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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS ROSIMARY DE SOUSA CARVALHO EFEITOS DA VENLAFAXINA E DA VITAMINA E NA PERIODONTITE EXPERIMENTAL INDUZIDA POR LIGADURA EM RATOS. AVALIAÇÃO DO ESTADO DE ANSIEDADE, DEPRESSÃO E PERDA ÓSSEA ALVEOLAR FORTALEZA 2010

NA PERIODONTITE EXPERIMENTAL INDUZIDA POR … · A Tarciano Roberto de Carvalho, por ter plantado esta semente me motivando a cursar o doutorado. Ao Professor Doutor Rui Vicente Oppermann,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

FACULDADE DE MEDICINA

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS MDICAS

ROSIMARY DE SOUSA CARVALHO

EFEITOS DA VENLAFAXINA E DA VITAMINA E

NA PERIODONTITE EXPERIMENTAL INDUZIDA

POR LIGADURA EM RATOS. AVALIAO DO

ESTADO DE ANSIEDADE, DEPRESSO E PERDA

SSEA ALVEOLAR

FORTALEZA

2010

1

ROSIMARY DE SOUSA CARVALHO

EFEITOS DA VENLAFAXINA E DA VITAMINA E

NA PERIODONTITE EXPERIMENTAL INDUZIDA

POR LIGADURA EM RATOS. AVALIAO DO

ESTADO DE ANSIEDADE, DEPRESSO E PERDA

SSEA ALVEOLAR

Tese apresentada ao Programa de

Ps-Graduao em Cincias Mdicas,

da Faculdade de Medicina da

Universidade Federal do Cear, como

requisito parcial para a obteno do

ttulo de Doutor.

Orientadora: Prof.a Dr.

a Geanne Matos

de Andrade

FORTALEZA

2010

2

C327e Carvalho, Rosimary de Sousa

Efeitos da venlafaxina e da vitamina E na periodontite

experimental induzida por ligadura em ratos. Avaliao do

estado de ansiedade, depresso e perda ssea alveolar/

Rosimary de Sousa Carvalho. Fortaleza, 2010.

133 f.: il.

Orientadora: Prof. a Dr.

a Geanne Matos de Andrade.

Tese (Doutorado) Universidade Federal do Cear.

Faculdade de Medicina, Programa de Ps-Graduao em

Cincias Mdicas, Fortaleza-CE, 2010.

1. Periodontite. 2. Antidepressivos. 3. Vitamina E

4. Depresso. 5. Ansiedade. I. Andrade, Geanne Matos de

(orient.) II. Ttulo. CDD 617.632

FICHA CATALOGRFICA

Preparada pela Biblioteca de Cincias da Sade

da Universidade Federal do Cear

reproduo autorizada pelo autor

3

4

A Deus pelo presente de ter uma me que dedica a sua vida em favor da formao dos seus

filhos.

A Tarciano Roberto de Carvalho, por ter plantado esta semente me motivando a cursar o

doutorado.

Ao Professor Doutor Rui Vicente Oppermann, da Faculdade de Odontologia da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul, o meu eterno reconhecimento e gratido por tudo.

s amigas gachas Cleusa Farias Londero e Marilene Issa Fernandes, pelo acolhimento

incondicional e amizade e Vicncia, companheira de todas s horas (at de laboratrio, nos

feriados e domingos), o meu reconhecimento.

Ao Programa de Ps-Graduao em Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, em especial ao Professor Doutor Manoel SantAna Filho, a Isabel da Silva Lauxen, a toda

gurizada da biblioteca e aos colegas, pelas orientaes e convvio.

Aos Professores Doutores Manoel Odorico Moraes Filho, Belmino Romero e Jos Jlio

Costa Sidrim pelo apoio e orientaes ao iniciar este curso.

Ao Mestre Ricardo Martins e Doutora Mnica Studart, (colegas de disciplina), que

souberam entender o tamanho do desafio de cursar um doutorado, nesse perodo da vida.

s Professoras Doutoras Vilma Lima, por sua dedicao ao ensino e pesquisa, e por

esclarecer minhas dvidas e a Izaira Bruno, pelas primeiras lies de farmacologia.

Conceio Weyne, fonoaudiloga, a Zilmar Costa, professora de informtica, e a Malu

Neves, minha professora de ingls, que, com pacincia, alegria e dedicao, me acalmaram

desde o incio desta proposta.

Professora Doutora Mnica do Vale e Luis Scaffa, que me confortaram com palavras, e

muito carinho.

5

Aos professores do Departamento de Clnica Odontolgica, em especial ao Professor Doutor

Manasss Fonteles, ao Mestre Joo Antnio Furtado e a Doutora Eneide Leito, a minha

amizade e gratido.

Ivone Mary Fontenele de Sousa, secretria do Curso de Ps-Graduao em Cincias

Mdicas e Aura Rhanes Nogueira Yida, secretria do Curso de Ps-Graduao em

Farmacologia, pela maneira gentil com que me trataram durante todo esse perodo.

s funcionrias Zula e Marta, do Departamento de Clnica Odontolgica do Curso de

Odontologia da Universidade Federal do Cear; Teresa Ester e Jos Ribamar Sampaio, da

Coordenao do Curso de Odontologia, e Adil da Pr-Reitoria de Ps-Graduao da

Universidade Federal do Cear, por saber que vocs sempre torceram por mim.

6

AGRADECIMENTOS

Professora Doutora Geanne Matos de Andrade, pela generosa acolhida em seu laboratrio,

pelas horas de estudos dedicados cincia e pelo desafio de me orientar.

Ao Professor Doutor Vietla S. Rao, por haver respondido prontamente aos meus

questionamentos.

Professora Doutora Gerly Anne de Castro Brito, pela disposio em me aceitar inicialmente

como orientada e pelos ensinamentos constantes.

s Professoras Doutoras Renata Leito, do Departamento de Morfologia da Universidade

Federal do Cear, e Mariana Vale, do Departamento de Farmacologia e Fisiologia da

Universidade Federal do Cear, e ao Doutor Roberto Pereira, pela valiosa contribuio.

Carol, companheira de doutorado, por sua enorme dedicao e vontade de colaborar com

todos.

Cirurgio-dentista Lvia Maria Sales Pinto e ao Professor Doutor Srgio Arajo Holanda

Pinto pelas horas dedicadas a este estudo.

Professora Doutora Ana Paula Nunes pela amizade e por sua disposio em colaborar nesta

minha jornada.

Ao Professor Doutor Naidu Talapala, pela amizade e ensinamentos.

Maria Vilanir, do Laboratrio de Neurofarmacologia, do Departamento de Farmacologia e

Fisiologia, e ao Sr. Ivan Rodrigues de Sousa, do Departamento de Morfologia da

Universidade Federal do Cear, pela ateno e ajuda nos testes laboratoriais e cortes

histolgicos das lminas.

Aos doutorandos, mestrandos e bolsistas do Laboratrio de Neurocincias e Comportamento,

do Departamento de Farmacologia e Fisiologia, da Universidade Federal do Cear,

especialmente Julliana Catarina, Analu Fonteles, Flvio Maia, e aos do Laboratrio de

7

Produtos Naturais, em especial Marjorie por dedicarem momentos importantes na

elaborao de testes para este estudo. Daniele Teixeira e Diego Fernandes pela amizade.

s bibliotecrias Rosane Maria Costa e Norma de Carvalho Linhares, da Biblioteca de

Cincias da Sade da Universidade Federal do Cear, pelas normas tcnicas utilizadas na

edio das referncias bibliogrficas e orientaes na busca dos artigos cientficos e a Leida

Costa Mello, pelo seu valioso auxlio na formatao desta tese.

CAPES, pela concesso da bolsa no incio deste estudo.

8

RESUMO

A doena periodontal (DP) descrita como enfermidade inflamatrio-imunolgica de natureza

multifatorial, resultante da interao de microorganismos patognicos e defesa do hospedeiro, cujo

desenvolvimento pode ser modificado por fatores locais, doenas sistmicas ou fatores genticos.

Eventos psicossociais como o estresse, ansiedade e depresso, citam-se como fatores que podem

contribuir para o agravamento do prognstico clnico de vrias doenas, inclusive a periodontite

crnica (PC), por causar desequilbrio imunolgico, podendo diretamente aumentar a produo de

citocinas pr-inflamatrias. Estresse oxidativo (EO) tambm relacionado DP e depresso, por

causar danos s estruturas celulares, alm de comprometer a competncia imunolgica. Este estudo

avaliou os efeitos da venlafaxina, um antidepressivo, e da vitamina E, um antioxidante, na periodontite

experimental induzida por ligadura em ratos (PE). Observaram-se o estado de ansiedade, depresso e a

perda ssea alveolar (POA). Foram utilizados Ratos Wistar (180-220g). Os animais foram divididos

em dez grupos: falso-operado (FO); EP (veculo-gua); FO e PE + venlafaxina (10 mg/kg e 50 mg/kg);

FO e PE (veculo-leo); FO e PE + vitamina E 500 mg/kg. A PE foi induzida pela insero de um fio

de sutura de nilon 3.0, em torno do segundo molar superior esquerdo, o qual permaneceu por 11 dias.

A venlafaxina (10 e 50 mg/kg) e a vitamina E (500 mg/kg) foram administradas diariamente, por via

oral, gavagem) durante nove dias. A avaliao comportamental foi realizada no 10 dia da induo da

PE pelos testes de labirinto em cruz elevado (ansiedade) e do nado forado (depresso). Os animais

foram mortos por deslocamento cervical no 11 dia da induo da PE e suas maxilas removidas, para

avaliaes posteriores. A anlise morfomtrica mostrou que os animais submetidos PE tiveram POA

significativa (p0,05). A

anlise histopatolgica mostrou infiltrado mononuclear menos acentuado no grupo submetido PE e

tratado com vitamina E, escore 2 (0-3) comparado ao grupo PE, 3 (2-3). A avaliao oxidativa foi

observada mediante mensurao da peroxidao lipdica (TBARS) e da atividade da enzima

superxido dismutase (SOD). Os animais submetidos PE apresentaram aumento significativo na

concentrao de MDA (M). O tratamento com vitamina E (500 mg/kg) inibiu esse efeito (p< 0,05).

