17
1 X SEL – Seminário de Estudos Literários UNESP – Campus de Assis ISSN: 2179-4871 www.assis.unesp.br/sel [email protected] O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE ANTÔNIO DA FONSECA SOARES André da Costa Lopes (Mestrando – UNESP/Assis – FAPESP) Heloiza Brambatti Granjeiro (Mestranda – UNESP/Assis – FAPESP) Luís Fernando Campos D’Arcadia (Mestrando – UNESP/Assis – CAPES) RESUMO: Antônio da Fonseca Soares (1631-1682), poeta português, mais conhecido como Frei Antônio das Chagas, gozou de grande prestígio entre os letrados de seu tempo. Contemporâneo de nomes como Gregório de Matos Guerra e Padre Antonio Vieira, produziu tanto uma obra profana quanto sacra, praticando os mesmos gêneros literários explorados por esses dois autores. Entretanto, com a passagem do pensamento iluminista e a elaboração das Histórias da Literatura Nacionais, a obra de Fonseca ficou praticamente esquecida nos cancioneiros manuscritos ou em folhas avulsas, nas mãos de bibliófilos ou nos arquivos das bibliotecas portuguesas. Neste trabalho, pretendemos examinar os motivos da inclusão de certos autores do mesmo período no Cânone (ou Cânones) luso-brasileiro e a marginalização de Antônio da Fonseca e outros contemporâneos seus. PALAVRAS-CHAVE: Antônio da Fonseca Soares; manuscritos; barroco; cânone. Antonio da Fonseca Soares e Antonio das Chagas Na primeira parte deste trabalho abordaremos a vida secular de Antônio da Fonseca Soares e a vida monástica de Frei Antônio das Chagas. Ambos os nomes identificam a mesma pessoa, mas com traços diferentes para representar momentos distintos em uma mesma vida, ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o nosso poeta de estudo teve uma vida caracterizada pelo seu tempo: o Barroco. Segundo a estudiosa Maria de Lourdes Belchior Pontes (1953), Antônio da Fonseca Soares é um exemplo de poeta de seu tempo, pois tanto em sua vida como nas poesias estava em conflito consigo mesmo. Fonseca quando jovem teve uma vida intensa na corte de Lisboa e

O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

1

X SEL – Seminário de Estudos Literários

UNESP – Campus de Assis

ISSN: 2179-4871

www.assis.unesp.br/sel

[email protected]

O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE ANTÔNIO DA FONSECA

SOARES

André da Costa Lopes (Mestrando – UNESP/Assis – FAPESP)

Heloiza Brambatti Granjeiro (Mestranda – UNESP/Assis – FAPESP)

Luís Fernando Campos D’Arcadia (Mestrando – UNESP/Assis – CAPES)

RESUMO: Antônio da Fonseca Soares (1631-1682), poeta português, mais conhecido como Frei Antônio das Chagas, gozou de grande prestígio entre os letrados de seu tempo. Contemporâneo de nomes como Gregório de Matos Guerra e Padre Antonio Vieira, produziu tanto uma obra profana quanto sacra, praticando os mesmos gêneros literários explorados por esses dois autores. Entretanto, com a passagem do pensamento iluminista e a elaboração das Histórias da Literatura Nacionais, a obra de Fonseca ficou praticamente esquecida nos cancioneiros manuscritos ou em folhas avulsas, nas mãos de bibliófilos ou nos arquivos das bibliotecas portuguesas. Neste trabalho, pretendemos examinar os motivos da inclusão de certos autores do mesmo período no Cânone (ou Cânones) luso-brasileiro e a marginalização de Antônio da Fonseca e outros contemporâneos seus. PALAVRAS-CHAVE: Antônio da Fonseca Soares; manuscritos; barroco; cânone.

Antonio da Fonseca Soares e Antonio das Chagas

Na primeira parte deste trabalho abordaremos a vida secular de Antônio da Fonseca

Soares e a vida monástica de Frei Antônio das Chagas. Ambos os nomes identificam a mesma

pessoa, mas com traços diferentes para representar momentos distintos em uma mesma vida,

ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o nosso poeta de estudo teve uma vida

caracterizada pelo seu tempo: o Barroco.

Segundo a estudiosa Maria de Lourdes Belchior Pontes (1953), Antônio da Fonseca

Soares é um exemplo de poeta de seu tempo, pois tanto em sua vida como nas poesias estava

em conflito consigo mesmo. Fonseca quando jovem teve uma vida intensa na corte de Lisboa e

Page 2: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

2

nas guerras que combatia contra o exército espanhol, mas depois de sua ida fugida ao Brasil,

por conta de um duelo que teve em sua cidade, teve contato com as Obras Espirituais de Fr.

Luís de Granada e depois disso se tornou rendido a Deus. Mas, em sua volta a Portugal,

Fonseca novamente manteve o seu estado primordial, ou seja, voltou a festejar na corte de

Lisboa e a combater nas guerras.

Porém no decorrer dos anos Fonseca sentiu realmente que precisava mudar de vida e

decidiu tomar o hábito franciscano. A partir desse momento, passou a ser conhecido como frei

Antônio das Chagas. Este se tornou célebre em Portugal pela sua maneira inovadora de pregar

e converter os cristãos. Fonseca viveu o seu tempo realmente como ele é mostrado, pois teve

uma vida secular na qual usufruiu de todos os gozos que pode ter e depois teve a vida voltada

para obter a salvação.

Citamos Pontes, uma das grandes estudiosas do nosso poeta, segundo ela, o prefácio

que fez tinha como objetivo fazer um resumo da vida de Fonseca:

Interessava, portanto, não reduzir ao biográfico, e sobretudo ao biográfico-cronológico, o estudo da vida e da obra de Fr. Antônio das Chagas. Mas frei Antônio das Chagas, no mundo Antônio da Fonseca Soares, foi homem do seu tempo: versejador, poeta “vulgar”, espadachim, soldado das guerras da Restauração, tunante e estróina na Corte, valdevinos e freirático. Depois de convertido, violento e barroco na penitência, como o fora na vida devassa da sua juventude, pregou reforma de vida por terras de Portugal. Ora um homem vive sempre enraizado no tempo, e nos actos ou palavras da sua vida ecoa uma voz colectiva; para lá do seu gesto ou semblante há uma espécie de pano de fundo: a mentalidade da sua época. ( PONTES, 1953, p. 13)

Antônio da Fonseca Soares (1631-1682) nasceu na Vidigueira em 25 de junho. Seu

pai, Antônio Soares de Figueiroa era homem de leis e de boa família. Sua mãe, Helena de

Zuñiga era irlandesa, mas viera para Portugal desde pequena. O pai de Helena combatia na

defesa da causa católica, desta forma a condessa da Vidigueira D. Leonor criou-a como sua

filha. A condessa no mais tardar tratou de arranjar casamento para sua protegida, então se fez

com Figueiroa.

