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MUDANÇAS RECENTES NA SITUAÇÃO SOCIOECONÓMICA PORTUGUESA

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O presente artigo pretende mostrar como a evolução recente da economia portuguesa têm-se caracterizado por um baixo crescimento tendencial, reflectindo uma sucessão de períodos alternados de aceleração e desaceleração em resultado da resposta aos impactos decorrentes da evolução da economia europeia e mundial e de um quadro interno marcado por um fraco crescimento da produtividade, afectado pelas baixas qualificações do capital humano, pela rigidez do mercado de trabalho que dificulta a reafectação e recursos e pela persistência de um quadro judicial pouco favorável ao desenvolvimento da actividade empresarial.

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Page 1: MUDANÇAS RECENTES NA SITUAÇÃO SOCIOECONÓMICA PORTUGUESA

Nota sobre as alterações do contexto socioeconómico e do mercado de trabalho

Mudanças recentes na situação socioeconómica portuguesa

A evolução recente da economia portuguesa têm-se caracterizado por um baixo crescimento

tendencial que reflecte uma sucessão de períodos alternados de aceleração e desaceleração em

resultado da resposta aos impactos decorrentes da evolução da economia europeia e mundial e de

um quadro interno marcado por um fraco crescimento da produtividade, afectado pelas baixas

qualificações do capital humano, pela rigidez do mercado de trabalho que dificulta a reafectação e

recursos e pela persistência de um quadro judicial pouco favorável ao desenvolvimento da actividade

empresarial. Neste contexto, tem-se verificado nos últimos anos uma divergência real com a União

Europeia, traduzida por uma redução persistente do peso do PIB per capita, expresso em paridades

de poder de compra, face à média europeia.

Este quadro global tem vindo a ser negativamente afectado pelas perturbações que a economia

mundial tem vindo a experimentar desde 2007, das quais se destaca a forte aceleração dos preços

do petróleo e das matérias primas alimentares, a desvalorização dos mercados da habitação ocorrida

em alguns países como os Estados Unidos, a Irlanda ou o Reino Unido, e também, mais

recentemente, a grave crise financeira iniciada no segundo semestre de 2007 e traduzida na redução

súbita da liquidez nos mercados financeiros e na subida do custo do crédito.

O elevado grau de abertura da economia portuguesa favoreceu a sua exposição à influência destes

desenvolvimentos, os quais tiveram repercussões significativas que afectaram negativamente os

elementos que sustentavam a recuperação da economia portuguesa e contribuíram decisivamente

para o significativo agravamento que tem vindo a ocorrer na situação socioeconómica do país.

Estas alterações reflectem-se no comportamento estimado dos principais indicadores económicos já

em 2008, os quais apontam para uma forte desaceleração da economia com tendência para se

acentuar no ano de 2009.

As últimas estimativas do Banco de Portugal para 20081 evidenciam uma interrupção da trajectória de

crescimento gradual observada nos dois últimos anos, com uma forte desaceleração da taxa de

crescimento do PIB, de 1,9% em 2007 para 0,5% em 2008 (Quadro 1). Tal significa ainda que

Portugal continuará a crescer a taxas inferiores ao conjunto da zona euro pelo sétimo ano

consecutivo.

1 Banco de Portugal. Boletim Económico/Outono 2008. Volume 14, nº 3. Disponível em www.bportugal.pt, em 12.12.2008

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Esta desaceleração resulta, essencialmente, do abrandamento da procura interna e das exportações.

O abrandamento da procura interna é afectado sobretudo pelo menor dinamismo do investimento

decorrente de uma redução estimada da formação bruta do capital fixo (FBCF) de - 0,8% em 2008,

contrastante com o crescimento de 3,2% observado em 2007. A queda da taxa de crescimento da

FBCF é sobretudo explicada pela queda do investimento na construção (estimada em 4 p.p.), após o

crescimento nulo ocorrido em 2007, e pela forte desaceleração no sector do material de transporte.

