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1 Ano 16, n. 32, outubro 2014 i nforme econômico econômico 2 Editorial Jaíra Maria Alcobaça Gomes e José Natanael Fontenele de Carvalho 4 Análise econômica da produção de queijo coalho no município de Bodocó, Pernambuco Carlos Henrique Miranda de Alencar, Antonio Joandson da Silva, Wesdey de Freitas Barbosa e Eliane Pinheiro de Sousa 11 Indicadores de Sustentabilidade social do assentamento rural Santana Nossa Esperança, em Teresina-PI Clarissa Flávia Santos Araújo, Alyne Maria de Sousa Oliveira e Maria do Socorro Lira Monteiro 22 Crédito rural: uma análise da atuação e características do Pronaf Mulher Elida Lourenço Lima, Tales Wanderley Vital, André de Souza Melo, Vilane Gonçalves Sales e Sylvia Karla Barbosa 30 Análise da territorialidade no Piauí na perspectiva da convergência de renda no período de 1991 a 2010 Hérica Gabriela Rodrigues de Araújo, Ramon Kieveer Barbosa Santos e Roberta Moraes Rocha 39 Potencialidades e limites do desenvolvimento regional sustentável no município de Campina Grande/PB Jennifer Cícera dos Santos Faustino, Janaina Cabral da Silva, Andréa Ferreira da Silva, Maria Luiza Lima Ferreira Peixoto e Ionara Jane de Araújo 50 Inclusão do estado do Maranhão no semiárido brasileiro: justificativas técnicas, econômicas e sociais José de Jesus Sousa Lemos 60 Prospecto econômico da produção de acerola orgânica no distrito de irrigação Tabuleiros Litorâneos do Piauí (DITALPI) Juliete Gomes de Araújo e José Natanael Fontenele de Carvalho 71 Dendê de Valença, Bahia: indicação de procedência Livia Liberato de Matos Reis, Luana Santa Inês Cunha e Vitor de Athayde Couto 83 Responsabilidade socioambiental na concessão do crédito rural do Pronaf: um estudo de caso no Banco do Norteste do Brasil do Piauí Mariane Goretti de Sá Bezerra Leal e Jaíra Maria Alcobaça Gomes 93 Campo ou cidade? um estudo qualitativo sobre as pretensões migratórias de jovens de um assentamento em Mossoró-RN Rosa Adeyse Silva, Pedro Arthur Rodrigues Figueiredo, Karla Kallyana Filqueira Feliz, Ana Beatriz Bernardes Oliveira e Elizabete Stradiotto Siqueira ISSN 1517-6258 Publicação do Curso de Ciências Econômicas/UFPI Ano 16, n. 32 outubro 2014 i nforme Sumário

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1 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

econômico2 EditorialJaíra Maria Alcobaça Gomes e José Natanael Fontenele de Carvalho

4 Análise econômica da produção de queijo coalho no município de Bodocó,PernambucoCarlos Henrique Miranda de Alencar, Antonio Joandson da Silva, Wesdey de Freitas Barbosa eEliane Pinheiro de Sousa

11 Indicadores de Sustentabilidade social do assentamento rural Santana NossaEsperança, em Teresina-PIClarissa Flávia Santos Araújo, Alyne Maria de Sousa Oliveira e Maria do Socorro Lira Monteiro

22 Crédito rural: uma análise da atuação e características do Pronaf MulherElida Lourenço Lima, Tales Wanderley Vital, André de Souza Melo, Vilane Gonçalves Sales e Sylvia KarlaBarbosa

30 Análise da territorialidade no Piauí na perspectiva da convergência de renda noperíodo de 1991 a 2010Hérica Gabriela Rodrigues de Araújo, Ramon Kieveer Barbosa Santos e Roberta Moraes Rocha

39 Potencialidades e limites do desenvolvimento regional sustentável no municípiode Campina Grande/PBJennifer Cícera dos Santos Faustino, Janaina Cabral da Silva, Andréa Ferreira da Silva, Maria Luiza LimaFerreira Peixoto e Ionara Jane de Araújo

50 Inclusão do estado do Maranhão no semiárido brasileiro: justificativas técnicas,econômicas e sociaisJosé de Jesus Sousa Lemos

60 Prospecto econômico da produção de acerola orgânica no distrito de irrigaçãoTabuleiros Litorâneos do Piauí (DITALPI)Juliete Gomes de Araújo e José Natanael Fontenele de Carvalho

71 Dendê de Valença, Bahia: indicação de procedênciaLivia Liberato de Matos Reis, Luana Santa Inês Cunha e Vitor de Athayde Couto

83 Responsabilidade socioambiental na concessão do crédito rural do Pronaf: umestudo de caso no Banco do Norteste do Brasil do PiauíMariane Goretti de Sá Bezerra Leal e Jaíra Maria Alcobaça Gomes

93 Campo ou cidade? um estudo qualitativo sobre as pretensões migratórias dejovens de um assentamento em Mossoró-RNRosa Adeyse Silva, Pedro Arthur Rodrigues Figueiredo, Karla Kallyana Filqueira Feliz, Ana Beatriz BernardesOliveira e Elizabete Stradiotto Siqueira

ISSN 1517-6258

Publicação do Curso de Ciências Econômicas/UFPI Ano 16, n. 32 outubro 2014

informeSumário

2informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

EditorialNesta edição especial, o Informe Econômico publica 10 artigos apresentados durante o

VIII Encontro Nordeste da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural(Sober Nordeste), realizado em Parnaíba (PI), no período de 6 a 8 de novembro de 2013.

O evento foi organizado pelos docentes e discentes dos departamentos de Ciências Econômicas,Ciências Sociais e Administração da UFPI, dos campi de Teresina e de Parnaíba, e do ProgramaRegional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Rede Prodema/UFPI). Com otema “Pluralidades econômicas, sociais e ambientais: interações para reinventar o Nordeste rural”,o evento abrigou seis grupos de trabalho: Cadeias produtivas e arranjos produtivos locais;Comercialização e mercado de produtos agropecuários; Desenvolvimento rural e meio ambiente;Gestão rural e agronegócio; Políticas públicas e pluralidades regionais; e Territórios, ruralidade edesenvolvimento. Dentre os trabalhos inseridos nestes grupos, foi selecionada para publicação umamostra da diversidade do rural nordestino, que poderá ser lido/conhecido por meio dos artigos aquipublicados.

“A territorialidade no Piauí na perspectiva da convergência de renda no período de 1991 a2010”, de Hérica Gabriela Rodrigues de Araújo, Ramon Kieveer Barbosa Santos e Roberta MoraesRocha, sugere haver um processo de convergência tanto absoluta como condicional de renda entreos municípios do estado do Piauí no período analisado.

Em “Indicadores de sustentabilidade social do assentamento rural Santana Nossa Esperança, emTeresina-PI”, Clarissa Flávia Santos Araújo, Alyne Maria de Sousa Oliveira e Maria do SocorroLira Monteiro constataram que a criação do referido assentamento possibilitou uma maiorestabilidade e rearranjos nas estratégias de reprodução familiar dos assentados, os quais resultaramem melhoria das condições de vida, além de maior conhecimento e reivindicação dos direitos dosbeneficiários da política pública da reforma agrária.

No artigo “Produção de acerola orgânica no distrito de irrigação Tabuleiros Litorâneos doPiauí”, Juliete Gomes de Araújo e José Natanael Fontenele de Carvalho verificaram que o cultivode acerola orgânica apresenta taxas de lucratividade e rentabilidade que indicam a estabilidadeeconômica da atividade e sugerem que políticas públicas sejam direcionadas a fim de estimular aprodução de outros insumos orgânicos nesse distrito de Irrigação como forma de garantir aexpansão da agricultura orgânica na região.

Já em “Responsabilidade socioambiental na concessão do crédito rural do Pronaf: um estudo decaso do Banco do Nordeste do Brasil no Piauí”, Mariane Goretti de Sá Bezerra Leal e Jaíra MariaAlcobaça Gomes demonstraram que o Banco do Nordeste do Brasil, no âmbito do Piauí, foi o maioragente financiador no Pronaf, apresentando maior número de contratações e, o Agroamigo foi suaprincipal linha creditícia, seguido do Pronaf A e C.

Saindo do estado do Piauí, o artigo “Inclusão do Maranhão no semiárido brasileiro:justificativas técnicas, econômicas e sociais”, de José de Jesus Sousa Lemos, mostra que municípiosmaranhenses apresentam características de semiárido, concentrando, em termos relativos, os maioresbolsões de pobreza do Brasil e assevera que o semiárido maranhense tem indicadores piores do quea média dos demais municípios já incorporados ao semiárido brasileiro.

Livia Liberato de Matos, Luana Santa Inês Cunha e Vitor de Athayde Couto, em “Dendê deValença, Bahia: indicação de procedência”, concluem que a produção do azeite de dendê na regiãode Valença (BA) reúne, potencialmente, os requisitos para se requerer uma indicação deprocedência: existência de mercado consumidor para o produto; elementos específicos de produçãoe reconhecimento local da qualidade; organização dos produtores (cooperativa ou associação); euma rede de suporte estatal e privado de apoio à iniciativa.

O artigo “Análise econômica da produção de queijo coalho no município de Bodocó,Pernambuco”, por sua vez, de Carlos Henrique Miranda de Alencar, Antonio Joandson da Silva,Wescley de Freitas Barbosa e Eliane Pinheiro de Sousa, mostra a presença de retorno decrescente àescala na produção de queijo e que a quantidade de vacas, o gasto com ração dos animais e onúmero de trabalhadores exercem influência significante no valor da produção de queijo coalho.

3 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

ExpedienteINFORME ECONÔMICOAno 16 - n. 32 - out. 2014Reitor UFPI: Prof. Dr. José Arimatéia Dantas LopesVice-Reitora: Prof. Dra. Nadir do Nascimento NogueiraDiretor CCHL: Prof. Dr. Nelson Juliano Cardoso MatosChefe DECON: Prof. Esp. Luiz Carlos Rodrigues Cruz PuscasCoord.CursoEconomia: Prof. Dra. Edivane de Sousa LimaRevisão: Zilneide O. Ferreira e João Paulo Santos MourãoProjeto gráfico: Profa. Ms. Neulza Bangoim(CEUT)Jornalista responsável: Prof. Dr. Laerte Magalhães(UFPI)Endereço para correspondência: Campus IningaTeresina-PI - CEP: 64.049-550Fone: (86)3215-5788/5789/5790-Fax: (86)3215-5697Tiragem: 600 exemplaresImpressão: Gráfica-UFPIParceria: Conselho Regional de Economia 22ª Região-PISite DECON: http://www.ufpi.br/economia.

Editor-chefe: Prof. Dr. Solimar Oliveira LimaEditor-assistente: Economista Esp. Enoisa VerasConselho Editorial: Prof. Dr. Aécio Alves de Oliveira(UFC)Prof. Dr. Alvaro Bianchi(Unicamp)Prof. Dr. Alvaro Sánchez Bravo (Universidad de Sevilla-Espanha)Profa. Dra. Anna Maria D’Ottavi(Università degli Studi RomaTER-Itália)Prof. Dr. André Turmel(Université Laval-Canadá)Prof. Dr. Antônio Carlos de Andrade (UFPI)Prof. Dr. José Machado Pais (Universidade de Lisboa-Portugal)Prof. Dr. Leandro de Oliveira Galastri(Unicamp)Prof. Esp. Luis Carlos Rodrigues Cruz Puscas(UFPI)Profª Drª Maria do Socorro Lira Monteiro(UFPI)Profa. Dra. Maria Elizabeth Duarte Silvestre (UFPI)Prof. Dr. Marcos Del Roio(Unesp)Prof. Dr. Marcos Cordeiro Pires(Unesp)Prof. Dr. Mário José Maestri Filho(UPF)Prof. Dr. Manoel Domingos Neto(UFC)Prof. Dr. Rodrigo Duarte Fernandes dos Passos(Unesp)Prof. Dr. Samuel Costa Filho(UFPI)Prof. Dr. Sérgio Soares Braga (UFPR)Prof. Dr. Solimar Oliveira Lima(UFPI)Prof. Dr. Vitor de Athayde Couto(UFBA)Prof. Dr. Wilson Cano(Unicamp)Econ. Ms. Zilneide O. Ferreira

Em “Campo ou cidade? Um estudo qualitativo sobre as pretensões migratórias de jovens de umassentamento em Mossoró-RN”, Rosa Adeyse Silva, Pedro Arthur Rodrigues Figueiredo, KarlaKallyana Filgueira Felix, Ana Beatriz Bernardes Oliveira e Elisabete Stradiotto Siqueiraidentificaram que as pretensões dos jovens em migrar para a cidade é em grande parte para arealização de suas aspirações profissionais e que muitos pretendem voltar ao campo.

Já em “Potencialidades e limites do desenvolvimento regional sustentável no município deCampina Grande/PB”, Jennifer Cícera dos Santos Faustino, Janaina Cabral da Silva, AndréaFerreira da Silva, Maria Luiza Lima Ferreira Peixoto e Ionara Jane de Araújo concluíram que amaior parte dos fatores que limitam o desenvolvimento sustentável no município deve-se à poucamobilização dos governantes municipais sobre o assunto, já que com o mínimo de investimento e omaior empenho possível pode-se potencializar o desenvolvimento da cidade através dos princípiosda sustentabilidade.

Finalmente, o artigo “Crédito rural: uma análise da atuação e características do PronafMulher”, de Elida Lourenço Lima, Tales Wanderley Vital, André de Souza Melo, Vilane GonçalvesSales e Sylvia Karla Barbosa, detectou que o Pronaf Mulher apresenta entraves em seufinanciamento e concessão de crédito, contudo, as mulheres veem de forma positiva esse acesso aocrédito, pois o mesmo permite o aumento de sua participação em cooperativas e na tomada dedecisões familiares.

Este conjunto de estudos confirma a pluralidade socioeconômica e ambiental nordestina aoabordar temáticas localizadas nos distintos estados nordestinos e fruto das iniciativas inovadorasdos pesquisadores dos cursos de graduação e pós-graduação da UFC, UFPE, UFBA, Urca,Ufersa, UEPB/UFC, UFPI/CMRV e UFPI/CMPP.

Agradecemos aos editores do Informe Econômico, Enoisa Veras e Solimar Oliveira Lima, peloapoio em viabilizar esta edição especial, que vai indubitavelmente coroar o evento realizado noPiauí e reafirmar nosso compromisso de divulgar o conhecimento científico que vem sendo geradosobre o Nordeste rural.

Desejamos uma boa leitura!

Profa. Jaíra Maria Alcobaça Gomes/UFPIProf. José Natanael Fontenele de Carvalho/UFPI

4informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

ANÁLISE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DEQUEIJO COALHO NO MUNICÍPIO DEBODOCÓ, PERNAMBUCOCarlos Henrique Miranda de Alencar*, Antonio Joandson da Silva**, Wesdey de FreitasBarbosa*** e Eliane Pinheiro de Sousa****

Resumo: No Brasil, a pecuária leiteira é praticada em todo o território nacional, pois as condições climáticasdo país permitem a atividade mesmo com as várias peculiaridades regionais. Existem sistemas com diversasformas ou modelos de produção e diferentes graus de especialização, desde propriedades com produçãopara subsistência, utilizando técnicas rudimentares até produtores muito competitivos que utilizamtecnologias avançadas. O Brasil é o sexto maior produtor mundial de leite e com essa produção pode-seexplorar o produto bruto ou seus derivados. Dentre os derivados produzidos, o queijo coalho assume grandeimportância nesse setor, principalmente no Nordeste e no município pernambucano de Bodocó, queapresenta destaque neste Estado. Portanto, este estudo busca estimar a função de produção do queijocoalho no município de Bodocó; verificar se os fatores empregados na produção de queijo estão sendoalocados de forma racional; e identificar o tipo de retorno de escala que os produtores de queijo operam nestemunicípio. Para cumprir esses objetivos propostos, utilizou-se o modelo de regressão múltipla, estimado peloMétodo dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO). Os resultados indicam que a quantidade de vacas, ogasto com ração dos animais e o número de trabalhadores exercem influência significante no valor daprodução de queijo coalho, sendo que os dois primeiros fatores estão sendo alocados de forma racional, aopasso que o fator trabalho não está sendo empregado racionalmente. Ademais, constatou-se a presença deretorno decrescente à escala na produção de queijo.Palavras-chaves: queijo; estágios de produção; retorno à escala; Bodocó.

Abstract: In Brazil, the dairy farming is practiced all over the national territory, since the country’s climaticconditions allow the activity even with the various regional peculiarities. There are systems with several formsor models of production and different levels of specialization, from properties with production for subsistence,using rudimental techniques, to very competitive producers that use advanced technologies. Brazil is the sixthlargest milk producer in the world and with this production it is possible to explore the raw product or itsderivatives. Among the produced derivatives, the curd cheese takes on great importance in this sector, mainlyin the Northeast and in the county of Bodocó, state of Pernambuco, which stands out in the state. Therefore,this study seeks to estimate the function of curd cheese production in the county of Bodocó; to verify if thefactors employed in cheese production are being allocated in a rational way; and to identify the kind of returnsto scale that cheese producers use in this county. To fulfill these proposed objectives, the multiple regressionmodel was used, estimated by the Method of Ordinary Least Squares (OLS). The results indicate that theamount of cows, the expenses with animal ration and the number of workers play a significant role on thevalue of curd cheese production, while the first two factors are being allocated in a rational way, whereas thelabor factor is not being employed rationally. In addition, one could observe the presence of decreasing returnsto scale in the cheese production.Keywords: cheese; production stages; return to scale; Bodocó.

1. Introdução

A produção de leite tem um papel fundamentalem todas as economias, especialmente em paísesem desenvolvimento porque além de envolver umcomponente social, possui alto valor nutritivo.O leite e seus derivados participam na geração derenda de muitos países, gera empregos diretos eindiretos e contribui com a redução da migração depessoas do meio rural para os centros urbanos.

No Brasil, conforme Nogueira (2010), ao citarZoccal (2006), a pecuária leiteira é praticada em

todo o território nacional, pois as condiçõesclimáticas do país permitem a atividade mesmocom as várias peculiaridades regionais. Existemsistemas com diversas formas ou modelos deprodução e diferentes graus de especialização,desde propriedades com produção parasubsistência, utilizando técnicas rudimentares eprodução diária menor que dez litros, atéprodutores comparáveis aos mais competitivos domundo que utilizam tecnologias avançadas, cujaprodução diária é superior a 50 mil litros.

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No Nordeste brasileiro, a pecuária leiteira temcrescido, constituindo uma das alternativas capazde gerar emprego e renda em muitos municípios.O número de agroindústrias que empregam o leiteproduzido pelos pequenos e médios produtorescomo matéria-prima, tem apresentado alta taxa decrescimento nessa região (NASSU et al., 2001).

Segundo Aquino (1983) apud Nassu et al.(2001), dentre os produtos de laticínios fabricadosna região Nordeste, o queijo coalho é um dos maisdifundidos, possuindo grande popularidade e suaprodução é restrita à região nordestina, sendoencontrados, principalmente, nos estados doCeará, Rio Grande do Norte, Pernambuco eParaíba. De acordo com Araújo et al. (2012), taisestados produzem o queijo coalho em larga escala,sendo que grande parte da produção é fabricadaartesanalmente em propriedades rurais de pequenoporte ou agricultura de base familiar.

Na concepção de Menezes (2011), o queijocoalho tem sido considerado como um patrimônioda população nordestina, despertando o interessedos produtores, de instituições públicas e privadase gestores públicos. Em face da sua importânciasocioeconômica, estes atores buscam aelaboração de normativas condizentes a essapequena produção.

Dados do IBGE (2013) revelam que o estado dePernambuco apresenta a segunda maior bacialeiteira do Nordeste com uma produção de 953.230mil litros de leite em 2011, sendo responsável por32,55% da produção de leite do Nordeste. Dentrodesse Estado, o município de Bodocó, objeto deestudo deste trabalho, ocupa a quinta posição commaior produção de leite.

Tendo em vista que a produção de queijo coalhotem assumido grande relevância neste município,torna-se importante fazer uma análise econômicade sua produção com o intuito de determinar comoos fatores de produção têm sido utilizados poresses produtores. Essa questão é importante deser investigada, pois só se manterão no mercadocompetitivo as unidades de produção quetrabalharem com eficiência na alocação dosrecursos.

Nesse contexto, estudos como osdesenvolvidos por Angelo et al. (2004), Meneses eSousa (2006), Mariano e Sousa (2007), Soares etal. (2007) e Barbosa et al. (2013) se preocuparamem contemplar essa temática para diferentesprodutos agropecuários e florestais, como,respectivamente, madeiras no Mato Grosso; arroz

em Várzea Alegre, Ceará; sorgo em Cedro,Pernambuco; celulose no Brasil; e mel namicrorregião do Cariri, Ceará, e em Moreilândia,Pernambuco. Entretanto, não se encontraram naliteratura econômica estudos com esse enfoqueaplicado ao queijo. Assim, o presente estudocontribui neste sentido.

Portanto, pretende-se estimar a função deprodução do queijo coalho no município de Bodocó;verificar se os fatores empregados na produção dequeijo estão sendo alocados de forma racional; eidentificar o tipo de retorno de escala que osprodutores de queijo operam neste município.

2. Referencial teórico

A teoria de produção é de grande valia porquedesempenha pelo menos dois papéisfundamentais: serve de base para a análise dasrelações entre produção e custos de produção, econstitui-se no alicerce do estudo de determinaçãoda procura da firma com relação aos fatores deprodução de que se necessita quando darealização do seu processo produtivo (GARÓFALOe CARVALHO, 1995).

A relação entre os insumos do processoprodutivo e o produto resultante é descrita como afunção de produção. De acordo com Pindyck eRubinfeld (2010), uma função de produção indica oproduto máximo Q (volume da produção), que umaempresa produz para cada combinação específicade insumos.

Para Garófalo e Carvalho (1995), a função deprodução identifica a forma de solucionar osproblemas técnicos da produção, apresentando ascombinações de fatores que podem ser utilizadaspara o desenvolvimento do processo produtivo.Esta função se institui como uma das principaisferramentas do produtor na organização doprocesso produtivo do seu empreendimento, sendoindispensável a sua análise, na fase de alocação egestão dos recursos. Portanto, conforme Baídya etal. (1999), a função de produção pressupõe aeficiência técnica, indicando que a tecnologia doprocesso é conhecida e que não são empregadosmais insumos que os necessários para afabricação do produto.

Tendo em vista que as empresas precisamconsiderar se os insumos podem ser substituídosuns pelos outros, deve-se verificar o temporequerido para essa substituição. Assim, torna-serelevante identificar se a empresa está atuando nocurto prazo ou no longo prazo, sendo que o curto

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prazo refere-se ao período no qual a quantidade deum ou mais insumos não pode ser alterada,enquanto no longo prazo diz respeito ao períodonecessário para tornar todos os insumos variáveis(PINDYCK e RUBINFELD, 2010).

Segundo Pindyck e Rubinfeld (2010), acontribuição de um fator ao processo produtivopode ser descrito como produto médio, que éobtido por unidade de um dado insumo variávelutilizado, e produto marginal, que significa oacréscimo no produto obtido quando se adicionauma unidade de um determinado insumo variável.

De posse dos conceitos de produtividade médiae produtividade marginal, pode-se definir aelasticidade de produção de um insumo como arelação entre essas produtividades. No caso dafunção de produção Cobb-Douglas, a elasticidadede produção de um insumo corresponde aoexpoente desse fator (BAÍDYA et al., 1999).

A teoria microeconômica da firma destaca quepode haver três tipos de estágios de produção.Segundo Arbage (2000), o primeiro estágio deprodução corresponde a um estágio em que aprodução está aumentando a taxas crescentes,pois há poucos insumos variáveis para muitosinsumos fixos. Neste estágio, a produção subutilizao fator fixo, logo não é um estágio ótimo sob aótica econômica. A firma deverá operar no segundoestágio de produção, pois esse estágio éconsiderado economicamente ótimo, sendo quedeverá trabalhar mais próximo ao início do segundoestágio quanto mais caro for o insumo variável emrelação ao insumo fixo, ao passo que deverá atuarmais próximo ao final do segundo estágio se opreço do produto final estiver relativamente maiselevado em relação ao preço do insumo. Noterceiro estágio de produção, há utilização acimado limite da capacidade intensiva do fator fixo,portanto, é um estágio irracional do ponto de vistaeconômico.