No fragmento abaixo, Pontes faz um relato sobre a vida familiar de Fonseca

acrescentando dados de suas irmãs, irmãos e sobre a vida religiosa destes. A religião está muito

presente na vida do nosso poeta, pois além de vários irmãos estarem inseridos na nesta há uma

tradição que vem sendo seguida desde seu avô materno, o qual combatia na defesa da causa

católica:

Foram ao todo seis os filhos do Dr. Antônio Soares de Figueiroa e D. Helena de Zuniga: Maria, a mais velha que casou; depois, com ano e meio de diferença, frei Antônio; a seguir, Leonor e Brites que vieram a ser dominicanas em Moura; finalmente Afonso e João,

Page 3: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

3

gêmeos. Afonso foi franciscano como frei Antônio, e tomou em religião o nome de frei Francisco, e João é, como vimos, o D. Frei João Soares de Figueiroa, a que alude o instrumento justificativo dos quilates de sangue ( PONTES, 1953,p. 21).

Antônio Soares de Figueiroa foi nomeado juiz de fora de Vila Nova de Portimão e então

levou a família para lá. Nesta época Antônio da Fonseca Soares tinha apenas sete semanas.

Depois de aprender as primeiras letras, os pais de Fonseca mandam-no para Évora com o intuito

de seguir os estudos. Fonseca não apresentava muita simpatia para com os livros e após o

falecimento de seu pai, ele, aos dezoito anos volta para casa. Neste momento Fonseca decide-

se a ficar junto à mãe e às irmãs. Fonseca passa a festejar, a namorar e a escrever suas

diversas composições. Em um de seus casos amorosos Fonseca envolveu-se em um duelo e

acabou matando seu rival.

Alberto Pimentel (1889) fala sobre os duelos constantes que havia no século XVII e

que na época eram moda ao ponto de este ato chegar a ser loucura entre os rapazes da época.

E para não criar mais discórdia vai combater a causa nacional contra o exército espanhol, então

foge para Moura onde luta pela guerra da independência e em 1651 alista-se como soldado.

Com seu grande desempenho no combate contra a Espanha, Fonseca é promovido a capitão do

terço de Setúbal. Como ainda estava recente do acidente em Portugal Fonseca aproveita a ida

de um parente desembargador ao Brasil e se aventura com ele. Na obra Vida mundana de um

frade virtuoso de Alberto Pimentel temos:

Moço, gentil e poeta, lançava-se na vida airada que os ócios da campanha ageitavam. Em tempo de guerra, o prestígio da farda sobe de ponto, porque o engrandece a coragem nos combates. Antônio da Fonseca saboreou os gozos que a sua estrela e os ademas da sua pessoa lhe proporcionavam, mas ao cabo de dois ou três anos embarcou para o Brasil na companhia de um desembargador seu parente, talvez porque as justiças da Vidigueira instassem pela condenação do homicida (PIMENTEL, 1889, p. 9).

As notícias que se teve no Brasil são escassas, mas sabe-se que Fonseca continua

em sua vida devassa intercalando o pouco cultivo da poesia, destacando-se como poeta de

estilo gongórico. Fonseca passou três anos na Baia e ninguém sabe qual foi o motivo que

realmente o levou a ir embora.

Pimentel nos relata que durante a viagem Fonseca estava melancólico, então o piloto

da nau deu-lhe um livro místico sobre a vida de Santa Gertrudes, este livro impressionou o

jovem. Mas Pimentel ainda acrescenta que para ele isto soa falso, já que quando Fonseca

chegou ao Brasil encontrou um país que lhe proporcionou uma nova vida de prazeres. Também

Page 4: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

4

relata sobre um casamento de conveniências que lhe foi proposto, mas que o jovem recusou.

Citamos Pontes:

A vida dos colonos passava-se entre a exploração do índio e do escravo africano e as intrigas do governador contra o cabido ou dos jesuítas contra o governador. A dissolução dos costumes era grande. O ambiente favorecia o pendor estróina de Fonseca e proporcionava-lhe a vida boemia que lhe agradava. Até nesta sua ida para terras do Brasil e estadia na Baía, Fonseca é do seu tempo. Conheceu a condição de colono que tantos viveram naquela época; uns como soldados, outros desterrados, outros missionários: Fonseca, D. Francisco Manuel de Melo, Vieira e tantos outros mais que trouxeram para a metrópole uma experiência única, carregada de problemas. E só Vieira deu conta dela[...]. (PONTES, 1953, p. 28-29)

Para Pimentel e outros estudiosos o padre Manuel Godinho é o principal biógrafo de

Antônio da Fonseca Soares e Frei Antônio das Chagas. Pimentel cita Godinho para ressaltar que

o livro místico sobre a vida de Santa Gertrudes foi o início da mudança de sentimentos e

opiniões de Fonseca, e somente quando findou a leitura das obras espirituais de Frei Luiz de

Granada foi que aconteceu a sua conversão interior, dando assim, o princípio da sua vida

religiosa. Citamos Pimentel (1889):

Segundo o ponto de vista místico do seu principal biógrafo, e de outros, foi em casa de um amigo, dos que o aconselhavam a casar-se, que Antônio da Fonseca encontrou as obras espirituais de Frei Luiz de Granada. Abriu ao acaso. Leria o bastante para receber uma impressão mais forte do que aquela que a Vida de Santa Gertrudes lhe haveria produzido. Pediu ao amigo que lhe emprestasse o livro. Levou-o, meditou sobre as suas páginas, e o cansaço da vida mundana pareceu-lhe maior. (PIMENTEL, 1889, p. 10)

Por sua vez, Fonseca decidiu tomar o hábito franciscano e logo regressou a Portugal.

Em terras portuguesas Fonseca sofreu várias dificuldades de conseguir o hábito, pois havia

cometido uma morte e isto ainda estava presente nas pessoas e mais ainda nos religiosos

portugueses. Desiludido com a situação Fonseca voltou à vida de dissipações e neste período foi

o momento em que mais escreveu suas poesias profanas (1657-1662) neste momento de

inquietações Fonseca apresenta grande composição poética.

