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N. 24 FEVEREIRO DE 2020 1 n. 24 DJE de Fevereiro 2020

N. FEVEREIRO DE - STF · N. 24 FEVEREIRO DE 2020 2 TESES E FUNDAMENTOS BOLETIM DE ACÓRDÃOS PUBLICADOS Este Boletim contém resumos de decisões proferidas pelo Supremo Tribunal

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  • N. 24 FEVEREIRO DE 2020

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    n. 24 DJE de

    Fevereiro 2020

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    TESES E FUNDA ME NTO S BO LETIM DE A CÓ RDÃO S PUBL ICA DOS

    Este Boletim contém resumos de decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal.

    Elaborado a partir de acórdãos publicados no mês de referência, e cujo julgamento tenha sido noticiado no Informativo STF, o periódico traz os principais fundamentos e conclusões dos julgados.

    A fidelidade deste trabalho ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das metas almejadas, apenas poderá ser aferida pela leitura integral do inteiro teor publicado no Diário da Justiça Eletrônico.

    SUMÁRIO

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    AGENTES PÚBLICOS ............................................................................... 5 CARGOS PÚBLICOS

    NEPOTISMO

    AGENTES PÚBLICOS ............................................................................... 5 SERVIDORES PÚBLICOS

    TRANSFERÊNCIA EX OFFICIO – REPERCUSSÃO GERAL

    AGENTES PÚBLICOS ............................................................................... 7 SISTEMA REMUNERATÓRIO

    GRATIFICAÇÃO NATALINA E TERÇO DE FÉRIAS

    RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO ....................................................... 7 RESPONSABILIDADE OBJETIVA

    ATO NORMATIVO

    DIREITO CONSTITUCIONAL

    ORGANIZAÇÃO DO ESTADO .................................................................... 9 UNIÃO

    BENS DA UNIÃO

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ................................................................. 9 PODER JUDICIÁRIO

    CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ............................................................... 10 FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

    MINISTÉRIO PÚBLICO – REPERCUSSÃO GERAL

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    DIREITO ELEITORAL

    PROPAGANDA POLÍTICA ....................................................................... 12 PROPAGANDA ELEITORAL

    TELEMARKETING

    DIREITO INTERNACIONAL

    DIREITO PENAL INTERNACIONAL ............................................................ 14 COOPERAÇÃO JURÍDICA EM MATÉRIA PENAL

    EXPULSÃO

    DIREITO PENAL INTERNACIONAL ............................................................ 14 COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EM MATÉRIA PENAL

    EXTRADIÇÃO

    DIREITO PENAL

    PENA ............................................................................................... 16 APLICAÇÃO DA PENA

    CAUSA DE AUMENTO DE PENA

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS .................................................................................................. 17

    MANDADO DE SEGURANÇA PROCEDIMENTO

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    PROCESSO EM GERAL .......................................................................... 18 INQUÉRITO POLICIAL

    DEFESA TÉCNICA

    PROCESSO EM GERAL .......................................................................... 19 COMPETÊNCIA

    JUSTIÇA ESTADUAL

    PROCESSO EM GERAL .......................................................................... 19 PROVA

    COLABORAÇÃO PREMIADA

    NULIDADES E RECURSOS EM GERAL ....................................................... 20 RECURSOS EM GERAL

    HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO

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    DIREITO TRIBUTÁRIO

    TRIBUTOS.......................................................................................... 21 CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS/IMPOSTOS

    CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO (CSLL) / IMPOSTO DE RENDA DAS PESSOAS JURÍDICAS (IRPJ) – REPERCUSSÃO GERAL

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    DIREITO ADMINISTRATIVO

    AGENTES PÚBLICOS

    CARGOS PÚBLICOS

    NEPOTISMO

    A nomeação de parentes de autoridades públicas em cargos políticos não configura nepotismo, ressalvadas as circunstâncias em que a nomeação se mostra atentatória aos princípios norteadores da atividade do administrador público1.

    Essa prática não se enquadra nas hipóteses elencadas no Enunciado 132 da Súmula Vinculante. Excetuam-se os casos de inequívoca falta de razoabilidade, por manifesta ausência de qualificação técnica ou idoneidade moral.

    Ademais, a reclamação não é a via processual adequada ao exame casuístico da qualificação técnica dos agentes para o desempenho eficiente dos cargos para os quais foram nomeados nem da existência de indício de fraude à lei ou de nepotismo cruzado.3.

    1 Rcl 23.131 AgR, rel. min. Luiz Fux 1ª T; RE 579.951, rel. min. Ricardo Lewandowski, P; e Rcl 6.650 MC AgR, rel. min. Ellen Gracie, P.

    2 Enunciado 13 da Súmula Vinculante: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.”

    3 Rcl 23.131 AgR, rel. min. Luiz Fux, 1ª T. 4 Lei 9.536/1997: “Art. 1º A transferência ex

    officio a que se refere o parágrafo único do art. 49 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, será efetivada, entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino, em qualquer época do ano e independente da existência de vaga, quando se tratar de servidor

    Rcl 29.033 AgR, rel. min. Roberto Barroso, DJE de 5-2-2020. (Informativo 952, Primeira Turma)

    ___________________________________

    AGENTES PÚBLICOS

    SERVIDORES PÚBLICOS

    TRANSFERÊNCIA EX OFFICIO – REPERCUSSÃO GERAL

    É constitucional a previsão legal que assegure, na hipótese de transferência ex officio de servidor, a matrícula em instituição pública, se inexistir instituição congênere à de origem (art. 1º da Lei 9.536/19974).

    A transferência ex officio de servidor público não pode privá-lo do direito à educação. Assim, na hipótese, não há violação ao direito à igualdade de condições para o acesso à escola (CF, art. 206, I5), ao direito à educação (CF, art. 2086) nem aos princípios da Administração Pública (CF, art. 37, caput7).

    público federal civil ou militar estudante, ou seu dependente estudante, se requerida em razão de comprovada remoção ou transferência de ofício, que acarrete mudança de domicílio para o município onde se situe a instituição recebedora, ou para localidade mais próxima desta.”

