

improbidade. Ademais, visto que a SLS 1498 já transitou em

julgado, tal como entendeu o STJ4,descaberia se falar em

3 RECLAMAÇÃO Nº 8.984 - RJ (2012/0112282-6) RECLAMANTE : DERMEVAL BARBOZA MOREIRA NETO ADVOGADO : RODRIGO DE MATTOS SOARES E OUTRO(S) RECLAMADO : JUIZ DE DIREITO DA 2A VARA CÍVEL DE NOVA FRIBURGO - RJ INTERES. : PRESIDENTE DA CAMARA MUNICIPAL DE NOVA FRIBURGO DECISÃO Dermeval Barboza Moreira Neto ajuizou reclamação, alegando que a decisão proferida pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Nova Friburgo, RJ, bem como o Decreto Legislativo nº 332, de 2012, da Câmara daquele Município afrontaram o decisum prolatado nos autos da SLS nº 1.498, RJ (fl. 01/21). A decisão proferida nos autos da SLS nº 1.498, RJ diz respeito a uma ação civil pública que tramita na jurisdição federal, e por isso não era dela destinatário o MM. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Nova Friburgo, RJ – estando aparentemente demonstrado que as verbas públicas alegadamente desviadas têm origem diversa (numa jurisdição, federal; noutra, estadual). Indefiro, por isso, a medida liminar. Encaminhem-se os autos ao Ministério Público Federal. Intimem-se. Brasília, 16 de julho de 2012. MINISTRO ARI PARGENDLER 4 SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA Nº 1.498 - RJ (2011/0310245-0) REQUERENTE :D B M N ADVOGADO : RODRIGO DE MATTOS SOARES E OUTRO(S) REQUERIDO : DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2A REGIÃO INTERES. :M P F DECISÃO Trata-se de pedido de extensão dos efeitos da decisão de fl. 334/340, de modo que seja suspenso o ato judicial que determinou o afastamento do Prefeito nos autos da Ação Civil de Improbidade Administrativa nº 0002163-17.2012.8.19.0037 (fl. 408/414). Na linha do que vem decidindo o Supremo Tribunal Federal, transitada em julgado a decisão cujos efeitos se quer estender, já não é possível o respectivo aditamento (SS nº 3.409, relatora Ministra Ellen Gracie). Nesse caso, o pedido deve ser feito de modo autônomo. Indefiro, por isso, o pedido. Intimem-se. Brasília, 29 de maio de 2012. MINISTRO ARI PARGENDLER Presidente

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aditamento, conseqüentemente, tal decisão não impede nova

cautelar neste sentido.

Pode-se argumentar que seria desnecessária a ocorrência

de fatos novos, que motivassem um novo afastamento ou

proibição de retorno por parte a serem afligidos ao

requerido. Estando reconhecidos os fundamentos concretos

(embaraços à instrução processual) que ensejaram o primeiro

afastamento, bastaria notar que eles ainda são significativos

para demonstrar o risco processual representado pela assunção

do requerido à chefia do Executivo local, isso porque se a

instrução do processo 2011.51.05.000825-7 já está encerrada,

o fato é que surgiram pelo menos mais quatro ações de

improbidade, só nesta Justiça Federal, cuja instrução ainda

está no início, sem falar daquel`outras ajuizadas na justiça

estadual.

Esse fato, recebimento de várias outras ações de

improbidade, ainda não se fazia presente, quando sua

Excelência o Presidente do Superior Tribunal de Justiça

limitou os efeitos do afastamento concedido nos autos do

processo 2011.51.05.000825-7. Sendo assim, o advento de novas

ações de improbidade, seja nesta justiça federal seja no

judiciário estadual, é elemento que altera o status

processual do requerido, permitindo uma nova apreciação

cautelar quanto ao risco de seu retorno à condição de chefe

do executivo. Observo, aliás, que o próprio STJ em lúcido

julgado reconhece que o advento de novas ações de improbidade

é determinante que, por medida de prudência, não seja

deferido o retorno de administrador afastado por improbidade:

EmentaAGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE LIMINAR. PEDIDO DE AFASTAMENTO TEMPORÁRIO DE PREFEITO. INVESTIGAÇÃO POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDÍCIOS DE MALVERSAÇÃO DO DINHEIRO PÚBLICO.GARANTIA AO BOM ANDAMENTO DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL. LESÃO À ORDEM PÚBLICA.

– Visualiza-se, no caso, risco de grave lesão à ordem pública, consubstanciada na manutenção, no cargo, de agente político sob

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investigação por atos de improbidade administrativa, perfazendo um total de 20 ações ajuizadas até o momento, nas quais existem indícios de esquema de fraudes em licitações, apropriação de bens e desvio de verbas públicas. – O afastamento do agente de suas funções, nos termos do art. 20, parágrafo único, da Lei n. 8.429/1992, objetiva garantir o bom andamento da instrução processual na apuração das irregularidades apontadas, interesse de toda a coletividade. - Homologada desistência requerida pelo 1º agravante (Município de Jaguariaíva.Agravo não provido. (STJ; AgRg na SLS 467 / PR; Relator(a)Ministro Barros Monteiro; DJ 10/12/2007 p. 253)

Como bem ressaltado no requerimento , a instrução

destas novas ações, entre as quais a relativa aos autos desta

ação de improbidade, dependerá de elementos a serem colhidos

perante a estrutura administrativa da Prefeitura municipal de

Nova Friburgo, notadamente documentos e testemunhos.

De toda sorte, ainda estão presentes elementos novos,

advindo mesmo após o afastamento do requerido do cargo,

indicativos de que ele ainda opera para alterar os meios de

prova, ou seja, os instrumentos com os quais o Poder

Judiciário formará sua convicção.

