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NEMATOLOGIA BRASILEIRA Volume 34 número 2 junho de 2010 ÍNDICE Artigos Resistência de linhagens de feijão-guandu a Meloidogyne javanica. – Araújo Filho, J.V., M.M. Inomoto, R. Godoy & L.C.C.B. Ferraz ..................................................................................................... 75 Comparação entre níveis de inóculo, épocas de avaliação e variáveis para a seleção de Psidium spp. visando a resistência a Meloidogyne mayaguensis. – Burla, R.S., R.M. Souza, V.M. Gomes & F.M. Corrêa............................................................................................................................................................... 82 Efeito da farinha de sementes de abóbora e de Pochonia chlamydosporia no controle de Meloidogyne javanica. – Dallemole-Giaretta, R., L.G. Freitas, M.M. Coutinho, W.S. Neves, R.J.F. Zooca & S. Ferraz ......................................................................................................................................... 91 Reação de genótipos de milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica. – Dias, W.P., V.M. de Freitas, N.R. Ribeiro, A.W. Moita & R.M.D.G. Carneiro ...................................................................... 98 Influência da época de aplicação de nematicidas em soqueiras colhidas em início de safra sobre as populações de nematoides e a produtividade da cana-de-açúcar. – Dinardo-Miranda, L.L., J.V. Fracasso & V.P. Costa ................................................................................................................................ 106 Comunicações Científicas Efeito do carbofurano na população de nematoides e no rendimento da cana-de-açúcar em solos arenosos do Paraná. – Dias-Arieira, C.R., S.M. Santana, J.O. Arieira, R.C.F. Ribeiro & L.B.S. Volk ......................................................................................................................................................................... 118 Efeito de substratos com diferentes classes texturais na mobilidade de Heterorhabditis baujardi ‘LPP7’ (Rhabditida: Heterorhabditidae). – Dolinski, C., Pinto, C.C.S., R.R. Robaina & L.L. Bellini ......................................................................................................................................................................... 123 Imunidade de pinhão-manso a Heterodera glycines. – Rosso, G.T. & G.L. Asmus ..................... 129 Efeito de adubos verdes na densidade de Pratylenchus zeae e na produtividade da cana-de-açúcar. – Moura, R.M., Oliveira, I.S., M.P.S. Alcântara & C.E.P. Lima .......................................................... 132 Controle de Meloidogyne javanica por meio da aplicação de palha de café colonizada por Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia. – Dallemole-Giaretta, R., L.G. Freitas, R.J.F. Zooca, L.B. Caixeta, E.A. Lopes & S. Ferraz ......................................................................................... 137

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NEMATOLOGIA BRASILEIRA Volume 34 número 2 junho de 2010

ÍNDICE Artigos

Resistência de linhagens de feijão-guandu a Meloidogyne javanica. – Araújo Filho, J.V., M.M. Inomoto, R. Godoy & L.C.C.B. Ferraz ..................................................................................................... 75

Comparação entre níveis de inóculo, épocas de avaliação e variáveis para a seleção de Psidium spp.

visando a resistência a Meloidogyne mayaguensis. – Burla, R.S., R.M. Souza, V.M. Gomes & F.M. Corrêa............................................................................................................................................................... 82

Efeito da farinha de sementes de abóbora e de Pochonia chlamydosporia no controle de

Meloidogyne javanica. – Dallemole-Giaretta, R., L.G. Freitas, M.M. Coutinho, W.S. Neves, R.J.F. Zooca & S. Ferraz ......................................................................................................................................... 91

Reação de genótipos de milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica. – Dias, W.P., V.M. de Freitas, N.R. Ribeiro, A.W. Moita & R.M.D.G. Carneiro ...................................................................... 98 Influência da época de aplicação de nematicidas em soqueiras colhidas em início de safra sobre as populações de nematoides e a produtividade da cana-de-açúcar. – Dinardo-Miranda, L.L., J.V. Fracasso & V.P. Costa ................................................................................................................................ 106

Comunicações Científicas Efeito do carbofurano na população de nematoides e no rendimento da cana-de-açúcar em solos arenosos do Paraná. – Dias-Arieira, C.R., S.M. Santana, J.O. Arieira, R.C.F. Ribeiro & L.B.S. Volk ......................................................................................................................................................................... 118

Efeito de substratos com diferentes classes texturais na mobilidade de Heterorhabditis baujardi ‘LPP7’ (Rhabditida: Heterorhabditidae). – Dolinski, C., Pinto, C.C.S., R.R. Robaina & L.L. Bellini ......................................................................................................................................................................... 123

Imunidade de pinhão-manso a Heterodera glycines. – Rosso, G.T. & G.L. Asmus ..................... 129

Efeito de adubos verdes na densidade de Pratylenchus zeae e na produtividade da cana-de-açúcar. – Moura, R.M., Oliveira, I.S., M.P.S. Alcântara & C.E.P. Lima .......................................................... 132

Controle de Meloidogyne javanica por meio da aplicação de palha de café colonizada por

Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia. – Dallemole-Giaretta, R., L.G. Freitas, R.J.F. Zooca, L.B. Caixeta, E.A. Lopes & S. Ferraz ......................................................................................... 137

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NEMATOLOGIA BRASILEIRA [ Brazilian Nematology ]

34 ( 2 ) June 2010

ARTICLES

Resistance of pigeonpea lines to Meloidogyne javanica - Araújo Filho, J.V., M.M. Inomoto, R. Godoy & L.C.C.B. Ferraz ..................................................................................................................................................... 75

Assessment of inoculum level, evaluation time and variables for screening of Psidium spp. for

resistance to Meloidogyne mayaguensis - Burla, R.S., R.M. Souza, V.M. Gomes & F.M. Corrêa …… 82

Effect of squash seed flour and Pochonia chlamydosporia on the control of Meloidogyne javanica -

Dallemole-Giaretta, R., L.G. Freitas, M.M. Coutinho, W.S. Neves, R.J.F. Zooca & S. Ferraz ................... 91

Reaction of corn genotypes to Meloidogyne mayaguensis and M. ethiopica - Dias, W.P., V.M. de Freitas, N.R. Ribeiro, A.W. Moita & R.M.D.G. Carneiro .................................................................................. 98

Effect of time application of nematicides in sugarcane ratoon cut at the beginning of the harvesting period on nematode populations and sugarcane yield - Dinardo-Miranda, L.L., J.V. Fracasso & V.P. Costa………………………………………………………………………………... 106

COMMUNICATIONS

Effect of carbofuran on nematode population and sugarcane performance in sandy soils in the state of Paraná, Brazil - Dias-Arieira, C.R., S.M. Santana, J.O. Arieira, R.C.F. Ribeiro & L.B.S. Volk . 118

Effect of soil texture on the mobility of Heterorhabditis baujardi ‘LPP7’ (Rhabditida:

Heterorhabditidae) - Dolinski, C., C.C.S. Pinto, R.R. Robaina & LL. Bellini ……………………….. 123

Immunity of physic nut to Heterodera glycines - Rosso, G.T. & G.L. Asmus ...................................... 129

Effect of green manure on Pratylenchus zeae density and sugarcane yield - Moura, R.M., Oliveira, I.S., Alcântara, M.P.S. & Lima, C.E.P………………………………………………………………… 132 Control of Meloidogyne javanica by means of the application of coffee husk colonized by Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia - Dallemole-Giaretta, R., L.G. Freitas, R.J.F. Zooca, L.B. Caixeta, E.A. Lopes &. S. Ferraz ................................................................................................................. 137

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Nematologia BrasileiraPiracicaba (SP) Brasil

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Resistência de Linhagens de Feijão-guandu a Meloidogyne javanica

Resistência de Linhagens de Feijão-guandu a Meloidogyne javanica

Jerônimo V. Araújo Filho1*, Mário M. Inomoto1, Rodolfo Godoy2

& Luiz Carlos C.B. Ferraz1

1Departamento de Fitopatologia e Nematologia, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de SãoPaulo, C. Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP) Brasil.

2Embrapa Pecuária Sudeste, Rodovia Washington Luiz km 234, C. Postal 339, 13560-970 São Carlos (SP) Brasil.*Autor para correspondência: [email protected]

Recebido para publicação em 02 / 06 / 2009. Aceito em 10 / 02 / 2010Editado por Rosângela D.L. Oliveira

Resumo - Araújo Filho, J.V., M.M. Inomoto, R. Godoy & L.C.C.B. Ferraz. 2010. Resistência de linhagens defeijão-guandu a Meloidogyne javanica.

O feijão-guandu (Cajanus cajan), leguminosa comumente utilizada como adubo verde, exibe elevado potencialdescompactador de camadas adensadas do solo, problema frequente em áreas de reforma de cana de açúcar.Não obstante, as reações de linhagens nacionais frente a Meloidogyne javanica, espécie sabidamente daninha àcultura, ainda permanecem praticamente desconhecidas. Desse modo, no presente trabalho objetivou-secaracterizar, sob condições de casa de vegetação, as reações de linhagens nacionais de guandu ao referidonematoide. Ao todo, foram conduzidos três experimentos. Os dois primeiros para testar 40 linhagens deguandu e um terceiro experimento, com o objetivo de confirmar as reações de 11 destas linhagens. A definiçãoda reação das linhagens baseou-se no fator de reprodução (FR) do nematoide e também no número denematoides por grama de raízes. A comparação das médias dos FR obtidos permitiu dividir as linhagens emtrês grupos: o primeiro, dos genótipos resistentes, foi composto pelas linhagens que, a exemplo da Crotalariaspectabilis, apresentaram FR inferiores a 1,0 (g58-95, g109-99, g146-97, g137-99, g9m-97, g186-99, g1m-95,g66-95, g59-95, g127-97 e g17C-94). No segundo, dos genótipos moderadamente resistentes, ficaram g40-93e g5-94, que permitiram FR ligeiramente superiores a 1,0. Finalmente, o terceiro grupo, dos genótipos suscetíveis,incluiu as demais linhagens que, juntamente com a soja ‘BRS 133’, multiplicaram intensamente o nematoide. Asrecomendações de cultivo do guandu em áreas de reforma de cana-de-açúcar são brevemente discutidas.Palavras-chaves: resistência, Cajanus cajan, fitonematoides, manejo, cana de açúcar.

Summary - Araújo Filho, J.V., M.M. Inomoto, R. Godoy & L.C.C.B. Ferraz. 2010. Resistance of pigeonpealines to Meloidogyne javanica.

Pigeonpea (Cajanus cajan) is a green manure with potential for breaking dense, compacted layers of the soil,a field condition often found in Brazilian sugarcane-producing areas under renewal. Nevertheless, the hoststatus of most Brazilian pigeonpea lines to Meloidogyne javanica, an economically important nematode pest forsugarcane, remains unknown. Thus, this work dealt with the assessment of the resistance of 40 Brazilianpigeonpea lines in relation to M. javanica under greenhouse conditions. The host status for each tested interactionwas defined with basis on the nematode reproduction factor (RF) and nematode number per gram of roots.The reaction of 40 lines was studied in two initial experiments and a subsequent third trial was additionallyconducted, as a replica, for the re-evaluation of 11 previously tested lines. The reaction varied largely, rangingfrom resistance (g58-95, g109-99, g146-97, g137-99, g9m-97, g186-99, g1m-95, g59-95, g127-97, g17C-94and g66-95) to moderate resistance (g40-93 and g5-94) and susceptibility (the remaining lines). Practicalimplications of rotating pigeonpea with sugarcane in nematode-infested fields are briefly discussed.Key words: resistance, Cajanus cajan, phytonematodes, management, sugarcane.

ARTIGO

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76 Vol. 34(2) - 2010

Jerônimo V. Araújo Filho, Mário M. Inomoto, Rodolfo Godoy & Luiz Carlos C.B. Ferraz

IntroduçãoO feijão-guandu (Cajanus cajan) é uma fabácea que,

além dos atributos próprios aos adubos verdes,destaca-se por atuar como descompactador decamadas adensadas do solo (Neves, 2007), problemafrequente em áreas canavieiras. Em função destacaracterística, nos últimos anos tem sido cogitado oseu plantio em áreas de reforma de canaviais, de modoa diminuir a compactação do solo. Assim, poderiaser dispensada a utilização dos tradicionaissubsoladores mecânicos (Godoy et al., 2003). Todavia,é imprescindível lembrar que tal cenário poderá sermarcantemente modificado caso o genótipo deguandu utilizado seja hospedeiro de nematoidesparasitos da cana de açúcar, notadamente Meloidogynejavanica.

Na literatura nematológica, mormente aestrangeira, há muitos relatos da ocorrência defitonematoides em guandu, sumariados por Sharma(1985) e Sikora et al. (2005). No Brasil, tais registrossão poucos e podem ser encontrados, em sua maioria,em Costa Manso et al. (1994). Tanto na literaturanacional quanto na estrangeira, tem sido observada aexistência de variabilidade entre os genótipos de feijão-guandu com relação à capacidade de multiplicar M.javanica (Acosta et al., 1986; Antonio & Neumaier, 1986;Patel et al., 1987; Saka, 1990; Siddiqui et al., 1991;Sharma et al., 1992; Sharma et al., 1993; Taylor et al.,1985). Inomoto et al. (2006) evidenciaram bem talaspecto ao caracterizarem, entre duas cultivaresnacionais avaliadas, uma como suscetível (Fava Larga)e outra (Iapar 43) como resistente.

No Brasil, pouco se conhece sobre a reação delinhagens e cultivares de feijão-guandu a M. javanica.Isto está ligado ao fato de tal característica, pelo menosaté o momento, não ser incluída entre os atributos dedesempenho agronômico avaliados pelos programasde melhoramento genético. Por exemplo, nenhumadas linhagens de feijão-guandu desenvolvidas pelaEmbrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) para usoem áreas de reforma de cana-de-açúcar a partir degenótipos nacionais e internacionais foramcaracterizadas com relação à reação ao referidonematoide (Godoy et al., 1997).

No presente trabalho, objetivou-se caracterizar asreações de 40 linhagens de feijão-guandu,

geneticamente melhoradas no âmbito da EmbrapaPecuária Sudeste, frente a M. javanica. Espera-se que,no futuro, os resultados obtidos possam subsidiar adefinição de estratégias para a utilização deste aduboverde em áreas de renovação de canaviais infestadascom este nematoide.

Material e MétodosOs experimentos (3) foram realizados, sob

condições de casa de vegetação, em Piracicaba, SP(22°42’S, 47°38’W, 546 m de altitude). Em todos osexperimentos, o delineamento experimental adotadofoi o inteiramente casualizado com quatro(experimentos 1 e 2) ou cinco (experimento 3)repetições.

Nos primeiro e segundo experimentos, além das20 linhagens de feijão-guandu a serem testadas(Tabelas 1 e 2), também foram incluídos dois padrõesde suscetibilidade (soja ‘BRS-133’ e feijão-guandu‘Fava Larga’) e dois de resistência (Crotalaria spectabilisRoth e feijão-guandu ‘Iapar-43’). No terceiroexperimento, os tratamentos eram compostos porseis linhagens de feijão-guandu resistentes (g109-99,g59-95, g58-95, g127-97, g66-95 e g146-97), umamoderadamente resistente (g40-93) e quatro suscetíveis(g8-95, g3-94, g124-95 e g5-94), escolhidas a partirdos resultados obtidos nas duas primeiras avaliações,e mais um padrão de suscetibilidade (soja ‘BRS-133’)e um de resistência (C. spectabilis).

Os períodos experimentais, considerando ainoculação como etapa inicial, foram de 17 de maio a02 de agosto de 2007 (experimento1), de 25 deoutubro de 2007 a 03 de janeiro de 2008 (experimento2) e de 12 de maio a 3 de agosto de 2008 (experimento3). As temperaturas médias diárias no interior da casade vegetação variaram entre os ensaios, consoante aépoca do ano, ficando em 21,3, 28,4 e 22,5 ºC,respectivamente.

Obtenção do inóculo. A população de M. javanicautilizada nas inoculações foi obtida originalmente deraízes de soja coletadas em lavoura do município deJúlio de Castilho (RS) e mantida em casa de vegetação,alternadamente em plantas de fumo, soja e tomate.Os ovos e juvenis de segundo estádio (J2) foramobtidos mediante o processamento de raízesparasitadas pelo método de Coolen & D’Herde (1972).

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Nematologia BrasileiraPiracicaba (SP) Brasil

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Resistência de Linhagens de Feijão-guandu a Meloidogyne javanica

Tabela 1 - Fatores de reprodução (FR), números de nematoides por grama de raízes (Nem/ g) e reações de linhagens de feijão-guandua Meloidogyne javanica. Experimento 1.

1Padrão de resistência.2Padrão de suscetibilidade.3Médias de quatro repetições. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (P = 0,05).

Tratamento FR Nem / g Reação

Crotalaria spectabilis1 0,01 a3 0,4 a Resistenteg58-95 0,02 a 4,0 ab ResistenteIapar-431 0,11 ab 24,1 ab Resistenteg109-99 0,18 ab 31,7 abc Resistenteg146-97 0,20 ab 45,3 bc Resistenteg137-99 0,20 ab 39,8 bcd Resistenteg9m-97 0,58 abc 73,2 cde Resistenteg186-99 0,68 abc 103,6 cdefg Resistenteg1m-95 0,70 abc 82,3 cdef Resistenteg40-93 1,10 abc 111,8 cdefg Suscetívelg138-99 1,72 bcd 275,0 defgh SuscetívelFava Larga2 2,11 cd 356,8 defgh Suscetívelg149-99 2,91 cde 354,0 defgh Suscetívelg123-99 3,12 cdef 457,6 defgh Suscetívelg57-95 3,04 cde 405,5 defghi Suscetívelg142-95 4,77 de 685,8 fghi Suscetívelg47-94 5,09 de 855,5 ghi Suscetívelg108-99 5,11 de 893,9 ghi Suscetívelg121-99 6,26 de 565,6 efghi Suscetívelg168-99 6,50 def 1.051,2 hi Suscetívelg19m-95 6,75 ef 1.036,7 hi Suscetívelg167-97 8,04 ef 1.391,2 hi Suscetívelg8-95 18,45 fg 1.736,7 hi SuscetívelSoja ‘BRS-133’2 30,33 g 3.550,2 i Suscetível

Tabela 2 - Fatores de reprodução (FR), números de nematoides por grama de raízes (Nem/ g) e reações de linhagens de feijão-guandua Meloidogyne javanica. Experimento 2.

1Padrão de resistência.2Padrão de suscetibilidade.3Médias de quatro repetições. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (P = 0,05).

Tratamento FR Nem / g Reação

Crotalaria spectabilis1 0,02 a3 0,7 a Resistenteg66-95 0,08 ab 5,5 ab ResistenteIapar-431 0,13 ab 10,0 ab Resistenteg59-95 0,15 ab 7,2 ab Resistenteg127-97 0,15 abc 9,2 abc Resistenteg17C-94 0,25 abcd 17,2 abc Resistenteg5-94 1,10 abcde 53,5 bcd Suscetívelg29m-94 1,99 abcdef 76,5 bcd Suscetívelg6-95 2,66 abcdef 139,2 cde SuscetívelFava Larga2 2,76 abcdef 132,5 cde Suscetívelg154-95 2,86 abcdef 256,7 cde Suscetívelg39-94 3,02 abcdef 177,0 cde Suscetívelg19b-94 3,47 abcdef 220,7 de Suscetívelg124-95 3,83 bcdef 264,2 de Suscetívelg48-95 4,72 cdef 196,0 de Suscetívelg101-97 4,89 def 203,7 de Suscetívelg18-95 6,10 efg 288,2 de Suscetívelg10-94 6,89 efg 344,2 de Suscetívelg27-94 7,95 efg 355,5 de Suscetívelg119-99 12,41 efg 731,2 de Suscetívelg29b-94 7,77 efg 276,7 de Suscetívelg3-94 (‘BRS-Mandarim’) 12,40 fg 626,0 de Suscetívelg184-97 31,26 gh 1.425,2 ef SuscetívelSoja ‘BRS-133’2 114,34 h 7.322,0 f Suscetível

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78 Vol. 34(2) - 2010

Jerônimo V. Araújo Filho, Mário M. Inomoto, Rodolfo Godoy & Luiz Carlos C.B. Ferraz

Em cada suspensão aquosa resultante, a calibraçãofinal foi feita sob microscópio óptico, com auxílio delâmina de Peters.

Preparo e inoculação das plantas. Para aobtenção das plântulas a serem inoculadas, cada umdos genótipos de soja e guandu foram semeadosdiretamente em copos plásticos, com capacidade para500 cm3, contendo cerca de 400 cm3 de substratopreviamente autoclavado (121 ºC / 2 horas). Ascomposições granulométricas dos substratos nos trêsensaios eram: (1) 57 % areia; 4 % silte; 39 % argila; (2)= 70 % areia; 4 % silte; 26 % argila; e (3) = 58 %areia; 8 % silte; 34 % argila.

Imediatamente após a emergência, efetuou-se odesbaste manual, deixando-se três plântulas porrecipiente. As inoculações ocorreram quando as plantasapresentavam dois trifólios completamentedesenvolvidos. O inóculo (1.000 ovos e J2) foidepositado com o auxílio de pipetador automático,em dois orifícios abertos a cerca de 1 cm do colo dasplantas. Após a deposição do inóculo, os orifíciosforam imediatamente vedados com vermiculita. Asplantas recém-inoculadas foram mantidas por três diasem ambiente sombreado, à temperatura ambiente, edepois levadas para casa de vegetação dotada desistema de refrigeração ajustado para evitar que atemperatura ultrapassasse 33 °C. Por se mostraremnecessários, tratos culturais complementares (controlede pragas) foram realizados no segundo experimento.

Avaliação dos experimentos. As avaliações nosexperimentos 1, 2 e 3 foram realizadas,respectivamente, aos 75, 71 e 82 dias após ainoculação. Para a separação do substrato das raízes,os recipientes foram inicialmente imersos em baldeplástico contendo 4 l de água. Em seguida, as raízesdas três plantas de cada vaso foram cuidadosamentelavadas, enxutas com papel absorvente e pesadas. Apóshomogeneização, uma alíquota de 10 g de raízes foiprocessada segundo Coolen & D’Herde (1972), paraa extração dos nematoides produzidos no período.Uma vez estimada a população média de ovos e J2 naparcela (copo com três plantas), determinaram-se osfatores de reprodução (FR) de M. javanica em cadaum dos genótipos de feijão-guandu avaliados. Comoproposto por Oostenbrink (1966), o FR foi obtidopela razão entre as populações final (Pf) e inicial (Pi)

do nematoide (FR = Pf / Pi). Genótipos com valormédio de FR ≥ 1,0 foram considerados suscetíveis.Ao contrário (FR < 1,0), foram classificados comoresistentes. Também foi determinado o númeromédio de nematoides por grama de raízes nosdiferentes genótipos.

Análise estatística. Conforme recomendação deNoe (1985), os dados foram transformados em ln (x+ 1) e submetidos à análise de variância utilizando-seo programa Sanest (Departamento de Matemática eEstatística, ESALQ / USP). As médias obtidas foramcomparadas pelo teste de Tukey (P = 0,05).

Resultados e DiscussãoOs altos valores de FR obtidos na soja ‘BRS 133’

(padrão de suscetibilidade) em todos os trêsexperimentos atestam a viabilidade dos inóculosutilizados. As reações apresentadas pelas cultivaresIapar-43 e Fava Larga (Tabelas 1 e 2), incluídas nosexperimentos 1 e 2 como padrões de resistência e desuscetibilidade, respectivamente, confirmaramplenamente os resultados de Inomoto et al. (2006).

De 40 linhagens avaliadas nos experimentos 1 e 2,apenas 11 comportaram-se como resistentes (FR <1,0) (Tabelas 1 e 2). Entre as linhagens resistentes, duas(g58-95 e g66-95) destacaram-se por apresentarvalores de FR muito próximos de zero. Tais linhagens,caso possuam atributos agronômicos para setornarem cultivares, poderão ser muito úteis no manejode M. javanica em áreas de renovação de canaviais.Num futuro próximo, poderão substituir comvantagem a cultivar BRS-Mandarim (g3-94), suscetível(FR = 12,40) ao referido nematoide. Em ambos osexperimentos, as linhagens, em sua maioria, foramsuscetíveis a M. javanica. Vale salientar que, em váriostrabalhos correlatos publicados anteriormente, areação foi definida com base no índice de galhas (IG)e não no FR, dificultando o confronto entre os dadosneles contidos e aqueles aqui relatados, pois nemsempre há correspondência entre tais parâmetros(Hussey & Janssen, 2001). Cumpre frisar, inclusive,que nas linhagens avaliadas no presente estudo nãohouve a formação de galhas radiculares evidentes ebem visíveis, típicas das meloidoginoses.

Quando os valores médios de FR obtidos foramcomparados estatisticamente (Tabelas 1 e 2), as

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Resistência de Linhagens de Feijão-guandu a Meloidogyne javanica

linhagens avaliadas puderam ser incluídas em trêsgrupos distintos. O primeiro, dos genótipos resistentes,reuniu g58-95, g109-99, g146-97, g137-99, g9m-97,g186-99 e g1m-95 (experimento 1) e g66-95, g59-95,g127-97 e g17C-94 (experimento 2), que não sediferenciaram significativamente de Crotalaria spectabilise apresentaram FR < 1,0. Tais linhagens devem ser aspreferidas para semeadura em áreas infestadas comM. javanica, pois promovem redução mais rápida dapopulação do nematoide no solo, viabilizando aprodução econômica da cultura semeada na sequência.No segundo, dos genótipos moderadamenteresistentes, com FR ligeiramente superiores a 1,0,ficaram g40-93 (experimento 1) e g5-94 (experimento2); tais genótipos, quando cultivados em áreasinfestadas, possibilitam aumento populacional restritodo nematoide. Por fim, o terceiro grupo, dosgenótipos suscetíveis, incluiu as demais linhagens, que,juntamente com a soja ‘BRS-133’, multiplicaramintensamente o parasita. Em linhas gerais, essaestratificação, embora arbitrária, mostrou elevadasimilaridade com aquela formada quando a variávelem consideração foi o número de nematoides porgrama de raízes.

Confrontando-se os resultados do experimento 3com os dos experimentos 1 e 2, percebe-se que houvediscrepância nas reações de algumas linhagens,principalmente em relação ao ensaio 2. O experimento3, na verdade, teve caráter de réplica, sendo conduzido

visando à confirmação das reações de 11 linhagenstestadas nos experimentos 1 ou 2 frente a M. javanica.Das cinco linhagens avaliadas no experimento 1, trêsresistentes (g146-97, g58-95 e g109-99) e umasuscetível (g8-95) tiveram suas reações confirmadas(Tabela 3). De outra parte, das seis linhagens que jáhaviam sido avaliadas no experimento 2, três (g66-95, g127-97 e g59-95) tiveram suas reações deresistência confirmadas e, das três restantes, tidas comosuscetíveis no ensaio 2, duas (g5-94 e g124-95) foramconsideradas resistentes e apenas uma (g3-94) teve asuscetibilidade confirmada, embora com FR médio(= 2,10) bem inferior ao determinado no ensaio 2 (=12,40). Em boa parte, estas últimas diferenças podemser atribuídas às condições distintas observadas noensaio 3 em relação ao ensaio 2. O desenvolvimentodas plantas durante o experimento 3 foi inferior aoobservado no experimento 2, e mesmo noexperimento 1 (dados não apresentados), tendo sidonegativamente afetado, ao que tudo indica, por fatoresabióticos, como o fotoperíodo e a temperatura. Nessesentido, pode-se dizer, por exemplo, que astemperaturas médias dos experimentos 2 e 3,conduzidos em épocas distintas do ano, diferiramconsideravelmente, sendo de 28,4 °C e 22,5 °C,respectivamente; já os experimentos 1 e 3, conduzidospraticamente à mesma época em anos subsequentes,tiveram temperaturas médias bem mais próximas(21,3 x 22,5°C). Na própria soja, o FR médio foi

Tabela 3 - Fatores de reprodução (FR), números de nematoides por grama de raízes (Nem/ g) e reações de linhagens de feijão-guandua Meloidogyne javanica. Experimento 3.