Outro conceito que também deve serconsiderado na teoria da produção se refere aorendimento de escala, que se refere à relaçãoexistente entre a variação do produto final e avariação proporcional entre todos os insumos.Assim, na presença de rendimento de escala, afunção de produção pode possuir rendimento deescala constante quando se aumenta os insumospelo mesmo fator e, como resultado, obtém-se umaumento na mesma proporção no produto final.Caso o acréscimo do produto final ocorrer em umaproporção maior do que o aumento ocorrido nos

insumos, verifica-se rendimento crescente deescala e se o produto final crescer em umaproporção menor que o aumento proporcional nosinsumos, pode-se dizer que a empresa estáoperando com rendimento decrescente de escala(BAÍDYA et al., 1999).

3. Metodologia

3.1. Área de estudo, fontes dos dados eamostragem

O presente trabalho foi realizado no municípiode Bodocó, localizada na microrregiãopernambucana do Araripe e se limita ao norte como Estado de Ceará, ao sul com Parnamirim, aoleste com Exu e Granito e ao oeste com Ipubi eOuricuri. Dista 557,7 km da capital do estado,Recife. Possui uma população de 35.158 pessoas,sendo que 63,52% residem no meio rural. Quantoao aspecto econômico, possui um PIB a preçoscorrentes de 167.561 mil reais, sendo que 39.040mil reais é proveniente da agropecuária (IBGE,2013).

A escolha desse município como área deestudo deste trabalho pode ser atribuído ao fato dese destacar como um dos municípiospernambucanos com maior produção de leite(IBGE, 2013).

Com relação à fonte de dados, foramempregadas fontes de dados primários, obtidasmediante aplicação de questionários aosprodutores de queijo.

A amostragem foi calculada considerando que onúmero total de produtores de queijo artesanal emBodocó, PE é 355, conforme a Secretaria deAgricultura do referente município. Considerandoessa população de produtores de queijo, um errode estimação de 10% (d=0,10), a abscissa danormal padrão Z=1,64, ao nível de confiança de90% e p = q = 0,5 (na hipótese de se admitir omaior tamanho da amostra, já que não seconhecem as proporções estudadas), obteve-se umtamanho da amostra (n) igual a 57.3.2. Métodos de análise e variáveis utilizadas

Para se determinar a função de produção dequeijo coalho no município de Bodocó, PE foiproposto um modelo econométrico, constituído pelafunção de produção tipo Cobb-Douglas, adotando-se a forma funcional LOG-LOG e o método dosMínimos Quadrados Ordinários (MQO).

Conforme Gujarati (2000), neste modelo, oscoeficientes de inclinação medem as elasticidades

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parciais do produto em relação à variação de umdos insumos, considerando tudo mais constante ea soma dos coeficientes informa a respeito dosretornos de escala.

Assim, tem-se a seguinte equação do modeloeconométrico utilizado neste trabalho:

Em que: VPQ refere-se ao valor da produção dequeijo coalho em reais; QVACA, quantidade devacas utilizadas na produção de queijo; GRAÇÃO,valor gasto com a ração dos animais em reais, eQTRAB, número de trabalhadores empregados naprodução de queijo; LN, logaritmo natural; µ, erroestocástico; e parâmetros aserem estimados.

Para operacionalização deste modelo, utilizou-se o software STATA 12. O grau de ajustamentodas regressões foi avaliado por meio do coeficientede determinação ajustado (R2 ajustado). Ademais,empregou-se a estatística t de Student para testara significância dos coeficientes individualmente,enquanto o teste F de Snedecor foi adotado paraverificar a significância global da função e foramrealizados também os testes para constatação depossíveis violações dos pressupostos (GUJARATI,2000).

4. Resultados e discussão

Nesta seção, serão apresentadas asestatísticas descritivas das variáveis empregadasneste estudo, a estimativa da função de produçãodo queijo coalho e as produtividades média emarginal dos fatores utilizados na produção doqueijo coalho.4.1. Estatísticas descritivas das variáveisempregadas neste estudo

A Tabela 1 apresenta a distribuição dasfrequências absolutas e relativas do valor daprodução de queijo coalho no município de Bodocó,PE. Como se observa, existem diferentes portes deprodutores de queijo no município, uma vez que seentrevistou produtor que recebe mensalmente umvalor da produção de R$ 400,00, ao passo que teveprodutor que informou receber um valor da produçãode R$ 10.000,00 por mês. Esse resultado indicauma grande heterogeneidade desses produtoresquanto a essa variável, sendo captada pelo elevadovalor do coeficiente de variação.

Os dados dessa tabela também mostram queapesar dessa variabilidade, percebe-se que mais da

metade dos produtores entrevistados recebe até R$1.600,00 por mês na produção de queijo coalho esomente três produtores auferem um valor daprodução superior a R$ 6.400,00.

Com base nos dados da Tabela 2, constata-seque assim como o valor da produção, a variávelreferente ao valor mensal gasto com ração dosanimais também se mostrou muito heterogêneaentre os produtores de queijo entrevistados, vistoque teve produtores que ressaltaram um gastomensal de R$ 100,00, enquanto um dos produtorespesquisadores destacou um gasto com ração dosanimais de R$12.000,00 por mês.

Grande parte dos entrevistados (64,9%) nãoultrapassa o valor mensal de R$ 3.100,00 comração dos animais, ao passo que, dos 57produtores pesquisados, 8 deles, que correspondea 14,04%, gastam mais de R$ 6.100,00 por mêscom ração dos animais.

Outra variável que também foi incluída na funçãode produção do queijo coalho foi à quantidade devacas utilizadas. Os dados da Tabela 3 indicamque, em média, os produtores de queijo de Bodocóutilizam 30 vacas para produção de queijo, sendoque se encontraram estabelecimentosagropecuários, cujo produtor possui somente cinco

β 1 , β 2 , β 3 , β 4

LNVPQ=β1+β2 LNQVACA+β3 LNGRAÇÃO+β4 LNQTRAB+μ

8informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

vacas, enquanto teve dois produtores que sedestacaram com um plantel de 100 vacas.

A partir da Tabela 3 também se observa quemais da metade dos produtores entrevistadosdispõe de até 20 vacas para a produção de queijo eque somente oito produtores pesquisados temmais de 50 vacas utilizadas para esse fim.

Conforme se verifica pela Tabela 4, parcelamajoritária dos produtores de queijo entrevistados(61,40%) produz esse produto com até trêstrabalhadores, incluindo familiares e contratados.Em contrapartida, dos 57 produtores de queijo,somente cinco deles, que representa 8,8% daamostra pesquisada, empregam mais de cincotrabalhadores na produção de queijo.

4.2. Função de produção do queijo coalho emBodocó, PE

De acordo com a Tabela 5, verifica-se que oscoeficientes das variáveis explicativas referentes àquantidade de vacas, à quantidade de mão de obra

e ao gasto com ração dos animais sãoestatisticamente significantes, sendo que aprimeira ao nível de 5%, enquanto que as demais a10%. Os coeficientes dessas variáveis apresentamrelação diretamente proporcional à variáveldependente, exceto a variável mão de obra queapresentou uma relação inversa com o valor daprodução de queijo. Este resultado pode estarassociado à dificuldade de gestão de recursoshumanos dos empreendedores analisados, que, emalguns casos, acabam usando exageradamente aquantidade de trabalhadores, comprometendo odesempenho produtivo e influenciandonegativamente no valor da produção. Vale ressaltarque os resíduos da regressão apresentaramheterocedasticidade. Para correção, optou-se peloestimador de White, obtendo-se assim robustez noerro padrão da regressão estimada.

Outra inferência que pode ser extraída dessatabela diz respeito ao valor do R², que é 0,4918.Isso significa que 49,18% da variação do valor daprodução de queijo coalho em Bodocó estão sendoexplicadas pelo conjunto das variáveis explicativas,(quantidade de vacas, gasto com ração dosanimais e número de trabalhadores). O valor de Fmostra que tais variáveis explicativas em conjuntoinfluenciam o valor da produção de queijo coalho aum nível de significância de 1%, ou seja, rejeita-sea hipótese nula de que os coeficientes sãosimultaneamente iguais à zero, com isso, o modeloé válido.

Conforme descrito, como esse modelo estimadoapresenta forma funcional LOG-LOG, seuscoeficientes se referem às elasticidades parciaisdos seus respectivos fatores. Assim, pode-se inferirque o número de vacas e o gasto relativo à raçãopara os animais possuem elasticidades iguais a0,4681 e 0,2944, respectivamente, indicando que,Coeteris paribus, um acréscimo de 10% nasquantidades desses fatores ocasiona um aumentode 4,7% e 2,9%, respectivamente, no valor daprodução de queijo. Quanto ao fator trabalho, suaelasticidade é de -0,3355, isto é, uma variação de10% na quantidade deste fator gera um decréscimode 3,4% no valor da produção de queijo,considerando tudo mais constante.

A partir desses resultados das elasticidades deprodução para tais fatores analisados, verifica-seque os produtores de queijo coalho em Bodocóestão alocando racionalmente os fatores referentesao número de vacas e ao gasto relativo à raçãocom animais, já que seus valores estão situados

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no intervalo entre zero a um, sinalizando que estãoatuando no segundo estágio de produção. Emcontrapartida, o fator trabalho não está sendoempregado racionalmente, já que apresentouelasticidade menor do que zero, indicando que seencontra no terceiro estágio de produção. Portanto,deve-se reduzir o uso desse fator de produção.

Como se verifica pela Tabela 6, o valor docoeficiente de escala é inferior à unidade, indicandoa presença de retorno decrescente à escala. Oteste de Wald confirmou a existência de retornosdecrescentes de escala ao nível de 1%. Isso sig-nifica dizer que, em longo prazo, se os recursosempregados na produção de queijo forem duplica-dos, o valor da produção não chegará a duplicar.

De acordo com Angelo et al. (2004), a indicaçãopara empresas que apresentem retorno à escaladecrescente é que se adotem medidas quepropiciem aumento da produtividade da mão deobra, como qualificação por meio de treinamento.

5. Conclusões e sugestões

A produção de queijo coalho em Bodocóresponde às variações na quantidade de vacas,gasto com ração dos animais e número detrabalhadores, de modo que 49,18% do seu valorda produção estão sendo explicados por essesfatores.

Os valores das elasticidades parciais do númerode vacas e gasto com ração dos animais sinalizamque tais fatores encontram-se no segundo estágio

de produção, logo estão sendo empregadosracionalmente. Entretanto, isso não acontece como número de trabalhadores, que registrou valorinferior à unidade, ou seja, faz parte do terceiroestágio de produção, mostrando que esse fator nãoestá sendo alocado de forma racional, sendo,portanto, necessário adotar medidas queaumentem a produtividade desse fator. Ademais, osprodutores de queijo entrevistados estão atuandocom rendimentos descrescentes à escala.

Assim, para que a atividade de produção dequeijo em Bodocó, PE, tenha um melhordesempenho competitivo, recomenda-se que osprodutores busquem a introdução de tecnologiasadequadas ao processo produtivo, assim como amelhoria da gestão dos estabelecimentos,principalmente na alocação do fator trabalho,aumentando sua qualificação e eficiência. Nestesentido, é importante contar com apoio dosinstitutos de pesquisa, da assistência técnica edas Universidades

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*Graduando do curso de Ciências Econômicas daUniversidade Regional do Cariri (URCA). Email:[email protected]**Graduando do curso de Ciências Econômicas daUniversidade Regional do Cariri (URCA). Email:[email protected]***Mestrando em Economia pela UniversidadeFederal do Ceará (UFC). E-mail:[email protected]****Professora adjunta do Departamento deEconomia da Universidade Regional do Cariri (URCA)e Doutora em Economia Aplicada pela UniversidadeFederal de Viçosa (UFV). Email:[email protected]

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INDICADORES DE SUSTENTABILIDADESOCIAL DO ASSENTAMENTO RURALSANTANA NOSSA ESPERANÇA,EM TERESINA-PI*Clarissa Flávia Santos Araújo**, Alyne Maria de Sousa Oliveira***e Maria do Socorro Lira Monteiro****

Resumo: Em 2010, em Teresina, havia 14 projetos de assentamento reconhecidos, totalizando uma área deaproximadamente 11.034,06 hectares e 891 famílias assentadas. Com base nesse cenário, analisaram-se ascondições sociais dos residentes no Assentamento Rural Santana Nossa Esperança, localizado em Teresina-PI. Com vistas à materialização da pesquisa, metodologicamente utilizou-se o estudo de caso, do tipodescritivo, com foco na observação e interpretação da realidade vivenciada pela população do AssentamentoRural Santana Nossa Esperança, constituído por 143 famílias e selecionado a partir dos critérios depopulação e proximidade do meio urbano, sendo o mais populoso e próximo de Teresina. Dessa forma,empreendeu-se levantamento documental junto ao INCRA e pesquisa de campo, na qual as famíliasassentadas figuraram como unidade observacional. Nessa perspectiva, reconstituiu-se o histórico deconstituição do assentamento através das entrevistas realizadas, onde registrou-se um contexto conflituosona formação do território e na organização social e econômica dos grupos envolvidos, face ao atendimentoprecário às demandas por parte do poder público e do órgão gestor. Para efeito desta pesquisa, construíram-se indicadores de sustentabilidade social do assentamento, formulados a partir das informações obtidas nosquestionários aplicados. Assim, considerando-se o desempenho social, o índice foi de 0,540 (nível médio).Palavras-chaves: Sustentabilidade social; Indicadores de sustentabilidade; Assentamentos rurais.

Abstract: In 2010, in Teresina there was 14 recognized settlement projects in progress, totalizing an area ofalmost 11.034,06 hectares and 891 settled families. Based on this stage, it was analyzed social conditionsfrom residents on Santana Nossa Esperança rural settlement, located on Teresina-PI. In order to researchfulfill, methodology was based on case study of descriptive type, with focus on observation and interpretationof reality experienced by population of Santana Nossa Esperança rural settlement, constituted by 143 familiesand selected by population and proximity to urban zone, being the most populous and nearest from Teresinaurban zone. So, documental survey in INCRA and field research was realized, on which settled families wereconsidered observational units. On this perspective, history of settlement constitution was reconstituted byresident interviews, registering a conflictive context on territory formation as well as on social and economicorganization of involved groups of settled people, in face of precarious attention to settled families demandsfrom public authorities and manager institution. For this research, sustainability indicators of settlement wereperformed from social approaches, formulated from information obtained on questionnaires. Thus, consideringsocial performance, found subindex was 0,540 (middle level).Keywords: Social Sustainability; Sustainability Indicators; Rural Settlements.

1. Introdução

Conforme Prado Júnior (1987), o elevado grau deconcentração da propriedade fundiária quecaracteriza a estrutura agrária brasileira é reflexoda formação econômica constituída desde osprimórdios da colonização do país, segundo a quala propriedade da terra se reúne predominantementeem uma pequena minoria da população.

Para Gonçalo (2001), a efetiva redistribuição daterra, por meio de uma política de reforma agrária,modifica as relações de classes no meio rural, emvirtude da democratização do uso e da posse terra,

haja vista que a substituição da predominância dagrande propriedade e do latifundiário peloparcelamento da terra provoca o surgimento denovas relações sociais de produção, marcadas,sobretudo, pela agricultura familiar.

De acordo com Leite (2000), a consolidação dosassentamentos de reforma agrária constitui partede uma estratégia de desenvolvimento, cujo êxitoestará intrinsecamente ligado às possibilidadeseconômicas e sociais desencadeadas nosprojetos, de modo que seus efeitos não sãomensuráveis a priori. Nesse sentido, enfatiza-se a

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necessidade de dimensionar cuidadosamente arelevância dessas unidades no nível local.

Neste contexto, em conformidade com o INCRA(2012), em Teresina havia 14 projetos deassentamento reconhecidos, dos quais sete eramgeridos pelo Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária (INCRA), quatro estavam sob aresponsabilidade do INCRA em parceria com aPrefeitura e três eram administrados pelo Institutode Terras do Piauí (INTERPI), totalizando uma áreade 11.034,06 hectares e 891 famílias assentadas.

Do universo de assentamentos de Teresina-PI,escolheu-se o Santana Nossa Esperança mantidopelo INCRA, como objeto de pesquisa, em funçãode ser o mais populoso, constituído por 143famílias e o mais próximo à zona urbana,localizado a aproximadamente 24 Km da sede domunicípio.

Com base nesse cenário, o objetivo destetrabalho é analisar as condições sociais dosresidentes no Assentamento Rural Santana NossaEsperança, localizado em Teresina-PI. Para tanto,especificamente, reconstituiu-se o histórico decriação do assentamento, construíram-seindicadores e sub-índices sociais, e mensurou-se asustentabilidade social do assentamentopesquisado.

2. Referencial teórico

Segundo Silva (2001), a reforma agrária, objetoda reivindicação dos trabalhadores rurais, não éuma mera distribuição de pequenos lotes, o queconfiguraria uma forma de barateamento da forçade trabalho para as grandes propriedades; senãouma mudança na estrutura política e social docampo, e uma redistribuição de renda, de poder ede direitos, na qual devem figurar as formasmultifamiliar e cooperativa como alternativas viáveispara o não-fracionamento da propriedade. Ou seja,constitui uma estratégia dos trabalhadores ruraispara romper o monopólio da terra e assim,possibilitar a apropriação dos resultados do seutrabalho.

No Brasil, de acordo com Medeiros (2003), osassentamentos rurais emergiram ao longo dasduas últimas décadas, em consequência daintensificação das lutas por terra e da crescenteorganização das entidades representativas dostrabalhadores chamados de “sem terra”.

Corroborando a posição anterior, Leite et al(2004), enfatizam que a maioria dosassentamentos no país decorreu das desapropria-

ções motivadas por conflitos e influenciadas pelosmovimentos sociais. Portanto, a gênese dosassentamentos resultou de diferentes formas deluta pela terra, como: ocupações massivas,públicas e paulatinas de terras, realizadas porpequenos grupos e de forma silenciosa; resistênciapela terra, empreendida por parceiros arrendatáriose posseiros que permanecem na terra ondetrabalhavam ou moravam; e mista, resultante dapela combinação das formas anteriores.

Para Andrade (2009), o assentamento é umespaço de inclusão social para os segmentos quese encontravam excluídos; no entanto, salienta quea ação de assentar as famílias na terra configura-seno primeiro ato do processo de construção desseterritório. Logo, assentamentos são entendidoscomo espaços de chegada e de saída, e nessesentido, faz-se necessário o estabelecimento depolíticas públicas que contribuam para a viabilidadedo assentamento.

Em 1987, a Comissão Mundial do MeioAmbiente e Desenvolvimento (CMMAD) daOrganização das Nações Unidas (ONU) solicitou aelaboração de um documento com os princípiosfundamentais para o desenvolvimento sustentável,através de um processo de consulta aberto eparticipativo. Após uma série de debates realizadosem todo o mundo por mais de uma década, olançamento oficial do documento, denominadoCarta da Terra (2011) ocorreu em Haia, em 29 dejunho de 2000, estabelece que uma sociedadesustentável global deve estar assentada no respeitopela natureza, nos direitos humanos universais, najustiça econômica e em uma cultura de paz, eobedecer os princípios: respeitar e cuidar dacomunidade da vida, proteger e restaurar aintegridade ecológica, garantir a justiça social eeconômica e fortalecer a democracia, anão-violência e a paz.

Na discussão de uma agenda rumo àsustentabilidade no meio rural, distinguem-se asdiretrizes dos países desenvolvidos, nos quais ostemas prioritários relacionam-se com as normasreguladoras do comércio agrícola, a preservaçãoambiental e a qualidade de vida no meio rural,daquelas praticadas pelos países emdesenvolvimento, onde ganham maior relevância aredução da desnutrição, a segurança alimentar, àluta contra a miséria e a pobreza e a necessidadede crescimento do produto agrícola (FAO, 1995).

Consoante Pinto (2004), no Brasil o debatesobre as estratégias para a internalização de um

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modelo sustentável de desenvolvimento ruralrelaciona-se aos desafios da erradicação dapobreza no campo, da promoção da equidadeeconômica, da garantia da sustentabilidadeambiental e da reforma institucional (do Estado edo terceiro setor).

Para Bergamasco e Norder (1996), a dinami-zação que os assentamentos rurais trouxeram pararegiões estagnadas pela monocultura e pela baixadensidade populacional é uma comprovação práticados efeitos positivos que esta estratégia podetrazer. Os assentamentos representam novosnúcleos de produção e consumo, refletindodiretamente nas economias locais e na arrecada-ção de impostos municipais. A vida de um grandenúmero de pessoas, até então marginalizadas ousubempregadas, se transforma nos assentamen-tos; além de melhorias nas condições de vida, asfamílias obtêm rendas mensais acima da médiadas demais categorias de trabalhadores rurais.

Segundo Leite (2000, p.45), os impactos dosassentamentos são representados pelas“mudanças que ocorrem na relação doassentamento com o seu entorno” e podem serconsolidados em oito eixos temáticos: poder local,participação política e políticas públicas;organização social; configuração produtiva; meioambiente e ordenamento territorial; demografia;condições de vida e percepção dos própriossujeitos do processo.

As análises acerca do desenvolvimento refletemas concepções teóricas subjacentes às condiçõeshistóricas nas quais uma dada sociedadeestabelece sua forma particular de reproduzir-sematerial e culturalmente. Nesta perspectiva, aconstrução de indicadores configura-se em umatentativa de objetivação dessa realidade,representada em uma linguagem numérica quepossibilite comparações no tempo e no espaço.

Moura et al (2004), definem indicadores comoum conjunto de parâmetros que, além de mensuraras modificações, comunicam de forma simplificadao estado do sistema em relação aos critérios e àsmetas estabelecidas para avaliar a suasustentabilidade.

Para Bellen (2005), a construção de indicadoresde sustentabilidade encerra as seguintescaracterísticas: dimensões ecológica, social,econômica, cultural e político-institucional; esferasglobal, regional e local; dados quantitativos ouqualitativos; nível de agregação em indicadorese/ou índices; participação de atores sociais,

top down para especialistas e bottom-up parapúblico-alvo; e interpretação dos dados.

Sendo assim, salienta-se que a tarefa deconstrução de indicadores comporta trêsimportantes desafios: o primeiro, de estabelecerum conceito de sustentabilidade que incorpore deforma abrangente as dimensões relevantes quantoà realidade sob estudo; o segundo, de selecionarvariáveis que possam fidedignamente representaros aspectos a ela subjacentes; e o terceiro, deoperacionalizar os dados produzidos de formaconsistente, exequível e passível de replicação notempo e no espaço.

3. Metodologia da pesquisa

A sustentabilidade de assentamentos ruraisconfigura-se como objeto de estudo dessapesquisa, partindo-se da exigência fundamental doconhecimento acerca do modo de vida dosassentados para, a posteriori, proceder-se àanálise da forma como os variados aspectos dasustentabilidade social afetam suas realidadesparticulares.

O trabalho encerra natureza qualitativa equantitativa, por objetivar a análise do perfil socialda população residente no Assentamento RuralSantana Nossa Esperança, localizado em Teresina-PI, a partir da percepção dos próprios assentadose a mensuração através de variáveis predetermi-nadas que expressem as condições em que vivem.

A respeito da estratégia adotada em relação aolocal da coleta de dados e à fonte de informações,ressalta-se que o trabalho integra pesquisa decampo, na qual cada família figura como unidadeobservacional, e levantamento documental junto aoórgão que representa o arranjo institucional ao qualo Assentamento está vinculado.

Ademais, enfatiza-se a adoção de abordagensantropológicas, como a fenomenologia sociológicae a etnometodologia para o entendimento dasrelações interpessoais ocorridas no interior doAssentamento. Esse exercício metodológicodecorre do entendimento de Goldenberg (2001),de que a primeira faz uma crítica radical aoobjetivismo da ciência, substituindo as construçõesexplicativas pela descrição do que se passaefetivamente sob a percepção dos sujeitos quevivenciam a situação concreta; enquanto a segundapossibilita compreender a prática artesanal da vidacotidiana, interpretada pelos atores sociais.

Acrescenta-se, o uso do método estatístico, oqual, segundo Hühne (1988), fundamenta-se na

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aplicação da teoria probabilística e caracteriza-sepelas preocupações de ordem quantitativa; alémdo método de estudo de caso que, de acordo comGoldenberg (2001), reúne a maior quantidade deinformações detalhadas, através de diferentestécnicas de pesquisa, o que permite apreender atotalidade de uma situação e descrever acomplexidade de um caso concreto, como o doAssentamento Rural Santana Nossa Esperança,mantido pelo INCRA em Teresina-PI, selecionado apartir do critério de população, uma vez que seconfigura como o mais populoso e próximo à zonaurbana, constituído por 143 famílias e distantecerca de 24 Km da sede do município.