[...] Desesperado, tornou à vida antiga e “engolfou-se de novo no oceano do mundo”- diz ele na carta autobiográfica ao seu amigo D. Francisco de Sousa. Datarão deste tempo, de 1657, pouco mais ou menos, a maio de 1662, a maior parte das numerosas poesias profanas que compôs. A obscenidade de algumas diz-nos bem acerca dos desmandos daquela vida. E talvez que o seu próprio exagero indique as inquietas vacilações do seu espírito (CHAGAS, 1939, p. 16).

Neste momento vivia em Lisboa, mas depois vai ao Alentejo para lutar contra os

espanhóis e em seguida se retira. Com a ajuda de um amigo general consegue apagar a morte

que houve aos seus vinte anos e, assim, dar continuidade à sequência de seus planos de entrar

Page 5: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

5

na vida religiosa. Mas logo em seguida é acometido por uma doença e somente depois de refeito

volta à vida de prazeres que tinha outrora, segundo Lapa (1939):

[...] Impediu-o disso uma grave doença de que foi acometido. Refeito dela, de novo esquece os piedosos propósitos e lançou-se na vida airada, agora mais ardentemente que nunca, pois sentira fugir-lhe a vida, onde achava tão intensos prazeres (LAPA, 1939, p. 14).

Certa noite em Setúbal, em suas aventuras levou um tiro com pólvora seca, mas nada

lhe aconteceu, somente o medo atingiu-o, depois foi a Lisboa aconselhar-se com alguns

religiosos que o induziram a mudar de vida. Fonseca pediu o hábito franciscano, mas os seus

superiores preferiram que ele fizesse uma experiência, devido ao seu excelente serviço em

campanha, em 20 de janeiro de 1661 Fonseca foi promovido a capitão do terço de Setúbal e

depois tomou o hábito no convento de Évora. Lapa (1939) acrescenta: “E a 18 de maio de 1662

o grande pecador arrependido entrava como noviço na Ordem de S. Francisco, orientado

espiritualmente por Fr. Antônio da Madre de Deus” (p.15 -16).

É importante salientar que Fonseca recebeu a fama de capitão Bonina, em Setúbal,

pela sua inspiração poética; pois eram demasiado conhecidas as suas proezas. Em Janeiro de

1661 é nomeado capitão de infantaria, e partir daí, Fonseca gozou três ou quatro meses das

honras, graças, preeminências, liberdades e franquezas.

Em 19 de maio de 1663 era o dia de cerimônia da profissão de Fonseca, este foi

marcado por uma bala de artilharia inimiga que veio cair junto ao seu hábito, para melhor

segurança a cerimônia terminou na Casa dos Ossos do convento, lugar este um tanto macabro.

Ao entrar para a vida religiosa, Fonseca passa a ser conhecido como Frei Antônio das

Chagas e foi aos poucos se afastando da vida secular e se deixou levar pelos encantos

espirituais. Começou desde então a praticar a vida em sua simplicidade e a cursar seus estudos

no convento de Beja, depois seguiu para Évora e, por fim, em Coimbra, Frei Antônio das Chagas

procurava reparar os males causados pelo capitão Bonina, que tantos “favores alcançara nas

madamas de Setúbal” (PONTES, 1953, p. 191). Sua bagagem era simples, levava somente a

Bíblia, um breviário velho, algum livro religioso, as cartas que tinha que responder e rosários. A

sua entrada nos lugares despertava enorme entusiasmo, porque o franciscano sabia fazer

daquelas investidas apostólicas um verdadeiro espetáculo, impressionante, agitado e ruidoso,

uma autêntica algazarra da fé. Alguns sermões chegavam a durar até duas ou três horas.

Segundo Pontes (1950), Chagas levou tão a sério a sua vida religiosa que é conhecida por ela,

como vemos no trecho abaixo:

Page 6: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

6

Mas quem foi Antônio da Fonseca Soares? Antônio da Fonseca Soares vem à luz da ribalta, trazido por Frei Antônio das Chagas, que é o próprio Fonseca, ele mesmo, penitente, arrependido, ardente, apostólico, a arrastar as multidões, a quem pregava penitência e mudança de vida, a dirigir na austeridade, na finalidade a uma regra, freiras que por sua virtude eram, naqueles tempos, como oásis em deserto. E, se não fora o autor das Cartas Espirituais, talvez o moço irrequieto, espadachim, esbelto e facundo, versejador inesgotável, fazedor de romances e sonetos que o Fonseca era, não tivesse conseguido remover o esquecimento, que o havia de confundir no anonimato, igualando-o tantos contemporâneos seus que, por obras valiosas, se não assinalaram (PONTES, 1950, p. 6).

Frei Antônio das Chagas pregou por todo Portugal e com seu jeito distinto de pregar

ficou conhecido por muitos e ao mesmo tempo em que era amado por uns era também odiado

por outros. Sua fama se espalhou e fez com que multidões começassem a segui-lo, como vemos

em Pontes:

Os homens começaram a segui-lo e o cortejo dos que o acompanhavam engrossava cada dia. Às vezes, cansado de confessar, caía extenuado sobre a lama dos caminhos, que a chuva revolvera. Um ano inteiro, quase sem descanso, andou frei Antônio a correr as terras do seu Alentejo, a pregar reforma de vida, a consertar desavenças, a extinguir ódios. E pregou no Inverno e no Verão sem descansar. “Sob a ardência do sol, mesmo quando o calor apertava mais, nos meses de Julho e Agosto, não deixou de pregar” (PONTES, 1953, p. 189).

Em 1678 escolheu o Varatojo para ser a sede de um novo seminário. Aqui a regra era

seguir os costumes franciscanos, ou seja, a pobreza e repúdio a qualquer dinheiro. Chagas

recusou dinheiro do príncipe para alimentação e vestuário, mas aceitou uma única vez para

pagar dívidas antigas do mosteiro e para fazer algumas reparações neste. Em 1680 Fr. Antônio

das Chagas sente-se abalado por problemas de saúde.

Em junho de 1682 lá se arrastava a Setúbal para assistir à fundação do convento dos

missionários de Brancanes, que devia servir de repouso aos que se destinassem ao sul do país.

