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www.editorajuspodivm.com.br Márcio André Lopes Cavalcante VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA 2020 Dizer o Direito 9 ª edição revista, atualizada e ampliada Abrange os Informativos 733 a 963 do STF e 533 a 661 do STJ Atualizações publicadas no Dizer o Direito até 31.12.2020 Com alerta sobre os julgados alterados pelas novidades legislativas de 2019

Márcio André Lopes Cavalcante VADE...Rcl 18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 23/2/2016 (Info 815). A nomeação da esposa do

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Page 1: Márcio André Lopes Cavalcante VADE...Rcl 18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 23/2/2016 (Info 815). A nomeação da esposa do

www.editorajuspodivm.com.br

Márcio André Lopes Cavalcante

VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA

2020Dizer o Direito

9ª ediçãorevista, atualizada e ampliada

Abrange os Informativos 733 a 963 do STF e 533 a 661 do STJ

Atualizações publicadas no Dizer o Direito até 31.12.2020

Com alerta sobre os julgados alterados pelas novidades legislativas de 2019

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DIREITO ADMINISTRATIVO

1. PRINCÍPIOS E PODERES ADMINISTRATIVOS

1.1. MORALIDADE

� Vedação ao nepotismo: regra geralSúmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesmapessoa jurídica investidoemcargodedireção,chefiaouassessoramento,paraoexercíciodecargoemcomissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indiretaem qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

� Norma que impede nepotismo no serviço público não alcança servidores de provimento efetivoA Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, que é “vedado ao servidor público servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil”.Foi proposta uma ADI contra esta norma.O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à Constituição, no sentido de o dispositivo ser válido somente quando incidir sobre os cargos de provimento em comissão, função gratificada, cargos de direção e assessoramento. Em outras palavras, o STF afirmou que essa vedaçãonão pode alcançar os servidores admitidos mediante prévia aprovação em concurso público, ocupantes de cargo de provimento efetivo, haja vista que isso poderia inibir o próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma, o art. 37, I e II, da CF/88, que garante o livre acesso aos cargos, funções e em-pregos públicos aos aprovados em concurso público.

` STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2015 (Info 786).

� Não haverá nepotismo se a pessoa nomeada possui um parente no órgão, mas sem influência hierárquica sobre a nomeaçãoNão há nepotismo na nomeação de servidor para ocupar o cargo de assessor de controle externo do Tribunal de Contas mesmo que seu tio (parente em linha colateral de 3o grau) já exerça o cargo de assessor-chefe de gabinete de determinado Conselheiro, especialmente pelo fato de que o cargo do referido tio não tem qualquer poder legal de nomeação do sobrinho.

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 154

A incompatibilidade da prática enunciada na SV 13 com o art. 37 da CF/88 não decorre diretamente da existência de relação de parentesco entre pessoa designada e agente político ou servidor público, mas de presunção de que a escolha para ocupar cargo de direção, chefia ou assessoramento tenha sidodirecionado à pessoa com relação de parentesco com quem tenha potencial de interferir no processo de seleção.

` STF. 2a Turma. Rcl 18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 23/2/2016 (Info 815).

� A nomeação da esposa do prefeito como Secretária Municipal não configura, por si só, nepotismo e ato de improbidade administrativa A nomeação do cônjuge de prefeito para o cargo de Secretário Municipal, por se tratar de cargo público de natureza política, por si só, não caracteriza ato de improbidade administrativa.

` STF. 2a Turma. Rcl 22339 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/9/2018 (Info 914).

Em regra, a proibição da SV 13 não se aplica para cargos públicos de natureza política, como, por exemplo, Secretário Municipal. Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido a permanên-cia de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento de que tal prática não configuranepotismo.Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismomesmo em se tratando de cargo político caso fiquedemonstradaa inequívoca faltaderazoabilidadenanomeaçãopormanifestaausênciadequalificaçãotécnica ou inidoneidade moral do nomeado.

` STF. 1a Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.

� A contratação de parentes para cargos em comissão ocorrida antes da Súmula Vinculante 13 con-figura ato de improbidade administrativa?• NÃO.Nãoconfiguraimprobidadeadministrativaacontratação,poragentepolítico,deparenteseafins

para cargos em comissão ocorrida em data anterior à lei ou ao ato administrativo do respectivo ente federado que a proibisse e à vigência da Súmula Vinculante 13 do STF.

` STJ. 1a Turma. REsp 1.193.248-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 24/4/2014 (Info 540).

• SIM. A prática de nepotismo configura grave ofensa aos princípios da administração pública, emespecial aos princípios da moralidade e da isonomia, enquadrando-se, dessa maneira, no art. 11 da Lei no 8.429/92.

A nomeação de parentes para ocupar cargos em comissão, ainda que ocorrida antes da publicação da Súmula vinculante 13, constitui ato de improbidade administrativa, que atenta contra os princípios da administração pública, nos termos do art. 11 da Lei n. 8.429/92, sendo despicienda a existência de regra explícita de qualquer natureza acerca da proibição.

` STJ. 2a Turma. REsp 1643293/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2017.

� O STF tem afastado a aplicação da SV 13 a cargos públicos de natureza política, como são os cargos de Secretário Estadual e MunicipalO STF tem afastado a aplicação da SV 13 a cargos públicos de natureza política, como são os cargos de Secretário Estadual e Municipal.Mesmo em caso de cargos políticos, será possível considerar a nomeação indevida nas hipóteses de:• nepotismo cruzado;• fraude à lei e • inequívocafaltaderazoabilidadedaindicação,pormanifestaausênciadequalificaçãotécnicaoupor

inidoneidade moral do nomeado. ` STF. 1a Turma. Rcl 29033 AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/9/2019 (Info 952).

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VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA • Dizer o Direito 155

ADMINISTR

ATIVO

1.2. PUBLICIDADE

� Possibilidade de divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias.

` STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral) (Info 782)

1.3. AUTOTUTELA

� Regra geralSúmula 473-STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.

� Necessidade de garantir contraditório e ampla defesa para se realizar a autotutelaA Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais, faz-se necessária a instauração de procedimento administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa.Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo.

` STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/10/2014 (Info 763).

� Mesmo depois de terem-se passado mais de 5 anos, a Administração Pública pode anular a anistia política concedida quando se comprovar a ausência de perseguição política, desde que respeitado o devido processo legal e assegurada a não devolução das verbas já recebidasNo exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a ausência de ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo, o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas.Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu anistia política, concedida por meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem revistas as concessões de anistia de inúmeros militares, inclusive adeJoão.Em2012, foiabertoprocessoadministrativoparaexaminarasituaçãodeJoãoe,aofinal,deter-minou-se a anulação da anistia política. Mesmo tendo-se passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível,sejaporforçadapartefinaldoart.54daLeino 9.784/99, seja porque o prazo decadencial do art. 54 da Lei no 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal.

` STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839) (Info 956).

É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a violação direta do art. 8o do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial contido na Lei no 9.784/99.

` STJ. 1a Seção. MS 19.070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).

� O prazo decadencial do art. 54 da Lei no 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição FederalNão existe direito adquirido à efetivação na titularidade de cartório quando a vacância do cargo ocorre na vigência da CF/88, que exige a submissão a concurso público (art. 236, § 3o). O prazo decadencial do art. 54 da Lei no 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal.

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 156

O art. 236, § 3o, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição da Lei 8.935/1994elajátinhaplenaeficáciaeoconcursopúblicoeraobrigatóriocomocondiçãoparaoingressona atividade notarial e de registro.

` STF. Plenário. MS 26860/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/4/2014 (Info 741).

� Recebimento de auxílio-moradia com má-fé e inexistência de decadênciaServidor que recebeu auxílio-moradia apresentando declaração falsa de que havia se mudado para outra cidade terá que ressarcir o erário e devolver os valores recebidos mesmo que já se tenha passado mais de 5 anos desde a data em que o pagamento foi autorizado.

