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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
ESCOLA DE ENFERMAGEM
NAYARA GIRARDI BARALDI
PERODO PS-PARTO: PRTICAS DE CUIDADO
ADOTADAS PELA PURPERA
SO PAULO
2012
1
NAYARA GIRARDI BARALDI
Perodo ps-parto: prticas de cuidado adotadas pela
purpera
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Enfermagem da Escola de
Enfermagem da Universidade de So Paulo
para obteno do ttulo de Mestre em
Cincias.
rea de concentrao: Cuidado em Sade
Linha de pesquisa: O cuidar nos processos
da reproduo humana: modelos, agentes e
prticas.
Orientadora: Prof Dr Neide de Souza Praa
So Paulo
2012
2
Folha de aprovao
Nome: Nayara Girardi Baraldi
Titulo: Perodo ps-parto: prticas de cuidado adotadas pela purpera
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Enfermagem da Escola de
Enfermagem da Universidade de So Paulo
para obteno do ttulo de Mestre em
Cincias.
Aprovado em: ___/___/___
Banca Examinadora
Prof. Dr. ___________________________ Instituio:____________
Julgamento:_________________________ Assinatura:____________
Prof. Dr. ___________________________ Instituio:____________
Julgamento:_________________________ Assinatura:____________
Prof. Dr. ___________________________ Instituio:____________
Julgamento:_________________________ Assinatura:____________
3
Dedicatria
Ao curso de graduao em Obstetrcia pela Escola de Artes, Cincias e Humanidades
da Universidade de So Paulo, que me proporcionou, por meio dos mestres e alunos,
uma formao integralista e com viso humanista.
s purperas que compuseram esse estudo, pois sem elas de nada adiantaria meu
esforo em construir esse sonho.
Aos meus pais Rosngela e Joo, e familiares, que sempre estiveram ao meu lado
dando suporte e equilbrio para a feitura deste trabalho.
A minha querida tia Lcia Helena, pela disposio e luta incansvel em ver a
realizao desse estudo.
Em especial, a minha av Diva, pelos ensinamentos e dedicao ao longo de minha
existncia. E, tambm, aos meus avs Laura, Francisco e Jamil (in memoriam), pelo
exemplo de vida que me deixou!
Ao meu namorado Srgio, pelo carinho em me escutar e pela compreenso ao longo
da elaborao deste projeto.
Por fim, populao rioclarense e a todos que acompanharam direta e indiretamente
a construo e a realizao deste sonho, que hoje, compe uma realidade!
Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/
http://paulicasantos.wordpress.com/4
Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/
Agradecimentos
http://paulicasantos.wordpress.com/5
A Deus, pela sabedoria concedida a cada dia, pela Sua constante proteo e pelo dom
do discernimento nos momentos de espera. Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP), por conceder-
me a bolsa de mestrado, que valorizou e auxiliou a realizao deste projeto. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal do Nvel Superior (CAPES), que me
concedeu auxlio financeiro de carter emergencial e possibilitou a feitura deste
estudo. minha orientadora, Prof Dr Neide de Souza Praa, pela exmia dedicao, pelo
respeito e pela companhia no delineamento deste projeto, desde seu alvorecer at sua
sntese final. s professoras Dr Islia Aparecida Silva e Dr Roselena Bazilli Bergamasco, pela
disponibilidade, pelo carinho e pelas valorosas contribuies no Exame de
Qualificao. Prof Dr Clia Regina Maganha e Melo, pelo carinho que me acolheu e me
orientou nas atividades do PAE, colaborando para meu crescimento profissional. s funcionrias do Departamento de Ps-Graduao da Escola de Enfermagem da
Universidade de So Paulo, no papel da Dayse, que sempre se apresentaram
disponveis em ajudar-me frente s necessidades da vida acadmica. s purperas que participaram deste estudo, pelo respeito com qual me concederam
relatar um perodo de suas vidas, o que viabilizou diretamente a construo deste
projeto. equipe da Unidade Bsica de Sade, que acolheu o projeto, pela ajuda, pelo
respeito e pela companhia, os quais culminaram nos laos de amizade. Ao Secretrio da Sade e aos dirigentes do setor da Ateno Bsica da Fundao
Municipal de Sade de Rio Claro, pela oportunidade em desenvolver esse estudo no
municpio. Ao Jorge Alves de Lima, professor de portugus, que ficou responsvel pela reviso
final deste projeto. Ao Fbio Montenegro Carnevale, que colaborou na transcrio e na correo do
resumo na lngua inglesa. Larissa, minha irm, pela colaborao nas transcries. minha famlia, ao meu namorado e aos meus amigos, que estiveram sempre ao
meu lado, nas alegrias e nas dificuldades. E a todos que torceram pela realizao deste estudo.
Muito obrigada!
6
Epgrafe
Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/
HOUVE um tempo em que a minha janela se abria
para um chal.
HOUVE um tempo em que a minha janela dava para
um canal.
HOUVE um tempo em que minha janela se abria para
um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua
copa redonda.
HOUVE um tempo em que a minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia feita de giz.
MAS, quando falo dessas pequenas felicidades, que
esto diante de cada janela, uns dizem que essas
coisas no existem, outros que s existem diante das
minhas janelas e outros, finalmente, que preciso
aprender a olhar, para poder v-las assim.
(Adaptao da crnica A arte de ser
feliz, de Ceclia Meireles)
http://paulicasantos.wordpress.com/7
Baraldi NG. Perodo ps-parto: prticas de cuidado adotadas pela purpera
[dissertao]. So Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de So Paulo; 2012.
RESUMO
O puerprio considerado uma fase de modificaes biossocioculturais que, muitas
vezes, no so compreendidas pela mulher, o que exige maior ateno dos
profissionais, dos familiares e das redes de contato envolvidos em seu cuidado. A
literatura e a prtica profissional mostram que as crenas sobre o cuidado da purpera
tm relevncia em seu cotidiano e, muitas vezes, se sobrepem s orientaes
recebidas na instituio de sade. Diante desta situao, este estudo teve como
objetivo: explorar as prticas de cuidado adotadas no ps-parto pela mulher usuria
de uma Unidade Bsica de Sade da cidade de Rio Claro, SP. Trata-se de estudo
qualitativo, que teve como referencial terico o Modelo de Competncia Cultural de
Purnell e cujos dados foram tratados pelo Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). A
pesquisa foi aprovada por Comit de tica em Pesquisa e atendeu Resoluo
196/96. Os dados foram coletados em 2011, por meio de entrevistas realizadas com
20 purperas entre o 30 e 45 dias de ps-parto. Identificou-se a condio
sociodemogrfica e familiar das entrevistadas, alm de sua vivncia no puerprio. Os
dados mostraram que as purperas eram jovens, apresentavam baixo ndice de
tabagismo, etilismo e drogadio, com renda mdia em torno de 3 salrios mnimos.
Os relatos obtidos originaram 21 DSC, cujos contedos mostraram a influncia de
crenas sobre as prticas de cuidado no puerprio; crenas que foram transmitidas
intergeraes pelos cuidadores de sua rede familiar e cultural. Os profissionais de
sade se fizeram presentes por meio de orientaes de prticas, com enfoque no
biolgico, oferecidas de maneira verticalizada e, por vezes, fragmentada e
divergente, o que demonstrou sua dificuldade em acompanhar as influncias culturais
envolvidas no processo. Por conta disso, as prticas de cuidado no puerprio
sofreram maior influncia das crenas e dos padres da cultura da mulher, como
tambm das informaes obtidas na internet, que preencheram lacunas e apontaram
caminhos para a mulher seguir com maior segurana nesta fase do ciclo gravdico-
puerperal. Diante dos achados, propem-se o estabelecimento de estratgias para
incorporao da bagagem cultural da mulher assistncia prestada pelo profissional
de sade, de modo a prover o cuidado culturalmente competente; a programao de
grupos voltados educao em sade, focados na vivncia do puerprio, para a
mulher e sua rede de contato; a implementao da Estratgia Sade da Famlia; e a
incluso do egresso de curso de Obstetrcia nos programas de sade dos municpios,
para agregar este novo profissional no cuidado da mulher e de seu recm-nascido.
Palavras-chave: Cuidado ps-natal, Cultura, Sade da mulher, Pesquisa qualitativa,
Competncia Cultural.
8
Baraldi NG. Postpartum period: care practices adopted by the woman in the
puerperium [thesis]. So Paulo (SP), Brasil: Escola de Enfermagem, Universidade de
So Paulo; 2006.
ABSTRACT
Puerperium is considered a phase with biological, social and cultural changes often
not correctly understood by women, the main reason why requires special attention
from professionals, and caregivers networks involved on the care. Literature and
professional practice shows that beliefs about postpartum care has a strong relevance
in a womans routine and often overlaps guidance received at the health institutions.
From this perspective, this study had as objective to explore practices adopted in
postpartum by women served in the Basic Health Unit in a city of Rio Claro state of
So Paulo (Brazil). This is a qualitative study and followed Purnell Cultural
Competence Model as a theoretical approach and whose data was treated by the
Collective Subject Speech (CSS). The data was approved by Ethics in Research
Committee and complied with Resolution 196/96. The data was collected in 2011
through interviews with 20 women in the puerperium between 30 and 45 days of
postpartum. We identified social and demographic conditions from each interviewed
as well as from her family, besides their experiences at the puerperal period. The data
showed that women in the puerperium were young, had low smoking rates,
alcoholism or drugs addictions, and on average had an income that was equivalent to
3 minimum salaries. The reports had originated 21 CSS, and the contents showed the
stronger beliefs influence on postpartum care practices; beliefs that were passed by
intergenerational family and cultural caregivers. Health professionals demonstrated
their presence through guidelines with practices with a biological focus and offered
in a vertical manner, and sometimes divergent and fragmented, which demonstrated
difficulty in following the cultural influences involved in the process. For this reason,
puerperal care practices had suffered greatly due to the influence of beliefs and
cultural woman patterns, as well as information obtained from the Internet. The
Internet filled gaps and provided greater security methods to follow at pregnancy
stage, childbirth as well as at puerperium. Upon reviewing the results, it is suggested
that the following take place to incorporate the cultures of women to the experiences
of the health care professionals to provide a culturally competent care; programming
groups on health education focused on the puerperium experience for women and her
caregivers; the implementation of Family Health Program, and the inclusion of
Midwifery in the health programs to allow this new professional to take care the
woman and her newborn.
