neoshumpeterianos

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Caminhos do pensamento neo-schumpeteriano:para alm das analogias biolgicas

Rosana Icassatti CorazzaProfessora da Facamp Pesquisadora colaboradora do Grupo de Estudos sobre Organizao da Pesquisa e da Inovao (GEOPI-DPCT, IG/Unicamp)

Paulo Srgio FracalanzaProfessor da Unicamp e da Facamp Pesquisador do Ncleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT-IE/Unicamp)

Palavras-chave anlise neo-schumpeteriana, abordagem evolucionista, analogias biolgicas, auto-organizao. Classificao JEL B52.

Key words neo-Schumpeterian analysis, evolutionist approach, biological analogies, self-organization. JEL Classification B52.

Resumo Este artigo traz reflexes acerca da construo terica da abordagem neo-schumpeteriana sobre as mudanas tcnica e econmica. So recuperados, num primeiro momento, argumentos fundamentais desta abordagem que se constroem com base em analogias com a concepo evolutiva das Cincias Biolgicas. Num segundo momento, faz-se um esforo para discernir, em suas contribuies recentes, como o pensamento neo-schumpeteriano se desenvolve para alm dessas analogias, incorporando o conceito de auto-organizao como elemento explicativo do carter dinmico e evolutivo dos sistemas econmicos. O artigo finalizado pela identificao de algumas implicaes que essa nova perspectiva coloca sobre a pauta de pesquisas da agenda neo-schumpeteriana.

Abstract This paper aims at contributing to the discussion of the theoretical construction of neo-schumpeterian approach of technical and economic change. Firstly, some fundamental arguments of this approach which are built in analogy to the evolutionist conception of Biological Sciences are presented. Secondly, we intended to distinguish, in recent literature, how neo-schumpeterian thinking evolves beyond such analogies, by integrating the concept of self-organization as the explaining element of the dynamic and evolving character of economic systems. Finally, some implications of such new perspective for the new-Schumpeterian research agenda are identified.

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1_ IntroduoA partir do final dos anos 1970, os chamados economistas neo-schumpeterianos difundiram amplamente o emprego de analogias biolgicas para a compreenso do carter evolutivo do desenvolvimento capitalista e sobretudo do processo de mudana tecnolgica.1 Neste artigo, procura-se recuperar, na segunda seo, a argumentao neo-schumpeteriana da mudana tecnolgica, evidenciando as principais analogias biolgicas empregadas, particularmente emprestadas teoria da evoluo biolgica. Na terceira seo, so explorados alguns aspectos da literatura neoschumpeteriana recente que, apropriando-se do conceito de auto-organizao como elemento explicativo do carter dinmico e evolutivo dos sistemas econmicos, conduzem a anlise para alm das referidas analogias biolgicas. Um esforo para a identificao de algumas implicaes desses desenvolvimentos tericos recentes para a agenda de pesquisa neoschumpeteriana objeto dos comentrios finais do artigo.1 Neste artigo, apoiamo-nos em grande parte na identificao de Possas (1988) dos autores da abordagem neo-schumpeteriana, embora no empreguemos a clivagem

2_ Analogia biolgica na abordagem neo-schumpeteriana da mudana tecnolgicaNo conjunto das anlises econmicas neoclssicas, a tecnologia representada por uma funo de produo que relaciona uma combinao particular de fatores de produo ou insumos com os nveis de produo alcanados. J o progresso tcnico definido tout court como responsvel pela expanso da fronteira de possibilidades de produo. Sob inspirao dos trabalhos de Schumpeter, a abordagem neo-schumpeteriana, que se constituiu teoricamente, em certa medida, em contraposio s representaes neoclssicas da tecnologia e do progresso tcnico, oferece uma anlise da tecnologia que coloca a dinmica tecnolgica como motor do desenvolvimento das economias capitalistas. Em conhecido artigo, Dosi (1988) define tecnologia como um complexo de conhecimentos prticos e tericos, englobando alm de equipamentos fsicos no apenas know-how, mtodos e procedimentos, mas tambm experinevolucionistas (R. Nelson e S. Winter EUA) e da SPRU da Sussex (UK, sob a direo de C. Freeman), [que] voltam-se anlise da gerao e difuso de novas tecnologias em sua natureza e impactos, destacando uma inter-relao com a dinmica industrial e a estrutura dos mercados [...] (Possas, 1988 p. 158).

interna dessa abordagem proposta pelo autor, que aponta os autores [...] basicamente situados em dois grupos no-rivais o que desenvolve modelos

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cias (bem ou mal sucedidas). Se por um lado os equipamentos incorporam os avanos tecnolgicos, por outro uma parte desincorporada da tecnologia consiste em uma expertise particular, que reflexo de experincias pregressas e de solues tecnolgicas passadas. Nessa perspectiva, o autor advoga que a tecnologia inclui a percepo de um conjunto limitado de alternativas tecnolgicas possveis e de desenvolvimentos nocionais futuros (Dosi, 1982, p. 151-152). possvel dizer que, enquanto as anlises neoclssicas se desenvolveram emprestando conceitos Mecnica Newtoniana, a viso neo-schumpeteriana foi significativamente influenciada pela teoria da evoluo, das Cincias Biolgicas (Boulding, 1981). Assim como a Biologia tem na teoria da evoluo uma teoria geral da mudana das espcies, a viso neo-schumpeteriana se estruturou, ao longo das duas ltimas dcadas, como tentativa sistemtica de construir uma teoria geral da mudana em Economia. Alis, era essa a forma pela qual era apresentado o programa de pesquisas neoschumpeteriano por dois de seus mais ilustres tenentes no incio da dcada de 1980 (Nelson e Winter, 1982). As prximas subsees dedicamse a apresentar os principais conceitos formulados dentro da abordagem neo-

schumpeteriana, evidenciando sua inspirao biolgica. Assim, trata-se de identificar, nos comportamentos dos agentes econmicos: a. os elementos de permanncia ou hereditariedade; b. um princpio de variaes ou mutaes; c. os mecanismos de seleo.2.1_ Hereditariedade na economia neo-schumpeteriana

Os elementos de permanncia ou hereditariedade tm em Economia, segundo a perspectiva neo-schumpeteriana, papel semelhante ao dos genes em Biologia. Esses genes assumem a forma de rotinas seguidas pelos agentes econmicos e da coleo de ativos de que uma firma dispe. Estando na base dos comportamentos dos agentes, e em particular das organizaes, a noo de rotina central em toda representao neo-schumpeteriana. Nelson e Winter (1982) empregam o termo de maneira bastante flexvel, com referncia a uma atividade repetitiva que se consubstancia no interior de uma organizao e que decorre fundamentalmente da mobilizao e da expresso de competncias individuais. Desse modo, o desempenho das tarefas quotidianas no interior de uma organizao e a soluo

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encontrada para os conflitos criam um repertrio de respostas aos problemas mais freqentes. Essas respostas no so pautadas pela otimalidade (ou maximizao), uma vez que so fruto de conhecimentos tcitos de sujeitos que no podem ser maximizadores perfeitos e que, em funo de sua experincia pregressa e de limitaes cognitivas, se deixam guiar pelas rotinas construdas. Assim, entendemos por rotina uma estrutura de comportamento regular e previsvel que conduz a esquemas repetitivos de atividade. Se as rotinas, porm, so caracterizadas pela repetio, tambm o so pela experimentao, o que faz com que as tarefas sejam executadas de maneira progressivamente melhor e mais rpida, propiciando a gerao constante de novas oportunidades de operao. A repetio e a experimentao esto na base da aprendizagem, por meio da qual so construdos os comportamentos. por essa raUma interessante distino entre racionalidade substantiva e racionalidade processual apresentada por Koenig (1993). Segundo o autor, a racionalidade substantiva rege, no mbito da anlise neoclssica, os comportamentos decisrios dos agentes diante de uma2

zo que as rotinas podem ser consideradas, como enfatiza Mnard (1997), como procedimentos eficientes de estocagem de informao e de interpretao de sinais provenientes de fora da organizao. Por essa razo, as rotinas so uma espcie de memria organizacional. Tendo, ento, sua conformao moldada pela aprendizagem que gerada no desenrolar das rotinas, os comportamentos individuais dificilmente poderiam ser reduzidos, de acordo com Dosi (1991, apud Kemp, 1997) a um princpio de racionalidade invariante. A proposta neo-schumpeteriana de interpretao dos comportamentos dos agentes se caracteriza, portanto, pela recusa das hipteses de maximizao e de racionalidade substantiva, que so fundamentos da interpretao neoclssica.2 O segundo fator de hereditariedade a coleo de ativos ou de recursos de que uma organizao dispe.3de agentes cuja capacidade cognitiva no so homogneas, num universo caracterizado pela presena de incerteza de natureza no probabilstica, e o resultado depende do processo que estrutura a prpria escolha. 3 Como indica Possas (1995), interessante reter a interpretao da firma como coleo de recursos, cuja alocao determinada por deciso administrativa (dada por Penrose, 1959) e como unidade de valorizao desses recursos.