A investigação abrangeu uma amostraprobabilística de famílias residentes noAssentamento Rural Santana Nossa Esperança,reconhecido em 2005, a partir do universo de 143famílias assentadas, com erro máximoestatisticamente calculado de 5,0%, resultando emum universo amostral de 105 famílias.

Em relação à pesquisa empírica, o primeiropasso consistiu na realização de reuniões comlíderes do assentamento e presidentes dasassociações, para explicitação dos objetivos dotrabalho e apresentação dos instrumentos deinvestigação, com vistas à obtenção de autorizaçãoprévia dos sujeitos. Em seguida, procedeu-se aotrabalho de campo, efetuado por meio deobservação direta, cujos fatos foram registradosem diário de campo empreendido durante as visitasao assentamento estudado.

Com o fito de reconstituir a história doassentamento, realizou-se pesquisa qualitativa, apartir da técnica de análise de conteúdo deentrevistas não-diretivas realizadas com cincolíderes e habitantes mais antigos do assentamento,selecionados através da técnica de “bola de neve”.

Para levantamento dos dados quantitativos,aplicaram-se inicialmente questionários pré-testecom 10,0% da amostra, a fim de corrigirinconsistências e dubiedades; e posteriormente,os definitivos, ambos contendo questões fechadase abertas, conforme exposto por Babbie (2003),relativamente aos condicionantes sociais doAssentamento Rural Santana Nossa Esperança.Para efeito desta pesquisa, construiu-se oíndice de sustentabilidade social da área, a partirdas informações obtidas nos questionáriosaplicados. Sequencialmente, tabularam-se osquestionários em planilhas Excel com o propósitode construir indicadores sociais do assentamento.

3.1 Índice Social (IS)O Índice Social (IS) tem por finalidade abranger

os elementos que revelam as condições de vidados assentados, considerando sua capacidadede manterem, em uma perspectiva intergeracional,suas estratégias de reprodução social, a partirda oferta de um conjunto de estruturas produzidaspelo homem (capital construído) que visamao suprimento das demandas mais fundamentais– comunicação, transporte, habitação, educação,saúde e lazer – presente no assentamento.

O IS contemplou o sub-índice Vivabilidade(MORAES, 2012), através dos parâmetrosAbandono dos Lotes, Migração Temporária,Envelhecimento e Juventude; o sub-índiceInfraestrutura, constituído pelos parâmetros deAcesso aos Serviços de Telefonia (IBGE, 2010),Acesso a Estradas (INCRA, 2011), Acesso aoTransporte Coletivo, Condições da Habitação,Acesso à Rede Pública de Ensino (IBGE, 2010a),Oferta de Serviços Básicos de Saúde (IBGE,2010a) e Disponibilidade de Equipamentos deLazer; e o sub-índice Qualificação para o Trabalho,configurado pelo parâmetro Participação em Cursosde Qualificação, que são dispostos nos tópicos aseguir.3.1.1 Sub-índice Vivabilidade

Vivabilidade refere-se à integração das famíliascamponesas no tecido social agropecuário e rural,o que remete à sua capacidade de dominarem eassumirem os riscos do funcionamento do sistemasocioprodutivo em relação aos aspectos dareprodução do patrimônio familiar e da força detrabalho, além da interface com os ambientescomunitário e institucional, que promovem umasociabilidade (MORAES, 2012).

O sub-índice Vivabilidade foi constituído pelosparâmetros Abandono dos Lotes, MigraçãoTemporária, Juventude e Envelhecimento.

O parâmetro Abandono dos Lotes foi obtido apartir dos dados do INCRA e calculado segundo osescores: zero para desistência dos lotes superior a80,0%; 0,250 para desistência dos lotes entre60,1% e 80,0%; 0,500 para desistência dos lotesentre 40,1% e 60,0%; 0,750 para desistência doslotes entre 20,1% e 40,0%; e 1,000 paradesistência dos lotes entre 0,0% e 20,0%.

O parâmetro Migração Temporária foi medidoconforme informações prestadas pelos assentadose de acordo com os escores: zero para migraçãoanual do responsável pelo lote; 0,500 para

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migração esporádica do responsável pelo lote,restrita anos de prejuízo na safra; e 1,000 paranenhuma experiência de migração por parte doresponsável pelo lote.

O parâmetro Juventude foi constituído atravésdas informações autodeclaradas pelos assentadose calculado a partir dos escores: zero pararesponsável pelo lote com idade acima de 41 anos;0,500 para responsável pelo lote com idade entre31 e 40 anos; e 1,000 para responsável pelo lotecom idade entre 21 e 30 anos.

O parâmetro Envelhecimento foi construído combase nas informações autodeclaradas pelosassentados e ponderado pelos escores: zero pararesponsável pelo lote com idade até 20 anos; 0,250para responsável pelo lote com idade entre 21 e 30anos; 0,500 para responsável pelo lote com idadeentre 31 e 40 anos; 0,750 para membro da famíliamais idoso com idade entre 41 e 50 anos; e 1,000para responsável pelo lote com idade superior a 51anos.3.1.2 Sub-índice Infraestrutura

O sub-índice Infraestrutura abrange a dotaçãodos equipamentos e serviços essenciais àreprodução social da população assentada e foielaborado através de observação direta einformações fornecidas pelos assentados. Foiconfigurado pelos parâmetros de Acesso aosServiços de Telefonia (IBGE, 2010), Acesso aEstradas (INCRA, 2011), Condições da Habitação,Acesso à Rede Pública de Ensino (IBGE, 2010a),Oferta de Serviços Básicos de Saúde (IBGE,2010a) e Disponibilidade de Equipamentos deLazer.

De acordo com IBGE (2010), o parâmetroAcesso aos Serviços de Telefonia apresenta aoferta do serviço à população assentada,proporcionando o contato e a troca de informaçõesentre as pessoas, o que reduz a demanda detransporte, diminuindo a pressão sobre o meioambiente. Foi calculado a partir da observaçãodireta e informações dos assentados, e segundoos escores: zero para sem acesso ao serviço detelefonia; 0,250 para acesso ao serviço de telefoniapróximo, mas fora do assentamento; 0,500 paraacesso a orelhão ou telefone fixo/móvel comantena rural, no assentamento; 0,750 para acessoa orelhão ou telefone fixo/móvel sem antena rural,no assentamento; e 1,000 para acesso a orelhão etelefone fixo/móvel sem antena rural, noassentamento.

Em conformidade com INCRA (2011), oparâmetro Acesso a Estradas expressa adisponibilidade de estradas transitáveis ou outrasvias de transporte em condições adequadas aodeslocamento da população e escoamento daprodução. Foi alicerçado nos seguintes escores:zero para acesso ao assentamento sem aberturade estrada; 0,500 para acesso ao assentamentoatravés de estrada vicinal, ou com revestimentoprimário (piçarra); 1,000 para acesso aoassentamento através de estrada asfaltada, comTratamento Superficial Duplo (TSD).

O parâmetro Acesso ao Transporte Coletivoexprime a oferta do serviço público de transportecoletivo aos assentados e foi avaliado com basenos seguintes escores: zero para sem oferta detransporte coletivo no interior do assentamento ouno entorno; 0,500 para acesso ao transportecoletivo no entorno do assentamento, mas fora doseu perímetro; e 1,000 para serviço de transportecoletivo com trânsito no interior do assentamento.

O parâmetro Condições de Habitação foiavaliado através de observação direta e deinformações dos assentados e ponderado combase nos seguintes escores: zero para domicíliocom revestimento de palha/taipa, cobertura depalha e sem piso de cerâmica; 0,250 para domicíliocom revestimento de palha/taipa, cobertura emtelha e sem piso de cerâmica; 0,500 para domicíliocom revestimento de alvenaria, cobertura em telha,sem piso de cerâmica e sem reboco; 0,750 paradomicílio com revestimento de alvenaria, coberturaem telha, piso de cerâmica e sem reboco; e 1,000para domicílio com revestimento de alvenaria,cobertura em telha, piso de cerâmica e pinturainterna e/ou externa.

O parâmetro Acesso à Rede Pública de Ensinofoi avaliado por observação direta e informações dosassentados e mensurado através dos seguintesescores: zero para sem disponibilidade de escolapública de nenhum nível de ensino (infantil,fundamental e médio) próxima ao assentamento;0,250 para disponibilidade de escola próxima, masfora do assentamento; 0,500 para disponibilidadede escola de um dos níveis de ensino noassentamento; 0,750 para disponibilidade de escolade dois níveis de ensino no assentamento; e 1,000para disponibilidade de escola dos três níveis deensino no assentamento.

O parâmetro Oferta de Serviços Básicos deSaúde foi avaliado por observação direta einformações dos assentados e medido segundo os

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seguintes escores: zero para sem disponibilidadede equipamento de saúde (hospital, centro ouposto) próximo ao assentamento; 0,500 paradisponibilidade de equipamento de saúde próximo,mas fora do assentamento; e 1,000 paradisponibilidade de serviço de saúde noassentamento.

O parâmetro Disponibilidade de Equipamentosde Lazer foi avaliado de acordo com informaçõesdos assentados e calculado com base nosseguintes escores: zero para sem disponibilidadede equipamento de lazer, no interior doassentamento ou não soube informar; 0,250 paradisponibilidade de equipamento de lazer emcondições ruins/péssimas, no interior doassentamento; 0,500 para disponibilidade deequipamento de lazer em condição regular, nointerior do assentamento; e 0,750 paradisponibilidade de equipamento de lazer em boacondição, no interior do assentamento; e 1,000para disponibilidade de equipamento em excelentecondição de uso, no interior do assentamento.3.1.3 Sub-índice Qualificação para o Trabalho

O sub-índice Qualificação para o Trabalho foiconstituído a partir das informações prestadaspelos assentados e com base no parâmetroParticipação em Cursos de Qualificação.

O parâmetro Participação em Cursos deQualificação foi avaliado conforme as informaçõesprestadas pelos assentados e medido a partir dosseguintes escores: zero para nenhum membro dafamília com participação em cursos de qualificaçãoem quaisquer áreas, ministrados por quaisquerórgãos e instituições; 0,500 para algum membro dafamília com participação em cursos de qualificaçãoem atividades não-relacionadas ao sistemaagroindustrial, ministrados por quaisquer órgãos einstituições; e 1,000 para algum membro da famíliacom participação em cursos de qualificação ematividades relacionadas ao sistema agroindustrial,ministrados por quaisquer órgãos e instituições.

O cálculo do índice social foi realizado deacordo com Rabelo (2008) e expresso na seguintefórmula:

Sendo:Iw = índice social;Eij = escore do i-ésimo indicador (sub-índice eparâmetro) que compõe o índice Iw

obtido no j-ésimo formulário;Emáx i = escore máximo do i-ésimo indicador (sub-índice e parâmetro) do Iw;i = 1, ..., m = número de indicadores (sub-índices eparâmetros) do Iw;j = 1, ..., n = número de formulários respondidos;w = 1 = número de índices específicos (social).

A referida autora salienta que quanto maispróximo de 1,0 (um) for o valor obtido para o índiceIw, melhores serão as condições desustentabilidade do ambiente, na dimensão sobanálise.

No resultado do índice obtido para oassentamento estudado, é possível avaliar o nívelde sustentabilidade social e enquadrá-lo em umaescala progressiva, segundo Rabelo (2008,adaptado de ONU/PNUD, 1998) e de acordo com oQuadro 1:

Desta forma, alicerçado nesse procedimentometodológico, mensurou-se a sustentabilidadesocial do Assentamento Rural Santana NossaEsperança, em consonância com os objetivosdesse trabalho.

4. Resultados e discussão

A sustentabilidade de um assentamento ruraldepende das condições históricas e sociais nasquais foi gestado, das influências políticas querecebeu, do nível de engajamento das famíliasenvolvidas e da qualidade da atuação do órgãogestor, em busca da consolidação do projeto.

Conforme as entrevistas efetuadas, identificou-se que o assentamento foi constituído a partir dequatro diferentes grupos sociais: os trabalhadoresda extinta Fazenda Agropol, residentes no imóvel;os agricultores familiares que arrendavam a terra ehabitavam o entorno da propriedade; as famílias demoradores do Conjunto Residencial Deus Quer eimediações, situado na zona urbana sudeste deTeresina, que requisitaram a expropriação da área

Quadro 1 – Escala de sustentabilidade social do assentamento ESCALA DE SUSTENTABILIDADE

GRAU DE SUSTENTABILIDADE RESULTADO DO ÍNDICE Sustentabilidade excelente 0,800 = I = 1,000

Sustentabilidade boa 0,650 = I = 0,799 Sustentabilidade média 0,500 = I = 0,649 Sustentabilidade ruim 0,300 = I = 0,499

Sustentabilidade crítica 0,000 = I = 0,299 Fonte: A autora, adaptado de Rabelo (2008).

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para reforma agrária; e as famílias de acampadosvinculados ao MST, transferidos do município deAltos-PI, pelo INCRA.

Uma vez formalizado o processo pelaAPMPRDQ e instaurados os procedimentos devistoria do imóvel em 2005, o INCRA comunicou aogrupo de ex-funcionários da fazenda sobre apossibilidade de desapropriação. Os requerentesno processo constituíram acampamento na área,coabitando fora dos limites da propriedade, duranteaproximadamente seis meses, até o efetivoreconhecimento do assentamento.

Após a autorização pelo INCRA para o ingressona área da propriedade desapropriada, os doisprimeiros grupos – os trabalhadores da extintafazenda (e que residiam no seu entorno) e osassociados da APMPRDQ – fixaram moradia,ocupando conjuntamente um dos galpõesedificados em seu interior. Paralelamente, o INCRAampliou a capacidade do imóvel e decidiuincorporar em torno de 65 famílias de agricultoressem-terra cadastrados pelo órgão, ao grupo deassentados do Projeto Santana Nossa Esperança,as quais eram originárias do acampamentodenominado Nossa Esperança, criado pelo MST,situado no Povoado Mucuim, localizado nasproximidades do município de Altos-PI e nãomantinham nenhuma relação de convivência comos ocupantes primeiros do lugar, fato que geroubastante revolta e exacerbou os contrastespercebidos entre os perfis dos grupos deassentados.

Um ano após a ocupação da área pelas famíliasassentadas, presenciavam-se intensas disputas,marcadas por violência física e ataques aopatrimônio individual, o que culminou naformalização de pedidos de desmembramento doassentamento em três parcelas, sob a alegação daimpossibilidade de “harmonioso entendimento”entre as partes envolvidas.

Tal configuração redundou em 2008 nodesmembramento do assentamento, em PASantana Nossa Esperança, integrado pelas 75famílias de arrendatários e ex-trabalhadores daFazenda Agropol e as 70 famílias requerentes dainstalação do projeto, organizados na Associaçãodos Trabalhadores Rurais do AssentamentoSantana Nossa Esperança (ATRASNE); e o PANossa Vitória, composto pelas 65 famíliassem-terra transferidas do Povoado Mucuim, peloINCRA.

Revoltado com a divisão da área, que

ocasionaria a redução das dimensões da futuraárea de trabalho individual e questionando a formade aplicação dos recursos oriundos do Programade Crédito Instalação, nas modalidades ApoioInicial e Aquisição de Material de Construção, bemcomo a destinação de recursos naturais (piçarra)do assentamento por parte da ATRASNE, foiformado um grupo dissidente de assentadosresidentes no PA Santana Nossa Esperança,dando origem à Associação dos AgricultoresFamiliares do Assentamento Santana NossaEsperança (AGRIFASNE).

Desde o desmembramento da área, os atritosverificados no assentamento tornaram-se menosviolentos, não obstante as disputas de poder entreas duas associações (ATRASNE e AGRIFASNE)pela representação dos assentados aindaocorrerem e se fazerem sentir, prejudicandosignificativamente a execução de projetos deinteresse coletivo.

Em função desse cenário, constata-se aexistência de campanhas difamatórias de ambosos lados, provocando um ambiente de desconfiançae a completa desarticulação entre as associações,o que dificulta a realização de atividades conjuntase projetos produtivos sobejamente importantes paraa consolidação de um projeto de reforma agrária.

Face ao exposto, compreende-se que asprincipais motivações para os problemas desociabilidade verificados no assentamento derivamda iniciativa desastrosa do INCRA em reunir, emuma mesma área, quatro grupos com origens erealidades socioeconômicas e culturaiscompletamente distintas, e do atendimentoquestionável deste órgão às demandas daspopulações assentadas.

Em relação aos resultados do Índice Social doassentamento em estudo, o referido índice revelouum patamar de 0,540 (nível médio), contempladopelos sub-índices Vivabilidade, Infraestrutura eQualificação para o Trabalho.

O sub-índice Vivabilidade foi configurado pelosparâmetros Abandono dos Lotes, MigraçãoTemporária, Envelhecimento e Juventude,mensurado em 0,640 (nível médio).

De acordo com Medeiros (2003), osassentamentos rurais, além de representaremmaior estabilidade para famílias migrantes,consistem em pontos de partida para novas saídas,uma vez que nem todos os assentadospermanecem no território, com o passar dos anos.

No caso do Assentamento Rural Santana Nossa

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Esperança, a proximidade em relação à zonaurbana do município configurou-se como fatorinibidor para a desistência das famílias assentadas,o que constituiu o indicador 1,000 (nível excelente)para o parâmetro Abandono dos Lotes, uma vezque somente duas das 143 famílias cadastradasinicialmente no Assentamento Rural SantanaNossa Esperança desvincularam-se formalmentedo assentamento.

Para Oliveira et al (2012), a proximidade dazona urbana de Teresina-PI também conforma-secomo um fator catalisador da Migração Temporária,em face da maior disponibilidade de ocupaçõesadicionais e da maior facilidade de escoamento daprodução oriunda dos lotes, ampliando aspossibilidades de complementação de renda para apopulação masculina, a qual frequentemente “vendediárias” de trabalho a proprietários de chácarassituadas no entorno do assentamento, gerando oindicador 1,000 (nível excelente), para esteparâmetro.

Segundo Castro (2012), o termo “jovemcamponês” ou “jovem”, é utilizado para designarfilhos de camponeses que ainda não seemanciparam da autoridade paterna; sendo, namaioria das vezes, solteiros que vivem com ospais. Adicionalmente, realça-se que a entrada nomercado de trabalho revela-se um critério paracaracterizar o jovem rural; enquanto o casamentogeralmente representa o ingresso na vida adulta.Acrescenta, ainda, que os jovens migrantesconstituem um obstáculo para o funcionamento dosassentamentos, em razão do desinteresse pela“vida rural”, gerando uma descontinuidade da “vidano campo” e da produção familiar.

Nessa perspectiva, salienta-se que o êxodo dosjovens rurais para a zona urbana, problematiza areprodução social da agricultura familiar no campo,e provoca o envelhecimento da população rural,com menor capacidade laboral, o que inibe aprodutividade dos lotes. Assim, entre a populaçãoestudada predomina a faixa etária adulta e famíliassem filhos jovens residindo no assentamento, demodo que o parâmetro Juventude situou-se em0,305 (nível ruim).

A permanência do jovem no campo pode serestimulada pela revalorização do meio rural, atravésde iniciativas que busquem a melhoria dascondições de vida e ampliação das oportunidadespara a população rural, como emprego, educação,lazer, cultura, dentre outros.

Por outro lado, a existência e permanência de

idosos no assentamento expressa aspossibilidades do meio rural de produzir ascondições de convivência intergeracional, semcomprometer a qualidade de vida na fase idosa.Tendo em vista que a maior parcela da populaçãoassentada encontra-se na faixa etária compreendi-da entre 40 a 60 anos, o parâmetro Envelhecimentoresultou no indicador 0,255 (nível crítico).

Uma questão crucial para o êxito da política dereforma agrária se refere à garantia de permanênciados trabalhadores rurais na terra. De modo geral, aprecariedade da infraestrutura dos assentamentos,a qual provoca dificuldades de acesso aotransporte, à escola, à assistência à saúde, à faltade apoio à produção, endividamento, sensação deabandono sentida pelos assentados também sãoas causas que mais contribuem para a evasão noslotes.

O sub-índice Infraestrutura foi mensurado combases nos parâmetros Acesso à Telefonia, Acessoa Estradas, Acesso ao Transporte Coletivo,Condições da Habitação, Acesso à Rede Públicade Ensino, Oferta de Serviços Básicos de Saúde eDisponibilidade de Equipamentos de Lazer, esituou-se no patamar de 0,518 (nível médio).

A Instrução Normativa nº 15/2004 (INCRA,2004), apresenta como requisito para aimplantação de um assentamento rural, oestabelecimento de uma infraestrutura básica,como o abastecimento de água, o fornecimento deenergia elétrica e a construção de estradas.

Em relação ao assentamento pesquisado, oacesso dá-se através da rodovia federal BR-343,até o trevo da Ladeira do Uruguai; convertendo àdireita e seguindo aproximadamente 15,0 km pelarodovia municipal asfaltada TER-120, até o bairroJardim Europa; e depois, dobra-se à esquerda,trafegando aproximadamente 300m por via revestidade paralelepípedo, seguida de estrada vicinal por1,0 km, até a entrada do imóvel. Desta forma, oparâmetro Acesso a Estradas foi medido em 0,500(nível médio), uma vez que o acesso aoassentamento é feito através de estrada vicinal,com revestimento primário (piçarra).

O transporte coletivo é realizado diariamentepela empresa Santana, através da linhaBarreiro-Morro Alegre, disponibilizando dois ônibus,aos preços de R$ 2,10 e R$ 1,05 para inteira emeia passagens, respectivamente. São realizadastrês viagens, de segunda a sexta-feira; e duasviagens, aos sábados; com uma hora de duração.Ressalta-se que os veículos circulam em todas as

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ruas do projeto; entretanto, o assentamento não édotado de paradas construídas e cobertas para osusuários do serviço, os quais se abrigam do sol eda chuva embaixo de palhoças improvisadas. Destaforma, o parâmetro Acesso ao Transporte Coletivofoi mensurado em 1,000 (nível excelente).

No que concerne ao Acesso aos Serviços deTelefonia, destaca-se que a área do assentamentoé coberta por sinal de telefonia móvel da operadoraOi e que a instalação de um orelhão está sendoprovidenciada pela empresa Telemar, o queredundou no indicador para o parâmetro Acessoaos Serviços de Telefonia de 0,750 (nível bom).

Referente às Condições da Habitação, verificou-se que 70,6% dos assentados residem em casasde alvenaria, cobertas por telha, sem piso decerâmica e sem reboco edificadas pelo INCRA,com os recursos oriundos do Programa de CréditoInstalação, na modalidade Aquisição de Materiaisde Construção, o que resultou no indicador 0,495(nível ruim) para o parâmetro Condições daHabitação. Apesar de as casas serem pequenas,não serem rebocadas, não contarem com piso decerâmica, os banheiros apresentarem problemasde encanação e algumas possuírem fissuras nasparedes, para 41,2% dos assentados as casas sãoconsideradas de boa qualidade, pois ponderam quenão dispunham de outra residência ou que a casaque possuíam ou residiam anteriormente ao ingres-so no assentamento apresentava condição inferiorà atual. No entanto, destaca-se que quatro assen-tados, dentre os pesquisados, ainda residem emcasas de taipa construídas por eles próprios, porencontrarem-se na lista de espera para inclusão naRelação de Beneficiários (RB) do INCRA.

No âmbito da educação, a população assentadaé atendida pelo Centro Municipal de EducaçãoInfantil (CMEI) Tio Fernando Santiago e pela EscolaMunicipal Arthur Medeiros Carneiro (com ensinofundamental diurno e médio noturno), ambossituados no vizinho bairro Jardim Europa, a umadistância de aproximadamente 2,5 Km doassentamento, configurando um indicador de 0,250(nível crítico) para o parâmetro Acesso à RedePública de Ensino.

Em geral, os assentados avaliam a qualidade doensino, da merenda e do transporte escolar comoboa; embora o ônibus escolar não trafegue dentrodo assentamento no turno da noite, nem circuletodos os dias da semana, o que é apontado comofator de comprometimento da assiduidade escolardos estudantes.

Em relação à saúde, o equipamento maispróximo, Centro de Saúde Usina Santana, tambémse localiza no bairro Jardim Europa, distandoaproximadamente 2,5 Km do assentamento,resultando no indicador 0,500 (nível médio) para oparâmetro Oferta de Serviços Básicos de Saúde.Todavia, o atendimento é qualificado como ruim,devido à disponibilidade de médico apenas um diapor semana e à esporádica visitação dos doisagentes de saúde que integram a equipe doPrograma de Saúde da Família (PSF), restrita aoacompanhamento periódico de moradores comdificuldade de locomoção, hipertensos, gestantes,idosos e crianças.