Inicialmente, no curso do processo do

2011.51.05.000825-7 vieram à tona fatos que dão a noção da

ousadia do requerido, enquanto no exercício da chefia da

administração municipal, no sentido de montar uma fantástica

máquina de adulteração de provas. Com efeito, na gestão do

réu se deflagrou uma incrível maxisindicância, cujo intento

seria apurar a prestação de serviços de uma contratada (isso

quando já estava em curso investigações do Ministério Público

e um processo judicial sobre a suposta prestação de

serviços). Com efeito, criou-se uma comissão para ouvir

centenas de diretoras de escola que teriam confirmado a

prestação dos serviços. Na fase judicial, embora afirmem não

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terem sofridos pressões5, há relato de fraudes. Com efeito,

no depoimento judicial da Sra. Joelma Sanches da Silva

Gravino, ficou claro que embora relatasse um fato, os

integrantes desta obscura Comissão registravam outro. Para

ilustrar, cito trechos desse depoimento em que se sobressai o

engodo que permeou tal comissão:

“Que confirma ter sido convocada para prestar esclarecimentos na sede da prefeitura, não sabendo a data; que nesta ocasião disse exatamente o que afirmou neste juízo; que confirma ter assinado um documento, cujo texto era padrão para todas as escolas, tendo a depoente lido rapidamente tal documento, não lhe sendo oferecida cópia;(...); que na ocasião em que foi ouvida na prefeitura esclareceu que não acompanhou pessoalmente a execução do serviço, muito embora tenha constado na declaração por ela assinada o contrário; que assinou ainda assim o referido documento porque a Sra. Aline estava junto e confirmou a prestação do serviço, que inclusive fez tal advertência, ou seja, de que não acompanhou pessoalmente o serviço, ao advogado responsável pela confecção do documento, tendo este retrucado que o serviço efetivamente fora prestado em razão do que dissera a Sra Aline; que como já dito a declaração seguia um modelo padronizado para todos os informantes que lá compareciam; (...)que ratifica que quando prestava esclarecimentos ao advogado na prefeitura deixou claro que não acompanhou a execução do serviço de limpeza de caixa d´água ou ao menos pareceu ter o que constava no documento, ou seja de que a confirmava a execução do serviço; que indagada pelo juiz o que consta na referida declaração de fl. 3435, a depoente confirma sua assinatura, que na ocasião notou que no mesmo documento constava que a depoente confirmava a execução do serviço de limpeza de caixa d´água e análise bacteriológica; que embora tenha reafirmado sua contrariedade a este ponto o advogado Vanderson que tomava sua declaração afirmou que isto não haveria problema, até porque tal declaração vinha sendo prestado por todos os responsáveis da escola e que o serviço realmente ora prestado; que tal declaração se deu num contexto de informalidade, que foi atendida única e exclusivamente pelo Sr. Vanderson; que nenhuma Janaína e nenhum Carlos Henrique se apresentou na ocasião; que o Sr. Vanderson “batia na tecla” de que o serviço fora prestado;(...)” (fls. 10502/10.506, dos autos do proc. n. 2011.51.05.000825-7)

A declaração mencionada no depoimento acima, constante

às fls.3435 daqueles autos, está firmada pela depoente,

contando ainda com a assinatura dos servidores Carlos

Henrique e Janaína, como se a declaração tivesse sido

prestada perante eles, fato este desmentido em juízo pela

Sra. Joelma. Acrescento ainda que a depoente é taxativa ao

5 o cargo de diretor de escola em Nova Friburgo é função de confiança, onde é decisiva a vontade do Prefeito.

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dizer que se tratava de um texto padrão, a ser assinado por

todas as diretoras/declarantes, sendo significativa a

insistência do servidor Vanderson, o qual “batia na tecla” de

que os serviços foram prestados.

Essa estranha comissão, ao que tudo indica criada sob

medida para produzir prova favorável ao requerido Dermeval,

cujos integrantes não se sabe como foram selecionados, operou

nas sombras do gabinete do então prefeito, sem qualquer

respaldo social, não tendo sido aberta à sociedade civil, que

àquela altura já cobrava esclarecimentos, muito menos às

instâncias investigatórias que na ocasião já estavam atuando

em busca de transparência na administração local (Câmara de

Vereadores, MPF, MPRJ, TCU, TCE). A criação e a atuação desta

Comissão se inserem na praxe do Sr. Dermeval, já provada e

plenamente acatada pelo Poder Judiciário, de falsear provas,

montar documentos, distorcer testemunhos e ludibriar

instâncias administrativas e judiciais.

Quanto à prova testemunhal, aliás, esse importante e

fundamental elemento de formação da convicção do juízo, a

ascendência do requerido Dermeval é patente ainda que fora do

cargo, e maiormente num eventual retorno ao cargo público.

Como exemplo, muito bem retratado pelo requerimento do MPF,

sobressai o recente testemunho judicial da advogada ANA PAULA

FERRAZ DE OLIVEIRA, que ocupava cargo em comissão na

Procuradoria do Município, nomeada pelo Sr. Dermeval

atendendo um pedido pessoal da depoente. Depondo sobre o não

atendimento por parte da Administração do Sr. Dermeval às

requisições de documentos por parte do MPF, bem como a um

suposto xingamento proferido pelo Procurador Geral do

Município, também réu naquela ação, Hamilton Sampaio, a Sra.

