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1 X SEL – Seminário de Estudos Literários UNESP – Campus de Assis ISSN: 2179-4871 www.assis.unesp.br/sel [email protected] A ROÇA REVOLUCIONÁRIA DE RAUL POMPÉIA Meriele Miranda de Souza (Mestranda – UNESP/Assis – FAPESP) RESUMO: O presente artigo tem por objetivo a análise do conto “14 de julho na roça”, de Raul Pompéia. Para isso, discorremos, em linhas gerais, sobre o contexto histórico e a situação brasileira no final do século XIX. Em seguida, passaremos à analise do conto, levando em consideração a denúncia, estabelecida pelo autor, do desajuste do Brasil rural e escravista em relação às ideologias liberais do continente europeu. PALAVRAS-CHAVE: Raul Pompéia; “14 de julho na roça”; século XIX; república; escravatura. « Rien de plus original, rien de plus soi que de se nourrir des autres. Mais il faut les digérer. Le lion est fait de mouton assimilé » (Paul Valéry). Nossos antepassados indígenas legaram à vida brasileira uma prática para sempre assimilada: a da antropofagia. Desde os primórdios da colonização, os “selvagens” foram submetidos à apropriação involuntária da cultura e da ideologia de outrem. Os portugueses impuseram sua língua e sua religião aos nativos, praticamente abolindo a língua e as práticas culturais autóctones. Segundo Santiago, a supressão do código linguístico e do sistema sagrado indígena em prol da língua e dos ideais europeus evitaria o bilinguismo e o pluralismo religioso, viabilizando a imposição do poder colonialista. Assim, o mundo “recém-descoberto” passaria por um processo gradativo de assimilação da cultura europeia, por meio da conversão/catequisação e da expropriação linguística, adequando-se, segundo o crítico, ao “contexto da civilização ocidental” (SANTIAGO, 1978, p.16). Já na primeira carta escrita no Brasil, de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, relata-se a facilidade do índio para a assimilação e a imitação dos gestos do europeu: “Segundo o testemunho do escrivão-mor, os índios brasileiros estariam naturalmente inclinados à conversão religiosa, visto que, de longe, imitavam os gestos dos cristãos durante o santo sacrifício da missa” (SANTIAGO, 1978, p. 14).

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo a análise do ...sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/merie... · RESUMO: O presente artigo tem por objetivo a análise

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X SEL – Seminário de Estudos Literários

UNESP – Campus de Assis

ISSN: 2179-4871

www.assis.unesp.br/sel

[email protected]

A ROÇA REVOLUCIONÁRIA DE RAUL POMPÉIA

Meriele Miranda de Souza (Mestranda – UNESP/Assis – FAPESP)

RREESSUUMMOO: O presente artigo tem por objetivo a análise do conto “14 de julho na roça”, de Raul Pompéia. Para isso, discorremos, em linhas gerais, sobre o contexto histórico e a situação brasileira no final do século XIX. Em seguida, passaremos à analise do conto, levando em consideração a denúncia, estabelecida pelo autor, do desajuste do Brasil rural e escravista em relação às ideologias liberais do continente europeu. PPAALLAAVVRRAASS--CCHHAAVVEE:: Raul Pompéia; “14 de julho na roça”; século XIX; república; escravatura.

« Rien de plus original, rien de plus soi que de se nourrir des autres. Mais il faut les digérer. Le lion est fait de mouton assimilé » (Paul Valéry).

Nossos antepassados indígenas legaram à vida brasileira uma prática para sempre

assimilada: a da antropofagia. Desde os primórdios da colonização, os “selvagens” foram

submetidos à apropriação involuntária da cultura e da ideologia de outrem. Os portugueses

impuseram sua língua e sua religião aos nativos, praticamente abolindo a língua e as práticas

culturais autóctones. Segundo Santiago, a supressão do código linguístico e do sistema sagrado

indígena em prol da língua e dos ideais europeus evitaria o bilinguismo e o pluralismo religioso,

viabilizando a imposição do poder colonialista. Assim, o mundo “recém-descoberto” passaria por

um processo gradativo de assimilação da cultura europeia, por meio da conversão/catequisação

e da expropriação linguística, adequando-se, segundo o crítico, ao “contexto da civilização

ocidental” (SANTIAGO, 1978, p.16). Já na primeira carta escrita no Brasil, de Pero Vaz de

Caminha ao rei de Portugal, relata-se a facilidade do índio para a assimilação e a imitação dos

gestos do europeu: “Segundo o testemunho do escrivão-mor, os índios brasileiros estariam

naturalmente inclinados à conversão religiosa, visto que, de longe, imitavam os gestos dos

cristãos durante o santo sacrifício da missa” (SANTIAGO, 1978, p. 14).

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Conforme Santiago, à medida que o Novo-Mundo incorpora os antigos valores

europeus, inscreve-se no contexto da sociedade ocidental transformando-se “em cópia,

simulacro que se quer mais e mais semelhante ao original, quando sua originalidade não se

encontraria na cópia do modelo original, mas na sua origem, apagada completamente pelos

colonizadores” (SANTIAGO, 1978, p.16).

A infiltração do pensamento europeu no país colonizado acaba por criar uma nova

sociedade, a mestiça, em que “a noção de unidade sofre reviravolta, é contaminada em favor de

uma mistura sutil e complexa entre o elemento europeu e o elemento autóctone” (SANTIAGO,

1978, p.17). É neste entre-lugar que Santiago instala a cultura e o discurso brasileiro e dos

países latino-americanos. Nesse sentido, a história sócio-político e cultural brasileira é delineada

por esse movimento entre o nacional e o estrangeiro assimilado, engendrando a mistura e a

pluralidade típicas do país.

Por sua vez, Antonio Candido afirma que a evolução histórico-cultural de nosso país é

regida constantemente pela dialética do localismo e do cosmopolitismo, em que se nota “ora a

afirmação premeditada e por vezes violenta do nacionalismo literário [...] ora o declarado

conformismo, a imitação consciente dos padrões europeus” (CANDIDO, 1985, p.109). No âmbito

literário, por exemplo, assistimos constantemente a esse movimento dialético entre o elemento

local e o cosmopolita, traçado pelos escritores brasileiros, e decorrente de um “sentimento de

inferioridade que um país novo, tropical e largamente mestiçado, desenvolve em face de velhos

países de composição étnica estabilizada, com uma civilização elaborada em condições

geográficas bastante diferentes”. (CANDIDO, 1985, p.110).

A intuição do “atraso” brasileiro em relação aos antigos países ocidentais é uma

constante em nossa história, determinando a assimilação dos ideais europeus a condições nem

sempre apropriadas a seu florescimento:

O intelectual brasileiro, procurando identificar-se a esta civilização, se encontra todavia ante particularidades de meio, raça e história nem sempre correspondentes aos padrões europeus que a educação lhe propõe, e que por vezes se elevam em face deles como elementos divergentes, aberrantes. (CANDIDO, 1985, p.110).