` STF. 1a Turma. MS 32.569/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 13/09/2016 (Info 839).

É possível aplicar, por analogia, o art. 54 da Lei no 9.784/99 para o processo administrativo nos Estados e MunicípiosO art. 54 da Lei no 9.784/99 prevê que a Administração Pública federal possui o prazo de 5 anos para anular um ato administrativo ilegal, salvo comprovada má-fé (quando, então, não haverá prazo). Trata-se, portanto, de um prazo para o exercício da autotutela.A Lei no 9.784/99, em princípio, deveria regular apenas e unicamente o processo administrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta.O processo administrativo na esfera dos Estados e dos Municípios deve ser tratado por meio de legis-lação a ser editada por cada um desses entes, em virtude da autonomia legislativa que gozam para regular a matéria em seus territórios.No entanto, o STJ entende que, se o Estado ou o Município não possuir em sua legislação previsão de prazo decadencial para a anulação dos atos administrativos, deve-se aplicar, por analogia integrativa, o art. 54 da Lei no 9.784/99. Essa conclusão é baseada nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

` STJ. 1a Seção. MS 18.338/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 14/06/2017.

Súmula 633-STJ: A Lei no 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo decadencial para a revi-são de atos administrativos no âmbito da Administração Pública federal, pode ser aplicada, de forma subsidiária,aosestadosemunicípios,se inexistentenorma localeespecíficaquereguleamatéria.

1.4. OUTROS PRINCÍPIOS

� Inclusão de entes federativos nos cadastros federais de inadimplênciaÉ necessária a observância da garantia do devido processo legal, em especial, do contraditório e da ampla defesa, relativamente à inscrição de entes públicos em cadastros federais de inadimplência.Assim, a União, antes de incluir Estados-membros ou Municípios nos cadastros federais de inadimplência (exs: CAUC, SIAF) deverá assegurar o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa.

` STF. Plenário. ACO 1995/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/3/2015 (Info 779).

` STF. 1a Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016 (Info 825).

� Estado-membro não pode ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União por irregularidades praticadas pelos outros Poderes que não o ExecutivoO Estado só pode sofrer restrições nos cadastros de devedores da União por atos praticados pelo Poder Executivo. Dessa forma, atos do Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas e dos entes da Administração Pública indireta (como as autarquias e as empresas públicas) não podem gerar sanções da União contra o Estado, diante da ausência de ingerência direta do Executivo sobre eles.

` STF. Plenário. ACO 1.612-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, DJe 13/2/2015.

` STF. Plenário. ACO 2099 AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/12/2015.

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VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA • Dizer o Direito 157

ADMINISTR

ATIVO

� Em caso de irregularidades do Estado-membro em convênio federal, a União somente poderá inscrever o ente no SIAFI, no CADIN e no CAUC após o término do processo de prestação de contas especial, observados os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditórioO cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à ampla defesa e ao con-traditório. Isso porque,muitas vezes, a inscrição pode ter, além demotivaçãomeramente financeira,razões políticas.Assim, ao poder central (União) é possível suspender imediatamente o repasse de verbas ou a execução deconvênios,masocadastrodeveserfeitonostermosdalei,ouseja,medianteaverificaçãodaveraci-dade das irregularidades apontadas. Isso porque o cadastro tem consequências, como a impossibilidade da repartição constitucional de verbas das receitas voluntárias.A tomadade contas especial, procedimento pormeio do qual se alcança o reconhecimento definitivodas irregularidades, com a devida observância do contraditório e da ampla defesa, tem suas regras definidas em lei. Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e certa, e a decisão temeficáciade títuloexecutivoextrajudicial.

` STF. Plenário. ACO 2892 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/9/2019 (Info 951).

� Intranscendência subjetiva das sançõesO Estado de Pernambuco celebrou convênio com a União por meio do qual recebeu determinadas verbas para realizar projetos de interesse público no Estado, assumindo o compromisso de prestar contas da utilização de tais valores perante a União e o TCU. Ocorre que o Estado não prestou contas corretamente, o que fez com que a União o inserisse no CAUC. Ao julgar uma ação proposta pelo Estado-membro contra a União, o STF exarou duas importantes conclusões:1) Viola o princípio do devido processo legal a inscrição de unidade federativa em cadastros de ina-dimplentes antes de iniciada e julgada tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas da União. Em casos como esse, mostra-se necessária a tomada de contas especial e sua respectiva conclusão, a fimdereconhecerquehouverealmenteirregularidades.Sóapartirdissoépossívelainscriçãodoentenos cadastros de restrição ao crédito organizados e mantidos pela União.2) O princípio da intranscendência subjetiva impede que sanções e restrições superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as causadoras do ato ilícito. Assim, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às admi-nistrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores. A inscrição do Estado de Pernambuco no CAUC ocorreu em razão do descumprimento de convênio celebrado por gestão anterior, ou seja, na épocade outroGovernador. Ademais, ficoudemonstradoqueos novos gestoresestavamtomandoasprovidênciasnecessáriasparasanarasirregularidadesverificadas.Logo,deve-seaplicar, no caso concreto, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou recebimento de repasses federais.

` STF. 1a Turma. ACO 3014 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/05/2018.

Sobre o tema, vale a pena saber o entendimento da AGU:Súmula 46-AGU: Será liberada da restrição decorrente da inscrição do município no SIAFI ou CADIN a prefeitura administrada pelo prefeito que sucedeu o administrador faltoso, quando tomadas todas as providências objetivando o ressarcimento ao erário.O STJ comunga também desse entendimento exigindo sempre que a gestão sucessora tenha tomado as providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. Por isso, editou a súmula 615:Súmula 615-STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em cadastros restritivos fun-dada em irregularidades na gestão anterior quando, na gestão sucessora, são tomadas as providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos.

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 158

� Impossibilidade de exame do mérito administrativo

O controle de legalidade exercido pelo Poder Judiciário sobre os atos administrativos diz respeito ao seu amplo aspecto de obediência aos postulados formais e materiais presentes na Carta Magna, sem, contudo, adentrar o mérito administrativo.

` STJ. 2a Turma. AgInt no RMS 49.202/PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 02/05/2017.

No controle jurisdicional do processo administrativo, a atuação do Poder Judiciário limita-se ao campo da regularidade do procedimento, bem como à legalidade do ato, não sendo possível nenhuma incursão nomérito administrativo a fim de aferir o grau de conveniência e oportunidade, de maneira que semostra inviável a análise das provas constantes no processo disciplinar para adotar conclusão diversa da adotada pela autoridade administrativa competente.

` STJ. 1a Seção. AgInt no MS 22.526/DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/05/2017.

� O Poder Judiciário não pode fazer a revisão judicial do mérito da decisão administrativa proferida pelo CADE

O Poder Judiciário não pode fazer a revisão judicial do mérito da decisão administrativa proferida pelo CADE. A expertise técnica e a capacidade institucional do CADE em questões de regulação econômica exige que o Poder Judiciário tenha uma postura deferente (postura de respeito) ao mérito das decisões proferidas pela Autarquia.A análise jurisdicional deve se limitar ao exame da legalidade ou abusividade do ato administrativo.OCADEéquemdetémcompetência legalmenteoutorgadaparaverificarseacondutadeagenteseco-nômicos gera efetivo prejuízo à livre concorrência. As sanções antitruste, aplicadas pelo CADE por força de ilicitude da conduta empresarial, dependem das consequências ou repercussões negativas nomercado analisado, sendo certo que a identificaçãode tais efeitos anticompetitivos reclama acentuada expertise.

` STF. 1a Turma. RE 1083955/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/5/2019 (Info 942).