    5 CF/1988: “Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;”

    6 CF/1988: “Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiverem acesso na idade própria; (...) IV – atendimento em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;”

    7 CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:”

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=12734280http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?numero=579951&classe=REhttp://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?numero=579951&classe=REhttp://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=563349http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=563349http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=12734280http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751915279http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo952.htm#S%C3%BAmula%20Vinculante%2013%20e%20nomea%C3%A7%C3%A3o%20de%20parente%20de%20vice-prefeito%20para%20cargo%20de%20secret%C3%A1rio%20municipal

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    No julgamento da ADI 3.3248, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), examinando esses mesmos artigos, julgou, por unanimidade, parcialmente procedente a ação direta “para, sem redução de texto do art. 1º da Lei 9.536, de 11 de dezembro de 1997, assentar-lhe a inconstitucionalidade, no que se lhe empreste o alcance de permitir a mudança, nele disciplinada, de instituição particular para pública, encerrando a cláusula ‘entre instituição vinculada a qualquer sistema de ensino’ a observância da natureza privada ou pública daquela de origem, viabilizada a matrícula na congênere”. Ainda de acordo com o voto condutor da maioria, “dar-se-á a matrícula, segundo o art. 1º da Lei 9.536/1997, em instituição privada, se assim o for a de origem, e em pública, caso o servidor ou dependente for egresso de instituição pública”.

    Nesse precedente não houve deliberação acerca da extensão da tese nele fixada aos casos de transferência ex officio para cidades em que não houvesse instituições de ensino congêneres. Houve, por ocasião dos debates do julgamento, apenas algumas indicações de ministros a fim de que tal controvérsia fosse deixada para os processos subjetivos.

    O entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADI 3.324 não deve ser aplicado à hipótese de transferência ex officio de servidor, se inexistir instituição congênere à de origem. Há duas razões para isso.

    A primeira decorre da parte dispositiva do precedente. Muito embora não haja, nas razões dos votos que julgaram a ação direta, menção expressa à hipótese vertente, o acórdão,

    8 ADI 3.324, rel. min. Marco Aurélio, P. 9 MARINONI, Luiz Guilherme et al. Curso de Direito

    em seu dispositivo, adotou a técnica da declaração parcial de nulidade sem redução de texto. Por meio dessa modalidade de decisão, o Tribunal preserva o texto impugnado, mas afasta uma interpretação tida por incompatível com a Constituição.

    Noutras palavras, haja vista que as normas jurídicas têm vários sentidos, a técnica da declaração parcial de nulidade sem redução de texto permite ao intérprete afastar o sentido tido por inconstitucional, preservando a norma para as demais situações9.

    Em virtude dessa técnica decisória, o direito invocado nos termos do art. 1º da Lei 9.536/1997 é inconstitucional apenas em relação à interpretação que se lhe empreste o alcance de permitir a mudança, nele disciplinada, de instituição particular para pública, encerrando a cláusula “entre instituição vinculada a qualquer sistema de ensino” a observância da natureza privada ou pública daquela de origem, viabilizada a matrícula na congênere. Ou seja, com exceção da interpretação julgada inconstitucional pelo Tribunal, o art. 1º da Lei 9.536/1997 continua válido.

    A segunda razão consiste no fato de que o juízo de proporcionalidade feito na ADI 3.324, em que se optou por exigir a congeneridade, não pode ter aplicação para a hipótese de inexistência de instituição congênere. Trata-se de situação distinta.

    Exigir que a transferência ocorra entre instituições de ensino congêneres praticamente inviabilizaria o direito à educação não apenas dos servidores, mas de seus dependentes. Essa solução, além de ir de encontro à disciplina feita

    Constitucional. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 1220.

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=363361

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    pelo legislador, exclui, por completo, o gozo de um direito fundamental. De fato, impedir a matrícula do servidor ou de seus dependentes em caso de transferência ex officio, quando inexistir instituição congênere no município, possivelmente implicaria o trancamento do curso ou sua desistência. Assim, permitir a matrícula, ante a inviabilidade de um dos direitos em confronto, não se afigura desproporcional.

    Seria ainda plausível argumentar, na linha do que prevaleceu no julgamento da ação direta, que a garantia de igualdade de acesso não poderia ceder ante eventual interesse da Administração na transferência de seus servidores, ou ante o direito que eles ou seus familiares teriam na continuidade de seus planos de ensino. Na situação limite em que não é possível ao servidor exercer o seu direito à educação, tanto o direito à educação invocado pelo Estado quanto o solicitado pelo servidor têm o mesmo conteúdo, razão pela qual, dada a ausência de outras opções fáticas, deve a jurisdição constitucional guardar deferência em relação à opção normativa realizada pelo legislador.

    RE 601.580, rel. min. Edson Fachin, DJE de 20-2-2020, repercussão geral, Tema 57. (Informativo 916, Plenário)

    ___________________________________

    AGENTES PÚBLICOS

    SISTEMA REMUNERATÓRIO

    GRATIFICAÇÃO NATALINA E TERÇO DE FÉRIAS

    A concessão de gratificação natalina e terço de férias a detentor de mandato eletivo está condicionada à existência de lei infraconstitucional autorizativa.

    10 RE 650.898, red. p/ o ac. min. Roberto Barroso, P, repercussão geral, Tema 484.

    Inexiste mandamento constitucional que impeça os agentes públicos ocupantes de cargos eletivos de integrarem regimes que prevejam o pagamento de terço constitucional de férias e de décimo terceiro salário. Portanto, a definição sobre a adequação de percepção dessas verbas está inserida no espaço de liberdade de conformação do legislador infraconstitucional.10.

    Rcl 32.483 AgR, rel. min. Roberto Barroso, DJE de 5-2-2020. (Informativo 950, Primeira Turma)

    ___________________________________

    RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

    RESPONSABILIDADE OBJETIVA

    ATO NORMATIVO

    A União não tem responsabilidade por eventuais prejuízos causados à indústria nacional pela redução da alíquota do Imposto sobre Importação.

    A responsabilidade civil do Estado pela edição de atos normativos é, em regra, inexistente. Sua aplicabilidade é absolutamente restrita. Na hipótese em que ato normativo de caráter genérico, abstrato e impessoal cause prejuízos, deve ser afastada a obrigação indenizatória estatal11.

    Cabe destacar que o Imposto sobre Importação tem função predominantemente extrafiscal, a atuar como valioso instrumento de política econômica. É legítima a alteração, para mais ou para menos, das suas alíquotas, por ato do Executivo, com o objetivo de ajustá-las aos objetivos da política cambial e do comércio exterior, no exercício regular da competência tributária constitucional da União,

    11 Trecho do voto do min. Alexandre de Moraes.

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752042629http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=2691334&numeroProcesso=601580&classeProcesso=RE&numeroTema=57http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo916.htm#Transfer%C3%AAncia%20de%20of%C3%ADcio:%20inexist%C3%AAncia%20de%20universidade%20cong%C3%AAnere%20%C3%A0%20da%20origem%20e%20garantia%20de%20matr%C3%ADculahttp://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=13413775http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4115555&numeroProcesso=650898&classeProcesso=RE&numeroTema=484http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751915333http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo950.htm#Previs%C3%A3o%20legislativa%20e%20percep%C3%A7%C3%A3o%20de%20verbas%20remunerat%C3%B3rias

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    atendidas as condições e os limites estabelecidos na lei (Lei 3.244/195712) e na Constituição Federal13.

