Nelson Saldanha - Sobre a Evolução Do Direito Natural

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    SobreaEvoluo

    do

    Problema

    do

    Direito

    Natural*.

    Nelson Nogueira Saldanha

    (Docente-livre de Direito Constitucional na

    Pac. de Direito da Univ. Federal de

    Pernambuco).

    SUMRIO: Liberdade e direito natural nos tempos mo

    dernos:ligao entre suas trajetrias. Peripcias

    do

    jus-

    naturalismo contemporneo: seus desdobramentos

    e

    suas

    dificuldades. Direito natural

    e

    teoria

    do

    direito

    na

    tural:anotao

    margem dos livros sobre direito natural.

    Reflexes pouco conclusivas.

    Qual o interesse, para povos na situao do brasileiro,

    de questes co mo a de direito natural? primeira vista,

    poderia parecer que semelhante classe de temas, cujo con

    torno se acha marcado com as caractersticas de u m a origem

    estranha nossa experincia

    cultural,

    no interessa ordem

    de premncias que hoje esto necessitadas de discusso

    ntr

    ns;

    poderia parecer que os problemas que conduziram

    o desenvolvimento da teoria do direito natural, sendopro

    blemas situados na histria dos povos

    europeus,

    no encon

    tram correspondncia concreta no caso da dos povos ditos

    perifricos. E m realidade, preciso convir que todopro

    blema doutrinrio tem u m condicionamento histrico, e os

    conjuntos de conceitos e de categorias, que formam u m

    tema como o do direito natural, surgiram e cresceram sob

    aquele condicionamento. Mas n e m isso impede, antes cer

    tamentepermite,que a questo das metamorfoses do direito

    *

    Conferncia pronunciada

    e m 17 de

    setembro

    de

    1955

    na

    Facul

    dade

    de

    Direito

    de

    Caruaru, Pernambuco.

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    natural seja revista dentro dos nveis intelectuais da vida

    brasileira, tal como nos propomos aqui sugerir ou tentar:

    no s porque os pases como o nosso precisam sempre das

    lies da histria dos

    outros,

    desde que lcidamente enten

    didas,

    como porque, onde quer que se estude o Direito, se

    melhante questo se reveste de vibrante importncia.

    Liberdade e Direito natural nos tempos modernos.

    De certo modo, as experincias passadas da humani

    dade v m tendo o seu perfil traado, ou retraado, e m

    funo de experincias novas. Assim, o que se chamou de

    liberdade antiga foi algo cuja descrio serviu no s

    culo XIX para contraste perante a idia liberal de liberdade;

    e outros elementos da vida de outras

    pocas,

    como o direito

    ou a pedagogia, tm seus caracteres reconstrudos toda vez

    que u m a gerao quer, servindo-se da histria, dar fundo

    propcio ao que faz ou quer fazer.

    N o caso da idia de

    liberdade

    que e m si m e s m a cor

    responde a u m a vivncia intransfervel, a sua conceituao

    durante o liberalismo utilizou, como tela ou marco arqueo

    lgico,

    o quadro da

    polis

    e m que o indivduo dizia-se

    era absorvido, m e s m o na medida e m que fosse

    livre,

    pela

    comunidade poltica e cultural. Note-se que a cincia

    his

    trica, que trabalhava sobre os temasclssicos,se abeberava

    dos princpios daquele mes mo liberalismo moderno, a que

    alimentava.

    Olhando-se, agora, os componentes da gnese e da

    evo

    luo dessa teoria moderna da liberdade, encontramos, ao

    lado do condicionante social, ou seja do predomniocres

    cente da classe burguesa e de seus padres econmicos, u m a

    srie de ingredientes culturais: a secularizao da menta

    lidade,o

    individualismo,

    o

    racionalismo.

    Assim, a teoria da

    liberdade, desenvolvida nos marcos burgueses, vinha sin

    cronizada com u m racionalismo que tudo queria pr e m

    princpioscorretos,e m evidncias geomtricas, e m frmulas

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    universais; entretanto ela, aquela teoria, tomou gosto e m

    montar comparaes histricas, e e m distinguir-se por elas

    de tudo o que era antigo: democracia antiga, direitoanti

    go.

    Por u m lado suas matrizes clssicas a ligavam ao di

    reito natural, a u m direito imutvel, desdobrvel e m di

    reitos inerentes a cada

    qual,

    atomizados e pr-positivos; por

    outro,

    sua conscincia de modernidade, que descrevia seu

    regime social co mo coisa nova, moldava-lhe u m a vocao

    histrica.

    Esse tema de suma importncia. A teoria moderna

    da liberdade nasceu e m paralelo com a da democracia bur

    guesa,

    e ambas cresceram como oposio a regimes sociais

    e

    polticos,

    cuja queda fz que tais teorias se generalizassem.

