Mundo Verne 4

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  • 8/6/2019 Mundo Verne 4

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    ISSN: 1996-7

    Em viagem peAmazona

    Um novo tipo de Literatura

    Imortalidade e eterna juventude

    Em memria de Zvi HarEl

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    Maro - Abril 2008

    Ariel Prez

    A triste noticia que nos acor-dou a 2 de Fevereiro oi sem dvidauma das mais inesperadas e, porsua vez, dolorosa de entre todas.Os meus olhos negavam-se a crero que lia no rum que o prprioZvi havia criado. Anunciava-se na-quela manh a sua morte repenti-na, produto, presumivelmente, deum enarte do miocrdio. No mo-mento da morte, encontrava-se atrabalhar com anco no primeirovolume da revista electrnica Ver-niana, criao baseada numa das

    suas ideias e tentativas de levar oconhecimento reerente ao escri-tor rancs a todos os cantos doplaneta e que resultou ser a suaultima contribuio comunida-de verniana.

    Falar de Zvi, do que ez e ar- porque de onde quer que este-ja guiar-nos- - requer um espaomaior e digno que um simples co-mentrio editorial. por isso quea revista neste nmero rende ho-menagem a esse homem que nosdeixou to prematuramente e deorma to imprevista. Deixemosque sejam os seus amigos que a-lem dele, do seu ser, da sua pessoae das suas qualidades humanas.

    Alguns dias depois do lamen-tvel acontecimento, exactamen-te no dia 8, em que se comemorouo 180 aniversrio do nascimentodo autor das Viagens Extraor-

    dinrias, oram publicados, noseu site na Internet, os primeiros

    quatro artigos que constituem ocompendio inicial da nova revistadigital.

    Poder se enviar artigos aocomit editorial que avaliar o seucontedo e, em caso de ser publi-cvel, apresentar o texto. No naldo ano, o conjunto ormar partedo primeiro volume. Espera-se acolaborao das pessoas interes-sadas.

    Por outra parte, uma votaosem precedentes, em que se obte-ve mais de um milho de pontos

    em poucos dias, proporcionouao nosso escritor o terceiro lugarnuma lista de celebridades no siteda internet em que se criou o con-curso. Um digno esoro de muitosvernianos que contriburam como seu voto em inmeras ocasies,de orma destacada o amigo Fre-derico desde Portugal e Bernharddesde a Alemanha.

    E Maro a poca tambm decomemoraes, chegamos a maisum aniversrio da morte do autorrancs e, em Espanha, por motivodeste eito, est-se a publicar (maisuma vez), pela editorial RBA, asobras completas. Desta vez so re-produzidas as capas e ilustraesoriginais da edio Hetzel. O pr-ximo encontro entre os membrosda Sociedade Jules Verne, queser dentro de dois meses, causaexpectativa pois poder signicar

    um momento de troca dentro dainstituio

    Nestenmero

    Universo verniano

    As comemoraes de Marodepois de um inesperado acontecimento

    3A imagem... e semelhana

    4Uma viagem aoextraordinrio

    5Robur, o

    conquistadordos ares

    Terra Verne

    8

    Imortalidade e eterna juventude

    Cartas gaulesas

    24

    23Pierre-JeanCaptulo 4Sem publicao prvia

    2008. Mundo Verne.Revista bimensal en castelhano e portugus sobre a vida e obra de Jules Verne.

    Edio e desenho: Ariel Prez. Colaborao: Gabriel Apolinaire.Comit editorial: Ariel Prez, Cristian A. Tello y Yaikel guila.

    Traduo portuguesa: Frederico Jcome e Carlos Patricio. Distribuio gratuita.Correio electrnico: [email protected].

    Internet: http://jgverne.cmact.com/Misc/Revista.htmReproduo gratuita permitida se se citar a onte.

    Em viagem peloAmazonas

    As Viagens Extraordinrias:um novo tipo de Literatura

    10

    Esboos ibero-americanos

    conversa com...

    Infuncias

    Pedro Paulet,o verniano peruano

    12

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    Cartas vendaJ se publicou cinco volumes

    com as cartas trocadas entre Vernee os Hetzel, e vo aparecendo, como passar dos dias, novas cartas quedo da prolera comunicaoescrita que Jules tinha com muitosdos seus contemporneos.

    Agora vendem-se em Franaduas cartas echadas de 1876 e1879, dirigidas respectivamente aPhilippe Gille, participante da adap-tao teatral de O doutor Ox, e aum agente dramtico no mencio-nado. Uma terceira carta vendia-senos princpios de Maro no site ale-mo do Ebay. Tratava-se da respostaa um leitor que o escreve, manies-tando as suas consideraes acerca

    de uma utura operao cirrgica.

    ATV no espaoO ATV Jules Verne, veculo da

    Estao Espacial Internacional, oilanado para o espao a 9 de Maropassado, de madrugada desde abase espacial de Kourou, na GuianaFrancesa.

    A nave leva entre os seus te-souros varias edies Hetzel da obra

    de Verne e inclui um mapa do cudesenhado pelo prprio escritor.

    Exposio em AmiensA Maison de Jules Verne em

    Amiens abre as suas portas parauma nova exposio. Organizadapelo Centro Internacional Jules Ver-ne, a mostra est dedicada novaadaptao, em tiras cmicas, de Avolta ao mundo em oitenta dias. Aexibio estar aberta at ao dia 9de Junho prximo.

    Conferncia em Havana

    Em 21 de Maro, Ariel Prez, edi-tor de Mundo Verne e undadordo site hispano de reerncia sobreo autor, dirigiu, em Havana, umaconerncia, sobre o escritor dasViagens Extraordinrias, em mar-

    co das actividades pela Semana darancoonia na ilha antilhana.

    O ttulo da conerncia oi OVerne desconhecido e teve lugarno Instituto de Literatura e Lingus-tica, situado na Avenida Carlos III nacapital cubana perante a presena

    de vrios convidados.Na palestra trataram-se temas

    de actualidade a respeito da gurado genial escritor rancs e oi dedi-cada memria de Zvi Har El.

    Actividade dos vernianosEntre os meses de Fevereiro e

    Maro, alm da apresentao emHavana, tambm outros vernianosse mantiveram activos dando con-erncias ou entrevistas.

    Philippe Jauzac, membro doConselho da Administrao daSociedade Jules Verne ez umaconerncia em Toulouse relativa relao da dupla Verne-Hetzel.Jean-Paul Dekiss, director do CentroInternacional Jules Verne de Amiens

    deu uma entrevista a um jornal di-rio suo. Olivier Sauzereau, autorde livros sobre Verne e membrodo comit editorial da Revue JV di-rigiu a conerncia Jules Verne e aastrootograa na Mediateca deChateaubriant. Laurence Saudretdo CIJV deleitou os seus ouvintescom a palestra sobre Jules Verne ea apologia da natureza. Lionel Du-puy, um activo verniano, publicouum artigo numa revista electrnica

    canadense. Por ltimo, Jean-PierrePicot, em 21 de Maro, alou sobreJules Verne na conuncia de Ed-gar Poe e E. T. A. Hofmann

    Colaboraram neste nmero

    Inormtico de prosso. Reside em Cuba. J publicou artigos sobre Verne em v-rios pases. Mantm um site na Internet so-bre o escritor desde 2001. J traduziu vriostextos inditos de Verne para castelhano.

    Ariel [email protected]://jgverne.cmact.com

    Engenheiro peruano, mantm um site sobreVerne desde 2004. um dos vernianos maisactivos na Amrica-latina. J escreveu artigose traduziu vrios textos do escritor rancs.

    Cristian [email protected]://www.geocities.com/paginaverniana/ctd.htm

    Licenciado em Comunicao Social. Realizadore guionista de cinema e televiso. Prepara umlme sobre o engenheiro peruano Pedro Pau-let. Recentemente, comeou a publicar sobreo resultado da sua investigao no seu blog.

    lvaro [email protected]://mundopaulet.blogspot.com

    Engenheiro brasileiro. Servidor pblico da ci-dade do Rio de Janeiro. apaixonado pelaobra de Verne desde os oito anos. Utiliza aInternet para divulgar a obra do autor. co-laborador do blog sobre Verne em portugus.

    Carlos [email protected]

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    Maro - Abril 2008

    A inspirao para criar Robur chegou a Verne pormeio do seu amigo Nadar, piloto de aerostticos,que o tinha convencido, havia vinte anos, a que sejuntasse a uma sociedade que apoiava as experinciasde voo com incrveis mquinas como os helicpterosa vapor. A ideia de voar era perseguida por muitoscientistas, e apesar de Jules no ser partidrio dosbales dirigveis, a do seu amigo otgrao -locriar oAlbatros.

    Verne, acionado pelos enigmas, costumavautilizar palavras do latim para nomear as suaspersonagens. Do mesmo modo que Nemo signicaningum, Robur signica roble, o que denotapoder e ora. A robustez nata com a que Verne cria o

    seu protagonista, percebida quando ele mesmo seapresenta perante a assembleia do Weldon Institute:Cidados dos Estados Unidos da Amrica, o meu nome Robur. Sou digno desse nome. Tenho quarenta anos,

    possuo uma constituio de erro, uma sade a toda aprova e uma extraordinria ora muscular.

    Robur, ao contrrio de Nemo, um homem queno pretende conquistar os mares, mas sim os cus.Em contraste com muitos dos inventores vernianos,o criador do Albatros malco, e mesmo revelando

    aos seus prisioneiros as maravilhas do mundo vistasdesde o cu, tem a declarada inteno de no oslibertar. E com que direito? Com o do mais orte!

