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8 Pensar A GAZETA VITÓRIA, SÁBADO, 9 DE NOVEMBRO DE 2013 A FORÇA DAS OBRAS DO ESCULTOR CAPIXABA QUE MODELA O AÇO-CARBONO artes plásticas VILAR: A FERRO E FOGO N as laterais do largo que serve de estacionamen- to, defronte ao Tribunal de Justiça e no saguão de um hotel, na Enseada do Suá, encontram-se três esculturas-monumento (2010-2011) do artista plástico Vilar, capixaba de Vila Velha (1950). Co- missionadas por empresários da ci- dade, elas estão fincadas em pro- priedade particular, mas acessíveis à admiração de quem por ali transita e se depara com suas formas exube- rantes, abertas e dinâmicas, mas dis- tantes da ideia de beleza da escultura clássica. O espectador, diante do peso e da magnitude de suas formas sólidas, feitas de chapas de aço-carbono, su- jeitas às variações impostas pelas intempéries, pode se indagar: qual é a sua origem, de onde elas vêm? Como o artista chegou a elas? Qual é o seu processo de criação? O que o artista pretende que delas seja apre- endido? E assim, ao valer-se de sua curiosidade, de suas fantasias e ima- ginação, pode dar-lhes os mais di- ferentes significados. Vilar, professor de escultura do Cen- tro de Artes da UFES (1976-2011), foi apresentado ao seu fazer ainda na adolescência, quando frequentou o ate- liê do escultor italiano Carlo Crepaz (1911-1992), em Santo Antônio. O contato e o diálogo com materiais e técnicas de modelagem o levaram ao curso de Artes Plásticas (1971-1975) e a buscar o caminho da escultura e assim conviver de perto com seus mestres Crepaz e MOA (Moacyr Fernandes de Figueiredo, 1922-1977), com quem sis- tematizou seus conhecimentos, aliados às aulas de desenho com o artista e professor Maurício Salgueiro (1930). Do desenho, da modelagem com argila, das cópias de gesso à fundição das peças em bronze; do entalhe com madeira até o caminho do domínio de cortar, moldar e soldar o aço-carbono foram anos de aprendizado e expe- caminhos trilhados por escultores brasileiros desde os anos 50 como Franz Weissmann (1914-2015), Amil- car de Castro (1921-2002) e Sérgio Camargo (1930-1990). Avesso a rótulos, ele não põe títulos em suas obras, e apesar de considerar o período neoconcreto como ápice da arte brasileira, ele não atrela suas es- culturas a este estilo e afirma que a sua produção artística é resultado de co- nhecimentos e entendimentos que vem amealhando ao longo do tempo. Mesmo considerando as bar- reiras que a escultura em aço carbono enfrenta na arte contem- Uma das obras de Vilar na Enseada do Suá, em Mesmo considerando as barreiras que a escultura em aço-carbono enfrenta na arte contemporânea, Tudo ganha forma em suas mãos, mas é o ferro que o atrai” > riência. Auxiliar seus mestres na pro- dução de suas esculturas e a certeza de que esta arte fazia parte de sua vida valeu-lhe o ingresso como professor do Centro de Artes (1976). Ensinar desenho, plástica, gravuras em suas diversas modalidades foram etapas vencidas até ficar responsável pela área de escultura. Peças como bus- tos (retratos) em bronze, esculturas que envolvem mistura de ferro, madeira, pedra (granito e mármore) e concreto, tudo ganha forma em suas mãos, mas é o ferro que o atrai. A cumplicidade criada entre ele e o aço-carbono é parte de sua vida. O contato com este metal teve início em 1972, quatro décadas de con- vívio com um tipo de material que exige precisão nos cortes, domínio de ma- çaricos, esmerilhadoras, soldas e, por que não, força física, quando a escultura caminha para o campo de monumento. Além de dominar as técnicas de escultura clássica tridimensional, que produz esporadicamente, Vilar tam- bém se dedica, precipuamente, em produzir esculturas onde a abstração geométrica é aplicada ao aço-carbo- no, com linguagens que se funda- mentam nos princípios da arte con- creta e neoconcreta – a linha, o plano, o cilindro, o corte e a dobra, o volume e a sua interação com o espaço –,

nea, ele a persegue como ideal de vitalidade, de integraç

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8PensarA GAZETAVITÓRIA,SÁBADO,9 DE NOVEMBRODE 2013