    Dessa forma, somente surge a responsabilidade quando há promessa firme do Estado de manutenção de determinada política, causadora, por isso, de expectativas sólidas. O princípio da confiança legítima baseia-se no critério das esperanças fundadas em promessas firmes feitas pelo Estado, as quais devem ser respeitadas, mesmo que ainda não constituam direito subjetivo ou adquirido. Caso não o sejam, as consequências, anormais e especiais, de sua abrupta frustração devem ser reparadas.

    Na hipótese de simples alteração da política de comércio exterior promovida pelo Poder Executivo que, dentro do fenômeno denominado “globalização”, resulte em levantamento de barreiras alfandegárias no Brasil, não há afronta ao princípio da boa-fé nem quebra de confiança a legitimar a indenização por eventuais prejuízos suportados pelas empresas.

    ARE 1.175.599 AgR, rel. min. Rosa Weber, DJE de 3-2-2020. (Informativo 963, Primeira Turma)

    ___________________________________

    12 Lei 3.244/1957: “Art. 3º Poderá ser alterada dentro dos limites máximo e mínimo do respectivo capítulo, a alíquota relativa a produto: a) cujo nível tarifário venha a se revelar insuficiente ou excessivo ao adequado cumprimento dos objetivos da tarifa; b) cuja produção interna for de interesse fundamental estimular; c) que haja obtido registro de similar; d) de país que dificultar a exportação brasileira para seu mercado, ouvido previamente o Ministério das Relações Exteriores; e) de país que desvalorizar sua

    moeda ou conceder subsídio à exportação, de forma a frustrar os objetivos da tarifa. § 1º Nas hipóteses dos itens "a", "b" e "c" a alteração da alíquota, em cada caso, não poderá ultrapassar, para mais ou para menos, a 30% (trinta por cento) ad valorem. § 2º Na ocorrência de dumping, a alíquota poderá ser elevada até o limite capaz de neutralizá-lo.”

    13 RE 225.655, rel. min. Ilmar Galão, 1ª T; e RE 224.285, rel. min. Maurício Corrêa, P.

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751802047http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo963.htm#Redu%C3%A7%C3%A3o%20de%20al%C3%ADquota%20de%20Imposto%20de%20Importa%C3%A7%C3%A3o%20e%20dever%20de%20indenizar%20%E2%80%93%202http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=251376http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=250785http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=250785

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    DIREITO CONSTITUCIONAL

    ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

    UNIÃO

    BENS DA UNIÃO

    É constitucional a imposição legal do repasse da parcela dos royalties recebidos pelos Estados a todos os Municípios integrantes do seu território, independentemente da localização dos recursos minerais explorados14.

    Os royalties são receitas originárias da União, tendo em vista a propriedade federal dos recursos minerais15. O Poder Constituinte optou por denominar os royalties como participação no resultado e compensação financeira e determinou a transferência desse montante aos Estados e Municípios sem restringir a compensação financeira aos entes federados diretamente afetados pela atividade de exploração16.

    Assim, a natureza jurídica dos royalties é de receita transferida não

    14 Lei 7.990/1989: “Art. 9º Os Estados transferirão aos Municípios 25% (vinte e cinco por cento) da parcela da compensação financeira que lhes é atribuída pelos arts. 2º, § 1º, 6º, § 3º e 7º desta Lei, mediante observância dos mesmos critérios de distribuição de recursos, estabelecidos em decorrência do disposto no art. 158, inciso IV e respectivo parágrafo único da Constituição, e dos mesmos prazos fixados para a entrega desses recursos, contados a partir do recebimento da compensação.”

    15 CF/1988: “Art. 20. São bens da União: (...) IX – os recursos minerais, inclusive os do subsolo;”

    16 CF/1988: “Art. 20. (...) § 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.”

    17 RE 228.800, rel. min. Sepúlveda Pertence, 1ª T.

    tributária de cunho originário emanada da exploração econômica do patrimônio público. Não se caracteriza como tributo ou indenização17.

    ADI 4.846, rel. min. Edson Fachin, DJE de 18-2-2020. (Informativo 955, Plenário)

    ___________________________________

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

    PODER JUDICIÁRIO

    CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

    Procurador dispõe de legitimidade para interpor recurso extraordinário contra acórdão de tribunal de justiça proferido em representação de inconstitucionalidade em defesa de lei ou ato normativo estadual ou municipal.

    A legitimidade para propor ação direta de inconstitucionalidade pertence àqueles mencionados no art. 10318 da Constituição Federal (CF) ou, conforme o caso, nas Constituições estaduais.19

    18 CF/1988: “Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I – o Presidente da República; II – a Mesa do Senado Federal; III – a Mesa da Câmara dos Deputados; IV – a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V – o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI – o Procurador-Geral da República; VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII – partido político com representação no Congresso Nacional; IX – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.”

    19 Excerto dos debates ocorridos no presente julgamento: “O senhor ministro Ricardo Lewandowski – A questão é interessante realmente. Entendo que a decisão primeira é política – de entrar ou não –, porque isso compromete, enfim, a própria Câmara, o município. É uma decisão muito séria, e somente a Câmara, ou o presidente, por seus órgãos administrativos, no caso a Mesa, poderia tomá-la. Agora, estou sensibilizado pelo argumento de Vossa Excelência de que os atos sequenciais não têm natureza política, mas técnica. A senhora ministra Cármen Lúcia (presidente) – Nem pode. Imagina um governador que seja engenheiro propor embargos

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=252741http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752018044http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo955.htm#Explora%C3%A7%C3%A3o%20de%20recursos%20naturais%20n%C3%A3o%20renov%C3%A1veis%20e%20repasse%20de%20%E2%80%9Croyaties%E2%80%9D%20a%20munic%C3%ADpios

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    Porém, no momento do recurso, quem recorre é o advogado, nunca a parte, haja vista que a matéria discutida é apenas jurídica. Muitas vezes, os legitimados, como o presidente da Câmara e o governador, nem têm o conhecimento para isso.

    Nesse sentido, os recursos em ação direta de inconstitucionalidade podem até ser assinados pelo legitimado e pelo procurador, mas é essencial a presença do advogado em razão do seu direito de exercer a advocacia no sentido recursal.

    Ressalte-se que, em regra, é incabível o uso do recurso extraordinário contra a decisão proferida por tribunal de justiça quando a ação direta de inconstitucionalidade tenha sido proposta em âmbito estadual tendo por parâmetro a Constituição estadual. Entretanto, ressalva-se a possibilidade do uso do recurso extraordinário quando a norma da Constituição estadual tida por violada for norma de reprodução obrigatória contida na Constituição Federal.