Ana Paula prestou um depoimento recheado de contradições

(fls. 1172/1177, dos autos do proc. n. 2011.51.05.000521-9):

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“que era funcionária da prefeitura lotada na Procuradoria; que exercia cargo de comissão e ainda o exerce; que ingressou na procuradoria em dezembro de 2010; que, tendo em vista dificuldades profissionais pediu emprego ao Prefeito Demerval; (...) que em relação ao memorando constante às fls. 398/399 dos autos a depoente informa neste ato que recebeu a visita do Sr. Ricardo Martin, o qual deixou muito claro que só sairia de lá (da PGM) com as cópias dos referidos processos; que a extração das cópias pelo volume era impossível, tendo o Sr. Ricardo Martin permanecido em sua sala, ocasião em que o Ricardo recebia diversas ligações do Dr. Marcelo Medina, que, ao telefone, muito chateado, gritava com o Sr. Ricardo dizia que teria de trazer as cópias dos processos; que foi o próprio Ricardo quem sinalizou que era o seu chefe, Dr. Medina, que exigia a todo custo tais documentos; que a postura do Sr. Ricardo foi praticamente um apelo à depoente para esta o ajudasse a se desvencilhar da situação; (...) que, para resolver aquela situação, e a pedido do Sr. Ricardo, a depoente confeccionou o memorando de fls 398/399, colocando a informação de que as cópias estariam disponíveis no dia 31/03/2011, com a única finalidade de ajudar o Sr. Ricardo Martin; que não conhece pessoalmente o Dr. Medina; que nunca conversou com ele; que desconhecia o seu tom de voz, e acredita que tenha sido o Dr Medina a pessoa que gritava ao telefone, até porque o Sr. Ricardo confirmou; (...) quem em relação à certidão de fls. 402/404, lida nesta oportunidade em voz alta para a depoente, tem a esclarecer que não ouviu xingamentos referidos na aludida certidão, e que o Dr Hamilton estava chateado com a situação, notadamente o exíguo prazo assinalado pelo MPF, mas que não notou berros do Dr. Hamilton; (...) que no dia 30/03/11 o Sr. Ricardo se referiu ao seu chefe, que estava ao telefone, não se recordando a depoente se o Sr. Ricardo falou expressamente o nome do Dr. Medina; (...) que esclarece que chegou ao número de dez mil folhas a serem copiadas em razão de um daqueles processos requisitados ter um expressivo volume, a partir do qual foi possível a depoente ter noção da quantidade gigantesca de cópias, e mais precisamente da cifra por ela mencionada; que não fez gestões frente ao Dr Hamilton ou a qualquer que seja para que solicitasse a ilação do prazo junto ao MPF apontando o exemplo do MPRJ, preferindo tentar cumprir aquela requisição, até por ser uma reiteração naquele exíguo prazo; que ante as circunstâncias do momento, não acha que foi a solução mais racional;

O depoimento é fértil em contradições, primeiro dizendo

que o Procurador da República, Dr. Medina, gritava ao

telefone com Sr. Ricardo Martin, quando a própria depoente

admite não conhecê-lo, nunca ter conversado com ele, nem ao

menos conhecer o tom de voz do Dr. Medina. Depois, dizendo

que Ricardo Martin lhe confirmou que se tratava do Dr.

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Medina, e mais à frente dizendo não se recordar se foi citado

o nome do Dr. Medina na ocasião. Diz que se tratava de mais

de dez mil cópias (sendo curioso a depoente ter tanta

precisão em seu prognóstico), dizendo que era impossível

fornecê-las e ainda assim tenha tentado fazê-lo quando seria

mais prudente solicitar a dilação do prazo, ao invés de

confeccionar memorando formalizando a disponibilização das

cópias no dia seguinte sob o inverossímil argumento de que

procurava ajudar o Sr. Martin.

Diversamente da Sra. Ana Paula, o Sr. Ricardo Martin,

servidor efetivo/concursado, rechaça que tenha pedido favores

a Sra. Ana Paula, muito menos que tenha o Dr. Medina

pressionado ou até mesmo gritado consigo. Ricardo Martin,

quando acareado com a depoente, mostrou-se bastante seguro ao

ratificar os fatos que certificara, inclusive quanto à

presença da Sra. Ana Paula no momento dos impropérios relatos

em sua certidão (fls. 1187/1191, dos mesmos autos), o que

sinaliza fortemente para a ocorrência de falso testemunho por

parte da Sra. Ana Paula.

A obsessão por parte do réu em obstruir o trabalho das

instituições de esclarecer os fatos é dado pelo já famoso

Processo Administrativo 8775, supostamente instaurado na

Secretaria de Governo da Prefeitura municipal de Nova

Friburgo, que seria hábil a documentar uma contratação com a

empresa CHEINARA. Tal processo não foi entregue ao MPF,

quando este requisitou processos administrativos referentes

ao Termo de Compromisso 01/2011, nem mesmo foi apresentado

quando de uma busca e apreensão judicial. Sobre ele não foi

publicado ainda qualquer ato na imprensa oficial, muito

embora os pagamentos tenham sido efetivamente realizados. Tal

processo, ou pelo menos tal número deste processo foi

mencionado pela decisão deste juízo que afastou o requerido

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nos autos do processo n. Dermeval, em depoimento perante este

juízo 2011.51.05.000825-7, e aquela época só se sabia

realmente da existência do número do processo.

Posteriormente, tal processo veio à lume, e mais à frente

retomo as circunstâncias do seu advento. A análise de tal

processo administrativo, cujos originais hoje se encontram

acautelados na secretaria deste Juízo, como bem ressaltou o

requerimento do MPF, apresenta uma sucessão de perplexidades

(fl. 08, do requerimento):

De plano, a embasar a conclusão de que houve montagem, tem-se mais uma vez a contraditória circunstância de o comprovante de protocolização, datado de 12/05/2011, ser anterior ao requerimento protocolizado, que leva a data de 13/05/2011 e já menciona o próprio número de protocolo (fls. 9715/9716). Além disso, malgrado o citado comprovante de protocolização tenha sido emitido em 12/05/2011, a manifestação do Controlador-Geral do Município, exarada já com referência ao Processo Administrativo nº 8775/2011, contém incoerentemente data anterior, 25/04/2011 (fls. 9873/9876). A evidenciar a inconsistência dos comprovantes dos serviços supostamente prestados tem-se que o réu ADÃO DE PAULA, em documento datado de 20/03/2011, relata já ter executado os serviços no período de 09/02/2011 a 08/04/2011 (fls. 9724/9725). Por sua vez, conquanto as atestações dos serviços pretensamente realizados nas unidades de ensino Adezir Almeida Garcia, Brasilina da Rosa Teixeira e Franz Haug estejam datadas de 10/02/2011, 23/02/2011 e 14/02/2011, os certificados correspondentes emitidos pela empresa ADÃO DE PAULA ME têm datas distintas, respectivamente 20/02/2011, 17/02/2011 e 07/03/2011 (fls. 9735/9736, 9742/9743, 9830/9831, 9837, 9844 e 9850).

