Mundo Verne 2

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  • 8/6/2019 Mundo Verne 2

    1/21

    Novemb

    Dezem

    2

    Um francs de visita

    a Portugal

    Jean-Michelem seu tempo

    O farol que ilumina

    o fm do mundo

    As verdadeiras aventuras do capito Hatteras

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    Novembro - Dezembro 2007

    Ariel Prez

    Passaram dois meses desde oprimeiro nmero e muitas coisasboas ocorreram Mundo Verneneste perodo.

    Em 3 de Setembro, dia em queoi publicada na Internet, o blogde Passepartout ez eco da sadada edio, como tambm, qua-se instantaneamente, apareceu areerncia nova revista no blogem portugus de Frederico Jco-me. O portal rancono, LionelDupuy, um dos mais renomeadosestudiosos de Verne e que vive na

    sua mesma cidade, lanava pala-vras elogiosas: Que trabalho! Voucolocar um link no meu portal! e-lo. Zvi, Jean-Michel, Garmt, Bill eoutros activos investigadores ver-nianos tambm deram a sua apro-vao. Na rea ibero-americanatambm houve repercusso, desdeo blog de lvaro ao site de Cristian,ambos peruanos. No nal de Outu-bro oi mostrada na De Verniaan, arevista ocial da Sociedade Holan-desa Jules Verne. Em resumo, a MVcomeou com o p direito.

    Muitos devero ter achado es-tranho o acto da revista, apesar deter sado com um mapa da regioibrica e da Amrica do Sul (queinclui Portugal e Brasil), apenas tersido editada em espanhol. O mes-mo pensou o portugus Fredericoque aps dois dias de ter visto arevista me contactou dizendo, e

    cito as suas palavras: Reparei, na

    capa da revista, que est includona parte superior esquerda o mapasul-americano e ibrico onde se in-clui o mapa do Brasil e de Portugal.Foi ento que me surgiu uma ideia.Estaria interessado em ter uma edi-o traduzida para portugus? Eu,

    juntamente com outros vernianosaramos a traduo para a nossalngua e seria uma excelente oportu-nidade para que todos, na Amricado Sul (Brasil) e na Ibria (Portugal),

    pudessem ler a revistaImediata-mente respondi que estaria muito

    agradecido e que, de acto, seriaalgo maravilhoso poder ter a re-vista nos dois idiomas. Uma boaquantidade de emails, documen-tos e correces (com mensagensem portugus e em espanhol) sesucederam e para meados de Se-tembro, uns 10 dias depois do con-tacto, a edio traduzida, eita emconjunto com Carlos Patricio noBrasil, j estava pronta.

    O esoro destes dois amigosno s signica que se publiquenos dois idiomas, como tambmimplica que agora contamos comuma verdadeira publicao ibero-americana. Muito obrigado Fred,muito obrigado Carlos!

    Alm disto, a segunda entregatraz como novidade duas novas sec-es e um revelador e interessanteartigo de William Butcher, um dosmais importantes investigadores

    do tema verniano nos nossos dias

    Nestenmero

    Universo verniano

    Um eco que se estende Ibero Amrica

    e um pouco mais alm...

    3A imagem... e semelhana

    4Uma viagem ao extraordinrio

    5 O arol que iluminao m do mundo

    Terra Verne

    8

    conversa com...

    Jean-Michelem seutempo

    Cartas gaulesas

    21

    19Pierre-Jean.Captulo 2Sem publicaco prvia

    2007. Mundo Verne.Revista bimensal em castelhano e portugus sobre a vida e obra de Jules Verne.

    Edio e desenho: Ariel Prez.Comit editorial: Ariel Prez, Cristian A. Tello, Raael Ontivero e Yaikel guila.

    Colaborao: Gabriel Apollinaire. Traduo portuguesa: Frederico Jcome (2-10, 14-15) eCarlos Patricio (11-13, 16-18, 21). Distribuio gratuita. Correio electrnico: [email protected].

    Internet: http://jgverne.cmact.com/Misc/Revista.htmReproduo permitida se se citar a onte.

    Um rancsde visita

    a Portugal

    As verdadeirasaventuras

    do capito Hatteras (1)

    11

    16

    Esboos ibero-americanos

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    Nmero 2

    Manuscritos de Verne

    viajam ao espao

    Em Janeiro prximo, ir ser lan-ado desde a base de Kourou, o ve-culo de transerncia automatizadoque levar, para alm do seu nome,

    muitos dos seus manuscritos paraa estao espacial internacional.Ter uma carta astronmica pinta-da por Jules Verne, como tambmuma nota escrita pela sua mo. Estapreciosidade a p necessitaria de 8anos e 282 dias para chegar Lua,numa cpsula expressa que circu-la a 60 Km. por hora chegaria em 9meses, enquanto que velocidadeda luz, 1 segundo e um quarto seriasufciente. Far igualmente parte

    desta viagem extraordinria, umaedio ilustrada de Da Terra Luae de Volta da Lua, e uma reprodu-o de uma dedicatria de Viagemao Centro da Terra datada de 1881:Em rente! Este tem que ser o lemada humanidade.A ideia desta mag-nca homenagem ao homem queimaginou o ser humano no espaodesde o sculo XIX e que ez sonhartantas geraes de leitores, oi do

    astronauta rancs Jean-FranoisClervoy, e de um dos responsveisdo projecto ATV (Automated Trans-er Vehicle), Robert Laine.

    Jean disse que no

    h negcio

    Filho de Jean, neto de Michel etetraneto de Jules, Jean Verne este-ve presente no ms de Outubro emOrleans, para participar na exposi-

    o de uma coleco consagradaao seu tetrav. Entrevistado paraeste ocasio pelo jornal peridicolocal, La Rpublique du Centre nasua edio de 15 de Outubro, decla-rou que reparou desde muito cedona energia dispendida pelo seu avsobre Jules Verne e oi idade de 15anos, devido a uma observao deum seu proessor de rancs a pro-psito das suas altas de ortograa,que se deu conta que devia estarconsciente de que era um Verne.

    Ao ser interrogado por este jor-nal sobre a importncia do neg-cio Jules Verne, respondeu: noexiste tal coisa, para comear por-que as suas obras esto em domnio

    pblico, algo que muito bom, mastambm por que, de maneira muitoanedtica... os herdeiros no oramadministradores exemplares. E con-cluiu: No deendo uma capitaliza-

    o (por parte dos descendentes) volta do nome de uma celebridade.

    As obras s por si sobrevivem o ho-mem (...).

    A propsito da herana intelec-tual declarou : mesmo quando Ju-les Verne viveu aastado da vida dasociedade, tratou, na sua obra, dos

    problemas do seu tempo e dos dehoje, notavelmente os ecolgicos, osculturais, os negcios, da guerra e atdo estrelado. sufciente para lerem ese convencerem.

    Exposio Da

    imaginao

    realidade

    Depois de uma tourne triunalpor toda a Espanha no ltimo ano, aexposio Jlio Verne, da imagina-o realidade estar presente no-

    vamente at ao m deste ms emAstillero, no norte de Espanha.

    Nova verso

    de 20 000 lguas?

    Por ocasio do lanamento do seunovo lme 30 dias de noite, orealizador e produtor americanoSam Raimi (conhecido pelassuas trs partes acerca do mtico

    Spider-Man), revelou que tem umprojecto para produzir uma novaverso cinematogrca da obra deVerne. Vamos ento, esperar

    Colaboraes

    J escreveu uns quarenta artigos sobre Verne,a maioria em rancs. Publicou, em 2006, JulesVerne: The defnitive biography que recebeu cr-ticas muito avorveis. J colaborou com MichaelCrichton para vender 50 000 exemplares por ano.

    William [email protected]://home.netvigator.com/~wbutcher/

    Engenheiro peruano, mantm um site sobreVerne desde 2004. um dos vernianos maisactivos na Amrica-latina. J escreveu artigose traduziu vrios textos do escritor rancs.

    Cristian [email protected]://www.geocities.com/paginaverniana/ctd.htm

    Inormtico de profsso. Reside em Cuba. J publicou artigos sobre Verne em vrios pases. Mantm um site na Internet sobreo escritor desde 2001. J traduziu vriostextos inditos de Verne para castelhano.

    Ariel [email protected]://jgverne.cmact.com

    Estudante universitrio na aculdade deCincias do Porto no curso de Astronomia.Vive em Portugal. Mantm desde 2006, onico blog em portugus na Internet. Almdisso, tem um site sobre o escritor rancs.

    Frederico [email protected]://jgverneportugal.blog.pt

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    Novembro - Dezembro 2007

    Em O arol do fm do mundo esto clara-mente denidos dois grupos de personagens

    que protagonizam a eterna luta entre o bem e omal. Esta caracterstica tpica dos romances emolhetim, tem como deeito mais notrio, a apre-sentao pobre de um perl psicolgico, comoacontece nos heris e viles.

    Apesar desta simplicao esquemtica, po-de-se encontrar na obra alguns personagens in-dividualizados que tm um carcter notavelmen-te desenvolvido. Destacam-se Kongre e Vasqueze, em menor medida, John Davis e Carcante.

    Verne no oerece uma descrio espiritual

    dos seus protagonistas principais, porm mostrauma orma impressionista de escassa proundi-dade, descrevendo certos caracteres relativa-mente complexos que escapam ao estereotipo.