À medida, porém, que tomamos consciência de nós mesmos, afirmamos nossa

nacionalidade diante do estrangeiro. Assim são delineados momentos de autoafirmação da

literatura brasileira diante dos padrões europeus, haja vista o Romantismo (1836-1870) de um

José de Alencar e um Álvares de Azevedo, que resgataram a figura do nativo e as práticas

culturais indígenas e voltaram-se para a contemplação da natureza brasileira. Esse voltar-se

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para si constitui, não obstante, uma alegada negação da apropriação incondicional dos valores

do Outro. O movimento romântico procurava resgatar o elemento nacional em detrimento dos

padrões impostos pela antiga metrópole portuguesa. Mais tarde, outra estética tipicamente

nacionalista é consolidada: a do Modernismo (1922-1945) brasileiro. Entretanto, a autoafirmação

literária proposta por esse movimento já não se dá mais em relação à cultura lusitana, uma vez

que o Brasil já rompera os laços que o uniam a Portugal; visa-se, agora, à negação dos padrões

europeus por meio de práticas iconoclastas. Ambos os movimentos particularistas, ao

asseverarem os valores nacionais, utilizaram-se, não obstante, dos próprios modelos europeus:

os artistas do romantismo olham para o nativo com um “olhar europeizado”, embelezador, haja

vista, por exemplo, a caracterização dos índios alencarianos, inscrita em uma esfera de

admiração e idealização. A corrente modernista, por sua vez, retoma o verdadeiro indígena,

resgatando metaforicamente práticas culturais como a da antropofagia. Contudo, apesar de

afirmar o verdadeiro elemento nacional, apropria-se, para isso, das ideias do movimento das

vanguardas europeias. Dessa forma, mesmo quando a literatura brasileira empreende recuperar

o dado particular, não ultrapassa a dialética localismo/cosmopolitismo constituinte da história do

país. A literatura brasileira, portanto, manifesta-se constantemente por meio dessa trajetória que

vai do dado próprio ao alheio, do local ao cosmopolita.

Como dissemos, nem sempre as ideologias oriundas do ocidente europeu casaram-se

perfeitamente com as condições sócio-políticas e econômicas do Brasil. Contudo, a permanente

“noção de inferioridade” de que fala Candido, do novo país em relação ao antigo continente

europeu, e a ideia do atraso brasileiro em relação às suas ideologias, obrigam-no a incorporar

seus novos conceitos. Sérgio Buarque de Holanda, refletindo sobre a inadequação de valores

estrangeiros à situação brasileira, comenta: “Trazendo de países distantes nossas formas de

vida, nossas instituições e nossa visão do mundo e timbrando em manter tudo isso em

ambientes muitas vezes desfavoráveis e hostis, somos desterrados em nossa terra.”

(HOLANDA, 2007, p.31).

O Brasil, portanto, em sua condição de país jovem, mestiço, anseia por acompanhar os

passos dos seus antepassados europeus, assimilando suas ideologias e práticas, o que

contribui, por vezes, para o anacronismo e a dissonância do país diante desses ideais.

Durante o século XIX brasileiro, vivemos o paradoxo observado pela apropriação das

ideologias liberais europeias – decorrentes do parlamentarismo inglês e dos valores burgueses

da França – vinculados a uma sociedade predominantemente agrícola e escravagista, herdada

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do sistema colonial. A noção de atraso do novo país em relação ao velho mundo europeu é uma

das principais responsáveis pela deglutição do que vem de fora. Roberto Schwarz destaca um

panfleto liberal da época que ressalta a ideia do descompasso do Brasil escravista em relação

ao sistema ideológico europeu, que defendia o trabalho livre: “Toda ciência tem princípios, de

que deriva o seu sistema. Um dos princípios da Economia Política é o trabalho livre. Ora, no

Brasil domina o fato ‘impolítico e abominável’ da escravidão” (SCHWARZ, 1977, p.13). Segundo

o crítico, o argumento deste panfleto

põe fora o Brasil do sistema da ciência. Estávamos aquém da realidade a que esta se refere; éramos antes um fato moral, ‘impolítico e abominável’. Grande degradação, considerando-se que as ciências eram as Luzes, o Progresso, a Humanidade etc (SCHWARZ, 1977, p.13).

As ideologias liberais burguesas, como dissemos, não se casavam com o contexto

histórico do Brasil escravagista:

É claro que a liberdade do trabalho, a igualdade perante a lei e, de modo geral, o universalismo eram ideologia na Europa também; mas lá correspondiam às aparências, encobrindo o essencial – a exploração do trabalho. Entre nós, as mesmas ideias seriam falsas num sentido diverso, por assim dizer, original (SCHWARZ, 1977, p.14).

Para compreendermos a inadequação do sistema ideológico europeu em terra

brasileira convém compreendermos um pouco mais sua condição social e econômica. Em 1822

o Brasil adquirira sua independência política em relação a Portugal, cujo sistema colonial legara-

nos uma economia agroexportadora. O império brasileiro, segundo Needell (1987), fora criado no

segundo quartel do século XIX. A sociedade, predominantemente agrária, era dividida,

principalmente, em duas classes sociais: a maioria, constituída por negros e mulatos escravos

ou libertos e seus descendentes – “empregados rurais, artesãos, domésticos, trabalhadores

urbanos, meeiros e pequenos sitiantes” (NEEDELL, 1987, p.19). Os escravos constituíam,

portanto, a parcela mais numerosa da população, sendo dominados, por sua vez, por um estrato

menos numeroso: o dos senhores, o qual era “muito poderoso e rico, composto de fazendeiros e

comerciantes brancos” (NEEDELL, 1987, p.19). Havia ainda uma terceira camada social,

sobretudo urbana, formada por setores médios, e que era composta de “profissionais liberais,

burocratas subalternos, empregados dos escritórios e pequenos lojistas” (NEEDELL, 1987,

p.20). Durante o segundo reinado, o centro econômico agroexportador deslocara-se dos

engenhos açucareiros do Nordeste aos cafezais do centro-sul do Brasil, cultivados

principalmente nas províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Apesar deste

deslocamento, a estrutura latifundiária permanecia a mesma, sempre voltada para o

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abastecimento do mercado internacional. A esfera política era composta, essencialmente, por

dois movimentos políticos: o conservador e o liberal. O partido conservador, conforme Bosi

(1992, p.196), consistia em uma aliança entre as oligarquias açucareiras do Nordeste e as novas

oligarquias do café paulista, sendo sustentado por firmas exportadoras, traficantes de escravos e

parlamentares. A corrente liberal, por sua vez, divide-se, essencialmente, em dois movimentos

políticos: o republicano e o abolicionista. O primeiro, formado, em grande parte, pelos membros

da elite cafeeira e representantes de setores médios urbanos (advogados, médicos,

engenheiros), apresentam o seu descontentamento face à instituição da monarquia,

vislumbrando a restrição dos poderes do imperador e até mesmo o fim dessa instituição.