Perplexidades, pois tanta inconsistência torna

inverossímil que se trate de erro, esquecimento ou engano.

Algumas dessas inconsistências, destacando-se a existência de

documentos que comprovariam fatos realizados meses depois,

num inconcebível exercício de prestidigitação, foram

indagadas ao Sr. Jorge José da Silva Moura, Controlador Geral

do Município, na gestão do requerido Dermeval, em depoimento

perante este juízo (2011.51.05.000825-7; fls. 10.463/10.469):

“que nega que a comissão de sindicância foi instaurada para ensinar as diretoras a atestar os serviços prestados pela empresa Cheinara; que ao que sabe não haveria possibilidade de o secretário requisitante tomar conhecimento previamente do número do processo administrativo que viria futuramente a ser autuado; que não sabe explicar a razão, ante o que já declinou, que às fls.

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03 do mencionado PA 8775, correspondente às fls. 9716 dos autos, em que consta a requisição por parte do Secretário de Educação de serviços em cujo corpo já está transcrito o número do processo que só posteriormente veio a ser instaurado; que não sabe explicar o porque (sic) do documento de fls. 9873/9876 consistente em manifestação do próprio depoente está datado de 25/04/2011 e o protocolo inicial do processo ser de 12/05/2011, conforme está estampado no próprio documento de fls. 9873/9876; que aquela época movimentou muitos processos; que neste período a Controladoria estava fazendo não apenas os processo relativos à tragédia, mas também os processos normais; que todos os processo recebidos pela controladoria na época não chegaram em uma única só vez, mas em datas distintas; que ainda assim, ou seja, não havendo os processo sido encaminhados de uma única só vez o depoente não teve oportunidade de se manifestar no processo de forma tão tranqüila, pois frisa que eram vários os processos para sua apreciação; que às fls. 11 do PA, correspondente às fls. 9724 dos autos, foram prestados os serviços na Escola Leda Tavares em 08/04 da mesma forma foram prestados serviços no depósito da Secretaria de Educação em 04/04, sendo que tal documento era datado de 20/03, justificou que a época não foi feita uma análise mais profunda deste processo; que atribui a discrepância entre a data do documento de fls. 9724 e a data dos serviços lá atestados a um erro de digitação; que também não sabe explicar o porquê dos desencontro de datas entre os documentos fls. 9742 a 9837; que não pode afirmar se foi mencionado no âmbito daquela comissão de sindicância se foi prestado o serviço de desinfecção bacteriológica; que deveria constar às fls. 187/188 do PA 8775 (extrato de instrumento contratual) idêntico recibo daquele constante às fls. 1768, 1835 e 1912, respondeu que sim e que não sabe a razão para tal ausência; que, ainda assim, não pode afirmar que tal extrato realmente não foi encaminhado; que desde 2001 atua na Controladoria de Gastos Públicos, tendo trabalhado em vários município.”

Só para esclarecer, à guisa de ilustração, o documento

de fls. 03 do PA 8775 foi produzido em abril, mas tal

documento já fazia referência ao PA 8775 cuja instauração

deu-se (ou supostamente deu-se) em maio. Não se trata de uma

profecia isolada, diversos outros documentos do aludido PA

8775 são indicativos de que se trata de uma farsa. Ainda no

mencionado depoimento, à fl. 11 do PA 8775, documento da

lavra do controlador Geral do Município, que embora datada de

20 de março, faz referência a prestação de serviço prestada

em 08 de abril seguinte.

É o referido Jorge José quem admite, perante Comissão

Parlamentar de Inquérito, instituída após o afastamento do

Sr. Demerval por este Juízo, a prática de reservar número de

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protocolos de processos administrativos da Prefeitura, antes

mesmos desses serem instaurados, conforme bem rememora o

requerimento do MPF(2011.51.05.000825-7; fls. 10.455):

“que não é muito correto a abertura de processo ocorrer antes da solicitação de serviço; que esse fato não é normal, mas em função da calamidade, foram abertos protocolos, em função da celeridade, que é uma espécie de reserva do protocolo;”

Ora se o PA 8775 fala por si só, mais interessante

ainda são as circunstâncias em que ele inopinadamente

apareceu. Eis que, após a decisão judicial afastando o ora

requerido, portanto quando este já estava fora do cargo e até

mesmo proibido judicialmente de adentrar as dependências da

prefeitura, o Sr. Dermeval faz juntar, nos autos do

2011.51.05.000825-7, cópia do famigerado PA 8775 (fls. 2977,

daqueles autos). Intimado para juntar o original, limitou-se

a dizer que os originais do PA 8775 estariam na prefeitura,

sem esclarecer como obteve cópia do referido (fls. 9.687, do

proc. N. 2011.51.05.000825-7).

Tal PA ainda ganhou fama porque, tal como demonstra o

MPF, surgiu na íntegra na rede mundial de computadores, em

rede social conhecida como Facebook, pelas mãos de um certo

Vinicius Paiva.

GRUPO “TRANSPARÊNCIA NOVA FRIBURGO”

VINICIUS PAIVA Outro documento que prova a inocência do prefeito Demerval e do Secretário de Educação Marcelo Verly

juntamente com a empresa Cheinara Detetilar, o Ministério Público em sua ordem de afastamento alega que a prefeitura juntamente com o Secretário de Educação Marcelo Verly teriam contratado e pago a empresa Cheinara Detetilar sem processo, bem aí está a VERDADE este documento existe sim!!! Estava digamos guardado e foi achado por aqueles que querem a VERDADE, por aqueles que não querem que pessoas honestas e corretas sejam usadas neste joguinho sujo político Friburguense!!! A VERDADE NUA E CRUA!!!