    Talvez a personalidade mais conseguida emais atractiva seja a de Kongre, o cruel pirata aquem o veterano e valente guarda Vasquez de-ver enrentar na solido da Ilha dos Estados.A sua situao de marginal e condenado a um

    destino atal, d-lhe novas caractersticas quevo mais alm de uma simples caracterizao do

    malvado.Na obstinao com que Kongre enrenta odestino que o persegue e atormenta, h umadimenso de rebeldia pura de um homem queno se rende perante o sistema que o excluiu.Adquire assim o perl de um heri anarquista edesesperado onde o suicdio nal sobressai mar-cadamente. Em relao a Kongre, o chee do gru-po, ignorava-se tudo sobre a sua vida.Nunca se prenunciara acerca da sua na-

    cionalidade. Era um verdadeiro bandido de-sonrado pela prtica de todo o tipo de crimes.

    Estas so as palavras com que Verne descre-ve literalmente o seu vilo. E apesar das notasdepreciativas com que o autor o apresenta, sa-tnico e cruel, o mistrio da sua personalidadee a sua prpria rustrao so, sem dvida, as ca-ractersticas que mais o realam e que azem deKongre o personagem mais interessante da obra.

    Quanto ao amoso Farol do Fim do Mundo,os comandantes que o procurem agora!

    Ser como se estivessem cegos!

    No tinham ainda dado cem passos quando sedeu uma detonao e um corpo, projectado se

    veio despedaar no mar

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    Nmero 2

    Cristian A. TelloO arol que ilumina o fm do mundo

    A histria do arolO arol de So Joo de Salva-

    mento encontra-se a noroeste dailha dos Estados, no departamentode Ushuaia, na provncia argentinada Terra do Fogo. Foi construdo noano de 1884 e uncionou at 1899,sendo naquela poca a nica luzque os navegantes tinham no maraustral.

    Tambm era a ltima reernciaantes do desconhecido: a Antrtida.Jules Verne inspirou-se nele para es-crever, j no nal dasua vida, a versooriginal da sua

    obra O arol dofm do mundo.

    Tudo indica queo autor conheciaa zona, pois terlido e ouvido osrelatos dos via- jantes, deixan-do-se voar naantasia a partirdos mapas dapoca.

    A construo original permane-ceu em runas durante muitas dca-das, mas em 1997 oi reconstrudoe as peas originais encontram-seactualmente exibidas numa rpli-ca localizada no Museu Martimode Ushuaia. uma casa octogonal,baixa, que se encontra sobre umproeminente rochedo, com a lan-terna no seu tecto, e em cujos ladosse encontram grandes janelas de

    vidro por donde emergia a luz, pro-porcionada por oito lmpadas depetrleo. Nos nossos dias, existemoutros mais austrais, mas a obra deVerne imortalizou o nome de aroldo m do mundo para o de SoJoo de Salvamento, sendo na suapoca o que se encontrava mais asul do planeta.

    Caractersticas e estrutura da

    obra.O arol do fm do mundo oi pu-

    blicada no Magasin dducation et

    de Rcration, de Agosto a Dezem-bro de 1905, ano da morte de Verne.Foi escrita em 1901, pois o escritorrancs levava varias obras adianta-das devido ordem de entrega dassuas publicaes. um dos melho-res relatos da ltima etapa literriade Verne e, como requente nesteperodo, os elementos realistas pre-

    d o m i n a msobre a c-o ants-

    tica.A die-

    rena dam a i o r i adas Via-gens Extra-ordinrias que, ema l g u m a s ,no predo-mina umav i a g e m

    como o condutor da aco, e nestecaso, a ilha dos Estados converte-senuma priso de solido e desolaoe o mar, um muro intransponvel,que evita a uga dos piratas do ban-do de Kongre.

    Deve-se recordar que O arol dofm do mundo oi a primeira obramodicada por Michel, o lho deJules, logo depois da morte de seupai, apesar de a dierena entre

    ambos os textos no ser consi-dervel. Depois de acaloradasdiscusses entre Hetzel lho eMichel, este aceita corrigir o ma-nuscrito original da historia, como objectivo de melhorar a obra etorn-la mais atractiva, trabalhoque ez em apenas um ms emeio, comeando por ser publi-cada, por captulos, a partir de

    Agosto desse ano. Foi dividida emduas partes, a primeira com oito ca-ptulos e a segunda com sete.

    O argumentoNo local mais distante e australda Terra do Fogo, onde confuemambos oceanos, o Atlntico e o Pa-cco, encontra-se a ilha dos Esta-dos. Havia dois anos que aquelasremotas paragens se haviam con-vertido no regio ideal de um ban-do de quinze piratas s ordens deKongre, seu temvel chee, que, jun-to com os seus comparsas, ugia devrios delitos e crimes. Tinham se-

    leccionado o lugar no s pelo seuisolamento, mas tambm porquesabiam que l ocorriam constantesnaurgios. Mas, apesar de serembons navegantes, no conseguiramevitar a catstroe da sua embarca-o quando esta oi destruda aoser arrastada contra as rochas dailha. Ao verem-se obrigados a carem terra, decidiram permanecerna costa am de assaltar os barcosnauragados que atraam, logo de-pois de assassinar os sobreviventes.

    O bando de Kongre vinha acu-mulando riqueza e esperava a opor-tunidade de capturar um barco emboas condies para escapar. A si-tuao dos piratas mudaria quan-do, em Outubro de 1858, aportou

    Rplica do arol na mesma escala, noMuseu Martimo de Ushuaia.

    O actual arol do fm do mundoem Ushuaia, na Patagnia, Argentina

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    Novembro - Dezembro 2007

    o Santa F da marinha argentina. Achegada do navio correspondeu preocupao do governo em impe-dir os naurgios na zona tendo sidodecidido a construo de um arol.

    Ningum suspeitou da presenados piratas durante os trabalhos dasua construo visto que se reugia-

    ram na extremidade ocidental dailha.

    Ficou encomendado a sua guardaa trs homens argentinos: Vasquez,Moriz e Felipe, que deviam cumprircom a sua responsabilidade durantetrs meses, tempo em que se envia-riam novos homens para os substitu-rem.

    Depois da partida do Santa F, a10 de Dezembro, comearam os pro-blemas para Vasquez, o chee dos

    aroleiros. Kongre e os seus homens,depois de tomarem posse do Maule,um barco chileno nauragado noutrazona da ilha, decidem reparar os da-nos do navio, assassinar os aroleiroscom a inteno de se apropriaremdo arol e p-lo ora de servio, amde continuar com os seus actos depilhagem.

    Kongre combina junto com Car-cante, o nmero dois do bando,

    presentear o Maule como o primei-ro barco que o arol podia auxiliar.Como a embarcao se aproximoudo arol, Felipe eMoriz sobem a bor-do para darem asboas-vindas, po-rm so surpreen-didos pelos piratasque os assassinamsem compaixo.Apenas Vasquez

    sobrevive, depoisde presenciar esteacto, e tentar so-breviver escondidonuma caverna como risco de ser des-coberto.

    Com o passardos dias, Kongre e

    o seu bando comprovam que esca-par da ilha dos Estados no ser ta-rea cil e descobrem que o Mauleapresentava avarias mais srias doque as que pensavam. Alm disso,as condies do tempo no se mos-travam avorveis para zarpar. A Vas-quez, que via com ira como os piratas

    se iam enriquecendo com os naur-gios de outros barcos, s lhe ocorriaenrent-los, impedindo que eles pu-dessem ugir at chegada do barcoque traria os outros guardas.

    No dia 18 de Fevereiro, Vasquezpresencia o naurgio do Century,um barco norte-americano que ter-mina destroado ao no observar aluz do arol.

    Apesar do seu esoro, Vasquezs consegue resgatar com vida John

    Davis, o imediato, que se converterem seu companheiro ideal para en-rentar os piratas.

    No conronto que se segue, deba-te-se a desesperada luta pela liber-dade de Kongre e seu bando, com atenacidade e o herosmo destes ho-mens, com quem se aliaram os ele-mentos da Natureza e o implacveldecorrer do tempo.

    Em resumo, uma interessante

    obra sobre um tema pouco explora-do, apesar de Verne o ter eito, masainda actual hoje em dia.

    Os personagens da obraVasquez. Argentino, quarentae sete anos. Guarda-chee doarol.Felipe. Argentino, quarentaanos. Guarda do arol.Moriz. Argentino, trinta e seteanos. Guarda do arol.Laayate. Argentino. Coman-dante do aviso Santa F.Riegal. Segundo comandantedo aviso Santa F.John Davis. Norte-americano.

    Nurago do Century. Com-panheiro de Vasquez.Kongre. Chee do bando dequinze piratas instalado nailha dos Estados.Carcante. Chileno. O nmerodois do grupo.Vargas. Chileno. Carpinteiro dobando.

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    Nmero 2

    Ariel Prez

    O flmeO argumento do lme diere um

    pouco do original da obra quanto aonome dos personagens e histria.Kongre (interpretado por Yul Bryn-ner) e o seu bando assaltam um arolsituado numa ilha rochosa e matamtodos que l se encontram, excep-

    to um, Will (Kirk Douglas), que con-segue escapar. O plano de Kongreconsiste em apagar a luz do arol eesperar que algum barco nauraguepara o pilhar e roubar. Will tentarimpedir que os piratas sigam com oseu plano. Um barco encalha na ilhae Arabella (Samantha Eggar), uma jovem que consegue sobreviver matana, ajudar tambm a acabarcom os piratas. A avor da verso ci-nematogrca tenho que assinalar aboa escolha de actores para o lme.