1Padrão de resistência.2Padrão de suscetibilidade.3Médias de cinco repetições. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (P = 0,05).

Tratamento FR Nem / g Reação

Crotalaria spectabilis1 0,00 a3 0,0 a Resistenteg66-95 0,01 a 0,5 a Resistenteg146-97 0,01 a 0,6 a Resistenteg58-95 0,01 a 1,3 ab Resistenteg127-97 0,01 a 1,6 ab Resistenteg40-93 0,02 a 1,9 ab Resistenteg59-95 0,02 a 2,6 abc Resistenteg5-94 0,02 a 2,2 abc Resistenteg124-95 0,05 a 8,2 c Resistenteg109-99 0,05 a 6,8 bc Resistenteg8-95 1,02 b 107,4 d Suscetívelg3-94 (‘BRS-Mandarim’) 2,10 c 250,4 d SuscetívelSoja ‘BRS-133’2 24,13 d 1.626,4 e Suscetível

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80 Vol. 34(2) - 2010

Jerônimo V. Araújo Filho, Mário M. Inomoto, Rodolfo Godoy & Luiz Carlos C.B. Ferraz

bem maior no experimento 2 (FR = 114,34) do quenos ensaios 1 (= 30,3) e 3 (= 24,13), coerentementeao observado para as plantas de guandu. Vale destacarainda que, ao se analisar cuidadosamente a dispersãodos dados obtidos, verificou-se que, nos diferentesensaios, não houve repetição que deslocassedemasiadamente a média dos tratamentos, excluindo-se, dessa forma, eventuais variações genéticas daslinhagens como causa das discrepâncias observadasentre os ensaios.

Embora não se disponha de estudos genéticos maisespecíficos a respeito, os resultados do experimento3 são sugestivos de que a resistência do feijão-guandua M. javanica pode ser característica fenotípicadependente das condições ambientes, isto é, apresentabaixa herdabilidade ampla; essa característica, casoverdadeira, dificultaria o trabalho de melhoramentodesta espécie vegetal. Assim, em vista dos resultadosaqui obtidos, fica a recomendação de caracterizaçãofutura da reação de genótipos de feijão-guandu frentea fitonematoides, em particular às espécies deMeloidogyne, sob condições variadas de temperatura ede outros fatores climáticos.

Em suma, apesar de as condições não terem sidotão propícias ao crescimento das plantas e aodesenvolvimento do nematoide no terceiroexperimento como nos dois primeiros, obtendo-semenores valores de FR e de exemplares por gramade raízes, considera-se que pelo menos os resultadosrelativos às seis linhagens nele definidas comoresistentes (g146-97, g58-95, g109-99, g66-95, g127-97 e g59-95) vieram corroborar plenamente os dosensaios anteriores, estando, portanto, tais reações bemcaracterizadas. O mesmo pode ser dito com referênciaà g3-94, definida como suscetível nos ensaios 2 e 3.Nos casos de g8-95, g40-93, g5-94 e g124-95, paraas quais se obtiveram reações contrastantes desuscetibilidade nos ensaios 1 ou 2 e resistência noensaio 3, não foi possível estabelecer-se posiçãodefinitiva neste estudo, sugerindo-se reavaliaçõesfuturas.

Como nos ensaios anteriores, a análise estatísticados dados do experimento 3 indicou boacorrespondência geral nos agrupamentos das linhagenstestadas, tanto com base nos dados de FR como de

número de nematoides por grama de raízes (Tabela3). Assim, entende-se que esses dois critérios possamser empregados com eficiência no presente tipo deestudo, isoladamente ou em conjunto, como ocorreuaqui. Por outro lado, em vista de a distinção deengrossamentos radiculares ter se mostrado difícil,mesmo nas linhagens suscetíveis, a utilização demétodos de avaliação baseados em números ouíndices de galhas não se afigura adequada.

Da análise conjunta dos três experimentos,depreende-se portanto que, em áreas canavieirasinfestadas por M. javanica, não se deve recomendargenericamente o plantio de feijão-guandu durante operíodo de reforma, o que somente deverá ser feitomediante indicação de cultivares comprovadamenteresistentes. Especificamente com relação à linhagemg3-94, já disponível no mercado como cultivar BRS-Mandarim (Página Rural, 2009), não deve ser utilizadaem áreas infestadas por M. javanica. De qualquer modo,as linhagens ora caracterizadas como resistentespassam a representar mais uma alternativa ao produtor,em termos do manejo de M. javanica na cultura dacana de açúcar.

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Resistência de Linhagens de Feijão-guandu a Meloidogyne javanica

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Rogério S. Burla, Ricardo Moreira Souza, Vicente M. Gomes & Fábio M. Corrêa

Comparação entre Níveis de Inóculo, Épocas de Avaliação e Variáveis paraSeleção de Psidium spp. Visando à Resistência a Meloidogyne mayaguensis

Rogério S. Burla1, Ricardo Moreira Souza2*, Vicente M. Gomes2 & Fábio M. Corrêa3

1Unidade de Pesquisa e Extensão Agro-Ambiental / Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense,Rodovia BR-356, km 257, Campos dos Goytacazes (RJ) Brasil.

2LEF / CCTA / Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Av. Alberto Lamego 2000, 28015-620Campos dos Goytacazes (RJ) Brasil.

3Departamento de Estatística e Experimentação Agropecuária, Universidade Federal de Lavras, Lavras (MG) Brasil.*Autor para correspondência: [email protected]

Editado por Mário InomotoRecebido em 10 / 07 / 2009. Aceito em 12 / 02 / 2010

Resumo - Burla, R.S., R.M. Souza, V.M. Gomes & F.M. Corrêa. 2010. Comparação entre níveis de inóculo,épocas de avaliação e variáveis para seleção de Psidium spp. visando a resistência a Meloidogyne mayaguensis.

Devido às dificuldades para o controle químico e cultural de M. mayaguensis na cultura da goiaba, a resistênciagenética mostra-se como a melhor estratégia de controle a médio prazo. Não obstante haja seleções (screenings)de Psidium spp. sendo realizadas no Brasil e exterior, não existe padronização metodológica quanto ao nível deinóculo do nematoide, época de avaliação e variável a ser empregados. Neste trabalho, mudas de goiabeira‘Paluma’ (suscetível ao nematoide) de quatro pares de folhas foram inoculadas em vasos com 2 litros desubstrato Plantmax® com 500, 2.000, 3.500, 5.000 ou 6.500 ovos de M. mayaguensis e avaliadas 45, 90, 135 ou180 dias após. As variáveis avaliadas foram massa fresca do sistema radicular, população final do nematoide(Pf), fator de reprodução (FR = Pf / inóculo utilizado) e número de ovos + J2 / grama de raiz. Os ensaiosforam conduzidos em casa de vegetação em dois períodos do ano (primavera-verão-outono e inverno-primavera-verão), em delineamento inteiramente casualizado com 20 tratamentos e seis repetições / tratamento.Os dados transformados (log x) foram analisados por ANOVA, teste F a 5 % e regressão múltipla. Emambos os períodos do ano, a variável massa fresca do sistema radicular não mostrou correlação (P = 0,05)com o nível do inóculo, apenas com a época de avaliação (45, 90, 135 e 180 dias após a inoculação). Para asvariáveis Pf e número de ovos + J2 / grama de raiz, a correlação com os fatores época de avaliação e nível deinóculo foi significativa ou não dependendo do período do ano. Ao contrário, a variável FR mostrou correlaçãopositiva com a época de avaliação e nível de inóculo em ambos os períodos do ano, sendo considerada amelhor variável para screenings de Psidium spp. para resistência a M. mayaguensis. Os resultados indicaram tambémque níveis de inóculo de 3.500, 5.000 e 6.500 ovos / planta reduzem o FR, podendo gerar resultados falso-positivos (falsa resistência ao nematoide). As melhores combinações nível de inóculo e época de avaliaçãoforam 500 ou 2.000 ovos / planta e avaliação 135 ou 180 dias após a inoculação com o nematoide.Palavras-chaves: nematoide-da-goiabeira, nematoide-das-galhas, goiabeira.

Summary - Burla, R.S., R.M. Souza, V.M. Gomes & F.M. Corrêa. 2010. Assessment of inoculum level, evaluationtime and variables for screening of Psidium spp. for resistance to Meloidogyne mayaguensis.

The difficulty to control M. mayaguensis parasitic on guava through chemical or cultural methods suggeststhat genetic resistance is the best control strategy at a mid-term. Although there has been screenings of Psidiumspp. in Brazil and elsewhere, no study has been conducted to assess the best inoculum level, evaluation time orvariable to be used. In this study, guava seedlings of the M. mayaguensis-susceptible cultivar Paluma were grownin substrate Plantmax® and, at the stage of four pairs of leaves, they were inoculated with 500, 2,000, 3,500,

ARTIGO

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Nematologia BrasileiraPiracicaba (SP) Brasil

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Comparação entre Níveis de Inóculo, Épocas de Avaliação e Variáveis para Seleção de Psidium spp. Visando à Resistência a Meloidogyne mayaguensis

IntroduçãoNo Brasil, Meloidogyne mayaguensis associa-se a

Fusarium solani como agentes etiológicos do declínioda goiabeira (Psidium guajava L.) (Gomes et al., 2010b).A área afetada por esta doença em vários Estadossupera os 5.000 hectares e o prejuízo econômico diretoà goiabicultura foi calculado em pelo menos R$ 112milhões (Pereira et al., 2009). Além desta cultura, M.mayaguensis apresenta potencial de tornar-se danoso aoutra culturas, como hortaliças, fumo e soja (Gomeset al., 2008; Almeida et al., 2008). Várias estratégias decontrole desse nematoide têm sido investigadas, comoo controle biológico com fungos, bactéria enematoides entomopatogênicos, pousio e o uso denematicidas (Casassa et al., 1996; Gueye et al., 1997;Duponnois et al., 1998; Moreira et al., 2001; Brito etal., 2004; Carneiro et al., 2004; Souza et al., 2006; Soareset al., 2007; Acevedo, 2008). Não obstante Gomes(2010) tenha obtido sucesso no convívio com M.mayaguensis em pomares comerciais medianteadubações orgânicas e químicas, a resistência genéticadeve ser incentivada como a estratégia prioritária.

Várias seleções (screenings) de Psidium spp. pararesistência a Meloidogyne spp. foram publicadas nosúltimos anos, sem que tenham sido definidosparâmetros para tais estudos, como o estádiofenológico das plantas a serem inoculadas, nível deinóculo, época de avaliação (período de tempo após

a inoculação), variável(is) a ser(em) mensurada(s) eefeito das condições climáticas, particularmentetemperatura ambiente. Como exemplos, Cuadra &Quincosa (1982) e Gonzalez & Sourd (1992) avaliarama “tolerância” de Psidium spp. a Meloidogyne spp. pelo“grau de infestação visual”. Ao avaliar a resistência dePsidium spp. a Meloidogyne spp., Maranhão et al. (2001;2003) inocularam 12 ou 15 mil ovos / planta, e 60,70 ou 90 dias após eles aferiram os índices de galhase de massas de ovos, número de ovos / massa deovos, população final do nematoide (Pf), fator dereprodução (FR= Pf / inóculo) e porcentagem deredução do FR em relação a um padrão desuscetibilidade. A classificação de suscetibilidade /resistência baseou-se na escala proposta por Moura& Regis (1987) para avaliação de genótipos de feijão.Carneiro et al. (2007) inocularam 10 mil ovos / plantae oito meses após calcularam o índice de galhas oumassas de ovos e FR. Os genótipos consideradosresistentes receberam índice ≤ 2 e FR < 1. Por fim,Burla et al. (2007) inocularam Psidium spp. com 5.000ovos / planta e quantificaram 135 dias após os númerosde galhas / sistema radicular e de ovos / grama deraiz. Esses autores consideraram um genótipo de araçácomo medianamente resistente por apresentar 6,75% do número de ovos / g de raiz obtido no padrãode suscetibilidade ‘Paluma’.

Como ressaltado por Hussey & Janssen (2002), é

5,000 or 6,500 eggs. Forty-five, 90, 135 or 180 days later the following variables were assessed: root systemfresh mass, final nematode population (Pf), reproduction factor (RF= Pf / inoculum used) and number ofeggs + J2 / gram of root. The experiment was conducted in greenhouse in two periods of the year (spring-summer-fall and winter-spring-summer), in an entirely randomized design with 20 treatments and six replicates(one seedling / pot) per treatment. The transformed (log x) data were analyzed through ANOVA, F test at 5% and multiple regression. In both periods of the year the variable root system fresh mass showed a positivecorrelation (P = 0.05) with the evaluation time (45, 90, 135 and 180 days after inoculation), but not with theinoculum level. For the variables Pf and number of eggs + J2 / gram of root, the correlation with the factorsevaluation time and inoculum level was either significant or not depending on the period of the year in whichthe experiment was conducted. In contrast, the variable RF showed a significant positive correlation with theevaluation time and inoculum level in both periods of the year, hence being considered the best variable forscreenings of Psidium spp. for resistance to M. mayaguensis. The results also indicated that high inoculum levels(3,500 eggs / seedling and above) reduce the RF, what could lead to false positive results for resistance to M.mayaguensis. The best combination of inoculum level and evaluation time was 500 or 2,000 eggs / seedling and135 or 180 days after nematode inoculation, respectively.Key words: guava root-knot nematode, guava, root-knot nematode..

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Rogério S. Burla, Ricardo Moreira Souza, Vicente M. Gomes & Fábio M. Corrêa

importante que haja padronização metodológica emscreenings no que concerne às condições ambientais, nívelde inóculo e variável(is) analisada(s), permitindo acomparação entre genótipos e entre ensaiosconduzidos em diferentes épocas ou por grupos depesquisa distintos. O objetivo deste trabalho foi,portanto, avaliar diferentes níveis de inóculo de M.mayaguensis, épocas de avaliação e variáveis a seremutilizados em screenings de Psidium spp., tendo-seconduzido os ensaios com a goiabeira ‘Paluma’,sabidamente suscetível àquele nematoide. Visandodetectar variações de resultados em função datemperatura ambiente, os ensaios foram conduzidosnos períodos de primavera-verão-outono e inverno-primavera-verão.

Material e MétodosMudas de goiabeira ‘Paluma’ foram produzidas a

partir de sementes em substrato Plantmax® etransplantadas individualmente para vasos com 2 litrosdo mesmo substrato. Ao longo dos ensaios, as plantasforam adubadas com a formulação 4-14-8 (marcaMurer®) e mantidas livres de pragas e doenças comprodutos listados no programa SIA®. Os ensaiosforam conduzidos em casa de vegetação em doisperíodos do ano: na primavera-verão-outono (denovembro de 2007 a maio de 2008) e no inverno-primavera-verão (de agosto de 2008 a fevereiro de2009), cujas médias de temperaturas máximas emínimas, medidas no local, foram de 36,6 e 21,2 oC,

e de 31,8 e 21,0 oC, respectivamente.Ao atingirem o estádio de quatro pares de folhas

definitivas as plantas foram inoculadas com 500, 2.000,3.500, 5.000 ou 6.500 ovos de M. mayaguensis / planta,os quais foram veiculados em suspensão aplicada emtoda a superfície do substrato, em torno das plantas.As avaliações ocorreram aos 45, 90, 135 ou 180 diasapós a inoculação, perfazendo assim 20 tratamentos(cinco níveis de inóculo e quatro épocas de avaliação),com seis repetições (uma planta / vaso) por tratamento,as quais foram arranjadas de forma inteiramentecasualizada.

As variáveis analisadas foram massa fresca dosistema radicular em gramas (MFSR), Pf, FR enúmero de ovos + J2 / g de raiz (NOJ/G). Paraobtenção destas variáveis, as plantas tiveram o seusistema radicular pesado, e os ovos e J2 foramextraídos por modificação da metodologia propostapor Cotter et al. (2003): o sistema radicular foi agitadomanualmente por 3 min. em recipiente de capacidadede 1 litro contendo 500 ml de solução aquosa deágua sanitária marca Qboa® a 6%. A suspensão foivertida em peneiras de 100 e 500 mesh e quantificadaem três alíquotas de 1 ml. O logaritmo neperiano(Lnx) dos dados foi submetido a ANOVA, teste F a5 % e análise de regressão múltipla.

Resultados e DiscussãoComo observado na Figura 1A,B e na Tabela 1, a

variável MFSR não sofreu influência dos níveis de

Tabela 1 - Resultados de ANOVA e teste F de variáveis mensuradas em mudas de goiabeira que receberam 500, 2.000, 3.500, 5.000ou 6.500 ovos de Meloidogyne mayaguensis e que foram avaliadas 45, 90, 135 ou 180 dias após. O experimento foi conduzido em doisperíodos do ano, primavera-verão-outono e inverno-primavera-verão, em casa de vegetação.

Fontes de variação GL Variáveis (quadrado médio) e época do experimentoMassa fresca do Pf1 Número de ovos FR2

sistema radicular (g) + J2 / g raizPrimavera-verão-outono

Época de avaliação 3 31,882* 51,928* 6,119* 51,903*Nível do inóculo 4 0,091 0,098 0,171 25,270*Época x Nível 12 0,076* 1,319* 1,305* 1,319*Resíduo 100 0,040 0,165 0,176 0,165

Inverno-primavera-verãoÉpoca de avaliação 3 10,4976* 12,338* 0,1389 12,334*Nível do inóculo 4 0,1240 0,665* 1,1063* 29,679*Época x Nível 12 0,2960* 0,522* 0,4672* 0,523*Resíduo 100 0,1205 0,165 0,1612 0,165

1População final do nematoide extraída das raízes2Fator de reprodução = Pf / nível de inóculo utilizado.*Valores indicados por asterisco são significativos a 5 % de probabilidade pelo teste F.

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Comparação entre Níveis de Inóculo, Épocas de Avaliação e Variáveis para Seleção de Psidium spp. Visando à Resistência a Meloidogyne mayaguensis

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Figura 1 - Variação da massa fresca do sistema radicular de mudas de goiabeira em função do nível de inóculo (número de ovos /muda) de Meloidogyne mayaguensis e da época de avaliação. Os ensaios foram conduzidos em dois períodos do ano, primavera-verão-outono (A) e inverno-primavera-verão (B), em casa de vegetação. Dados foram transformados (log x) a partir de médias de seisrepetições (uma muda / vaso) para cada nível de inóculo e época de avaliação.

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Rogério S. Burla, Ricardo Moreira Souza, Vicente M. Gomes & Fábio M. Corrêa

inóculo testados, mas apenas da época de avaliação,em ambos os períodos do ano (primavera-verão-outono e inverno-primavera-verão). A Tabela 2 mostraos modelos de regressão múltipla e R2 referentes àsFiguras 1 a 3.

Na primavera-verão-outono, a variável Pf sofreuinfluência apenas da época de avaliação (Figura 2A,B).Já no inverno-primavera-verão, houve influênciatambém do nível de inóculo. Esta variação em relaçãoaos períodos do ano ocorreu também com a variávelNOJ/G. Na primavera-verão-outono, essa variávelsofreu influência da época de avaliação, ao passo queno inverno-primavera-verão a influência foi do nívelde inóculo. Esta variável não apresentou ajustematemático de regressão múltipla com R2 significativo.

Em comparação, a variável FR mostroucomportamento semelhante em ambos os períodosdo ano, sofrendo significativa influência dos níveis deinóculo e das épocas de avaliação testados, tendoocorrido também interação significativa entre essesfatores. Esta consistência estatística sugere que a variávelFR é superior às demais para avaliações de resistênciade Psidium spp. a M. mayaguensis. Em ambos osperíodos do ano houve uma clara tendência deobtenção de maiores FR a partir dos menores níveisde inóculo e nas épocas de avaliação mais tardias(Figura 3A,B). Conclui-se portanto, com base nacultivar suscetível Paluma, que as melhorescombinações de nível de inóculo e época de avaliaçãopara screenings de Psidium spp. visando a detecção deresistência a M. mayaguensis são 500 ou 2.000 ovos /planta e avaliação 135 ou 180 dias após a inoculação.A utilização de um nível de inóculo elevado, como os

5.000 a 12.000 ovos / planta normalmente citadosna literatura, poderá reduzir o FR obtido e produzirresultados falsos-positivos, nos quais genótipossuscetíveis serão considerados como resistentes.

A inoculação de goiabeiras em estádio fenológicoposterior aos quatro pares de folhas definitivasempregados neste estudo não justificaria o empregode níveis de inóculo acima de 2.000 ovos / planta.De fato, é sabido que goiabeiras continuam o seudesenvolvimento vegetativo mesmo quando mantidasem pequenos sacos plásticos ou vasos. Tais plantaschegam a crescer até cerca de 80 cm de altura, mascom sistema radicular reduzido, o qual não forneceriasítios de infecção suficientes para níveis de inóculoelevados, reduzindo portanto o FR.

Como citado anteriormente, diferentes autoresutilizaram o FR tanto em sua forma absoluta (FR < 1= resistência) quanto em sua forma relativa a umpadrão suscetível, como empregado por Moura &Régis (1987). Como estas versões do FR podem gerarclassificações distintas quanto à resistência /suscetibilidade a M. mayaguensis, ensaios futuros irãocompará-las estatisticamente.

Devido ao inverno ameno da região na qual esteestudo foi conduzido, não se detectaram diferençasrelevantes entre os períodos primavera-verão-outonoe inverno-primavera-verão. É recomendável quenematologistas e melhoristas localizados em regiõesde invernos frios ajustem o protocolo de screenings paraesta estação ou os conduza sob temperatura ambientecontrolada.

Como ressaltado por, dentre outros, Trudgill(1991) e Roberts (2002), o status de suscetibilidade /

Tabela 2 - Modelos de regressão múltipla e R2 de variáveis mensuradas em mudas de goiabeira que receberam 500, 2.000, 3.500,5.000 ou 6.500 ovos de Meloidogyne mayaguensis e que foram avaliadas 45, 90, 135 ou 180 dias após. O experimento foi conduzido emdois períodos do ano, primavera-verão-outono e inverno-primavera-verão, em casa de vegetação.

Variáveis Período do ano e modelos R2

Primavera-verão-outonoMassa fresca do sistema radicular (g) 0,8945 + 0,01774x - 0,000005064y 0,94Pf1 5,93 + 0,05589x - 0,0001515x2 + 0,00000203y 0,82FR2 0,0157 + 0,0586x – 1,514E-4x2 – 1,006E-3y + 8,638E-8y2 0,88

Inverno-primavera-verãoMassa fresca do sistema radicular (g) 2,299 + 0,01742x - 0,0000326x2 - 0,00001024y 0,76Pf 8,874 + 0,01089x – 0,00004109y 0,72FR 2,98 + 0,01088x - 0,0009404y + 0,00000007086y2 0,84

1População final do nematoide extraída das raízes2Fator de reprodução = Pf / nível de inóculo utilizado

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Comparação entre Níveis de Inóculo, Épocas de Avaliação e Variáveis para Seleção de Psidium spp. Visando à Resistência a Meloidogyne mayaguensis

Figura 2 - Variação da população final de Meloidogyne mayaguensis extraída das raízes de mudas de goiabeira em função do nível deinóculo (número de ovos / muda) e da época de avaliação. Os ensaios foram conduzidos em dois períodos do ano, primavera-verão-outono (A) e inverno-primavera-verão (B), em casa de vegetação. Dados foram transformados (log x) a partir de médias de seisrepetições (uma muda / vaso) para cada nível de inóculo e época de avaliação.

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Rogério S. Burla, Ricardo Moreira Souza, Vicente M. Gomes & Fábio M. Corrêa

Figura 3 - Variação do fator de reprodução (FR = população final extraída das raízes / inóculo utilizado) de Meloidogyne mayaguensisem mudas de goiabeira em função do nível de inóculo (número de ovos / muda) e da época de avaliação. Os ensaios foram conduzidosem dois períodos do ano, primavera-verão-outono (A) e inverno-primavera-verão (B), em casa de vegetação. Dados foram transformados(log x) a partir de médias de seis repetições (uma muda / vaso) para cada nível de inóculo e época de avaliação.

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Comparação entre Níveis de Inóculo, Épocas de Avaliação e Variáveis para Seleção de Psidium spp. Visando à Resistência a Meloidogyne mayaguensis

resistência de um genótipo deve ser definido combase na reprodução do nematoide somente, pois arelação desta com outras variáveis (índices de galhas ede massas de ovos, por exemplo) precisa sercomprovada experimentalmente. Em cafeeiros, porexemplo, a relação entre reprodução de M. exigua eíndice de galhas e de massas de ovos ainda é matériade discussão entre os cientistas (Muniz, 2007). Por fim,é importante que nematologistas e melhoristas adotema terminologia proposta por, dentre outros, Trudgill(1991) e Roberts (2002), na qual o status das plantasquanto ao parasitismo por nematoides é expressanuma escala que vai da suscetibilidade à resistência,sem o uso do termo “tolerância”. Comocomprovado experimentalmente para algumasinterações nematoide-planta, existem genes emecanismos fisiológicos distintos que regulamsuscetibilidade-resistência e tolerância-intolerância, nãose devendo misturar estas características em umamesma escala.

AgradecimentosOs autores agradecem ao Viveiro Itamudas pela

cessão das mudas de goiabeira.

Literatura CitadaACEVEDO, J.P.M. 2008. Interações entre o fitonematoide

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Rogério S. Burla, Ricardo Moreira Souza, Vicente M. Gomes & Fábio M. Corrêa

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Efeito da Farinha de Sementes de Abóbora e de Pochonia chlamydosporia no Controle de Meloidogyne javanica

Efeito da Farinha de Sementes de Abóbora e de Pochonia chlamydosporiano Controle de Meloidogyne javanica

Rosangela Dallemole-Giaretta1*, Leandro G. Freitas1, Marcelo M. Coutinho1, Wânia S. Neves2, Ronaldo J.F.Zooca1 & Silamar Ferraz1

1Departamento de Fitopatologia, Universidade Federal de Viçosa, 36571-000 Viçosa (MG) Brasil.2Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – Unidade Regional Centro-Oeste, Fazenda Experimental Santa Rita,

Rodovia MG 424 - km 64, Prudente de Morais (MG) Brasil.*Autora para correspondência: [email protected]

Recebido para publicação em 11 / 11 / 2009. Aceito em 25 / 03 / 2010Editado por Luiz Carlos C.B. Ferraz

Resumo - Dallemole-Giaretta, R., L.G. Freitas, M.M. Coutinho, W.S. Neves, R.J.F. Zooca & S. Ferraz. 2010.Efeito da farinha de sementes de abóbora e de Pochonia chlamydosporia no controle de Meloidogyne javanica.