    Robur um inventor genial mas ressentido comuma humanidade mesquinha e violenta, que usa oprogresso em prol da guerra e da explorao. Porisso desenvolve a sua inveno em segredo e recrutatripulao de conana, gabando-se do seu podertecnolgico e no hesitando em utiliz-lo quandolhe apetea. Um dos seus rasgos caractersticos oa de individualizao e de ir contra a sociedade.Este comportamento converte-o num ser eremitae muito sensvel perante toda a intromisso ouquestionamento do exterior.

    O micro mundo criado por Robur, nos cus, semronteiras, um pensamento impressionante deVerne, que naquela poca, nos meados do sculoXIX, contrastava com as ideias polticas. Trata-se deum legado antiblico de um idealista e sonhador queapregoa com a sua ideologia, uma crtica polticadaqueles que consideravam voar uma antasia, algoque s se podia azer em balo nesses anos, e queo Albatros, a sua potente mquina que domina oespao, tornou realidade

    O progresso no pertence aos balesaerostticos, cidados balonistas, mas aosaparelhos voadores. O pssaro voa, e no

    um balo, um maquinismo

    Ilustres balonistas, agora j so livres deandarem por onde quiserem

    dentro dos limites do Albatros.

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    Cristian A. TelloRobur, o conquistador dos ares

    O modelo precursor do Alba-tros

    Em, 1863, devido aos esorosde Nadar, uma sociedade do mais

    pesado que o ar oi undada em Pa-ris. Ali, os inventores submeterama experincias algumas mquinasque j haviam sido premiadas: Pon-ton dAmcourt e seu helicptero devapor, Landelle e o seu sistema decombinaes de hlices.... Por estapremissa, Robur o Conquistadorprev o lanamento da aeronave,cujo principio tinha Verne elogiadono tanto no seu papel de escritoruturista, mas sim essencialmente

    no de amigo de Nadar como seuassociado na campanha de apoioao voo de aparelhos areos. Erauma poca em que a Frana pre-senciava o auge das viagens are-as e os bales cercavam os cus,destacando o amoso Gigante deNadar; eito que contribuiu ao xi-to de Cinco semanas em balo, aprimeira obra publicada de Jules,no incio de 1863.

    A poucos meses desta publica-o, Gabriel de la Landelle e Gus-tave de Ponton dAmcourt, abri-cantes de brinquedos cientcos,que em 1861 tinham desenvolvidopequenos helicpteros espirale-ros, propuseram a Nadar a criaode um novo centro de estudo, a mde avaliar as vantagens e inconve-nientes de ambos os sistemas: omais leve ou o mais pesado queo ar. O centro oi baptizado com

    o nome de Sociedade de omento para a locomoo area por meiode aparelhos mais pesados que o ar,reunindo-se nela a elite intelectualparisiense a que Verne assistiria naqualidade de crtico.

    A participao do escritor nanova sociedade area introduziu-onos conceitos das uturas mqui-nas voadoras. Mas a vertiginosa

    carreira do autor, -lo adicionar osarquivos s suas notas reerentesa estes modernos critrios. Anosmais tarde, em 1884, a publicaode Historia elementar da aeronu-tica, escrita pelo seu antigo amigoGabriel de la Landelle, levou-o acriar uma nova obra concordantecom o, poca, crescente pessi-mismo no tocante aos perigos doprogresso. Assim, em 1886, Roburo Conquistador e a sua nave a-rea Albatros, desenhada em maiorescala que o modelo original de laLandelle, aparece publicada pelaeditorial Hetzel, constituindo uma

    das suas mais peculiares obras deantecipao.

    Todavia, outra corrente armaque a onte de inspirao do Alba-tros oi obtida por Verne de umaaeronave de um jovem autor nova-iorquino de origem cubana, LuisSenarens, que se ez popular numa

    srie de obras, Frank Reade Jr., com

    histrias que exaltavam o gnio deum inventor que, armado com assuas inseparveis mquinas, viaja eexplora territrios hostis glorican-do o homem branco e a sua supe-rioridade tecnolgica, enatizandoum marcado racismo.

    Esta teoria sugere que Verneaproveitou a ideia dos helicpteroscriados por Senarens publicadosna Amrica do Norte a partir de

    1883, para elaborar os planos doseu surpreendente Albatros. Comose disse, o novelista rancs conhe-cia os desenhos destas mquinasareas com mais de vinte anos deantecipao, sendo testemunha daevoluo dos conceitos da pocarelativos ao avano tecnolgicodos veculos areos mais pesadosque o ar.

    Por outro lado, o prprio Vernena sua obra enatiza que: O que di-

    zia Robur era o que antes tinham ditotodos os partidrios da aviao... Aossenhores Ponton dAmcourt, de laLandelle, Nadar incumbe a honra

    de terem divulgado estas ideias tosimples!Sucessivamente abandona-das e depois retomadas, no podiamdeixar de vir a triunar algum dia,citao que transcende a remotapossibilidade de plgio ao jovemescritor norte-americano.

    Caractersticas e estrutura da

    obra.Robur o Conquistador oi pu-

    blicada em ascculos no Journaldes dbats politiques et littraires,de 29 de Junho a 18 de Agosto de1886. Escrita em 1885, a obra des-creve a luta entre os que apostamse o homem voar atravs de meiosmais leves que o ar como os balese zepelins, contra os que vm que

    Helicptero imaginado por Gabriel de la Landelle em 1861e o Albatros de Verne.

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    o uturo se encontra nos aparelhosmecnicos mais pesados que o arcomo os helicpteros e aeroplanos.

    Robur, um anti-heri vernianoque tem grande semelhana como capito Nemo, um inventor queteve xito graas ao Albatros, umnovo modelo de nave area cons-

    truda de papel prensado, com 74hlices suspensivas e 2 propulsoresque lhe permitem dominar o ar emqualquer direco, e cuja onte deenergia, igual ao Nautilus, se encon-tra na electricidade to admiradapelo autor.

    A obra est cheia de tpicosvernianos com protagonistas anta-gnicos unidos pelas circunstncias.Assim, Robur adverte os membrosdo Weldon Institute: O progresso

    est nos aparelhos areos e quandodesaparece numa tempestade, levaconsigo o segredo da sua inven-o. O seu editor Hetzel, que mor-reu meses antes da publicao daobra, estava de acordo com a cin-cia usada por Verne, porm, queriauma intriga de maior consistncia.Sugeriu que o voo do Albatros de-veria ser intranquilizador. E no oinecessrio repeti-lo ao dcil escritor

    que, depois de terminar o livro, lheresponde: tenho trabalhado muitonas alteraes de Robur. Finalmente,tinha includo um ataque areo.

    O autor estava consciente que asua obra seria criticada pelos parti-drios dos bales. O livro provocarum certo escndalo, ele escreve ao

    editor e enquanto entrega aoilustrador Lon Bennet o seuprprio croquis do corte trans-versal do Albatros, adicionan-do: No reerido aspecto geral,

    parece-me excelente que sejaantstico e vaporoso. Far bemem no o mostrar mais que nes-

    sas condies, para que nadapasse com excessivo detalhe.Curiosamente, uma dcada

    depois da apario da obra,precisamente nos anos 1896-1897, presenciou-se, nos Es-tados Unidos, a uma grandequantidade de avistamentos denaves areas similares ao Albatros deRobur, sendo a historia mais popular,a nave que colidiu contra um moinhona povoao de Aurora, Texas. Este

    enmeno conhecido como OleadaAir-Ship, a primeira maniestaoda semelhana com os actuais dis-cos voadores, sucesso que Verne,como em tantos outros casos, previucom uma exactido surpreendente.

    O argumentoA histria comea em Filadla,

    no Estado da Pensilvnia, onde osmembros do clube areo Weldon

    Institute, discutem acaloradamentesobre novos projectos para melho-rar as condies de viagem dos seuserrticos bales. O presidente UnclePrudent, o secretrio Phil Evans, rivalde Uncle, e os membros da singularorganizao tm a convico de

    que quando se inventar omotor adequado, o utu-ro estar nos sistemas detransporte mais leves queo ar, e tm j em marcha a

    construo de uma mqui-na dnamo-eltrica, quelhes permitir converter oseu ltimo aerstato numbalo dirigvel.

    Paralelamente re-portam-se nos cus domundo estranhas luzese rudos, provocados, se-gundo se cr, por algum

    estranho arteacto areo que causao assombro e desconorto num dosmais renomeados observatriosdo planeta. Estes acontecimentosso obra do misterioso Robur, um

    brilhante inventor que se introduznuma das reunies do clube, en-quanto debatiam sobre a possibili-dade do seu novo globo, o Go Ahead,utilizar uma hlice propulsora locali-zada na rente ou na parte traseira.

    Ali explica aos surpreendidosmembros que, para que um veculovoador domine os cus, este deveser mais pesado que o prprio ar.Os ousados comentrios de Roburexacerbaram o nimo dos assisten-

    Uncle Prudent e Phil Evanssequestrados a bordo do Albatros.

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    tes no encontro, que no duvidaramem gozar e expulsar violentamenteo intruso. Em vingana pelo ocorri-do no evento, Uncle Prudent, o seucriado negro Frycollin e Phil Evans,so sequestrados por Robur e leva-dos a viajar volta do mundo a bor-do do Albatros, a aeronave que se

    move com motores de hlice, parademonstrar-lhes a eccia, seguran-a e potncia da sua inveno.