Segundo Needell, os membros da elite rural paulista viam na república

uma redistribuição do poder mais favorável a seus interesses regionais. Eles vislumbravam uma federação descentralizada, na qual cada unidade desfrutaria da receita que gerasse e seria governada por representantes eleitos pela elite local. A influência desses membros entre os fundadores do partido foi a causa provável do oportuno esquecimento da questão abolicionista (NEEDELL, 1987, p.23).

Se, inicialmente, o movimento republicano não se manifestava a favor da abolição da

escravatura, mais tarde, porém, com as medidas abolicionistas erigidas pelo governo britânico e

brasileiro e as campanhas das correntes abolicionistas, os republicanos não viam outra saída

senão a de acatar a causa da libertação dos escravos, passando a defender a imigração da

mão-de-obra europeia para as lavouras cafeeiras.

A corrente liberal abolicionista constituía-se exclusivamente de elementos urbanos de

todos os estratos, sobretudo do setor médio. Esta, segundo Needell, “fornecia a maior parte dos

ideólogos e conspiradores, atuantes no centro estratégico e urbano do país” (NEEDELL, 1987,

p.23).

Alfredo Bosi distingue duas fases do Liberalismo brasileiro: no período compreendido

entre a fase regencial e os primeiros anos do Segundo Reinado vigorou o chamado Liberalismo

moderado, que ainda não defendia a causa abolicionista. Ao contrário, era formado por

representantes rurais que visavam ao livre comércio de escravos, obstruído pela proibição do

tráfico pela Inglaterra a partir de 1831. Esses liberais opunham os interesses nacionalistas do

livre comércio escravista à tirania da lei britânica abolicionista “que feria os direitos dos cidadãos

brasileiros”. Assim, os liberalistas desse período propunham a liberdade comercial e a defesa

dos interesses nacionais, a despeito da intervenção britânica. Nesse sentido, Bosi destaca o

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argumento do representante de Goiás, brigadeiro Cunha Matos, calorosamente aplaudido pelos

demais liberais, em que este declara que os brasileiros são

forçados, obrigados, submetidos e compelidos pelo governo britânico a assinar uma convenção onerosa e degradante sobre assuntos internos, domésticos e puramente nacionais, da competência exclusiva do livre e soberano Legislativo e do augusto chefe da nação brasileira (BOSI, 1992, p.197).

O termo liberal nesse período, conforme Bosi, aponta ainda para quatro significados:

1) Liberal, para a nossa classe dominante até os meados do século XIX, pôde significar conservador das liberdades, conquistadas em 1808, de produzir, vender e comprar.

2) Liberal pôde, então, significar conservador da liberdade, alcançada em 1822, de representar-se politicamente: ou, em outros termos, ter o direito de eleger e de ser eleito na categoria de cidadão qualificado.

3) Liberal pôde, então, significar, conservador da liberdade (recebida como instituto colonial e relançada pela expansão agrícola) de submeter o trabalhador escravo mediante coação jurídica.

4) Liberal pôde, enfim, significar capaz de adquirir novas terras em regime de livre concorrência, ajustando assim o estatuto fundiário da Colônia ao espírito capitalista da Lei de Terras de 1850 (BOSI, 1992, p.199-200)

Assim, a prática mercantil pós-colonial honra-se com o título de liberal, engendrando

no contexto social brasileiro a antinomia liberalismo/escravismo. Com a crise política de 1868,

ocasionada pela demissão do majoritário Zacarias de Góis do parlamento, floresce uma nova

corrente liberal, designada por Nabuco como novo liberalismo. Segundo Bosi, a crise de 68

determina a passagem “do Regresso agromercantil, emperrado e escravista para um reformismo

arejado e confiante no valor do trabalho livre.” (BOSI, 1992, p. 223). Os novos valores liberais

ganham uma amplitude bem maior que a ostentada pelo discurso oligárquico, sendo fomentados

graças ao surgimento do mercado interno e do desenvolvimento urbano na Região Sudeste. O

emprego do trabalho livre no Nordeste – vigente entre os anos 60 e 70, decorrente do

esvaziamento causado pelo tráfico interno, que deslocava negros desta região ao sul do Brasil –

é outro fator determinante para o fomento das novas ideias liberais. A oligarquia cafeeira, por

sua vez, tornara-se antes pró-imigrantes que abolicionistas:

O fato de terem subido ao poder com a proclamação da República deu-lhe uma posição hegemônica que lhes permitiria resolver a questão do trabalho rural em termos próprios, estreitos e pragmáticos. (BOSI, 1992, p. 224).

Vimos, portanto, como foram processadas no Brasil as ideologias liberais europeias e

como, inicialmente, essas ideias coabitavam com o contexto escravagista da época,

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ocasionando o choque entre o liberalismo e a situação brasileira escravocrata de meados do

século XIX. Segundo Schwarz, a apropriação das avançadas ideias europeias por parte da elite

brasileira também constituiria uma forma de assimilar o status e a elegância conferidos pelo style

de vie europeu: “E nada melhor, para dar lustre às pessoas, do que as ideias mais ilustres do

tempo, no caso as europeias” (SCHWARZ, 1977, p.17). Além das ideologias oriundas do antigo

continente, assimilavam-se ainda outros aspectos da vida à la Europa, tais como a imitação da

moda, da arquitetura e dos ornamentos franceses; no âmbito literário, liam-se obras de autores

franceses contemporâneos, publicadas via folhetim. Haja vista, por exemplo, a rápida vendagem

de exemplares das obras de Victor Hugo e Alexandre Dumas entre nós. Quanto à arquitetura

brasileira, ressalta Schwarz:

sobre as paredes de terra, erguidas por escravos, pregavam-se papéis decorativos europeus ou aplicavam-se pinturas, de forma a criar a ilusão de um ambiente novo, como os interiores das residências dos países em industrialização. (SCHWARZ, 1977, p. 20).

A decoração à moda da Europa industrializada, muitas vezes contrastava com o

ambiente escravagista e agrário das terras brasileiras:

Desse modo, os estratos sociais que mais benefícios tiravam de um sistema econômico baseado na escravidão e destinado exclusivamente à produção agrícola procuravam criar, para seu uso, artificialmente, ambientes com características urbanas e européias, cuja operação exigia o afastamento dos escravos e onde tudo ou quase tudo era produto de importação (SCHWARZ, 1977, p.20).