    RE 1.126.828 AgR, red. p/ o acórdão min. Cármen Lúcia, DJE de 21-2-2020. (Informativo 965, 2ª Turma)

    ___________________________________

    declaratórios de uma decisão proferida em ação direta de inconstitucionalidade. O senhor ministro Ricardo Lewandowski – É, dentro do prazo, tempestivamente. Eu diria que, uma vez tomada a decisão política, os atos subsequentes de natureza técnica têm que ser tomados, ou empreendidos, pelo corpo técnico de procuradores, ou advogados, etc. A senhora ministra Cármen Lúcia (presidente) – Advogado é quem recorre.”

    20 CF/1988: “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

    21 CF/1988: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) III – promover o inquérito

    ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

    FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

    MINISTÉRIO PÚBLICO – REPERCUSSÃO GERAL

    O Ministério Público possui legitimidade para ajuizar ação civil pública com objetivo de compelir entes federados a entregarem medicamentos a portadores de certas doenças.

    A saúde é direito de todos e dever do Estado, conforme previsto no art. 196 da Constituição Federal (CF)20. Ademais, compete ao Ministério Público, no âmbito das suas funções institucionais, promover o inquérito e a ação civil pública para a proteção de interesses difusos e coletivos, a teor do art. 129, III, da CF21.

    “O art. 197 da CF22, ao tratar de ações e serviços de saúde, expressamente os qualifica como ‘de relevância pública’, em manifesto paralelo com a atribuição elencada no art. 129, II23, expressando a natural vocação do Ministério Público para a fiscalização dos serviços de saúde pública.

    O legislador infraconstitucional, regulamentando as atribuições funcionais do Ministério Público, bem como versando sobre as hipóteses de cabimento da ação civil pública, seguiu a

    civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;”

    22 CF/1988: “Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.”

    23 CF/1988: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752054184http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo965.htm#Legitimidade%20de%20procuradores%20para%20interposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20recurso%20em%20ADI

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    mesma linha, tratando dessas competências de forma exemplificativa, jungindo a atuação do órgão a quaisquer situações que envolvam um interesse social de relevância transcendente ao interesse concreto de indivíduos ou segmentos econômicos específicos.

    Por tudo isso, não (...) parece possível excluir da órbita de atribuições do Ministério Público a possibilidade de ajuizamento de ação civil pública que objetiva a proteção do direito fundamental à saúde, uma vez que o papel de defensor da sociedade e da cidadania compreende precisamente a atuação em prol de garantias fundamentais.

    (...) [J]á é possível vislumbrar a ampla legitimidade do Ministério Público para atuar em prol do direito da população ao fornecimento de medicamentos indispensáveis à tutela da saúde. Na realidade, o Ministério Público é parte especialmente legitimada para atuar nessa seara, por expressa opção do legislador constituinte (...), e, em muitos aspectos, com a melhor capacidade institucional para atuar no tema da judicialização, no papel de interface entre o sistema de justiça e a população necessitada, sem prejuízo da atuação de outros órgãos e entidades da sociedade civil igualmente capacitados.

    Portanto, a legitimidade do Ministério Público para o ajuizamento de ações civis públicas (...) vai ao encontro de uma necessidade (...): a coletivização dos instrumentos de tutela do direito à saúde, como forma de atenuar as distorções e ineficiências geradas pela judicialização em escala de demandas pelo fornecimento de medicamentos.”24

    24 Fundamentos extraídos do voto do ministro Alexandre de Moraes.

    RE 605.533, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 12-2-2020, repercussão geral, Tema 262. (Informativo 911, Plenário)

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    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751969399http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/listarProcesso.asp?PesquisaEm=tema&PesquisaEm=controversia&PesquisaEm=ambos&situacaoRG=TODAS&situacaoAtual=S&txtTituloTema=&numeroTemaInicial=262&numeroTemaFinal=262&acao=pesquisarProcesso&dataInicialJulgPV=&dataFinalJulgPV=&classeProcesso=&numeroProcesso=&ministro=&txtRamoDireito=&ordenacao=asc&botao=http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo911.htm#Legitimidade%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico:%20a%C3%A7%C3%A3o%20civil%20p%C3%BAblica%20e%20medicamentos

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    DIREITO ELEITORAL

    PROPAGANDA POLÍTICA

    PROPAGANDA ELEITORAL

    TELEMARKETING

    É constitucional o dispositivo de resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que proíbe a realização de propaganda eleitoral via telemarketing. (Resolução 23.404/2014 do TSE, art. 25, §2º25)

    Essa norma, além de concretizar o conteúdo material do Código Eleitoral, que determina a preservação do sossego público26, limita o alcance da propaganda política à esfera de intimidade do eleitor27. Isso porque o uso de aparelhos telefônicos destina-se, em regra, aos ambientes profissionais ou residenciais do cidadão, espaços protegidos contra intervenções arbitrárias que não tenham conotação de proteção a direitos de feição coletiva.

    O TSE, ao editar resoluções normativas, busca conferir ao processo eleitoral segurança, eficiência e transparência, para garantir a paridade de armas entre os candidatos e revelar a “verdade eleitoral” decorrente da soberania popular manifestada nas urnas.

    25 Resolução 23.404/2014 do TSE: “Art. 25. As mensagens eletrônicas enviadas por candidato, partido ou coligação, por qualquer meio, deverão dispor de mecanismo que permita seu descadastramento pelo destinatário, obrigado o remetente a providenciá-lo no prazo de 48 horas (Lei 9.504/1997, art. 57-G, caput). (...) § 2º É vedada a realização de propaganda via telemarketing, em qualquer horário (Constituição Federal, art. 5º, X e XI, e Código Eleitoral, art. 243, VI).”

    26 Código Eleitoral/1965: “Art. 243. Não será tolerada propaganda: (…) VI – que perturbe o sossego público, com algazarra ou abusos de instrumentos sonoros ou sinais acústicos.”

    27 CF/1988: “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei,

    O processo eleitoral exige uma atuação rápida e eficaz da Justiça Eleitoral por meio de resoluções. Essa exigência se acentua, ainda mais, diante da profunda influência que as novas tecnologias comunicacionais têm operado no campo político-eleitoral.

    As adaptações legislativas são arrastadas pelo advento de novas tecnologias. A preocupação do legislador em relação às propagandas eleitorais pelos meios de comunicação de massa deve-se ao fato de que a detenção dos instrumentos e meios de comunicação sempre significou o poder de exercer influência no processo político-decisório, criando, assim, a necessidade de um rígido controle nesse setor pela legislação eleitoral.

