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1 X SEL – Seminário de Estudos Literários UNESP – Campus de Assis ISSN: 2179-4871 www.assis.unesp.br/sel [email protected] OS LEITORES ESCREVEM A GUIMARÃES ROSA Maria do Rosário Abreu e Sousa (Doutoranda – MACKENZIE/SP) RESUMO: Este ensaio discute três cartas de leitores que foram enviadas a Guimarães Rosa em maio e junho 1946, relatando-lhe suas impressões de leitura acerca de seu livro de estreia, Sagarana, publicado em abril do mesmo ano. A análise dessas cartas mostrou que a leitura de Sagarana foi fortemente marcada pelo viés identitário, o que por hipótese poderia ser atribuído à maneira pela qual esses leitores interpretavam o papel da literatura, relacionando-a ao contexto sócio histórico da época. Os pressupostos teóricos que balizam esse estudo são o discurso epistolar – subgênero carta de leitores a escritores –, as teorias literárias que tratam sobre a identidade e a estética da recepção. A análise comparativa dessas três cartas, relacionando-as à construção da identidade brasileira e ao peso da literatura na construção dessa identidade, aponta em um primeiro momento para duas conclusões. A primeira parece indicar que o forte viés identitário dessas leituras reflete o horizonte de expectativa dos leitores, que esperavam que o livro lhes desvelasse um Brasil desconhecido, ou seja, que a literatura legitimasse a identidade brasileira. A segunda refere-se ao modo dessa legitimação, que viabilizar-se-ia pelo reconhecimento da língua brasileira, veiculada no livro de estreia de Guimarães Rosa. PALAVRAS-CHAVE: Cartas de leitores; Sagarana; Guimarães Rosa. Segundo Stuart Hall (2003, p. 50-51), as identidades nacionais são compostas por símbolos e representações que produzem sentidos sobre a nação, sentidos estes com os quais os indivíduos de uma nação se identificam. Tais sentidos aparecem principalmente nas narrativas, nas memórias, nas imagens que conectam o passado ao presente. A Formação da Literatura Brasileira trata da importância da literatura na formação da identidade brasileira. A independência do Brasil, em 1822, implicou na necessidade da construção da identidade da jovem nação, que teve no romantismo um elemento facilitador, uma vez que, ao cultivar o local, o exótico e o individual, redefiniu posturas árcades, propiciando à literatura um papel de peso na construção da identidade brasileira.

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X SEL – Seminário de Estudos Literários

UNESP – Campus de Assis

ISSN: 2179-4871

www.assis.unesp.br/sel

[email protected]

OS LEITORES ESCREVEM A GUIMARÃES ROSA

Maria do Rosário Abreu e Sousa (Doutoranda – MACKENZIE/SP)

RESUMO: Este ensaio discute três cartas de leitores que foram enviadas a Guimarães Rosa em maio e junho 1946, relatando-lhe suas impressões de leitura acerca de seu livro de estreia, Sagarana, publicado em abril do mesmo ano. A análise dessas cartas mostrou que a leitura de Sagarana foi fortemente marcada pelo viés identitário, o que por hipótese poderia ser atribuído à maneira pela qual esses leitores interpretavam o papel da literatura, relacionando-a ao contexto sócio histórico da época. Os pressupostos teóricos que balizam esse estudo são o discurso epistolar – subgênero carta de leitores a escritores –, as teorias literárias que tratam sobre a identidade e a estética da recepção. A análise comparativa dessas três cartas, relacionando-as à construção da identidade brasileira e ao peso da literatura na construção dessa identidade, aponta em um primeiro momento para duas conclusões. A primeira parece indicar que o forte viés identitário dessas leituras reflete o horizonte de expectativa dos leitores, que esperavam que o livro lhes desvelasse um Brasil desconhecido, ou seja, que a literatura legitimasse a identidade brasileira. A segunda refere-se ao modo dessa legitimação, que viabilizar-se-ia pelo reconhecimento da língua brasileira, veiculada no livro de estreia de Guimarães Rosa.

PALAVRAS-CHAVE: Cartas de leitores; Sagarana; Guimarães Rosa.

Segundo Stuart Hall (2003, p. 50-51), as identidades nacionais são compostas por

símbolos e representações que produzem sentidos sobre a nação, sentidos estes com os quais os

indivíduos de uma nação se identificam. Tais sentidos aparecem principalmente nas narrativas, nas

memórias, nas imagens que conectam o passado ao presente.