Em agosto recolheu-se ao Varatojo e na madrugada de 20 de outubro de 1682 falece em sua

cela. Para Pontes (1953) Chagas foi um homem do seu tempo, pois esteve inserido no momento

de crise espiritual na cultura ocidental, na qual o homem se divide entre duas formas de ver o

mundo: de um lado o paganismo e o sensualismo do Renascimento e do outro a exaltação

religiosa teocêntrica medieval. Sendo o Barroco a arte do conflito, mostram-se evidentes os

contrastes entre a fé e a razão, teocentrismo e antropocentrismo, ceticismo e mundanismo,

misticismo e sensualismo, céu e terra, alma e corpo, espírito e carne. Pontes (1953) acrescenta:

Frei Antônio das Chagas um homem e um estilo de século XVII é, pois, uma aproximação, um estudo da mentalidade de seiscentos, através da vida e da obra de alguém que, naquela altura, como que assumia e incarnava, exemplarmente, os vícios e as virtudes do seu tempo ( PONTES, 1953, p. 14).

Page 7: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

7

Por fim, este poeta Antônio da Fonseca Soares ou Frei Antônio das Chagas foi grande

paradigma de seu tempo, pois tanto em sua vida como em sua obra fez jus ao momento em que

estava vivendo, ressaltando nelas as características do momento presente. A atividade literária

de Antônio da Fonseca Soares pode ser dividida em duas fases: a mundana e a religiosa, ambas

são de grande valor para a literatura do século XVII. Para finalizar este trabalho, é válido

acrescentar o que Pontes (1953) ressalta:

Tem acontecido que se separam como duas vidas e duas obras a vida e a obra de Antônio da Fonseca Soares-Frei Antônio das Chagas. Ora se a oposição entre a vida e obra do Fonseca e a vida e obra do Padre Chagas se justifica pela existência de duas personalidades de duas obras, a verdade é que aos estudiosos só interessou a uns o poeta, diminuído por se haver recolhido ao claustro, e a outros o varão apostólico, morto em odor de santidade. Mas a vida e obra de Fonseca, romancista, freirático, soldado das guerras da Restauração, tunante e estróina, e a vida e obra do Padre Chagas, franciscano, missionário, apostólico, ardente e apaixonado, diretor de almas desejosas de vida austera, são como que o retrato muito fiel daqueles anos de seiscentos. São duas vidas, numa só vida, a documentarem expressivamente, duas das coordenadas, bem desenhadas do mapa espiritual da época: miséria na corrupção dos costumes, miséria nas folias e loucuras que atingiam honra e fazenda, e sentido trágico da vida, sentido agudo da efemeridade dos bens da vida, transvasado numa religiosidade que se argamassava em dor ( PONTES, 1953, p. 16).

O lugar de Antonio da Fonseca Soares entre os séculos XVII e XIX

Nas últimas duas décadas do século XVII, os dois primeiros textos a respeito do poeta

e do pregador surgiram, ambos na forma biografia. A primeira foi Vida e morte do Varão

Apostólico e gr. de servo de Deus Fr. António das Chagas, Composta e repartida em cinco

tratados pelo Cronista-Mor do Reyno Fr. Rafael de Jesus Beneditino Professo. Em a reformada

Congregação do Principe dos Patriarchas S. B.to nos Reynos de Portugal. No insigne Most.o de

S. Bento da Saúde da Corte e Cid.de Lx.a Natural da Regia e sempre Leal cidade de Guimarães,

Anno de 1683. E a segunda, intitulada, Vida, Virtudes e Morte com opinião de santidade do

Venerável Padre Fr. Antonio das Chagas, de um certo Padre Manuel Godinho, publicada em

Lisboa em 1687. Não tivemos acesso aos textos (já que ambos se encontram em estado

manuscrito nas bibliotecas portuguesas), porém, pelo título já podemos desvendar o caráter

“hagiográfico” de ambas. Está claro que essas obras são o primeiro passo para a criação de uma

dicotomia pregador/pecador, sendo que a poesia profana enquadrada nessa última categoria,

como uma mancha na reputação do pregador a ser apagada pela história.

A partir do século XVIII, Antonio da Fonseca Soares viu sua obra analisada por

praticamente todas as vertentes críticas da literatura portuguesa. Se fizermos um recorte dos

Page 8: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

8

séculos XVIII e XIX, três correntes se distinguem nitidamente: a iluminista, a romântica e a

positivista.

Começando pelo século XVIII, pode-se perceber o primeiro golpe no sentido de

dasabilitar os méritos da poesia profana do século XVII, e com ela, boa parte da produção de

Fonseca anterior à sua conversão. Pode-se dizer que a crítica iluminista dividiu-se em duas

perspectivas, a de Verney e a de Cândido Lusitano.

A começar por Verney, em sua extensa obra Verdadeiro Método de Estudar. Publicada

a partir de 1746, a obra é um marco no pensamento iluminista português, tratando desde os

estudos literários até as “ciências” e filosofia. Dedica o capítulo 7 às matérias de Poética; como

era padrão naqueles tempos, Verney vincula Poética à Retórica: “[...] a Poesia é uma Retórica

mais florida [...]” ( VERNEY,1950, p. 249). Para o pensador iluminista, a poesia deve ser

vinculada aos ideais aristotélicos e horacianos de unidade e clareza, tendo como centrais a

verossimilhança e austeridade na construção de argumentos. Por isso na parte final de sua

dissertação sobre Poética dedica-se a atacar os “[...] muitos [que], querendo ser poetas, são uns

ridículos, porque lhe falta lhe falta o principal fundamento, que é pesar as coisas e dar a cada

uma o seu preço [...]” ( VERNEY,1950, p. 252). De certa maneira atribui a esses maus poetas a

má influência estrangeira:

Dos espanhóis o aprenderam os Portugueses; e commumente se persuadem que quem subtiliza melhor e diz coisas menos verossímeis é melhor Poeta. Metáforas mui fora de propósito, encarecimentos inauditos, são os seus mimosos. Ouvi gabar muito um soneto do Chagas, feito a um cavalo do Conde de Sabugal, pela metáfora da Música [...]. Mas eu, considerando o tal epigrama acho que é uma total parvoíce, desde a primeira palavra até a última. Não acho nele conceito algum; as palavras são impróprias, e muitas não tem significação certa [...] (VERNEY, 1950, p. 255-256)

Na crítica de Verney em relação a Chagas as palavras-chave são inverossimilhança e

parvoíce, ressaltando a fama desse autor e sua obra, que “[...] muitos louvam porque a não

entendem” (VERNEY, 1950, p. 259). A crítica, entretanto, não se pode limitar a Chagas: “[...] o

que digo dele deve-se aplicar a todos os outros, que seguem o mesmo estilo” (VERNEY, 1950,

p. 264) E dessa maneira encerra sua diatribe dos poetas seiscentistas:

A regra que eu observo neste particular é esta: quando vejo um Poeta destes, que se serve de expressões que nada significam, ou que compõem de sorte que o não entendem, assento que não quis ser entendido, e em tal caso, procuro fazer-lhe a vontade, e não o leio (VERNEY, 1950, p. 265).

