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1 Naufrágio Controlado do Navio Oceanográfico Prof. W. Besnard na Região Costeira de Ilhabela (SP) Proposta Técnica-Comercial PTC - 250517

Naufrágio Controlado do Navio Oceanográfico Prof. W ... 1968 e 1974, foi realizado o Projeto GEDIP I e II, Pesquisa Oceanográfica e Pesqueira do Atlântico Sul, entre Torres (RS)

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Naufrágio Controlado do

Navio Oceanográfico Prof. W. Besnard

na Região Costeira de Ilhabela (SP)

Proposta Técnica-Comercial

PTC - 250517

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IDENTIFICAÇÃO

PROJETO: Naufrágio Controlado do N/Oc Prof Wladimir Besnard na Região

Costeira de Ilhabela.

DOCUMENTO: Proposta Técnica Comercial – PTC 250517

DATA: 25 de maio de 2017

INTERESSADO:

Prefeitura Municipal de Ilhabela

Márcio Tenório

Prefeito de Ilhabela

PROPONENTE:

Fundação para Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia - FDTE

Rua Catequese, 227 - 3º andar – Butantã - SP

CEP: 05502-020

Fone: (11) 99274-2790

Contato: Roberto Ávila Bernardes

Gerente Técnico-Científico de Projetos

E-mail: [email protected]

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A FDTE

A FDTE é uma fundação de direito privado, independente e sem fins

lucrativos, criada para apoio às atividades e projetos desenvolvidos para o mercado

com tecnologia oriunda da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Suas

receitas próprias são todas provenientes dos contratantes públicos e privados, e

parte expressiva dos seus recursos é destinada à doação de serviços e

equipamentos à POLI.

A despeito da independência orgânica entre a FDTE e a EPUSP, vários ex-

diretores da POLI participam do Conselho Curador da FDTE, ajudando, assim, a dar

diretrizes que estreitem a relação de apoio entre as entidades. Pode-se dizer que a

POLI é a razão de ser da FDTE.

Apesar do grande número de projetos com a Escola Politécnica, a FDTE tem

autorização - e desenvolve projetos - com várias outras unidades da Universidade

de São Paulo, entre as quais o Instituto de Química, a FAU - Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo, o Instituto de Eletrotécnica da USP, a Marinha do Brasil, e,

ainda, diretamente, com empresas como INFRAERO, Vale, Petrobrás, Furnas, AES

Eletropaulo, Thyssen-Krupp, entre outras.

Além das instâncias próprias como Conselhos Fiscal e Curador, a FDTE é

também auditada pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, por conta do

convênio firmado com a Universidade de São Paulo, e pelo Ministério Público,

através da Curadoria de Fundações, submetendo às duas Instituições anualmente

seus relatórios de atividades e demonstrativos fiscais, contábeis e financeiros.

Ao permitir a utilização, pela sociedade, da tecnologia desenvolvida por

pesquisadores e docentes da POLI, a FDTE também estimula a permanência destes

nas atividades de pesquisa e ensino, o que multiplica o conhecimento para novas

gerações de engenheiros.

Para atender demandas de projetos na área marinha, a FDTE pode contar

com a colaboração de técnicos da FUNDESPA, e especialistas de diversas áreas do

conhecimento do Instituto Oceanográfico e de Instituições da USP, UNIFESP,

UNISANTA entre outras. Além de empresas de consultoria e de prestação de

serviços técnicos específicos.

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N/Oc. Prof. Wladimir Besnard

...”instrumento de trabalho fundamental para qualquer instituição que se empenha em pesquisar o mar com finalidades práticas ou científicas é uma embarcação especialmente planejada e equipada para esse fim: o navio oceanográfico”

Prof. Wladimir Besnard, 23 de fevereiro de 1959, diretor do IOUSP.

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SUMÁRIO

1. HISTÓRICO DO NAVIO ......................................................................................... 6

2. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 13

4. JUSTIFICATIVAS ................................................................................................. 16

5. OBJETIVOS ......................................................................................................... 17

6. ÁREA DE LOCALIZAÇÃO DO PROJETO ............................................................ 18

7. METODOLOGIA DE TRABALHO ......................................................................... 19

8. RELEVÂNCIA DO PROJETO ............................................................................... 25

9. BENEFÍCIOS DO PROJETO ................................................................................ 26

10. EQUIPE TÉCNICA ............................................................................................. 27

11. CUSTO, PRODUTOS E PRAZOS ...................................................................... 27

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111... HHHIIISSSTTTÓÓÓRRRIIICCCOOO DDDOOO NNNAAAVVVIIIOOO

O nome do navio do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo

(IOUSP) é uma homenagem ao fundador e diretor do instituto por 14 anos, professor

Wladimir Besnard, que faleceu, em 11 de agosto de 1960, antes de o navio chegar

ao Brasil. Desde o início, o professor defendeu a idéia da necessidade de o instituto

contar com uma embarcação com autonomia suficiente para navegar em águas

profundas. O planejamento para a aquisição de um navio iniciou 12 anos após a

criação do Instituto. Em 1958, coube ao professor islandês Ingvar Emilsson, chefe

da seção de Oceanografia Física do IOUSP, fazer os contatos na esfera política em

busca de recursos.

Desde o início, fora decidido que o navio oceanográfico teria dupla finalidade.

Serviria para pesquisas oceanográficas e para pesca experimental. Em função

disso, deveria contar com modernas instalações de navegação e equipamentos de

ponta como radar, radiogoniômetro, agulhas giroscópicas, piloto automático,

ecobatímetro. No convés principal, deveria ter instalações para permitir o manejo,

lançamento e recuperação de equipamentos de pesca, como guinchos para rede de

arrasto, guinchos hidrográficos e porão frigorífico com capacidade para armazenar

25 toneladas.

O projeto preliminar do navio foi encomendado do Escritório Técnico de

Construção Naval da Escola Politécnica da USP pelo próprio Besnard. Sob a

supervisão do almirante Yapery Tupiassu de Britto Guerra, a tarefa coube a alunos

do quinto ano como trabalho de conclusão da primeira turma de engenheiros navais

da POLI, formada em 1959. Por indicação da FAO, foi contratado o engenheiro

norueguês Hans Zimmer para examinar o projeto.