� MP que confere status de Ministro de Estado ao chefe da Secretaria-Geral da Presidência da Re-pública não é inconstitucional por desvio de finalidade

Não é inconstitucional medida provisória que, ao tratar sobre os órgãos vinculados à Presidência da República, confere status de Ministro de Estado ao chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, ainda que seu titular a ser nomeado, venha a ter foro por prerrogativa de função no STF.Nãohádesviodefinalidadenaediçãodesteato.A norma, ao estabelecer a organização básica dos Ministérios e demais órgãos ligados à Presidência da República, é matéria que está no âmbito decisório do chefe do Poder Executivo da União. Não se sustenta, do ponto de vista jurídico, o argumento de que a criação da Secretaria-Geral com status de Ministério de Estado implicaria burla aos postulados constitucionais de moralidade e probidade na Administração, porque a criação ou extinção de ministérios e órgãos da Presidência também está no campo de decisão do chefe do Poder Executivo.A nomeação de determinada pessoa para o cargo de Ministro de Estado é um ato subsequente e que, em princípio, está na alçada político-administrativa do Presidente da República (art. 84), desde que presentes os requisitos do art. 87 da CF/88.

` STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 27/3/2019 (Info 935).

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Page 8: Márcio André Lopes Cavalcante VADE...Rcl 18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 23/2/2016 (Info 815). A nomeação da esposa do

VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA • Dizer o Direito 159

ADMINISTR

ATIVO

� Judiciário pode determinar que Estado implemente plantão em Delegacia de Atendimento ao adolescente infratorA decisão judicial que impõe à Administração Pública o restabelecimento do plantão de 24 horas em Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e à Juventude não constitui abuso de poder, tampouco extrapola o controle do mérito administrativo pelo Poder Judiciário.

` STJ. 1a Turma. REsp 1.612.931-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/6/2017 (Info 609).

� Fraude no medidor e corte no serviço de energia elétricaNa hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor atri-buída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação.

` STJ. 1a Seção. REsp 1.412.433-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo) (Info 634).

1.5. PODER DE POLÍCIA

� A administração pública possui interesse de agir para tutelar em juízo atos em que ela poderia atuar com base em seu poder de políciaUmdosatributosdopoderdepolíciaéaautoxecutoriedade.IssosignificaqueaAdministraçãoPúblicapode, com os seus próprios meios, executar seus atos e decisões, sem precisar de prévia autorização judicial.A Administração, contudo, pode, em vez de executar o próprio ato, ingressar com ação judicial pedindo que o Poder Judiciário determine essa providência ao particular.Ex: diante de uma irregularidade grave, a Administração Pública poderia, em tese, interditar o estabele-cimento. Se ela, em vez de executar esta ordem diretamente, ajuíza ação pedindo que o Poder Judiciário determine essa providência, tal ação não pode ser julgada extinta por falta de interesse de agir. A autoexecutoriedade não retira da Administração Pública a possibilidade de valer-se de decisão judicial que lhe assegure a providência fática que almeja, pois nem sempre as medidas tomadas pelo Poder Públiconoexercíciodopoderdepolíciasãosuficientes.

` STJ. 2a Turma. REsp 1651622/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/03/2017.

� Se não houver lei estadual ou municipal prevendo o prazo prescricional da sanção de polícia, este prazo será de 5 anos, com base no art. 1o do Decreto 20.910/32A legislação de cada ente deverá prever o prazo prescricional da sanção de polícia. No âmbito federal o prazo é de 5 anos, com fundamento na Lei no 9.873/99.Caso não haja lei estadual ou municipal sobre o assunto, deverá ser aplicado o prazo prescricional de 5 anos por força, não da Lei n. 9.873/99, mas sim do art. 1o do Decreto 20.910/32.As disposições contidas na Lei no 9.873/99 não são aplicáveis às ações administrativas punitivas de-senvolvidas por Estados e Municípios, pois o seu art. 1o é expresso ao limitar sua incidência ao plano federal.Assim, inexistindo legislação localespecífica, incide,nocaso,oprazoprescricionalprevistonoart. 1o do Decreto 20.910/32.

` STJ. 2a Turma. AgInt no REsp 1409267/PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 16/03/2017.

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 160

� O IBAMA possui interesse jurídico e pode exercer poder de polícia administrativa ambiental dentro de área cuja competência para o licenciamento seja do Município ou do Estado.AatividadefiscalizatóriadasatividadesnocivasaomeioambienteconcedeaoIBAMAinteressejurídicosuficiente para exercer seu poder de polícia administrativa, ainda que o bem esteja situado em áreacuja competência para o licenciamento seja do Município ou do Estado.Nos termos da legislação federal de regência, a competência concorrente não inibe a atuação do IBAMA, ainda mais não tendo havido a interferência de órgão ambiental local.

` STJ. 2a Turma. REsp 1560916/AL, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 06/10/2016.

� Ante a omissão do órgão estadual na fiscalização o IBAMA pode exercer o seu poder de polícia administrativaHavendo omissão do órgão estadual na fiscalização, mesmo que outorgante da licença ambiental, oIBAMA pode exercer o seu poder de polícia administrativa, porque não se pode confundir competência para licenciarcomcompetênciaparafiscalizar.

` STJ. 1a Turma. AgInt no REsp 1484933/CE, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 21/03/2017.

� O PROCON possui poder de polícia para impor sanções administrativas relacionadas à violação do CDCO PROCON detém poder de polícia para impor multas (art. 57 do CDC) decorrentes de transgressão às regras ditadas pela Lei n.o 8.078/90.Assim, a sanção administrativa aplicada pelo PROCON reveste-se de legitimidade, em virtude de seu poder de polícia (atividade administrativa de ordenação) para cominar multas relacionadas à trans-gressão do CDC.

` STJ. 1a Turma. AgInt no REsp 1594667/MG, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 04/08/2016.

� Compete ao CRF fiscalizar se as drogarias funcionam com a presença de farmacêuticoAs farmácias e drogarias deverão, obrigatoriamente, ter em seu estabelecimento, durante todo o período de funcionamento, um farmacêutico inscrito no Conselho Regional de Farmácia.AcompetênciaparafiscalizaressaexigênciaédosConselhosRegionaisdeFarmácia.A Vigilância Sanitária não fiscaliza a presença do farmacêutico no estabelecimento. Sua atuação ficarestritaao licenciamentodoestabelecimentoeàfiscalizaçãodocumprimentodepadrõessanitários.Em suma, o STJ definiu a seguinte tese: “Os Conselhos Regionais de Farmácia possuem competênciaparafiscalizaçãoeautuaçãodas farmáciasedrogarias,quantoao cumprimentodaexigênciademan-teremprofissional legalmentehabilitado (farmacêutico)durante todooperíodode funcionamentodosrespectivos estabelecimentos, sob pena de esses incorrerem em infração passível de multa, nos termos do art. 24 da Lei 3.820/1960, c/c o art. 15 da Lei 5.991/1973.”

` STJ. 1a Seção. REsp 1.382.751-MG, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 554)

� Competência para fiscalizar a presença de farmacêuticos nas farmáciasSúmula561-STJ:OsconselhosregionaisdeFarmáciapossuematribuiçãoparafiscalizareautuaras far-máciasedrogariasquantoao cumprimentodaexigênciademanterprofissional legalmentehabilitado(farmacêutico) durante todo o período de funcionamento dos respectivos estabelecimentos.

� Inscrição de profissionais no Conselho Regional de Educação FísicaNão é obrigatória a inscrição, nos Conselhos de Educação Física, dos professores e mestres de dança, ioga e artes marciais (karatê, judô, tae-kwon-do, kickboxing, jiu-jitsu, capoeira e outros) para o exercício desuasatividadesprofissionais.

` STJ. 2a Turma. REsp 1.450.564-SE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/12/2014 (Info 554).

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VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA • Dizer o Direito 161

ADMINISTR

ATIVO

� Lojas que vendam animais vivos e medicamentos veterinários não precisam se inscrever no CRMVNão estão sujeitas a registro perante o respectivo Conselho Regional de Medicina Veterinária, nem à contrataçãodeprofissionaisneleinscritoscomoresponsáveistécnicos,aspessoasjurídicasqueexploremas atividades de comercialização de animais vivos e a venda de medicamentos veterinários, pois não são atividades reservadas à atuação privativa do médico veterinário.