Em relao SOD, observou-se um decrscimo da atividade nos animais submetidos PE e tratados

com vitamina E. A avaliao para TNF- e iNOS mostrou que a PE aumentou a imunomarcao de

ambos; o tratamento com vitamina E diminuiu a imunomarcaco para iNOS. A avaliao

comportamental mostrou que a PE no estava associada a ansiedade ou depresso. Nos animais

submetidos PE houve perda de massa corprea nos primeiros dias da induo da PE. Os tratamentos

com venlafaxina e vitamina E no alteraram esse resultado. A venlafaxina e a vitamina E no foram

capazes de inibir a POA. Alm disso, a venlafaxina (IRSNs) suscetvel de agravar a POA na PE,

quando usada em dose mais elevada. Ateno, tambm, deve ser dada para o uso indiscriminado de

antioxidantes. O uso de vitamina E demonstrou efeito ansiognico.

Palavras-chave: Periodontite Experimental. Antidepressivos. Vitamina E. Ansiedade. Depresso.

9

ABSTRACT

The periodontal disease is described as an inflammatory/imunological disease of multifactorial nature

that results from an interaction between pathogenic microorganisms and host defense, whose

development can be modified by local factors, systemic diseases or genetic factors. Psychosocial

events such as stress, anxiety and depression, are few factors which can contribute for the aggravation

of the clinical prognostic of many illnesses, including the chronic periodontitis, once it causes an

immunological disequilibrium, being able to increase directly the production of proinflammatory

cytokines. Oxidative stress has also been related to PD and depression, because of the damages caused

to the cellular structures and for compromising the immunological competence. In order to have a

greater insight, the present study evaluated the effects of venlafaxine, an antidepressant, and of vitamin

E, a known antioxidant, in rat model of ligature-induced experimental periodontitis (EP). The state of

anxiety, depression and alveolar bone loss were assessed. Wistar Rats (180-220g) were divided into

ten groups: false-operated (SO); EP (vehicle-water); SO and EP + venlafaxine (10 mg/kg e 50 mg/kg);

SO and EP (vehicle-oil); SO and EP + vitamin E (500 mg/kg). EP was induced by the insertion of a

nylon wire 3.0, around the second upper left molar which remained there for 11 days. Venlafaxine (10

and 50 mg/kg) and vitamin E (500 mg/kg) were administered daily, orally, during 9 days. The

behavioral evaluation was made in the 10th day of EP induction by tests of labyrinth in high cross

(anxiety) and of immobility in forced swim (depression). The animals were killed by cervical

dislocation on day-11 and their jaws removed, for later evaluations. The morphometric analysis

showed that the animals submitted to the EP had significant alveolar bone loss (ABL, p

10

LISTA DE SMBOLOS, ABREVIATURAS E SIGLAS

L Microlitros

M Micromolar

C Grau Celsius

5-HT Serotonina (5-hidroxi-indol-cido)

ABL Alveolar bone loss

ADTs Antidepressivos tricclicos

DP Doena periodontal

EO Estresse oxidativo

EP Periodontite experimental

EPM Erro-padro da mdia

EROs Espcies reativas de oxignio

FO Falso-operado

g Grama

HE Hematoxilina e eosina

IL Interleucina

IMAO Inibidores da monoamino oxidase

iNOS xido ntrico sintase induzvel

IPO ndice de perda ssea

IRSNs Inibidores seletivos da recaptao da serotonina e noradrenalina

ISRSs Inibidores seletivos da recaptao da serotonina

kg Kilograma

LAFICA Laboratrio da inflamao e do cncer

LCE Labirinto em cruz elevado

11

MDA Malonaldedo

mg Miligrama

mm Milmetro

NA Noradrenalina

NO xido ntrico

OH Radical hidroxila

PC Periodontite crnica

PD Doena periodontal

PE Periodontite experimental induzida por ligadura

PGS Postaglandinas

POA Perda ssea alveolar

RL Radicais livres

RPM Rotao por minuto

SNC Sistema nervoso central

SO Falso operado

SOD Enzima superxido-dismutase

TBARS Substncias acidorreativas tiobarbitricas

TNF- Fator de necrose tumoral alfa

UFC Universidade Federal do Cear

UI Unidade internacional

VENLA Venlafaxina

VIT E Vitamina E

12

LISTA DE FIGURAS

1 Estrutura qumica da venlafaxina: 1-2-dimetilamino-1-4-metoxifeniletil-ciclo-he-

xano. Frmula molecular C17H27NO2...................................................................

41

2 Estrutura da vitamina E: estrutura molecular dos tocoferis.................................... 44

3 Estrutura da vitamina E: estrutura molecular dos tocotrienis.................................. 44

4 (A) Fotografia do dente humano com suas estruturas, fonte: Fiorellini, Kim;

Ishikawa (2007); (B) Fotomicrografia do periodonto de dente de rato.

G: (gengiva); PA: (processo alveolar); LP: (ligamento periodontal); C: (cemento).

51

5 Fotografias da induo da PE. (A) Guia; (B) Passagem do fio de nilon; (C) N

cirrgico.....................................................................................................................

59

6 Fotografia do aparelho labirinto em cruz elevado LCE......................................... 60

7 Fotografia do teste do nado forado......................................................................... 61

8 ndice de Perda ssea IPO..................................................................................... 63

9 Aspecto macroscpico de maxilas de ratos submetidos PE e tratados com

venlafaxina. (A) FO; (B) PE; (C) PE + venlafaxina 10 mg/kg; (D) PE +

venlafaxina 50 mg/kg. A venlafaxina foi administrada (v.o, gavagem), uma hora

antes da induo da PE e, aps essa, diariamente durante nove dias. Os

grupos-controles FO e com PE foram tratados apenas com gua (v.o, gavagem).

SD (superior direita), SE (superior esquerda)...........................................................

72

10 Fotomicrografias do periodonto de ratos. Regio entre o primeiro e segundo

molares, 11 dia da induo da PE (n= 5-6). (A) FO: infiltrado celular

inflamatrio discreto, processo alveolar e cemento preservados, mostrando

gengiva (G), ligamento periodontal (LP), processo alveolar (PA), cemento (C);

(B) mostrando infiltrao celular monolinfocitria acentuada, destruio do

processo alveolar, restando apenas fragmento sseo (seta); PE + venlafaxina

(10 mg/kg), observando infiltrao celular acentuada, destruio do processo

alveolar, restando apenas fragmento sseo (C, seta). Aumento de 40x. Barra

escala 100m.............................................................................................................

76

11 Imunomarcao para TNF- (A F) e iNOS (G L) nos tecidos gengival e

periodontal de ratos, entre a regio do primeiro e segundo molares superiores

(n= 3-4). Os animais foram tratados com venlafaxina (10 mg/kg, v.o, gavagem),

uma hora antes da induo da PE e diariamente, durante nove dias. (A) Maxila

normal mostrando gengiva (G), ligamento periodontal (LP) e dentina (D)

FO + venlafaxina 10 (A, D, G e J); PE (B, E, H e K); PE + venlafaxina 10

(C, F, I e L). Aumento: 100x (A, B, C, G, H, I); 400x (D, E, F, G, J, K, L)..........

78

13

12 Aspecto macroscpico de maxilas de ratos submetidos DPE e tratados com

vitamina E: (A) FO + leo; (B) PE + leo; (C) FO + vitamina E; (D) PE +

vitamina E. A vitamina E (500 mg/kg, v.o, gavagem) foi administrada uma hora

antes da induo da PE e, aps essa, diariamente durante nove dias. SD (superior

direita); SE (superior esquerda).................................................................................

87

13 Fotomicrografias do periodonto de ratos. Regio entre o primeiro e segundo

molares. FO (A): infiltrao celular discreta, processo alveolar e cemento

preservados; mostrando gengiva (G), ligamento periodontal (LP), processo

alveolar (PA), cemento (C); PE (B): infiltrao celular monolinfocitria

acentuada, destruio do processo alveolar); PE + vitamina E; (C) infiltrao

celular moderada, reabsoro do processo alveolar. Aumento 40x. Barra escala

100m........................................................................................................................

91

14 Imunomarcao para TNF- (A F) e iNOS (G L) nos tecidos gengival e

periodontal de ratos submetidos PE, entre a regio do primeiro e segundo

molares superiores (n = 3-4). Os animais foram tratados com vitamina E

(500 mg/kg, v.o, gavagem), uma hora antes da induo da PE e diariamente,

durante 9 dias. Maxila normal mostrando gengiva (G), ligamento periodontal

(LP) e dentina (D) (A) FO (A, D, G e J); PE (B, E, H e K); PE + Vitamina E

(C, F, I e L). Aumento: 100x (A, B, C, G, H, I); 400x (D, E, F, J, K, L)..............

93

14

LISTA DE GRFICOS

1 Efeito do tratamento com venlafaxina sobre o estado depressivo na PE. Os animais

foram tratados com venlafaxina (10 e 50 mg/kg, v.o, gavagem) uma hora antes da

induo da PE e diariamente, durante nove dias. Os grupos controles FO e PE foram

tratados com gua (v.o, gavagem). Os resultados foram expressos em mdia EPM

(p > 0,05, ANOVA e Teste de Tukey).............................................................................

70

2 Efeito do tratamento com venlafaxina (venla) sobre o IPO. Os animais foram tratados

com venlafaxina (venla 10 mg/kg e 50 mg/kg, v.o, gavagem) uma hora antes e durante

nove dias, consecutivos induo da PE. Os grupos-controles FO e PE foram tratados

apenas com gua (v.o, gavagem). Os resultados foram expressos em mdia EPM

*vs FO (p < 0,001, ANOVA, Teste de Tukey), **vs PE (teste t de Student).................

74

3 Efeito do tratamento com venlafaxina sobre o estresse oxidativo na PE. Os animais

foram tratados com venlafaxina (venla 10 mg/kg, v.o, gavagem) uma hora antes e

durante nove dias, consecutivos induo da PE. Os grupos-controles FO e com PE

foram tratados apenas com gua (v.o, gavagem). Os resultados foram expressos em

mdia EPM da concentrao de malonaldedo (MDA, M) do tecido gengival

*vs FO **vs PE (p < 0,05 ANOVA, Teste de Tukey)...................................................

80

4 Efeito da venlafaxina sobre a variao da massa corprea de ratos submetidos PE.

Os animais foram tratados com venlafaxina (venla 10 mg/kg e 50 mg/kg, v.o,

gavagem) uma hora antes e durante nove dias, consecutivos induo da PE. Os

grupos-controles FO e com PE foram tratados apenas com gua (v.o, gavagem). Os

resultados foram expressos em mdia EPM da massa corprea dos animais em

*vs FO (p < 0,05, ANOVA, Teste de Tukey)................................................................