situao de escolha entre mltiplas alternativas, num quadro em que o critrio que norteia essa escolha o da maximizao (do lucro ou da utilidade), dada uma perfeita disponibilidade de informaes. A racionalidade processual, por sua vez, governa o processo de deciso

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Possas (1999) sistematiza os ativos (ou recursos) de uma organizao segundo sua natureza em quatro categorias: fsicos (equipamentos, instalaes, matriasprimas), humanos, financeiros e imateriais ou intangveis (imagem, boas relaes, experincia e capacidades). Ao caracterizar esses ativos, a autora ressalta que maior grau de flexibilidade pode ser associado aos ativos financeiros, ao passo que graus mais reduzidos de flexibilidade tendero a ser imputados aos ativos fsicos e humanos e, finalmente, aos recursos ou ativos intangveis. O investimento em ativos pouco ou nada flexveis encontra justificativa no fato de serem eles justamente os de mais difcil imitao ou transmisso entre as organizaes, j que sua codificao muito difcil ou mesmo impossvel.4 So trunfos, como a eles se refere a autora:que permitem firma a obteno de ganhos extraordinrios [...]. [so] pontos nos quais se podem estabelecer vantagens. Em muitos casos, como design, especificao ou desempenho, isso depender de um saber tcnico especfico; em outros, de uma capacidade particular de organizao de administrao; h ainda situaes em que a imagem da firma o relevante, ou outras nas quais o que importa so relaes estabelecidas. Em todos os casos citados temos a presena dos ativos intan-

gveis, fundamentados na experincia, conhecimento, relaes estabelecidas, imagem criada (Possas, 1999, p. 120).

Entretanto, as rotinas e os ativos no so todos equivalentes. Sabendo-se que as decises dos agentes no so apoiadas por critrio de otimalidade e que sofrem mudanas em razo de processos de aprendizagem, espera-se que esses fatores de hereditariedade no sejam idnticos entre os agentes isto , espera-se que ocorra a diversidade.2.2_ Princpio de mutao na abordagem neo-schumpeteriana da mudana tecnolgica

Este ponto abordado por Foss (1996) e outros autores que associam o conceito de competncias a esses ativos ou recursos menos flexveis.4

J dissemos que a abordagem neo-schumpeteriana identifica um princpio de variaes e de mutaes. De fato, essa abordagem se concentra nas propriedades dos sistemas econmicos, cuja dinmica gerada internamente pela emergncia persistente de inovaes em produtos, processos, formas de organizao, mercados e fontes de matrias-primas. Existe, pois, segundo essa perspectiva terica, um princpio dinmico que conduz evoluo do sistema econmico, princpio este que pode ser encontrado nos comportamentos de busca (search) que esto na base das inovaes. Em outras palavras, so os comportamentos de busca que asseguram, em princpio, as transformaes.n ova Economia_Belo Horizonte_14 (2)_127-155_maio-agosto de 2004

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Para compreender o princpio da variao, til distinguir, como sugere Dosi (1991, apud Kemp, 1997), as rotinas estticas, que consistem na simples repetio de prticas anteriores, das rotinas dinmicas, que so direcionadas a novas aprendizagens, isto , so rotinas capazes de criar outras rotinas, outros ativos ou outras competncias. A noo de rotina dinmica de Dosi encontra equivalente no conceito de comportamento de busca, proposto por Nelson e Winter (1982), que designa processos genuinamente associados a risco, feitos de tentativas e erros. A justificativa dos comportamentos de busca, imersos que so em um ambiente de profunda e ubqua (pervasive) incerteza, pode aparecer apenas ulteriormente ou pode simplesmente no aparecer. So as prticas de busca, porm, que permitem a inovao e, portanto, a mutao de firmas, indstrias e do prprio sistema econmico como um todo. Ao cunhar o conceito de busca, Nelson e Winter (1982) rejeitam que a inovao seja simples resultado de anlises do tipo custo-benefcio. Se as rotinas de busca, materializadas nas atividades de pesquisa e desenvolvimento, so permeadas por um tipo muito especial de incerteza de natureza no-Bayesiana ou no-probabilstica , a inovao passa a ser um processo guia-

do por uma heurstica de busca, com base em experincias prvias, tentativas, sucessos e fracassos. Trata-se de uma viso de processo em que a inovao no fruto de um clculo de otimizao, mas sim do recurso a uma heurstica, isto , a regras e procedimentos que so expresso de uma racionalidade confinada aos limites cognitivos dos agentes envolvidos, lidando com informaes apenas imperfeitamente disponveis. Dessa forma, segundo Nelson e Winter (1982), a heurstica que caracteriza o processo de busca fundamentada em conhecimentos humanos limitados e acumulados ao longo do tempo, os quais, embora no estejam voltados obteno de solues timas ou maximizadoras, permitem a gerao de inovaes. Dizer que as estratgias de busca no so timas (e sim heursticas) no significa ignorar a lgica de ao das organizaes capitalistas na busca da valorizao de seus recursos. A teoria neo-schumpeteriana assume, desde logo, a acepo do processo de concorrncia capitalista como o de enfrentamento de capitais em busca de oportunidades de valorizao.5 Esse enfrentamento, no mercado, d-se por meio da busca incessante por parte das empresas por oportunidades de diferenciao, pela criao de assimetrias que lhes permitam expandir suas fronteiras e conquistar novos espaos para a valorizao do capital.

5 Esta acepo do processo concorrencial, cara a muitos economistas, est associada viso de capital como valor que se valoriza, encontrada em Marx.

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Dizer que essas estratgias no so timas e, portanto, no so maximizadoras ex-ante significa, isto sim, reconhecer que os agentes tm restritos limites cognitivos e limitada disponibilidade de informaes que no lhes permitem agir estritamente como maximizadores. Assim, sobretudo com o propsito da valorizao de seus recursos (ou ativos) que deve ser compreendido o envolvimento das organizaes nesses processos de busca da inovao. A perspectiva da inovao uma promessa da valorizao dos recursos ou ativos das organizaes, promessa cuja concretizao exige uma aposta (investimentos) por parte dessas. Ademais, dizer que as estratgias de busca no so timas no significa assumir que a busca da soluo de problemas, de novos produtos e/ou processos tome a forma de um fenmeno totalmente aleatrio. A abordagem neo-schumpeteriana oferece diversas razes que fundamentam o carter no randmico da inovao.6Observemos, aqui, que os processos de busca envolvem uma dupla analogia biolgica: admitem um paralelo tanto com o darwinismo quanto com o lamarkianismo. Como pondera Possas (1988), os autores relacionam a busca com as mutaes genticas, notando inclusive a possibilidade e necessidade analtica de um6

certo que o carter de soluo de problemas da inovao j define, per se, certas questes ou reas-problemas como relevantes para investigao. Nesse sentido, Rosenberg (1976) ilustra a importncia de dispositivos de focalizao (focusing devices), que so problemas tpicos, oportunidades ou metas que tendem a ajustar o processo de busca em direes particulares. Esses dispositivos de focalizao assumem a forma de imperativos tecnolgicos que guiam a evoluo de certas tecnologias, de gargalos tecnolgicos em certos processos, ou ainda, de pontos fracos evidentes em produtos que se conformam em alvos claros para aperfeioamentos. Esses sinais evidentes que se poderiam colocar como metas para os projetos de P&D delineiam o que Nelson e Winter (1977) chamaram de trajetrias naturais, que expressam certo moto interno (momentum) da mudana tecnolgica.7 Para evitar mal-entendidos, preciso dizer que o que chamamos aqui deinterna do progresso tcnico, interpondo um questionamento de fundo sobre seu arcabouo conceitual: o determinismo tecnolgico. Uma leitura mais cuidadosa com respeito operao dos mecanismos de aprendizagem, busca e seleo deve, segundo entendemos, prevenir tal erro de interpretao.

carter at certo ponto estocstico para a ocorrncia ou no de sucesso na tentativa de inovar. No entanto, observam ainda os autores sua adeso ao lamarckianismo para efeito de desenvolver a analogia biolgica: no apenas os caracteres adquiridos podem ser herdados, por aprendizado ou imitao, como tambm situaes adversas

podem provocar variao e mutao esporadicamente (Possas, 1996, p. 161). 7 Toda a argumentao sobre o carter no randmico da inovao pode levar a um erro de interpretao, que consiste na identificao da anlise neo-schumpeteriana com um tratamento que privilegiaria exclusivamente uma lgica