Em 1962, foi aberta a consulta pública para aquisição do navio, a partir da

qual foi escolhido o estaleiro A/S Mjellem Karlsen de Bergen, na Noruega, a quem

coube o projeto final da embarcação. O navio foi então adquirido pelo governo do

Estado de São Paulo, através da USP.

Em 18 de agosto de 1966, pouco mais de dois anos depois de assinado o

contrato de construção, o casco do navio oceanográfico foi lançado ao mar. E no

ano seguinte, em 5 de maio de 1967, já pronto, o navio foi batizado com o nome de

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Professor Wladimir Besnard, o homem cuja persistência foi fundamental para dar

vida ao projeto.

A viagem do navio para o Brasil representou a primeira expedição científica,

denominada de Vikindio, anagrama derivado da junção das palavras Viking

(guerreiro Noruegueses) e Indio (povo nativo do Brasil). O navio partiu da cidade de

Bergen em 10 de junho de 1967 e aportou em Santos em 9 de agosto cercado de

muita expectativa e festa. Foram realizados estudos na costa africana a partir de

coleta de amostras de água e de plancton, de dados oceanográficos, da fauna

bentônica na plataforma e sondagem de peixes, entre outras atividades. Desta

expedição participaram pesquisadores brasileiros e noruegueses.

De 31 de maio de 1967, quando fez a viagem inaugural para testes, até 20 de

abril de 2006, o N/Oc Prof. Besnard navegou 3.099 dias. Durante os primeiros 23

anos, o navio navegou sem interrupções. Em abril de 1989 foi para a primeira

reforma, só voltando a navegar em novembro de 1991. As obras custaram Cr$80

milhões, recurso esse proveniente da Secretaria da Comissão interministerial para

os Recursos do mar (SeCirm); da Secretaria de Ciência e Tecnologia, atual

Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), do CNPq e da Companhia de Seguros do

Estado de São Paulo (COSESP).

Entre 1968 e 1974, foi realizado o Projeto GEDIP I e II, Pesquisa

Oceanográfica e Pesqueira do Atlântico Sul, entre Torres (RS) e Maldonado

(Uruguai), cuja proposta foi realizar o levantamento do potencial pesqueiro da

plataforma continental. Esta expedição foi considerada um marco, porque, pela

primeira vez o navio foi contratado pelo governo do Rio Grande do Sul para um

estudo multidisciplinar. O projeto se repetiu na região Sudeste com o FAUNEC

(Fauna nectônica da Plataforma Continental Brasileira) financiada pelo NNPq. Os

especialistas consideram que os dois projetos foram os embriões de estudos mais

abrangentes. Ao todo foram 173 dias de mar.

De 1972 a 1974 foi desenvolvido o Projeto REMAC, Reconhecimento Global

da Margem Continental Brasileira, considerado um dos mais extensos e importantes

trabalhos sobre geologia e geofísica. O estudo gerou uma série de mapas sobre o

fundo marinho até então inéditos no país. A partir do qual, durante 221 dias de

navegação, foi possível coletar informações importantes sobre as estruturas

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geológicas rasas e profundas, além da localização de áreas potenciais para

exploração de petróleo. Foi coordenado pela petrobras, com participação do

Departamento Nacional da Produção Mineral, da Companhia de Pesquisa de

Recursos Minerais, da DHN e do CNPq. Participaram também o Woods Hole

Oceanographic Institution e o Lamont-Doherty Geological Observatory ndos EUA, e

o Centre National pour l’Exploration des Océan (CNEXO), da França.

Entre 1972 e 1980, foi desenvolvido o Projeto Ciências do Mar, com

financiamento da Organização dos Estados Americanos (OEA). O projeto realizou

importantes estudos nas diferentes áreas da oceanografia, o qual exigiu a compra

de equipamentos para o navio.

De 1982 a 1988 o navio participou intensivamente do Programa Antártico

Brasileiro (PROANTAR). Os trabalhos desenvolvidos nas 6 expedições ao

continente gelado pelos pesquisadores a bordo do Besnard viabilizaram a

participação do Brasil como membro pleno do Conselho Consultivo do Tratado da

Antártica, do SCAR (Scientific Commitee on Antartic), do SIBEX (Second

International Biomass Experiment), e do BIOMASS (Biological Investigation of

Marine Antartic System and Stock).

De 1982 a 1980 o navio foi utilizado em diversas pesquisas multidisciplinares

orientadas pelo Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM) e financiadas

principalmente pela SeCIRM.

De 1992 a 1998 foi desenvolvido um dos mais ambiciosos projetos

oceanográficos, o COROAS (Circulação Oceânica da Região Oeste do Atlântico

Sul), visando avaliar a produtividade primária no Oceano Atlântico. Foi um projeto

temático financiado pela FAPESP (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São

Paulo) e pelo CNPq. Dele participaram pesquisadores do IOUSP, INPE e FURG. O

projeto incluiu cruzeiros na costa de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul, totalizando 125 dias de mar.

Entre janeiro de 1996 e dezembro de 2006 o Besnard participou do Programa

REVIZEE (Avaliação do Potencial Sustentável dos Recursos Vivos da Zona

Econômica Exclusiva), considerado o programa mais inovador e ousado, e marco na

pesquisa oceanográfica. Participaram 57 laboratórios de diversas universidades do

Sul e do Sudeste do país, reunindo cerca de 398 pessoas, entre pesquisadores,

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bolsistas e estagiários. Foi coletada grande quantidade dados de batimetria,

amostras do fundo oceânico, em 10 cruzeiros num total de 77 dias de mar. O

programa contou com recursos do Ministério do Meio Ambiente, CNPq, IBAMA,

FEMAR e Petrobras.

