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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE SUBSTRATOS SERS PARA DETECÇÃO DE POLUENTES AMBIENTAIS EMERGENTES CAMPINAS 2016

MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

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Page 1: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE QUÍMICA

MURILO PASTORELLO PEREIRA

DESENVOLVIMENTO DE SUBSTRATOS SERS PARA DETECÇÃO DE

POLUENTES AMBIENTAIS EMERGENTES

CAMPINAS

2016

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MURILO PASTORELLO PEREIRA

DESENVOLVIMENTO DE SUBSTRATOS SERS PARA DETECÇÃO DE

POLUENTES AMBIENTAIS EMERGENTES

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de

Química da Universidade Estadual de Campinas

como parte dos requisitos exigidos para a obtenção

do título de Mestre em Química na área de Química

Inorgânica.

Orientador: Prof. Dr. Italo Odone Mazali

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA

PELO ALUNO MURILO PASTORELLO PEREIRA, E ORIENTADA PELO PROF. DR.

ITALO ODONE MAZALI.

CAMPINAS

2016

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DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação aos meus pais,

Mauro e Magaly, e a todos os professores

que, de alguma forma, contribuíram para

a minha vida escolar e acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, pelo apoio em todos os momentos e sentidos, e

especialmente aos meus pais Mauro e Magaly, pelo incentivo, apoio emocional e

financeiro, compreensão e paciência. Eu amo vocês!

Ao meu orientador, Prof. Italo Odone Mazali, por todo o conhecimento

compartilhado, pelos conselhos e todas as conversas (sobre química ou não), e pela

oportunidade de participar de um grupo de pesquisa que me trouxe tantos

momentos e resultados positivos, desde a iniciação científica até o final do mestrado.

Ao Prof. Fernando Sigoli, e a todos os colegas do Laboratório de Materiais

Funcionais: Anerise, Alice, Carla, Charlão, Cris, Dagbau, Emille, Filipe, Gabi, Gilmar,

João (presente na maior parte do meu mestrado), Josi, Lanousse, Larissa, Laura,

Lidiane, Carol, William, e em especial ao Isaías, Naiara, Bia e Adriana, que, além de

colegas, se tornaram amigos próximos e queridos! Vou sentir saudades.

― Agradeço ainda aos que estiveram presentes no laboratório durante a

minha iniciação científica, especialmente Juliana, Mathias e Ernesto.

Às amigas Thalita, Denise, Fernanda e Vanessa, por todos os bons

momentos desde a graduação.

Aos amigos Guilherme, Hugo, Thiago, João, João Flora, Lucas, Fábio,

Gustavo e Bruno, por todos os anos de amizade, viagens, festas, conversas e bons

momentos!

À Emille e ao Douglas, pelas imagens de TEM, e ao técnico Hugo Loureiro,

pelas imagens de SEM, realizadas no IQ-UNICAMP; à Cristine, pelas imagens de

HRTEM e medidas de EDS realizadas no LNNano.

Aos funcionários do IQ-UNICAMP: Milene, Claudinha, Sônia e Renata pela

ajuda na realização das medidas, e pelas boas conversas.

Aos professores Diego Pereira dos Santos e Daniela Zanchet, pelas

contribuições no Exame de Qualificação.

Á CAPES pela bolsa concedida, e à FAEPEX pelo auxílio-ponte fornecido.

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RESUMO

O Espalhamento Raman Intensificado por Superfície (SERS – Surface-Enhanced

Raman Scattering) é um fenômeno observado quando uma molécula é adsorvida na

superfície de um substrato metálico, fazendo com que a intensidade do seu

espalhamento Raman seja amplificada em diversas ordens de grandeza. O presente

trabalho teve como objetivo a síntese de nanoestruturas de ouro e prata com

morfologias e tamanhos controlados, e sua aplicação como substrato SERS para a

detecção de moléculas que vêm sendo classificadas como poluentes ambientais

emergentes em ambientes aquáticos. Foram sintetizados nanobastões

monometálicos de ouro, e bimetálicos de ouro e prata em uma estrutura caroço-

casca, controlando suas dimensões e espessura da casca. Os materiais foram

caracterizados pelas técnicas de espectroscopia de absorção (UV-Vis-NIR),

microscopia eletrônica de transmissão (TEM), microscopia eletrônica de

transmissão de alta resolução (HRTEM), e espectroscopia de raios X por energia

dispersiva (EDS), e os resultados indicaram a obtenção das nanopartículas com

tamanho e morfologia controlados. Os substratos SERS foram preparados através

da deposição das suspensões de nanopartículas em placas de vidro

funcionalizadas com alcoxissilanos, seguida da deposição da molécula de

interesse. Sua caracterização foi feita por espectroscopia de absorção (UV-Vis-

NIR) e microscopia eletrônica de varredura (SEM), que mostraram as propriedades

óticas e a organização das nanopartículas depositadas, respectivamente. A

eficiência dos substratos foi avaliada através de mapeamentos SERS utilizando a

molécula sonda 4-aminobenzotiol (4-ABT) a partir de soluções diluídas

consecutivamente, até o limite em que as bandas características da molécula

pudessem ser observadas nos espectros. As análises foram realizadas utilizando

fonte de excitação em 633 nm. O substrato contendo nanopartículas caroço-casca

mostrou maior eficiência para a molécula sonda, atingindo o limite de detecção de

1.10-15 mol L-1, e foi então testado na análise das moléculas de poluentes

ambientais, o fármaco sulfatiazol, e os pesticidas tiram e paration.

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ABSTRACT

Surface-Enhanced Raman Scattering (SERS) is a phenomenon observed when a

molecule is adsorbed on the surface of a metallic substrate, leading to an increase in

the intensity of the Raman scattering in several orders of magnitude. The present

work describes the synthesis of gold and silver nanostructures with controlled

morphology and size, and their application as SERS substrates for the detection of

molecules that have been classified as contaminants of emerging concern in water

resources. Monometallic gold nanorods and core-shell gold-silver nanorods have

been synthesized under specific conditions, with control of their dimensions and shell

thickness. The particles were characterized by absorption spectroscopy in the UV-

Vis-NIR region, transmission electron microscopy (TEM), high-resolution

transmission electron microscopy (HRTEM), and energy-dispersive X-ray

spectroscopy (EDS), and the results confirmed the production of nanoparticles with

well-defined size and morphology. SERS Substrates were prepared by deposition of

the nanoparticles onto functionalized glass slides, followed by the deposition of the

molecules of interest. The slides were characterized by absorption spectroscopy in

the UV-Vis-NIR region, which showed the optical properties of the deposited

nanoparticles, and scanning electron microscopy (SEM), that elucidated their

dispersion over the surface. The efficiency of the SERS substrates was evaluated by

mapping analyses using the probe molecule 4-aminobenzothiol (4-ABT) from

consecutively diluted solutions and excitation source at 633 nm, until the

characteristic bands of the molecule could no longer be detected in the spectra. The

substrates containing core-shell nanoparticles showed higher sensitivity for probe

molecule detection, reaching a detection limit of 1.10-15 mol L-1, and were thus

employed in the detection of the drug Sulfathiazole, and the pesticides Thiram and

Parathion.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

4-ABT 4-aminobenzotiol

APTMS (3-aminopropil)-trimetoxissilano

Au@AgNRs nanobastões caroço-casca de ouro e prata

AuNRs nanobastões de ouro

CCD dispositivo de carga acoplada (charge-coupled device)

CNPEM Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais

CTAB brometo de cetiltrimetilamônio (cetyltrimethylammonium bromide)

cts contagens

EDS espectroscopia de raios X por energia dispersiva (energy dispersive

X-ray spectroscopy)

EM mecanismo eletromagnético

EPA Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency)

fcc cúbico de faces centradas (face-centered cubic)

FDTD diferenças finitas no domínio do tempo (fnite-difference time-domain)

He-Ne hélio-neônio

HOMO orbital molecular ocupado de mais alta energia (highest occupied

molecular orbital)

HRTEM microscopia eletrônica de transmissão de alta resolução (high-

resolution transmission electron microscopy)

JCPDS Comitê de Padrões de Difração de Pó (Joint Committee on Powder

Diffraction Standards)

LMEOA Laboratório Multiusuário de Espectroscopia Óptica Avançada

LNNano Laboratório Nacional de Nanotecnologia

LSPR ressonância de plasmon de superfície localizado (localized surface

plasmon resonance)

LUMO orbital molecular não ocupado de mais baixa energia (lowest

unoccupied molecular orbital)

MPTMS (3-mercaptopropil)-trimetoxissilano

OMS Organização Mundial da Saúde

PDT propanoditiol

ppm parte por milhão

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PVP polivinilpirrolidona

Ref. referência

rpm rotação por minuto

SEM microscopia eletrônica de varredura (scanning electron microscopy)

SERS espalhamento/espectroscopia Raman intensificado(a) por superfície

(surface-enhanced Raman scattering/spectroscopy)

SM-SERS SERS de única molécula (single molecule-SERS)

TC mecanismo de transferência de carga

TEM microscopia eletrônica de transmissão (transmission electron

mcroscopy)

TEM-FEG microscopia eletrônica de transmissão com emissão de campo

(transmission electron mcroscopy - field emission gun)

u.a. unidade arbitrária

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UV-Vis-NIR ultravioleta-visível-infravermelho próximo

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LISTA DE SÍMBOLOS

tempo

campo elétrico oscilante

amplitude de oscilação do campo elétrico

frequência de oscilação do campo elétrico

momento de dipolo elétrico induzido

tensor de polarizabilidade

deslocamento em relação à posição de equilíbrio

amplitude de vibração de uma molécula

frequência de vibração de uma molécula

polarizabilidade na posição de equilíbrio

nível vibracional molecular

Intensidade da luz espalhada por uma molécula

fluxo de fótons incidentes em uma molécula

seção de choque do espalhamento Raman

( ) função dielétrica

( ) componente real da função dielétrica

( ) componente imaginário da função dielétrica

campo elétrico na região externa de uma nanopartícula

campo elétrico incidente orientado na direção

direção radial em relação a uma esfera

, , coordenadas cartesianas

, , vetores unitários

raio de uma esfera

constante dielétrica do meio

( ) função dielétrica de uma nanopartícula metálica

pH potencial hidrogeniônico

Ka constante de acidez

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pKa logaritmo negativo da constante de acidez

fator de intensificação

intensidade da banda no espectro SERS

intensidade da banda no espectro Raman

concentração da solução depositada em placa de vidro

concentração da solução depositada em substrato SERS

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Lista de reagentes utilizados no trabalho.................................................. 43

Tabela 2. Potenciais-padrão de redução dos íons e complexos de ouro em água...50

Tabela 3. Atribuições das bandas nos espectros Raman e SERS do 4-ABT............70

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação dos processos de espalhamento (A) Rayleigh, e Raman

(B) Stokes e (C) anti-Stokes. ..................................................................................... 23

Figura 2. Exemplo de um espectro Raman mostrando a linha do laser ao centro, e

as bandas Stokes e anti-Stokes. Adaptado da Ref. . ................................................ 24

Figura 3. Representação da oscilação da nuvem eletrônica em uma nanopartícula

metálica esférica na presença de um campo elétrico incidente. Adaptado da Ref. 36.

.................................................................................................................................. 29

Figura 4. Componentes real (Re[ ]) e imaginária (Im[ ]) da função dielétrica do

ouro e da prata em função do comprimento de onda. Adaptado da Ref. 38. ............ 30

Figura 5. Representação dos processos fotoinduzidos de transição eletrônica entre

os estados eletrônicos do metal e da molécula adsorvida quimicamente. ................ 34

Figura 6. Intensificação do campo eletromagnético ao redor de um dímero de

nanopartículas de Au de 100 nm de diâmetro, com espaçamento de 0,5 nm,

calculada pelo método FDTD. A incidência da radiação é perpendicular ao eixo entre

as nanopartículas. Adaptado da Ref. 64. .................................................................. 36

Figura 7. Estrutura molecular genérica das sulfonamidas. ....................................... 38

Figura 8. Estrutura molecular do fármaco sulfatiazol. ............................................... 39

Figura 9. Estrutura molecular do fungicida tiram. ..................................................... 40

Figura 10. Estrutura molecular do inseticida paration ............................................... 41

Figura 11. Esquema reacional da preparação das sementes de ouro. .................... 44

Figura 12. Esquema reacional do crescimento dos nanobastões de ouro. .............. 45

Figura 13. Esquema reacional da síntese da casca de prata sobre os AuNRs. ....... 45

Figura 14. (A) Estrutura molecular do CTAB e (B) bicamada de CTAB na superfície

do nanobastão de ouro (adaptado da Ref. ). ............................................................. 49

Figura 15. Ilustração da estrutura cuboctaédrica das sementes de ouro estabilizadas

por CTAB. Adaptado da Ref. 107. ............................................................................. 51

Figura 16. Ilustrações e imagens de TEM do surgimento de planos de truncamento

durante o crescimento das sementes de ouro. Adaptado da Ref. 107. ..................... 52

Figura 17. Estrutura cristalina dos AuNRs e dos ângulos entre as faces para os

modelos propostos por (A) Wang e (B) Carbó-Argibay. Adaptado da Ref. 109. ....... 54

Figura 18. Espectro de extinção da suspensão de AuNRs. ..................................... 54

Figura 19. Imagens de TEM dos AuNRs .................................................................. 55

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Figura 20. Histograma tridimensional da distribuição dimensional dos AuNRs. ....... 56

Figura 21. (A-B) Imagens de HRTEM dos nanobastões de ouro. A região ampliada

da Figura 21A mostra a medida da distância interplanar. ......................................... 57

Figura 22. Espectros de extinção na região do UV-Vis-NIR dos AuNRs, e das

partículas caroço-casca Au@Ag sintetizadas pela adição de diferentes volumes da

solução de AgNO3 1 mmol L-1. .................................................................................. 59

Figura 23. Fotos das suspensões obtidas nas sínteses de AuNRs e Au@AgNRs. . 60

Figura 24. (A-D) Imagens de HRTEM dos Au@AgNRs. A região ampliada da Figura

24B mostra a medida da distância interplanar. ......................................................... 61

Figura 25. (A-B) Imagens de mapeamento de composição química dos nanobastões

caroço-casca de ouro e prata, e gráficos da distribuição de composição ao longo da

(C) Linha 1 e (D) Linha 2 na Figura 25B. .................................................................. 62

Figura 26. Estruturas moleculares do (A) MPTMS e (B) APTMS. ............................ 63

Figura 27. Ilustração da funcionalização do substrato de vidro com alcoxissilanos,

com a representação da hidrólise, seguida da condensação. Na última imagem à

direita, é mostrado exemplo do vidro funcionalizado com MPTMS. .......................... 63

Figura 28. Ilustrações da (A) deposição de AuNRs sobre vidro funcionalizado com

MPTMS e (B) intercalação das deposições com PDT. .............................................. 64

Figura 29. Espectros de extinção dos substratos contendo AuNRs e Au@AgNRs. A

linha vermelha indica o comprimento de onda de excitação do laser utilizado no

Raman (632,8 nm). ................................................................................................... 65

Figura 30. Imagens de SEM de um único substrato contendo AuNRs, em diferentes

magnificações. .......................................................................................................... 66

Figura 31. Imagens de SEM de um único substrato contendo Au@AgNRs, em

diferentes magnificações. .......................................................................................... 67

Figura 32. Imagem de SEM dos Au@AgNRs agregados na superfície do substrato.