No tocante à prática de atividades de lazer,100,0% dos entrevistados revelam dificuldade,devido à indisponibilidade/inviabilidade deequipamentos, não obstante já ter sido reservadoum espaço apropriado para a construção de umcampo de futebol no interior do assentamento eformalizado o pleito junto às autoridadescompetentes, porém ainda sem atendimento.Nesse sentido, explicitam que a única oportunidadede lazer restringe-se a um campo de futebolimprovisado, o que conformou um indicador 0,129(nível crítico) para o parâmetro Disponibilidade deEquipamentos de Lazer.

Em estreita relação com a qualidade de vidanos assentamentos de reforma agrária, encontram-se questões relativas à dotação de umainfraestrutura básica e a ações estruturaisdestinadas a alavancar a produção. A infraestruturabásica implantada pelo órgão gestor doAssentamento Rural Santana Nossa Esperança,limitada à construção das habitações, doarruamento, do sistema de abastecimento de águae do fornecimento de energia elétrica amenizadificuldades, mas não transforma substancialmenteas condições de vida das famílias assentadas, umavez que se encontra divorciada de ações que visemsua independência econômica.

Segundo Pereira (2012), a educação profissionalvoltada para o campo inclui a preparação paradiversas profissões indispensáveis ao desenvolvi-mento do território camponês, cuja base encontra-se calcada na agricultura, pecuária, agroindústria eserviços relacionados ao campo, etc.

O sub-índice Qualificação para o Trabalho foiconstituído pelo parâmetro Participação em Cursosde Qualificação, calculado em 0,462 (nível ruim).

Dentre os cursos que os assentados pesquisa-dos mais participaram destacam-se produção de

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doces, enxertia, hidroponia, horticultura,piscicultura, ordenha, criação de animais,compostagem e associativismo, oferecidos peloInstituto de Assistência Técnica e Extensão Rural(EMATER/PI), e ressalta-se também o curso demontagem e manutenção de computadores peloONG Movimento pela Periferia (MP3) para os filhosde assentados.

Nesse contexto, esse panorama mostra-sepreocupante, haja vista que a profissionalização e ooferecimento de atividades de promoção social nomeio rural contribuem efetivamente para o aumentode renda, a integração e a ascensão social dasfamílias assentadas, colaborando também para odesenvolvimento socioeconômico doassentamento.

5. Conclusão

As condições vivenciadas nos assentamentos,sejam positivas ou negativas, derivam diretamenteda atuação do poder público, nas suas respectivasesferas de competência, uma vez que nenhumaperspectiva de desenvolvimento pode ser viabilizadasem que, pelo menos, o padrão mínimo desobrevivência seja garantido, as possibilidades deautonomia econômica sejam oferecidas e osdireitos e liberdades individuais sejamassegurados.

Nesse sentido, a reforma agrária, em seusentido lato, teria por finalidade garantir osmecanismos necessários à promoção de umaruralidade sustentável, considerando amultiplicidade de aspectos que condicionam a vidahumana.

Nessa perspectiva, reconstituiu-se o históricode constituição do Assentamento Rural SantanaNossa Esperança mantido pelo INCRA emTeresina-PI, onde registrou-se um contextoconflituoso na formação do território e naorganização social e econômica dos gruposenvolvidos, face ao atendimento precário àsdemandas por parte do poder público e o órgãogestor, o que replica negativamente sobre aexequibilidade de projetos coletivos entre osassentados.

Do ponto de vista social, o referidoassentamento apresentou índice 0,540 (nívelmédio), com base na margem de erro destapesquisa que é de 5,0%, o que induz àcompreensão de que o assentamento caracteriza-se pela sustentabilidade social.

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Entretanto, constatou-se que os assentadosressentem-se da insuficiência de atendimento dasnecessidades básicas, no que diz respeito aosserviços de educação e saúde, e à falta deequipamentos para o lazer.

Nessa perspectiva, ressalta-se que a criação doAssentamento Rural Santana Nossa Esperança,possibilitou uma maior estabilidade e rearranjosnas estratégias de reprodução familiar dosassentados, os quais resultaram em melhoria dascondições de vida, além de maior conhecimento ereivindicação dos direitos dos beneficiários dapolítica pública da reforma agrária, que se situamem meio a um processo de resgate da dignidadehistoricamente comprometida.

Dessa forma, conclui-se que o processo deimplantação e desenvolvimento dos assentamentosde Reforma Agrária deve orientar-se pelos princípiosda sustentabilidade, no intuito de promover aviabilidade econômica, a segurança alimentar, apreservação ambiental, o acesso a direitos, aigualdade de gênero, geração e etnia, com enfoqueterritorial

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*Este trabalho recebeu apoio do Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).**Economista e Mestranda em Desenvolvimento eMeio Ambiente pelo Programa de Mestrado emDesenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) daUniversidade Federal do Piauí (UFPI),[email protected].***Economista, Mestre e Doutora em Desenvolvimentoe Meio Ambiente, Professora do Ensino Básico,Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Piauí(IFPI), [email protected]. ****Professora Associada I do Departamento deCiências Econômicas (DECON) da UniversidadeFederal do Piauí (UFPI) e Programa de Mestrado eDoutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente(DDMA) da UFPI, [email protected].

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Introdução

O crédito rural é uma política pública que temcomo objetivo fornecer apoio financeiro,contribuindo para redução da pobreza e aumentoda renda da população rural que obtém acesso aomesmo (FEIJÓ, 2011).

O crédito rural, também conhecido comomicrocrédito foi implantado no Brasil na décadados anos de 1980 pela sociedade civil organizadaatravés do CEAPE – Centro de Apoio aosPequenos Empreendimentos. Atualmente estamodalidade de crédito é também realizada viagoverno federal pelo BNB – Banco do Nordeste doBrasil (MELO, 2006).

Contudo, a política de crédito rural tomouimpulso apenas a partir da década de 90, quandotrabalhadores rurais que lutavam pela reformaagrária passaram a reivindicar por melhorescondições de trabalho. Grupos organizados, taiscomo, Confederação Nacional dos TrabalhadoresAgrícolas (CONTAG), Movimento dos Trabalhado-res Sem Terra (MST) e diversas ONG’s, demanda-vam uma política específica de apoio e fortaleci-mento ao pequeno produtor rural de base familiar(FEIJÓ, 2011).

CRÉDITO RUAL: UMA ANÁLISE DAATUAÇÃO E CARACTERÍSTICASDO PRONAF MULHERElida Lourenço Lima*, Tales Wanderley Vital**, André de Souza Melo***,Vilane Gonçalves Sales**** e Sylvia Karla Barbosa*****

Resumo: O trabalho feminino desempenha uma importante função na agricultura familiar, pois a produtorarural desenvolve tarefas e funções que contribuem na produção agrícola. Porém, mesmo desenvolvendo umimportante papel na agricultura familiar, seu trabalho é pouco reconhecido e na maioria das vezes suasatividades não são remuneradas. Portanto, para solucionar esse problema, mulheres passaram a desenvolvermovimentos sociais que buscavam apoio em políticas públicas. A partir dessas revindicações, o Governocriou dentro do Programa Nacional de Fortalecimento da agricultura familiar uma linha específica paramulheres – Pronaf Mulher, o mesmo permite que atividades desenvolvidas por mulheres sejam financiadas. Opresente artigo tem como objetivo analisar as características e atuação da linha de crédito Pronaf Mulher doperíodo de 2004 até 2010.Palavras-chave: Pronaf Mulher, Crédito Rural, Agricultura Familiar.

Abstract: The female labor performs an important role in family farming because the producer develops ruraltasks and functions that contribute to crop production. But even developing an important role in family farming,her work isn’t valued and most often her activity is unpaid. Therefore, to solve this problem, women began todevelop social movements that sought to support public policies. From these claims, the Governmentestablished within the National Program for Strengthening Family Agriculture (PRONAF) a specific line forwomen - Women Pronaf (Pronaf Mulher), the program allows activities to be financed by women. This articleaims to analyze the characteristics and performance of the credit line Pronaf Mulher from 2004 to 2010.Keywords: Pronaf Mulher, Rural Credit, Family Farming

Como consequência dessas reclamações, em1994, surge o Programa de Valorização da PequenaProdução Rural (PROVAP), que dariaembasamento para que dois anos após fosseinstitucionalizado o Programa Nacional deFortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

O Pronaf foi fundado em 1995, objetivando apoioà agricultura familiar com base na concessão delinhas especiais de crédito. O mesmo está entreos programas que oferecem subsídios rurais, quepossui como finalidade fortalecer a agriculturafamiliar, fornecendo financiamento da infraestrutura,bem como, serviços agropecuários e de atividadesrurais não-agropecuárias, com emprego direto daforça de trabalho do produtor rural e de sua família,visando a geração de ocupação e renda, melhoran-do assim a qualidade de vida dos agricultoresfamiliares (Souza at alei, 2010).

Ainda segundo Sousa et alli, desde suacriação, o programa vem sofrendo alterações emsuas diretrizes e processos operacionais, abran-gendo a definição do público, a classificação dosagricultores em categorias, redefinindo valores definanciamento, aperfeiçoando as linhas de atuação,visando com isso o desenvolvimento territorial1.

23 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

Dentre as modalidades e finalidades de crédito,segue as categorias que subdividem o Pronaf:Grupo A - Agricultores familiares assentados peloPrograma Nacional de Reforma Agrária (PNRA),público-alvo do Programa Nacional de CréditoFundiário (PNCF) e os reassentados em função daconstrução de barragens.Grupo A/C - Agricultores familiares assentadospelo Programa Nacional de Reforma Agrária(PNRA) ou público alvo do Programa Nacional deCrédito Fundiário (PNCF) que já tenham contratadoa primeira operação no Grupo A.Grupo B (Microcrédito Rural) - Agricultoresfamiliares com renda bruta anual familiar de até R$20 mil, sendo que no mínimo 50% da renda devemser provenientes de atividades desenvolvidas noestabelecimento rural.Grupo C - Agricultores familiares titulares deDeclaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) válida doGrupo C, emitida até 31/03/2008, que, até 30/06/2008, ainda não tinham contratado as seisoperações de custeio com bônus.PRONAF Agricultor Familiar - Agricultoresfamiliares com renda bruta anual acima de R$ 6 mile até R$ 110 mil.

Existem dentro dessas categorias, linhas definanciamentos específicos que permitem que osrecursos do Pronaf sejam melhores distribuídosentre os agricultores rurais. Sendo assim, oprincipal foco de análise deste estudo, será a linhade concessão Pronaf Mulher, pois o mesmopermite analisar a relevância da mulher no mercadode crédito, bem como, sua importância no contextoda agricultura familiar.

Além desta parte introdutória, o artigo seestrutura em mais quatro seções. Na segundaseção, tem-se um esboço da importância daparticipação feminina na agricultura familiar e osurgimento do Pronaf Mulher, em seguida,apresenta-se a metodologia utilizada nestetrabalho. Na terceira seção, serão apresentados osresultados da análise, tendo as consideraçõesfinais como última seção.

1. Referencial teórico

1.1 Agricultura familiar e a participação femininaA agricultura familiar, como o próprio nome

explicita, é composta pela participação da famíliano desenvolvimento da unidade de produção. Aparticipação da unidade familiar na realização dasatividades agrícolas, principalmente nas regiõesmais pobres, decorre da precária condição

financeira da família para contratar serviços deterceiros, tornando comum a participação demulheres crianças e idosos no trabalho agrícola(MELO, 2006).

A mulher sempre desenvolveu uma importanteparticipação nas atividades agrícolas, nassociedades a-históricas, além de executaremtarefas domésticas, também eram responsáveis porproduzir artesanatos e produtos agrícolas, essasatividades eram exceções apenas para asmulheres pertencentes às elites (MELO at al.,1996).

O papel desempenhado pela mulher naagricultura familiar é muito importante ainda nosdias atuais, pois a mesma exerce atividades decultivo dos produtos agrícolas, bem como, éresponsável também pela criação e cuidado deanimais de pequeno porte. Além da contribuição naprodução agrícola para comercialização ou parasubsistência, a mulher também participa deatividades relacionadas ao artesanato, piscicultura,silvicutura, etc (MELO, 2006).

Mesmo que a mulher desempenhe umaimportante função na agricultura familiar, seutrabalho é pouco reconhecido e na maioria dasvezes suas atividades não são remuneradas. Otrabalho feminino é considerado tarefa doméstica,ou apenas uma ajuda nas atividades do “chefe dafamília”, mesmo que esse trabalho seja decisivopara manutenção da unidade familiar (CIRANDASDO PRONAF PARA MULHERES, 2005).

Portanto, geralmente um número pequeno demulheres possui um rendimento, e mesmo assim,a renda adquirida é inferior à obtida pelos homens.As atividades produtivas femininas acabam setornando invisíveis. Essa invisibilidade segundoinformações das Cirandas do Pronaf para Mulheres(2005), tem forte expressão na jornada de trabalhodessas mulheres, pois a mesma se apresentacomo sendo menor do que a jornada de trabalhomasculina. As atividades desenvolvidas no quintale na horta, centrais na reprodução familiar, não sãoconsideradas como horas de trabalho.

Sendo assim, segundo Melo (2006):No meio rural os valores patriarcais ainda sãoprevalecentes, o homem exerce a condição deinterlocutor da família no espaço público paraassuntos de negócios, é sempre a figuramasculina que representa a família nosprogramas governamentais. Assim a mulher épreterida ao homem, por exemplo, nas ações queenvolvem a política agrícola, como acontece como crédito rural.Embora a participação da mulher na política

pública ainda seja pequena, nas últimas décadas

24informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

surgiram movimentos de trabalhadoras rurais noBrasil. Esses movimentos se consolidaram, e asmulheres passaram a revindicar participação nasações públicas, ou seja, reconhecimento dostrabalhos desenvolvidos por elas no campo.

Deste modo, essas revindicaçõesproporcionaram grandes conquistas para asmulheres, tais como, direito a aposentadoria aoserem reconhecidas como trabalhadoras rurais.Bem como, o direito a documentação civil etrabalhista e a aquisição da posse da terra emassentamentos rurais. Entre os direitos adquiridospelas trabalhadoras rurais encontra-se o PronafMulher.1.2 O Pronaf Mulher

Em 2001, o recém-criado Programa de AçõesAfirmativas do MDA reconheceu como problema ofato de que os créditos destinados às mulheres nãoultrapassavam 10% do total concedido. Sendoassim, foi criada a Portaria nº 121 de 22 de maiode 2001 onde foi estabelecido que um mínimo de30% do Pronaf deveria ser destinadopreferencialmente às mulheres agricultoras. EstaPortaria, contudo, não alterou a realidade doacesso das agricultoras ao crédito, uma vez que,não foi acompanhada de nenhuma estratégia paragarantir a sua efetivação (CIRANDAS DO PRONAFPARA MULHERES, 2005).

Então, novas medidas passaram a serestudadas para garantir o acesso da mulher aocrédito, para tanto, o Pronaf passou por váriasalterações até que em 2003 surgiu o Pronaf Mulher,de acordo com Cirandas do Pronaf para Mulheres(2005):

O Pronaf mulher surgiu no Plano de Safra 2003-2004, na ocasião, tratava-se não de uma linha decrédito específica, mas sim da instituição de umsobreteto, um valor adicional de 50% ao montantede recursos já disponibilizados às famílias naslinhas de investimento C e D2. Para ter direito aosobreteto intitulado Pronaf Mulher, o projetoprodutivo deveria contemplar demanda derecursos para investimento em alguma atividadea ser desenvolvida pela mulher.Através do acesso ao crédito poderiam ser

financiadas atividades agrícolas e não-agrícolas,tais como, manejo de pequenos animais, produçãode hortaliças, artesanato, doces e queijos, além deatividades agropecuárias em geral. O valordestinado para a linha especial Pronaf Mulherequivaleu a 110 milhões de reais naquele Plano deSafra (CIRANDAS DO PRONAF PARAMULHERES, 2005).

Após o Plano de Safra 2003-2004, o PronafMulher tornou-se uma linha específica para

mulheres dentro do Pronaf, passando a ser dirigidoàs mulheres agricultoras integrantes de unidadesfamiliares de produção, independente de suacondição civil. A mesma unidade familiar podecontratar até dois financiamentos ao amparo doPronaf Mulher. Crédito de até R$ 50 mil reais, comjuros que variam de 1% a 2% a. a., de acordo como valor de financiamento que pode ser pago em atédez anos, incluindo até três anos de carência(Souza at alei, 2010).

2. Metodologia

Para a elaboração de uma análise da atuação edesempenho do Pronaf Mulher foi utilizado o bancode dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário– MDA, onde os dados foram retirados da sériehistórica dessa linha de crédito. Para interpretaçãodos resultados encontrados, foram consultadosestudos e pesquisas relacionados com o tema.Assim sendo, o artigo se embasa, principalmente,no trabalho desenvolvido por Melo (2006), com asmulheres da região semiárida do nordeste brasileiroque obtiveram acesso ao Programa deFortalecimento da Agricultura Familiar, sobretudoas que tiveram acesso ao Pronaf Mulher.

3. Resultados e discussão

As mulheres representam uma importanteparcela da população rural. Segundo o CensoDemográfico 2010, realizado pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elasrepresentam 47% da população rural, ou seja,quase 50% do total.

Embora tenha adquirido direitos nas políticaspúblicas e represente percentual relevante no meiorural, as mulheres ainda não representam umnúmero significativo no acesso ao crédito, principal-mente na linha de concessão Pronaf Mulher.

Como mostra a Tabela 1, desde o início daatuação do Pronaf Mulher, do ano de 2004 até2010, os números de contratos firmados ainda sãoirrisórios. O estado do Ceará, de acordo com osdados do MDA (2013), foi o que mais adquiriucontratos nesse período, mas ainda apresenta umnúmero ínfimo de 6.495 contratações.

Portanto, os estados que mais se destacam emnúmero de acesso a essa linha de crédito são:Ceará, Rio Grande do Sul, Pernambuco e RioGrande do Norte consecutivamente. A RegiãoNordeste se destaca como a região que mais firmacontratos, representando aproximadamente 61% dototal de contratações já estabelecidas (Gráfico 1).

25 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

Fonte: Desenvolvido pela autora, de acordo com dados do MDA

Tabela 1 Quantidade de Contratos Firmados pelo Pronaf Mulher

UF 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Total

AC 3 0 11 12 32 64 18 140

AL 10 243 211 111 69 42 37 723

AP 0 0 4 0 0 0 0 4

AM 0 0 0 72 1 7 13 93

BA 146 610 727 454 117 97 111 2.262

CE 167 722 1.817 1.594 1.038 616 541 6.495

DF 0 0 0 1 0 0 0 1

ES 5 375 242 280 158 49 81 1.190

GO 241 177 247 161 175 127 77 1.205

MA 74 331 307 345 32 57 72 1.218

MT 64 58 105 61 9 9 13 319

MS 258 226 66 56 2 13 12 633

MG 54 458 735 456 287 323 178 2.491

PA 38 14 281 1.019 323 141 247 2.063

PB 8 602 983 427 240 195 144 2.599

PR 128 232 134 115 40 57 35 741

PE 69 447 1.189 1.286 557 117 327 3.992

PI 17 1.012 895 349 28 40 70 2.411

RJ 0 0 1 9 15 10 6 41

RN 215 1.281 1.161 403 84 59 91 3.294

RS 841 1.346 921 708 317 145 195 4.473

RO 28 55 7 67 4 13 14 188

RR 0 0 1 0 0 0 0 1

SC 39 100 126 138 32 41 35 511

SP 138 135 224 111 30 15 26 679

SE 39 393 459 337 221 129 115 1.693

TO 40 68 201 171 75 98 57 710

26informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

Assim como, a maior quantidade de contratosfirmados se encontra nos estados da RegiãoNordeste, o montante financeiro aplicado no PronafMulher, durante o período de 2004 até 2010,também se concentra nessa região. Pois o valortotal financiado, nesses seis anos, é deR$ 20.530,367 e a região nordeste recebeuR$ 8.148,748 desse investimento. Portanto, auferiuaproximadamente 40% do valor total dofinanciamento.

Contudo, o estado que apresenta maior recep-tação de recursos dessa linha é Rio Grande do Sul,porém ainda assim, a Região Sul não conseguealavancar o volume financeiro total dos contratosfirmados por esse financiamento. (Tabela 2).

Os estados que apresentam maior participaçãono valor adquirido nessa linha de concessão são:Ceará, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte eRio Grande do Sul, este último é o que mais sedestaca em valores contratados, chegandoaproximadamente ao montante de R$ 50 mil.Sendo assim, o financiamento do Pronaf Mulher seencontra concentrado nas Regiões Sul e Nordeste(Gráfico 2).

Essa centralização do Pronaf Mulher na RegiãoNordeste, pode ser ocasionada pelo número dapopulação rural pertencente a essa região. Pois,segundo o IBGE (2013), o Nordeste apresenta umapopulação rural de aproximadamente 48% do totaldo país, desse percentual mais de 45% érepresentado pela população feminina. Portanto, épossível que por possuir um maior percentual demulheres no meio rural do que as demais regiões,a Região Nordeste se destaque no financiamento e

na quantidade de contratos firmados pelo PronafMulher. (Gráfico 3).

Segundo Melo (2006), a independência docrédito Pronaf Mulher, não mais atuando comosobreteto, melhorou a distribuição regional dosrecursos financeiros. As regiões que maisapresentam participação nos recursos do PronafMulher são Sul e Nordeste.

Os dados apresentados não só indicamimportantes avanços, mas também grandesdesafios, pois embora seja crescente aparticipação da mulher no crédito do Pronaf, é namodalidade B que a agricultora encontra maiorespaço para acessar o financiamento. A maiorparticipação da mulher no Pronaf B se explica pelaprópria realidade da mulher da agricultura familiardiante das poucas exigências desta modalidade decrédito, em virtude do baixo valor do empréstimo(até R$ 2.500,00). A exigência da renda familiarbruta anual e o valor do empréstimo da linha B sãoos menores, dentre as modalidades do Pronaf,além desta linha de crédito ser a mais conhecidapelas mulheres por ser mais antiga (MELO, 2006).

Ainda de acordo com Melo (2006), a linhaPronaf B:

Não constitui exigência a garantia real ou deavalista, mas apenas a obrigação pessoal doproponente; comprovantes relativos a bensadquiridos, exceto para máquinas, equipamentos,embarcações e veículos; homologação por partedos Conselhos Rurais, sendo a Declaração deAptidão - DAP suficiente para comprovar a relaçãodo beneficiário com a terra e a atividade objeto definanciamento.Assim sendo, o Pronaf Mulher ainda é uma

ferramenta desconhecida por muitas mulheresrurais, isso se deve também ao fato dos agentes de

Gráfico 1 Quantidade de Contratos Firmados pelo Pronaf Mulher por estado (2004 – 2010)

Fonte: Desenvolvido pela autora, de acordo com dados do MDA

27 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

Tabela 2 Valor Financeiro Aplicado no Pronaf Mulher (em 1000 R$)

UF 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

AC 17.392 0 147.806 18.000 108.269 546.683 112.159

AL 50.930 1.281.110 1.111.550 638.298 455.983 222.804 219.514

AP 0 0 28.846 0 0 0 0

AM 0 0 0 289.873 5.210 39.511 55.766

BA 858.343 3.256.935 3.884.463 2.226.620 877.970 709.827 635.736

CE 925.466 3.501.105 9.468.236 8.696.881 7.069.570 4.475.938 3.373.731

DF 0 0 0 3.000 0 0 500

ES 73.363 4.373.669 2.794.461 3.654.575 2.421.552 750.713 1.137.807

GO 2.320.183 1.943.780 2.584.814 1.962.069 3.508.974 2.894.056 1.394.183

MA 566.624 2.060.679 1.792.080 1.176.075 241.179 304.321 286.929

MT 553.880 486.040 1.189.774 1.040.615 229.394 257.501 254.585

MS 1.593.882 1.464.539 461.745 396.766 35.995 131.177 93.990

MG 531.837 3.083.490 4.152.593 3.110.603 2.399.490 2.780.126 1.381.703

PA 439.089 191.416 2.834.282 11.672.893 3.525.634 2.237.465 2.905.999

PB 30.947 2.545.557 3.106.454 1.115.372 762.366 773.239 441.829

PR 1.236.773 1.729.383 1.141.229 1.016.526 547.092 847.703 401.887

PE 603.080 2.350.221 4.682.608 5.124.466 3.379.611 988.544 1.582.104

PI 107.096 4.861.195 3.952.890 1.831.516 187.380 290.218 384.852

RJ 0 0 18.000 35.172 38.033 94.212 27.903

RN 1.184.402 7.049.496 5.825.284 2.176.517 551.178 450.575 529.712

RS 9.355.746 10.874.757 7.848.231 9.091.832 5.724.237 2.611.355 2.904.571

RO 128.568 256.920 75.980 967.446 52.675 141.446 193.595

RR 0 0 34.500 0 0 0 0

SC 515.241 1.683.698 1.551.914 2.083.248 564.989 689.617 556.309

SP 917.793 1.147.225 2.144.129 1.116.576 539.464 240.317 316.060

SE 252.840 1.862.183 1.986.742 1.459.440 1.406.962 1.299.647 694.341

TO 238.620 415.442 1.213.923 1.323.721 787.073 1.756.819 644.602

Fonte: Desenvolvido pela autora, de acordo com dados do MDA

28informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

extensão ou crédito rural possuírem poucoconhecimento sobre essa linha de concessão decrédito. Segundo Brumer e Spanevello (2011), comoresultado dessa falta de informação muitostécnicos e agentes de banco preferem estimular asmulheres a solicitar créditos em linhas já utilizadaspelos homens.