Dois experimentos foram conduzidos em casa de vegetação para avaliar o efeito de diferentes quantidades(0, 5, 10, 15, 20, 25 ou 30 g / kg de solo) de farinha de sementes de abóbora (FSA) e sua combinação com ofungo Pochonia chlamydosporia (isolado Pc-10) no controle de Meloidogyne javanica. A incorporação ao solo da FSAapresentou potencial de controle para o nematoide das galhas. A redução do número de ovos do nematoidefoi diretamente proporcional à quantidade de FSA empregada no ensaio. Quanto ao número de galhas, ocontrole foi obtido a partir de 15 g de FSA por kg de solo. No entanto, as doses mais altas de FSA causaramtoxidez ao tomateiro. A combinação da FSA com o fungo não diferiu do tratamento no qual foi aplicadoapenas a FSA. Ambos os tratamentos reduziram em mais de 90 % a densidade do nematoide quandocomparado com a testemunha inoculada apenas com o nematoide. Portanto, a aplicação ao solo da FSApoderá ser uma alternativa de controle do nematoide-das-galhas.Palavras-chaves: nematoide-das-galhas, fungo nematófago, matéria orgânica, controle alternativo, controlebiológico.

Summary - Dallemole-Giaretta, R., L.G. Freitas, M.M. Coutinho, W.S. Neves, R.J.F. Zooca & S. Ferraz. 2010.Effect of squash seed flour and Pochonia chlamydosporia on the control of Meloidogyne javanica.

Two experiments were carried out under greenhouse conditions in order to evaluate the effect of differentrates of squash seed flour (SSF) (0, 5, 10, 15, 20, 25 or 30 g / kg of soil) and the interaction of this organicamendment with Pochonia chlamydosporia (isolate Pc-10) on the control of Meloidogyne javanica. Soil amendmentwith SSF has shown potential for controlling root-knot nematodes. The reduction of the number of eggs ofthe nematode was directly related to the rate of the SSF. Reduction of the number of galls was observed withthe rates higher than 15 g of SSF / kg of soil. However, the highest rates of SSF caused phytotoxicity intomato. The combination of SSF and the fungus had no effect on the control of the M. javanica, in comparisonto the use of SSF alone. Nematode density was reduced up to 90 % by amending the soil with SSF, eitherapplied alone or with P. chlamydosporia, when compared to the infested control. Further investigation is requiredto define if soil amendment with SSF can be an alternative to control M. javanica under field conditions.Key words: root-knot nematodes, nematophagous fungus, organic amendment, alternative control, biologicalcontrol.

ARTIGO

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Rosangela Dallemole-Giaretta, Leandro G. Freitas, Marcelo M. Coutinho, Wânia S. Neves, Ronaldo J.F. Zooca & Silamar Ferraz

Tabela 1 - Conteúdo de nutrientes presentes farinha de sementes de abóbora.N P K Ca M g S C C/N Zn Fe Mn Cu B pH

g / kg mg / kg

61,9 10,0 9,6 3,1 4,6 2,0 82,6 13,3 101 136 42 12 10,4 6,20

IntroduçãoOs nematoides-das-galhas (gênero Meloidogyne

Goeldi) incluem-se entre os principais fitopatógenospor serem polífagos, apresentarem ampla distribuiçãogeográfica e causarem severos danos a muitas culturaseconômicas (Taylor & Sasser, 1983; Moura, 1996). Ocontrole de várias espécies desses nematoides podeser obtido pela incorporação ao solo de resíduosvegetais, como mucuna-preta, casca de uva, pó desemente de mamão e torta de nim (Nico, et al., 2004;Lopes et al., 2005; Cosmis et al., 2007; Lopes et al.,2008). A eficácia de compostos orgânicos sobrefitonematoides é devida aos seus múltiplos modosde ação. Durante o processo de decomposição, muitosresíduos vegetais podem liberar metabólitossecundários com efeito nematicida e/ou favorecer oaumento da população de antagonistas autóctones dosolo. A adição de materiais orgânicos ao solo tambémmelhora suas características físico-químicas,favorecendo consequentemente o crescimento dasplantas e tornando-as mais tolerantes ao ataque defitonematoides (Bridge, 1996), além de servirem comosubstrato ao estabelecimento de certos agentes decontrole biológico, quando introduzidosconjuntamente no solo (Cannayane & Rajendran,2001).

A combinação de resíduos vegetais e agentes decontrole biológico é uma tática utilizada parapotencializar o controle de fitonematoides. Estudosrealizados com Paecilomyces Bainier spp., Bacillusthuringiensis Berliner ou Pochonia chlamydosporia Zare &Gams (sin. Verticillium chlamydosporium Goddard)quando aplicados ao solo juntamente com compostosorgânicos comprovaram maior controle donematoide-das-galhas do que quando os antagonistasforam aplicados isoladamente (Gautam et al., 1995;Khan & Saxena, 1997; Cannayane & Rajendran, 2001).

Sementes de abóbora são utilizadas na medicinatradicional pela atividade anti-helmíntica (Caili et al.,2006) e recentemente foi comprovado o mesmoefeito em caprinos (Almeida et al., 2007). O extrato

aquoso em teste in vitro apresentou efeito nematicidasobre ovos e juvenis de segundo estádio (J2) de M.javanica e M. incognita (Dallemole-Giaretta et al., 2009).Com base nessas informações científicas, este trabalhoteve por objetivos avaliar diferentes doses de farinhade sementes de abóbora (FSA) isoladamente ecombinar a melhor dose de FSA com P. chlamydosporia(isolado Pc-10) para o controle de M. javanica em casade vegetação.

Material e MétodosOs ensaios foram realizados em casa de vegetação

do Departamento de Fitopatologia na UniversidadeFederal de Viçosa. No primeiro, foi avaliado o efeitode diferentes doses de farinha de sementes de abóborasobre M. javanica. Sementes de abóbora (Cucurbitamoschata) foram colocadas em uma bandeja dealumínio e levadas para a estufa à temperatura deaproximadamente 60 ºC até ficarem completamentesecas. Posteriormente, foram trituradas em umprocessador (modelo Pure Essencial Walita) emvelocidade máxima por aproximadamente umminuto. A farinha de sementes de abóbora (FSA) foipesada e armazenada em sacos de papel até seu usonos testes. Uma amostra da FSA foi enviada aolaboratório de análise de solos para análise químicade macro e micro nutrientes (Tabela 1).

Para a instalação do experimento, utilizaram-sevasos de 1 l de capacidade. Cada um recebeu umamistura de solo e areia 1:1 (volume : volume)esterilizada e farinha de sementes de abóbora nasdoses de 5, 10, 15, 20, 25 ou 30 gramas, previamentehomogeneizada manualmente em sacos de plásticode 5 l de capacidade. Em seguida, em cada vaso foramabertos quatro orifícios de ± 5 cm de profundidade,nos quais foram incorporados 3.000 ovos de M.javanica. Como tratamento testemunha, foi utilizadauma mistura de solo e areia infestada com o nematoidesem a adição da FSA. Além disso, utilizou-se umtratamento adicional, testemunha absoluta, solo nãoinfestado com ovos do nematoide e sem a adição ao

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Efeito da Farinha de Sementes de Abóbora e de Pochonia chlamydosporia no Controle de Meloidogyne javanica

substrato de FSA (TA). O solo permaneceu úmidopor uma semana com aproximadamente 60 % dacapacidade de campo. No final deste período,transplantou-se uma muda de tomate ‘Santa Clara’em cada vaso. O delineamento experimental adotadofoi o inteiramente casualizado com oito repetições.Aos 45 dias do transplante, avaliaram-se as alturas dostomateiros, as massas da parte aérea e do sistemaradicular frescas e os números de galhas e de ovospor sistema radicular. Os dados relativos ao númerode galhas e de ovos foram submetidos à análise devariância e de regressão. Os demais foram submetidosà análise de variância e as médias comparadas peloteste T a 5 % de probabilidade.

No segundo ensaio, avaliou-se o efeito de sementesde abóbora combinado com P. chlamydosporia nocontrole de M. javanca. A produção, extração equantificação dos clamidósporos foram realizadasconforme metodologia já descrita por Dallemole-Giaretta et al. (2008). Os procedimentosmetodológicos foram semelhantes aos utilizados noexperimento anterior. Porém, neste experimento, foiutilizada a dose de 15 g / vaso de FSA e 5.000clamidósporos / g de solo de P. chlamydosporia,transplantando-se os tomateiros após 15 dias e asavaliações realizadas 60 dias após o transplante. Nesteexperimento avaliaram-se somente os números degalhas e de ovos do nematoide por sistema radicular,os quais foram transformados para x +1 esubmetidos à análise de variância e as médiascomparadas pelo teste de Tukey, a 5 % deprobabilidade. As médias das temperaturas máximase mínimas, durante a condução do experimento,foram de 30,6 oC e 13,6 oC, respectivamente.

Resultados e DiscussãoA FSA incorporada ao solo controlou o

nematoide-das-galhas. A redução do número de ovosfoi diretamente proporcional às doses de FSAestabelecidas neste ensaio (Figura 2). Quanto aonúmero de galhas, a redução foi obtida a partir dadose de 15 g / kg de solo, controlando a infectividadedo nematoide em 30 % em relação ao tratamentotestemunha. Nas doses de 5 e 10 g / kg de solo, asmédias obtidas do número de galhas foram superioresà dose zero, com um aumento de 16,72 e 10,28 %,

respectivamente (Figura 1). O controle de M. javanicapela adição de FSA ao solo pode ter ocorrido devidoa múltiplos modos de ação. Pela análise dacomposição química, a FSA apresentou grandequantidade de nitrogênio orgânico (Tabela 1). Issoindica que durante a decomposição da FSA ocorreuliberação de amônia, relatada como tóxica afitonematoides (Rodríguez-Kábana & Morgan-Jones,1987). Dependendo do resíduo orgânico, outroscompostos ou fitoquímicos como ácidos orgânicos,fenóis, taninos, dentre outros, também podem serliberados e atuam no controle de fitonematoides(Mian & Rodríguez-Kábana, 1882a,b; Chitwood,2002; Nico et al., 2004). A adição de matéria orgânicaao solo também pode aumentar a população deantagonistas autóctones de fitonematoides no solo(Rodríguez-Kábana, 1986; Nico et al., 2004). Namedicina tradicional, sementes de abóbora sãoconsideradas vermífugas (Caili et al., 2006; Almeida etal., 2007), sendo seu efeito anti-helmíntico devido àpresença de cucurbitacina, identificada quimicamentecomo (-)-3-amino-3-caroxipirrolidina (Bellma et al.,2006). A cucurbitacina, glicosídeo terpenoide,responsável pelo amargor do pepino que apresentaatividade antinutricional em alguns insetos, tambémteve efeito sobre M. incognita (Chitwood, 2002).Recentemente, em teste in vitro também foi constatadaatividade nematicida do extrato aquoso de sementesde abóbora sobre ovos e juvenis de M. javanica e M.incognita (Dallemole-Giaretta et al., 2009). Portanto, ocontrole da FSA sobre M. javanica, obtido neste estudo,também deve ter sido devido à ação deste glicosídeoterpenoide, que afetou a eclosão e os respectivosjuvenis antes do plantio dos tomateiros.

Embora a aplicação ao solo da FSA tenha reduzidosignificativamente o nematoide das galhas (Figuras 1e 2), visualmente observou-se que as doses a partirde 20 g / kg de solo apresentaram efeito tóxico aostomateiros, apesar de não terem afetado a altura dasplantas e a massa da parte aérea fresca, quandocomparadas com os tratamentos testemunhas (Figura3). No entanto, a massa de raiz fresca foi afetadadrasticamente, quando comparada aos doistratamentos testemunhas. A FSA, por apresentar baixarelação C/N (Tabela 1), provavelmente resultou emacúmulo de amônia e nitrato no solo durante seu

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Rosangela Dallemole-Giaretta, Leandro G. Freitas, Marcelo M. Coutinho, Wânia S. Neves, Ronaldo J.F. Zooca & Silamar Ferraz

Figura 1 - Efeito de diferentes doses de farinha de sementes de abóbora (FSA) sobre o número de galhas de Meloidogyne javanica emraízes de tomateiros, aos 45 dias após o transplante.

Figura 2 - Efeito de diferentes doses de farinha de sementes de abóbora (FSA) sobre o número de ovos de Meloidogyne javanica emraízes de tomateiros, aos 45 dias após o transplante.

y = 1725,954 - 53,576x

R2=0,70

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1.600

1.800

2.000

0 5 10 15 20 25 30Doses de FSA (g/ kg de solo)

mer

od

ega

lhas

y = 624025,7 - 40952x + 712,3x2

R2= 0,77

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

0 5 10 15 20 25 30

Doses de FSA (g/ kg de solo)

mer

od

eov

os

processo de decomposição, fato também observadoem outros materiais orgânicos ricos em nitrogênio(Mian & Rodríguez-Kábana, 1982a). Além disso,considerando as doses de FSA utilizadas neste estudo,tais quantidades seriam muito altas para aplicação emárea total no campo. Sua utilização pode ser viávelpara o controle de fitonematoides apenas em pequenasáreas, culturas de alto valor e em reboleiras (Lopes et

al., 2008). Portanto, novos estudos devem serrealizados a campo para confirmar o efeito da farinhade sementes de abóbora obtido nesse trabalho nocontrole do nematoide das galhas e se doses maisaltas também irão causar fitotoxidez.

No ensaio 2, a aplicação ao solo da FSA,juntamente com o agente de controle biológico P.chlamydosporia, não mostrou diferença (P < 0,05) no

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Efeito da Farinha de Sementes de Abóbora e de Pochonia chlamydosporia no Controle de Meloidogyne javanica

número de galhas e de ovos de M. javanica, quandocomparada ao tratamento com apenas FSA (Tabela2). Em comparação com a testemunha, a FSA na dosede 15 g/ kg de solo resultou em 96 e 98 % de reduçãodo número de galhas e de ovos, respectivamente. Ofungo, quando aplicado isoladamente, diminuiu em48 % o número de galhas e de 80 % o número deovos.

Geralmente agentes de controle biológico depatógenos de solo são aplicados em combinação commateriais orgânicos, pois esta integração podepotencializar o controle de fitonematoides (Cannayane& Rajendran, 2001; Gautam et al., 1995; Khan &Saxena, 1997). No entanto, neste estudo a FSAisoladamente foi altamente eficiente no controle donematoide das galhas. O efeito sinergístico desta

Tabela 2 - Número médio de galhas e de ovos de Meloidogyne javanica por sistema radicular de tomateiros após a aplicação ao solo de15 g de farinha de sementes de abóbora (FSA) e/ou 5.000 clamidósporos de Pochonia chlamydosporia por grama de solo, 15 dias antesdo transplante.

Tratamentos No. de galhas Redução do no. de galhas (%) No. de ovos Redução do no. de ovos (%)

FSA + Pc 21 c 97,21 3.094 c 99,2Pc 390 b 48,2 82.744 b 80,2FSA 30 c 96,0 6.223 c 98,5Testemunha 753 a - 417.985 a -

Para análise estatística, os dados dos números de galhas e ovos foram transformados em x +1, mas os valores apresentados são os dadosoriginais.Média de oito repetições, médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (P < 0,05).1Percentual de redução nos números de galhas e de ovos de M. javanica quando comparados com o tratamento testemunha.

Figura 3 - Efeito da incorporação ao solo de diferentes doses de farinha de semente de abóbora (FSA) no desenvolvimento detomateiros, 45 dias após o transplante em solo infestado ou não com Meloidogyne javanica. As barras representam o intervalo deconfiança associada ao teste T a 5 % de probabilidade.TA= testemunha absoluta (solo não infestado com ovos do nematoide e sem a adição ao substrato de FSA).

Altura de plantas

Massa da parte aérea fresca

Massa de raiz fresca

T A 0 5 10 15 20 25 30

Doses de FSA (g/ kg de solo)

0

11

22

33

44

55

66

77

88

99

110

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Rosangela Dallemole-Giaretta, Leandro G. Freitas, Marcelo M. Coutinho, Wânia S. Neves, Ronaldo J.F. Zooca & Silamar Ferraz

integração poderá ser obtido nos próximos ciclos donematoide, pois a eficiência do fungo também estárelacionada com a baixa população do nematoide (DeLeij et al., 1992; Kerry, 2001). Além disso, compostosvegetais podem contribuir para o estabelecimento eproliferação do antagonista no solo (De Leij, 1993;Cannayane & Rajendran, 2001). A FSA tambémpoderá ser utilizada, em doses mais baixas, comocarreador para facilitar a distribuição do fungo nosolo (Chen et al., 2000). No ensaio 1, doses entre 5 e10 g por kg de solo, além de terem reduzido o númerode ovos de M. javanica, também não afetaram odesenvolvimento das plantas de tomate (Figura 3).

Outro fator que potencializa o controle donematoide das galhas pelo uso de P. chlamydosporia é otempo de exposição inicial entre o fungo e os ovosdos nematoides antes do plantio da cultura principal(Dallemole-Giaretta et al., 2008). O período de 15dias de contato do fungo com os ovos do nematoide,antes do transplantio do tomateiro, foi suficiente parareduzir o número de galhas em 48 %, em relação aotratamento testemunha sem fungo, já no primeiro ciclodo nematoide (Tabela 2). Consequentemente, houvetambém maior redução do número de ovos donematoide. O efeito de P. chlamydosporia sobre onematoide também foi maximizado porque oexperimento foi conduzido em temperaturas maisamenas. Logo, essa faixa de temperatura foi propíciaao desenvolvimento do fungo e desfavorável àeclosão dos juvenis (Kerry, 2001).

O conhecimento de todos os fatores que poderãodeterminar a eficácia de um agente de controlebiológico no manejo de fitonematoides éextremamente importante quando ele é aplicadoisoladamente ao solo ou integrado a outros métodosde controle. Novos estudos devem ser realizados acampo para confirmar o potencial da FSA e suaintegração com o fungo P. chlamydosporia no controledo nematoide das galhas.

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Efeito da Farinha de Sementes de Abóbora e de Pochonia chlamydosporia no Controle de Meloidogyne javanica

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Waldir P. Dias, Vânia M. Freitas, Neucimara R. Ribeiro, Antonio W. Moita & Regina M.D.G. Carneiro

Reação de Genótipos de Milho a Meloidogyne mayaguensise M. ethiopica

Waldir P. Dias1*, Vânia M. Freitas2, Neucimara R. Ribeiro3, Antonio W. Moita4

& Regina M.D.G. Carneiro2

1Embrapa Soja, C. Postal 231, 86001-970 Londrina (PR) Brasil.2Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, C. Postal 02372, 70849-970 Brasília (DF) Brasil.

3APROSMAT, Rua dos Andradas, 688, Vila Goulart, 78745-420 Rondonópolis (MT) Brasil.4 Embrapa Hortaliças, Rodovia BR 60 - km 9, 70359-970 Brasília (DF) Brasil.

*Autor para correspondência: [email protected]

Recebido para publicação em 11 / 08 / 2009. Aceito em 24 / 05 / 2010Editado por Rosângela D.L. Oliveira

Resumo - Dias, W.P., V.M. de Freitas, N.R. Ribeiro, A.W. Moita & R.M.D.G. Carneiro. 2010. Reação degenótipos de milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica.

O nematoide Meloidogyne mayaguensis tem causando perdas elevadas em plantios comerciais de goiabeira noBrasil. Meloidogyne ethiopica, importante parasita da videira no Chile, foi detectado recentemente parasitandoquivi no Rio Grande do Sul, soja em São Paulo e yakon e tomateiro no Distrito Federal. Ambos os nematoidessão polífagos e, caso sejam disseminados para as regiões produtoras de grãos do país, podem vir a causardanos em culturas como a soja e o milho. O objetivo deste trabalho foi avaliar a reação de genótipos de milho(Zea mays) comercializados no Brasil a M. mayaguensis e M. ethiopica. Os experimentos foram conduzidos em casade vegetação da Embrapa Soja, em Londrina (PR). Adotou-se o delineamento experimental inteiramentecasualizado com 37 tratamentos (genótipos) para M. mayaguensis e 39 para M. ethiopica, com sete repetições.Plantas individuais de milho, soja e tomateiro foram inoculadas com 5.000 ovos e J2 dos respectivos nematoides.A avaliação aconteceu cerca de 60 dias após a inoculação e foi realizada com base no fator de reprodução (FR)dos nematoides em cada um dos genótipos. Genótipos com FR < 1,0 foram considerados altamente resistentese os demais classificados como moderadamente resistentes, pouco resistentes ou suscetíveis. Os altos FR(acima de 15) encontrados na soja e no tomateiro atestaram a viabilidade dos inóculos utilizados. Seis genótiposde milho (‘NB-7361’, ‘SHS-5080’, ‘GNX-1020’, ‘GNX-3010’, ‘BRS-1031’ e ‘BM-1115’) comportaram-se comoaltamente resistentes e outros 24 foram considerados moderadamente resistentes a M. mayaguensis. Para M.ethiopica, foram encontrados três genótipos altamente resistentes (‘NB-7361’, ‘GNX-1020’ e ‘GNX-3010’) ecinco moderadamente resistentes. De todos os genótipos de milho avaliados, apenas os híbridos NB-7361,GNX-1020 e GNX-3010 mostraram-se altamente resistentes aos dois nematoides.Palavras-chaves: nematoides-das-galhas, Zea mays, resistência genética, rotação de cultura.

Summary- Dias, W.P., V.M. de Freitas, N.R. Ribeiro, A.W. Moita & R.M.D.G. Carneiro. 2010. Reaction ofcorn genotypes to Meloidogyne mayaguensis and M. ethiopica.

Meloidogyne mayaguensis has caused great losses to guava plants in commercial plantations from Brazil. M.ethiopica is an important parasite of grapevines in Chile and has been recently detected in the Brazilian states ofRio Grande do Sul, São Paulo and Distrito Federal on kiwi, soybean and yakon, respectively. Both speciespossess a wide host range and can damage other crops. The objective of this study was to evaluate the reactionof commercial corn (Zea mays) genotypes from Brazil to M. mayaguensis and M. ethiopica, under greenhouseconditions. The experiments were conducted in the Embrapa Soja, Londrina (PR), in a completely randomizeddesign with 37 treatments (genotypes) for M. mayaguensis and 39 for M. ethiopica, with seven replications for each

ARTIGO

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Nematologia BrasileiraPiracicaba (SP) Brasil

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Reação de Genótipos de Milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica

IntroduçãoMeloidogyne mayaguensis é uma espécie polífaga, com

alta taxa de reprodução e grande capacidade dedisseminação. Esta espécie foi assinalada pela primeiravez no Brasil em raízes de goiabeira, nos municípiosde Petrolina (PE), Curaçá (BA) e Maniçoba (BA),causando sérios danos à cultura (Carneiro et al., 2001).A partir de então, esse nematoide foi detectado nosEstados do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte,do Ceará, de São Paulo, do Paraná, do Piauí, doEspírito Santo, da Paraíba, do Mato Grosso do Sul,de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Além dereduzir a produção de frutos de goiaba, M. mayaguensistambém afeta a qualidade dos mesmos. Levantamentorealizado por Moreira et al. (2003) no vale do sub-médio São Francisco demonstrou que esse nematoideestava presente em todas as amostras de raízes degoiabeira analisadas. Segundo Carneiro et al. (2007a),nos últimos sete anos houve aumento de cerca de 70% no número de pomares de goiabeira contaminadoscom M. mayaguensis naquela região. Em consequência,ocorreu redução na área cultivada, de 6.000 para 1.669hectares. Além da goiabeira, M. mayaguensis tambémpode parasitar olerícolas, ornamentais, fumo, café,mamão, acerola, araçá e soja (Carneiro, 2003).

M. ethiopica foi relatada no Brasil em quivi (Carneiroet al., 2003), soja (Castro et al., 2003) e em plantas deyacon e tomate (Carneiro & Almeida, 2005), nosEstados do Rio Grande do Sul (Serra Gaúcha), SãoPaulo e Distrito Federal (Brasília), respectivamente.Recentemente, esse nematoide também foi encontradoem plantas de fumo no Rio Grande do Sul (Gomeset al., 2005). Provavelmente, M. ethiopica foi introduzida

no país a partir do Chile, onde ocorre em várias regiõese causa enormes prejuízos nas culturas da videira edo quivi (Carneiro et al., 2007b). Outras espéciesvegetais como feijão caupi, alface, fava, batata, acácia,abóbora, repolho, pimentão, fumo, sisal, algodão esoja, também têm sido relatadas como sendohospedeiras de M. ethiopica (Carneiro et al., 2003).

O milho (Zea mays) é muito utilizado em programasde rotação de culturas objetivando o controle defitonematoides, em especial de nematoidesformadores de galhas (Meloidogyne spp.). Nos EstadosUnidos, o seu emprego data da década de 1950 evisava, principalmente, ao controle de M. hapla e M.incognita. A partir dos anos de 1970, embora persistissea recomendação do uso de milho em rotação comoutras culturas, observou-se que certos híbridos eramcapazes de multiplicar M. incognita, M. arenaria e M.javanica (Baldwin & Barker, 1970; Windham &Williams, 1988).

No Brasil, o nematoide-das-galhas foi relatadouma única vez causando prejuízos significativos emmilho (Lordello et al., 1986). Naquela ocasião, o agentecausal foi identificado como sendo M. incognita raça3. Parece que a maioria dos híbridos e cultivares demilho disponíveis no país são tolerantes a M. incognitae M. javanica, as duas espécies dos nematoides de galhasmais disseminadas no país e responsáveis pelosmaiores danos à culturas econômicas, com destaquepara a soja.

Diferentemente do milho, quase todas as culturasem uso no Brasil, como soja, algodão, feijão, cafeeiro,dentre outras, são vulneráveis ao ataque de uma oumais espécies de Meloidogyne. Em função da necessidade

treatment. Tomato ‘Santa Cruz’ and soybean ‘Embrapa 20’ were used as controls to demonstrate the inoculumviability. Plants of corn, tomato and soybean were inoculated with 5,000 eggs and J2. Sixty days after theinoculation, the reproduction factors (RF = final number of eggs / 5,000) were calculated for all genotypes.Genotypes with RF < 1.0 were considered highly resistant and the others classified as moderately resistant, littleresistant or susceptible. The high values of RF found on soybean and tomato showed the infectiveness of theinoculum. From 37 genotypes, six (‘NB-7361’, ‘SHS-5080’, ‘GNX-1020’, ‘GNX-3010’, ‘BRS-1031’ and ‘BM-1115’) were highly resistant to M. mayaguensis and the other 24 moderately resistant. For M. ethiopica, only threegenotypes (‘NB-7361’, ‘GNX-1020’ and ‘GNX-3010’) were resistant and the other five, classified as moderatelyresistant. Only three genotypes (‘NB-7361’, ‘GNX-1020’ and ‘GNX-3010’) were highly resistant to bothnematodes.Key words: root-knot nematodes, Zea mays, genetic resistance, crop rotation.

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de se indicar genótipos de milho resistentes anematoides de galhas, para utilização em áreasinfestadas, seja em rotação ou sucessão com outrasculturas, trabalhos visando caracterizar a reação dosprincipais híbridos e cultivares comercializados noBrasil tornaram-se frequentes (Brito & Antônio, 1989;Lordello et al., 1989; Asmus & Andrade, 1997; Moritzet al., 2003; Wilcken et al., 2006; Carneiro et al., 2007).Como M. mayaguensis e M. ethiopica vêm se espalhandomuito rapidamente no Brasil, já tendo inclusiveatingido áreas produtoras de grãos, faz-se necessárioconhecer a capacidade de cultivares e híbridos, dediferentes culturas, em multiplicar esses nematoides.Tais estudos deverão permitir, num futuro próximo,a indicação de genótipos resistentes ou hospedeirosdesfavoráveis, para semeadura em áreas infestadas e,ou para utilização como parentais em programas demelhoramento visando ao desenvolvimento de

genótipos resistentes.O objetivo deste trabalho foi avaliar, em casa de

vegetação, a capacidade dos principais híbridos ecultivares de milho comercializados no Brasil emmultiplicar M. mayaguensis e M. ethiopica e, a partir detais informações, indicar genótipos resistentes parasemeadura em áreas infestadas e/ou utilização emprogramas de melhoramento genético de milho.