82

5 Efeito do tratamento com vitamina E sobre o estado depressivo na PE. Os animais

foram tratados com vitamina E (Vit E, 500 mg/kg, v.o, gavagem) uma hora antes da

induo da PE e diariamente, durante nove dias. Os grupos-controles FO e com PE

foram tratados com leo (veculo, v.o, gavagem). Os resultados foram expressos em

mdia EPM (ANOVA, Teste de Tukey).................................................................

85

6 Efeito do tratamento com vitamina E sobre o IPO na PE. Os animais foram tratados

com vitamina E (vit E, v.o, gavagem) uma hora antes da induo da PE e durante nove

dias consecutivos induo. Os grupos-controles FO e PE foram tratados com o

veculo da vitamina E (leo, v.o, gavagem). Os resultados foram expressos em mdia

EPM (p < 0,001, ANOVA, Teste de Tukey)..............................................................

89

7 Efeito do tratamento com vitamina E sobre o estresse oxidativo (TBARS ) na PE. Os

animais foram tratados com vitamina E (vit E) uma hora antes da induo da PE e

durante nove dias consecutivos induo. Os grupos-controles FO e PE foram

tratados com o veculo da vitamina E (leo). Os resultados foram expressos em mdia

EPM *vs FO (p < 0,01) **vs PE (p < 0,05, ANOVA e Teste de Tukey.....................

95

15

8 Efeito do tratamento com vitamina E na atividade da enzima superxido dismutase

(SOD) em homogenato de tecido gengival de ratos submetidos PE (unidades por mg

de tecido). Os animais foram tratados com vitamina E (vit E, v.o, gavagem) uma hora

antes da induo da PE e durante nove dias consecutivos induo da doena

experimental. Os grupos-controles FO e PE foram tratados com o veculo da vitamina

E (leo, v.o, gavagem). Os resultados foram expressos em mdia EPM, (p > 0,05,

ANOVA e Teste de Tukey)..........................................................................................

96

9 Efeito do tratamento com vitamina E sobre a variao da massa corprea de ratos

submetidos PE. Os animais tiveram suas massas corpreas avaliadas antes da

induo da PE e, aps essa, a cada trs dias (1-11). Os animais foram tratados com

vitamina E (vit E, v.o, gavagem) uma hora antes da induo da PE e durante nove dias

consecutivos induo da PE. Os grupos-controles FO e PE foram tratados com o

veculo da vitamina E (leo, v.o, gavagem). Os resultados foram expressos em mdia EPM *vs FO (p < 0,05, ANOVA, Teste de Tukey)....................................................

98

16

LISTA DE QUADROS

1 Grupos e tratamentos................................................................................................... 58

2 Escores........................................................................................................................ 64

17

LISTA DE TABELAS

1 Efeito do tratamento com venlafaxina sobre o estado de ansiedade na PE................ 68

2 Alteraes histopatolgicas da PE tratada com venlafaxina....................................... 76

3 Efeito do tratamento com vitamina E sobre o estado de ansiedade na PE................. 83

4 Alteraes histopatolgicas da PE tratada com vitamina E........................................ 91

18

SUMRIO

1 INTRODUO................................................................................................ 21

2 REVISO DE LITERATURA....................................................................... 24

2.1 Doena periodontal........................................................................................... 24

2.1.1 Gengivite............................................................................................................ 28

2.1.2 Periodontite crnica inflamatria PC.......................................................... 29

2.1.3 Relao entre PC e sade sistmica................................................................. 29

2.1.4 Relao entre PC e fatores psicossociais......................................................... 31

2.1.4.1 Estresse crnico.................................................................................................. 32

2.1.4.2 Ansiedade........................................................................................................... 33

2.1.4.3 Depresso............................................................................................................ 34

2.1.5 Antidepressivos, antioxidantes e PC............................................................... 43

2.2 Doena periodontal e estresse oxidativo......................................................... 45

2.3 Modelo animal para o estudo da doena periodontal.................................... 49

2.4 Mensurao da perda ssea alveolar induzida por ligadura........................ 51

2.5 Modelos para avaliao comportamental....................................................... 52

2.5.1 Ansiedade.......................................................................................................... 52

2.5.2 Depresso.......................................................................................................... 52

3 JUSTIFICATIVA............................................................................................ 54

4 OBJETIVOS..................................................................................................... 55

4.1 Geral................................................................................................................... 55

4.2 Especficos.......................................................................................................... 55

5 MATERIAIS E MTODOS............................................................................ 56

5.1 Animais.............................................................................................................. 56

19

5.2 Frmaco e antioxidante.................................................................................... 56

5.2.1 Venlafaxina cloridrato..................................................................................... 56

5.2.2 Vitamina E........................................................................................................ 57

5.3 Sedao e anestesia........................................................................................... 57

5.4 Grupos experimentais....................................................................................... 57

5.5 Desenvolvimento experimental........................................................................ 58

5.5.1 Modelo de PE induzida por ligadura em rato............................................... 58

5.6 Avaliao comportamental.............................................................................. 60

5.6.1 Labirinto em cruz elevado - teste plus maze (PELLOW et al., 1985)...... 60

5.6.2 Depresso - nado forado (PORSOLT et al., 1978)....................................... 61

5.7 Anlise da estrutura ssea alveolar................................................................. 62

5.7.1 Anlise morfomtrica....................................................................................... 62

5.7.2 Mensurao da perda ssea alveolar - POA.................................................. 62

5.7.3 Anlise histopatolgica..................................................................................... 63

5.8 Ensaio de imuno-histoqumica: TNF- e iNOS (HSU, RAINE, FANGER, 1981)...................................................................................................................

65

5.9 Avaliao do estresse oxidativo - EO.............................................................. 65

5.9.1 Determinao da peroxidao lipdica - TBARS (DRAPER; HADELY,

1990)...................................................................................................................

65

5.9.2 Dosagem da enzima superxido dismutase - SOD (BEAUCHAMP;

FRIDOVICH, 1971)..........................................................................................

66

5.10 Anlise da variao da massa corprea.......................................................... 66

6 ANLISE ESTATSTICA............................................................................... 67

7 RESULTADOS................................................................................................. 68

7.1 Avaliao comportamental............................................................................... 68

7.1.1 Efeito do tratamento com venlafaxina sobre o estado de ansiedade na PE 68

7.1.2 Efeito do tratamento com venlafaxina sobre o estado depressivo na PE..... 69

7.2 Aspecto macroscpico do tecido sseo alveolar de ratos submetidos PE

e tratados com venlafaxina..............................................................................

71

7.3 Efeito do tratamento com venlafaxina sobre o ndice de perda ssea

alveolar na PE...................................................................................................

73

20

7.4 Efeito do tratamento com venlafaxina sobre as alteraes histopatolgicas

na PE...................................................................................................................

75

7.5 Efeito do tratamento com venlafaxina na imunomarcao para TNF- e

iNOS nos tecidos gengival e periodontal de ratos submetidos PE.............

77

7.5.1 Ensaio da imuno-histoqumica para TNF-.................................................... 77

7.5.2 Ensaio da imuno-histoqumica para iNOS...................................................... 77

7.6 Efeito do tratamento com venlafaxina sobre o estresse oxidativo na PE.....

79

7.7 Efeito do tratamento com venlafaxina sobre a variao da massa

corprea na PE...................................................................................................

81

7.8 Efeito do tratamento com vitamina E sobre o estado de ansiedade na

PE........................................................................................................................

83

7.9 Efeito do tratamento com vitamina E sobre o estado depressivo na PE...... 84

7.10 Aspecto macroscpico do tecido sseo alveolar de ratos submetidos PE e

tratados com vitamina E...................................................................................

86

7.11 Efeito do tratamento com vitamina E sobre o ndice da perda ssea

alveolar na PE....................................................................................................

88

7.12 Efeito do tratamento com vitamina E sobre as alteraes histopatolgicas

na PE..................................................................................................................

90

7.13 Efeito do tratamento com vitamina E na imunomarcao para TNF- e

iNOS nos tecidos gengival e periodontal de ratos submetidos a PE..............

92

7.13.1 Ensaio da imuno-histoqumica para TNF-.................................................... 92

7.13.2 Ensaio da imuno-histoqumica para iNOS...................................................... 92

7.14 Efeito do tratamento com vitamina E sobre o estresse oxidativo na PE...... 94

7.14.1 Avaliao da peroxidao lipdica (TBARS)................................................... 94

7.14.2 Atividade da enzima superxido dismutase (SOD)......................................... 94

7.15 Efeito do tratamento com vitamina E sobre a variao de massa corprea

na PE...................................................................................................................

97

8 DISCUSSO....................................................................................................... 99

9 CONCLUSES.................................................................................................. 111

REFERNCIAS.............................................................................................................. 112

21

1 INTRODUO

A doena periodontal reconhecida como uma enfermidade de natureza

multifatorial, resultante de uma interao complexa de microorganismos patognicos e defesa

do hospedeiro, cujo desenvolvimento pode ser modificado por fatores locais, condies

sistmicas ou fatores genticos. Pode ser dividida genericamente em duas categorias

principais, as gengivites e as periodontites (ARMITAGE, 1999).

A gengivite, uma forma moderada de doena periodontal no acompanhada de

perda dos tecidos de suporte dos dentes, atinge grande nmero de indivduos em qualquer

populao. A resposta inflamatria iniciada pelo acmulo da placa bacteriana (biofilme

dental) que se forma no sulco gengival, podendo desencadear ou no a perda do periodonto de

proteo e de sustentao dos dentes (LE; THEILADE; JENSEN, 1965).

A periodontite crnica tem incio e continuidade por meio do biofilme dental,

contudo, mecanismos de defesa do hospedeiro exercem um papel decisivo na patognese e

suscetibilidade doena. O ambiente inflamatrio estimula a resposta do hospedeiro,

induzindo a liberao de mediadores qumicos, o recrutamento de clulas inflamatrias e a

ativao de osteoclastos, formando a base da destruio periodontal (ASSUMA et al., 1998).

A perda de insero clnica e sangramento a sondagem so as caractersticas mais importantes

para o seu diagnstico (SUSIN, 2007).

A periodontite agressiva compreende um grupo de formas de periodontite de

progresso rpida, raras e frequentemente graves, muitas vezes caracterizadas pela idade

precoce da manifestao clnica e uma tendncia distinta dos casos de desenvolver em uma

mesma famlia (TONETTI; MOMBELLI, 2005). Pases em desenvolvimento ou perifricos

apresentam maior ocorrncia de periodontite crnica e agressiva do que Estados

desenvolvidos (SUSIN, 2007).