.................................................................................................................................. 68

Figura 33. (A) Estrutura molecular do 4-ABT, e (B) ilustração da interação das

moléculas de 4-ABT com a superfície dos AuNRs depositados sobre o substrato de

vidro funcionalizado. .................................................................................................. 69

Figura 34. Espectro Raman do 4-ABT sólido (preto), e espectro SERS do 4-ABT

depositado em substrato de AuNRs a partir de solução 10-3 mol L-1 (vermelho). ...... 69

Figura 35. Espectros obtidos a partir das médias dos mapeamentos realizados nos

substratos (A) AuNRs e (B) Au@AgNRs, preparados a partir de soluções de 4-ABT

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em concentrações decrescentes. No detalhe da Figura 35B, é mostrada a ampliação

do espectro para a concentração 1.10-15 mol L-1. ...................................................... 72

Figura 36. Mapas de 50 espectros SERS para os substratos contendo Au@AgNRs

e soluções de 4-ABT (A) 1.10-4 e (B) 1.10-12 mol L-1. Os gráficos estão na mesma

escala. ....................................................................................................................... 73

Figura 37. Espectro Raman do sulfatiazol sólido (linha vermelha) e espectros SERS

obtidos a partir de mapeamentos dos substratos contendo solução de sulfatiazol

1.10-3 mol L-1 (linhas pretas). ..................................................................................... 74

Figura 38. Espectro Raman do tiram sólido, e espectros SERS obtidos a partir das

médias dos mapeamentos realizados nos substratos preparados a partir de soluções

aquosas de tiram em concentrações decrescentes. ................................................. 75

Figura 39. (A) Estrutura molécular do tiram e (B) fragmento do tiram coordenado à

superfície metálica de forma bidentada após clivagem da ligação S–S. ................... 76

Figura 40. Determinação da intensidade da banda em 560 cm-1 para o espectro da

solução de tiram 1.10-3 mol L-1 depositada em placa de vidro, e para a solução

1.10-7 mol L-1 depositada em substrato contendo Au@AgNRs. ................................ 77

Figura 41. Espectro Raman do paration sólido (linha vermelha) e espectros SERS

obtidos a partir de mapeamentos nos substratos contendo solução de paration

1.10-4 mol L-1 (linhas pretas). ..................................................................................... 78

Figura 42. Espectros obtidos a partir de mapeamento na superfície dos substratos

contendo Au@AgNRs, sem a deposição de moléculas. ........................................... 79

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 19

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS ............................................................................... 20

2.1 Espectroscopia Raman ....................................................................................... 20

2.2 Espectroscopia Raman Intensificada por Superfície (SERS) .............................. 26

2.2.1 Mecanismo Eletromagnético ......................................................................... 28

2.2.2 Mecanismo Químico ..................................................................................... 33

2.3 Substratos SERS ................................................................................................ 35

2.4 Poluentes Ambientais Emergentes ..................................................................... 37

2.4.1 Fármacos ...................................................................................................... 38

2.4.2 Pesticidas ..................................................................................................... 39

3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 42

4. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 43

4.1 Síntese de nanobastões de ouro (AuNRs) .......................................................... 44

4.1.1 Preparação da suspensão de sementes de ouro ......................................... 44

4.1.2 Preparação da solução de crescimento dos AuNRs ..................................... 44

4.2 Síntese de nanobastões caroço-casca de ouro e prata (Au@AgNRs)................ 45

4.3 Preparação dos substratos SERS ....................................................................... 46

4.4 Caracterização .................................................................................................... 46

4.4.1 Caracterização das suspensões de nanopartículas ..................................... 46

4.4.2 Caracterização dos substratos SERS ........................................................... 47

4.5 Avaliação da atividade SERS dos substratos ..................................................... 47

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 49

5.1 Nanobastões de ouro .......................................................................................... 49

5.2 Nanobastões caroço-casca de ouro e prata ........................................................ 57

5.3 Preparação e caracterização dos substratos SERS............................................ 62

Page 18: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

5.4 Análise de Poluentes Ambientais Emergentes .................................................... 73

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS .................................................. 80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 82

Page 19: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

19

1. INTRODUÇÃO

Milhares de produtos químicos artificiais são usados diariamente, sendo

que todos apresentam potencial para atingir e contaminar os recursos hídricos por

diversas vias. A contaminação ocorre a partir dos resíduos gerados tanto pela sua

produção industrial quanto pelo seu consumo na sociedade. Fármacos e outros

contaminantes de águas residuais são compostos que têm recebido muita atenção

pública e do meio científico em vários países. Apesar de alguns serem encontrados

em baixas concentrações, o monitoramento dos recursos hídricos é de extrema

importância para garantir a qualidade da água distribuída para a população, evitando

riscos à saúde humana 1,2.

Muitas técnicas são usadas para a detecção de moléculas contaminantes

ambientais, como a eletroforese capilar e a cromatografia líquida acoplada a

espectrometria de massas 3,4. Ambas são técnicas muito eficientes e com alto poder

de detecção, mas apresentam limitações, como a necessidade de pré-concentração

quando a concentração dos analitos é baixa, e purificação quando a matriz é

complexa. Além disso, são relativamente demoradas, pois requerem a coleta,

transporte, armazenamento e preparo da amostra. A busca por uma ferramenta

analítica altamente sensível, portátil, de baixo custo e que permita a detecção de

compostos ao nível de traços, torna-se uma necessidade.

Dentro deste contexto, o presente trabalho propõe o desenvolvimento de

um substrato que seja eficiente na detecção de moléculas poluentes em baixas

concentrações, utilizando a espectroscopia Raman como ferramenta analítica.

Através do uso de nanopartículas metálicas depositadas em vidro, pretende-se

desenvolver um substrato a partir do qual a influência do tamanho e composição

dessas partículas será avaliada na eficiência de detecção de moléculas

selecionadas, visando a obtenção de um sistema que possa ser utilizado em

análises de rotina, principalmente na área de controle ambiental.

Page 20: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

20

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1 Espectroscopia Raman

A espectroscopia Raman é uma técnica de espectroscopia vibracional,

que tem como princípio físico fundamental o espalhamento inelástico da radiação

eletromagnética após a interação da sua componente do campo elétrico com a

matéria. É uma técnica baseada em uma fonte de radiação monocromática, que

tipicamente emprega comprimentos de onda na região do infravermelho próximo até

o ultravioleta, passando pela região do visível 5,6. O efeito Raman foi inicialmente

observado pelo físico indiano Sir Chandrasekhara Venkata Raman (1888 – 1970) na

década de 1920, ao estudar os efeitos de espalhamento da luz em materiais

transparentes a ela. Inspirado pelo desejo em explicar fenômenos óticos naturais

como a cor azul do mar, Raman e seus colaboradores realizaram diversos

experimentos utilizando a luz do sol como fonte de radiação, em equipamentos

bastante rudimentares, como telescópios e filtros de cor. O efeito descoberto por

eles foi oficialmente publicado em 1928, junto com o primeiro registro espectral

realizado para o benzeno. Contudo, previsões teóricas deste fenômeno já haviam

sido feitas em 1923 pelo físico austríaco Adolf Smekal, e observações experimentais

foram realizadas quase simultaneamente pelos físicos russos Grigorii Landsberg e

Leonid Mandelstam 7,8.

Dentre os processos óticos decorrentes da interação da radiação

eletromagnética com a matéria, destacam-se a absorção e o espalhamento, sendo o

último responsável pelo efeito Raman. O espalhamento da radiação pode ser

entendido a partir da interação do campo eletromagnético da radiação incidente com

o material, o que promove uma perturbação no sistema. A matéria, apesar de ser

essencialmente contínua e, em geral, eletricamente neutra, é formada por

distribuições discretas de carga elétrica. Ao incidir no material, o campo elétrico da

radiação induz um momento de dipolo que faz com que as cargas oscilem na

mesma frequência, e essa movimentação de cargas leva à emissão de ondas

secundárias, que se sobrepõem formando a radiação espalhada. A radiação é

espalhada em todas as direções, e a sua polarização geralmente é diferente em

relação à onda incidente, podendo haver ou não variação na energia 9,10,11.

Page 21: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

21

No espalhamento elástico, o fóton espalhado possui a mesma energia do

fóton incidente, processo chamado de espalhamento Rayleigh. Já no espalhamento

inelástico, a sua energia pode ser maior ou menor em relação ao fóton incidente, o

que está associado à transição entre dois estados. Uma das principais formas de

espalhamento inelástico em moléculas é o espalhamento Raman, em que a variação

de energia corresponde à diferença entre níveis vibracionais/rotacionais 12.

Considerando uma radiação eletromagnética monocromática, o campo

elétrico oscilante que varia com o tempo ( ) é dado pela Equação 1:

( ) (1)

na qual é a amplitude de oscilação do campo, e é a sua frequência. Quando

essa radiação incide em uma molécula, ela altera a distribuição da densidade

eletrônica, gerando um momento de dipolo elétrico induzido (P), representado pela

Equação 2:

(2)

A constante de proporcionalidade, , é o tensor de polarizabilidade, que representa

a facilidade com que a nuvem eletrônica da molécula é distorcida na presença do

campo elétrico em relação à configuração de equilíbrio, gerando o momento de

dipolo.

Se esta molécula vibra a uma frequência , então o deslocamento em

relação à posição de equilíbrio ( ) para um determinado modo vibracional é dado

pela Equação 3:

( ) (3)

em que é a amplitude da vibração. Já a polarizabilidade pode ser descrita em

termos da contribuição do modo vibracional por uma expansão em série, como

mostrado na Equação 4:

Page 22: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

22

(

) (

) (4)

Nesta equação, é a polarizabilidade na posição de equilíbrio, e (∂ /∂ )0 é a taxa

da variação da polarizabilidade com relação à variação de , avaliada na posição de

equilíbrio. Para o caso das vibrações moleculares, em que o deslocamento dos

átomos em relação à posição de equilíbrio é pequeno, podem-se desconsiderar os

termos de maior ordem, aproximando a dependência da polarizabilidade a uma

expansão de primeira ordem. Assim, combinando as Equações de 1 a 4, obtém-se:

( )

( ) (

)

( )

( ) (

)

( ) ( )

( )

(

) ( ) ( ) (5)

O primeiro termo da Equação 5 se refere ao momento de dipolo oscilante

que gera radiação com frequência , ou seja, o espalhamento Rayleigh. Já no

segundo termo, correspondente ao espalhamento Raman, a frequência emitida pode

ser menor que a frequência incidente ( ), ou maior ( ), chamados de

espalhamento Stokes e anti-Stokes, respectivamente 13,14.

A Figura 1 mostra diagramas de níveis de energia que ilustram esses três

processos. Na parte inferior da figura, é representado o nível eletrônico fundamental

da molécula, com os respectivos níveis vibracionais, enquanto na parte superior,

está o primeiro nível eletrônico excitado, também contendo os níveis vibracionais. Na

técnica de espectroscopia Raman convencional, a energia da radiação de excitação

não é suficiente para levar a molécula para o primeiro estado eletrônico excitado; em

vez disso, ela é levada ao chamado estado virtual, representado pela linha

Page 23: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

23

tracejada. Este estado não é solução de uma equação de Schrödinger independente

do tempo, não correspondendo a um valor bem definido de energia, e portanto, não

representa um estado estacionário do sistema 15.

Figura 1. Representação dos processos de espalhamento (A) Rayleigh, e Raman

(B) Stokes e (C) anti-Stokes.

No espalhamento Rayleigh (Fig. 1A), a radiação incidente leva a molécula

a um estado virtual, e é espalhada sem sofrer variação na energia, com a molécula

retornando ao estado fundamental. No espalhamento Raman do tipo Stokes (Fig.

1B), a molécula é excitada do estado vibracional fundamental = 0 para um estado

virtual, e retorna para o estado vibracional = 1, sendo que a radiação é espalhada

com energia menor em relação à incidente. Essa diferença de energia corresponde à

transição = 0 = 1 de um determinado modo vibracional. De acordo com a lei

da distribuição de Maxwell-Boltzmann, à temperatura ambiente, uma pequena fração

das moléculas se encontra em estados vibracionais excitados, como = 1. A

radiação incidente leva essas moléculas a um estado virtual que, ao retornarem para

o estado fundamental = 0, provocam o espalhamento da radiação com energia

maior do que a incidente, dando origem ao efeito Raman anti-Stokes (Fig. 1C). Para

este caso, a diferença de energia também corresponde à frequência do modo

vibracional em questão 12.

Page 24: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

24

O espectro Raman de uma molécula apresenta a intensidade do

espalhamento em função do deslocamento Raman, expresso tipicamente em

número de onda (cm-1), como mostrado na representação da Figura 2. Os valores de

deslocamento Raman vistos no espectro são a diferença de frequência entre a

radiação incidente e a radiação espalhada, e portanto, correspondem à frequência

dos modos vibracionais da molécula. A banda atribuída ao espalhamento Rayleigh,

coincidente com a frequência da fonte de excitação, é observada com alta

intensidade no centro do espectro. Em valores positivos de deslocamento, são

observadas as bandas atribuídas ao espalhamento Raman Stokes, e nos valores

negativos correspondentes, ao espalhamento anti-Stokes. Os dois lados diferem

somente nas intensidades de espalhamento, sendo as bandas anti-Stokes menos

intensas, uma vez que a população de moléculas que se encontram nos estados

vibracionais excitados é menor. Para que um modo vibracional de uma molécula

seja ativo e observado no espectro Raman, deve ser obedecida a seguinte regra de

seleção: a vibração de determinada ligação deve provocar variação na sua

polarizabilidade, ou seja, o termo (∂α/∂q)0 da Equação 5 deve ser diferente de

zero 13,14.

Figura 2. Exemplo de um espectro Raman mostrando a linha do laser ao centro, e

as bandas Stokes e anti-Stokes. Adaptado da Ref. 16.