Se bem que menos acentuada, também a componente relativa às máquinas e equipamentos deverá

observar uma redução da sua taxa de crescimento em 1,5 p.p. relativamente a 2007, estimando-se

que possa fixar-se em 0,5 % em 2008.

QUADRO 1

Principais Indicadores Económicos Taxa de variação em percentagem

2005 2006 2007 2008 (1)

PIB 0,9 1,3 1,9 0,5

Consumo privado 1,9 1,2 1,5 1,4 Consumo público 3,2 -1,2 0,3 0,2 FBCF -0,9 -1,6 3,2 -0,8 Procura interna 1,5 0,2 1,7 1,0 Exportações 2,1 9,2 7,6 1,4 Imprtações 3,5 4,3 5,9 2,6

Contributo para a variação do PIB

Procura interna n.d. n.d. 1,8 1,0 Exportações líquidas n.d. n.d. 0,0 -0,6

IHPC 2,1 3,0 2,4 2,8

(1) Estimativa do Banco de Portugal

Fonte: Banco de Portugal

Importa ter em atenção que Portugal esteve sujeito a um procedimento de correcção de deficits

excessivos entre 2005 e 2007, no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento. A necessidade de

correcção do deficit e a sua posterior manutenção em níveis aceitáveis obrigaram à implementação

de uma política orçamental restritiva da despesa pública, contribuindo para as dificuldades de

financiamento do investimento público e para a redução da FBCF atrás evidenciada.

Cabe aqui sublinhar o aspecto particular do efeito destas restrições sobre o financiamento da

contrapartida nacional dos projectos financiados no âmbito dos Fundos Estruturais. As dificuldades

em assegurar o financiamento da contrapartida nacional traduziram-se, em muitos casos, em atrasos

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significativos na execução dos programas operacionais integrados no QCA III, que originaram, no

passado, a perda de recursos financeiros comunitários por incumprimento da regra N+2, e colocam,

no presente, dificuldades acrescidas para a absorção dos fundos ainda disponíveis até ao

encerramento dos programas.

Por outro lado, o abrandamento do investimento das empresas, ainda que explicado principalmente

pela deterioração das perspectivas de vendas, tem ainda subjacentes as crescentes limitações

relacionadas com a obtenção de crédito e com o nível das taxas de juro, traduzindo-se em acrescidas

dificuldades no financiamento de novos investimentos. Esta situação é particularmente preocupante

tendo em conta as restrições impostas à concessão de empréstimos por parte do sistema bancário.

A desaceleração da actividade económica dos principais parceiros comerciais de Portugal teve um

impacto muito desfavorável nas exportações, cuja taxa de crescimento deverá reduzir-se passando

de 7,6% em 2007 para apenas 1,4% em 2008, atingindo tanto as exportações de mercadorias como

as exportações de serviços. A desaceleração do crescimento das exportações de mercadorias

iniciou-se já em 2007 e atingiu sobretudo as exportações de média e alta tecnologia, embora com

contributos significativos de sectores de baixa tecnologia como o vestuário. A exportação de serviços,

tanto de turismo como de outros serviços, conheceu quedas acentuadas já em 2008, atingindo alguns

dos principais mercados, como o Reino Unido, a Alemanha, a Espanha e os Estados Unidos.

O consumo privado deverá registar, segundo as estimativas, apenas uma ligeira quebra relativamente

ao comportamento do ano anterior, sustentado pelo recurso ao crédito ao consumo e pela diminuição

da taxa de poupança. Esta dinâmica parece contudo não ser sustentável no futuro face ao elevado

nível de endividamento das famílias e às restrições à concessão de crédito resultantes do

ajustamento dos mercados financeiros.

O consumo público deverá observar um comportamento semelhante ao ano de 2007, traduzido por

um ligeiro crescimento de 0,2 %, potenciado por uma variação positiva nas despesas com bens e

serviços, em contraponto com a diminuição dos funcionários púbicos e as restrições a novas

admissões que tenderão a reduzir as despesas nesta área.

No que respeita às importações estima-se que, em resultado da diminuição da procura global sofram

em 2008 uma redução da taxa de crescimento em 3,3 p.p., não devendo ultrapassar os 2,6%.

