Mudanca_climatica_saude1

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    Mudanas climticas e ambientaise seus efeitos na sade: cenrios

    e incertezas para o Brasil

    Organizao Pan-Americana da Sade

    Srie Sade Ambiental 1

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    Mudanas climticas e ambientaise seus efeitos na sade: cenrios

    e incertezas para o Brasil

    Organizao Pan-Americana da SadeOrganizao Mundial da Sade

    Ministrio da SadeSecretaria de Vigilncia em Sade

    Fundao Oswaldo Cruz

    Srie Sade Ambiental 1

    Braslia2008

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    2008 Organizao PanAmericana da Sade OPAS / Ministrio da Sade.Todos os direitos reservados. permitida a reproduo total ou parcial desta obra, desde que seja citada a onte e no seja para

    venda ou qualquer fm comercial.A coleo institucional do Ministrio da Sade pode ser acessada, na ntegra, na Biblioteca Virtual em Sade do Ministrio da Sade:http: //www.saude.gov.br/bvs

    Tiragem: 1 edio 2008 1.000 exemplaresSrie Sade Ambiental 1

    Elaborao, distribuio e inormaes: Organizao Pan-Americana da Sade OPAS/OMS

    Setor de Embaixadas Norte, Lote 19CEP: 70.800400 BrasliaDF Brasil

    Ministrio da SadeSecretaria de Vigilncia em SadeCoordenaogeral de Vigilncia em Sade AmbientalEsplanada dos Ministrios, Bloco G,Edicio Sede, sobreloja, sala 134CEP: 70058900, Braslia DFE-mail: [email protected]: http: //www.saude.gov.br/svs

    Fundao Oswaldo CruzEscola Nacional de Sade Pblica Srgio AroucaAvenida Brasil 4365, Manguinhos,

    Rio de Janeiro, RJ, CEP: 21045900Internet: http: //www.focruz.br

    EdioOrganizao PanAmericana da Sade OPAS/OMS

    OrganizadoresGuilherme Franco Netto SVS/MSEduardo Hage Carmo SVS/MS

    AutoresChristovam Barcellos (Escola Nacional de Sade Pblica Sergio Arouca, Fundao Oswaldo Cruz)Antonio Miguel Vieira Monteiro (Diviso de Processamento de Imagens, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)Carlos Corvaln (Unidade Tcnica de Sade e Ambiente Representao da OPAS/OMS no Brasil; Assessoria Regional Sade e

    Ambiente da OPAS/OMS)Helen C. Gurgel (Centro de Previso de Tempo e Estudos Climticos, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)Marilia S Carvalho (Escola Nacional de Sade Pblica Sergio Arouca, Fundao Oswaldo Cruz)Paulo Artaxo (Instituto de Fsica, Universidade de So Paulo)Sandra Hacon (Escola Nacional de Sade Pblica Sergio Arouca, Fundao Oswaldo Cruz)Virginia Ragoni (Diviso de Processamento de Imagens, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)

    ColaboradoresMara Lucia C Oliveira Representao da OPAS/OMS no BrasilCaroline Habe Representao da OPAS/OMS no BrasilJacira Azevedo Cancio SVS/MS

    Capa, Projeto Grfco e DiagramaoAll Type Assessoria Editorial Ltda

    Impresso no Brasil/Printed in Brazil

    Ficha catalogrfca elaborada pelo Centro de Documentao daOrganizao PanAmericana da Sade Representao do Brasil

    B823mBRASIL. Ministrio da Sade.

    Mudanas climticas e ambientais e seus eeitos na sade: cenrios e incertezas para o Brasil /BRASIL. Ministrio da Sade; Organizao PanAmericana da Sade. Braslia: Organizao PanAmericana da Sade, 2008.

    40p: il.

    ISBN 9788587943798

    1. Mudanas climticas Brasil. 2. Eeitos do clima Brasil. I. BRASIL. Ministrio da Sade.II. Organizao PanAmericana da Sade. III. Ttulo.

    NLM: QT 230

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    Sumrio

    5 Apresentao

    7 Introduo

    9 Processos climticos: tendncias e incertezas

    15 Mudanas de uso do solo e alteraesclimticas: o caso do Bioma Amaznia

    19 Dinmica da atmosfera e problemas de sade

    25 Efeitos sobre doenas infecciosas

    29 Alternativas metodolgicas para o monitoramento epreparao para as mudanas climticas e ambientais

    33 Concluses Um olhar alm das mudanas climticas

    35 Referncias

    40 Participantes

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    Lista de abreviaturas e siglas

    AbreviaturasTg Teragrama

    SiglasAOGCMs Modelos Globais Acoplados OceanoAtmosera (AtmosphereOcean General Circulation

    Models)CNUMAD Conerncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e o DesenvolvimentoCPTEC Centro de Previso de Tempo e Estudos ClimticosEPA Agencia de Proteo Ambiental dos Estados Unidos (em ingls, United States Environmental

    Protection Agency)Fiocruz Fundao Oswaldo CruzGCMs Modelos Globais AtmosricosIbama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenovveisIBGE Instituto Brasileiro de Geograia e EstatsticaINPE Instituto Nacional de Pesquisas EspaciaisIPCC Painel Intergovernamental sobre Mudanas ClimticasIPCCAR4 4 relatrio de avaliao do Painel Intergovernamental sobre Mudanas ClimticasMJO MaddenJulian OscillationEXPOEPI Mostra Nacional de Experincias BemSucedidas em Epidemiologia, Preveno e Controle de

    DoenasOMM Organizao Mundial de MeteorologiaOMS Organizao Mundial da SadeOPAS Organizao PanAmericana da SadeOPS Organizacin Panamericana de la SaludPNAD Pesquisa Nacional por Amostra de DomicliosPNUMA Programa das Naes Unidas para o Meio AmbientePRODES Programa de desmatamento da AmazniaSIS Sistemas de Inormao de SadeSVS Secretaria de Vigilncia em SadeVCAN Vrtices Ciclnicos em Altos NveisVPSRA Vice Presidncia de Servios de Reerncia e AmbienteZCAS Zonas de Convergncia do Atlntico SulWHO World Health Organization

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    Apresentao

    A Representao da OPAS/OMS no Brasil, em parceria com o Ministrio da Sade, por meio da Secretaria

    de Vigilncia em Sade - SVS e com a Fundao Oswaldo Cruz, por meio da Vice Presidncia de Servios deReferncia e Ambiente VPSRA, apresenta o primeiro volume de uma srie de publicaes sobre Sade Am-biental intitulado Mudanas climticas e ambientais e seus efeitos na sade: cenrios e incertezas para o Brasil.Este documento foi produzido como subsdio para a Oficina de Trabalho sobre Mudanas climticas globais,produo e propagao de doenas por ocasio da 7 Mostra Nacional de Experincias Bem-Sucedidas emEpidemiologia, Preveno e Controle de Doenas EXPOEPI, promovida pela SVS em novembro de 2007.

    Esta publicao, preparada por tcnicos e especialistas das trs instituies envolvidas, entre outras, focalizauma orientao frente ao grande desafio que significa as mudanas climticas para o setor sade e para pasesque pretendam proteger a sade dos seus efeitos negativos.

    O processo da mudana do clima, que vem se agravando nas ltimas dcadas, cujas evidncias foram siste-matizadas no IV Relatrio do Painel Intergovernamental de Mudanas Climticas (IPCC em ingls), lana sociedade e aos setores de governo um desafio sobre as causas e o papel das alteraes ambientais sobre ascondies de sade.

    Dentre os efeitos j estimados, no campo da sade humana, destacam-se a propagao de doenas infecciosas,em especial aquelas de transmisso vetorial, aquelas com reservatrios animais em sua cadeia de transmisso eas de transmisso hdrica ou alimentar; os danos sade decorrente dos desastres de origem natural ou antro-pognicos; doenas crnicas no infecciosas relacionadas s modificaes ambientais e deficincias nutricio-nais. Estes efeitos so pouco perceptveis em anlises de curto prazo, exceto em situaes de exposio aguda,como no caso de desastres, mas apresentam um grande potencial de intensificao, o que pode se analisado pormeio de sries histricas e com a utilizao das ferramentas adequadas.

    De acordo com os autores, os riscos associados s mudanas climticas globais devem ser considerados no con-texto da globalizao, das alteraes ambientais, das polticas pblicas e da governana. Portanto, cabe ao setorsade, colaborar na reduo das vulnerabilidades sociais e ambientais. O trabalho tem o objetivo de avaliar ce-nrios de mudanas climticas e ambientais e suas incertezas para o Brasil. Alm disso, identifica mecanismosque podem ser utilizados para desenvolver uma rede de diagnstico, modelagem, anlise e interveno sobre asrepercusses dessas mudanas na sade.

    Espera-se que esta publicao contribua no despertar de interesse dos atores envolvidos com as temticas desade e de mudanas climticas, no Brasil e em outros pases de lngua portuguesa, possibilitando o fortaleci-mento e a ampliao de aes que levem em considerao o grau de complexidade do quadro atual da relao

    entre sade e ambiente.