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moto interno est mais relacionado aos limites das capacidades cognitivas dos agentes envolvidos no processo de busca do que propriamente a uma autodeterminao tecnolgica, uma vez que as atividades de busca sofrem influncia no apenas do conjunto de conhecimentos detidos por engenheiros e tcnicos e por sua capacidade de compreenso dos problemas em foco, mas at mesmo de suas crenas sobre o que factvel ou sobre o que pode ser experimentado. Esse aspecto cognitivo do processo de busca fundamental no conceito de regime tecnolgico de Nelson e Winter (1977). O conceito de regime tecnolgico retomado por Dosi (1982), que sugere, em analogia com as contribuies sobre a estrutura das revolues cientficas proposta por Kuhn, a noo de paradigma tecnolgico que definido como um modelo ou um padro de soluo de problemas tecnolgicos selecionados, formulados com base em princpios derivados das cincias naturais, por meio do emprego de tecnologias materiais selecionadas. Aqui, novamente, o que temos chamado de moto interno da mudana tecnolgica tambm tem nas limitaes cognitivas dos agentes envolvidos no processo de busca um fator determinante:Os paradigmas tecnolgicos tm um poderoso efeito de excluso: os esforos e a

imaginao tecnolgica dos engenheiros e das instituies em que eles se inserem esto focalizados em direes bastante precisas, estando eles por assim dizer cegos com respeito a outras alternativas tecnolgicas (Dosi, 1982, p. 153).

Podemos dizer que uma caracterstica importante de um paradigma tecnolgico que existe uma estrutura cognitiva que envolve a forma de interpretao do problema e os princpios empregados para sua soluo a qual partilhada por toda a comunidade tecnolgica e pelos agentes econmicos e com base na qual procuram-se melhorias em eficincia de processo e desempenho de produto. Mais uma vez til enfatizar que, ao colocar o problema dos limites das capacidades cognitivas dos agentes, a abordagem neo-schumpeteriana contribui para o rompimento com a viso neoclssica da racionalidade substantiva dos agentes econmicos. A limitao das capacidades cognitivas dos agentes constitui a razo fundamental da incorporao, pela abordagem neoschumpeteriana, da hiptese da racionalidade processual (procedural racionality).8 A importncia da dimenso cognitiva na abordagem neo-schumpeteriana coloca a aprendizagem que tem lugar, como j mencionamos, no desenrolar das rotinas como elemento chave na compa-

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Ver nota n 2 deste artigo.

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9 Em suas diversas modalidades: learning by doing, learning by using, learning by interacting... 10 Exemplos desses trade-offs so arrolados por Dosi (1988). Na tecnologia de aeronaves, a relao entre variveis como a potncia, o peso bruto para decolagem, a velocidade cruzeiro e a distncia cruzeiro; na tecnologia microeletrnica, as relaes entre a densidade dos chips, a velocidade de computao e o custo por bit de informao. 11 A respeito do conceito de projeto dominante, consultar Utterback (1996).

tibilizao da diversidade dos conhecimentos individuais dentro de uma organizao, conferindo coerncia a suas decises.9 Definidos os problemas tecnolgicos, os princpios cientficos e as tecnologias materiais para sua soluo isto , os determinantes do paradigma tecnolgico , cabe indagar sobre a direo que tomaro essas solues, ou seja, a direo do progresso tcnico. Dentro de um paradigma tecnolgico, existe um padro de atividade normal de soluo de problemas, isto , de progresso dentro [desse] paradigma (Dosi, 1982, p. 152), a que o autor chama de trajetria tecnolgica. Segundo ele, uma trajetria tecnolgica determinada por um paradigma e pode ser definida como uma atividade normal para soluo de problemas. Ela pode ser representada por um movimento com base na soluo de trade-offs entre variveis definidas como relevantes pelo paradigma. A noo de progresso, atenta Dosi (1982), precisamente relacionada ao aperfeioamento desses trade-offs. Assim, a existncia de padres relativamente organizados de inovao explicada por Dosi (1988) pela busca do aperfeioamento de trade-offs tcnico-econmicos. Essa busca especfica explicada valendo-se da prpria forma de organizao do conhecimento tecnolgico segundo

paradigmas, o que faz, de acordo com o autor, com que as atividades de inovao tendam a ser seletivas, realizadas em direes bastante precisas e cumulativas no que diz respeito aquisio de capacitaes para soluo de problemas.10 O aperfeioamento desses tradeoffs pode ser compreendido como o aperfeioamento de um projeto dominante.11 H, pois, possibilidades de continuidade do desenvolvimento tecnolgico que so, em geral, bem percebidas pelos engenheiros e tcnicos. Como afirma Rosenberg (1982), o conhecimento tecnolgico cresce de forma dependente do conhecimento acumulado anteriormente trata-se da caracterstica de path-dependence da construo desse conhecimento e das prprias trajetrias tecnolgicas. Os efeitos da acumulao do conhecimento no desenvolvimento de tecnologias sobre a conformao de certos padres de mudana tecnolgica podem ser compreendidos com base no conceito de rendimentos crescentes de adoo, de David (1985). Examinando a expanso histrica da adoo do teclado QWERTY para mquinas de escrever, David (1985) observou o auto-reforo ao qual esto sujeitas as escolhas tecnolgicas em razo dos rendimentos crescentes de adoo derivados da ampliao da adoo.

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Embora esse teclado talvez no representasse a melhor possibilidade para o conforto e a rapidez da atividade de datilografia, o treinamento e a qualificao de datilgrafos para o seu uso contribuiu para sua padronizao nas mquinas de escrever. Por sua vez, essa padronizao fez crescer o interesse pela aquisio de qualificao e treinamento nesse tipo de teclado. Esse auto-reforo, segundo sugere o autor, um fenmeno que pode levar ao aprisionamento (fenmeno a que deu nome de lock-in) do progresso tecnolgico em determinadas solues, as quais no se revelam necessariamente como as mais desejveis. A histria do teclado QWERTY, como narrada por David (1985), revela como eventos histricos podem influenciar os rumos da mudana tecnolgica, levando ao aparecimento desses fenmenos de lock-in. Alm de estarem relacionadas (e apresentarem interdependncias) quanto evoluo da qualificao dos usurios, as tecnologias no se desenvolvem isoladamente. Existem, tambm, interdependncias tcnicas. No mais das vezes, as tecnologias se organizam na forma de sistemas tecnolgicos que articulam diversos componentes. Conforme sustenta Rosenberg (1976), uma tecnologia feita de componentes ou partes inter-relacio-

nadas que definem as caractersticas tcnicas de um produto e sua produo. A interdependncia entre os componentes de uma tecnologia (ou sistema tecnolgico) confere a ela certa rigidez: muitas vezes no possvel fazer alteraes isoladas em um componente sem comprometer sua compatibilidade com a totalidade do sistema. Para David (1985), uma padronizao prematura pode ser o resultado da emergncia de solues que se apresentam cedo demais, na presena de certas condies, como interdependncias tcnicas, economias de escala e irreversibilidade gerada por efeitos de hbito e aprendizagem. Admitir a interdependncia entre as tecnologias o fato de que tcnicas, equipamentos e o conhecimento necessrio para oper-los esto inter-relacionados de modo sistmico implica aceitar a impossibilidade de constituio isolada de uma tecnologia. As tecnologias esto, por assim dizer, imersas em um contexto com dimenses tecnolgicas, sociais e econmicas. Assim, por exemplo, ao falar de sistemas tecnolgicos, Freeman (1991) relaciona a constelao (cluster) de inovaes em materiais sintticos, inovaes petroqumicas e inovaes em equipamentos

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12 Patrimnio tecnolgico conceito anlogo ao de base de conhecimento, de Nelson e Winter (1982), que se refere a um conjunto que envolve um cdigo de linguagem, uma gama de conhecimentos tcnicos e uma experincia.