Page 25: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

25

Os processos de espalhamento são intrinsecamente fracos em condições

típicas, quando comparados à absorção e fluorescência, por exemplo. No fenômeno

de espalhamento Raman, a quantidade de luz espalhada por uma molécula

considerando todas as direções, (dada em fótons por segundo), se relaciona

com o fluxo de fótons que incide nessa molécula, (dado em fótons cm-2 s-1)

através da Equação 6:

(6)

A constante de proporcionalidade, , é a seção de choque para o

espalhamento Raman, que é expressa em cm2 e depende da frequência de

excitação. A definição geral da seção de choque de uma molécula, para um

determinado fenômeno ótico linear, é a área de um feixe homogêneo incidente em

que todos os fótons serão efetivamente envolvidos no processo. Quanto maior for o

seu valor, maior a interação entre a radiação e a molécula, e portanto, maior a

magnitude do processo. Dessa forma, a seção de choque permite comparar a

eficiência de fenômenos óticos como a absorção e o espalhamento, uma vez que

fornece a relação entre a quantidade de fótons que estarão envolvidos em cada

processo. A seção de choque do espalhamento Raman é da ordem de magnitude de

10-29 cm2, enquanto para a absorção, por exemplo, valores típicos variam entre

10-18 e 10-21 cm2 12,17.

Na situação em que a energia do laser está em ressonância com uma

transição eletrônica permitida da molécula, ou seja, em que essa energia é suficiente

para levar a molécula para um estado eletrônico excitado, o processo é chamado de

Raman ressonante 10. Neste caso, a condição de ressonância provoca alterações no

tensor polarizabilidade da molécula, o que afeta diretamente a seção de choque do

espalhamento. Consequentemente, a intensidade do espalhamento Raman é

aumentada em várias ordens de grandeza com relação à técnica Raman

convencional. Os modos vibracionais associados aos grupos da molécula

responsáveis pela transição eletrônica (como grupos cromóforos) são

preferencialmente intensificados no espectro, o que pode reduzir a complexidade

espectral para esta molécula 10. Neste contexto, a espectroscopia Raman

ressonante é considerada uma técnica de espectroscopia vibrônica, uma vez que

Page 26: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

26

fornece informações das estruturas vibracional e eletrônica da amostra analisada. A

seção de choque do espalhamento Raman ressonante é da ordem de 10-24 cm2.

Os espectros Raman são de simples aquisição, e requerem mínima ou

nenhuma preparação da amostra. O espectro de uma molécula é bastante

característico e funciona como a sua impressão digital, o que permite a identificação

de compostos até mesmo em misturas 18. A aplicação convencional da técnica,

entretanto, é limitada devido à baixa intensidade do espalhamento Raman, e/ou

observação de fluorescência nos espectros para determinados analitos. Além disso,

a técnica não apresenta sensibilidade suficiente para a investigação de compostos

em baixa concentração, dificultando, por exemplo, sua aplicação para

monitoramento ambiental 19. Estes problemas têm sido contornados com o

desenvolvimento de metodologias que permitam a intensificação do espalhamento

Raman, possibilitando sua aplicação como método analítico 5,19.

2.2 Espectroscopia Raman Intensificada por Superfície (SERS)

O efeito de espalhamento Raman intensificado por superfície (Surface-

Enhanced Raman Scattering – SERS) consiste na intensificação do espalhamento

Raman de uma molécula em várias ordens de grandeza quando ela está adsorvida

na superfície de um metal, ou pelo menos nas suas proximidades (no máximo a

10 nm de distância). Esse efeito decorre, dentre outros fatores, da interação

eletromagnética da luz incidente com a chamada ressonância de plasmon do

metal 12.

A primeira observação do efeito SERS foi feita em 1974 por Fleischmann

et al. 20 ao reportar o espectro Raman intensificado de uma monocamada de piridina

adsorvida na superfície de um eletrodo rugoso de prata, cuja rugosidade foi gerada

eletroquimicamente por ciclos de oxidação e redução. Os autores observaram uma

intensificação na ordem de 106 em relação à molécula não adsorvida, e a atribuíram

à grande área superficial do eletrodo rugoso, o que permitiria a adsorção de um

maior número de moléculas. Entretanto, em 1977, Jeanmarie e Van Duyne 21 e

Albrecht e Creighton 22 constataram que o aumento na intensidade de espalhamento

era inconsistente com um simples aumento de área superficial do eletrodo, que, no

caso da piridina, levaria a um aumento na concentração de moléculas na ordem de

apenas 10 vezes. Eles assumiram, então, que se tratava de um novo fenômeno. Em

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27

1978, Moskovits 23 sugeriu que a grande intensificação no espalhamento Raman

observado era resultado da oscilação coletiva dos elétrons em nanoestruturas

metálicas, a chamada ressonância de plasmon, essencialmente em cobre, prata e

ouro. Ele previu ainda que o mesmo fenômeno seria observado em suspensões

coloidais desses metais, recobertas com a molécula do analito em questão.

A partir de então, sucessivos estudos surgiram com o objetivo de

comprovar as previsões realizadas anteriormente, e elucidar os mecanismos

responsáveis pelo efeito de intensificação observado, buscando o desenvolvimento

de novos substratos metálicos 24. Hoje, a técnica é apontada como uma sonda

espectroscópica poderosa na detecção de várias moléculas, e sua aplicação é

descrita na literatura na detecção de fármacos 25, poluentes ambientais 26, moléculas

de interesse biológico 27, como DNA, enzimas e proteínas em geral, entre outras.

A explicação da origem do efeito SERS é dada de forma geral na

literatura através de dois mecanismos distintos, porém complementares: o

eletromagnético (EM) e o químico, ou de transferência de carga (TC). De maneira

geral, o mecanismo eletromagnético está relacionado com a intensificação do campo

eletromagnético próximo à superfície do metal, devido a efeitos óticos que surgem

da sua interação com a radiação eletromagnética incidente. Este mecanismo é

considerado como sendo o de maior contribuição para o efeito de intensificação do

espalhamento. Já o mecanismo de transferência de carga sugere a interação

química efetiva entre a molécula espalhadora e a superfície metálica, com a

formação de complexos de transferência de carga, que causam modificação na

polarizabilidade da molécula, levando então à intensificação do espalhamento 17,28.

Esses efeitos têm sido amplamente estudados em nanopartículas metálicas, não

somente por serem bons espalhadores de radiação, mas também por suas

propriedades óticas serem facilmente moduladas 29.

Pesquisas envolvendo nanomateriais têm apresentado grande avanço

devido à possibilidade de alterar as propriedades dos materiais conforme seu

tamanho é reduzido para a escala nanométrica. Além de apresentarem maior razão

área/volume, diferentes propriedades óticas, eletrônicas e magnéticas surgem

nestes sistemas em relação aos materiais estendidos, o que permite aplicá-los em

diversas áreas, como plasmônica, catálise e sensores óticos 30,31,32. Neste contexto,

as nanopartículas metálicas vêm sendo muito exploradas para a aplicação em

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28

SERS, por exibirem o chamado efeito de Ressonância de Plasmon de Superfície

Localizado (LSPR).

2.2.1 Mecanismo Eletromagnético

A interação da radiação eletromagnética com nanopartículas metálicas foi

descrita por Gustav Mie em 1908 33. A teoria de Mie apresenta uma solução para as

equações de Maxwell, que descreve o espectro de extinção de partículas esféricas

de tamanho arbitrário, sendo a extinção, a combinação dos fenômenos de

espalhamento e absorção 34. A origem do mecanismo eletromagnético para a

intensificação do espalhamento em SERS se dá pela interação da radiação incidente

com a ressonância do plasmon de superfície da nanopartícula metálica, o que leva à

intensificação do campo elétrico local. O termo plasmon foi introduzido na literatura

científica em 1956 por David Pines, em um artigo de revisão no qual a seguinte

definição foi dada 35:

“As oscilações coletivas dos elétrons de valência se

assemelham muito às oscilações eletrônicas de plasma

observadas em descargas gasosas. Nós introduzimos o termo

‘plasmon’ para descrever o quantum de excitação elementar

associado a essa movimentação coletiva de alta frequência.”

Assim, o plasmon é definido como um quantum que representa os modos de

excitação das oscilações da densidade de cargas em um plasma. O plasma, por

definição, se refere à movimentação dos elétrons livres em um metal, em relação

aos íons positivos fixos, podendo ser chamado, neste caso, de plasma de elétrons

livres, ou plasma do estado sólido 12.

Quando a radiação incide sobre as nanopartículas metálicas muito

menores que o comprimento de onda desta radiação, o campo elétrico oscilante

interage com os elétrons livres de condução do metal e perturba a nuvem eletrônica,

de modo que esta é deslocada dos núcleos positivos da rede metálica. A atração

coulômbica entre elétrons e núcleos gera uma força restauradora, que promove a

oscilação coerente da nuvem eletrônica 12,34. A Figura 3 ilustra a oscilação da nuvem

eletrônica na partícula pela atuação do campo elétrico incidente. Essa oscilação

Page 29: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

29

produz um momento de dipolo induzido, que promove a intensificação do campo

elétrico na vizinhança da nanopartícula. O campo elétrico acentuado é

experimentado por moléculas que eventualmente estejam próximas à sua superfície,

e isso leva ao aumento da magnitude dos processos de espalhamento. Esse efeito

confere às nanopartículas propriedades que são dependentes do material do qual

elas são constituídas, seu tamanho, e geometria. Por ser um fenômeno de

superfície, ou seja, que ocorre na interface entre o metal e o meio no qual a

nanopartícula está inserida, ele depende ainda da constante dielétrica do meio 36,37.

Figura 3. Representação da oscilação da nuvem eletrônica em uma nanopartícula

metálica esférica na presença de um campo elétrico incidente. Adaptado da Ref. 36.

As propriedades óticas dos materiais são caracterizadas pela sua função

dielétrica ( ), que são números complexos dependentes do comprimento de onda

da radiação incidente, possuindo uma componente real , e uma imaginária ,

como mostrado na Equação 7.

( ) ( ) ( ) (7)

A componente imaginária está associada à perda de energia devida à

absorção pelo material, em parte relacionada com as transições eletrônicas na

estrutura de bandas do metal. Já a parte real é relacionada com o armazenamento

de energia pelo material, e consequente espalhamento de radiação, determinando

assim a frequência de ressonância do plasmon para nanopartículas metálicas 14,38. A

Figura 4 mostra os gráficos das componentes real e imaginária da função dielétrica

Page 30: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

30

da prata e do ouro em função do comprimento de onda. Esses metais apresentam

valores negativos para a componente real, e valores baixos e positivos para a

componente imaginária na região do visível ao infravermelho próximo, o que permite

seu uso para aplicações em plasmônica nessa faixa de comprimentos de onda.

Figura 4. Componentes real (Re[ ( )]) e imaginária (Im[ ( )]) da função dielétrica

do ouro e da prata em função do comprimento de onda. Adaptado da Ref. 38.

A magnitude de intensificação do espalhamento Raman em sistemas

contendo nanopartículas metálicas depende do campo elétrico local produzido pela

ressonância do plasmon. Para determinar esse campo elétrico na parte externa da

nanopartícula ( ), utilizam-se as equações de Maxwell aproximadas por equações

de Laplace sob determinadas condições. Considera-se uma nanopartícula

monometálica esférica, cujo tamanho seja bem menor que o comprimento da

radiação incidente, definindo uma aproximação quase estática em que o campo

elétrico incidente é considerado constante ao redor da partícula. O campo elétrico

total na parte externa da esfera é dado pela Equação 8:

[

( )] (8)

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31

em que é o vetor do campo elétrico incidente orientado na direção é a

polarizabilidade do metal, é a distância radial em relação à esfera, , e são as

coordenadas cartesianas, e , e são os vetores unitários. O primeiro termo da

equação é o campo elétrico incidente na nanopartícula, enquanto o segundo é

referente ao campo induzido pelo momento de dipolo (Equação 2) na posição

resultante do efeito de plasmon no metal. Considerando ainda que a partícula, de

função dielétrica , está dispersa em um meio cuja constante dielétrica é , a

solução da equação de Laplace mostra que a polarizabilidade é dada por:

(9)

em que é o raio da esfera, e é dado por:

( )

( ) (10)

Combinando as Equações de 7 a 10, obtém-se:

(

) [

( )] (11)

A partir da Equação 11, pode-se avaliar a dependência do campo elétrico

produzido ao redor da nanopartícula com as propriedades do metal e do meio

externo. Quando a parte real da função dielétrica do metal se aproxima do valor

( ) = - , e o valor da componente imaginária é pequeno, a polarizabilidade,

associada ao segundo termo da Equação 11, adquire valores altos, o que maximiza

o valor do campo elétrico produzido pelo plasmon. Essa condição de ressonância é

possível quando a parte real da função dielétrica assume valores negativos na

região do visível e infravermelho próximo, e a parte imaginária apresenta valores

pequenos, o que é de fato observado para os metais mostrados na Figura 4. Uma

vez que a função dielétrica de determinado metal é dependente do comprimento de

onda, sua componente real, em conjunto com a constante dielétrica do meio, é

Page 32: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

32

responsável pela determinação do comprimento de onda em que o plasmon será

observado 14,34,39,40.

Os metais Au 41, Ag 42, e menos frequentemente Cu 43, são os mais

amplamente usados em experimentos SERS, uma vez que suas bandas de

absorção do plasmon de superfície se encontram na região do visível e

infravermelho próximo, onde geralmente se encontram os comprimentos de onda

das linhas de laser mais utilizadas em equipamentos Raman. Como visto na Figura

4, a parte imaginária da função dielétrica do ouro, relativa às transições eletrônicas

interbandas, ainda apresenta altos valores abaixo de aproximadamente 600 nm,

região em que a prata apresenta grande vantagem em aplicações plasmônicas.

Acima dessa região de comprimento de onda, contudo, a absorção do ouro se

assemelha à da prata, o que favorece o seu uso devido à maior estabilidade química

deste metal.

Na região próxima a 633 nm, comprimento de onda do laser de He-Ne,

amplamente utilizado em espectroscopia Raman, a prata ainda apresenta certa

vantagem em relação à eficiência na intensificação do campo elétrico comparada ao

ouro. Contudo, nanopartículas de prata com morfologia controlada,

monodispersidade e boa estabilidade são de difícil obtenção por metodologias de

síntese química 44. Este problema pode ser contornado através da preparação de

sistemas hierárquicos de nanopartículas, como as estruturas bimetálicas caroço-

casca, em que uma nanopartícula de ouro com morfologia bem definida é recoberta

com uma camada de prata. As nanopartículas caroço-casca exibem propriedades

eletrônicas, óticas e catalíticas que podem ser diferentes das observadas para os

componentes individuais, exibindo diversas aplicações 45. No caso de sistemas

caroço-casca utilizando prata e ouro, as partículas obtidas podem incorporar a

monodispersidade do ouro com as propriedades óticas da prata, fornecendo

materiais promissores para a preparação de substratos SERS.