Estudos relacionam condies psicossociais estresse, ansiedade e depresso com a

periodontite (VETTORE et al., 2003; BREIVIK et al., 2006; CASTRO et al., 2006), por ser

essa, na maioria das vezes, uma doena crnica, assim como a maioria das enfermidades de

22

origem da psique. A depresso, presente de modo provavelmente universal nas diversas

populaes do mundo citada como um dado agravante para o prognstico clnico de vrias

doenas (cncer, infarto agudo do miocrdio e doenas periodontais), por causar um

desequilbrio imunolgico, podendo diretamente aumentar a produo de citocinas

pr-inflamatrias e ainda diminuir a resposta imune celular, prolongando processos

infecciosos (MATTOS, 2003; RANG et al., 2004). Os transtornos de ansiedade tambm so

frequentes na populao em geral, os quais podem ser encontrados em qualquer indivduo em

determinado perodo da vida (SPIELBERGER, 1981 apud CASTRO; ALCHIERI;

OPPERMANN, 2005).

Dentre os modelos utilizados na doena periodontal para induo da perda ssea

alveolar em rato, destacam-se: o modelo de periodontite induzida por colocao de ligadura, o

qual utilizado por vrios pesquisadores (CRAWFORD; TAUBMAN; SMITH, 1978;

SALLAY et al., 1982; LIMA et al., 2000; FERNANDES et al., 2007); o modelo por

inoculao de toxinas bacterianas lipopolissacardeos (LLAVANERAS et al., 1999);

mediante a introduo de microorganismos patognicos (JORDAN; KEIS; BELLACK, 1972)

e por manipulao na dieta (ROBINSON; HART; PIGOTT, 1991; GALVO et al., 2003).

Em pesquisa periodontal, o co beagle, o primata e o rato so os mais usados para

o estudo da etiologia, patognese e terapia de doenas periodontais inflamatrias crnicas.

Entre os animais citados, o rato o mais comumente utilizado, por constituir alternativa

barata, de fcil obteno e manuseio; alm disso, existem entre esse animal e o homem

similaridades biolgica, anatmica e histopatolgica dos tecidos periodontais (KLAUSEN,

1991; SUSIN; RSING, 2002). Neste experimento, utilizou-se o rato (Rattus norvegicus,

Wistar) no modelo de periodontite induzida por colocao de ligadura (PE).

As doenas gengivais e periodontais so tratadas de maneira satisfatria por meio

do controle do biofilme dental, e os resultados desse tratamento podem ser mantidos por uma

terapia de manuteno regular. Em outros casos, a perda ssea alveolar continua mesmo com

todo o rigor no controle desse biofilme. Em tais situaes, substncias so utilizadas em

estudos experimentais de periodontite induzida em ratos (LIMA et al., 2000; MENEZES

et al., 2005) na inteno de prevenir ou inibir essa destruio, seja pela interferncia na

microbiota relacionada a esta enfermidade ou pela modulao das respostas inflamatrias e/ou

imunes do hospedeiro.

23

No contexto de que a doena periodontal pode ter efeito importante sobre a sade

geral dos indivduos, considerando que os fatores psicossociais atuam como indicadores de

risco periodontite (SUSIN, 2007) e com base nos achados de Breivik et al. (2006), em que o

uso de um antidepressivo (tianepitina) inibiu a perda ssea alveolar, este ensaio buscou

elucidar a associao entre periodontite crnica e intercorrncias sistmicas, como a

ansiedade e depresso, e se o uso de um antidepressivo (venlafaxina) inibia a destruio ssea

alveolar, ocasionada por essa doena. Assim, alm do modelo de PE (LIMA et al., 2000),

foram utilizados os modelos comportamentais de labirinto em cruz elevado, para avaliar a

ao ansioltica (PELLOW et al., 1985) e o nado forado, para avaliar o estado depressivo dos

animais (PORSOLT et al., 1978).

A vitamina E foi outra estratgia farmacolgica utilizada nesta pesquisa, em

virtude de estudos anteriores terem demonstrado o uso dessa substncia na preveno e

terapia de doenas periodontais, a qual demonstrou propriedades anti-inflamatria e

antioxidante (COHEN, MEYER, 1993; BECK et al., 1994). Adicionalmente a esse fato,

investigaes mais recentes do margem discusso sobre a relao da doena periodontal

com o estresse oxidativo (TRIANA; BERNABEU; FEBLES, 2002; GIANNOPOULO;

KRAUSE; MLLER, 2008; OHNISHI et al., 2009) de modo que a vitamina E foi utilizada

neste estudo com o objetivo de verificar seus efeitos sobre os tecidos periodontais e estresse

oxidativo, no modelo de PE.

Observa-se que h uma preocupao constante na busca para se identificar os

fatores envolvidos na etiopatogenia da doena periodontal, bem como para minimizar as

sequelas deixadas por essa enfermidade. Talvez encontrar um tratamento coadjuvante que

venha diminuir a perda ssea alveolar e a manter os resultados obtidos ps-tratamento

periodontal, via tratamento farmacolgico, possa constituir uma opo a mais para a

preveno e o tratamento dessa doena.

24

2 REVISO DE LITERATURA

2.1 Doena periodontal

A doena periodontal (DP) reconhecida como enfermidade

inflamatrio-imunolgica dos tecidos de proteo e suporte dos dentes, causadas por

microorganismos patognicos que colonizam a superfcie dentria supra ou

subgengivalmente, existindo uma interao complexa entre esses e a resposta do hospedeiro,

cujo desenvolvimento pode ser modificado por fatores locais, sistmicos ou genticos (PAGE;

BECK, 1997; KINANE; BARTOLD, 2007; MARTINS; MARTINS, 2007).

Est bem documentado na literatura o fato de que o acmulo bacteriano sobre os

dentes induz a uma resposta inflamatria nos tecidos gengivais, e que a remoo desse

depsito resulta no desaparecimento dos sinais clnicos de inflamao. Isso tornou evidente

ser a placa bacteriana o principal fator de contribuio para o surgimento da doena

periodontal (LE; THEILADE; JENSEN, 1965; GRAVES; AL-MASHAT; LIU, 2004;

GIANNOPOULOU; KRAUSE; MLLER, 2008).

A placa bacteriana exibe propriedades tpicas de um biofilme verdadeiro,

compreendido como uma comunidade cooperativa altamente organizada e estruturada, que

consiste em bactrias em uma matriz composta principalmente de polmeros extracelulares de

origem bacteriana e produtos do exudato do sulco gengival e ou saliva (COSTERTON;

STEWART; GREENBERG, 1999; MARSH, 2005).

A composio do biofilme dental difere consideravelmente entre sade e doena

periodontal. Actinomyces e Streptococcus so espcies consideradas compatveis com o

hospedeiro no estado de sade, enquanto Fusobacterium, Prevotella, Campylobacter, e

principalmente Porphyromonas gingivalis, Treponema denticola e Tannerella forsythia esto

em maiores propores nos indivduos periodontalmente comprometidos (FERES;

FIGUEIREDO, 2007).

25

A fisiopatologia da DP (periodontite) complexa. O incio e a continuidade

ocorrem a partir do biofilme dental, contudo, mecanismos de defesa do hospedeiro, exercem

papel decisivo na patognese e suscetibilidade doena. No momento em que h agresso

tecidual, o ambiente inflamatrio estimula a resposta do hospedeiro, induzindo a liberao de

vrios mediadores qumicos inflamatrios, provenientes das prprias clulas de defesa ou dos

tecidos danificados, como as citocinas, fatores de crescimento, enzimas lticas, bem como o

recrutamento de clulas inflamatrias e ativao de osteoclastos, formando a base da

destruio periodontal (GENCO, 1992; ASSUMA et al., 1998; GRAVES; COCHRAN,

2003).

As citocinas constituem um grupo de protenas solveis, que agem como

mensageiras, transmitindo sinais intercelulares e realizando numerosas aes, que incluem a

iniciao e a manuteno das respostas imune e inflamatria e a regulao do crescimento e

da diferenciao celular (KINANE; BERGLUNDH; LINDHE, 2005). Em relao resposta

inflamatria, as citocinas pr-inflamatrias interleucinas (IL-1, IL-1) e o fator de necrose

tumoral alfa (TNF-) tanto estimulam a reabsoro quanto inibem a formao ssea. O

remodelamento sseo depende de um delicado balano entre a formao ssea e a reabsoro.

A presena da IL-1 e do TNF- um fator importante que ocasiona reabsoro ssea na DP.

Foi observado que 80% do recrutamento das clulas inflamatrias e 60% da perda ssea

decorrente da periodontite podiam ser observados pelo bloqueio do TNF. Esses efeitos

decorrem da sua funo como mediador primrio na resposta inflamatria (ASSUMA et al.,

1998). Graves, Al-Mashat e Liu (2004); Lima et al. (2004) demonstraram tambm que

quando esse mediador foi inibido, houve reduo significativa da perda ssea.

As citocinas pr-inflamatrias so capazes de induzir os macrfagos e outras

clulas a produzirem grandes quantidades de prostaglandinas, tambm importantes

mediadores implicados na patognese da DP, particularmente a PGE2 (principal metablito

do cido araquidnico, podendo ser produzida pela maioria das clulas) que age sobre os

fibroblastos e osteoclastos, induzindo a produo de metaloproteinases, responsveis pela

remodelao e pela degradao dos componentes da matriz (KINANE; BERGLUNDH;

LINDHE, 2005).

O desenvolvimento e o controle de uma resposta imunolgica dependem, em

parte, da produo local de um nmero de citocinas as quais podem determinar se a resposta

26

ser protetora ou no protetora. Na avaliao periodontal, as citocinas podem ser medidas no

fluido gengival, no sangue perifrico e no prprio tecido gengival, com o objetivo de

determinar a progresso e a atividade da doena (OROZCO et al., 2007; MARTINS;

MARTINS, 2007). De acordo Van Dyke (2008), a doena periodontal inflamatria crnica

envolve vrios mecanismos para a restaurao da homeostase.

Estudos apontam para uma relao entre a produo de xido ntrico (NO) e a DP.