    Assim, a ausência de previsão legal quanto à promoção de campanhas eleitorais por meio das novas tecnologias comunicacionais não significa a permissão para seu uso indiscriminado e irrestrito. É nesse silêncio normativo que a atuação da Justiça Eleitoral por meio de resoluções ganha maior importância, ao exigir dos partidos políticos e dos candidatos a observância aos princípios e diretrizes traçados pela legislação eleitoral em vigor28.

    sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (…) X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.”

    28 ADI 5.104 MC, rel. min. Luís Roberto Barroso, P; ADI 2.269, rel. min. Eros Grau, P; e ADI 2.267, rel. min. Maurício Corrêa, P.

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=7088758http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=375365http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=375363

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    Ademais, embora a garantia de liberdade de expressão e de pensamento possua posição preferencial em relação aos conflitos com outros direitos fundamentais, uma interpretação demasiado elástica de seu âmbito de proteção acabaria por transformá-la em um direito absoluto, em detrimento de outras liberdades também constitucionalmente asseguradas.

    Nesse contexto, é importante destacar que a vedação à censura (CF, art. 220, § 2º29) proíbe o controle prévio, exercido por autoridade administrativa, da veiculação de determinado conteúdo. No entanto, é permitido que a lei lhe estabeleça, excepcionalmente, e nos parâmetros do Estado Democrático de Direito, limites e restrições, que tenham por fundamento a proteção e a promoção de direitos e bem jurídicos constitucionalmente assegurados, desde que observados os critérios da proporcionalidade e da preservação do núcleo essencial dos direitos.

    Assim, a proibição de propaganda política por meio de telemarketing não configura censura por autoridade pública, por não dizer respeito ao controle prévio do conteúdo ou da matéria a ser veiculada. Trata-se, apenas, da restrição ao uso de determinado meio de comunicação na propaganda eleitoral, não havendo que se falar, portanto, em violação ao direito à informação ou à livre manifestação do pensamento.

    ADI 5.122, rel. min. Edson Fachin, DJE de 20-2-2020. (Informativo 900, Plenário)

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    29 CF/1988: “Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão

    qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. (...) § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752042985http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo900.htm#Propaganda%20eleitoral%20e%20telemarketing%20-%202

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    DIREITO INTERNACIONAL

    DIREITO PENAL INTERNACIONAL

    COOPERAÇÃO JURÍDICA EM MATÉRIA PENAL

    EXPULSÃO

    A superveniência de causa potencialmente excludente de expulsabilidade impõe o reexame do ato administrativo expulsório pela autoridade competente.

    A atual Lei de Imigração (Lei 13.445/2017) não autoriza a expulsão do estrangeiro que comprove a existência de filho brasileiro sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou de pessoa brasileira sob sua tutela30.

    Ademais, a redação da Lei de Imigração não impõe nenhuma “condicionante cronológica do nascimento dos filhos havidos no País, bastando a existência de descendente brasileiro que esteja sob a guarda ou dependência econômica ou socioafetiva do estrangeiro para impedir a expulsão”31. A norma busca proteger o interesse da criança. O melhor interesse do menor deve ser o vetor constitucional nessa matéria, e não o interesse da mãe ou o do pai.

    Assim, a existência de acordo de alimentos superveniente à edição do ato administrativo expulsório indica uma forte plausibilidade jurídica quanto à existência de vínculo de dependência

    30 Lei 13.445/2017: “Art. 55. Não se procederá à expulsão quando: (...) II – o expulsando: a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela; b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou legalmente; c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde então no País; d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 (dez) anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão;”

    econômica entre o estrangeiro e seu descendente aqui no Brasil.

    Portanto, o Ministro da Justiça deve proceder à revisão do ato administrativo, com base nas novas provas apresentadas pela defesa e nos termos da Lei 13.445/2017, ficando suspensos os efeitos do ato expulsório até ulterior deliberação do referido órgão do Poder Executivo.

    HC 150.343, red. p/ o ac. min. Roberto Barroso, DJE de 12-2-2020. HC 148.558, red. p/ o ac. min. Roberto Barroso, DJE de 17-2-2020. (Informativo 961, Primeira Turma)

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    DIREITO PENAL INTERNACIONAL

    COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EM MATÉRIA PENAL

    EXTRADIÇÃO

    É incabível a extradição passiva pela suposta prática do delito previsto no art. 6º da Lei 13.260/201632 antes de 16-3-2016.33

    A legislação brasileira que dá cumprimento ao comando constitucional, tipificando o crime de terrorismo, somente veio a lume em 16 de março de 2016, com a publicação da Lei 13.260, daquele ano.

    Se, ao tempo da prática das condutas imputadas, não havia tipificação na

    31 Trecho do voto do min. Marco Aurélio. 32 Lei 13.260/2016: “Art. 6º Receber, prover,

    oferecer, obter, guardar, manter em depósito, solicitar, investir, de qualquer modo, direta ou indiretamente, recursos, ativos, bens, direitos, valores ou serviços de qualquer natureza, para o planejamento, a preparação ou a execução dos crimes previstos nesta Lei: Pena – reclusão, de quinze a trinta anos.”

    33 PPE 732 QO, rel. min. Celso de Mello, 2ª T; Ext 953, rel. min. Celso de Mello, P.

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=751970787http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=752001969http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo961.htm#Expuls%C3%A3o%20de%20paciente%20que%20tem%20filho%20sob%20a%20sua%20guarda%20e%20depend%C3%AAncia%20econ%C3%B4mica%20%E2%80%93%203http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=7645112http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=362711http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=362711

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    legislação penal comum, incide o óbice da irretroatividade da lei penal brasileira.

    Por conseguinte, não está preenchido o requisito de dupla tipicidade, previsto no art. 82, II, da Lei 13.445/201734.

    O enquadramento das condutas supostamente terroristas nos arts. 1635 e 1736 da Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/1983) não autoriza a extradição.

    No que se refere à definição dos crimes políticos, o Supremo Tribunal Federal tem albergado a doutrina subjetiva, entendendo necessário o dolo específico – especial fim de agir, consubstanciado no desiderato político – para que se aperfeiçoe a infração política.

    Conquanto o texto constitucional não distinga as duas categorias (crimes contra segurança nacional e crimes políticos), elas acabaram por se equivaler em sede infraconstitucional, pois a Lei de Segurança Nacional absorveu os crimes políticos.

    Admitida essa vertente hermenêutica, tem-se a incidência da vedação constitucional à extradição por crime político.

    Em razão disso, os crimes políticos foram incorporados ao ordenamento infraconstitucional com status de crime contra a segurança nacional.