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Mais um documento que prova a inocência do Prefeito Demerval Barbosa Moreira Neto, do Secretário de Educação Marcelo Verly e da empresa Cheinara Detetilar.....baseado na ordem de afastamento do Prefeito Demerval da prefeitura pelo Ministério Público que foi por base de que a secretaria de Educação teria contratado e pago a empresa Cheinara Detetilar sem processo de contratação aqui coloco mais um documento provando que tais documentos existem sim e que o Prefeito Demerval e o Secretário de Educação Marcelo Verly fizeram uma contratação e pagaram por um serviço como manda a lei!!!! A VERDADE NUA E CRUA!!!

Este personagem, Vinicius Paiva, à luz dos elementos

trazidos pelo MPF, é um notório correligionário do Sr.

Dermeval, e conforme o próprio Vinicius Paiva admite, amigo

do Sr. Dermeval6. Atua em Nova Friburgo como uma espécie de

agitador político, ou, com o perdão do neologismo, um

ciberagitador, ostentando de forma veemente a defesa da

Administração e da pessoa do Sr. Dermerval nas redes sociais.

Conforme exposto no aditamento pelo MPF, Vinicius Paiva fez

apologia ao recente retorno do Sr. Dermeval ao cargo, mais

tarde frustrado por decisões da justiça estadual, que segundo

ele se trataria de uma nova arbitrariedade.

A postura de Vinicius Paiva não pode ser entendida como

uma desinteressada tietagem política ou mero fascínio pessoal

pelo Sr. Dermeval, notadamente em razão de fatos que

extrapolam o mero sectarismo político.

No curso da instrução do processo 2011.51.05.000825-7,

neste juízo, foi relatada coação por parte do Sr. Vinicius

contra uma das partes do processo, o vereador Marcelo Verly,

conforme teor de mensagem telefônica encaminhada ao telefone

deste parlamentar (torpedo). Com efeito, restou consignado em

6 Segundo postagem de autoria de Vinicius Paiva, no Facebook, em 13/07/2012, trazida pelo MPF (anexo ao aditamento): “e outra este mesmo que se acha o tal me procurou em outubro de 2011 por saber de minha amizade com Demerval para pedir o mesmo que lhe desse a administração da região de São Pedro da Serra onde receberia R$1200,00 mensais para tal, sendo que o prefeito Demerval disse não para esse aproveitador que queria apoiá-lo nas redes sócias em troca do favor , já após receber o não começou com publicações contra o Demerval, mas será que o JORNAL NOVA IMPRENSA sabe disso senhor Clandestino? ...........háaaaaaaaaaa amor você achou que eu não fosse puxar sua ficha corrida senhor CLANDESTINO rsrsrs........agora para finalizar sem mais delongas pergunto a todos!!!!”.

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ata, encaminhado à Procuradoria da República e à Policia

Federal para análise quanto a abertura de procedimento

criminal. Segue o teor da ata de audiência, de 04/07/2012:

Dada a palavra a Dra Célia afirmou o seguinte: “na data de 02 e 03 de julho corrente, a testemunha Marize, arrolada pela defesa de Marcelo Verly, foi procurada insistentemente pela dona Sueli, segundo depoimento hoje, é funcionária da empresa Cheinara, tendo, inclusive, amigo do Sr Alan de Paula, o Sr Vinicius Paiva enviado torpedos, com ameaças tanto à assessoria do requerente Marcelo Verly quanto ao próprio, na data de hoje, embora conste dos autos na fl. De autuação n. 01 do processo, encontre-se em segredo de justiça absoluto, esse Sr Vinicius publicou no faceboock documentos relativos ao processo 8775/2011, pedindo a juntada por se tratar de documentos supervenientes, requerendo ao juízo a proibição de contato tanto das testemunhas arroladas para a próxima audiência no dia 06/07, quanto ao requerente Marcelo Verly, sua assessoria e sua patrona” . na ocasião declinou o conteúdo do torpedo mencionado em sua afirmação “não quero receber ligações ou qualquer olhadas e indiretas de seu assessor Marcelo Dantas.... vão ameaçar na casa do caralho..... você seu assessor e sua advogada .... se era isso que tava me enrolando..... então terá a devida resposta..... não sou moleque.....quer brincar comigo, então vamos brincar....brincar seu moleque!!!!! “ torpedo enviado pelo telefone de Vinicius Paiva para o telefone do réu Marcelo Verly. Continuando: “foi pedido que esta patrona conversasse com a testemunha agora dispensada Joelma, e essa patrona se recusou fazê-lo”. Esclareceu ainda que não declinado o motivo do pedido para que a patrona conversasse com uma dessas testemunhas. Que acrescenta que não houve interferência do escritório Dr. Leandro. (2011.51.05.000825-7, fls. 10399/10404 )

Há ainda indicações que Vinicius Paiva tem elo com

outro personagem de nome Weder Pereira, integrante do PSDC,

juntamente com o Sr Adão de Paula e Alan Cardek, corréus

juntamente com o requerido Dermeval na mesma ação de

improbidade, e diretamente interessados no PA 8775. Aliás,

Weder, valendo-se de um pseudônimo feminino, tentou

constranger uma testemunha arrolada pelo MPF, o Sr. Haroldo,

estimulando que a testemunha cometesse impostura para depois

desqualificá-la perante o Poder Judiciário. O Sr. Haroldo, em

depoimento perante este juízo confirma (0000825-

74.2011.4.02.5105; fls. 10433 a 10437):

“que de fato recebeu e-mails ao que se recorda a partir de 09/2011, cujo remetente seria uma pessoa de nome Camila Duarte, em que solicitava cotações de serviços ao depoente; que o depoente recebeu a tais e-mails, oferecendo cotações; que, posteriormente, a tal Camila era na verdade o Sr. Weber ou Ueder Pereira, o qual teria, inclusive, concedido entrevistas junto a uma TV local, de conteúdo difamatório, afirmando que o depoente mentira em

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depoimentos perante a Comissão processante da Câmara de Vereadores, bem como perante ao MPF; que ao prestar depoimento perante ao MPF tomou conhecimento por intermédio do Dr. Jessé que tal Weber ou Ueder teria ligação com o senhor Alan Cardeck; que teria sido dito ao Dr. Jessé por parte do próprio senhor Ueder que pertenceriam (ele e Alan Cardeck) ao mesmo partido político, embora o senhor Ueder tivesse negado uma vinculação mais estreita com Sr. Cardeck; que compreendeu, pelo que disse Dr. Jessé, que o Sr Ueder e o Sr Cardeck tinham uma certa briga, motivada pelo partido político, cujos detalhes não foram aprofundados pelo Dr. Jessé; que fora este fato não teve qualquer outro contato com Sr Ueder.”