    Bibliograa

    El aro del n del mundo. Aulade Literatura. Editorial VicensVives, Barcelona, 1995.Ariel Prez. La autenticidadde las ltimas novelasvernianas. El aro del ndel mundo. Disponvel em:http://jgverne.cmact.com/Articulos/Autenticidad.htm.Dennis Kytasaari. Les VoyagesExtraordinaires. Le Phare dubout du monde. Disponvelem: http://epguides.com/djk/JulesVerne/works.shtmlDiario Tiempo Fueguino.La luz del n del mundo.Disponvel em: http://www.

    tiempoueguino.com.ar/main/modules.php?name=News&le=article&sid=1138Wikipdia. Faro del Fin delMundo. Disponvel em:http://es.wikipedia.org/wiki/Faro_del_Fin_del_Mundo

    Entre os romances pstumos deJules esquece-se muitas vezes de Oarol do fm do mundo. Este oi a pri-meira modicada por Michel, apesarque a dierena entre ambos os tex-tos no ser assim to grande. Alis, aSociedade Jules Verne no editou averso original pois, primeira vista,o texto impresso parecia idntico aodo manuscrito.

    Jules Verne escreveu esta obra, deum tema um pouco sombrio, no anode 1901 em apenas dois meses, logodepois de ter escrito dois romancesde humor: O Piloto do Danbio e Acaa ao meteoro. A histria relativa

    ao arol resulta de um trgico relato edesenrola-se em 1860 logo depois dasua construo na ilha dos Estados.

    Raras vezes o rancs escreveuem todas as suas obra sobre seme-lhantes actosde pilhagem oubandos de pira-tas assassinos,sem nem lei.

    Jules que ti-nha terminado

    as correcesda sua obra eque pensavaestar previstaser publicada,escreve a Het-zel lho um msantes da suamorte, onde lhediz: Enviar-lhe-ei, brevemente,

    o novo manus-crito. No sero que lhe alei,O Invisvel, mas sim O arol do fm domundo, na ltima ponta da Terra doFogo. Logo depois da morte de Ver-ne, Hetzel lho que tinha o manus-crito em seu poder considera-secom o direito de publicar o livro aoqual Michel se nega e o contesta:

    Voc nega-se simplesmente a entre-gar-me o que me pertence. Depoisde penosas discusses e com a in-terveno dos advogados, Michelaceita, em Julho de 1905, corrigir asprovas de O arol do fm do mundo,com o objectivo de melhorar a obrae torn-la mais atractiva, algo que ezem apenas um ms e meio, uma vezque comearia a aparecer na revistaMagasin dducation et de Rcrationa partir de 15 de Agosto desse pr-prio ano.

    Entre as ligeiras modicaes queMichel ez ao texto original, gura aeliminao dos contnuos e inteis et

    (e) no incio dos pargraos.Michel tambm corta algumas

    oraes no texto e suprime, tam-bm, numa das cenas da histria, aslgrimas de Vasquez e as suas pre-

    ces a Deus, queno texto originalso necessriaspara contraporcom os apelos aoDiabo proeridospelos bandidos.

    Michel acres-centa um epis-dio ao captuloXIII com o ob- jectivo de inten-sicar a aco.A descreve umaaco herica deVasquez: azersaltar o leme daescuna dos ban-

    didos com umcartucho da suainveno. Como

    algo curioso h que apontar queVerne esquece, como Paganel emOs flhos do capito Grant, que osbrasileiros alam portugus. O lhode Jules modica esta rase sem darconta do erro do seu pai

    Uma obra, dois escritores e outras ideias

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    Frederico JcomeUm rancs de visita a Portugal

    Jules Verne um dos grandesnomes da literatura mundial. A suaobra vastssima mas em nada secompara com as dimenses daimaginao que, certamente vaidespertar, na mente de quem o ler.Tendo um livro em sua mo, o lei-tor vai a todos os conns do mun-do conhecido e desconhecido eat aos outros astros. As ViagensExtraordinrias ocorrem em todosos continentes e em todos os oce-anos, nos plos, nos desertos, nasforestas, no undo dos mares, nasproundezas da Terra, com todasas raas e com copiosa documen-

    tao geogrca, histrica, cient-ca, histrico-natural e lingustica. undamental que nestas obrasse incluam caractersticas ortesnas personagens centrais. So emgeral nobres, intrpidas, simpti-cas, por vezes extravagantes, e emtodas elas transcende um undode humanidade, de amor ao prxi-mo, de desprezo pela prpria vida.

    As qualidades e deeitos queclassicamente se atribuem aos v-rios povos, so sempre aproveita-dos e realados, nos livros de Verne,sendo evidente a sua ltragem pelamente de um rancs. Por exemplo,os ranceses so os mais nobres,mais intrpidos, os mais valorosos.Por outro lado, Verne reere-se re-petidas vezes aos portugueses masnem sempre com justia. Atribui-nos a culpa de crimes de escravatu-ra numa poca em que Portugal j

    tinha h muito libertado os escravose perseguia o trco de negros emtoda a rica, azendo guerra aosmercadores de escravos e aos naviosque se serviam, entre os quais secontavam navios ranceses. tam-bm de lamentar que Verne, omi-tisse os portugueses numa lista deexploradores do interior da rica, eque deixasse que uma personagem

    sua alasse dOs Lusadas comouma obra da literatura espanhola, jogando com o lugar-comum darivalidade cultural luso-castelhana.

    Porm, o seu conhecimento dahistria das navegaes portu-guesas, transparece visivelmentenas obras As Grandes Viagens eos Grandes Viajantes e CristvoColombo, e isso de realar. Soreeridos bastantes navegado-res portugueses como Vasco daGama, Bartolomeu Dias, Tristo VazTeixeira, Diogo Co, Joo Gonal-ves Zarco, os seus eitos, como o caso do caminho martimo para

    a ndia e a passagem pelo Caboda Boa Esperana, a descobertadas ilhas da Madeira, dos Aores ede Cabo Verde, e tambm o papelpreponderante da casa real por-tuguesa nas descobertas eitaspelos navegadores portugueses.

    tambm de louvar outras re-erncias ao nosso pas como aonosso povo. o caso, por exemplo,da personagem central da obra AAldeia Area, um portugus denome Urdax; em A volta ao mun-do em 80 dias onde Passepartoutse encontrou, em Singapura, comnumerosos passageiros indianos,senegaleses, chineses, malaios eportugueses que, na sua maiorparte, ocupavam camarotes de se-gunda; e em Um Capito de quin-ze anos onde Verne d a naciona-lidade portuguesa ao cozinheirodo Pilgrim e reere um encontro

    da senhora Weldon e seus compa-nheiros com uma caravana de ho-nestos comerciantes portugueses.

    Reerente ao pas, este men-cionado em pelo menos trs obras.So elas Da Terra Lua onde Portu-gal reerido como um dos pasesque apoiam economicamente (30000 cruzados) o projecto dos mem-bros do Gun-Club; O Raio Verde

    onde as personagens mencionamPortugal como um dos destinospara se instalarem a beira-mar amde observarem a despedida do sol,e, em 20000 Lguas Submarinasquando o temvel Nautilus passapor guas portuguesas na sua er-rtica e violenta saga submarina.

    A agncia Thompson & C. Para alm destas reerncias a

    Portugal e aos portugueses, decitar a obra, A Agncia Thompson& C., onde Verne (Jules ou Michel)ala sobre Portugal mais especica-mente dos Aores (Faial, Terceira e

    S. Miguel), Cabo Verde e da Ilha daMadeira, onde a infuncia portu-guesa se az presente. Deve-se re-cordar que este livro oi publicadodois anos depois da morte do gau-ls. Claro que seria vivel aviltar seruma obra pstuma, com base nummanuscrito original, mas neste par-ticular caso, o argumento carece decredibilidade, devido comprovada

    Capa da obra A Agncia Thomp-son & C.. A edio de 1979 daBertrand, com traduo de J. B.

    Pinto da Silva e Diogo do CarmoReis.

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    inexistncia do respectivo manuscri-to alegadamente atribudo ao prol-co novelista. Por isso muito se discutese ter sido escrito por Jules ou peloseu lho Michel. O que no h dvi-da, que oi escrito por um Verne!

    Esta obra, que em Portugal apenasse pode encontrar em alarrabistas,

    narra uma excurso num barco re-tado por uma agncia inglesa, comdestino aos arquiplagos dos Aores,Madeira e Canrias. Sabe-se que o paiVerne visitou Portugal continentalmas, como tambm o lho, nunca vi-sitou as ilhas. Por essa razo, entende-se que o autor ter ido buscar inor-maes a livros e notas de viajantes.

    Achei particularmente complexaa descrio toponmica dos Aores.No Faial, de salientar a exces-siva ironia do autor apontandoque As casas que bordam a ruada Horta no oerecem interes-se suciente para que a almadespreza as dores do corpo.Grosseiramente construdas,com paredes de lava de grandeespessura, a m de melhor re-sistirem aos tremores de terra,seriam o que h de mais banalse no ora a extrema porcaria

    que lhes d certa originalidade.O rs-do-cho destas casas geralmente ocupado quer porcavalarias, quer por estbulos.Os andares superiores, reserva-dos aos habitantes, enchem-se,graas ao calor e vizinhanados estbulos, dos aromas maisaborrecidos e dos insectos maisignbeis. Encontra-se aqui ealm, vrios deslizes topogr-cos, como tambm certos exa-geros como o caso dos excursio-nistas que oram perseguidos pelaobsesso dos sinos eternamenteagitados, e nas ruas estreitas e sujaspasseavam com desenvoltura por-cos enormes na sua grande maioria.