    Depois de algumas semanas deorosa viagem, os cativos admitemque as suas noes de mais leveque o ar estavam equivocadas, po-rm no deixam de maniestar a suaira contra Robur pelo rapto a quehaviam sido submetidos. Dada a ne-gativa do capito da aeronave em li-bert-los, o presidente e o secretrio

    ormulam um plano para escapareme destruir o Albatros, aquele veculomaravilhoso e monstruoso ao mes-mo tempo.

    Finalmente, os balonistas con-seguem ugir e destruir o veculo,devido ao descuido de Robur e datripulao enquanto aziamreparos na aeronave numaremota ilha. Mais tarde soresgatados e regressam a Fila-

    dla, onde eram esperadoscom impacincia. Para sur-presa de todos, os ocasionaisaventureiros pouca importn-cia deram s suas ausnciaspblicas no dando qualquerexplicao e limitando-se acontinuar com o projecto devoo do Go Ahead.

    Meses depois, a grandevelocidade e mobilidade donovo balo maravilham a

    multido reunida durante unaproeza area, ainda que sen-do triviais em comparao squalidades da nave de Robur.De repente, um novoAlbatrosaparece para surpresa dos es-pectadores, que contemplamum ormidvel ataque areoda aeronave contra o gigan-

    tesco balo do clube. Todavia, Robursalva a vida dos seus antigos convi-dados devolvendo-os ilesos em ter-ra, demonstrando com isto que nolhes guarda rancor.

    Tendo provado publicamente odomnio dos ares, naliza com umdiscurso em que inorma que as na-

    es ainda no esto preparadaspara conhecer o seu segredo. A naveperde-se no cu e no se sabe maisdela. Mas havia de chegar o dia dalocomoo das mquinas mais pesa-das que o ar. E esta concluso no de Robur, mas sim do prprio JulesVerne: O uturo da locomoo area

    pertence aeronave, no ao aersta-to. Sero os Albatros que acabaro porconquistar os ares de orma deniti-va!

    Los personajes de la novelaRobur, 40 anos. Engenheiro criador da mquina voadora Albatros. Oautor rodeia-o num halo de mistrio acerca da sua origem e ortu-na.Uncle Prudent, 45 anos. Presidente do Weldon Institute de Filadla.Solteiro e milionrio, possuidor de uma grande parte de aes deNiagara Falls.

    Phil Evans, 45 anos. Secretrio do

    Weldon Institute. Solteiro e diretorde Walton Watch Company. Companheiro de aventuras de Uncle Pru-dent a bordo doAlbatros.Frycollin. Jovem criado negro de Uncle Prudent.Tom Turner, 45 anos, de origem inglesa. Contramestre do Albatros.Francisco Tapage. Francs originrio da Gasconha. Cozinheiro do Al-batros.Truk Milnor, William Forbes, Bat Fyn, Jem Cip. Membros do WeldonInstituteHarry W. Tinder. Personagem retirado da vida real. Aeronauta do Go

    Ahead.

    Os prisioneiros de Robur levam a bomtermo o seu plano de uga.

    Bibliografa

    Herbert Lottman. JulesVerne. Editorial Anagrama,Barcelona, 1998.Wikipedia. Robur theconqueror. Disponvel em:http://en.wikipedia.org/wiki/Robur_the_Conqueror.Gabriel de la Landelle,

    inventeur du mot aviationen 1863. Disponvel em:http://www.bretagne-aviation.r/Pionniers/page%20landelle.htmFrank Reade home page . Di-sponvel em: http://www.bigredhair.com/rankreade/index.html

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    Maro - Abril 2008

    Carlos PatricioEm viagem pelo Amazonas

    Embora Jules Verne jamais ten-ha realizado uma viagem ao Brasil,ambientou neste pas pelo menosduas obras que azem parte de suaamosa coleo das Viagens Ex-traordinrias.

    A primeira meno ao Brasil apa-rece no livro A Galera Chancellor,publicado em 1874. A citao apa-rece nas ltimas pginas do trgicoromance, por sinal objeto de anli-se no primeiro nmero de MundoVerne. Os nuragos, amontoadosnuma pequena jangada eita spressas, meio mortos de ome e as-solados por uma sede insuportvel,

    so salvos quando um deles ci aomar, desesperadamente sedento,bebe o que pensa ser gua salina e surpreendido pelo ato de encon-trar gua doce em pleno oceano. Aprecria embarcao passava, semque os sobreviventes se apercebes-sem disso, pela plataorma conti-nental brasileira, mais precisamentejunto costa norte do pas, prximo desembocadura do Rio Amazo-nas, o maior em extenso e volumede gua em todo o planeta.

    Verne ensina, ento, que a es-petacular vazo na oz do gigan-tesco rio empurra gua doce maradentro por quilmetros e quil-metros, causando o enmeno queacidentalmente salva os desaortu-nados passageiros e tripulantes dasinistrada embarcao. A antsti-ca concluso da aventura atiou aimaginao dos leitores e elevou o

    j amoso rio brasileiro a condiode verdadeiro enmeno naturalsem paralelo no mundo

    Segunda visita ao Brasill

    Em A Jangada tambm co-nhecida como 800 Lguas sobreo Amazonas, publicada em 1881,Verne conta a trajetria de uma a-mlia brasileira em uma espcie de

    vila utuante atravs do mesmo RioAmazonas mas dessa vez, Vernese detm mais aproundadamenteem terras brasileiras.

    Joam Garral parte de Iquitos,no Peru, para casar a lha em Be-lm, capital do estado brasileiro doPar, atravessando todo o Amazo-nas em uma gigantesca jangadaque reproduz elmente uma tpi-ca propriedade rural do norte doBrasil, na poca: a chamada CasaGrande, onde viviam o senhor dasterras e sua amlia; a senzala, casados escravos (a escravido no Brasil,vergonhosamente, s oi abolida

    em 1888, pela Lei urea, assinadapela Princesa Isabel, lha do entoImperador Pedro II), cabanas e atuma pequena capela.

    Garral era procurado, h anos,no Brasil, por um crime que no co-meteu e a prova de sua inocncia uma carta criptograada (outra daspaixes de Verne) em poder de umacnora, o vilo Torres.

    Desta orma assistimos leiturade um romance geogrco, repletode descries de lugares e costu-mes pitorescos, explorando rios eauentes no interior da selva ama-znica. uma histria com mui-ta ao e aventuras que incluemataques de animais selvagens, detribos indgenas, doenas tropicaise at exploraes submarinas. Etudo isso envolto em um mistrioa ser desvendado e uma enigmti-ca mensagem cirada que permeia

    toda a narrativa. Em resumo: todasas principais caractersticas de umaaventura tipicamente verniana es-to presentes nesta histria, umadas mais completas obras do autorgauls.

    Jules Verne conheceu a amliareal brasileira e a princesa Isabelpouco antes de escrever o livro. Oimperador do Brasil era conhecido

    por seu interesse cientco, sua cul-tura e inteligncia acima da mdia.Michel Riaudel, proessor de Litera-tura comparada na Universidade deNanterre e autor do precio da l-tima traduo brasileira desta obra,arma que esse encontro inuen-ciou denitivamente a narrativa.

    A Jangada comea com umcaador de escravos oragidos. Verneutiliza esse personagem para discutir

    justamente a questo da abolio. Eprovavelmente o tema da escravidooi abordado nas conversas do autorcom a amlia dOrlans e Bragana,arma Riaudel.

    Alm disso, como em todos osseus escritos, Verne d mostras deuma intensa pesquisa preliminar.Segundo registros da poca, espe-cialistas reconheciam que, apesarde uma impreciso aqui e outraacol, as descries contidas no li-vro no estavam muito distantes darealidade. Ao longo das deliciosaspginas do inesquecvel conto, hmomentos em que o gauls d ver-dadeiras aulas de geograa sobre aat ento desconhecida Amaznia.

    Verne e sua inuncia na juven-tude brasileira

    Desde as primeiras edies bra-sileiras das obras de Verne, obser-vou-se sua inuncia na ormaocultural e prossional de inmerasgeraes de pequenos e grandesleitores que, levados pela mo doexcepcional escritor e inspirados

    pelos eitos e conquistas de seusheris mitolgicos, tornaram-se ex-ploradores, cientistas, engenheiros,astrnomos, aeronautas, gegra-os, gelogos, mineralogistas, oce-angraos, biologistas marinhos,urbanistas, arquitetos, agrnomos,literatos, lsoos, escritores e pro-essores das mais diversas reas.

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    graticanteconstatar o incr-vel nmero depessoas, de todasas idades, queat hoje cones-sam terem sidoinuenciados por

    Verne, suas idiase, principalmen-te, seu ideais. Oautor, ao popu-larizar a Cincia,tornou-a, talvezparadoxalmentea primeira vista,um bem cultu-ral para seus lei-tores cujos so

    apresentados deorma extrema-mente prazerosa,mas no por issomenos rigorosa eeciente, a umaespantosa quan-tidade de inor-maes tcnicas

    e cientcas, cobrindo a maior partedas descobertas e dos avanos daHumanidade. Isso certamente criouum vnculo entre nossa percepo daCincia e aquele que a ela nos apre-sentou.

    Ao mesmo tempo, o Homem sempre colocado como o pice, ar-

    tce e objeto principal desse desen-volvimento, que para nada serviriase no osse aplicado e aproveitadopara o bem de todos. Verne soube,como talvez ningum em sua po-ca, a undamental importncia dainteligncia, da cultura, da tica e darmeza de carter para a personali-dade do indivduo. Ns, leitores ver-nianos, temos essa primazia, a de ter-mos sido orientados por tais valores.