Page 9: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

9

Apesar de claramente parcial e interessada em estabelecer um novo pensamento

estético, alguns aspectos fundamentais da crítica de Verney a respeito da poesia do século XVII

ainda permanecerão até praticamente o fim do século XX.

Outra visão iluminista e neo-clássica de Fonseca é a de Cândido Lusitano, essa,

porém, “não condena global e indiscriminadamente os poetas do período barroco” (SILVA, 1971,

p. 157). Segundo Vítor Manuel de Aguiar e Silva (p. 158), em seu Diccionario Poetico, publicado

em 1765, os versos dos poetas seiscentistas são a maior fonte de exemplos de boa locução

poética, mais ainda que Camões e os poetas do Quinhentos, sendo que Candido Lusitano se

refere explicitamente a Antonio da Fonseca Soares como “bom Lyrico” (apud SILVA, id., p. 157).

Após o século XVIII, entramos no período das Histórias da Literatura propriamente

ditas, as quais não viram o século XVII com bons olhos. Em Simonde de Sismondi, por exemplo,

um dos primeiros historiadores da literatura portuguesa, a palavra-chave ao se tratar do século

XVII é decadência:

Em meio à decadência nacional, Portugal teve, durante o século dezessete, um grande número de poetas, nenhum merecedor de verdadeira reputação. Sonetos inumeráveis, bucólicas e éclogas cada vez mais insípidas e cada vez mais amaneiradas sucediam-se sem nunca se superarem; a monotonia mais cansativa reinava em toda a poesia 1 (1813, p. 653, tradução nossa).

O esforço romântico é caracterizado por uma vinculação da literatura à historia

nacional no sentido de criar “uma explicação causalista de teor político-social” (SILVA, 1971, p.

161). Vê no domínio espanhol, no crescimento da teocracia centrada no movimento contra-

reformista e no crescimento de uma sociedade aristocrática em vez de uma classe burguesa,

como fatores deletérios. Antonio da Fonseca Soares é, portanto, como todos os poetas da

época, descartado como o produto de um Portugal decadente.

A mesma visão tem Ferdinand Denis, que em seu Résumé de l'histoire littéraire du

Portugal também inclui Antonio da Fonseca no mesmo grupo:

Depois de lançar os olhos rapidamente sobre essas extravagâncias as quais se teve o cuidado de conservar em compilações, cujos títulos bizarros são já uma prova da decadência do gosto, é ainda necessário nomear os autores que se tornaram ilustres nesse gênero e que gozaram de certa reputação? Nomearia Jerônimo Baía, outro imitador de Gôngora, e não menos ridículo que esses que eu acabei de mostrar no amores de Polifemo

1 Au milieu de la décadence nationale, le Portugal eut, pendant le dix-septième siècle, un très grand nombre de poètes, mais aucun n'a mérité une vraie réputation. Des sonnets sans nombre, des bucoliques et des églogues toujours plus fades et toujours plus maniérées se succédaient sans jamais se surpasser; la monotonie la plus fatigante régnait dans toute la poésie.

Page 10: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

10

e Galatéia; Simão Torrresão Coelho, Fernão Correia Lacerda, e tantos outros que Barbosa2 tem o prazer de assinalar em seu volumos Dicionário.3 ( DENIS,1826, p. 395-396)

Como esses dois excertos demonstram, Antonio da Fonseca Soares e seus coetâneos,

tais com Jerônimo Baía e Antônio Barbosa Bacelar, eram incluídos no mesmo grupo e

conjuntamente descartados como símbolo da decadência portuguesa.

Um romântico realmente português, Camilo Castelo Branco, por sua vez, dá um lugar

de destaque à poesia profana de Antônio da Fonseca:

sobrevivem á fama de seu auctor [Antonio da Fonseca Soares] volumes manuscriptos que, se nada prestam como provas de estro, occultam jóias de locução que denotam profundo estudo da lingua, e vontade de opulental-a com neologismos castelhanos (BRANCO,1876, p.47).

O século XIX deu à luz sua primeira biografia sem compromissos estritamente

religiosos, Vida Mundana de um frade virtuoso, publicada no ano de 1889, na forma de um perfil

histórico, que deixa de lado os estigmas do período e possui inclusive preocupações filológicas e

de recolha da obra do poeta, o qual, ao contrário do Frei, não possui edição de sua produção.

Um dado moralista, entretanto, ainda permanece, como por exemplo, a exclusão das poesias

fesceninas que lhe atribuem.

À crítica romântica segue-se a crítica chamada positivista, cujo principal expoente é

Teófilo Braga. Ele já dá destaque a Antonio da Fonseca Soares em seu primeiro trabalho de

História Literária, publicado em 1870. A versão final de sua obra, porém, é publicada em 1909, já

no século XX, do qual tratamos a seguir.

Do século xx aos dias atuais

Na primeira metade do século XX, Teófilo Braga, em a História da Literatura

Portuguesa: Os Seiscentistas, inclui, em certo tom irônico, Fonseca Soares “ao tropel dos poetas

romancistas” (2005, p. 302). Norteado pelo viés positivista, explica a obra fonsequiana pelas

possíveis influências do meio em que vivia. Assim, declara que o Fonseca dos romances é

2 Diogo Barbosa Machado, autor da Biblioteca Lusitana, coleção de referências de autores e obras da Literatura Portuguesa publicada entre 1741 e 1758. 3 Après avoir jeté un coup d'oeil sur ces extravagances qu'on a pris soin de conserver dans des recueils, dont les titres bizarres sont déjà une preuve de la décadence du goût, est-il bien nécessaire de nommer les auteurs qui s'illustrèrent dans ce genre, et qui jouirent de quelque réputation? Nomraerai-je Jeronymo Bahia, autre imitateur de Gongora, et non moins ridicule que ceux que je viens de faire connaître dans les amours de Polyphème et de Galathée; Simaô Torrezaô Coelho, Fernam Correa de Lacerda, et tant d'autres dont Barbosa se plaît à signaler les absurdes productions dans son volumineux dictionnaire.