A FORÇA DAS OBRAS DO ESCULTORCAPIXABA QUE MODELA O AÇO-CARBONO

artes plásticas

VILAR:A FERROE FOGON

as laterais do largo queserve de estacionamen-to, defronte ao Tribunalde Justiça e no saguãode um hotel, na Enseadado Suá, encontram-se

três esculturas-monumento(2010-2011) do artista plástico Vilar,capixaba de Vila Velha (1950). Co-missionadas por empresários da ci-dade, elas estão fincadas em pro-priedade particular, mas acessíveis àadmiração de quem por ali transita ese depara com suas formas exube-rantes, abertas e dinâmicas, mas dis-tantes da ideia de beleza da esculturaclássica.

O espectador, diante do peso e damagnitude de suas formas sólidas,feitas de chapas de aço-carbono, su-jeitas às variações impostas pelasintempéries, pode se indagar: qual éa sua origem, de onde elas vêm?Como o artista chegou a elas? Qual éo seu processo de criação? O que oartista pretende que delas seja apre-endido? E assim, ao valer-se de suacuriosidade, de suas fantasias e ima-ginação, pode dar-lhes os mais di-ferentes significados.

Vilar, professor de escultura do Cen-tro de Artes da UFES (1976-2011), foiapresentado ao seu fazer ainda na

adolescência, quando frequentou o ate-liê do escultor italiano Carlo Crepaz(1911-1992), em Santo Antônio. Ocontato e o diálogo com materiais etécnicas de modelagem o levaram aocurso de Artes Plásticas (1971-1975) ea buscar o caminho da escultura e assimconviver de perto com seus mestresCrepaz e MOA (Moacyr Fernandes deFigueiredo, 1922-1977), com quem sis-tematizou seus conhecimentos, aliadosàs aulas de desenho com o artista eprofessor Maurício Salgueiro (1930).

Do desenho, da modelagem comargila, das cópias de gesso à fundiçãodas peças em bronze; do entalhe commadeira até o caminho do domínio decortar, moldar e soldar o aço-carbonoforam anos de aprendizado e expe-

caminhos trilhados por escultoresbrasileiros desde os anos 50 comoFranz Weissmann (1914-2015), Amil-car de Castro (1921-2002) e SérgioCamargo (1930-1990).

Avesso a rótulos, ele não põe títulosem suas obras, e apesar de considerar operíodo neoconcreto como ápice daarte brasileira, ele não atrela suas es-culturas a este estilo e afirma que a suaprodução artística é resultado de co-nhecimentos e entendimentos que vemamealhando ao longo do tempo.

Mesmo considerando as bar-reiras que a escultura em açocarbono enfrenta na arte contem-

Uma das obras de Vilar na Enseada do Suá, em V

Mesmo considerando as barreiras que a escultura em aço-carbono enfrenta na arte contemporânea, ele a persegue como ideal de vitalidade, de integração

Tudo ganha formaem suas mãos,mas é o ferroque o atrai”

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riência. Auxiliar seus mestres na pro-dução de suas esculturas e a certeza deque esta arte fazia parte de sua vidavaleu-lhe o ingresso como professor doCentro de Artes (1976).