A avaliação das propriedades óticas das nanopartículas metálicas através

da aproximação eletrostática descrita acima considera somente que a partícula é

muito menor que a radiação incidente. Entretanto, para dimensões típicas até

aproximadamente 100 nm, é observada a influência de efeitos de tamanho nas

características das bandas de extinção atribuídas ao plasmon. O aumento no

tamanho da nanopartícula faz com que as cargas fiquem mais afastadas durante a

oscilação do dipolo, e com isso, a força restauradora que atua nessas cargas é

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33

menor. Como consequência, a oscilação ocorre com uma frequência menor, e a

banda atribuída ao plasmon dessa partícula será observada em maiores

comprimentos de onda no espectro de extinção 46.

Outro fator que exerce influência na posição da banda plasmon e na

intensidade do campo elétrico produzido na superfície da nanopartícula é a sua

geometria. A geometria tem efeito no padrão de polarização da superfície e,

portanto, define o comportamento da ressonância de plasmon. Em partículas

anisotrópicas, surgem diferentes simetrias de polarização, e assim, um maior

número de bandas pode ser observado no espectro de extinção em relação às

partículas esféricas 47.

No caso de nanobastões, a ressonância de plasmon depende da

orientação do campo elétrico incidente em relação à partícula, e dessa forma, as

oscilações dipolares podem acontecer tanto no sentido transversal quanto no

longitudinal em relação ao eixo do bastão 48. Isso faz com que, utilizando uma fonte

de radiação não polarizada, duas bandas sejam observadas no seu espectro, uma

atribuída à ressonância dipolar do plasmon na direção transversal, e outra, ao

plasmon dipolar na direção longitudinal. A posição da banda longitudinal é

dependente do comprimento do bastão, pois, novamente, surge o efeito da maior

separação de cargas nessa direção em relação à direção transversal, o que faz com

que a força restauradora seja menor, e consequentemente, a oscilação tenha menor

frequência, sendo observada em maiores comprimentos de onda do que a

ressonância de dipolo transversal 49,50.

Em geometrias que possuem extremidades pontiagudas, como as placas

triangulares, pentágonos e cubos, quanto menor for a angulação dessas

extremidades, maior será o acúmulo e a separação de cargas, e portanto, mais

deslocadas estarão as bandas para menores valores de frequência. Além disso,

cálculos mostram que, nessas pontas, o maior acúmulo de carga irá produzir a maior

intensificação do campo elétrico local 47, consequentemente intensificando o

espalhamento.

2.2.2 Mecanismo Químico

A contribuição do mecanismo químico para o efeito SERS pode ser

entendida como uma modificação na polarizabilidade da molécula analisada,

resultante da formação de um complexo entre essa molécula e a superfície metálica,

Page 34: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

34

ou seja, admite-se que haja ligação química entre os dois componentes. Com isso,

essa contribuição não se dá diretamente na intensificação do sinal Raman, mas sim

na alteração da identidade e natureza da molécula 51.

A formação do complexo entre a molécula e o metal modifica a estrutura

eletrônica das espécies envolvidas. Considera-se, como uma aproximação, que o

nível de Fermi do metal esteja localizado entre os níveis ocupados de maior energia

(HOMO), e os níveis não ocupados de menor energia (LUMO) da molécula, como

representado no diagrama da Figura 5. Quando a radiação incidente está em

ressonância com a transição eletrônica entre os níveis da molécula, ocorre o

fenômeno de Raman ressonante, discutido anteriormente. Podem ocorrer ainda dois

fenômenos de transferência de carga: a transição eletrônica entre o estado

fundamental da molécula e o nível de Fermi do metal, ou então entre o nível de

Fermi do metal e o estado excitado da molécula. Caso a radiação incidente seja

ressonante com a energia necessária para que esses processos de transferência de

carga ocorram, isso pode levar ao aumento substancial no tensor de polarizabilidade

do complexo, intensificando o sinal SERS 10,14,52.

Figura 5. Representação dos processos fotoinduzidos de transição eletrônica entre

os estados eletrônicos do metal e da molécula adsorvida quimicamente.

Page 35: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

35

Com a adsorção química da molécula na superfície do metal, o espectro

SERS pode mostrar características distintas em comparação à molécula livre, tanto

com relação à posição, quanto à intensidade. Modos vibracionais que antes não

eram ativos, ou eram pouco intensos, podem ser vistos intensificados e/ou

deslocados.

2.3 Substratos SERS

Nanoestruturas metálicas empregadas na obtenção de espectros SERS

podem ser utilizadas na forma de suspensões coloidais de nanopartículas; estruturas

metálicas planares, tais como nanopartículas metálicas depositadas sobre uma

superfície plana (como vidros, silício, metais, entre outros) na forma de filmes; e

também em eletrodos metálicos.

Uma das formas de sintetizar nanopartículas é através dos processos top-

down, em que estruturas grandes são sistematicamente reduzidas a componentes

menores utilizando padrões ou moldes. As estruturas são obtidas de forma

controlada por técnicas como litografia e fotolitografia, dando origem a substratos

que têm sido apontados como promissores em SERS, em termos de resposta

uniforme, reprodutibilidade e quantificação 53,54. Tais técnicas permitem a preparação

de substratos metálicos com padrão pré-definido, com superfície uniforme e

modulação do valor da banda plasmon de superfície, porém exigem o uso de

equipamentos e técnicas sofisticadas de microfabricação, fazendo com que seu

custo seja bastante elevado 55.

Outra forma de preparação envolve os processos conhecidos como

bottom-up, que são definidos como sendo a preparação de sistemas maiores a partir

de unidades menores, como átomos, moléculas, polímeros, ou até mesmo

nanopartículas. A preparação das nanopartículas geralmente envolve processos de

redução química ou biológica, com a formação de núcleos e sucessivo crescimento,

o que permite bom controle de tamanho e morfologia sob condições específicas 56.

O uso das nanopartículas na preparação dos substratos é bastante

explorado na literatura, sendo que diversas abordagens são utilizadas na sua

imobilização em superfícies planas. No nosso grupo de pesquisa, placas de vidro

funcionalizadas com APTMS, um alcoxissilano que contém um grupo amino terminal,

foram utilizadas para realizar a deposição de nanopartículas de prata na obtenção

Page 36: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

36

de substratos SERS 57,58,59. Para a imobilização de nanopartículas de ouro, trabalhos

relataram o uso do MPTMS, alcoxissilano que contem o grupo tiol terminal 60,61,62.

O desenvolvimento de dispositivos para aplicação SERS requer como

característica importante a geração de hot spots, regiões em que a curta distância

(tipicamente 1 a 2 nm) entre duas ou mais nanoestruturas com banda plasmon

promove o acoplamento dessa ressonância, o que leva a uma grande intensificação

do campo elétrico local 55. Uma única molécula localizada na região do hot spot

produz um sinal SERS de mesma intensidade de centenas a milhares de moléculas

adsorvidas em regiões onde não há hot spot 63, o que permite alcançar o regime de

detecção de uma molécula (SM-SERS – single molecule-surface enhanced Raman

spectroscopy). A Figura 6 mostra a intensificação do campo eletromagnético em

relação ao campo incidente (que incide na direção perpendicular ao eixo entre as

duas partículas), calculado pelo método das diferenças finitas no domínio do tempo

(FDTD – finite-difference time-domain), ao redor de duas nanopartículas de ouro

com 100 nm de diâmetro e espaçamento de 0,5 nm. O hot spot é representado nas

regiões amarelas, onde a intensificação do campo é máxima 64.

Figura 6. Intensificação do campo eletromagnético ao redor de um dímero de

nanopartículas de Au de 100 nm de diâmetro, com espaçamento de 0,5 nm,

calculada pelo método FDTD. A incidência da radiação é perpendicular ao eixo

entre as nanopartículas. Adaptado da Ref. 64.

Page 37: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

37

Diversas estratégias são utilizadas para a geração de hot spots. Em

suspensões coloidais, a agregação das nanopartículas pode ser feita por interações

eletrostáticas, através da mudança na força iônica pela adição de sais; em

substratos preparados por deposição, podem ser usados métodos físicos de auto-

organização, em que um fluxo convectivo é aplicado durante a evaporação do

solvente; métodos de preparação por litografia, ou então se pode induzir a

agregação pela funcionalização da superfície de deposição ou pelo uso de agentes

que se ligam à superfície das nanopartículas 64. Neste contexto, Brolo e

colaboradores reportaram o uso da molécula propanoditiol (PDT) na imobilização e

intercalação de camadas de nanopartículas de ouro depositadas 65,66, o que leva à

sua agregação e consequente geração de hot spots.

Há um grande interesse no desenvolvimento de substratos com alta

eficiência para aplicação em SERS, buscando maior aplicabilidade da técnica em

diversas áreas, e a sua consolidação como uma ferramenta analítica. Do ponto de

vista prático, um bom substrato SERS é aquele que apresenta uma intensificação

uniforme e elevada do espalhamento Raman, com reprodutibilidade das medidas e

baixo custo de preparação. Com relação à versatilidade de aplicação, diversos

trabalhos têm relatado o uso de nanopartículas depositadas em papel, criando

sistemas flexíveis com potencial de aplicação comercial em análises de rotina para

sistemas químicos e biológicos 67,68. Dentre as vantagens desse tipo de substrato,

está o baixo custo, a biodegradabilidade, a possibilidade de produção em larga

escala, e a facilidade de transporte em grandes quantidades.

2.4 Poluentes Ambientais Emergentes

Poluentes ambientais emergentes são compostos químicos encontrados

em matrizes ambientais e biológicas, que não são comumente monitorados no

ambiente e ainda não são contemplados por legislações regulatórias de controle

ambiental, mas que são ameaças potenciais à saúde humana e aos ecossistemas,

mesmo em baixas concentrações. Esses compostos estão presentes em diversos

produtos comerciais que são produzidos em larga escala, principalmente fármacos

(antibióticos, anti-inflamatórios, antidepressivos, hormônios), pesticidas, produtos de

higiene pessoal, aditivos industriais, além de drogas ilícitas 69,70.

Page 38: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

38

Muitos desses compostos atingem os recursos hídricos através de rejeitos

urbanos, quando a sua remoção nas estações de tratamento de esgoto não é

eficiente, e também a partir dos efluentes industriais e da agricultura. Com o número

crescente de poluentes encontrados em sistemas hídricos, surge a necessidade de

se estudar a sua ocorrência, destino e impacto ecológico, além de criar programas

de monitoramento para evitar danos ambientais e à saúde 71,72. Com isso, faz-se

necessária a utilização de uma técnica analítica sensível, eficiente e versátil para

sua detecção e monitoramento. Neste contexto, o desenvolvimento de substratos

eficientes à base de nanopartículas metálicas pode permitir a utilização de SERS

como técnica analítica de rotina. Além disso, a possibilidade do uso de

equipamentos Raman portáteis permite que as análises sejam realizadas em campo.

2.4.1 Fármacos

As sulfonamidas são uma classe de agentes antibacterianos de amplo

espectro de atuação que, em doses usuais, apresentam efeito bacteriostático, ou

seja, impedem a multiplicação das células bacterianas, retardando o avanço da

infecção. Embora a bactéria permaneça viva, a queda na taxa de divisão celular

permite que o sistema imunológico do paciente seja capaz de combater a infecção.

Em alguns casos, contudo, o tratamento é realizado utilizando altas doses desses

fármacos, levando ao efeito bactericida, ou seja, à morte da bactéria. O efeito é

baseado na inativação de enzimas envolvidas no processo de produção de ácido

fólico das bactérias, o que interrompe a biossíntese de ácidos nucleicos, e

consequentemente impede a divisão celular 73.

A Figura 7 mostra a estrutura molecular geral para as sulfonamidas

empregadas como agentes antibacterianos. Variando o grupo funcional R ligado ao

nitrogênio sulfonamídico, são obtidos compostos com diferentes propriedades físico-

químicas e farmacológicas.

Figura 7. Estrutura molecular genérica das sulfonamidas.

Page 39: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

39

O sulfatiazol (4-amino-N-(2-tiazolil)benzenossulfonamida) é um agente

antibacteriano comumente utilizado no tratamento de infecções respiratórias e

urinárias, e vem sendo apontado como contaminante de ambientes aquáticos ao ser

encontrado em resíduos hospitalares e de estações de tratamento de esgoto. A

estrutura molecular do sulfatiazol está apresentada na Figura 8.

Figura 8. Estrutura molecular do fármaco sulfatiazol.

A detecção do sulfatiazol pela técnica de SERS foi relatada por Ratkaj e

Miljanić 74. Os autores utilizaram nanopartículas de Au, Ag e Cu em suspensão

coloidal, obtendo espectros SERS para uma solução de concentração 9.10-6 mol L-1

(energia de excitação em 785 nm), e também em uma placa de Au, para uma

solução 1.10-4 mol L-1 (excitação em 1064 nm).

2.4.2 Pesticidas

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de produtos

agrícolas do mundo. Entretanto, o uso indiscriminado de agroquímicos, tanto em

relação à quantidade, quanto ao tipo de pesticida, pode oferecer risco aos

trabalhadores rurais, à população em geral e ao meio ambiente 75. Um pesticida é

uma substância, ou mistura de substâncias, cujas aplicações são prevenir, destruir,

repelir ou reduzir efeitos de pestes que atingem culturas agrícolas. Essas pestes

podem ser insetos, roedores, fungos, bactérias, ervas daninhas, ou quaisquer outros

organismos nocivos 76.

Amplamente utilizados em todo o mundo como fungicidas, os

ditiocarbamatos são agroquímicos organossulfurados utilizados em diversas culturas

agrícolas. A ação fungicida destes compostos está relacionada à reação do grupo

ditiocarbamato com enzimas das células dos fungos, ou então à sua complexação

com metais presentes nessas enzimas, inibindo sua atividade 77.

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40

O tiram (dissulfeto de tetrametilthiuram ou dissulfeto de

bis-(dimetiltiocarbamoila)), cuja estrutura molecular está representada na Figura 9, é

um fungicida do grupo dos ditiocarbamatos, extensivamente utilizado como agente

protetor de folhas e frutas contra uma grande variedade de doenças causadas por

fungos. É também aplicado no tratamento de sementes, principalmente para culturas

de milho, algodão, cereais, e vegetais ornamentais 78. Além disso, o tiram é utilizado

na indústria de borracha como agente acelerador de vulcanização, e já foi

empregado no tratamento de infecções em humanos, como a escabiose, e também

como agente antibacteriano, aplicado direto à pele ou incorporado a sabões 79.

Figura 9. Estrutura molecular do fungicida tiram.