No período de fevereiro de 2001 a maio de 2004, o Besnard realizou 30

campanhas científicas para o Projeto DEPROAS, Dinâmica do Ecossistema de

Plataforma da Região Oeste do Atlântico Sul, totalizando 305 dias de mar. O objetivo

deste projeto foi estudar os mecanismos físicos que possibilitam a penetração da

ACAS (Água Central do Atlântico Sul), massa de água que aflora nas proximidades

da costa, na chamada zona de ressurgência de Cabo Frio e avaliar o impacto desta

nos processos biológicos dos ecossistemas. A região de estudo abrangeu do Cabo

de São Tomé até São Sebastião. O DEPROAS contou com financiamento do

PRONEX, FINEP e CNPq. Participaram pesquisadores do IOUSP, INPE, da UESC e

do IEAPM.

Entre janeiro de 2005 e junho de 2007, o Besnard participou do projeto

ECOSAN, cujo objetivo foi avaliar a influência do Complexo estuarino da Baixada

Santista sobre o ecossistema da plataforma adjacente netre São sebastião e

Peruíbe. Foram realizadas 18 campanhas científicas com o Besnard com

financiamento da FAPESP e CNPq. O projeto mobilizou cerca de 50 pesquisadores

do IOUSP.

De 2005 a 2008, o Besnard participou do projeto PRO-ABROLHOS na região

da Bahia, coordenado pelo IOUSP e com a participação de 13 instituições de

pesquisa. O projeto teve como objetivo investigar o funcionamento e a manutenção

do ecossistema marinho sobre o Banco de Abrolhos, avaliando as possíveis

variações e propor o gerenciamento racional de seus recursos biológicos. Os

recursos foram destinados pelo CNPq através do Programa Institutos do Milênio.

Em 2008, durante uma campanha oceanográfica, o navio sofreu incêndio na

Baía da Guanabara, quando assim, encerrou suas atividades.

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CARACTERÍSTICAS DO NAVIO

Deslocamento: 575 toneladas métricas (leve) e 674 toneladas métricas (carregado).

Dimensões: 49,35m de comprimento, 9,33 m de boca e 4,20 m de calado

(carregado).

Propulsão: 1 motor principal à diesel MCP Deutz TBD 616 V16; 2 motores de

centro auxiliares MCA MAN W6V17.5/22A.

Combustível: 88 toneladas.

Eletricidade: geradores NEBB de 125 KVA, tipo WAD 700/10C; 1 gerador de

emergência MAN.

Velocidade: máxima de 12.5 nós; 11 nós de cruzeiro.

Raio de Ação: 15 dias de autonomia.

Sensores de Navegação: ecobatímetro FURUNO; radar FURUNO; radar Sperry;

radar Raytheon; GPS FURUNO; GPS Koden; agulha giroscópica

Sperry; registrado de rumo.

Comunicação: transceptor FURUNO; sistema INMARSAT B; VHF, sistema

GMDSS/INMARSAT C, FURUNO.

Equipamentos: 2 câmaras frigoríficas de rancho; 3 câmaras frigoríficas para

pesquisa; 4 guinchos; 2 guindaste articulado MUNCK.

Tripulação: 37, sendo 22 tripulantes e 15 pesquisadores.

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222... IIINNNTTTRRROOODDDUUUÇÇÇÃÃÃOOO

As pressões humanas sobre os recursos costeiros estão se acelerando e,

face ao seu valor econômico e ecológico, a proteção marinha é de fundamental

importância. Desde 1992 se constata o incremento de ações predatórias sobre a

maioria dos ecossistemas litorâneos. Calcula-se que cerca de 90% do pescado

capturado é obtido em regiões costeiras e ao longo das plataformas continentais.

Entretanto, verifica-se que 70 % dos estoques pesqueiros já estão sobre-explorados

ou mesmo esgotados. A pesca industrial é altamente perdulária: na captura mundial

de 85 milhões de toneladas de peixes ao ano, são descartadas rotineiramente, no

mínimo, 20 milhões de toneladas de espécies da fauna acompanhante, indesejadas

por falta de interesse econômico.

Desde a Rio-92 os cientistas reconhecem que a pesca predatória é a causa

principal do colapso dos ecossistemas marinhos em muitas regiões. A matança de

dos peixes tem uma ampla gama de efeitos. Além de levar algumas populações à

beira da extinção comercial – ponto em que não vale mais à pena tentar pescá-la,

são eliminados importantes componentes da cadeia alimentar. Isto afeta o equilíbrio

ecológico, alterando as relações presa-predador, a diversidade genética e a

capacidade de reprodução das espécies, além de causar a captura de indivíduos

jovens e outros organismos de níveis tróficos mais baixos.

A pesca de arrasto de fundo pode deixar sulcos de mais de 6 m de largura e

15 cm de profundidade do substrato marinho, numa extensão de vários kilometros.

Os impactos do arrasto-de-fundo implicam na remoção das espécies-alvo e na

modificação da sua estrutura populacional; alterações nas populações de espécies

não-alvo e de organismos bentônicos; perturbações físicas e químicas no ambiente

(degradação dos fundos marinhos, redução da disponibilidade de nutrientes); e nas

relações tróficas. Estima-se que a área já arrastada do substrato marinho

corresponda a algo entre 50 e 75% da superfície total disponível nas plataformas

continentais.

Além de causar danos ao substrato e à biodiversidade marinha, a pesca

industrial de arrasto estabelece uma competição desleal com o pescador de

pequeno porte, artesanal, retirando de forma bastante expressiva os recursos

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costeiros que abastecem as comunidades tradicionais e muitas vezes danificando os

petrechos da pesca artesanal.

Diante desse quadro de degradação e de conflito de uso de áreas e de

recursos, faz-se urgente a tomada de medidas de proteção e recuperação do

ecossistema marinho e de seus estoques.

Habitats ou recifes artificiais há muitos anos vêem sendo amplamente

utilizados como ferramenta no auxílio ao ordenamento das atividades pesqueiras em

vários países e, recentemente, no Brasil (desde a década de 80). Devido ao seu uso

como estrutura de manejo da pesca e de conservação marinha, os recifes artificiais

vêem solidificando a sua importância como uma alternativa para a gestão dos

recursos costeiros, ordenamento de espaços marinhos e na facilitação das ações de

fiscalização, pois inibe a ação da pesca predatória em áreas selecionadas. Tais

locais, sob a proteção dos recifes, têm garantido a manutenção dos ciclos de vida de

suas espécies, o recrutamento e conseqüentemente a manutenção dos recursos

pesqueiros.