Outro fator relevante que dificulta o acesso damulher ao crédito é a formação patriarcal dasociedade rural. As mulheres defendem não ser dacompetência do feminino ocupar o espaço público.Seguindo esta lógica social, é da competência dohomem, a gerência dos bens ou serviços. De formasemelhante é da responsabilidade dele, transações

comerciais ou vendas de produtos originados deempréstimos advindos de programas voltados paraa agricultura familiar. Muitas vezes a mulher temacesso ao crédito buscando beneficiar atividadesdesenvolvidas pelos homens, ou seja, embora ofinanciamento seja destinado à mulher, quem fazuso do mesmo é o homem da casa, reforçando aideia de que o poder de decisão é masculino(MELO 2006).

4. Considerações finais

O acesso feminino as políticas públicas, bemcomo, ao crédito ainda é bastante limitado no quetange a agricultura familiar. Embora a mulher

Gráfico 2 Valor financeiro aplicado no Pronaf Mulher por estado (2004 – 2010)

Fonte: Desenvolvido pela autora, de acordo com dados do IBGE

Fonte: Desenvolvido pela autora, de acordo com dados do IBGE

Gráfico 3 População Rural - Censo 2010

29 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

Referências:BUTTO, A. Políticas para Mulheres Rurais: Autonomiae Cidadania, NEAD, 2011.BRUMER, A; SPANEVELLO, R.M. Entre o Sonho e aRealidade: O Crédito Rural para Mulheres da

contribua para o bom desempenho da atividadeprodutiva, ela ainda não é vista como produtorarural, mas seu trabalho é na maioria das vezescaracterizado como uma extensão das atividadesdomésticas.

A criação do Pronaf Mulher que surgiu dereivindicações femininas procura reverter esseestigma da trabalhadora rural, busca a valoração dotrabalho feminino no campo e permite astrabalhadoras uma forma de aumentar ou auferirrenda.

Por se tratar de uma linha de concessão decrédito criada recentemente, o Pronaf Mulherapresenta entraves em seu financiamento econcessão de crédito. Contudo, as mulheres veemde forma positiva esse acesso ao crédito, pois omesmo permite o aumento de sua participaçãotanto em cooperativas, como também, na tomadade decisões familiares. O que torna o papelfeminino na agricultura familiar mais valorizado

*Mestranda em Administração e DesenvolvimentoRural – PADR/UFRPE. Economista com ênfase emEconomia Rural.**Professor no Programa de Administração eDesenvolvimento Rural – PADR/UFRPE. Pós - Doutorem Economia Territorial por Grenoble II.***Professor no Programa de Administração eDesenvolvimento Rural – PADR/UFRPE. Doutor emEconomia pela Universidade Federal dePernambuco.****Mestranda em Administração eDesenvolvimento Rural – PADR/UFRPE. Economistacom ênfase em Economia Rural.*****Mestranda em Administração eDesenvolvimento Rural – PADR/UFRPE. Economistacom ênfase em Economia Rural.

Agriicultura Familiar na Região Sul do Brasil, MDA,2011.CIRANDAS DO PRONAF PARA MULHERES, NEAD, 2005.FEIJÓ, R.L.C. Economia Agrícola e DesenvolvimentoRural, Rio de Janeiro, 2011.FISHER, I.R; MELO, L.A. O Trabalho Feminino: Efeitos daModernização Agrícola, Pernambuco,1996.MELO, L.A. Crédito Rural no Brasil: Uma Realidade paraa Mulher Agricultora Familiar?, Chile, 2006.MENEGAT, A.S; FARIAS, M.F.L. Pronaf Mulher:Perspectivas para o Empoderamento Feminino nosAssentamentos Rurais do Estado de Mato Grosso doSul, 2010.SANDRONNI, Paulo, org. Novo Dicionário de Economia. 4ed. São Paulo, 1994.Site oficial do Banco do Nordeste do Brasil. Disponívelem: <http://www.bnb.gov.br/>.Site oficial da Companhia do Desenvolvimento do Valede São Francisco e Parnaíba. Disponível em: <http://www.codevasf.gov.br/>Site oficial do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>.Site oficial do Ministério do Desenvolvimento Agrário.Disponível em: <http://www.mda.gov.br/>.OUSA, J.M.P.; JÚNIOR, A.S.V.; MACIEL, I.S.R. SérieAvaliação de Políticas e Programas do BNB, V.8,Fortaleza, 2010.

Notas:1 O Desenvolvimento Territorial, segundo a Codevasf (2013),“é a combinação de políticas governamentais descendentescom iniciativas de desenvolvimento endógeno. Trata-se deum desenvolvimento local baseado na participação dasociedade civil (...)”.2 Posteriormente os grupos C e E foram retirados dascategorias do Pronaf e seus beneficiários passaram a serenquadrados em outras categorias.

30informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

ANÁLISE DA TERRITORIALIDADE NOPIAUÍ NA PERSPECTIVA DACONVERGÊNCIA DE RENDA NO PERÍODODE 1991 A 2010Hérica Gabriela Rodrigues de Araújo*, Ramon Kieveer Barbosa Santos** eRoberta Moraes Rocha***

Resumo: Na série (2002-2010) o estado do Piauí apresentou um crescimento acumulado de 52.50% emvolume, tornando-se o segundo maior desempenho de destaque em relação ao Nordeste. Assim, o trabalhoproposto busca identificar como objetivo geral se esse crescimento econômico do Piauí vem resultando emdiminuições na discrepância da renda per capita dos municípios do estado durante o período analisado(1991-2010). Especificadamente, identificar a existência de convergência de renda per capita; determinar aintensidade do processo de convergência de renda per capita e analisar esse processo de convergência.Para que os objetivos fossem alcançados utilizaram-se os métodos de -convergência absoluta;-convergência condicional, e -convergência; para propor respostas ao que esta ocorrendo com a rendanos municípios do Piauí no período de 1991 a 2010. Os resultados obtidos sugerem haver um processo deconvergência tanto absoluta quanto condicional de renda entre os municípios do estado no períodoanalisado.Palavras-chaves: Renda per capita, Convergência, Piauí

Abstract: In the series (2002-2010) the state of Piauí presented a cumulative growth of 52.50% in volume,making it the second largest performance compared to the northeast. Thus, the proposed work seeks toidentify the general objective of this economic growth is Piauí has resulted in decreases in the gap in percapita income of the municipalities of the state during the period analyzed (1991-2010). Specifically, identifythe existence of convergence in per capita income; determine the intensity of the process of convergence ofper capita income and analyze this convergence process. So that the objectives were achieved using themethods of absolute -convergence; conditional -convergence and -convergence, to propose answers towhat is occurring with the income in the municipalities of Piauí in the period 1991-2010. The results suggestthat there is a process of convergence either absolutely or conditionally income among counties in the stateduring the period.Key words: Income per capita, Convergence, Piauí.

1 Introdução

De acordo com Dantas, Morais (2008)territorialidade pode ser debatida dentro de quatrovertentes: política, natural, econômica, e cultura.Nesse estudo será dada ênfase na dimensãoeconômica de territorialidade, porque essa focalizao espaço como fonte de recursos e/ou incorporadono embate entre classes sociais; e na relação detrabalho, e obtém como produto as variadasatividades na divisão territorial.

A taxa de crescimento estadual, em 2008,estava em torno de 8,8%, e 6,2%, em 2009, aprimeira e a segunda maior taxa de crescimento,respectivamente, dos estados brasileiros, o Piauícresceu 4,2% em 2010, porém em um ritmoreduzido em relação a 2008 e 2009, decorrente dedificuldades enfrentadas por algumas atividades

econômicas, sobretudo, pela agropecuária. Operíodo de 2008 a 2010, o Estado acumulou umcrescimento de 19,2%, o que representa umamédia anual de 6,4%, enquanto o país, no mesmoperíodo, cresceu 12,4%, representando 4,13% aoano (CEPRO, 2010).

Na série (2002 – 2010) o Estado apresentou umcrescimento acumulado em volume de 52,50%sendo o segundo maior no crescimento na regiãoNordeste. Nesse mesmo período, o país acumulouum crescimento em volume de 37,1% e a regiãoNordeste, 42,4%. Em média, o Estado cresceu auma taxa anual de 6,56% no período (CEPRO,2010).

No âmbito nacional e internacional, indagaçõesreferentes à convergência de renda possuem umamplo e solidificado arcabouço. Entretanto,

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abordagens regionais no Brasil, externas aoscentros econômicos nacionais, são infrequentes.Dessa forma, a presente pesquisa apresenta comonovidade a análise do processo de convergência derenda per capita nos municípios do Estado do Piauíem comparação com a média da região nordestina.

Diante do exposto, questiona-se: será que ocrescimento de renda no Piauí resultou nadiminuição de discrepâncias da renda per capitaentre municípios? Assim, o objetivo geral do estudoé analisar a distribuição espacial da rendaper capita, bem como abordar o fenômeno daconvergência de renda per capita para asmicrorregiões piauienses no período de 1991 a2010. Especificadamente, examinar asdisparidades da renda per capita entre osmunicípios do estado; verificar a formação deconglomerados socioeconômicos dos municípios, etambém o padrão do crescimento econômico; edeterminar a intensidade do processo deconvergência de renda per capita.

Em se tratando de desigualdades regionais edistribuição de renda entre unidades espaciais,uma maneira já bastante consolidada na literaturade tratar do tema é a análise de convergência dotipo e a, ou -convergência e -convergência.

Para atingir o objetivo proposto o artigo estádivido em quatro seções. Além desta introdução; asegunda seção contém a revisão do arcabouçoteórico de convergência de renda, discutindo seusconceitos, pressupostos, determinantes a nívelmacroeconômico e alguns casos empíricos; aterceira conterá a metodologia empregada para otema proposto; a quarta refere-se aos resultadosobtidos e a última seção refere-se àsconsiderações finais.

2 Referencial teórico

Em nível nacional e internacional, questõesreferentes à convergência de renda possuem umaampla e solidificada literatura. De acordo comSilveira, Silva e Carvalho (2010), as origens sobre otema de convergência de renda foi em meados dadécada de 1980, com o trabalho de Baumol (1986)aborda o processo de convergência em 16 paísesindustrializados, no período de 1870 a 1979. Aolongo dessa secção serão tratados alguns modelosde crescimento e convergência de renda.2.1 Modelo Neoclássico

Segundo Silveira, Silva e Carvalho (2010), ocrescimento vem sendo mensurado e observadopelos pesquisadores por meio do Produto Interno

Bruto (PIB) de cada país, e em alguns casos pelarenda per capita. Assim, o estudo desse processode crescimento é estudado em macroeconomia, nateoria do crescimento econômico.

O autor supramencionado baseado em Klenow,Rodriguez-Clare (1997), afirma que a teoria docrescimento econômico pode ser analisada deacordo com o direcionamento dos estudos, taiscomo: i) crescimento mundial; ii) crescimento dospaíses; e iii) diferenças no nível de renda.

Quando se trata do crescimento mundial, oautor supramencionado enfatiza que essa objetivainterpretar a contínua elevação da renda mundial.Já a abordagem do crescimento dos países tratadas diferenças das mais variadas taxas decrescimento dos mesmos. E, por último, asdiferenças no nível de renda têm a finalidade deidentificar se em algum momento do tempo,havendo países mais ricos economicamente queoutros, como se dará a dinâmica dessecrescimento, e observa alguns fatores impactantestanto que geram discrepâncias entre países,analisando se essas características sãoendógenas ou estruturais do local.

Dessa forma Russo, Santos e Parré (2012)mostram que estudos relacionados ao crescimentoeconômico procuram entender o comportamento darenda per capita, durante um período do tempo.Assim, os modelos neoclássicos têm comoobjetivo explicar o comportamento das economias,no que se refere ao crescimento econômico, omodelo mais difundido é o de Solow (1956) e Swan(1956) (OLIVEIRA, RODRIGUES, 2012).

O primeiro pressuposto do modelo é que háapenas um único bem homogêneo, tanto para oconsumo quanto na produção dos países. Daí, umcorolário imediato: a ausência de comérciointernacional. Outro pressuposto importante foi aexogeneidade do progresso técnico, ou seja, atecnologia disponível para a produção desse únicobem não é afetada pela disponibilidade de produçãoda pesquisa e desenvolvimento nem pelas açõesdas empresas (OLIVEIRA, RODRIGUES, 2012).

Ainda de acordo com os autores sobreditos,um pressuposto implícito no modelo de Solow-Swan é que nível de consumo, consequentementenível de poupança, e também a escolhaintertemporal entre trabalho e investimento, emcapital humano, são exógenos.

Esse modelo é divido em duas equações: aprimeira descreve a função de produção, o detalhe,com retornos constantes de escala; e a segunda

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mostra o processo de acumulação de capital(OLIVEIRA; RODRIGUES, 2012).

Dadas a conveniência e a aderência a boa partedos fatos, é pressuposta uma função de produçãodo tipo Cobb-Douglas:

Y = F(K, L) = K L 1- (1)

Tem-se que Y é o produto; K é a quantidade decapital usado no processo produtivo; e L aquantidade de trabalho. O parâmetro é umnúmero qualquer entre zero e um ( SILVEIRA;SILVA; CARVALHO, 2010).

Oliveira, Rodrigues (2012) afirmam em relaçãoao comportamento do capital, que no modelo deSolow, tem-se:

K = sY – K (2)

K descreve a trajetória temporal do capital, quedepende da fração da renda poupada (sY) subtraídada depreciação do capital ( K ). Veja que s e sãoas taxas de poupança e de depreciação do capital,respectivamente.

Aplicando-se a regra da cadeia na função deprodução pode-se escrever a trajetória temporal docapital (acumulação de capital) ponderada peloinverso do número de trabalhadores (OLIVEIRA;RODRIGUES, 2012).

k = sy – (n + )k, ou k = sf (k) – (n + )k (3)

A equação acima mostra que o capital porunidade de trabalhador varia em função do nível deinvestimento por trabalhador (sy), da taxa decrescimento da população (n) e da taxa dedepreciação (). O efeito tanto do crescimento dapopulação quanto da taxa de depreciação sobre aacumulação de capital é negativo. À medida que onível de investimento por trabalhador se equipara àsoma da taxa de crescimento da população com ataxa de depreciação do capital, não há maisacumulação de capital em termos per capita. Comisso, a economia pára de crescer, ou seja, oproduto per capita estaciona. Esse é o chamadoestado estacionário (OLIVEIRA; RODRIGUES,2012).

Assim, de acordo com o autor susodito, éimportante ressaltar, que o pressuposto da lei dosrendimentos marginais decrescentes de cada fatorde produção é vital nesse modelo e é também oque garante a existência e a unicidade do equilíbrio(ponto estacionário). A exclusão de tal pressupostopode implicar ausência de equilíbrio e umatrajetória explosiva da acumulação de capital e do

crescimento do produto. Dada a lei dosrendimentos decrescentes do capital, o produtocresce com o acúmulo de capital, mas as taxassão cada vez menores.

Silveira; Silva; Carvalho (2010), baseados emRomer (2006), afirmam que o modelo prioriza aacumulação de capital, a taxa de poupança e ocontrole do crescimento populacional comomovedores do crescimento econômico. E tambémque Jones (2000) mostra que o modelo nessaconjuntura às economias, converge a um estadoestável de crescimento, onde o estoque de capitalper capita (k) deve apresentar crescimento nulo.Assim, quando as economias atingem o estadoestacionário, a renda per capita não apresentanenhuma mudança, desta forma, a economiamantém o nível de produto per capita e o nível debem estar da população.

Dessa forma, o modelo de crescimentoeconômico de Solow-Swan deixa latente queeconomias pobres tendem a alcançar níveis derenda equivalentes às das economias ricas, desdeque apresente crescimento acelerado do capital percapita (SILVEIRA; SILVA; CARVALHO, 2010).

Alguns problemas gerados pelo pressuposto derendimentos decrescentes, no modelo de Solow-Swan, é mostrado por Silveira, Silva, Carvalho(2010) fundamentados em Ellery Júnior e Ferreira(1996): o primeiro problema está relacionado aodesenvolvimento sustentável, uma vez que ocrescimento era dependente de choques exógenosà economia, e, o segundo pertinente à suposiçãode convergência entre os níveis de renda per capitade todos os países, fato que não foi observadoempiricamente. E Oliveira, Rodrigues (per capita)acrescenta que o modelo falha em não explicar ocrescimento estável e sustentado dos países aolongo do tempo.

No modelo de Solow-Swan fica bastante evidenteque as diferenças de renda per capita regionais eentre países devem-se basicamente a trêsparâmetros: taxa de investimento (poupança); taxade crescimento da população; e tecnologia. Asdiferenças em um ou mais desses parâmetros éo que faz com que as rendas entre países oumesmo entre regiões possam ser diferentes.Tecnologia e investimento agem a favor docrescimento; quanto maiores o nível deconhecimento tecnológico e o investimento, maiorserá o produto per capita, supondo tudo maisconstante. Dado que o crescimento é medido emtermos per capita, crescimento da populaçãoimplica necessariamente crescimento negativo,quando tudo mais permanece constante(OLIVEIRA; RODRIGUES, 2012, 192 pag).

Algumas ideias foram incorporadas ao modelode Solow-Swan, as principais são: diferenciais de

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habilidades, qualificação e instrução entre ostrabalhadores deram existência aos modelosneoclássicos de crescimento com capital humano(OLIVEIRA; RODRIGUES, 2012).

Segundo Silveira, Silva, Carvalho (2010)mostram que o processo de convergência seriaacelerado se a mão de obra tivesse livre mobilida-de, bem como o próprio capital. Assim, a tendênciado capital seria se dirigir para lugares com maioresretornos (regiões mais ricas), enquanto a mão deobra se dirigiria na direção contrária, para lugaresonde o produto por trabalhador fosse mais alta,consequentemente aceleraria o ritmo daconvergência para o estado estacionário.

Os novos modelos buscaram outrasexplicações para o crescimento. Para eles, nãoocorreria à existência de um estado estacionário, epermitiam que as economias diferissem no nível derenda per capita de longo prazo, mesmo estasapresentando parâmetros estruturais semelhantes(SILVEIRA; SILVA; CARVALHO, 2010). Para ElleryJúnior (1994), esses modelos aparentementeresolviam a questão da inexistência deconvergência entre todos os países e garantiam ocrescimento sustentável, com isso não haveriacrescimento ilimitado.

Jones (2000) apud Silveira, Silva, Carvalho(2010), abordando sobre os modelos decrescimento endógeno, argumenta que nessa linhao crescimento da renda per capita deixa de ser umdado e passa a ser explicado também de formaendógena. Dessa forma, é contestada aconvergência das rendas per capita dos países aum mesmo nível de bem estar e desloca a atençãoa dotação de fatores iniciais e ao funcionamentodas economias, principalmente relativos aos níveisde investimento em educação, pesquisa,treinamento e outros. Dessa forma, ao observar odesenvolvimento individualizado de cada naçãoseria possível justificar as disparidades existentesdas taxas de crescimento econômico das variadaseconomias. Essa abordagem permitiria analisarfatores que determinam a taxa de crescimento darenda per capita.

Ferreira (1995) relata que severas foram ascríticas aos modelos de crescimento endógeno.Apesar dessas críticas e das falhas do modelo decrescimento proposto por Solow, pesquisadoresretomaram a ideia neoclássica, aperfeiçoando-a, natentativa de contornar suas limitações e reafirmarsuas ideias básicas, tal como a de convergência.Porém, a abordagem dessa convergência seria que

esta não deveria ocorrer de forma generalizada,mas entre grupos de países ou regiões com certograu e similaridade em seus principais parâmetros.

Existe um trade-off entre consumo eacumulação que pode ser medido em unidade deproduto (veja Mankiw, Romer e Weil, 1992) ou pormeio da acumulação de qualificações, medidas emanos de estudo (veja Lucas, 1988).

Ainda sob a denominação de neoclássicos,esses novos modelos se ajustaram melhor àsobservações empíricas em relação aos modelosanteriores. Contudo, os mesmos resultados foramatingidos e a principal fonte do crescimentoeconômico continuava sendo o progressotecnológico, ainda exógeno ao modelo (BARRO eALA-I-MARTIN, 1995).2.2 Modelo de Convergência

O presente trabalho aborda o comportamento eevolução da renda per capita nos municípios1 doPiauí por meio de testes de convergência de rendaper capita. Para analisar esse processo deconvergência de renda, serão utilizados três testese esse permitirá uma completa visão da dinâmicade crescimento do Estado, além de uma vantajosacomparação entre os resultados.

O primeiro teste utilizado será o de-convergência, utilizado inicialmente por Barro eSala-i-Martin (1992). Com esse teste se verificará aocorrência de -convergência absoluta econdicional para os municípios estadual, emrelação a todo o Piauí. Juntamente, será realizadoo teste de -convergência, verificando a dispersãode renda entre os municípios piauiense para operíodo de 1991 a 2010.2.3 Estudos empíricos

Alguns trabalhos publicados recentementeabordam o crescimento econômico com aperspectiva do processo de convergência de renda.Diversos modelos teóricos têm sido testados paradiferentes países e regiões. Barros e Garoupa(1995), Persson (1997) e Lusigi e Thietle (1998) sãoalguns autores que investigaram a convergência derenda per capita para diferentes localidades.

Bertussi e Figueiredo (2009) estudaram aconvergência de renda na América Latina e noLeste Asiático para o período de 1960 a 2000. Elesobservaram que os quantis apresentaram diferentesdinâmicas de crescimento do produto, concluindoque a convergência de renda é um fenômeno local.

Em relação ao Brasil, também há um diversoarcabouço teórico, por exemplo, Ferreira e Ellery

34informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

Junior (1996) observaram um processo deconvergência da renda entre os estados brasileiros.Do mesmo modo, Souza e Porto Junior (2002)encontram a formação de clubes de convergênciaentre as regiões do Brasil.

Para o Nordeste, os resultados obtidos porJunior e Ribeiro (2003), apontaram para a formaçãode clubes de convergência e de polarização entrericos e pobres e também negam a hipótese deconvergência absoluta. Entre os 1.372 municípiosda região Nordeste, há uma tendência de longoprazo de formação de três clubes: um clube derenda abaixo da média, com 77% dos municípios;um grupo de renda média, que conteria 10 % dosmunicípios; e um muito pobre, abarcando os 13%restantes. Há, portanto, uma tendência na regiãoNordeste de polarização entre um grupo de classemédia e outro de pobres.

Especificamente para a região Sul do Brasil,destaca-se o trabalho de Porto Junior e Ribeiro(2003) que analisam a renda per capita nosmunicípios do Sul para os anos de 1970 a 1991, edos estados para os anos 1985 a 1998. Os autoresconcluem que a distribuição tende a formação declubes, que o Rio Grande do Sul está perdendo aliderança quanto à renda per capita e que grandeparte dos municípios apresenta renda abaixo damédia regional.

Esperidião, Meirelles e Bittencourt (2009),também analisam convergência de renda entre osmunicípios da região Sul, porém destacamdiferenças encontradas na região que impedem umprocesso de convergência absoluta. Contudo,ressalta a importância da econometria espacial nosestudos de convergência de renda.