` STJ. 1a Seção. REsp 1.338.942-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/4/2017 (recurso repetitivo) (Info 602).

� Técnico de futebol não precisa ser inscrito no Conselho Regional de Educação FísicaOexercíciodaprofissãode técnicoou treinadorprofissionalde futebolnãose restringeaosprofissio-nais graduados em Educação Física, não havendo obrigatoriedade legal de registro junto ao respectivo Conselho Regional.

` STJ. 2a Turma. REsp 1.650.759-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/4/2017 (Info 607).

É constitucional a previsão da lei de que determinadas atividades são privativas de nutricionistasÉ constitucional a expressão “privativas”, contida no caput do art. 3o da Lei no 8.234/91, que regula-mentaaprofissãodenutricionista, respeitadooâmbitodeatuaçãoprofissionaldasdemaisprofissõesregulamentadas.

` STF. Plenário. ADI 803/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/9/2017 (Info 879).

� Quem pode ser responsável técnico em drogariasÉ facultado aos técnicos de farmácia, regularmente inscritos no Conselho Regional de Farmácia, a as-sunção de responsabilidade técnica por drogaria, independentemente do preenchimento dos requisitos previstos nos arts. 15, § 3o, da Lei no 5.991/73, c/c o art. 28 do Decreto no 74.170/74, entendimento que deve ser aplicado até a entrada em vigor da Lei no 13.021/2014.Obs: após a Lei no 13.021/2014 apenas farmacêuticos habilitados na forma da lei poderão atuar como responsáveis técnicos por farmácias com manipulação e drogarias.

` STJ. 1a Seção. REsp 1.243.994-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 14/6/2017 (recurso repetitivo) (Info 611).

� O termo “bombeiro civil” pode ser utilizado pelos profissionais de empresas privadas atuantes no ramoProfissionaisdeempresasprivadasqueexerçamatividadedeprevençãoecombateaoincêndiopodemadotar a nomenclatura “bombeiro civil”.O art. 2o da Lei no 11.901/2009 dispõe que são “bombeiros civis” os empregados contratados tanto por empresas públicas quanto privadas que exerçam atividade de prevenção e combate ao incêndio.A Lei no 12.664/2012 não revogou a Lei no 11.901/2009, mas apenas proibiu o uso de uniformes que possuam insígnias, distintivos e emblemas representativos das instituições públicas.

` STJ. 1a Turma. REsp 1.549.433-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 09/04/2019 (Info 648).

� Não é possível a aplicação de sanções pecuniárias por sociedade de economia mista, facultado o exercício do poder de polícia fiscalizatórioDeterminado Estado atribuiu a uma sociedade de economia mista a tarefa de instalar radares nas vias públicas e multar os condutores que estivessem acima da velocidade permitida.O STJ considerou que a atividade de multar (sanção de polícia) não poderia ter sido delegada para uma sociedade de economia mista porque se trata de pessoa jurídica de direito privado e a aplicação de sanções pecuniárias não pode ser delegada para particulares.Poroutrolado,aatividadedeinstalarosradaresépermitidaporquesetratadefiscalizaçãodepolícia,etapa do poder de polícia passível de delegação.

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 162

O poder de polícia no trânsito divide-se em quatro grupos bem definidos: o CTB estabelece normasgenéricaseabstratasparaaobtençãodaCNH(legislação);aemissãodacarteiracorporificaavontadedo Poder Público (consentimento); a Administração instala equipamentos eletrônicos para verificar sehárespeitoàvelocidadeestabelecidaemlei (fiscalização);etambémaAdministraçãosancionaaqueleque não guarda observância ao CTB (sanção).Somenteosatos relativosao consentimentoeàfiscalizaçãosãodelegáveis,poisaqueles referentesàlegislação e à sanção derivam do poder de coerção do Poder Público.

` STJ. REsp 817.534/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/11/2009.

� Incompetência do INMETRO para fiscalizar balanças gratuitamente disponibilizadas por farmácias

ATaxadeServiçosMetrológicos,decorrentedopoderdepolíciadoINMETROemfiscalizararegularidadedas balanças (art. 11 da Lei n.o 9.933/99) tem por objetivo preservar as relações de consumo.Quando as balanças de aferição de peso estiverem relacionadas intrinsecamente ao serviço prestado pelas empresas ao consumidor, incidirá a Taxa de Serviços Metrológicos, decorrente do poder de polícia do INMETROemfiscalizara regularidadedessesequipamentos.Por outro lado, por não se tratar de equipamento essencial ao funcionamento e às atividades econô-micasdas farmácias, asbalançasutilizadasgratuitamentepelos clientesnão seexpõemàfiscalizaçãoperiódica do INMETRO.

` STJ. 1a Turma. REsp 1384205/SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 05/03/2015.

` STJ. 2a Turma. REsp 1655383/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/04/2017.

� Competência do DNIT para fiscalizar trânsito nas rodovias e estradas federais

ODepartamentoNacionaldeInfraestruturadeTransportes–DNITdetémcompetênciaparaafiscalizaçãodo trânsito nas rodovias e estradas federais, podendo aplicar, em caráter não exclusivo, penalidade por infração ao Código de Trânsito Brasileiro, consoante se extrai da conjugada exegese dos arts. 82, § 3o, da Lei n. 10.233/2001 e 21 da Lei n. 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro).

` STJ. 1a Seção. REsp 1.588.969-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 623).

� Poder de polícia de trânsito e guardas municipais

Asguardasmunicipaispodemrealizarafiscalizaçãode trânsito?SIM.Asguardasmunicipais,desdequeautorizadasporleimunicipal,têmcompetênciaparafiscalizarotrânsito, lavrar auto de infração de trânsito e impor multas.OSTFdefiniua tesedequeéconstitucionalaatribuiçãoàsguardasmunicipaisdoexercíciodopoderde polícia de trânsito, inclusive para a imposição de sanções administrativas legalmente previstas (ex: multas de trânsito).

` STF. Plenário. RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 6/8/2015 (repercussão geral) (Info 793).

� Atribuição para classificar como medicamento produto importado

SeaANVISAclassificoudeterminadoprodutoimportadocomo“cosmético”,aautoridadeaduaneiranãopoderáalteraressaclassificaçãoparadefini-locomo“medicamento”.IncumbeàANVISAregulamentar,controlarefiscalizarosprodutoseserviçosqueenvolvamriscoàsaúdepública (art. 8o da Lei no 9.782/99). Assim, é da Agência a atribuição de definir o que émedicamentoe o que é cosmético.

` STJ. 1a Turma. REsp 1.555.004-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/2/2016 (Info 577).

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VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA • Dizer o Direito 163

ADMINISTR

ATIVO

� Discussão sobre a constitucionalidade de resolução da ANVISA que proíbe cigarros com sabor e aroma

É constitucional o art. 7o, III e XV, da Lei no 9.782/99, que preveem que compete à ANVISA:III – estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as políticas, as diretrizes e as ações de vigi-lância sanitária;XV – proibir a fabricação, a importação, o armazenamento, a distribuição e a comercialização de produtos e insumos, em caso de violação da legislação pertinente ou de risco iminente à saúde;Entendeu-se que tais normas consagram o poder normativo desta agência reguladora, sendo impor-tanteinstrumentoparaaimplementaçãodasdiretrizes,finalidades,objetivoseprincípiosexpressosnaConstituição e na legislação setorial.Além disso, o STF, após empate na votação, manteve a validade da Resolução RDC 14/2002-ANVISA, que proíbe a comercialização no Brasil de cigarros com sabor e aroma. Esta parte do dispositivo não possui eficácia erga omnes e efeito vinculante. Significa dizer que, provavelmente, as empresas continuarãoingressando com ações judiciais, em 1a instância, alegando que a Resolução é inconstitucional e pedindo a liberação da comercialização dos cigarros com aroma. Os juízes e Tribunais estarão livres para, se assim entenderem, declararem inconstitucional a Resolução e autorizar a venda. Existem, inclusive, algumas decisões nesse sentido e que continuam valendo.