Ensinar desenho, plástica, gravurasem suas diversas modalidades forametapas vencidas até ficar responsávelpela área de escultura. Peças como bus-tos (retratos) em bronze, esculturas queenvolvem mistura de ferro, madeira,pedra (granito e mármore) e concreto,tudo ganha forma em suas mãos, mas é oferro que o atrai. A cumplicidade criadaentre ele e o aço-carbono é parte de suavida. O contato com este metal teveinício em 1972, quatro décadas de con-vívio com um tipo de material que exigeprecisão nos cortes, domínio de ma-çaricos, esmerilhadoras, soldas e, porque não, força física, quando a esculturacaminha para o campo de monumento.

Além de dominar as técnicas deescultura clássica tridimensional, queproduz esporadicamente, Vilar tam-bém se dedica, precipuamente, emproduzir esculturas onde a abstraçãogeométrica é aplicada ao aço-carbo-no, com linguagens que se funda-mentam nos princípios da arte con-creta e neoconcreta – a linha, o plano,o cilindro, o corte e a dobra, o volumee a sua interação com o espaço –,

Documento:AG09CP00008;Página:1;Formato:(274.11 x 382.06 mm);Chapa:Composto;Data:07 de Nov de 2013 17:12:06

9PensarA GAZETA

VITÓRIA,SÁBADO,

9 DE NOVEMBRODE 2013

por ALDA LUZIA PESSOTTI

VITOR NOGUEIRA/DIVULGAÇÃO

ada do Suá, em Vitória: fincadas em propriedade particular, mas acessíveis à admiração de quem por ali transita e se depara com suas formas exuberantes, abertas e dinâmicas

arte contemporânea, ele a persegue como ideal de vitalidade, de integração de forma e de sentimento

porânea, ele a persegue comoideal de vitalidade, de integraçãode forma e de sentimento.

EsculturasAs três esculturas expostas na En-

seada do Suá têm sua origem em peçasmodulares de ferro em forma de coneraso, que evocam bateias, usadas emgarimpos de ouro e diamantes. Elasforam expostas em galeria da cidade(2008), onde forma apresentadas co-mo instalações, esculturas e gravuras.As bateias – ora sozinhas, ora soldadasface a face e justapostas em formas

modulares em cadeia, em séries – en-sejam as mais variadas composições.Em pequenos formatos elas podem or-namentar espaços de decoração de in-teriores, fixadas em paredes ou as-sentadas em pisos e móveis. O seuprocesso de criação tem o desenho dabateia como base e sua transformaçãoem molde de cartolina, papel cartão ouaté papelão e depois a feitura do pro-tótipo, este já moldado no ferro.

O tamanho de cada peça depende doespaço que a escultura vai ocupar e asvariações que possam ensejar. No casoda escultura em forma de totem, ex-posta no saguão do hotel, o seu prin-

cípio é a série e o potencial de des-dobramento sem fim. Para Vilar, o su-cesso da escultura-monumento ultra-passa o seu lado visual e estético, e oartista tem de privilegiar o seu processode criação e feitura. Conforme suacomplexidade, o trabalho exige tarefasrealizadas dentro e fora do ateliê eserviços de usinagem industrial.

Quando necessário, ele se vale deauxiliares, geralmente ex-alunos, e sehá exigência de cálculos, ele interagecom especialistas de engenharia. Para oartista o processo criativo está sempreem evolução, mesmo quando a ima-ginação permite-lhe desviar-se do pro-

jeto inicial, criando novas formas, massem comprometer a sua essência.

Na escultura feita de aço-carbono, de-pendendo do foco de luz, matizes acom-panham sua coloração e com o passar dotempo o metal passa por mutações, crian-do uma nova pele, que nem camaleão.Como escultura-monumento, sem a baseda escultura clássica, ela brota no chãocomo uma flor e organiza o espaço docaos (estacionamento com veículos e pas-santes preocupados com seus afazerescotidianos) com suas formas geométricasdefinidas a despertar o interesse daspessoas em questioná-la ou inter-pretá-la.

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Documento:AG09CP00009;Página:1;Formato:(274.11 x 382.06 mm);Chapa:Composto;Data:07 de Nov de 2013 17:12:48