O desajuste entre as ideologias e o modo de vida europeu em relação às terras

brasileiras refletia-se nas páginas de escritores da época. Como exemplo Schwarz destaca

Quincas Borba, de Machado de Assis, em que Rubião é obrigado a despedir seu escravo crioulo

e empregar um cozinheiro francês e um criado espanhol. No hino à República, escrito por

Medeiros e Albuquerque, inferem-se emoções progressistas não compatíveis com o contexto da

época: “Nós nem cremos que escravos outrora/ Tenha havido em tão nobre país’” (SCHWARZ,

1977, p.21). O tempo designado como “outrora” refere-se a apenas dois anos antes da

composição do hino republicano, já que a abolição data de 1888. Por sua vez, Raul Pompéia,

indignado com o descompasso da detenção dos ideais progressistas e republicanos por parte

dos fazendeiros escravagistas, ainda muito conservadores na década de 70 (BOSI, 1977, p.236),

retrata ironicamente, nos seus escritos, o absurdo das apropriações das novas ideologias

europeias pela sociedade brasileira da época. E, imbuído pelo anacronismo e pela

incompatibilidade dessas ideias em terra brasileira, escreve o conto “14 de julho na roça”, em

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cuja análise nos deteremos doravante, a fim de analisarmos justamente o reflexo da assimilação

de elementos europeus pelo Brasil e seu consequente desajuste ao contexto social do país.

O conto “14 de julho na roça” é escrito por Raul Pompéia (2010) em São Paulo, 21 de

abril de 1883, e publicado no dia 27 do mesmo mês e mesmo ano no periódico Gazeta de

notícias, do Rio de Janeiro. Encontrávamo-nos, portanto, cinco anos antes da Abolição da

Escravatura e seis anos antes da Proclamação da República. Além disso, neste período, já havia

sido formado o primeiro Partido Republicano, o paulista (PRP), em 1837, na chamada

Convenção de Itu, contando com a participação de importantes representantes rurais e

profissionais liberais (médicos, advogados, engenheiros). Neste período as campanhas

abolicionistas e as medidas do governo imperial, em consonância com o do britânico a favor da

extinção da escravatura, como a sanção da Lei Eusébio de Queirós em 1850 e da Lei do Ventre

Livre em 1871 – vieram desembocar na abolição de 1888, com a assinatura da Lei Áurea pela

princesa Isabel. É em meio a este agitado contexto de transição de fim do século XIX, portanto,

que Raul Pompéia concebe sua obra.

O conto narra um dia de “14 de julho” – feriado em que se comemorava a queda da

bastilha no Brasil – vivenciado por um fazendeiro chamado Salustiano da Cunha. Este, ao ler a

história da Revolução, descobre-se de repente um republicano. Imbuído com a história e as

cenas descritas daquele jour de gloire, Salustiano sai a cavalgar em seu pomposo alazão

contemplando a imensidão infindável de seus cafezais, de seu canavial, de seu milharal.

Naquele dia, notou que a aurora estava mais rubra, como se regada a sangue e fogo e

surpreendeu-se ao perceber que a natureza entoava as notas da Marselhesa. O sabiá fazia o

solo do “Allons enfants” enquanto, harmoniosamente, os demais pássaros entoavam, como um

exército em guerra, as primeiras notas do coro: “Aux armes, citoyens!”.

O sol, as nuvens, as árvores, toda a natureza escutava atentamente a canção

enquanto seu garboso alazão marchava ao compasso das notas aclarinadas do hino francês.

Nosso fazendeiro extasiava-se e lembrava-se de soltar de quando em quando um “Viva a

República!”. Às vezes empreendia acompanhar a orquestra e entoar, por sua vez, a nobre

canção, mas temia não ser compreendido pela natureza. Entretanto, não se conteve e entrou no

coro.

Ao pronunciar as primeiras palavras do hino, sua marcha é bruscamente interrompida;

seu cavalo estaca, de repente, obrigando-o a inclinar-se sobre suas crinas. Um grupo de

pessoas, três escravos e um feitor, apareceu na estrada. Salustiano engole imediatamente o

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resto da Marselhesa: O feitor vinha anunciar-lhe a fuga de Emídio, escravo da fazenda. O

proprietário, indignado, ordena ao feitor que o capture imediatamente, prometendo mostrar-lhe,

na volta, “para que se inventou o viramundo1” (POMPÉIA, 2010, p. 4).

O alazão retoma, então, sua marcha, e as ideias republicanas, desarranjadas pela

notícia da fuga do escravo, voltam a povoar a mente do fazendeiro. De repente, a orquestra da

natureza, subitamente suspensa, recomeça a ecoar em seus ouvidos, o céu torna-se novamente

vermelho e belicoso e o fervoroso sangue republicano volta a correr em suas veias.

Nessa ocasião, Salustiano ouve o grito de alguém chamando-o à distância: “Cidadão!”,

e ele imagina ser a voz de Robespierre ou talvez de Danton, Desmoulins ou Marat. Seria ele

perseguido pelos fantasmas do Terror? Mas logo reconhece seu compadre, um fazendeiro da

região, gordo, abastado e republicano. Este vinha convidá-lo para uma festa que se daria em sua

fazenda, ao anoitecer, a fim de se comemorar a Queda da Bastilha. Servir-se-ia um farto

banquete em que seriam degolados vários leitões e patos.

À noite, nosso fazendeiro chega à propriedade de seu compadre e a encontra em clima

de festa, de comemoração. Entoava-se a canção de Roger de L’Isle, foguetes crepitavam no céu

e, no salão de sua casa, uma mesa repleta de iguarias da fazenda seduzia os convidados. No

fundo do salão, à cabeceira da mesa encontravam-se velas, flores, destacando-se uma estátua

da Liberdade, em gesso, que ostentava uma lâmpada na mão. Na estrada, os escravos

contemplavam o alvoroço das pessoas que chegavam, com olhares estúpidos, de quem nada

compreendia.

Os homens põem-se a comer e a beber abundantemente. Em seguida, um jovem ex-

deputado entabula um discurso sobre a tirania e o despotismo monárquico, condenando a

“exploração dos fracos pelos potentados [...] o roubo iníquo do salário ao proletariado.”

(POMPÉIA, 2010, p. 6-7) e a especulação, por parte do Império, do suor daqueles que

sustentam suas indústrias e lavram suas terras. Ao fim do discurso, os ouvintes aplaudiram-no

calorosamente, esbravejando contra todas as bastilhas e realezas existentes e brindando à

iminente República.