` STF. Plenário. ADI 4874/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 1o/2/2018 (Info 889).

� Cabe ao Banco Central fiscalizar agência de turismo que faça operações de câmbio (neste caso, ela é equiparada à instituição financeira)

A agência de turismo devidamente credenciada para efetuar operações de câmbio é equiparada a ins-tituiçãofinanceiraesubordina-seà regular intervençãofiscalizatóriadoBancoCentral.Consideram-se instituições financeiras as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham comoatividadeprincipal ou acessória a coleta, intermediaçãoou aplicaçãode recursos financeiros própriosou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros (art. 17 da Lei no 4.595/64).

` STJ. 1a Turma. REsp 1.434.625-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/04/2019 (Info 647).

Obs: esse mesmo entendimento pode ser aplicado para a seara dos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (art. 1o, I, da Lei no 7.492/86): STJ. 5a Turma. RHC 9.281/PR, Rel. Min. Gilson Dipp, DJe 30/10/2000.

� Não cabe ao Banco Central fiscalizar a Serasa

OBanco Central temo dever de exercer o controle do crédito e fiscalizar a atividade das instituiçõesfinanceiras.A Serasa não é uma instituição financeira considerando que não exerce coleta, intermediação nemaplicação de recursos financeiros, nem a custódia de valor de propriedade de terceiros, seja comoatividade principal ou acessória.Logo,nãoédaatribuiçãodoBancoCentralafiscalizaçãodasatividadesdaSerasa.

` STJ. 4a Turma. REsp 1178768/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 01/12/2016 (Info 595).

� Fiscalização prévia do camarão in natura

Éobrigatóriaapréviafiscalizaçãodocamarãoinnatura,aindaquenacondiçãodematéria-prima,antesdo beneficiamento em outros Estados da Federação, podendo tal atividade ser realizada no próprioestabelecimento rural onde se desenvolve a carcinicultura.

` STJ. 1a Turma. REsp 1.536.399-PI, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 08/02/2018 (Info 620).

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 164

� Não é possível a manutenção de quiosques e trailers instalados sobre calçadas sem a regular aprovação estatalEm cidades tomadas por veículos automotores, a maior parte deles a serviço de minoria privilegiada, calçadas integram o mínimo existencial de espaço público dos pedestres, a maioria da população. NoEstadoSocialdeDireito,oatodesedeslocarapé,emsegurançaecomconforto,qualifica-secomodireito de todos, com atenção redobrada para a acessibilidade dos mais vulneráveis, aí incluídos idosos, criançasepessoascomdeficiência.Vale ressaltar que as calçadas são consideradas bens públicos, como bens de uso comum do povo (art. 99, I, do Código Civil). A ninguém é lícito ocupar espaço público (no caso, a calçada), exceto se estritamente conforme à legislação e após regular procedimento administrativo. Se o apossamento do espaço urbano público ocorre ilegalmente, incumbe ao administrador, sob risco de cometimento de improbidade e infração disciplinar, fazer a imediata demolição de eventuais construções irregulares e a desocupação de bem turbado ou esbulhado.

` STJ. 2a Turma. REsp 1.846.075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 671).

� Súmulas sobre o poder de polícia:Súmula Vinculante 38: É competente omunicípio para fixar o horário de funcionamento de estabele-cimento comercial.Súmula vinculante 49: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.Súmula19-STJ:Afixaçãodohoráriobancário,paraatendimentoaopúblico,édacompetênciadaUnião.Súmula 312-STJ: No processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificaçõesdaautuaçãoedaaplicaçãodapenadecorrenteda infração.Súmula 467-STJ: Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental.

Jurisprudência em Teses do STJEDIÇÃO N. 82: PODER DE POLÍCIA

1 A administração pública possui interesse de agir para tutelar em juízo atos em que ela poderia atuar com base em seu poder de polícia, em razão da inafastabilidade do controle jurisdicional.

2 O prazo prescricional para as ações administrativas punitivas desenvolvidas por Estados e Municípios, quando não existir legislação local específica, é quinquenal, conforme previsto no art. 1o do Decreto n. 20.910/32, sendo inaplicáveis as disposições contidas na Lei n. 9.873/99, cuja incidência limita-se à Administração Pública Federal Direta e Indireta.

3 Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental. (Súmula n. 467/STJ) (Recurso Repetitivo – Tema 324)

4 A prerrogativa de fiscalizar as atividades nocivas ao meio ambiente concede ao Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA interesse jurídico suficiente para exercer seu poder de polícia administrativa, ainda que o bem esteja situado dentro de área cuja competência para o licenciamento seja do município ou do estado.

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VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA • Dizer o Direito 165

ADMINISTR

ATIVO

5 Ante a omissão do órgão estadual na fiscalização, mesmo que outorgante da licença ambiental, o IBAMA pode exercer o seu poder de polícia administrativa, já que não se confunde a competência para licenciar com a competência para fiscalizar.

6 O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor – PROCON detém poder de polícia para impor sanções administrativas relacionadas à transgressão dos preceitos ditados pelo Código de Defesa do Consumidor – art. 57 da Lei n. 8.078/90.

7 O PROCON tem competência para aplicar multa à Caixa Econômica Federal – CEF por infração às normas do Código de Defesa do Consumidor, independentemente da atuação do Banco Central do Brasil.

8 A atividade fiscalizatória exercida pelos conselhos profissionais, decorrente da delegação do poder de polícia, está inserida no âmbito do direito administrativo, não podendo ser considerada relação de trabalho e, por consequência, não está incluída na esfera de competência da Justiça Trabalhista.

9 Não é possível a aplicação de sanções pecuniárias por sociedade de economia mista, facultado o exercício do poder de polícia fiscalizatório.

10 É legítima a cobrança da taxa de localização, fiscalização e funcionamento quando notório o exercício do poder de polícia pelo aparato administrativo do ente municipal, sendo dispensável a comprovação do exercício efetivo de fiscalização.

11 Quando as balanças de aferição de peso estiverem relacionadas intrinsecamente ao serviço prestado pelas empresas ao consumidor, incidirá a Taxa de Serviços Metrológicos, decorrente do poder de polícia do Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial – Inmetro em fiscalizar a regularidade desses equipamentos.

12 É legitima a cobrança da Taxa de Fiscalização dos Mercados de Títulos e Valores Mobiliários decorrente do poder de polícia atribuído à Comissão de Valores Mobiliários – CVM, visto que os efeitos da Lei n. 7.940/89 são de aplicação imediata e se prolongam enquanto perdurar o enqua-dramento da empresa na categoria de beneficiária de incentivos fiscais.

13 Os valores cobrados a título de contribuição para o Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização – FUNDAF têm natureza jurídica de taxa, tendo em vista que o seu pagamento é compulsório e decorre do exercício regular de poder de polícia.

2. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

2.1. TEMAS DIVERSOS

� Personalidade judiciária das Câmaras Municipais e das Assembleias LegislativasA personalidade judiciária da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa é ampla? Elas podem atuar em juízo em qualquer caso?NÃO. Elas até podem atuar em juízo, mas apenas para defender os seus interesses estritamente ins-titucionais, ou seja, aqueles relacionados ao funcionamento, autonomia e independência do órgão.

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 166

A Câmara dos Vereadores ajuizou ação contra a União pedindo que esta liberasse os repasses do Fundo de Participação do Município (FPM) que tinham sido retidos. A Câmara possui legitimidade ativa para essa demanda?NÃO. Para se aferir se a Câmara de Vereadores tem legitimação ativa, é necessário analisar se a pre-tensão deduzida em juízo está, ou não, relacionada a interesses e prerrogativas institucionais do órgão.Para o STJ, uma ação pedindo a liberação de FPM é uma pretensão de interesse apenas patrimonial do Município e que, portanto, não está relacionado com a defesa de prerrogativa institucional da Câmara Municipal.