Material e MétodosOs experimentos foram conduzidos em casa de

vegetação da Embrapa Soja, em Londrina (PR), nosperíodos de 08 / 10 a 11 / 12 / 2007 e de 04 / 01 a05 / 03 / 2008. Em cada uma das épocas, foramconduzidos dois experimentos, um para M.mayaguensis e outro para M. ethiopica. Na primeira época,foram avaliados 17 genótipos de milho para ambosos nematoides (Tabelas 1 e 2). Na segunda época,

Tabela 1 - Fatores de reprodução (FR) e reações de genótipos de milho a Meloidogyne mayaguensis, aos 60 dias após a inoculação com5.000 ovos e J2 em casa de vegetação.

1FR = população final de ovos e J2 / 5.000; médias de sete repetições; médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferemsignificativamente entre si pelo teste de Scott & Knott (P = 0,05).2AR = altamente resistente; MR = moderadamente resistente; PR=pouco resistente; S = suscetível.3PS = padrão de suscetibilidade.4PR = padrão de resistência.

Experimento 1 (08/10 a 11/12/2007) Experimento 2 (04/01 a 05/03/2008)Genótipos FR1 Reação2 Genótipos FR1 Reação2

Tomateiro ‘Santa Cruz’ (PS)3 86,7a S Soja ‘Embrapa 20’ (PS)3 51,8a SSoja ‘Embrapa 20’ (PS)3 89,1a S Tomateiro ‘Santa Cruz’ (PS)3 36,5a SXGN-6201 13,8b S BR-451 3,2b PRRGX-10 9,6b S GNZ-2004 2,9c MRP30F53 7,2b S GNZ-2005 2,5c MRPL-1335 7,2b S BR-4157 2,0c MRDSS-Campeão 4,2c PR BRS-3150 2,0c MRP30F90 3,9c PR BN-Taurus 2,0c MRDX-810 2,7d MR P30F87 1,9c MRDKB-393 2,3d MR HPF-0819 1,8c MRP30S40 2,2d MR BM-1120 1,7c MRRGX-04 2,0d MR BRS-2020 1,4c MRXGN-5336 1,8d MR BRS-3060 1,3c MRPL-6882 1,2d MR BRS-1035 1,3c MRP30K73 1,2d MR XGN-4209 1,3c MRAG-5020 1,1d MR BRS-3003 1,2c MRDX-813 1,1d MR BMX-53 1,2c MRSHS-5080 0,7e AR BM-2202 1,1c MRNB-7361 0,3e AR BM-1115 0,6d AR

BRS-1031 0,4d ARGNX-3010 0,3d ARGNX-1020 0,3d ARNB-7361 (PR)4 0,1d AR

C.V. (%) 36,5 41,0

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Reação de Genótipos de Milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica

Tabela 2 - Fatores de reprodução (FR) e reações de genótipos de milho a Meloidogyne ethiopica, aos 60 dias após a inoculação com 5.000ovos e J2 em casa de vegetação.

1FR = população final de ovos e J2 / 5.000; médias de sete repetições; médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferemsignificativamente pelo teste de Scott & Knott (P = 0,05).2AR = altamente resistente; MR = moderadamente resistente; PR=pouco resistente; S = suscetível.3PS = padrão de suscetibilidade.3PR = padrão de resistência.

avaliaram-se 20 genótipos de milho para M. mayaguensis(Tabela 1) e 22 para M. ethiopica (Tabela 2). Odelineamento experimental adotado nos experimentosfoi o inteiramente casualizado, com sete repetições.As médias das temperaturas diárias, no interior dacasa de vegetação, durante a condução dosexperimentos, ficaram sempre na faixa de 25 a30 °C.

Populações puras de M. mayaguensis e M. ethiopica,previamente identificadas na Embrapa RecursosGenéticos e Biotecnologia pela análise dos fenótiposdas esterases (Carneiro & Almeida, 2001), foramtrazidas para a Embrapa Soja, para multiplicação emtomateiro ‘Santa Cruz’ durante aproximadamente 60dias. A obtenção dos ovos para inoculação seguiu ametodologia de Boneti & Ferraz (1981) e aquantificação foi realizada em câmara de Peters,

calibrando-se as suspensões dos respectivosnematoides para 1.250 ovos e J2 / ml.

Além dos genótipos de milhos, foram incluídosdois padrões de suscetibilidade (tomateiro ‘Santa Cruz’e soja ‘Embrapa-20’). Nos experimentos conduzidosna segunda época, o milho ‘NB-7315’ (selecionadona primeira época) foi incluído como padrão deresistência para ambos os nematoides. Em todos osexperimentos utilizaram-se vasos plásticos comcapacidade para 1 kg, contendo substrato compostopela mistura de solo e areia (1:3), previamentesuplementado com fertilizantes apropriados para omilho e esterilizado com brometo de metila.

Quatro sementes de cada genótipo de milho foramcolocadas para germinar diretamente nos vasos e,decorridos 10 dias contados da semeadura, realizou-se o desbaste deixando-se uma planta por recipiente.

Experimento 1 (08/10 a 11/12/2007) Experimento 2 (04/01 a 05/03/2008)Genótipos FR1 Reação2 Genótipos FR1 Reação2

Tomateiro ‘Santa Cruz’ (PS)3 70,5a S Tomateiro ’Santa Cruz’ (PS)3 32,6 a SSoja ‘Embrapa-20’ (PS)3 32,4a S Soja ‘Embrapa-20’ (PS)3 15,6a SP30F53 17,8b S BRS-3060 6,4b SXGN-6201 15,8b S BRS-1035 6,4b SDX-810 12,6b S BRS-2020 6,2b SPL-1335 11,6b S GNZ-2004 5,5b SAG-5020 10,9b S HPF-0819 5,5b SRGX-10 7,5b S BRS-1031 5,3b SDSS-Campeão 5,4c PR BRS-3003 4,7c PRSHS-5080 5,2c PR BM-2202 4,5c PRDKB-393 4,9c PR XGN-4209 3,8c PRP30F90 4,6c PR BR-4157 3,8c PRPL-6882 4,4c PR BM-1120 3,8c PRDX-813 4,4c PR BRS-3150 3,7c PRP30S40 3,9c PR GNX-2005 3,7c PRRGX-04 3,9c PR BMX-53 3,5c PRXGN-5336 3,5c PR BM-1115 3,4c PRP30K73 2,4d MR BN-Taurus 3,2d MRNB-7361 0,4 e AR BRS-1030 3,0d MR

BR-106GXIV 3,0d MRBR-451 2,5d MRP30F87 1,8d MRGNX-3010 0,4e ARGNX-1020 0,2e ARNB-7361 (PR)4 0,2e AR

C.V. (%) 38,1 25,7

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Para a soja e o tomateiro, foram utilizadas mudas comsete e 20 dias de idade, respectivamente. No momentodo desbaste do milho ou dois dias após o transplantioda soja e do tomateiro, o solo de cada parcela foiinfestado com 5.000 ovos e J2 de M. mayaguensis ou deM. ethiopica. A inoculação foi realizada com o auxíliode pipeta automática, com capacidade para 5 ml,depositando o inóculo nas paredes de dois orifícios,com cerca de 2 cm de profundidade, abertos ao ladodo colo da planta. Decorridos 15 dias da inoculação,a cada duas semanas as plantas receberam adubaçõesde cobertura com sulfato de amônia ou ureia e NPK(8-28-16).

A avaliação ocorreu cerca de 60 dias após ainoculação e consistiu da extração e quantificação dosovos produzidos em cada sistema radicular e nadeterminação dos fatores de reprodução (FR) dosrespectivos nematoides em cada um dos genótipos.A metodologia utilizada na extração dos ovos foi ade Boneti & Ferraz (1981). Os FR, relação entrepopulações final e inicial de ovos, foram calculadosconforme Oostenbrink (1966). De acordo com aterminologia proposta por Roberts (2002) e com basenos agrupamentos resultantes da comparação dasmédias pelo teste de Scott & Knott (1974), cada umdos genótipos foi, então, classificado como altamenteresistente (FR < 1,0), moderadamente resistente, poucoresistente ou suscetível. Para as análises estatísticas, osdados foram transformados em log10 (x + 1).

ResultadosEm ambas as épocas de avaliação, os padrões de

suscetibilidade (tomateiro ‘Santa Cruz’ e plantas desoja ‘Embrapa-20’) apresentaram FR altos (> 15,0),tanto para M. mayaguensis (Tabela 1) quanto para M.ethiopica (Tabela 2). FR altos, além de atestarem aviabilidade dos inóculos utilizados, também asseguramque as condições ambientais, sobretudo temperaturano interior da casa de vegetação e umidade no solo,não prejudicaram a reprodução dos nematoides. Ocomportamento do milho ‘NB-7361’, selecionado naprimeira avaliação como padrão de resistência aosdois nematoides, foi semelhante nas duas épocas(Tabelas 1 e 2).

Os FR de M. mayaguensis nos genótipos de milho(Tabela 1) variaram de 0,3 a 13,8 (primeira época) e

de 0,3 a 3,2 (segunda época). Com base nos resultadosda análise estatística, dos 17 genótipos de milhoavaliados na primeira época apenas dois (‘NB-7361’e ‘SHS-5080’) mostraram-se altamente resistentes (FR< 1,0). Os demais genótipos se distribuíram em trêsgrupos: genótipos moderadamente resistentes (9),pouco resistentes (2) e genótipos suscetíveis (4). Nasegunda época, dos 20 genótipos de milho testadosapenas quatro (‘GNX-1020’, ‘GNX-3010’, ‘BRS-1031’e ‘BM-1115’) comportaram-se como altamenteresistentes, 15 como moderadamente resistentes e um(‘BR-451’) foi considerado pouco resistente a M.mayaguensis (Tabela 1).

Para M. ethiopica, os FR nos genótipos de milhovariaram de 0,4 e 17,8 (primeira época) e de 0,2 a 6,4(segunda época) (Tabela 2). Na primeira época, apenaso híbrido NB-7361 comportou-se como altamenteresistente. Os demais genótipos foram consideradosmoderadamente resistentes (‘P30K73’), poucoresistentes (9) ou suscetíveis (6). Na segunda época,dentre os 22 genótipos, foram encontrados doisaltamente resistentes (‘GNX-1020’ e ‘GNX-3010’),cinco moderadamente resistentes, nove poucoresistentes e seis genótipos suscetíveis a M. ethiopica.

De um total de 39 genótipos de milho avaliadosnas duas épocas, apenas ‘NB-7361’, ‘GNX-1020’ e‘GNX-3010’ comportaram-se como altamenteresistentes (FR < 1,0) a M. mayaguensis e M. ethiopica.Os genótipos ‘BN-Taurus’, ‘P30K73’ e ‘P30F87’apresentaram moderada resistência aos doisnematoides.

DiscussãoEm geral, o milho é considerado uma cultura

tolerante aos nematoides de galhas (Meloidogyne spp.),pois raramente observam-se galhas nas raízes ousintomas reflexos na parte aérea das plantas parasitadas(Brito & Antonio, 1989; Asmus et al., 2000; Medeiroset al., 2001; Ribeiro et al., 2002; Carneiro et al., 2007).Muitas vezes, essa tolerância é confundida comresistência, habilidade da planta em evitar amultiplicação do nematoide (Roberts, 2002), razãopela qual existia a recomendação generalizada de seutilizar o milho em esquemas de rotação de cultura,para redução populacional de Meloidogyne spp.Entretanto, alguns trabalhos, como o de Asmus et al.

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Reação de Genótipos de Milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica

(2000), mostraram que vários híbridos de milhomultiplicavam os nematoides-das-galhas, emborafossem tolerantes aos mesmos.

A mesma situação foi observada no presenteestudo para M . mayaguensis e M . ethiopica .Diferentemente do ocorrido com as plantas de soja etomateiro que, em decorrência do parasitismoexercido por ambos os nematoides, exibiram fartapresença de galhas nas raízes, as plantas de todos osgenótipos de milho apresentaram sistemas radiculareslivres de engrossamentos. Por outro lado, quando raízesdas plantas de alguns genótipos de milho eramdissecadas, detectaram-se fêmeas brancas comformato de pera, característico do gênero Meloidogyne.O número de fêmeas observado foi variável, emfunção do nível de suscetibilidade do genótipo demilho. A capacidade dos diferentes genótipos de milhoem multiplicar M. mayaguensis e M. ethiopica ficou aindamais evidente, quando as raízes dessas plantas foramtrituradas em liquidificador, para a extração dos ovos.A alta resistência do milho ‘NB-7361’ (comercializadocom o nome de ‘Somma’) aos dois nematoides éextremamente valiosa, pois este é um dos poucohíbridos em uso no Brasil que possui resistência tantopara M. javanica como M. incognita (Embrapa, 2008).

Mesmo o milho não sendo prejudicado pelosnematoides de galhas, nas áreas infestadas deve-seoptar sempre pela semeadura de híbridos oucultivares altamente resistentes (FR < 1,0). Na ausênciadestes, a segunda opção são os materiaismoderadamente resistentes. Essa prática resulta emredução mais rápida das populações do parasita nosolo e garante a produção econômica da culturasemeada na sequência. Ao contrário, a utilização demilho suscetível resulta em aumento das populaçõese comprometimento no rendimento das culturassubsequentes. Portanto, antes de se indicar umdeterminado genótipo de milho para utilização emesquemas de rotação ou sucessão (safrinha) com umadeterminada cultura, faz-se necessário conhecerpreviamente a reação do mesmo à espécie deMeloidogyne predominante na área.

Os resultados obtidos no presente estudopermitem inferir que M. mayaguensis possui umacapacidade de se multiplicar em milho menor do quea apresentada por M. ethiopica. Essa observação

coincide com as de Guimarães et al. (2003) e de Lima(2008), ao testarem a reação de genótipos de milho aessas duas espécies. No presente estudo, também ficouclaro que é mais fácil selecionar genótipos de milhocom resistência a M. mayaguensis do que para M.ethiopica. A durabilidade da resistência encontrada emgenótipos de milho a nematoides de galhas não temsido estudada. Entretanto, a seleção de isolados deMeloidogyne spp. capazes de vencer a resistência de genesem diferentes espécies vegetais, em caso de usocontínuo da mesma fonte de resistência em áreasinfestadas, já foi relatada em diferentes oportunidades(Castagnone-Sereno, 2002). Para aumentar adurabilidade da resistência do milho aos nematoidesde galhas, é prudente que os programas demelhoramento genético diversifiquem as fontes deresistência e que os agricultores evitem a monoculturade materiais com resistência oriunda de uma mesmafonte. A inclusão na rotação de outras culturasresistentes, também é sempre muito desejável.

Parece que M . mayaguensis e M . javanicacompartilham genes de avirulência para o parasitismoem milho, pois, como acontece com M. javanica(Ribeiro et al., 2002), a seleção de genótipos de milhoresistentes a M. mayaguensis é relativamente fácil. Já nacultura da soja, ao contrário do constatado em milho,é difícil selecionar cultivares com bons níveis deresistência tanto para M. javanica quanto para M.mayaguensis (Ribeiro et al., 2007).

Por outro lado, M. ethiopica pode ter genes deavirulência para o parasitismo em milho similares aosde M. incognita. Ribeiro et al. (2002) verificaram que aseleção de genótipos de milho resistentes a M. incognitafoi difícil, assim como observado para M. ethiopicaneste trabalho. Em soja, diferentemente do queacontece com o milho, foi mais fácil selecionarcultivares resistentes para ambas as espécies (Ribeiroet al., 2007).

ConclusõesExiste variabilidade dentro do germoplasma

brasileiro de milho para a reação aos nematoides M.mayaguensis e M. ethiopica. Assim, é possível indicargenótipos altamente resistentes (‘NB-7361’, ‘GNX-1020’ e ‘GNX-3010’) ou moderadamente resistentes(‘BN-Taurus’, ‘P30K73’ e ‘P30F87’) para uso em áreas

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infestadas, em esquemas de rotação ou sucessão deculturas. A seleção de genótipos de milho resistentes aM. mayaguensis é mais fácil do que para M. ethiopica.

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Reação de Genótipos de Milho a Meloidogyne mayaguensis e M. ethiopica

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Leila L. Dinardo-Miranda, Juliano V. Fracasso & Viviane P. Costa

Influência da Época de Aplicação de Nematicidas em Soqueiras Colhidasem Início de Safra sobre as Populações de Nematoides e a Produtividade da

Cana-de-açúcarLeila L. Dinardo-Miranda*, Juliano V. Fracasso & Viviane P. Costa

Centro de Cana-de-Açúcar - Instituto Agronômico, C. Postal 206, 14001-970 Ribeirão Preto (SP) Brasil.*Autora para correspondência: [email protected]

Recebido para publicação em 19 / 03 / 2010. Aceito para publicação em 10 / 06 / 2010Editado por Cláudia R. Dias-Arieira

Resumo - Dinardo-Miranda, L.L., J.V. Fracasso & V.P. Costa. 2010. Influência da época de aplicação denematicidas em soqueiras colhidas em início de safra sobre as populações de nematoides e a produtividade dacana-de-açúcar.

Com a finalidade de definir a melhor época para aplicar nematicidas em soqueiras de início de safra,conduziram-se oito experimentos em canaviais colhidos em abril e maio, com aplicação de nematicidas de 10a 180 dias depois da colheita. Somente em um ensaio observou-se efeito dos nematicidas sobre as populaçõesde M. javanica, mas, na maioria deles, os nematicidas reduziram as populações de Pratylenchus. Não foramobservados aumentos de produtividade devido ao tratamento nematicida em seis dos oito ensaios, emboratodas as áreas experimentais apresentassem infestações de nematoides passíveis de causar danos econômicos àcultura. Somente em dois ensaios houve influência da época de aplicação dos nematicidas sobre a produtividade;em um deles, as maiores produtividades foram observadas com aplicações feitas cerca de 10 dias ou 120depois do corte, enquanto no outro, a maior produtividade foi obtida quando os nematicidas foram aplicadoscerca de 180 dias depois do corte. A falta de resposta ao tratamento químico pode ser atribuída, na maioriados casos, à fenologia da planta colhida em início da safra.Palavras-chaves: Saccharum, Meloidogyne javanica, Pratylenchus zeae, Pratylenchus brachyurus, controle químico.

Summary - Dinardo-Miranda, L.L., J.V. Fracasso & V.P. Costa. 2010. Effect of time application of nematicidesin sugarcane ratoon cut at the beginning of the harvesting period on nematode populations and sugarcaneyield.

With the objective to define the best time to apply nematicides in sugarcane ratoon, cut at the beginning ofthe harvest period, eight experiments were carried out in the field harvested at April and May, in whichnematicides were applied from 10 to 180 days after the harvest. It was observed an effect of nematicides onM. javanica densities only in one experiment, but in most of them nematicides reduced populations of Pratylenchus.There was no increase in sugarcane yield due to nematicide in six out of eight experiments, although allexperimental areas presented nematode densities that could cause economic damage to sugarcane. There waseffect of time of nematicides application on sugarcane yield in two experiments; in one of them, the highestyields were observed with applications at about 10 days or at 120 days after the cut, while in the other thehighest yield was obtained when the nematicides were applied 180 days after the cut. The lack of response tonematicide treatments in the most of the cases was attributed to the plant phenology.Key words: Saccharum, Meloidogyne javanica, Pratylenchus zeae, Pratylenchus brachyurus, chemical control.

ARTIGO

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Influência da Época de Aplicação de Nematicidas em Soqueiras Colhidas em Início de Safra sobre as Populações de Nematoides e a Produtividade da Cana-de-açúcar

IntroduçãoOs nematoides estão entre os principais fatores

limitantes de produtividade em muitas áreas cultivadascom cana-de-açúcar no Brasil (Dinardo-Miranda,2008). Em razão disso, o uso de nematicidas químicosna implantação da cultura, especialmente na regiãocentro-sul do país, é bastante comum, resultando ematé 50 % de incremento de produtividade (Garcia etal., 1997; Dinardo-Miranda et al., 1998; Novaretti etal., 1998; Dinardo-Miranda et al., 2003). Em soqueiras,os incrementos de produtividade decorrentes docontrole químico de nematoides são menores do queos observados em cana-planta, como relataramNovaretti et al. (1980), Vieira et al. (1988), Dinardo-Miranda et al. (2000; 2001) e Dinardo-Miranda &Menegatti (2004).

Segundo Dinardo-Miranda (2008), as razões parauma menor resposta das soqueiras ao controlequímico de nematoides não estão perfeitamenteesclarecidas, mas dois possíveis fatores merecemdestaque. O primeiro deles está relacionado à eficiênciadas raízes. De acordo com Anghinoni & Meurer(1999), as taxas de absorção de nutrientes e água pelasraízes decrescem rapidamente com a idade da planta.Segundo os autores, raízes jovens de uma planta velhanão absorvem os nutrientes na mesma taxa que asraízes jovens de uma planta jovem. Portanto, as raízesda cana-planta são fisiologicamente mais ativas,absorvendo mais eficientemente não só água enutrientes, mas também os nematicidas aplicados nosolo. Em decorrência da melhor absorção, a eficiênciado nematicida na redução populacional de nematoidesé maior, favorecendo a absorção de água e nutrientes,razão dos maiores incrementos de produtividadeobservados em cana-planta.

De acordo com Dinardo-Miranda (2008), outrofator que merece destaque é o período decorrenteentre a colheita do canavial e a aplicação donematicida. Em estudo conduzido por Dinardo-Miranda & Garcia (2002), os nematicidas carbofurane aldicarb foram aplicados 20, 40 e 60 dias depois docorte de uma soqueira da variedade RB835113infestada por Pratylenchus zeae. A colheita havia sidofeita em agosto, em plena época seca do ano. Osautores observaram que os nematicidas contribuírampara incrementos de produtividade somente quando

aplicados aos 40 ou 60 dias depois do corte econcluíram que a época de aplicação de nematicidasapós o corte do canavial seria fator importante para aresposta ao controle químico de nematoides emsoqueiras.

Por outro lado, Silva et al. (2006) trabalharam comcanavial colhido no início do período chuvoso(20 / 10 / 2003) e aplicaram nematicidas dez e 40dias depois do corte, verificando que os maioresincrementos de produtividade foram obtidos comaplicações feitas dez dias depois do corte.

Em 2008, Dinardo-Miranda et al. publicaramresultados de ensaios conduzidos em canaviaiscolhidos entre julho e novembro, nos quais osnematicidas foram aplicados aos cinco, 20, 40 ou 60dias depois da colheita. Os autores verificaram que,para os ensaios colhidos na época seca, os maioresincrementos de produtividade foram observadosquando os nematicidas foram aplicados aos 40 ou 60dias depois do corte e, para o ensaio colhido na épocachuvosa, em aplicações feitas aos 20 ou 60 dias depoisdo corte. Os autores discutiram o fato de que asmelhores respostas ao controle químico estariamassociadas à dinâmica do desenvolvimento do sistemaradicular. Como grande parte das raízes da cana-de-açúcar, principalmente as superficiais, responsáveispela maior parte da absorção, morre na época secado ano (Vasconcelos, 2002), os autores concluíramque a aplicação de nematicidas entre 40 e 60 dias depoisdo corte, em canaviais colhidos entre julho e setembro,seria mais adequada porque coincidiria com o iníciodo período chuvoso, quando ocorre emissão de novasde raízes, principalmente superficiais, propiciandomaior absorção dos nematicidas. Além disso, maiorquantidade dos produtos estaria disponível para aplanta no solo durante a primavera e o verão, períodosem que as populações dos nematoides se elevam,favorecidas pelas temperaturas mais altas, chuvas eraízes abundantes. Por outro lado, em canaviaiscolhidos na época úmida, as raízes estariam, porocasião da colheita, em pleno desenvolvimento e, emconsequência, as populações de nematoides estariamse elevando, justificando as melhores respostas aosnematicidas quando aplicados logo após o corte.Quanto mais tardia a aplicação, nestas condições,maiores os danos sofridos pelas plantas devido ao

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ataque dos nematoides.Os dados anteriores atestam a influência da época

de aplicação dos nematicidas sobre a resposta doscanaviais colhidos em meio e final de safra. Não há,porém, dados relacionados a canaviais colhidos eminício de safra, que, segundo Vasconcelos (2002), secaracterizam por sistema radicular ainda vigoroso, masque será drasticamente reduzido com a entrada doperíodo seco subsequente. Assim, o objetivo dopresente trabalho foi avaliar o efeito de nematicidasaplicados em diferentes épocas, em canaviais colhidosem início de safra (abril e maio) sobre as populaçõesde nematoides e a produtividade da cultura.

Material e MétodosForam conduzidos oito experimentos, utilizando

o delineamento em blocos casualizados, com seisrepetições e parcelas representadas por seis sulcos de8 m de comprimento, espaçados entre si por 1,4 m.Os tratamentos foram distribuídos em esquemafatorial 2 x 4 (ensaios 1 a 5), 2 x 2 (ensaio 6) ou 2 x 3(ensaios 7 e 8), todos com uma testemunha adicional(sem nematicida). O primeiro fator foi representadopelos dois nematicidas testados, ou seja, aldicarb(150G 10 kg p.c. / ha) e carbofuran (100G 21 kg p.c. / ha).O outro fator foi representado pelas épocas deaplicação dos nematicidas, sendo elasaproximadamente 10, 20, 40 e 60 dias depois do corte,no ensaio 1; aproximadamente 10, 40, 80 e 120 diasdepois do corte, nos ensaios 2 a 5; aproximadamente150 e 180 dias depois do corte, no ensaio 6 eaproximadamente 120, 150 e 180 dias depois docorte, nos ensaios 7 e 8. Em todos os ensaios, abriu-se com enxada um pequeno sulco no qual o nematicidafoi aplicado; em seguida, o sulco foi coberto comterra. Os nematicidas foram aplicados manualmente.Para tanto, os aplicadores utilizaram equipamento deproteção individual completo.

As populações de nematoides ocorrentes nosensaios 1 a 5 foram estimadas em três ocasiões: nainstalação dos ensaios, cerca de 30 dias depois daúltima aplicação de nematicidas e no período chuvoso(janeiro e fevereiro). Nos ensaios 6 a 8, somente duasamostragens foram realizadas: na instalação dosensaios e cerca de 30 dias depois da última aplicaçãodos nematicidas, que coincidiu com o período

chuvoso do ano (novembro a janeiro). Para tanto,em cada amostragem, 50 g de raízes de plantas decada parcela foram coletadas e os nematoides,extraídos pela combinação dos métodos depeneiramento com flutuação centrífuga em soluçãode sacarose, de acordo com Coolen & D’Herde(1972). Por ocasião da colheita, feitaaproximadamente 12 meses depois do corte anterior,foram obtidas as produtividades agrícolas, pelo cortee pesagem dos colmos de cada parcela. As datas deaplicação dos tratamentos em cada ensaio, dasamostragens nematológicas, colheita e outrascaracterísticas importantes estão na Tabela 1.

Para análise estatística, os dados populacionais denematoides foram transformados em log (x + 1). Aanálise estatística dos dados referentes à primeiraamostragem foi feita desconsiderando o esquemafatorial dos tratamentos, uma vez que eles ainda nãohaviam sido aplicados. Para as demais variáveis(populações de nematoides nas segunda e terceiraamostragens e produtividade), as análises foramefetuadas considerando, inicialmente, o esquemafatorial com uma testemunha adicional.Posteriormente, procedeu-se à análise, retirando otratamento testemunha. Todas as médias foramcomparadas pelo teste de Tukey, a 1, 5 e 10 % designificância.