    , sem dvida, um eterno dbito degratido com nosso generoso mestreJules Verne

    Na margem esquerda do rio Negro o mais importante,o maior dos auentes da grande artria brasileira haviasido erguida a capital da provncia, que dominava toda acampina circunvizinha ao pitoresco conjunto de casas parti-culares e edicios pblicos.

    O rio Negro, descoberto em 1645 pelo espanhol Favella,tem a sua nascente na encosta das montanhas situadas anoroeste, entre o Brasil e Nova Granada, no corao da pro-vncia de Popayan, e se comunica com o Orenoco, isto , comas Guianas, por dois auentes, o Pimichim e o Cassiquirio.

    Depois de um magnco curso de mil e setecentos quil-metros, o rio Negro derrama por uma oz de mil e cem toesas,suas guas escuras no Amazonas, mas sem que elas se mis-turem por uma distncia de vrias milhas, to orte e activo esse escoadouro. Nesse lugar, as pontas das duas margensse abrem ormando uma ampla baa, com a proundidadede quinze lguas, que se estende at as ilhas Anavilhanas.

    Ali, numa estreita chanradura, se agitava o porto de Man-aus.

    A madeira para construo e mercenria, cacau, borra-cha, ca, numa palavra, todos os esses objectos tinham v-rios cursos dgua para transport-los em todas as direes.

    A situao dessa cidade era, portanto, privilegiada em relao a todas as outras, o que contribua muito para a suprosperidade.

    Manaus, chamava-se, antigamente, Moura e era desd1826 a capital da extensa provncia do Amazonas, e deve seu novo nome de uma tribo de ndios que outrora havia habitado os territrios centrais da Amrica.

    Manaus uma cidade de cinco mil habitantes, das quai pelo menos trs mil eram empregados do governo. Havium certo nmero de prdios pblicos para uso desses uncionrios: a cmara legislativa, o palcio da presidncia, tesouraria geral, os correios e a aduana, sem contar um colgio undado em 1848 e um hospital inaugurado em 1851.

    Quantos s construes religiosas, seria dicil nomeamais de duas: a pequena igreja da Conceio e a capela dNossa Senhora dos Remdios, construda quase em campraso, numa pequena elevao que dominava Manaus.

    A populao de Manaus, alm dos uncionrios, era composta sobretudo de negociantes portugueses e de ndios qupertencem s diversas tribos do rio Negro.

    A jangada, captulo XX

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    Pedro Paulet, o verniano peruanoAlvaro Meja Salvatierra

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    de usar os estudos de Turpin a umdos seus mestres, o qumico Mar-celin Berthelot, ento o cientistarancs mais importante depois dePasteur, que depois de conhecer umprimeiro desenho do motor-oguetede Paulet, o aconselhou a experi-mentar com explosivo.

    Em 1902, antes do voo inauguraldos Wright, Paulet terminou os pla-nos de uma nave espacial, o AvioTorpedo, que veria a ser o primei-ro antecedente de vrios veculosmodernos, includo o transporta-dor espacial. O Avio Torpedo teriauma asa delta pivotante com vriosmotores-oguete na base. Apontan-do para cima, levantaria voo verti-calmente. Ao girar, se moveria em

    orma horizontal. Novamente emorma vertical, a descida seria suave.Quando perguntaram a Verne o

    porque de ter ambientado Da Terra Lua nos Estados Unidos, respon-deu que lhe parecia ser o pas dosengenheiros e, portanto, o cenriolgico para isso. Paulet queria mas-sicar a engenheira no Peru e criar oambiente propcio para a sua inven-o. Aceitou dirigir a Escola de Artese Ocios, trazendo um grupo de

    proessores europeus para ormaros tcnicos que seriam os engenhei-ros nacionais em todos os campos.Perante a possibilidade maniestadade conitos blicos com os pasesvizinhos, quis pr o Avio Torpedoao servio das oras armadas peru-anas.

    Outros inventores, que procura-vam igualar os Wright, proponhamtambm os seus projetos de avies,despertando um interessante deba-te de qual era o tipo de nave voadoraque convinha ao Peru. Perante isso ecomo o governo do Presidente Le-gua no parecia interessado em o-mentar as indstrias nacionais, Pau-let props criar a Liga Nacional deAviao, um espao onde os inven-tores peruanos pudessem desenvol-ver e comparar os seus projectos.

    Alm disso, deu palestras eescreveu artigos, a m de se posi-cionar como um sbio nos unda-mentos da navegao area. Numdos seus artigos, na revista Ilustra-cin Peruana (1909), encontramossua nica meno a Verne at aomomento. Depois de um elogio

    aos veculos mais pesados que oar, como ortpteros, helicpterose aeroplanos, escreveu: Ningumacreditava neles h um ano nem nosescritores de antasia, que como J-lio Verne, lanavam em pleno cu, asgrandiosas mquinas dos seus herisimaginrios.

    Como explicar esse coment-rio? A leitura mais evidente quese ele tinha imaginado uma nave

    espacial impulsionada por oguetes,o canho de Da Terra Lua, estedevia parecer-lhe absurdo. Porm,colocando-nos no contexto do de-bate que se suscitava, parece-nosque Paulet queria-se distanciar detodo aquilo que soara antasiosoe demonstrar que ele se ajustava aestritas bases cientcas. Apear dosseus esoros, no nal, as oras ar-madas optaram pelos aeroplanos dehlice e abricao estrangeira.

    H indcios de que Paulet oitambm designado a projectar umsubmarino -algo que no era novo,visto que tinha existido na dcadade 1860 um projecto similar a cargode Frederico Blume Othon- e propso uso de bales aerostticos paraavistar tropas, navios e submarinosinimigos. No se sabe o desechodeste projeto.

    Pelo que se sabe, antes da rejei-o de seu projecto de avio, Pauletvoltou Europa em 1910, em buscade um melhor ambiente para a suainveno. Este acabaria por aparecernos nais dos anos 20, na Alema-nha, onde acabaria por inuenciaros cientistas alemes da Sociedadepara Voos Espaciais (Verein r Rau-mschifahrt), grupo de que sairia VonBraun. Todo indica que Paulet se re-

    lacionou com eles no momento quetentavam desenvolver motores decombustvel lquido e que chegou acolaborar mas, ao descobrir que pla-neavam abricar msseis de guerra,terminou com a colaborao. Logodepois quis desenvolver a sua naveno Peru, mas no teve sucesso.

    Nos seus ltimos anos de vida,armava que o Avio Torpedo teriatambm a capacidade de explorar

    as proundidades do mar, o que re-corda a Epouvante, o peixe-pssaro,nave que Verne ez aparecer na obraO Senhor do Mundo. Eram temposem que ainda se discutia como se-ria a nave que realizasse o sonho.E provvel que Paulet estivesse apensar em aterr-lo na gua, comoVerne havia antecipado em Da Ter-ra Lua.

    O peruano morreu em Janeirode 1945. Meses depois, ao termi-nar a Segunda Guerra Mundial, VonBraun, o construtor dos temidos ms-seis V-2, seria capturado pelo exrci-to norte-americano e, nalmente,construiria o Apolo XI para a NASA.

    Ainda se tem muito por averi-guar da vida de Paulet. Entre outrascoisas, se existiu um encontro entreele e Jules Verne

    Planos do AvioTorpedo de Paulet

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    As Viagens Extraordinrias: um novo tipo de LiteraturaAriel Prez

    Capa de uma das ediesHetzel das Viagens Extraordinrias.

    O desenho e a impresso sode uma qualidade excelente

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    cado trs obras com xito, quando,no prlogo de Aventuras do Capi-to Hatteras, Hetzel escreveu queo propsito da srie era resumir to-dos os conhecimentos geogrcos,geolgicos, sicos e astronmicoselaborados pela Cincia moderna e

    contar, de orma atractiva, a histriado Universo.Hetzel acrescenta que por outro

    lado, as obras do senhor Jules Vernetm chegado oportunamente. Quan-do vemos o pblico correr apressada-mente s conerncias que ocorremem mil lugares na Frana, quandovemos que ao lado das crticas de artee de teatro teve que se dar lugar nosnossos jornais aos boletins da Acade-mia de Cincias, resulta dizer que a

    arte pela arte no suciente para anossa poca e que chegou a hora emque a Cincia ocupe seu lugar na Lite-ratura O mrito do senhor Jules Ver-ne por ter sido o primeiro em colocarem p este novo terreno, e tem-no eitomagistralmente... As uturas obras dosenhor Jules Verne iro se agrupandosucessivamente a esta edio, que te-remos o cuidado de manter sempre ac-tualizada. As obras que j apareceram

    e aquelas que aparecero constituirono seu conjunto o plano que props oautor ao dar sua obra o subttulo deViagens atravs dos mundos conheci-dos e desconhecidos.

    O ttulo que se deu coleco iriase converter com o passar do tempono slogan publicitrio que deu o -lo de ouro ao dono da editora paraidenticar o conjunto de obras econtos escritos por Jules Verne. Tem-se especulado muito sobre a possibi-

    lidade de que Verne tenha sugeridode alguma maneira o ttulo da srieseguindo a rmula das HistriasExtraordinrias de Poe, um escritormuito admirado por ele, mas no hprovas que o indique nem to pou-co que armem o contrrio. E se em1866 a srie contava com um ttulo,tambm Hetzel se encarregou de prum subttulo no menos chamativo

    ao conglomerado de sessenta e duasnovelas e mais de cem volumes: Osmundos conhecidos e desconheci-dos.