A Formação da Literatura Brasileira trata da importância da literatura na formação da

identidade brasileira. A independência do Brasil, em 1822, implicou na necessidade da construção

da identidade da jovem nação, que teve no romantismo um elemento facilitador, uma vez que, ao

cultivar o local, o exótico e o individual, redefiniu posturas árcades, propiciando à literatura um papel

de peso na construção da identidade brasileira.

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

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A Independência importa de maneira decisiva no desenvolvimento da idéia romântica, para a qual contribuiu com pelo menos três elementos [...]: (a) desejo de exprimir uma nova ordem de sentimentos, agora reputados de primeiro plano, como o orgulho patriótico, extensão do antigo nativismo: (b) desejo de criar uma literatura independente, diversa, não apenas uma literatura, de vez que, aparecendo o Classicismo como manifestação do passado colonial, o nacionalismo literário e a busca de modelos novos, nem clássicos nem portugueses, davam um sentimento de libertação relativamente à mãe pátria; finalmente (c) a noção já referida de atividade intelectual não mais apenas como prova de valor do brasileiro, e esclarecimento mental do país, mas tarefa patriótica na construção nacional (CANDIDO, 1975, vol. II, p. 11).

É interessante observar que, se por um lado, os escritores brasileiros produziram ao longo

do século XIX uma literatura empenhada em construir a identidade nacional, por outro lado, a

população de leitores àquela época era reduzidíssima. Em O livro no Brasil (HALLEWELL, 1985, p.

176) apresenta uma tabela relacionando a população brasileira à educação, cobrindo o período de

1600 a 1930. Apenas em 1820 aparece um dado referente à educação: de uma população de

4.000.000 de habitantes, apenas 200.000 eram alfabetizados. Em 1872, de uma população de

10.100.000 de habitantes, 1.560.000 eram alfabetizados, dos quais 139.321 estavam matriculados

no curso primário e 9.389 no curso secundário. A última estatística do século XIX é do ano de 1888;

para uma população de 14.333.000 habitantes, havia 2.120.000 de pessoas alfabetizadas.

Tal situação não foi ignorada pelo escritor brasileiro, que percebeu a pouca circulação e

repercussão de sua obra nesse período, o que evidentemente conflitava com o projeto romântico, e,

sobretudo, alencariano, de construção da identidade nacional pela literatura. Guimarães, após

analisar declarações de escritores e críticos desse período, resume em três momentos a percepção

do escritor acerca do problema da recepção da literatura brasileira ao longo do século XIX:

Embora os problemas diagnosticados por Alencar, na década de 1860, e por Azevedo, na década de 1880, fossem muito semelhantes, há diferença no modo como esses escritores, emblemáticos em suas gerações, explicavam as dificuldades e se referiam ao público leitor. Num primeiro momento, supõe-se a existência de um público numeroso, mas caprichoso e indolente, como acreditavam Alencar e os primeiros românticos; num segundo momento, a pouca repercussão da literatura é associada à exiguidade do público leitor; num terceiro momento, esse público leitor passa a ser encarado como potencial consumidor de literatura, uma mudança de percepção que tem a ver com a organização da produção e comercialização dos livros (GUIMARÃES, 2004, p. 82).

Mas, se a identidade tem na memória um de seus mais caros constituintes, a jovem nação

brasileira tinha que cunhar um passado que a diferenciasse de Portugal. Em outras palavras, tinha

que escrever a sua história. Entretanto, o contexto sócio-histórico daquela época não permitia ao

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

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Brasil formar aqui pesquisadores das diversas ciências: coube, portanto, à literatura, preencher esta

lacuna.

[...] a literatura contribuiu com eficácia maior do que se supõe para formar uma consciência nacional e pesquisar a vida e os problemas brasileiros. Pois ela foi menos um empecilho à formação do espírito científico e técnico (sem condições para desenvolver-se) do que um paliativo à sua fraqueza. Basta refletir sobre o papel importantíssimo do romance oitocentista como exploração e revelação do Brasil aos brasileiros [...]. Deste modo, o espírito da burguesia brasileira se desenvolveu sob influxos predominantemente literários, e a sua maneira de interpretar o mundo circundante foi estilizada em termos não de filosofia, ciência ou técnica, mas de literatura (CANDIDO, 1975, vol II, p.112).

Se as velhas nações tiveram suas epopeias, o Brasil nascente teve na ficção,

representada pelo romance, o instrumento de construção de sua identidade. Para Antonio Candido

(1975, vol. II, p.109-111), o romance é o ponto de equilíbrio entre a pesquisa lírica e o estudo

sistemático da realidade. Este gênero oscila entre a fantasia e a realidade, recriando-a, o que remete

à verossimilhança. Está justamente aí a primeira razão para a adequação do romance para a

descoberta e interpretação da nação brasileira: ele elabora a realidade com os matizes da fantasia.