Resultados e DiscussãoDas espécies de nematoides economicamente

importantes para a cana-de-açúcar, foram detectadasMeloidogyne javanica e P. zeae, nos ensaios 1, 4, 5, 6 e 7.Nos ensaios 2, 3 e 8, foram encontradas M. javanica euma população mista de P. zeae e P. brachyurus. Aidentificação de M. javanica foi feita com base nascaracterísticas da região perineal das fêmeas.

Na primeira amostragem, realizada por ocasiãoda implantação dos ensaios, não se detectaramdiferenças significativas entre os tratamentos quantoàs populações de nematoides (Tabelas 2 a 9).

A segunda amostragem foi feita no início doperíodo chuvoso (novembro ou dezembro) em quasetodos os ensaios, com exceção do ensaio 7, na qualela foi feita em janeiro, em pleno período chuvoso.Nesta amostragem, somente no ensaio 5 osnematicidas se mostraram eficientes na redução

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Influência da Época de Aplicação de Nematicidas em Soqueiras Colhidas em Início de Safra sobre as Populações de Nematoides e a Produtividade da Cana-de-açúcar

populacional de M. javanica. Enquanto o tratamentotestemunha apresentou 11.683 juvenis de segundoestádio de M. javanica em 50 g de raízes, os tratamentosnematicidas apresentaram, em média, 2.261exemplares (Tabela 5).

Nesta mesma ocasião, foram observadaspopulações de P. zeae ou da mistura P. zeae + P.brachyurus significativamente menores nas parcelastratadas com nematicidas em comparação com asparcelas testemunhas em seis dos oito ensaiosconduzidos. Assim, as populações de Pratylenchus nasparcelas tratadas (médias dos tratamentos nematicidas)estavam significativamente menores que no tratamentotestemunha nos ensaios 3 a 8. Não se observaramdiferenças entre os tratamentos com nematicida e otratamento testemunha quanto às populações de M.javanica e P. zeae ou P. zeae + P. brachyurus nos ensaios 1e 2 (Tabelas 2 a 9).

No ensaio 2, embora não tenham sido observadasdiferenças entre os tratamentos nematicidas e atestemunha quanto às populações de nematoides, nasegunda amostragem, observaram-se diferenças naterceira amostragem, feita em janeiro, quanto às

populações de P. zeae + P. brachyurus (Tabela 3,testemunha = 23.233 exemplares, tratadas comnematicidas = 17.063 exemplares), revelando que,também neste ensaio, os nematicidas tiveram algumefeito sobre as populações destes parasitos.

Além dos ensaios 1 e 2, os ensaios 3 a 5 tambémtiveram uma terceira amostragem, em janeiro oufevereiro, em pleno período chuvoso. Nesta ocasião,ainda foram observadas diferenças significativas entreo tratamento testemunha e as parcelas tratadas comnematicidas nos ensaios 3 e 5. No ensaio 3, enquantoas populações de Pratylenchus nas parcelas tratadasforam de 5.241 exemplares, no tratamento testemunhaforam 9.250. No ensaio 5, estes valores foramrespectivamente 2.954 e 4.550 exemplares (Tabelas 2a 5). Nos demais ensaios, não foram observadasdiferenças entre os tratamentos nematicidas e atestemunha quanto às populações de nematoides,sugerindo que os produtos já haviam perdidoeficiência.

Somente no ensaio 1 não foram observadasdiferenças entre a testemunha e os tratamentos comnematicidas, em relação às populações de nematoides,

Tabela 1 - Características gerais dos experimentos.Característica Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Ensaio 4 Ensaio 5 Ensaio 6 Ensaio 7 Ensaio 8

Local Santa Rita do Jaboticabal Jaboticabal Barra Barra Santa Rita do Américo Santa Rita doPassa Quatro Bonita Bonita Passa Quatro Brasiliense Passa Quatro

Variedade RB867515 RB845210 RB925345 RB855156 PO88-62 RB867515 RB855156 RB867515Estágio (no. de cortes) 2 1 1 1 1 2 1 2Data do último corte 19/04/05 17/05/06 19/05/06 20/05/06 10/05/06 25/04/07 15/05/08 11/05/08Aplicações:Época 1 – data(± 10 dias após o corte) 27/04/05 27/05/06 27/05/06 29/05/06 29/05/06 -Época 2 – data(± 20 dias após o corte) 09/05/05 - - - - -Época 3 – data(± 40 dias após o corte) 30/05/05 30/06/06 30/06/06 29/06/06 29/06/06 -Época 4 – data(± 60 dias após o corte) 21/06/05 - - - - -Época 5 – data(± 80 dias após o corte) - 07/08/06 07/08/06 03/08/06 03/08/06 -Época 6 – data(± 120 dias após o corte) - 13/09/06 13/09/06 14/09/06 14/09/06 - 17/09/08 19/09/08Época 7 – data(± 150 dias após o corte) - - - - - 13/09/07 20/10/08 16/10/08Época 6 – data(± 180 dias após o corte) - - - - - 19/10/07 17/11/08 17/11/08Amostragens:1a. ou prévia 27/04/05 27/05/06 27/05/06 29/05/06 29/05/06 13/09/07 17/09/08 17/09/082a . 16/12/05 22/11/06 22/11/06 14/11/06 14/11/06 19/11/07 16/01/09 30/12/083a. 17/02/06 22/01/07 22/01/07 01/02/07 01/02/07 - - -Colheita do ensaio 13/04/06 27/06/07 16/07/07 01/06/07 14/06/07 30/04/08 23/06/09 09/04/09

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Tabela 2 - Populações de juvenis de segundo estádio de Meloidogyne javanica (Mj) e de Pratylenchus zeae (Pz) nas raízes (50 g) davariedade RB867515, em três datas de amostragem e produtividade de colmos (TCH, t/ha) em função dos tratamentos. Ensaio 1.

1Significância dos valores de F: ** = 1 %; * = 5 %; + = 10 % e NS = não significativo.2Médias na coluna seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey, ao nível de significância de 10 %.

Tratamento nematicida Aplicação - Data Data da amostragem TCH (dias depois do corte) 27/04/05 16/12/05 17/02/06 (t/ha)

M j Pz M j Pz M j PzTestemunha - 100 2583 83 2983 100 4433 125Aldicarb 27/04/05(8 ddc) 50 3033 583 7533 733 3600 119Carbofuran 50 2133 50 3183 300 1600 125Aldicarb 09/05/05(20 ddc) 50 3250 117 5083 17 5400 123Carbofuran 0 3333 117 3217 17 2300 126Aldicarb 30/05/05(40 ddc) 0 5567 117 4233 117 3617 120Carbofuran 0 2450 283 4550 33 1450 125Aldicarb 21/06/05(62 ddc) 0 2300 533 2733 33 2783 125Carbofuran 75 6141 0 3866 50 1816 120Média dos tratamentos Testemunha 83 2983 100 4433 125

Nematicidas 225 4300 571 2821 123Valores de F1 Tratamento 1,50 NS 0,04 NS 0,06 NS 0,63 NS 0,29 NS 1,54 NS 0,26 NS

CV (%) 207,1 13,0 137,8 11,4 163,3 10,7 8,7Média dos nematicidas2 Aldicarb 338 4896 225 3850 a 122

Carbofuran 113 3704 100 1792 b 124Média das épocas de aplicação 1 (8 ddc) 317 5358 517 2600 122

2 (20 ddc) 117 4150 17 3850 1253 (40 ddc) 200 4392 75 2534 1234 (62 ddc) 267 3300 42 2300 123

Valores de F1 Nematicida 1,50 NS 0,58 NS 2,20 NS 3,16+ 1,43 NS

Época 0,44 NS 0,26 NS 1,16 NS 0,93 NS 0,12 NS

N*E 0,79 NS 0,34 NS 0,42 NS 0,11 NS 0,61 NS

CV (%) 139,9 11,1 155,8 11,0 8,8

Tabela 3 - Populações de juvenis de segundo estádio de Meloidogyne javanica (Mj) e de adultos e juvenis de Pratylenchus zeae e P.brachyurus (Pz+Pb) nas raízes (50 g) da variedade RB845210, em três datas de amostragem e produtividade de colmos (TCH, t/ha) emfunção dos tratamentos. Ensaio 2.

1Significância dos valores de F: ** = 1 %; * = 5 %; + = 10 % e NS = não significativo.2Para mesmos parâmetro e coluna, médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo Teste de Tukey, ao nível de significância indicado.

Tratamento nematicida Aplicação - Data Data da amostragem TCH (dias depois do corte) 27/05/06 02/11/06 22/01/07 (t/ha)

M j Pz+Pb M j Pz+Pb M j Pz+PbTestemunha - 1167 9583 133 9083 433 23233 161,8Aldicarb 27/05/06(10 ddc) 383 13817 450 12383 517 11200 161,6Carbofuran 333 9056 1767 14617 1000 32017 162,8Aldicarb 30/06/06(44 ddc) 367 7417 100 7567 1017 16133 160,4Carbofuran 217 3350 67 16833 600 21483 150,5Aldicarb 07/08/06 (82 ddc) 417 7400 233 2017 167 6850 167,0Carbofuran 200 7133 950 13100 800 22700 156,1Aldicarb 13/09/06(119 ddc) 333 3509 450 6033 200 6833 165,1Carbofuran 2867 6433 3183 13367 2133 19283 152,0Média dos tratamentos2 Testemunha 133 9083 433 23233 a 161,8

Nematicidas 900 10740 804 17063 b 159,4Valores de F1 Tratamento 1,33 NS 1,36 NS 0,26 NS 0,02 NS 0,56 NS 2,85+ 0,14 NS

CV (%) 83,8 8,5 89,0 11,8 78,9 10,3 8,2Média dos nematicidas2 Aldicarb 308 7000 a 475 10254 a 165,5 b

Carbofuran 1492 14479 b 1133 23871 b 155,4 aMédia das épocas de aplicação 1 (10 ddc) 1108 13500 758 21608 162,2

3 (44 ddc) 83 12200 808 18808 155,55 (82 ddc) 592 7558 483 14775 161,66 (119 ddc) 1817 9700 1167 13058 158,6

Valores de F1 Nematicida 0,15 NS 14,39** 0,04 NS 11,38** 4,53*Época 2,22+ 0,65 NS 0,66 NS 1,17 NS 0,71 NS

N*E 1,36 NS 1,21 NS 0,77 NS 0,84 NS 0,73 NS

CV (%) 86,6 12,0 75,1 10,9 8,1

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Influência da Época de Aplicação de Nematicidas em Soqueiras Colhidas em Início de Safra sobre as Populações de Nematoides e a Produtividade da Cana-de-açúcar

Tabela 4 - Populações de juvenis de segundo estádio de Meloidogyne javanica (Mj) e de adultos e juvenis de Pratylenchus zeae e P.brachyurus (Pz+Pb) nas raízes (50 g) da variedade RB925345, em três datas de amostragem e produtividade de colmos (TCH, t/ha) emfunção dos tratamentos. Ensaio 3.

1Significância dos valores de F: ** = 1 %; * = 5 %; + = 10 % e NS = não significativo.2Para mesmos parâmetro e coluna, médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo Teste de Tukey, ao nível de significância indicado.

Tratamento nematicida Aplicação - Data Data da amostragem TCH (dias depois do corte) 27/05/06 02/11/06 22/01/07 (t/ha)

M j Pz+Pb M j Pz+Pb M j Pz+PbTestemunha - 17 2764 167 19400 33 9250 145,7Aldicarb 02/06/06(13 ddc) 0 3752 0 4167 0 3533 151,9Carbofuran 0 3260 33 14050 217 9017 147,2Aldicarb 30/06/06(42 ddc) 0 2866 0 4333 17 3983 148,7Carbofuran 333 4617 83 12783 1017 16525 156,0Aldicarb 07/08/06(79 ddc) 0 1805 0 4683 0 1483 158,0Carbofuran 0 1949 150 12183 183 2683 155,2Aldicarb 13/09/06(116 ddc) 0 3667 167 2417 233 900 152,8Carbofuran 17 2300 100 8917 250 3800 152,0Média dos tratamentos2 Testemunha 167 19400a 33 9250 a 145,7 a

Nematicidas 67 7942 b 240 5241 b 152,7 bValores de F1 Tratamento 0,32NS 0,58NS 2,16NS 7,71** 0,35NS 11,23** 2,69+

CV (%) 165,5 17,3 156,2 10,3 172,3 12,2 6,0Média dos nematicidas2 Aldicarb 42 a 3900 a 63 a 2475 a 152,9

Carbofuran 92 b 11983 b 417 b 8006 b 152,6Média das épocas de aplicação2 1 (13 ddc) 17 a 9108 108 6275 ab 149,6

3 (42 ddc) 42 ab 8558 517 10524 b 152,45 (79 ddc) 75 ab 8433 92 2083 a 156,66 (116 ddc) 133 b 5667 242 2350 a 152,4

Valores de F1 Nematicida 4,11** 52,82** 4,03* 18,90** 0,18 NS

Época 2,17+ 1,00NS 0,65NS 4,84* 1,15 NS

N*E 0,82 NS 0,45NS 0,32NS 0,55NS 0,64 NS

CV (%) 170,0 9,6 165,5 13,2 6,2

Tabela 5 - Populações de juvenis de segundo estádio de Meloidogyne javanica (Mj) e de adultos e juvenis de Pratylenchus zeae (Pz) nasraízes (50g) da variedade RB855156, em três datas de amostragem e produtividade de colmos (TCH, t/ha) em função dos tratamentos.Ensaio 4.

1Significância dos valores de F: ** = 1 %; * = 5 %; + = 10 % e NS = não significativo.2Para mesmos parâmetro e coluna, médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo Teste de Tukey, ao nível de significância indicado.

Tratamento nematicida Aplicação - Data Data da amostragem TCH (dias depois do corte) 29/05/06 14/11/06 01/02/07 (t/ha)

M j Pz M j Pz M j PzTestemunha - 1150 2888 533 4453 800 2068 120,2Aldicarb 29/05/06(9 ddc) 0 5483 617 3045 1000 914 120,0Carbofuran 0 4383 87 1500 750 400 117,9Aldicarb 29/06/06(40 ddc) 0 3267 0 1924 67 2233 121,5Carbofuran 1494 4742 735 1656 4567 950 117,9Aldicarb 03/08/06(75 ddc) 100 4267 3995 2690 1367 2100 117,3Carbofuran 883 4200 1697 4291 150 1033 116,2Aldicarb 14/09/06(117 ddc) 0 6917 1236 1290 217 2667 125,0Carbofuran 833 6200 1939 1602 883 717 121,2Média dos tratamentos2 Testemunha 533 4453 b 800 2067 120,2

Nematicidas 1286 2250 a 1135 1377 119,6Valores de F1 Tratamento 1,00 NS 0,37 NS 0,47 NS 6,37** 0,68 NS 1,51 NS 0,62 NS

CV (%) 185,5 10,1 77,6 12,8 85,7 21,5 15,1Média dos nematicidas2 Aldicarb 1461 2237 663 a 1979 121,0

Carbofuran 1115 2262 1588 b 775 118,3Média das épocas de aplicação2 1 (9) 352 a 2273 875 657 119,0

2 (40) 368 a 1790 2317 1592 119,73 (75) 2846 b 3490 758 1567 116,8

4 (117) 1587ab 1446 550 1692 123,1Valores de F1 Nematicida 0,01 NS 0,01 NS 3,28+ 0,70 NS 0,14 NS

Época 4,62 + 1,96 NS 0,51 NS 0,78 NS 0,98 NS

N*E 2,42 + 1,23 NS 5,47* 0,65 NS 0,61 NS

CV (%) 74,8 13,4 80,5 22,7 15,5

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112 Vol. 34(2) - 2010

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Tabela 6 - Populações de juvenis de segundo estádio de Meloidogyne javanica (Mj) e de adultos e juvenis de Pratylenchus zeae e P.brachyurus (Pz) nas raízes (50 g) da variedade RB845210, em três datas de amostragem e produtividade de colmos (TCH, t/ha) emfunção dos tratamentos. Ensaio 6.

1Significância dos valores de F: ** = 1 %; * = 5 %; + = 10 % e NS = não significativo.2Para mesmos parâmetro e coluna, médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo Teste de Tukey, ao nível de significância indicado.

Tratamento nematicida Aplicação - Data Data da amostragem TCH (dias depois do corte) 29/05/06 14/11/06 01/02/07 (t/ha)

M j Pz M j Pz M j PzTestemunha - 4483 6317 11683 5133 3917 4550 147,5Aldicarb 29/05/06(13 ddc) 3540 4045 3899 1323 2317 3250 152,8Carbofuran 7550 3950 2257 1685 5533 2633 158,8Aldicarb 29/06/06(50 ddc) 3450 2329 2778 1858 2767 4450 144,6Carbofuran 1920 2737 4106 1753 6167 6000 147,4Aldicarb 03/08/06(85 ddc) 2394 2420 2832 2747 1417 1117 144,0Carbofuran 3257 5866 2153 1686 1300 4067 146,0Aldicarb 14/09/06(127 ddc) 8042 4350 1060 553 2250 383 156,5Carbofuran 1900 4450 1804 2295 4176 1732 150,0Média dos tratamentos2 Testemunha 11683 b 5133 b 3917 4550 b 147,5

Nematicidas 2611 a 1737 a 3241 2954 a 150,0Valores de F1 Tratamento 0,85NS 0,67 NS 3,19+ 4,51* 1,29 NS 3,22+ 0,18 NS

CV (%) 11,8 16,6 27,7 23,8 24,2 18,4 6,8Média dos nematicidas2 Aldicarb 1642 1620 2188 a 2300 a 149,5

Carbofuran 2580 1854 4294 b 2608 b 150,6Média das épocas de aplicação2 1 (13 ddc) 3078 1504 3295 2942 b 155,8 b

3 (50 ddc) 3442 1806 4467 5225 b 146,0ab5 (85 ddc) 2493 2216 1358 2592 b 145,0 a6 (127 ddc) 1432 1424 3213 1057 a 153,3ab

Valores de F1 Nematicida 0,28 NS 2,08 NS 2,85+ 6,39** 0,01 NS

Época 0,21 NS 1,28 NS 1,83 NS 10,07** 3,31*N*E 0,30 NS 1,46 NS 2,06 NS 5,59** 0,83 NS

CV (%) 28,7 25,3 24,8 19,4 6,7

Tabela 7 - Populações de juvenis de segundo estádio de Meloidogyne javanica (Mj) e de adultos e juvenis de Pratylenchus zeae (Pz) nasraízes (50 g) da variedade RB867515, em duas datas de amostragem e produtividade de colmos (TCH, t/ha), em função dostratamentos. Ensaio 6.

1Significância dos valores de F: ** = 1 %; * = 5 %; + = 10 % e NS = não significativo.2Para mesmos parâmetro e coluna, médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo Teste de Tukey, ao nível de significância indicado.

Tratamento nematicida Aplicação - Data Data da amostragem TCH (dias depois do corte) 13/09/07 19/11/07 (t/ha)

M j Pz M j PzTestemunha - 1733 1067 0 5750 a 86,8Aldicarb 13/09/07(141 ddc) 365 1550 34 3533 ab 82,0Carbofuran 2867 2083 68 5767 a 82,1Aldicarb 19/10/07(177 ddc) 283 617 250 1267 b 82,6Carbofuran 667 1550 200 3650 ab 84,8Média dos tratamentos2 Testemunha 1733 1067 0 5750 a 86,8

Nematicidas 1046 1450 138 3526 b 82,9Valores de F1 Tratamento 1,51 NS 1,77 NS 1,30 NS 2,80* 0,41 NS

CV (%) 67,3 39,5 155,4 12,2 9,6Média dos nematicidas2 Aldicarb 142 2400 a 82,3

Carbofuran 134 4708 b 83,5Média das épocas de aplicação2 7 (141 ddc) 51 4595 a 82,1

8 (177 ddc) 225 2459 b 83,7Valores de F1 Nematicida 0,66 NS 2,95 + 1,18 NS

Época 1,26 NS 3,49 + 0,38 NS

N*E 0,47 NS 1,51 NS 0,16 NS

CV (%) 135,5 13,6 7,9

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Influência da Época de Aplicação de Nematicidas em Soqueiras Colhidas em Início de Safra sobre as Populações de Nematoides e a Produtividade da Cana-de-açúcar

Tabela 8 - Populações de juvenis de segundo estádio de Meloidogyne javanica (Mj) e de adultos e juvenis de Pratylenchus zeae (Pz) nasraízes (50 g) da variedade RB855156, em duas datas de amostragem e produtividade de colmos (TCH, t/ha) em função dostratamentos. Ensaio 7.

1Significância dos valores de F: ** = 1 %; * = 5 %; + = 10 % e NS = não significativo.2Para mesmos parâmetro e coluna, médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo Teste de Tukey, ao nível de significância indicado.

Tratamento nematicida Aplicação - Data Data da amostragem TCH (dias depois do corte) 17/09/08 16/01/09 (t/ha)

M j Pz M j PzTestemunha - 307 968 233 3283 a 119,7Aldicarb 17/09/08(125 ddc) 533 998 383 1450 ab 100,2Carbofuran 150 867 233 950 ab 130,4Aldicarb 20/10/08(158 ddc) 83 1306 300 1050 ab 129,6Carbofuran 1217 922 100 2100 ab 130,8Aldicarb 17/11/08(186 ddc) 106 559 283 467 b 125,8Carbofuran 450 2644 583 2799 a 124,6Média dos tratamentos2 Testemunha - - 233 3283 a 119,7

Nematicidas - - 314 1469 b 128,1Valores de F1 Tratamento 0,23 NS 0,68 NS 1,02 NS 4,77* 0,28 NS

CV (%) 134,9 14,4 73,8 14,9 13,1Média dos nematicidas2 Aldicarb - - 322 989 a 127,7

Carbofuran - - 305 1450 b 128,6Média das épocas de aplicação2 6 (125 ddc) - - 308 ab 1200 129,0

7 (158 ddc) - - 200 b 1575 130,28 (186 ddc) - - 433 a 1633 125,3

Valores de F1 Nematicida - - 0,49 NS 4,46* 0,01 NS

Época - - 3,82* 0,20 NS 0,13 NS

N*E - - 0,15 NS 3,53* 0,01 NS

CV (%) - - 76,3 15,8 14,1

Tabela 9 - Populações de juvenis de segundo estádio de Meloidogyne javanica (Mj) e de adultos e juvenis de Pratylenchus zeae e P.brachyurus (Pz+Pb) nas raízes (50 g) da variedade RB867515, em duas datas de amostragem e produtividade de colmos (TCH, t/ha)em função dos tratamentos. Ensaio 8.

1Significância dos valores de F: ** = 1 %; * = 5 %; + = 10 % e NS = não significativo.2Para mesmos parâmetro e coluna, médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo Teste de Tukey, ao nível de significância indicado.

Tratamento nematicida Aplicação - Data Data da amostragem TCH (dias depois do corte) 17/09/08 30/12/08 (t/ha)

M j Pz+Pb M j Pz+PbTestemunha - 217 4417 1583 5683 75,4Aldicarb 19/09/08(131 ddc) 100 3700 900 3617 75,5Carbofuran 583 5733 4100 4583 78,4Aldicarb 16/10/08(158 ddc) 800 4750 433 2400 76,3Carbofuran 117 3117 683 3267 78,6Aldicarb 17/11/08(190 ddc) 567 2800 33 1533 78,8Carbofuran 483 2100 203 3300 79,0Média dos tratamentos2 Testemunha - - 1583 5683 a 75,4 a

Nematicidas - - 1058 3117 b 77,8 bValores de F1 Tratamento 0,69 NS 0,88 NS 1,99 NS 3,95* 2,27+

CV (%) 102,2 11,8 61,7 16,0 5,2Média dos nematicidas2 Aldicarb - - 227 2517 a 76,9

Carbofuran - - 1662 3717 b 78,7Média das épocas de aplicação2 6 (131 ddc) - - 2500 a 4100 77,0 a

7 (158 ddc) - - 558 ab 2834 77,5 ab8 (190 ddc) - - 118 b 2417 78,9 b

Valores de F1 Nematicida - - 2,64 NS 3,46+ 0,23 NS

Época - - 9,16 NS 1,16 NS 1,56+

N*E - - 0,61 NS 0,06 NS 0,06 NS

CV (%) - - 64,7 17,7 5,3

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nas duas amostragens realizadas após a aplicação dostratamentos. Isto pode ser atribuído ao fato de que asamostragens foram realizadas de seis a oito mesesdepois da aplicação dos produtos, enquanto nosdemais ensaios, as amostragens foram efetuadas deum a cinco meses depois da aplicação dos tratamentos.Provavelmente, por ocasião das amostragens feitasno ensaio 1, grande parte dos produtos aplicados haviase degradado, por terem ficado mais tempo no solo,expostos a fatores químicos e biológicos dedecomposição, não revelando, portanto, qualquerefeito por ocasião das amostragens pós-aplicação.

As análises estatísticas conduzidas desconsiderandoa testemunha revelaram diferenças entre osnematicidas aldicarb e carbofuran em muitas dasamostragens realizadas. Carbofuran mostrou-se maiseficiente que aldicarb na redução populacional de P.zeae, na amostragem efetuada no ensaio 1 em17 / 02 / 06, enquanto o desempenho de aldicarbfoi superior ao de carbofuran na redução populacionalde Pratylenchus no ensaio 2, de M. javanica e Pratylenchusno ensaio 3, de M. javanica no ensaio 4 em01 / 02 / 07, na de M. javanica e P. zeae no ensaio 5em 01 / 02 / 07, de P. zeae no ensaio 6 em19 / 11 / 07 e no ensaio 7 em 16 / 01 / 09, e de P.zeae + P. brachyurus, no ensaio 8, em 30/12/09. Nasdemais situações, não houve diferenças entre os doisnematicidas (Tabelas 2 a 9).

A influência da época de aplicação dos nematicidassobre as populações de nematoides não foi consistenteem todos os ensaios, sendo observada somente emalgumas situações (Tabelas 2 a 9). Esperava-se que aspopulações de nematoides estivessem menores nasparcelas que receberam os nematicidas maistardiamente, já que uma quantidade maior do produtoestaria disponível para as plantas na época chuvosa,de maior infestação. Tal fato foi observado em relaçãoàs populações de Pratylenchus no ensaio 3 em22 / 01 / 07, M. javanica no ensaio 4 em 14 / 11 / 06,P. zeae no ensaio 5 em 01 / 02 / 07, P. zeae no ensaio6 em 19 / 11 / 07 e M. javanica no ensaio 8 em30 / 12 / 09. Na maioria dos casos, entretanto, nãohouve diferenças entre as épocas de aplicação dosnematicidas quanto às populações de nematoides e,em três condições (M. javanica no ensaio 3 em02 / 11 / 06, no ensaio 4 em 14 / 11 / 06 e no ensaio

7 em 16 / 01 / 09), as populações mais altas foramobservadas nas parcelas tratadas com nematicidas maistardiamente.

Interação entre produtos e épocas foi observadasomente em relação à população de M. javanica, noensaio 4 e em relação às populações de P. zeae noensaio 5, amostragem de 01 / 02 / 07 e ensaio 7,amostragem de 16 / 01 / 09 (Tabelas 2 a 9). Estasinterações, entretanto, devem ser consideradas comreservas porque foram pontuais e não consistentes.