Do outro lado da estrada, entretanto, à meia distância da fazenda, encontravam-se

Emídio e o feitor que fora incumbido de sua severa correção. De um lado, portanto, ouviam-se os

gritos entusiásticos e orgíacos dos fazendeiros, de outro, os uivos lancinantes, de dor e de

socorro, do escravo. 1 Como se sabe, o “viramundo” era um “grilhão de ferro, pesado, com que se mantinham presos os escravos” (HOLANDA FERREIRA, s.d., p. 1464)

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No casarão, o doutor Salustiano estava prestes a efetuar o encerramento da festa, com

um brinde à Liberdade, quando é interrompido pelo feitor, que viera dar-lhe a notícia da morte de

Emídio. O fazendeiro solta, indignado, as cinco letras de Cambronne2. Seus companheiros

reivindicam o brinde, o brinde à Liberdade que ele não fizera. Salustiano recomeça, então, seu

discurso enaltecedor dos ideais republicanos, segurando uma taça de vinho. A estátua de gesso,

acima dele, contempla-o com a cabeça inclinada e a lâmpada ao alto, esperando, espantada, o

brinde. Ao terminar o discurso, Salustiano ergue sua taça para realizá-lo; uma explosão de

exclamações e gritos se ouve no salão. O doutor, entusiasmado, elevara tão alto sua taça que

esta partira o cristal nas faces da estátua, envergando todo o vinho sobre seu peito e

manchando a casta brancura do gesso.

Tendo feito a paráfrase do conto, podemos passar, então, a sua análise. De início,

poderíamos afirmar que o texto de Pompéia é perpassado, do início ao fim, por uma voz

ambígua e dissonante, engendrada pela ironia. Essa voz reflete, por sua vez, o paradoxo da

assimilação das ideologias republicanas e revolucionárias advindas da França por parte dos

fazendeiros escravagistas brasileiros. A França é o modelo a ser imitado, a Revolução Francesa

serve de parâmetro para o florescimento das ideias liberais republicanas. O texto é marcado pelo

que Candido denominaria dialética do localismo/cosmopolitismo ou pelo que Santiago

caracterizaria como um entre-lugar. Com efeito, o conto é inteiramente perpassado pela

dialética, pelo movimento de ir e vir entre Brasil e França, entre o próprio e o alheio, entre o local

e o cosmopolita. Esse movimento deixa entrever o desajuste entre as ideologias apropriadas e o

contexto sócioeconômico apresentado no texto, seriam as ideias fora do lugar de que fala

Schwarz.

Nos termos bakhtinianos, poderíamos classificar o texto de Pompéia como dialógico e

polifônico ou ainda interdiscursivo, como quer Fiorin, isto é, o texto constituído pelo diálogo

interno entre, no mínimo, dois discursos distintos ou a “relação dialógica entre enunciados”

(FIORIN, 2006, p.191). Conforme Bakhtin, o romance polifônico se caracteriza pela coexistência,

no discurso, de múltiplas vozes que representam diversos pontos de vista sobre o mundo

(BAKHTIN, 1970, p. 32). Conforme os estudos de Fávero acerca da obra bakhtiniana, “o

2 Como se sabe, Pierre Cambronne foi um general do Império francês nascido em Nantes em 1770. Era popular por sua valentia e bravura durante as guerras. Segundo a lenda, o general, que comandava a Vieille Garde de Woterloo, ao ver-se retido pelo general britânico Colville, responde-lhe: “La garde meurt mais ne se rend pas”. Depois, com a insistência do general em rendê-lo, Cambronne pronuncia a enérgica palavra, que doravante passa a ser conhecida por “mot de Cambronne”: “Merde!”.

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romance polifônico é inteiramente dialógico e a palavra literária não pode ser tomada

isoladamente, mas representa a ‘intersecção de superfícies textuais’ [...]” (FÁVERO, 2006, p.50).

O texto de Raul Pompéia se caracteriza pela ambiguidade, engendrada por dois

discursos contraditórios, refletidos em todos os elementos do texto. Notamos, de um lado, um

enunciado localista, que representa a situação sócio-econômica do Brasil no século em questão,

e por outro, o discurso cosmopolita referente às ideologias liberais europeias. Esses dois

enunciados se chocam ao longo do texto, evidenciando a dissonância entre esses dois

discursos.

Ao analisarmos os constituintes textuais como, por exemplo - título, personagens,

tempo, espaço, narrador, metáforas - tornar-se-á possível vislumbrar esses dois enunciados,

essas duas vozes dissonantes que permeiam o conto de Pompéia, determinando, outrossim, a

incompatibilidade entre as ideologias europeias e o contexto brasileiro.

A dicotomia característica do conto “14 de julho na roça” manifesta-se, já, desde o

título: o dia 14 de julho, como vimos, refere-se a uma data importante na história francesa e, por

consequência, em toda a história mundial. Neste dia assiste-se, na França, à tomada da Bastilha

por parte do povo e da burguesia, durante a Revolução Francesa. A Bastilha, construída por

Carlos V durante a guerra dos Cem Anos, servia inicialmente como portal de entrada para o

bairro parisiense de Saint-Antoine. Após a guerra, o local transforma-se em prisão estadual do

rei Luís XIII, o primeiro a enviar prisioneiros para lá. A partir do século XVII, a Bastilha passa a

ser o ícone do poder e do autoritarismo monárquico; segundo Deshusses, “symbole de l’injustice

et de l’absolutisme royal” (DESHUSSES, 1984, p. 215). O “14 de julho”, dessa forma, remete-nos

a um período de tempo determinado: 14 de julho de 1789 e o século XVIII, a um local: França, e

a um contexto histórico: Revolução Francesa. Essas três unidades: tempo, espaço e contexto

social, vêm acompanhadas, por outro lado, do adjunto adverbial “na roça”. No decorrer da

narrativa podemos constatar que esses termos remetem-nos, por sua vez, a um outro período de

tempo: final do século XIX (período compreendido entre a criação do Partido Republicano

Paulista, em 1871, e a Proclamação da República, em 1889), a um outro espaço: uma

propriedade rural localizada no centro-sul do Brasil, e a um contexto social divergente: período

de transição entre a Monarquia e a República, entre a economia escravagista e o emprego do

trabalho livre imigrante. Assim, já através do título podemos entrever dois contextos distintos: o

da Revolução Francesa em 1789 e o do final do século XIX brasileiro, caracterizado por uma

sociedade agrária e escravagista. Os dois contextos divergentes aos quais remete o título “14 de

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julho na roça” estabelece a ambiguidade que permeará todo o texto, engendrando na narração a

co-incidência, como vimos, de dois contextos sócio culturais distintos. O título também vislumbra

o próprio contraste ideológico que será retratado na narrativa: a Queda da Bastilha significou

também a queda do absolutismo e do poder real. O valor simbólico desse evento, por sua vez,

opõe-se diametralmente ao contexto escravista em que os proprietários rurais impunham seu

autoritarismo e seu poder na exploração dos escravos. O título prenuncia ainda, obviamente, o

tema ou assunto de que se tratará: o retrato de um típico dia de feriado de 14 de julho vivido na

roça.