    Mas, o que realmente uma via-gem extraordinria? Michel Serresdene-o assim: uma viagem vul-

    gar no espao (terrestre, areo, mar-timo, csmico) ou no tempo (passado,presente, uturo), um caminho de umponto dado a tal outro desejado emsegundo lugar, uma viagem enciclo-

    pdica: a Odisseia circular, recorre aociclo da sabedoria por ltimo, umaviagem inicitica no mesmo sentidoque o priplo de Ulisses, o xodo do

    povo hebreu ou o itinerrio de Dante.Os relatos de Verne pertencem

    Literatura de divulgao cientca.

    So obras cheias de saber cientcoprestes a ser divulgado, ensinandosem dor e esoro. O leitor, atravsdas Viagens Extraordinrios, e aocontrrio de outras ormas de diun-dir o conhecimento, se introduz naaventura aprendendo pela prpriaexperincia, percorre pela mo donarrador o espao dos conhecimen-tos, todo ele sem perder de vista arazo. Desta orma, as obras de Jules

    respondem a essa chamada positi-vista que inundava a Literatura nosnais do sculo XIX. O protagonistadas suas aventuras nunca penetrarno campo do inverosmil, do imagi-nrio. No parece ser, distncia eanalisando-as com a cabea ria, c-o-cientca e as suas antecipaesquem sabe se limitem a ser merasreconstrues escritas de projectosque estavam no ambiente cientcodo momento.

    Jules Verne, bastante desconhe-cido antes de se apresentar a Hetzel,dedicava-se a escrever pequenascomdias, operetas e contos paracrianas na revista Muse des amilles.Numa das entrevistas que tem como seu editor, explica-lhe o antsticoprojecto que tinha entre mos e queum dia o seu mentor literrio, Alexan-dre Dumas, o aplaudiu. Os resultados

    oram incrveis. A obra modicadaentusiasmou Hetzel e, pouco tem-po depois, -lo assinar um primeirocontrato para a publicao exclusivade Cinco semanas em balo, condi-cionando o tipo de pblico a que sedeveria dirigir a produo: o juvenil.

    Este segundo condicionamentotinha, sem dvida, uma razo de ser.Hetzel, como bom seguidor das dou-trinas de Saint-Simon, tinha trazidoum vasto plano de educao cien-tca, literria e moral da juventudeburguesa, e todas as obras que pu-blicaria dentro da editora ariam par-te dele. Jules Verne, ao aceitar estecontrato, se encaixava pereitamentedentro dos desgnios do seu editor.

    Nascia, ento, as Viagens Extra-

    ordinrias, que no so mais queobras cientcas cujo trama est ba-seado em teorias cientcas, enigmascientcos, e solues cientcas. Emgeral, o o argumental um racio-cnio cientco: uma hiptese inicialque haver de se demonstrar ao lon-go da experincia que o relato emsi. Assim, as diculdades com as quetropeam cada um dos personagenstero tambm uma eliz soluo,

    tambm cientca.O carcter pedaggico da srie, principalmente, o de ormar o es-prito empreendedor tanto no leitor,como no protagonista juvenil. Nes-te sentido, muitas das obras que aconstituem, entram na categoria deobras iniciticas. Nelas um determi-nado personagem, ou personagens,includo o prprio leitor, inicia-se nossegredos desliza-se na aventura queo saber autoriza, e entra no espao

    preparado pelo clculo, como umaespcie de jogo. a mesma ignorn-cia guiada por um iniciador - o cien-tco, o mestre de cerimnias - queatravessa uma srie de provas (oabismo, a sede, a perda...) das quesair vitorioso e, desde logo, conver-tido.

    Muitos especialistas da sua obratm coincidido em dividir as Viagens

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    Extraordinrias em duas etapasbem dierenciadas. A primeira entreos anos 1862 e 1879 e a segundadesde 1880 at 1920, que encerrouno ano em que se publicou o seu l-timo livro pstumo. A primeira etapacompreende em matria de ttulos

    desde Cinco semanas em balo atAs atribulaes de um chins naChina. Podem-se carac-terizar pelas tendnciassocialistas romnticas donosso escritor.

    Os seus personagensso autnticos explora-dores e descobridores.Os cientistas e engenhei-ros so homens amveis,carismticos e solidrios.As mquinas que apa-recem nesta primeiraparte, no ameaam ohomem nem a Natureza.So arteactos inocen-tes, muito semelhantesaos que desenhava Le-onardo da Vinci, que mui- t a svezes ormam parte dapaisagem conundindo-senela. As mquinas emulam

    a Natureza e a apereioam.No produzem mais valia,no penetram na dinmicacapitalista. Elas acilitam aohomem as suas actividades,tornando mais conortvela sua existncia. Denitiva-mente, um perodo carac-terizado por ser um cantoao progresso e ao uturo daelicidade do ser humano.

    Destas publicaes destacam-se,

    por si s, cinco obras que constitu-ram os seus maiores xitos e queoram as que lhe deram, essencial-mente, a ama universal: A volta aomundo em oitenta dias, Vinte millguas submarinas, Viagem aocentro da Terra, Da Terra Lua eA ilha misteriosa. O tema cientcoem quatro destas cinco obras est

    or de pele. A volta... uma das suasmais engenhosas histrias onde a suaprpria ideia oi extrada presumivel-mente de um conto de Poe e de umanncio que viu certo dia num jornal. o nal da obra e a sua soluo quea azem uma histria digna de exem-

    plo, pondo de parte o resto das des-cries que az medida que Phileas

    Fogg, o persona-gem principal, vai

    v i a j a n d o volta do mundo, permitindo que

    o leitor conhea as interioridades ecaractersticas dos povos e lugarespor onde passa. Vinte mil... ressaltapela sua viagem volta do mundo,mas desta vez a novidade uma tra-vessia submarina, a bordo do mticoNautilus do capito Nemo. Viagemao... pela sua atrevida ideia da exis-tncia de vida no centro da Terra. Da

    Terra por ser uma das primeirastentativas literrias srias de enviar ohomem para alm do seu planeta eA ilha por ser uma ode Cinciae a primeira tentativa de Robinsonis-mo na obra verniana, rmula que re-petiria depois em algumas das suas

    obras.Desta poca tambm ressaltam

    um grupo de obras onde o tema cien-tco menor, notadamente so his-

    trias ao estilo de aventuras:Cinco Semanas em um Ba-lo, Miguel Strogo, HctorServadac, Viagens e aven-turas do Capito Hatteras eOs Filhos do Capito Grant.Nelas os personagens diver-

    tem-se viajandopelo ar, para oPlo Norte, oespao exterior,por mar em am-bos os oceanosem busca deum pai perdidoe at a cavaloatravs de todoum territriocoberto de ini-

    migos. Outrosttulos de menortranscendn-cia completameste perodo deobras, mas sem-

    pre com o impregnado esp-rito do progresso cientco, aexplorao e a exaltao dosheris sbios e conhecedoresdo meio que os rodeia.

    O segundo perodo inaugura-se

    com a premonitria Os quinhentosmilhes da Begum, com um im-pressionante retrato da ento uturagura de Adol Hitler, e chega at Aimpressionante aventura da mis-so Barsac, a ltima obra publica-da. Nesta etapa aoram rasgos maispessimistas. Nela reecte-se a orma-o dos regimes imperiais, a corrida

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    pelas colnias, a uso do capitalindustrial com o nanceiro e a con-seguinte ormao dos grandes mo-noplios. O cientco, por sua parte,introduz-se dentro da produo in-dustrial convertendo-se no seu pr-prio empresrio, o que resultar num

    maior impulso da tcnica e da cin-cia que j, nessas alturas, se aplicava guerra. Aparece o sentimento deresponsabilidade social do homem.Todo este pessimismo que Vernesente pela realidade desse progressode que tanto esperava, levar-lhe- aadoptar uma postura individualista elibertria.

    Se o primeiro perodo menciona-do anteriormente abarca a apresen-tao mais completa dos temas pri-mrios do autor, a partir de Os qui-nhentos e durante a redaco doresto dos livros, as obras sorem umgrande nmero de transormaes.O assunto menos de explorao oude inovao cientca e resulta serem maior parte de turismo; o humor mais pessimista, irnico, cortante(ainda se presume que o optimismoinicial de Verne tenha sido muitoexagerado, como resultado das pres-

    ses da idade e, particularmente, asdo seu editor); os personagens ame-ricanos e tambm os britnicos noso apresentados na orma to avo-rvel como o eram nas suas primei-ras obras; as histrias acabam quasesempre com a morte ou a loucura dealguns dos personagens; as poucasmquinas que se mostram, nalmen-te, so destrudas e, na vida real, asobras oram-se vendendo cada vezmenos.

    Todavia, alguns crticos, comoRaymond Roussel, deendem os l-timos trabalhos. Armam que a iro-nia, o cepticismo, e a auto anlise somais modernos que nas primeirasobras e so mais reveladores do queVerne realmente era. Como exem-plo, o tema do canibalismo, quehavia sido tratado com muito sigilo

    nas obras precedentes, recebe umtratamento mais sistemtico em AGalera Chancellor e logo depoisem outras obras. Verne escreve aoseu editor em 1883, onde diz que jno tem mais temas de interesse quetratar e um dos sinais de alta de in-

    veno nas suas obras neste perodo a quantidade de continuaes queproduz, quer sejam historias prpriasou as de outros escritores como Wysse o seu Robinson Suo ou as Aven-turas de Arthur Gordon Pym dePoe.