    Mas nesse processo elas vinham levantando complicadas

    problemticas, de sorte que desde o advento da democracia

    liberal os movimentos polticos so ocasio, sempre, dedis

    cusso,e nenhum regime pde mais dispensar a autojusti-

    ficao. A teoria liberal tinha de se justificar e m cada

    passo,

    pondo alis com isso questes permanentes. Suce

    deu ento que, de dentro me s m o dos temas que surgiram,

    cresceu a oposio entre a matriz clssica universalizante e

    intemporalizante da teoria liberal e sua tendncia a fazer

    histria e a justificar mutaes. A matriz clssica era o

    cartesianismo trazido para a poltica, a tendncia a tirar da

    razo,

    e s dela (ou do b o m senso c omo s vezes se dizia)

    as bases das instituies; tendncia frutifiada inclusive e m

    R O U S S E A U ,

    na medida e m que seu ideal poltico supunha

    u m a especfica razo poltica de base individual e apesar

    da derrapagem comunitarista que sua vontade geral

    envolvia. Era universalizante e intemporalizante, e nesse

    sentido, b e m do sculo xvm, odireito naturalera u m per

    feito complemento, seno u m fundamento, da idia de li

    berdade. Chegou-se ao ponto e m que, n u m a certa fase,

    falar de direito natural e de filosofia do direito era a m e s m a

    coisa. J a necessidade de aluses histricas, que havia na

    temtica das discusses como que se auto justificava o ideal

    demoliberal, trazia consigo a idia de que certas mudanas

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    histricas so necessrias, seno m e s m o a idia da histria

    como ordem de mu dan as necessrias. Por u m tempo, fa

    lou-se apenas de

    PRICLES,

    da democracia grega e de coisas

    assim, que os ingleses do tempo deG R O T Emuito aprecia

    v am; depois, porm, a filosofia assumiu o tema, e viu-se

    H E G E L ,entusiasta da revoluo francesa, estabelecer a idia

    da racionalidade essencial de toda transformao

    real.

    E

    os juristas da Escola Histrica apesar da pouca simpatia

    deSAVTGNYporH E G E L deram noo de direito u m tra

    tamento, em que o jusnaturalismo clssico ficava mal co

    locado:agora o fundamental era o conjunto orgnico da

    vida do povo, como bero do direito, u m conjunto tomado

    e m concreto, co mo u m a coisa

    real.

    Para o problema da situao histrica do conceito de

    liberdade moderna, v. m e u

    Liberdade moderna

    e

    histria da

    liberdade em Anais do IV Congresso rasileiro deFilosofia

    S. Paulo Fortaleza, 1962. O problema, no caso da

    liberdade, ser o de situar as circunstncias institucionais,

    necessrias para fazer histria, sem desligar do senti

    mento

    de liberdade, sinal de sua efetiva existncia. Sobre

    o desencadeamento de teorizaes justificadoras de regimes

    e de contra-regimes desde as revolues liberais, m eu

    Notas

    para unatipologia

    de las

    mentalidades polticas

    e mEstdios

    de Sociologia

    n. 2, Buenos Aires, 1962. N o artigo Li

    berty , na Encyclopaedia of Social Sciences(ed. de 1935,

    vol. IX ), H.LASKI encontra dois grandes perodos na evolu

    o da liberdade desde a Reforma: primeiro, o da luta pela

    libertao do indivduo perante travas religiosas, econmicas,

    polticas,com sentido negativo, por ser mais u m a luta pela

    liberdade contra algo; segundo, o das lutas sociais, pe-

    dindo-se u m a liberdade para todos, com sentido positivo por

    ser j u m a luta por u m a liberdade para algo. O mesmo

    esquema adotado por

    F R O M M

    em seu Medo da Liberdade

    mas, apesar de sugestivo, muito simplificador e discutvel:

    porque na fase do individualismo a pugna contra presses de

    origem medieval era tambm impulso a favor de certos

    fins,

    valores ou concesses, e na fase social a referncia a

    positividades visadas no dispensa o complemento, que a

    necessidade de livrar-se de situaes que obstem as pre

    tenses.

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    Peripcias do jusnaturalismo contemporneo

    A posio da Escola Histrica, porm, no foi a palavra

    definitiva sobre o Direito Natural, e h hoje u m a srie de

    revises dotema,a

    t r

    e mconta.Felizmente, alis.

    H que considerar, na trajetria do direito natural du

    rante o largo processo que os historiadores c h a m a m de

    advento dos tempos modernos , a sua diviso e m u m a

    corrente teolgica e outra secularizada. O u

    antes:

    o direito

    natural de linha teolgica, que vinha dos claustros da Idade

    Mdia,

    continua a atuar literriamente depois da Reforma

    luterana (e continua sobretudo entre os jesutas

    espanhis),

    mas agora coexistindo com u m a nova e poderosa verso do

    direito natural, conduzida e m sentido secular e raciona-

    lista,vinculada cultura dos pases protestantes.