    As duas visitas a Portugal.O autor das Viagens Extraordin-

    rias elicitou-nos com a sua visita aPortugal por duas ocasies, em 1878e 1884. Chega pela primeira vez aonosso pas, a 5 de Junho de 1878 (azcento e trinta anos em 2008), com oseu iate Saint-Michel III. Veio acom-panhado com o seu irmo Paul, como editor Jules Hetzel Filho e com o

    amigo e ex-deputado Raul Duval. Jem Lisboa, aproveitou a manh paravisitar o consulado rancs e a Igre- ja de So Roque, e depois de almo-o, encontrou-se com David Corazzi(editor dos seus livros em Portugalatravs das Horas Romnticas) noseu escritrio. Ao nal da tarde, o-ram todos jantar ao amoso GrandHotel Central sito na Praa do Duqueda Terceira (Cais do Sodr) em Lisboa.

    Aps o jantar, e por convite de Cora-zzi, assistiram representao de umazarzuela nos Recreios Whittoyne.

    No dia seguinte, os seus compa-nheiros de viagem oram a Sintra, aocontrrio de Verne, que aproveitoupara descansar no beliche do seuiate. Da parte da tarde, o autor apro-veitou para apreciar a velha cidade

    que se manteve aps o terramotode 1755, Visitou a Torre de Belm eos Jernimos para depois ter um en-contro com os jornalistas no hotel.

    O escritor Pinheiro Chagas deixou--nos as impresses da entrevista queteve com Jlio Verne, num artigo que,no dia 7 de Junho publicou no Dirio

    da Manh, onde era redactor princi-pal: Esteve em Lisboa ontem e ante-ontem este eminente escritor, um dosromancistas mais originais do nossotempo, o homem que entrou com aluz da cincia nos domnios da ima-ginao, e soube encontrar, nessasminas to exploradas, novos veios deuma poderosa riqueza dramtica, deum interesse vivssimo, de um encan-to inexcedvel.[...] Foi porta do Ho-tel Central que o cumprimentmos.Encontramos um homem extrema-mente avel, de aparncia proun-damente simptica, as barbas queoram loiras, j um pouco grisalhas,olhar vivo, claro e inteligente. Mos-trou pelo nosso pas a mais pereitaboa vontade, alou modestamentede si e contou que trabalhava agorano seu Capitaine de quinze ans,[...].

    noite, jantaram novamente nohotel, mas agora com a companhia

    de clebres escritores portugueses.Por volta da meia-noite voltou abordo do seu iate, onde pernoitoupela segunda vez. Partiu para Cdizs 6 h de sexta-eira, dia 7 de Junho.

    Anos mais tarde, no dia 22 deMaio de 1884, Verne volta a Portu-gal no mesmo iate, num cruzeiroque o lavar a Roma onde ser re-cebido pelo papa Leo XIII. Destavez, em resultado de uma avaria nomotor, o Saint-Michel III demora-seem Vigo e chega a Lisboa a meio datarde. Verne nesse dia aproveitouapenas para tratar de assuntos re-erentes sua viagem e para visitaras corvetas Vasco da Gama e ri-ca atracados no porto da capital.

    No dia seguinte, aproveitou amanh para visitar novamente Da-vid Corazzi no seu escritrio e para

    Grand Hotel Central, na Praa Duque daTerceira (Cais do Sodr), Lisboa.

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    reabastecer o seu iate com carvoe leo. Almoou e ao nal da tar-de, aproveitou para se encontrar denovo com celebridades portuguesasagora no antigo Hotel Braganza.Estes zeram saber a Verne que Eade Queirz (1845-1900), uma gurado maior prestgio nas letras portu-

    guesas, no seu clebre romance OMandarim teria eito a descrio dacidade de Pequim, e da China,base-ando-se em elementos colhidos daleitura de Atribulaes de um chinsna China. Nesse mesmo jantar, umclebre pintor portugus, Colum-bano Bordalo Pinheiro, oereceu-lhe um esplndido prato de louadas Caldas da Rainha, representan-do um lagarto e outros animais.

    Esta curta estadia inspirou um jornalista (Raael Bordalo Pinheiro)a apresentar, no jornal Antnio Ma-ria, a caricatura de Jules Verne como seguinte texto: Jlio Verne o ilus-tre escritor rancs, chegou a Lisboa,jantou com David Corazzi e com ou-tros convidados daquele editor, en-tre eles este seu criado. S andandocom esta pressa, pode azer viagens Lua no tempo que qualquer gasta

    em ir Porcalhota (antigo nome daAmadora) comer coelho guisado.Que tanto ele como seu irmo Paul,aam boa viagem aos antpodasem 1 hora e e que se voltarem aLisboa se demorem mais um boca-dinho para lhe mostrarmos o jardimda Europa beira mar plantado.

    Aps o jantar oram todos ao teatroe por volta das 23.30h Verne despe-diu-se e voltou ao seu iate onde per-noitou mais uma vez. s 6h da manhde Sbado, dia 24 de Maio, o Saint-

    Michel III rumou a Gibraltar. Ineliz-mente Verne no tornou a voltar ao

    nosso pas por motivos de sade.

    Porque no uma homenagem

    em Lisboa?Resumindo, o escritor visitou-

    -nos duas vezes, parando no cami-nho em Vigo, onde se ez uma ho-menagem (deveu-se reerncia dabaa de Vigo em 20000 Lguas Sub-marinas), e permaneceu, em cadauma delas, trs dias onde visitou a

    cidade e jantou com altas celebri-dades da poca. Alm disso, comotambm citei atrs, so vrias asreerncias a Portugal e aos portu-gueses em algumas das suas obras,e por isso me pergunto o porqude ainda no se ter eito nenhumahomenagem ao autor na cidadede Lisboa, cidade que Verne mos-trou a mais pereita boa vontade!

    Tenho eito todos os esorospossveis para que este autor seja,para o ano aquando do 130 aniver-srio (1878-2008) da sua primeiravisita ao nosso pas, homenageadocom um monumento na nossa ci-dade am de relembrar tal visita.

    J escrevi em vrias revistas,

    blogs, enviei emails para o Sr. Pre-sidente da Cmara de Lisboa e atsugeri um selo denominado 130anos da visita de Verne a Portugalnum concurso dos CTT (correios dePortugal) onde se pretendia selec-cionar um tema para o prximo ano.

    Parece que os responsveis daavaliao nos correios gostaram daideia.Noticiaram-me que oi aceite esero eitos, numa primeira ase, uma

    quantidade de vinte e cinco selos,sem dvida, um nmero reduzido.

    Fica a esperana que algum compoderes autrquicos ou nanceirosleia este artigo e nos ajude na promo-o de uma homenagem a este escri-tor que tanto enalteceu os descobri-dores portugueses e a nossa ptria.

    Hotel Braganza, n45 na RuaVtor Cordon, Lisboa.

    Pgina do Antnio Maria de 29 deMaio de 1884.

    Proposta inicial do selo aos CTT com

    o tema 130 anos da visita de Verne aPortugal.

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    As verdadeiras aventuras do capito Hatteras (1ra parte)William Butcher

    Fotocpia do manuscrito original do romance, onde se vem, esquerda o ttulo de cada uma

    das partes, o comeo do primeiro captulo e as notas do tipgrao direita.

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    A carta nal crucial para compre-ender-se de vez a inteno literriade Verne e sua submisso a vontadedo editor:

    Penso, depois de ter lido suacarta, que aprovas a loucura e o f-nal. Estou muito eliz, pois isto era oque mais me preocupava, no vejo

    outra orma de terminar eviden-temente, esse homem deve morrerno Plo. O vulco a nica tumbadigna dele. / nos reerimos aoquinto ato .(25 de abril de 1864).

    O manuscritoS se conhece um manuscrito de

    Hatteras. Seu primeiro volume, cujaredao anterior a setembro de1863, oi eito com a caligraa roma-

    na utilizada por Verne para as cpiaslimpas5, destacando-se aqui, de or-ma excepcional, uma margem dosdois lados do texto, com correesintercaladas entre as linhas. Se inti-tula Capitaine Hatteras, precedidode um colchetequerene os ttulosdas duas partes do volume: Anglaisau Pole Nord / Dsert de glace6 (I I).No obstante, o tipgrao adiciona margem, em itlico e sublinhado trsvezes em azul: Voyage surprenant du

    capitaine Hatteras au ple Nord7 (II). O captulo Une variante8 (I IX) se

    5 Assim denominamos a cpia de ummanuscrito em seu estado nal. Verne aziavrias cpias de seus manuscritos em reitera-das ocasies, e, nesse caso, o autor do artigose reere a um tipo de cpia j ordenada, revi-sada e corrigida em grau mximo. (N. do T.)

    6 Ao longo do artculo aparecerotermos em rancs que sero traduzidos parao portugus e se situaro como notas de p-de-pgina, mas bom deixar claro que se

    traduzir a partir do ragmento de texto emquesto. Assim, a palavra no correspondenecessariamente quela encontrada em pu-blicaes ociais da obra. Para o caso destanota, o signicado : Os Ingleses no PloNorte e O Deserto de Gelo. (N. do T.)

    7 Viagem surpreendente do Capi-to Hatteras ao Plo Norte (N. do T.). A partirde agora, todas as reerncias a traduo determos ranceses devero ser tomadas comonota do tradutor.

    8 Uma mudana.

    chamar, no livro, Une nouvelle9.O segundo volume oi escrito so-

    bre um nico verso de olha, comuma caligraa menos cuidadosa. Anumerao das pginas por Verne(1-107) est em negro, no centro dapgina. Uma nova numerao (1-108)em caryon azul se v margem, que

    ocupa agora a metade da pgina,alternadamente direita e esquer-da. Observa-se sobre estas pginasum grande nmero de supressese correes, aparentemente todasem vermelho, sem dvida realizadasem trs momentos sucessivos, algu-mas entre linhas, mas em sua grandemaioria, marginais. Ainda que o textoseja muito dierente do utilizado nasedies, ele parece ter servido para

    a impresso, se nos guiarmos pelasindicaes das provas de imprensaque se zeram para os dois volumes.