Uma segunda razão para a adequação desse tipo de ficção é a ampliação do público leitor.

Com o desenvolvimento da imprensa nasce o folhetim, prática importada da França. Os primeiros

folhetins eram traduções, mas o “total de obras de ficção que apareceram dessa forma ao longo dos

anos foi suficiente para tornar o folhetim um importante veículo para o talento literário nacional”

(HALLEWELL, 1985, p.140). Sob a forma do folhetim escreveram Alencar, Machado de Assis,

Martins Pena, Gonçalves de Magalhães e Aluísio de Azevedo, entre outros.

Um outro indicador do crescimento do público leitor é o início da profissionalização do

escritor; a remuneração daqueles que escreviam ou traduziam os romances de folhetim poderia ser

bastante atrativa.

Por volta de 1870, mesmo um escritor desconhecido poderia receber mais ou menos 70$000 por mês pela tradução de folhetins do francês, um nome consagrado que produzisse originais brasileiros poderia ganhar 200$000 reais por mês – ou seis vezes o salário de um professor de escola rural – o suficiente para que Aluísio de Azevedo vivesse, nessa ocasião, exclusivamente de seus escritos (HALLEWEL, 1985, p. 140).

Contudo, no caso de Azevedo, é preciso enfatizar que o autor de O mulato fez do ofício de

escritor o seu ganha-pão apenas temporariamente, trocando as letras pela diplomacia. Conforme

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observa Hélio Guimarães (2004, p. 72-73), foi somente a partir da década de 1930 que o escritor

brasileiro pôde viver exclusivamente de seus escritos.

Ainda no âmbito do século XIX, foi a partir de 1860, com a chegada do editor L. B. Garnier

ao Brasil que a publicação de romances sob a forma de livros ganhou empuxo. Famosa foi a relação

de Machado de Assis com a Editora Garnier. Já em 1864, apenas quatro anos depois de seu

estabelecimento no Brasil, a editora publicou os versos de um Machado ainda romântico;

Chrysalidas, cuja tiragem de 800 exemplares foi vendida em um ano. Toda a obra do escritor a partir

de então foi publicada pela Editora Garnier, com tiragens de 1.000 exemplares ou mais, o que

ultrapassava os padrões franceses até para escritores consagrados como Dumas, cuja tiragem era

de 500 exemplares. A partir de 1867, quase todos os livros de José de Alencar foram publicados

pela Editora Garnier (HALLEWELL, 1986, p. 141-142).

Finalmente, uma última razão para a adequação do romance como instrumento de

construção da identidade brasileira é o interesse do romantismo pela história. Isso favoreceu o

interesse pelo comportamento humano, facultando aos escritores românticos a criação de narrativas

da história brasileira, como por exemplo nos romances indianistas Iracema (1865) e O guarani

(1857). Não somente na história, mas também na sociologia, é o romance alencariano que fornecerá

o embrião da análise da personalidade dos tipos brasileiros, que são desenhados de modo simplista

por Alencar e serão elaborados com genialidade por Machado de Assis.

E como além de recurso estético foi um projeto nacionalista, fez do romance verdadeira forma de pesquisa e descoberta do Brasil [...]. O ideal romântico-nacionalista de criar a expressão nova de um país novo, encontrou no romance a linguagem mais eficiente. Basta relancear em nossa literatura para sentir a importância deste, mais ainda como instrumento de interpretação social do que como realização artística de alto nível. Este alto nível, poucas vezes atingido; aquela interpretação, levada a efeito com vigor e eficácia equivalentes aos dos estudos históricos e sociais (CANDIDO, 1975, p. 112).

No que concerne à língua, Leite (1992, p. 174-175) traça um panorama acerca do

pensamento romântico sobre a língua nacional. Se Gregório de Matos foi quem primeiro utilizou

literariamente os brasileirismos, o fez com intenção satírica, conforme observação de Gonçalves

Dias, que, em carta de 1857, argumenta que os brasileiros, por viverem em um país com

características próprias, necessitam de um léxico diferente daquele dos portugueses, e aponta ainda

o povo como juiz soberano dos usos da língua. Já Alencar, acrescenta que não apenas o léxico

brasileiro diferencia-se do português, mas a própria estrutura da língua, bem como a prosódia

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brasileira, que Alencar considera muito mais sonora do que a portuguesa, além de referir-se ao

português falado no Brasil, como dialeto.

É interessante observar o contraponto ao pensamento de Antonio Candido (1975, vol II, p.