Page 11: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

11

influenciado pela febre gongórica que assolava a sociedade portuguesa de sua época e, num

discurso especulativo, sugere que os romances de saudades tenham sido escritos no momento

em que o Capitão Bonina esteve no Brasil, pois “era a adaptação ao meio que estava sofrendo, a

nostalgia das saudades que novamente o inspira” (BRAGA, 2005, p. 312).

O determinismo característico do pensamento positivista também se manifesta numa

explicação cientificista de sua conversão, ligando-a aos antepassados que combateram pelo

catolicismo na Irlanda:

Pode já inferir-se que esse fanatismo religioso a que se voltara seu avô [...] e os sustos de sua mãe foragida em uma vila do Alentejo, entre estranhos, lhe transmitiram essa tendência para a credulidade que veio a tornar-se exclusiva pelas decepções do amor. A psicose religiosa tornou-se extensiva à família [...] (BRAGA, 2005, p. 304).

Entretanto, dispensa comentários positivos ao poeta, considerado “o melhor

representante do lirismo gongórico em Portugal” (p. 302) e, consequentemente, reabilita de certa

forma a poesia do século XVII. Esta posição de Braga foi comentada por Aguiar e Silva:

[...] É curioso observar, apesar da sua antipatia e do seu desdém pela poesia do século XVII, Teófilo Braga não deixa, num ou noutro momento, de reconhecer que nessa poesia aparecem elementos esteticamente valiosos e denotadores de uma apreciável atividade mental. A propósito, por exemplo, de Frei António das Chagas, Teófilo escreve estas inesperadas palavras, por onde perpassa como que um sopro de reabilitação da poesia daquela época: “As quatro Elegias de fr. Antonio das Chagas, umas vezes sublimes de sentimento, outras, manchadas de equívocos, levam-nos a fazer uma ideia mais justa da poesia d’essa época, tanto tempo despresada (sic) e escarnecida pelos espiritos (sic) pautados nos cânones quintilianescos e tropeços horacianos. A novidade de imagens, o arrojo das metaphoras denotam sempre uma actividade intellectual”4 (AGUIAR E SILVA, 1971, p.172).

Já na segunda metade do século XX, Maria de Lourdes Belchior Pontes publica, em

1953, a obra Frei António das Chagas: Um homem e um estilo do séc. XVII. De acordo com o

autor de Maneirismo e Barroco na Poesia Lírica Portuguesa esta obra:

4 Apesar das palavras positivas em relação à poesia de Antônio da Fonseca Soares, Teófilo Braga ainda deixa transparecer em seu discurso a hostilização aos poetas barrocos, repetida desde o século XVIII. Nas palavras de Aguiar e Silva (1971, p.173), “os juízos negativos, o desprezo e as condenações que, como vimos, se foram acumulando ao longo dos século XVIII e XIX em torno da poesia barroca portuguesa, repetem-se copiosamente na historiografia e na crítica literárias da primeira metade do século atual (século XX). A obra atrás mencionada de Teófilo Braga, Os Seiscentistas, foi aliás publicada já neste século, em 1916, constituindo, neste domínio de estudos, uma espécie de charneira entre a historiografia e a crítica literárias oitocentistas de índole liberal, positivista e anticlerical, e a historiografia e a crítica literárias que, no século XX, lhes herdaram, dum modo ou doutro, as linhas de força ideológicas, os critérios de valoração, os desafectos e os preconceitos.”

Page 12: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

12

constitui marco fundamental dos estudos das modernas historiografia e crítica literárias portuguesas acerca do barroco e, em particular, na poesia barroca. Não se trata de uma reabilitação, trata-se de uma obra cujo propósito é o conhecimento criticamente elaborado de “um homem e um estilo de um século” - conhecimento, já se vê, que não evita nem ilude os juízos de valor – e cremos que esta era e continua a ser efectivamente a orientação necessária e exacta, em 1953 como em 1970. Estando a par dos mais importantes estudos que até então se haviam publicado sobre o Barroco – de Croce, Calcaterra, Dámasio Alonso e Hatzfeld, os quais lhe permitiram enquadrar a nossa literatura seiscentista na problemática geral do barroco europeu (PONTES, 1953, ib. id. p. 186-7).

Do ponto de vista metodológico, a obra escrita por Pontes vai além dos estudos

anteriores acerca de Antônio da Fonseca Soares pois, esta autora, não satisfeita com o que até

então se escrevera sobre o Fonseca/Chagas, faz um exaustivo trabalho de investigação nos

arquivos e bibliotecas portuguesas, consultando as centenas de manuscritos atribuídos ao

Capitão Bonina ou que faziam alusão a este poeta. Maria de Lourdes Belchior Pontes, embora

tenha se debruçado na pesquisa da vida e obra deste autor, conseguiu, quando no estudo da

obra, pautar-se nas observações do fenômeno literário seiscentista, sobretudo no da construção

poética, centrada na dupla feição poesia culta e poesia vulgar. Entretanto, como observa Aguiar

e Silva, Pontes não “evita nem ilude os juízos de valor”, deixando escapar, em seu discurso,

afirmações muito parecidas às praticadas pela crítica anterior. Deste modo, citando Costa Silva,

reproduz uma declaração quase idêntica a outra feita por Camilo Castelo Branco, no Curso de

Literatura Portuguesa5:

[Os romances] pouco enriquecem a poesia portuguesa, vale como documento de época, vale como repertório de regionalismos, castelhanismos e locuções que interessam à história da língua, vale como testemunho da crise no Parnaso, como sinal do gosto poético de seiscentos, mas não acrescenta nenhuma glória à poesia portuguesa ( PONTES, 1953, ib. id. p.99).

Em outra passagem, faz lembrar o moralismo de Pimentel, quando este discorre sobre

os versos fesceninos de Fonseca. Assim, para Pontes, os romances obscenos são “poesia de

esgoto, uma espécie de maré-baixa, mal cheirosa, que inunda as miscelâneas seiscentistas”

(PONTES, 1953, ib. id. p.100-1).

Pontes tem predileção pelo Fonseca dos sonetos, ligados à sua participação na

Academia dos Generosos, ocorrida no período imediatamente anterior à sua conversão. Para a

autora, estes têm qualitativamente maior importância, pois nestes “são mais graves as

5 Este autor é mais moderado que Costa e Silva em sua crítica, tanto Pontes quanto Aguiar e Silva concordam que Camilo Castelo Branco e Alfredo Pimenta foram precursores do processo de reabilitação da poesia portuguesa do século XVII.

Page 13: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

13

preocupações do autor, são também mais subtis as intrigas de amor, são mais sérios os

panegíricos, aqui, que nos ‘romances’” (1953, p.109).