Como reflexo da semelhança quanto àspopulações de nematoides nos tratamentos testemunhae tratados com nematicidas, diferenças significativasquanto à produtividade (10% de significância) foramobservadas somente nos ensaios 3 e 8 (Tabelas 2 a 9),nos quais as parcelas testemunhas (ensaio 3 = 145,7 t / ha;ensaio 8 = 75,4 t / ha) produziram menos que as parcelastratadas com nematicida (ensaio 3 = 152,7 t / ha, ensaio 8= 77,8 t / ha).

Eliminando o tratamento testemunha para análise,verificou-se que os nematicidas mostraram-sesemelhantes em sete dos oito ensaios (Tabelas 2 a 9).Assim, embora aldicarb tenha mostrado desempenhosuperior ao carbofuran quanto ao controle denematoides, em algumas ocasiões, não houve reflexosignificativo na produtividade agrícola, na maioria dosensaios, pois somente no ensaio 2 observou-seprodutividade mais elevada no tratamento comaldicarb (165,5 t / ha) do que no tratamento comcarbofuran (155,4 t / ha). Diferenças não significativasquanto à produtividade entre os dois nematicidastestados também foram observadas por Dinardo-Miranda & Garcia (2002) e Dinardo-Miranda et al.(2008).

Não se observou influência consistente da épocade aplicação de nematicidas sobre a produtividade.Em seis dos oito ensaios conduzidos, asprodutividades das diversas épocas de aplicação dosnematicidas foram semelhantes. Somente nos ensaios5 e 8 houve diferença entre as épocas de aplicaçãodos produtos quanto à produtividade. No ensaio 5,as maiores produtividades foram observadas comaplicações feitas logo após o corte (época 1) ou 120depois dele (época 6), enquanto no ensaio 8, a maiorprodutividade foi obtida na última época de aplicação(Tabelas 2 a 9).

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Influência da Época de Aplicação de Nematicidas em Soqueiras Colhidas em Início de Safra sobre as Populações de Nematoides e a Produtividade da Cana-de-açúcar

Não houve interação entre nematicidas e épocasde aplicação sobre a produtividade em nenhum dosensaios (Tabelas 2 a 9).

Os dados aqui obtidos revelam que, mesmo emáreas infestadas, a soqueira colhida em início de safranão respondeu, na maioria das situações, ao controlequímico de nematoides. A falta de incremento deprodutividade, decorrente do uso de nematicidas, emseis dos oito ensaios conduzidos, não pode seratribuída às baixas populações de nematoides.Dinardo-Miranda & Garcia (2002), trabalhando emárea com infestação de P. zeae até mesmo inferior àsobservadas nos ensaios do presente estudo (3.697exemplares em 50 g de raízes, em amostragem feitaem janeiro), obtiveram incrementos de produtividadeao aplicar carbofuran e aldicarb, em uma soqueira davariedade RB855113. Os autores, porém, aplicaramos produtos 40 e 60 dias depois da corte, efetuadoem agosto. Embora trabalhando com variedadesdiferentes daquelas aqui empregadas, Dinardo-Miranda et al. (2008) também obtiveram aumentossignificativos de produtividade ao aplicar nematicidascerca de 20 a 60 dias depois do corte de soqueiras decana-de-açúcar, infestadas por populações denematoides semelhantes às encontradas no presenteestudo. Aqueles autores, entretanto, trabalharam comsoqueiras colhidas de final de julho a novembro.Também Novaretti & Reis (2009) obtiveramincrementos significativos de produtividade em funçãoda aplicação de nematicidas em soqueira da variedadeRB72454, cultivada em área com infestação de P. zeaeinferior àquelas observadas no presente trabalho. Ocanavial, porém, havia sido colhido em novembro eos nematicidas, aplicados em dezembro. A época decolheita do canavial, portanto, deve ser o fatordeterminante para a pequena resposta ao controle denematoides, no presente estudo.

Vasconcelos & Dinardo-Miranda (2006)comentaram que a morte de raízes e a renovação dosistema radicular na cana soca não estão relacionadasao corte da parte aérea e sim aos ciclos de secagem ereumedecimento do solo. Segundo os autores, quandoo corte é feito em início de safra, como no presenteestudo, a cana apresenta grande quantidade de raízesvivas e ativas, pois ainda há água disponível no solo.Porém, com o passar do tempo e escassez das chuvas,

ocorre redução gradativa das raízes, a começar pelasmais superficiais e passando para as mais profundas.Pode ocorrer emissão lenta de raízes novas apóschuvas ocasionais, mas, com a continuação do períodoseco, as raízes recém emitidas e também as mais velhasmorrem paulatinamente. Consequentemente, a cana-de-açúcar, no final do período seco, apresenta pequenaquantidade de raízes vivas e ativas e se sustenta,basicamente, com as reservas do rizoma a por meiodas raízes de cordão, que atingem profundidadesmaiores. Com início do período chuvoso, entretanto,há rápida emissão e crescimento de novas raízes(Vasconcelos & Dinardo-Miranda, 2006). Assim, emáreas infestadas por nematoides e colhidas em iníciode safra, como no presente trabalho, as populaçõesdesses parasitos podem estar elevadas por ocasião dacolheita, uma vez que as raízes são ainda abundantes,já que as condições de temperatura e umidade semantêm adequadas, tanto para o desenvolvimento dasraízes quanto dos nematoides.

De fato, em todos os ensaios aqui apresentadosforam detectadas populações de nematoides passíveisde causar danos à cultura, pois estavam em níveissemelhantes aos observados em outros ensaios, nosquais o controle químico proporcionou incrementode produtividade, como em Dinardo-Miranda &Garcia (2002), Dinardo-Miranda et al. (2008) eNovaretti & Reis (2009). Assim, a aplicação denematicidas logo após o corte teve certo efeito inicialsobre as populações de nematoides econsequentemente sobre o desenvolvimento dacultura, mas este efeito foi pequeno e só registradoem um (ensaio 5) dos cinco ensaios que receberamnematicidas aos 10 dias depois do corte. Com o iníciodo período seco e seu prolongamento, ocorreu mortede grande quantidade de raízes, com reduçãopopulacional de nematoides. Tanto as raízes como aspopulações de nematoides só voltaram a crescer come entrada do período chuvoso subsequente. De fato,os dados observados em todos os ensaios, quandoda segunda amostragem, revelam que as populaçõesde nematoides já estavam se elevando com o iníciodas chuvas.

Durante o período seco, os nematicidas aplicadosno solo foram gradativamente se decompondo e umaquantidade menor do que a aplicada ficou disponível

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Leila L. Dinardo-Miranda, Juliano V. Fracasso & Viviane P. Costa

para as plantas, no período chuvoso, quando entãotais produtos seriam necessários. Assim, uma aplicaçãotardia de nematicidas, feita no início do períodochuvoso (outubro, novembro) poderia ser bastanteadequada para reduzir as crescentes populações denematoides no período. Sabe-se, porém, que aseveridade dos danos causados por nematoides estárelacionada à fenologia da planta: plantas mais velhassão afetadas de maneira menos severa do que plantasmais jovens (Duncan & Noling, 1998). Como oscanaviais colhidos em início de safra dispõe decondições hídricas e temperatura adequadas parabrotação, eles inicialmente ganham massa verde e, come entrada do período seco mantém um lentocrescimento das plantas, às custas das reservas dotolete (Casagrande &Vasconcelos, 2008). Desta forma,canaviais colhidos em início de safra, emboralentamente, crescem a partir da colheita, e, quando daentrada do período chuvoso, quando o ataque denematoides se intensifica, eles estão mais desenvolvidose sofrem menores danos devido ao ataque dosparasitos. Esta talvez seja a razão para não se observaraumentos consistentes de produtividade nos ensaiosnos quais as aplicações de nematicidas foram feitasentre setembro e novembro, de 120 a 180 dias depoisdo corte.

Com base nos resultados obtidos na presentepesquisa pode-se concluir que o manejo de áreasinfestadas por nematoides, quando submetidas àcolheita em início de safra, deve ser revisto. Em locaisnos quais os nematoides são o principal fator limitantede produtividade, talvez o mais interessante seja mudara época de colheita. Em tais áreas, deveriam sercultivadas variedades médias ou tardias que, cortadasem meio ou final de safra (julho a novembro)possibilitariam a aplicação de nematicidas comobtenção de aumentos significativos de produtividade,como relatados em Dinardo-Miranda & Garcia(2002) e Dinardo-Miranda et al. (2008). Canaviaiscolhidos em início de safra, possivelmente, sofremperdas devido ao ataque de nematoides, mas aaplicação de nematicidas não se mostrou eficiente nocontrole destes parasitos devido à dinâmica do sistemaradicular e da parte aérea da cultura.

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Influência da Época de Aplicação de Nematicidas em Soqueiras Colhidas em Início de Safra sobre as Populações de Nematoides e a Produtividade da Cana-de-açúcar

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Rosangela Dallemole-Giaretta, Leandro G. Freitas, Ronaldo J.F. Zooca, Larissa B. Caixeta, Everaldo A. Lopes & Silamar Ferraz

Efeito do Carbofurano na População de Nematoides e no Rendimento daCana-de-açúcar em Solos Arenosos do Paraná

Cláudia R. Dias-Arieira1*, Simone de M. Santana1, Jailson de O. Arieira2,Regina C.F. Ribeiro3 & Leandro B.S. Volk1

1Universidade Estadual de Maringá – Campus Umuarama, 87507-190 Umuarama (PR) Brasil.2Universidade Paranaense, Av. Tiradentes 3240, 87502-120 Umuarama (PR) Brasil.

3Universidade Estadual de Montes Claros, Campus Janaúba, 39440-000 Janaúba (MG) Brasil.*Autora para correspondência: [email protected]

Recebido para publicação em 06 / 01 / 2010. Aceito em 08 / 03 / 2010Editado por Luiz Carlos C.B. Ferraz

Resumo - Dias-Arieira, C.R., S.M. Santana, J.O. Arieira, R.C.F. Ribeiro & L.B.S. Volk. 2010. Efeito do carbofuranona população de nematoides e no rendimento da cana-de-açúcar em solos arenosos do Paraná.

O trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do nematicida carbofurano no controle de fitonematoidese no rendimento da cultura da cana-de-açúcar em solos arenosos. O nematicida foi aplicado na concentraçãode 5 l / ha no sulco de plantio, usando pulverizador pressurizado. Parcelas não tratadas foram utilizadas comotestemunha. Avaliaram-se as variáveis altura de planta e número de perfilhos aos 35 e 72 dias do plantio,produtividade após um ano e populações de nematoides (Meloidogyne javanica e Pratylenchus zeae) nas áreasexperimentais após 35, 72 e 180 dias. Cada tratamento constou de seis repetições. O experimento foi montadoem duas áreas diferentes na região noroeste do estado do Paraná e foi conduzido no período de janeiro de2007 a janeiro de 2008. Não houve diferenças estatísticas nas variáveis relacionadas ao rendimento da cultura.A população de nematoides de galhas diminuiu drasticamente, independentemente do tratamento. Por outrolado, a população de P. zeae aumentou constantemente durante o período experimental, tendo variado, após180 dias do plantio, de 87 a 206 espécimes por 100 cm3 de solo. No sistema radicular, o número chegou a3.763 espécimes em 10 g de raízes. Controle significativo de P. zeae foi observado na área com solo do tipoareia franca, após 72 dias de aplicação do produto.Palavras-chaves: controle químico, Meloidogyne, Pratylenchus, Saccharum.

Abstract - Dias-Arieira, C.R., S.M. Santana, J.O. Arieira, R.C.F. Ribeiro & L.B.S. Volk. 2010. Effect of carbofuranon nematode population and sugarcane performance in sandy soils in the state of Paraná, Brazil.

The effects of carbofuran on phytonematode densities and sugarcane growth in sandy soils were assessedin the state of Paraná, Brazil. The nematicide was applied at 5 l / ha in the planting ridge using a pressurebackpack sprayer. Non-treated plots were used as controls. Data of plant height, number of tillers 35 and 72days after the planting, and sugarcane productivity were recorded. Nematode (Meloidogyne javanica and Pratylenchuszeae) population levels in the experimental areas were evaluated 35, 72 and 180 days after the planting. Eachtreatment consisted of six replicates. The experiment was conducted in two different areas from January, 2007to January, 2008. No statistical differences were observed in sugarcane growth variables. Irrespective of thetreatment used, the root-knot nematode population decreased drastically. On the other hand, P. zeae populationcontinuously increased throughout the experiment, ranging from 87 to 206 specimens in 100 cm3 of soil after180 days. In the roots, an amount of 3,763 specimens was recovered from 10 g of roots. Significant controlof P. zeae was achieved 72 days after the nematicide application.Key words: chemical control, Meloidogyne, Pratylenchus, Saccharum.

COMUNICAÇÃO

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Efeito do Carbofurano na População de Nematoides e no Rendimento da Cana-de-açúcar em Solos Arenosos do Paraná

sulcos foram depositados toletes de cana-de-açúcar eaplicou-se o nematicida Furadan 350 SC (carbofurano:2 , 3 - d i h i d r o - 2 , 2 - d i m e t h i l b e n z o f u r a n - 7 - i lmethilcarbamato), na dosagem recomendada para acultura no Estado, 5 l / ha, através de um pulverizadorpressurizado de bico plano e, em seguida, os sulcosforam fechados. Parcelas sem aplicação de nematicidaforam utilizadas como testemunha. Cada tratamentoconstou de seis repetições, em cada área de cultivo.As parcelas foram formadas por cinco linhas deplantio (7 m), com doze metros de comprimento,perfazendo uma área total de 84 m2, sendo a área útilexperimental igual a 42 m2 (4,2 x 10 m).

No momento do plantio, foram coletadasamostras do solo de cada parcela, para o levantamentoda população inicial e determinação de textura,matéria orgânica, pH e teores de alumínio, fósforo epotássio.

Decorridos 35, 72 e 180 dias, amostras de solo eraízes foram coletadas na linha central de cada parcela,na região da rizosfera, em uma profundidade médiade 30 cm, descartando-se os cinco centímetrossuperficiais. Cada amostra foi composta poraproximadamente 500 g de solo e 50 g de raízes. Asamostras foram colocadas em sacos plásticos,devidamente identificados, e encaminhadas aolaboratório.

Para extração dos nematoides do solo, 100 cm3

foram processados segundo a metodologia deflutuação centrífuga em solução de sacarose (Jenkins,1964). Para as raízes, 10 g foram submetidas àmetodologia de extração proposta por Hussey &Barker, modificada por Boneti & Ferraz (1981) eclarificadas segundo a metodologia de Coolen &D’Herde (1972). As amostras obtidas foram avaliadassob microscópio óptico, procedendo-se a contageme a identificação dos nematoides.

As variáveis número de perfilhos e altura da plantaforam avaliadas após 35 e 72 dias de instalação doexperimento. Utilizando-se a segunda e quarta linhade plantio, contou-se o número de perfilho por metrolinear e, nas mesmas linhas, determinou-se a alturamédia das plantas com o auxílio de trena. Aprodutividade foi avaliada um ano após a instalaçãodo experimento. Para esta variável, colheram-se dezmetros lineares da segunda e quarta linhas de plantio,

ConteúdoA cultura da cana-de-açúcar (Saccharum spp.) vem

apresentando rápida expansão no estado do Paraná.Em 2007 / 08, o estado apresentou crescimentosuperior a 30 % na produção da cultura, mantendo acondição de segundo maior produtor nacional deálcool e terceiro na fabricação de açúcar (Conab, 2008).Todavia, tal expansão tem-se dado para áreas de solosarenosos com longo histórico de utilização paracafeicultura ou pastagens e que foram paulatinamentedegradadas pela ação de certos fitonematoides,principalmente os pertencentes aos gêneros Meloidogynee Pratylenchus. Coincidentemente, entre os nematoidesque mais atacam a cultura da cana-de-açúcar e limitama sua capacidade produtiva estão os nematoides degalhas (Meloidogyne spp.) e das lesões radiculares(Pratylenchus spp.), em particular P. zeae (Dinardo-Miranda et al., 1995; Moura et al., 2000).

Em cana-de-açúcar, a utilização de nematicidas jáfoi apontada como a principal prática para o controlede nematoides (Novaretti et al., 1994) e a eficiênciado produto carbofurano já foi demonstrada, suaaplicação resultando aumentos significativos deprodutividade (Moura et al., 1998; Novaretti et al.,1998; Dinardo-Miranda, 2001).

Apesar dos muitos relatos nacionais do controlequímico de nematoides em cana-de-açúcar, há aindacarência de informações a respeito da eficiência dométodo em solos arenosos da região do arenito Caiuá,no noroeste do estado do Paraná. Assim, o presentetrabalho teve como objetivo avaliar os efeitosdecorrentes do uso do nematicida carbofurano(Furadan® 350 SC) sobre as populações de Meloidogynejavanica e P. zeae presentes em duas áreas de cultivo decana-de-açúcar da citada região e sobre o rendimentoda cultura.

Os experimentos foram conduzidos empropriedades localizadas nos municípios de Cafezaldo Sul e Perobal, ambos na região do arenito Caiuádo estado do Paraná. Na primeira, o experimentofoi implantado em 23 de janeiro de 2007, sendo acultivar utilizada a RB-72454. Na segunda oexperimento foi instalado em 26 de janeiro de 2007 eutilizou-se a cultivar RB-867515.

O solo, previamente preparado para a implantaçãoda cultura, foi sulcado no momento do plantio. Nos

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Rosangela Dallemole-Giaretta, Leandro G. Freitas, Ronaldo J.F. Zooca, Larissa B. Caixeta, Everaldo A. Lopes & Silamar Ferraz

deixando como bordadura um metro no início e umno final. Determinou-se a massa deste material econverteu-se o valor para hectare.

As médias dos dados obtidos foram comparadaspelo teste de T a 5 e 10 % de probabilidade esubmetidas à análise de correlação entre número denematoides e o tempo decorrido após aplicação.

As populações de P. zeae e M. javanica no solo foramestatisticamente iguais nas áreas tratadas e não tratadas,independentemente da área experimental ou épocade avaliação (Tabela 1). Contudo, na área localizadano município de Perobal houve diferença estatísticaentre as populações de P. zeae nas raízes após 72 dias(P ≤ 0,05), com número de nematoidesignificativamente menor na área tratada (Tabela 1).No entanto, na mesma área após 180 dias dotratamento, o número de nematoides no sistemaradicular das plantas tratadas foi estatisticamentesuperior ao observado para a testemunha (P ≤ 0,10).Tais resultados podem ser conferidos ao curto efeitoresidual do produto, que é de somente quatro meses(Novaretti et al., 1995).

Os nematoides de galhas são considerados um dosmais importantes para a cultura da cana-de-açúcar(Moura et al., 2000), porém a população de M. javanicaapresentou redução constante durante a condução do

experimento (Tabela 1) e não houve diferençaestatística entre as médias das unidades tratadas e nãotratadas. No município de Cafezal do Sul, a reduçãoocorreu apesar de a cultivar plantada ter sido RB-72454, citada como uma das mais suscetíveis aosnematoides-das-galhas (UFSCAR, 2007), e a classetextural do solo ser franco arenosa, ou seja, tambémfavorável ao aumento populacional desta espécie (Prot& Van Gundy, 1981). Este resultado pode serconferido ao efeito antagônico existente entre osnematoides (Herman et al., 1988; Umesh & Ferris,1994; Umesh et al., 1994; Ferraz, 1995).

Apesar das espécies de Pratylenchus serem citadascomo mais sensíveis ao antagonismo das infecçõesassociadas aos nematoides-das-galhas (Herman et al.,1988; Ferraz, 1995), alguns trabalhos têm evidenciadoque, quando a população inicial de Pratylenchus spp. émaior do que a de Meloidogyne spp., pode ocorrer ainibição desta. No trabalho realizado por Ferraz (1995),a população final de M. javanica foi de 14.950 quandose inoculou números iguais de nematoides-das-galhase das lesões, no entanto, foi de apenas 6.880 quandoo número de P. brachyurus inoculado foi maior do queo de M. javanica. No presente trabalho, além dapopulação inicial de P. zeae ser superior à observadapara M. javanica, ela apresentou aumento considerável

Tabela 1 - Número médio de Pratylenchus zeae, Meloidogyne javanica e nematoides de vida livre no solo antes da implantação doexperimento (Pi), após 35, 72 e 180 dias de tratamento e nas raízes da cana-de-açúcar após 72 e 180 dias, nas áreas experimentais deCafezal do Sul e Perobal, noroeste do Paraná.

nsDentro de cada unidade experimental e de cada época de avaliação não houve diferença estatística entre as variáveis avaliadas, segundo oteste T a 5 % de probabilidade.*Significativo pelo teste T 10 %.**Significativo pelo teste T 10%.

Áreas Tratamentos P. zeae no solo P. zeae nas raízesPi 30 dias 72 dias 180 dias 72 dias 180 dias

Cafezal do Sul Trat. químico 86,2ns 125,3ns 226,8ns 448,7ns 534,7ns 3.763,3ns

Testemunha 101,8 86,0 91,0 135,2 653,5 2642,3Perobal Trat. químico 51,2ns 199,8ns 127,3ns 94,7ns 228,0** 2.411,0*

Testemunha 106,8 138,8 190,0 143,7 425,5 1.043,7

M. javanica no solo M. javanica nas raízesCafezal do Sul Trat. químico 39,2ns 70,5ns 20,0ns 0ns 63,5ns 73,2ns

Testemunha 133,2 31,3 14,8 0 19,3 92,2Perobal Trat. químico 11,3ns 14,0ns 0ns 0ns 0ns 0ns

Testemunha 33,2 21,2 0 0 0 52

Vida livre no solo Vida livre nas raízesCafezal do Sul Trat. químico 329,0ns 125,3ns 226,8ns 448,7ns 58,7ns 129,3ns

Testemunha 282,0 193,8 304,0 223,5 83,5 155,7Perobal Trat. químico 43,8ns 37,0ns 77,2** 194,2ns 315,7ns 196,0ns

Testemunha 47,2 47,8 213,8 240,7 137,7 139,3

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Efeito do Carbofurano na População de Nematoides e no Rendimento da Cana-de-açúcar em Solos Arenosos do Paraná

em todas as áreas, em 180 dias passou de 86 para 449espécimes por 100 cm3 de solo, podendo explicar aredução significativa do número de M. javanica.

A análise de correlação envolvendo o tempo deaplicação só foi significativa para nematoides de vidalivre. Na unidade Perobal, após 72 dias da aplicaçãodo produto, o número de nematoides de vida livrenas áreas tratadas foi significativamente inferior àtestemunha (P ≤ 0,05). Após 180 dias tal diferençanão foi observada (Tabela 1). Na unidade Cafezal doSul não houve diferença estatística no número denematoides de vida livre (Tabela 1), evidenciando queo produto químico não causou desequilíbrio napopulação destes organismos.

As variáveis número de perfilho e a altura da plantaforam estatisticamente iguais nas áreas tratadas e nãotratadas. A produtividade, apesar de ter sidoaumentada em 10 t / ha em uma das áreas tratadas,também não diferiu estatisticamente da testemunha(Tabela 2). De acordo com experimentos realizadospor Dinardo-Miranda (2001), nas áreas em que apopulação de nematoides encontrava-se baixa, onematicida carbofurano contribuiu para um acréscimomédio na produtividade de 7,8 %. Como estavambaixas as populações de nematoides, o referido autoratribuiu os resultados ao efeito direto do produtosobre as plantas (efeito fitotônico) e a redução demicroorganismos fitopatogênicos presentes no solo.

No trabalho realizado por Sudararaj & Metha(1994) foi possível observar que o aumento napopulação inicial de P. zeae reduziu proporcionalmentea produtividade de cana-de-açúcar dentro das unidadesexperimentais. Quando a população inicial aumentoude 100 para 1.000 espécimes, a massa da cana reduziude 22,2 a 38,7 %, variando conforme a cultivarempregada. Tal fato também pode explicar o baixo

incremento da produtividade da cana do presentetrabalho, visto que as populações iniciais de P. zeae nasáreas experimentais variavam entre 51 e 107 (Tabela1).

Outro fator que pode ter contribuído com a baixasignificância dos resultados foi a alta precipitaçãoregistrada no mês de janeiro, quando o experimentofoi instalado, chegando a 266,4 mm, segundo dadoscoletados na Estação Meteorológica de Umuarama,localizada a aproximadamente 30 km das unidadesexperimentais. Há relatos de que os maioresincrementos de produção de cana-de-açúcar estãoassociados a menores precipitações pluviométricas,visto que a redução na lixiviação do nematicidapossibilita um melhor controle dos nematoides(Novaretti et al., 1984).

Um dos dados que mais chamou a atenção naavaliação dos experimentos foi a produtividade dacultivar RB-72454 quando comparada à RB-867515.Nas condições em que os experimentos foramconduzidos, dois fatores podem contribuir para oentendimento dos resultados. O primeiro deve-se aofato de que a cultivar RB-72454 apresenta maiorprodutividade em solos fracos (UFSCAR, 2007). Osegundo pode ser conferido às características físico-químicas do solo, uma vez que a área de Cafezal doSul apresenta teor de argila 44 % superior ao da áreade Perobal (Tabela 3), além de pH mais elevado, maiorteor de potássio e de matéria orgânica, e menorsaturação por alumínio (Tabela 4).

Nas condições em que os experimentos foramconduzidos concluiu-se que o nematicida carbofuranocontrolou P. zeae após 72 dias da aplicação do produto,em solo de textura areia franca e que a aplicação doproduto não aumentou significativamente aprodutividade da cultura.

Tabela 2 - Número médio de perfilho e altura de planta após 35 e 72 dias de tratamento e produtividade média após um ano dotratamento, nas áreas experimentais de Cafezal do Sul e Perobal, noroeste do Paraná.

nsDentro de cada unidade experimental e de cada época de avaliação não houve diferença estatística entre os parâmetros avaliados, segundoo teste T a 5 % de probabilidade.

Cafezal do Sul PerobalFuradan 350 SC Testemunha Furadan 350 SC Testemunha

35 dias No. perfilho 23,42ns 21,25 24,58ns 25,75Altura (cm) 94,85ns 96,12 102,40ns 96,77

70 dias No. perfilho 27,67ns 25,50 24,83ns 26,25Altura (cm) 219,27ns 217,50 206,93ns 186,65

Um ano Produtividade (t/ha) 106,10ns 109,73 63,53ns 53,44

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122 Vol. 34(2) - 2010

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Tabela 3 - Teores de argila, silte e areia e classe textural dos solos das unidades experimentais de Cafezal do Sul e Perobal (PR) Brasil.Argila (g / kg) Silte (g / kg) Areia (g / kg) Classe textural

Cafezal do Sul 179,20 26,5 794,3 Franco arenosoPerobal 118,2 32,3 849,5 Areia franca

Tabela 4 - pH em água e em CaCl2, teores de alumínio, fósforo, potássio e matéria orgânica, nos solos das unidades experimentais deCafezal do Sul e Perobal (PR) Brasil.

pH em H2O pH em CaCl2 Al+3+H+ P K MO(cmol / dm-3) (mg / dm-3) (cmol / dm-3) (g / kg-1)

Cafezal do Sul 6,9 6,3 4,57 10,8 0,29 1,0Perobal 6,1 5,4 5,3 15 0,24 0,9

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Efeito do Carbofurano na População de Nematoides e no Rendimento da Cana-de-açúcar em Solos Arenosos do Paraná

Efeito de Substratos com Diferentes Classes Texturais na Mobilidade deHeterorhabditis baujardi ‘LPP7’ (Rhabditida: Heterorhabditidae)

Cláudia Dolinski* ,Carla C.S. Pinto, Renata R. Robaina & Luiz L. Bellini

Laboratório de Entomologia e Fitopatologia, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Av. AlbertoLamego 2000, 28013-602 Campos dos Goytacazes (RJ) Brasil.