A análise exploratória de dados espaciaispermite um novo entendimento da dinâmicageográfica, possibilitando um rico instrumento detécnicas espaciais para o estudo da taxa decrescimento da renda ao longo do tempo (REY eMONTOURI, 1999). A convergência espacial do PIBper capita foi analisada para alguns estados doBrasil, entre eles os municípios de Minas Gerais(PEROBELLI; FARIA; FERREIRA, 2006),municípios do Ceará (OLIVEIRA, 2005; BARRETO,2007), municípios da Paraíba (TAVARES; SILVA,per capita), municípios do Rio Grande do Sul(PORSSE, 2008) e municípios da Bahia (UCHÔA;MARTINS, 2007).

Na região Norte (SILVEIRA; ARAUJO, 2010)obtiveram os seguintes resultados: uma economiaestratificada, em um total de 449 municípios,

62,36% destes apresentava renda per capitainferior à regional em 1991, caindo para 58,57% noano de 2000.

3 Metodologia

Nesta seção serão apresentados todos ostestes de convergência de renda para atingir oobjetivo proposto para estudo.3.1 Fontes de dados e amostra

As variáveis analisadas serão o PIB per capitapara o ano de 1991 e 2010 com fonte noIPEADATA, nas variáveis estruturais e geográficasfoi selecionado pela disponibilidade de dados onúmero de alunos matriculados, no INEP.E também o grau de urbanização é o nível deempregos por setor para o estado do Piauí.3.2 Modelo de Convergência

O referido trabalho aborda o comportamento eevolução da renda per capita nos municípios doPiauí por meio de testes de convergência de rendaper capita. Para analisar esse processo deconvergência de renda, serão utilizados quatrotestes e esse permitirá uma completa visão dadinâmica de crescimento do Estado, além de umavantajosa comparação entre os resultados.

O primeiro teste utilizado será o de-convergência, proposto inicialmente por Barro eSala-i-Martin (1992). Com esse teste se verificará aocorrência de -convergência absoluta econdicional para os municípios estadual, emrelação a todo o Piauí. Juntamente, será realizadoo teste de -convergência, verificando a dispersãode renda entre os municípios piauiense para operíodo de 1990 a 2010.3.3 Teste de 2-convergência

O teste para a verificação da 2-convergência derenda entre os municípios seguirá Barro eSala-I-Martin (1992), numa análise de dadoscross-section, apresentando o nível inicial de rendapor habitante como principal variável explicativa.A variável dependente será a taxa de crescimentoper capita das rendas municipais, para o períodode 1990 a 2010.

A hipótese de 2-convergência é testada deforma tradicional por meio de um modelo deregressão linear simples pelo qual se estima a taxade crescimento da renda per capita em relação àrenda per capita inicial da região, pelo método deMínimos Quadrados Ordinários (SILVA, 2004).A equação básica deste teste é expressa por:

35 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

(4)

Em que yi,0 e yi, T , representam as rendas percapita dos períodos inicial e final, respectivamente.A variável T corresponde ao número de anos entre operíodo inicial e o período final da observaçãoamostral. A variável µi é o erro aleatório (SALA-I-MARTIN, 1996).

A parte esquerda da equação (4) corresponde àtaxa de crescimento da renda per capita. Umacorrelação negativa entre a taxa de crescimento e arenda per capita �inicial ( 2 < 0) indica que estáocorrendo 2-convergência absoluta (SILVA, 2004).

De acordo com esse modelo, há2-convergência, se 2 é negativo, é estatistica-mente significativo, já que, nesse caso, a taxamédia de crescimento da renda per capita entre osperíodos 0 e T é negativamente correlacionada como nível inicial da renda per capita.

Porém, os municípios podem apresentardiferenças em termos de capital humano e outrascaracterísticas geográficas, estruturais einstitucionais que afetam o nível de renda emestado estacionário (SILVA, 2004). Dessa forma, asestimativas da equação (4) apresentariam viés emdecorrência da omissão de variáveis relevantes paraexplicar as taxas de crescimento de cadamunicípio.

Modificando a equação (4) para incluir outrascaracterísticas importantes para a dinâmica docrescimento econômico, a 2-convergênciaabsoluta dá lugar à 2-convergência condicional.Esta hipótese significa que cada município possuium nível próprio de renda per capita em estadoestacionário, oriundo de suas particularidades emtermos de preferências e tecnologias.

A equação a seguir (5) é a base para o teste de2-convergência condicional:

(5)A variável X representa um vetor de variáveis

municipais relativas ao estoque de capital humanoe outras características geográficas, estruturais einstitucionais.

O acontecimento do 2-convergênciacondicional é indicada por uma relação negativaentre a taxa de crescimento da renda per capita eseu valor inicial (2 < 0) (SALA-I-MARTIN, 1996),

depois de controladas as diferenças municipais emtermos das variáveis incluídas em X (0) (SILVA,2004).

A ocorrência de 2-convergência condicionalnão implica que as desigualdades entre osmunicípios em termos de renda per capita estão sereduzindo ou que tendem a desaparecer ao longodo tempo (SALA-I-MARTIN, 1996). Ao contrário,significa a tendência das economias para umasituação de equilíbrio no longo prazo. Como cadaunidade apresenta diferentes estadosestacionários, as disparidades municipaispersistirão (SILVA, 2004).3.4 Teste de -convergência

Segundo Alves e Fonte (2001), a -convergênciaconsiste em observar a dispersão da renda porhabitante dos municípios de cada grupo, nossucessivos anos, tendo como condição suficienteque se verifique uma queda nesta dispersão. A-convergência pode ser testada pela análise docoeficiente de variação (C.V.), dado pela razãoentre o desvio-padrão e a média aritmética da rendapor habitante dos municípios. Valores de zero parao C.V. significam uma perfeita igualdade nadistribuição de renda entre as regiões.

Vieira et al. (2008) define a noção de-convergência analisa a dispersão, em um espaçode tempo, da renda per capita relativa entreeconomias. Se esta dispersão, medida pelavariância ou desvio-padrão amostral, diminuir aolongo do tempo (t > tk), representará evidenciaem favor da hipótese de convergência.

O teste de -convergência poderá ser realizadocom a seguinte fórmula:

(6)

A razão entre os desvios padrões da rendaper carpita nos períodos inicial (0) e final (T),necessariamente deve ser menor que 1 para quehaja convergência.

4 Resultados

Inicialmente nesta seção, apresentam-se aanalise de -convergência considerada para oestado. Em seguida, são apresentados osresultados obtidos por meio da estimação daanalise do -convergência para averiguar os níveisde desigualdades entre os municípios.

36informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

4.1. Análise de -convergênciaInicialmente, foi realizado o teste de regressão

linear, proposto por Barro e Sala-I-Martin (1992),para os municípios agrupados para o estado doPiauí, no período compreendido entre 1991 e 2010.Nesse teste, objetiva-se identificar a ocorrência deuma tendência de que a renda per capita dosmunicípios do estado do Piauí mais pobres tenhamum crescimento mais rápido do que a renda percapita dos municípios mais ricos, no períodoestudado.

As regressões foram divididas em dois modelos:A e B. O primeiro modelo, “A”, apresenta orelacionamento entre a variável dependente Taxa deCrescimento da Renda e a variável explicativaLogaritmo Natural da Renda Inicial (1991). Já omodelo “B” apresenta o relacionamento entre asvariáveis apresentadas no primeiro modelo,acrescidas da variável explicativa do capitalhumano: Total de alunos matriculados no ensinomédio além da variável taxa de urbanização. Para oprimeiro modelo “A” foi o teste de -convergênciade renda absoluta e o modelo “B” apresenta o testede -convergência de renda condicional.

A análise de convergência de renda per capitaabrangeu 118 municípios dos 223 do estado doPiauí, uma vez que ao longo desse período algunsmunicípios deixaram de existir, outros não haviadado disponível referente ao período de 1991 a 2010que está representada na Tabela 1. Observou-seque no período, fica claro uma relação negativa esignificativa, nos dois modelos de regressão, emambos, o nível de 1%, entre a variável dependenteTaxa de Crescimento da Renda per capita em seulogaritmo natural e as variáveis explicativas. Esteresultado sugere que houve um processo deconvergência tanto absoluta quanto condicional derenda entre os municípios do Piauí no período.

O absoluto observado na Tabela 1 indica quehouve convergência de renda absoluta entre osmunicípios do Piauí, no período 1991 e 2010, umavez que a renda per capita em 1991 apresentourelacionamento negativo e significativo, ao nível de1%, em relação à taxa de crescimento da rendaper capita no período. Isto significa que osmunicípios mais pobres, em geral, cresceram maisque os mais ricos. Ou seja, o crescimentoeconômico, em geral, beneficiou em maior escalaas economias mais pobres, agindo positivamentesobre a redução das disparidades econômicasentre os municípios.

Já o -condicional, a variável explicativa Taxa deUrbanização (1991) se mostrou significativa, a nívelde 5%. Para esse modelo, na regressão, a variávelrenda per capita em 1991 apresentourelacionamento negativo e significativo a 1% emrelação à Taxa de Crescimento da renda per capita.Verifica-se ainda na estimativa um relacionamentopositivo e significativo para a variável Taxa deUrbanização (1991) indicando que melhorescondições de acesso a áreas urbanizadas comoregiões mais desenvolvidas, com maior inclusão ecom melhor formação e capacitação da populaçãolocal tende a influenciar em uma maior taxa decrescimento da renda per capita.

Os resultados mostraram que, em geral, ocrescimento econômico impactou positivamente naredução das diferenças entre as renda per capitados municípios. No entanto, se as diferenças nonível de capital humano, representadas pela variávelTaxa de Urbanização (1991) fossem eliminadas, osmunicípios se equalizariam, em nível de renda percapita, mais rapidamente. Caso essasdisparidades sejam mantidas, não se pode afirmarque os municípios se dirigiram para o mesmoestado estacionário de longo prazo.4.2 Análise de -convergência

A análise de sigma convergência visa observar adispersão das rendas per capita nos municípios doestado do Piauí no período de 1991 a 2010. A-convergência ocorre quando há uma queda nadispersão das rendas per capita ao longo dotempo. Para identificar a existência de sigmaconvergência precisa-se analisar o coeficiente devariação (C.V.) da renda per capita do períodoestudado, que consiste na razão entre o desvio-padrão e a média desta variável, calculado peloExcel e mostrado a seguir na tabela 2.

Assim os resultados indicam que a hipótese de-convergência da renda seria verdadeira para a

Tabela 1 – Testes de β -convergência absoluta e condicional de renda per capita para os municípios do estado do Piauí no período 1991/2010 Variáveis Explicativas β - Absoluto β - Condicional

Renda per capita (0,047206)* (0,049702)*

Alunos Matr. Médio - 0,0000000532NS

Taxa de Urbanização - 0,024102**

Constante 0,255484* 0,257056*

R² 0,840758 0,837891

Valor de F 612,4533* 180,9045*

Nº de Observações 120 120

Fonte: Elaboração Própria NS – não significativo; * significativo a 1%; ** significativo a 5%; ***

significativo a 10%OBS: Os valores em parêntese são valores negativos.

37 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

região e falsa para três estados (Amazonas, Pará eRoraima) neste período, o que aponta haver umatendência a equalização da renda per capita entreos municípios da região.

Observou-se que de forma geral o estado doPiauí não possui indícios fortes de -convergênciapara o período analisado. Tal fato mostra que aindaexiste certo nível de desigualdade entre os municí-pios do estado, ou seja, que as economias maisricas ainda estão crescendo mais que as pobres.

Em nível dos municípios pode destacar queapenas 37 municípios possuíam -convergência.Para que a tabela 2 não ficasse muito extensa notexto foram colocados apenas àqueles municípiosque possuíam um < 0.5, ou seja, indicando onível das reduções das desigualdades nestascidades Campo Maior, Floriano e Pedro II queobtiveram os menores níveis de convergência.

Os resultados encontrados para este testesugerem que, a distribuição de renda entre osmunicípios ainda são muito dispares, provocandoassim desigualdades muito grandes dentro dopróprio estado.

Os testes apresentados até agorademonstraram as tendências gerais do estado doPiauí. De acordo com os testes, as rendasmunicipais tenderam a se aproximar, porém aindanão o suficiente. Mas, esses não permitem saberse todas as economias consideradas estãoseguindo a mesma tendência, ou se há algumaexcluída do processo. Os testes também nãoinformam se a redução nas desigualdades será umprocesso contínuo, de maneira que asdesigualdades serão superadas ou se restará certonível de disparidade municipal.

5 Considerações finais

Verificou-se que no estado do Piauí adesigualdade de renda ainda é um fator presente

entre os municípios do estado, como pode serobservado no -convergência. Essa dinâmica dedesigualdade existente precisa ser rompida,especialmente por ações advindas do poderpúblico, quer sejam diretas ou indiretas.

Estatisticamente foi verificado que houve umaumento de renda per capita para uma boa partedos municípios do Piauí. Isso pode ser notadoatravés do -absoluto e do -condicional que semostram convergentes no período em análise, ouseja, houve uma relação negativa em relação à taxade crescimento da renda per capita significando,assim, que os municípios mais pobres, em geral,cresceram mais que os ricos reduzindo um poucoas disparidades de renda dos municípios.

Porém tais valores, não têm como expressarsozinhos a possibilidade de convergência de rendaper capita para o estado.

Com base nos resultados do presente estudo,referente aos testes de convergência verifica-seque, apesar da desigualdade da renda per capitaainda ser acentuada entre os municípios, e porconsequência a do estado, ocorreu, nesse períodode análise uma relativa diminuição nas desigualda-des de alguns municípios como mostrado na tabela2, evidenciada inicialmente no teste de -conver-gência. Tal redução, embora tenda a continuar, nãoconseguirá levar à total equalização de renda percapita dos municípios e estado, fazendo-senecessária a aplicação de políticas públicas queajam no sentido de inserir vários municípios noprocesso de crescimento econômico.

Por fim, a partir das regressões estimadas tantopara todo o estado quanto para cada um dosmunicípios, constata-se que a variável representan-te do capital humano, a Taxa de Urbanização(1991), também é importante na determinação dataxa de crescimento dos municípios, pois quandoincluída no modelo, atuou de forma positiva nadeterminação da convergência no estado. Assim,de acordo com o teste de Barro e Sala-I-Martin, ahipótese de -convergência condicional esta apta aexplicar a dinâmica de crescimento da renda dosmunicípios do estado do Piauí, no período de 1990-2010

Nota:1 Com dados para os anos de 1991 e 2010.

T a b e la 2 – C o e f ic i e n te s d e v a r i a ç ã o d a r e n d a p e r c a p ita d o s m u n ic íp io s d o e s ta d o d o P ia u í p a r a o s a n o s d e 1 9 9 1 e 2 0 1 0 R e g iã o C .V .

P ia u í 1 .1 1 2 1 6 1

A lto s 0 .3 8 5 7 9 6

B a r r a s 0 .3 9 0 4 1 3

C a m p o M a io r 0 .2 0 7 5 0 4

E s p e r a n t in a 0 .4 5 5 5 9

F lo r ia n o 0 .3 2 7 6 9 3

M ig u e l A lv e s 0 .3 9 7 8 8 8

P a u lis ta n a 0 .4 7 4 8 3 6

P e d r o I I 0 .3 1 4 3 1 7

P ir ip i r i 0 .3 3 2 8 0 6

S ã o R a im u n d o N o n a to 0 .4 4 2 2 7 3

F o n t e : E la b o ra ç ã o P ró p r ia

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38informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

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*Professora na Universidade Paulista- UNIP, Mestreem Economia pelo PPGECON/[email protected]**Graduado em Ciências Econômicas pela UFCG,[email protected]***Professora de Economia da UFPE /CAA, Doutoraem Economia pelo [email protected]

39 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

POTENCIALIDADES E LIMITES DODESENVOLVIMENTO REGIONALSUSTENTÁVEL NO MUNICÍPIO DECAMPINA GRANDE/PBJennifer Cícera dos Santos Fautino*, Janaina Cabral da Silva**, Andréa Ferreira daSilva***, Maria Luiza Lima Ferreira Peixoto**** e Ionara Jane de Araújo*****

Resumo: Através de um estudo de caso, foram analisadas as potencialidades e limites que o município deCampina Grande/PB possui para a elaboração de políticas públicas de desenvolvimento sustentável,descrevendo ações e propondo um modelo que facilitem a implantação destas políticas. Estudo que foi feito éde natureza descritiva e explicativa. A conclusão que se chegou foi que a maior parte dos fatores que limitamo desenvolvimento sustentável no município, deve-se a pouca mobilização dos governantes municipais sobreo assunto, pois as sugestões oferecidas neste trabalho comprovam que com o mínimo de investimento e omaior empenho possível, através de um planejamento estratégico utilizando os índices de desenvolvimentosustentáveis, pode-se potencializar o desenvolvimento da cidade através dos princípios da sustentabilidade.Palavras-chaves: Desenvolvimento Sustentável. Políticas Públicas. Poder Local.

Abstract: Through a case study, we analyzed the potential and limits that the city of Campina Grande / PBhas for the elaboration of public policies for sustainable development, describing and proposing a model thatwill facilitate the implementation of these policies. Study that was done is a descriptive and explanatory. Theconclusion reached was that most of the factors limiting sustainable development in the city, due to poormobilization of municipal officials on the subject, as the suggestions offered in this paper show that withminimal investment and fullest extent possible through a strategic planning using the indices of sustainabledevelopment, can enhance the development of the city through the principles of sustainability.Key words: Sustainable Development. Public Policy. Local Government.

1. Introdução

Desde 1972 vem ocorrendo um crescimento dosmovimentos e discussões voltados à preservaçãoambiental. Na Conferência Rio-92 foi elaborado odocumento Agenda 21, nele contém propostassustentáveis para que os padrões dedesenvolvimento sejam mudados para o presenteséculo. No entanto, executar esse padrão tem sidoalgo difícil e complexo. Ao longo da história asestratégias de desenvolvimento criadas sempretiveram como foco principal o crescimento social,político e econômico a qualquer preço através doconsumismo e, consequentemente destruindo anatureza que, até pouco tempo era considerada umrecurso inesgotável.

A contraposição a essas estratégias vematravés dos conceitos de sustentabilidade que é“um meio de vida ou uma forma de viver [...] trata deum modo de pensar e de agir para as pessoas,sociedades e comunidades do presente e do futuro”(SILVA, 2010, p.37) e de desenvolvimentosustentável que é “o desenvolvimento que atende

às necessidades do presente sem comprometer acapacidade das futuras gerações atenderem àssuas próprias necessidades” (CMMAD,1988, p.46)1, ou seja, o desenvolvimento sustentável é omeio para a sustentabilidade.

A partir da Constituição Federal de 1988 osmunicípios se tornaram protagonistas importantesno que se refere às questões ambientais locaisatravés das Leis Orgânicas Municipais, dos PlanosDiretores e de legislações municipais criadasespecificamente com esse tema. Nestaperspectiva, a gestão ambiental não pode ser vistacomo tarefa apenas de órgãos ambientais, mastambém da administração municipal.

Embora a temática do desenvolvimentosustentável seja muito discutida por diferentesáreas do conhecimento, esta pesquisa tem umaextrema relevância por ter ousado dar um recorteinovador, que é investigar se existem políticaspúblicas de desenvolvimento sustentável sendoaplicadas no município de Campina Grande – PB equais as oportunidades e as limitações das

40informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

mesmas no desenvolvimento da região, propondoum modelo de desenvolvimento sustentável local,haja vista que existe uma insuficiente bibliografia euma escassa discussão acerca especificamentedesta temática. Esta problemática justifica-seainda, em função de pretendermos dar umacontribuição para a academia, servindo de fonte depesquisa para várias áreas do conhecimento.

Portanto, a finalidade deste trabalho está naanálise dos seguintes objetivos: Analisar aspotencialidades e limitações que o município deCampina Grande – PB possui para elaborarpolíticas públicas que influenciem nodesenvolvimento regional sustentável; Descreverações que facilitem a implantação de políticaspúblicas que visem o crescimento regional combase nos princípios do desenvolvimentosustentável; e Propor um modelo dedesenvolvimento sustentável para a região deCampina Grande.

Para atingir os objetivos específicos propostosneste estudo foi realizado um estudo de caso, cujaunidade de análise são as políticas públicas domunicípio de Campina Grande. Yin (2002)considera o estudo de caso como uma estratégiade pesquisa que contempla a investigação de umfenômeno dentro de seu contexto real,principalmente quando os limites entre o contexto eo fenômeno não são claros.

No que se refere à população, este estudo foiformada pelo total de entidades que participam daelaboração das políticas municipais de CampinaGrande. Os dados foram coletados juntos aosórgãos públicos que fazem parte da elaboração doPlano Plurianual do município e suas políticas. Apesquisa procederá através do confronto dosreferenciais teóricos citados com as políticaspúblicas existentes no município de CampinaGrande e as ações voltadas para o desenvolvimentosustentável da região.

O Seguinte artigo esta subdividido da seguinteforma, na próxima seção serão abordados osconteúdos teóricos que fundamentaram o trabalho,ou seja, os aspectos históricos e conceituaisacerca do desenvolvimento sustentável, suaaplicabilidade e seus indicadores, bem como, aevolução da sustentabilidade nas cidadesbrasileiras. Na seção 3 trata da relação entre asustentabilidade e o poder local, abordando osindicadores de Desenvolvimento SustentávelMunicipal e os desafios da sustentabilidade noâmbito local. E na seção 4 são apresentadas as

análises dos resultados obtidos a partir dapesquisa realizada, os quais serão explícitos emtrês etapas. Na primeira, será exposta acaracterização de Campina Grande–PB, nosegundo momento as políticas públicas e odesenvolvimento regional sustentável do município,traçando seus limites e suas potencialidades e noterceiro momento será sugerido um modelo dedesenvolvimento regional sustentável. E por fim asconclusões e referencias.

2. Desenvolvimento sustentável

2.1. A história do desenvolvimento sustentável:conceito e aplicabilidade

O desenvolvimento econômico ocorreu a partirda Revolução Industrial e do grande crescimentodemográfico, a partir da expansão e intensificaçãoda produção e da ocupação da terra, com istoocorreu a geração de resíduos que degradam omeio ambiente e também aumentou o crescimentode riquezas, em contrapartida ao crescimento dadesigualdade social.

Furtado (2000) defende que o crescimentoeconômico só é transformado em desenvolvimentoquando a esfera social é colocada em destaque,acarretando na melhoria da qualidade de vida dapopulação. Enquanto que Veiga (2001) defendeuma ideia mais ampla no que concerne aodesenvolvimento, ou seja, para que ele ocorra sãonecessárias outras influências, como a educação,saúde, direitos civis, etc.

O termo desenvolvimento sustentável éoriginado a partir do século XX. Os primeirosmovimentos que criticavam esse descaso com osrecursos naturais começaram a emergir a partir dadécada de sessenta, através de uma Organizaçãonão-governamental chamada o Clube de Roma, quecontratou uma equipe de cientistas doMassachusetts Institute of Technology (MIT) paraelaborar uma projeção a partir da realidadeeconômica da época sob o prisma ambiental.

A projeção chamada Relatório Meadows2

analisou o crescimento demográfico, a produção dealimentos, o ritmo de crescimento industrial, osníveis de poluição gerados pela atividadeeconômica e o consumo de recursos naturais não-renováveis (MUNARI, 2005).

O Relatório Meadows agendou para 1972 a 1ªConferência Internacional para o Meio AmbienteHumano, realizada em Estocolmo (Suécia) com aparticipação de 113 nações e 19 agênciasgovernamentais de países ricos e em

41 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

desenvolvimento que discutiram os problemaspolíticos, sociais e econômicos relacionados aomeio ambiente (BANCO DO BRASIL, 2007).

Durante a referida Conferência foi criado oPrograma das Nações Unidas para o MeioAmbiente (PNUMA/UNEP), cuja missão seriaprover liderança e encorajar parcerias para cuidardo ambiente, inspirando, informando e capacitandoas nações e os povos para que a qualidade de vidaaumentasse sem que as futuras gerações fossemcomprometidas (PNUMA, 2007).

A discussão acerca do desenvolvimentosustentável iniciou-se na década de 1980 com apublicação do documento World ConsevationStrategy: living resourse conservation forsustainable development3, que afirmava que paraque o desenvolvimento fosse sustentável, serianecessário considerar as dimensões sociais,ecológicas e econômicas, centrando-as naintegridade ambiental, considerando os recursosnaturais e as ações alternativas que possam serdesenvolvidas em curto e longo prazo (vaiRE,2002).