A toxicidade causada pela exposição ao tiram pode levar a danos aos

olhos e pele, como dermatites de contato, além de problemas no fígado devidos à

liberação de dissulfeto de carbono 80,81. Estudos mostraram que ele pode ainda

apresentar efeitos mutagênicos 82 e induzir a formação de tumores 83. De acordo

com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tiram é classificado como

moderadamente nocivo à saúde humana 84.

Diversos trabalhos reportaram a detecção do tiram utilizando substratos

SERS. Lv et al. 85, Zhang et al. 86, e Zhang et al. 87 detectaram o espectro do

fungicida até a concentração de 1.10-7 mol L-1 empregando, respectivamente, asas

de cigarra decoradas com nanopartículas de ouro, nanofios de prata depositados em

substratos de vidro, e nanopartículas caroço-casca de Au e Ag intercaladas por uma

folha de óxido de grafeno. Wang e colaboradores 88 atingiram o limite de detecção

de 1.10-9 mol L-1, utilizando microesferas poliméricas recobertas com nanopartículas

de prata como substrato.

Na classe dos inseticidas, os compostos em geral são neurotóxicos,

atuando no sistema nervoso central dos organismos alvo e causando o

envenenamento pela inibição de enzimas específicas. Devido a isso, a toxicidade

Page 41: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

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da maioria desses compostos não é seletiva, sendo uma ameaça a outras

espécies, inclusive a humanos, e por serem lipossolúveis, são facilmente

absorvidos pela pele 76. Dentre os inseticidas mais conhecidos, o paration

(fosfotioato de O,O-dietil-O-(4-nitrofenila)) é um composto organofosforado utilizado

principalmente em culturas de cereais, frutas, legumes, algodão e plantas

ornamentais 89. Sua estrutura molecular está representada na Figura 10. Devido à

sua alta toxicidade, ele já foi banido ou considerado de uso restrito em diversos

países, tendo sido responsável por um grande número de casos de intoxicação em

seres humanos 90. Além dos efeitos neurológicos associados ao contato com o

paration, a exposição prolongada a este inseticida pode causar genotoxicidade e

carcinogenicidade 91,92. Na classificação da OMS, o paration aparece como

extremamente nocivo à saúde 84.

Figura 10. Estrutura molecular do inseticida paration

Espectros SERS do paration foram reportados por Han et al. 93 utilizando

nanoesferas de sílica encapadas com prata, para as quais o limite de detecção de

1.10-7 mol L-1 foi atingido. Jiang et al. 94 reportaram espectros para a concentração

de 1.10-9 mol L-1, empregando como substrato nanobastões de MnO2 decorados

com ouro.

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42

3. OBJETIVOS

O objetivo principal do projeto foi desenvolver um substrato SERS

eficiente na detecção de moléculas classificadas como poluentes ambientais, e que

possam futuramente ser adaptados para o uso em análises de rotina. A base para a

preparação dos substratos foi o uso de nanopartículas com propriedades

plasmônicas, visando obter a máxima intensificação do espectro Raman de

determinadas moléculas através do efeito SERS. Com isso, busca-se a detecção

destas moléculas em soluções bastante diluídas, com a finalidade de, futuramente,

empregar os substratos na análise de matrizes ambientais, como água de rios e

lagos.

Para isso, foram estabelecidos como objetivos específicos do trabalho:

Sintetizar e caracterizar dois tipos de nanopartículas metálicas com

morfologia e tamanho controlados: os nanobastões de ouro, e os

nanobastões caroço-casca de ouro e prata;

Empregar as suspensões obtidas na preparação dos substratos através da

sua deposição em placas de vidro funcionalizadas com alcoxissilanos.

Avaliar e comparar a eficiência dos substratos através da detecção da

molécula sonda 4-aminobenzotiol (4-ABT) pela técnica de SERS.

Empregar o substrato de melhor desempenho, caracterizado pela eficiência

em termos do limite de detecção, na análise das moléculas contaminantes

selecionadas: o fármaco sulfatiazol, e os pesticidas tiram e paration.

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43

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Na Tabela 1, estão listados os reagentes utilizados no projeto, as

respectivas marcas e purezas. Todos os reagentes foram utilizados como recebidos

dos fornecedores, sem purificação adicional. Em todas as etapas, foi utilizada água

deionizada (resistividade 18,2 MΩ cm a 25 ºC), e as vidrarias foram previamente

lavadas com água régia (HCl:HNO3 na proporção 3:1).

Tabela 1. Lista de reagentes utilizados no trabalho.

Reagente Marca Pureza (%)

Nome

Fórmula química

Ácido clorídrico HCl Synth ≥ 37a

Ácido nítrico HNO3 Synth 65

Brometo de cetiltrimetilamônio C19H42BrN Aldrich ≥ 99

Ácido tetracloroáurico HAuCl4 Aldrich ≥ 49b

Boroidreto de sódio NaBH4 Aldrich 99,99

Nitrato de prata AgNO3 Aldrich ≥ 99

Hidróxido de sódio NaOH Synth 97

Peróxido de hidrogênio H2O2 Synth 29c

Polivinilpirrolidona (PVP - 55000) (C6H9NO)n Aldrich ―

Ácido ascórbico C6H8O6 Aldrich ≥ 99,7

Ácido sulfúrico H2SO4 Synth 98

(3-aminopropil)-trimetoxissilano C6H17NO3Si Acros 95

(3-mercaptopropil)-trimetoxissilano C6H16O3SiS ABCR 97

1,3-Propanoditiol C3H8S2 Aldrich 99

Etanol C2H5OH Synth 99,5

4-aminobenzotiol C6H7SN Aldrich 97

Sulfatiazol C9H9N3O2S2 Fluka 99,9

Tiram C6H12N2S4 Fluka 99,9

Paration C10H14NO5PS Fluka 99,7

a Teor dissolvido em água;

b Baseado em Au;

c (v/v) em água.

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44

4.1 Síntese de nanobastões de ouro (AuNRs)

Os nanobastões de ouro foram preparados em meio aquoso de acordo

com metodologia reportada na literatura 95, utilizando peróxido de hidrogênio em

meio básico como agente redutor e crescimento através do uso de sementes de

ouro.

4.1.1 Preparação da suspensão de sementes de ouro

Em um balão de fundo redondo de 50 mL, mantido a 28 ºC em banho de

água, foram adicionados 4 mL de uma solução de brometo de cetiltrimetilamônio

(CTAB) 0,1 mol L-1 e 40,5 µL de uma solução 1 % de HAuCl4. Em seguida, 24 µL de

solução de NaBH4 0,1 mol L-1 foram adicionados rapidamente ao balão, sob

agitação. A solução de NaBH4 foi preparada com água gelada, imediatamente antes

do uso. Após agitação por 2 min, a solução foi deixada em banho de água a 28 ºC

por cerca de 1 h antes do uso na próxima etapa. A Figura 11 ilustra a síntese da

suspensão de sementes de ouro.

Figura 11. Esquema reacional da preparação das sementes de ouro.

4.1.2 Preparação da solução de crescimento dos AuNRs

O crescimento dos AuNRs foi feito conforme o esquema mostrado na

Figura 12. A 50 mL de uma solução de CTAB 0,1 mol L-1, foram adicionados 20 µL

de AgNO3 0,1 mol L-1, e 1,03 mL de uma solução de HAuCl4 24,28 mol L-1. Em

seguida, foram adicionados 162,5 µL de solução de NaOH 1 mol L-1, e 27,5 µL de

H2O2 30 %. A solução foi agitada por 1 min, e então foram adicionados rapidamente

150 µL da suspensão de sementes, cuja preparação foi descrita acima. A suspensão

resultante permaneceu sob agitação por 30 s, e então foi mantida em banho de água

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45

a 28 ºC por pelo menos 1,5 h. Foi obtida uma suspensão de cor roxa escura, que foi

centrifugada a 14000 rpm por 10 min e redispersa em água deionizada.

Figura 12. Esquema reacional do crescimento dos nanobastões de ouro.

4.2 Síntese de nanobastões caroço-casca de ouro e prata (Au@AgNRs)

A síntese dos sistemas caroço-casca foi feita em meio aquoso seguindo

procedimento descrito na literatura 96 com algumas modificações, através da

redução de solução precursora de prata por ácido ascórbico em meio básico.

Inicialmente, 8 mL da suspensão de nanobastões de ouro foram dispersos em 20 mL

de solução de polivinilpirrolidona (PVP; massa molar média 55000 g mol-1) 2 %. Em

seguida, foram adicionados diferentes volumes de solução de AgNO3 1 mmol L-1

(0,75; 1,0; 1,5 e 2,5 mL), e 0,5 mL de solução aquosa de ácido ascórbico 0,1 mol L-1.

A suspensão foi agitada por 2 min, e em seguida, 1 mL de solução de hidróxido de

sódio 0,1 mol L-1 foi rapidamente adicionado. A reação se completou em

aproximadamente 2 min obtendo-se suspensões com diferentes tonalidades da cor

verde. Na Figura 13, está mostrado o esquema de síntese dos Au@AgNRs.

Figura 13. Esquema reacional da síntese da casca de prata sobre os AuNRs.

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46

4.3 Preparação dos substratos SERS

Inicialmente, lâminas de vidro com 1,2 cm x 1,2 cm foram imersas em

solução piranha (H2SO4:H2O2 na proporção 4:1) por 2 h, lavadas abundantemente

com água deionizada e secas em estufa a 105 ºC por 10 min. Para a deposição das

nanopartículas de ouro, a funcionalização dos substratos foi realizada utilizando uma

solução de (3-mercaptopropil)-trimetoxissilano (MPTMS) na proporção

10 % MPTMS/4,5 % água/85,5 % etanol (em volume), enquanto que para as

nanopartículas caroço-casca, foi utilizada solução de (3-aminopropil)-trimetoxissilano

(APTMS) na mesma concentração. As placas secas foram imersas na solução

correspondente por um período de 16 h, e em seguida, lavadas com etanol e

mantidas em estufa a 110 ºC por 1 h.

Para fazer a deposição das nanopartículas de ouro sobre o vidro

silanizado com MPTMS, 100 µL da suspensão de nanobastões foram gotejados

sobre as placas, que foram então colocadas em estufa a 40 ºC por 20 min, lavadas

com água deionizada e secas sob fluxo de N2. Em seguida, foi feita a intercalação

utilizando uma solução de propanoditiol (PDT) 5 mmol L-1 em etanol. As placas

foram imersas nesta solução por 1 h, lavadas com etanol e secas sob fluxo de N2,

completando uma deposição. O processo foi então repetido mais quatro vezes,

totalizando cinco deposições de AuNRs. A deposição da suspenção de

nanopartículas caroço-casca foi realizada da mesma forma sobre as placas

funcionalizadas com APTMS, porém, não foi feita intercalação com PDT.

4.4 Caracterização

4.4.1 Caracterização das suspensões de nanopartículas

A caracterização dos nanobastões obtidos foi feita por espectroscopia de

absorção no UV-Vis-NIR utilizando espectrofotômetro Agilent HP8354, na faixa de

300 a 1000 nm; microscopia eletrônica de transmissão (TEM) em equipamento Zeiss

Libra 120, com potencial de aceleração de 120 kV; microscopia eletrônica de

transmissão de alta resolução (HRTEM) e espectroscopia de raios X por energia

dispersiva (EDS) em equipamento TEM-FEG JEOL JEM 2100F, com potencial de

aceleração de 200 kV e resolução de 1,9 Å (imagens e medidas realizadas no

Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) do Centro Nacional de Pesquisa

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47

em Energia e Materiais (CNPEM)). Para as análises de microscopia, as suspensões

aquosas foram gotejadas em grades de cobre recobertas com carbono, e secas à

temperatura ambiente.

4.4.2 Caracterização dos substratos SERS

As placas de vidro foram analisadas por espectroscopia de absorção no

UV-Vis-NIR em espectrofotômetro Varian Cary 50 na faixa de 300 a 1000 nm. A

distribuição das nanopartículas nos substratos foi avaliada por microscopia

eletrônica de varredura com emissão de campo (SEM-FEG), a partir da deposição

em placas de silício funcionalizadas com os silanos correspondentes. As imagens

foram feitas em equipamento Quanta FEG 250 (FEI), utilizando potencial de

aceleração de 10 kV e detector de elétrons secundários.

4.5 Avaliação da atividade SERS dos substratos

A eficiência dos substratos quanto à atividade SERS foi avaliada

utilizando a molécula sonda 4-aminobenzotiol (4-ABT). Foi preparada uma solução

1.10-3 mol L-1 em etanol, a partir da qual foram feitas diluições em água para

concentrações entre 1.10-4 e 1.10-15 mol L-1. Sobre cada placa de vidro contendo

nanopartículas, foram depositados 150 µL de cada solução de 4-ABT, o suficiente

para cobrir toda a superfície do vidro, que foi então mantido em dessecador para a

evaporação do solvente à temperatura ambiente.

As medidas de espectroscopia Raman foram realizadas no Laboratório

Multiusuário de Espectroscopia Óptica Avançada (LMEOA) do Instituto de Química

da UNICAMP. Os espectros Raman foram obtidos no equipamento HORIBA Jobin

Yvon T64000, com detector CCD resfriado com nitrogênio líquido, e acoplado a um

microscópio ótico com resolução espacial de 1,0 μm e resolução espectral de 1 cm-1,

utilizando o laser de He-Ne (632,8 nm). O laser foi focado na amostra com objetiva

de 100x, e a coleta dos espectros foi feita com tempo de exposição de 30 s e sem

acumulação. Os spikes foram removidos dos espectros com a utilização da

ferramenta de filtro despike.

A partir dos resultados de intensificação obtidos para os substratos

utilizando a molécula sonda, o sistema selecionado foi utilizado para analisar o

fármaco e os pesticidas. Para o sulfatiazol, foi preparada uma solução de

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concentração 1.10-3 mol L-1 em etanol, a partir da qual foram feitas diluições

sucessivas em água. Já para os pesticidas tiram e paration, as soluções 1.10-3 mol L-1

foram preparadas em acetona, prosseguindo com as diluições em água. A

deposição nos substratos a partir das soluções diluídas foi realizada da mesma

forma que para o 4-ABT.

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49

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Nanobastões de ouro

AuNRs foram sintetizados pelo método de crescimento a partir de

sementes com o uso de H2O2, que atua como agente redutor em meio básico. Tal

metodologia permite obter partículas com morfologia e tamanho bem definidos, e

com controle da posição da banda de ressonância do plasmon de superfície. A

síntese de nanobastões requer um controle rigoroso tanto dos efeitos

termodinâmicos, relacionados com a estabilização de faces cristalográficas

específicas, quanto cinéticos, relativos ao crescimento anisotrópico, e assim,

diversos parâmetros estão envolvidos.