*Autora para correspondência: [email protected]

Recebido para publicação em 05 / 11 / 2009. Aceito em 17 / 03 / 2010Editado por Luiz Carlos C.B. Ferraz

Resumo - Dolinski, C., Pinto, C.C.S., R.R. Robaina & L.L. Bellini. 2010. Efeito de substratos com diferentesclasses texturais na mobilidade de Heterorhabditis baujardi ‘LPP7’ (Rhabditida: Heterorhabditidae).

Neste estudo, objetivou-se determinar os efeitos das classes texturais de diferentes substratos na mobilidadede Heterorhabditis baujardi ‘LPP7’. Os ensaios foram realizados em seções de tubos de PVC com 1 m decomprimento por 150 mm de diâmetro, mantidos na posição horizontal. Quarenta larvas de Galleria mellonella,confinadas por tela metálica, foram adicionadas a cada tubo para cada uma das classes texturais testadas, asaber, areia, franco-argilo-arenosa, franco-argilosa e argila. Cada tubo foi preenchido com 4 kg de substratopreviamente esterilizado em coletor solar e com a umidade ajustada a 12 % (massa / volume). As larvas foramcolocadas às distâncias de 30, 60 e 90 cm do ponto de aplicação do nematoide, liberado à razão de 10.000 JIs/ 30 ml de água destilada. Após 12 dias, a mortalidade foi calculada e os cadáveres dos insetos dissecados paraconfirmar a infecção pelo nematoide. As maiores taxas de mortalidade e de infectividade ocorreram à distânciade 30 cm para as classes areia e franco-argilo-arenosa, nas quais foi observada mortalidade também às distânciasde 60 e 90 cm. Não se observou mortalidade na classe franco-argilosa a 60 e a 90 cm. Para a classe argila, nãose observou infecção para nenhuma das distâncias avaliadas.Palavras-chaves: mobilidade, classes texturais, Heterorhabditis baujardi ‘LPP7’

Summary - Dolinski, C., C.C.S. Pinto, R.R. Robaina & LL. Bellini. 2010. Effect of soil texture on the mobilityof Heterorhabditis baujardi ‘LPP7’ (Rhabditida: Heterorhabditidae).

The objective of this research was to determine the effects of soil texture on the mobility of Heterorhabditisbaujardi ‘LPP7’. PVC pipes (1 m long x 150 mm in diameter) kept in the horizontal position were used in thebioassays, and they were filled with soils classified as sandy, sandy clay loam, clay loam and clay. These foursubstrates were previously sterilized in a solar collector, and adjusted to 12 % humidity. A total of 40 Galleriamellonella larvae, confined by metallic screen, were added to each PVC pipe. The larvae were placed at 30, 60and 90 cm from the point where the nematode infective juveniles (10.000 IJs / 30 ml in distilled water) wereinoculated. After 12 days, larvae and pupae were recovered, the insect mortality was calculated and the nematodeinfection confirmed with the aid of a stereoscope. The greatest lateral mobility and infectivity occurred at 30cm in the texture classes sand and sandy clay loam. The mortality at 60 and 90 cm was only observed in sandand sand clay loam. No mortality was observed for clay loam at 60 and 90 cm. In clay, no infection wasobserved for all of the distances evaluated.Key words: mobility, texture classes, Heterorhabditis baujardi ‘LPP7’.

COMUNICAÇÃO

ConteúdoNematoides entomopatogênicos (NEPs), das

famílias Heterorhabditidae e Steinernematidae, sãoparasitas de insetos frequentemente usados como

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Cláudia R. Dias-Arieira, Simone de M. Santana, Jailson de O. Arieira, Regina C.F. Ribeiro & Leandro B.S. Volk

diminuída.Ao sumariar as pesquisas conduzidas a respeito

da dispersão ativa ou passiva dos NEPs no solo, Kaya(1990) afirmou que tais nematoides, com exceção deS. glaseri, de fato apresentam restrita capacidade demovimentação ativa, no geral deslocando-se apequenas distâncias, situadas entre 4 e 90 cm,independente da presença de insetos hospedeiros noambiente. Também com exceção de S. glaseri, odeslocamento no sentido ascendente prevaleceu sobreo descendente. Aparentemente, a maior capacidadede dispersão de S. glaseri está ligada ao tamanho bemsuperior e, portanto, maior disponibilidade de reservasenergéticas de seus JIs.

No Brasil, estudos assemelhados quanto àmetodologia e aos objetivos são, ainda, bem poucos.Num deles (Alves et al., 2006), aferiu-se a dispersãovertical, no sentido descendente, de dois isolados deHeterorhabditis em relação a exemplares da cochonilhada raiz do cafeeiro, Dysmicoccus texensis, utilizada comoinseto-alvo. Por outro lado, Heterorhabditis baujardi‘LPP7’, um isolado nativo de NEP que vemmostrando boa eficácia no controle de certas pragas,como o gorgulho-da-goiaba (Conotrachelus psidii) empomares do estado do Rio de Janeiro, já mostrou,em estudo inicial, boa capacidade de dispersão emcoluna de areia na presença de larvas desse inseto,comparável à do isolado Hom1 de H. indica e superiorà do isolado 355 de Steinernema riobrave (Dolinski,2005).

O presente trabalho teve como objetivo, portanto,avaliar a influência das classes texturais de diferentessubstratos na mobilidade de H. baujardi ‘LPP7’ emlaboratório, visando maior conhecimento a respeitoda capacidade de dispersão desse nematoide e a suapossível utilização a campo de forma mais ampla.

A criação de larvas de G. mellonella foi conduzidana Universidade Estadual do Norte Fluminense DarcyRibeiro, em Campos dos Goytacazes (RJ). A criaçãofoi mantida com adição diária de dieta própria, a 28± 2 ºC e umidade relativa de 60 ± 10%. A populaçãode H. baujardi ‘LPP7’ foi obtida do banco denematoides da mesma instituição, armazenada naforma de suspensões aquosas à temperatura de16 ºC.

A multiplicação dos JIs foi realizada sobre larvas

agentes de controle biológico de pragaseconomicamente importantes. Na natureza, todavia,uma baixa mobilidade dos NEPs no solo podefavorecer a exposição a fatores bióticos e abióticosdesfavoráveis e, assim, ocorrer diminuição naprobabilidade de encontrarem o inseto-alvo e nele sereproduzirem (Portillo-Aguilar et al., 1999). A texturado solo é considerada fator crítico à movimentaçãodos NEPs, embora a umidade, a presença ou ausênciade insetos hospedeiros na área e o comportamentopreferencial de busca do nematoide também possamafetá-la; com o aumento do conteúdo de argila, adispersão, a persistência e a eficácia dos NEPs no geraldiminuem (Georgis & Poinar, 1983; Barbercheck &Kaya 1991; McCoy et al., 2001).

Sob condição de laboratório, utilizando tubos dePVC (1,0 m de comprimento e 3,8 cm de diâmetrointerno) contendo substrato composto por 95% deareia e 5% de silte-argila, Schroeder & Beavers (1987)estudaram a movimentação horizontal e vertical deHeterorhabditis bacteriophora, Steinernema carpocapsae e S.glaseri. Não foram colocados insetos no interior dostubos visando à atração dos juvenis infectantes (JIs) edispersão dos NEPs, mas foi feita avaliação, após 30dias em intervalos de 15 cm até se atingir a distânciade 90 cm. S. glaseri foi a que se movimentou maisrápido e a maior distância entre as três espéciestestadas, evidenciando comportamento cruiser. Amigração ascendente foi bem mais pronunciada quea descendente para todos os NEPs. Decorridos os30 dias, os juvenis que se deslocaram a diferentesdistâncias foram aplicados sobre larvas de Galleriamellonella L. e tiveram a infectividade comprovada. Osautores repetiram o estudo com tubos de 2 metrosde comprimento e verificaram que S. glaseri conseguiucobrir totalmente essa distância quando os juvenis sedeslocaram nos sentidos horizontal e ascendente,atingindo até 1,7 m no sentido descendente.

Portillo-Aguilar et al. (1999), também emlaboratório, confirmaram que as movimentações deH. bacteriophora, S. carpocapsae e S. glaseri diferiram entresi, quando os NEPs foram expostos a substratos comdistintas características de textura e densidade. A altaporosidade aumentou a movimentação das trêsespécies e, quando o espaço poroso foi reduzido, amobilidade em alguns casos foi drasticamente

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Efeito do Carbofurano na População de Nematoides e no Rendimento da Cana-de-açúcar em Solos Arenosos do Paraná

de G. mellonella como descrito por Woodring & Kaya(1988), sendo coletados das armadilhas de White(White, 1927) durante seis dias a partir do início daemergência dos cadáveres dos insetos. Posteriormente,foram acondicionados em suspensão aquosa a 16 ºCe utilizados nos experimentos com no máximo umasemana após o último dia de coleta.

Foram realizadas quatro coletas de solo com amassa de 180-200 kg em áreas distintas a umaprofundidade de 0-25 cm em áreas de pastagem ecultivos comerciais. Antes de cada coleta fez-se alimpeza da área que contou com a retirada de todacobertura vegetal e serrapilheira. Os locais de coletasituavam-se na estrada do Açu / Campo da Praia(21°46’32"S e 41°05’24"W), Caeté (21°43’07"S e41°09’18"W), Martins Laje (21°46’19"S e41°15’12"W) e Usina Sapucaia (21°38’20"S e41°24’37"W), todos no município de Campos dosGoytacazes (RJ). Os substratos foram submetidos aanálises químicas e físicas (Tabela 1), conformeClaessen (1997), e mantidos em coletor solar por trêsdias consecutivos a 70 ± 10°C para esterilização, sendoentão imediatamente utilizados nos ensaios. As classestexturais dos substratos foram definidas como areia,franco-argilo-arenosa, franco-argilosa e argila segundoLemos & Santos (1996).

Para cada classe textural, foram montados 15 tubosde polivinil carbonato (PVC) com 1 m decomprimento e 150 mm de diâmetro, com asextremidades lacradas. Cada tubo foi preenchidocom 4 kg de substrato com umidade ajustada a 12 %(massa / volume). Nos ensaios, os tubos forammantidos na posição horizontal. Para avaliar a distânciapercorrida lateralmente pelo nematoide, quatro gaiolasconfeccionadas com tela metálica (6 x 5 cm) contendo10 larvas de G. mellonella no 7°. ínstar foramadicionadas em cada tubo para cada distância doponto de aplicação dos JIs. As distâncias avaliadasforam de 30, 60 e 90 cm, com a montagem de cincotubos para cada distância. Os JIs foram aplicados em

suspensão aquosa (10.000 JIs / 30 ml de água destilada)e uniformemente distribuídos em uma dasextremidades de cada tubo contendo os substratos.Gaiolas contendo larvas foram então depositadas nosubstrato nas distâncias a serem avaliadas. A seguir, ostubos foram lacrados com filme plástico compequenas perfurações para promover pequenaoxigenação do tubo e evitar perdas por evaporação.Os ensaios foram conduzidos em laboratório a umatemperatura média de 27 °C ± 3 e umidade relativado ar de 67 % ± 3.

A mobilidade do nematoide foi determinada aos12 dias após a aplicação dos JIs, de modo indireto,ou seja, com base na mortalidade das larvas contidasnas gaiolas. Para a determinação desse valor,procedeu-se à identificação e separação das larvasaparentemente infectadas a partir da coloraçãocaracterística, pardo-avermelhada, conferida aoscadáveres pela bactéria simbionte Photorhabdus sp. Aslarvas assim selecionadas foram quantificadas esubmetidas à dissecação para confirmação da presençados NEPs.

O experimento foi conduzido em delineamentointeiramente casualizado com cinco repetições e emarranjo fatorial 3 x 4 (distância x classe textural). Paraas análises estatísticas, recorreu-se ao programa SAEG(SAEG, 2007), sendo os contrastes entre as médiasde tratamentos avaliados pelo teste de Duncan ao nívelde 5 % de significância.

Foram observadas diferenças significativas namortalidade de larvas para as variáveis distância e classetextural (F = 455,67; GL = 3; P < 0,001). As distânciasavaliadas para cada classe textural apresentaram umarelação funcional com a mortalidade de larvas. Osmaiores valores de mortalidade foram verificados àdistância de 30 cm nos substratos com classes areia efranco-argilo-arenosa (praticamente 100%), que nãodiferiram estatisticamente (Figura 1A), observando-se redução significativa para franco-argilosa (abaixode 50%) e argila (0%). A 60 cm (Figura 1 B), só

Tabela 1. Características dos substratos utilizados nos experimentos.Substrato % Argila % Areia % Silte pH Ki % M.O.

Areia 0,6 99 0,4 5,1 - 0,23Franco–argilo–arenosa 28,0 63,5 8,5 5,2 1,8 1,48Franco-argilosa 31,0 33,0 36,0 4,4 2,0 1,81Argila 44,8 16,3 38,9 5,3 2,0 2,33

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Cláudia R. Dias-Arieira, Simone de M. Santana, Jailson de O. Arieira, Regina C.F. Ribeiro & Leandro B.S. Volk

Figura 1 - Mortalidade de larvas de 7°. instar de Galleria mellonella em tubos de PVC preenchidos com substratos de diferentes classestexturais, quando colocadas a (A) 30 cm, (B) 60 cm e (C) 90 cm de distância do ponto de aplicação dos juvenis infectantes deHeterorhabditis baujardi ‘LPP7’ após 12 dias da aplicação de ambos os organismos. Valores médios para 40 larvas / classe textural.Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, de acordo com o teste de Duncan a 5 %.

40

30

20

10

0

Mor

talid

ade

A

a a

b

c

Areia Framco-argilo-arenosa

Franco-argilosa

Argila

40

30

20

10

0

Mor

talid

ade

Ba

b

c

Areia Framco-argilo-arenosa

Franco-argilosa

Argila

c

40

30

20

10

0

Mor

talid

ade

C

a

b

c

Areia Framco-argilo-arenosa

Franco-argilosa

Argila

c

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Nematologia BrasileiraPiracicaba (SP) Brasil

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Efeito do Carbofurano na População de Nematoides e no Rendimento da Cana-de-açúcar em Solos Arenosos do Paraná

ocorreu mortalidade em areia e franco-argilo-arenosa,que diferiram significativamente, com maiormortalidade em areia (ao redor de 80 %). Não houvemortalidade nas classes franco-argilosa e argila. A 90cm (Figura 1C), verificou-se padrão geral semelhanteao observado na distância de 60 cm, com maiormortalidade em areia, mas inferior (próxima a 40 %)àquelas determinadas nas distâncias menores. Nestetrabalho, após 12 dias, para a areia, obteve-se ainfecção de 15 % de larvas a 90 cm de distância doponto de aplicação dos JIs, evidenciando ser H.baujardi ‘LPP7’ muito móvel nessa classe textural.Nenhuma mortalidade foi registrada para a classefranco-argilosa nas distâncias de 60 e 90 cm e para aclasse argila nas três distâncias analisadas.

A eficiência em buscar o inseto hospedeiro pelosJIs por movimentação lateral foi maior em substratoscom maior conteúdo da fração areia, enquanto quenos de granulometria mais fina a capacidade dedispersão foi reduzida significativamente. Essesresultados corroboram os de Georgis & Poinar(1983), que observaram maior mobilidade lateral deS. carpocapsae quando seus JIs se encontravam emsubstratos de classes mais arenosas. Portillo-Aguilar etal. (1999) relataram que, além de S. carpocapsae,também H. bacteriophora, e S. glaseri apresentarammaior movimentação em solos de textura maisarenosa. Essa aparente tendência geral, confirmadaem vários estudos (Barbercheck & Kaya 1991; McCoyet al., 2001), foi destacada por Kaya (1990) ao revisaro assunto. Geralmente, os solos com maiores teoresde argila possuem pouca aeração devido aopredomínio de pequenas partículas, resultando emmenor sobrevivência e eficiência de NEPs (Kung etal., 1990). Essa baixa aeração também pode prejudicara resposta do NEP a substâncias voláteis liberadaspelo inseto hospedeiro, afetando negativamente seupoder de busca, em particular nos casos daqueles comcomportamento de cruiser, como H. baujardi ‘LPP7’.

Entretanto, são conhecidos relatos de situações quecontrastam com a citada tendência. Jenkins et al.(2008), por exemplo, obtiveram 100% de mortalidadede Diaprepes abbreviatus pela ação de S. riobrave ‘TP’em vasos contendo substrato com teor muito elevadode argila, confirmando resultados anteriores deShapiro et al. (2000). Isso vem demonstrar que a

capacidade de dispersão, embora frequentementeinfluenciada pela classe textural do substrato, muitasvezes pode estar mais ligada à identidade do NEPconsiderado, ou de seus isolados, que a outros fatores,bióticos e/ou abióticos.

Demonstrou-se, no presente trabalho, que osjuvenis de H. baujardi ‘LPP7’, com base em avaliaçãoda dispersão horizontal, apresentaram melhorcomportamento de busca ao inseto hospedeiro emsubstratos de textura arenosa. Estes resultadoscondizem com a origem deste NEP, nativo da florestaAmazônica (de Monte Negro, RO) e distribuído emsolos de areia franca (Dolinski et al., 2008). O tipo detextura do solo pode ser um importante indicadorda presença de NEPs e estes, no geral, são isoladosde solos de baixo conteúdo de argila e altos teores deareia.

AgradecimentosAo Dr. Doracy Pessoa Ramos, pela colaboração

com seus conhecimentos. À Fundação de Amparo àPesquisa do Estado do Rio de Janeiro, pelo apoiofinanceiro.

Literatura CitadaALVES, V.S., A. MOINO JR., C. ROHDE, M.A.T. SILVA.

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Cláudia R. Dias-Arieira, Simone de M. Santana, Jailson de O. Arieira, Regina C.F. Ribeiro & Leandro B.S. Volk

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Imunidade de Pinhão-manso a Heterodera glycines

Imunidade de Pinhão-manso a Heterodera glycines*

Giovana T. Rosso1 & Guilherme L. Asmus2**

*Parte do trabalho de graduação em Ciências Biológicas da primeira autora.1Graduanda em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, C. Postal 351, 79804-970 Dourados

(MS) Brasil.2Embrapa Agropecuária Oeste, C. Postal 661, 79804-970 Dourados (MS) Brasil.

**Autor para correspondência: [email protected]

Recebido para publicação em 05 / 12 / 2009. Aceito em 19 / 03 / 2010Editado por Mário Inomoto

Resumo - Rosso, G.T. & G.L. Asmus. 2010. Imunidade de pinhão-manso a Heterodera glycines.Plantas de pinhão-manso e de soja ‘BRS 133’ (testemunha suscetível), cultivadas em casa de vegetação em

vasos contendo substrato desinfestado, foram inoculadas individualmente com 1.000 ovos de Heterodera glycines.Aos 2, 5, 9, 15 e 27 dias após a inoculação, as raízes foram submetidas à técnica de coloração diferencial paraobservação do desenvolvimento do nematoide em seu interior. Heterodera glycines desenvolveu-se normalmentenas plantas de soja, produzindo expressivo número de fêmeas adultas e cistos ao final de 35 dias. Por outrolado, em nenhuma das épocas consideradas foram observados indivíduos do nematoide em raízes de pinhão-manso, nas quais sequer observou-se penetração das formas jovens infectivas, indicando ser o pinhão-mansoimune a H. glycines e, desta forma, adequado para plantio em sucessão, rotação ou mesmo em eventuaiscultivos consorciados com soja, em áreas infestadas por este fitoparasito.Palavras-chaves: nematoide-de-cisto-da-soja, reprodução, Jatropha curcas, Glycine max.

Summary - Rosso, G.T. & G.L. Asmus. 2010. Imunity of physic nut to Heterodera glycines.Seedlings of physic nut and soybean ‘BRS 133’ (susceptible standard) growing in plastic pots containing

disinfested substrate were individually inoculated with 1,000 eggs of Heterodera glycines and kept in glasshouse.After 2, 5, 9, 15 and 27 days of inoculation, nematode development was accessed by the observation ofstained specimens inside the roots. Heterodera glycines developed normally in soybean roots producing expressivenumber of both adult females and cysts after 35 days. On the other hand, no nematode specimen, eveninfective juveniles, was observed inside physic nut roots at any evaluation date, which characterizes this speciesas immune to H. glycines and, hence, a good option in succession, rotation or even intercropping to soybean inareas infested with this plant-parasitic nematode.Key words: soybean cyst nematode, reproduction, Jatropha curcas, Glycine max.

COMUNICAÇÃO

ConteúdoO pinhão-manso, Jatropha curcas, é uma espécie

perene da família Euphorbiaceae, nativa da AméricaCentral, de ocorrência espontânea em diversas regiõesdo Brasil (Cortesão, 1956; Peixoto, 1973; Brasil, 1985).Atualmente, a espécie tem despertado grande interessedevido ao potencial de utilização do óleo extraído desuas bagas para a produção de biodiesel. Sendo umacultura de cultivo comercial recente, pouco se conhecesobre sua reação a doenças e pragas que, eventualmente,

poderão limitar sua produção ou limitar seu cultivoem rotação e/ou sucessão a outras culturas de interesseeconômico.

Extratos de diversos órgãos de plantas do gêneroJatropha têm sido citados como potencialmente capazesde exercer controle sobre espécies de fitonematoides(Suresh et al., 1995; Romabati et al., 1999).Recentemente, Fernandes & Asmus (2007) avaliarama reação de pinhão-manso a Meloidogyne javanica eRotylenchulus reniformis, dois importantes nematoides

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Giovana T. Rosso & Guilherme L. Asmus

foram separadas do substrato, e as raízes foramlavadas em água corrente e submetidas à técnica decoloração diferencial (Byrd et al., 1983) paraobservação da possível penetração e desenvolvimentodo nematoide nas raízes. As raízes das plantas foramcolocadas em meio de glicerina, entre duas lâminasde vidro para microscopia e observadas aomicroscópio de luz. Quantificaram-se nematoides nasfases juvenis de segundo estádio (J2), juvenis de terceiroe/ou quarto estágios (J3 e J4) e fêmeas. Aos 35 diasapós a inoculação, procedeu-se à extração equantificação de cistos e fêmeas maduras das raízes edo substrato (Andrade et al., 1995).

O número médio de fêmeas e cistos (133) de H.glycines observados em plantas de soja suscetível, aos35 dias após a inoculação, indicou que as condiçõesforam adequadas para o desenvolvimento donematoide. A penetração de formas infectivas (J2) deH. glycines em plantas de soja foi observada já aosdois dias após a inoculação (DAI), embora empequena quantidade, intensificando-se aos cinco DAI.A partir de nove DAI, foram observados J3 e J4 efêmeas nas raízes de soja. O alto número de J2 (253,5)observados aos 27 DAI, em comparação à ausênciade formas nessa fase no interior das raízes aos 15DAI, sugere a ocorrência de uma segunda geraçãodo nematoide. Em nenhuma das avaliações realizadasobservou-se a presença de qualquer forma de H.glycines no interior de raízes de pinhão-manso, indicandotanto ausência de desenvolvimento quanto depenetração do nematoide nesta espécie vegetal, o quecaracteriza reação de imunidade a esse fitonematoide(Tabela 1).

Ao avaliarem a suscetibilidade de plantasmedicinais a Meloidogyne javanica, Manso et al. (1985)verificaram que Jatropha sp. mostrou-se imune aonematoide. Resultados semelhantes foram obtidos por

fitoparasitos no Brasil, concluindo que a espécie éresistente ao primeiro e suscetível, porém tolerante,ao segundo.

O cerrado brasileiro faz parte das diversas regiõespotencialmente adequadas para o cultivo de pinhão-manso no País. Entretanto, nessa região observa-seelevada ocorrência do nematoide-de-cisto-da-soja,Heterodera glycines (Silva, 1998). Considerando-se apossibilidade do cultivo de pinhão-manso em sucessão,rotação ou mesmo consórcio com a cultura da soja ea ausência de informação sobre suscetibilidade dopinhão-manso ao nematoide de cisto, estabeleceu-seum experimento em casa de vegetação, na EmbrapaAgropecuária Oeste, em Dourados (MS), com oobjetivo de conhecer a reação de pinhão-manso aonematoide-de-cisto-da-soja.

Sementes de pinhão-manso de um acesso deEldorado (MS) e soja ‘BRS 133’ foram semeadas emcopos de plástico de 400 cm3, contendo substratoconstituído de uma mistura 1:1 (v:v) de solo mais areia,desinfetado com brometo de metila (150 cm3 / m3).Utilizaram-se duas sementes por copo e, após aemergência, foi realizado o desbaste de modo a obter-se a população final de uma planta por copo. Aossete dias após a emergência, as plantas foraminoculadas individualmente com 5 ml de umasuspensão contendo 1.000 ovos de H. glycines obtidosde fêmeas maduras e cistos (Asmus & Ferraz, 2002)multiplicados em raízes de soja cultivada por 60 diasem casa de vegetação. O inóculo foi depositado emdois orifícios equidistantes da planta, comaproximadamente 2 cm de profundidade, efetuadosno solo pela pressão de um bastão de vidro paraleloao eixo da plântula. Durante o período doexperimento, as plantas foram irrigadas de acordocom a necessidade. Aos 2, 5, 9, 15 e 27 dias apósinoculação, quatro plantas de soja e de pinhão-manso

Tabela 1 - Número médio de indivíduos de Heterodera glycines, em diferentes fases de desenvolvimento, em raízes de pinhão-mansoe soja, aos 2, 5, 9, 15 e 27 dias após a inoculação (DAI), e fêmeas e cistos do nematoide aos 35 dias após a inoculação.

Cultura Dias após a inoculação2 5 9 15 27 35

J2 J3 e J4 FA1 J2 J3 e J4 FA1 J2 J3 e J4 FA1 J2 J3 e J4 FA1 J2 J3 e J4 FA1 FA e C2

Pinhão-manso 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0Soja 3,5 0,0 0,0 25,7 0,0 0,0 0,0 17,0 2,7 0,0 7,6 6,2 253,5 24,5 2,5 133,0

Dados médios de quatro repetições.1Fêmeas adultas.2Fêmeas adultas e cistos.

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Nematologia BrasileiraPiracicaba (SP) Brasil

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Imunidade de Pinhão-manso a Heterodera glycines

Fernandes & Asmus (2007) que observaramimunidade de J. curcas a M. javanica. No entanto, nestemesmo trabalho, os autores verificaram que o pinhão-manso é tolerante, porém suscetível, a Rotylenchulusreniformis. É possível que alguns componentes tóxicos,principalmente o látex presente nas plantas de pinhão-manso, exerçam algum tipo de limitação à penetraçãode H. glycines, tal como observado por Suresh et al.(1995) e Romabati et al. (1999) com outras espéciesde nematoides fitoparasitos.

Sistemas de produção agrícolas integradospassaram a ser considerados importantes dentro daforte tendência de produção de grãos, carne, fibras eenergia, com menor pressão ambiental evulnerabilidade a flutuações de preços das commoditiesagrícolas e a variações climáticas. Nesse cenário, emfunção de se constituir uma espécie perene, cultivadaem espaçamento de até 6,0 m entre linhas, e de seradaptada ao clima intertropical, a cultura de pinhão-manso constitui-se em boa opção para cultivosconsorciados com outras culturas anuais (Saturnino etal., 2005), dentre as quais a soja. Considerando-se osresultados obtidos neste trabalho, por ser imune aonematoide-de-cisto-da-soja, o pinhão-manso,cultivado em rotação, sucessão ou consórcio com asoja, não representa risco de aumento de danos a estacultura e, tampouco terá seu desenvolvimento eprodução afetados, se cultivado em áreas infestadaspor H. glycines.