    Gerson PennaSecretrio da SVS

    Ministrio da Sade

    Diego VictoriaRepresentante OPAS/OMS

    no Brasil

    Ary Carvalho de MirandaVice Presidncia de Servios de

    Referncia e AmbienteFiocruz

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    Foto: All type Assessoria Editorial

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    Introduo

    A ocorrncia do processo de mudanas climticas,

    principalmente aquelas devidas ao aquecimento global induzido pela ao humana, oi pela primeira vezalertada na dcada de 1950. J no inal do Sculo XIX,o pesquisador sueco Svante Arrherius havia levantadoa possibilidade de aumento de temperatura devido aemisses de dixido de carbono. Ao longo dos anos80, cresceu a preocupao de pesquisadores ligados aquestes ambientais, com o impacto dessas mudanas sobre os ecossistemas. Na dcada de 90, oramdesenvolvidos modelos que permitiram, de um lado,explicar a variabilidade de clima ocorrida ao longodo sculo, e, de outro lado, avaliar a contribuio decomponentes naturais (vulcanismo, alteraes da rbita da Terra, exploses solares, etc.) e antropognicos (emisso de gases do eeito estua, desmatamentoe queimadas, destruio de ecossistemas, etc.) sobreessas variaes.

    O primeiro relatrio global sobre as mudanas climticas e a sade oi publicado pela Organizao Mundial da Sade (OMS) em 1990 (WORLDHEALTH ORGANIZATION, 1990). Durante aConerncia das Naes Unidas para o Meio Ambien

    te e o Desenvolvimento(CNUMAD), oi instalada aconveno sobre mudanas climticas, junto com asconvenes sobre diversidade biolgica e a desertiicao. No entanto, o tema das mudanas climticassomente repercutiu na mdia com maior intensidadenos ltimos anos, repercutindo sobre agendas de go

    vernos e pesquisa e no imaginrio popular.

    A divulgao do 4 relatrio de avaliao do PainelIntergovernamental de Mudanas Climticas (IPCCAR4) em evereiro de 2007; o ilme Uma verdade

    inconveniente, ganhador do Oscar de melhor documentrio de 2007; o tratamento miditico dado a umasrie de eventos extremos do ponto de vista climtico, catastricos e social como o uraco Katrina, quedestruiu Nova Orleans; a onda de calor na Europa em2003, quando oi registrado um excesso de mais de44 mil mortes (KOSATSKY T., 2005); o Catarina, queatingiu o sul do Brasil em 2004 e a seca no oeste daAmaznia em 2005, contriburam para trazer tonae reorar o debate sobre as origens e os eeitos das

    mudanas climticas em escala global, mesmo semconsenso para suas determinaes causais. Tanto ouraco Katrina como a onda de calor na Europa evidenciaram que os impactos das mudanas climticasno so exclusivos dos pases mais pobres, mas simglobal e ao mesmo tempo localizado. Esse debate tem

    sido marcado pelo inevitvel entrelaamento entrequestes tcnicas, tecnolgicas, polticas e sociais. Sepor um lado a visibilidade dada s mudanas globaistem permitido a retomada da agenda ambientalistaem sua verso mais ampliada, a viso catastrica eglobalizante sobre essas mudanas pode gerar umsentimento de impotncia ou mesmo insensibilidaderente a mudanas que podem parecer inexorveis.Alm disso, esse debate carrega problemas intrnsecos relacionados s dierentes linguagens e interessesde pesquisadores, empresrios, gestores e sociedade

    civil. Longe de pretender obter um consenso entreesses atores sociais, esse texto tem como objetivoprincipal avaliar, em um cenrio de mudanas climticas e ambientais em escala global, suas incertezaspara o Brasil, bem como contribuir para a identiicao de recursos que podem ser utilizados para desen

    volver uma rede de diagnstico, modelagem, anlisee interveno sobre as repercusses dessas mudanasnas condies de sade da populao brasileira nosculo XXI.

    Furaco Catarina / BrasilFoto: Inpe

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    Foto: All type Assessoria Editorial

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    Em primeiro lugar, importante destacar que o clima da Terra esteve, desde sempre, sujeito a mudanas,produzidas por ciclos longos ou curtos, que esto registrados na histria da Humanidade. Na Idade Mdia, oram observados perodos de aquecimento seguido de um perodo de esriamento, conhecido comopequena Era do Gelo (Figura 1). Algumas das grandesondas de migrao humana, como as chamadas invases brbaras de povos do norte e leste em direo aosul da Europa, e a entrada de grupos asiticos no continente americano pelo Estreito de Bhering, so emparte devidas a enmenos climticos. Esses ciclos podem ter sua origem explicada por processos naturais,ligados a alteraes no eixo de rotao da terra, exploses solares e disperso de aerossis emitidos por vulces. Outros enmenos climticos, mais localizadosno espao e mais concentrados no tempo, so bastantereqentes, como os uraces, enchentes decorrentesde chuvas intensas ou degelo, ondas de calor etc. At oSculo XX, esses enmenos eram considerados comomaniestaes da natureza como concepo aristotlica, no podendo por isso ser controlados, previstosou mitigados. Recentemente, muitos desses enme

    nos passaram a seram atribudos a mudanas climticas globais, o que sem dvida constitui um exagero,muitas vezes estimulado pela mdia.

    Uma importante discusso que vem sendo travada nos runs acadmicos sobre clima diz respeito parcela atribuvel desses enmenos s mudanasclimticas globais, j que uma parte dos enmenosatmosricos se deve ao aumento do eeito estua,outra parte inerente de ciclos naturais. Os primeiros registros sistemticos de temperatura datam dadcada de 1850 e a anlise histrica desses registrospermite reconhecer algumas tendncias de aumentoda temperatura mdia do planeta. Esse aumento vemacompanhando o processo de industrializao e deemisso de gases resultantes da queima de combustveis sseis. A recuperao de dados mais remotossobre o clima da Terra tem sido possvel atravs daanlise da composio de testemunhos de gelo dortico e Antrtica. Esses dados tm demonstradoque as concentraes de CO

    2(dixido de carbono) e

    de CH4

    (metano) na atmosera nunca oram to altasnos ltimos 600.000 anos (IPCC, 2007a). O aumentodo eeito estua1, causado pela acumulao de gases,produziu um acrscimo de um grau Celsius na temperatura mdia ao longo do ltimo sculo.

    As mudanas climticas podem ser entendidas comoqualquer mudana no clima ao longo dos anos, de

    vido variabilidade natural ou como resultado daatividade humana (IPCC, 2007a). O Painel Intergo

    vernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC) divulgou recentemente que h 90% de chance do aquecimento global observado nos ltimos 50 anos tersido causado pela atividade humana (IPCC, 2007b),atravs do aumento das emisses de gases de eeitoestua. Esse aumento nas emisses de gases estuapoder induzir um aquecimento da atmosera, o que

    pode resultar em uma mudana no clima mundiala longo prazo (McMICHAEL, 2003). As mudanasclimticas reletem o impacto de processos socioeconmicos e culturais, como o crescimento populacional, a urbanizao, a industrializao e o aumento doconsumo de recursos naturais e da demanda sobre osciclos biogeoqumicos (McMICHAEL, 1999; CONFALONIERI et al, 2002).

    Processos climticos:tendncias e incertezas

    1 Ressalta-se que o efeito estufa existe mesmo antes do aparecimento do homem na Terra, sendo responsvel por efeitos benficos, como a filtragem de raiossolares, a estabilizao da temperatura da atmosfera e ciclagem de gases essenciais para a vida.

    Figura 1 Grfico da evoluo de temperaturaFonte: IPCC

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    Essas previses so resultantes de modelos de simulao que vm sendo apereioados por diversas instituies do mundo. No Brasil, destacase o papel doInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no

    tadamente o Centro de Previso de Tempo e EstudosClimticos (CPTEC) no monitoramento e desenvol

    vimento de Modelos Globais Atmosricos (GCMs)e Modelos Globais Acoplados OceanoAtmosera(AOGCMs) para a previso de mudanas climticas(MARENGO, 2007). Devese observar que estes modelos so sensveis a condies de contorno como oscenrios de emisso de gases e qualidade e coberturade dados meteorolgicos.

    Os resultados do modelo de avaliao de anomalias

    para 2005 mostram aumento de temperatura acimade 2oC nas altas latitudes do hemisrio norte e de1oC prximo do equador. Em regies onde baixa adensidade de estaes meteorolgicas, h uma tendncia de superestimar as anomalias ou produzir

    valores no coniveis, como na rica equatorial,Oriente Mdio e Antrtica. O Brasil conta com umarede de estaes meteorolgicas que cobre boa partedo litoral, mas tem baixa densidade no interior, principalmente nas regies Norte e CentroOeste. Alm

    disso, grande parte das estaes no automtica eregistra somente dados pluviomtricos, no as temperaturas.