Em 1983 foi criada a Comissão Mundial sobre oMeio Ambiente e Desenvolvimento e em 1987publicaram o Documento chamado Our CommonFuture (Nosso Futuro Comum), conhecido comoRelatório Brundtland. Segundo esta comissão, asociedade utilizou de forma inadequada osrecursos naturais do planeta para manterem oprogresso e a satisfação humana, resultando noesgotamento desses recursos em longo prazo,comprometendo a qualidade de vida das futurasgerações (ALMEIDA, 2002).

Segundo Dias (2002), o desenvolvimentosustentável é o caminho mais correto para que ahumanidade saia da rota da miséria e deixe de seratingida por problemas recorrentes como exclusãosocial e econômica e a destruição da natureza.

O movimento que resistia a degradaçãoambiental nos anos 1980, somado a consciênciado crescimento da pobreza e da fome em todo omundo, exerceu forte pressão na Organização dasNações Unidas para que se realizasse em 1992, noRio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidaspara o Meio Ambiente e Desenvolvimento(CNUMAD), conhecida também como Rio-92(BANCO DO BRASIL, 2007).

Neste evento 179 países e instituições dasociedade civil reafirmaram o relatório deEstocolmo (1972) e discutiram os principaisdesafios sociais e ambientais para o século XXI.

A partir da Rio-92 foram criadas as convençõessobre Biodiversidade e Alterações Climáticas, aCarta da Terra4, o Tratado de Educação Ambientalpara Sociedades Sustentáveis e ResponsabilidadeGlobal5 e o documento chamado Agenda 216, quetraduzia um planejamento de ações não apenasambientais, mas que promovam um padrão dedesenvolvimento sustentável (MUNARI, 2005).

Segundo o autor (2005) no Brasil foi criada aComissão de Políticas de DesenvolvimentoSustentável e da Agenda 21 Brasileira (CPDS),com o objetivo de redefinir o modelo dedesenvolvimento do país, através do conceito desustentabilidade e visualizando as potencialidadese vulnerabilidades do Brasil. A Agenda 21 brasileiradefiniu seis eixos temáticos que enfocavam:agricultura sustentável; cidades sustentáveis;infraestrutura e integração regional; gestão dosrecursos naturais; redução das desigualdadessociais e; ciência e tecnologia para odesenvolvimento sustentável. Esses eixos seriamanalisados de acordo com as especificidades decada região do país (AGENDA 21, 2012).2.2. Sustentabilidade nas cidades brasileiras

O gerenciamento do desenvolvimentosustentável se materializa no âmbito local.Segundo Buarque (1999), o desenvolvimento local éum processo endógeno registrado por pequenasunidades territoriais e grupos humanos capaz depromover o dinamismo econômico e a melhoria daqualidade de vida da sociedade, principalmentequando existe um ambiente político e socialfavorável, expresso pela importante ação de atoressociais do município ou comunidade em torno dedeterminadas prioridades.

O Desenvolvimento Local representa:Uma singular transformação nas baseseconômicas e na organização social em nívellocal, resultante da mobilização das energias dasociedade, explorando as suas capacidades epotencialidades específicas. Para ser umprocesso consistente e sustentável, odesenvolvimento deve elevar as oportunidadessociais, a viabilidade e competitividade daeconomia local, aumentando a renda e as formasde riqueza, ao mesmo tempo em que assegura aconservação dos recursos naturais. [...] Odesenvolvimento municipal é, portanto, um casoparticular de desenvolvimento local, com umaamplitude espacial delimitada pelo corte político-administrativo do município (BUARQUE, 1999).

De acordo com essas definições, passa-se autilizar o conceito de desenvolvimento municipalsustentável como um caso particular dedesenvolvimento local sustentável. Desenvolvimentomunicipal sustentável se define como:

42informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

O processo de mudança social e elevação dasoportunidades da sociedade, compatibilizando, notempo e no espaço, o crescimento e a eficiênciaeconômica, a conservação ambiental, a qualidadede vida e a equidade social, partindo de um clarocompromisso com o futuro e a solidariedade entregerações (BUARQUE, 1999).

Desta forma, este tipo de desenvolvimentoconsiste numa transição para um novo estilo deorganização da economia, da sociedade e de suasrelações com a natureza, pronunciando umasociedade com equidade social e conservaçãoambiental (BOISIER, 1992).

De acordo com o Estatuto da Cidade, é precisoregulamentar o planejamento dos municípiosbrasileiros, incorporando redes sociais,econômicas e políticas de forma a construir umcompromisso entre a população e os governos nadireção de um projeto em prol do bem coletivo, dasegurança e do bem-estar social e também doequilíbrio ambiental é um dos principais objetivos(BRASIL, 2001).

Uma forma de regulamentar o planejamento dascidades surge com a exigência de elaboração,pelos municípios com mais de vinte mil habitantes,de planos diretores. Para Rezende e Castor (2006)o plano diretor está definido como instrumentobásico para orientar a política de desenvolvimento ede ordenamento da expansão urbana, explicitandoclaramente a política urbana do município,baseando-se através de um processo participativode diagnósticos da realidade local, envolvendovários setores da sociedade.

De acordo com Estatuto das Cidades (BRASIL,2005) o Plano Diretor é “o instrumento básico dapolítica de desenvolvimento e expansão urbana domunicípio”.

3. A relação entre poder local esustentabilidade

3.1 O poder local e o desafio de sustentabilidadeA problemática da sustentabilidade conquistou

sua centralidade a partir do pensamento em tornodo desenvolvimento e das alternativas que existempara garantir uma igualdade nas relações sociais.Desta forma, é de fundamental importância criarcondições para inserir a temática ambiental noâmbito da gestão local através das políticaspúblicas.

Silva (2010) afirma que os governantes devempropor em suas políticas, meios que resultem nodesenvolvimento local de maneira sustentável,estimulando a participação dos indivíduos para queos diálogos sejam fortalecidos e que os

componentes sociais, econômicos, culturais eambientais sejam compreendidos, pois umapolítica de desenvolvimento na direção de umasociedade sustentável não pode ignorar nem asdimensões culturais, nem as relações de poderexistentes e, muito menos, o reconhecimento daslimitações ecológicas, podendo apenas manter umpadrão predatório de desenvolvimento.

Atualmente o avanço rumo a uma sociedadesustentável é permeado de obstáculos, na medidaem que existe uma restrita consciência nasociedade a respeito às implicações do modelo dedesenvolvimento em curso. Pode-se afirmar que ascausas básicas que provocam atividadesecologicamente predatórias podem ser atribuídasàs instituições sociais, aos sistemas deinformação e comunicação e aos valores adotadospela sociedade. Pois, “o caminho a ser desenhadopassa necessariamente por uma mudança noacesso à informação e por transformaçõesinstitucionais que garantam acessibilidade etransparência na gestão” (BARROS, 2010. p. 30).

Existe um desafio essencial a ser enfrentado, eeste está centrado na possibilidade que asinstituições públicas e sociais se tornemfacilitadores de um processo que reforce osargumentos para a construção de uma sociedadesustentável, a partir de ações centradas noexercício de uma cidadania ativa e a mudança devalores individuais e coletivos.3.1.1 Indicadores do Desenvolvimento SustentávelMunicipal

Antes que sejam abordados os indicadoresrelacionados à sustentabilidade é necessáriocompreender o seu conceito. Segundo Van Bellen(2002) “o objetivo dos indicadores é agregar equantificar informações de modo que suasignificância fique mais aparente”.

A partir da Agenda 21 o interesse dasorganizações não-governamentais egovernamentais tem aumentado consideravelmentena busca de indicadores de sustentabilidade. Oresultado é uma diversidade de sistemas deindicadores, agrupados de diversas formas,construídos a partir da realidade observada.

No Brasil, as pesquisas que apresentampropostas e métodos de indicadores para monitoraro desenvolvimento sustentável dos municípios sãorecentes.

Kieckhöfer (2005) descreve os indicadores quecaracterizam o Desenvolvimento Sustentável emsocial, econômico, ambiental e institucional.

43 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

Em cada um desses segmentos são identificadosconjunto de setores. A figura 1 apresenta umorganograma com os segmentos e os setoreslevantados pela autora.

O seguimento social dos indicadores dedesenvolvimento sustentável se refere à satisfaçãohumana e suas necessidades, qualidade de vida ejustiça social. “O segmento econômico trata dodesempenho macroeconômico, financeiro e osimpactos do consumo dos recursos naturais e douso da energia primária” (KIECKHÖFER, 2005, p.97).

O seguimento ambiental analisa o uso dosrecursos naturais e à degradação ambiental, com oobjetivo de preservar e conservar o meio ambientepara as gerações futuras. O segmento institucionaldiz respeito à orientação política, a capacidade eesforço gasto para que ocorram mudanças efetivas,além de questões ligadas à pesquisa edesenvolvimento de novas tecnologias(KIECKHÖFER, 2005).

Os indicadores que Kieckhöfer (2005) propõeem cada segmento os seus respectivosindicadores. Declara que a utilização dessesindicadores deve acontecer de forma integrada e

sistêmica, o que é considerado um processocomplexo, pois requer uma grande quantidade deinformações precisas e atualizadas, algo raro nosmunicípios brasileiros.3.1.2 Planejamento Estratégico Municipal

O planejamento estratégico não foi criado paraser usado nas cidades, mas na realidade dasorganizações. Segundo Castor (2006) este recursoserve para aplicar o “pensamento estratégico” aosrecursos e às circunstâncias particulares de umaorganização. Este processo engloba diretrizes paraantecipar-se ou adaptar-se às mudançasprovenientes do meio externo, além da capacidadede administrar corretamente os recursosnecessários para alcançar as estratégiasplanejadas.

A globalização e a economia ampliaram a noçãode que é ambiente externo das organizações e aomesmo tempo levantaram a discussão sobre acompetitividade das localizações (cidade, estado,país). Segundo Vainer (2000) é a constatação dacompetição entre as cidades que endossa atransposição do modelo estratégico do contextoempresarial para o universo urbano. São aslocalidades que devem oferecer um ambientefavorável para a competitividade das empresas.

Como já foi visto o objetivo do Estatuto dasCidades é regulamentar o planejamento dosmunicípios, englobando os setores sociais,econômicos e políticos. No art. 2º, Inciso I da Leinº 10.257, declara que o desenvolvimentosustentável das cidades está previsto nesseprocesso:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis,entendido como o direito à terra urbana, àmoradia, ao saneamento ambiental, àinfraestrutura urbana, ao transporte e aos serviçospúblicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentese futuras gerações; [...] (BRASIL, 2001)

Nos termos dessa lei, o plano diretor dascidades deve explicitar claramente a política urbanado município, devendo-se basear em um processoparticipativo de diagnóstico da realidade local,envolvendo toda a sociedade.

É a partir da leitura dessa realidade que seespecificam os objetivos de cada região e atravésdo macrozoneamento, previsto no plano diretor queé feita a divisão do município em unidadesterritoriais (BRASIL, 2001).

Lopes (1998, p. 94) esclarece a diferença entreo Plano Diretor e o Planejamento Estratégico da

Figura 1 – Organograma de segmentos doDesenvolvimento Sustentável e seus setores

Fonte: Kieckhöfer (2005, p. 96)

44informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

seguinte forma:O Planejamento Estratégico de Cidades é umplano de ação, formulado a partir do consenso deatores públicos e privados, dentro de uma visãoampla dos espaços e da sociedade local e global,definindo projetos tangíveis e intangíveis, cujaimplementação se baseia no compromisso de umgrande número de atores públicos e privados. Jáo Plano Diretor Urbano é um plano deordenamento urbano, com o objetivo dedeterminar os usos do solo e os sistemas deintegração e comunicação, partindo de normasdefinidas em um arcabouço legal, geradas poruma visão integral de construção da cidadedesejada.

Segundo Pfeiffer (2000) o Planejamentoestratégico tem sua metodologia da seguinteforma: análise do ambiente; análise organizacional;estruturação do plano; operacionalização doplanejamento; formulação do plano; implementaçãode projetos; e avaliação do impacto do plano.Embora esse processo pareça adequado arealidade dos municípios desafiam a realizaçãodesse método.

O Planejamento Estratégico Municipal deveconsiderar um espaço de tempo de 15 a 20 anos,sendo o mais longo de todos os instrumentos deplanejamento municipal. O Plano Plurianual atentapara 4 anos, enquanto que o Plano DiretorMunicipal tem uma margem de 10 anos(RESENDE; CASTOR, 2006)

Campina Grande atualmente utiliza o PlanoDiretor e o Plano Plurianual em sua legislação.

4. A relação entre a formulação de políticaspúblicas e desenvolvimento regionalsustentável no município de Campina Grande/PB

4.1 Caracterização do município de CampinaGrande-PB

A cidade de Campina Grande foi fundada em1864, com uma área de 594.179 quilômetrosquadrados, na mesorregião denominada Agreste,dista 125Km da capital do estado João Pessoa.Possui limites territoriais com o município LagoaSeca, Massaranduba, Pocinhos e Puxinanã aonorte, Boqueirão, Caturité, Fagundes e Queimadasao sul, Riachão do Bacamarte a leste e Boa Vita aoeste. O município possui três distritos: Catolé deBoa Vista, Galante e São José da Mata7.O município possui uma população de 385.213pessoas, sendo 367.209 habitantes da zona urbanae 18.004 habitantes da zona rural, o que representauma densidade demográfica de 648 habitantes porquilometro quadrado8.

A atividade econômica do município édiversificada. Na atividade agrícola se destacam a

criação de galinhas com 260.000 cabeças, bovinoscom 16.000 cabeças, ovinos com 3.200 cabeças,caprinos com 3.000 cabeças e equinos com 1.700cabeças. As culturas mais trabalhadas são a demilho com 1.980 hectares de área cultivada, feijãocom 2.160 hectares de área cultivada e algodãocom 12 hectares de área cultivada. Os setores deserviços, mercado e indústria também merecemdestaque na economia campinense (IBGE, 2010).Dados do IBGE (2008) informam que o ProdutoInterno Bruto (PIB) municipal é de R$3.457.877,604, proporcionando um PIB por pessoalde R$ 9.065,75.

Segundo o IBGE (2010), até o ano de 2010 aescolaridade da população de Campina Grandeestava distribuída da seguinte forma: 48,2% doshabitantes não tinham estudado ou não concluíramo ensino fundamental, 16,3% terminaram o ensinofundamental mais não o ensino médio, 26,1%concluiu o ensino médio mais não o ensinosuperior, 9,1% já tinham concluído o ensinosuperior e 0,3% não determinou seu nível deescolaridade.

De acordo com a Associação Comercial eEmpresarial de Campina Grande (ACCG) aarrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação deMercadoria e Prestação de Serviços) do municípioem 2010 foi a terceira maior com o valor deR$ 249 milhões9.

A sustentabilidade é abordada no Plano Diretor,porém o poder legislativo não é muito atuante, umavez que o município possui grande potencial paraser desenvolvido nesta temática, ela não faz parteda lista de prioridades da maioria dos membrosgovernistas municipais.

A política pública de um município que tenhafoco na sustentabilidade implica necessariamenteem uma política comprometida, que venha a acabarcom as ameaças ao ecossistema e à economia,tal como: ineficiência, lixo, poluição, exploraçãodos recursos renováveis, etc. Diante deste contextoexistem três aspectos que precisam serconsiderados: educação, gestão participativa ediálogos entre as partes envolvidas (CAVALCANTI,2002).

Assim, Cavalcanti (2002) afirma que para queisso aconteça faz-se necessário que o aparelhopolítico do município seja estável e que haja aabertura para que a sociedade participe, com oobjetivo do desenvolvimento ambiental, econômico,social e ambiental. Porém o que se percebe nogoverno municipal é que a participação e o

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incentivo dado população para que colaborem nasdecisões é restrita.4.2 As políticas públicas e desenvovimentoregional sustentável em Campina Grande/PB

No decorrer da pesquisa, foi evidenciado que ogoverno municipal de Campina Grande estápreocupado em incentivar o desenvolvimento denovas atividades econômicas e no fortalecimentodas existentes tanto na área urbana, quanto narural e a partir de agora serão explanadas aspotencialidades e as limitações para que odesenvolvimento do município ocorra de modosustentável.4.2.1 Potencialidades

Uma das primeiras oportunidades de alcançar asustentabilidade na área rural é com a agriculturafamiliar. O município já tem ações do ProgramaGarantia-Safra10, que auxilia os agricultoresfamiliares com uma indenização em tempos deseca, porém há muito mais o que ser feito, como oincentivo financeiro e educacional com relação aocultivo da produção sem agrotóxicos, para que omesmo além de ter um produto de melhorqualidade para ser comercializado, estaráproporcionando aumento na qualidade de vida doconsumidor.

Se esta iniciativa fosse dada aos agricultores e,principalmente, aos produtores de milho, feijão ealgodão, que como foi exposto anteriormente sãoas principais culturas do município, elevaria a umpatamar mais alto a visibilidade desses produtos nocenário local, regional e nacional, pois as grandesempresas que querem sempre aperfeiçoar seusartigos com produtos de ótima qualidade e apopulação que se preocupa com qualidade de vidadarão preferência às safras isentas de agrotóxicos.Para isso, é importante não só o apoio financeiro,mais também o ensino sobre esta potencialidade.

Com relação ao ensino, é necessário analisar onível educacional, a formação técnica e os níveis desaúde e qualidade de vida da populaçãocampinense. A prefeitura possui apenas creches eescolas de ensino fundamental e este público éuma ótima oportunidade de levar os princípios eações da sustentabilidade para que desde ainfância os futuros homens e mulherescampinenses possam viver numa cidadesustentável.

Quando se refere ao desenvolvimento à curtoprazo remete-se ao turismo da cidade. Mesmo semuma secretaria específica, o município atrai

milhões de pessoas todos os anos através deeventos culturais como: o São João, asVaquejadas, o Festival de Inverno e de encontrosreligiosos como: o Encontro para ConsciênciaCristã, Encontro da Família Católica - CRESCER,Encontro para a Nova Consciência, o Movimento deIntegração Espírita Paraibano – MIEP e os Amigosda Torá.

Existem também os eventos de negócios: oCAMPIMÓVEIS – uma feira de direcionada àconstrução civil e às imobiliárias e a Feira daModa – que atrai pessoas interessadas nastendências em calçados, confecções, moda ebeleza. Mesmo com esses eventos que atraempessoas de outras regiões do país não existenenhum tipo de turismo ecológico, um dos setoresque mais crescem no Brasil.

No de 2004 ao ano 2008 o crescimento domotivo das viagens por causa do lazer para lugaresque disponibilizavam o Ecoturismo cresceu de12,8% para 22,2%, enquanto que as viagens delazer por causa da cultura declinou de 30,4% para16,9%, deixando clara a importância de CampinaGrande voltar-se para o Ecoturismo como maisuma maneira de alavancar o seu desenvolvimento.

O município de Campina Grande dispõe depoucas áreas de reservas ambientais, uma delas éo Complexo Aluízio Campos11 de propriedade daFundação Universitária de Apoio ao Ensino,Pesquisa e Extensão – FURNE que possui umaárea de 33 hectares, localizado na BR 104 Sul, nobairro do Ligeiro, e a Mata do Louzeiro que seencontra por traz do quartel do 31º Batalhão deInfantaria Motorizado e tem mais de 60 hectares12

e segundo o jornal Diário da Borborema de 1 dejunho de 2009 está abandonada. Se estas reservasforem cuidadas e utilizadas para o turismoecológico, sem que haja destruição de seuecossistema, Campina Grande passará a fazerparte dos roteiros ecológicos do país.

De acordo com o Plano Diretor MunicipalNº 033/2006 no Art. 125, Inciso V é o objetivo daPolítica Municipal de Turismo “promover atividadesde ecoturismo com vistas ao conhecimento,conservação, preservação e recuperação dopatrimônio ambiental do Município”.

O envolvimento da sociedade com preservaçãodo meio ambiente seja rural ou urbano é defundamental importância, principalmente a partir daformulação de políticas sustentáveis. É estaparticipação que além de fortalecer as relaçõesentre sociedade civil e governantes, desenvolve a

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região através da capacitação das ações em grupo,passando assim a população a exercer cidadania,aumentando o nível das discussões de formaparticipativa, induzindo e cobrando dos membrosdo governo políticas públicas para odesenvolvimento sustentável.4.2.2 Limitações

Como brevemente foi visto a cima CampinaGrande dispõe de muitas oportunidades de que acidade viva e cresça de maneira sustentável, porémalgumas limitações impedem que isto aconteça.Uma dessas limitações se encontra na Secretariade Agricultura do município, que apenasdisponibiliza sementes para ajudar o agricultorfamiliar de sua zona rural, porém não proporcionainstrução e apoio para que este cultive sem autilização de agrotóxicos.

Além disso, não existe estímulo para aparticipação da população rural em cursosespecíficos na agricultura orgânica e familiar, naconservação dos recursos naturais, no manejo daágua, que visem o desenvolvimento de atividadessustentáveis.

Outro problema do município que gera limitaçãosão as comunidades com foco de miserabilidade,demonstrando que ocorrem grandes problemassociais. Muitas dessas pessoas não conseguemum bom emprego por falta de conhecimentoqualificado, dificultando sua inserção no mercadode trabalho, agravando também o problema desegurança pública.

Uma das comunidades onde há esse cenário éo bairro do Mutirão, onde está localizado o antigolixão do município. O lixão estava instalado nobairro desde 1992 gerando vários problemas, estefoi deslocado para um aterro sanitário nasproximidades da cidade de Puxinanã13.

Mesmo com essa ação ainda é necessáriofazer muito mais com relação aos resíduos sólidosdos campinenses, pois estão ocorrendo depósitosirregulares de lixo em outros bairros da cidade14,não há uma política educacional de coleta seletiva,é necessária a criação de uma usina de tratamentode lixo, aumento da reutilização e reciclagem, etc,para que a cidade esteja sempre limpa e agradávelpara os seus cidadãos e para os turistas que vem acidade todos os anos.

Uma das áreas que impulsionam o crescimentodo número de empregos e tem estimulado ocrescimento dos municípios é o turismo, e maisespecificamente o ecoturismo, porém essa vertentenão recebe a devida importância, uma vez que no

site da prefeitura municipal não existe nenhum tipode ação que incentive essa prática.

O Ministério do Turismo declara que:Ecoturismo é um segmento da atividade turísticaque utiliza, de forma sustentável, o patrimônionatural e cultural, incentiva sua conservação ebusca a formação de uma consciênciaambientalista por meio da interpretação doambiente, promovendo o bem-estar daspopulações. (BRASIL, 2010).

É pautado no tripé de interpretação,conservação e sustentabilidade que o ecoturismoauxilia o município que dele se apropria nodesenvolvimento, impulsionando o crescimentoeconômico da região através desse turismo.

A partir da reportagem citada acima do jornalDiário da Borborema e de não existir na mídia emgeral nem tampouco no site da prefeitura açõesexplicitamente voltadas para o desenvolvimentosustentável é possível constatar que a elaboraçãodo Plano Diretor municipal não atinge asnecessidades específicas do município, seguindoapenas os critérios estabelecidos pelo Ministériodas Cidades, através do Estatuto das Cidades.

O Plano Diretor no Art. 5º Inciso III (2006) tratada sustentabilidade como princípio fundamental àgestão urbana, no Artigo 100 estabelece a PolíticaMunicipal do Meio Ambiente e no Art. 126, Inciso Vexpõe a promoção de atividades de ecoturismo,porém é fato que não se vê uma política forte desustentabilidade na cidade.

A falta de conhecimento e capacitação dospoder público sobre o desenvolvimento sustentávelé uma das limitações encontradas, pois a máutilização dos recursos naturais e a poucavisibilidade dada ao assunto resultará nadegradação do meio ambiente campinense e nadiminuição do desenvolvimento do município, poispara que isso não aconteça é necessário que hajauma conscientização por parte dos gestores deque a população precisa atuar nas decisões daadministração pública, bem como que a sociedadese interesse em participar ativamente das açõesgovernamentais, sempre com o pensamentovoltado para o coletivo.4.3 Modelo de desenvolvimento regonal sustentávelpara o município de Campina Grande/PB

O processo de desenvolvimento sustentávelmunicipal dá início a partir da visualização dasdemandas da comunidade rural ou urbana,buscando sempre a melhoria da qualidade de vida edo crescimento da cidade.

A primeira ação sugerida a ser feita é organizaruma base de dados do município, pois com a

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grande quantidade de informações, armazenadasem diferentes formatos, dificultando a suautilização.