O litoral norte do Estado de São Paulo apresenta condições adequadas para

a instalação de recifes artificiais em sua plataforma, e fortes demandas para

proteção e recuperação da fauna marinha degradada e dos estoques pesqueiros. Os

benefícios oriundos uso dos recifes extrapolam os segmentos ambientais, na medida

em que aumentam a produtividade pesqueira, oferecem alternativas aos pescadores

artesanais, incrementam o turismo e o comércio, e geram empregos e renda para as

comunidades litorâneas.

Este projeto tem como meta realizar o naufrágio controlado do Navio

Oceanográfico Prof Wladimir Besnard para criação de um recife artificial com a

estrutura do navio, de modo a promover e incrementar o turismo e o comércio no

Município de Ilhabela (SP), criar novos empregos diretos e indiretos, gerar renda e

implementar programas de educação ambiental.

Acredita-se que tal iniciativa irá preservar a importante história deste navio de

contribuição do para a pesquisa oceanográfica no Brasil na medida em que sua

estrutura irá constituir um laboratório vivo para pesquisa sobre o ecossistema

marinha.

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333... FFFUUUNNNDDDAAAMMMEEENNNTTTAAAÇÇÇÃÃÃOOO TTTEEEÓÓÓRRRIIICCCAAA

O conceito de recife artificial define um conjunto de atividades que visa à

remodelagem do ecossistema marinho com a oferta de novos habitats. A

comunidade biológica que coloniza estruturas submersas artificialmente, como

pilares de piers, colunas e fundações de plataformas de petróleo, cascos de navios,

estruturas de concreto é semelhante à de substratos naturais rochosos do

infralitoral.

A ocorrência de algumas espécies de organismos marinhos na região costeira

está intimamente associada à presença de fundos consolidados, utilizados como

abrigos de predadores, áreas de crescimento, reprodução e alimentação. Assim

como as algas, que liberam esporos para a colonização dos fundos marinhos,

espécies da fauna produzem ovos e larvas que são dispersos na coluna d’água e

colonizam superfícies disponíveis no substrato oceânico. Desta forma, qualquer

novo substrato, com características favoráveis ao assentamento larval e em

ambientes adequados, é ocupado rapidamente por organismos que irão incrementar

a cadeia trófica local.

Os recifes artificiais têm sido considerados ferramentas para a recuperação

de ambientes degradados, para promover aumento da produtividade biológica de

áreas pouco produtivas e conseqüentemente para melhorar a produção pesqueira

(Bohnsack & Sutherland, 1985; Sheehy, 1986). O uso destas estruturas atrai

modalidades de pesca mais seletivas e sustentáveis, garantindo a sobrevivência dos

indivíduos jovens e a reprodução dos adultos (Paxton & Stevenson, 1979; Mottet,

1981; Vik, 1982; Buckley, 1982; Grove & Sonu, 1983) e ao mesmo tempo servem de

obstáculo à pesca predatória de arrasto de fundo.

Espaços oceânicos com pouca produtividade biológica podem ser

transformados em verdadeiros oásis, com elevada diversidade e biomassa,

melhorando a produtividade biológica e favorecendo a pesca de uma ampla região.

Nos Estados Unidos, o primeiro habitat artificial foi criado em 1830 no Estado

da Carolina do Norte, utilizando-se copas de árvores (USFWS, 1997). O

Departamento de Parques e da Vida Selvagem do Estado do Texas (Texas Parks

and Wildlife Department) desde 1940desenvolve um programa de recifes artificiais.

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Hoje, cerca de 2.000 recifes artificiais estão instalados nas águas do Estado do

Texas (Dale Shively, comunicação pessoal).

São muitas as experiências de naufrágio controlado com sucesso. O Canadá,

através da Artificial Reef Society of British Columbia (ARSBC), utilizou os Destroyers

Polares EX-HMV Mackenzie, entre outros, como recifes artificiais para desenvolver

o turismo subaquático e proteger áreas marinhas. Somente o naufrágio EX-

Mackenzie, gerou para a Província da Colúmbia Britânica o equivalente a US$ 3,5

milhões em operações turísticas de mergulho e pesca esportiva. Além disso, o

governo da Província sugere que o recife tenha gerado um retorno significativo em

termos de conservação de áreas naturais que vinham sofrendo impactos devido ao

mal uso pelos mergulhadores e pescadores (Milon et al, 2000). Na Flórida o

afundamento do navio EX-USS Spiegel Grove em 2002, gerou US$7 milhões e

mais de 68 empregos diretos em um ano; em 2006 a Marinha Americana afundou o

porta aviões Oriskany, de 294 m de comprimento, na costa Pensacola. Na

Califórnia o afundamento do navio EX-HMV Yukon em 2002 gerou US$2 milhões e

73 empregos diretos no primeiro ano. Na Austrália, o naufrágio controlado do HMAS

Adelaide injetou U$9 milhões na economia local no 1º ano, com isto o governo vem

promovendo o afundamento de outros 5 navios.

A utilização de estruturas navais como recifes artificiais, desde que

desenvolvidas com base em critérios técnico-científicos, é uma ferramenta

excepcionalmente eficaz de gestão ambiental e de desenvolvimento turístico. Em

primeiro lugar porque se pode dar um destino útil para algumas estruturas

descomissionadas ou abandonadas nos portos, que representam grandes riscos

ambientais e de segurança à navegação. Em segundo lugar, estas estruturas,

quando criteriosamente preparadas, transformam-se em habitats produtivos com

importância ecológica, social e econômica. Países como os Estados Unidos, Canadá

e Austrália, com grande expertise no desenvolvimento da indústria turística, já, há

mais de uma década, entenderam que os benefícios ambientais, sociais e

econômicos oriundos dos naufrágios controlados são bastante expressivos e de

retorno em curto prazo.