    34 Lei 13.455/2017: “Art. 82. Não se concederá a extradição quando: (...) II – o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente;”

    35 Lei 7.170/1983: “Art. 16. Integrar ou manter associação, partido, comitê, entidade de classe ou grupamento que tenha por objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de Direito, por meios violentos ou com o emprego de grave ameaça. Pena: reclusão, de 1 a 5 anos.”

    36 Lei 7.170/1983: “Art. 17. Tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o

    Assim, na hipótese de condutas supostamente terroristas, a assimilação aos tipos previstos na lei de segurança nacional traria a questão do tratamento peculiar aos crimes políticos, situação em que, sem as condicionantes da Corte para delitos políticos com violência, estaria caracterizada hipótese vedada pela Constituição Federal.37

    Descabe a concessão de extradição quando há a possibilidade de submeter-se o extraditando a juízo ou tribunal de exceção.

    A recente Lei de Migração (Lei 13.445/2017) veda a concessão de extradição quando o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção.38

    Para além da simples caracterização de crime político ou tribunal de exceção, esta Corte já esmiuçou o alcance da dicção “tribunal de exceção” a fim de ver um alcance maior, qual seja, o de assegurar um julgamento justo com a garantia do due processo of law.

    Nesse sentido, a instabilidade política e até mesmo as demissões de juízes, bem como as prisões de opositores ao governo do Estado requerente podem ser consideradas fatos notórios. Em tais circunstâncias, há no mínimo uma justificada dúvida quanto às garantias de que o extraditando será efetivamente submetido a um tribunal independente e imparcial, num quadro de normalidade

    regime vigente ou o Estado de Direito. Pena: reclusão, de 3 a 15 anos. Parágrafo único. Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até a metade; se resulta morte, aumenta-se até o dobro.”

    37 CF/1988: “Art. 5º: (...) LII – não será concedida a extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.”

    38 Lei 13.445/2017: “Art. 82: (...) VIII – o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção;”

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    institucional, a salvo de instabilidades e pressões exógenas e endógenas.

    Diante de tais instabilidades na vida política do Estado requerente, a solução que se apresenta, num juízo de proteção das liberdades individuais, é pelo indeferimento da extradição, visto que não se pode vislumbrar com certeza a garantia de julgamento isento de acordo com as franquias constitucionais.

    Ext 1.578, rel. min. Edson Fachin, DJE de 20-2-2020. (Informativo 946, 2ª Turma)

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    39 Lei 8.072/1990: “Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal.”

    40 CP/1940: “Art. 224. Presume-se a violência, se a

    DIREITO PENAL

    PENA

    APLICAÇÃO DA PENA

    CAUSA DE AUMENTO DE PENA

    A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei 8.072/199039 (Lei dos Crimes Hediondos) foi tacitamente revogada.

    Essa causa de aumento de pena faz referência ao art. 224 do Código Penal (CP)40, que foi revogado pelo art. 7º da Lei 12.015/200941. Suprimida a regra de referência, resulta inaplicável a majoração da pena.

    Ademais, em decorrência do princípio da retroatividade da lei penal mais benigna, deve-se decotar da reprimenda o referido aumento de pena na hipótese de o crime ter sido cometido antes da edição da Lei 12.015/200942.

    HC 100.181, red. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, DJE de 11-2-2020. (Informativo 947, Plenário)

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    vítima: a) não é maior de catorze anos; b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância; c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.” (Artigo e alíneas revogados pela Lei 12.015, de 2009)

    41 Lei 12.015/2009: “Art. 7º Revogam-se os arts. 214, 216, 223, 224 e 232 do Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, e a Lei 2.252, de 1º de julho de 1954.”

    42 HC 111.246, rel. min. Dias Toffoli, 1ª T; e HC 129.215, rel. min. Dias Toffoli, 2ª T.

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752043150http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo946.htm#Extradi%C3%A7%C3%A3o%20e%20quadro%20de%20instabilidade%20do%20Estado%20requerentehttp://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751959427http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo947.htm#Crime%20sexual%20contra%20vulner%C3%A1vel%20e%20retroatividade%20da%20lei%20mais%20ben%C3%A9ficahttp://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=3505236http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=10362944http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=10362944

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    DIREITO PROCESSUAL CIVIL

    PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS

    MANDADO DE SEGURANÇA

    PROCEDIMENTO

    É desnecessária a remessa dos autos ao órgão ministerial, nos termos do art. 12 da Lei 12.016/200943, quando se tratar de controvérsia iterativa acerca da qual o plenário já tenha firmado jurisprudência.

    Assim prevê o art. 52, parágrafo único, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF)44.

    Logo, nessa hipótese, não há falar-se em nulidade de acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em sede de mandado de segurança, sem a oitiva do Ministério Público, na forma do art. 12 da Lei 12.016/2009.

    O mandado de segurança não é a medida judicial cabível para se impugnar a decisão do relator que, no STJ, nega seguimento a agravo interno, interposto, por sua vez, para combater decisão denegatória de reclamação.

    Não se admite a impetração de mandado de segurança contra ato jurisdicional, salvo nos casos de flagrante ilegalidade ou teratologia da decisão questionada.

    Na hipótese, o art. 6º da Resolução 12/2009 do STJ45 determina que as decisões do relator proferidas nas reclamações destinadas a dirimir

    43 Lei 12.016/2009: “Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7º desta Lei, o juiz ouvirá o representante do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser necessariamente proferida em 30 (trinta) dias.”

    divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual e jurisprudência do STJ são irrecorríveis.

    Cabe esclarecer que referida espécie de “reclamação” não se subsumia às hipóteses estritamente constitucionais de cabimento de reclamação, nem estava regulamentada pela Lei 8.038/1990. Tratava-se, portanto, de instrumento processual anômalo, criado e regulamentado pelo STJ, na esteira de precedente desta Corte Suprema46, para solucionar temporariamente contrariedade ínsita ao sistema dos juizados especiais estaduais, que não possuíam meio de controle do cumprimento das decisões proferidas pelo órgão uniformizador da jurisprudência federal.

    Por essa razão, toda a regulamentação do cabimento e do processamento dessa espécie de “reclamação” esgotava-se no conteúdo da Resolução 12, de 14 de dezembro de 2009.

    Diante disso e de toda a especialidade e especificidades desse instrumento normativo, que, inclusive, já não mais existe no ordenamento jurídico, resta de todo inviável apontar-se ilegalidades manifestas ou teratologia com força suficiente para admitir seu controle excepcional por meio de mandado de segurança.

    Por fim, ressalte-se ser incabível a análise sobre a constitucionalidade de dispositivos legais, pois a via estreita do

    44 RISTF: “Art. 52. O Procurador-Geral terá vista dos autos: (...) Parágrafo único. Salvo na ação penal originária ou nos inquéritos, poderá o Relator dispensar a vista ao Procurador-Geral quando houver urgência, ou quando sobre a matéria versada no processo já houver o Plenário firmado jurisprudência.”