O uso de um surfactante catiônico de cadeia longa, como o CTAB (Figura

14A), é crucial para o direcionamento de morfologia durante o crescimento da

nanopartícula, formando uma estrutura de bicamada ao seu redor 97, como mostrado

na Figura 14B. A cadeia do surfactante deve ser longa o suficiente para promover a

estabilização da nanopartícula, mas curta suficiente para permanecer solúvel nas

condições da síntese e armazenamento da suspensão. Estudos mostraram que os

íons brometo presentes nesta molécula são fortemente adsorvidos a faces

específicas do ouro 98, principalmente às faces laterais de maior índice, que

possuem estrutura de empacotamento mais espaçada.

(A)

(B)

Figura 14. (A) Estrutura molecular do CTAB e (B) bicamada de CTAB na superfície

do nanobastão de ouro (adaptado da Ref. 99).

O precursor de ouro é adicionado na forma de íons [AuCl4]‾, um complexo

de metal d8, cuja solução apresenta cor amarela clara devida a transições

ligante–metal. Na presença de CTAB, os cloretos do complexo são substituídos por

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50

brometos, uma vez que a energia de complexação com o ouro é maior para este

último, e isso é evidenciado pela alteração na cor da solução para laranja escura.

Subsequentemente, o íon precursor forma um complexo com micelas do surfactante

na forma AuBr4―CTA, o que altera o seu potencial de redução, e assim interfere na

cinética de crescimento das partículas 100. A Tabela 2 apresenta os potenciais-

padrão de redução em solução aquosa dos íons e complexos de ouro 101.

Tabela 2. Potenciais-padrão de redução dos íons e complexos de ouro em água 101.

Semi-reação Potencial-padrão (V)

Au3+/Au+

Au3+ + 2e‾ → Au+ +1,40

[AuCl4]‾ + 2e‾ → [AuCl2]‾ + 2Cl‾ +0,93

[AuBr4]‾ + 2e‾ → [AuBr2]‾ + 2Br‾ +0,80

Au+/Au

Au+ + e‾ → Au +1,71

[AuCl2]‾ + e‾ → Au + 2Cl‾ +1,15

[AuBr2]‾ + e‾ → Au + 2Br‾ +0,96

Os complexos mostrados na Tabela 2 são mais estáveis do que os íons

de ouro livres e, portanto, são mais dificilmente reduzidos, o que é evidenciado pelos

menores valores de potencial de redução. O complexo [AuBr4]‾ apresenta potencial

ainda menor do que o [AuCl4]‾ , de modo que um agente redutor fraco é capaz de

reduzi-lo apenas a [AuBr2]‾, mas não a ouro metálico, o que só ocorre quando as

sementes são adicionadas. Isso evita a nucleação secundária na solução de

crescimento dos bastões. A formação do complexo [AuBr4]―CTA diminui ainda mais

esse potencial, sendo então reduzido a [AuBr2]―CTA pelo H2O2 em meio básico

(potencial de redução +0,15 V 102), e garantindo que a deposição ocorra de forma

controlada. Essa primeira redução é evidenciada pelo desaparecimento da cor

alaranjada da solução, que se torna incolor, uma vez que o centro metálico do

complexo agora possui configuração d10, e a transferência de carga ligante–metal

não é mais observada. A micela contendo complexo reduzido direciona os íons

precursores até as sementes, que agem como catalisadores da redução controlada

do Au+ a ouro metálico na sua superfície 100.

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51

Durante o crescimento do cristal, a bicamada formada pelas moléculas do

surfactante faz com que as extremidades fiquem mais susceptíveis ao contato com

as micelas que contêm os íons Au+, devido à interação preferencial do CTAB com as

faces específicas do ouro e à curvatura da estrutura da bicamada nas extremidades

50,103,104. Esse mecanismo de crescimento faz com que a síntese seja extremamente

sensível a impurezas, principalmente em relação a íons haleto. Quando o CTAB não

é de alta pureza, pode haver traços de iodeto, o que impossibilita a obtenção de

nanobastões. Os íons iodeto possuem energia de adsorção maior do que o brometo

em determinadas faces do ouro, se ligando preferencialmente à face {111}. Dessa

forma, a presença de iodeto, mesmo na ordem de ppm, impede a formação de

bastões e favorece a obtenção de outras morfologias, como esferas e placas

triangulares 98,105,106.

Ainda não há um consenso quanto ao papel da prata na formação dos

bastões de ouro, mas os estudos têm mostrado que o Ag+ está envolvido na quebra

de simetria durante o crescimento das sementes, e que, na sua ausência, não é

obtida uma quantidade significativa de nanobastões. Um estudo sistemático sobre

esse mecanismo foi realizado por Walsh et al. 107. Os pesquisadores mostraram que

as sementes de ouro preparadas por esta metodologia possuem em torno de 2 nm,

e são monocristais cuboctaédricos que contêm 8 faces {111} e 6 faces {100}

arranjadas simetricamente (Figura 15), cujo crescimento não implicaria, a princípio,

em uma quebra de simetria. A presença do CTAB modifica a energia superficial da

partícula, uma vez que ele adsorve preferencialmente às faces {100},

estabilizando-as em relação às {111}.

Figura 15. Ilustração da estrutura cuboctaédrica das sementes de ouro estabilizadas

por CTAB. Adaptado da Ref. 107.

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52

As sementes iniciam então o crescimento isotrópico. Os autores

observaram que, quando as partículas possuem em torno de 4 a 6 nm, surgem

planos de truncamento assimétrico de maior índice, nas regiões de encontro entre os

planos {111}. Eles sugerem que esses truncamentos são incorporados à estrutura

da partícula para reduzir efeitos de borda onde planos de menor índice se

encontram, diminuindo significativamente a energia livre de superfície da estrutura.

Na Figura 16, são mostradas ilustrações e imagens de microscopia, nas quais é

evidenciada a formação do plano de truncamento durante o crescimento da

semente. A faixa de tamanho em que os truncamentos são observados corresponde

exatamente à faixa em que se relata a quebra de simetria das partículas.

Figura 16. Ilustrações e imagens de TEM do surgimento de planos de truncamento

durante o crescimento das sementes de ouro. Adaptado da Ref. 107.

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53

Os autores do trabalho propõem que as faces assimétricas de

truncamento são estabilizadas preferencialmente pelas espécies Ag+ presentes na

solução de crescimento, uma vez que seu empacotamento atômico é mais espaçado

em relação às outras faces mais compactas. Essas faces estabilizadas por uma

camada de prata, e que são distribuídas de maneira não simétrica, possuem

estabilidade intensificada em relação às outras, fazendo com que a subsequente

deposição de átomos de ouro ocorra mais rapidamente nas outras direções. O

crescimento então prossegue de forma assimétrica, gerando partículas

monocristalinas anisotrópicas.

Existe controvérsia na literatura quanto à atribuição das faces cristalinas

expostas nos AuNRs. O primeiro estudo foi feito por Wang et al. 108 em 1999. Os

autores descreveram os nanobastões como sendo monocristais com retículo

cristalino fcc (cúbico de faces centradas), seção transversal octogonal, apresentando

as faces {100} e {110} intercaladas, paralelas ao eixo longitudinal, e na extremidade,

uma face {001}, quatro {110} e quatro {111}. Mais recentemente, outras publicações

apresentaram atribuições alternativas, como a de Carbó-Argibay et al. 109, que vem

sendo mais aceita. Este trabalho mostrou que, na verdade, a lateral dos

nanobastões é composta por oito faces equivalentes de alto índice, {520}, com as

extremidades ainda compostas pelas faces {110} e {111}, como na atribuição

anterior. Os autores relacionaram a estrutura proposta com o mecanismo de

crescimento dos bastões, em que a adsorção seletiva do CTAB em faces

equivalentes nas laterais favoreceria o crescimento unidimensional da partícula.

A Figura 17 mostra representações da estrutura cristalina de nanobastões

de ouro, comparando os modelos propostos por Wang (Figura 17A) e por Carbó-

Argibay (Figura 17B). O segundo autor suporta ainda sua proposta mostrando a

correspondência entre os ângulos medidos entre as faces nas micrografias e os

valores esperados para esses ângulos.

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54

Figura 17. Estrutura cristalina dos AuNRs e dos ângulos entre as faces para os

modelos propostos por (A) Wang e (B) Carbó-Argibay. Adaptado da Ref. 109.

A caracterização dos AuNRs obtidos foi feita por espectroscopia na região

do UV-Vis-NIR em suspensão aquosa, cujo espectro de extinção está mostrado na

Figura 18.

400 500 600 700 800 900 1000

520

Exti

nção

Comprimento de onda (nm)

730

Figura 18. Espectro de extinção da suspensão de AuNRs.

A síntese permite o controle do comprimento dos bastões de tal forma que

a banda plasmon longitudinal varie entre aproximadamente 700 e 980 nm. Os

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55

parâmetros reacionais foram selecionados, a fim de se obter bastões com a banda

longitudinal mais próxima possível à linha do laser utilizado nos experimentos SERS,

ou seja, 632,8 nm, sem comprometer a qualidade dos nanobastões. Foram

observadas as duas bandas características de nanopartículas metálicas no formato

de bastões, a primeira na região de 520 nm, atribuída ao plasmon transversal de

nanobastões de ouro, e a segunda, em 730 nm, atribuída ao plasmon longitudinal.

Na Figura 19, estão apresentadas as imagens de TEM dos AuNRs, que

confirmaram a obtenção de partículas com morfologia controlada. São observadas

também, em menor quantidade, partículas cúbicas, esféricas e de morfologia não

definida, que são impurezas típicas da síntese de nanobastões de ouro 110.

Figura 19. Imagens de TEM dos AuNRs

Page 56: MURILO PASTORELLO PEREIRA DESENVOLVIMENTO DE … · frequência de vibração de uma molécula polarizabilidade na posição de equilíbrio nível vibracional molecular Intensidade

56

A fim de obter dados estatísticos sobre a distribuição de tamanho dos

nanobastões obtidos na síntese, foi feita a contagem de 650 partículas a partir das

imagens de TEM, medindo tanto o comprimento dos bastões quanto a sua

espessura. A Figura 20 mostra o histograma tridimensional que representa a

distribuição das dimensões dos bastões medidos.

Figura 20. Histograma tridimensional da distribuição dimensional dos AuNRs.

A partir do histograma da Figura 20, observa-se um bom controle de

crescimento das nanopartículas pelo método de síntese, com intervalos estreitos de

distribuição. Em relação ao comprimento, a maioria dos bastões se encontrou na

faixa entre 40 e 70 nm, sendo o valor médio (com o respectivo desvio padrão

amostral) de 49 ± 9 nm, enquanto para a espessura, os bastões ficaram limitados

entre 10 e 21 nm, com valor médio e desvio padrão de 16 ± 2 nm. A razão de

aspecto, que é a razão entre o comprimento e a espessura dos bastões, apresentou

valor médio de 3,1.

Foram feitas imagens de HRTEM, mostradas na Figura 21, para avaliar a

estrutura cristalina das partículas de ouro. Na região ampliada da Figura 21A, a

distância interplanar foi medida como sendo 0,24 nm, atribuída aos planos (111) do

ouro de acordo com a ficha cristalográfica JCPDS #4-784. Na imagem da

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57

Figura 21B, foram também observadas distâncias interplanares de 0,20 nm

atribuídas aos planos (200). As franjas observadas nas partículas sobrepostas da

Figura 21B são franjas de interferência conhecidas como padrão de Moiré 111. De

modo geral, esse fenômeno ocorre quando duas grades de espaçamento próximo

ou idêntico são superpostas, sendo associado, no caso de nanoestruturas

cristalinas, a distâncias interplanares semelhantes.

Figura 21. (A-B) Imagens de HRTEM dos nanobastões de ouro. A região ampliada

da Figura 21A mostra a medida da distância interplanar.

5.2 Nanobastões caroço-casca de ouro e prata

O recobrimento dos AuNRs com Ag foi realizado através da redução

utilizando ácido ascórbico em meio básico, e PVP como agente estabilizante. A

espécie capaz de reduzir o precursor Ag+ é o ascorbato monoaniônico, que está

majoritariamente presente em valores de pH elevados. Em pH ácido, o ácido

ascórbico está presente na forma não dissociada (pKa1 = 4,1) e não é capaz de

reduzir os íons Ag+ 112. O uso de um agente redutor fraco faz com que o processo de

deposição sobre os nanobastões de ouro seja lento e controlado, evitando a

homonucleação, e consequente crescimento de partículas monometálicas de prata.

Estudos do mecanismo de recobrimento 113,114 mostraram que ocorre a formação de

um complexo entre o Ag+ e o CTAB presente na superfície dos AuNRs. Esse

(A) (B)

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58

processo também garante que a redução seja lenta, mantendo a quantidade de

átomos de prata metálica abaixo de uma concentração crítica de homonucleação.

Além disso, a complexação com os íons brometo do CTAB favorece o contato dos

precursores de prata com as faces expostas dos AuNRs. As cadeias de PVP, além

de promoverem a estabilização das nanopartículas por efeitos estéricos, podem

também coordenar aos íons de prata antes da sua redução, contribuindo para a

deposição mais controlada 45.

O crescimento da camada de prata sobre os planos cristalinos do ouro

ocorre de forma epitaxial, uma vez que os parâmetros de rede da estrutura fcc de

ambos os metais são bastante próximos (Au: 0,4078 nm; Ag: 0,4086 nm). Quando a

deposição é controlada, o crescimento ocorre nas direções [110], que apontam para

as laterais dos AuNRs, e na direção [001], e isso leva à formação de 4 faces {100}

nas laterais, e 2 nas extremidades. Com isso, a estrutura com seção octogonal dos

nanobastões de ouro é recoberta pela prata formando um prisma quadrado. A

deposição ocorre uniformemente em todas essas direções, o que reduz a razão de

aspecto das partículas 114.

A Figura 22 mostra os espectros de extinção para AuNRs e para

Au@AgNRs sintetizados com volumes crescentes de solução de AgNO3, que

fornecem evidências da formação da estrutura caroço-casca. As bandas que eram

atribuídas ao plasmon longitudinal e transversal dos nanobastões puros ainda são

observadas, agora sendo atribuídas às ressonâncias na interface Au-Ag. A banda do

plasmon longitudinal sofre deslocamento para menores comprimentos de onda

devido à redução da razão de aspecto dos bastões, uma vez que o aumento da

concentração de íons Ag+ leva à formação de cascas mais espessas. Esse

deslocamento também é atribuído à incorporação das propriedades óticas da prata,

que geralmente apresenta comprimentos de onda de extinção menores para

partículas de mesmo tamanho e morfologia 115. A banda do plasmon transversal, que

é menos sensível à razão de aspecto, sofre um deslocamento discreto.