    Os modelos de previso global produzem valorespouco coniveis quando aplicados no nvel regional.A maior parte dos modelos leva em considerao osluxos de energia entre solo, ar e oceano, mas subestimam o papel do uso e da cobertura da terra nessesluxos. A Amaznia, por exemplo, vem exercendo umpapel de tamponamento de variaes de temperaturadevido grande quantidade de gua circulante e daevapotranspirao. A diminuio da sua cobertura vegetal nativa produziria eeitos de dicil previso sobretodo o planeta, j que haveria uma excedente de gua e

    calor a ser redistribudo globalmente (GERTEN et al.,2004). Alteraes nos padres de temperatura e precipitao acarretam necessariamente em mudanas decomposio e localizao de biomas, alm de causarmudanas nas prticas agrcolas. Por outro lado, essasalteraes de uso da terra promovem alteraes de ciclos de nutrientes, gua e calor (NOBRE et al., 2007).Esses processos de retroalimentao das mudanasclimticas globais so raramente considerados nosmodelos de previso.

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    Para o Brasil, alguns cenrios de alteraes climticas so destacados por pesquisadores (MARENGO,2007):

    Eventos El NioOscilao Sul (Enso) mais intensos: secas no Norte e Nordeste e enchentes no Sul

    e Sudeste.Diminuio de chuvas no Nordeste.Aumento de vazes de rios no Sul.Alterao signiicativa de ecossistemas como omangue, Pantanal e Hilia Amaznica.

    Como destacado anteriormente, no h como separaro eeito desses enmenos climticos dos processos deocupao que vm sorendo essas regies. Na Amaznia, particularmente, se sobrepem s oscilaesclimticas a intensiicao de queimadas e deslorestamento. A seca de 2005 no oeste da Amaznia podeter sido resultado, no de processos climticos globais,mas de alteraes do padro de uso da terra no Brasil e pases limtroes (MARENGO, 2007). O deslorestamento causa uma diminuio da capacidade dereteno de gua de chuva e um aumento proporcio

    nal do escoamento supericial dessas guas pelos rios.Em suma, aumenta a variabilidade da vazo de rios.Essa mudana de regime de rios pde ser sentida pelaocorrncia de enchentes na mesma regio da Amaznia, poucos meses aps o perodo de seca.

    Tambm do ponto de vista da termodinmica, o processo de aquecimento global pode ser assumido comouma acumulao de calor, no s pela atmosera, mastambm na gua e solo. Essa energia pode ser mobilizada e dissipada de orma rpida e concentrada,gerando eventos extremos (NORDELL, 2007). Essa uma possvel explicao para o aumento da reqncia e intensidade de uraces no hemisrio norte.

    As grandes cidades se caracterizam pela gerao de calor e a sua cobertura por construes diminui a percolao de gua de chuva, e aumenta o luxo ascendentede ventos, o que as torna vulnerveis para eeitos deaquecimento e enchentes (CAMPBELLLENDRUM;CORVALN, 2007). Em resumo, mais que causar oaumento global de temperatura, esses processos, con

    jugados s alteraes de uso da terra, podem aumentar a amplitude de variaes de temperatura e precipitao.

    EnchenteFoto: OPAS/OMS Brasil

    Queimada / Braslia / BrasilFoto: Hermnio Oliveira

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    A variabilidade climtica anual j bem caracterizada. Possui um ritmo pendular com a alternncia deestaes quentes e rias nas zonas temperadas, e secase midas nas zonas tropicais. H certos perodos nosquais se observa uma ruptura desse ritmo. Numa escala interanual e mundial, distinguemse o enmeno

    El Nio (ase quente), tambm conhecido como Enso(El Nio/Southern Oscillation) e La Nia (ase ria).Essa oscilao caracterizada por irregularidades datemperatura da supercie de guas do oceano Pacico, que inluenciam a circulao atmosrica e alteramas precipitaes e a temperatura em diversos lugaresdo mundo. O aquecimento e o subseqente resriamento num episdio tpico de Enso pode durar de12 a 18 meses (TRENBERTH, 1997). Esse enmenotem geralmente conseqncias de grande amplitude eproduzemse a intervalos irregulares. A origem dessasmodiicaes ainda mal conhecida e, conseqentemente, a sua previso e a sua amplitude a longo prazoso ainda diceis de avaliar.

    No Brasil, alguns estudos indicam que o semiridodo Nordeste, norte e leste da Amaznia, sul do Brasil

    e vizinhanas so aetados de orma pronunciada peloenmeno Enso. Na Regio Sul ocorre um aumentoda precipitao, particularmente durante a primaverado primeiro ano e no im do outono e incio do inverno do segundo ano. O norte e o leste da Amaznia,bem como o nordeste do Brasil, so aetados pela di

    minuio da precipitao, principalmente no segundoano, entre evereiro e maio, quando se tem a estaochuvosa do semirido. O Sudeste do Brasil apresenta temperaturas mais altas, tornando o inverno maisameno. Nas demais regies do pas, os eeitos so menos pronunciados e variam de um episdio para outro(SAMPAIO, 2000). Uma viso geral do que ocorre sobre o Brasil e no continente sulamericano durante oEl Nio e La Nia pode ser observada na Figura 2.

    Entretanto, o evento El Nio de 19971998 chamoua ateno devido s graves conseqncias em nvelmundial, com prejuzos sicos e econmicos (seca,inundao, perda de produtividade agrcola, etc.) eperdas em vidas humanas. Apesar da diiculdade parareunir dados homogneos e completos, o Compen-dium o climate variability indica que quase 10 milhes

    Figura 2: Impactos do El Nio (mapa da esquerda) e da La Nia (mapa dadireita) sobre a Amrica do Sul. Adaptada de INPE/CPTEC (2006).

    !Chuvoso

    Frio

    Seco eFrio

    !Chuvoso equente Seco

    Quente

    Chuvoso

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    de pessoas oram aetadas ou deslocadas pelos eeitosdesastrosos desse enmeno (SARI KOVATS, 2000).Epidemias importantes de malria oram registradasem vrios lugares do mundo, como no Paquisto, SriLanca, Vietn e em diversos pases endmicos da rica e da Amrica Latina.

    Desde esse evento de El Nio, epidemiologistas e entomologistas comearam a dar uma ateno especialaos impactos dos grandes enmenos climticos sobre a sade. A Organizao PanAmericana da Sade(OPAS) publicou um estudo especico sobre o temaem 1999 que enatizou a permanncia de eventoscomo El Nio e os desaios para no esquecer e repetir erros do passado (ORGANIZACIN PANAMERICANA DE LA SALUD, 2000). No entanto, a maiorparte dos estudos que relacionam esse acontecimento a doenas vetoriais eita no nvel planetrio oucontinental (GITHEKO et al., 2000; GAGNON etal., 2002; BASHER CANE, 2002; THOMSON et al.,2003) enquanto que os impactos de El Nio so muito variveis de acordo com a intensidade do evento eas regies que ele atinge (DESSAY et al., 2004). Soainda necessrios estudos mais detalhados no nvelregional para veriicar o impacto desses eventos nadinmica de doenas inecciosas. Porm, a diiculdade de realizar esse tipo de estudo ainda grandedevido diiculdade de obter dados climticos e desade nessa escala, com uma srie histrica compat

    vel que permita avaliar o impacto das anomalias climticas na sade.

    Alm do conhecido Enso, outras anomalias climticasaetam a dinmica do clima no Brasil, em especial aprecipitao, como as oscilaes intrasazonais (30 a60 dias) de MaddenJulian Oscillation (MJO), os sistemas intertropicais como os vrtices ciclnicos emaltos nveis (VCAN) na Regio Nordeste e as zonas deconvergncia do atlntico sul (ZCAS) no Sul e Sudeste,entre outros (KILADIS MO, 1998; CUNNINGHAM e

    CAVALCANTI, 2006).

    Foto: All type Assessoria Editorial

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    Foto: All type Assessoria Editorial

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    A Amaznia Legal tem sorido nas ltimas dcadassigniicativas mudanas nos padres de uso e cobertura do solo, atravs de intenso processo de ocupaohumana acompanhado de presses econmicas nacionais e internacionais. A Amaznia perdeu aproximadamente 17% de loresta nativa nas ltimas trs dcadas (PRODES, 2006). A complexidade da Amaznia,um bioma nico, que acomoda quase 13 milhes debrasileiros e, como destaca Becker (2004), uma loresta urbanizada, nos apresenta um desaio imenso para

    decirla. undamental o mosaico de processos, emdierentes escalas no tempo e no espao, responsveispelas mudanas de uso e cobertura da terra na regio,observados atravs da dinmica dos padres espaciaisde reas desmatadas. A interao de modelos de usoe cobertura mais realistas com os modelos de clima,observando as dierentes escalas, a heterogeneidadedo espao amaznico, suas dierentes expresses culturais e suas peculiares ormas de conigurao e usodo territrio, essencial para os estudos das relaes

    Mudanas de uso do soloe alteraes climticas: o

    caso do Bioma Amaznia

    Foto: All type Assessoria Editorial

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    entre clima, ambiente e sade. A Amaznia so muitasAmaznias e por isso constitui um grande, porm crucial, desaio, em tempos de mudanas globais e suasimplicaes para as doenas inecciosas e a vigilnciaem sade de base territorial no sculo XXI.