    0 que sucedia era algo paralelo ao caso da teoria do

    contrato social; esta teoria, cultivada durante a Idade

    Mdia e bastante conhecida pelos escritores dos sculos

    xin a

    xvi,

    assume depois, com

    H O B B E S , L O C K E

    e

    R O U S S E A U ,

    u m a importncia to realada, que c omo se se tratasse

    de u m a formao doutrinria inteiramente nova. Cada

    u m a das grandes teorias contratualistas carregou, por

    sinal,

    u m a determinada concepo do direito natural e dos

    direitosnaturais:u m a e m

    H O B B E S ,

    outra e m

    L O C K E

    etc.

    Voltando, porm, ao ramo secularizado-racionalista do

    jusnaturalismo, le informou u m a ba parte do pensamento

    social nos sculos xvn e xvin, servindo orientaes dife

    rentes,mas sempre marcando a temtica jurdico-poltica

    por u m padro expositivo tipicamente apriorista e deduti-

    vista. O jusnaturalismo moderno se generalizou, assim,

    como u m momento do prprio esprito europeu e m seu

    desenvolvimento, como u m elemento dentro do grande fe

    nmeno da secularizao da mentalidade ocidental.

    Havia,

    entretanto, problemas e

    percalos,

    no tocante

    relao entre o jusnaturalismo e a teoria da liberdade, que

    viria a ser alcanada por u m a srie de reivindicaes

    sociais.

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    U m detalhe a que pouca gente prestou a

    ateno,

    foi o

    fato de

    que,

    segundo o jusnaturalismo

    clssico,

    a concepo

    ideal da sociedade se plasmava como u m todo unitrio e

    u m tanto leibnizeanamente harmonioso. A ordem po

    ltica deveria assentar-se sobre a substncia de u m grupo

    social perfeitamente coeso. Isso conduzia, por conseqn

    cia,

    a u m a resistncia idia de partidos: e por isso eles

    foram chamados, por muito tempo, de faces e seitas .

    E ocorreuque,inclusive pelas necessidades e convenincias

    do parlamentarismo ingls, tornado modelo, a democracia

    liberal consagrou os partidos e chegou a dar-lhes o carter

    de essenciais liberdade poltica: havia nisso u m a implcita

    concesso parte de movimento que devia haver na vida

    poltica, por cima do ideal u m tanto esttico que aquela

    harmonia representava.

    D e qualquersorte,o direito natural se integrou na expe

    rincia democrtica. O sculo xvm, cuja ideologia segundo

    C A R L B E C K E R

    era u m a espcie de terrestrizao da cidade

    de

    Deus

    agostiniana, construiu as suas reclamaes sobre

    a idia de u m a ordem naturalmente desejvel, na qual a

    vontade individual livre (na verdade a vontade burguesa)

    era o organon e o metron para todas as dimenses. A

    liberdade era u m dos direitos, ditos inatos e inalienveis,

    mas

    era,

    antes disso e mais do que

    isso,

    a condio de toda

    ordem. Assim as definies de direito modelo, a de

    K A N T tomaram a liberdade comomarco,e a pluralizao

    dela como sistema.

    Talvez as conscincias daquele tempo no tenham visto

    tudo assim; m a s a histria u m rever, e m que os prota

    gonistas no sabem de seus espectadores futuros.

    O certo que,para a compreenso que hoje se projeta

    sobre tudo aquilo, a Revoluo Francesa foi u m episdio

    jusnaturalista: quer dizer, u m movimento e m cujo arsenal

    de idias os princpios do Direito Natural ocupavam parte

    eminente, e esse arsenal de idias era, ocioso dizer, o de

    todo o sculo xvm. H, porm, mais ainda: dada a exem-

    paridade histrica que aquela revoluo assumiu, chegou

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    a formar-se a opinio de que e m toda revoluo atua

    u m a idia jusnaturalista, pois que todo embate consciente

    contra u m a ordem dada implica a f e m valores superiores,

    implica a opinio de

    que,

    acima da positividade da ordem

    a derrubar, vigoram preceitos cujo valor independe da vi

    gncia concreta m as que legtimo fazer vigorar por meio

    daluta.J existe sobre

    isso,

    por

    sinal,

    u m vasto rosrio de

    referncias, mais explcitasumas,outras menos. O que su

    cede que este paralelo, entre revoluo e m geral e jusna

    turalismo e m

    geral,

    reduz ambas as coisas e representaes

    u m tanto esquemticas e bastante amplas, ficando por isso

    ao alcance da crtica histrica, sempre faminta de peculia

    ridades e de diferenas especficas

    Retomemos,porm, a situao da teoria social da de

    mocracia. Ela, tendo nascido e m bero geomtrico, insta

    lada nos claros meridianos individualizantes e universali-

    zantes do classicismo, adotou e m tempo as inovaes tra

    zidas pelas escolas de cincia

    social,

    e eram as contribuies

    da filologia, da etnografia, da sociologia, de permeio com as

    escolas histricas de poltica, de direito e de economia.