Key words: Postnatal care, Culture, Womens health, Qualitative research, Cultural
Competency.
9
Lista de ilustraes
Figura 1 - Modelo de Competncia Cultural de Purnell representado na
forma de crculo com as dimenses globais, e os 12 domnios,
considerados microaspectos
31
Figura 2 - Organograma das etapas para coleta de dados
43
Quadro 1- O passo a passo da construo do DSC
47
Quadro 2- Relao dos DSC e sua insero nos domnios do Modelo de
Competncia Cultural de Purnell
63
10
Lista de abreviaturas e siglas
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CE Cear
CEP Comit de tica em Pesquisa
CSS Collective Subject Speech
EM Ensino mdio
ES Ensino superior
ES1 Esprito Santo
EUA Estados Unidos da Amrica
FAPESP Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo
GO Gois
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IC Ideia central
MCC Modelo de Competncia Cultural
MEC Ministrio da educao
N Nmero
OMS Organizao Mundial da Sade
PAE Programa Aperfeioamento de Ensino
PC Parto cesrea
PHPN Programa de Humanizao do Parto e do Nascimento
PN Parto normal
PN1 Pr-natal
PSF Programa Sade da Famlia
PR Paran
Prof Dr Professora Doutora
SM Salrio-mnimo
SP So Paulo
RS Rio Grande do Sul
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UBS Unidade Bsica de Sade
USF Unidade Sade da Famlia
11
USP Universidade de So Paulo
12
Lista de smbolos
Marca registrada
*** Pausa (descanso)
13
SUMRIO
Apresentao ........................................................................................ 14
Introduo............................................................................................. 19
Modelo de Competncia Cultural de Purnell.......................................... 29
Objetivo................................................................................................. 38
Mtodo................................................................................................... 40
Local...................................................................................................... 41
Participantes............................................................................................ 42
Coleta de dados....................................................................................... 42
Instrumento............................................................................................. 45
Tratamento de anlise dos dados............................................................ 45
Pr-teste................................................................................................. 48
Princpios ticos..................................................................................... 48
Resultados.............................................................................................. 49
Caracterizao das participantes................................................................ 50
Os discursos do sujeito coletivo............................................................... 63
Discusso............................................................................................... 88
Anlise dos resultados sob a tica do Modelo de Competncia Cultural
de Purnell............................................................................................... 147
Consideraes finais............................................................................... 165
Referncias............................................................................................ 171
Apndices e anexos................................................................................. 191
Apndice A............................................................................................. 192
Apndice B............................................................................................. 193
Apndice C............................................................................................. 194
Apndice D............................................................................................. 195
Apndice E.............................................................................................. 196
Apndice F.............................................................................................. 197
Anexo G.................................................................................................. 201
Apndice H............................................................................................. 203
14
Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/
Apresentao
http://paulicasantos.wordpress.com/15
A reviso de literatura sobre o ps-parto mostrou que trata-se de um perodo
marcado pela vulnerabilidade da nova me, devido s mudanas socioculturais e
fisiolgicas; no entanto, as intercorrncias e as patologias so os temas que ganham
destaque no perodo. Neste aspecto, tambm a prtica profissional mostra que as
crenas disseminadas em seu contexto sobre o cuidado da purpera tm relevncia
em seu cotidiano e, muitas vezes, se sobrepem s orientaes recebidas na
instituio de sade.
Minha prtica profissional e pessoal mostra que o avano cientfico, no
campo da sade, e dos meios de comunicao parecem no exercer influncia sobre
as prticas de cuidado realizadas pela mulher durante o puerprio, o que motivou o
desenho deste estudo de abordagem qualitativa.
Meu contato com os cuidados no ps-parto foram anteriores a minha
formao em Obstetrcia, pois esto presentes em minha vida desde a infncia, uma
vez que, em minha famlia, os parentes de geraes mais antigas, que j vivenciaram
as transformaes do ciclo gravdico-puerperal, ajudam as novas geraes no
cuidado no ps-parto.
No nascimento de meu primo mais novo, em 2007, recordo-me de minha av
materna falando sobre carne de porco servida na maternidade. Minha tia comeu e
minha av a repreendeu, dizendo-lhe que poderia sofrer alguma intercorrncia na
cicatrizao da inciso cirrgica. Alm disso, minha tia relatava que tivera os cabelos
lavados sem seu consentimento pela equipe de enfermagem do hospital, que tambm
a colocou para tomar banho. Dessa forma, ela se submeteu ao banho e lavagem dos
cabelos, mesmo sem o desejar, o que lhe causou medo que algo de ruim pudesse lhe
acontecer.
Alm do relato anterior, desde quando iniciei minha graduao em Obstetrcia
pela Universidade de So Paulo, a maior parte dos docentes ensinava que deveramos
cuidar e respeitar as diferenas socioculturais das clientes, pois, ir contra tais
paradigmas familiares e culturais, sem embasamento terico e prtico, geraria uma
agresso ao indivduo que era atendido. Alm disso, por j ter tido a experincia em
minha realidade familiar, na qual os cuidados cultural e socialmente perpassados
foram deixados de lado pela equipe de enfermagem, decidi me dedicar a
compreender o motivo da ocorrncia destas situaes.
16
Ainda como estudante de graduao em Obstetrcia, recordo-me dos estgios
em Assistncia Sade da Mulher na Famlia e Sociedade, que praticava em uma
Unidade Bsica de Sade, na Zona Leste do municpio de So Paulo. Nesse servio,
havia sido implantada a Estratgia Sade da Famlia que, junto Rede Me
Paulistana, visava oferecer consultas de pr-natal, alm de prestar outros cuidados s
mulheres grvidas e purperas. Tambm era promovida, por estes programas, uma
visita puerperal, realizada por enfermeiras e por agentes comunitrios, aos 7 dias de
ps-parto, para avaliao e orientao de mes e recm-nascidos.
Nos primeiros dias de estgio, ao realizar, com uma colega de curso e uma
agente comunitria, uma consulta puerperal, nos deparamos com uma famlia na qual
a av materna da purpera no queria permitir nossa entrada na residncia, pois sua
neta estava com 7 dias de ps-parto e, nesta ocasio, no poderia receber nenhuma
visita, pois poderia desencadear o mal dos sete dias. Frente ao caso, dissemos que
retornaramos no outro dia, mas a me da purpera, intervindo, permitiu nossa
entrada e nos pediu para que orientssemos sua filha, pois havia uma semana que ela
permanecia apenas deitada, enquanto o banho era feito na cama com pano e gua
aquecida, pois a av no permitia que a neta andasse pela casa, para no correr o
risco de sofrer uma recada ou de os pontos estourarem. Ao me encontrar com a
purpera, que era adolescente, percebi que estava confusa, com medo e aptica pelo
tratamento que estava recebendo da av. Frente a isso, como a av se recusou a nos
receber, ns, como profissionais de sade, fizemos orientaes e explicamos as
dvidas sobre o cuidado no ps-parto para a purpera e sua me; alm disso,
salientamos o que poderia ajud-la em sua higiene, alimentao e repouso, mas sem
quebrar os paradigmas daquela famlia.
O tempo foi passando e, a cada consulta puerperal naquele bairro perifrico,
eu encontrava crenas diferentes, mas persistentes. At ento, eu acreditava que tais
crenas e valores fossem mais persistentes em regies do interior do Estado, de onde
eu vinha, porm a vivncia da prtica clnica me fez perceber que essa premissa no
era vlida. Outra situao com a qual me deparava era que, mesmo a mulher
recebendo orientaes durante o pr-natal e na maternidade, ao se deparar com os
ensinamentos advindos dos familiares e do meio cultural, acabava dando preferncia
a esses e, quando no o fizesse, se sentia culpada e com medo por no os seguir.
17
Depois de formada, enquanto aluna da ps-graduao, fui estagiria do
Programa de Aperfeioamento do Ensino, quando verifiquei que muitas mulheres-
mes, que eu acompanhava durante o ciclo gravdico-puerperal, junto aos grupos de
alunos, tinham crenas e valores relacionados higienizao e ao uso de banho de
assento para melhor cicatrizao da episiorrafia, assim como cuidados com a higiene
da cabea devido inverso dos humores. Tambm apresentavam cuidados prprios
com a alimentao no puerprio, devido amamentao, alm da sutura. Ainda
salientavam a necessidade do benzimento e do resguardo para no sofrerem
recada e nunca mais se curarem. O que mais me chamava a ateno era que as
crenas e os valores persistiam e grande parte dos profissionais de sade, alm de
no serem favorveis, eram taxativos em quebr-los e em repreender as purperas
por tais prticas, no considerando seu ser biopsicossociocultural.
Frente a isso, decidi realizar uma reviso de literatura, para avaliar os
trabalhos publicados com esta temtica, buscando solucionar os meus
questionamentos sobre essa interface dos cuidados culturais e oriundos da
biomedicina. Deparei-me com um nmero baixo de pesquisas relatando esse
contexto: na verdade, existiam trabalhos mostrando a necessidade de mudanas da
equipe profissional em relao aos cuidados biomdicos, os quais deveriam levar em
considerao a parte psicolgica, social e cultural do indivduo, mas, ao analisar o
campo do ciclo gravdico-puerperal, verifiquei que os estudos eram escassos e
relativamente antigos quando relacionados fase do puerprio.
Por isso, ao refletir sobre o assunto, me dei conta que, tanto na literatura
como na prtica profissional, h grande destaque e incentivo s consultas de pr-
natal, elevada importncia com o momento do parto e do puerprio imediato, porm,
aps a alta da maternidade, o nmero de consultas ps-natal extremamente
reduzido e ocorre em dois momentos: aproximadamente na primeira semana aps o
nascimento e aps os quarenta dias de ps-parto. Na sequncia, o beb era
acompanhado pela puericultura e a purpera era esquecida.