    Vrios atores polticos, econmicos e sociais pressionam os ecossistemas resultando no desmatamento e,conseqentemente, na queima de biomassa. As vriasdimenses envolvidas na questo tm provocado umconstante debate sobre as causas do desmatamento.A construo de estradas, a expanso da pecuria, acrescente extrao de madeira, o aumento intensivoda agricultura de monocultivos, a raqueza das instituies constitudas, a mobilidade da populao, o sistema de aviamento tradicional desde o sculo XIX naAmaznia baseado na violncia e ilegalidade (SANTOSJNIOR et al., 1996; SANTOSJNIOR, 2001),as redes multimodais, as novas redes inormacionaise as novas e velhas redes sociais nos apresentam umquadro complexo de atores, processos e padres dedesmatamento e emisses na Amaznia brasileira.(FEARNSIDE, 2006; SOARESFILHO et al., 2005;ESCADA et al., 2005; CMARA et al., 2005; EVANSMORAN, 2002). A complexa interao dessas orasproduziu um padro de atividades econmicas quetm sido responsvel por emisses de gases e partculas de aerossis para a atmosera, atravs da queimade biomassa em reas de pastagem, cerrado e lores

    tas primrias (ARTAXO et al, 2002, BULBOVAS et al,2007).

    A identiicao da inluncia humana na alterao doclima um dos principais aspectos analisados peloTerceiro Relatrio (Third Assessment Report TAR)do (IPCC, 2001b). A queima de biomassa em lorestastropicais um dos exemplos de presso humana comalteraes signiicativas de perdas ambientais, ou seja,perdas de oportunidades para o uso sustentvel. Dentre os vrios servios que os ecossistemas desempenham como reguladores das condies de vida esto amanuteno da biodiversidade, da ciclagem de gua e

    dos estoques de carbono, que mitigam o agravamentodo eeito estua.

    Nas regies tropicais e subtropicais da Amrica doSul, rica, sudeste da sia e parte da Oceania estoos pases que mais queimam biomassa em todo o globo terrestre (FREITAS et al., 2005) contribuindo diretamente para o enmeno das mudanas climticasglobais. Na Amrica do Sul, as estimativas de liberaes de partculas de aerossis para a atmosera porqueima de biomassa representam um tero do total

    do material particulado liberado mundialmente paraa atmosera, chegando a 34 Tg/ano de partculas (ANDREAE, 1991). No Brasil, os principais ecossistemasaetados pelas queimadas so a Floresta Amaznica eo Cerrado (ARTAXO et al., 2001). Em um quadro deaquecimento global, um estudo apresentado em 2004(NEPSTAD et al., 2004) aponta para a possibilidadede que a Floresta Amaznica, com intensiicao doperodo de seca, possa perder muita umidade, tornando a regio mais vulnervel s queimadas (Figura 3).

    Queimada na Floresta AmaznicaFoto: Paulo Artaxo

    Figura 3 Mapa das densidades de queimadas/Focos de calor Brasil 2002Fonte: Atlas Nacional do Brasil digital. Rio de Janeiro:IBGE,2004.

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    Para o clima global, a Floresta Amaznica tem comouma de suas caractersticas um intenso metabolismoque resulta em onte natural de gases trao, partculasde aerossis, compostos orgnicos volteis e vapor degua para atmosera global (GUENTHER et al., 1995;ANDREAE; CRUTZEN, 1997). Mesmo considerando

    que a principal onte global de emisso para gases deeeito estua sejam as produzidas por combustveis sseis, as queimadas na Amaznia e no cerrado representam a principal contribuio brasileira para as ontesglobais de vrios gases de eeito estua como CO

    2(di

    xido de carbono), CH4

    (metano) e N2O (xido nitroso)

    (LIOUSSE et al., 2004). Elas tambm contribuem comemisses signiicativas de CO, (monscido de carbono)NO

    2(dixido de nitrognio), HCNM (Hidrocarbone

    tos no metano), cloreto e brometo de metila, compostos orgnicos volteis (VOCs) e dezenas de outros gases(ANDREAE et al., 2002). As emisses de gases precursores da ormao de oznio pelas queimadas azemcom que as concentraes deste gs sejam elevadas, podendo comprometer a sade das populaes nas reasde inluncia das queimadas assim como a manutenoda loresta no queimada, uma vez que o oznio itotxico e alcana milhares de quilmetros a partir dasreas queimadas (BULBOVAS et al., 2007).

    A grande disponibilidade de radiao solar somada expressiva quantidade de vapor de gua na atmoseraso caractersticas que avorecem uma alta reatividade

    qumica atmosrica na regio tropical (ANDREAE;CRUTZEN, 1997). As emisses de metano e dixidode carbono em reas alagveis da Floresta Amazni

    ca, representam uma parcela importante das emissesdesses gases, recentemente observada em larga escala na Amaznia (ARTAXO et al., 2005). O estudodo comportamento e composio das partculas deaerossis emitidas naturalmente pela loresta Amaznica tem sido um desaio para o entendimento do

    componente qumico atmosrico e sua relevncia nacomplexidade dos impactos das mudanas climticasem nveis regional e global.

    A maioria dos estudos enatiza a ameaa que as queimadas representam para a Floresta Amaznica acelerando as mudanas climticas. As partculas de aerossol so de especial interesse climtico porque atuamcomo ncleos de condensao de nuvens alterando osseus mecanismos de ormao e o albedo, conseqentemente alterando os processos radiativos, aetando acarga de radiao (GUYON et al, 2004). As queimadas alteram os ciclos hidrolgicos nas regies tropicais, reduzindo o volume pluviomtrico, e a composio qumica e sica da atmosera (YAMASDE et al.,2000). Tambm podem reduzir a radiao incidentena supercie devido grande carga de aerossis, podendo ter implicaes na produo primria dos ecossistemas vulnerveis (ECK et al., 1998). As emissesde gases trao e partculas de aerossol da Amazniatm como trajetria o continente SulAmericano porduas vias principais: o Oceano Atlntico Sul e o Oceano Pacico Tropical (FREITAS, 1999; FREITAS et al.

    2000). Logo, os impactos ambientais das queimadastm papel undamental nas mudanas climticas nosnveis local, regional e global.

    Queimada/Desmatamento/BrasilFoto: Marcello Casal Jr/ABr

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    Foto: Fbio Rodrigues Pozzebom/ABr

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    Acreditase que os problemas de sade humana associados s mudanas climticas no tm sua origem necessariamente nas alteraes climticas. A populaohumana sob inluncia das mudanas climticas apresentar os eeitos, de origem multicausal, de orma exacerbada ou intensiicada. Muitas so as pesquisas, tendo como oco as questes de sade pblica, que tentamse relacionar com as mudanas climticas. As pesquisasem sade geralmente alertam para atores relacionadoss alteraes climticas que aetam a sade humana,mas geralmente no so desenvolvidas com esse objetivo. A avaliao dos eeitos sobre a sade relacionadoscom os impactos das mudanas climticas extremamente complexa e requer uma avaliao integrada comuma abordagem interdisciplinar dos proissionais desade, climatologistas, cientistas sociais, bilogos, sicos, qumicos, epidemiologistas, dentre outros, paraanalisar as relaes entre os sistemas sociais, econmicos, biolgicos, ecolgicos e sicos e suas relaes comas alteraes climticas (McMICHAEL, 2003).

    As mudanas climticas podem produzir impactossobre a sade humana por dierentes vias. Por umlado impacta de orma direta, como no caso das ondas de calor, ou mortes causadas por outros eventosextremos como uraces e inundaes. Mas muitas

    vezes, esse impacto indireto, sendo mediado poralteraes no ambiente como a alterao de ecossistemas e de ciclos biogeoqumicos, que podem aumentar a incidncia de doenas inecciosas, tratadasnesse documento com maior detalhe, mas tambmdoenas notransmissveis, que incluem a desnutrio e doenas mentais. Devese ressaltar, no entanto, que nem todos os impactos sobre a sade sonegativos. Por exemplo, a alta na mortalidade quese observa nos invernos poderia ser reduzida com oaumento das temperaturas. Tambm o aumento dereas e perodos secos pode diminuir a propagaode alguns vetores. Entretanto, em geral consideraseque os impactos negativos sero mais intensos queos positivos.

    Dinmica da atmosferae problemas de sade

    EnchenteFoto: OPAS/OMS Brasil

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    As conseqncias desse aumento da variabilidade e oaumento de eventos climticos extremos so de dicilpreviso para a sade pblica. Alguns modelos devemser buscados para concatenar processos climticos comeventos de sade. O esquema da igura 4 oi propostopor McMICHAEL et al. (2006).

    Podese observar pelo esquema que o aquecimentoglobal pode ter conseqncias diretas sobre a morbidade e mortalidade, por meio da produo de desastres como enchentes, ondas de calor, secas e queimadas. A onda de calor que atingiu a Europa Ocidental no vero de 2003 causou cerca de 12.000 bitos(KOSATSKY T., 2005) na Frana. No entanto, nesse eem diversos outros casos, o clima e os eventos extremos no podem ser responsabilizados pelos agravos sade. Pesaram sobre os eeitos a incapacidade dosetor sade de lidar com situaes de emergncia e asproundas desigualdades sociais, mesmo em pasescentrais com grande tradio de polticas de bemestar social.