Embora não tenha deixado de citar os romances fonsequianos em sua obra, os quais,

segundo Pontes, eram sinônimos de poesia vulgar, espécie de crônica poética, pela

característica corriqueira da linguagem e a temática voltada ao cotidiano, de tendências menos

idealizadoras que a poesia culta, a autora de Frei António das Chagas: um homem e um estilo

do século XVII, quando declara que nos sonetos “são mais graves as preocupações do autor”,

esquece-se das duas faces da poesia seiscentista, às quais faz alusão em seu livro: a poesia

culta e a poesia vulgar, cujas prescrições de composição seguem decoro distinto6. Ter

predileção apenas pelo Fonseca Soares culto é, com efeito, entendê-lo pela metade.

Pécora (2001, p.205) observa esse mesmo procedimento crítico aplicado à obra de

Bocage. Para ilustrar sua argumentação, usa como exemplos Nelson Rodrigues e Olavo Bilac,

este “desejava um Bocage limpo da lama que o século acumulara sobre seu gênio”; aquele

“apenas queria saber do chocarreiro”. Para o autor, o melhor a fazer é “deixar de lado essa ideia

de um autor que cabe recortar ou repartir e servir de gosto”. Em relação ao Fonseca/Chagas é

mister seguir o conselho de Alcir Pécora, ou seja, não faz sentido ora engrandecer a obra

religiosa de Frei Antônio das Chagas, eclipsando as muitas composições escritas por este autor

na fase mundana; ora enaltecer a poesia culta escrita por Fonseca Soares obscurecendo sua

poesia vulgar. Deste modo, se quisermos entender a obra deste autor a fim de resgatar seu real

valor, temos que analisar em cada parte (fase mundana, fase religiosa, poesia culta, poesia

vulgar, poesia e prosa religiosa) as regras de composição que norteiam o decoro específico de

cada gênero e, ainda, notar os reflexos estilísticos peculiares ao autor atuando em suas diversas

composições, como observa Pimentel (1889, p.91), cotejando a prosa religiosa de Freia Antônio

das Chagas com seu coetâneo Padre Antônio Vieira:

Em Vieira sobeja o esculptor, mas falta o poeta, comquanto hoje se conheçam versos seus. É grande, mas frio. N’esta prosa do padre Chagas (o Desengano do Mundo), ao mesmo tempo que vae cantando o scopro na mão do estatuário sobre o marmore, ouve-se, à mistura, o soluçar longínquo de uma Lyra de poeta, que aparta do mundo. É que nas lyras dos poetas desilludidos fica por muito tempo a resonancia do conto do cysne moribundo. Nos poetas é realidade o que nos cysnes é fabula (PIMENTEL, 1889, p.91).

6 Pécora (2001, p. 211) observa que o decorum das poéticas classicizantes seguia o sistema de “conveniências que faz corresponder o estilo à matéria tratada, e assim, incorpora regradamente mesmo a matéria mais vil”. Em se tratando dos gêneros baixos, ainda citando este autor, “ao menos na chave aristotélica largamente reposta pelas poéticas dos séculos XVII e XVIII ibéricos, valem critérios de mestria de composição, engenho de invenção e refinamento de gosto e doutrina, tão rigorosos quanto para os gêneros elevados (ib. id. p. 206).

Page 14: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

14

Aguiar e Silva (1971) já citado em páginas anteriores também faz alusão a Fonseca

Soares em seu livro Maneirismo e Barroco na Poesia Lírica Portuguesa. Nesta importante obra

para os estudos da poesia seiscentista, a obra fonsequiana é citada, em primeiro lugar, quando o

autor faz reflexões acerca do problema da autoria relacionado à produção literária desta época.

Algumas composições de Antônio da Fonseca Soares, assim como a maioria de seus

contemporâneos, foram erroneamente atribuídas a outros autores ou figuram como anônimas

nos cancioneiros ou compilações de poesia do século XVII7.

Ademais, a lira fonsequiana se faz presente no livro de Aguiar e Silva para efeito de

ilustração dos temas e motivos presentes nas manifestações poéticas seiscentistas. A referência

para os exemplos são os romances, cuja tendência anti-petraquista, segundo o autor, reduz o

amor ao gozo carnal, sua tendência para sátira aproxima-os do erotismo, exemplificado em

temas, como o amor freirático. No capítulo “Linguagem e estilo da lírica barroca”, novamente,

Aguiar e Silva recorre a um romance de Fonseca Soares, intitulado “Olyva, insigne, e famoso”,

desta vez para discorrer acerca da “reação” ao estilo culterano, registrada nas muitas poesias de

tom satírico compostas por poetas dos seiscentos.

O livro de Aguiar e Silva volta-se a critérios que suscitam reflexões acerca da

importância do estudo das fontes para se entender melhor manifestações literárias, cujos

padrões de produção e recepção não atendem ao conceito de autoria tal qual a entendemos

hoje. Nas sociedades escribais, as obras corriam, muitas vezes, soltas em manuscritos,

raramente eram publicadas com a estampa do autor na folha de rosto, os homens de Letras

desempenhavam outras funções pra sobreviver ou eram “patrocinados” por mecenas. Diante

desta negligencia autoral, copistas, sem muito critério nas edições, na dúvida, atribuíam autorias

verossímeis, porém nem sempre verdadeiras e, como isso não bastasse, alguns alteravam o

texto. Daí a importância do trabalho filológico e dos critérios de Critica Textual para edições

7 Aguiar e Silva (1971), no capítulo “Problemas de Crítica Textual”, propõe um reflexão acerca dos critérios usados por aqueles que se propunham compilar as poesias do século XVII. Nessas compilações os erros nas atribuições eram comuns e, por esse motivo, nem sempre tais edições dispensam confiabilidade. Nas palavras deste autor, “enquanto decerto proliferavam os cancioneiros de mão – moda cortesanesca documentada no teatro vicentino e processo de fazer circular a poesia numa sociedade onde ainda não se enraizara o hábito, ou onde escasseavam os meios materiais, de editar obras poéticas -, poucos poetas cuidavam de reunir e acepilhar as suas obras no sentido de as darem à estampa, de modo a salvar assim as suas criações da precariedade dos manuscritos e da contingência das edições póstumas organizadas por outrem (ib. id. p.47-8). No caso de Fonseca Soares, declara que alguns de seus poemas figuram, na Fenix Renascida, atribuídos a outros autores ou como anônimos e que há alguns Sonetos de Antônio da Fonseca Soares Atribuídos a Gregório de Matos na edição das Obras de Gregório de Matos da Academia Brasileira, Rio de Janeiro, 1923-1933.