    As obras de Verne dos seus l-timos anos, em resumo, eram maisaventureiras, ainda que muitas delassejam importantes e devam ser ana-lisadas como tal noutros sentidos.

    Talvez a nica obra que recordeVerne dos primeiros anos e que re-sulta ser uma excepo dentro destepessimismo resulta ser O testamen-to de um excntrico, uma divertidahistoria sobre um jogo que pe aviajar muitas pessoas volta dos Es-tados Unidos da Amrica e que, depasso a passo, serve para Verne des-crever com luxo detalhe as paragensda nao do norte, desenvolvendo a

    histria e o argumento no puro estiloverniano dos primeiros anos.

    As obras que oram publicadaspostumamente (oito no total) sonovamente dierentes do resto ao irmais alm que os seus trabalhos pr-vios como na anlise de temas comoo anarquismo, socialismo e comu-nismo. Durante muito tempo, a opi-nio crtica esteve dividida acerca daexplicao do porqu dos seus tex-tos pstumos serem to dierentes.Alguns, incluindo o seu neto, JeanJules-Verne, diziam que o autor ha-via retardado a publicao das suasobras mais radicais at depois da suamorte para evitar uma reaco pou-co avorvel do pblico. Mas outrosespecialistas pensavam que Michel,seu lho, teria muito que ver nestadierena ao reescrever largas por-

    es dos ltimos manuscritos do seupai. No nal da dcada de setenta,Piero Gondolo della Riva, um inves-tigador italiano responderia a essapergunta.

    Em geral, as Viagens Extraor-dinrias representam um universo

    prazeroso carregado de pedagogia,explorao e Cincia, escrito explici-tamente para a juventude da poca,para jovens sem distino de sexoseguindo sempre um muito bemplano educativo traado por Hetzel elevado prtica por Jules Verne.

    Com o passar do tempo a srieconverteu-se na leitura no s de jo-vens, mas sim de muitos adultos, quevm, nos textos dos livros que com-pe a coleco, mais do que simplesobras de aventuras ou antecipaocientca. Tudo parece indicar que asViagens Extraordinrias explicam agura de Verne e Verne explica o por-qu da srie. H uma relao muitopessoal e directa entre eles, para v-los isoladamente.

    O que no h dvida que h mui-to por se investigar e dizer em tornodo tema. Se tm sido eitos recentesdescobrimentos que rodeiam a sua

    obra e completam a sua personali-dade, ainda est por se conhecer adimenso real do que seriam os seuslivros sem a interveno de Hetzel ea excluso de passagens inteiras den-tro das histrias ou incluso de ideiasargumentais manejadas por Vernecomo aquela de azer de Nemo umpolaco cuja amlia havia sido assas-sinada pelos russos. Apenas citar umexemplo, qual seria o destino de suacoleco se Paris no sculo XX tives-se sido publicada depois de Cincosemanas..., como programado?

    Como quer que seja, a srie con-verteu-se num novo estilo para apoca e ainda hoje, mais de cem anosdepois da sua publicao, perduramos seus textos e prossegue o debatesobre o seu contedo e orma. Osprximos anos de busca daro maisluz sobre o assunto

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    acesso pela primeira vez biblio-graa completa de Jules Verne, lerartigos dos mais reconhecidos es-pecialistas vernianos e ver a coleode selos mais impressionante sobreo rancs. Ali, oi onde pude inteirar-me de tudo o que aconteceu no En-contro Mundial de Amiens, ao quallamentavelmente no pude compa-recer. Recentemente pude desrutaron-line das ilustraes originais doslivros de Hetzel. Foi no rum ondeconheci as excelentes pessoas que oormam e participam dele e aquelesaos quais no mencionarei os nomespois temo esquecer algumas pesso-as por citar.

    Realmente, Zvi, voc uma pes-soa muito amvel e de uma pureza

    de alma impressionante, sempre dis-posto a ajudar, chegar a consensos,ouvir sugestes e p-las em prti-ca. Me surpreende sua capacidadede universalizar o cosmos verniano.Basta olhar para essa biblioteca vir-tual com livros em doze idiomas di-erentes, os selos provenientes e cin-qenta e oito pases que voc ps adisposio dos visitantes, para o pra-zer visual de contemplar o trabalhoartstico neles realizados desde a d-cada de 50 do sculo passado. Paraessa comunidade virtual voc tra-balha, e converteu, na ltima dca-da, sua pgina e seu rum no ponto

    de encontro dos estudiosos da obrado rancs. Sem dvidas, houve umantes e um depois de Zvi.

    Hoje estamos todos aqui, reuni-dos, em torno de voc. Convoquei al-guns de seus amigos mais queridos eoutros que, ainda que no o conhe-am sicamente, como eu, o admira-mos. Trouxe tambm seu lho Nadavque quer alar de voc.

    Quando comea a paixo de seupai por Verne?

    Meu pai conheceu as obras deVerne aos 10 anos, quando em 1959lhe presentearam com a primeiratraduo em hebraico de Dois Anosem Frias, que surgiu naquele ano.Depois, como adolescente comproualguns livros de Verne em rancs e

    aprendeu o idioma por sua conta, amedida que lia os livros.

    Ele tem uma grande coleo so-bre Verne?

    Certamente. Meu pai um cole-cionador vido e tem uma grandequantidade de coisas reerentes aVerne, desde bandeiras at lmes deWalt Disney, mas sua coleo maisquerida a de objetos de interessehistrico. Provavelmente ele tem to-dos os livros escritos por Verne emrancs e sua traduo para o ingls.Tem a maior parte das tradues emhebraico que se publicaram e tradu-es de muitas outras lnguas, como

    rabe, diche, japons,coreano, turco, geor-giano, russo, espanhole muitas outras. Amaioria desses livrosso presentes de suaamlia, livros que ad-

    quirimos em nossasviagens. Junto aos li-vros de Verne ele tam-bm tem obras sobreo autor, um grandenmero de selos, me-dalhas, cartes pos-tais, lmes, msicase outras centenas deelementos baseados

    Seus amigos tm a palavra

    Brian TavesS o vi no Encontro Mundial de 2005.Estimo, certamente, que o rum provavelmente sua maior contri-buio. Tambm sua pgina, comoonte autorizada de inormao so-bre Verne, aberta a especialistas e lei-

    tores, de orma geral.

    William ButcherEm 1997, oi Jean-Michel Margotquem me permitiu unir minhas duasmaiores paixes, Verne e Internet, aoindicar, no boletim da NAJVS, a exis-tncia de um excelente site vernia-no com um rum que acilitava oscontatos internacionais. Contatei Zvi

    por correio eletrnico e ele oi muitoamvel ao me convidar a publicar ar-tigos em sua pgina. Contou-me dador que ainda sentia pela morte deGilead, e lhe aconselhei a trabalharem sua pgina para tentar esquecer aperda e, por sua vez, render tributo memria de seu lho. Nunca conheciZvi em pessoa, mas isso no impedenossa amizade. Nos ltimos tempostemos trocado correspondncias acerca da atualizao de uma crono-logia da vida de Verne. Antes de Zvi, ocentro de gravidade da investigaoverniana estava na Frana, mas logoe graas a ele vivemos em um mundomultipolar onde os especialistas queno esto cientes de seu rum ou daVerniana se privam de uma erramen-ta essencial, sem a qual lhes impos-svel conhecer as novas descobertas.

    Bernhard KrauthO conheci no Encontro Mundial JulesVerne, em 2005, em Amiens. Logo me

    comunicava reqentemente com elesobre toda a questo relativa aos selose s ilustraes. Zvi gentil, tranqilo,simptico, tem um singular senso dehumor e muita alegria de viver. Norealiza investigaes cientcas sobreVerne, mas a grande qualidade desua pgina o coloca no mesmo nveldos estudiosos.

    H trs anos no casamento de seu lho. Da esquerdapara a direita, Michal, sua lha; Zahava, sua esposa;

    Zvi e Nadav.

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    nas obras de Verne, inspirados porele, ou batizados em honra a seus he-ris literrios, como por exemplo umperume com o nome Phileas.

    Ouvi dizer que durante essesltimos anos ele adquiriu muitosselos, para coloca-los na pgina.Isso verdade?

    Sim, . Meu pai sempre oi colecio-nador de selos, desde a inncia, mascomo adulto tem se limitado suasatividades latlicas a colecionar se-los exclusivamente sobre Jules Ver-ne. Com o surgimento da Ebay coumais cil procurar e comprar mais eem algum momento decidiu escane-ar sua coleo e p-la na Internet deorma livre para que todos a possamver. O primeiro selo de Verne que tive

    (e segundo recordo, o primeiro queapareceu mundialmente) oi um pro-duzido na Frana em 1955 motivadopelo aniversrio de 50 anos da mortede Verne. Desde ento, centenas deselos surgiram, comemorando da-tas relativas ao autor e sua obra, emmuitos lugares. O selo mais recenteno site de meu pai um provenienteda Coria do Norte, de 2006, com umretrato de Jules, lembrando (creioque de orma atrasada) o centenrio

    de sua morte.De onde veio a paixo de seu

    pai por Verne?