para manufatura de plsticos introduzidos na dcada de 1930. Essas inovaes, inter-relacionadas, fazem parte do sistema tecnolgico da indstria petroqumica. Da mesma maneira, a automatizao eltrica de bens de consumo durveis domsticos est presente em uma constelao de inovaes (como os aparelhos liquidificadores e batedeiras eltricas), que no envolvem apenas inter-relaes tcnicas, mas tambm abarcam interdependncias econmicas e inovaes organizacionais. Um exemplo fornecido pelo autor a cristalizao do hbito do consumidor do uso dos sistemas de crdito na compra de bens durveis. Por outro lado, uma vez realizada uma mudana compatvel com o sistema, torna-se impossvel o retorno situao anterior. Assim, o conceito de trajetria tecnolgica, alm de path-dependent, implica irreversibilidade, isto , uma vez alcanada nova posio ou novo patamar no progresso da trajetria, no existe possibilidade de volta situao anterior. Uma razo essencial para o fenmeno da irreversibilidade, segundo Willinger e Zuscovitch (1993), est na transmisso de certo patrimnio tecnolgico que corresponderia noo de patrimnio gentico, para usar mais uma vez a analogia biolgica de uma a outra gerao.12

Alis, o esforo de preservao desse patrimnio pode ser compreendido como fonte de certa rigidez das trajetrias tecnolgicas, quando as organizaes se comportam de modo a preservar seu status quo. Comportamentos desse tipo no esto em desacordo com a lgica da valorizao do capital, que subsume ao processo concorrencial. Pelo contrrio, trata-se de uma averso ao risco que coerente com a tentativa de preservar as posies j alcanadas pela organizao, por meio da proteo de seus recursos no estado em que se encontram evitando tanto quanto possvel, portanto, quaisquer mutaes e tentando continuar usufruindo da rentabilidade oferecida por esses recursos/ativos at ento. Um tal esforo de preservao de seus ativos contribui para a inrcia de uma organizao. Os conceitos apresentados, de inrcia organizacional, de path-dependence, cumulatividade, irreversibilidade e lock-in, so articulados pela abordagem neoschumpeteriana para o entendimento da dinmica tecnolgica e so consistentes com a idia de que existem certos padres no progresso tecnolgico. De fato, temos salientado at aqui os aspectos da mudana tecnolgica que se associam de forma particular sobrevivncia e ao aperfeioamento de determinadas solu-

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es. Seria um engano, entretanto, supor que a existncia de padres tenha como conseqncia a homogeneidade ou que ela pressuponha continuidade. Quando mencionamos anteriormente que as rotinas no so todas equivalentes, explicitamos que no existe uma homogeneidade nos processos de busca. Ao contrrio, as aes envidadas no mbito desses processos so movidas por uma lgica que pautada pela criao de diversidade, isto , de mutaes. Assim, quando se fala em evoluo no se trata de um processo obrigatoriamente contnuo, uma vez que o evolucionismo econmico no implica exclusivamente uma perspectiva de mudanas graduais, mas coerente com alteraes abruptas, rupturas, revolues. Da mesma forma que o evolucionismo biolgico, ele admite descontinuidades, fenmenos aos quais os neo-schumpeterianos se referem como mudanas de paradigma. A posio central que a inovao ocupa no processo de desenvolvimento econmico uma idia presente na abordagem neo-schumpeteriana que emprestada, como j afirmamos, de Schumpeter, que a interpreta em seu livro de 1912, A Teoria do Desenvolvimento Econmico, como fonte interna do dinamismo do sistema econmico e que a identifica, em

sua obra de 1942, Capitalismo, Socialismo e Democracia, como motor de uma incessante competio intercapitalista.13 Portanto, o que leva as organizaes a empreender os arriscados processos de busca e a engendrar as condies de ruptura com solues tecnolgicas precedentes , antes de mais nada, a busca pela criao de posies diferenciadas nos mercados, a busca pela valorizao contnua de seus recursos. Mais do que a busca pela sobrevivncia, trata-se aqui de uma busca por desequilbrios, pela construo permanente de assimetrias. A competio capitalista que fundamenta a lgica do comportamento inovativo fonte da diversidade , por sua vez, fator necessrio para a operao do mecanismo de seleo.13 Em Capitalismo, Socialismo e Democracia, Schumpeter critica a noo walrasiano-marshalliana de concorrncia, opondo-se aos tericos da concorrncia perfeita. Para Schumpeter (1984), na anlise da concorrncia perfeita, as firmas pequenas e em grande nmero tentam apenas administrar a estrutura. Em sua interpretao, porm, as inovaes so os instrumentos da verdadeira concorrncia, o confronto entre firmas nas quais se desenvolve a atividade

empresarial (relativa a empresrio no sentido schumpeteriano). Nesse confronto que se d a destruio criativa, que bombardeia as estruturas industriais vigentes. De acordo com Schumpeter, o sistema capitalista possui um carter essencialmente progressista, evolutivo e no estacionrio. H, portanto, um processo de inovao industrial que revoluciona a estrutura econmica a partir de dentro, incessantemente, destruindo a velha estrutura e criando a nova.

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2.3_ Mecanismo de seleo na economia neo-schumpeteriana

Assim, ao lado da existncia de fatores que proporcionariam um moto interno mudana tecnolgica, Nelson e Winter (1977) advertem para a importncia de fatores no tecnolgicos e mesmo extra-econmicos para o direcionamento do progresso tcnico.14 Deve ficar claro que, estando presentes nos ambientes em que atuam as organizaes, esses fatores influenciam desde logo a heurstica de seus processos de busca. H, entretanto, outra instncia de atuao desses fatores externos no direcionamento do progresso tcnico, que fica evidente quando os autores propem o conceito de ambientes seletivos. A idia de ambientes seletivos pertence interpretao neo-schumpeterianaA complexidade de fatores externos no , dessa forma, deixada de lado pela anlise neo-schumpeteriana, tendo sua relevncia sido ressaltada por outros autores, como Dosi (1988), que sublinha a importncia de causas externas mais amplas para a busca, desenvolvimento e adoo de novos processos e produtos, tais como: o estado da arte nos campos cientficos, os meios disponveis para14

comunicao de conhecimento, a oferta de capacitaes tecnolgicas e de qualificaes, as condies ocupacionais, as prprias condies de mercado, as possibilidades de financiamento, as tendncias macroeconmicas e as polticas pblicas. 15 Para um maior detalhamento, consultar Dosi (1988).

segundo a qual existem mecanismos de seleo que agem sobre os genes (rotinas, processos de busca, ativos e competncias) e sobre as mutaes (inovaes). Esses mecanismos, agindo como filtro que seleciona entre diferentes evolues possveis, so constitudos por fatores, como aqueles indicados por Possas (1999), que formam o ambiente seletivo no qual as firmas atuam. Por um lado, h o ambiente seletivo de mercado, composto pela presso competitiva das firmas que nele atuam, dos potenciais concorrentes e das condies da demanda, que pode chancelar ou no os esforos de inovao, validando-os ou no pelo mecanismo de troca. Por outro lado, h o ambiente no mercantil, composto pela atuao do Estado e de outras instituies cuja ao pode ou no sancionar aqueles esforos.15 Assim, para ser fiel tradio neo-schumpeteriana, preciso reconhecer que existe uma multiplicidade de ambientes seletivos, caracterizados por elementos que exercem diferentes foras seletivas e que no se resumem ao mercado. Uma maneira interessante de interpretar essa multiplicidade sugerida por Possas (1999), que organiza os elementos do ambiente seletivo em seis categorias:

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1. elementos econmicos da estrutura do mercado (como o grau de concentrao, principais competidores, vantagens detidas por cada um deles, caractersticas dos insumos disponveis e dos setores que os fornecem, qualificao da mo-de-obra, tamanho do mercado, preferncias dos consumidores, fontes e formas de financiamento disponveis); 2. elementos da situao macroeconmica (como taxa de cmbio, taxa de juro, situao das contas pblicas, situao do balano de pagamentos e nvel de utilizao da capacidade); 3. elementos de natureza polticojurdico-institucional, que abrangem as leis e normas que regulam a atividade econmica e as instituies que as executam (esta categoria inclui, por exemplo, impostos, tarifas, subsdios, legislao ambiental, trabalhista, previdenciria, comercial, bancria, de direitos dos consumidores, de propriedade industrial e de regulao da concorrncia , normas tcnicas, polticas de fomento a setores ou regies especficos, polticas de suporte inovao,

instituies de apoio pesquisa e polticas de compra do governo); 4. elementos do meio ambiente natural (como clima, solo, flora, fauna, relevo, hidrografia, riquezas naturais, densidade demogrfica e pirmide etria); 5. elementos de carter social (como distribuio de renda e riqueza, nveis educacionais, relaes de trabalho, sindicatos e associaes patronais e de trabalhadores e formas de relaes e interao predominantes entre fornecedores e usurios); 6. elementos de carter cultural (como lngua, histria, religio e valores, festas e prazeres, hbitos alimentares, regras de etiqueta e convenes de costume, manifestaes artsticas e relaes interpessoais). A autora salienta ainda que esses elementos que caracterizam o ambiente seletivo so mutveis e, muitas vezes, at efmeros, fato que confere ao processo de seleo uma feio eminentemente histrica (Possas, 1999, p. 136). A seleo de variaes ocorre exante e ex-post. A seleo ex-ante sobrevm quando as firmas antecipam a seleo que pode ser feita ex-post por seu ambiente seletivo. Essa seleo tem lugar quan-