Hukkanen et al. (1995) salientaram que, na periodontite, a expresso xido ntrico sintase

induzvel (iNOS, enzima que sintetiza o NO a partir da L-arginina) pode apresentar diferentes

efeitos nos tecidos, os quais podem ser benficos, como atividade antimicrobiana, modulao

imunitria, inibio da trombose microvascular, bem como aumento da perfuso tecidual. Por

outro lado, os efeitos prejudiciais podem incluir uma ao citotxica em direo ao tecido,

incluindo a reabsoro ssea alveolar, em virtude do efeito estimulante do NO sobre a

atividade dos osteoclastos. Lohinai et al. (1998), em um modelo de periodontite experimental

em ratos, sugeriram que a mucosa gengival e as clulas epiteliais so capazes de induzir

iNOS. Nesse estudo, foi observado que um baixo nvel de xido ntrico pode ajudar na

homeostase local, enquanto, nveis elevados durante reaes inflamatrias podem contribuir

para danos teciduais. Em humanos, estudo de Gaspirc, Masera e Skaleric (2002) demonstrou

presena de iNOS nos tecidos gengivais inflamados de pacientes portadores de periodontite

juvenil. Mais recentemente, Leito et al. (2005) demonstraram no modelo de periodontite

experimental em ratos que a inibio da NOS induzida diminuiu a reabsoro ssea alveolar.

Os autores salientaram que esse efeito estava associado com a reduo da inflamao local.

Uma das questes ainda em debate se a prevalncia mundial da DP est

aumentando ou diminuindo. Uma resposta universal no possvel, uma vez que a

prevalncia dessa enfermidade parece variar de acordo com a raa e a regio geogrfica. Alm

disso, a qualidade dos dados disponveis oriundos de pases desenvolvidos e em

desenvolvimento no permite que eles sejam comparados com clareza (PAPAPANOU;

LINDHE, 2005).

Um estudo clssico da histria natural das doenas periodontais em uma

populao que no tinha acesso a cuidados dentrios mostrou que nem todos os indivduos

com grande quantidade de placa bacteriana, clculo dental e com gengivite desenvolveram

periodontite. Verificou-se que em 100% dos indivduos a placa bacteriana era visvel e,

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Masera%20A%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlushttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Skaleric%20U%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus

27

praticamente, todos exibiam inflamao gengival; 81% apresentavam periodontite de

progresso moderada; 8% avanada e 11% sem progresso. Os resultados mostraram que o

acmulo de placa bacteriana estava relacionado com a inflamao gengival, mas esta no

progride necessariamente para a periodontite, que, por sua vez, no somente consequncia

natural do acmulo de placa bacteriana (LE et al., 1986).

No Brasil existem poucos estudos sobre a prevalncia das doenas periodontais

em base populacional. Segundo dados do Ministrio da Sade, as doenas periodontais

apresentam elevada incidncia e prevalncia na populao brasileira com destaque especial no

Nordeste onde apenas 22% dos adultos e 8% dos idosos apresentam sade periodontal

(BRASIL, 2004). Estudo feito em Erval Velho-SC mostrou que a prevalncia da doena

periodontal foi alta e a severidade baixa; alm disso, evidenciou uma associao entre a

escovao dentria e a presena da DP. Indivduos que escovavam seus dentes menos de duas

vezes por dia ou trocavam suas escovas menos de duas vezes em um ano tiveram maior

prevalncia de DP (CROSATO; BIAZEVIC; CROSATO, 2005).

Susin (2007) enfatizou: i) gengivite atinge um grande nmero de indivduos em

qualquer populao, sendo que formas localizadas afetam quase que 100% destes, sendo raros

os que no apresentam pelo menos alguns stios com sangramento gengival; ii) uma grande

parcela da populao brasileira apresenta periodontite crnica e, sua prevalncia, extenso e

severidade aumentam significativamente com a idade e iii) um nmero importante de

adolescentes e jovens apresenta sinais iniciais de periodontite crnica, entretanto, perdas de

insero graves so pouco frequentes e afetam um nmero reduzido de dentes.

A literatura demonstra haver uma relao prxima entre periodontite, fatores

socioeconmicos e demogrficos. Ortiz Rugeles (2000), Susin et al. (2004), Borges-Yes;

Irigoyen-Camacho; Maupom (2006); Lpez e Baelum (2006) observaram que indivduos

com baixo nvel socioeconmico apresentaram maior ocorrncia de periodontite. Isto parece

ser refletido tambm na diferena entre a populao urbana e rural, com piores condies

periodontais para esta ltima (HERNNDEZ et al., 2000). Com respeito ao hbito de fumar,

indivduos fumantes mostraram condies periodontais significantemente mais graves do que

os no fumantes (SUSIN et al., 2004; CORTELLI et al., 2005; BORGES-YNES et al.,

2006). Em relao idade, mesmo com todas as diferenas metodolgicas utilizadas e

28

diferenas geogrficas, a progresso da doena periodontal pareceu ser mais evidente na

populao idosa (BORGES-YNES et al., 2006).

Levantamento realizado no Brasil mostrou que indivduos com menor

escolaridade e menor renda per capita apresentaram ndice mais elevado de periodontite.

Alm disto, foi observado tambm maior risco de periodontite entre os homens adultos

(PERES et al., 2007). Apesar dos dados epidemiolgicos indicarem alta prevalncia da DP,

no existem elementos suficientes para traar com exatido o perfil dessa doena na

populao da Amrica Latina. Talvez, isto ocorra em razo das diferenas metodolgicas

utilizadas para avaliar a presena dessa enfermidade (ARAJO; SUKEKAVA, 2007). Dados

recentes apontam para um decrscimo da prevalncia da periodontite moderada e severa nos

Estados Unidos, porm, a maioria dos estadunidenses, apresenta periodontite crnica leve e

isto torna um fator socioeconmico preocupante (COBB; WILLIAMS; GERCOVITCH,

2009).

2.1.1 Gengivite

A gengivite caracterizada como inflamao do periodonto de proteo,

decorrente do acmulo de biofilme supragengival, sem destruio dos tecidos periodontais de

suporte. A reinstituio da higiene oral resulta em condies de sade gengival e

restabelecimento da flora bacteriana original (LE; THEILADE; JENSEN, 1965). Variaes

hormonais e certos frmacos como a nifedipina e a ciclosporina podem resultar em resposta

exagerada inflamao, modificando a gengivite. Alm disso, a gengivite tambm

influenciada pelo fumo, o qual tende a reduzir a inflamao, possivelmente pelo efeito da

nicotina, causando constrio vascular perifrica, reduo do edema e diminuio do fluxo do

fluido gengival crevicular (KINANE, 2001). Embora o biofilme bacteriano seja o fator

determinante na inflamao dos tecidos periodontais, nem todos os indivduos que apresentam

gengivite iro desenvolver periodontite. A progresso da gengivite para a periodontite

fortemente determinada pelos fatores de risco do hospedeiro (KINANE; LINDHE, 2005). O

sangramento da margem da gengiva a caracterstica clnica mais importante para o

diagnstico da gengivite, entretanto mudanas na colorao e aumento de volume gengival

so achados comuns (SUSIN, 2007).

29

2.1.2 Periodontite crnica inflamatria - PC

A periodontite crnica inflamatria (PC) envolve a destruio das estruturas de

suporte dos dentes, e claramente a mais significante das doenas periodontais, porque pode

causar perda dental (HONG et al., 2004; DUMITRESCU et al., 2006; KINANE et al., 2007;

SUSIN, 2007). A sua causa est associada a um pequeno grupo de bactrias Gram-negativas

presentes nas superfcies radiculares dos dentes como biofilme. Estudo realizado por Haffajee

et al. (2004) em quatro pases, inclusive o Brasil (Rio de Janeiro), sobre o perfil da microbiota

subgengival, mostrou uma diferena marcante dessa microbiota, mesmo depois de ajustadas

variveis como a idade, a profundidade de sondagem, o sexo e o hbito de fumar, sugerindo

que a microbiota periodontal pode variar de acordo com a regio geogrfica.

Socransky et al. (1984) sugeriram que a PC evolua em episdios de exacerbao

e regresso (hiptese de exploso). Estudos mais recentes sugerem que a natureza progressiva

da periodontite crnica contnua com breves episdios de exacerbao localizada e remisso

ocasional, onde apenas alguns indivduos sofrem destruio avanada, afetando dentes

especficos. O incio do acometimento e a velocidade de progresso da doena variam entre

indivduos e, provavelmente, esto relacionados com fatores de risco genticos e ambientais

(PAGE, 1998; KINANE, 2001). Sangramento a sondagem, aumento do espao do ligamento

periodontal e reabsoro do osso alveolar constituem os sinais clnicos e radiogrficos dessa

enfermidade. Caractersticas variveis incluem recesso gengival, exposio de furca,

mobilidade e inclinao dentria aumentada. Clinicamente, a natureza progressiva da doena

s pode ser confirmada por meio de exames repetidos, mas seguramente leses sem

tratamento evoluiro (KINANE; LINDHE, 2005).

2.1.3 Relao entre PC e sade sistmica

Com a possibilidade de que as bactrias bucais e as respostas teciduais

inflamatrias decorrentes do acmulo bacteriano e/ou suas toxinas poderiam influenciar o

incio e/ou a progresso de vrios processos patolgicos sistmicos, Offenbacher et al. (1996)

empregou o termo Medicina Periodontal com a inteno de estabelecer uma relao entre

condio periodontal e sistmica. Desde ento, vrios estudos foram direcionados para o fato

de que as enfermidades periodontais poderiam ter efeitos importantes sobre a sade geral.

(BECK et al., 1998; PAGE, 1998; SCANNAPIECO; BUSH; PAJU, 2003; SCANNAPIECO,

30

2004; DAVE; BATISTA; VAN DYKE, 2004; GOLUB et al., 2006; BRUNETTI; MORAIS;

MORAIS; 2007).

Kinane et al. (2003) observaram que determinados indivduos so suscetveis

periodontite, enquanto outros so relativamente resistentes, mesmo s formas mais graves

dessa doena. Isto levou hiptese de que somente a suscetibilidade gentica do hospedeiro e

a presena de patgenos no eram suficientes para explicar o incio e a progresso dessa

enfermidade, mas, tambm, inmeros fatores de risco poderiam modular a suscetibilidade ou

a resistncia dos indivduos para doenas periodontais destrutivas.

Fator de risco significa um aspecto de estilo de vida, uma exposio ambiental, ou

uma caracterstica inata ou inerente, que, embasado na evidncia epidemiolgica, est

associado a uma determinada doena, podendo fazer parte da cadeia casual dessa e/ou

predispor o hospedeiro a desenvolv-la. Um indivduo que apresenta um ou mais fatores de

risco tem maior probabilidade de contrair a doena ou de desenvolv-la de forma mais grave.