    Essas inovaes e m termos de cincia social puxavam o

    iderio democrtico para terreno concreto, e m que impres

    sionava antes de tudo o espetculo do varivel: as coisas

    humanas,

    nos grupos ou nas

    pessoas,

    passavam a ser vistas

    como variabilidade no tempo e noespao,conforme sculos

    e

    pocas,

    ou continentes e

    climas.

    Isso era propcio ao de

    senvolvimento de u m a tendncia da doutrina democrtica,

    mencionada

    atrs,

    a de pr o debate e m termos de histria.

    Mas ento o direito natural, categoria tpica da forma

    de pensar universalizante, ficava difcil de conciliar com

    essas novas tendncias. A sociologia, desde C O M T E ,repu

    diava a idia abstrata dos

    direitos,

    taxados de metafsicos;

    as escolas histricas enxergavam por toda parte sistemas

    concretos,c om contornos e condicionamentos bem situados;

    a filosofia crtica impugnava todo apriorismo. Foram, por

    tanto,

    trs os fronts e m que se viu combatida a venervel

    e j ento encanecida figura do direito natural: a) o po-

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    sitivismo sociolgico, vinculado ao empirismo e m geral e aos

    sociologismos e evolucionismo de toda sorte, incluindo os

    etnografistas dodireito;b) o criticismo gnoseolgico e

    epis-

    temolgico, rejeitador de sistemas de cunho dogmtico, que

    atingia justamente as matrizes pufendorfianas e wolfianas

    do direito natural de at comeos do sculo xix; c) os ro-

    mantismos e nacionalismos, ocupando-se com os particula-

    rismos populares e co m a promoo de u m saber das naes

    sobre siprprias,atravs da histria, e considerando o di

    reito produto interno de cada u m a delas.

    Por falar e m histria, cumpre anotar que a Escola de

    SAVIGNYno foi intencionalmente antijusnaturalista, e que

    no rechaou expressamente a idia de princpios jurdicos

    extralegais;

    o que fz foi substituir a anterior fundamen

    tao da

    cincia

    jurdica e m preceitos ditos filosficos, por

    u m a fundamentao no estudo dos costumes e da evoluo

    da vida jurdica dos povos. Tanto que n u m autor como

    A H R E N S

    encontramos u m a conciliao n e m tanto lograda

    entre jusnaturalismo e perspectiva histrica.

    D e qualquer m odo, a crise do direito natural, ou do

    jusnaturalismo, era patente. E como ambas as coisas

    vinham sendo componentes essenciais do enraizamento do

    pensar jurdico europeu no prprio cerne da vida espiritual

    do chamado Ocidente, pareceu a certos autores que aquela

    crise era algo grave, algo alarmante; alguns acharam

    m e s m o que certas formas de negar o direito natural eram

    deletrias.

    Assim o famoso

    E R N S TTROELTSCH,

    n u m exagero

    explicvel, escreveu u m ensaio dizendo que a oposio ao

    jusnaturalismo ocidental, levada a cabo pelo historicismo

    alemo,era u m perigo para a permanncia dos valores

    culturais europeus e tinha sido inclusive u m dos caminhos

    para o nazismo. Mas deixemos isso.

    Para a explanao da teoria do Direito Natural, com

    todos

    os

    seus ingredientes

    e

    extenses, entre

    os

    sculos

    X V I

    e X I X , v. oscaptulos clssicosde G I E R K B , traduzidospor

    B A R K E R n u mvolume intituladoNaturalLaw and the theory

    of

    Society.

    N onmero4 do 16 (p. 107ss), investigaas

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    relaes entre o contratualismo e o jusnaturalismo: este

    aparece acolhendo comou m dogma ahiptesedocontrato

    original.

    B O D E N H E I M E R

    encontra trs fases

    na

    marcha

    da

    doutrinadoDireito Natural: primeira,a do protestantismo

    nacionalizadoemercantilista; segunda,a doliberalismo ascen

    dente;terceira,a davogadoconceito democrticodesobe

    rania popular

    (Teoria

    dei

    Derecho,F C E ,

    Mxico, 1946,

    cap.

    VII, p. 129).Mais sobre isso tudo em

    GURVITCH,

    antigo

    NaturalLaw naEncyclop.of S.Sciences, vol.XI, anali

    sando a seqncia das diferentes verses da idia,e em

    M. VnXEY,

    Leonsd'Hist.de Ia Ph. du

    Droit, Paris,

    1957,

    observando

    (p. 224) que a

    dita laicizao

    do D.