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59

Figura 22. Espectros de extinção na região do UV-Vis-NIR dos AuNRs, e das

partículas caroço-casca Au@Ag sintetizadas pela adição de diferentes volumes da

solução de AgNO3 1 mmol L-1.

Estudos sugeriram que, com a formação das partículas caroço-casca,

observa-se outra banda em menor comprimento de onda, atribuída à oscilação

dipolar transversal na superfície da casca de prata 116. Contudo, nos espectros da

Figura 22, foram observadas duas outras bandas, nas regiões de 340 e 400 nm.

Esse desdobramento se origina quando o crescimento da prata ocorre de forma

assimétrica, ou seja, a deposição é maior em um dos lados do nanobastão. A banda

em 400 nm é então atribuída à oscilação no lado mais espesso, enquanto aquela em

340 nm, ao lado mais fino 114,117.

Na Figura 23, são mostradas fotos das suspensões de nanobastões

obtidas nas sínteses. A primeira foto à direita é a suspensão de AuNRs, e nas

demais, as partículas Au@Ag NRs, em que o volume de AgNO3 utilizado na síntese

aumenta da direita para a esquerda. Para a sequência dos estudos com as

nanopartículas caroço-casca, foi selecionada a suspensão cuja banda referente ao

plasmon longitudinal mais se aproximou da linha do laser utilizado como excitação

na espectroscopia Raman, condição de ressonância para a qual se espera a maior

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60

intensificação na banda SERS. Com isso, a caracterização seguiu com a suspensão

preparada a partir da adição de 1,5 mL de solução de AgNO3 1 mmol L-1.

Figura 23. Fotos das suspensões obtidas nas sínteses de AuNRs e Au@AgNRs.

A obtenção de estruturas do tipo caroço-casca foi confirmada pelas

imagens de HRTEM, mostradas na Figura 24. Os componentes dos nanobastões

são facilmente distinguidos pela diferença de contraste entre a prata e o ouro nas

imagens, que é devida ao maior número atômico do ouro. As imagens das Figura

24A e B mostram o recobrimento homogêneo da prata ao redor do bastão de ouro.

Entretanto, nas Figura 24C e D, foram identificadas partículas cujo recobrimento não

foi uniforme, com maior acúmulo de prata em uma das laterais. O crescimento

assimétrico da casca de prata é atribuído na literatura a uma deposição rápida e

menos controlada na superfície dos AuNRs, e contribui para o aparecimento das

duas bandas de extinção em baixos comprimentos de onda vistas no espectro da

Figura 22 114. O valor da distância interplanar medido na região ampliada da

Figura 24B é de 0,208 nm, atribuído aos planos (200) da prata, de acordo com a

ficha cristalográfica JCPDS #4-783.

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61

Figura 24. (A-D) Imagens de HRTEM dos Au@AgNRs. A região ampliada da Figura

24B mostra a medida da distância interplanar.

Análises de espectroscopia de raios X por energia dispersiva (EDS) foram

realizadas para comprovar a estruturação hierárquica entre o bastão de ouro no

caroço e a prata na casca. As Figuras 25A e B apresentam o mapeamento de

composição química realizado em alguns nanobastões observados por TEM, em que

as cores amarela e laranja representam, respectivamente, a presença de ouro e de

prata na região analisada. Na Figura 25A, pode ser observado ainda um bastão de

ouro que não foi recoberto por prata. Foi feito mapeamento por perfil de linha nos

dois bastões indicados pelas linhas azuis na Figura 25B, com os respectivos gráficos

apresentados nas Figuras 25C e D. Os resultados mostraram que, de fato, o ouro

(A) (B)

(C) (D)

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62

está no interior da nanopartícula, e que foi recoberto por uma camada de prata,

formando a estrutura caroço-casca.

Figura 25. (A-B) Imagens de mapeamento de composição química dos nanobastões

caroço-casca de ouro e prata, e gráficos da distribuição de composição ao longo da

(C) Linha 1 e (D) Linha 2 na Figura 25B.

5.3 Preparação e caracterização dos substratos SERS

Uma vez sintetizadas e caracterizadas, as suspensões contendo AuNRs e

Au@AgNRs foram utilizadas na preparação dos substratos SERS, através da

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63

deposição sobre lâminas de vidro funcionalizadas com MPTMS e APTMS,

respectivamente. As suas respectivas estruturas moleculares estão representadas

nas Figura 26A e B. Os organossilanos funcionais são muito utilizados para

promover a adesão entre uma superfície mineral, em geral composta de sílica, e

outro material, como polímeros, superfícies metálicas e nanopartículas 118. Entre os

mais utilizados, estão os trimetoxissilanos, tendo sido utilizadas neste trabalho as

moléculas com terminações tiol e amino.

(A)

(B)

Figura 26. Estruturas moleculares do (A) MPTMS e (B) APTMS.

Em solução aquosa, os grupos metóxi dessas moléculas são hidrolisados

e formam silanóis, que podem então sofrer condensação entre si e/ou com grupos

silanol presentes na superfície da sílica 118,119, como representado na Figura 27. A

funcionalização do substrato de vidro com tais moléculas faz com que o grupo

funcional correspondente fique disponível para interagir com as nanopartículas, que

ficarão desta forma, quimicamente ligadas ao substrato, evitando a lixiviação.

Figura 27. Ilustração da funcionalização do substrato de vidro com alcoxissilanos,

com a representação da hidrólise, seguida da condensação. Na última imagem à

direita, é mostrado exemplo do vidro funcionalizado com MPTMS.

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64

Para os substratos contendo nanobastões de ouro, cada deposição foi

intercalada pela funcionalização com moléculas de propanoditiol, que possuem um

átomo de enxofre em cada extremidade, e dessa forma interagem com as camadas

promovendo melhor fixação das nanopartículas. A Figura 28 mostra ilustrações do

substrato funcionalizado com MPTMS e deposição de AuNRs, e também da

intercalação de camadas com o PDT. A intercalação foi feita com o objetivo de

promover maior fixação e agregação entre as nanopartículas, favorecendo a

geração de hot spots na superfície do substrato.

(A)

(B)

Figura 28. Ilustrações da (A) deposição de AuNRs sobre vidro funcionalizado com

MPTMS e (B) intercalação das deposições com PDT.

A deposição das nanopartículas caroço-casca ocorre de forma análoga à

mostrada na Figura 28A, porém utilizando o APTMS, que possui o grupo amina

terminal. Os espectros de extinção na região do UV-Vis-NIR dos substratos

contendo AuNRs e Au@AgNRs estão mostrados na Figura 29. As bandas atribuídas

ao plasmon longitudinal encontram-se deslocadas para menores comprimentos de

onda em relação aos nanobastões em suspensão, o que é consequência da

mudança na constante dielétrica do meio em que elas se encontram. A

nanopartícula, que antes estava suspensa em água, agora se encontra cercada

predominantemente por ar, portanto, a posição da banda plasmon será influenciada

por essa contribuição, de acordo com a condição de ressonância descrita

anteriormente. A linha vermelha no espectro indica a posição do laser utilizado como

fonte de excitação no Raman (632,8 nm).

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65

400 500 600 700 800 900 1000

670 AuNRs

Au@AgNRs

Ex

tin

ção

Comprimento de onda (nm)

638

Figura 29. Espectros de extinção dos substratos contendo AuNRs e Au@AgNRs. A

linha vermelha indica o comprimento de onda de excitação do laser utilizado no

Raman (632,8 nm).

Pode-se observar que a linha do laser está contida nas bandas do

plasmon longitudinal, estando praticamente sobreposta ao seu máximo no caso das

partículas caroço-casca. Para o caso dos AuNRs, essa banda foi observada mais

alargada, o que pode ser efeito da maior agregação das partículas na superfície do

vidro, resultado da utilização do PDT.

Para avaliar a organização das nanopartículas na superfície dos

substratos, foram realizadas análises por microscopia eletrônica de varredura. As

micrografias do substrato contendo AuNRs estão mostradas na Figura 30, enquanto

na Figura 31, estão as imagens do substrato contendo Au@AgNRs.

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66

Figura 30. Imagens de SEM de um único substrato contendo AuNRs, em diferentes

magnificações.

(A)

(B)

(C)

)

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67

Figura 31. Imagens de SEM de um único substrato contendo Au@AgNRs, em

diferentes magnificações.

(A)

(B)

(C)

)

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68

As tentativas de obter imagens a partir das placas de vidro não foram bem

sucedidas devido ao carregamento da amostra, mesmo com a metalização da sua

superfície. Com isso, os nanobastões foram depositados em placas de silício

funcionalizadas com os silanos correspondentes, de forma análoga à deposição no

vidro. As imagens mostram que a deposição das nanopartículas foi uniforme, com

regiões de agregação, principalmente para os nanobastões de ouro, o que pode

favorecer a geração de hot spots.

Na Figura 32, é apresentada uma imagem de maior ampliação, em que as

nanopartículas caroço-casca estão agregadas na superfície do substrato. Em

algumas regiões, pode-se observar ainda o envolvimento com uma camada de PVP.

Figura 32. Imagem de SEM dos Au@AgNRs agregados na superfície do substrato.

Após a caracterização dos substratos, foi realizada a deposição da

molécula de 4-ABT a partir das soluções diluídas, a fim de verificar a eficiência das

nanopartículas na análise por SERS. A Figura 33A mostra a estrutura molecular do

4-ABT, e a ilustração da Figura 33B mostra uma possível forma de interação entre a

molécula do 4-ABT e a superfície das nanopartículas de ouro. Para as

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69

nanopartículas recobertas com prata, a interação pode ser feita preferencialmente

pelo grupo amina.

(A)

(B)

Figura 33. (A) Estrutura molecular do 4-ABT, e (B) ilustração da interação das

moléculas de 4-ABT com a superfície dos AuNRs depositados sobre o substrato de

vidro funcionalizado.

A partir disso, foi feita a análise por espectroscopia Raman para avaliar o

efeito SERS dos substratos. A Figura 34 mostra o espectro Raman para o 4-ABT

sólido, e o espectro SERS para o substrato contendo AuNRs, preparado com

solução de 4-ABT de concentração 1.10-3 mol L-1.

Figura 34. Espectro Raman do 4-ABT sólido (preto), e espectro SERS do 4-ABT

depositado em substrato de AuNRs a partir de solução 10-3 mol L-1 (vermelho).

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70

Na Tabela 3, são feitas as atribuições das bandas presentes em ambos

os espectros. No espectro da molécula sem contato com as nanopartículas, são

observadas as bandas atribuídas aos modos vibracionais A1, que são modos

simétricos de vibração no plano (considerando a molécula de 4-ABT com simetria

C2v) 120. As bandas pouco intensas em 1006, 1178 e 1492 cm-1 são atribuídas,

respectivamente, às deformações angulares de C-C e C-C-C, deformação angular

de C-H, e uma combinação do estiramento de C-C e a deformação angular de C-H.

Já a banda bastante intensa, vista em 1086 cm-1, é atribuída ao estiramento da

ligação C-S 121,122.

Tabela 3. Atribuições das bandas nos espectros Raman e SERS do 4-ABT 121,122,123.

Número de onda (cm-1) Atribuições (a)

Raman do 4-ABT sólido

SERS em AuNRs

1006 1006 γ(C-C) + γ(C-C-C) (A1)

1086 1073 ν(C-S) (A1)

― 1139 δ(C-H) (B2)

1178 1188 δ(C-H) (A1)

― 1389 ν(C-C) + δ(C-H) (B2)

― 1434 ν(C-C) + δ(C-H) (B2)

1492 1470 ν(C-C) + δ(C-H) (A1)

(a) As notações γ e δ indicam os modos de deformação angular, e ν indica o modo de estiramento.

Quando a molécula é adsorvida no substrato, o espectro SERS mostra

alguns desses modos vibracionais deslocados e intensificados, além de outros

modos. As vibrações de simetria A1 ainda são vistas, mas surgem também modos

B2, atribuídos às vibrações assimétricas no plano.

Estudos mostram que esses modos são intensificados pelo mecanismo

químico, sendo atribuídos à transferência de carga entre a superfície metálica e a

molécula ao formar a ligação Au-S e, além disso, sugerem a orientação

perpendicular da molécula em relação ao arranjo de nanobastões. A intensificação

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71

depende do grau de combinação entre o nível de Fermi do metal e a energia dos

orbitais da molécula adsorvida na sua superfície, e também da energia do laser

utilizado 123,124. A afinidade da molécula pela superfície metálica faz com que a

contribuição do mecanismo de transferência de carga seja significativo, levando à

intensificação das bandas observadas no espectro 125. No espectro SERS da Figura

34, pode-se observar a banda em 1006 cm-1 na mesma posição, e as bandas em

1086, 1178 e 1492 cm-1 encontram-se deslocadas para 1073, 1188 e 1470 cm-1,

respectivamente. Aparecem ainda bandas dos modos vibracionais B2, bastante

intensificadas, em 1139 cm-1, atribuída à deformação angular da ligação C-H, e em

1389 e 1434 cm-1, que são combinações da deformação da ligação C-H com o

estiramento da ligação C-C 121,122.

Na próxima etapa, foram feitos mapeamentos SERS dos substratos

preparados com AuNRs e Au@AgNRs e as soluções de 4-ABT em concentrações

decrescentes, com o objetivo de verificar a mínima concentração detectável para

cada sistema. Os mapeamentos foram realizados em regiões distintas das placas de

vidro, obtendo-se em média 150 espectros para cada substrato. Cada espectro

mostrado na Figura 35 representa uma média dos espectros obtidos nos

mapeamentos para as diferentes concentrações depositadas nos substratos.

Nos substratos contendo AuNRs (Figura 35A), a mínima concentração

para a qual as bandas características do 4-ABT foram observadas no espectro foi

1.10-8 mol L-1. Para a concentração 1.10-9 mol L-1, já não foi possível identificá-las.

Para os substratos contendo Au@AgNRs (Figura 35B), a molécula foi detectada até

a concentração de 1.10-15 mol L-1, cujo espectro ampliado está mostrado no detalhe

da figura, devido à intensidade significativamente baixa das bandas. A presença de

moléculas em hot spots faz com que o seu sinal seja intensificado em diversas

ordens de grandeza, superando a magnitude da variação da concentração. Devido a

isso, neste conjunto de espectros, foi observada uma variação de intensidade na

ordem de 103 na escala de contagens, correspondente à variação 1011 mols L-1 na

faixa de concentração estudada.

Os resultados indicam que os nanobastões de ouro recobertos com prata,

quando depositados no substrato de vidro, possuem maior eficiência na

intensificação das bandas da molécula de 4-ABT, atingindo um limite de detecção

inferior ao do substrato contendo nanobastões de ouro não recobertos.