No Brasil, a primeira iniciativa de desenvolvimento de processos técnicos e

legais no alijamento de navios da Marinha do Brasil, considerando as premissas de

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Convenção de Londres de 1972 e compatíveis com as orientações do “Protocolo

96”, com a Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário (Lei no 9.537, de 1997) foi a

utilização do ex-NH Orion H-32 como um recife artificial marinho no litoral do Rio de

Janeiro, em 2003.

O lançamento de duas barcaças de 77 metros de comprimento no Estado do

Paraná (2000), do navio Victory 8B no Espírito Santo (2003), de 7 rebocadores

(2004-2006) e 4 embarcações (2017) em Pernambuco e o do citado navio Orion

trouxeram experiências novas para o Brasil. Embora poucos projetos tenham sido

realizados até o momento, os resultados têm demonstrando serem uma ferramenta

poderosa para recuperar a fauna marinha degradada e desenvolver o turismo nas

regiões costeiras.

O principal fator que estimula a atração das espécies é a estrutura física das

embarcações que fornece novos habitats, atraindo os peixes com sua arquitetura

irregular, com fendas, túneis, cavernas fechadas, substratos das mais diversas

texturas e angulações. A aceitação deste tipo de material como habitat artificial,

deve-se a sua complexidade, tamanho e durabilidade no ambiente marinho. Além

disso, os materiais liberados pela oxidação destas estruturas, principalmente os

ricos em íons ferro, são aproveitados pelas algas marinhas no processo da

fotossíntese, podendo assim incrementar a produtividade primária.

Resultados de pesquisas por dois anos realizadas em Portugal em recifes

artificiais evidenciaram que: (i) houve aumento na comunidade bêntica; (ii) o

conteúdo em carbono orgânico e nitrogênio aumentou quatro vezes; (iii) nutrientes e

clorofila a na água foram mais elevados que na área controle. Após dois anos, os

compostos orgânicos e inorgânicos na água próximo ao substrato estavam de 30–

60% mais elevados, enfatizando os processos de remineralização bêntica do

sedimento. Mudanças químicas marcantes no ecossistema foram observadas,

destacando a importância de estruturas artificiais na estruturação da biota marinha.

Portanto, alterações na diversidade dos organismos também são previstas, uma vez

que a presença de um maior número de predadores, principalmente de peixes

zooplanctófagos irá consumir as espécies mais abundantes, alterando a

equitabilidade, ou seja, a distribuição dos indivíduos por espécies e desta forma

alterando o índice de diversidade. Vários estudos comprovam que cascos de

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embarcações afundados em plataformas continentais tornam-se, na maioria dos

casos, ambientes produtivos, contribuindo para a criação de áreas ecológicas,

atividades de mergulho e pesca artesanal, sendo, inclusive, utilizadas por entidades

ambientalistas como o “Greenpeace”. Os recifes artificiais constituem uma forma

alternativa para incrementar a produtividade pesqueira, uma vez que criados,

tornam-se maioria dos casos habitats produtivos, além de representarem

verdadeiros laboratórios in situ, onde vários aspectos da ictiofauna e da fauna

incrustante podem ser analisados para melhor compreender o papel dessas

estruturas em ambientes aquáticos.

444... JJJUUUSSSTTTIIIFFFIIICCCAAATTTIIIVVVAAASSS

A atividade de mergulho recreativo no estado de São Paulo vem diminuindo

nos últimos anos devido à redução de locais atrativos e à saturação dos pontos de

mergulho existentes, fazendo com que o turista se desloque para o estado do Rio de

Janeiro (Paraty e Angra dos Reis) e de Pernambuco (Recife, “capital dos

naufrágios”) para prática desta atividade. A criação de novos atrativos para o

mergulho representa hoje a melhor estratégia para otimizar o potencial turístico de

Ilhabela, melhor o comércio e gerar empregos e renda no município.

Esta proposta cumprirá simultaneamente o papel de proteção da

biodiversidade marinha contra a pesca predatória, de recuperação e aumento da

produtividade biológica da região costeira de Ilhabela, desenvolvimento do turismo,

criação de novos empregos diretos e indiretos e consequentemente geração de

renda para a população, e educação ambiental com programas específicos nas

escolas da rede pública sobre a temática da conservação dos ecossistemas

marinhos.

Este projeto é resultado de uma demanda apresentada pela comunidade do

município de Ilhabela, debatida em diferentes instâncias e vislumbrando a vocação

turística desta região.

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555... OOOBBBJJJEEETTTIIIVVVOOOSSS

Esta proposta tem como objetivo principal realizar os estudos e ações

necessárias para o licenciamento ambiental, planejamento e coordenação das

atividades para o naufrágio controlado do Navio Oceanográfico Professor Wladimir

Besnard, visando o desenvolvimento do turismo no litoral de Ilhabela.

Como objetivos específicos, pretende desenvolver as seguintes atividades:

� Diagnóstico ambiental para licenciamento do Parque dos Naufrágios de Ilhabela;

� Plano de adequação e de posicionamento do navio para colonização pela biota

marinha e para o turismo de mergulho;

� Coordenação e acompanhamento das atividades da empresa responsável pela

limpeza, transporte e afundamento controlado do navio;

� Vistoria subaquática do navio após naufrágio.

Esta iniciativa, a exemplo de muitos naufrágios realizados em outros países,

constitui uma homenagem e uma forma de preservar a memória deste navio, tendo

em vista sua importante contribuição à pesquisa oceanográfica no país, na medida

em que ele servirá como laboratório vivo para desenvolvimento de pesquisa

científica e de preservação ambiental da biota marinha.

Como resultado desta iniciativa, espera-se a proteção e o enriquecimento da

biodiversidade marinha local e, consequentemente, um significativo incremento no

turismo subaquático, com geração de empregos e de renda para a população e

setores relacionados do comércio, além de servir como um instrumento inovador

para desenvolvimento de programas de educação ambiental e de capacitação de

professores para a rede pública dos diversos municípios do litoral de São Paulo.