(KINANE; LINDHE 2005). Vrios estudos evidenciaram a participao da PC como fator de

risco para doenas sistmicas, tais como cardiopatia coronariana, nascimento de bebs

prematuros com baixo peso, diabetes, doena pulmonar, infeces respiratrias, tabagismo,

raa/etnia, estresse e envelhecimento (BECK et al., 1996; OFFENEBACHER et al., 1996;

SCANNAPIECO; MYLOTTE, 1996; BECK et al., 1998; PAGE, 1998; SCANNAPIECO;

HO, 2001; SCANNAPIECO; BUSH; PAJU, 2003; PERUZZO et al., 2004, CORRA et al.,

2005; OPPERMANN et al., 2005; DEMMER; DESVARIEUX, 2006).

De acordo com Susin (2007), os microrganismos, o fumo e o diabetes so as

exposies que apresentam as maiores evidncias do seu papel como fator de risco s

periodontites, enquanto fatores demogrficos e socioeconmicos, polimorfismos genticos,

fatores psicossociais, osteopenia/osteoporose, infeco pelo HIV, obesidade e consumo

excessivo de lcool so considerados indicadores de risco, em virtude de no estar claro ainda

a existncia real de uma relao causal entre a exposio e a doena. Esses fatores precisam

ser mais estudados para que se possa confirmar ou refutar seu papel na causalidade das

doenas periodontais.

31

2.1.4 Relao entre PC e fatores psicossociais

Na DP existem estudos in anima vili e in anima nobili que ligam os fatores

psicossociais (estresse, ansiedade e depresso) e suas vias a essa enfermidade. Esses fatores,

por constiturem eventos frequentes na populao moderna atual, e por criarem condies

favorveis para o desenvolvimento de doenas, podem afetar os indivduos de formas

diferentes, dependendo da idade, do tipo do evento, da personalidade e da histria de vida de

cada um (BAKER; CROOK; SCHWABACHER, 1961; MOSS et al., 1996; BIONDI,

ZANNINO, 1997; GENCO, 1998; BREIVIK et al., 2000; VETTORE et al., 2003; PERSSON

et al., 2003; PERUZO et al., 2004; VADENAL; JORGE; SANTOS, 2004; SOLIS et al.,

2004; DOLIC et al., 2005; KLAGES; WEBER; WEHRBEIN, 2005; VETTORE et al., 2005;

SALETU et al., 2005; BREIVIK et al., 2005; CASTRO et al., 2006; DUMISTRESCU, 2006;

SEMENOFF-SEGUNDO et al., 2007).

Os mecanismos pelo quais os fatores psicossociais podem influenciar na condio

periodontal so muito discutidos e, em muitos aspectos, de compreenso difcil. Um dos

possveis mecanismos dessa influncia est relacionado com hbitos comportamentais

(modelo comportamental). Quando o indivduo se encontra com alto nvel de estresse ou com

outro evento negativo na vida, tende a negligenciar sua higiene oral, intensifica o uso do fumo

ou muda seu hbito alimentar. Todas essas mudanas refletem negativamente nas funes do

sistema imunolgico, tornando o organismo mais suscetvel aos microorganismos patognicos

(GENCO et al., 1998; BREIVIK et al., 2000; KIBAYASHI et al., 2007). Similarmente, os

indivduos sob estresse procuram menos assistncia mdica; o outro mecanismo (modelo

biolgico) est baseado na interao neuro-imune-endcrina, com uso de mediadores

qumicos e hormnios produzidos pelo organismo em situaes adversas. O estresse aumenta

a produo de cortisol pelo crtex da suprarrenal ao estimular um aumento na liberao de

adrenocorticotrpico da hipfise (GENCO et al., 1999; KLOKKEVOLD; MEALEY, 2007).

O sistema nervoso simptico e o eixo adrenal-pituitrio-hipotalmico compem o

sistema de resposta ao estresse, assim como os sistemas nervoso parassimptico e o nervoso

peptidrgico sensorial esto entre os caminhos centrais dos mecanismos regulatrios

crebro-sistema imune (HORI et al., 1995; ELENKOV et al., 2005). O sistema imune

controlado e regulado por mecanismos de comunicao bidirecionais crebro-sistema imune,

cuja ao da resposta pode ser desregulada por carga emocional (estresse) assim como por

32

outros sinais internos e externos de perigo (CHROUSOS, 2000; PAVLOV; TRACEY, 2004).

Esses caminhos imunorregulatrios controlam as respostas do sistema imune aos desafios

antignicos de maneira tal, que eles tm um papel significante no desenvolvimento e

progresso de infeces e doenas inflamatrias, inclusive a periodontite (BREVIK et al.,

2005; ELENKOV et al., 2005; BEHL et al., 2008).

2.1.4.1 Estresse crnico

Estudos relacionam o estresse crnico na progresso da DP. Marucha;

Kiecolt-Glaser; Favagehi (1998) salientaram que o estresse crnico comprometia a

capacidade de reparo dos tecidos lesados, contribuindo dessa forma, para a evoluo da

gengivite crnica para PC. Alm disso, o estresse parece induzir mudana do padro de

resposta imune dos linfcitos TH1 (relacionado com leses estveis) para TH2 (leses em

progresso), o que geralmente resulta em profunda suscetibilidade do organismo aos

microorganismos combatidos pelas defesas mediadas por clulas. Benatti et al. (2003)

observaram no modelo de periodontite experimental induzida por ligadura em ratos (PE) que

o estresse por si s no foi capaz de aumentar a destruio periodontal, mas, quando associado

ao uso da nicotina, podia aumentar os efeitos dessa destruio. Por sua vez, Susin e Rsing

(2003), usando um modelo de estresse crnico moderado, demonstraram em ratos com

periodontite induzida reduo da perda ssea alveolar (POA), no grupo ligadura associado

com estresse, comparado ao grupo somente com ligadura. Posteriormente, Benatti et al.

(2005) constataram em ratos submetidos periodontite experimental que o estresse pode

aumentar a formao de compostos sulfurados volteis (gases liberados pela cavidade oral

como resultado do metabolismo bacteriano) que em alguns casos esto relacionados com DP.

Mais recentemente, Semenoff-Segundo et al. (2007) observaram que o modelo de estresse

crnico (durante 60 dias) foi capaz de induzir maior progresso de periodontite induzida por

ligadura em ratos.

Como pode ser observado, os estudos so divergentes e, provavelmente, este

acontecimento seja consequncia das diferenas metodolgicas existentes nesse modelo, tais

como: durao, forma, variao do perodo do dia, linhagem dos animais, forma de leitura e

processamento histolgico do periodonto (SEMENOFF-SEGUNDO et al., 2007).

33

A gengivite ulcerativa necrosante (GUN) mencionada como condio

relacionada ao estresse. A prevalncia dessa doena teve seu pice na Europa durante a

Segunda Guerra Mundial e, embora a presena do biofilme na superfcie dental, associada a

um baixo padro de higiene bucal, sejam fatores determinantes para o seu surgimento, o

estresse psicolgico pode contribuir de alguma forma para o incio e desenvolvimento dessa

enfermidade (PINDBORG, 1951; FRANCO et al., 2007). Klokkevold e Mealey (2007)

salientaram, no entanto, que, mesmo com a conhecida associao entre estresse e GUN,

confirmar a conexo entre condies psicolgicas como o estresse e outras formas de doena

periodontal, como a periodontite crnica, de custosa elucidao, porque a etiologia e a

patogenia da doena periodontal so multifatoriais e o papel de fatores individuais, como o

estresse, difcil de definir. importante salientar que, embora o estresse possa predispor um

indivduo a mais destruio por periodontite, a presena de patgenos periodontais permanece

como o fator etiolgico essencial a essa doena. O estresse isoladamente no causa ou leva

periodontite - enfatizaram os autores.

2.1.4.2 Ansiedade

A resposta ao medo normal ante a estmulos ameaadores compreende vrios

componentes, destacando-se comportamento de defesa, reflexos autonmicos, despertar e

alerta, secrees de corticosteride e emoes negativas. Nos estados ansiosos, essas reaes

ocorrem de uma maneira antecipada, independentemente dos eventos externos. A distino

entre um estado ansioso patolgico e um normal no tem contornos ntidos, contudo,

representa o ponto no qual os sintomas passam a interferir com as atividades produtivas

normais (RANG et al., 2004).

A ansiedade pode ser compreendida como um estado emocional com os

componentes psicolgicos e fisiolgicos, fazendo parte das experincias humanas, passando a

ser patolgica quando desproporcional situao que a desencadeia, ou quando no existe

um objeto especfico ao qual se direcione (ANDRADE; GORENSTEIN, 2000 apud

CASTRO; ALCHIERI; OPPERMANN, 2005). A ocorrncia populacional da ansiedade varia

de 5 a 12% (ALMEIDA FILHO et al., 1992). No Brasil, existe a possibilidade de a taxa ser

mais elevada do que em outros pases, considerando condies adversas relativas a

instabilidade socioeconmica, habitao, sade e escolaridade (LIMA; LIMA; MARI, 1997).

Os distrbios clinicamente reconhecidos como transtornos de ansiedade incluem: o transtorno

34

da ansiedade generalizada; o do pnico (sendo relatadas as taxas mais significativas de

utilizao de servios de sade), fobia social, transtorno do estresse ps-traumtico, transtorno

obsessivo compulsivo e transtorno disfrico pr-menstrual. Os frmacos mais usados no

tratamento da ansiedade so os antidepressivos e os ansiolticos (ALMEIDA FILHO et al.,

1992; RANG et al., 2004).

Com o propsito de verificar a relao entre estresse e ansiedade com a

periodontite crnica, Vettore et al. (2003) avaliaram 79 indivduos. Os resultados desse estudo

mostraram que as pessoas com traos de ansiedade pareciam ser mais propensas DP.

Posteriormente, os mesmos autores (2005) verificaram a influncia do estresse e da ansiedade

na resposta ao tratamento periodontal no cirrgico. Os resultados dessa investigao

suportaram a hiptese de que os fatores psicossociais podem contribuir para a etiologia da DP,

alm de afetar o estado periodontal aps o tratamento.

2.1.4.3 Depresso

A depresso, considerada um dos transtornos psiquitricos mais comuns,

apresenta sintomatologia sutil e incio relativamente precoce. Sua causa est atribuda a

mltiplos fatores sociais, psicolgicos e profissionais, apresentando grande vulnerabilidade

gentica, sendo precipitada ou agravada por eventos negativos da vida. Fatores de ordem

gentica respondem por aproximadamente 40-50% dos riscos de desenvolver a doena.

Outros fatores no genticos trauma na infncia, estresse emocional, doenas de ordem

fsica e at mesmo infeces virais foram citados como importantes no surgimento desse

distrbio (BERTON; NESTLER, 2006).