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72

(A)

(B)

Figura 35. Espectros obtidos a partir das médias dos mapeamentos realizados nos

substratos (A) AuNRs e (B) Au@AgNRs, preparados a partir de soluções de 4-ABT em

concentrações decrescentes. No detalhe da Figura 35B, é mostrada a ampliação do

espectro para a concentração 1.10-15 mol L-1.

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73

Na Figura 36, são mostrados, a título de exemplo, espectros obtidos em

mapeamentos realizados em diferentes regiões dos substratos contendo

Au@AgNRs e soluções de 4-ABT 1.10-4 e 1.10-12 mol L-1. Os gráficos estão na

mesma escala, e mostram 50 espectros para cada concentração, em uma faixa

específica de deslocamento Raman. No mapa da amostra preparada a partir da

solução mais concentrada, mostrado na Figura 36A, é possível perceber a grande

incidência de espectros com bandas de alta intensidade, que estão distribuídos pela

superfície do substrato de maneira uniforme. Na Figura 36B, cuja amostra foi

preparada com a solução mais diluída, as bandas que permitem a identificação do

analito estão presentes em menor quantidade, além de apresentarem intensidade

mais baixa. Quanto menor a concentração do analito, menor a quantidade de

espectros cujas bandas são intensificadas, o que reflete o número decrescente de

moléculas adsorvidas no substrato, principalmente em regiões de hot spots.

(A)

(B)

Figura 36. Mapas de 50 espectros SERS para os substratos contendo Au@AgNRs e

soluções de 4-ABT (A) 1.10-4 e (B) 1.10-12 mol L-1. Os gráficos estão na mesma

escala.

5.4 Análise de Poluentes Ambientais Emergentes

A partir dos resultados obtidos, o substrato contendo as partículas

caroço-casca de ouro e prata foi selecionado para avaliar o efeito SERS das

moléculas de poluentes ambientais.

Inicialmente, o substrato foi testado na detecção do fármaco sulfatiazol, a

partir de soluções de concentração 1.10-3 mol L-1 em etanol. A Figura 37 mostra o

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74

espectro Raman do composto sólido (linha vermelha), e diversos espectros SERS

obtidos a partir de mapeamentos realizados nos substratos.

1000 1100 1200 1300 1400 1500

sulfatiazol 10-3 mol L

-1

11

34

10

73

sulfatiazol sólido

1000 cts

In

ten

sid

ad

e

Deslocamento Raman (cm-1)

Figura 37. Espectro Raman do sulfatiazol sólido (linha vermelha) e espectros SERS

obtidos a partir de mapeamentos dos substratos contendo solução de sulfatiazol

1.10-3 mol L-1 (linhas pretas).

As bandas observadas em 1073 e 1134 cm-1 no espectro Raman são

atribuídas, respectivamente, à deformação do anel fenil e ao estiramento simétrico

do grupo SO2 da molécula 74. Contudo, nos espectros SERS, a atribuição dessas

bandas à presença da molécula foi dificultada, uma vez que foram pouco

intensificadas, e também prejudicadas pelo background do substrato, que foi

observado principalmente na região de maiores números de onda. Os espectros

mostrados são resultantes de mapeamentos realizados em diversos substratos, que

foram preparados a partir de soluções distintas de mesma concentração do fármaco.

Além da deposição da molécula por gotejamento e secagem, foi também testada a

metodologia de imersão, em que o substrato foi deixado em contato com a solução

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75

do fármaco por 16 h. Contudo, todas as abordagens levaram a substratos que não

promoveram a intensificação significativa das bandas da molécula, mesmo nesta

concentração relativamente alta, e portanto, indicam que o sistema pode não ser

eficiente na detecção do sulfatiazol.

A análise do pesticida tiram foi realizada utilizando soluções aquosas

diluídas consecutivamente a partir de uma solução de concentração 1.10-3 mol L-1

em acetona. Foram preparados dois substratos para cada concentração utilizando

soluções distintas, com a subsequente realização de mapeamentos em diversas

regiões de cada placa. Cada espectro mostrado na Figura 38 representa uma média

dos espectros SERS obtidos para as respectivas concentrações, juntamente com o

espectro Raman do composto sólido.

400 600 800 1000 1200 1400

Tiram 10-7 mol L

-1

Tiram 10-6 mol L

-1

Tiram 10-5 mol L

-1

Tiram 10-4 mol L

-1

Tiram sólido

Inte

ns

idad

e

Deslocamento Raman (cm-1)

500 cts

Figura 38. Espectro Raman do tiram sólido, e espectros SERS obtidos a partir das

médias dos mapeamentos realizados nos substratos preparados a partir de soluções

aquosas de tiram em concentrações decrescentes.

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76

A banda mais intensa observada em 560 cm-1 no espectro do pesticida

sólido é atribuída ao estiramento da ligação S–S da molécula, enquanto a banda em

1373 cm-1, bem menos intensa, se refere à combinação do estiramento da ligação

C–N com a deformação angular do grupo CH3 126. Nos espectros SERS, contudo, a

diferença de intensidade entre essas duas bandas diminui consideravelmente,

chegando a situações em que a intensidade da segunda supera a da primeira. Na

literatura, isso é atribuído à clivagem da ligação S–S quando moléculas de

ditiocarbamato entram em contato com superfícies metálicas, gerando dois resíduos

moleculares que possuem forte interação com o metal. Trabalhos publicados

mostraram evidências da quebra dessa ligação, como a redução da intensidade da

banda em 560 cm-1, e também da coordenação dos fragmentos moleculares ao

metal de forma bidentada, como mostrado na Figura 39. Os autores evidenciaram a

formação da ligação C═N, como consequência da atração do par de elétrons do

nitrogênio, favorecendo essa coordenação em relação à forma

monodentada 126,127,128.

(A)

(B)

Figura 39. (A) Estrutura molécular do tiram e (B) fragmento do tiram coordenado à

superfície metálica de forma bidentada após clivagem da ligação S–S.

As bandas atribuídas ao tiram foram identificadas nos espectros até

concentração de 1.10-7 mol L-1, equivalente a 0,02 ppm, o que indica que o substrato

é eficiente na detecção da molécula até esse limite de concentração. Esse valor está

duas ordens de grandeza abaixo do limite máximo de resíduo do pesticida em frutas

estipulado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), que é de

7 ppm 87. A intensificação das bandas nos espectros provavelmente está relacionada

com a coordenação dos fragmentos moleculares à superfície metálica, o que

possibilita a manifestação do mecanismo químico de intensificação.

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77

Para obter um valor numérico da eficiência do substrato na detecção do

tiram, foi estimado o fator de intensificação através da Equação 12 58:

(12)

em que e são as intensidades de uma mesma banda medidas para os

espectros SERS e Raman da molécula, respectivamente, e e são as

concentrações das soluções depositadas sobre uma placa de vidro, e sobre os

substratos contendo nanopartículas, respectivamente. Para realizar essa estimativa,

uma solução de tiram de concentração 1.10-3 mol L-1 em acetona foi depositada

sobre uma placa de vidro limpa, e seca à temperatura ambiente, a fim de se obter o

espectro Raman da molécula não adsorvida em nanopartículas. Para o substrato

contendo Au@AgNRs, foram avaliados os espectros referentes à concentração de

1.10-7 mol L-1. Os espectros mostrados na Figura 40 são as médias dos espectros

obtidos nos mapeamentos de cada placa, para a determinação da intensidade das

bandas em 560 cm-1. Para os valores medidos, foi calculado o fator de intensificação

de 3.104 para detecção do tiram utilizando o substrato contendo Au@AgNRs.

Figura 40. Determinação da intensidade da banda em 560 cm-1 para o espectro da

solução de tiram 1.10-3 mol L-1 depositada em placa de vidro, e para a solução

1.10-7 mol L-1 depositada em substrato contendo Au@AgNRs.

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78

O substrato contendo Au@AgNRs também foi avaliado na detecção do

pesticida paration. A Figura 41 mostra o espectro Raman da molécula não

depositada (linha vermelha), e alguns dos espectros SERS que foram obtidos nos

diversos mapeamentos realizados nos substratos preparados a partir de soluções

1.10-4 mol L-1. Da mesma forma que para o sulfatiazol, foi testada uma série de

substratos preparados por gotejamento e secagem, utilizando soluções distintas de

mesma concentração, além dos testes de imersão. Entretanto, para esta molécula,

também não foram identificadas as bandas características em nenhuma das

análises. Alguns dos espectros mostrados apresentaram intensidade nas regiões

próximas a 1350 e 1600 cm-1, que são coincidentes com bandas do paration (1346 e

1591 cm-1). Contudo, esse perfil espectral também é observado em alguns espectros

quando mapeamentos são realizados nos substratos contendo somente a deposição

das nanopartículas, ou seja, sem a adição das moléculas, como observado na

Figura 42, e portanto, refere-se ao background do substrato.

Figura 41. Espectro Raman do paration sólido (linha vermelha) e espectros SERS

obtidos a partir de mapeamentos nos substratos contendo solução de paration

1.10-4 mol L-1 (linhas pretas).

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79

Figura 42. Espectros obtidos a partir de mapeamento na superfície dos substratos

contendo Au@AgNRs, sem a deposição de moléculas.

Esses resultados indicam que o substrato contendo Au@AgNRs não

intensificou as bandas do paration de forma eficiente, o que pode estar relacionado

ao fato de a molécula não possuir grupos capazes de ligar quimicamente à

superfície metálica, ou não sofrer uma clivagem que gere fragmentos passíveis de

coordenar ao metal, como ocorre com o tiram.

Com isso, o trabalho mostrou que os substratos SERS baseados em

determinadas nanopartículas metálicas não são universais, podendo ser eficientes

na intensificação do sinal para uma classe de compostos, e não eficientes para

outras. Esta observação é positiva, no sentido de que moléculas cujos espectros não

foram intensificados, como o paration, não atuariam como interferentes na

determinação de outros analitos em uma matriz complexa, o que é uma vantagem

em termos analíticos.

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80

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS

O trabalho consistiu em comparar a eficiência de substratos SERS

baseados em nanobastões monometálicos de ouro, e bimetálicos de ouro e prata

com estrutura caroço-casca, e aplicá-los na detecção de moléculas classificadas

como poluentes ambientais emergentes.

Os AuNRs foram sintetizados através de metodologia que permitiu obter

suspensões estáveis de partículas com tamanho e morfologia controlados. Os

nanobastões apresentaram valores médios de comprimento de 49 nm, e 16 nm de

espessura, com a banda do plasmon longitudinal centrada em 730 nm. A suspensão

foi utilizada na síntese dos Au@AgNRs. Nesta etapa, a variação no volume da

solução precursora de prata permitiu controlar a espessura da casca de prata, sendo

que os parâmetros reacionais foram ajustados para a obtenção de uma partícula

cuja banda do plasmon longitudinal mais se aproximasse da energia do laser

utilizado nas medidas Raman (633 nm). A caracterização das suspensões por

HRTEM e EDS confirmou a estruturação hierárquica das nanopartículas

caroço-casca, com crescimento epitaxial da prata sobre a estrutura cristalina do

ouro.

As suspensões foram depositadas em placas de vidro funcionalizadas

com organossilanos, que promoveram a adesão das nanopartículas à superfície do

vidro. A caracterização dos substratos por espectroscopia de absorção mostrou o

deslocamento da banda plasmon para menores valores de comprimento de onda ao

passar da suspensão aquosa para a superfície do vidro, localizada em 670 nm para

os AuNRs, e em 638 nm para Au@AgNRs.

A eficiência dos substratos foi avaliada pela análise SERS utilizando a

molécula sonda 4-ABT, que foi depositada nas placas através do gotejamento de

100 µL das soluções da molécula em concentrações decrescentes, a fim de avaliar a

menor concentração possível de ser detectada em cada sistema. Foram realizados

mapeamentos em diversas regiões na superfície dos substratos, obtendo-se em

média 150 espectros para cada concentração, sendo que a média dos espectros

obtidos nos mapeamentos para cada sistema permitiu comparar a eficiência dos

substratos. Para as placas contendo AuNRs, as bandas atribuídas ao 4-ABT foram

observadas nos espectros até o limite de 1.10-7 mol L-1, enquanto para os substratos

com Au@AgNRs, na concentração de 1.10-15 mol L-1, a presença dessas bandas

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81

ainda foi verificada, o que indicou a maior eficiência na detecção da molécula sonda

para este sistema.

Os substratos contendo as partículas caroço-casca foram testados na

detecção das moléculas de contaminantes ambientais selecionadas. O pesticida

tiram foi identificado nos espectros SERS através das bandas em 560 e 1373 cm-1,

em comparação com o espectro Raman do composto sólido. A intensificação desses

modos vibracionais, em conjunto com avaliação espectral realizada em estudos

presentes na literatura, mostra que a molécula do tiram sofre uma clivagem na

ligação S–S, gerando dois fragmentos moleculares que se ligam à superfície

metálica de forma bidentada, através dos átomos de enxofre. Essa interação

possibilita a atuação do mecanismo químico, que contribui para a intensificação das

bandas nos espectros SERS. As bandas do tiram foram identificadas até a

concentração de 1.10-7 mol L-1, equivalente a 0,02 ppm, (fator de intensificação na

ordem de 104), valor superior ao mínimo reportado na literatura, mas que está abaixo

do limite máximo de resíduo do pesticida em frutas estabelecido pela Agência de

Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), que é de 7 ppm. Ainda não existe

controle dos limites de concentração do tiram em sistemas hídricos, porém, o

substrato desenvolvido apresenta potencial para aplicações futuras em sua

detecção.

Para os testes com o fármaco sulfatiazol e o pesticida paration, o

substrato não apresentou a mesma eficiência de detecção, uma vez que as bandas

atribuídas às moléculas não foram observadas nos espectros. Isso pode estar

relacionado ao fato de essas moléculas não se ligarem quimicamente ao substrato

da forma como acontece com o tiram, o que reduz a eficiência dos mecanismos de

intensificação. Como alternativa, a detecção dessas moléculas poderia ser testada

em substratos contendo somente os AuNRs, ou então outro tipo de nanopartícula

metálica que eventualmente interaja com elas de forma mais eficiente.

Como perspectiva para o substrato contendo Au@AgNRs na detecção do

tiram, é importante buscar melhorias na deposição das nanopartículas e da

molécula, assim como testar outras matrizes de deposição, como silício e papel. A

incorporação dessas nanopartículas em papel, principalmente através da sua

impressão a partir de uma “tinta de nanopartículas”, pode levar a um sistema com

potencial para ser utilizado como substrato comercial de baixo custo, eficiente na

detecção de moléculas como o tiram em matrizes ambientais.

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