    Esta parte se intitula Les Robin-sons du ple : Aventures du CapitaineHatteras10 (II 1), da mesma mo dotipgrao. Tem, como a verso doMa-gasin, 26 captulos, a maioria delescom ttulos mudados, quando no oprprio contedo. Assim, em primei-ro lugar, o captulo II IX se chama ini-cialmente Les grands roids11; o XII,

    Les cinq ours12; o XIII, Une mineingnieuse dense lectrique13; oXV, La revanche dAltamont Arca-die borale14; o XVI, La quitte re-vanche dAltamont15 e o ttulo e ocontedo dos captulos seguintes seconundem uns com outros nas edi-es Hetzel. A razo a grande quan-tidade de modicaes de detalheseitas entre a publicao do Magasine a edio em in-18, principalmenteo corte das muitas brigas entre Alta-

    9 Uma noticia.10 Os Robinsons do Plo: Aventurasdo Capito Hatteras.

    11 Os grandes rios.12 Os cinco ossos.13 Uma mina engenhosa deesaeltrica.

    14 El A desorra de Altamont ArcdiaBoreal.

    15 A livre desorra de Altamont.

    mont e Hatteras, bem como o desen-volvimento de vrias cenas. Porm,como o objetivo do presente estudo o de analisar certos aspectos do

    prprio manuscrito, recomendo aoleitor a anlise mais completa reali-zada na publicao crtica de Hatte-ras pela OUP16.

    Em segundo lugar, vm as varian-tes que envolvem o manuscrito e aMagasin. Desta orma, o captulo IIXXI, John Bull et Jonathan17, estausente de todas as edies, e o XXse entitula Locan polaire18, emvez do denitivo La mer libre19.O XXII se chama, aqui, Lapproche

    du ple nord20; o XXIII, Le pavillon

    16 Introduo, Nota sobre a tradu-o e Notas de interesse de William Bu-tcher, em The adventures o Captain Hatteras,traduzida pelo prprio autor (Oxord : OxordUniversity Press, 2005).

    17 John Bull e Jonathan.18 O Oceano Polar.19 O Mar Aberto.20 As cercanias do Plo Norte.

    Cronologia

    26 de junho de 1863: Dentro de umaquinzena, enviarei a primeira parte deVoyage au Ple Nord4 de setembro: Trabalho no segundovolume10 de setembro: Verne corrige as provas

    de impresso de uma parte do CH I16 de setembro: Verne aceita uma su-gesto de Hetzel quanto ao carter deHatteras, mas prope outra e quer intro-duzir um rancs na tripulao20 de maro de 1864: CH I no Magasindducation et Recration (at 2 de eve-reiro de 1865)Abril: correo das provas dos rascun-hos de II25 de abril: Penso, depois de ter lidosua carta, que aprovas a loucura e o nal.Evidentemente, esse homem deve mo-

    rrer no Plo.5 de maro de 1865: CH II no Magasindducation et Recration (at 5 de dez-embro)4 de maio de 1866: edio em in-1826 de novembro: edio em in-8

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    dAngleterre21; o XXIV, Leon decosmographie polaire22 e o XXV, LeMont Hatteras23. Os captulos XXI,XXII e XXVI, em parte extirpados emverses posteriores, estaro presen-tes depois. O captulo nal, 276 Leretour / Le Hans Christien24, corres-ponde, nalmente, nas verses pos-

    teriores, ao XXV, Retour au sud25 eao XXVI, Conclusion26. O 7 elimi-nado implica que o captulo XXVI ori-ginal desapareceu entre as correesdo manuscrito.

    No que concerne aotexto se observam nu-merosas mudanas, aortograa dos nomesprprios em particular.Louisiade aparecia, por

    exemplo, no lugar doLouisiane publicado eDouall Stuart no lugarde Doual Stuart (na re-alidade John McDouallStuart, 1815-1866). Des-de o primeiro captulo,o manuscrito contm ocapito X (por exem-plo, 1) no lugar de K.Z.; le Foreward [sic]27(por toda parte); Master

    Harvey Johnson (at ocaptulo I XIX, seguidode Johnson at o nalda novela). O autnticoLiverpool Herald , em sua origem,o Nautical Paper28. O desejo primi-tivo de Clawbonny surpreender[as tribos distantes] no exerccio desua unes (I III 18), com um humorescatolgico; o animal de Gvaudanavistado pelos marinheiros, com trin-

    21 O Pavilho Ingls.22 Lio de cosmograa polar.23 O monte Hatteras24 O regresso / O Hans Christien.25 Regresso ao Sul.26 Concluso.27 O Foreward.28 Sem dvida, o Nautical Magazine(1832-1899).

    ta ps de comprimento29.Os especialistas tm comenta-

    do reqentemente sobre a veuve[de] vingt-six ans30 (II X 41), porqueo prprio autor se casou com umaviva em seus 26 anos (1857). Nasverses publicadas, existe um cer-to A. . que requer quelques vi-

    goureux matelots pour lacer et serrerconvenablement [les] corsets etsi [les] actrices de votre thtre ontlintention de garder leurs culottes31

    (41). No manuscrito denominadoAbigal Bonnatout A. B. (42) e essamesma passagem contm uma notaimportante: Voyage au ple arctique

    29 Entre as outras mudanas: mer-cadores (I I 1) no lugar de comerciantes;6 5 de abril (1); 80 cavalos (1) no lugar

    de 120; de qualquer tonelagem, orma enacionalidade (1); os mostrou esta carta,que no havia tocado (IX 56) ; o Porpoiseo Haliax (XII 84); o Farewell espera o parale-lo oitenta (85) no lugar de septuagsimostimo e outras diversas mudanas estilsti-cas.

    30 viva de vinte e seis anos.31 alguns vigorosos marinheiros paraatar e laar convenientemente [os] corp-tes e as atrizes de vosso teatro tm ainteno de cuidar de suas calas.

    dHerv et de Lanoye32 (41). Esta anica indicao direta de uma onterancesa no romance. Vericando olivro com esse ttulo, publicado en1854, vemos que possui alguns ex-tratos de Duxieme voyage rctique33de Parry, que propriamente cita a Ga-

    zette de la Gorgie du Nord, peridico

    publicado a bordo de seu barco empleno inverno34. A importncia paraa compreenso de Hatteras reside noato de que a traduo de Parry cita-da por Verne idntica, palavra porpalavra, a que aparece em Herv eLanoye (pp. 84-86). Est claro entoque o romancista no inventou a viu-va nem tampouco os extratos que ci-tou. Por outro lado, no duvidou emcopiar a traduo em mais de mil pa-

    lavras, o maior plgio j identicadoem suas obras at nossos dias.O manuscrito possui catorze li-

    nhas riscadas que descrevem as ob-servaes do Dr. Clawbonny sobreo rio do plo, que lhe provoca umaqueimadura das plpebras. Regres-sa ao navio para compartlhar suasidias com Hatteras, que mostra, semmuita cortesia, seu desinteresse portais questes. (I XXVI 169).

    O livro contm uma mensagem

    incompleta e na edio in-8 estdotado de uma pontuao estranha:Altam..., Porpoise, 13 dc... 1860, 12..long... 8.. 35 lat...35 (I XXX 197). Po-demos entender esta posio como12x O, 8x N, suposio conrmadaat que o veleiro chegue latitude...8345 35 et... longitude 120 1536 (IIV 23). O manuscrito, quanto a isso,contm: Altamont, du brig le Por-

    poise, 19 Dcembre 1863, 79 15 de

    32 A inormao oi ornecida amavel-mente por Volker Dehs.

    33 Segunda Viagem rtica.34 Ver The adventures o Captain Hat-teras, editado por William Butcher, p. 390.

    35 Altam..., Porpoise, 13 de dezem-bro... 1860, 12.. longitude... 8.. 35 latitu-de...

    36 latitude... 8345 35 y... longitude120

    Fotocpia da pgina 83 do captulo II, onde sedescreve a briga entre Altamont e Hatteras.

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    latitude, 91 37 de longitude37 (I XXX197) com um grande ? editorialna margem para assinalar o 1863errado38. No apenas se do as co-ordenadas exatas como se rompeo suspense pois o navio americano,que s alcana o 79 N, no havia ei-to constar registro para o norte. Poroutro lado, o 91 indica que talvezhouvesse navegado pela via de Smi-th Sound.

    Rivalidade anglo-americanaGostaria agora de mudar de tema

    para chegar de orma mais segura aolugar desejado, o buraco no centrodo mar (polar, naturalmente). Na suacarta nal, em resposta a uma agres-siva missiva editorial, Verne mencio-

    na um duelo em Hatteras, mas aceitasuprimi-lo de golpes e pancadas(25 de Abril de 64). Os estudiosossupuseram que esse duelo desapa-recido ter tido lugar na costa seten-trional da Nova Amrica, na vsperado embarque para o Plo Norte. Mastal conjectura demonstra um desco-nhecimento das regras do duelo queexige um terreno neutro.

    A chave do mistrio encontra-seno captulo com o atractivo ttulo, j mencionado John Bull et Jona-than. Como na verso publicada,Hatteras sonha com o seu passado,para regressar imediatamente ao u-turo e ao Plo, onde j se v a nave-gar o smbolo britnico (II XXI 83). Nomanuscrito, Altamont quem tem aguarda no momento da navegao,com direco ao norte, e acorda du-rante a noite para assegura-se queo americano segue na embarcao.