    Aparentemente, o livro que leuquando criana, Dois Anos em Friasteve uma grande inuncia nele, quedurou toda sua vida. Quando meupai gosta de algo seja sua amlia,ensinar, a computao, a programa-o ou Jules Verne sempre o azcom paixo. Est sempre disposto a

    adiar horrios de almoo ou utilizaros de sono para trabalhar nas coisasque ama.

    Ele costuma comentar com aamlia sobre o que az em sua p-gina?

    Foi meu pai quem me ensinou ausar os computadores e o sistema

    Seus amigos tm a palavra

    Daniel CompreZvi veio em visita a Amiens no ms de agosto de 1980, ao Centro de documentao Jules Verne, que criei. Desaortunadamente,no me encontrava na cidade nesses momentos, algo que lamentei. Logo mantivemos correspondncia e nos encontramos -sicamente em maro de 2005. Sua pgina sobre Jlio Verne, com uma grande quantidade de textos acessveis on-line e o rumconstituem, para mim, um porto precioso que permite aos especialistas trocar inormaes de orma cil e rpida. Zvi umapessoa de rara amabilidade, sempre disponvel e calorosa. Estas qualidades so to notveis que so percebidas atravs de suas

    mensagens eletrnicas!

    Garmt de VriesO conheci em princpios de 1996. Havia comeado meus estudos universitrios e acabava de descobrir o mundo da Internet. En-trei em contato com Dennis Kytasaari a propsito de sua pgina e ele me alou da existncia do rum. Me inscrevi e recebi umamensagem de Zvi dizendo que eu era o membro de nmero 14, e o primeiro da Holanda. Depois dessa primeira mensagem, meajudou reqentemente a entender HTML, Unicode e outros detalhes tcnicos. Trocamos livros. O considerava como um velhoamigo quando o encontrei, em carne e osso, no Encontro Mundial, em 2005. Sem dvidas, sua grande contribuio oi a criaodo rum. Verniana outra contribuio importante e veremos sua relevncia nos prximos anos. um homem muito agradvel,simptico, sempre de bom humor e disposto a ajudar. Um verdadeiro otimista, cosmopolita e um querido amigo.

    Dezembro de 2007. Zvi em sua casa em Haia, Israel,em sua pose tpica, sentado no so da sala,

    com seu co Meshi, trabalhando em sua pginasobre Verne em seu computador porttil.

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    Nmero 4

    operacional Unix, h quase um quar-to de sculo. O trabalho com a Inor-mtica tem sido nossa xao com-partilhada, e conversamos sobre ascoisas que azemos em nossos tem-pos livres, normalmente sobre so-twares livres ou o contedo gratuitoque disponibilizamos em nossas p-

    ginas. Sempre tive amplo conheci-mento do que meu pai az em seusite. Constantemente, ele comentasobre as novas iniciativas que lhe vaiadicionando, sobre os novos amigosque az e alguns planos que tem.Nos ltimos meses, por exemplo, te-mos trocado muitas opinies sobreVerniana. Tambm procuro ajud-loum pouco. Por exemplo, h uns anosatrs, quando vimos que ele levava

    seus selos ao trabalho, para digita-liz-los, lhe compramos um scannercomo presente de aniversrio, paraque pudesse azer o trabalho em suaprpria casa. H alguns meses, o aju-dei com o desenho do logotipo darevista. Em anos recentes, meu pai eminha me viajaram juntos a vriasconerncias sobre Verne na Franae em Israel de maneira que minhame tambm sabe muito sobre osamigos de meu pai e est ciente de

    suas atividades vernianas.Em todos esses anos, qual voc

    considera como a maior contribui-o de seu pai ao universo vernia-no?

    Sem dvida, o Frum Jules Verne,que comeou de orma muito discre-ta h um doze anos atrs com ape-nas oito pessoas e hoje rene maisde 200 membros de muitos lugaresdo planeta. Antes dessa iniciativa,os investigadores e acionados porVerne trabalhavam sozinhos, sem sa-ber o que outros como eles aziam.O rum de meu pai permitiu, pelaprimeira vez, que todos trabalhas-sem juntos e colaborassem entre si,azendo as coisas mais simples.

    Algum de seus flhos tm essamesma paixo por Verne?

    Nenhum de ns chegou perto de

    sua paixo por Verne, mas indubita-velmente, tivemos uma amiliarida-de com sua obras de uma maneiradierente do que a mdia das crian-as de nossa gerao. Lembro-me,quando menino, que escutvamostodas as noites uma gravao emudio, em hebreu, de Da Terra Lua,

    contida num cassete que meu pai ha-via gravado de uma estao de rdioisraelita. O primeiro lme que recor-do ter visto numa sala de cinema oiIn search o the Castaways. Foi dicilpara mim entend-lo, pois no sabiaingls e ainda no podia ler as legen-das em nossa lngua. Com o passardos anos, li algumas das tradueseitas aqui que tomei emprestadoda coleo de meu pai. A ltima que

    recordo ter visto oi Norte contra Sul,que oi traduzida em 2002.Quando minha irm estudou na

    Universidade, alguns anos atrs, es-colheu Verne como tema para umtrabalho de Geograa e usou muitosdos livros de meu pai, alm de seuvasto conhecimento sobre o tema,como onte de inormao. O traba-lho oi muito elogiado pelo proes-sor que o havia encomendado, e elelogo se converteu em um verniano e

    grande amigo de meu pai.Como criana, de que orma se

    recorda de seu pai?Como a pessoa mais orte, inte-

    ligente e generosa de todos os ho-mens. medida que ui crescendo,me dei conta que no era o maisorte, mas sim as outras duas coisas.Sempre ui um menino inquisitivo,curioso e aortunadamente meu paitem essa rara combinao de conhe-cimento em talento para o ensino, emeu interesse em matemtica, nasCincias e especialmente na Inor-mtica, sem dvida, devo a ele peloque me ensinou nas oportunidadesque me deu quando eu era criana.Tenho muitas recordaes elizes deminha inncia. Lembro-me comocvamos elizes quando regressa-va de alguma conerncia que havia

    Seus amigos tm a palavra

    Volker DehsEntrei em contato com ele por correioeletrnico quando oi necessrio uti-lizar, para sua pgina, uma biblio-graa das obras de Verne que haviaelaborado e enviado numa verso,para reviso, a Jean-Michel Margot.Corria o ano de 1996. Ento, nossoscontatos se limitaram atualizaodeste trabalho. Mais tarde, me con-vidou para que eu osse um dos re-datores da Verniana. Tive o prazerde conhec-lo, com sua esposa, emAmiens em maro de 2005 e em 2006. evidente que o rum resulta ser olugar de encontro por excelncia dosvernianos e que levou, por assim di- zer, organizao do mundial Jules

    Verne em Amiens. Aprecio muito suaalegria interior. Ele e Zahava dicilsepar-los em minha memria soabertos e simpticos. Recordo que,nessas ocasies, alamos mais dos problemas polticos atuais em Israel

    do que em Jlio Verne.

    Cristian TelloLembro-me que, quando comecei abuscar inormaes sobre Verne narede, cheguei a sua pgina. Seu gran-de contedo se converteu em segui-da no trampolim que me motivou acriar meu prprio espao em espan-hol. Denitivamente oi meu guia ereerncia para lanar meu projeto pessoal de Verne na web. Penso queseu maior eito unir os vernianos domundo vencendo as barreiras do idio-ma. Seu rum oi e continua sendo oveculo no qual circulam as melhoresinormaes relacionados com Verne.Pessoalmente, participar do rumde Zvi me ajudou grandemente a

    aumentar meu conhecimento sobreo escritor rancs. sem dvida umhomem religioso, cordial e dispostoa colaborar em tudo que concerne adivulgar a vida e obra de Verne. Suarevista Verniana um claro exemplodisso. Todos ns que temos tido opor-tunidade de conviver com ele, sabe-mos ter nele um grande amigo, sendotambm nosso mentor e guia.

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    Maro - Abril 2008

    dado. Lembro-me de jogar comele e abra-lo. Recordo as horasde conversa que tivemos alandosobre a Cincia e os computado-res. Isto comeou quando eu tinhauns 10 anos de idade e continuoudurante toda minha vida. Lembro

    dos presentes que me deu, espe-cialmente um aparelho de rdio,presente pelo meu dcimo-terceiroaniversrio, que escutei diariamen-te durante uns 15 anos.

    E como adulto?J como adulto, lamentavelmen-

    te, minhas memrias no so asmais elizes. Quando tinha 15 anos,descobrimos sua doena. Quandotinha 21, meu irmo Gilead mor-reu dessa mesma doena que lhe

    haviam diagnosticado levando tris-teza a toda nossa amlia. Todavia,tambm tenho excelentes recorda-es de meu pai em minha vida deadulto. Escolhi passar a maior partedela junto a ele. Estudei na mesmauniversidade onde ensinava, e pormais da metade de meus 14 anos decarreira trabalhei em sua companhia.Durante muitos anos almoamos jun-tos diariamente. H dois anos nasceuminha primeira lha e, ao mesmotempo, sua primeira neta. Desde en-to, tenho tambm muitas memriaselizes com ambos. Se gostam muito.Quando ele est perto, ela ignora asdemais pessoas.

    Alguma passagem interessantepara contar-nos?