    As lutuaes climticas sazonais produzem um eeitona dinmica das doenas vetoriais como, por exemplo,a maior incidncia da dengue no vero e da malria naAmaznia durante o perodo de estiagem. Os eventos extremos introduzem considervel lutuao quepodem aetar a dinmica das doenas de veiculao

    hdrica, como a leptospirose, as hepatites virais, as doenas diarricas, etc. Essas doenas podem se agravarcom as enchentes ou secas que aetam a qualidade e oacesso gua. Tambm as doenas respiratrias soinluenciadas por queimadas e os eeitos de inversestrmicas que concentram a poluio, impactando diretamente a qualidade do ar, principalmente nas reasurbanas. Alm disso, situaes de desnutrio podemser ocasionadas por perdas na agricultura, principalmente a de subsistncia, devido as geadas, vendavais,secas e cheias abruptas.

    A variao de respostas humanas relacionadas s mudanas climticas parece estar diretamente associada

    Figura 4: Possveis caminhos dos efeitos das mudanas climticas sobre as condies de sade.Adaptado de McMichael, Woodruff e Hales. Lancet, 2006.

    EnchenteFonte: OPAS/OMS Brasil

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    s questes de vulnerabilidade individual e coletiva.Variveis como idade, peril de sade, resilincia isiolgica e condies sociais contribuem diretamentepara as respostas humanas relacionadas s variveisclimticas (MARTINS et al, 2004). Alguns estudostambm apontam que alguns atores que aumentam

    a vulnerabilidade dos problemas climticos so umacombinao de crescimento populacional, pobreza edegradao ambiental (IPCC, 2001a; McMICHAEL,2003).

    As condies atmosricas podem inluenciar o transporte de microorganismos, assim como de poluentesoriundos de ontes ixas e mveis e a produo de plen(MORENO, 2006). Os eeitos das mudanas climticaspodem ser potencializados, dependendo das caractersticas sicas e qumicas dos poluentes e das caractersticas climticas como temperatura, umidade e precipitao. Essas caractersticas deinem o tempo de residnciados poluentes na atmosera, podendo ser transportadosa longas distncias em condies avorveis de altastemperaturas e baixa umidade. Esses poluentes associados s condies climticas podem aetar a sade depopulaes distantes das ontes geradoras de poluio.

    As alteraes de temperatura, umidade e o regime dechuvas podem aumentar os eeitos das doenas respiratrias, assim como alterar as condies de exposioaos poluentes atmosricos. Dada a evidncia da relao entre alguns eeitos na sade devido s variaesclimticas e os nveis de poluio atmosrica, tais

    como os episdios de inverso trmica, aumento dosnveis de poluio e o aumento de problemas respiratrios, parece inevitvel que as mudanas climticasde longo prazo possam exercer eeitos sade humana em nvel global.

    Em reas urbanas alguns eeitos da exposio a poluentes atmosricos so potencializados quando ocorremalteraes climticas, principalmente as inverses trmicas. Isto se veriica em relao a asma, alergias, ineces broncopulmonares e ineces das vias areassuperiores (sinusite), principalmente nos grupos maissusceptveis, que incluem as crianas menores de 5 anose indivduos maiores de 65 anos de idade. Os eeitos dapoluio atmosrica na sade humana tm sido amplamente estudados em todo o mundo. Estudos epidemiolgicos evidenciam um incremento de risco associados doenas respiratrias e cardiovasculares, assim comoda mortalidade geral e especica associadas exposio a poluentes presentes na atmosera (POPE et al.,1995; OPAS, 2005; ANDERSON et al., 1996; RUMELet al., 1993; CIFUENTES et al., 2001). Segundo a OMS,50% das doenas respiratrias crnicas e 60% das doen

    as respiratrias agudas esto associadas exposio apoluentes atmosricos. A maioria dos estudos relacionando os nveis de poluio do ar com eeitos sadeoram desenvolvidos em reas metropolitanas, incluindo as grandes capitais da Regio Sudeste no Brasil, emostram associao da carga de morbimortalidade pordoenas respiratrias, com incremento de poluentesatmosricos, especialmente de material particulado(SALDIVA et al1994; GOUVEIA et al, 2006). O tamanho da partcula, supercie e a composio qumica domaterial particulado determinam o risco para a sade

    humana que a exposio representa a esse agente.

    As emisses gasosas e de material particulado para aatmosera derivam principalmente de veculos, indstrias e da queima de biomassa. No Brasil, as ontes estacionrias e grandes rotas de veculos concentramse nas reas metropolitanas localizadas principalmente na Regio Sudeste, enquanto a queima de biomassaocorre em maior extenso e intensidade na AmazniaLegal, situada ao norte do pas. Segundo o inventriobrasileiro de emisses de carbono, 74% das emisses

    Poluio em So Paulo / BrasilFoto: Marcelo de Paula Corra

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    ocorrem atravs das queimadas na Amaznia, em

    contraste com 23% de emisses do setor energtico(BRASIL, 2005).

    Na Amaznia, a intensa queima de biomassa cobreuma rea de cerca de 4 a 5 milhes de Km2 observada atravs de sensoriamento remoto (FREITAS et al.,2005). Estudos na regio realizados durante a estaochuvosa, quando predominam as emisses naturais,mostram que a concentrao de partculas de aerossis da ordem de 10 a 15 g.m3. Na estao seca, devidos emisses provenientes de queimadas, a concentra

    o sobe para cerca de 300 a 600 g m 3 (YAMASDE,2000). A maioria das partculas biognicas encontrase na rao grossa, com dimetros maiores que 2 m,e tem como constituio principalmente ungos, esporos, ragmentos de olhas e bactrias, em uma enorme

    variedade de partculas.

    Quanto mais prximo or o local de exposio aosocos de queimadas, geralmente maior o seu eeito sade. Mas a direo e a intensidade das correntesareas tm muita inluncia sobre a disperso dos

    poluentes atmosricos e sobre as reas aetadas pelapluma oriunda do ogo. Se os ventos predominantesdirigiremse para reas densamente povoadas, um nmero maior de pessoas estar sujeito aos eeitos doscontaminantes. Esse o caso do Sudeste Asitico, ondequeimadas provocam nvoa de poluentes de extenso

    regional com impactos sade de centenas de milhesde pessoas (RIBEIRO; ASSUNO, 2002).

    Na regio do arco do desmatamento, que abrange osestados do Acre, Amap, Amazonas, parte do Maranho, Mato Grosso, Par, Rondnia, Roraima e Tocantins, oram detectados em 2005 mais de 73% dosocos de queimadas do pas. Destes, o estado de MatoGrosso oi o que concentrou o maior percentual derea desmatada e ocos de queimadas, com 38% e 30%respectivamente (IBAMA, 2007). No estado do MatoGrosso, as doenas do aparelho respiratrio oram asprincipais causas das internaes em crianas menores de cinco anos respondendo por 70% dos casos naregio de Alta Floresta. Dentre as principais categoriasde internaes por doenas do aparelho respiratrionessa aixa etria, esto as pneumonias, responsveispor 73% das internaes no Estado, seguida da asma,

    Poluio do arFoto: OPAS/OMS Brasil

    NebulizaoFoto: OPAS/OMS Brasil

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    respondendo por 14% das internaes por doenasdo aparelho respiratrio no estado do Mato Grosso(MOURO et al, 2007). Em Rio Branco, no Acre, umdos principais impactos negativos ocasionados pelapoluio do ar atravs das queimadas est na taxa demortalidade que, no perodo de 1998 a 2004, apre

    sentou uma dierena de cerca de 21% no perodo dequeimadas em relao ao perodo de noqueimadas.

    Alguns estudos evidenciam que a associao entre altas temperaturas e elevadas concentraes de poluentes atmosricos pode gerar um incremento das hospitalizaes, atendimentos de emergncia, consumode medicamentos e taxas de mortalidade (EPA, 2007).A interao entre poluio e clima tambm deve serconsiderada como ator de risco para as doenas docorao, seja como conseqncia de stress oxidativo,ineces respiratrias ou alteraes hemodinmicas.O aumento da temperatura tambm est associado aoincremento de partculas alergnicas produzidas pelasplantas, aumentando o nmero de casos de pessoascom respostas alrgicas e asmticas (ZAMORANO etal., 2003; UNITED STATES DEPARTMENT OF STATE, 2007).

    As condies sociais como situao de moradia, alimentao e acesso aos servios de sade so atoresque aumentam a vulnerabilidade de populaes expostas aos episdios das mudanas climticas, que

    somados a exposio a poluentes atmosricos, poder apresentar eeitos sinrgicos com agravamento dequadros clnicos. Em reas sem ou com limitada inraestrutura urbana, principalmente em pases em desen

    volvimento, todos esses atores podem recair sobre aspopulaes mais vulnerveis, aumentando a demandae gastos de servios de sade (MARTINS et al., 2004;IPCC, 2001a).

    Foto: All type Assessoria Editorial

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    Foto: All type Assessoria Editorial

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    Efeitos sobre doenasinfecciosasNo caso das doenas inecciosas, os mecanismos deproduo de agravos e bitos so ainda mais indiretose mediados por inmeros atores ambientais e sociais.Dois exemplos so destacados nesse texto: a possvelexpanso das reas de transmisso de doenas relacionadas a vetores e o possvel aumento dos riscos deincidncia de doenas de veiculao hdrica.