    A partir desse momento, a historia indita. Encontramos Hatteras nacontinuao do seu sono:

    A sua percepo tornou-se toviva, que jurou escutar a futuar porcima de sua cabea; parecia-lhe que

    37 Altamont, do veleiro Porpoise, 19de dezembro de 1863, 79 15 de latitude,91 37 de longitude.

    38 Outro erro: este unesto ano de1863 1860 (I XXVII 177).

    o vento jogava nas suas oscilaes.Acordou e abriu os olhos.

    No se enganou. Uma bandeirabalanceava-se em cima do mastro dobarco, uma bandeira vermelha com asvinte e duas estrelas sobre a sua tiraazul, a bandeira americana!

    Hatteras emitiu um terrvel grito.

    Os seus companheiros acordaram. Miservel! -gritou o capito,dirigindo-se ao americano.

    E com um rpido gesto, cortou acorda da bandeira que caiu.

    Altamont queria lanar-se a ele,mas Johnson e Bell retiveram-no.

    Hatteras, ponha-se em posio disse Altamont com uma voz atro-adora.

    Ponha-se em posio, voctambm corao cobarde -respondeuo capito. Sim, porque aproveitastes o

    meu sono para abrigarmos uma ban-deira estrangeira! Estrangeiro! Sou americano! E ns? Vs! Estais em meu domnio!

    Este bote, como os restos do meu na-vio, meu!

    Sim -gritou Hatteras. Tem razo.Este bote pertence-vos Ah... d-me...um remo, um pedao de madeira, umpedao de gelo com que possa aban-donar estas costas malditas.

    Hatteras teria-se lanado ao mar se

    o doutor no o tivesse detido. Altamont -disse este ltimo

    esquecestes que ns vos salvamos avida. Apenas Hatteras manda aqui.

    Clawbonny -respondeu Alta-mont-, o momento de me explicarchegou, nalmente. Escutei-me, vocstambm, Johnson e Bell. Vs tambm,Hatteras! Acreditam quando vos digoque no tinha imaginado o propsitode vossa viagem pelos mares polares?Preparastes um barco em Inglaterra, eoutro nos Estados Unidos! Zarpastesdos mares boreais. Eu tambm! Che-gastes mais alm do limite das terrasconhecidas. Igual a mim. Quereis irainda mais alm. Tambm me ocorrea mim. Pretendeis descobrir o PloNorte. Pois bem, eu tambm.

    Com estas palavras, os trs compa-nheiros e Hatteras levantaram-se decomum acordo.

    Nunca -exclamaram. Nunca! -disse Hatteras com cer-

    ta violncia. Os ingleses descobriramo Plo magntico com James Ross,descobriro o Plo Norte com Hatte-ras.

    Os meus direitos valem tantocomo os vossos - respondeu o ame-ricano.

    No! No! -disseram Johnson e

    Bell. Basta -retomou riamente a pa-lavra Hatteras dirigindo-se aos doismarinheiros. Este homem est em suacasa. Enquanto no levamos o bote,pretendo dizer, e no me esqueci, queum de ns est a mais nesta latitude!

    s vossas ordens! -respondeuAltamont.

    Meus amigos, meus amigos -ex-pressou o doutor. Ameaas de morte!S alta que estas novas regies, ape-nas tocada pelos ps dos homens, seja

    agora inundada com o vosso sangue!Desejais trazer a este pas os dios erivalidades do Velho Mundo!

    Clawbonny -respondeu Hatte-ras-, este homem no pousar o seup minha rente sobre um continen-te xxx.

    Veremos -[ripostou] o america-no.

    um assunto de vida ou morte! Meus amigos -disse o doutor,

    que no sabia j como azer-se enten-der.

    Mas aqui, estais no seu territ-rio -disse Hatteras-, vossa embarca-o vos protege. No tens nada quetemer.

    Nem aqui nem em nenhum lu-gar -respondeu Altamont.

    Parem! -gritou o doutor - Parem!Hatteras, jura-me

    Juro-vos, Clawbonny, que medebaterei apenas quando sentir umterreno neutro debaixo dos meus pse no sobre solos americanos

    Pois bem, a terra ento! -res-pondeu Altamont.

    Sim! A terra! -disse Hatteras comum sorriso singular.

    O doutor alou, mas no o escuta-ram. Todas as palavras do seu cora-o oram vagas, os seus argumentosinteis. Tinha lidado com duas almasulceradas e odiosas, dois homens, es-trangeiros no seu pas. Esta unio mo-ral entre Inglaterra e Estados Unidosque pediam era impossvel.

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    Os dois rivais nada disseram.No obstante, o doutor esteve se-

    guro momentaneamente pela reso-luo de Hatteras de ir a um terrenoneutro para [esclarecer] os seus direi-tos. Daqui l qualquer acontecimentoimprevisto poderia modicar a situ-ao; quem sabe se no descobriam

    terra; quem sabe tambm se no pu-dessem chegar ao octogsimo segun-do grau de latitude.

    Esperou ento, com risco de inter-vir uma ltima vez.

    Hatteras tinha tomado o seu lu-gar no bote, [imperturbvel] comosempre. Altamont, tambm calmo, nodeixava de mostrar na sua cara um arprovocativo, [estando] ele s contraquatro, parecia decidido a no retro-ceder.

    No havia ento nada que dizer,

    nada que azer at ao momento ondeesta ineliz questo se decidir. Rei-nou um proundo silncio (83-84).Logo depois destas duas olhas, o

    texto similar ao da verso publica-da. Retomamos o manuscrito maisadiante no mesmo captulo, quandose avista um vulco, o que provocauma discusso em relao existn-cia de actividade gnea to perto doPlo:

    E porque no? -disse o doutor,- no por acaso a Islndia uma terravulcnica?

    Sim! Islndia! Mas to perto doPlo!

    E o nosso ilustre compatriota,o comodoro James Ross [anterior-mente], no constatou a existnciade enormes montes de lava em plenaactividade nos cento e setenta grausde longitude e setenta e oito graus delatitude? Porque no existiro entovulces no Plo Norte?

    [necessrio] sem dvida pedira autorizao ao presidente dos Esta-dos Unidos -disse Hatteras.

    Oh! -se apressou a exclamar odoutor, - vejo-o pereitamente. umvulco!

    Bem -disse Hatteras, vamos

    para l (86).Durante o sono dos seus compa-

    nheiros, Hatteras que toma o bote,e mais tarde Altamont acorda. Explicaque apenas um s homem poder ser

    o primeiro a por o p sobre o novocontinente. Mesmo quando se des-culpa duas vezes por ter chamado aoseu semelhante um cobarde, a suatentativa de reconciliao alha. Umduelo torna-se inevitvel, mas, vistoo problema da precedncia, no sepode elucidar na terra. Os dois ho-

    mens decidem conrontar-se em ple-no mar, sobre um bloco de gelo.

    Hatteras permaneceu no bote. Es-tava contente de estar sozinho. Respi-rava a brisa que vinha at ele depoisde ter acariciado esta nova terra.

    s dez da noite, quando estavaseguro no topo do vulco, olhou emseu redor, xou-se num objecto ape-nas visvel no mar, anou seu ouvido,e pousou a capa no cho.

    Ao m de alguns instantes, dirigiu-se ao americano e tocou-lhe ligeira-

    mente no ombro. Altamont disse em voz baixa. Eh! exclamou este ltimo

    despertando-se e retomando rapida-mente os seus sentidos como um ma-rinheiro habituado aos despertaresbruscos.

    Silncio -respondeu Hatteras,azendo sinal para no azer barulho -,no acordeis ningum e escutai-me.

    Que quereis dizer-me? A terra est vista -respondeu

    Hatteras-. S um de ns deve chegara ela.

    Essa minha opinio respon-deu o americano.

    Bem -respondeu o capito -. Fa-lei mal de vs, chamei-o de cobarde.No sois um cobarde porque estaisaqui!

    Oh! Pouco me importa vossasapreciaes -respondeu Altamontcom desdm.

    Seja como r, eu o oendi. Mas, onde quereis chegar? -per-

    guntou Altamont. A isto -disse Hatteras-, que [vos]estimo Altamont, e que vs me esti-mais tambm, e que aqui entre ns, oassunto no de homens mas sim denaes. Estou seguro, Altamont, que[me] estimais tambm, mas a nacio-nalidade acima de tudo.

    Hatteras ez silncio por um instan-te, enquanto que Altamont o consen-tia com um gesto cheio de respeito.

    No quereis ceder-me a honra

    da primeira posse deste novo conti-nente?

    No, Hatteras. No vosso lugar, Altamont, o ne-

    garia igualmente. Ento? Ento, a sorte das armas o de-

    cidir.

    Quando estivermos em terra. Ah, no -replicou Hatteras. No.

    Um de ns colocaria o p rente dooutro e o assunto estaria resolvido emvez de estar suspenso.

    No, no na terra. Aqui ento? Nem mais. No vejo nenhum lugar disse

    o americano olhando em seu redor. Ali -disse Hatteras, apontando

    para um ponto no oceano. Ali! Num bloco de gelo! -respon-

    deu o americano. Sim! Um bloco de gelo no meio

    do mar! Um terreno neutro! s vossas ordens xxx -respon-

    deu Altamont. Posso xxx levar o bote para l. Certo. Quem sobreviver poder apa-

    nh-lo a nado. Sim -[disse] Hatteras. Aquele que sucumbir ter o mar

    por tmulo.

    Um tmulo digno seja paraquem or... Silncio, agora, e que os nossos

    companheiros [no se deram con-ta] quando acordarem o capito xxxdeve mandar.

