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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº 1802 Novembro/2014 São Raimundo Nonato Dentre várias experiências exitosas de convivência com o Semiárido, a caminhada do grupo de mulheres UMBUS do Assentamento Fazenda Lagoa do Novo Zabelê, no município de São Raimundo Nonato, no estado do Piauí se destaca. O assentamento Fazenda Lagoa do Novo Zabelê é formado por famílias que tiveram sua área desapropriada na comunidade Zabelê, para demarcação da Área de Preservação Ambiental do Parque Nacional Serra da Capivara. Vários grupos de produção no assentamento surgiram a partir do apoio do Projeto Dom Helder Câmara e da Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato, em potenciais artísticos e utilização adequada das plantas do Semiárido para produção de alimentícios; produção de princípios agroecológicos; apicultura; artesanato; e galinha caipira, dentre esses, o grupo de mulheres UMBUS. O grupo UMBUS hoje faz parte da Rede de Economia Solidária e tem como matéria-prima plantas nativas da região, como maracujá do mato, manga e umbu, esta última, com nome significativo para o grupo, que tem a fruta como fonte principal de renda. Maria Luciene Miranda, uma das coordenadoras do grupo, destaca a importância de fazer parte da Rede de Economia Solidária. “Quando falamos em comércio justo e solidário, estamos falando em várias organizações coletivas de autogerenciamento. Não temos patrão, todos têm o mesmo poder de deliberação. São grupos que se ajudam entre si, tanto trocando experiências como ajudando a promover o produto e o trabalho dos/das demais. Nossa forma de atuação é diferente do sistema capitalista. Na economia solidária, temos como princípios cooperação, autogestão, ação econômica e solidariedade”. Luciene diz que o grupo tem oito anos de atuação e é sempre um orgulho contar a história. No início eram 11 mulheres, hoje já somam 25, além dos três homens que fazem parte do grupo. Segundo a produtora rural, fazer parte da Rede Economia Solidária proporciona ao grupo a oportunidade de aprender sempre mais e ajudar MULHERES DO ASSENTAMENTO NOVO ZABELÊ ESCREVEM UMA HISTÓRIA PRÓSPERA DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

Mulheres do Assentamento Novo Zabelê escrevem uma história próspera de convivência com o Semiárido

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Dentre várias experiências exitosas de convivência com o Semiárido, a caminhada do grupo de mulheres UMBUS do Assentamento Fazenda Lagoa do Novo Zabelê, no município de São Raimundo Nonato, no estado do Piauí se destaca.

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Page 1: Mulheres do Assentamento Novo Zabelê escrevem uma história próspera de convivência com o Semiárido

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº 1802

Novembro/2014

São Raimundo

Nonato

Dentre várias experiências exitosas de convivência com o Semiárido, a caminhada do grupo de mulheres UMBUS do Assentamento Fazenda Lagoa do Novo Zabelê, no município de São Raimundo Nonato, no estado do Piauí se destaca.

O assentamento Fazenda Lagoa do Novo Zabelê é formado por famílias que tiveram sua área desapropriada na comunidade Zabelê, para demarcação da Área de Preservação Ambiental do Parque Nacional Serra da Capivara.

Vários grupos de produção no assentamento surgiram a partir do apoio do Projeto Dom Helder Câmara e da Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato, em potenciais artísticos e utilização adequada das plantas do Semiárido para produção de alimentícios; produção de princípios agroecológicos; apicultura; artesanato; e galinha caipira, dentre esses, o grupo de mulheres UMBUS. O grupo UMBUS hoje faz parte da Rede de Economia Solidária e tem como matéria-prima plantas nativas da região, como maracujá do mato, manga e umbu, esta última, com nome significativo para o grupo, que tem a fruta como fonte principal de renda.

Maria Luciene Miranda, uma das coordenadoras do grupo, destaca a importância de fazer parte da Rede de Economia Solidária. “Quando falamos em comércio justo e solidário, estamos falando em várias organizações coletivas de autogerenciamento. Não temos patrão, todos têm o mesmo poder de deliberação. São grupos que se ajudam entre si, tanto trocando experiências como ajudando a

promover o produto e o trabalho dos/das demais. Nossa forma de atuação é diferente do sistema capitalista. Na economia solidária, temos como princípios cooperação, autogestão, ação econômica e solidariedade”. Luciene diz que o grupo tem oito anos de atuação e é sempre um orgulho contar a história. No início eram 11 mulheres, hoje já somam 25, além dos três homens que fazem parte do grupo.

Segundo a produtora rural, fazer parte da Rede Economia Solidária proporciona ao grupo a oportunidade de aprender sempre mais e ajudar

MULHERES DO ASSENTAMENTO NOVO ZABELÊ ESCREVEM UMA HISTÓRIA PRÓSPERA DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

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toda a comunidade, tanto economicamente quanto culturalmente. Elas participam de feiras, fóruns, cursos de capacitação e intercâmbios e ainda são convidadas para ministrarem palestras em vários Estados. “Sempre que somos convidadas para falar do nosso trabalho, iniciamos nossa apresentação falando da essência da nossa comunidade, como surgiu o assentamento e como nos organizamos para conquistar melhores condições de vida para todos(as). Temos uma história de luta, superação e conquista. Não podemos esquecer de onde viemos: da roça. E de que dela tiramos nosso sustento”. Declara Luciene

“Começamos o grupo ainda muito tímido. Produzíamos apenas polpas e doces do umbu, mas a partir de um intercâmbio na Bahia, para conhecer o trabalho de um grupo semelhante ao nosso, que também trabalhava com plantas nativas, que aprendemos que além da polpa e doce, podemos fazer geléias, sucos, bolos e, quando retornamos, colocamos em prática e hoje a produção é variada. A Rede Economia Solidária nos proporciona essa troca significativa de conhecimentos”.

O Grupo Umbus negocia sua produção no comércio local, em feiras, além de manter parceria com SDR (Secretaria de desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo), CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), PENAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Pensando em aumentar o número de mulheres trabalhando e conquistando renda digna, o grupo resolveu aumentar a produção, incluindo itens como bolo de milho e peta ao projeto e, com esses produtos, elas concorrem à licitação para fornecimento de merenda escolar da rede municipal de educação, através do PENAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar. Luciene declara que esta é mais uma conquista e afirma que todos os produtos são feitos com gêneros da agricultura familiar e frutas nativas. Também conta que é feito um mapeamento para saber se outras comunidades oferecem itens dos quais não dispõem, para não comprarem produtos não ligados à agricultura familiar. “A economia da solidária gira em torno disso”, afirma.

“E, quando falamos em preço justo e solidário, estamos falando em troca justa. Eu tenho um produto e sei que preciso ganhar com ele. Mas também sei que as pessoas precisam consumir e muitas dessas pessoas não têm poder aquisitivo alto. Então, se pensamos apenas em lucro, nos tornamos capitalismo puro e essa não é a

linha da economia solidária”. No início da formação do grupo, as pessoas

não acreditavam que ia dar certo. “Éramos taxadas como mulheres que não tinham o que fazer. Ouvíamos pessoas falando para irmos cuidar de nossos maridos. Hoje é muito gratificante ver as companheiras do grupo entusiasmadas, com autoestima elevada, quando recebem seu dinheiro já vão comprar roupas para os filhos. Muitas delas sustentam a família”, conta feliz , a produtora.