Além do título, convém-nos também analisar as personagens do conto: Poderíamos

dizer que a narrativa nos apresenta duas categorias de personagens: a primeira é formada por

fazendeiros republicanos abastados ou pela classe dos que dominam, dos que mandam. Dentre

eles figuram o protagonista Salustiano, o compadre, o jovem ex-deputado, que emite o seu

discurso na festa do 14 de julho e os demais proprietários rurais que participam da festa, apenas

mencionados. A segunda categoria, por sua vez, é formada pelos que obedecem, pelos que são

dominados e explorados pelos fazendeiros: estes são Emídio, o escravo fugido, o feitor de

Salustiano e os demais escravos. Vemos que a configuração das personagens já remetem ao

próprio quadro social do Brasil do século XIX que, como vimos, era composto, principalmente por

proprietários rurais, de um lado, e por negros escravos, de outro. Além disso, a caracterização

das personagens também alude a práticas e costumes sociais da época.

Vejamos, então, primeiramente, como é caracterizado Salustiano, nosso protagonista.

Salustiano da Cunha é referido pelo narrador como um “homem da época”, ele representa toda

uma classe social, qual seja, a dos proprietários rurais extremamente ricos e abastados do

século XIX, detém muitas terras, cultivando produtos como o café, o milho e a cana e se utiliza,

conforme o costume dos fazendeiros da época, da mão-de-obra escrava. Aparece também como

um homem autoritário, que subjuga o outro através da força, da punição. Ao saber da fuga de

Emídio, seu escravo, ordena ao feitor que lhe mostre para que se “inventou o viramundo”. Assim,

Salustiano é o típico fazendeiro abastado do século XIX, representando, outrossim, a condição

agrária e escravista do Brasil da época:

um homem da época. Na qualidade de Campineiro abastado e farto, tinha por si a força do ouro: o elemento moderno do poderio [...] Ia-lhe próspera a fazenda. As suas vastíssimas terras sumiam-se, sob as ramas escuras dos cafezais, plantados em linha, através de infinitas colinas [...] (POMPÉIA, 2010, p.1).

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Se, por um lado, Salustiano representa o contexto local, brasileiro, por outro, figura o

republicano entusiasta e idealista do fim do século, ostentando ideologias estrangeiras e

emergindo, por vezes, em outro contexto histórico: o da França do século XVIII. É em meio a

uma leitura da história da Revolução Francesa que o fazendeiro se descobre republicano “muito

republicano; republicano de coração. De coração e de cérebro” (POMPÉIA, 2010, p.1). Por

vezes, em suas idealizações, o republicano se reporta ao ambiente da Revolução fazendo com

que a própria natureza brasileira seja o palco para o grande evento. É assim que seu cavalo

marcha como soldados em guerra, os pássaros brasileiros entoam a Marselhesa e a voz do seu

compadre, fazendeiro vizinho, se confunde com a voz dos homens do Terror. O protagonista,

então, representa determinado grupo social da época: os proprietários rurais escravistas

pertencentes ao Partido Republicano, criado em 1837. Assim, a personagem em questão figura

a própria contradição ideológica desse grupo social, tão criticado por Pompéia: “Os vossos

barretes frígios são coadores de café” (BOSI, 1992, p. 236).

Além de Salustiano, há outros personagens que representam o grupo dos fazendeiros

republicanos: o compadre, o jovem ex-deputado orador e os outros participantes da festa da

queda da Bastilha, apenas mencionados. O primeiro também é retratado como sendo muito rico

e farto. Trata-se de um campineiro, republicano e escravista, vizinho de Salustiano em cuja

propriedade se dará uma festa para comemorar o “14 de julho”. Este oferece uma mesa repleta

de “iguarias custosas e abundantes” (POMPÉIA, 2010, p.5) em seu luxuoso e enfeitado salão

aos seus eloquentes convidados republicanos. Em relação ao segundo personagem citado,

poderíamos dizer que figura o filho de fazendeiro, rico e abastado, que segue a carreira política e

que, em sua condição de jovem e de detentor de terras, entre os quais vigoram as ideias

reublicanas, também decide acatar as modernas ideologias vindas de fora. O jovem, “famoso

pela violência com que usava agredir os tronos” (POMPÉIA, 2010, p.6), usa toda a força de sua

juventude para criticar os antigos valores monarquistas e apregoar o novo ideal republicano:

[...] Expulsemos, pois, da nossa pátria o velho chaveco da monarquia, ainda que tenhamos de oferecer, para a sua retirada, um rio do nosso sangue rubro![...] E saudemos agora, neste brinde, como a síntese dos nossos votos, das nossas aspirações, a próxima fundação da república brasileira! [...] (POMPÉIA, 2010, p.7).

Se, por um lado presenciamos, na narrativa, personagens que representam a elevada

classe social, a dos proprietários agrários, escravistas e republicanos. Por outro, como dissemos

acima, nos deparamos com a classe dominada, subjugada: os escravos. Quando esses

personagens entram em cena é, geralmente, para se opor ao luxo, à riqueza e às ideologias

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republicanas nutridas pelos seus senhores. Assim, quando Salustiano, em seu passeio matinal,

devaneia com a França revolucionária é, bruscamente, interrompido pela aparição de três

escravos e um feitor que vêm anunciar-lhe a fuga de Emídio. Em seguida, já na festa do 14 de

julho, Salustiano estava a ponto de realizar seu brinde à Liberdade quando é interrompido pela

notícia da morte do escravo que mandara açoitar. Por sua vez, o clima eufórico, alegre e a

luxuosidade do casarão em festa contrastam com a cara bestializada e as roupas maltrapilhas

dos escravos:

À noite, a fazenda do compadre estava em festa. Todos os republicanos de vinte léguas em roda concorreram entusiasmados. Chamou-se de Campinas uma filarmônia particular, muito ensaiada em sonoridades rubras e gargalhadas de Offenbach [...] A massa estúpida dos escravos alinhava-se em dois renques, ao longo da estrada, sustentando archotes na mão. Tinham a expressão besta de quem nada compreende do que vê. A luz dos archotes clareava-lhes os peitos hercúleos, onde, sob o branco do algodão das camisas, brilhava o desenho encarnado de barretes frígidos sobrepostos ao número de cada um (POMPÉIA, 2010, p.5).

No excerto acima, a contradição também pode ser evidenciada pelo símbolo dos

archotes, que, por um lado, remete à ideia das Luzes do século XVIII e, por outro, denuncia a

própria condição escravista iluminando as marcas dos barretes frígidos, cravados nos escravos.