No contexto de grande incerteza quanto ao momento de inflexão da trajectória da actividade

económica em curso, as perspectivas de evolução da economia no futuro próximo apontam no

sentido de que os efeitos conjugados da rápida desaceleração da actividade económica ao nível

global e da profunda crise que afecta os mercados financeiros internacionais possam vir a acentuar-

se, reflectindo-se no agravamento do comportamento do investimento e das exportações,

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particularmente sensíveis à evolução do enquadramento externo. Esta tendência terá também

implicações no mercado de trabalho, nomeadamente no que se refere ao dinamismo do emprego.

Mercado de trabalho

A desaceleração da actividade económica opera-se num contexto marcado por uma tendência de

criação moderada de emprego que vem ocorrendo desde 2006 e se acentuou no primeiro semestre

de 2008. Em termos sectoriais os serviços absorveram o aumento do emprego registado no 1º

semestre de 2008 e compensaram as reduções ocorridas na indústria e na agricultura, reforçando o

seu peso no emprego total.

QUADRO 2

Emprego e desemprego

Taxa de variação homóloga em percentagem

1º Semestre 3º Trimestre

2005 2006 2007 2008 (1) 2008

Emprego Total 0,0 0,7 0,2 1,3 -0,1

Desemprego total 15,7 1,3 4,9 -8,1 -2,4

Taxa de desemprego (em % da pop. activa) 7,6 7,7 8,0 7,5 7,7

Desemprego de longa duração (em % do desemprego total) 49,9 51,7 48,9 51,1 49,3

Valores anuais

Fonte: Banco de Portugal, INE

A taxa de desemprego verificou uma ligeira redução ao longo de 2008, num quadro caracterizado

pela manutenção de taxas de desemprego em níveis historicamente elevados, atingindo em 2007 um

máximo de 8%. Esta redução afecta sobretudo o desemprego de curta duração, permitindo a

persistência de um elevado nível do desemprego de longa duração correspondente a cerca de

metade do desemprego total, em linha com a tendência dos últimos anos. Por sua vez a duração

média do desemprego aumentou de 22 meses no 1º semestre de 2007 para 23,1 meses em igual

período de 2008, atingindo o valor mais elevado dos últimos 10 anos.

No entanto estas tendências de evolução do emprego e da taxa de desemprego não são

consideradas sustentáveis, estimando o Banco de Portugal uma desaceleração do emprego total na

economia já a partir do 2º semestre de 2008. Esta estimativa é corroborada pelos resultados do

Inquérito ao Emprego do INE relativo ao 3º trimestre de 2008, os quais evidenciam que o emprego

total registou um decréscimo homólogo de -0,1% e um decréscimo de cerca de 0,6% em relação ao

trimestre anterior, equivalente a uma redução de cerca de 32 mil pessoas empregadas. A população

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desempregada registou um decréscimo homologo de – 2,4 % e um acréscimo face ao trimestre

anterior de cerca de 5,8%, equivalente a cerca de 23,8 mil pessoas. Em consequência a taxa de

desemprego registou um aumento de 0,4 p.p. relativamente ao trimestre anterior, fixando-se, em

7,7%.

Em síntese a evolução descrita do mercado de trabalho aponta no sentido da inversão da tendência

até agora verificada, com a diminuição do emprego global e agravamento das taxas de desemprego,

reflectindo de forma mais evidente os efeitos decorrentes da desaceleração da economia portuguesa.

Repercussões na execução do QCA III

No quadro do Plano de relançamento da economia europeia, apresentado pela Comissão Europeia e,

especificamente, no contexto das medidas que decorrem da participação da Política de Coesão e dos

Fundos Estruturais para esse plano e que se reportam ao período de programação 2000-2006, a

Comissão manifestou receptividade a prorrogar, para os Programas Operacionais afectados pela

crise, a data limite de elegibilidade das despesas, que se encontrava estabelecida fixando, como

nova data limite, 30 de Junho de 2009.