    45 Resolução 12/2009 do STJ: “Art. 6º As decisões proferidas pelo relator são irrecorríveis.” (revogada)

    46 RE 571.572 ED, rel. min. Ellen Gracie, P.

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=606378

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    mandado de segurança não permite a apreciação de lei em tese.47 e 48

    RMS 32.482, rel. min. Teori Zavascki, DJE de 21-2-2020. (Informativo 912, 2ª Turma)

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    47 Enunciado 266 da Súmula do STF: “Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.”

    48 MS 34.432 AgR, rel. min. Luiz Fux, P. 49 Lei 8.906/1994 : “Art. 7º (...) XXI – assistir a seus

    clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    PROCESSO EM GERAL

    INQUÉRITO POLICIAL

    DEFESA TÉCNICA

    Não é necessária a intimação prévia da defesa técnica do investigado para a tomada de depoimentos orais na fase de inquérito policial.

    As alterações promovidas pela Lei 13.245/2016 no art. 7º, XXI49, da Lei 8.906/1994 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil) representam reforço das prerrogativas da defesa técnica no curso do inquérito policial, sem comprometer, de modo algum, o caráter inquisitório da fase investigativa preliminar.

    Por se tratar de procedimento informativo de natureza inquisitorial destinado precipuamente à formação da opinio delicti do órgão acusatório, o inquérito comporta a regular mitigação das garantias do acusatório e da ampla defesa.

    Com efeito, tal proceder justifica-se pelo fato de os elementos indiciários não se prestarem, por si sós, ao juízo penal condenatório (Código de Processo Penal (CPP), art. 15550). Esse resultado processual pode ser alcançado com fundamento em provas diversas, dispensando-se, inclusive, a produção de procedimento investigatório51.

    indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: a) apresentar razões e quesitos;”

    50 CPP/1941: “Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”

    51 Inq 3.387 AgR, rel. min. Dias Toffoli, 2ª T.

    http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15342436342&ext=.pdfhttp://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo912.htm#Mandado%20de%20seguran%C3%A7a%20e%20oitiva%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20-%202http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=12617404http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=10350303

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    A medida defensiva elencada no art. 7º, XXI, da Lei 8.906/1994 não conferiu ao advogado o direito subjetivo de intimação prévia e tempestiva do calendário de inquirições a ser definido pela autoridade judicial, mas, em seu restrito limite semântico, apenas contemplou o auxílio técnico a investigado no que tange aos depoimentos orais.

    Logo, a determinação legislativa não imprime à autoridade policial a incumbência de trazer a defesa técnica para o seio da investigação criminal, tampouco lhe impõe a obrigatoriedade de participação nas apurações. A norma busca afastar óbices à assistência do advogado ao investigado na coleta de depoimentos quando patente e expresso tal interesse, que pode ser evidentemente concretizado com a apresentação de razões e quesitos.

    Pet 7.612, rel. min. Edson Fachin, DJE de 20-2-2020. (Informativo 933, Segunda Turma)

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    PROCESSO EM GERAL

    COMPETÊNCIA

    JUSTIÇA ESTADUAL

    Compete à Justiça estadual julgar homicídio supostamente praticado por policial rodoviário federal após desavença no trânsito ocorrida no seu deslocamento de casa para o trabalho.

    A suposta prática de homicídio, desvinculada da condição funcional de policial rodoviário federal, não faz incidir a competência da Justiça Federal, a qual, nos termos do art. 109, IV, da

    52 CF/1988: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades

    Constituição Federal52, pressupõe o cometimento de delito em detrimento de bens, serviços ou interesse da União.

    A mera condição de servidor público federal não basta, por si só, para atrair a competência da Justiça Federal. O interesse da União há de sobressair das funções institucionais, não da pessoa do paciente.

    HC 157.012, rel. min. Marco Aurélio, DJE de 27-2-2020. (Informativo 963, Primeira Turma)

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    PROCESSO EM GERAL

    PROVA

    COLABORAÇÃO PREMIADA

    Ainda que remetidos a outros órgãos do Poder Judiciário para as apurações dos fatos declarados, remanesce competência ao juízo homologador do acordo de colaboração premiada a deliberação acerca de pretensões que envolvem o compartilhamento de termos de depoimento prestados pelo colaborador.

    O envio de termos de depoimento para utilização por esferas judiciais diversas não suprime a competência do Supremo Tribunal Federal (STF) para se pronunciar acerca de pleitos relacionados a acordos de colaboração homologados no âmbito da Corte.

    Com efeito, transpassado positivamente o crivo judicial acerca da regularidade, da legalidade e da voluntariedade do acordo de colaboração premiada, incumbe ao juízo responsável pela homologação do negócio jurídico o gerenciamento dos elementos que subsidiam o termo de

    autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;”

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752042346http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo933.htm#Defesa%20t%C3%A9cnica%20e%20oitivas%20%E2%80%93%202http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752074714http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo963.htm#Homic%C3%ADdio%20qualificado%20e%20policial%20rodovi%C3%A1rio%20federal%20-%202

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    acordo, com a adoção de providências – sejam atuais ou supervenientes – necessárias a tornar plausível o processamento judicial das informações nele contidas.

    A posterior remessa de cópia do aludido termo de depoimento ao juízo competente à apuração dos fatos ali relatados não detém o condão de retirar do STF o controle sobre a sua utilização em procedimentos jurisdicionais diversos, mormente porque, como é cediço, tais encaminhamentos não se prestam à fixação de competência53.

    Pet 7.065 AgR, rel. min. Edson Fachin, DJE de 20-2-2020. (Informativo 922, Segunda Turma)

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    NULIDADES E RECURSOS EM GERAL

    RECURSOS EM GERAL

    HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO

    Se a discussão acerca da correta fixação da competência e da transnacionalidade delitiva exige exame aprofundado de elementos fáticos, a solução da controvérsia é incabível em sede de habeas corpus.

    A ação de habeas corpus é remédio processual inadequado, se ajuizada com o objetivo de: a) promover a análise aprofundada da prova penal; b) efetuar o reexame do conjunto probatório regularmente produzido; c) provocar reapreciação da matéria de fato; e d) proceder à revalorização dos elementos indicatórios e/ou coligidos no procedimento penal54.

    O habeas corpus não comporta fase probatória. Os elementos de convicção devem ser revelados com a impetração,

    53 Pet 6.986 AgR, red. p/ o ac. min. Dias Toffoli, 2ª T.

    54 HC 92.887, rel. min. Celso de Mello, 2ª T.

    por meio dos documentos anexados pelo impetrante ou das informações prestadas pela autoridade apontada como coatora. A inexistência de demonstração inequívoca dos fatos alegados obstaculiza a concessão da ordem, mormente quando das demais peças dos autos não surge a respectiva procedência55.