    Diversas doenas, principalmente as transmitidaspor vetores, so limitadas por variveis ambientaiscomo, temperatura, umidade, padres de uso do soloe de vegetao (HAY et al, 2004). As doenas transmitidas por vetores constituem, ainda hoje, importante causa de morbidade e mortalidade no Brasil eno mundo. O ciclo de vida dos vetores, assim comodos reservatrios e hospedeiros que participam dacadeia de transmisso de doenas, est ortementerelacionado dinmica ambiental dos ecossistemasonde estes vivem. A dengue considerada a principaldoena reemergente nos pases tropicais e subtropicais. A malria continua sendo um dos maiores problemas de sade pblica na rica, ao sul do desertodo Saara, no sudeste asitico e nos pases amaznicos

    da Amrica do Sul. As leishmanioses, tegumentar evisceral, tm ampliado sua incidncia e distribuiogeogrica. Outras doenas, como a ebre amarela, ailariose, a ebre do oeste do Nilo, a doena de Lyme,e outras transmitidas por carrapato e inmeras arbo

    viroses, tm varivel importncia sanitria em dierentes pases de todos os continentes. O aquecimentoglobal do planeta tem gerado ainda uma preocupao sobre a possvel expanso da rea atual de incidncia de algumas doenas transmitidas por insetos(TAUIL, 2002). Porm, devemse levar em conta queso mltiplos os atores que inluenciam a dinmicadas doenas transmitidas por vetores, alm dos atores ambientais (vegetao, clima, hidrologia); comoos sciodemogricos (migraes e densidade populacional); alm dos biolgicos (ciclo vital dos insetos

    vetores de agentes inecciosos) e dos mdicosociais(estado imunolgico da populao; eetividade dossistemas locais de sade e dos programas especicosde controle de doenas, etc.) e a histria da doenano lugar, estes dois ltimos sempre muito esquecidosnas apressadas anlises causais entre o impacto dasmudanas climticas e as doenas vetoriais (BRUCECHWATT; ZULUETA, 1980).

    As doenas transmitidas por vetores, mais reqentes nos pases de clima tropical, aparecem como umdos principais problemas de sade pblica que podem

    decorrer do aquecimento global. Vrios modelos matemticos oram construdos a im de prever as conseqncias do aumento da temperatura sobre a malria, por exemplo (TANSER; SHARP, LE SUEUR 2003;HALES e WOODWARD, 2003).

    Militar do Exrcito que participa da ao de combate dengue no DistritoFederal inspeciona uma casa do Lago Norte para verificar as condies do localFoto: Marcello Casal Jr./Ab

    EnchenteFoto: OPAS/OMS Brasil

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    Contudo, a relao entre o clima e a transmisso damalria continua bastante complexa e pode ser modiicada de acordo com os lugares que se estuda (REITERet al., 2004). Pelo menos para a malria, a dengue e aebre amarela, raramente o clima oi o principal determinante para sua prevalncia ou seu alcance geo

    grico. Ao contrrio, impactos nos ecossistemas emnvel local provocados por atividades humanas tm semostrado muito mais signiicativos (REITER, 2001;ROGERS; RANDOLPH, 2000). A maior parte dosmodelos baseada em dados restritos a alguns locaise variveis ambientais vinculadas, sobretudo aos vetores ou ao plasmdio, sem levar em conta os atoressociais e polticas de desenvolvimento e controle queso igualmente importantes na dinmica da malria,assim como nas demais doenas vetoriais.

    A histria da malria, uma das doenas vetoriais maisantigas que se tem registro, mostra claramente a importncia desses atores. Devido ao seu carter endmico, ela oi responsvel em vrios momentos da histria por tantas mortes quanto as guerras (MOUCHETet al, 2004). Durante quase cinco sculos, devastou

    grande parte da Europa e do resto do mundo (Figura 5). O pior perodo da transmisso dessa doena naEuropa oi muito mais rio que o atual, durante a Pequena Idade do Gelo na Idade Mdia (REITER, 2003).Essa poca era caracterizada por condies sanitriasbastante degradadas. A partir do sculo XVIII, nume

    rosas modiicaes das condies de vida da populao como o saneamento, as melhorias das condiesde habitao, mas tambm as obras de drenagem, bemcomo as mudanas de utilizao do solo e as prticasagrcolas, promoveram um recuo da malria em di

    versas regies do mundo (HAY et al., 2004). No Brasil,at a dcada de 1970, havia o registro de incidncia damalria em diversas regies brasileiras, passando a sereconcentrar mais recentemente na regio Amaznica(BARATA, 1998).

    Esses atos mostram que a complexidade dos processos ambientedoena deve ser considerada pelos in

    vestigadores, antes de se airmar que a expanso damalria, assim como outras doenas vetoriais, estsendo causada diretamente pelo aquecimento climtico global.

    Outro grupo de doenas inecciosas que podem serortemente aetadas por mudanas ambientais e climticas so as doenas de veiculao hdrica, que tm nosaneamento sua principal estratgia de controle. Desde as primeiras intervenes de saneamento de gran

    des cidades no im do Sculo XIX, houve reduo signiicativa de indicadores como a mortalidade inantile a ocorrncia de epidemias. No Brasil, tem se obser

    vado um aumento gradual da cobertura dos serviosde abastecimento de gua, que alcana hoje 91,3% dapopulao urbana, segundo dados da PNAD de 2006(RIPSA, 2006). O processo de urbanizao impe asgrandes redes de abastecimento de gua como soluopara o suprimento domstico de gua. Os excludosdesses sistemas, isto , aqueles que se utilizam de poos e pequenos mananciais supericiais, podem obter

    gua em quantidade e qualidade adequadas ora dopermetro das cidades. Mas nos ambientes de grandeadensamento populacional essas solues individuaisapresentam grandes riscos de doenas devido contaminao dessas ontes de gua.

    Ao mesmo tempo em que aumenta a cobertura dossistemas de abastecimento de gua, permanecem altasas incidncias de diversas das doenas de veiculaohdrica no Brasil, como a esquistossomose, hepatiteA, leptospirose, gastroenterites, entre outras. Segundo

    Falta de saneamentoFoto: OPAS/OMS Brasil

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    avaliaes preliminares da OMS (WORLD HEALTHORGANIZATION, 2007), os problemas relacionadosao abastecimento dgua e esgotamento sanitrio causam cerca de 15 mil bitos por ano no Brasil.

    Esses grandes sistemas so vulnerveis a mudanasambientais. H diversos relatos de surtos de doenas de veiculao hdrica transmitidos pelo sistemade distribuio de gua no mundo (e.g., GODOY etal., 2003; WINSTON et al., 2003). A expanso dessessistemas, neste caso, pode atuar tambm como meio

    de ampliicao de riscos. A decadncia dos serviospblicos de saneamento na Rssia (SEMENZA et al.,1998) tem promovido aumento de riscos associados distribuio de gua devido precariedade dessessistemas. O sistema de abastecimento, neste caso,unciona mais como veculo de diuso de agentesinecciosos que como ator de proteo das populaes (WINSTON et al., 2003). A existncia de umagerao (coorte) de pessoas moradoras de grandes cidades que nunca tiveram contato com alguns agentesinecciosos transmitidos pela gua pode tornar esses

    surtos acentuados do ponto de vista epidemiolgicoe graves do ponto de vista clnico.

    Segundo Lee e Schwab (2005), os principais problemas enrentados hoje pelos sistemas de abastecimento de gua nos pases em desenvolvimento so ligados vulnerabilidade e intermitncia desses sistemas,mais do que a sua cobertura. A intermitncia do regime de abastecimento, por sua vez, permite a intrusode agentes patognicos atravs da gua contaminadanas redes de distribuio (LE CHEVALLIER et al.,

    2003). A maior parte da populao do Municpio doRio de Janeiro (cerca de 97% dos domiclios segundoo censo demogrico de 2000) abastecida de guapela rede geral. Por outro lado, a contaminao darede geral de abastecimento de gua por coliormesabrange a maior parte da populao sob risco, representando cerca de 35% da populao total do municpio (BARCELLOS et al., 1998). Devido conhecida heterogeneidade na ocupao do solo urbano e acidentada topograia da cidade, os problemas com oabastecimento de gua so concentrados em reas e

    grupos scioespaciais vulnerveis.

    Nesse sentido, o aquecimento e mudanas ambientaisglobais podem ter conseqncias sobre as doenas de

    Figura 5: Retrao das reas de transmisso de malria no Sculo XX. Adaptado de Hay et al., 2004.

    Aedes aegyptiMosquitoFoto: Instituto Oswaldo Cruz

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    veiculao hdrica, aumentando a vulnerabilidade desses sistemas. Esse cenrio de universalizao precriados servios de saneamento pode agravar os riscos daspopulaes servidas por esses sistemas. O aumento da

    variabilidade, tanto da qualidade quanto da quantidade de gua nos mananciais, pode aetar gravemente o

    uncionamento dos sistemas de abastecimento de gua.Esses sistemas so sujeitos entrada de microorganismos e a produo de surtos de doenas de veiculaohdrica. Alm disso, acidentes, como o rompimento debarragens em mananciais de gua, a daniicao da redeou de reservatrios de gua e uma presso de consumodevido ao aumento de temperatura, podem levar a umcolapso dos sistemas de abastecimento. Mesmo em pases onde o saneamento universal e de bom uncionamento esto sendo propostas medidas para aumentar alexibilidade e capacidade de adaptao desses sistemasrente s mudanas climticas e ambientais, por meiodo aumento do estoque de gua nos domiclios e nascidades, bem como a busca de ontes alternativas de suprimento (MEULEMAN et al., 2007).