Estudos demonstraram que essa doena pode contribuir para o agravamento do

prognstico clnico de vrias outras, por causar uma desregulao imunolgica, podendo

diretamente aumentar a produo de citocinas pr-inflamatrias, que interferem em condies

como: cncer, diabetes, cardiopatias, SIDA, artrite, doenas periodontais, podendo ainda

diminuir a resposta imune celular prolongando processos infecciosos (MATTOS, 2003).

Segundo Rang et al. (2004), os sintomas da depresso incluem componentes emocionais (falta

de motivao ou desinteresse, reduo de energia, reduo ou ausncia da capacidade de

sentir prazer na vida ou no lazer, indeciso) e componentes biolgicos (retardo de pensamento

e de ao, perda da libido, distrbio do sono e perda do apetite). Hollister (1994) classificou a

35

depresso com base na sua origem em: depresso reativa ou secundria (60% dos casos,

ocorrendo em resposta a estmulos reais como pesar e doena, entre outros); depresso

endgena (25% dos casos, em virtude de um distrbio bioqumico geneticamente

determinado, manifestado pela incapacidade de enfrentar o estresse habitual) e depresso

associada com distrbio afetivo bipolar (10-15% dos casos).

Estima-se que a prevalncia da depresso seja em torno de 16,5% - 18% da

populao, ocorrendo em ambos os sexos, sendo o feminino, principalmente na fase

reprodutiva, duas vezes mais frequente (MORENO, 2003). A prevalncia mxima da doena

se encontra nas faixas etrias de 25 a 45; aps os 75 anos de vida, parece haver uma

diminuio dessa prevalncia, provavelmente, em virtude da menor sobrevida dos indivduos

com histria pessoal de depresso. Bernik (2003) salientou que mais de 80% dos indivduos

com depresso apresentaram certo grau de ideao suicida, sendo esse o pior desfecho da

doena. Somente cerca de um tero dos deprimidos procuram tratamento e a maioria

subdiagnosticada, subtratada, prolongando o sofrimento e agravando as consequncias da

depresso (HOLLISTER, 1994; JUSTO; CALIL, 2006). De acordo com Moreno (2003), o

transtorno depressivo representar a segunda maior causa de incapacidade at 2020,

caracterizando-se como um dos maiores e mais onerosos problemas de sade pblica.

Neurotransmissores - aminas biognicas

Serotonina, noradrenalina, dopamina e acetilcolina constituem o grupo das aminas

biologicamente ativas, funcionando como neurotransmissores em sistemas cerebrais

originados do tronco cerebral. Os principais neurotransmissores relacionados com a depresso

e a ansiedade so respectivamente a serotonina e a noradrenalina (BERNIK, 2003).

A serotonina origina-se de neurnios dos ncleos da rafe no troco cerebral com

projees amplas por todo o crebro, sendo possvel interagir com outras aminas biognicas e

participar na regulao de funes psicobiolgicas fundamentais, que se encontram alteradas

na depresso, no humor, na ansiedade, cognio, dentre outras. atribudo serotonina o

papel principal de atuar como freio biolgico em uma srie de comportamentos

(agressividade, impulsividade, reaes de fuga ou luta). Assim, frmacos que aumentam a

atividade serotoninrgica central so teis no tratamento da depresso, exercendo a sua funo

mediante sistemas de receptores com diferentes mensageiros secundrios intracelulares

36

(BERNIK, 2003). Por sua vez, a noradrenalina frequentemente associada defesa e

ansiedade e praticamente a metade dos corpos celulares dos neurnios noradrenrgicos

cerebrais esto localizados no locus cerleo estrutura implicada na ansiedade (GRAEFF;

HETEM, 1997).

Neurobiologia da depresso

Ainda h muito o que se esclarecer sobre a etiologia e a fisiopatologia da

depresso, apesar do impacto que esse transtorno tem sobre a qualidade de vida de milhes de

pessoas em todo o mundo. Um dos principais problemas reside na extenso do conceito de

depresso, que engloba uma srie de categorias diagnsticas. Falta esclarecer se essas

categorias representam doenas com fisiopatologias distintas ou variantes sintomticas da

mesma condio (BERNIK, 2003).

Pelo fato dos sistemas cerebrais originados no tronco cerebral modularem a

atividade de mltiplos circuitos neuronais, foi sugerido que uma menor disponibilidade de

aminas biognicas cerebrais, em particular de serotonina, noradrelanina e dopamina, e,

consequentemente, das interaes com seus respectivos receptores, em determinadas regies

do sistema nervoso central - SNC, levaria a um distrbio afetivo como a depresso hiptese

monoaminrgica (SCHILKRAUT, 1965). Essa proposio reforada pelo conhecimento do

mecanismo de ao dos antidepressivos, que se baseia, sobretudo, no aumento da

disponibilidade desses neurotransmissores na fenda sinptica, seja pela inibio (seletiva ou

no) de suas recaptaes, seja pela inibio da enzima responsvel por suas degradaes

(inibidoras da monoaminoxidase) [(NISHIDA et al., 2002)].

Outros estudos, no entanto, confirmaram que o sistema monoaminrgico exerce

influncia modulatria, contudo, no representa a via final comum na regulao do humor.

Outros sistemas que regulam a plasticidade neuronal e sinptica tm importncia central na

neurobiologia e tratamento desse transtorno. Desta forma, alm da hiptese monoaminrgica e

de todos os seus desdobramentos (cascatas de sinalizao intracelular, modulao na

expresso dos genes) outras teorias esto sendo discutidas para um melhor entendimento da

etiologia desse transtorno de humor, como: a hiptese neuroqumica transtornos do humor

podem ser causados por alteraes estruturais e funcionais em determinada molcula do SNC;

a de redes neurais decorrentes de problemas no processamento de informaes dentro de

37

uma determinada rede neural (MANJI; DREVETS; CHARNEY, 2001; NESTLER et al.,

2002; COYLE; DUMAN, 2003) e a hiptese da participao dos sistemas endcrino e imune,

mediante mediadores qumicos e hormnios produzidos pelo organismo em situaes

adversas (GENCO et al., 1999; CASTRN; VOIKAR; RANTAMAKI, 2007).

Assim, novos neurnios continuam sendo gerados no crebro adulto de diversas

espcies de animais e que os antidepressivos atuam por meio de uma melhora gradual no

processamento das informaes dentro deste circuito neural, iniciando um processo de

autorreparao, pelo qual a plasticidade em determinadas redes neurais e neurotransmisso

colaborariam gradualmente para a melhora do humor (CASTRN, 2005). Diversos fatores

ambientais, inclusive o estresse, influenciam a proliferao de clulas hipocampais. Neste

sentido, a diminuio da neurognese induzida por estresse pode ser importante fator na

etiologia da depresso (BEKER; WOJTOWICZ, 2007).

At o momento os resultados so sugestivos de uma associao entre diminuio

de neurognese (hipocampal) e depresso. Esses resultados foram obtidos em estudos nos

quais os antidepressivos aumentaram a neurognese. Mais ainda, o efeito antidepressivo,

observado no comportamento animal, foi bloqueado pela inibio da neurognese. Alm

disso, pode-se especular que um prejuzo da neurognese preceda a depresso, aumentando a

vulnerabilidade aos fatores psicossociais ou modificando a capacidade adaptativa do

organismo ao ambiente; assim, manipulaes da neurognese no sentido de aument-la

poderiam tornar uma perspectiva a mais na busca de uma teraputica mais efetiva (SCORZA

et al., 2005).

Impacto socioeconmico da depresso

Alm dos prejuzos individuais que a depresso causa sobre a qualidade de vida

de milhes de pessoas em todo o mundo, essa doena apresenta forte impacto sobre a sade

pblica, sendo to comum como a hipertenso arterial, diabetes ou doenas pulmonares,

porm, se associa a uma limitao fsica maior, a uma maior incapacidade para o trabalho e a

um nmero superior de dias de hospitalizao (JUDD, 1995).

Um estudo de reviso sobre farmacoeconomia da depresso mostrou resultados

semelhantes em diversos pases, ou seja, o maior custo direto do tratamento da depresso

estava associado internao (entre 43% e 75% da mdia do custo por doente), enquanto os

38

custos com medicamentos variaram entre 2% a 11%. O custo do tratamento da depresso

significativamente maior que o de outras doenas crnicas como Alzheimer, cncer,

osteoporose e esquizofrenia e, por ter a depresso uma elevada tendncia recorrncia e

cronicidade, os indivduos acometidos por esse transtorno ficam incapacitados por longos

perodos de suas vidas, o que causa um grande impacto social e econmico (BERTO et al.,

2000). O comprometimento das relaes interpessoais e sociais, a perda ou diminuio de

salrios e o nmero maior de dias de licenas mdicas so fatores significativos no

comprometimento da capacidade laborativa, representando o maior custo da depresso de

acordo com a Organizao Mundial da Sade (MATTOS, 2003).

Estudos tm sido realizados para um melhor entendimento da associao entre

depresso e PC. Persson et al. (2003) demonstraram em um estudo realizado com 701 idosos,

que a depresso no estava associada com fator de risco para a periodontite, mas perda

dentria, que poderia indicar uma histria, durante um perodo de depresso e/ou com

condies crnicas associadas dor. Solis et al. (2004) investigaram se indivduos com

transtorno depressivo tinham maior probabilidade de apresentar PC. Os resultados mostraram

que a depresso no aumentou o risco para essa doena. Posteriormente, Saletu et al. (2005)

examinaram 40 indivduos (16 mulheres e 24 homens) com periodontite. Nesse estudo, foi

verificada uma relao relevante entre depresso e periodontite. Mais recentemente, Castro et

al. (2006) verificaram, em um estudo caso-controle com 165 indivduos, a associao entre

fatores psicossociais (ansiedade e depresso) e a periodontite. Os autores mostraram que no

houve associao significante entre periodontite e os fatores analisados.

A relao entre o transtorno depressivo e o resultado da terapia periodontal foi

verificada por Elter et al. (2002). Os autores examinaram 697 indivduos (12% destes com

depresso) nos anos de 1996, 1997 e 1998. Os resultados mostraram que os indivduos com

depresso tiveram resultados ps-terapia menos favorveis, em comparao com aqueles sem

depresso.