Literatura CitadaANDRADE, P.J.M., G.L. ASMUS & J.F.V. SILVA. 1995.

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132 Vol. 34(2) - 2010

Romero M. Moura, Idjane S. Oliveira, Moacir P.S. Alcântara & Cláudia E.P. Lima

Efeito de Adubos Verdes na Densidade de Pratylenchus zeae e naProdutividade da Cana-de-açúcar

Romero M. Moura1*, Idjane S. Oliveira1, Moacir P.S. Alcântara2 & Cláudia E.P. Lima2

1Centro Acadêmico de Vitória, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Rua do Reservatório s/n,Bela Vista, 55608-680 Vitória de Santo Antão (PE) Brasil.

2Departamento de Micologia, UFPE, 50670-420 Recife (PE) Brasil.*Autor para correspondência: [email protected]

Recebido para publicação em 19 / 02 / 2009. Aceito em 23 / 05 / 2010Editado por Mário Inomoto

Resumo - Moura, R.M., Oliveira, I.S., M.P.S. Alcântara & C.E.P. Lima. 2010. Efeito de adubos verdes nadensidade de Pratylenchus zeae e na produtividade da cana-de-açúcar.

Foi estudada a influência de dois anos de rotação com dois adubos verdes, Crotalaria juncea e Stizolobiumaterrimum (mucuna-preta), na densidade de Pratylenchus zeae e na produtividade da cana-de-açúcar. Foramrealizados dois experimentos, situados em locais com diferentes tipos de solo, com fitonematoides abaixo dosníveis de dano para cana-de-açúcar. Como testemunha, utilizou-se o pousio, prática comumente adotada pelosagricultores canavieiros do Nordeste. A densidade de P. zeae diminuiu e a produtividade de cana-de-açúcaraumentou nos tratamentos com adubos verdes. Os experimentos indicaram que a prática do pousio deve sersubstituída pela rotação com adubos verdes.Palavras-chaves: cana-de-açúcar, adubação verde, Crotalaria juncea, Stizolobium aterrimum, mucuna-preta.

Summary - Moura, R.M., Oliveira, I.S., Alcântara, M.P.S. & Lima, C.E.P. 2010. Effect of green manure onPratylenchus zeae density and sugarcane yield.

It was studied the influence of two-year crop rotation with two green manures, Crotalaria juncea (sunnhemp)and Stizolobium aterrimum (velvetbean), on Pratylenchus zeae density and sugarcane yield. Two field experimentswere carried out in two different soil types, with nematode density below of damage threshold. The fallow, acommon practice of sugarcane farmers in the Northeast of Brazil, was used as a check. P. zeae density decreasedand sugarcane yield increased in the treatments with the green manures. The experiments indicated that thefallow should be substituted by the proposed rotation with the green manures.Key words: sugarcane, green fertilizers, fallow, Crotalaria juncea, Stizolobium aterrimum, velvetbeans.

COMUNICAÇÃO

ConteúdoPara ser analisado o efeito da rotação de culturas

com duas leguminosas antagônicas a fitonematoides,em plantios alternados, na produtividade da cana-de-açúcar (Saccharum sp.) variedade SP70-1011, foramselecionadas duas áreas dentro de antigos canaviais,localizados nos municípios de Carpina e Goiana,ambos na zona da Mata Norte de Pernambuco. EmCarpina, na Estação Experimental de Cana-de-açúcar(EECAC) da Universidade Federal Rural dePernambuco (UFRPE), a área encontrava-se empousio há 28 meses e apresentava solo argiloso,

profundo, escuro e com adequado teor de matériaorgânica. Por meio de análise química, verificou-se queo solo possuía fertilidade compatível com o cultivode cana-de-açúcar, em termos de macro emicronutrientes. A segunda área, situada em terras dausina Santa Teresa, município de Goiana, tinha soloraso, arenoso, de cor clara e com baixo teor de matériaorgânica, condições típicas dos solos dos tabuleiroscosteiros do Nordeste. A análise de fertilidademostrou carências minerais que foram corrigidas antesdo plantio, seguindo-se o protocolo da empresa. Oscanaviais escolhidos possuíam histórico de baixas

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Efeito de Adubos Verdes na Densidade de Pratylenchus zeae e na Produtividade da Cana-de-açúcar

acrílico calibradas.Os resultados mostraram a presença Pratylenchus

zeae como único nematoide fitoparasita e apenas notratamento pousio, sempre em densidades abaixo donível de dano segundo Moura (2005), sendo iguais a122 em Carpina e 67 em Goiana. Como esses valoresnão se espera interferência do nematoide naprodutividade da cana-de-açúcar. Nos doistratamentos em que participaram mucuna-preta e C.juncea, os níveis encontravam-se abaixo daquele dedetecção (Pf = 0,0). Em seguida, as parcelas forampreparadas convencionalmente para o plantio da cana-de-açúcar variedade SP70-1011 em sulcos, tentando-se, na medida do possível, uniformizar o número degemas por parcela. Em cada parcela, formaram-secinco linhas de 10 metros de comprimento, comespaçamento de 1,5 metros.As duas linhas lateraisforam bordaduras e as demais usadas para coleta dedados.

Doze meses após o plantio, foram aferidas asmassas totais dos colmos em quilos por parcela, queforam transformados em toneladas por hectare. Oexperimento de Carpina foi colhido no final de agostode 2008 e o de Goiana no final de novembro de2008. Os resultados numéricos foram submetidos àanálise de variância, com comparação de médias peloteste LSD.

Pelos dados obtidos (Tabela 1), pode-se verificarque os dois plantios alternados das duas leguminosasproporcionaram aumentos da produtividade da cana-de-açúcar da ordem de 11-22 % em Carpina e 14-16% em Goiana, na comparação com o pousio.Embora os resultados de Carpina tenham indicadoaumentos satisfatórios da produtividade em númerospercentuais, os altos coeficientes de variação (28,26%) não permitiram a configuração de diferençasestatísticas entre os tratamentos, fato que não ocorreuem Goiana. Devido às populações iniciais (Pi) de P.zeae terem sido baixas ao fim dos dois anos de pousioe abaixo dos níveis de detecção nos tratamentos comas leguminosas, pode-se inferir que os aumentos emprodutividade obtidos com a cana-de-açúcarestiveram relacionados ao efeito como adubo verdedas plantas antagônicas, confirmando Mascarenhas etal. 1994 e Ambrosano et al. 1997. Além do expressivoefeito de controle que o uso dessas leguminosas em

produtividades agrícolas, com níveis inferiores a 30toneladas por hectare. Os dados locais relativos àsáreas foram fornecidos pela EECAC e pelo grupotécnico de pesquisa da usina Santa Teresa.

Em cada uma dessas áreas foi implantado umexperimento, usando-se delineamento estatístico dotipo blocos ao acaso, com três tratamentos e seisrepetições. O experimento de Carpina teve início nomês de agosto, fim da estação chuvosa, e o de Goianaem dezembro, quando as chuvas são praticamenteausentes. Nos dois experimentos, em situaçõesepisódicas de muita secura, utilizou-se irrigação porpivô central. O tratamento 1 foi pousio por dois anos.Pousio é a prática do abandono temporário da áreapara plantio, por tempo variável, permitindo-se ocrescimento natural de ervas daninhas. Esta prática érotineiramente utilizada pelos canavieiros do Nordeste,quando diante de repetidas produtividades baixas (<30 t / ha). O tratamento 2 foi plantio da leguminosamucuna-preta (Stizolobium aterrimum) em sucessão comCrotalaria juncea por dois anos (Figura 1). Cada plantioteve duração de três meses, com início no períododas chuvas (março) e estendendo-se até setembro. Aincorporação da biomassa ocorreram cada três meses,por ocasião da floração (Figura 1B). O tratamento 3foi semelhante ao 2, diferindo na sequência de plantiodas leguminosas, que foi invertido. O objetivo dasduas sequências de plantio foi analisar ocomportamento de cada uma nos meses de junho ejulho, período de muitas chuvas, que criam condiçõesfavoráveis para elevadas incidência e severidade dadoença “desfolhamento da mucuna-preta”,provodcada pelo fungo Cercospora sp. (Moura &Oliveira, 2009).

Nos dois experimentos, as parcelas dos tratamentos2 e 3 ficaram em alqueive durante o período deoutubro a março, devido à baixa pluviosidade. Aosdois experimentos foram dispensados os mesmostratos culturais. Em cada experimento, ao fim dosegundo ano foram efetuadas as determinações dosíndices populacionais de fitonematoides, tomando-se 300 cm3 de solo e 50 g de raízes de cada parcela.Foram utilizados métodos convencionais de coleta deamostras (Barker, 1985) e extração (Jenkins, 1964). Acontagem de espécimes de nematoides foi realizadacom auxílio de microscópio óptico em caixas de

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Figura 1 - Área experimental: (A) parcelas com cana-de-açúcar, Crotalaria juncea e mucuna-preta: (B) parcela com C. juncea emfloração, por ocasião da incorporação.

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Efeito de Adubos Verdes na Densidade de Pratylenchus zeae e na Produtividade da Cana-de-açúcar

Figura 2 -Área comercial de produção de cana-de-açúcar no primeiro ano de pousio, apresentandorebentos das soqueiras e vasta e diversificada flora de plantas invasoras pertencentes a muitasfamílias botânicas (A). A invasora melão-de-são-caetano encontrada em área de pousio e comraízes exibindo galhas causadas por Meloidogyne sp. (B).

Tabela 1 - Efeito do pousio e dos cultivos alternados de mucuna-preta (MP) e Crotalaria juncea (CJ) com incorporação na produtividadeda cana-de-açúcar (Saccharum sp.) variedade SP70-1011, em dois municípios do estado de Pernambuco.

Em cada coluna, médias seguidas de uma mesma letra não diferem estatisticamente ao nível de 5 % de probabilidade pelo teste LSD.

Tratamentos População final de P. zeae Produçãokg / parcela t / ha % a mais que pousio

Pousio 122 310,02 a 69,23 a -MP + CJ 0 378,36 a 84,50 a 22,06CJ + MP 0 343,35 a 76,68 a 10,77CV (%) - 28,26 28,26 —

A) Município de Carpina

Tratamentos População de P. zeae Produçãokg / parcela t / ha % a mais que pousio

Pousio 67 300,00 b 67,00 b -MP + CJ 0 343,41 a 76,79 a 14,33CJ + MP 0 347,52 a 77,61 a 15,68CV (%) - 8,46 8,46 -

B) Município de Goiana

plantios alternados pode exercer em relação a P. zeae,conforme demonstraram Moura & Oliveira (2009),esse método poderá também proporcionar aumentossignificativos na produtividade da cana-de-açúcar,configurando-se em prática que poderá substituir comvantagem o pousio no Nordeste. Por outro lado sabe-

se, por dados experimentais recentes, que ofitonematoide Rotylenchulus reniformis sobrevive durantevários meses durante o pousio (dados não publicadosdos autores). Finalmente, a não recomendação dopousio no Nordeste é justificada pelo favorecimentoao crescimento plantas invasoras hospedeiras dos

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nematoides-das-galhas (Figura 2B), dos nematoides-das-lesões (Moura & Oliveira, 2009) e de outrospatógenos e pragas.

AgradecimentosOs autores são gratos à Empresa Piraí Sementes,

Piracicaba (SP), pelo fornecimento das sementes demucuna-preta e Crotalaria juncea. Agradecimentos sãoextensivos à administração da usina Santa Teresa,Goiana (PE), e à diretoria da Estação Experimentalde Cana-de-açúcar de Carpina (PE), pelo apoioindispensável a este trabalho.

Literatura CitadaAMBROSANO, E.J., E.B. WULTKE, R.T. TANAKA,

H.A.A. MASCARENHAS, N.R. BRAGA & T.MURAOKA. 1997. Leguminosas para Adubação Verde:Uso Apropriado em Rotações de Culturas.Coordenadoria de Assistência Técnica Integral,Campinas, 24 p.

BARKER, K.R. 1985. Sampling nematode communities.

In: BARKER, K.R., C.C. CARTER & J.N. SASSER(ed). An Advanced Treatease on Meloidogyne. vol. II.Metodology. North Carolina State University Graphics,Raleigh, p 3-17.

JENKINS, W.R. 1964. A rapid centrifugal-flotation techniquefor separating nematodes from soil. Plant DiseaseReporter, 48: 692.

MASCARENHAS H.A.A., R.T. TANAKA., A.A. COSTA,ROSA, F.V. & V.F. COSTA. 1994. Efeito Residual deLeguminosas sobre Rendimento Físico e Econômicoda Cana-planta. Instituto Agronômico de Campinas,Campinas, 15 p. (Boletim Técnico n°. 32)

MOURA, R.M. 2005. Controle integrado dos nematóidesda cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE NEMATOLOGIA,XXV, Piracicaba. Resumos, p. 49-55.

MOURA, R.M. & I.S.O. OLIVEIRA. 2009. Controlepopulacional de Pratylenchus zeae em cana-de-açúcar emdois ambientes edáficos no Nordeste. NematologiaBrasileira 33 (1): 67-73.

MOURA, R.M., E.M.R. PEDROSA, S.R.V.L. MARANHÃO,M.E.A. MACEDO, A.M. MOURA;, E.G. SILVA & R.F.LIMA. 2000. Ocorrência dos nematóides Pratylenchuszeae e Meloidogyne spp. em cana-de-açúcar no Nordestedo Brasil. Fitopatolologia Brasileira 25: 101-103.

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Controle de Meloidogyne javanica por Meio da Aplicação de Palha de Café Colonizada por Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia

Controle de Meloidogyne javanica por Meio da Aplicação de Palha de CaféColonizada por Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia

Rosangela Dallemole-Giaretta1*, Leandro G. Freitas2, Ronaldo J.F. Zooca2, Larissa B. Caixeta3,Everaldo A. Lopes4 & Silamar Ferraz2

1Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Campus CEDETEG, 85040-080 Guarapuava (PR) Brasil.2Departamento de Fitopatologia, Universidade Federal de Viçosa, 36570-000 Viçosa (MG) Brasil.3Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos,

52171-900 Recife (PE) Brasil.4Faculdade de Engenharias e Ciências Agrárias, Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM),

38702-054 Patos de Minas (MG) Brasil.*Autora para correspondência: [email protected]

Recebido para publicação em 03 / 02 / 2010. Aceito em 24 / 05 / 2010Editado por Claudio Marcelo G. Oliveira

Resumo - Dallemole-Giaretta, R., L.G. Freitas, R.J.F. Zooca, L.B. Caixeta, E.A. Lopes & S. Ferraz. 2010. Controlede Meloidogyne javanica por meio da aplicação de palha de café colonizada por Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia.

Dois experimentos foram conduzidos em casa de vegetação para avaliar o controle de Meloidogyne javanicapor meio da aplicação de 5, 10, 15 ou 20 g de palha de café por kg de solo, colonizada ou não por Pochoniachlamydosporia var. chlamydosporia. O solo de cada vaso de 2.000 cm3, com ou sem os respectivos tratamentos, foiinfestado com 3.000 ovos de M. javanica. Após quinze dias, uma muda de tomateiro (Lycopersicon esculentum‘Santa Clara’) foi transplantada em cada vaso. A altura das plantas, a massa da parte aérea e das raízes, onúmero de galhas e de ovos foram avaliados 45 dias após o transplantio. A aplicação ao solo de palha de cafénão colonizada, independentemente da dose testada, não reduziu o número de galhas e de ovos de M. javanica.No entanto, a incorporação ao solo do material orgânico colonizado por P. chlamydosporia var. chlamydosporiareduziu em até 46,6 e 71,7 % os números de galhas e ovos, respectivamente. Não houve diferença na altura,massa da parte aérea e das raízes dos tomateiros, em ambos os experimentos, independentemente do tratamento.Conclui-se que a palha de café é um material orgânico que pode ser utilizado como veículo para a aplicação deP. chlamydosporia visando ao controle de M. javanica.Palavras-chaves: nematoide-das-galhas, matéria orgânica, fungo nematófago.

Summary - Dallemole-Giaretta, R., L.G. Freitas, R.J.F. Zooca, L.B. Caixeta, E.A. Lopes &. S. Ferraz. 2010. Controlof Meloidogyne javanica by means of the application of coffee husk colonized by Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia.

Two experiments were carried out under greenhouse conditions in order to evaluate the control of Meloidogynejavanica by means of the application of 5, 10, 15 or 20 g of coffee husk / kg of soil, colonized or not byPochonia chlamydosporia var. chlamydosporia. The soil of each 2,000 cm3 pot, amended or not with the treatments,was infested with 3,000 eggs of M. javanica. Fifteen days later, one tomato (Lycopersicon esculentum ‘Santa Clara’)seedling was transplanted into each pot. Plant height, aboveground and root mass, the number of galls andeggs were evaluated 45 days after transplanting the seedlings. The application of non-colonized coffee husk,independently of the rate, did not reduce the number of galls and eggs of M. javanica. However, the incorporationof the organic amendment colonized by P. chlamydosporia var. chlamydosporia reduced up to 46.6 and 71.7 % thenumber of galls and eggs, respectively. There was no effect of treatment on plant height or aboveground androot mass, in both experiments. In conclusion, coffee husk is an organic amendment that can be used as carrierfor the application of P. chlamydosporia for controlling M. javanica.Key words: root-knot nematode, organic amendment, nematophagous fungus.

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Para o preparo da palha de café, foramadicionados em um balde de 10 l de capacidadecontendo água de torneira, aproximadamente 2 kgdo material, que permaneceram imersos por 3 horas,a fim de eliminar possíveis compostos fungitóxicospresentes neste substrato. Após esse período, a palhafoi distribuída sobre peneiras e deixada por 14 horasem temperatura ambiente, para escorrer o excessode água. Em seguida, foram colocados 200 g dosubstrato palha de café em sacos de polipropilenoautoclavados por 30 minutos. Após a esterilização, ossacos foram armazenados no escuro a 25 oC por 21dias, para confirmação da total esterilização dosubstrato.

Na implantação do primeiro experimento, vasosde plástico de 2 l de capacidade foram preenchidoscom uma mistura de solo e areia, (1:1, v:v),previamente tratada com brometo de metila. Estamistura de solo e diferentes quantidades do compostopalha de café (0, 5, 10, 15 ou 20 g / kg de solo)foram colocados em um saco de plástico de 5 l decapacidade, homogeneizados manualmente eadicionados novamente no respectivo vaso. A seguir,o solo foi infestado com 3.000 ovos de M. javanicapor vaso e mantido úmido a 60 % da capacidade decampo por quinze dias. Após este período,transplantou-se uma plântula de tomate ‘Santa Clara’,com aproximadamente 10 cm de altura, em cada vaso.O experimento foi conduzido em delineamentointeiramente casualizado com oito repetições portratamento. A altura das plantas, a massa da parte aéreae das raízes frescas, além dos números de galhas e deovos por sistema radicular foram avaliados aos 45dias após o transplantio das mudas.

Na implantação do segundo experimento, ametodologia foi semelhante ao primeiro, utilizando-se as mesmas doses de palha de café. No entanto,após o processo de esterilização, cada saco plásticocontendo palha de café recebeu cinco discos (5 mmde diâmetro) de micélio de P. chlamydodosporia var.chlamydosporia, cultivado em CMA (‘corn meal agar’)por 21 dias. O substrato infestado com o fungo foiarmazenado no escuro a 25 oC por 21 dias, quandofoi determinado o número de clamidósporos porgrama de substrato, conforme técnica descrita porKerry & Bourne (2002). Na implantação e na

ConteúdoA incorporação de matéria orgânica ao solo é uma

das mais antigas práticas de manejo de fitonematoides(Ritzinger & McSorley, 1998; Lopes et al., 2009). Osmecanismos de ação associados a esta tática sãoatribuídos, em alguns casos, a fatores como a melhoriadas características físicas e químicas do solo, aumentoda população de microrganismos antagonistas aosnematoides e a liberação de substâncias nematicidasresultantes de processos de degradação do materialorgânico (Stirling, 1991; Halbrendt & LaMondia,2004). Vários pesquisadores têm relatado o efeito dediversos resíduos agrícolas no controle de Meloidogynespp., tais como torta de mamona, bagaço de casca deuva, sementes de mamão e palha de café (Zambolimet al., 1996, Akhtar & Malik, 2000; Nico et al., 2004;Neves et al., 2005; Coutinho et al., 2009). Algunsmateriais orgânicos, além do próprio potencialnematicida, podem ser utilizados como substrato parao crescimento e a veiculação de agentes de controlebiológico, como por exemplo o fungo Pochoniachlamydosporia Zare & Gams (sin. Verticilliumchlamydosporium Goddard) (Lopes et al., 2007; Coutinhoet al., 2009). Um destes resíduos orgânicos é a palhade café, material disponível em diversas localidadesda região Sudeste e Sul do Brasil. Espera-se que aaplicação ao solo deste material orgânico, colonizadopelo fungo P. chlamydosporia, possa potencializar ocontrole de Meloidogyne spp., visto que além do fungoe da palha exercerem efeito direto na redução denematoides, o resíduo vegetal poderia servir desubstrato para o estabelecimento e o aumento dapopulação do fungo no solo. Diante do exposto, opresente trabalho teve por objetivo avaliar o efeitoda palha de café colonizada ou não por P. chlamydosporiavar. chlamydosporia no controle de Meloidogyne javanicaem casa de vegetação.

Dois experimentos foram conduzidos em casa devegetação pertencentes ao Departamento deFitopatologia da Universidade Federal de Viçosa. Noprimeiro, estudou-se o efeito da aplicação dediferentes quantidades de palha de café não colonizadapor P. chlamydosporia var. chlamydosporia ao solo (0, 5,10, 15 ou 20 g / kg de solo). No segundoexperimento, foram avaliadas as mesmas doses depalha de café, no entanto, colonizadas pelo fungo.

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Controle de Meloidogyne javanica por Meio da Aplicação de Palha de Café Colonizada por Pochonia chlamydosporia var. chlamydosporia

avaliação deste experimento foram coletadas amostrascompostas de solo de cada parcela experimental paradeterminação da população do fungo, que foi realizadapor meio do plaqueamento de solo em meio semi-seletivo, conforme técnica descrita por Gaspard et al.(1990), com três repetições por tratamento.

Os dados obtidos de ambos os experimentosforam submetidos à análise de variância e as médiasforam comparadas ao tratamento controle pelo testede Dunnett (P < 0,05), pela falta de ajustamento dosdados quantitativos a um modelo de regressão.

Os resultados do efeito da incorporação ao soloda palha de café, colonizada ou não por P .chlamydosporia var. chlamydosporia, sobre o crescimentodos tomateiros e o número de galhas e de ovos deM. javanica estão apresentados na Tabela 1. A aplicaçãode palha de café, colonizada ou não pelo antagonista,não influenciou o desenvolvimento dos tomateiros,em nenhuma dose estudada e nenhum efeito fitotóxicofoi observado. A incorporação ao solo apenas depalha de café não reduziu significativamente o númerode galhas ou de ovos de M . javanica,independentemente da dose testada. No entanto, aaplicação do resíduo colonizado pelo fungoantagonista permitiu reduções de 31,4 a 46,7 % nonúmero de galhas e de 51,1 a 71,7 % no número deovos do nematoide nas quantidades de 5 a 20 g / kgde solo, respectivamente.

Neste estudo, esperava-se que a aplicação ao soloapenas de palha de café reduzisse a população donematoide estudado, tal qual relatado por Tronconi etal. (1986) e Zambolim et al. (1996), visto que a palhade café pode liberar alguns compostos nematicidas

durante sua decomposição, como, por exemplo,amônia e furfural. A ineficiência deste substrato nocontrole de M. javanica, observado neste estudo, podeter ocorrido devido ao fato de a palha de café tersido deixada de molho, removendo, portanto,possíveis compostos tóxicos a fitonematoides. Alémdisso, a porcentagem de constituintes químicospresentes na palha de café pode variar dependendodo processamento do café, da variedade e de práticasde cultivo (Pandey et al., 2000). Tal heterogeneidadedo resíduo pode exercer influência na liberação depotenciais substâncias nematicidas durante a suadecomposição no solo.

A aplicação ao solo da palha de café colonizadapor P. chlamydosporia var. chlamydosporia, em todas asdoses testadas, comprovou a efetividade do fungona redução da população de M. javanica nas raízes dasplantas. A integração de resíduos vegetais e agentesde controle biológico é uma tática utilizada parapotencializar o controle de fitonematoides (Khan &Saxena, 1997). Estudos realizados com PaecilomycesBainier spp., Bacillus thuringiensis Berliner ou Pochoniachlamydosporia comprovaram que a aplicação ao solodos antagonistas juntamente com compostosorgânicos foi mais eficiente na redução populacionaldo nematoide-das-galhas do que a introdução dessesmicrorganismos isoladamente (Gautam, et al., 1995;Ehteshamul-Haque et al., 1996; Zaki & Bhatti, 1999;Cannayane & Rajendran, 2001). Todavia, ainda queneste estudo não se tenha observado efeito isoladoda palha de café no controle de M. javanica, essesubstrato pode ser utilizado, ainda que em doses maisbaixas, como carreador, facilitando o estabelecimento

Tabela 1 - Efeito da incorporação ao solo de diferentes doses de palha de café, colonizada ou não pelo fungo Pochonia chlamydosporia,na altura e massa da parte aérea e de raízes de tomateiros e no número de galhas e de ovos de Meloidogyne javanica, aos quarenta e cincoapós o transplantio de mudas em solo infestado.

Médias de oito repetições.nsNão significativo pelo teste F ao nível de 5 % de probabilidade.*Médias que diferem do controle (ausência de palha de café e solo infestado) pelo teste de Dunnett ao nível de 5 % de probabilidade.

Palha de café Altura de plantas Massa da parte aérea Massa de raízes Número de galhas Número de ovos(g / kg de solo) (cm) (g) (g)

Sem Com Sem Com Sem Com Sem Com Sem ComPochonia Pochonia Pochonia Pochonia Pochonia Pochonia Pochonia Pochonia Pochonia Pochonia

0 86,25ns 92,25ns 65,32ns 69,37ns 7,19ns 8,78ns 350ns 388 269.546ns 339.2215 95,87 85,12 73,37 64,54 8,24 10,65 332 219* 259.785 159.390*10 92,12 95,00 68,07 77,91 8,31 9,16 213 266* 184.489 162.236*15 98,87 90,87 75,95 71,66 9,75 9,34 254 260* 201.049 165.859*20 96,12 96,62 76,29 74,20 9,44 11,25 238 207* 156.026 95.996*

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e a distribuição do fungo no solo (Chen et al., 2000).Por meio do plaqueamento do solo ao final do

segundo experimento, pode-se comprovar que P.chlamydosporia var. chlamydosporia se estabeleceu no solo,com variação de 4,3 x 103 a 3,1 x 105 unidadesformadoras de colônia / g de solo. Esta habilidadedo fungo deve-se à sua capacidade de formarclamidósporos (estruturas de resistência), multiplicar-se na rizosfera do tomateiro (Kerry & Bourne, 2002),de colonizar ovos de nematoide no solo e materiaisorgânicos, a exemplo da palha de café (Stirling, 1991).

Conclui-se que, de acordo com a análise dosresultados obtidos nesse trabalho, a integração entrepalha de café e P. chlamydosporia var. chlamydosporia podeser uma alternativa para o manejo de M. javanica. Noentanto, novos estudos devem ser realizados a campopara confirmar tal perspectiva, principalmenteutilizando quantidades menores de palha de café, demodo que este material tenha como principal funçãoservir de carreador do agente de controle biológico.

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