112) transcrito alguns parágrafos antes, acerca do peso da literatura na formação da identidade

brasileira, já que, segundo ele, pesquisas científicas e técnicas ainda não encontravam solo propício

à germinação no Brasil daquela época. Embora reconheça o protagonismo da literatura, Dante

Moreira Leite cita coadjuvantes talvez ainda não devidamente reconhecidos, valorizados e

pesquisados pelos estudiosos que se debruçam sobre o tema, embora sejam também eles,

“letrados”.

Evidentemente seria um erro ignorar o papel dos outros nessa formação de uma imagem positiva do Brasil – isto é, de políticos, militares, jornalistas, historiadores, geógrafos. Se se desejasse historiar a formação da nacionalidade e seus símbolos seria necessário examinar o papel desses vários grupos e seus líderes. Mesmo sem essa análise, parece correto dizer que, nessa época, os poetas e prosadores têm um papel muito significativo, pois são eles que sintetizam e, dentro dos limites humanos, eternizam a contribuição de outros grupos (LEITE, 1992, p.175).

Ao longo da Formação da Literatura Brasileira, Antonio Candido alude ao projeto

nacionalista que se inicia no Arcadismo, concretiza-se no Romantismo e continua no Modernismo; a

literatura como missão, missão esta de que o escritor parece ter plena consciência.

As três cartas selecionadas1 para a reflexão acerca da recepção de Sagarana, constam do

arquivo Guimarães Rosa do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo

(USP), e parecem apontar para uma continuidade, Modernismo adentro, dos postulados referidos

por Antonio Candido.

Ao propor a literatura como um sistema composto por três vértices: a obra, o escritor e o

público, a Formação da Literatura Brasileira – escrita entre 1945 e 1957 – em uma certa medida

antecipa em dez anos o nascimento da estética da recepção. Somente em 1967, Robert Jauss, em

sua aula inaugural na Universidade de Constança, divulgaria suas sete teses mudando o foco do

sistema literário, proposto pelo próprio Antonio Candido (1975, vol. I, p. 23-25), para o leitor. A partir

de então, as “cartas de leitores” assumem um status diferente nos estudos literários.

1Usaremos as siglas C1, C2 e C3 para referirmo-nos a cada uma das três cartas selecionadas.

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O discurso epistolar

As cartas podem assumir diferentes estatutos nos estudos literários. Algumas, como a

correspondência de Madame de Sévigné com sua filha Madame de Grignan, são consideradas

obras literárias pela excelência de sua escrita. Outras, como a correspondência trocada entre

Fernando Pessoa e Adolfo Casais Monteiro, foi decisiva para a crítica literária, pois desvendou o

mistério dos heterônimos do poeta português.

Entretanto, os grandes escritores não se corresponderam apenas com seus pares, disso

resultando magníficos ensaios de crítica literária, como as cartas trocadas entre Mário de Andrade e

Manuel Bandeira. Eles também escreveram cartas comerciais, familiares, de amor... estas últimas

consideradas ridículas por Álvaro de Campos, o que não desencorajou Fernando Pessoa de

continuar a escrevê-las à sua eterna noiva Ofélia por mais de uma década.

Se os estudos literários sempre se debruçaram sobre a epistolografia dos grandes

escritores, só recentemente, com o advento da estética da recepção, o foco deslocou-se para a

interação leitor/escritor, o que conferiu às cartas de leitores um novo estatuto nos estudos literários;

elas são a manifestação concreta da leitura, são vozes que apresentam a reação dos leitores,

fornecendo elementos para a reflexão acerca da recepção da obra literária.

Característica intrínseca às cartas é o pacto epistolar, que consiste em receber, ler,

responder e guardar a carta. Entretanto, o aspecto mais fascinante desse pacto é a sinceridade, a

ponto de alguns estudiosos da escrita de si, como Clara Rocha (1992, p. 42), considerarem a carta a

escrita autobiográfica por excelência, devido às suas condições de produção. Dirigidas a um único

destinatário, as cartas favorecem a confidência, ao passo que as autobiografias são escritas para

serem publicadas e lidas por um grande número de pessoas.

As duas últimas características do pacto epistolar – responder e guardar a carta –,

transformam a carta em um documento que, em tese, contém uma verdade, aproximando-a

duplamente do discurso histórico. Por outro lado, os remetentes também podem assumir diferentes

máscaras perante os diversos destinatários, o que, ao contrário, não diminuiu as cartas no aspecto

da sinceridade, pois mesmo o discurso histórico, do qual espera-se a narração de fatos verídicos, é

contaminado pela persona do narrador, que adequa-se ao seu público.