    Natural

    no excluiudasobrasdossculos XVIIeXVIIIascitaes

    bblicas.

    Sobre

    a

    secularizao

    da

    cultura ocidental moderna,

    C.D A W S U N , ProgressoeReligio,ed. A.Amado,1943 O

    detalhe mencionadonotexto,e a quepoucostemdado aten

    o,est salientadopor S.OOTTAnoensaio Lespartisetle

    pouvoir dans lestheories politiquesdudbutduXVIIIesi-

    cle

    contido

    na

    publicao coletiva

    Le

    pouvoir, tomo

    I, PUP,

    1956; e sobre lepubliqueiuma nota no n. 3, 1963, de

    Estudos Universitrios, Recife Sobreaintegraodo di-

    reito natural leigo

    na

    teoria democrtica, lembra

    A. STERN

    que

    ela foi

    promovida pela filosofia

    da

    ilustrao, abrigadora

    do racionalismo

    (La

    fil.

    de Ia

    hist.

    y elproblema de los

    valores, B.Aires,1963, cap. VI, pg.166).A aluso a

    B E C K E R refere-seao seufamoso livro(LaciudaddeDiosen

    el s. XVIII,trad., Mxico,1943). Sobrearelaodo

    jus

    naturalismodeentocom afigurados direitos (queeram

    liberdades),

    ver J. D.MABBOTT, The stateand the citizen,

    London, 1956, cap. VII;

    V H X E Y ,

    op. cit.,p. 277;

    T A W N E Y ,

    Religionandtheriseofcapitalism,ed.Pelican, 1938,p. 167;

    C.BRINTON,art. Natural Rights em

    Encyclop.

    ofthe Scien

    ces,

    vol. X I,

    pgs.

    299 e

    segs.).

    Mais sobre

    o

    tema

    em A. L.

    M A C H A D O N E T O ,Parauma sociologiadodireito

    natural,

    Sal

    vador,1957. O rosrioderefernciasao vnculo entre

    jusnaturalismoerevoluo,eu ocomeariacom um apassa

    gem de RE CA S NS SICHES, toda revolucin implica uma

    creencia iusnaturalista, pero especialmenteIavolucion fran

    cesa,

    magna apoteosis

    de Ia f en el

    Derecho Natural

    (Vida

    Humana, SociedadyDerecho,Mxico, 1945,cap. X, p. 322).

    Seria de perguntar-se,mas sem levar avante agora,se a

    palavra creencia vai a em sentido orteguiano. E m sen

    tido anlogo h expresses em

    R A D D B R U C H , T R O E L T S C H , A L F R E D

    8

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    W E B E R , W H I T E H E A D , L A C A M B R A , D I L T H E Y , W O L F , etc. todos

    sentindo o fato de que desmantelar u m ordenamento implica

    elementarmente a concepo de agir em nome de princpios

    melhores.

    Como ressalva, cabe porm anotar a ponderao de

    KELSEN, para quem as formulaes jusnaturalistas, de ARIS

    TTELES at hoje, tm u m carter conservador, porque na da

    mais fazem do que remeter, atravs de regras que em si nada

    ordenam de especfico, vigncia das normas efetivamente

    vigorantes em cada poca Justice et Droit Naturel,no vol.

    coletivo Le Droit Naturel,PUF, v. 959, pp. 23, 27 e 110).

    Seria alis o caso de indagar, ainda naquele caso. se no

    haveria tantos tipos de jusnaturalismo quantos de revolu

    o, histrica e socialmente representveis; e ento o jus

    naturalismo, mesmo ligado como u m princpio ou u m elemento

    a algo de genrico, ficaria reduzido a um a varivel. D e

    resto,

    o prprio conceito de revoluo (revoluo autntica ,

    definitiva etc.) vem sendo reivindicado por cada u m a das

    revolues ocorrentes, ma s sem nenhuma conseguir monopo

    liz-lo.

    O ensaio de

    TROELTSCH

    As idiasde Direito

    Natural e de Humanidade napoltica mundial,

    e vem como

    apndice na edio de Gierke Barker, citada atrs.

    Direito natural e teoria do direito natural.

    A crtica ao jusnaturalismo, por parte do sociologismo

    oitocentista , toma como objeto aquilo que as teorias

    cls

    sicas do direito natural dizem sobre o direito. N o m e s m o

    sentido, a do historicismo daquele tempo. Isto,essas

    cr

    ticas se opem idia de u m direito abstratamente consi

    derado,de u m direito igual em toda parte, imutvel, inva

    rivel,passvel de ser deduzido da mera racionalidade da

    condio humana, ou da relao desta com a divindade.

    Opem-se universalidade do conceito e ao impalpvel do

    objeto.