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16 Assim que o grau de concentrao, a disponibilidade de insumos e seus preos, o tamanho do mercado, os padres de linhas de produtos que vieram a se impor, as trajetrias tecnolgicas trilhadas etc. so fruto do processo concorrencial anterior (Possas, 1999, p. 138). 17 Por exemplo, os gastos em propaganda com a finalidade de alterar as preferncias dos consumidores, os programas de treinamento de mo-de-obra, a preparao de fornecedores. Tambm atravs de sua articulao poltica podem influir nas normas regulatrias ou na atuao governamental (Possas, 1999, p. 138).

do a firma faz escolhas de heursticas ou regras de deciso com base numa antecipao do que julga ser adaptado (fitted) s presses seletivas que espera encontrar. A idia de seleo ex-ante consistente com o fato de que busca e seleo no constituem fenmenos estanques. Pelo contrrio, como argumentam Nelson e Winter (1982), a deciso de desenvolver uma inovao depende de caractersticas do ambiente seletivo, que, por sua vez, sofre influncia da mudana tecnolgica. Existe a percepo, portanto, de uma co-evoluo entre a mudana tecnolgica e o ambiente seletivo. A seleo ex-post ocorre quando produtos e processos elaborados com base naquele conjunto de heursticas so chancelados pelo mercado e pelas instncias seletivas no mercantis. Possas (1999) concorda com Nelson e Winter (1977), considerando que existe uma retroalimentao (feedback) entre ambiente seletivo e as atividades (como as de P&D) de uma firma, e adverte que o ambiente seletivo no pode ser considerado como completamente exgeno, enumerando duas razes para tanto. A primeira delas decorre do fato de que a conformao desses elementos (as feies do processo seletivo) surge como resultado de todo processo concorren-

cial pregresso, tanto no mercado particular em questo quanto no conjunto da economia.16 A segunda razo deve-se constatao de que as decises privadas procuram, com freqncia, alterar esses elementos a seu favor.17 Entretanto, a conformao do ambiente seletivo no pode ser completamente endogeneizada, uma vez que a capacidade dos agentes em influenciar em sua conformao no , apesar de seus esforos, ilimitada. Reconhecemos, ento, que o processo seletivo fator determinante na orientao da inovao no apenas tecnolgica, mas entendida no sentido schumpeteriano, como novos produtos, novos processos, novos mercados, novas fontes de matrias-primas e novas formas organizacionais. No se deve depreender, da, que esse reconhecimento equivale a adotar a perspectiva conhecida por demandpull, uma vez que, como vimos, o ambiente seletivo no deve ser reduzido s preferncias dos consumidores e s caractersticas da demanda. Alm disso, as caractersticas do ambiente seletivo determinam, ainda como argumenta Possas (1999), o ritmo do prprio processo seletivo. Tal ritmo positivamente influenciado tanto pela presena nesse ambiente de organizaes com estratgias agressivas (que pressio-

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nam os concorrentes a manterem ritmos acelerados de renovao de suas posies) como pela existncia de instituies governamentais de apoio pesquisa e inovao. Importa dizer que o mecanismo de seleo que descrevemos opera sobre as estratgias formuladas com base nos processos de busca (das quais no inteiramente independente), influenciando fortemente no apenas o paradigma tecnolgico que ir vigir, mas tambm a formao da prpria estrutura do mercado (pela qual tambm influenciado). Desse modo, o processo de seleo possui, dentro da abordagem neo-schumpeteriana, natureza cambiante e funciona como espcie de mecanismo de transmisso entre as estratgias das firmas e a estrutura de mercado. Portanto, o fato de que a dinmica tecnolgica constitui um fenmeno fundamentado em rotinas e trajetrias tecnolgicas estruturadas em processos de busca em ambientes de incerteza leva existncia, ao mesmo tempo, da possibilidade, ou da promessa, da inovao e do risco da inrcia. A promessa da inovao a perspectiva de que mudanas mais ou menos radicais podem levar a uma evoluo dos sistemas produtivos e, assim, superao de dificuldades tcnicas

e econmicas que se colocam soluo de problemas. A possibilidade da conquista de posies diferenciadas no mercado por meio da inovao garante que sempre existam organizaes dispostas a fazer as apostas (investimentos) necessrias para que as promessas (de inovao) tambm continuem existindo. A possibilidade de que tais apostas resultem em fracassos por um lado, graas ao fato de que os resultados tcnicos e econmicos que podem advir das inovaes so, em grande medida, imponderveis e, por outro lado, em razo da prpria averso ao risco por parte de algumas organizaes pode conduzir a uma espcie de bloqueio inovao, contribuindo para a inrcia ou para a permanncia das solues tecnolgicas estabelecidas.

3_ Desenvolvimentos neo-schumpeterianos recentes: para alm das analogias biolgicas preciso reconhecer, desde logo, que as bases do questionamento do uso to difundido das analogias biolgicas podem ser encontradas j h algum tempo. Freeman (1991), por exemplo, ponderando sobre as divergncias entre a evoluo biolgica e a social, sustenta que:

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Uma dessas diferenas se refere interao entre o ambiente seletivo e as mutaes que emergem e sobrevivem. Outra se relaciona natureza proposital da interao deste ambiente com os indivduos e as instituies sociais que cultivam e desenham, deliberadamente, certos tipos de mutao (Freeman, 1991, p. 217).18

A crtica de Edith Penrose, de 1952 apud Freeman (1991) ao uso de analogias biolgicas pela Economia, ainda mais distante no tempo, reputada como das mais devastadoras: ela atacou as analogias entre o crescimento de plantas (e animais) e o crescimento de firmas. Tambm Schumpeter, segundo lembra o autor, era contrrio ao uso dessas analogias biolgicas. 19 Com respeito a este debate, consultar, por exemplo, Foster (2000), Metcalfe, Fonseca e Ramlogan (2000 e Hodgson (2002).18

Nos ltimos anos, muitos neoschumpeterianos seguiram um rumo que, por um lado, contrape os fenmenos econmicos da competio, inovao e crescimento a seus anlogos biolgicos e, por outro, compartilha com eles os mesmos fundamentos epistemolgicos.19 Metcalfe, Fonseca e Ramlogan (2000) expem duas razes para o distanciamento do fenmeno evolutivo em Economia e em Biologia. A primeira razo diz respeito ao fato de que, nos processos econmicos, a demarcao entre unidades de seleo e ambientes seletivos mais fluida do que nos processos biolgicos. O que unidade de seleo para determinado nvel de anlise torna-se ambiente seletivo em outro. Quando se trata do processo concorrencial interfirmas, a unidade de seleo a firma propriamente dita. Quando consideramos o processo de desenvolvimento interno da firma, da gerao de competncias e de rotinas, ento a firma passa a ser o ambiente seletivo, ao passo que as

referidas competncias e rotinas passam a ser as unidades de seleo. A segunda razo est relacionada intencionalidade dos agentes no caso da evoluo dos fenmenos econmicos. Os agentes econmicos, pelo fato de serem dotados de memria e expectativas, de capacidade de introspeco e inferncia, so capazes de avaliar resultados passados do processo seletivo ao qual esto sujeitos e de se antecipar a seus futuros desdobramentos. Sobretudo, como ressaltam Metcalfe, Fonseca e Ramlogan (2000), esses agentes ainda que constrangidos por sua racionalidade limitada so capazes de agir estrategicamente, modelando a seu favor o ambiente seletivo (ou ao menos tentando faz-lo). fato, portanto, que a economia neo-schumpeteriana reconhea a natureza distinta dos fenmenos evolutivos em Biologia e em Economia. Ao lado disso, porm, ela tambm tem reconhecido que esses dois campos do conhecimento se deparam com questes semelhantes do ponto de vista epistemolgico, a partir do momento em que ambos caracterizam seu objeto de anlise como sistemas que evoluem e que lanam mo de um mesmo arrazoado para elucidar o modus operandi do processo evolutivo subjacente a seus respectivos sistemas (biolgico e econmico).