Em depoimento perante o MPF, anexado ao requerimento, o

Sr. WEDER admite ter tido contato com Vinicius Paiva:

“que conhece Vinicius Paiva “de rua” e de publicações na internet, mas não é amigo pessoal deste; (...) que Vinicius Paiva Cruzou com o depoente na Av. Alberto Braune no sábado seguinte às protocolizações dizendo que o viu saindo do MPF e indagando o que o depoente viera fazer nesta PRM; que o depoente falou da representação relativa à CCJ no facebook logo na semana seguinte, e o depoente chegou a postar um comentário reclamando da publicação”.

Aqui novamente surge o PA 8775, que em seu bojo traz

profundas inconsistências e ilegalidades como já exposto, e

que, conforme elementos acima apontados, veio à lume pelas

mãos de duas pessoas: Dermeval Barbosa Moreira Neto, por meio

de petição nos autos daquela ação de improbidade, e Vinicius

Paiva, nas redes sociais. Sempre nas redes sociais, conforme

demonstra o MPF, o seu palanque habitual, Vinicius Paiva ao

trazer a público o PA 8775 diz “Estava digamos guardado e foi

achado por aqueles que querem a VERDADE, por aqueles que não

querem que pessoas honestas e corretas sejam usadas neste

joguinho sujo político Friburguense!!!”7.

São verossímeis, ainda, as alegações do MPF quanto a

produção artificial de documentos que atestariam a prestação

de serviços pela empresa UNISERRA COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA,

relativos ao PA 820 (fls. 15/16).

“Ocorre que as planilhas de “controle de equipamentos e mão de obra por frente de serviço” acostadas à contracapa dos autos do

7Conforme Postagem no facebook, anexada pelo MPF no aditamento.

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processo administrativo em referência revelam que no período compreendido entre 13/01/2011 e 24/01/2011, a fiscalização da Prefeitura Municipal somente atestou a execução de 240 horas de trabalho de trator carregadeira e retro-escavadeira, 264 horas de trabalho de caminhão basculante no toco, 50 horas de trabalho de caminhonete tipo pick up e 96 horas de trabalho de caminhão basculante trucado, quantitativos que correspondem ao preço de apenas R$ 53.302,16, observados os valores unitários praticados em tal feito. Vê-se que a discrepância entre as horas de trabalho pagas e as horas de trabalho efetivamente medidas resultou no pagamento a maior de R$ 49.899,82 por serviços de cuja execução não há qualquer atestação. Ressalte-se que não há qualquer justificativa para o pagamento da diferença em questão, ou seja, mais uma vez surgiu a produção documental camufladora.”

Tais fatos, desvelados em razão de documentos

apreendidos judicialmente, bem como a postura do réu

Dermeval, mesmo alijado do poder por decisão judicial,

apresentando ao juízo fotocópias de Processo Administrativo

com notórios sinais de falsidade ideológica, são indicativos

concretos de sua má conduta, representativa do risco que

ensejaria um eventual retorno seu à chefia do Poder

Executivo. Tal lastro fático atende plenamente a exigência de

risco processual a que alude o entendimento doutrinário e

jurisprudencial sobre afastamento de gestor público por ato

de improbidade:

Ementa PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.AFASTAMENTO CAUTELAR DE PREFEITO. RECURSO ESPECIAL. EFEITO SUSPENSIVO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES PARA DEFERIMENTO DA TUTELA DE URGÊNCIA. LIMINAR INDEFERIDA. 1. A probabilidade de êxito do recurso especial deve ser verificada na medida cautelar, ainda que de modo superficial. Assim, não comprovada de plano a fumaça do bom direito apta a viabilizar o deferimento da medida de urgência é de rigor o seu indeferimento. 2. O art. 20, parágrafo único, da Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) estabelece que "A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual". 3. Na hipótese, as instâncias ordinárias constataram a concreta interferência na prova, qual seja, a não prestação de informações e documentos aos Órgãos de controle (Câmara de Vereadores e Tribunal de Contas Estadual e da União), o que representa risco efetivo à instrução processual. Demais disso, não desarrazoado ou desproporcional o afastamento do cargo pelo

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prazo de 180 (cento eoitenta) dias, pois seria, no caso concreto, o tempo necessário para se verificar "a materialidade dos atos de improbidade administrativa".Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg na MC 19214 / PE; Rel. Min. Humberto Martins; DJe 29/06/2012)

Ementa PEDIDO DE SUSPENSÃO DE MEDIDA LIMINAR. AFASTAMENTO DO CARGO DE PREFEITO. LESÃO À ORDEM PÚBLICA. A norma do art. 20, parágrafo único, da Lei nº 8.429, de 1992, que prevê o afastamento cautelar do agente público durante a apuração dos atos de improbidade administrativa, só pode ser aplicada em situação excepcional. Hipótese em que a medida foi fundamentada em elementos concretos a evidenciar que a permanência no cargo representa risco efetivo à instrução processual. Pedido de suspensão deferido em parte para limitar o afastamento do cargo ao prazo de 120 dias. Agravo regimental não provido. (STJ; AgRg na SLS 1442 / MG; Relator(a) Ministro ARI PARGENDLER; DJe 29/02/2012)