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[...] a maioria das sequências históricas pode ser contada de inúmeras maneiras diferentes, de modo a fornecer interpretações diferentes daqueles eventos e dotá-los de sentidos diferentes. Assim, por exemplo, o que Michelet, na sua grande história da Revolução Francesa, construiu no modo de um drama de transcendência romântica, seu contemporâneo Tocqueville, contou na forma de uma tragédia irônica. [...] Mas por que essas representações alternativas, para não dizer mutuamente exclusivas, do que era substancialmente o mesmo conjunto de eventos parecem igualmente plausíveis aos seus respectivos públicos? Apenas porque os historiadores partilhavam com seus públicos certas preconcepções sobre o modo como a Revolução poderia ser contada, em resposta aos imperativos que eram de um modo geral extra-históricos, ideológicos, estéticos ou míticos (WHITE, 2001, p. 101).

A recepção de Sagarana: cartas dos leitores

Segundo Jauss (1978, p. 54-56), a recepção estética ocorre nos limites canônicos de um

“horizonte de expectativa”.

A recepção de um texto pressupõe sempre o contexto de experiência anterior no qual se inscreve a percepção estética: o problema da subjetividade da interpretação e do gosto do leitor isolado ou em diferentes categorias de leitores não pode ser colocado de forma pertinente, se não se tem inicialmente reconstituído este horizonte de uma experiência estética intersubjetiva preliminar que funda toda compreensão individual de um texto e o efeito que ele produz (JAUSS, 1978, p. 54).

Lançado em abril de 1946, Sagarana encontrou um horizonte de expectativa que

privilegiava o regionalismo, traço marcante da ficção brasileira, que perduraria na literatura até

aproximadamente os anos 1930. Ao discorrer sobre a literatura brasileira do século XX, Antonio

Candido (2000, p. 104) a divide, grosso modo, em três fases: a primeira, denominada pós-romântica,

vai de 1880 a 1922; a segunda, de 1922 até 1945, compreende o Modernismo, e a terceira fase vai

de 1945 até o final dos anos 1950.

Ao comentar a gênese do romance brasileiro, ainda no período romântico, Antonio

Candido (1975, vol. II, p.113) observa que “quanto à matéria nasceu regionalista e de costumes; ou

melhor, pendeu desde cedo para a descrição dos tipos humanos e formas de vida social nas cidades

e nos campos”. No período pós-romântico (1880 a 1922), a marca regionalista ainda permanece

forte, menos no romance, mais no conto:

O regionalismo que desde o início do nosso romance constitui uma das principais vias de autodefinição da consciência local, com José de Alencar, Bernardo Guimarães, Franklin Távora, Taunay, transforma-se agora no “conto sertanejo”, que alcança voga surpreendente. Gênero artificial e pretensioso, criando um sentimento subalterno e fácil de condescendência em relação ao próprio país, a pretexto de amor à terra, ilustra bem a posição dessa fase que procurava, na sua vocação cosmopolita, um meio de encarar com olhos europeus as nossas

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realidades mais típicas. Forneceu-lho o “conto sertanejo”, que tratou o homem rural do ângulo pitoresco, sentimental e jocoso, favorecendo a seu respeito, ideias-feitas perigosas, tanto do ponto de vista social quanto sobretudo, estético. É a banalidade dessorada de Catulo da Paixão Cearense, a ingenuidade de Cornélio Pires, o pretensioso exotismo de Valdomiro Silveira ou do Coelho Neto de Sertão; é toda a aluvião sertaneja que desabou sobre o país entre 1900 e 1930 e ainda perdura na literatura e no rádio (ANTONIO CANDIDO, 2000, p. 104-105).

Antonio Candido (2000, p. 105) lança a hipótese de que a publicação de Os Sertões, de

Euclides da Cunha, em 1902, bem como a divulgação de trabalhos etnográficos e folclóricos, teria

favorecido o aparecimento desse tipo de literatura de baixa qualidade. Entretanto, é preciso não

esquecer que se os “contos sertanejos” prosperaram, obviamente havia um público que demandava

conhecer um Brasil não-litorâneo. Na visão do teórico, o conto sertanejo “falhou, na medida em que

não soube corresponder ao interesse então multiplicado pelas coisas e homens do interior do Brasil,

que se isolavam no retardamento das culturas rústicas. Caberia ao Modernismo orientá-lo no rumo

certo” (CANDIDO, 2000, p. 105).