    Os dois [capites] calaram-se; per-maneceram imveis, e pondo o botea avor do vento, Hatteras dirigiu-opara o bloco de gelo situado a menos

    de cem toesas (86-87).Neste nal do captulo, che-

    ga o momento em que os rivais,mantendo-se corteses e precavi-dos, aprestam a bater-se em due-lo at que a morte se suceda

    A segunda parte deste artigo aparecerna prxima edio de Mundo Verne, emJaneiro de 2008. A sua traduo, directa-mente do rancs, esteve a cargo de ArielPrez. Obrigado a Butcher por nos permitira sua publicao

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    Jean-Michel em seu tempoAriel Prez

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    Nmero 2

    sobre uma geograa existente e umaaventura. O propsito do autor erarepresentar a Geograa, a Histria eas Cincias amlia rancesa da se-gunda metade do sculo XIX. Em A

    Jangada, o itinerrio a descida dacorrenteza amaznica, de sua onte sua desembocadura, e a aventura a soluo de um criptograma parademonstrar a inocncia do acusadode um crime. A viagem oi inspiradapor nosso compatriota Louis Agassiz,que publicou em 1869 sua Voyage auBrsil. O enredo tem infuncias deEdgar Allan Poe.

    O senhor os rel regularmente?

    Sim, em particular Os Irmos Kip,que traduzi para o ingls em 2007 evai ser publicado nos Estados Unidos

    pela Wesleyan University Press, queme pediu atualizar as notas acompa-nhadas de um precio que apresen-tar o romance.

    Qual a adaptao cinemato-

    grfca de suas obras que o senhor

    preere?

    Linventin diabolique do tchecoKarel Zeman. O lme se inspira emDiante da Bandeira, e oi realizadoem preto-e-branco com atores quese movem sobre cenrios que es-

    to muito prximos das gravuras dapoca de Jules. neste lme ondemelhor se encontra a magia prpriados romances vernianos, cheios desonho e imaginao.

    Jules Verne o principal moti-

    vador de sua paixo pela fco-

    -cientfca?

    No creio. Jules Verne no umautor de co-cientca, como o-ram Isaac Asimov ou Philip K. Dick.Pierre Versins disse, de orma correta,que havia algo do gnero em seus ro-mances, mas que nenhum deles esta-va totalmente dentro desse campo.A maior parte de sua obra no possuielementos de co-cientca, mas evidente que a gura de Nemo ao ti-mo do Nautilus ou os 3 passageiros

    da bala cilindro-cnica com destino Lua so histrias clssicas do tema.No se trata de abrir polmica, massim de constatar que Verne era an-tes de tudo um novelista muito mo-derno quanto ao estilo e estruturade suas obras, bem como um autordramtico cujas peas lhe trouxeramama e ortuna, utilizando os truquese as mquinas para atrair a atenodo leitor, de orma que hoje seriaconsiderado como um dos precurso-

    res da moderna co-cientca.Quais so seus escritores avori-

    tos e porqu?Em primeiro lugar, Anna Jean

    Mayhew, porque minha esposa eescreve de orma maravilhosa. De-pois, entre os portugueses (vivi doisanos em Lisboa), Jos Maria de Ea deQueiroz, Fernando Pessoa e MiguelTorga. Entre os ranconos, minhaspreerncias so Hugo, Gautier, Jar-ry, Robida e Ramuz. Entre os anglo-saxes, gosto muito dos contempo-rneos John McPhee e Lee Smith. Naco-cientca, releio com prazerAsimov. E gostaria ainda de adicio-nar um nome, o do espanhol MiguelServeto.

    O senhor o presidente da So-

    ciedade Norte-americana JulesVerne. Quais tm sido as satisa-

    es e insatisaes que lhe trazem

    essa oportunidade?

    Entre as satisaes est, sem d-vidas, a de trabalhar com os pionei-ros da reabilitao verniana nos esta-dos Unidos, onde considerado umautor para crianas e pai da co-cientca. Trabalhamos para mostr--lo como um escritor de mltiplasacetas. Insatisaes so poucas,

    como enrentar permanentemente aignorncia e a arrogncia caracters-tica da maioria dos locais...

    Fale um pouco sobre a base de

    dados de mais de 10.000 itens que

    conserva e qual ser seu destino?

    Depois de ter colecionado e estu-dado Verne durante mais de 50 anos(acabo de azer 70), decidi encontrarum meio para que minha coleo seconserve depois da minha morte,

    com as condies de no dar, venderou jogar ora nada, mantendo-a inte-gralmente em sua totalidade. Como a mais importante sobre Verne emtodo o mundo, pensei que poderiadisponibiliz-la na Internet para ospesquisadores do mundo inteiro econtinuar enriquecendo-a com no-vas adies. Primeiramente penseiem deix-la nos EUA, porm nenhum

    Bibliographie documentaire sur Jules Verne, publicado em trs edies em 1978, 1982

    e 1989 sendo esta ltima a mais completa de todas com mais de 4.000 reerncias alivros, artigos, estudos e teses sobre o autor. Entretiens avec Jules Verne 1873-1905,de 1998, compilao de entrevistas, realizada junto a Daniel Compre. Jules Verne en

    son temps de 2004, uma compilao de artigos contemporneos poca do escritor

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    dos bibliotecrios com os quais aleimostrou interesse pelo autor. Almdisso, as bibliotecas americanas or-ganizam a cada ano vendas de livrosque seus responsveis consideremvelhos, sem interesse ou pouco pro-curados. Isto um verdadeiro crime

    cultural, como ocorreu com o Museude Bagd h alguns anos. Ento de-cidi doar minha coleo cidade deYvedon-les-Bains, na Sua, onde serconservada intacta, ser mantida eenriquecida e, sobretudo, ser postaa disposio dos pesquisadores atra-vs do site da Maison dAilleurs (http://www.ailleurs.ch), nico museu p-blico de co-cientca em todo omundo. A transerncia ocorrer emns de maro ou incio de abril de

    2008. A inaugurao ser no nal doms de setembro do prximo ano. AMaison dAilleurs possui um autgra-o de Jules, que me pertence e queviajou a bordo do Spaceship One, oque permitiu ganhar o prmio X. Istos oi possvel graas a Patrick Gy-ger, curador da Maison dAilleurs e doaventureiro milionrio Steve Fossett.Depois do xito do vo, Fossett de-volveu o autgrao ao museu, ondepermanece bem guardado.

    Por que azer a doao de sua

    coleo a Maison dAilleurs?As relaes que eu e minha amlia

    temos desde h muito tempo com oNorte, zeram com que, de uma or-ma muito natural, pensasse na mu-nicipalidade de Yverdon e na MaisondAilleurs para ali deixar minha cole-o. Como se dizem em muitos luga-res: Que melhor lugar para escapardo que uma antiga priso!

    Quais so seus projetos para outuro no que concerne a publi-

    cao de artigos ou livros sobre o

    autor?

    Depois de 2008 penso em continu-ar meu trabalho com Verne, mas demaneira mais lenta. Tenho projetadauma edio crtica em rancs de OsIrmos Kip (um volume que contm otexto do manuscrito, da revista e dos

    volumes in-18 e in-8).Qual oi seu maior momento de

    satisao pessoal desde que est

    no mundo verniano?Cada instante consagrado a Verne

    um instante de satisao. Todosso grandes.

    Na sua opinio, o que pode in-teressar, de Verne, aos leitores do

    sculo XXI?

    Simplesmente porque um escri-tor de grande talento, muito moder-no por sua escrita e pela estrutura deseus textos. Avanado em seu tem-po, precursor, sim, mas em Literatu-ra, por seu estilo e sua construonovelstica.

    Como v o uturo de Verne no

    mundo? Ele ser lido dentro de, di-

    gamos, 50 ou 100 anos?

    O uturo de Verne no mundo claro: cada vez mais existem doisVernes que no tem nada a ver umcom o outro. Um um cone: o nomedo escritor evoca os submarinos, asinovaes, invenes e aventuras ex-traordinrias quaisquer que sejam. a produo atual de Hollywood, porexemplo. o Trou Jules Verne para avolta ao mundo em barcos a vela. nomear o satlite articial da Agn-

    cia Espacial Europia, Jules Verne.Tudo isso alimenta a imaginao po-pular e continuar azendo o deleitedos colecionadores. O outro Verne o verdadeiro, o escritor, o homem, eleque gura como o criador do roman-ce de aventuras geogrcas no seioda Literatura rancesa. E desse quenos ocupamos e dele procuramos di-undir as obras, completas, integrais

    ou adaptadas e traduzidas o maiselmente possvel. Estes dois Vernesainda eram conundidos at 20 anosatrs, mas desde 2005, a dierena sevai azendo maior.

    Como avalia a diuso de Jules

    Verne no mundo iberoamericano?

    Para mim, o mundo iberoamerica-no compreende todas as regies domundo onde se l e se ala o portu-gus, alm de todas as regies ondeo espanhol o idioma predominan-te. Como estive em Portugal muitosanos, possuo mais volumes de Verneem portugus do que em espanhol.Por isso peo aos leitores em espa-nhol que me perdoem. Os vernianoshispnicos tm como tarea a mesmade todos os outros do mundo: asse-

    gurar que as tradues de Verne emespanhol e portugus sejam comple-tas e as melhores possveis, promo-ver essas tradues em seus pases eestudar Jules Verne e sua obra espe-cialmente em relao a estas regies,os personagens de seus romances eas viagens do autor a esses pases.

    Tem lido as recentes tradues

    espanholas ou portuguesas dos

    textos inditos de Verne? Se tem

    eito, considera que so boas e f-

    is aos textos originais?