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666... ÁÁÁRRREEEAAA DDDEEE LLLOOOCCCAAALLLIIIZZZAAAÇÇÇÃÃÃOOO DDDOOO PPPRRROOOJJJEEETTTOOO

A área de localização do projeto compreende a região costeira ao norte do

Município de Ilhabela, próximo à Praia da Serraria (vide mapa abaixo).

A escolha do local para desenvolvimento do projeto teve como critérios: a

demanda da comunidade face às características geomorfológicas e de qualidade de

água, a profundidade, os tipos de sedimentos e os tipos de uso do espaço marinho.

Local escolhido para o afundamento da embarcação no litoral norte de São Paulo, próximo à Praia da Serraria (30 m de profundidade).

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777... MMMEEETTTOOODDDOOOLLLOOOGGGIIIAAA DDDEEE TTTRRRAAABBBAAALLLHHHOOO

O projeto deverá desenvolvido em 4 etapas, descritas a seguir:

Etapa 1: Diagnóstico ambiental do local escolhido:

A caracterização ambiental abrange os seguintes estudos, os quais são

apontados na Instrução Normativa nº22 de julho de 2009 do IBAMA para o

licenciamento ambiental de recifes artificiais:

1. Batimetria e Imageamento do substrato marinho: será realizada a caraterização

morfológica e sedimentológica do leito marinho de modo a identificar o local com

melhores características para receber o navio.

2. Parâmetros Físico-Químicos: perfis verticais de Temperatura, Salinidade,

Turbidez e Oxigênio, além da Transparência da água. Os parâmetros são obtidos in

situ por sensores acoplados a sonda multiparâmetros tipo CTD (Conductivity-

Temperature-Depth). Transparência (em metros) será estimada da medição in situ

da profundidade de visualização máxima de disco de Secchi.

3. Circulação: regime das correntes marinhas. Serão amostrados os perfis verticais

(em vários níveis) de corrente (direção e velocidade) a partir de um correntômetro

acústico tipo Doppler, que será fundeado na área em questão durante

aproximadamente 15 dias (abrangendo um período de marés de sizígia e

quadratura), no inverno e verão.

4. Sedimentologia: Granulometria e Carbono Orgânico. Amostras de sedimento

serão coletadas com auxílio de pegador tipo van Veen. Na análise serão utilizados

os métodos de peneiramento e pipetagem, obtendo-se a partir daí os parâmetros de

Folk & Ward (1957), além das freqüências em peso de grânulos, areias, siltes e

argilas.

5. Produtividade biológica: Análise da concentração de Clorofila a e fito e

zooplancton. Serão coletadas amostras de água e de plâncton no inverno e verão.

6. Macrofauna bêntica: Análise da estrutura das comunidades associadas aos

sedimentos. Amostras de sedimento serão coletadas com auxílio de pegador tipo

van Veen. As amostras de sedimento, com a macrofauna nele existente, serão

peneiradas em malhas de 1 e de 0,5 mm. Os animais retidos serão coletados e

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fixados em álcool 70%. Nos laboratórios serão triados e enviados para especialistas

para identificação e análise.

7. Ictiofauna: Diagnóstico qualitativo e quantitativo das comunidades de peixes

demersais que ocorrem na região. A amostragem será realizada por redes de

arrasto convencionais. Os exemplares capturados serão preservados para posterior

triagem, contagem, biometria e identificação em laboratório.

8. Atividade Pesqueira: Caracterização da atividade pesqueira artesanal na região,

comunidades pesqueiras, tipos de artes de pesca utilizadas, espécies alvos,

produtividade pesqueira por comunidade.

Etapa 2: Preparação e limpeza da embarcação por empresa especializada:

Para esta etapa deverá ser contratada uma empresa especializada e

habilitada para todas as atividades que envolvem a preparação, a descontaminação

da embarcação para o afundamento e destinação dos resíduos sólidos oriundos da

limpeza.

Os estudos existentes sobre recifes artificiais marinhos demonstram que

estas estruturas, sejam para utilização em conservação ambiental, para o

incremento da produção pesqueira ou para o turismo, devem ser projetadas e

adequadas como habitats. O desenho das unidades e dos sistemas recifais, ou a

adequação de estruturas aproveitadas como habitats, devem ser planejados para

beneficiar espécies de interesse (Seaman, 1996b; Ruzafa, 1996). Os habitats

artificiais devem refletir as necessidades do ambiente físico para estas espécies,

sem deixar de atentar para as características dos usuários que explorarão este novo

habitat.

Para o aproveitamento do navio, vários processos devem ser implementados,

de maneira a atender as especificações de um habitat marinho e evitar riscos de

gerar impactos negativos nas áreas adjacentes ao lançamento. Uma das maiores

preocupações no preparo do casco esta relacionada com a limpeza e

descontaminação do casco, uma vez que esse tipo de estrutura possui

componentes, como tanques de óleo diesel, tanques de óleos lubrificantes, motores,

entre outros materiais contaminados, que oferecem riscos ao meio ambiente.

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Após a remoção dos materiais indesejados, o casco, composto de material

ferroso, não oferece nenhum risco de contaminação ambiental, pois os materiais

dissolvidos provenientes da oxidação da estrutura são liberados aos poucos, durante

muitos anos, e aproveitados por microalgas nos processos de fotossíntese (USFWS,

1997).

Os procedimentos de adequação de um navio como recife artificial têm como

principais processos: (1) a limpeza, a retirada de material de oportunidade com valor

histórico ou técnico, que possa ser reutilizado com seu propósito original, retirada de

produtos indesejados, tais como materiais recicláveis, resíduos inertes inadequados

como substrato primário ou habitat, resíduos perigosos, e o acondicionamento

destes materiais; (2) a descontaminação, que envolve a aplicação de processos e

técnicas para a remoção máxima de óleos, graxas e outros contaminantes; (3) o

planejamento para a adequação da embarcação como habitat artificial, envolvendo a

abertura de passagens para a circulação interna da água, o acesso da fauna e flora,

abertura de cavidades para a proteção/abrigo de espécies de interesse e aberturas

de penetração de luz; (4) o planejamento para a preparação da embarcação para

atividades de mergulho de monitoramento e visitação pública, considerando

aspectos de segurança e operacionais.