Do exposto, percebi a necessidade da compreenso biopsicossociocultural da
clientela por parte dos profissionais e constatei a carncia de estudos envolvendo um
perodo carregado de transformaes biolgicas, psicolgicas e sociais; busquei,
ento, realizar este estudo, visando no apenas compreender a importncia de um
18
atendimento qualificado e digno, que assegure purpera o direito de escolha frente
ao cuidado no puerprio, mas tambm evidenciar que mesmo aps alguns anos
buscando a humanizao na sade, ainda como profissionais, falhamos ao querer
impor nossa excelncia de cuidado, esquecendo da realidade e da cultura de nossas
mulheres.
Sendo assim, por meio deste estudo e frente s histrias por mim vivenciadas
com familiares e clientes, espero incentivar uma mudana de paradigmas e de
sensibilizao nas prticas ofertadas pelos profissionais de sade, frente aos cuidados
de suas clientes - que vo alm de um corpo biolgico. Busco tambm, contribuir
com os servios de ateno bsica voltados para a sade da mulher e para a
maternidade, apontando caminhos para a assistncia biopsicossociocultural da
purpera.
19
Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/
Introduo
http://paulicasantos.wordpress.com/20
Ao longo do processo histrico, as mulheres dedicam-se prtica do cuidado,
porm, com as modificaes temporais, o contexto do nascimento foi retirado das
mos femininas. Tal fato contribuiu para a incorporao de novas tecnologias e
saberes, que passam a ser pautados na autoridade mdica e na dominao masculina.
Com essa mudana no contexto histrico do nascimento, as prticas de cuidado no
ciclo gravdico-puerperal se transformaram e as mulheres foram retiradas de seu
ambiente familiar e cultural, tendo que se submeter legitimidade do saber mdico-
cientfico, que se perpetua ainda no sculo atual (Kitzinger, 1978; Osava, 1997;
Helman, 2003; Melo, 2003; Arajo, 2009).
Quando enfocamos a fase puerperal, verificamos que mesmo sendo
considerado um perodo marcado por mudanas e fragilidades, a prtica mostra
reduzida ateno dos profissionais para com a mulher nesta fase, o que no ocorre
quando comparado aos demais perodos do ciclo gravdico-puerperal (Stefanello,
Nakano, Gomes, 2008).Tal constatao tambm afirmada por Albers (2000).
Cabe lembrar que as pesquisas na rea materno-infantil, realizadas pela
enfermagem, tiveram incio em meados de 1933; porm, a produo cientfica se
torna relevante a partir de inquietaes dos profissionais, como respostas s prticas
sociais direcionadas s mulheres. Entretanto, a busca por estudos realizados com
recorte no ciclo gravdico-puerperal mostra que so reduzidas as pesquisas, em
particular no Brasil, com enfoque no perodo puerperal, se comparadas s voltadas s
fases do pr-natal e do parto (Centa, Oberhofer, Chammas, 2002; Tyrrell, Cabral,
2005; Souto et al., 2007; Kalinowski et al., 2010).
Evidncias tm demonstrado que as pesquisas sobre a fase puerperal, quando
no tratam da amamentao, so estruturadas com base nas possveis patologias e
intercorrncias que podem surgir neste perodo, tais como hemorragias, transtornos
psicolgicos e infecciosos, com priorizao das intercorrncias (Shimo, Nakano,
1999).
Biologicamente, o puerprio, ou ps-parto, corresponde finalizao do
parto. Inicia-se com a dequitao, tem fim pouco exato, mas estabelecido em torno
de seis a oito semanas, quando o organismo materno retorna s condies pr-
gravdicas (Cunningham et al., 2000; Neme, 2000; Costa, 2001).
21
O perodo puerperal tambm conhecido, pela populao, como quarentena,
dieta ou resguardo, conforme os aspectos socioculturais. Corresponde aos 42 dias
aps o parto, como demonstrado por Evans (2010). Para Liu et al. (2009), o perodo
puerperal corresponderia aos 30 ou 40 primeiros dias aps o nascimento do beb.
consenso que o puerprio o perodo em que o organismo da purpera se recupera
das transformaes da gravidez e do parto; por isso, a necessidade de cuidados
adequados para que a sade materna seja restabelecida.
Para alm do fisiolgico, essa etapa da vida da mulher marcada por
alteraes emocionais e psicolgicas. Corresponde a um momento de alta
vulnerabilidade, no somente pela transferncia de papis da mulher-me, mas
tambm pela oscilao de sentimentos, marcada por euforia, medo, alvio e
ansiedade, os quais so desencadeados pela regresso gravdica e pelas novas
exigncias geradas pelo recm-nascido (Merighi, Gonalves, Rodrigues, 2006).
Esta vulnerabilidade psicolgica e emocional da purpera torna o ps-parto
um perodo crtico e merecedor de ateno dos profissionais e das redes de apoio
social mulher. Sendo assim, as mudanas sociais e fisiolgicas, encontradas neste
perodo de transio involutiva, tornam a nova me sensvel e permevel aos
conceitos externos, os quais so construdos pelos elementos do seu cotidiano
familiar, social e cultural (Barreira, Machado, 2004).
Devido a essas mudanas, a purpera tambm demanda apoio emocional e
ajuda na sua prtica diria, tanto de redes de contato pessoal quanto profissional;
porm, a forma e o modo como essa ajuda ser oferecida iro variar de acordo com a
poca e a cultura vigente (Enkin, 2005). Sendo assim, os cuidados demandados pela
maternidade no dependem apenas dos prestados pelos profissionais, mas tambm
dos oriundos da rede de contato sociocultural da mulher (Medina, Mayca, 2006).
Como purpera e recm-nascido so considerados vulnerveis, ao retornar da
maternidade para o espao familiar levando o filho recm-nascido, a nova me se v
diante de situaes que sofrem interferncia de seu ambiente cultural. Nessa
condio, ao se deparar com o saber popular, a nova me impelida a se resguardar,
pois o parto tido como meio do organismo materno se abrir e seu fechamento
s determinado aps o quadragsimo dia de ps-parto. Dessa forma, nesta fase, a
viso popular foca-se no cuidado da mulher, que, caso no atendido, levar ao
22
adoecimento e a algum desajuste; com isso, muitas mulheres sentem-se
convalescentes, mesmo vivendo a normalidade de um perodo de transio (Heh,
2004; Canaval et al., 2007; Piperata, 2008; Stefanello, Nakano, Gomes, 2008).
Devido a esses cuidados oriundos da prtica familiar, as prescries advindas
dos profissionais da rea da sade podem se contrapor ao saber popular, deixando de
ser utilizadas pela purpera, como verificado em estudo realizado por Almeida e
Kantorski (2000), no qual se relatou a experincia do cotidiano de cuidados nas
maternidades. No estudo, mostrou-se que necessrio conhecer a realidade das
purperas, com relao s suas crenas, aos valores e s prticas culturais, para que o
cuidado prestado pelo profissional de sade seja culturalmente congruente. Sendo
assim, esse cuidado deve ser aplicado quando desenvolvido junto aos grupos sociais,
ao qual a me est inserida. Porm, o desinteresse e a desateno dos profissionais
frente a esse contexto podem gerar o predomnio de orientaes de prticas de carter
biolgico sobre s de origem sociocultural. No obstante, nesta condio, afloram-se
as crenas oriundas da prtica familiar, as quais geram cuidados considerados
malficos ou benficos, conforme sua orientao de sade. Tal situao ocorre
porque a maternidade determinada tambm por valores culturais, afetivos e sociais
(Pedroso, 1982; Pelcastre, 2005; Wiegers, 2006).
As crenas, os valores e os tabus so responsveis por conceber a esfera
cultural. Verificamos que o termo crenas tem, por definio, o ato de crer e/ou ter
convico por algo; alm disso, exemplifica um ato de f que determina uma
convico ntima, nem sempre ligada a um grupo, mas sim ordem de uma pessoa;
mesmo sem comprovaes objetivas, subjetivamente mantida como princpio para
um indivduo. As crenas tambm podem ser explicadas como um estilo de
conhecimento advindo do senso-comum e interiorizado no humano segundo seus
hbitos de vida (Canteiro, Martins, 2004; Holanda, 2004; Ichisato, Shimo, 2006).
As crenas culturais acerca do perodo gestacional e ps-natal so institudas
secularmente, como formas de cuidados e proteo da me e do beb, que estariam
vulnerveis devido s transformaes biolgicas, sociais e culturais; entretanto
devemos polici-las para que no sejam nocivas ou patognicas (Helman, 2009).
luz da atuao do profissional de sade, notamos que tanto as pesquisas
quanto as prticas cotidianas no perodo ps-parto so, em sua maioria, baseadas no
23
modelo biomdico, pois ainda predomina a crena que apenas a esfera biolgica
determinante para as mudanas encontradas nesse perodo; com isso, evidenciam-se,
no atendimento do profissional, os aspectos extremamente tcnicos e a
desvalorizao das demandas culturais e sociais da mulher-me (Cabral, Oliveira,
2010).
Uma das causas para o desfavorecimento do contexto sociocultural da mulher
ocorre porque, tanto o profissional, quanto a clientela, mesmo fazendo parte de uma
cultura hegemnica, entendem os agravos de sade de maneira diferente. Ao se
considerar a diversidade de valores e de crenas prprias do indivduo, que se
confronta com a formao acadmica, que tem como modelo a determinao da cura
acima de qualquer situao emocional ou cultural, observa-se a gerao de um
vnculo verticalizado entre profissional e cliente, no qual as prticas de cuidados so
fundamentadas na racionalidade cientfica, uma vez que a explicao de um estado
de sade ou doena baseada em aspectos culturais, com enfoque em crenas, no
seria to objetiva e certa como um resultado fornecido por um exame laboratorial ou
clnico (Helman, 2003).
Ainda segundo Helman (2009), o reducionismo biomdico faz com que a
pessoa seja vista de maneira compartimentada. A famlia e a comunidade so
esquecidas durante esse processo, o que acaba tornando a interao mdico-cliente
ainda mais frgil.
Quando o profissional fundamenta seu cuidado apenas segundo seus
conhecimentos cientficos, considera-se que sua prtica baseada em uma cegueira
cultural, pois, com essa atitude, o cuidador tenta impor seus preceitos acima dos da
cliente (Gualda, 1993; Arajo, 2009).