    Argem que aquela idia traz a marca de u m pen

    samento esttico, de u m a metafsica do lugar natural , de

    u m a concepo incompatvel com a positividade de todo

    verdadeiro direito, ou ento com a experincia histrica,

    com a evoluo, com a variao scio-cultural. Mas situam-

    se sempre perante a coisa direitonatural,perante aquilo

    que como tal era apresentado pelas teorias.

  • 7/26/2019 Nelson Saldanha - Sobre a Evoluo Do Direito Natural

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    111

    Ora,

    u m a crtica ao nvel do sculo xx no pode con

    tentar-se comisso.Ela tem de referir-se, no s ao carter

    histrico do direito, como tambm ao dateoriado direito.

    N o caso, tem de ser, alm de crtica do direito natural,

    crtica do jusnaturalismo, e crtica aqui significa inclu

    sive compreenso e situao. preciso fazer, portanto, a

    reduo histrica das doutrinas mesmas, no apenas do

    objeto delas. A prpria importncia dessas doutrinas, e m

    relao com os padres ticos de pensamento que as impe

    liram,

    ressaltar assim.

    Essa portanto u m a anotao necessria. As refu-

    taes

    do direito natural at aqui tm sido mais ou menos

    fundadas na idia da variabilidade do

    jurdico.

    E isso tem

    ensejado sempre as mesmas respostas dos jusnaturalistas:

    que aquela historicidade implica u m a idia reguladora, que

    para se reconhecer algo na histria como sendo direito

    exi

    ge-se que se disponha de u m conceito prvio, etc. O fato

    de terem os debates ficado situados nessafaixa,provm do

    carter

    noo dodireito

    de que se disps: u m a idia feita

    e m moldesclssicos,substancialista, essencialista, ligada ao

    tema da justia e a

    outros.

    C o m

    ela,

    era normal que seale

    gasse u m fundamento natural para o direito (e natural

    ainda quemeta-fsico). Nesse sentido, a objeo consis

    tente e m dizer que o jurdico, por ser conveno, no pode

    sernatural,traz o problema, mas no o desdobra. E no

    o desdobra, n em o resolve, porque de fato a idia antiga

    de direito (ou melhor a que atribumos aos antigos sobre o

    que dizemos ter sido o direito deles) podia

    ser,

    e

    era,

    natu

    reza. A que talvez no seja natureza a idia moderna

    do

    direito.

    Assim, o nuclear nu m a crtica do direito natural

    e do jusnaturalismo a referncia concepo do direito,

    de que historicamente se

    trata.

    A anlise do jusnaturalismo

    deve visar a situao histrica da idia de direito que baseia

    o saber jurdico dentro do qual se d a crena n u m direito

    natural.

    0 saber jurdico grego era mais u m a reflexo

    sobre a justia; ns que fazemos dele u m saber jurdico.

    O romano erajurdico,m as fundava-se, para as definies

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    gerais,

    no dito pelos gregos sobrefisis

    e temis.

    O Ocidente

    moderno, porm, sob a idia de positividade c om que o

    legahsmo formalizou o carter estatal das normas, sepa

    rou o natural e o positivo, antes simplesmente distintos

    (como e m S.

    T O M S )

    e separou, correlatamente, a cincia

    jurdica da filosofia do direito, esta por alguns confundida,

    e m

    tempos,

    com a teoria m e s m a do direito

    natural.

    E como

    o direito que o saber jurdico sentia e aplicava era o

    posi

    tivo,

    o direito

    natural

    ficou sendo para o pensamento con

    temporneo u m . . problema : no o era para o antigo.

    portanto a idia moderna de direito que no o comporta.

    O saber jurdico moderno joga com a noo de um di

    reito cujo conceito se capta independentemente de tempo e

    espao,mas se sabe que seus contornos so afetados pela

    experincia institucional e doutrinria contempornea. O

    autoconhecimento dessa experincia, alis e m fase j de

    transformaes e mudanas, a grande e dramtica tarefa

    das geraes de hoje.

    Sobre a necessidade de ser, a perspectiva histrica, apli

    cada no s compreenso do jurdico mas tambm da

    respectiva teoria, ou seja ao saber jurdico, pronunciei-me

    no cap. III, 8, de meu O Problema dahistria nacincia

    jurdica contempornea (Recife, 1964). A referncia ao

    essencialismo contido na idia de direito herdada dos

    cls

    sicos,

    feito no sentido da crtica de S A R T R E : O essencialismo

    consiste em considerar a realidade cognoscvel de algo como

    independente de suas inseres existenciais, como consistente

    em u m molde intemporal. A anotao desdobrada nessa

    parte do texto, pensada como u m a observao aos livros

    sobre Direito Natural em geral, inspirou-se n a leitura do de

    L E O S T RA U S S ,

    Droit Naturel et Histoire,

    trad., Plon, 1954.

