3
A Ao decidir-se por investir na cafei- cultura, não basta apenas adquirir áreas de terra e abraçar uma muda de café. O cafeicultor, seja iniciante ou experiente, deve estar atento às medidas necessá- rias e benéficas para sua lavoura. Diante das encruzilhadas, saber trilhar o cami- nho do bem é fundamental para a saúde dos cafezais. A desatenção em alguns dos aspec- tos pode, inclusive, comprometer a qualidade e a produtividade da safra. De acordo com o pesquisador Gerson Silva Giomo, do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas (SP), da Secretaria de Agri- cultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o desempenho agronômico e tecnológico da lavoura cafeeira depende de diversos fatores. Entre eles estão as características intrínsecas das cultivares de café e o ambiente de produção, in- cluindo aspectos edafoclimáticos e todo o sistema de manejo da lavoura e de processamento pós-colheita. Para isso, um bom planejamento de todas as etapas de produção é necessário. A escolha das cultivares, a forma de mane- jo das plantas e os métodos de colheita e de processamento devem estar alinhados com os objetivos de produtividade e de qualidade do café. “O produtor deve ter em mente o que deseja produzir e qual mercado pretende atender. A partir disso, e de acordo com a sua capacidade de in- vestimento, estabelece os planos de traba- lho na propriedade”, afirma Giomo. NA TRILHA DO sucesso A primeira etapa na qual o produtor deve estar atento é o pré-plantio. Nessa fase, são escolhidos as cultivares e o local onde elas serão alocadas dentro da propriedade. Para isso, são importantes as informações sobre tipo de solo, topografia do terreno e posicionamento dos talhões, entre outros. O pesquisador Gerson Giomo, do IAC, explica que em uma mesma propriedade devem ser utilizadas várias cultivares, mesclando ciclos diferenciados de maturação dos frutos. A prática impede que ela ocorra de forma concentrada e se transforme em problema, tanto de colheita quanto de pós-colheita. “O auge da qualidade da bebida do café é obtido com a colheita de frutos maduros (cere- jas). Quanto maior for a quantidade desses frutos no momento da colheita, maior é a chance de obter cafés com qualidade superior”, explica. Em seguida, no plantio, a escolha criteriosa dos espaçamentos e o preparo adequado de solo, com a devida correção e adubação, são fatores de grande importância para o sucesso da lavoura. Nesse período, o cafeicultor precisa estar atento, entre outros itens, à origem das sementes e das mudas, visto que o café é uma cultura perene e produzirá frutos por muitos anos.

Na trilha do sucesso

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Na trilha do sucesso

AAo decidir-se por investir na cafei-cultura, não basta apenas adquirir áreas de terra e abraçar uma muda de café. O cafeicultor, seja iniciante ou experiente, deve estar atento às medidas necessá-rias e benéficas para sua lavoura. Diante das encruzilhadas, saber trilhar o cami-nho do bem é fundamental para a saúde dos cafezais.

A desatenção em alguns dos aspec-tos pode, inclusive, comprometer a qualidade e a produtividade da safra. De

acordo com o pesquisador Gerson Silva Giomo, do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas (SP), da Secretaria de Agri-cultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o desempenho agronômico e tecnológico da lavoura cafeeira depende de diversos fatores. Entre eles estão as características intrínsecas das cultivares de café e o ambiente de produção, in-cluindo aspectos edafoclimáticos e todo o sistema de manejo da lavoura e de processamento pós-colheita.

Para isso, um bom planejamento de todas as etapas de produção é necessário. A escolha das cultivares, a forma de mane-jo das plantas e os métodos de colheita e de processamento devem estar alinhados com os objetivos de produtividade e de qualidade do café. “O produtor deve ter em mente o que deseja produzir e qual mercado pretende atender. A partir disso, e de acordo com a sua capacidade de in-vestimento, estabelece os planos de traba-lho na propriedade”, afirma Giomo.

NA TRILHA DOsucesso

A primeira etapa na qual o produtor deve estar atento é o pré-plantio. Nessa fase, são escolhidos as cultivares e o local onde elas serão alocadas dentro da propriedade. Para isso, são importantes as informações sobre tipo de solo, topografia do terreno e posicionamento dos talhões, entre outros.

O pesquisador Gerson Giomo, do IAC, explica que em uma mesma propriedade devem ser utilizadas várias cultivares, mesclando ciclos diferenciados de maturação dos frutos. A prática impede que ela ocorra de forma concentrada e se transforme em problema, tanto de colheita quanto de pós-colheita.

“O auge da qualidade da bebida do café é obtido com a colheita de frutos maduros (cere-jas). Quanto maior for a quantidade desses frutos no momento da colheita, maior é a chance de obter cafés com qualidade superior”, explica.

Em seguida, no plantio, a escolha criteriosa dos espaçamentos e o preparo adequado de solo, com a devida correção e adubação, são fatores de grande importância para o sucesso da lavoura. Nesse período, o cafeicultor precisa estar atento, entre outros itens, à origem das sementes e das mudas, visto que o café é uma cultura perene e produzirá frutos por muitos anos.