E realmente nos anos 1930-1946 a literatura continuaria a missão de cunhar a identidade

nacional, seja pela poesia engajada, seja pelo romance de denúncia, este último marcadamente

regionalista. Essa literatura comprometida com a história social projetou para o público escritores

como Graciliano Ramos, Jorge Amado e Raquel de Queiroz, que atenderam à demanda de

conhecimento do Brasil interiorano, dessa vez com escritos de qualidade. O crítico João Luiz Lafetá

(2000, p. 32), ressalta o engajamento do artista com o momento sócio histórico.

O conservadorismo católico, o tradicionalismo de Gilberto Freyre, as teses do integralismo, são maneiras de reagir contra a própria modernização. [...] A revolução de 30, com a grande abertura que traz, propicia – e pede – o debate em torno da história nacional, da situação de vida do povo no campo e na cidade, do drama das secas, etc. O real conhecimento do país faz-se sentir como um a necessidade urgente e os artistas são bastante sensibilizados por essa exigência (LAFETÁ, 2000, p. 32).

Das várias interpretações dadas às fases da literatura brasileira do século XX proposta por

Antonio Candido (2004, p. 104), as cartas confirmam algumas e enfraquecem outras. Uma das

interpretações confirmadas também por Lafetá (2000 p. 32), refere-se ao horizonte de expectativa. O

público, quando do lançamento Sagarana, esperava uma literatura que revelasse um Brasil

desconhecido. Esse aspecto transborda das três cartas de leitores selecionadas, que opõem o Brasil

sertanejo ao Brasil litorâneo. “Eu não conheço o Brasil, sou daqui desta beirinha de litoral, e vai que

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o Brasil é lá dentro, lá onde vivem os personagens dos teus contos. Por isso aprendi muitas cousas

que fiquei admirando” (C1).

Se no Romantismo brasileiro “a riqueza e a variedade foram buscadas pelo deslocamento

da imaginação no espaço, procurando uma espécie de exotismo que estimula a observação do

escritor e a curiosidade do leitor” (CANDIDO, 1975, vol. II, p.114), parece que ainda o Modernismo

guiava-se por paradigma semelhante, haja vista os sentidos atribuídos à leitura, expressos no

seguinte trecho:

Quantos elementos novos nestes quadros paisagísticos. Neles tanto na esfera acústica como na visual, encontrei um sentimento do som e da cor, até então intacta no meu mundo sensóreo, que me fez penetrar pela primeira vez na intimidade profunda dos panoramas da nossa terra, que já me imaginava identificada ao máximo com a nossa natureza (C2).

Mas, se os dois trechos transcritos são de leitores citadinos, habitantes do Rio de Janeiro,

a terceira carta selecionada (C3) é de um sertanejo que identifica-se como “o velho carreteiro que

durante muitos anos morou no mato virgem e arrastou para o Morro Velho muita peroba-rosa, muita

aroeira (de 25 cm de face prá riba), muito jatobá, muito vinhateiro cebola e do rajado”.

Esse leitor, ao contrário dos outros dois, é familiarizado com o sertão, conhece-o bem,

embora pareça não mais habitá-lo. A leitura atua sobre sua memória, causando-lhe um misto de

entusiasmo, por reviver seu passado, e estranhamento, que expressa em uma bem humorada

metáfora gustativa.

[...] estou agora com saudades de Manuel Fulô, do Matraga, do burrinho pedrês. São tipos muito, muito conhecidos que você reviveu para mim [...]. Qualquer dia desses volto a viver com seus heróis. Deixa estar [...]. A princípio foi como quem come pela primeira vez acarajé vermelho de malagueta braba, ou então quibebe de jiló sem escorrer a primeira água. Acabei gostando, mas foi muito. Entusiasmou-me o seu livro (C3).

Se ao leitor sertanejo a memória dos tipos humanos que habitam o sertão mineiro é

revivida, à leitora citadina emerge a memória do sofrimento humano, o que remete ao caráter

universal da obra rosiana, percebido pela leitora.

E as figuras de Sagarana são não apenas estátuas que nos fixam do fundo de suas órbitas vazias, mas argilas escaldantes com sangue a estourar-lhes nas veias e capazes de nos fazerem sofrer. Digo assim ‘fazerem sofrer ’, porque é este, em tese, o destino das criaturas (C2).

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Conforme Lafetá (2000, p. 32), nos anos 1930 havia uma demanda para conhecer o Brasil

real, e disto pode-se inferir que buscava-se o conhecimento na acepção ampla: tanto do território,

quanto dos brasileiros que nele habitavam, com sua cultura e suas especificidades linguísticas.