    N a verdade, so puramente sistemticas certas crticas do

    Direito Natural, como a de S I C H E S (citada por C. J. Gu-

    TIERREZ, e m

    Riv.Internazionale di Fil dei Diritto,

    nov.-dic.

    63, ano X L , fase.VI, pg. 712), a de K E L S E N , a de S TE R N-

    BERG, etc, isto , omitem o prisma histrico, onde se situa o

    verdadeiro sentido do problema. H certos pontos, dentro

    da teoria clssica, que envolvem srias aporias se mantidos

    pelo pensamento moderno, e cujo sentido est nas matrizes

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    antigas a que se prendem: exemplo, o tema da passagem

    do

    estado natural ao civil , constante da literatura seiscen-

    tista sobre Direito Natural. N a realidade, tal passagem s

    pode ser tomada co mo postulado; como a da pr-histria

    histria, e m que, ou o processo de transio j foi histrico,

    ou no haveria passagem, pois resultantes histricas impli

    cam condies histricas. N o caso do natural ao civil, ou o

    processo seria social e ento o problema se evapora, ou

    no,

    e ento h u m a impossibilidade emprica. Acerca do

    cunho moderno da aura de problematicidade vestida pelo

    Direito Natural, h que acrescentar, com S T E R N

    (op. cit.,

    p.

    165) que tampouco para a Idade Mdia era le algo

    problemtico. E no caso do pensamento ps-medieval, o

    problema vem da antinomia entre a realidade jurdica

    contempornea, em que se estriba a idia de direito mantida

    pelo saber jurdico, e o apego dos pensadores idia de

    direito atribuda aos clssicos, e conservada como u m

    cnon

    que se pretende ter continuado vlido por via intelectual, inde

    pendentemente das mudan a s da experincia jurdica. Re

    colhendo a idia de serem jusnaturalistas as revolues, um a

    parte correta dela estaria em que elas (as grandes) podem

    de cada vez refazer a concepo do direito mesmo, com o

    que se faz sempre possvel retomar idias do tipo antigo e

    pretendidamente permanente, inclusive a idia da justia, que

    entra na temtica do direito pelo nvel dos princpios que

    onde vigora o problema do Direito Natural. Valha lembrar,

    contudo,

    que mesmo a latejam diferenas: a justia, hel-

    nica e clssica, era pensada em termos de harmonia, e

    agora o em termos de reivindicaes sociais e de tcnicas

    respectivas.

    Reflexes pouco conclusivas.

    Voltando ao assunto liberdade: vejamos a situao em

    que ela ficou durante o sculo XIX, sob os diversos puxa-

    vantes ideolgicos. Por u m

    lado,

    perigosos apogeus, desde

    o princpio kantiano de que a existncia da moralidade

    supe a de u m a vontade livre. Socialmente caracterizada,

    a tendncia continuadora das revolues individualistas,

    considerando liberdade a potencialidade de conduta lcita

    existente em cada h o me m, limitada pela ordemgeral,sim,

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    m a s e m ltima instncia fundamentadora desta. Igual

    mente caracterizada, a inclinao conservadora, acentuando

    os valores tradicionais, e dando como liberdade a aceitao

    das continuidades orgnicas da nao, e m cujo seio cada

    h o m e m

    vive.

    Nos socialismos de timbre

    utpico,

    u m a con

    seqncia do prprio liberalismo e do jusnaturalismo, como

    defesa extremada dos interesses de cada um ; no marxista,

    u m a oposio ao jusnaturalismo, por burgus e ideolgico.

    N o sculoxx,u m painel de combinaes e revises dos

    temas do anterior. A prpria diferena entre liberdade

    antiga e moderna, acentuada pelos autores do

    xrx,

    vai sendo

    revista e reduzida A idia de liberdade, acusada por

    tantos de iluso idealista, sai adotada como u m pressu

    posto,tanto pelo raciovitalista

    ORTEGA,

    como pelo materia

    listaSARTRE, Revises tambm do conceito de democracia

    e das marcas individualistas que trazia. A discusso sobre

    a liberdade, dantes ligada ao tema do livre arbtrio e do

    determinismo, instala-se no campo social e se amarra a

    conceitos sociais e econmicos, alienao, planejamento,

    justia social etc. Onde se tem oportunidade de reclamar

    reformas,

    denuncia-se a

    liberdade,

    co mo v e ca; onde o

    poder absorve as reclamaes, reclama-se a liberdade. Se

    se quer acusar u m regime por no praticar a igualdade,

    fala-se da liberdade

    intil;

    se se quer acusar o igualitarismo

    como falso ou insuficiente, a liberdade o que se diz estar

    faltando.