Investigando a associao entre PC e eventos psicossosiais, porm, utilizando o

modelo de PE em ratos, Breivik et al. (2005); Breivik et al. (2006); Breivik et al. (2006)

demonstraram que o estresse, a ansiedade e a depresso podem alterar as respostas do sistema

imune aos desafios antignicos e influenciar a suscetibilidade/resistncia a desordens

inflamatrias, como a periodontite. Na opinio de Peruzzo et al. (2004) os estudos

39

relacionados a fatores psicossociais so de realizao difcil, principalmente, pela dificuldade

de se quantificar e qualificar esses transtornos. Pode ser observado que situaes de enorme

dificuldade para uns pode ser facilmente tolerada por outros e isto pode modificar o processo

sade-doena periodontal. Klokkevold e Mealey (2007) enfatizaram que tanto os eventos da

vida estressantes quanto a personalidade e habilidades de enfrentamento do indivduo so

fatores a considerar na avaliao do risco de destruio pela doena periodontal e do potencial

de terapia periodontal bem-sucedida. Por sua vez, Susin (2007) enfatizou que a depresso e o

estresse so conhecidos fatores de risco para uma srie de doenas e condies na rea

mdica, entretanto, sua relao com as doenas periodontais ainda no est bem estabelecida.

Tratamento farmacolgico da depresso antidepressivos

O tratamento farmacolgico da depresso divide-se em trs fases: aguda,

continuao e manuteno. A primeira visa remisso dos sintomas depressivos no menor

tempo possvel, restaurando o funcionamento psicossocial; a fase de continuao objetiva a

preveno de recadas e recuperao do funcionamento psicossocial; e, por sua vez, a

manuteno prima pela preveno de recorrncia de novas fases depressivas (MORENO,

2003).

Os antidepressivos so um grupo heterogneo de medicamentos que aumentam o

tnus psquico, melhorando o humor e, consequentemente, a psicomotricidade. So usados na

inteno principal de levar remisso sintomtica e preveno de novos episdios de

depresso, todavia, muitos desses frmacos so eficazes tambm no tratamento de vrios

transtornos de ansiedade e em outras condies psiquitricas ou mdicas, por exemplo, a

enxaqueca. Na escolha do antidepressivo, deve-se enfatizar o uso de medicamentos com

eficcia comprovada, tolerabilidade e segurana (BERNIK, 2003).

A ao destes agentes ocorre em stios especficos no crebro e na maioria dos

casos o mecanismo de ao no bem conhecido, contudo, essas substncias influenciam a

atividade das aminas bioativas que atuam no sistema nervoso central - SNC como

neurotransmissores, particularmente a serotonina, a noradrenalina e a dopamina (BERNIK,

2003). A maioria dos frmacos com atividade antidepressiva apresenta uma caracterstica

comum de aumentar a concentrao extracelular de serotonina e noradrenalina ou

norepinefrima, mediante a inibio de suas recaptaes ou degradaes - hiptese

monoaminrgica (SCHILDKRAUT, 1965; CASTRN, 2005).

40

Os antidepressivos costumam ser classificados convencionalmente ou pela sua

estrutura qumica ou pelo seu mecanismo de ao. Os tricclicos (ADTs) e tetracclicos

formam uma das classes mais antigas, contudo, so amplamente recomendados.

Caracterizam-se por sua estrutura qumica com anis de trs ou quatro carbonos que inibem a

recaptao celular da serotonina e norepinefrina, alm de modificar a sensibilidade dos

receptores pr e ps-sinpticos, tendo como efeito final o aumento da biodisponibilidade

dessas monoaminas em diferentes reas do SNC (a imipramina considerada a substncia

padro-ouro, desse grupo); os inibidores da monoamino oxidase (IMAO), os quais aumentam

os nveis de catecolaminas, so citados como frmacos relativamente isentos de efeitos

colaterais, se comparados aos ADTs, sendo disponvel no Brasil apenas a tranilcipromina. As

mais recentes geraes de antidepressivos incluem os inibidores seletivos da recaptao da

serotonina - ISRSs (fluoxetina, paroxetina, citalopram) e os inibidores seletivos da recaptao

da serotonina (5-HT) e da noradrenalina (NA) - IRSNs (venlafaxina, duloxetina) [(BERNIK,

2003; VENLAFAXINA, 2008)].

Estudos recentes demonstram um efeito dos ISRSs, e da depresso sobre a

densidade ssea mineral. Os transportadores de serotonina esto localizados nos SNC e

perifrico, incluindo osso. Os ISRSs parecem ter efeito em ambos. No SNC, esses

medicamentos aumentam os nveis extracelulares de serotonina, aliviando os sintomas da

depresso. No metabolismo sseo, a natureza bioqumica especfica de vias serotoninrgicas e

seus efeitos diretos e/ou indiretos ainda no esto bem esclarecidos (HANEY; WARDEN;

BLIZIOTES, 2009). Estudos sugerem que o 5-HT influencia as clulas sseas levando

reduo da formao ssea pelo aumento na liberao de prostaglandina E2, pela inibio da

liberao de xido ntrico (WESTBROEK et al., 2001), ou ainda pela diminuio da

proliferao dos osteoblastos (YADAV et al., 2008). Por sua vez, a depresso pode induzir

perda ssea e fraturas osteoporticas, principalmente, via mecanismos especficos

imunolgico e endcrino (CIZZA; PRIMMA; CSAKO, 2009).

Venlafaxina um antidepressivo com uma estrutura qumica diferente da dos

triciclicos clssicos, tetracclicos e outros agentes antidepressivos conhecidos. uma

feniletilamina bicclica e quimicamente denomina-se 1-2 dimetilamino-1-4-meto-

xifeniletilciclohexano (VENLAFAXINA, 2008). Figura 1.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Duloxetina

41

Figura 1- Estrutura qumica da venlafaxina: 1-2-dimetilamino-1-4-metoxifeniletil-ciclo-he-

xano. Frmula molecular C17H27NO2.

Fonte: winkimedia.org/wiki/venlafaxina

A venlafaxina um potente e ativo inibidor da recaptao de aminas no neurnio

pr-sinptico e, alm de inibir a recaptao da serotonina age sobre a noradrenalina e, em

menor grau sobre a recaptao da dopamina (FEIGHNER, 1994; ROCKVILLE, 1994;

LEMKE, 2007). No gera efeitos significativos no nvel autnomo, nem anticolinrgicos,

hipnossedativos ou cardiovasculares (BERNIK, 2003; VENLAFAXINA, 2008). Seu

mecanismo de ao lembra o de outros antidepressivos conhecidos (fluoxetina, paroxetina), j

que est diretamente associado potencializao da atividade neurotransmissora no SNC.

absorvida oralmente, atingindo o pico plasmtico em duas horas aps a ingesto e o equilbrio

plasmtico em trs dias, apresentando baixa ligao com protenas (FEIGHNER, 1994;

CORDIOLI et al., 2000).

De Oliveira et al. (2004) avaliaram em ratas os efeitos da venlafaxina na

ansiedade, depresso, massa corporal e nveis de monoaminas produzidos pela privao do

sono (REMs). Os resultados desse estudo mostraram que os efeitos provocados pela privao

do sono (ansiedade, depresso e perda de peso) podem ser revertidos pelo tratamento com

esse frmaco, provavelmente, pela interferncia dos sistemas dopaminrgico ou

serotonrgico.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e8/Venlafaxine-2D-skeletal.pnghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e8/Venlafaxine-2D-skeletal.png

42

Os efeitos analgsico, anti-inflamatrio e antioxidante dos antidepressivos so

motivo de investigao. Kubera et al. (2004) salientaram que a atividade teraputica dos

antidepressivos estava ligada ao seu efeito modulatrio sobre o sistema de resposta

inflamatria e imunidade mediada por clulas. Nesse estudo, os autores mostraram o efeito

estimulatrio de antidepresivos, como, a imipramina, fluoxetina e a venlafaxina na produo

de IL-6, citocina envolvida com a reabsoro ssea, cujos nveis variam consideravelmente

com fatores psicossociais (ansiedade e estresse), com a idade e a condio da doena

(TIPTON et al., 2003). Gultekin e Almedow (2006) analisaram a atividade analgsica da

venlafaxina e observaram que esse efeito era particularmente mediado pelo sistema opide.

Baseado nesses resultados, os autores sugeriram o uso de analgsicos opides com a

venlafaxina no tratamento de dor severa como a do cncer. O efeito anti-inflamatrio da

venlafaxina foi observado por Vollmar et al. (2008) em um modelo de cultura de clula. Os

dados desse estudo indicaram claramente que as propriedades anti-inflamatrias da

venlafaxina poderiam ser resultantes da imunomodulao mediada pela monoamina, e isso

poderia expressar um novo carter na relao entre neuroinflamao e outros processos

patognicos do SNC. Posteriormente, Vollmar et al. (2009) mostraram em ratos no modelo

experimental de encefalite autoimune (modelo de esclerose mltipla), propriedades

imunomoduladoras da venlafaxina.

Em relao ao efeito antioxidante dos antidepressivos, estudos realizados em ratos

por Eren et al. (2007); Zafir e Banu (2007) demonstraram que tanto a venlafaxina como a

fluoxetine apresentaram efeitos antioxidantes. Recentemente, Kumar e Garg (2008)

verificaram que o tratamento com venlafaxina causou restaurao da glutationa e da atividade

da catalase, atenuou o aumento da peroxidao lipdica e os nveis de nitrito, mostrando um

potencial papel dessa substncia contra prejuzos oxidativos.

A eficcia clnica da venlafaxina testada em indivduos severamente deprimidos,

em indivduos com perfil melanclico de depresso, depresso geritrica, em depresses

acompanhadas de ansiedade, depresso refratria, deficit de ateno e hiperatividade

(FEIGHNER, 1994; LECRUBIER et al., 1997; FEIGHNER et al., 1998; KELLER et al.,

2007; NIERENBERG et al., 1994; IBOR et al., 2008; STAHL; AHMED; HAUDIQUET,

2007). Os efeitos adversos mais comuns incluem nusea, sonolncia, insnia, ansiedade e

secura da boca, mas em geral, a tolerncia clnica ao frmaco boa e a incidncia desses

efeitos baixa (3%) [(VENLAFAXINA, 2008)].

43

Muitas vezes a psicofarmacologia deve ser complementada por abordagens

psicossociais, enfocando os funcionamentos sociais, ocupacionais e vocacionais. No existe o

antidepressivo ideal, e a indicao de um ou de outro como primeira escolha para o incio do

tratamento depender das caractersticas do paciente e do perfil de efeitos colaterais mais

tolerveis por esse (BERNIK, 2003). A prtica do exerccio fsico aerbio no tratamento da

depresso foi observada por Dunn et al. (2005). Os autores enfatizaram que uma das possveis

explicaes para essa eficcia seja o aumento da neurognese dos indivduos.

2.1.5 Antidepressivos, antioxidantes e PC

Diversas substncias so utilizadas em pesqu