A purpera, diante deste quadro, tende, por curto perodo de tempo, a seguir
os preceitos de cuidados oferecidos pelo profissional; porm, aps essa
temporalidade, ela reassume seu estilo de vida, considerando os padres culturais
prprios de seu contexto. As divergncias advindas desta comparao podem deix-
la insegura sobre a escolha do tipo de cuidado ideal (Gualda, 1993).
A observao na prtica, acrescida de resultados de pesquisa, demonstra que
nem sempre os profissionais valorizam a influncia sociocultural no perodo
puerperal. A famlia, por conviver no mesmo contexto da purpera, exerce seu papel
24
de complementao da atuao do profissional. Nesta atmosfera, o apoio dos
familiares torna-se valioso para as decises sobre o cuidado da mulher no perodo
puerperal, principalmente quando advindo do marido/companheiro e das avs, em
especial do lado materno (Merighi, Gonalves, Rodrigues, 2006; Rapoport,
Peccinini, 2006).
Frente ao contexto da cegueira cultural na atmosfera assistencial, so
encontradas lacunas na assistncia no perodo puerperal, que prejudicam o
atendimento integral da mulher, se julgarmos a dissociao entre natureza e cultura
que deixam de compor um conjunto (Almeida, Novak, 2004; Takushi et al., 2008).
Dessa forma, verificamos uma incompletude das prticas de cuidado no ps-parto,
quando estas so ofertadas pelos profissionais, que se fundamentam, em sua maioria,
apenas no lado biolgico e instintivo da mulher, sem solucionar suas dvidas
demandadas por outras esferas, como sociais e culturais (Catafesta et al., 2007).
Por conta do exposto, e associado s dificuldades geradas por novas
demandas, a purpera impelida a buscar auxlio na rede social qual se insere, em
detrimento das informaes que recebeu durante o pr-natal ou na assistncia na
maternidade. Essa valorizao dos preceitos familiares em oposio aos conceitos
biomdicos surge tambm porque aqueles esto presentes no contexto de vida da
pessoa desde o nascimento e estes influenciam no seu modo de ser, o que no difere
no perodo ps-parto (Ichisato, Shimo, 2006; Takushi et al., 2008).
O setor informal, que tambm caracterizado pela famlia, responsabiliza-se
por cuidar de 70% a 90% da sade nas sociedades ocidentais e orientais. Isso ocorre,
pois a rede de contato em particular, os familiares possui vivncias, valores e
crenas semelhantes aos da cliente, o que geraria maior aceitao e durabilidade dos
cuidados prestados por estes (Nakamura, Martin, Santos, 2009).
A condio acima confirmada por estudo qualitativo com enfoque na
vivncia da amamentao de mes com recm-nascidos prematuros, realizado no
municpio de So Paulo, que verificou que, na perspectiva das mes, a qualidade da
ateno gerada pela equipe de sade s se faz completa quando os profissionais
realizam o acolhimento englobando, alm das necessidades maternas, a demanda do
contexto familiar e social desta purpera frente aos cuidados com o filho (Silva,
Silva, 2009).
25
Vale destacar outro estudo qualitativo sobre representaes sociais maternas e
introduo de alimentos complementares para lactentes, no qual se verificou que o
mdico gera diretrizes validativas sobre os cuidados advindas do senso comum;
assim, a escolha da introduo de alimentos do beb sofre interferncia da
experincia da mulher-me e de seu contexto sociocultural. A justificativa reside no
fato da mulher-me passar por um perodo importante de aprendizado, o que culmina
na preferncia dos valores culturais aos quais foi criada fazendo com que a lgica
dos saberes cientficos, advindos do profissional de sade, seja colocada parte
(Salve, Silva, 2009).
Sendo assim, a influncia familiar, gerada pela herana construda nos
contextos socioculturais, associa-se necessidade de auxlio da purpera. Neste
contexto, as crenas baseadas em mitos e tabus adquirem fora e tendem a se
manifestar no comportamento da mulher em ps-parto (Canteiro, Martins, 2004;
Vaucher, Durman, 2005).
Bitar (1995) relata que desde o momento do nascimento, o ser humano traz
consigo duas configuraes: a gentica e a cultural. A primeira responsvel por
transmitir as caractersticas hereditrias, enquanto a segunda configura a transmisso
de valores e crenas.
Sabe-se que a esfera cultural atrela-se no s aos aspectos mitolgicos, mas
tambm s crenas e aos tabus (Ichisato, Shimo, 2006). Esse conjunto, formado pelos
trs elementos mitos, tabus e crenas , embora complexo, pode ser resumido
como um estilo de conhecimento advindo do senso comum e interiorizado pela
pessoa segundo seus hbitos de vida (Canteiro, Martins, 2004; Henriques, Gomes,
2005).
Mesmo sendo considerados como um saber primitivo, os mitos e os tabus se
perpetuam nas geraes como uma forma de manuteno de seu passado e explicam
o mundo cultural da pessoa com base em suas crenas (Castilho, 2003; Vaucher,
Durman, 2005; Grimal, 2009).
As crenas so consideradas uma forma de conhecimento, que se incorpora
ao indivduo, a partir de seus hbitos e costumes de vida, e, que uma vez
interiorizada no seu cotidiano, permite a continuidade diria de seus preceitos, que
determinam a sua maneira de ser e de agir. Sendo assim, se a pessoa acreditar que
26
algo ir lhe fazer mal, isso pode ocorrer, pois, as crenas so alimentadas pelo modo
de pensar da pessoa e dependem da forma que so incorporadas por ela,
influenciando e estabelecendo o bem ou o mal-estar da pessoa envolvida. Pode-se,
ainda, depreender que a crena oriunda da construo familiar, com o intuito de
promover perseverana e sustentar as regras parentais (Collire, 1989; Gualda,
Bergamasco, 2004).
As crenas podem surgir a partir de mitos, os quais so considerados lendas
ou histrias, contrariando o logos, ou seja, o raciocnio. Ao se incorporar em uma
populao, mesmo mantendo seu modelo tradicional, as crenas sofrem modificaes
para que os indivduos consigam entender seu contexto, variando de acordo com
cada cultura (Grimal, 2009).
Uma das causas das crenas se manterem vivas mesmo depois de sculos se
deve transmisso entre geraes, ou seja, a partir de perspectivas intergeracionais,
as quais as segregam, por meio de expresses simblicas, mediadas por imagens,
contos, cartas e valores, transmitidos de maneira que envolvem a parte afetiva e
emocional do ser humano (Brando et al., 2006; Ptaro, 2007).
Por sua vez, os mitos e os tabus delimitam crenas familiares, as quais
surgem por meio das relaes entre os parentes e tm a finalidade de cooperar para a
formao da identidade cultural do crculo familiar, o que ajuda a potencializar a
permanncia deste saber no mundo (Castilho, 2003).
As tradies familiares, compostas tambm pelos prprios mitos e crenas,
so responsveis por conduzirem o pensamento humano, pois so contabilizadas
como verdades absolutas e, por meio dos laos geracionais, segregam as perspectivas
mitolgicas e lendrias (Henriques, Gomes, 2005; Ptaro, 2007; Cotta, Priori,
Marques, 2008). No Brasil, pas constitudo por culturas e etnias diversas, o
conhecimento popular e as tradies se manifestam nos aspectos biopsicossociais,
tambm durante o ciclo gravdico-puerperal (Centa, Oberhofer, Chammas, 2002).
Neste contexto, a oposio entre o saber cientfico e as crenas familiares faz
com que a purpera vague entre duas lgicas opostas. Devido ao desequilbrio do
saber cientfico ao ser confrontado s crenas herdadas da famlia e de seu meio
sociocultural, o saber popular se sobrepe e faz aflorar crenas que, no puerprio,
27
podem modificar o cotidiano de cuidados dessa mulher (Stefanello, 2005; Baio,
Deslandes, 2006).
As crenas, neste contexto, surgem na prtica do cuidado como uma forma de
proteo do binmio me e recm-nascido, que se encontra vulnervel pelos eventos
do ciclo gravdico-puerperal (Nakano et al., 2003). Essa mesma viso encontrada
em outras culturas, como na japonesa, na qual as prticas de cuidados so pensadas e
perpassadas entre geraes com o intuito de beneficiar o binmio me-beb (Raven
et al., 2007).
Cabe citar que autores que estudaram crenas, mitos e tabus no perodo ps-
parto destacam que as maiores influncias nas prticas de cuidado nesta fase so
transmitidas pelos familiares mais velhos da purpera (Liu et al., 2009). Um estudo
mostrou que as participantes ouviram a opinio de vrias redes de contato, sobre os
danos elasticidade vaginal, mas valorizaram seu contexto, na qual a opinio de
mulheres da famlia, em especial a me e a av, teve relevncia (Arajo, 2009). Esta
opo demonstra a tendncia em seguir a orientao advinda da tradio familiar
pautada nas perspectivas intergeracionais. Estudo realizado por Rico (2006) apontou
que, alm da transmisso entre as geraes, ainda h redes sociais formadas por
amigos e tambm os meios impressos e eletrnicos, dentre estes, o rdio, a televiso,
as revistas, e a internet, os quais transmitem as informaes de cuidados no ps-
parto.
Portanto, o ciclo gravdico-puerperal deve ser visto como uma fase permeada
por crenas, mitos e tabus devido a transformao e a autodefinio de um novo
papel na vida da mulher e da famlia (Rapoport, Piccinini, 2006; Ciampo et al.,
2008). Vemos o perodo ps-parto como uma condio em que a mulher sofre
interferncia das aes dos profissionais de sade e da prpria famlia e de sua rede
de contato. Sendo assim, as orientaes recebidas quanto ao cuidado no perodo ps-
natal devem atender s esferas biopsicossocioculturais, para que, frente uma
demanda de cuidado, a purpera consiga discernir qual a melhor prtica a ser
escolhida dentre o saber cientfico e o popular, para obter o melhor resultado na sua
recuperao.
Do exposto, consideramos que, ao verificar as opes da purpera diante de
dois plos orientaes biomdicas e crenas do seu contexto de vida sobre as
28
prticas de cuidado no ps-parto, estaremos contribuindo com servios de
maternidade, desvelando caminhos para a assistncia biossociocultural da clientela, e
oferecendo mulher-me a oportunidade de vivenciar o momento do ps-parto, de
maneira responsvel e autnoma diante das prticas de cuidado.