Page 15: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

15

fidedignas, a fim de corrigir possíveis erros e injustiças a autores e obras hoje jazendo em

arquivos e bibliotecas públicas.

Ademais, o autor de Maneirismo e Barroco na Poesia Lírica Portuguesa focaliza seu

estudo primordialmente no fenômeno literário. Assim, procura entender o momento de transição

entre as manifestações literárias do renascimento ao Barroco: o Maneirismo. Deste modo,

declara que esse divisor de águas cedeu muito de seus temas e motivos à poesia do século

XVII, entendida não como uma degeneração do classicismo ou, por uma explicação sócio-

política, de degeneração da poesia portuguesa seiscentista devido ao processo de decadência

da nação portuguesa. Assim são entendidos Antônio da Fonseca Soares e seus coetâneos

nesse livro.

Do século XX em diante, os trabalhos acerca do Fonseca/Chagas, dos quais temos

conhecimento, voltam-se essencialmente ao estudo da tessitura textual e sua temática, como

efeito de ilustração podemos citar o artigo Antônio da Fonseca Soares, an imitador of Góngora e

Cálderon, de Eunice Joner Gates (1941); o trabalho de Chistopher Chapman Lund, Conceptismo

In Three Seventeenth-Century Portuguese Poets: Antonio Barbosa Bacelar, Jeronimo Baia And

Antonio Da Fonseca Soares (1974), no qual se estuda a poesia em língua espanhola de

Fonseca, tendo como corpus o poema Soledades e o épico Filis y Demofonte; C. M. Almeida,

Romances de ausência e saudade de Antonio da Fonseca Soares (1992), que trabalha com 15

poemas do códice 3549 da Biblioteca Nacional de Lisboa, abordando a temática da saudade; o

trabalho de Crítica Textual feito por Maldonado (1992) António da Fonseca Soares (Frei António

das Chagas): Trinta Romances Inéditos e, por fim, já no século XXI, a dissertação de mestrado

de Gelise Alfena, Santinho do pau oco: sensualidade e religiosidade nos romances do Padre

Antônio da Fonseca (2006), na qual foram estudados os aspectos eróticos de um corpus de 20

poemas, contidos pelo ms. 2998 BGUC.

Entendemos que as várias visões acerca do Fonseca/Chagas expostas nesse estudo

ilustram a diversidade das perspectivas críticas voltadas à obra literária deste autor e, de modo

geral, à poesia seiscentista da segunda metade do século XVII. Desde a crítica mais ferina feita

por Verney diluindo-se no processo de reabilitação da poesia seiscentista até a importante obra

de Maria de Lourdes Belchior, passando por uma fase mais criteriosa, amadurecida, mais

preocupada com o estudo da obra, o duplo Fonseca/Chagas vem sendo considerado peça

importante deste fenômeno literário; comparado, muitas vezes, aos maiores autores desta

época. Destaca-se, aqui, a importância do conhecimento dessas várias visões e sua contribuição

Page 16: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

16

no que se refere ao entendimento e à busca de critérios mais justos para o estudo e

consequente resgate da obra fonsequiana.

Referências bibliográficas

ALFENA, Gelise. Santinho do pau oco: sensualidade e religiosidade nos romances do Padre Antônio da Fonseca. Assis: [s.n.], 2005.

ALMEIDA, C. M. de O. M. Romances de ausência e saudade de Antonio da Fonseca Soares, Transcrição de romances extraídos do Códice no 3549 da Biblioteca Nacional. Uma leitura comparada do códice no. PBA132, e códices 3368, 3566, 6104, 6269, 6430, 8575, 8576, 8581, 8614, 9321, 9322 da mesma Biblioteca, precedido de um breve estudo histórico e literário. Dissertação de mestrado em Literatura e Cultura portuguesas. FCSH – Faculdade de Ciências e Sociais e Humanas, Departamento de Literatura Portuguesa, Universidade Nova de Lisboa, 1992.

BRAGA, T. História da Literatura Portuguesa: Os Seiscentistas. Vol. 3. Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 2005

BRANCO, C.C. Curso de Literatura Portuguesa. Lisboa: Liv. Editora de Matos e Moreira & Cª., 1876.

CHAGAS, Frei A. Cartas Espirituais. Seleção M. Rodrigues Lapa. Lisboa: Sá da Costa, 1939.

DENIS, F. Résumé de l'histoire littéraire du Portugal: suivi du Résumé de l'histoire littéraire du Brésil Paris: Lecointe et Durey, 1826. Disponível em: http://books.google.com/books?id=Ehtb-PwedbIC&dq=ferdinand+denis+portugal&source=gbs_navlinks_s. Acesso em 3 de nov. de 2010.

GATES, E.J. Antonio da Fonseca Soares, an imitator of Góngora and Calderón. Hispanic Review, v. 9, n. 2, 1941, p. 275-286.

LUND, C. C. Conceptismo In Three Seventeenth-Century Portuguese Poets: Antonio Barbosa Bacelar, Jeronimo Bata And Antonio Da Fonseca Soares. Ann Arbor: University Microfilms Intl., 1974.

MALDONADO, M. H. António da Fonseca Soares (Frei António das Chagas): Trinta Romances Inéditos. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1992.

PÉCORA, A. Máquina de gêneros. São Paulo: Editora USP, 2001.

PIMENTEL, A. Vida Mundana de um frade virtuoso. Lisboa: Livraria Antônio Maria Pereira, 1889.

PONTES, M. L. B. Frei Antônio das Chagas: um homem e um estilo do século XVII. Lisboa: Sá da Costa, 1953.

Page 17: O CÂNONE E O BARROCO LUSO-BRASILEIRO: O LUGAR DE …sgcd.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/SEL/anais_2010/andred... · ou seja, são dois modos de viver em só vida, pois o

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”

17

VERNEY, L. A. Verdadeiro Método de estudar. Vol. 2. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1950.

SILVA, V.M.P.A. Maneirismo e Barroco na Poesia Lírica Portuguesa. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1971.

SISMONDI, S. De la littérature du midi de l'europe. Tome second. PARIS, 1813. Disponível em: http://books.google.com/books?id=vRgPAAAAQAAJ&vq=d%C3%A9cadence&output=text&source=gbs_navlinks_s. Acesso em 3 de nov. de 2010.