Reside justamente aí, na língua que não é brasileira, mas portuguesa, um grande número de

comentários de leitores. Um deles louva o “livro brasileiro”, mas abomina a “língua brasileira”, em

uma atitude, senão preconceituosa em relação aos falares regionais de outros brasis não cariocas,

bastante conservadora, reveladora também da força do eurocentrismo que faz o brasileiro enxergar-

se inferior ante o europeu.

É alegria ver nesta época de desalinho, em que é moda escrever mal, ver um livro como o seu, escrito em bom português, um belo português enriquecido no Brasil. Para compor com propriedade um formoso livro brasileiro não lhe foi preciso escrever na tal língua brasileira, de que tanto falam os que não conhecem a portuguesa (C1).

Já a leitora que cunhou a metáfora da argila para referir-se à pujança dos personagens de

Sagarana, não se refere diretamente à linguagem rosiana, já que a paisagem e os aspectos

humanos foram os elementos que mais tocaram seu espírito: “Vejo seus contos estabelecidos sobre

dois planos que se justapõem com absoluta precisão: o da natureza e o do humano” (C2).

Entretanto, ao referir-se à “esfera acústica”, pode-se inferir que a leitora quisesse referir-se não

apenas aos sons da natureza, mas também à linguagem inovadora de Sagarana, prosa-poética, que

causava estranhamento aos leitores.

Postura oposta à do leitor que abomina “a tal língua brasileira”, é a do leitor-sertanejo, sem

dúvida o mais entusiasmado dos três, com a revelação do Brasil-sertão-mundo e seus falares. “O

que mais apreciei nele, porém, foi o seu desassombro e segurança em escrever em brasileiro de

verdade, brasileiro das Minas Gerais.” (C3).

Talvez por ser ele próprio sertanejo, e haver sofrido na pele preconceito por seu falar

regional (preconceito este infelizmente ainda vigente em pleno século XXI), esse leitor defende o

falar regional: “O brasileiro que se preza fala a sua língua que pouco a pouco vai se afastando do

vernáculo e vai assim fazendo uma coisa sua” (C3).

Contudo, reconhece o poder do domínio da norma culta da língua portuguesa, como pré-

requisito que possibilitou a Guimarães Rosa divulgar o espaço, a língua, enfim, a cultura sertaneja.

“Neste ponto você atingiu as raízes dos Gerais. Mostrou de uma maneira sobranceira, que essa

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gente de gola bordada, que sabe escrever na língua dela, o linguajar do nosso povo destes Brasis

cá de casa.” (C3).

É esse mesmo leitor (C3) quem em sua carta expressará tanto o horizonte de expectativa

do leitor dos anos 1930-1940, que era o de “conhecer Brasil real” (LAFETÁ, 2000, p.32), quanto o

compromisso iniciado no Romantismo, de o escritor conscientemente contribuir para a escrita da

história do Brasil, quer cunhando sua identidade, quer revelando os diversos Brasis aos leitores.

Aqui, o leitor dá sua contribuição a Rosa, corrigindo alguns erros, já que a leitura pelo viés do pacto

de veracidade implica em informações verdadeiras.

Ademais, pelos poucos anos que viveu naquele meio, você mostra uma grande observação Há realmente fatos e termos (vai desculpar o velho e o sertanejo que lá viveu até os quarenta e seis anos) em que você confundiu alho com bugalho, confusão esta, que os citadinos, os teus principais leitores por sombra perceberão, embora não escapem à crítica de capiaus como eu. Esta por exemplo do Manuel Fulô ter massa para tapar buracos dos dentes dos seus cavalos para enganar os ciganos, está errado. Cavalo novo tem os dentes abertos, que quando os cavalos começam a “urrar” de cima, os ciganos quebram- lhe os dentes com ferramenta própria para tal. Já barganhei muito animal (C3).

Em outra passagem, em uma clara referência ao conto “Conversa de Bois”, esse mesmo

leitor (C3) corrige uma vez mais o texto rosiano, invocando novamente o seu testemunho de

autoridade, agora não mais com a barganha de cavalos, mas com o transporte de toras de madeira

em carros de bois.

Agora fala aqui o velho carreteiro que durante muitos anos morou no mato virgem e arrastou para o Morro-Velho muita peroba-rosa, muita aroeira (de 25cm de face pr’a riba) muito jatobá, muito vinhateiro cebola e do rajado.Viu mundão de pau falquejado mal-e-mal e roliço pra escora de mina.O boi de guia tem que ser maior que o pé de guia, em geral novilho. Os bois de guia têm que firmar os arreios para que os outros possam entrar de esquadro ‘na brocha’ na hora do duro. E assim mais um ou outro [erro] senão sem importância, afinal (C3).