Ementa PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LEI N.º 8.429/92. PEDIDO DE RETORNO DO PREFEITO AO CARGO. IMPOSSIBILIDADE. PRESENÇA DE ROBUSTOS ELEMENTOS DE PROVA. 1. Ajuizamento de ação civil pública por ato de improbidade administrativa em decorrência de malversação de recursos públicos federais, originalmente destinados a obras municipais. 2. Farta documentação a instruir referida ação no sentido de apontar para a prática de diversas irregularidades sob o comando do prefeito, fundamentada, inclusive, na atuação fiscalizadora da Controladoria-Geral da União. 3. Manutenção da decisão judicial que determinou o afastamento do chefe do poder executivo municipal, apresentando-se temerário para a continuidade da instrução da ação originária. eventual retorno ao cargo. 4. Agravo de instrumento não provido. (TRF 5ª Reg.; AG 86116; Relator Desembargador Federal Marcelo Navarro; DJ - Data::02/12/2008 - Página::398 - Nº::234)

Nada garante que uma vez no cargo o Sr. Dermeval tenha

postura diversa daquela precedente, pois se a instrução

relativa ao processo 2011.51.05.000825-7 já se findou, estão

abertas a instrução de várias outras ações de improbidade,

entre as quais a presente.

No presente feito, o chamado fumus boni júris deflui da

decisão que recebeu a ação de improbidade, cuja passagem

rememoro:

Os fatos revolvidos realmente denotam a ocorrência de indícios veementes de irregularidades de difícil justificativa. Com efeito, a presente ação de improbidade é instruída com cópia do respectivo inquérito civil público, onde consta o relatório de acompanhamento do Tribunal de Contas da União. Nesse relatório são apontadas as irregularidades objeto da presente ação, notadamente

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a ausência de medições adequadas em relação aos serviços prestados e a precariedade da fiscalização empreendida pela Prefeitura, a qual disponibilizou apenas três servidores para o acompanhamento de todos os trabalhos, afigurando-se inviável, outrossim, a verificação a posteriori do quantitativo relativo a remoção de escombros, limpeza e desobstrução de vias (fls. 308v do ICP). No que concerne à constituição dos processos de dispensa de licitação, consignaram os técnicos do TCU a ausência de vários requisitos previstos na Lei nº 8.666/93, quais sejam: razão circunstanciada da escolha do fornecedor ou executante (art. 26, II); justificativa do preço, com pesquisa de mercado, adotando como limite, no caso de obras e serviços de engenharia, os valores do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI) (ART. 26, III); comprovante de publicação de dispensa na Imprensa Oficial (art. 26, caput); comprovante da publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na imprensa oficial (art. 61, § único); ato de designação do fiscal do contrato (art. 67). As irregularidades também foram observadas na fiscalização empreendida pela Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Municipal de Nova Friburgo. Especificamente em relação à empresa UNISERRA constatou-se que os valores apresentados pela contratada, atinentes ao processo nº 820/11, não encontram respaldo na tabela de requisição de serviços, o que não foi satisfatoriamente justificado pelos seus representantes. Um destes, inclusive, chegou a afirmar que realmente houve um erro pelo Executivo, mas necessitava dos valores para pagamento dos funcionários (fls. 593). A mesma incongruência entre os valores apresentados pela empresa e a tabela de Requisição de Serviços se viu no processo nº 856/11, o que igualmente restou reconhecido pelo representante da empresa (fls. 598). Ora, embora haja respaldo legal para a contratação sem licitação, em casos de calamidades públicas, isso não significa que o administrador possa escolher o contratado a seu bel-prazer, sem que justifique a escolha do fornecedor, demonstrando que o preço estava dentro dos padrões do mercado, sem prejuízo do dever de documentar a aquisição e fiscalizar os serviços prestados, mediante hígido processo administrativo. Tais requisitos, ao que tudo indica, não foram observados na hipótese vertente. Vislumbra-se, portanto, verossimilhança nas alegações autorais. (2012.51.05.000641-1; MINISTERIO PUBLICO FEDERAL vs. DERMEVAL BARBOZA MOREIRA NETO, fls. 794/798)

Ainda aliado ao risco processual do seu retorno, há

ainda outras variáveis que desaconselha a mudança de gestão

neste momento, sob pena de grave ameaça a ordem pública8,

8 AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. AÇÃO DE IMPROBIDADE. PREFEITO MUNICIPAL. AFASTAMENTO DO CARGO. CONDENAÇÃO EM SENTENÇA. LIMINAR CONFIRMADA. – O Município pode ser representado por Vice-Prefeito no exercício do cargo de Prefeito em processo de suspensão de segurança, não havendo, no caso presente, demonstração de que o Prefeito já havia reassumido o seu cargo à época do ajuizamento da suspensão.

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ameaça esta inclusive que autoriza a prolação desta decisão

em caráter inaudita altera parte. De início, a cidade ainda

sofre os efeitos da tragédia, sendo que o município ainda

pena para regularizar sua situação financeira perante outros

entes federativos. Por ocasião da gestão do Sr. Dermeval, o

município foi incluído em cadastros restritivos, tendo sido

ainda bloqueados contas do município e convênios, por

exemplo, com o governo federal, além de cancelado

parcelamento tributários usufruídos pelo município9.