As alterações da situação socioeconómica e do mercado de trabalho em Portugal já assinaladas têm

impactes significativos no desenvolvimento da intervenção de todos os Programas Operacionais do

Quadro Comunitário de Apoio III, afectando o ritmo de execução dos projectos e, consequentemente,

resultando globalmente em níveis de execução financeira dos Programas Operacionais inferiores aos

valores aprovados e, como tal, insuficientes para alcançar os valores da dotação programada.

A actual crise financeira afecta todos os sectores da actividade económica e todas as entidades,

públicas e privadas, não tendo por isso incidência específica em determinados Programas ou Eixos

prioritários de intervenção, mas sim em todos os Programas Operacionais. Por outro lado, a falta de

liquidez das entidades beneficiárias tem vindo a ser, progressivamente, reflectida no abrandamento

acentuado do ritmo de execução dos Programas, levando quase à estagnação no último trimestre de

2008.

Em termos globais a taxa de execução do QCA III, face à programação, era de 86%, em Janeiro de

2008, o que resultaria na necessidade de um acréscimo de execução correspondente a 14 % da

dotação programada (2 831 milhões de euros). Em 30 de Novembro de 2008, verifica-se porém que a

execução revelou um crescimento de apenas 7 pontos percentuais, correspondendo em valores

absolutos a 1 362 milhões de euros, havendo ainda por executar, até ao encerramento, 1 469 milhões

de euros.

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Os gráficos seguintes representam o ritmo mensal da execução em 2008, até Novembro,

observando-se uma progressão muito lenta, em termos do alcance das metas programadas, não

obstante o esforço das Autoridades de Gestão na adopção de medidas de gestão para acelerar a

execução dos projectos.

Gráfico I Gráfico II

QCA III - Total Fundo Executado de Janeiro a Novembro de 2008em milhões €

10.000

11.000

12.000

13.000

14.000

15.000

16.000

17.000

18.000

19.000

20.000

21.000

Jan-08 Fev-08 Mar-08 Abr-08 Mai-08 Jun-08 Jul-08 Ago-08 Set-08 Out-08 Nov-08

Total Fundo Executado Programação Total

QCA III - Total Fundo Executado de Janeiro a Novembro de 2008em % da Programação Total

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Jan-08 Fev-08 Mar-08 Abr-08 Mai-08 Jun-08 Jul-08 Ago-08 Set-08 Out-08 Nov-08

Total Fundo Executado Programação Total

Nestas circunstâncias, é determinante o alargamento do prazo de elegibilidade das despesas dos

Programas, na medida em que permitirá dilatar o prazo de execução dos projectos, perspectivando

adequados níveis de execução dos Programas. A possibilidade de utilização das dotações

orçamentais, a prever em orçamento do próximo ano e, por último, os efeitos económicos das

medidas de combate à crise que a nível político, quer a nível europeu quer do Governo português,

estão a ser programadas para execução no curto prazo, são factores que contribuirão para mitigar a

actual falta de liquidez das entidades executoras.

Em consequência, a decisão modificativa dos Programas Operacionais, permitirá respeitar a

obrigação da Comissão e dos Estados-Membros de assegurar uma boa gestão financeira de

encerramento dos Programas, nos prazos regulamentares previstos ou seja até 30 de Setembro de

2010.

Esta alteração traduz-se na modificação da redacção do artigo da Decisão em vigor de cada

Programa Operacional relativo à data limite de elegibilidade de despesas passando a ser a seguinte:

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”A data de início de elegibilidade das despesas é o dia (…). A data final de elegibilidade das

despesas é o dia 31 de Dezembro de 2008. Esta data é prorrogada até 30 de Junho de 2009.”

Ou

”A data de início de elegibilidade das despesas é o dia (…). A data final de elegibilidade das

despesas é o dia 31 de Dezembro de 2008. Esta data é prolongada até ao dia 30 de Abril de 2009

para as despesas efectuadas por organismos que atribuem as ajudas previstas na alínea l) do artigo

9º do Reg (CE) 1260/1999. Estas datas são prorrogadas até 30 de Junho de 2009.”

A Comissão de Gestão do QCA III, 29 de Dezembro de 2008

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