    Enquanto isso a teoria do direito

    natural,

    posta na crise

    j mencionada, contra a qual j lutara durante a ascenso

    do neotomismo ao tempo de

    TAPARELLI,

    retoma no sculo xix

    u m a srie de veredas pelas quais tenta refazer-se. C o m

    S T A M M L E R ,

    procurou-se u m a composio u m tanto artificio-

    sa,com o conceito de u m direito-natural-de-contedo-vari-

    vel;com G N Ye com a escola do direitolivre ,a idia de

    u m a superao do direito puramente legal ensejou a valo

    rizao das tendncias jusnaturalistas; e at hoje prossegue

    o movimento, com filsofos e juristas os mais eminentes a

    dar-lhe

    impulso,

    e esto no caso

    D E L V E CC H I O, W E L Z E L , L E O

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    S T R A U S S

    etc. Fala-se,ento,de u m renascimento ou de

    u m eterno retorno ( HEN RI R O H M E N ) do Direito Natural,

    u m retorno meio palingensico e algo quilistico. O funda

    mento do entusiasmo de seus defensores que, no s a

    superao das filosofias empiristas e o advento da axiologia

    requerem que se retome o tema de u m direito suprapositivo,

    como tambm a sangueira das guerras e a torpeza dos re

    gimes violentos pedem que se considere como jurdico algo

    que paire acima do nvel dos comandos

    estatais.

    O direito

    natural renascente seria ento u m novo basto de

    T A U N H U -

    SER,a reflorir na redeno.

    Vejamos,porm. H u m a srie de argumentos contra

    a idia de direito natural que se ma ntm, e alis para o re

    pdio s mazelas do sculo o apelo a u m a moral h uma-

    nstica seria bastante. Independente disso, entretanto,

    preciso perguntar se se pode reeditar sem mais aquela u m a

    concepo cujo molde cultural se vinculou historicamente a

    u m a srie de experinciasculturais,hoje postas de lado ou

    transformadas. Considero os reclamos jusnaturalistas de

    hoje,

    teis como advertncia contra o positivismo jurdico,

    no porm bastantes para a restaurao de u m mo d o de

    pensar. E hoje o acmulo de conscincia histrica, como

    conscincia crtica, faz compreender que a situao de u m a

    idia como a do direito natural precisamente essa: u m a

    situao. de idia. U m a teoria jurdica historicamente

    crtica dever considerar, no mais ou no puramente o

    tema do direito dito natural, m as sim ou principal

    mente o papel do jusnaturalismo como doutrina, e

    portanto como fator de conduta.Nisso,a multissecularidade

    da idia do direitonatural,que poderia apresentar-se com

    pretenses de provas da existncia de seu objeto, pode

    ser tomada e m sua perspectiva autntica: a da longevidade

    de u m a idia que de vez em quando tem atuado nas

    conscincias humanas, e que representa a intuio per

    manente de u m a exigncia tica para o direito.

    E por outro lado, parece que o que se chama de

    Oci

    dente tem u m a tendncia aos dualismos. Nesse

    caso,

    a con-

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    traposio de u m direito ideal ao vigente seria u m seu coro

    lrio;

    m a s isso no be m direito

    natural,

    e o jusnaturalismo

    no se reduz a essa contraposio. No escondo minha

    simpatia pela possibilidade de distines entre ideais e vi

    gncias,m e s m o porque as utopias so o sal dos projetos

    humanos:mas resisto a admitir u m direito natural como

    tal.

    E se reconheo o jusnaturalismo como fora histrica,

    precisamente c om esta ressalva: fora capaz de acompa

    nhar-se de u m a lucidezque,ao menos depois da obra dessa

    fora,veja que ela histrica, que muda, e que seus supos

    tos e seus produtos so sempre mutveis.

    A reviso das idias do sculo XIX sobre suas diferenas

    perante a liberdade grega foi esboada porCROCEno cap. V

    de seus

    Elementos de

    Poltica. Sobre a reposio, contida no

    marxismo, do tema da liberdade hu mana e de seu regime

    social,ver H A N S B A R T H , Verdad y Ideologia Mxico, 1951,

    p. 101. Sobre os debates jusnaturalistas e m nosso sculo,

    v. ,0 livro notvel de H.W E L Z E L ,Derecho Natural y usticia

    Material(trad. Aguillar,1957).

    Seria de pensar-se, ante tudo isso, que a curva do

    aumento da liberdade, que subiu durante os sculos mais

    recentes,vai descendo. O fato, porm, que esses sculos

    deram ao h omem ocidental o hbito da lucidez, ou ao meno s

    o desejo dela co mo exigncia ou critrio. Como ser lcido.

    porm, se a luta dos absolutismos polticos, militares, tcnicos,

    econmicos,

    publicitrios, ou o que seja, reimplantar moldes

    dogmticos sobre o esprito humano a pretexto de insegu

    ranas sociais? Ter o liberalismo sido, alm de breve,

    intil?

    (5,

    7 e 11 set. 65)