` STJ. 2a Turma. REsp 1.429.322-AL, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/2/2014 (Info 537).

Sobre o tema, vale a pena conhecer a seguinte súmula:Súmula 525-STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade judi-ciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.

` STJ. 1a Seção. Aprovada em 22/04/2015, DJe 27/4/2015.

� É inconstitucional lei estadual que obrigue a participação de representante da seccional da OAB em órgão colegiado da Administração Pública estadualÉ possível que o chefe do Poder Executivo estadual convide, em consenso com a OAB, um represen-tante da Ordem para integrar órgão da Administração. Isso é válido. No entanto, a lei não pode impor a presença de representante da OAB (“autarquia federal”) em órgão da Administração Pública local.

` STF. Plenário. ADI 4579/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/2/2020 (Info 966).

� A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou privado, a depender do estatuto da fundação e das atividades por ela prestadasAqualificaçãodeumafundaçãoinstituídapeloEstadocomosujeitaaoregimepúblicoouprivadodepende:i) do estatuto de sua criação ou autorização e ii) das atividades por ela prestadas. Asatividadesdeconteúdoeconômicoeaspassíveisdedelegação,quandodefinidascomoobjetosdedada fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem se submeter ao regime jurídico de direito privado.

` STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1o e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946).

� Multas previstas em resoluções criadas por agências reguladorasNão há violação do princípio da legalidade na aplicação de multa previstas em resoluções criadas por agências reguladoras, haja vista que elas foram criadas no intuito de regular, em sentido amplo, os serviços públicos, havendo previsão na legislação ordinária delegando à agência reguladora competência para a edição de normas e regulamentos no seu âmbito de atuação.

` STJ. 2a Turma. AgRg no AREsp 825.776/SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 05/04/2016.

� Novidade legislativaAo estudar agências reguladoras, não esquecer de ler a Lei no 13.848/2019 (lei geral das agências re-guladoras federais).

� Associação de Municípios não pode ajuizar ação para tutelar direitos dos MunicípiosAssociação de Municípios e Prefeitos não possui legitimidade ativa para tutelar em juízo direitos e interesses das pessoas jurídicas de direito público.

` STJ. 1a Seção. REsp 1.503.007-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/6/2017 (Info 610).

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ADMINISTR

ATIVO

� Legitimidade do Município para defesa dos consumidoresMunicípio tem legitimidade ad causam para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos consumeristas questionando a cobrança de tarifas bancárias.EmrelaçãoaoMinistérioPúblicoeaosentespolíticos,quetêmcomofinalidadesinstitucionaisaproteçãode valores fundamentais, como a defesa coletiva dos consumidores, não se exige pertinência temática e representatividade adequada.

` STJ. 3a Turma. REsp 1.509.586-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 626).

� Legitimidade do TJ para impetrar mandado de segurança em defesa de sua autonomia institucionalO Tribunal de Justiça, mesmo não possuindo personalidade jurídica própria, detém legitimidade au-tônoma para ajuizar mandado de segurança contra ato do Governador do Estado em defesa de sua autonomia institucional.Ex: mandado de segurança contra ato do Governador que está atrasando o repasse dos duodécimos devidos ao Poder Judiciário.

` STF. 1a Turma. MS 34483-MC/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/11/2016 (Info 848).

� Nomeação de dirigentes e desnecessidade de prévia aprovação da ALEÉ inconstitucional norma de Constituição Estadual que exija prévia arguição e aprovação da Assembleia Legislativa para que o Governador do Estado nomeie os dirigentes das autarquias e fundações públicas, os presidentes das empresas de economia mista e assemelhados, os interventores de Municípios, bem como os titulares da Defensoria Pública e da Procuradoria-Geral do Estado.

` STF. Plenário. ADI 2167/RR, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/6/2020 (Info 980).

É possível aplicar o regime de precatórios às empresas públicas?Não se submetem ao regime de precatório as empresas públicas dotadas de personalidade jurídica de direito privado com patrimônio próprio e autonomia administrativa que exerçam atividade econômica semmonopólioecomfinalidadede lucro.

` STF. 1a Turma. RE 892727/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Morais, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 7/8/2018 (Info 910).

� É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista?É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

` STF. 2a Turma. RE 852302 AgR/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/12/2015 (Info 812). ` STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mistaprestadoradeserviçospúblicosemregimenãoconcorrencial,parafinsdepagamentodedébitostrabalhistas. Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2o c/c art. 60, § 4o, III).

` STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

� A alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia mista exige autorização legislativa e licitaçãoA alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia mista exige auto-rização legislativa e licitação.

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 168

Por outro lado, não se exige autorização legislativa para a alienação do controle de suas subsidiárias e controladas. Nesse caso, a operação pode ser realizada sem a necessidade de licitação, desde que siga procedimentos que observem os princípios da administração pública inscritos no art. 37 da CF/88, respeitada, sempre, a exigência de necessária competitividade.

` STF. Plenário. ADI 5624 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 5 e 6/6/2019 (Info 943).

� Decreto não pode extinguir colegiado previsto em leiÉ proibida a extinção, por ato unilateralmente editado pelo chefe do Poder Executivo, de colegiado cuja existência encontre menção em lei em sentido formal, ainda que ausente a expressa referência “sobre a competência ou a composição”.Caso concreto: o Presidente da República editou o Decreto no 9.759/2019 extinguindo uma série de colegiados existentes na Administração Pública federal. O art. 1o, § 2odesteDecretopreviuqueficariamextintos os colegiados que sejam mencionados em lei, mas sem que esta tenha definido a compe-tência ou a composição. O STF, em medida cautelar, declarou a inconstitucionalidade dessa previsão, considerando que a extinção desses colegiados mencionados em lei somente poderia ocorrer também mediante lei (e não por decreto).

` STF. Plenário. ADI 6121 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12 e 13/6/2019 (Info 944).

Jurisprudência em Teses do STJEDIÇÃO N. 79: ENTIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA

1 Aplica-se a prescrição quinquenal do Decreto n. 20.910/32 às empresas públicas e às sociedades de economia mista responsáveis pela prestação de serviços públicos próprios do Estado e que não exploram atividade econômica.

2 Inexiste direito à incorporação de vantagens decorrentes do exercício de cargo em comissão ou função de confiança na administração pública indireta.

3 As autarquias possuem autonomia administrativa, financeira e personalidade jurídica própria, distinta da entidade política à qual estão vinculadas, razão pela qual seus dirigentes têm legitimi-dade passiva para figurar como autoridades coatoras em Mandados de Segurança.

4 As empresas públicas e as sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos possuem legitimidade ativa ad causam para a propositura de pedido de suspensão, quando na defesa de interesse público primário.

5 A universidade federal, organizada sob o regime autárquico, não possui legitimidade para figurar no polo passivo de demanda que visa à repetição de indébito de valores relativos à contribuição previdenciária por ela recolhidos e repassados à União.

6 Os Conselhos de Fiscalização Profissionais possuem natureza jurídica de autarquia, sujeitando-se, portanto, ao regime jurídico de direito público.

Exceção: a OAB que, segundo a concepção majoritária, é um serviço público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro (STF. Plenário. ADI 3026, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 08/06/2006).

7 O benefício da isenção do preparo, conferido aos entes públicos previstos no art. 4o, caput, da Lei n. 9.289/1996, é inaplicável aos Conselhos de Fiscalização Profissional. (Recurso Repetitivo – Tema 625)

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ATIVO

8 O arquivamento provisório previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, dirigido aos débitos inscri-tos como dívida ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, não se aplica às execuções fiscais movidas pelos conselhos de fiscalização profissional ou pelas autarquias federais. (Súmula n. 583/STJ) (Recurso Repetitivo – Temas 636 e 612)

9 Os créditos das autarquias federais preferem aos créditos da Fazenda estadual desde que coexistam penhoras sobre o mesmo bem. (Súmula n. 497/STJ) (Recurso Repetitivo – Tema 393)

10 As agências reguladoras podem editar normas e regulamentos no seu âmbito de atuação quando autorizadas por lei.

11 Não é possível a aplicação de sanções pecuniárias por sociedade de economia mista, facultado o exercício do poder de polícia fiscalizatório.