    Condies de moradia.Foto: OPAS/OMS Brasil

    Larvas do mosquito Aedes aegyptiFoto: Antonio Cruz/ABr

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    Alternativas metodolgicas para omonitoramento e preparao para asmudanas climticas e ambientais

    A avaliao dos possveis impactos dos processos demudanas globais sobre a sade diicultada pelainadequao de metodologias tradicionais utilizadaspara a anlise das relaes entre ambiente e sade.Destacamse como maiores desaios a ausncia ouinsuicincia de dados histricos sobre a incidncia de doenas no Brasil. A maior parte dos bancosde dados nacionais oi criada nas dcadas de 1980 e1990, impedindo uma anlise de tendncias de longoprazo. A maior parte das previses das condies desade rente a mudanas globais produzida pela extrapolao de estudos locais e de curta durao paracenrios globais e de longo prazo, o que pode gerarinmeras incertezas e imprecises. Os desenhos deestudos epidemiolgicos de base individual parecemno ser adequados para esses problemas, uma vez quepressupem a distino entre grupos expostos e noexpostos, o que no o caso dos estudos relacionadosa mudanas globais (McMICHAEL, 2002). Alm disso, a dinmica de eventos extremos tambm se altera

    em um cenrio de aquecimento global, e o estudo doeeito dessas condies climticas sobre a sade ainda mais complexo. Por outro lado, a modelagem estatstica clssica no permite incorporar relaes nolineares e estruturas de dependncia entre observaes,esperados nesse contexto.

    Novas metodologias devem ser buscadas, o que incluia anlise de extensas sries temporais, a adoo deeventos e reas sentinela e o uso do geoprocessamentopara a anlise de situaes particulares de produode agravos. H necessidade de implementar sistemasde alerta baseados em parmetros ambientais quepossam detectar precocemente alteraes nas doenasinecciosas.

    Um monitoramento ambiental para aplicao emsade abrange diversos agravos e atores como queimadas, desmatamentos, enchentes, urbanizao, entre outros. Todos esses aspectos contribuem e seroaetados pelas mudanas climticas. A interao entreesses atores complexa e carregada de incertezas. Emcondies climticas avorveis, algumas doenas esto limitadas proporo de suscetveis na populaoe a outros atores como mobilidade populacional, medidas de interveno, condies de moradia e alimentao que no so diretamente relacionadas ao clima,

    mas aetam o padro das doenas.

    Uma das erramentas teis para monitoramento dadinmica ambiental o sensoriamento remoto especiicamente no Brasil, com um territrio extenso, comdiversidade de auna e lora e regies de dicil acesso.Alguns satlites, de mdia e alta resoluo espacial,porm baixa resoluo temporal, so aplicados a estudos de mudanas de uso e cobertura do solo como oLANDSAT, CBERS, SPOT, IKONOS. J os satlites dealta resoluo temporal so ideais para trabalhar com

    o monitoramento da dinmica climtica.

    Dados climticos podem ser obtidos por medidas locaisa partir de estaes meteorolgicas ou medidas derivadasde imagens de satlite. Dados de sensoriamento remotopodem gerar ndices que substituem variveis meteorolgicas como, por exemplo, o ndice de temperatura mdia da supercie da terra (LST) e do status da vegetao(NDVI). Um outro ndice, cold cloud duration (CCD),obtido por satlites meteorolgicos como GOES e Meteosat utilizado como varivel indicadora de precipitao.

    Centro de Informaes Estratgicas em Vigilncia em Sade (CIEVS/MS)Foto: Wanderson Klber de Oliveira

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    Esses sensores tm uma resoluo temporal alta, respectivamente, de 15 minutos (GOES e Meteosat), 12 horas(NOAA) e 24 horas (MODIS) e as cenas cobrem porescontinentais. As inormaes obtidas, a temporeal dossatlites meteorolgicos, GOES e Meteosat, so utilizadasnos modelos de previso de tempo (www.cptec.inpe.br).

    Alm disso, para a maioria desses satlite/sensores, existem dados por um perodo relativamente longo. Os dados do sensor AVHRR dos satlites NOAA, por exemplo,ornecem estimativas dirias de LST e NDVI desde 1981e esses dados esto armazenados e disponveis para anlise. Podese, por exemplo, construir uma srie temporalde ocorrncias de malria e de variveis ambientais paradiversos nveis de agregao espaotemporais, veriicando sazonalidades e anomalias. Esses gricos podemmostrar os padres cclicos inerentes doena, assimcomo indicar atores, como subnotiicao, intervenese correlaes com atores ambientais (WHO, 2005). Oque se az necessrio ornecer dados obtidos por satlite em uma escala espacialtemporal adequada ao tipode anlise. Isso ainda no existe. O ideal seria manipularesses dados disponibilizando os ndices em escalas teis,assim como os demais dados ambientais e de sade.

    As conseqncias do aquecimento global para a sadepodem ser minoradas atravs de medidas preventivascomo, por exemplo, melhorar os sistemas de vigilncia para que sirvam de alerta para a emergncia ou

    reemergncia de doenas inecciosas ou dos vetores.Essa medida poderia controlar a prolierao de vetores sem danos ao meio ambiente, inormar ao pblicocomo se proteger, vacinar e tratar rapidamente a populao em risco. Uma outra medida seria minimizaros riscos prevendo quando as condies ambientais,

    especiicamente as climatolgicas, esto avorveis ocorrncia da doena. Nesse caso, as imagens de satlite e os modelos climticos podem ser particularmente teis (EPSTEIN, 2000).

    Para ampliar a capacidade do setor sade no controledas doenas transmissveis, necessrio desenvolvernovos instrumentos para a prtica da vigilncia epidemiolgica, incorporando os aspectos ambientais,identiicadores de riscos, e mtodos automticos esemiautomticos, que permitam a deteco de surtos e o seu acompanhamento no espao e no tempo.Isso orneceria melhores inormaes sobre a dinmica das variveis climticoambientais envolvidasnos modelos integrados de caracterizao de risco.Precisamos produzir os instrumentos necessrios antecipao e, conseqentemente, a ampliao dacapacidade preventiva do setor sade, para que elepossa otimizar suas atividades e recursos visando preveno das doenas, a promoo da sade, e aminimizao dos danos populao exposta a essesriscos.

    Imagem de satliteFoto: Inpe

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    A estruturao do setor sade nos ltimos anos permitiu e ampliou, com grande competncia, o sistemade registro de eventos e agravos de sade. A estruturahierrquica e territorial deinida com o estabelecimentoconstitucional do SUS, em 1988, tambm deiniu unidades espaciais de coleta de inormao, e o Datasus tem

    cumprido sua misso de organizar as bases de dados desade. Somese a isso a crescente possibilidade de acessoa um conjunto bem mais amplo de dados demogricose ambientais, como o caso do Censo 2000, publicadopelo IBGE com a malha de setores censitrios disponibilizada por municpio. Por outro lado os sistemas deproduo sistemtica de dados climticos e ambientaisevoluram muito nos anos recentes. O Inpe, em particular, e observando uma escala nacional, tem avanadona tarea de disponibilizao de dados e inormaesclimticas e da situao de biomas brasileiros. Mais importante, h um alinhamento das polticas relativas aosdados produzidos na linha de caracterizlos como umbem pblico e, portanto de acesso irrestrito e gratuito.Dados dos satlites brasileiros da srie CBERS (SatliteSinoBrasileiro de Sensoriamento Remoto da Terra http://www.cbers.inpe.br/) tm suas imagens distribudas pela Internet e sem custos. Os dados de modelose inormaes climticas so produzidos e distribudospelo CPTECInpe sob a mesma poltica.

    Em tempos de mudanas globais, uma das mais importantes e necessrias a alterao nas polticas ins

    titucionais, em escala global e local, para o acesso aosdados ambientais, imagens de satlite, dados de tempoe clima e inormaes sciodemogricas com registro de localizao em coordenadas geogricas quepossam ser incorporadas nas anlises e na produode mapas em sade. A capacidade brasileira de gerao de dados com reerncia espaotemporal cresceumuito. O que no avanou como desejado oram aspolticas de acesso. Dados espaciais com uno social, geodados, precisam ser liberados (Habeas Data),estabelecendo uma possibilidade de acesso integrado

    entre os sistemas de inormao de sade e os sistemasde inormaes climticoambientais. Mais que isso, preciso uma nova compreenso, mais abrangente,para os sistemas de inormao de sade (SIS). Paraos novos desaios da vigilncia em sade de base territorial, ter acesso aos dados de natureza climtica eambiental de modo mais direto essencial. Trabalharessa integrao undamental para o setor sade. No uma integrao somente tecnolgica, exige um esoro multiinstitucional e a ormao de recursos humanos na sade com capacidade para produzir, cole

    tar, armazenar, recuperar, tratar e analisar esses dadose inormaes.