Etapa 3: Afundamento da embarcação por empresa especializada::

Nesta etapa deverá ser executado um plano de transporte, afundamento da

embarcação. O preparo para o lançamento do navio consiste em 3 operações

distintas que propiciarão uma dinâmica adequada para o assentamento seguro da

embarcação no local planejado. Estas operações são citadas em ordem de

execução e são: (1) a abertura de passagens para o fluxo de ar do interior do casco

para o ambiente externo; (2) a abertura de passagens internas para o fluxo de água

no sentido proa-popa, e; (3) a abertura de passagens de água abaixo da linha de

flutuação do navio.

As aberturas de passagens de ar são planejadas para propiciar o

esgotamento do ar interno evitando-se a formação de bolsões de flutuação que irão

desestabilizar o navio durante o afundamento. Além do problema de estabilidade, a

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presença de bolsões de ar irá retardar o afundamento, aumentando a exposição do

casco aos tensores ambientais (ventos, ondas e correnteza).

As várias aberturas para a adequação do navio como habitat, as passagens

de luz e as passagens de mergulho irão servir para a circulação de água e fuga de

ar, porém outras aberturas específicas deverão ser feitas no casco. Passagens entre

boreste e bombordo também deverão ser abertas, permitindo que a água do mar

flua sem impedimentos entre as laterais, evitando o alagamento de um dos bordos

antes que o outro.

Algumas aberturas complementares deverão estar planejadas e

operacionalizadas após a retirada dos componentes e resíduos do casco.

A obtenção de aprovação do plano de derrota e especificações técnicas do

reboque será feita junto à Autoridade Naval local. O reboque deverá ser efetuado

por um rebocador classe alto-mar e será acompanhado por pelo menos duas

embarcações de apoio. As condições meteorológicas e aspectos sobre a segurança

à navegação serão avaliados constantemente. A derrota de navegação do porto de

origem até o ponto de lançamento, assim como os aspectos de cautela à

navegação, será informada através de aviso rádio e de publicação em aviso aos

navegantes.

A escolha das profundidades para o naufrágio teve como critérios cuidados

com a navegação e com os processos de circulação costeira, de forma a evitar

colisão com embarcações e mudanças no padrão de deposição de sedimentos.

Etapa 4: Monitoramento da estrutura e da biota:

Esta etapa consiste de atividades de acompanhamento e avaliação, de

acordo com um plano pré-estabelecido, por um período mínimo de 12 meses. Este

período é importante para que seja verificado o comportamento da estrutura do

navio e da comunidade biológica no transcorrer das estações do ano e dos vários

fenômenos meteo-oceanográficos de natureza recorrente ou esporádica.

Vale aqui ressaltar, que o litoral do Estado está sujeito a grande incidência de

frentes frias, provocando elevada turbulência e agitação do mar, o que pode

impossibilitar temporariamente, qualquer atividade de navegação ou mergulho.

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Neste caso, as atividades de monitoramento subaquático deverão ser suspensas até

melhoria das condições climáticas.

Todos os peixes que durante este período de tempo se encontrar dentro da

área estipulada serão contados fazendo assim parte da amostragem. Para as

espécies de peixes que ocorrem em cardumes o número de indivíduos existentes

será estimado segundo o método proposto por Blaxter & Hunter (1982) para peixes

clupeídeos, no qual através do volume do cardume é possível chegar ao número

aproximado de indivíduos que o compõem. Para a estimativa do volume usar-se-á a

estrutura mais próxima do cardume como parâmetro de comparação.

Durante o censo visual os peixes serão identificados, até o menor nível

taxonômico possível, e contados, sendo estes dados posteriormente registrados em

um banco de dados para posteriores análises.

Além dos peixes, serão monitoradas as presenças de invertebrados,

destacando-se crustáceos, anelídeos, moluscos, algas, esponjas e equinodermas,

segundo método de censo visual de varredura ativa, com o exame dos recifes e

registro quantitativo e qualitativo das espécies bem como da área de cobertura

ocupada pelos organismos nas estruturas.

Os organismos incrustantes serão identificados no local e, quando

necessário, em laboratório sob estereomicroscópio, sendo registradas suas

superfícies de cobertura, número de indivíduos (organismos de organização colonial

serão registrados como sendo um indivíduo) e condições de desenvolvimento.

Para a estimativa da abundância e biomassa de peixes e crustáceos nos

recifes, serão colocadas armadilhas próximas as estruturas, sendo o material

capturado, identificado, pesado, medido e determinado o sexo, assim como o

estádio de maturação gonadal dos mesmos. Estas informações são importantes

para caracterizar a comunidade presente na estrutura e informar quanto à atividade

reprodutiva das espécies residentes nas estruturas.

Todos esses procedimentos serão acompanhados de registros fotográficos e

de filmagens em vídeo, os quais auxiliaram na identificação das espécies animais e

vegetais existentes nos recifes. Além disso, esse material será utilizado para

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ilustração de relatórios e para a divulgação dos resultados junto às comunidades e

órgãos públicos.

Como descritores das condições oceanográficas locais, durante os dias de

amostragem, ao longo dos 12 meses de monitoramento, serão registrados dados

sobre a temperatura e salinidade da água, direção e intensidade das correntes

marinhas de fundo e taxa de sedimentação das estruturas.

O plano de manejo dos recifes será elaborado a partir dos resultados obtidos

no monitoramento. Medidas como época de defeso e comprimento mínimo de

captura serão respeitadas de acordo com legislação já existente.

Como os recifes não se destinam à exploração comercial de recursos

pesqueiros, não será permitida a pesca no naufrágio. Será desenvolvido um plano

sócio-participativo para a inserção das comunidades locais nas atividades de

gerenciamento e manejo dos recifes artificiais, o que irá permitir a fiscalização e a

conscientização dos usuários sobre a importância da preservação do ecossistema

costeiro.