Ademais, a atual gestão conseguiu imprimir uma certa

estabilidade na atual administração municipal, onde os

serviços públicos voltaram à normalidade, e uma eventual

mudança na chefia do executivo implicaria, como o próprio

Dermeval já admitiu a imprensa, a troca de secretariado e

outros postos da Administração local, sem falar no clima de

incerteza e insegurança gerada na população, mormente a

poucos meses da eleição municipal. Em discurso proferido

quando retornava ao cargo, momentos antes de ser novamente

afastado pela Justiça Estadual, o requerido Dermeval se

pronunciava sobre alterações administrativas que intentava

fazer em seu retorno10:

– A prolação de sentença julgando procedente a ação civil pública e confirmando, expressamente, a liminar deferida em primeiro grau não prejudica, por falta de objeto, a suspensão de segurança. – Na linha da jurisprudência da Corte Especial, os temas de mérito da demanda principal não podem ser examinados na presente via, que não substitui o recurso próprio. A suspensão de liminar e de segurança limita-se a averiguar a possibilidade de grave lesão à ordem, à segurança, à saúde e à economia públicas. – Diante das muitas irregularidades observadas em convênios firmados com a municipalidade, o retorno do Prefeito afastado, inicialmente por decisão em antecipação de tutela e, agora, por sentença de mérito, poderá ocasionar a grave lesão à ordem pública. Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg na SS 2312 / MA; DJe 02/09/2010) 9 O Município procura na Justiça Federal reverter as inscrições no CAUC e rediscutir o parcelamento, nos termos do processo n. 20115101530961-3 10 http://www.novaimprensa.com.br/home/index.php/serra/1101-apos-reassumir-a-prefeitura-dermeval-neto-e-novamente-afastado-pela-justica

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“Durante entrevista coletiva concedida à imprensa, Demerval falou sobre o que pretende fazer durante o mandato que se encerrará em dezembro. - Desde o instante que eu recebi a decisão judicial sobre o meu retorno, já se mexeu no secretariado. Não tem como você não mexer com as pessoas se há uma notícia dessas. Mas, ainda tenho que analisar os números porque, pode haver um secretário que tenha feito um grande serviço – disse, afirmando que respeita os servidores municipais. Em tom de desabafo, Dermeval falou sobre sua volta ao cargo e os momentos que antecederam o retorno. “Eu sou a maior autoridade de Nova Friburgo, isso está na constituição e as pessoas não estão querendo dar este tipo de valor. O prefeito de Nova Friburgo tem que ser respeitado como maior autoridade”.

Quanto à eminência do pleito eleitoral, a postura do

chefe do executivo é fundamental para a normalidade das

eleições. Nesse ponto, há uma série de restrições da lei

eleitoral e da lei de responsabilidade fiscal que impedem, a

esta altura, por exemplo, o aumento de salários de

funcionários públicos e a contratação de novo servidores,

intenção esta recentemente anunciada pelo Sr. Dermeval11. A

11Com efeito, um jornal local, A Voz da Serra, edição de 10/08/2012, noticiou: “A posse de Dermeval no pátio da Prefeitura Nove meses depois, Dermeval Barboza Moreira Neto (PTdoB) reassumiu ontem, quinta-feira, a Prefeitura de Nova Friburgo. Ele chegou às 16h30, fez um discurso emocionado para cerca de mil pessoas e depois recomeçou a sua rotina de trabalho que havia sido interrompida em 7 de novembro passado. Na ocasião, esperando cumprir o restante do conturbado mandato que se encerra em 31 de dezembro, ele enfatizou que “o tempo que resta [de governo] é pouco, mas muito precioso”, disse ele no discurso no pátio da Prefeitura, onde foi improvisado um palanque. Ele lembrou os momentos difíceis que ele, familiares e amigos passaram nos últimos tempos. Com um linguajar simples, destacou que não guardava mágoas e nem rancores daqueles que o detrataram e que faria a sua gestão pautada no entendimento em favor do município. A grande maioria dos presentes era formada por funcionários públicos que o aplaudiram inúmeras vezes e o presentearam com uma chave simbólica alusiva à chefia do Executivo. “Me criticaram quando eu compartilhei a administração do município na época da tragédia. Aquele não era momento de heróis, mas de união para socorrermos uns aos outros. Recebo esta chave e vou usá-la uma única vez: para abrir as portas da Prefeitura. A Prefeitura é do povo friburguense”, disse. “Tentaram fazer uma maldade comigo. Este momento [o retorno] me isenta de tudo que falaram de mim. Não vou mudar, sou o Dermevalzinho que todos conhecem. Quero o gabinete aberto”, enfatizou. “Não tenho maldade e não consigo guardar ódio e rancor de ninguém, mas quero dizer que não vou mudar”, frisou. No discurso de volta, Dermeval disse que esperava encontrar as finanças da Prefeitura no mesmo patamar que deixou há nove meses. Segundo ele, se houvesse recursos em caixa cumpriria a promessa de reajustar o piso do

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final estaríamos falando da “maior autoridade” do município,

sendo lúcida, ao sentir deste magistrado, a opção do atual

ocupante do executivo, Vereador Sergio Xavier, ao não se

lançar como candidato, o que indiscutivelmente dá mais

tranqüilidade ao processo eleitoral.

Para finalizar, se me afigura mais adequado um

exercício de razão, em que as vaidades e os projetos

personalistas devem ser amenizados em prol do município,

devendo aqueles sobre os quais pesam graves acusações

preocupar-se em cuidar de suas defesas, sobretudo balizando-

se pela lealdade às instituições.

Por todo o exposto, com esteio no art. 20, parágrafo

único, da Lei 8429/92, arts. 125, III, 798, do CPC, defiro o

requerido pela Procuradoria da República para determinar o

afastamento ou a proibição de retorno do Sr. Dermeval Barbosa

Moreira Neto ao cargo de Vice-Prefeito, e nessa condição, a

de prefeito em exercício do Município de Nova Friburgo, até o

fim da instrução da presente ação de improbidade.

Oficie-se, de imediato, o Sr. Vereador Presidente da

Câmara Municipal de Vereadores, bem como o Sr. Prefeito em

Exercício para conhecimento e cumprimento deste decisum.

Publique-se. Intimem-se. Digitalizem-se a presente

decisão, bem como os requerimentos do MPF e seus anexos.

Nova Friburgo, 13 de agosto de 2012.

(assinado eletronicamente – alínea “a”, inciso III, §2O, art. 1º da Lei nº 11.419/2006)

EDUARDO FRANCISCO DE SOUZA Juiz Federal

magistério e convocação de mais concursados de 1999. Ele acentuou que a sua prioridade seria a saúde, o maior problema dos friburguenses.

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