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Foster (2000) um dos economistas que tm enfrentado a complexa tarefa de desvendar os caminhos do pensamento evolucionista em ambas as reas. Tendo adentrado o debate evolucionista, tanto no campo da Biologia quanto no da Economia, o autor busca explicar o percurso do desenvolvimento recente de ambas as reas de conhecimento. O essencial, segundo argumenta, seria desvendar o que est por trs do fenmeno da evoluo, tanto em uma quanto em outra rea. O que est por trs da evoluo questo um tanto intrigante: vimos, anteriormente neste artigo, que o fenmeno da seleo age sobre uma base de variao (genes na Biologia e, digamos, competncias e rotinas na Economia). O resultado do processo seletivo, entretanto, implica a reduo da variedade! A evoluo consome seu prprio combustvel (Lewontin apudSeria desnecessrio dizer e ademais j o fizemos anteriormente que a considerao das relaes entre diversidade e seleo no alheia tradio neo-schumpeteriana. interessante lembrar com o auxlio de Possas (1988) que, nessa tradio, a diversidade assume diferentes aspectos: Uma primeira manifestao, de carter essencialmente20

Metcalfe, Fonseca e Ramlogan, 2000). Explicar a origem (e conseqncias) da diversidade torna-se, portanto, tarefa central em qualquer programa de pesquisa terica evolucionista biolgica ou social.20 Assim, embora distinga a evoluo dos sistemas biolgicos da dos sistemas econmicos, Foster (2000) defende a idia de que existe um fenmeno comum aos processos evolutivos em geral. Para elucidar a gerao de nova variedade, esse autor identificou a tendncia, tanto no desenvolvimento do pensamento biolgico quanto no econmico (no caso, em particular, as contribuies recentes neo-schumpeterianas), da busca de fundamentao no chamado fenmeno da auto-organizao, ao qual o autor faz referncia em duas situaes. Em primeiro lugar, ele observa que a Biologia evolutiva fonte das analogiasdiversidade de origem tcnico-econmica entre firmas refere-se variedade tecnolgica, entendida como diferenas no necessariamente hierarquizveis, como no caso anterior, mas que correspondem a especificidades da acumulao de conhecimentos tecnolgicos, ao uso de insumos e linha de produtos das firmas. Finalmente, o terceiro aspecto consiste nas diferenas de procedimentos e critrios da firma em face dos processos de deciso quanto a preos, investimento especialmente em P&D, em quantidade e qualidade e s rotinas bsicas em que se traduz a estratgia da firma, a diversidade comportamental, em suma (Possas, 1996 p. 169).

tcnico, consiste nas assimetrias tecnolgicas entre as firmas de uma indstria. Trata-se das diferenas entre firmas que dizem respeito capacidade tecnolgica para inovar; aos distintos graus de sucesso na adoo e desenvolvimento de inovaes de produtos e processos; e s estruturas de custo. [...] Um segundo aspecto importante relativo s fontes de

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21 Note-se, conforme explica Georgescu-Roegen (1995), que um sistema dito aberto se ele pode trocar matria e energia com seu ambiente. Ao contrrio dos sistemas fechados, em que o grau de entropia apenas pode crescer ao longo do tempo, nos sistemas abertos (particularmente nos sistemas vivos ou biolgicos estudados particularmente por I. Prigogine) a entropia pode decrescer. Embora reconhea o interesse do estudo desses sistemas, o autor adverte que a aplicao do conhecimento sobre esses sistemas s questes econmicas deva ser extremamente prudente (Georgescu-Roegen, 1995, p. 155).

selecionistas da economia neo-schumpeteriana abraa a noo de auto-organizao como um dos elementos de explicao da evoluo ordenada dos sistemas vivos e da prpria gerao de variedade. Como decorrncia, o autor pondera que a incorporao do raciocnio evolutivo pela Economia deve considerar, logicamente, as implicaes desse fenmeno para sua prpria teorizao evolucionista sem que isso signifique sujeio nova analogia biolgica. Em segundo lugar, o autor defende que a viso do prprio Schumpeter portadora de elementos compatveis com uma abordagem auto-organizadora especificamente econmica, cujo pleno desenvolvimento um desafio aberto economia neoschumpeteriana. Vamos abordar essas duas situaes nas prximas subsees.3.1_ Auto-organizao e variedade na Biologia evolutiva

A primeira situao, como j mencionamos, a considerao do fenmeno da auto-organizao como elemento de explicao do processo evolutivo biolgico. Para um economista, compreender os caminhos trilhados pelo pensamento evolucionista em Biologia pode parecer uma tarefa assustadora, o que

Foster (2000) reconhece de pronto, mas ela pode nos auxiliar em parte assegura ele a esclarecer os passos que a economia neo-schumpeteriana pode dar num futuro prximo. O autor adverte que o evolucionismo biolgico (neo-darwinista) se apegou, durante grande parte do sculo XX, noo newtoniana de equilbrio. Enquanto a Qumica e a Fsica (a termodinmica, em particular) se lanavam ao estudo dos sistemas abertos e suas propriedades, caracterizados por estruturas dissipativas, que se distanciam de situaes referidas como equilbrio (newtoniano), os neodarwinistas relutavam em abandonar essa noo de equilbrio.21 Nesse sentido, Foster (2000) argumenta que os neodarwinistas continuaram por muito tempo apegados quela idia de equilbrio, mesmo depois de o bilogo Ronald Fisher ter remodelado a idia de seleo natural na dcada de 1930, abandonando a idia de equilbrio newtoniano de balano de foras em favor de uma redefinio termodinmica de equilbrio como estado em que todas as mudanas estruturais cessam (propondo a maximizao da adaptao como referncia ao estado de entropia mxima, da termodinmica). Uma das razes desse apego poderia ser atribuda, de acordo com Foster

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(2000), a uma espcie de obstculo epistemolgico, caracterizado pelo fato de que os neodarwinistas se dedicavam, tradicionalmente, anlise dos resultados da seleo (por exemplo, quanto a seus aspectos morfolgicos e funcionais) e no propriamente do processo seletivo e, sobretudo, no se debruavam sobre a questo da diversidade gentica. Um tanto ironicamente, o autor sugere que a aceitao da necessidade de examinar essa questo:Moveria a biologia de maneira ameaadora dos botnicos e zologos para os geneticistas, numa diferente tradio cientfica (Foster, 2000, p. 315, grifo nosso).

tente das coisas. A ordem pode ser considerada como uma seqncia, ou uma sucesso, no espao e no tempo. A ordem biolgica tudo isso e, mais especialmente, uma seqncia no espao e no tempo (Lwoffapud Babloyantz e Goldbeter, 1985, p. 1178).

O olhar de botnicos e zologos, dirigido para o estudo dos resultados do processo seletivo, como por meio da anlise da morfologia e das funes dos seres vivos (inclusive com suas preocupaes taxonmicas), ilustra bem o que o autor chama de obstculo epistemolgico: trata-se de investigar o fruto do processo evolutivo e no seus condicionantes. Mas, ao fazerem esse tipo de estudo, os bilogos tocam numa questo fundamental: a ordem que emerge do processo evolutivo. Em seu livro intitulado Lordre biologique, A. Lwoff escreveu:Um certo aspecto da ordem o arranjo determinado presente na constituio exis-

precisamente essa ordem que permeia a idia de evoluo na Biologia, uma vez que est associada a um crescimento na organizao dos sistemas vivos e na formao de estruturas progressivamente mais complexas. No desenvolvimento da Biologia evolutiva, um problema, que por certo tempo no encontrou soluo, consistia em tornar a emergncia da ordem observada compatvel com as grandes leis da Fsica, em particular s leis da termodinmica, que prevem que um sistema isolado (fechado) caminha no tempo rumo desordem (alta entropia). Pensou-se, por isso, durante algum tempo, que a vida a organizao biolgica no poderia ser descrita a partir das leis da Fsica. Ora, um sistema vivo no isolado: ele constitui um sistema aberto e, atualmente, grande parte dos bilogos consideram que basta aplicar as referidas leis fsicas ao conjunto ambiente mais organismo, de modo que:[...] a idia de que a vida pudesse violar uma lei natural no tem lugar na cincia.

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Ao contrrio, como se notou [...] recentemente na exposio notvel dErwin Schrdinger [...], a vida parece escapar degradao entrpica qual submetida a matria inerte. Na realidade, todo organismo vivo se esfora incessantemente em compensar sua prpria degradao entrpica contnua assimilando a baixa entropia e expulsando a alta entropia(Georgescu-Roegen, 1995, p. 84).