Assim, constatamos, a partir da análise das personagens do conto, que estas configuram o

próprio quadro social brasileiro do século XIX, vislumbrando, além disso, a contradição

ideológica que permeava alguns grupos dessa sociedade.

O tempo na narrativa se delineia através do movimento entre dois contextos históricos

diferentes. O da Revolução Francesa - ano de 1789, século XVIII, e o das vésperas da República

brasileira, século XIX. O protagonista, Salustiano, como vimos, é um típico representante do

homem rico do século XIX. O narrador faz referência a este século, aludindo, outrossim, a

elementos como o cetro, que nos remetem à época da monarquia: “No século XIX, mais do que

nunca, o ouro é o metal dos cetros e das alavancas: só existe para mando e para força”

(POMPÉIA, 2010, p.1).Outras referências cronológicas ainda aparecem na narrativa, como, por

exemplo, o do dia “14 de julho” e, por fim, a referência ao Partido Republicano nos remonta ao

final do século, uma vez que este foi criado em 1837. O tempo e o contexto histórico em que as

personagens da narrativa se inserem é, portanto, o do feriado do “14 de julho” brasileiro, final do

século XIX. No entanto, efetua-se na narrativa, constantemente, uma volta no tempo ou

analepse. No início do conto, emergimos imediatamente no contexto social da França

revolucionária, em que se notam várias referências a eventos ocorridos no século XVIII: a

Revolução Francesa, a queda da bastilha, a menção ao monarca Luis XVI e ao Iluminismo etc.

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Salustiano, através de suas digressões republicanas, volta ao passado, vivenciando toda a

agitação da França durante a Revolução. Também, os discursos do ex-deputado relembram as

agitações, as batalhas e a revolta do povo e da burguesia francesa e a consequente queda do

símbolo imperial:

- Já era demais! [...] Por tantos séculos havia a pata da injustiça calcado o livro dos direitos do homem [...] a exploração dos fracos pelos potentados [...] o roubo iníquo do salário ao proletariado[...] a realeza usufruindo desaforadamente o suor do povo e sugando sofregadamente, para a manutenção de suas orgias, o generoso sangue dos pobres, o sangue daqueles mesmos que sustentavam-lhe as indústrias do seu estado, daqueles mesmos que lavravam os campos da sua nação [...] Já era demais [...] Tudo preparou o terrível desabamento social que se chama queda da Bastilha![...] (POMPÉIA, 2010, p.6-7)

Todas essas referências ao revolucionário século XVIII francês aparecem associadas

ao contexto agrário e escravista do século XIX brasileiro.

Ainda em relação ao tempo na narrativa, é interessante notar a mudança do tempo

verbal e a escolha, ora pelo discurso indireto livre, ora pelo discurso direto. Constata-se que,

para se referir ao contexto histórico brasileiro o narrador opta pelo discurso direto ou pelo

diálogo, e pelos verbos no presente. No entanto, quando se reporta ao contexto francês

revolucionário, no século XVIII, predominam a escolha pelo discurso indireto e pelo uso dos

verbos no pretérito. No trecho a seguir, Salustiano sonhava com a França do século XVIII

quando é “acordado” pelos escravos que passavam. Neste extrato pode-se constatar a mudança

do estilo indireto para o direto e a substituição dos verbos no passado pelos verbos no presente,

assinalando o movimento cronológico entre épocas diferentes:

No primeiro aux armes citoyens! ele meteu-se, e fez coro com os estranhos cantores daquela maravilhosa manhã. Ainda estava pedindo, com voz atroadora, o sangue impuro dos tiranos, quando sentiu estacar o alazão, forçando o cavaleiro a debruçar-se-lhe sobre as crinas. Um grupo de pessoas aparecera na estrada. Três escravos e um feitor mal encarado. Tinham a cara espantada, e pareciam perguntar se o matutino passeador endoudecera. – o que temos? Indagou bruscamente o doutor, engolindo um resto de Marselhesa. – Venho comunicar ao senhor, respondeu o feitor, que o Emídio fugiu [...] (POMPÉIA, 2010, p. 4).

Assim, notamos no texto a co-existência de duas ordens temporais, dois contextos

históricos distintos, que se interagem e se chocam ao longo da narrativa.

Assim como o tempo, o espaço no texto é configurado pela referência ao local, o

Brasil, e ao cosmopolita, a França.

Pelas referências espaciais apontadas no decorrer da narrativa, podemos situar a

história nas regiões rurais paulistanas. Apesar de não haver nenhuma menção precisa ao

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espaço ou ao local onde se passa a narrativa, chegamos a essa conclusão pelo fato de o

narrador pertencer ao Partido Republicano que congregava, em grande parte, os cafeicultores

paulistas e do centro-sul do Brasil, além das referências à plantação de café por parte do

protagonista, produto cultivado, principalmente, por paulistanos e mineiros e à menção à

filarmônica de Campinas. Assim, as personagens na narrativa encontram-se em uma região rural

do centro-sul do Brasil. Por outro lado, apesar de a história se passar nas zonas agrícolas

brasileiras, nota-se a referência a outro espaço: a França. Conforme o comentado acima, o conto

já se inicia com a menção a elementos franceses que nos remetem a esse país. Por sua vez, na

cena das digressões de Salustiano e no episódio da festa do “14 de julho”, a co-incidência de

locais distintos na narrativa como o Brasil rural e a França reformadora torna-se ainda mais

evidente.

No passeio matinal por suas terras, montado em seu garboso alazão, Salustiano

retorna, por meio de digressões, à França revolucionária, neste momento um acontecimento

estranho o surpreende, toda a natureza brasileira começa a entoar a Marselhesa:

Agora, fato interessante, prescutando os cantares do bosque, parecia-lhe que, das folhas frementes, choviam as notas aclarinadas da Marselhesa. Ora o sabiá entoava heroicamente o solo do Allons enfants [...] ora o coro da passarinhada replicava em tom de guerra: Aux armes citoyens![...] Recomeçava o solo pungente do sabiá. As árvores estremeciam. As nuvens paravam para escutar (POMPÉIA, 2010, p.2).

No extrato acima torna-se clara a dicotomia Brasil/França que permeia todo o conto,

uma vez que a própria natureza brasileira ecoa o hino francês, refletindo a inebriante associação

do elemento europeu por parte do Brasil.