    Ademais, “é de competência da Justiça Federal [julgar] o crime de lavagem quando este for transnacional em decorrência da previsão do art. 109 da Constituição Federal e da existência de tratados internacionais, como é o caso das Convenções de Viena, de Palermo e das Nações Unidas contra a Corrupção. Nesses casos, será suficiente para firmar a transnacionalidade da lavagem, ainda que o crime antecedente seja interno”56.

    Portanto, a determinação da existência de transnacionalidade dos delitos imputados é fator fundamental para fixação da competência jurisdicional. Todavia, no caso em tela, a compreensão sobre a transnacionalidade do delito de lavagem de capitais implica aprofundamento dos elementos fáticos relacionados às imputações, incabível em sede de habeas corpus.

    HC 151.881 AgR, rel. min. Rosa Weber, DJE de 12-2-2020. (Informativo 959, Primeira Turma)

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    55 HC 68.223, rel. min. Marco Aurélio, 2ª T. 56 BALTAZAR JR, José Paulo. Crimes Federais. Porto

    Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 579.

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752042292http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo922.htm#Colabora%C3%A7%C3%A3o%20premiada%20e%20termo%20de%20compartilhamentohttp://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=15065976http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3230027http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751970215http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo959.htm#Prescri%C3%A7%C3%A3o%20de%20delito%20e%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20compet%C3%AAncia%20%E2%80%93%202http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=70815

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    DIREITO TRIBUTÁRIO

    TRIBUTOS

    CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS/IMPOSTOS

    CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO (CSLL) / IMPOSTO DE RENDA DAS PESSOAS JURÍDICAS (IRPJ) – REPERCUSSÃO GERAL

    É constitucional a limitação do direito de compensação de prejuízos fiscais do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da base de cálculo negativa da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL (Lei 8.981/1995, arts. 42 e 5857; e Lei 9.065/1995 arts. 15 e 1658).

    A possibilidade de compensação de prejuízos fiscais apurados em exercícios anteriores não constitui direito adquirido do contribuinte. Caracteriza-se como um benefício fiscal, e sua ausência não importa ofensa a nenhum princípio constitucional regente do Sistema Tributário Nacional.

    Assim, a depender das diretrizes da política fiscal do Estado/Governo, podem ser alterados os limites quantitativos (percentual da trava) e

    57 Lei 8.981/1995: "Art. 42. A partir de 1º de janeiro de 1995, para efeito de determinar o lucro real, o lucro líquido ajustado pelas adições e exclusões previstas ou autorizadas pela legislação do Imposto de Renda, poderá ser reduzido em, no máximo, trinta por cento. (…) Art. 58. Para efeito de determinação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro, o lucro líquido ajustado poderá ser reduzido por compensação da base de cálculo negativa, apurada em períodos-base anteriores em, no máximo, trinta por cento."

    58 Lei 9.065/1995: "Art. 15. O prejuízo fiscal apurado a partir do encerramento do ano-calendário de 1995, poderá ser compensado, cumulativamente com os prejuízos fiscais apurados até 31 de dezembro de 1994, com o lucro líquido ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação do imposto de renda, observado o limite máximo, para a compensação, de trinta por cento do referido lucro líquido ajustado. Parágrafo único. O disposto neste artigo somente se aplica às pessoas jurídicas que mantiverem os livros e documentos, exigidos pela legislação fiscal,

    temporais (prazo para abatimento nos anos seguintes) da dedução fiscal do IRPJ e modificada a base de cálculo negativa da CSLL59.

    Ademais, não se pode alegar que a legislação ordinária possibilitou a taxação de renda ou lucro fictícios a atingir o patrimônio/capital da empresa, ao argumento de que, na ordem fática, seriam registrados prejuízos decorrentes das atividades desenvolvidas pela pessoa jurídica contribuinte do IRPJ e da CSLL.

    As Leis 8.981/1995 e 9.065/1995 “exprimem técnica fiscal de compensação integral dos prejuízos fiscais registrados em determinado ano-base, sem divisa temporal (pro futuro), mas limitada a 30% a cada período, até que haja o esgotamento do resultado negativo, respeitando-se, por um lado, os princípios da isonomia, da capacidade contributiva, e do outro, retirando-lhe o caráter confiscatório, já que a fórmula legal não implica a perda do direito à compensação de prejuízos, mas mera transferência, indefinida, para períodos posteriores"60.

    comprobatórios do montante do prejuízo fiscal utilizado para a compensação. Art. 16. A base de cálculo da contribuição social sobre o lucro, quando negativa, apurada a partir do encerramento do ano-calendário de 1995, poderá ser compensada, cumulativamente com a base de cálculo negativa apurada até 31 de dezembro de 1994, com o resultado do período de apuração ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação da referida contribuição social, determinado em anos-calendário subsequentes, observado o limite máximo de redução de trinta por cento, previsto no art. 58 da Lei 8.981, de 1995. Parágrafo único. O disposto neste artigo somente se aplica às pessoas jurídicas que mantiverem os livros e documentos, exigidos pela legislação fiscal, comprobatórios da base de cálculo negativa utilizada para a compensação."

    59 RE 244.293 AgR, red. p/ o ac. min. Dias Toffoli, 1ª T.

    60 FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Da compensação de prejuízos fiscais ou da trava de 30%. Revista Fórum de Direito Tributário – RFDT. Belo

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=630111

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    Por fim, cabe destacar que o mecanismo de compensação de prejuízos é um sistema de normas que objetiva auxiliar o empreendedorismo. No entanto, em um País que adota um sistema de livre concorrência, não há a obrigatoriedade da previsão de compensação de prejuízos. Não há tampouco uma cláusula pétrea que garanta a sobrevivência de empresas ineficientes, que não conseguiram, por qualquer que seja o motivo, sobreviver ao mercado.

    RE 591.340, red. p/ o ac. min. Alexandre de Moraes, DJE de 3-2-2020, repercussão geral, Tema 117. (Informativo 945, Plenário)

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    SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

    SECRETARIA DE DOCUMENTAÇÃO

    COORDENADORIA DE DIVULGAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA (CDJU)

    [email protected]

    Horizonte, ano 10, n. 60, nov./dez. 2012.

    http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751897755http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=2633289&numeroProcesso=591340&classeProcesso=RE&numeroTema=117http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo945.htm#Limita%C3%A7%C3%A3o%20de%20compensa%C3%A7%C3%A3o%20de%20preju%C3%ADzos%20fiscais%20%E2%80%93%202http://www.stf.jus.br/mailto:[email protected]