22 Embora compreendamos que esta concepo esteja suficientemente clara no texto de Foster (2000), no parece ser esta a leitura de Hodgson (2002), que abraa o Darwinismo como uma metateoria universal, dentro da qual todas as teorias evolutivas deveriam se aninhar. 23 A anlise de processos de auto-organizao temporal recentemente lana luz sobre a possibilidade de oscilaes biolgicas (e fsico-qumicas) no peridicas. Esse tipo de comportamento dos sistemas abertos possui carter aleatrio e, por essa razo, denominado caos.

Trata-se aqui das chamadas estruturas dissipativas a que nos referimos mais acima, que caracterizam sistemas abertos e que tm certa capacidade de transferir ou exportar sua degenerao entrpica para seu ambiente: absorvendo matria e energia na forma qumica de baixa entropia (alimentos) e liberando matria e energia na forma de alta entropia (resduos e calor). Operando dessa forma, tais estruturas podem contribuir para estabelecer a ordem biolgica que se manifesta espacial e temporalmente. Mas como essa ordem se estabeleceria? O exame do avano recente do pensamento evolucionista em Biologia permitiu a Foster (2000) identificar a tendncia dessa cincia a integrar o conceito de auto-organizao noo de seleo natural para definir uma nova Biologia Evolutiva. Nenhum dos dois conceitos explicaria per se o fenmeno da evoluo em Biologia.22 Enquanto a auto-organiza-

o explicaria o moto interno da gerao da diversidade, a seleo natural explicaria sua reduo e ambos os processos so considerados, desde logo, no estanques. Os fenmenos de auto-organizao mais comuns citados em estudos de Biologia nesse campo incluem, de um lado, o aparecimento de mltiplos estados estacionrios e, de outro, a evoluo rumo a um regime de oscilaes que se retroalimentam, correspondentes a um ciclo em torno de um estado estacionrio instvel. So incontveis os exemplos da Biologia para esse fenmeno de autoorganizao, envolvendo fenmenos to diversos quanto o ciclo da gliclise, a agregao de formas unicelulares sociais, a regulao gentica e a embriognese (diferenciao de organismos pluricelulares). So todos fenmenos rtmicos que podem ser interpretados como apario de uma ordem temporal sob a forma de oscilaes que se retroalimentam.23 Em meados dos anos 1990, os estudiosos da evoluo biolgica comearam, de acordo com o autor, a compreender que a auto-organizao mais do que um processo energtico no domnio biolgico, envolvendo tambm a aquisio e o processamento de informao que gera o novo: a variedade sobre a qual a seleo competitiva opera. O processo de auto-orga-

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nizao de um sistema se caracteriza por crescimento e oscilao (no linear) e, ainda, pela criao de uma complexidade organizada. O fenmeno do desenvolvimento (i. e., gerao de variedade) e o de seleo seriam, assim, processos histricos sobrepostos (overlapping historical processes). Em suma, os sistemas vivos tm capacidade muito pronunciada de estocar informaes e de adaptar seu comportamento em virtude de estmulos recebidos do ambiente, fato que os torna aptos a se desenvolver e a sobreviver. Dentre as manifestaes mais corriqueiras, existem os ritmos inatos de periodicidade diversa, alm da gnese de formas espaciais quando do desenvolvimento embrionrio. Em Ecologia e em Gentica, as aplicaes so inmeras. A modelizao matemtica, objeto de esforo concentrado nos ltimos anos, envolve o recurso aos fundamentos da anlise dinmica, com o uso do clculo diferencial no linear.3.2_ Auto-organizao e variedade especificamente econmicas: a intuio de Schumpeter

Schumpeter. Nesse sentido, o autor pergunta a si mesmo se:Poderia ser o caso que, de um modo algo intuitivo, ele tivesse chegado a compreender o carter auto-organizador dos processos evolutivos, em um cenrio econmico, mesmo antes que os processos de autoorganizao fossem reconhecidos na fsica, qumica e biologia? (Foster, 2000, p. 318)

A segunda situao qual Foster (2000) faz referncia , como j dissemos, a existncia de uma abordagem auto-organizadora especificamente econmica, que o autor advoga j estar presente, ainda que intuitivamente, nos escritos den ova Economia_Belo Horizonte_14 (2)_127-155_maio-agosto de 2004

Depois de mergulhar em alguns escritos sobre a auto-organizao nas Cincias Naturais, uma tal questo pode parecer admirvel. Entretanto, mais do que uma questo curiosa, essa a tese do autor. Para que no fiquemos exageradamente surpresos com essa tese, conveniente ressaltar o sentido ontolgico da integrao da noo de auto-organizao pelas Cincias Naturais (Fsica, Qumica e Biologia) e pela Economia (e eventualmente por outras Cincias Humanas): a origem dessa integrao reside no fato de que a auto-organizao propriedade pertinente aos sistemas dissipativos em geral. No se trata, pois, de uma nova analogia seja com a Biologia, seja dessa vez com a termodinmica. nesse sentido que possvel pensar em uma autoorganizao especificamente econmica. E a tese de Foster (2000) consiste na idia de que Schumpeter tinha forte intuio a esse respeito.

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Nos pargrafos abaixo, reproduziremos algumas citaes da obra de Schumpeter, indicadas por Foster (2000), que nos auxiliam a conhecer sua tese. Enfatizaremos alguns pontos da argumentao do autor nos quais ele procura evidenciar a intuio de Schumpeter sobre o carter auto-organizador da evoluo econmica: _ a noo de organizao; _ a idia de que a organizao gerada internamente; _ a distino entre crescimento e desenvolvimento; _ a negao da anlise esttica; _ o abandono da idia de equilbrio newtoniano; _ a identificao da evoluo econmica com um processo no qual o equilbrio est ausente. Em primeiro lugar, vejamos a noo de organizao abraada por Schumpeter: O desenvolvimento, no sentido que lhe damos, definido [...] pela realizao de novas combinaes (Schumpeter, 1988, p. 48). Se aceitamos que a idia de desenvolvimento de Schumpeter est associada evoluo do sistema capitalista, com a emergncia progressiva de formas tcnicas e organizacionais mais sofisticadas ou complexas, temos um primeiro vnculo com a noo de auto-organizao.

Em segundo lugar, notemos que a organizao assim concebida por Schumpeter , de acordo com sua viso, gerada internamente (lembremos que a idia de auto-organizao se refere ao surgimento de uma ordem com base em mecanismos internos ao sistema):Entenderemos por desenvolvimento, portanto, apenas as mudanas da vida econmica que no lhe forem impostas de fora, mas que surjam de dentro, por sua prpria iniciativa (Schumpeter, 1988, p. 47).

Em terceiro lugar, note-se que Schumpeter distingue crescimento de desenvolvimento:[...] desenvolvimento consiste primariamente em empregar os recursos existentes de maneiras diferentes, em fazer novas coisas com eles, independentemente se aqueles recursos cresam ou no (Schumpeter, 1988, p. 50).

Em quarto lugar, Schumpeter nega a utilidade da anlise esttica para a compreenso de processos evolutivos:[A] anlise esttica no apenas incapaz de predizer as conseqncias das mudanas descontnuas na maneira tradicional de fazer as coisas; no pode explicar a ocorrncia de tais revolues produtivas nem os fenmenos que as acompanham(Schumpeter, 1988, p. 46).

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Certamente, as restries que Schumpeter atribui anlise esttica se coadunam com seu questionamento da noo walrasiana (newtoniana) de equilbrio, explicitada, entre outros momentos, quando (finalmente, em quinto lugar em nossa exposio) Schumpeter identifica a evoluo econmica com um processo em que o equilbrio est ausente:O desenvolvimento, no sentido em que o tomamos, um fenmeno distinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendncia para o equilbrio. uma mudana espontnea e descontnua nos canais do fluxo, perturbao do equilbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilbrio previamente existente (Schumpeter, 1988, p. 47).

na subseo anterior, caracteriza-se por oscilaes peridicas, essas tambm esto presentes na anlise de Schumpeter, na forma dos ciclos dos negcios. Em suma, Foster (2000) sustenta que a intuio de Schumpeter sobre o carter auto-organizador da evoluo econmica compreendida a partir do momento em que o autor abandona sua referncia didtica ao equilbrio geral esttico walrasiano e demonstra que processos de mudana evolutiva sem equilbrio so a norma na vida econmica e que h oscilaes em torno das trajetrias histricas no lineares geradas por esses processos. Nas palavras de Schumpeter:[...] assim, nossa posio pode ser caracterizada por trs pares correspondentes de oposies. Primeiramente, pela oposio de dois processos reais: o fluxo circular ou a tendncia para o equilbrio, por um lado, uma mudana dos canais da rotina econmica ou uma mudana espontnea nos dados econmicos que emergem de dentro do sistema, por outro. Em segundo lugar, pela oposio de dois aparatos tericos: o esttico e o dinmico. Em terceiro lugar, pela oposio de dois tipos de conduta, que, seguindo a realidade, podemos descrever como dois tipos de indivduos: os meros administradores e os empresrios (Schumpeter, 1988, p. 58-59).