Dessa forma, o presente estudo buscou respostas questo:
No cotidiano da mulher que vivencia o perodo ps-parto, suas prticas de cuidado
derivam de crenas populares, de informaes de cunho cientfico ou de ambas?
Diante da perspectiva de que estaramos trabalhando com prticas derivadas
de orientaes de cunho cientfico e transmisso popular, optamos pelo Modelo de
Competncia Cultural de Purnell como referencial terico, pois este estuda o receptor
e seu contexto, assim como o provedor de cuidado sade e a relao entre ambos.
29
Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/
Modelo de Competncia Cultural de Purnell
http://paulicasantos.wordpress.com/30
O Modelo de Competncia Cultural de Purnell surgiu na dcada de 1990, com
a inteno de favorecer um ambiente de cuidado que propiciasse captar crenas e
valores presentes na sociedade, de modo a auxiliar o profissional da rea da sade na
prestao do cuidado ao cliente, no apenas no aspecto biolgico, mas tambm
sociocultural (Purnell, 2000).
Este Modelo de cuidados visa entender os profissionais de sade, em
particular, a enfermeira, frente ao processo de cuidado; por isso, sua relao com o
cuidar humano nas trs esferas da sade: primria, correspondente promoo da
sade; secundria, que envolve a preveno e a proteo sade, e terciria, que
envolve a reabilitao por meio do multiculturalismo entre a relao profissional e
cliente (Purnell, 2000; Marroni, 2003).
Este Modelo de Competncia Cultural busca evitar generalizaes, uma vez
que estas fazem os indivduos perderem a personalidade prpria, levando
minimizao do nico em prol do todo e gerando simplificao das crenas e valores
das pessoas (Marroni, 2003; Purnell, 2005).
Sendo assim, o Modelo preza pelo respeito aos aspectos sociais e culturais
tanto do indivduo como dos profissionais, propondo a observncia dos valores
culturais para a efetivao de um cuidado integral para o restabelecimento da pessoa.
Quando os aspectos culturais no esto interligados s prticas de cuidado, o cliente
pode sentir-se desrespeitado pelo profissional que presta este atendimento, gerando
um possvel prejuzo na credibilidade deste cuidador (Purnell, 2000; Marroni, 2003).
O Modelo permite ao profissional conhecer as crenas e os valores prprios
para no gerar interferncia cultural, mas tambm favorece a investigao das
crenas e dos cuidados individuais das clientes; dessa maneira, de posse do histrico
cultural da cliente, as intervenes de sade seriam delineadas, aperfeioando a
experincia do cuidado (Purnell, 2005).
Os modelos que envolvem competncia prezam pela aceitao e pelo respeito
das diferenas, mantendo a individualidade do sujeito em relao s crenas prprias.
Por conta disso, o profissional deve conhecer e entender a cliente para conceber
prticas de cuidados culturais, baseando-os na origem, no comportamento, nas
crenas e nas atitudes da clientela (Purnell et al., 2011).
31
O citado Modelo foi criado tendo como base disciplinas da rea de
humanidades e da sade, assim como conceitos sobre o ambiente. O Modelo de
Competncia Cultural de Purnell (Figura 1) composto por doze domnios culturais,
microaspectos que se relacionam entre si, em maior ou menor grau, e com cada
dimenso, macroaspectos, do citado Modelo (Purnell, 2000).
FIGURA 1 Modelo de Competncia Cultural de Purnell representado na forma
de crculo com as dimenses globais, ou macroaspectos, e os 12 domnios,
considerados microaspectos.
Fonte: Purnell, 2000.
32
Neste Modelo, so considerados os macroaspectos, como: Sociedade Global,
Comunidade, Famlia e Pessoa, tanto nos setores educacionais, como na pesquisa e
tambm na sade. Para os autores deste Modelo, sade definida como bem-estar
em relao aos aspectos biossocioculturais e tnico-culturais, levando em
considerao a influncia da globalizao, da sociedade e dos familiares sobre o
indivduo (Purnell, 2000; Marroni, 2003).
No Modelo, a comunidade caracteriza-se como um grupo de pessoas com
interesses comuns, que vivem em dado local; enquanto a famlia tida como um
conjunto de duas ou mais pessoas, com envolvimento emocional mtuo; e a pessoa
considerada como ser biopsicosociocultural em constante transformao. Quanto
dimenso global, esta sofre influncia da disseminao de eventos por meios da
comunicao (Purnell, 2000).
Como microaspectos deste Modelo, so considerados os 12 domnios (Figura
1), que so conceituados seguindo o multiculturalismo e a influncia sobre a sade
do indivduo, sendo eles: herana, comunicao, papis e organizao familiar, fora
de trabalho, ecologia biocultural, comportamentos de alto risco, nutrio, prticas na
gravidez, no parto e no puerprio, rituais relativos morte, espiritualidade, prticas
de cuidado sade e, por fim, provedor do cuidado sade (Purnell, 2000; Purnell,
2005).
O Modelo ainda prev sua responsabilidade ao criar um ambiente favorvel
de acolhimento com vistas s prticas clnicas, com o intuito de identificar crenas e
valores para desenvolver registros de cuidados baseados em acordos entre
profissional e cliente (Purnell, 2000; Marroni, 2003; Purnell, 2005).
Sendo assim, o Modelo representado na figura 1 mostra cada domnio e seu
contedo. Dessa maneira, apresentamos, a seguir, os 12 domnios do Modelo de
Competncia Cultural de Purnell, com seus conceitos, segundo Purnell (2000),
Marroni (2003), Purnell (2005) e Alvarez (2012):
Herana
Neste domnio, tambm conhecido como Viso do Mundo, verificam-se os
aspectos relacionados a alguns dados socioeconmicos e culturais tanto da pessoa,
como da famlia e comunidade, aqui representados pelos modelos de moradia, as
33
situaes polticas e econmicas, os nveis educacionais, ndices de trabalho e
ocupao, alm das relaes com os aspectos migratrios.
Pode-se verificar, como exemplo, migraes relacionadas s questes
econmicas, ou seja, a busca por uma ocupao mais rentvel, que pode estar
relacionada ao grau maior de escolaridade.
Sendo assim, esse domnio busca correlacionar tais aspectos do mundo s
modificaes sociais, culturais e espaciais das pessoas e da sociedade.
Comunicao
Este domnio relaciona-se diretamente aos demais, uma vez que o uso da
linguagem colabora para as relaes e o conhecimento humano.
Sendo assim, as variaes lingusticas, alm das formas de comunicao
verbalizada e no-verbalizada, as diferentes entonaes da vocalizao e a
classificao por nomes so contempladas neste domnio, visando explicar as
complexidades do padro da linguagem nas relaes sociais.
A linguagem e os meios de comunicao so de extrema importncia, ao
avaliar como o prestador de cuidado realizaria orientaes em comunidades com
linguagem diferente do seu idioma de origem, mostrando que a comunicao, alm
de estar associada identidade de um povo, pode caracterizar barreiras socioculturais
quando no dominada na totalidade pela sociedade e pelo indivduo.
Papis e organizao familiar
Neste domnio, so atribudos a relao do gnero na chefia familiar, assim
como o lugar da famlia na comunidade, segundo o estilo de vida dos sujeitos
envolvidos na constituio familiar.
possvel avaliar os papis familiares, assim como a constituio do
casamento ou somente a unio informal com um companheiro, o que representaria a
forma pela qual tanto a sociedade quanto a famlia e o indivduo concebem a relao
da organizao familiar.
Ainda como exemplo, destaca-se a relao das disparidades entre os gneros
e a formao das famlias e a classificao entre diferentes papis e desempenhos na
organizao dos membros familiares.
34
Fora de trabalho
Neste domnio, encontra-se a relao entre as formas de trabalho do indivduo
e a famlia e a sociedade. Podemos verificar a autonomia e a aculturao, ou seja, a
fuso de vrias culturas interferindo no processo do trabalho.
Alm disso, pode-se interpretar os papis de gnero e a influncia do pas de
origem sobre as prticas de sade e trabalho.
Sendo assim, as formas de trabalho poderiam auxiliar a entender o indivduo,
a famlia e a sociedade frente esta constituio.
Ecologia biocultural
Este domnio contempla desde as variaes tnicas, raciais e culturais at as
diferenciaes no organismo humano, por conta das diferentes raas.
Tambm como parte deste domnio, buscam-se identificar e explicar as
doenas de cunho gentico e hereditrio e a ao dos medicamentos sobre os
metabolismos.
Exemplificando: a ecologia biocultural pode analisar a cor de pele em relao
ao indivduo, famlia e sociedade, buscando compreender os eventos sobre a
esfera biossociocultural.
Comportamentos de alto risco
Refere-se avaliao de hbitos culturais que ofereceriam riscos para a sade
do indivduo, como: etilismo, drogadio e tabagismo; ausncia de atividade fsica,
ingesto em excesso de calorias e falta de medidas para preveno de risco.
Este domnio busca investigar no indivduo, na famlia e na sociedade os
hbitos ou as atividades que geram riscos; por exemplo, falta de equipamentos de
segurana quando se realiza uma atividade que envolva risco ao organismo.
Nutrio
Trata da escolha pelo alimento, alm de envolver os rituais e os tabus
alimentares. Esse domnio fornece dados sobre o significado do alimento, assim
como a utilizao da nutrio para promover e restabelecer a sade do indivduo.
35
Como o alimento recebe diferentes designaes segundo a cultura, a
sociedade, a famlia e o indivduo, ao se reconhecer os diferentes significados
atribudos, propicia-se maior conhecimento sobre a prtica nutricional.
Prticas na gravidez, parto e puerprio
Refere-se s prticas relacionadas a crenas e tabus presentes no perodo
gravdico-puerperal, assim como a vivncia destas etapas, o uso de mtodos de
controle da natalidade e o padro de fertilidade.
Verificam-se, ainda, as prticas restritivas e prescritivas sobre as etapas do
ciclo gravdico-puerperal.
Exemplificando a perspectiva do domnio: as crenas acerca do perodo
puerperal interferem no sujeito, na famlia e na sociedade; ao conhec-las,
estabelece-se um padro integral de cuidado.