12 Compete à justiça federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas. (Súmula n. 150/STJ)

13 Compete à justiça comum estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento. (Súmula n. 42/STJ)

14 Compete à Justiça ordinária estadual o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista. (Súmula n. 501/STF)

• Ação proposta pelo acidentado (seu cônjuge, demais herdeiros ou dependentes) contra o empregador pedindo indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho: Competência da Justiça do TRABALHO.

• Ação proposta pelo acidentado (seu cônjuge, demais herdeiros ou dependentes) contra o INSS pleiteando benefício decorrente de acidente de trabalho: Competência da justiça comum ESTADUAL.

• Ação proposta pelo acidentado (seu cônjuge, demais herdeiros ou dependentes) contra o INSS pleiteando benefício decorrente de acidente de outra natureza (que não seja acidente de trabalho): Competência da Justiça FEDERAL (STJ AgRg no CC 118.348/SP, julgado em 29/02/2012).

2.2. CONSELHOS PROFISSIONAIS

� Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs.: CREA, CRM, COREN, CRO etc.)?OsConselhosProfissionaispossuemnatureza jurídicadeautarquias federais (“autarquiasespeciais”).Exceção: a OAB que, segundo a concepção majoritária, é um serviço público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro (STF. Plenário. ADI 3026, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 08/06/2006).

� Exercem atividade tipicamente públicaOs Conselhos Profissionais são criados por lei e possuem personalidade jurídica de direito público,exercendoumaatividade tipicamentepública,qualseja,afiscalizaçãodoexercícioprofissional.Os Conselhos são dotados de poder de polícia e poder arrecadador.

` STF. 1a Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/06/2015.

� Qual é a natureza jurídica das anuidades cobradas pelos Conselhos Profissionais?Asanuidades cobradaspelosConselhosProfissionaispossuemnaturezade “tributo”, daespécie “con-tribuiçõesde interessedascategoriasprofissionais”, tambémchamadasde“contribuiçõesprofissionaisou corporativas”, estando prevista no art. 149 da CF/88:

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 170

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interessedascategoriasprofissionaisoueconômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6o, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

Vale ressaltar que, nos termos do art. 5o da Lei no 12.514/2011, o fato gerador para cobrança de anuidades deconselhodefiscalizaçãoprofissionaléo registro,sendo irrelevanteoexercíciodaprofissão.

` STJ. 2a Turma. REsp 1387415/SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 05/03/2015.

ComoaanuidadeéumtributoeosConselhosprofissionaissãoautarquias,emcasodeinadimplemento,ovalordevidoécobradopormeiodeumaexecuçãofiscal.A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em vista que os Conselhossão autarquias federais (Súmula 66 do STJ).

� A anuidade da OAB possui natureza tributária?Os Tribunais Superiores divergem sobre o tema:STJ: NÃOOs créditos decorrentes da relação jurídica travada entre a OAB e os advogados não compõem o erário e, consequentemente, não têm natureza tributária.

` STJ. 1a Turma. REsp 1574642/SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/02/2016.

STF: SIM

Asanuidadescobradaspelosconselhosprofissionaiscaracterizam-secomo tributosdaespéciecontri-buiçõesde interessedascategoriasprofissionais,nos termosdoart. 149daConstituiçãodaRepública.

` STF. Plenário. RE 647885, Rel. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020.

� Para o exercício de toda e qualquer profissão, é necessário que a pessoa se inscreva no respectivo Conselho Profissional (ex: o músico é obrigado a se inscrever na Ordem dos Músicos do Brasil)?NÃO.Nemtodososofíciosouprofissõespodemsercondicionadosaocumprimentodecondiçõeslegaispara o seu exercício. Na verdade, a regra é a liberdade. Assim, apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que podeserexigida inscriçãoemconselhodefiscalizaçãoprofissional (exs:advogado,médicoetc.).A atividade de músico prescinde de controle. Constitui, ademais, manifestação artística protegida pela garantiada liberdadedeexpressão.Logo,paraqueomúsicoexerçasuaprofissãonãoé indispensávela sua prévia inscrição na Ordem dos Músicos do Brasil.

` STF. Plenário. RE 414426, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 01/08/2011.

� Os Conselhos Profissionais estão submetidos à fiscalização do Tribunal de Contas?SIM.Porseremautarquiasfederais,osConselhosProfissionaistêmodeverdeprestarcontasaoTribunalde Contas da União (art. 71, II, CF/88).

` STF. MS 28469 AgR-segundo, Rel. Min. Dias Toffoli, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Luiz Fux, julgado em 19/02/2013.

Exceção: OAB (STF ADI 3026).

� Os Conselhos Profissionais, para contratarem “funcionários”, precisam fazer concurso público?SIM.ComoosConselhosProfissionaissãoautarquiasexercendoumaatividadetipicamentepública(fis-calizaçãodoexercícioprofissional),precisamrespeitararegradoart.37,II,daCF/88,queexigeconcursopúblico para a contratação de servidores.Assim,quandoosConselhosde FiscalizaçãoProfissional vão fazer a contrataçãode seupessoal é im-prescindível a realização de concurso público.

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Page 20: Márcio André Lopes Cavalcante VADE...Rcl 18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 23/2/2016 (Info 815). A nomeação da esposa do

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` STF. 1a Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/06/2015. ` STF. 2a Turma. RE 758168 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/06/2014.

Exceção: OAB. O STF decidiu que a OAB, quando vai contratar seus empregados, não precisa realizar concurso público (STF ADI 3026).

� Para que o Conselho Profissional demita um servidor seu, é necessário processo administrativo?SIM.ComoosConselhosdeFiscalizaçãoProfissionaltêmnaturezajurídicadeautarquia,devemserapli-cados aos seus servidores os arts. 41 da CF/88 e 19 do ADCT, razão pela qual não podem ser demitidos sem a prévia instauração de processo administrativo.Assim,oservidordeórgãodefiscalizaçãoprofissionalnãopodeserdemitidosemapréviainstauraçãode processo administrativo disciplinar.

` STF. 2a Turma. RE 838648 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 07/04/2015.

Exceção: OAB (STF ADI 3026).

� Os Conselhos de Fiscalização Profissional, se forem de âmbito nacional, podem ajuizar ADI, ADC e ADPF?NÃO.OsConselhosFederaisdeFiscalizaçãoProfissional (ex:ConselhoFederaldeCorretoresde Imóveis– COFECI) não podem propor ações de controle concentrado de constitucionalidade porque não estão no rol do art. 103 da CF/88, que é taxativo. Osconselhosdefiscalizaçãoprofissionaltêmcomofunçãoprecípuaocontroleeafiscalizaçãodoexer-cíciodasprofissões regulamentadas, exercendo,portanto,poderdepolícia, atividade típicadeEstado,razão pela qual detêm personalidade jurídica de direito público, na forma de autarquias. Sendo assim, tais conselhos não se ajustam à noção de entidade de classe, expressão que designa tão somente aquelas entidades vocacionadas à defesa dos interesses dos membros da respectiva categoria ou classe deprofissionais.

` STF. Plenário. ADC 34 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/03/2015.

` STF. Plenário. ADPF 264 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/12/2014.

Exceção: o Conselho Federal da OAB é legitimado para propor ADI, ADC e ADPF (art. 103, VII, da CF/88).

� O Conselho de Fiscalização Profissional pode ajuizar ação civil pública?SIM. O art. 5o da Lei no 7.347/85 (Lei da ACP) elencou o rol dos legitimados concorrentes para a propo-situra de ação civil pública, nos quais se incluem as autarquias, em cuja categoria estão os Conselhos profissionais.