Ou ainda:[...] o que estamos prestes a considerar o tipo de mudana que emerge de dentro do sistema que desloca de tal modo o seu ponto de equilbrio que o novo no pode ser alcanado a partir do antigo mediante passos infinitesimais. Adicione sucessivamente quantas diligncias quiser, com isso nunca ter uma estrada de ferro(Schumpeter, 1988, p. 47).

Resta ainda dizer que se o fenmeno da auto-organizao, como vimos

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4_ Comentrios finaisAs reflexes desenvolvidas neste artigo dizem respeito construo terica da abordagem neo-schumpeteriana sobre as mudanas tcnica e econmica. Para a compreenso dos caminhos do pensamento econmico nesta abordagem terica, partimos de uma discusso sobre a trade conceitual neo-schumpeteriana que se constri em analogia aos conceitos da Biologia (hereditariedade-variao-seleo) para identificar, a seguir, alguns desenvolvimentos recentes que incorporam a idia de auto-organizao. A incorporao da noo de autoorganizao pela economia neo-schumpeteriana coerente com a crtica dessa corrente de anlise econmica ao mecanicismo newtoniano caracterstico das anlises de equilbrio geral walrasiano. Nesse sentido, trata-se de um enfoque epistemolgico radicalmente diferente das anlises do funcionamento dos sistemas econmicos pelo mainstream. provvel que exista uma complementaridade entre o uso de analogias biolgicas e o recurso idia de sistemas auto-organizadores pela economia neoschumpeteriana. At o momento, as analogias biolgicas empregadas mais como referncia heurstica do que como camisa de fora (Pos-

sas, 1988, p. 173) ofereceram ao longo de muitos anos (e, em muitos casos, ainda tm oferecido) insights para a interpretao do fenmeno da evoluo de sistemas complexos (tais como so os casos tanto na Biologia como na Economia). Assim, essas analogias talvez continuem a ter um papel a representar enquanto no se tenha uma estrutura terica prpria, bem definida, da teoria econmica neo-schumpeteriana. A possibilidade de interao entre o conceito de sistemas auto-organizadores e a trade conceitual neo-schumpeteriana tem levado alguns economistas a propor sugestes para a agenda de pesquisas da economia neo-schumpeteriana. Metcalfe, Fonseca e Ramlogan (2000) sugerem, nessa direo, que:os frutos da interao entre essas diferentes abordagens permanecem por ser elaborados, [...] presumindo que o estudo dos temas do crescimento, inovao e competio prover uma lente apropriada para tanto (Metcalfe,Fonseca e Ramlogan, 2000, p. 14).

Se essa observao deixa entrever questes positivas relevantes para a pauta de pesquisa neo-schumpeteriana, no menos importantes so suas derivaes normativas: embora a existncia de sistemas tecnolgicos e a eventualidade da observao de fenmenos de continui-

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dade possam dificultar a possibilidade de ruptura ou de introduo de uma nova tecnologia (considerada socialmente desejvel, por exemplo), tais sistemas podem, como observa Silverberg (apud Freeman, 1991), reorganizar-se em funo, por exemplo, da ao de polticas pblicas:Ns no estamos sempre livres para fazer o que queremos porque o restante do sistema pode reagir de forma bastante conservadora [auto-preservadora], ou de maneira contra-intuitivamente desastrosa. Por outro lado, mudanas aplicadas de maneira muito astuta por um agente apropriadamente situado, tal como o governo, os movimentos sociais etc., podem conseguir desencadear uma reorganizao completa e autopropagadora do sistema rumo a um estado inequivocamente mais favorvel, o qual poderia no ser atingido por agentes seguindo suas prprias rotinas (Silverberg apud Freeman, 1991, p. 227) .

bastante desafiadora anlise prospectiva neo-schumpeteriana) est associada ao poder de predio de tais modelos. Em primeiro lugar, o tratamento dos processos econmicos como fenmenos evolutivos e auto-organizadores possibilita, segundo Foster (2000), o uso de ferramentas matemticas sobretudo a aplicao do clculo diferencial no linear, mas tambm o arsenal de instrumentos dos jogos evolucionrios24 e, portanto, de maior formalizao da economia neo-schumpeteriana.25 Essas ferramentas permitiriam o tratamento de sistemas complexos, no lineares, pelo relaxamento da hiptese da existncia de um (ou vrios) equilbrio(s) no fenmeno analisado, possibilidade apontada, entre outros por Foster (2000), Metcalfe, Fonseca e Ramlogan (2000) e Possas (1988), que identifica, nesse sentido, os

Tendo em mente esse desafio s possibilidades de interveno, concebidas com base em uma perspectiva terica heterodoxa, gostaramos de pontuar duas implicaes da considerao do fenmeno da auto-organizao para a agenda de pesquisas da economia neo-schumpeteriana. A primeira diz respeito s possibilidades de formalizao da anlise neo-schumpeteriana, enquanto a segunda (que no desvinculada da primeira, mas que certamenten ova Economia_Belo Horizonte_14 (2)_127-155_maio-agosto de 2004

24 Consultar Prado (1999) para a apresentao de um modelo de jogos evolucionrios em que tecnologias competem por uma parcela de mercado, incorporando fenmenos como a sensibilidade dos resultados s condies iniciais, da path dependecye dos efeitos de lock-in.

25 conveniente ressaltar que, ainda segundo Foster (2000), a adequao da Matemtica para representar processos evolutivos tema de um debate ainda aberto, com posies muito distantes de quaisquer consensos, no campo da Biologia. Pode-se esperar igualmente, segundo o autor, amplos debates a esse respeito tambm na Economia.

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O leitor interessado nessas questes pode consultar: Silverberg (1994; 1988).26

trabalhos de neo-schumpeterianos como Silverberg, Dosi e Orsenigo (1988). Nota-se ento que, ao lado das observaes de Foster (2000) sobre a presena intuitiva da noo de auto-organizao nos escritos de Schumpeter, essa noo tem recentemente se tornado objeto de esforo terico e, de maneira notvel, de desenvolvimento formal por parte de autores neo-schumpeterianos.26 Podemos dizer que, apesar das diferenas internas na corrente neo-schumpeteriana, os conceitos, mtodos e resultados da modelagem da dinmica econmica e industrial evidenciam uma compreenso geral que inclui mecanismos de transmisso e retroalimentao entre estratgias e estrutura, criao de diversidade econmica e tecnolgica e processos de seleo. Esse desenvolvimento formal na tradio neo-schumpeteriana se deu como conseqncia de um refinamento de verses discursivas de modelos neo-schumpeterianos via flowcharts at modelos formais computadorizados, com as referidas incorporaes da anlise dinmica e dos jogos evolucionrios. Uma perspectiva de aplicao desses modelos o estudo do desenvolvimento tecnolgico e da evoluo de estruturas industriais.

Em segundo lugar, a idia de se empregar o conceito de auto-organizao para que se compreenda a evoluo dos sistemas econmicos refora a perspectiva do desenvolvimento de um paradigma microeconmico dinmico, como j afirmou Possas (1988), que se coloque, ao mesmo tempo, como alternativo ao mainstream e que no desabe na proposio da indeterminao total. Ao permitir a concepo de que os processos competitivos embora sejam esses necessariamente abertos (open-ended) e estejam envoltos em ambiente de incerteza noprobabilstica sejam caracterizados pela emergncia de ordem ou regularidade, a possibilidade de que tais modelos (caso venham a comprovar sua capacidade analtico-positiva) venham a ter poder prospectivo (de predio) surge como perspectiva a ser explorada. Desenvolvimentos so aguardados nesse campo. No deixam de ser reconfortantes essas implicaes, uma vez que:Abandonar a busca por regularidades [...] envolveria tambm o abandono da tentativa de construir qualquer teoria(Dosi, 1984, p. 105).

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Este artigo foi escrito com base em reflexes conduzidas, em parte, durante a estada dos autores no Bureau dconomie Thorique et Applique (Universit Louis Pasteur, Estrasburgo, Frana). Os autores agradecem Prof. Dr. Ana Maria Fontenele (CAEN/UFC), pelos comentrios durante o VII Encontro Nacional de Economia Poltica, no qual uma primeira verso deste artigo foi apresentada. Imprecises e omisses eventuais so de responsabilidade exclusiva dos autores.E-mail de contato dos autores: [email protected] [email protected]

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