    As tradues portuguesas soexcelentes, porque David Corazzi, oeditor do sculo XIX, entregou-as aescritores de talento que ormavamparte da Literatura portuguesa. Acultura rancesa est muito presenteem Portugal, o que acilita as coisas. evidente que uma traduo emespanhol ou portugus (ou italiano,por exemplo) tem maiores possibili-

    dades de car com maior qualidadedo que uma alem ou inglesa, devi-do ao ato de que todas essas lnguasderivam da mesma raiz latina.

    Por avor, envie uma mensagem

    aos leitores da revista MV.Simplesmente lhes desejo tanto

    prazer para ler, estudar e publicarnosso autor como tenho tido eumesmo

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    Traduco: Estela dos Santos Abreu

    Pierre Jean - Captulo 2

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    rentes o condenado priso perptuaque tentar a uga; ser punido commais trs anos de pena qualquer presoque tiver cometido o mesmo crime, ea uma prolongao determinada em

    juzo todo preso que roubar quantiasuperior a cinco rancos.

    Ser punido com a bastonada todo

    condenado que limar suas correntesou usar de qualquer meio para ugir,que se servir de objetos de disarce, queroubar quantia inerior a cinco rancos,se embriagar, praticar jogos de azar,umar no porto ou em outros lo-cais, vender ou estragar a roupa,escrever sem permisso, estiverde posse de quantia superior adez rancos, agredir o colega, serecusar a trabalhar, demonstrarinsubordinao.

    O marselhs cou pensativoaps a leitura; despertou desseabatimento com a chegada dosgalerianos. O porto ervilhavade atividade; o trabalho era dis-tribudo em vrios pontos. Oscontramestres meio brios ber-ravam:

    - Dez pares para Saint-Mandrier!3.

    - Quinze meias4na cordoaria!

    - Vinte pares na mastreao!- Reoro de seis vermelhos5na bacia das docas!

    Ao chamado, os pares diri-giam-se para os lugares desig-nados, compelidos pelos insultosdos ajudantes e, mais ainda, pelostemveis bastes. O marselhs ob-servava com ateno e procuravasobretudo identicar o nmero dospresos. Uns atrelavam-se a carroasmuito carregadas; outros transpor-

    tavam aos ombros pesadas peasde carpintaria, empilhavam e arru-mavam tbuas, ou rebocavam com asirga6 os navios em desarmamento, e

    3 Pennsula deronte baa de Tou-Pennsula deronte baa de Tou-lon.4 Meia: o galeriano que tinha aperna cingida por um aro leve. (N.da T.)5 Vermelho: o galeriano comum eraobrigado a usar gorro vermelho. (N. da T.)6 Corda que serve para rebocar os

    tudo isso sob o sol escaldante.Todos os prisioneiros usavam ca-

    pote de aniagem, colete vermelho ecalas cinzentas de brim grosso; oscondenados priso perptua tra-ziam um gorro de l verde e eramdestinados aos trabalhos mais pesa-dos, a no ser que tivessem aptides

    especcas; os condenados sob vi-gilncia por causa de seus instintosperversos ou de tentativas de ugatinham de usar o gorro verde debainha vermelha. O gorro vermelho

    indicava os outros grilhetas, e era so-bre estes que o Sr. Bernardon lanavao olhar ansioso. No gorro havia umaplaca de lata com o nmero de cadaprisioneiro.

    Alguns, acorrentados dois a dois,carregavam grilhes de oito a vinte

    e duas libras7; a corrente ia do p ata cintura de um dos condenados, naqual estava presa, e continuava paraligar-se cintura e ao p do outro. Osinelizes se apelidavam com humorde cavaleiros da guirlanda!Os outros,isolados, s traziam um aro e umameia corrente de nove a dez libras,

    navios.7 De quatro a onze quilos.

    ou at um nico aro, chamado demeia, que pesava de duas a quatrolibras. Alguns galerianos mais peri-gosos tinham o p preso numa pal-matria, erro temperado de modoespecial e em orma de tringulo,cujas extremidades xadas em voltada perna resistiam a qualquer esor-

    o de ruptura.O Sr. Bernardon, alando com os

    condenados e os carcereiros, per-correu todos os setores do porto. svezes vinha-lhe aos lbios uma per-gunta, mas no ousava az-la; eraevidente que procurava por um des-ses desgraados, e uma ebril impaci-ncia o invadia.

    Derontava-se com aquele quadropungente denido pelo direito e pelalei, no qual estava estampada a tristedegradao das paixes humanas!Pois a atalidade s havia encontra-do tons sombrios na paleta do crime!Mas o inquieto visitante no pensa-va no grupo todo: no meio daquelamultido, procurava algum que noesperava por ele!

    Era o n 2224; do nome e da a-mlia no lhe restava nada; estavaligado ao mundo apenas por algaris-mos inamantes que o classicavam

    numa casta vergonhosa - triste nomede batismo com que o crcere ador-na seus lhos!

    A despeito da busca do Sr. Bernar-don, o 2224 no aparecera. O nego-ciante dirigiu-se ento a um guarda eperguntou-lhe se esse nmero esta-va preso ou em algum outro lugar.

    - Ele trabalha com a amarra8 namastreao - oi a resposta. - Como ele?

    - Rapaz calmo, embora seja rein-

    cidente - respondeu o ajudante. - Sequer alar com ele, v at a mquinade mastrear.

    O Sr. Bernardon dirigiu-se rapida-mente para l e avistou o 2 224, queguarnecia uma das barras. O marse-lhs cou a observ-lo, e logo a tris-teza umedeceu-lhe os olhos

    8 Mquina de suspenso, cujo eixo vertical.

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    Carta ao seu pai em Julho de 1848

    Segunda-feira 17 de julho de 1848

    Meu querido pai,No se preocupe por minha visita ao senhor Sr. Per-

    retton, eu no o encontrei quando ui sua casa masoutra pessoa da administrao, que creio ser seu irmo,em todo caso, me deu o dinheiro da orma mais gentildo mundo, de maneira que a ausncia do Sr. Perretton,que verei me breve, no constituiu obstculo algumpara o pagamento.

    Com relao ao valor xado, no total de 410 rancos,eitas algumas reticaes ao sue clculo, vemos queno excessivo:

    :

    2 f 50 Alimentao

    30 Dias

    75 f

    40 f Habitao

    115

    100 Viagem

    215Sobram ento, 195 rancos para o exame e gastos

    imprevistos. Pois bem, a prova e inscrio so 165 ran-cos. Sobram apenas 30 rancos para higiene, enviarcartas, mensageiros e tudo mais. A soma est correta,mas tambm verdade que no pretendo desperdiar.Anal, tudo isso no deve ser uma questo de ciras,mas de conana. assim que a entendo e espero quea contabilidade mensal assim prove.

    Vejo que tm havido temores na provncia. Temmais medo aqui do que temos em Paris! A amosa jor-nada do 14 de Julho ocorreu sem problemas e ao 24

    que se atribui agora o incndio de Paris, o que no im-pede a cidade de estar to animada de costume. Visiteios diversos pontos dos motins, as ruas St. Jacques, St.Martin, St. Antoine, a pequena ponte, o belo jardim.Vi as casas cheias de buracos de balas. Atravs dessas

    ruas, se pode seguir a pista das balas que destroarame arrasaram varandas, insgnias e achadas. um espe-tculo aterrador que, no obstante, torna ainda maisincompreensveis esses assaltos s ruas! No mais, qua-se no posso dar-lhe detalhes a respeito. Os jornais jdisseram tudo o que havia a dizer.

    No ltimo domingo, ui com Henri azer a visitaaos senhores Fournier e Favreau. Henri os conhece hmuito tempo. No encontramos nenhum dos dois. OSr. Fournier havia sado e o Sr. Favreau estava em Mon-

    tpellier com uma misso da Assemblia Nacional. Deminha parte, ui ver o Sr. Braheire, que me recebeuamavelmente.

    Um assunto muito delicado surgiu. Henri acha que,por uma questo de delicadeza, eu no devo passarum ms em Paris e no ir ver ao menos um dia ou doisa velha av de Province. Segundo ele, seria convenien-te que eu osse, isto lhe causaria uma grande alegria eno se pode sem razo passar de um ano a outro semaz-la eliz. O que pensa meu querido pai? No tenhonenhuma idia a respeito. Se assim or, desejaria que

    esses 3 ou 4 dias ossem depois de passar na prova,porque minha presena em Paris para as ormalidadesdo Direito pode ser necessria de uma hora para outra.Espero uma resposta sobre essa questo.

    Hoje ou amanh vou me inscrever. Leevre, que domeu curso e tem os mesmos proessores do que eu, medeu todas as inormaes que necessito. Esta rapidezna inscrio me permitir passar nos primeiros dias deagosto. Revisei a instruo criminal e o Cdigo Penal.Agora me ocupo dos processos e terminar com o C-digo Civil. o melhor que posso azer. Adeus meu pai,escreva-me com mais reqncia. Sua carta de 14 de

    Julho, eu a recebi no dia 16 pela manh, rapidamente,portanto. Lembranas para a mame e minhas irmsque beijo a cem lguas de distncia. Saudaes a-mlia, e cuide sempre de Paul. Adeus. Teu lho que teabraa

    Esta carta Jules escreveu ao seu pai e comea justicando em detalhes a razo de seus gastos. Depois aladas revoltas populares e o complexo panorama poltico da poca. Termina alando de algo amiliar ondepede ao seu pai uma opinio e d detalhes exatos de um exame prximo de Direito.

    Traduccin: Ariel Prez