Após concluído o projeto as atividades de monitoramento e manejo serão

conduzidas pela comunidade com apoio da prefeitura e operadoras de mergulho do

Município.

Concomitante ao projeto será desenvolvido com a comunidade, cursos de

capacitação e de reciclagem na temática do uso sustentável dos recursos

ambientais. O público-alvo será, principalmente, o jovem e os professores do ensino

público. No final de cada ano serão promovidos workshops para avaliação dos

resultados, debates e identificação de problemas e demandas das comunidades.

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888... RRREEELLLEEEVVVÂÂÂNNNCCCIIIAAA DDDOOO PPPRRROOOJJJEEETTTOOO

O projeto tem relevância cultural, ecológica e sócio-econômica, uma vez que

se destina a preservar a história do N/Oc Prof W. Besnard, a proteger a

biodiversidade marinha da pesca predatória, desenvolver o turismo, gerar empregos

e renda para a população do Município de Ilhabela.

No que se refere à gestão ambiental e sócio-econômica da zona costeira e do

espaço marinho, o projeto atende várias Políticas Públicas. O uso de recifes

artificiais como ferramenta de gestão pesqueira constam (i) do IV Plano Setorial para

os Recursos do Mar da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, (ii) da

Política Nacional de Ciência e Tecnologia Marinha do MCT, e (iii) do Código de

Conduta para Pesca Responsável (ONU, 1995).

O projeto representa uma alternativa tecnológica de proteção do habitat

marinho e da comunidade biológica associada, contra a pesca predatória. Além

disso, de acordo com o PRONABIO as áreas de plataforma rasa do Estado de São

Paulo são consideradas de extrema importância biológica (MMA, 2002) e, portanto,

prioritárias para a conservação da biodiversidade marinha.

N/Oc Prof Wladimir Besnard em pesquisa na costa de Santa Catarina.

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999... BBBEEENNNEEEFFFÍÍÍCCCIIIOOOSSS DDDOOO PPPRRROOOJJJEEETTTOOO

Cultural

• Resgate e divulgação da história do navio;

• Preservação da memória do navio.

• Homenagem à contribuição para a pesquisa oceanográfica no Brasil;

Sócio-econômicos

• Geração de empregos diretos e indiretos no Município;

• Multiplicação de negócios locais;

• Crescimento da base de impostos do município;

• Aumento de renda para a população;

• Incremento da produtividade pesqueira na região.

Ambientais

• Recuperação da biodiversidade local;

• Redução da pressão sobre outros locais já utilizados para o mergulho;

• Proteção da biota contra a pesca de arrasto;

Científicos

• Nova base para pesquisas oceanográficas e biológicas;

• Objeto para novos estudos - teses e dissertações em Oceanografia e

Biologia Marinha.

Políticos

• Destino ecologicamente correto para um passivo ambiental;

• Atende a uma importante demanda no estado de São Paulo;

• Grande repercussão, visibilidade e pioneirismo no estado;

• Está de acordo com Código de Conduta para Pesca Responsável –

ONU, 1995 e Agenda 21;

• Está de acordo com o Plano Setorial para Recursos do Mar – PSRM VI

/ CIRM / Marinha do Brasil.

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111000... EEEQQQUUUIIIPPPEEE TTTÉÉÉCCCNNNIIICCCAAA

A equipe técnica e científica responsável pelo projeto será constituída de

profissionais com ampla experiência no desenvolvimento de atividades ligadas à

área de conhecimento do projeto e de monitoramento e educação ambiental.

Além da equipe principal, para realizar os estudos e diagnósticos ambientais e

acompanhar a preparação e afundamento do navio, o projeto contará com

pesquisadores de diversas áreas do Instituto Oceanográfico da Universidade de São

Paulo e de Universidades de Santos, dando oportunidade para formação de alunos

de graduação dos diversos cursos e instituições.

111111... CCCUUUSSSTTTOOO,,, PPPRRROOODDDUUUTTTOOOSSS EEE PPPRRRAAAZZZOOOSSS

Os custos aqui apresentados referem-se às atividades descritas na etapa 1 –

Diagnóstico ambiental do local de afundamento do navio e o planejamento,

coordenação e acompanhamento do naufrágio controlado, e incluem despesas

diretas e indiretas, como pró labore dos consultores.

A tabela abaixo mostra os custos por atividade:

Custo

1 Diagnóstico ambiental do parque dos naufrágios R$ 286.000,00

2 Planejamento para adequação e posicionamento do navio R$ 20.000,00

3 Coordenação do afundamento junto à empresa responsável pela limpeza do navio R$ 24.000,00

4 Despesas de viagem para acompanhamento - São Paulo -Santos - Ilhabela R$ 9.200,00

5 Vistoria sub aquática do navio pós naufrágio R$ 27.500,00

R$ 366.700,00

R$ 19.300,00

R$ 386.000,00

Atividades

Sub Total

Impostos 5% (ISS)

TOTAL

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O prazo para realização das atividades descritas nesta proposta é de 180

dias, a contar da assinatura do contrato.

Serão elaborados e entregues os seguintes produtos:

1. Relatório Parcial 1 - Plano de Trabalho e Relatório da Campanha 1.

2. Relatório Parcial 2 - Resultados dos levantamentos geomorfológicos realizados.

3. Relatório Parcial 3 - Resultados do imageamento e dos estudos da biota.

4. Diagnóstico Ambiental Completo para Licenciamento Ambiental.

5. Planejamento do Naufrágio – adequações da estrutura e orientação para

posicionamento da embarcação no substrato marinho.

6. Relatório Final – Vistoria com documentação fotográfica subaquática do navio pós

naufrágio.

O valor global para a realização dos serviços descritos nesta proposta é

orçado em R$386.000,00 (Trezentos e oitenta e seis mil reais), sendo sugerido o

faturamento em 6 parcelas iguais mensais (no valor de R$64.333,00), a serem

pagas na entrega de cada produto.

Esta proposta é válida por 60 dias.

São Paulo, 25 de maio de 2017.

Roberto Ávila Bernardes Oceanógrafo, Dr FDTE