Passados quase duzentos anos da independência do Brasil, apesar de as ciências já

terem se desenvolvido por aqui, apesar do cinema, da televisão e da internet, a crítica ao filme Festa

da Menina Morta, dirigido por Matheus Natchergaele e publicada na edição de 10 de junho de 2009,

da revista “Carta Capital”, parece confirmar a tese de que a ficção, ainda por alguns anos, continuará

a ser “uma verdadeira forma de pesquisa e descoberta do Brasil” (CANDIDO, 1975, vol. II, p.112).

Parece nascer da necessidade de compreender melhor o país seu primeiro longa-metragem, Festa da Menina Morta, estreia do dia 12, que transpira inquietações. Passada numa comunidade ribeirinha, a história de Santinho (Daniel Oliveira) está impregnada da estranheza

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diante de um Brasil que nós, urbanos, desconhecemos. Sobre misticismo e dor, é pura ficção, mas sua construção tem um rico viés documental (SOUSA, 2009, p. 78).

Esses três leitores de Guimarães Rosa parecem fazer parte de um público leitor elitizado,

cuja formação iniciou-se na infância, com a participação da família, e cujo gosto pela leitura foi-se

aprimorando com o passar do tempo, através de muitas e múltiplas leituras. Duas, das três cartas

selecionadas (C1, C2), são bastante formais, se comparadas à do leitor-sertanejo (C3), bem

humorada, cheia de entusiasmo e muito espontânea, guardando, talvez por essas razões, similitude

com cartas que os pequenos leitores endereçaram a Monteiro Lobato nos anos 1940.

É interessante observar que o leitor em formação – talvez no futuro ele fizesse parte

daquele grupo elitizado apreciador de Joyce, Guimarães Rosa ou Proust –, do mesmo modo que o

leitor elitizado, também ele, no ano de 1943, estabelece um pacto de veracidade com o texto

ficcional, corrigindo o escritor: “no livro A Chave do Tamanho o senhor diz que o burro falante

nasceu na fazenda do coronel Teodorico, mas em outro livro o senhor diz que o burro veio do país

das fábulas, como o senhor explica o fenômeno?” (NASCIMENTO apud DEBUS, 2004, p. 188).

Ou ainda este outro pequeno leitor de nove anos, estudante do 4º ano do antigo curso

primário, que questiona a veracidade de algumas informações contidas na Geografia de Dona

Benta. “Eu encontrei uma coisa que me deixou impressionado: a capital do Domínio do Canadá

como sendo Montreal. Ora, todas as geografias dizem que a capital é Otawa. O que é que você me

diz meu mestre?” (CARNEIRO JÚNIOR apud DEBUS, 2004, p.188).

Conclusão

As três cartas selecionadas (C1, C2, C3) sugerem que as percepções que esses leitores

têm a respeito da obra coincide com a tese de Antonio Candido, de que a literatura tem um papel

decisivo na formação da identidade brasileira. Para esses três leitores, ainda em 1946 a literatura

continuava descobrindo o Brasil aos brasileiros, legitimando sua identidade. Atualmente, a ficção

veiculada pelas mídias parece continuar a missão da literatura iniciada no Romantismo, e que

continuou Modernismo adentro.

Quanto ao projeto nacionalista, do qual o escritor tem plena consciência, concretizado

ingenuamente no Romantismo, e que continua no Modernismo, o leitor parece percebê-lo

principalmente pelos inúmeros comentários sobre a linguagem de Sagarana, que suscitam

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questionamentos acerca da língua portuguesa, da língua brasileira, e da habilidade de Rosa em

expressar em português a língua brasileira.

Referências bibliográficas

ARQUIVO João Guimarães Rosa. Instituto de Estudos Brasileiros (IEB)/Universidade de São Paulo (USP).

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. São Paulo: Edusp, 1975.

______. Literatura e Sociedade. São Paulo: Abril, 2000.

DEBUS, Eliane. Monteiro Lobato e o leitor, esse conhecido. Florianópolis: UNIVALI, 2004.

GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura no século 19. 2004. São Paulo: Nankin; Edusp.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 8. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: USP, 1985.

JAUSS, Hans R. Pour une sthétique de la réception. Trad. Claude Maillard. Paris: Gallimard, 1978.

LAFETÁ, João Luiz. 1930: a crítica e o Modernismo. 2. ed. São Paulo: Duas Cidades, 2000.

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SOUSA, Ana. Alegoria sobre a dor. In: Carta Capital, São Paulo, 12 jun. 2009, p. 78.

WHITE, Hayden. O texto histórico como artefato literário. In: Trópicos do discurso. São Paulo: Edusp, 2001.