Rituais relativos morte
Pretende-se, ao se avaliar este domnio, encontrar a maneira pela qual os
indivduos, a famlia e a sociedade explicam e entendem o ato de morrer.
Alm disso, leva-se em considerao o envolvimento cultural na preparao e
na conduo do enterro e do sepultamento, alm da valorizao do corpo fsico.
Espiritualidade
Englobam as prticas relacionadas religio, assim como as formas de orao
e o significado da vida, segundo os aspectos da espiritualidade atribudos pela fora
da f.
Prticas de cuidado sade
Envolvem a preveno e o tratamento de um agravo, assim como prticas
com fundamentao biomdica e crenas populares, responsabilidade individual pela
prpria sade, automedicao e barreiras para a manuteno da sade.
Provedor de cuidado sade
36
Os provedores de cuidado sade so vistos sob a tica de prticas mgico-
religiosas, biomdicas e tradicionais na promoo ou no restabelecimento da sade.
Partindo da descrio dos domnios acima expostos, o referido Modelo
prope que a enfermagem incorpore, na prtica clnica, a realidade sociocultural dos
clientes e, a partir da ateno a seus domnios, favorea o cuidado prestado.
Ao optarmos pelo Modelo de Competncia Cultural de Purnell como
referencial de anlise deste estudo, consideramos que a pessoa deve ser investigada
como ser social e cultural, pois as regras sustentadas por uma sociedade apenas se
mantm vigentes devido ao simblica transmitida culturalmente entre as
geraes. Em grande parte das sociedades humanas, as crenas, os valores e as
prticas relacionam-se manuteno da sade, caractersticas fundamentais de uma
cultura (Helman, 2003).
Consideramos, tambm, que o ser humano responsvel por regular e
perpetuar seus princpios, sendo assim, a partir da vivncia social e cultural da
pessoa que ser determinada sua viso de mundo, segundo suas prticas e crenas.
Cultura seria, portanto, um conjunto de preceitos herdados por uma pessoa em
resposta ao convvio com seu grupo sociocultural, o qual delimitaria o modo de ver e
experienciar o mundo junto de foras do ambiente sociocultural ao qual est inserida
(Helman, 1994; Helman, 2003).
A cultura responsvel pela transmisso dos princpios sociais para as
geraes seguintes, por meio de smbolos e de rituais, nos quais os aspectos culturais
ajudariam a pessoa a compreender o mundo ao qual se insere para conviver nele,
embora nem sempre a cultura na qual o sujeito nasce e vive seja o nico meio de
influncia sobre o padro sade-doena, mas sim, uma das formas de interferncia
sobre o comportamento, as crenas e os padres de estilo de vida do indivduo
(Helman, 2009).
Com esta compreenso da vivncia em uma sociedade globalizada, na qual os
cuidados sade exigem o atendimento biossociocultural do cliente, julgamos
adequado o emprego do Modelo de Competncia Cultural de Purnell (Purnell, 2000).
Este Modelo volta-se ao recipiente e ao provedor do cuidado sade, que, nesta
pesquisa, so representados, respectivamente, pela mulher que vivencia o ps-parto e
37
pelo profissional de sade (ou o leigo) que pode assisti-la em suas demandas de
cuidados sade.
Segundo a reviso da literatura e o questionamento da pesquisa, e prezando
pela abordagem qualitativa e utilizao do referencial terico do Modelo de
Competncia Cultural de Purnell, o presente estudo almeja responder o objetivo
disposto a seguir.
38
Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/
Objetivo
http://paulicasantos.wordpress.com/39
Explorar as prticas de cuidado adotadas no ps-parto pela mulher usuria de
uma Unidade Bsica de Sade na cidade de Rio Claro, SP.
40
Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/
Mtodo
http://paulicasantos.wordpress.com/41
Este um estudo qualitativo, que teve como referencial de anlise o Modelo
de Competncia Cultural de Purnell e que utilizou o Discurso do Sujeito Coletivo
como mtodo para tratamento e apresentao dos dados encontrados por meio de
entrevista gravada.
Local
O estudo foi realizado no municpio de Rio Claro (SP), junto s purperas
usurias de uma Unidade Bsica de Sade (UBS) escolhida por atender elevado
nmero de consultas de pr-natal: aproximadamente 159 gestantes em maio de 2010
(Brasil, 2010b).
Esta UBS localiza-se na rea urbana, referncia para 32 bairros do
municpio, alm de contar com uma unidade de pronto atendimento anexa. Cabe
salientar que no municpio de Rio Claro contamos com 6 UBS, nas quais se
desenvolvem os programas tradicionais de sade frente a promoo, a preveno, o
tratamento e a reabilitao do cliente. Alm disso, temos 9 Unidades de Sade da
Famlia (USF), as quais possuem no total 11 equipes de sade baseadas no Programa
Sade da Famlia (PSF), as quais atuam nas regies especficas de cada bairro e/ou
setor de sade, pontuados no mapa municipal (APNDICE A) (Rio Claro, 2012).
A cidade de Rio Claro dista 173 km de So Paulo, capital do estado, tem
populao de 191.866 habitantes, com taxa de urbanizao de 97,6%. O nmero de
mulheres de 85.986 e a taxa de fecundidade de 2,7 filhos/mulher (IBGE, 2009a).
No municpio existe apenas uma referncia hospitalar pblica, para onde a
parturiente encaminhada. Esta maternidade pblica realiza cerca de 160 partos/ms.
Entre os meses de abril e julho de 2008 foram realizados 159 cesarianas e 240 partos
normais (Grupo Jornal Cidade, 2008).
Segundo a Secretaria Estadual de Sade de So Paulo, a relao entre partos
normais e cesreas no municpio de Rio Claro se inverteu, pois, em 2010, foram
realizadas 1.634 cesarianas, contra apenas 696 partos normais, demonstrando a
influncia da medicalizao no servio de sade do municpio naquele ano (G1,
2012).
No municpio, durante o ciclo gravdico-puerperal, as mulheres so
acompanhadas pelo sistema SIS pr-natal do governo do Estado de So Paulo, de
42
acordo com o Programa de Humanizao do Pr-Natal e Nascimento (PHPN), o qual
visa garantir maior captao e qualidade nas consultas de pr-natal, assim como
atendimento no parto e em todo o perodo ps-parto. A gravidez e o puerprio so
acompanhados nas UBS ou nas USF (Brasil, 2002; Brasil, 2010b).
O parto garantido no hospital e maternidade municipal de Rio Claro. O
servio de sade do municpio estrutura-se de modo que toda purpera, entre o 7 e o
10 dias de ps-parto, seja atendida na UBS onde realizou o pr-natal, cuja finalidade
realizar a reviso do parto e avaliao do perodo ps-parto, que ocorre no intervalo
entre a alta hospitalar e a primeira consulta puerperal e do recm-nascido, tambm na
UBS, em torno de 30 a 40 dias (Brasil, 2002; Brasil, 2010b).
Participantes
Participaram do estudo purperas entre 30 e 45 dias de ps-parto, que
realizaram o pr-natal na UBS campo de estudo.
No houve definio prvia do nmero de participantes, pois, por se tratar de
um estudo qualitativo, a coleta de dados que delineou a necessidade do nmero de
entrevistas, pois o encerramento ocorreu quando houve repetio dos dados coletados
saturao terica.
Os critrios de incluso para as participantes foram:
1- Estar matriculada e ter realizado pr-natal na UBS, campo do estudo.
2- Estar entre o 30 e 45 dias de ps-parto.
3- Ser primpara.
4- Ter idade igual ou superior a 18 anos.
5- Ter tido recm-nascido vivo.
Coleta de dados
Os dados foram coletados entre os meses de agosto e dezembro de 2011, aps
autorizao da direo do campo de coleta (APNDICE B), seguindo as etapas
dispostas abaixo, representadas na figura 2.
43
FIGURA 2 Organograma das etapas para coleta de dados. So Paulo, 2012.
Foram catalogadas 23 purperas inscritas na UBS de escolha e que
preencheram os critrios de incluso; entretanto, uma se recusou a participar,
enquanto outras duas mulheres aceitaram a participao, porm no compareceram
no dia agendado para entrevista, alm de no termos conseguido novo contato para
reagendamento. Dessa forma, participaram deste estudo 20 purperas.
Para o estabelecimento de vnculo entre pesquisador e participante da
pesquisa, foi realizado o 1 contato com a mulher na UBS, antes ou ao final da
consulta obsttrica, quando a gestante se encontrava no 3 trimestre da gravidez.
Quando purpera, este contato foi realizado durante a consulta de reviso ps-parto,
entre o 7 e 10 dias de puerprio.
Esse primeiro contato foi rpido e realizado em um consultrio ou na prpria
sala de agendamento de consulta nas dependncias da UBS. Ainda assim, foram
prezados a privacidade e o sigilo. Durou cerca de 10 minutos, tempo para que a
pesquisadora se apresentasse e expusesse mulher o objetivo da pesquisa, alm de
1 Contato 3 trimestre gestacional ou
Retorno puerperal
2 Contato (1 ou + vezes)
Pessoalmente
Apresentao da pesquisa
Entrega da carta de apresentao
Via telefone Aps 15 dias do contato inicial
Avaliar se compreendeu a carta de apresentao Verificar a concordncia em participar do estudo
Dados da vivncia do ps-parto
3 Contato Pessoalmente 30 ao 45 dias de ps-parto
Realizao da pesquisa e entrevista com a purpera
44
entregar-lhe uma carta de apresentao escrita (APNDICE C), com um resumo da
pesquisa para que ela pudesse ler com calma e averiguar o interesse em participar do
estudo. Foi aberto um espao de tempo para que a mulher pudesse sanar suas dvidas
frente aos procedimentos da pesquisa. Nesse primeiro contato, tambm foi
preenchida, segundo sua concordncia, a ficha de identificao da purpera
(APNDICE D) com dados para os contatos seguintes nome, endereo, telefone,
data do prximo retorno UBS e preferncia de dia, hora e local para a
participao na pesquisa.
O 2 contato foi realizado pelo telefone, aps o nascimento do beb ou
aproximadamente 15 dias aps o primeiro contato. Em alguns casos, foram
realizadas vrias tentativas, conforme a necessidade e o pedido da purpera. Nesse
contato, eram questionadas a leitura e a compreenso da carta de apresentao
(APNDICE C) e sanadas as possveis dvidas; diante da concordncia em
participar, eram combinados local, hora e data para a entrevista.