` STJ. 2a Turma. REsp 1388792/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/05/2014.

� Os Conselhos de Fiscalização Profissional estão isentos de custas processuais?NÃO.Os Conselhos Profissionais, apesar de suanatureza autárquica, não estão isentos dopagamentode custas judiciais, conforme previsão expressa do art. 4o, parágrafo único, da Lei no 9.289/96.Assim, o benefício da isenção do preparo conferido aos entes públicos previstos no art. 4o, caput, da Lei9.289/1996é inaplicávelaosConselhosdeFiscalizaçãoProfissional.

` STF. 1a Turma. RMS 33572 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 09/08/2016.

` STJ. 1a Seção. REsp 1338247/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/10/2012 (recurso repetitivo).

� Conselhos profissionais não estão sujeitos ao regime de precatóriosOs pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de Fiscalização (exs: CREA, CRM, COREN, CRO) não se submetem ao regime de precatórios.

` STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 172

� Conselhos profissionais e constitucionalidade da Lei 12.514/2011A Lei no 12.514/2011, que trata sobre as contribuições (anuidades) devidas aos ConselhosProfissionais,é constitucional.Sob o ponto de vista formal, esta Lei, apesar de ser fruto de uma MP que originalmente dispunha so-bre outro assunto, não pode ser declarada inconstitucional porque foi editada antes de o STF declarar ilegítima a prática do “contrabando legislativo” (ADI 5127/DF).Ainda quanto ao aspecto formal, esta Lei não trata sobre normas gerais de Direito Tributário, motivo pelo qual não precisava ser veiculada por lei complementar.Sob o ponto de vista material, a Lei respeitou os princípios da capacidade contributiva, da vedação ao confiscoeda legalidade.

` STF. Plenário. ADI 4697/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 06/10/2016 (Info 842).

� Suspensão ou cancelamento do registro do profissional que atrasar anuidadesSegundo o art. 8o da Lei no 12.514/2011, para que os Conselhos Profissionais ajuízem execução fiscalcobrando anuidades em atraso, é necessário que o total da quantia executada seja de, no mínimo, quatro vezes o valor da anuidade.Mesmosempoderexecutaradívida,oConselhoProfissionalpoderáadotarumaoutrasançãocontraoinadimplente:poderásuspenderoucancelarseuregistroprofissional.Assim, o fato de os conselhos não poderem executar dívidas inferiores a quatro vezes o valor cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente, não impede que seja feita a suspensão ou o cancelamentodo registrodoprofissionalquedeixardeefetuaropagamentodasanuidades. Issoestáprevisto no art. 8o, parágrafo único, da Lei no 12.514/2011.

` STJ. 2a Turma. REsp 1.659.989-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/4/2017 (Info 603).

Obs: o tema acima exposto será novamente discutido para saber se ele afronta ou não a seguinte decisão do STF:

� Cancelamento automático de registro em conselho profissional por inadimplência é inconstitucionalÉ inconstitucional o art. 64 da Lei no 5.194/66, considerada a previsão de cancelamento automático, ante a inadimplência da anuidade por dois anos consecutivos, do registro em conselho profissional, sempréviamanifestaçãodoprofissionaloudapessoa jurídica,porviolarodevidoprocesso legal.Art.64.Seráautomaticamentecanceladooregistrodoprofissionaloudapessoajurídicaquedeixardeefetuar o pagamento da anuidade, a que estiver sujeito, durante 2 (dois) anos consecutivos sem prejuízo da obrigatoriedade do pagamento da dívida.Odispositivoviolao livreexercícioprofissional (art. 5o, XIII, da CF/88), o devido processo legal (art. 5o, LIV), o contraditório e a ampla defesa (art. 5o, LV).Há ofensa também à Súmula 70 do STF, que considera inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de tributo. O conselho dispõe de meio legal para receber os valores devidos, não sendo razoável o cancelamento automático do registro.

` STF. Plenário. RE 808424, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/12/2019 (repercussão geral – Tema 757).

� É inconstitucional a suspensão do exercício profissional em razão do inadimplemento de anuidades devidas à entidade de classeO Estatuto da OAB (Lei no 8.906/94) prevê que o advogado que deixar de pagar as contribuições devidas à OAB (anuidades) pratica infração disciplinar (art. 34, XXIII, da Lei no 8.906/94) e pode ser suspenso doexercício,ficandoproibidodeexerceraadvocaciaenquantonãopagar integralmenteadívida, comcorreção monetária (art. 37, § 2o).

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ADMINISTR

ATIVO

O STF entendeu que esses dispositivos são inconstitucionais porque representam medida desproporcional quecaracterizasançãopolítica,alémdeofendera livre iniciativaea liberdadeprofissional.Éinconstitucionalasuspensãorealizadaporconselhodefiscalizaçãoprofissionaldoexercíciolaboraldeseus inscritos por inadimplência de anuidades, pois a medida consiste em sanção política em matéria tributária.

` STF. Plenário. RE 647885, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 732) (Info 978).

� Conselho de Contabilidade, no exercício de fiscalização, pode requisitar dos contadores os livros e fichas contábeis de seus clientesO ato do Conselho de Contabilidade que requisita dos contadores e dos técnicos os livros e fichascontábeisdeseusclientes,afimdepromoverafiscalizaçãodaatividadecontábildosprofissionaisneleinscritos,não importaemofensaaosprincípiosdaprivacidadeedosigiloprofissional.

` STJ. 1a Turma. REsp 1.420.396-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19/09/2017 (Info 612).

� É dispensável a submissão ao exame de suficiência pelos técnicos em contabilidade formados anteriormente à promulgação da Lei no 12.249/2010 ou dentro do prazo por ela previstoO Decreto-lei no9.295/46criouoConselhoFederaldeContabilidadeedefiniuasatribuiçõesdoContador.A Lei no 12.249/2010 alterou o art. 12 do DL 9.295/46 para dizer que os contadores e técnicos em con-tabilidadesomentepoderãoexerceraprofissãoapósaregularconclusãodocursodeBachareladoemCiências Contábeis, reconhecido pelo Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência eregistro no Conselho Regional de Contabilidade a que estiverem sujeitos.Aimplementaçãodosrequisitosparaainscriçãonoconselhoprofissionalsurgenomomentodaconclusãodo curso. Assim, é dispensável a submissão ao exame de suficiência pelos técnicos em contabilidadeformados anteriormente à promulgação da Lei no 12.249/2010 ou dentro do prazo por ela previsto.

` STJ. 1a Turma. AgInt no REsp 1.830.687-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 30/03/2020 (Info 669).

� Termo inicial do prazo prescricional para punição de profissional liberal por infração disciplinarQual é o prazo prescricional que o Conselho profissional possui para punir o profissional liberal a ele vinculado e a partir de quando é contado?5 anos. Esse prazo começa a ser contado, não da data em que a infração disciplinar ocorrer, mas sim dodiaemqueoConselhoProfissional tiverconhecimentodorespectivo fato (art. 1o da Lei 6.838/80).

` STJ. 1a Turma. REsp 1.263.157-PE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 5/3/2015 (Info 557).

� Carros dos conselhos profissionais não podem ser registrados como veículos oficiaisOs conselhos de fiscalização profissional não possuem autorização para registrar os veículos de suapropriedadecomooficiais.

` STJ. 1a Turma. AREsp 1.029.385-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 05/12/2017 (Info 619).

� Principais distinções entre a OAB e os demais Conselhos Profissionais:

CONSELHOS PROFISSIONAIS EM GERAL OAB

São autarquias. Não é uma autarquia. Não é uma entidade da Administração Indireta. Não se sujeita a controle hierárquico ou ministerial da Administração Pública, nem a qualquer das suas partes está vinculada.

• Vade_juris_DIZ_9_ed.indb 173• Vade_juris_DIZ_9_ed.indb 173 23/07/2020 17:11:3423/07/2020 17:11:34