Page 2: Na trilha do sucesso

IIf the decision leans towards investing

in coffee farming, just acquiring rural areas

and seeking coffee cultivars is not enough.

Coffee farmers, whether newcomers or experi-

enced growers, should remain focused on the

measures that are necessary and beneficial

to their fields. When it comes to life’s turning

points, taking the right track is a fundamen-

tal step towards healthy coffee plantations.

The lack of attention regarding some

aspects in the process, could jeopardize the

quality and productivity of the crop. Ac-

cording to researcher Gerson Silva Giomo,

of the Agronomic Institute (IAC), based in

Campinas (SP), a division of the São Paulo

State Secretariat of Agriculture, Livestock and

Supply, the agronomic and technological per-

formance of a coffee field depend on a series

of variables. They include the intrinsic traits

of the cultivars and the production environ-

ment, including edapho-climatic aspects,

from the entire field management system to

post-harvest processing operations.

To this end, there is need for careful plan-

ning of all the necessary production stages.

The selection of cultivars, the manner the

plants are managed and the harvesting and

processing procedures should be aligned

with the productivity and quality targets

of the coffee crop. The farmers must bear

in mind what they want to produce and

which market they want to serve. Taking

this as a basic step, and in line with their

investment capacity, they are in a position

to establish the working plan for the farm”,

Giomo comments.

trackON THE RIGHT

From pre-planting to post harvest, different factors need to be respected

Sílv

io Á

vila

Page 3: Na trilha do sucesso

A etapa de manejo, por sua vez, inclui, principalmente, a aplicação de fertilizantes, o controle fitossanitário e de plantas daninhas, a irrigação e as podas, sempre com o objetivo de manter o cafeeiro nas melhores condições fisiológicas e sanitárias.

Como menciona Gerson Giomo, do IAC, o manejo da lavoura é feito de acordo com o nível tecnológico do cafeicultor, podendo ser mais ou menos intensivo, dependendo das características e da capacidade de investimento de cada propriedade. “Sempre deve ser respeitada a fenologia do cafeeiro, ajustando os momentos de cada operação agrícola, em conformidade com as necessidades das plantas”, pontua.

No momento da colheita, o produtor deve planejá-la observando o ciclo de maturação dos frutos e a capacidade operacional de colheita e pós-colheita. Após o recolhimento dos frutos maduros, o processamento e a secagem devem ocorrer no mesmo dia. “Portanto, para obtenção de lotes de melhor qualidade, o cafeicultor deve colher diariamente somente a quantidade que conseguirá processar no mesmo dia”, explica Giomo.

Por fim, na pós-colheita, recomenda-se um bom dimensionamento das estruturas e dos equipamentos, principalmente quanto às áreas de terreiro e ao tamanho de secadores. Se-gundo o pesquisador, cada cafeicultor deve encontrar a melhor forma de produzir café respeitando as individualidades dos diversos sistemas de produção existentes no Brasil. “Produtividade e qualidade não são fatores concorrentes. Eles se complementam”, afirma.

The cultural practices phase, in turn, includes, in particular, the application of fertil-

izers, phytosanitary e weed controls, irrigation and pruning, always aimed at keeping the

coffee trees in excellent physiological and sanitary conditions.

IAC official Gerson Giomo maintains that field management is in accordance with

the farmer’s technological level, and could be more or less intensive, depending on the

characteristics and the investment capacity of the farm. “Variations in coffee tree phenol-

ogy must always be respected, and the moments of every agricultural operation should be

adjusted in compliance with plant needs”, he comments.

Harvest operations should be adjusted in accordance with the maturation stage of the cher-

ries and the harvest and post-harvest operational capacity. After the mature cherries have been

picked, processing and drying should follow immediately. “Therefore, if high quality batches

are to be obtained, farmers should pick only the amounts that can be processed on the same

day”, Giomo warns. Finally, at post-harvest, the structures and equipment should have the right

dimensions, especially with regard to the terraces and size of the drying equipment. According

to the researcher, it is up to every farmer to come up with the best manner to produce coffee,

respecting the individualities of the various production systems in Brazil. “Productivity and

quality are not competing factors. They complement each other”, he argues.

The first step farmers must be very careful about is everything related to pre-planting. During this phase, the cultivars are chosen and

the exact location they are to occupy on the farm. This requires relevant information regarding the type of soils, topography of the area,

and position of the rows, among others.

IAC researcher Gerson Giomo explains that several cultivars should be used in the same farm, mingling different maturation cycles

of the cherries. In practical terms, harvesting operations should never be concentrated in the same period of time, as it would give rise

to problems, either at harvest or at post-harvest.

“A beverage of maximum quality is only obtained from beans harvested at the exactly recommended maturation period. The bibber

the number of mature cherries at harvest, the bigger the chances for superior quality coffees”, he explains.

At planting, carefully calculated spaces between rows and appropriate soil preparation, with fertilization in line with soil correction

needs, are factors that play a relevant role in a successful crop. Within this period, farmers must be very cautious with regard to such

variables as the origin of the seeds or seedlings, once coffee is a perennial crop, supposed to yield cherries for years to come.