O ltimo contato foi realizado no dia estipulado pela purpera para a
entrevista. A maioria ocorreu antes ou aps a consulta de retorno puerperal, 40 dias
aps o parto. O tempo previsto para as entrevistas gravadas girou entre 40 e 60
minutos. Quando realizada na UBS, ocupava-se um consultrio na ala da pediatria.
Nos casos em que a entrevista foi realizada no domiclio, era solicitado um local com
privacidade.
A entrevista iniciava-se com a leitura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) (APNDICE E), com esclarecimento de dvidas, sempre que
necessrio. Aps assinatura e entrega da via para a purpera, esta era convidada a
escolher uma entre trs figuras compostas por pequenas histrias de deusas para que
pudessem ser reconhecidas por estas na apresentao dos resultados da pesquisa. A
escolha pela mulher poderia recair tanto no desenho da deusa como por sua histria
ou por ambos.
Os dados foram obtidos por meio de entrevista com respostas para um
formulrio semiestruturado (APNDICE F) e se iniciava aps a escolha da deusa.
Em seguida, era iniciada a entrevista gravada.
45
Ao finalizar os procedimentos da coleta dos dados, se reforou purpera o
sigilo mantido e foi pedido para que mantivesse, se possvel, atualizados os dados de
identificao, dentre eles, no mnimo o telefone para futuros contatos se necessrio.
Instrumento
O instrumento de coleta de dados (APNDICE F) foi composto por trs
partes e suas questes foram formuladas a partir de resultados de estudos qualitativos
realizados sobre o tema, no contexto sociocultural, no perodo puerperal (Pedroso,
1982; Costa, 2001; Stefanello, 2005; Castro et al., 2006; Luz, Berni, Selli, 2007;
Silva, Roldn, 2009; Stefanello, Nakano, Gomes, 2008).
Compuseram o formulrio:
Parte I DADOS DE IDENTIFICAO: Com perguntas fechadas, que
delinearam as caractersticas da mulher e envolveram os seguintes itens: idade,
escolaridade, situao conjugal, acessibilidade para realizao do pr-natal e
consultas de ps-parto, renda familiar e per capita e dados sobre consulta de pr-natal
e parto.
Parte II DADOS SOBRE O PS-PARTO: Na qual foram abordadas
questes que contextualizaram a purpera junto aos familiares e cuidados ps-natal.
Parte III Complementao da entrevista com a QUESTO ABERTA,
disposta a seguir:
Me fale os cuidados que voc est tendo com voc aps o nascimento do
beb.
TEMAS COMPLEMENTARES compuseram a ltima etapa da entrevista e
somente foram abordados quando no citados pela purpera durante resposta da
pergunta aberta. Tratavam de higiene, alimentao e esforo/repouso.
TRATAMENTO E ANLISE DOS DADOS
Os dados obtidos com as questes da Parte I do instrumento de coleta de
dados (APNDICE F) foram utilizados para caracterizao da mulher de forma
descritiva.
46
Os dados advindos da pergunta norteadora foram tratados e apresentados
segundo o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), proposto por Lefvre, Lefvre
(2005), ao final dos anos 1990.
O DSC uma ferramenta que trabalha dados qualitativos. Ao ser
entrevistado, o participante narra, de modo emprico, seus pensamentos reais e
objetivos, ligados ao consciente, e os subjetivos, ou seja, o inconsciente, no qual
encontramos as crenas e os valores do indivduo, assim como os sentimentos e os
comportamentos (Lefvere, Lefvre, Teixeira, 2000).
Sendo assim, essa estratgia metodolgica formada por um conjunto de
representaes discursivas que fundamenta a representao social, ou seja, transmite,
por meio dos discursos coletivos, os pensamentos de um grupo de indivduos.
Portanto, o grupo seria o autor responsvel pelo discurso e representado pelos
relatos do conjunto de seus membros, explcitos individualmente. Dessa maneira, os
aspectos culturais e sociais de um grupo so elencados por meio das estratificaes
pessoais (Lefvere, Lefvre, Teixeira, 2000; Lefvere; Lefvere, 2006).
A tcnica do discurso do sujeito coletivo construda com base na:
discursividade coletiva; sendo assim, os dados coletados, ao serem
analisados no se restringem a uma determinada categoria, com isso,
expresses e ideias centrais advindas dos discursos individuais so unidos
por semelhana formando um discurso nico com a finalidade de
demonstrar um fenmeno (Lefvere, Lefvre, Teixeira, 2000, p.19)
Ento, os indivduos que compem a Representao Social de uma
determinada populao so vistos como geradores de pensamentos coletivos, ao se
utilizar o DSC, deixando de ser um indivduo nico e incorporando, atravs dos
discursos, uma representao que expresse tanto a cultura como a sociedade qual
est inserido, o que colabora para evitar o reducionismo dos dados sociais a
categorizaes (Lefvere, Lefvre, Teixeira, 2000).
Os relatos das 20 purperas atendidas em uma UBS no municpio de Rio
Claro mostraram as prticas de cuidado no ps-parto.
As entrevistas gravadas tiveram seus contedos transcritos literalmente. Em
seguida, estes foram lidos repetidas vezes para que fossem compreendidos.
Aps essa sequncia, foram extradas as Expresses-chave, que so trechos e
partes literais dos relatos que permitiram identificar partes dos contedos de interesse
47
para o estudo. A partir das Expresses-chaves foram inferidas as Ideias Centrais (IC),
que so afirmaes que traduzem, de maneira objetiva, a essncia das Expresses-
chave identificadas (Lefvere, Lefvre, Teixeira, 2000).
Em seguida, as Ideias Centrais, com suas Expresses-chave correspondentes,
foram categorizadas e agrupadas por similaridade temtica, segundo os Domnios do
Modelo de Competncia Cultural de Purnell. O passo seguinte foi a construo de 21
Discursos do Sujeito Coletivo, estruturados com as Expresses-Chave que
originaram cada Ideia Central que os compuseram.
Vale salientar que, mesmo sendo escrito na primeira pessoa do singular, cada
DSC corresponde ao relato das 20 mulheres participantes do estudo, que representam
as purperas usurias da UBS campo do estudo.
Dessa forma, a construo do DSC pode ser exemplificada como visto no
Quadro 1, a seguir.
1 ETAPA 2 ETAPA 3 ETAPA 4 ETAPA
Discurso na ntegra
Expresses-chave
Ideias centrais
Classificao segundo os
domnios do MCC de
Purnell
Ah...que nem, no comeo que, ai, que tem um pouco de
medo e o...ah, eu no fazia o
servio de casa, ficava sempre em repouso; que nem
eu falo, tem que..por essa idade ter sido uma
cirurgia...(hum rum-
pesquisadora)...at cicatrizar o corte, eu no fazia o
servio, no fazia nada,
ficava o mximo que eu posso conseguir andar
melhor...(hum rum-
pesquisadora)... ah, via, ah, tomava banho,
ah, lavava a cabea normal,
no dava para ficar bom, ah o que a minha sogra, o que o
pessoal falava, no dava
muita bola no. Ah, s isso...
Ah...que nem, no comeo que, ai, que tem um pouco de
medo e o...ah, eu no fazia o
servio de casa, ficava sempre em repouso; que nem
eu falo, tem que..por essa idade ter sido uma
cirurgia...(hum rum-
pesquisadora)...at cicatrizar o corte, eu no fazia o
servio, no fazia nada,
ficava o mximo que eu posso conseguir andar
melhor...(hum rum-
pesquisadora)... ah, via, ah, tomava banho,
ah, lavava a cabea normal,
no dava para ficar bom, ah o que a minha sogra, o que o
pessoal falava, no dava
muita bola no. Ah, s isso.
fazendo o servio de casa e
ficando sempre em repouso
no fazendo o servio, no
fazendo nada, at cicatrizar
o corte...
tomando banho, e lavando
a cabea normalmente
no ligando para o que a
sogra e o pessoal falava
Prtica de cuidado sade
(Responsabilidade relativa sade)
Crena no ps-parto
Prtica de cuidado sade
(Autocuidado)
Provedor do cuidado sade
Eu tive cuidado com a
alimentao, s. (Silncio) E
com peso, por causa da
cesrea mesmo, porque se
fosse parto normal eu iria
fazer tudo que tinha
mesmo...
Eu tive cuidado com a
alimentao, s. (Silncio) E
com peso, por causa da
cesrea mesmo, porque se
fosse parto normal eu iria
fazer tudo que tinha mesmo.
tendo cuidado com a
alimentao
evitando peso, por causa da
cesrea
Nutrio
(Alimentao)
Prticas de cuidado sade
(Responsabilidade relativa
sade)
QUADRO 1 O passo a passo da construo do DSC. So Paulo, 2012.
48
Ressaltamos que cada DSC foi identificado por um ttulo, que representa seu
contedo, e est disposto conforme cada domnio do Modelo de Competncia
Cultural de Purnell, referencial terico deste estudo, cujos princpios direcionaram a
anlise dos dados obtidos.
PR-TESTE
Foi realizado pr-teste com o intuito de avaliar a compreenso das mulheres
sobre as questes que compem o formulrio (APNDICE F).
Como as trs purperas participantes do pr-teste compreenderam as questes
do instrumento (APNDICE F), elas foram includas como participantes do estudo.
Vale salientar que o pr-teste foi iniciado aps aprovao do projeto pelo Comit de
tica em Pesquisa e pela Secretaria de Sade de Rio Claro.
PRINCPIOS TICOS
Este estudo obteve aprovao do Comit de tica em Pesquisa (CEP) da
Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo, processo n 989/2010
(APNDICE G).
Com a aprovao pelo CEP, o passo seguinte foi o encaminhamento da carta
de solicitao de Autorizao de Pesquisa, Secretaria Municipal de Sade de Rio
Claro. O secretrio de sade do municpio autorizou e liberou o campo de coleta,
com a concordncia do mdico responsvel pelo setor de Ateno Bsica do
municpio (APNDICE B).