    H muitas, mas lhe direi apenasuma. H 10 anos, nossa amlia oi auma eira de livros em uma pequenacidade perto de nossa casa. Estva-

    mos olhando o que l havia quando,de repente, meu pai descobriu umlivro de Verne em idiche. Ele noconhecia esse idioma, exceto pelo al-abeto que o hebreu. Mas, de todamaneira, decidiu compr-lo. Assimcomeou, creio, sua coleo de li-vros de Jules Verne em idiomas queno podia ler. Se converteu, desde

    ento, em uma tradio que quan-do algum da amlia viajava ao es-trangeiro lhe trazia algum livro deVerne em uma lngua estranha. Umdos meus momentos mais memo-rveis em minha visita ao Japo, hoito anos, oi quando estive duranteuma hora em uma livraria tentandotransmitir aos vendedores a idia deque queria comprar um livro escritopor Verne, qualquer um que osse.Aparentemente, no Japo no se co-nhece nem Jules Verne nem a lnguainglesa, o que tornou as coisas maisdiceis. Mas nalmente pude obter olivro que queria.

    Muito obrigado, Nadav, por teralado sobre seu pai. Obrigado tam-bm a todos os amigos que esto

    com ele, aqueles que o acompanha-ram no Mundial e os que o acompa-nham virtualmente pela rede e sededicam tambm ao motivo de suapaixo.

    E a voc, Zvi, extraordinrio guiae aglutinador de todos os vernianosdo mundo, digo-lhe que seguir via- jando at a imortalidade e a eternajuventude

    Seu trabalho verniano

    Site na Internet criado em 13 denovembro de 1995.Frum Internacional Jules Vernecriado em 1996. Sua primeiramensagem oi em 23 de janeiro

    desse ano.Posta on-line a bibliograa com-pleta de Jlio Verne em 1997.Surge a maior coleo de seloson-line sobre Verne.Criao da maior biblioteca vir-tual sobre Verne, com mais de100 textos entre novelas, contos,ensaios, obras de teatro, poemas,discursos e entrevistas. Atualmen-te disponvel em 12 idiomas.Criao da pgina de Perguntasmais reqentes sobre Verne em

    2003. Atualmente traduzida em12 idiomas.Participao e motor impulsor doMundial Jules Verne em Amiensem 2005.Disponibilidade on-line do cat-logo de ilustraes originais deHetzel.Criao da revista digital Vernianaem ns de 2007.

    Zvi e Robert Purvoyeur no Encontro MundialJules Verne em Amiens, 2005.

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    Traduo: Estela dos Santos Abreu

    Pierre Jean - Captulo 4

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    - Ih, deste jeito vamos acabar nandia!

    - Coragem! Em rente!As embarcaes se separaram.

    Pierre-Jean estava sendo muito pro-curado. Aproveitando a partida dosbarcos da polcia, deu umas longas

    braadas em direo goleta, lutan-do contra as ondas e o desesperoque aumentavam em torno dele.

    - Ah! Se eu estivesse em alto-mar!Pode-se imaginar a situao desse

    homem? Em alto-mar! Seria a morte,e mesmo assim ele preeria isso aocrcere. Que tenacidade! Que orade carter se encontra s vezes nosdesventurados! costume dizer que,se dirigida para o bem, essa energiapode realizar grandes proezas; sim,

    mas tal ora no espontnea. Parachegar a ela, preciso ter um grandeanseio de liberdade. Na placidez docotidiano, esses mesmos homens se-riam inteis, inertes, racos. A socie-dade os havia repudiado; desse cho-que com ela, brotavam centelhas.

    De vez em quando, gritos chega-vam aos ouvidos de Pierre-Jean; asembarcaes multiplicavam as bus-cas na baa e deviam estar concen-

    trando a vigilncia na goleta. Pierre-Jean continuava a nadar!- Prero me aogar! - pensava.A grande torre e o orte da Aigui-

    ette j se delineavam a seus olhos.Tochas corriam beira-mar como es-trelas de mau agouro; os batalhesda polcia estavam em ao. O ugiti-vo diminuiu o ritmo e se deixou levarpelas ondas e pelo vento oeste que oempurravam para o mar.

    De repente um claro iluminou

    as guas, e Pierre-Jean distinguiu emtorno trs ou quatro embarcaescom tochas acesas; deteve-se, qual-quer movimento podia tra-lo.

    - Ei, vocs!- Nada!- Procuraram do lado do Lazare-

    to?- E perto das baterias?- Os soldados oram prevenidos.

    - Ento ele no pde desembar-car na costa. - Impossvel!

    - Vamos!Pierre-Jean respirou. Os barcos

    estavam a menos de dez braas3;era obrigado a nadar perpendicular-mente.

    - Olhem! O que aquilo l? - gri-tou um marinheiro.

    - O qu?

    3 Termo de marinha: medida de pro-undidade que equivale a 1,60 m.

    - Aquele ponto escuro que semexe! - Bem aqui no meio?

    -!- No nada, deve ser uma bia

    perdida. - Est bem, ento v peg-la!

    Pierre-Jean preparou-se para mer-gulhar. Mas o apito do contramestresoou.

    - Vamos, gente! Temos mais o queazer do que car pescando troosde madeira. Toquem em rente!

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    Duas cartas a seu pai e sua me em 1848Traduo: Ariel Prez

    Pars, [segunda-eira] 27 de novembro de 1848

    querida mame:Para responder tua carta, esperei a partida de meus

    tios que ser amanh, tera-eira. So eles que darotodos os detalhes de nossa vida.

    Uma carta conada pela senhora ao tio Chateau-

    bourg me ez saber, sem dvida, que estava indispos-ta. Temo, querida me, que tua indisposio criou umobstculo a essa rpida viagem Paimboeu, que teriacomo objetivo azer pular de alegria as meninas. Osventos, em Paris ao menos, so sempre opostos a umasada, e o pobre Paul deve ainda permanecer l espe-rando.

    Quanto a mim, espiritualmente, comeo a sentir-memelhor. J terminaram os incmodos de uma mudan-a e as preocupaes de uma instalao. Fisicamente,querida mame, me assemelho muito a ti.

    Os intestinos me azem sorer. Como, portanto, mui-to pouco. Sero por acaso os pratos de uma qualidadeinerior? No sei. Por isso, tenho tido o cuidado de nobeber gua pura do Seine, sempre tenho a necessida-de de destruir seu princpio danoso com uma combi-nao qualquer. No tenho ido ver a Sra. de Barrre dequem te alei.

    Comi na casa da Sra. Arnous com meus tios e a am-lia Garnier, que me pediram regressar para outras noi-tadas. Aceitei mas creio que no irei. Antes de partir, aSra. Championnire me apresentou ao Sr. Just que meez prometer ir visit-lo.

    Minha tia Charruel no veio, provavelmente esperapela eleio do presidente. Papai deve estar mais or-

    gulhoso do que nunca de Cavaignac, depois de seutriuno de anteontem. Para mim, isso no mudou, deorma alguma, minha orma de ver as coisas. Pronun-ciou muito bem um discurso preparado por outros, seaproveitou dos cansativos arroubos de seus advers-rios, e, em resumo, se explicou pouco das acusaeseitas contra ele, de maneira que: Viva Louis Bonaparte!Ontem, na pera, o vi em companhia de Marrast e seuscompanheiros...

    O conserto do meu maldito relgio me custou 6rancos, meu guarda-chuvas, 15 rancos, me vi obriga-do a prover-me de um par de botas e um de sapatos,

    de maneira que, sem haver gasto nada comigo, me en-contro to vazio como o tesouro pblico!Adeus, minha querida mame, e querido papai,

    os beijo assim como as meninas, as cartas, as cartas,adeus!

    Teu lho que te quer. Jules Verne.

    A primeira uma das onze cartas publicadas em Lecho de la Loire em 1933. Em ambas h meno aacontecimentos que ocorrem na capital rancesa e que tm carter poltico. Jules tambm se lana atomar partido e dar opinio sobre esses assuntos, nos quais parece no concordar com Pierre.

    Paris, [quinta-eira] 3 de agosto de 1848

    Meu querido pai,Recebi as notcias de Paul! Estou na casa da vov, com

    Charles; mas no me querem deixar partir. Trs dias meparecem muito pouco; especialmente porque o bispo deMeaux chega na quinta-eira tarde e seria imprprio queno viesse! Domingo passado jantei com Edouard, na casada senhora Braheire, que nos recebeu amavelmente e que, sua primeira gentileza, somou outra no menos impor-tante: deu-me uma entrada para a Cmara dos Deputados.Estive l na tera-eira, dia em que se interpelou o governosobre a priso ilegal de Girardin e a suspenso prolongadade seu peridico. Esta sesso oi interessante pela polmi-ca que provocou e pelo nmero de homens importantesque vi. De ato, um deputado que estava prximo a mim

    me indicou: Lamartine, Ledru-Rollin, Marie Senard, Marrast,Cavaignac, Goudchaux, Leclerc, Gaudire, Louis Blanc, La-grange, Proudhon, Thiers, Berryer, Baroche, Durrieu, Laro-chejacquelin, Montalembert, Arago, Jules Lasteyrie, etc... e,oh! surpresa! Victor Hugo! Victor Hugo, a quem queria vera qualquer preo, alou durante uma meia hora. Agora oconheo. Para v-lo na tribuna, atropelei uma dama e ar-ranquei gmeos das mos de um desconhecido. Isto deveser mencionado noMoniteur! Lhes darei pessoalmente comminhas prprias palavras todos os detalhes desta sesso, as-sim como de tudo o que se diz e az em Paris. Escreva-me

    em Provins, meu querido pai, l posso receber tua carta econto com ela. At logo em Nantes, beijo em mame e todaamlia, de quem quero ter notcias.

    Teu lho que te abraa , Jules Verne