    No entanto, a capacidade brasileira de analisar esseconjunto de dados, em vrias escalas e unidades espaciais, ainda bem menor que a nossa capacidade

    de produzilos. preciso estabelecer novos mtodosde anlise espaotempo, que permitam detectar ospadres e as alteraes na ocorrncia de mltiploseventos, em apoio vigilncia epidemiolgica debase territorial (KNORRHELD e RICHARDSON,2002; KULLDORFF, 2001; ROGERSON, 2001; ASSUNO et al., 2002, 2001; CMARA; MONTEIRO,2001; CHRISTENSEN; RIBEIROJR, 2002; RIBEIRO;DIGGLE, 2001; SHIMAKURA et al., 2001; CARVALHO; SANTOS, 2005). No campo das Tecnologias daInormao (TI), as geotecnologias permitem analisar e reconhecer padres espaotemporais de dadosprovenientes de ontes diversas. So esses padres quepodem revelar processos, cujas estruturas se buscamdetectar, monitorar e visualizar.

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    Para vencer esse desaio, necessrio compartilhartrabalhos, dados, metodologias, sotwares e resultados. Esse uso compartilhado se desenvolve com baseem trs linguagens comuns: a primeira, a do espao,a inormao que permite localizar os elementos deanlise nos territrios; a segunda, a metodolgica, que

    posiciona o problema como tendo muitas dimenses epermite superar a armadilha da reduo a uma determinao unicamente ambiental, ou uma determinao social ou uma determinao biolgica exclusivaspara o processo sadedoena em investigao; a terceira a tcnicocientica, que apresenta a necessidade de novos mtodos e instrumentos para tratar umproblema intrinsecamente complexo.

    So necessrios Sistemas de Inormao ScioAmbientais para a Sade do nvel local ao nacional. Estessistemas no devem contemplar somente os dados eindicadores, mas incluir as tecnologias de suportecomo os Bancos de Dados Geogricos, Sistemas deInormao Geogrica e Anlise EspaoTemporal, ecapacidade de incorporar estas novas tcnicas e metodologias na dinmica dos servios, no contexto docontrole de endemias.

    O contexto de mudanas climticas e ambientais globais,em que as incertezas sobre a natureza de seu impacto naescala dos ecossistemas locais se somam s complexidades das novas realidades de um Brasil urbano, sugere

    novas questes no enrentamento do velho problemadas doenas transmissveis no contexto da sade pblica. A sinergia existente entre os processos sociais e osecossistemas sobre os quais eles se desenvolvem, associada persistncia de condies inadequadas de vida,tem possibilitado a prolierao de doenas endmicasem novos contextos. A leptospirose um bom exemplo,com dois peris distintos de ocorrncia. Na situao endmica, os grupos populacionais atingidos so os maiscarentes, graas ao modo de transmisso baseado nocontato com urina de rato, que pressupe condies de

    saneamento extremamente precrias. No entanto, comas enchentes causadas por chuvas intensas, ainda queestas atinjam tambm populaes carentes, a doenatem um raio de risco muito ampliado (BARCELLOS eSABROZA, 2001).

    O mesmo ocorre com a transmisso de dengue, deilariose e da leishmaniose visceral, todas ocorrendoem grandes cidades brasileiras, algumas atingindo

    os mesmos grupos populacionais, todas transmitidas por vetores, outras com reservatrios animaisimportantes, cada uma das quais com dierentes caractersticas, mas sobre as quais no se podem isolaros eeitos do controle de cada uma sobre as demais.Dois so os aspectos undamentais para o enrenta

    mento destes problemas: a capacidade de deteco,registro e acompanhamento precoce de nmero decasos e local de sua ocorrncia, e a identiicao emodelagem de atores de risco e de proteo nas situaes endmica e epidmica para estes territrios.

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    O setor sade se encontra rente a um grande desaio. As mudanas climticas ameaam as conquistase os esoros de reduo das doenas transmissveise notransmissveis. Aes para construir ambientemais saudvel poderiam reduzir um quarto da carga global de doenas, e evitar cerca de 13 milhes demortes prematuras (PRUSSUSTUN; CORVALAN,2006). Do ponto de vista epidemiolgico, se as mudanas climticas representam uma srie de exposies a diversos atores de risco, a causa mais distaldessas exposies a alterao do estado ambientaldevido acumulao de gases do eeito estua. Issosigniica que no possvel a curto prazo evitar essasexposies. As modiicaes que se possam promoverpara alterar esse quadro no nvel global podem consumir dcadas para se obter um eeito estabilizador doclima. Portanto, o setor sade deve tomar medidas e

    intervenes de adaptao, para reduzir ao mximoos impactos via ambiente, que de outra maneira seroinevitveis. Essa adaptao deve comear por: discusses intersetoriais, uma vez que as aes (inclusive deluta contra a emisso de gases e reduo do consumo)dos outros setores que aetam as aes do setor sade;investimento estratgico em programas de proteoda sade para populaes ameaadas pelas mudanasclimticas e ambientais, como sistemas de vigilnciade doenas transmitidas por vetores, suprimento degua e saneamento, bem como a reduo do impacto de desastres. Por outro lado, os determinantes dasmudanas climticas globais podem somente ser superados a longo prazo, com medidas de mitigao.Tambm nesse caso, o setor sade pode ter um papelimportante. Devese ressaltar que o modelo de desen

    volvimento e a prpria produo de energia causam

    Concluses Um olhar almdas mudanas climticas

    Agente de SadeFoto: Representao da OPAS/OMS no Brasil

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    mudanas climticas, mas tambm problemas de sade pela poluio do ar, que resulta em mais de 800 milbitos por ano; acidentes de trnsito, que causam 1,2milhes de bitos por ano e a reduo da atividadesica, que resulta em 1,9 milhes de bitos por ano(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007). Isso

    signiica que uma mudana na inraestrutura de produo, consumo e circulao pode representar umareduo de emisses de gases eeito estua, por umaparte, e por outro lado, a diminuio de vrias causasimportantes de mortalidade.

    O mundo vem passando por mudanas que no estolimitadas apenas a aspectos climticos. Paralelo aosprocessos de mudanas climticas, vm se acelerandoa globalizao (aumentando a conectividade de pessoas, mercadorias e inormao), as mudanas ambientais (alterando ecossistemas, reduzindo a biodiversidade e acumulando no ambiente substncias txicas)e a precarizao de sistemas de governo (reduzindoinvestimentos em sade, aumentando a dependnciade mercados e aumentando as desigualdades sociais).Os riscos associados s mudanas climticas globaisno podem ser avaliados em separado desse contexto.Ao contrrio, devese ressaltar que os riscos so o produto de perigos e vulnerabilidades, como costumamser medidos nas engenharias. Os perigos, no caso dasmudanas globais so dados pelas condies ambientais e pela magnitude de eventos. J as vulnerabilida

    des so conormadas pelas condies sociais, marcadas pelas desigualdades, as dierentes capacidades deadaptao, resistncia e resilincia. Uma estimativa de

    vulnerabilidade das populaes brasileiras apontou oNordeste como uma regio mais sensvel a mudanasclimticas devido aos baixos ndices de desenvolvimento social e econmico (CONFALONIERI, 2005).Essas avaliaes so baseadas no pressuposto de quegrupos populacionais com piores condies de renda,educao e moradia soreriam os maiores impactosdas mudanas ambientais e climticas. No entanto,

    como ressalta Guimares (2005), as populaes maispobres nas cidades e no campo tm demonstrado umaimensa capacidade de adaptao, uma vez que j seencontram excludas de sistemas tcnicos. Se a vulnerabilidade maior entre pobres, no se pode airmarque a parcela includa e mais aluente da sociedade esteja isenta de riscos, ao contrrio, sua capacidade deresposta (imunolgica e social) mais baixa.

    A possvel expanso de reas de transmisso de doenas no pode ser compreendida como um regresso de

    doenas como a malria, ebre amarela, dengue, leptospirose, esquistossomose entre outras. Ou melhor,a possibilidade de retorno dessas doenas se d sobrebases histricas completamente distintas daquelasexistentes no Sculo XIX. As transormaes sociaise tecnolgicas ocorridas no mundo nas ltimas dcadas permitem antever que essas doenas adquiriram,ao longo dessas dcadas, outras caractersticas, almdos atores biolgicos intrnsecos. A possibilidade deprevenir, diagnosticar e tratar algumas pessoas e excluir outras desses sistemas aproundou as dierenasregionais e sociais de vulnerabilidades e transormouas desigualdades sociais num importante dierencialde riscos ambientais. Cabe ao setor sade, no s pre

    venir esses riscos ornecendo respostas para os impac

    tos causados pelas mudanas ambientais e climticas,mas atuar na reduo de suas vulnerabilidades sociais,por meio de mudanas no comportamento individual, social e poltico, por um mundo mais justo e maissaudvel.

    Exerccio fsico / hbito saudvelFoto: OPAS/OMS Brasil

    Populao brasileiraFoto: OPAS/OMS Brasil

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