As mulheres que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APNDICE H), confeccionado em duas
vias, segundo as normas da Resoluo 196/96, do Conselho Nacional de Sade.
O TCLE era lido pela pesquisadora para a purpera antes do incio da coleta
de dados e, caso houvesse alguma dvida, essa era sanada para posterior assinatura
do termo.
A seguir, apresentamos os resultados obtidos com as entrevistas das 20
participantes do estudo.
49
Fonte: http://paulicasantos.wordpress.com/
Resultado
http://paulicasantos.wordpress.com/50
Caracterizao das participantes
As purperas participantes do presente estudo foram caracterizadas por meio
dos dados de identificao (PARTE I APNDICE F), coletados na entrevista.
Foram identificadas pelas iniciais de seus nomes e reconhecidas por deusas. Esse
reconhecimento como deusa foi utilizado como meio de manter o anonimato da
participante, alm de demonstrar sua identificao pessoal com a deusa de sua
escolha.
A seguir, apresentamos os quadros com os dados de identificao de cada
purpera, segundo a ordem e a data das entrevistas.
51
Idade: 18 anos
Escolaridade: 1 srie do ensino mdio
Informou no ser fumante, etilista ou drogradita
Evanglica
Mora com o companheiro e mais 3 pessoas, tem renda familiar
de 800,00 reais, sendo a renda per capita de 200,00 reais.
Relatou ter convivido com a me, o pai e a sogra e,
atualmente, diz conviver com a me e o companheiro.
Origem da famlia materna: No informado
Origem da famlia paterna: No informado
Compareceu a p a 7 consultas de pr-natal na Unidade
Bsica de Sade.
Teve cesariana e compareceu para as consultas de ps-parto a
p.
Chama o perodo ps-parto de: Resguardo
A entrevista foi realizada aos 37 dias de ps-parto.
Reconhecida por:
Fonte:
http://blog-
psique.blogspot.com.br/2011/04/o-
arquetipo-afrodite.html
Deusa: AFRODITE (VNUS)
Deusa da beleza e do amor
Uma das deusas mais bonitas da
mitologia
Mulher sempre apaixonada
Idade: 28 anos
Escolaridade: 3 srie do ensino mdio
Informou fumar cerca de 10 cigarros por dia, mas negou ser
etilista ou drogradita
Esprita
Mora com mais 3 pessoas, tem renda familiar de 3.000,00
reais, sendo a renda per capita de 750,00 reais. Relata no
conviver com o companheiro.
Relatou ter convivido com os avs materno e paterno, os pais,
irmos, sogra, alm de tios e primos. Atualmente, diz conviver
com os pais, os irmos, os cunhados e as sobrinhas.
Origem da famlia materna: No informado
Origem da famlia paterna: No informado
Compareceu de moto particular a 13 consultas de pr-natal na
Unidade Bsica de Sade.
Teve cesariana e compareceu para as consultas de ps-parto
com a moto particular.
Chama o perodo ps-parto de: Dieta e aprendizado
A entrevista precedeu a consulta puerperal, na qual a purpera estava com 44 dias de ps-parto.
Reconhecida por:
Fonte:
http://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/0
7/as-tres-faces-da-deusa.html
Deusa: DEMTER (Ceres)
Deusa da fertilidade e da agricultura
Deusa responsvel pelo casamento
Simboliza a mulher-me, gosta da
gravidez, amamentao e do cuidado
com as crianas.
Identificao da Purpera: RFF
Identificao da Purpera: MFL
http://blog-psique.blogspot.com.br/2011/04/o-arquetipo-afrodite.htmlhttp://blog-psique.blogspot.com.br/2011/04/o-arquetipo-afrodite.htmlhttp://blog-psique.blogspot.com.br/2011/04/o-arquetipo-afrodite.htmlhttp://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/07/as-tres-faces-da-deusa.htmlhttp://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/07/as-tres-faces-da-deusa.html52
Idade: 18 anos
Escolaridade: 3 srie do ensino mdio
Informou no ser fumante, etilista ou dogradita
Evanglica (no praticante)
Mora com o companheiro e mais 3 pessoas, tem renda familiar
de 3.000,00 reais, sendo a renda per capita de 600,00 reais.
Relatou ter convivido com os avs, os tios e as primas
materno, avs paternos, os pais, os cunhados e a sogra e o
sogro. Atualmente, diz conviver com os pais, o sogro e a
sogra, os cunhados, alm de tios e primas por parte da me.
Origem da famlia materna: Brasileira (Paulista)
Origem da famlia paterna: Italiana
Compareceu com carro emprestado por familiar a 10 consultas
de pr-natal na Unidade Bsica de Sade.
Teve parto normal e compareceu para as consultas de ps-
parto com o carro emprestado por familiar.
Chama o perodo ps-parto de: Resguardo
A entrevista precedeu a consulta puerperal, na qual a purpera estava com 42 dias de ps-parto.
Reconhecida por:
Fonte:
http://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/0
7/as-tres-faces-da-deusa.html
Deusa: RTEMIS (Diana)
Deusa da caa e da floresta
Deusa do parto
Simboliza a mulher que aprecia
animais e a natureza
Idade: 27 anos
Escolaridade: Ensino superior completo
Informou no ser fumante, etilista ou drogradita
Catlica
Mora com o companheiro e mais 2 pessoas, tem renda familiar
de 2.300,00 reais, sendo a renda per capita de 766, 60 reais.
Relatou ter convivido com os avs maternos e paternos, os pais,
os sogros, os irmos e o tio. Atualmente, diz conviver ainda com
os avs maternos e paternos, os pais, os sogros, os irmos e o tio.
Origem da famlia materna: Italiana
Origem da famlia paterna: Portuguesa
Compareceu de carro particular a 10 consultas de pr-natal na
Unidade Bsica de Sade.
Teve cesariana e compareceu para as consultas de ps-parto com
carro prprio.
Chama o perodo ps-parto de: Dieta
A entrevista precedeu a consulta puerperal, na qual a purpera estava com 42 dias de ps-parto.
Reconhecida por:
Fonte:
http://www.luzemhisterio.com.br/porta
l/index.php?option=com_content&vie
w=article&id=363
Deusa: HSTIA
Deusa do fogo solar e da lareira.
Deusa sbia que promovia os laos
familiares.
Simboliza a mulher sensitiva.
Identificao da Purpera: ANA
Identificao da Purpera: TAS
http://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/07/as-tres-faces-da-deusa.htmlhttp://circulandomagia.blogspot.com.br/2010/07/as-tres-faces-da-deusa.htmlhttp://www.luzemhisterio.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=363http://www.luzemhisterio.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=363http://www.luzemhisterio.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=36353
Idade: 20 anos
Escolaridade: 1 srie do ensino mdio
Informou no ser fumante, etilista ou drogadita
Evanglica (no praticante)
Mora com 5 pessoas, tem renda familiar de 3.000,00 reais, sendo a
renda per capita de 500,00 reais. No reside com o companheiro.
Relatou ter convivido com os avs maternos e paternos, pais e
irmos. Atualmente, diz conviver com o pai e as irms.
Origem da famlia materna: Brasileira (Paranaense)
Origem da famlia paterna: Brasileira (Paulista)
Compareceu a p a 6 consultas de pr-natal na Unidade Bsica de
Sade.
Teve cesariana e compareceu para as consultas de ps-parto a p.
Chama o perodo ps-parto de: Dieta
A entrevista foi realizada em sua residncia, quando a purpera
estava com 34 dias de ps-parto.
Reconhecida por:
Fonte:
http://cantinhodosdeuses.blogspot.com.b
r/2011/03/deusa-persefone.html
Deusa: PERSFONE (Cora)
Deusa dos mistrios
Deusa com beleza estonteante.
Deusa guardi dos segredos.
Simboliza a mulher misteriosa
com lado criana.
Idade: 21 anos
Escolaridade: 3 srie do ensino mdio
Informou no ser fumante, etilista ou drogradita
Evanglica
Mora com o companheiro e mais 5 pessoas, tem renda familiar de
3.000,00 reais, sendo a renda per capita de 428,50 reais.
Relatou ter convivido com os avs paternos e av materna, os pais,
os sogros, os irmos e o enteado do tio. Atualmente, diz conviver
com a av materna, os pais, os sogros, os irmos e o enteado do
tio.
Origem da famlia materna: Brasileira (Paulista)
Origem da famlia paterna: Brasileira (Paulista)
Compareceu com carro prprio a 7 consultas de pr-natal na
Unidade Bsica de Sade.
Teve cesariana e compareceu para as consultas de ps-parto com
carro prprio.
Chama o perodo ps-parto de: Momento de tranquilidade
A entrevista precedeu a consulta puerperal, na qual a purpera estava com 44 dias de ps-parto.
Reconhecida por:
Fonte:
http://www.infoescola.com/mitologi
a-grega/hera/
Deusa: HERA (Juno)
Deusa protetora do casamento e
da fidelidade
Deusa protetora das mulheres e
senhora dos partos.
Simboliza a mulher ligada ao
poder e boa esposa.
Identificao da Purpera: MDA
Identificao da Purpera: PRG
http://cantinhodosdeuses.blogspot.com.br/2011/03/deusa-persefone.htmlhttp://cantinhodosdeuses.blogspot.com.br/2011/03/deusa-persefone.htmlhttp://www.infoescola.com/mitologia-grega/hera/http://www.infoescola.com/mitologia-grega/hera/54
Idade: 22 anos
Escolaridade: 3 srie do ensino mdio
Informou no ser fumante, etilista ou dogradita
Catlica
Mora com mais 3 pessoas, tem renda familiar de 1.500,00 reais,
sendo a renda per capita de 375,00 reais. No reside com o
companheiro.
Relatou ter convivido com os avs maternos, os pais, os irmos, a
tia e os primos. Atualmente, diz conviver com a me e os irmos.
Origem da famlia materna: Italiana
Origem da famlia paterna: Portuguesa
Compareceu de moto a 9 consultas de pr-natal na Unidade Bsica
de Sade.
Teve parto normal e compareceu para as consultas de ps-parto de
moto.
Chama o perodo ps-parto de: Dieta
A entrevista precedeu a consulta puerperal, na qual a purpera estava com 42 dias de ps-parto.
Reconhecida por:
Fonte:
http://cantinhodosdeuse