Como dissemos, na cena da festa dos republicanos, em comemoração à queda da

Bastilha a contradição espacial entre elementos revolucionários franceses e o Brasil agro-

escravista, torna-se ainda mais acentuada. De um lado, vemos um casarão iluminado e muito

luxuoso, cheio de republicanos entusiastas, e onde se escutavam gritos e exclamações em

honra à Liberdade e à República. De outra banda, porém, a algumas léguas da fazenda,

encontra-se ia uma noite tempestuosa e feia, uma escuridão dantesca de onde se ouviriam os

gritos de socorro e de dor do pobre Emídio. O contraste entre esses dois espaços pode ser

evidenciado, sobretudo, através de termos contrastantes: de um lado temos um casarão luxuoso

e ornamentado, de outro uma noite tempestuosa e feia, de um lado um salão iluminado, de outro

a escuridão dantesca, de um lado a escravidão de Emídio, do outro os “Vivas à Liberdade” e

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enfim, do casarão se ouviriam os gritos entusiastas dos republicanos enquanto, a meia distancia

dali, deparar-se-iam com os gritos de dor de Emídio, o escravo.

Assim, constatamos, que, também o espaço da narrativa é permeado pela

ambiguidade que nos remete ora ao Brasil rural do século XIX, ora à França revolucionária do

século XVIII.

Além dos elementos mencionados acima, notamos ainda outro fator que reitera a

ambiguidade e o contraste característicos da narrativa: a voz do narrador. Ora, se toda narração

é, antes de mais nada, uma seleção, podemos afirmar que o narrador organiza os fatos e

imprime seu olhar irônico sobre os acontecimentos de modo a discriminar uma dissonância, uma

contrariedade na história: a das ideologias francesas em relação ao contexto sócio econômico

brasileiro. No decorrer da história, o narrador imprime seu olhar crítico, destilando comentários

irônicos em relação às personagens e aos acontecimentos. No início do conto, o narrador

comenta sobre o poder do ouro e a autoridade que este confere a quem o possui, criticando os

representantes da alta camada social que, por deter o precioso metal, podem dominar e subjugar

o outro. A voz narrativa também emite suas impressões a respeito do que narra. É o que se

observa, por exemplo, quando o narrador descreve a cena em que Salustiano está prestes a

efetuar o seu brinde à Liberdade: “A estátua de gesso, acima dele, com a cabeça inclinada e a

lâmpada ao alto, fitava-o parecendo esperar o brinde, espantada” (grifos nossos, POMPÉIA,

2010, p.8). A voz irônica do narrador se intensifica à medida do desenrolar da narrativa. Ao

comentar, por exemplo, o contraste entre a punição de Emídio e o casarão em festa, o narrador

conclui, ironicamente: “Sentia-se realmente nas trevas do ar o anjo da igualdade roçando com a

ponta das asas brancas os dois extremos do horizonte” (POMPÉIA, 2010, p.8).

Vimos, portanto, na narrativa, o constante movimento de “ir e vir” entre Brasil e França

refletindo a própria “deglutição” brasileira em relação às ideologias francesas, típicas do Brasil do

século XIX, que, para se desfazer da noção de inferioridade, assimilava todos os valores e

costumes oriundos do velho continente. No conto analisado, vimos que a França constitui o

modelo a ser seguido, assim, não seria surpreendente observar no texto constantes referências

que remetem ao contexto histórico, à literatura, ao idioma ou a qualquer outro elemento

concernente ao país europeu. São mencionados, por exemplo, a Revolução Francesa, o

monarca Luis XVI, a queda da Bastilha, a Marselhesa, a ópera de Offenbach, os homens do

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Terror (Desmoulins, Robespierre, Danton, Marat), os barretes frígidos3, os sanscullotes4, os

“Bravôh!” do público (numa tentativa de reproduzir o sotaque francês), as cinco letras de

Cambrone (merde) além de artefatos que remetem indiretamente à França: a estátua da

Liberdade e a lâmpada que esta alçava (numa referência ao Iluminismo).

Além dos elementos mencionados, a narrativa apresenta metáforas que remetem à

situação brasileira do século XIX ou aos novos ideais europeu. Logo nas primeiras linhas do

conto, faz-se referência à “trombeta de Josafá”. O Evangelho de Mateus 25:31-46, retrata o dia

do juízo, em que a trombeta de Josafá será tocada e Jesus Cristo julgará todas as tribos e

nações. O narrador, ao comparar o “14 de julho” ao soar da trombeta definitiva, anunciante dos

novos tempos no paraíso, metaforiza, por um lado, a morte da velha ordem monárquica e o

nascimento de uma nova era, mais justa e democrática.

Mais adiante, deparamo-nos com outra metáfora: a antropofagia. O narrador cita o

banquete abundante oferecido pelo compadre de Salustiano, em que os fazendeiros comiam

“como se ali houvesse guisados bofes de monarcas” (POMPÉIA, 2010, p.6) e bebiam “como se

houvesse engarrafado o sangue das dinastias” (POMPÉIA, 2010, p.6), logo em seguida, o

narrador ainda alude aos famintos personagens rabelaisianos: “Pantagruel e Gargantua

esgarçavam os lábios, como sanscullotes embriagados” (POMPÉIA, 2010, p.6). No excerto

acima a menção ao banquete farto misturada à alusão da carne e do sangue humano, assim

como a menção aos glutões de Rabelais, configuram a própria prática da antropofagia que, no

Brasil, fora legada pelos indígenas, passando a integrar, metaforicamente, a vida brasileira, a

qual assimila e “digere” o elemento estrangeiro.

Nas últimas páginas da narrativa nos deparamos ainda com mais uma imagem

metafórica: Ao realizar seu brinde, Salustiano eleva tão alto sua taça, que acaba partindo o

cristal nas faces da estátua da Liberdade, vertendo o vinho sobre seus seios e “prostituindo a

casta brancura impoluta do gesso” (POMPÉIA, 2010, p.9). A imagem acima, metaforiza a própria

contradição de Salustiano que, republicano e liberal é também escravista e destruidor da

Liberdade alheia, que mancha com o sangue dos escravos que explora as próprias ideologias

liberais que ostenta.

3 Como se sabe, o barrete frígio é o “barrete vermelho usado na França da primeira república, e semelhante ao que usavam os frígios”. (HOLANDA FERREIRA, s.d., p. 188) 4 Como se sabe, trata-se da referência aos republicanos mais ardentes da Revolução Francesa, ou seja, os que não usavam culottes, como os aristocratas, mas calças compridas (pantalons, em francês).

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Concluindo, a obra de Raul Pompéia reflete a condição social e econômica brasileira

do final do século XIX. Ela denuncia a inadequação das ideologias liberais dos países europeus

ao contexto social brasileiro, ainda fundado sobre uma estrutura agroexportadora, escravista. O

conto de Pompéia reflete, além disso, a própria dialética do localismo e do cosmopolitismo que

caracteriza a vida sócio-cultural brasileira desde os primórdios de sua vida colonial, mostrando

como a prática antropofágica legada de nossos antepassados indígenas se transformou em uma

constante no país, que “deglute” e assimila o que vem de fora, sob uma clave irônica e/ou

paródica.

Referências bibliográficas

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