A criação de um núcleo de informaçõescom programa e formato padrão e com dadoscruzados de todos os órgãos municipais seria detotal importância para a partir disso analisar cadaíndice de sustentabilidade, vendo onde énecessária uma maior intervenção e investimentos.Disponibilizar o acesso livre desses dados parasociedade, através do site da prefeitura, auxiliariana intensificação da participação popular naelaboração e na execução de ações, pois a mesmasaberia o real estado do município.

A partir desses dados é necessário fazer umdiagnóstico social, econômico e ambiental domunicípio para definir políticas voltadas aodesenvolvimento sustentável.

No que se refere ao aspecto social é necessáriolevar em consideração algumas informação que sãode fundamental importância como: o nível de rendada população rural e urbana; a infraestrutura dacidade (água, luz, esgotamento sanitário,calçamento, áreas de risco, habitação, etc);crescimento populacional e as desigualdadessociais existentes; situação educacional e dotrabalho; situação da saúde e transporte públicos.

Os aspectos econômicos relevantes que devemfazer parte do diagnóstico são: o PIB e asatividades econômicas existentes; relaçõeseconômicas externas (intermunicipal, interestaduale internacional); a indústria turística existente;sistemas tecnológicos existentes; a avaliação doPlano Diretor; e a cultura empresarial.

Alguns aspectos ambientais são: omapeamento de ecossistemas existentes e a açãodo homem; produção de resíduos e sua destinação(lixo urbano e rural); impactos ambientais; aocupação e utilização de reservas e áreasameaçadas; a utilização de recursos renováveis enão-renováveis; as leis ambientais existentes.

Após o término do diagnóstico municipal énecessária a elaboração de um planejamentoestratégico para políticas locais de desenvolvimentosustentável, por exemplo, uma Agenda 21 local ouum Plano Diretor Sustentável, que conte comespecialistas de diversas áreas do conhecimento,voltados para a verdadeira situação dabiodiversidade local, para elaborarem umplanejamento de programas, projetos e açõessustentáveis interligando toda as secretaria eórgãos municipais, levando em conta a

necessidade da educação e do treinamento erealizem auditorias periódicas.

5. Aproximações conclusivas

O desenvolvimento sustentável de uma regiãoestá diretamente relacionado com as políticaspúblicas elaboradas na localidade através de umplanejamento estratégico com foco nasustentabilidade que, quanto melhor maneja osseus indicadores de sustentabilidade, mais impulsopassa a ter na economia e, como consequência,maior crescimento regional.

O Município de Campina Grande se destaca porser um município de características marcantes, umpolo na qualificação de mão de obra em prestaçãode serviços e na tecnologia da informação15 e porseus eventos turísticos culturais e religiosos,porém ao atentar para o tema “desenvolvimentosustentável”, surgiram os seguintesquestionamentos que o presente trabalho procuraanalisar: quais as potencialidades e limitações nomunicípio de Campina Grande para a elaboração depolíticas públicas voltadas ao desenvolvimentosustentável da região? Que iniciativas podemfacilitar a implantação dessas políticas? E comosugerir um modelo que incentive o desenvolvimentosustentável para o município de Campina Grande-PB?

Na busca em responder essas perguntaschegou-se a conclusão, através da pesquisabibliográfica e documental, que o município deCampina Grande encontra sérias limitações, mastambém muitas oportunidades de implantarpolíticas com foco na sustentabilidade.

Uma das limitações é que o município, mesmocom uma Política Municipal do meio Ambiente, nãotem mecanismos que promovam a preservaçãoambiental. Há a ausência de uma política públicaespecificamente sobre a sustentabilidade,impedindo que o município se desenvolva semdestruir o meio ambiente. As ações existentes sãopontuais, paliativas e de pouco alcance. A limitaçãoda visão turística também é uma forte ameaça, poiso município possui áreas de preservaçãoimportantes que estão abandonadas e que podemser aproveitadas para o ecoturismo.

Este é um dos principais potenciais existentes,pois com o incentivo e empreendedorismonecessários para implantar o turismo ecológico emCampina Grande, a cidade ingressaria em um dosatrativos turísticos que mais cresce no Brasil,entrando no roteiro do ecoturismo nacional,

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atraindo ainda mais pessoas em busca deatividades de lazer, favorecendo o dinamismoeconômico da região e a geração de maisempregos.

Dinamizar a economia rural também é umapotencialidade municipal, pois investir na cultura deprodutos sem a utilização de agrotóxicosigualmente colocaria Campina Grande no cenárionacional da agricultura orgânica. Diante danecessidade de estimular as potencialidades etratar as ameaças que existem no município, énecessário através da participação do poder públicoe da sociedade civil, um planejamento estratégicosustentável, utilizando os índices dedesenvolvimento sustentáveis, para conservar omeio ambiente desenvolvendo a cidade de maneirasustentável.

Para isto o presente trabalho propõe um modelode desenvolvimento sustentável local, com algumassugestões de ações que podem ser desenvolvidasa partir de iniciativa da prefeitura e da união deforças com várias esferas da sociedade.

Estas ações podem ser realizadas à curto,médio e longo prazos, são de fácil implementaçãoe na sua maioria não depende de investimentosmuito altos para executá-las, porém são deextrema importância para direcionar CampinaGrande rumo ao desenvolvimento sustentável

Notas1 Conceito elaborado pelo Relatório Brundtland, realizadopela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente eDesenvolvimento (CMMAD), promovido pela ONU na décadade 1980.2 O Relatório Meadows nome dado devido a um doscoordenadores do estudo se chamar Dennis Meadows. Estedocumento foi considerado como um marco do início dodebate global a cerca da problemática ambiental. (MUNARI,2005).3 Documento elaborado pela International Union forConservation of Nature and Natural Resources (IUCN), coma cooperação do Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente (PNUMA), World Wildlife Fund (WWF), Food andAgriculture Organization (FAO) e United NationsEducational, Scientifc and Cultural Organization (UNESCO).(VAN BELLEN, 2002)4 Carta da Terra – idealizado na Rio-92 e lançado naHolanda. É uma declaração de princípios fundamentais paraa construção de uma sociedade justa, sustentável e pacífica(MUNARI, 2005)5 Tratado de Educação Ambiental para SociedadesSustentáveis e Responsabilidade Global – Documento levaem consideração a urgência da educação ambiental comoforma de gerar qualidade de vida e a consciência de condutapessoal (CADERNOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 2006)6 Agenda 21 – termo usado no sentido de expressar asintenções de caminhar para realizar esse novo modelo deconstrução de uma sociedade sustentável durante o séculoXXI (BANCO DO BRASIL, 2007)

7 Informações retiradas do site da Prefeitura Municipal deCampina Grande. Disponível em: http://www.campinagrande.pb.gov.br. Acessado em: 25 de Abr.20128 Dados coletados no site do IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/ topwindow.htm?1. Acessadoem: 28 de mar. 20129 Associação Comercial e Empresarial de Campina Grande.Disponível em: http://www.accg.com.br/?p=2426. Acessadoem: 12 de mai. 201210 “O Garantia-Safra (GS) é uma ação do Programa Nacionalde Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) voltadapara os agricultores e as agricultoras familiares localizadosna região Nordeste do país, na área norte do Estado deMinas Gerais, Vale do Mucuri, Vale do Jequitinhonha e naárea norte do Estado do Espírito Santo”. Disponível em: http://campinagrande.pb.gov.br/. Acessado em: 12 de mai. 2012.11 O Complexo Aluízio Campos “possui um horto didáticoagroecológico, que é utilizado como laboratório para odesenvolvimento de pesquisas dos alunos dos cursos depós-graduação nas áreas de Tecnologia e Meio Ambiente,oferecidos pela Furne. No local há um imenso acervo defauna e flora e é feito o cultivo de plantas medicinais para aprodução de medicamentos”. Disponível em: http://www.fundacaofurne.org.br/ portal/?pg=artigo&idmenu=220#. Acesso em: 15 de mai. de 201212 Diário da Borborema. Disponível em: http://www.diariodaborborema.com.br/2009/06/01/cotidiano3_0.php. Acesso em: 15 de mai. 201213 Disponível em: http://www.campinagrande.pb.gov.br/.Acesso em: 15 de mai. 201214 Disponível em: http://g1.globo.com/paraiba/noticia/2012/05/moradores-reclamam-de-deposito-de-lixo-irregul ar-em-campina-grande-pb.html. Acesso em: 15 de mai. 2012.15 Prefeitura Municipal de Campina Grande. <http://www.campinagrande.pb.gov.b r>. Acesso em: 18 de mai.2012

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* Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambientepela Universidade Federal do Ceará, Especialista emGestão Pública Municipal pela UniversidadeEstadual da Paraíba, Bacharel em Serviço Socialpela Universidade Estadual da Paraíba.** Mestranda em Economia Rural pela UniversidadeFederal do Ceará, Especialista em Gestão deProjetos pela Faculdade Anglo-americano, Bacharelem Economia pela Universidade Federal de CampinaGrande.*** Mestranda em Economia Rural pela UniversidadeFederal do Ceará, Bacharel em Economia pelaUniversidade Regional do Cariri.**** Mestranda em Economia Rural – UFC, Tecnólogaem Recursos Hídricos/Irrigação pelo Centro deEnsino Tecnológico.***** Mestre em Economia Rural pela UniversidadeFederal do Ceará, Bacharel em Economia pelaUniversidade Estadual do Rio Grande do Norte.

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INCLUSÃO DO ESTADO DO MARANHÃONO SEMIÁRIDO BRASILEIRO:JUSTIFICATIVAS TÉCNICAS, ECONÔMICASE SOCIAISJosé de Jesus Sousa Lemos*

Resumo: O estudo tenta mostrar que o semiárido brasileiro é a sua região mais carente. Mesmo o Ministériodo Interior considerando que existam municípios do semiárido em oito dos estados do Nordeste excluindo oMaranhão, mas incorporando municípios do estado de Minas Gerais, o estudo também busca mostrar queem pelo menos quinze municípios do Maranhão tem características do semi-árido e nesses municípiosconcentram-se os maiores bolsões de pobreza do Brasil. Utiliza-se dados do Censo Demográfico do IBGE de2010 e os PIB dos municípios publicados pelo IBGE em 2009. Estima-se o índice de aridez para osmunicípios maranhenses que se faz a hipótese de terem características de semi-árido. Buscam-seindicadores sociais de exclusão de educação, renda, água, saneamento e coleta de lixo. Os resultadosmostram que o PIB médio dos municípios do semi-árido são bem menores do que aquele dos demaismunicípios da região Nordeste que detém os menores PIB per capita do Brasil, Alem de reduzido o PIB ébastante mau distribuído. A relação entre o maior e o menor PIB médio do semi-árido é de 40,9. Aescolaridade média é a mais baixa do Brasil e as taxas de analfabetismos são as mais elevadas do País.Todos os indicadores sociais do semi-árido são muito ruins. As evidencias do estudo permitem concluir que,de fato, nesta região concentram-se, em termos relativos, os maiores bolsões de pobreza do Brasil. O semi-árido maranhense tem indicadores piores do que a média dos demais municípios já incorporados ao semi-árido brasileiro.Palavras Chaves: Nordeste; Exclusão Social; Degradação dos Recursos Naturais.

Summary: The main objective of this search is to show the Brazil semi-arid zone is the poorest all over theCountry, concerning social and economic indicators. Instead the Integration Ministry of State had consideredas belonging to that region only eight states, excluding Maranhão State (also situated in Northeast) andincluding the poor counties of Minas Gerais, this study also intended to show that at least fifteen (15) countiessituated in Maranhão has semi-arid characteristics. We used data from Demographic Census from 2010 andthe GNP of municipalities from 2009, both published by IBGE. We estimated the arid index (AI) in order toshow the situation prevailing in those 46 counties of Maranhão. We also estimate social indicators asexclusion of income and access of social services such as education, clean water, sanitation and garbagecollecting, The results showed the very low level of aggregated GNP and GNP per capita as well. It showedalso the asymmetry in the income distribution among the counties belonging to semi-arid zone. But we couldsee a very large ranging between the county with the biggest and the one with the lowest per capita GNP. Therelationship is 40.9. The average scholar in that region is only 4.2 years. The illiterate rate is very high. Allthe social indicators in the semi arid zone of Brazil, including counties of Maranhão state, are very bad. Wecan conclude that semi arid zone is the Brazilian poorest region. Into this region the Maranhão semi arid hasthe worst economic and social indicators.Key words: Northeast; Social Exclusion; Natural resources degradation.

Justificativa e objetivos

A agricultura desempenha um papel bastanterelevante para a região Nordeste, quer comoabsorvedora de mão de obra, ou como provedora dealimentos, ou ainda como geradora de rendamonetária para as famílias rurais. Com condiçõesminimamente adequadas este setor segurará oêxodo rural em larga escala, o que já seria um bomcomeço para se começar a reverter o quadro deexclusão social da população regional, em que oNordeste apresenta recordes em termos relativos.

Contudo, a produção agrícola do Nordestebrasileiro é afetada por dificuldades associadas àestrutura fundiária, às condições climáticas, bemcomo pela degradação dos recursos naturais daregião, que é causada, em grande parte, pela açãoantrópica através de práticas agrícolas predatórias,tanto por parte dos agricultores familiares, comopor parte de grandes empresários rurais.

Este cenário que prevalece por longos anos nosestados do Nordeste a partir do Piauí até a Bahia,também passou a afetar alguns municípios do

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Maranhão e de Minas Gerais que já apresentamsintomas claros de presença de áreas semi-áridasna sua superfície. O Estado de Minas Gerais játem 85 dos seus municípios reconhecidos peloMinistério do Interior, e já incorporados ao semi-árido brasileiro. O Maranhão ainda não temqualquer dos seus municípios ainda reconhecidospor aquele Ministério o que penaliza umcontingente significativo de maranhenses quesobrevivem sob aquelas condições, mas nãousufruem das políticas diferenciadas para aquelesbiomas, o que contribui para agravar o estado depobreza daquela parte do Brasil

Objetivo Geral

A pesquisa tem como objetivo geral mostrarque, além dos municípios atualmente enquadradosno semiárido brasileiro, há pelo menos mais quinzemunicípios no estado do Maranhão que apresentamcaracterísticas técnicas, aferidas pelo índice dearidez, econômicas e sociais que também oscaracteriza como pertencentes ao semi-áridobrasileiro.

Objetivos Específicos

De forma específica o estudo objetiva:a – mostrar que o índice de aridez de pelo menosquinze (15) municípios maranhenses estão dentrodas faixas que são mundialmente reconhecidascomo semiárido;b – mostrar que os indicadores econômicos esociais desses quinze (15) municípiosmaranhenses são iguais ou piores àqueles dosmunicípios já incluídos no semiárido brasileiro.

O Semiárido Brasileiro

O Nordeste brasileiro é uma das três grandesáreas semiáridas da América do Sul, em quepredominam combinações de temperaturas médiasanuais muito elevadas, com irregular regimepluviométrico, o que faz essa região sempreapresentar balanço hídrico negativo, em boa partedos anos (FUNCEME, 2005). Isto dificulta aspráticas agrícolas, sobretudo quando exercidassem o uso de tecnologias adequadas para aquelascondições. Este cenário que prevalece por longosanos nos estados do Nordeste, a partir do Piauí atéa Bahia, também afeta municípios do de MinasGerais e do Maranhão. Minas Gerais já temmunicípios reconhecidos, o Maranhão ainda não ostem.

A esses problemas climáticos, que decorrem daposição geográfica da região, mas que também

conta com forte contribuição do ser humano,agregam-se os elevados níveis de concentraçãofundiária que corroboram com a situação deinstabilidade das populações rurais do semiárido.Essa sinergia de eventos contribui para que partesignificativa da população rural dessas áreas migrepara as áreas urbanas dos municípios nordestinos,sobretudo aqueles de maior densidadepopulacional, como o são as captais dos estados.Mais recentemente o destino dos emigrantes doNordeste, em geral, e do semiárido,especificamente, tem sido também os estados doNorte do Brasil. Para ali se deslocam, ocupando osespaços geográficos mais insalubres e, aschamadas áreas de riscos que, além de nãodisporem de infraestrutura de transportes,saneamento, água, escolas, estão sujeitas aalagamentos em épocas de chuvas intensas. Comonão tem habilidade para exercerem funções demelhor remuneração, boa parte dessa gente acabatrabalhando em regime de semiescravidão. Esta éuma denúncia que se tem tornado muito frequenteem todos os veículos da mídia nacional.

Não obstante existir uma definição técnica desemiárido, mundialmente consolidada, observa-seuma notável confusão, em nível de Parlamento eem nível dos Governos brasileiros, no que concerneà aplicação do conceito para a caracterização dosmunicípios do semiárido brasileiro. O quetransparece é que prevalecem mais critériospolíticos.

As caracterizações mundialmente aceita dedefinições climáticas das regiões é feita pelo Índicede Aridez (IA), que foi criado baseado emmetodologia desenvolvida por Thornthwaite (1948).Este índice mede a relação entre evapotranspiraçãopotencial, tal como definida por este autor, e o totalprecipitado de chuvas numa determinadalocalização e num período definido de tempo.

Observe-se como os Deputados e SenadoresConstituintes definiram semiárido e colocaram notexto constitucional de 1988:

O conceito de semiárido é decorrente de umanorma da Constituição Brasileira de 1998 que noseu Artigo 159 institui o Fundo Constitucional deFinanciamento do Nordeste (FNE). A normaconstitucional determina a aplicação no semiáridode 50% dos recursos destinados ao Fundo. A Lei7.827 de 27 de setembro de 1989 regulamenta aConstituição Federal, define como semiárido aregião inserida na área de atuação da SUDENE,com precipitação pluviométrica média anual igualou inferior a 800 milímetros. (SILVA, 2008, P.17).

Esta definição de semiárido, leva emconsideração apenas o montante de chuvas caído

52informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

durante o ano. Nenhuma referencia é feita acercada distribuição espacial e temporal que, tambémsão problemas relevantes associados à distribuiçãopluviométrica no Nordeste. Por essas razões adefinição que está na Constituição de 1988contraria o preceito técnico, que define as áreassob aquele complexo e frágil ecossistema combase em critérios de balanço hídrico entre a águaque cai e aquela que é eliminada pela evaporação epela transpiração, sobretudo dos vegetais, tal comodefinido pelo IA de Thornthwaite (1948).

No começo de março de 2005 os MinistrosTitulares do Ministério da Integração Nacional, doMeio Ambiente e da Ciência e Tecnologiaelaboraram a Portaria Interministerial N°1, de 09 demarço de 2005, e que foi publicada no Diário Oficialda União no dia 11/03/2005. Aquele documento noseu Artigo primeiro trazia a seguinte redação:

Aprovar a re-delimitação da Região Semiárida doNordeste constante no Relatório Final, que tempor base os resultados do Grupo Interministerialinstituído pela Portaria nº6 de 29 de março de2004, que atualiza a relação dos Municípioscompreendidos na referida região, observando,além do critério estabelecido na Lei n°7.827, de27 de setembro de 1989, os demais:Parágrafo 1°- isoieta de 800 mmParágrafo 2° - Índice deAridezParágrafo 3° - Déficit hídrico (BRASIL . 2005)

Contudo, não é esta a definição utilizada pelopróprio Ministério da Integração Regional paraconstruir a “Nova Delimitação do SemiáridoBrasileiro”. Segundo este último documento são oscritérios a seguir os utilizados para esta novadelimitação:

1 – a precipitação pluviométrica média anualinferior a 800 milímetros; 2 –. índice de aridez deaté 50 no período entre 1961 e 1990; e 3 – riscode seca maior do que 60% tomando-se porbase o período entre 1970 e 1990. (BRASIL,2005)

O semiárido é caracterizado, segundo estadefinição, de acordo com a sinergia de três critériosque devem acontecer, ao que se depreende do seuconteúdo, de forma simultânea, sendo um deles,fortemente subjetivo. O primeiro critério queestabelece pluviosidade abaixo de 800 milímetrosé absolutamente desnecessário, caso não seestabeleça a distribuição temporal das chuvas, queé aferida pelo coeficiente de variação. Se aqueles800 milímetros se distribuírem de uma forma maishomogênea ao longo do ano (baixo coeficiente devariação), até poderia haver a possibilidade da área,sob essas condições não ser caracterizada comosemiárida. Por outro lado uma média acima de 800milímetros anuais pode caracterizar um climasemiárido, dependendo da forma como se distribui,

dos solos que receberem essas chuvas, dainsolação, da ocorrência de ventos, do balançohídrico, em fim.

O critério utilizado pelo Ministério da IntegraçãoNacional identificado como “risco de ocorrer secaser maior do que 60%” pode provocarinterpretações controversas. No Nordeste há o queé conhecido como “seca verde”, que caracterizaperíodos de desenvolvimento das culturas. Sobeste fenômeno, embora chovendo, as precipitaçõesacontecem em quantidades insuficientes parasustentarem a fisiologia de partes vitais dasculturas, sobretudo aquelas voltadas para aformação de inflorescências e dos frutos. Estecritério suscita a pergunta: em que nível deprecipitação de chuvas poderia se caracterizar oque se chama de “seca”? Qual seria a quantidademínima de chuva para caracterizá-la como sendoseca? Outra pergunta que precisaria serrespondida: e no caso da “seca verde”, em que,mesmo chovendo, a precipitação ocorre fora deépoca ou em quantidade insuficiente para odesenvolvimento fisiológico das plantas, como seriao ponto de corte para definir o que é, e o que não ésemiárido? Não havendo este ponto de corte, ocritério ficará na dependência de interpretaçõesdiferentes, com chances de ter viés político e decometer injustiças.

Com base nesses critérios, que podem cometerinjustiças por exclusão, atualmente o Ministério daIntegração Nacional, do Governo Federal,reconhece como semiárido brasileiro uma área quese espraia por 1.139 municípios, que agregam numespaço físico de 982.563,3 quilômetros quadrados,abrangendo nove estados. Os estados incluídosatualmente no semiárido, com as respectivasquantidades de municípios incluídos no bioma sãoos seguintes: Piauí (125), Ceará (150), Rio Grandedo Norte (146), Paraíba (166), Pernambuco (122),Alagoas (38), Sergipe (29), Bahia (262) e MinasGerais (86). A população total é de 22,6 milhõesde habitantes, sendo que aproximadamente 57%sobrevivem nas áreas urbanas e 43% nas áreasrurais (Censo Demográfico, 2010).

Por Que o Maranhão já Deveria Fazer Parte doSemiárido?

A inserção do Maranhão na região semiárida doBrasil, sem dúvida, contribuirá para corrigir umapesada divida social que a sociedade brasileira temcom um conglomerado humano de aproximada-mente um milhão de pessoas que apresenta alguns

53 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

dos mais degradantes indicadores sociais eeconômicos no próprio Nordeste, que é a regiãomais carente do Brasil. Incluir os municípiosmaranhenses no semiárido significará que aquelecontingente populacional será alcançado porinúmeros benefícios decorrentes das políticaspúblicas diferenciadas para esses ecossistemas.Dentre os benefícios da inserção do Maranhão nosemiárido, o principal é poder ter acesso, de formadiferenciada (como já acontece nos demaismunicípios já reconhecidos como pertencentes aosemiárido) ao Fundo Constitucional do Nordeste(FNE) do Ministério da Integração Nacional, aosjuros e períodos de carências diferenciados doPRONAF. (MINTER, 2005). Pode-se destacarainda possibilidade daquela população poder teracesso aos programas nacionais de recuperaçãode áreas degradadas e de combate àdesertificação.

A proposta de enquadramento de municípios emáreas semiáridas, não é feita como se fora ummero exercício acadêmico. Tão pouco deveatender a demandas políticas que possibilitemdividendos políticos a quem quer que seja.A finalidade precisa, e deve ser bem mais nobre.Trata-se de demonstrar, a quem toma decisões depolíticas públicas, que existem locais onde ascondições de vida são bem mais adversas, e poresta razão as famílias residentes em áreas assimdevem receber um tratamento diferenciado daspolíticas públicas. Não apenas por viverem emcondições desumanas, mas porque, emconseqüência de uma vida assim, são potenciaisemigrantes que, se emigrarem, engrossarão oscinturões de misérias das cidades de todos osportes.

Neste estudo se tenta demonstrar que existemao menos quinze, entre os duzentos e dezessete(217) municípios maranhenses, que tem caracte-rísticas técnicas de semiárido. Como as popula-ções desses municípios ainda não têm acesso àspolíticas diferenciadas que são voltadas para oshabitantes desse ecossistema, experimentamindicadores sociais e econômicos bem piores doque o conjunto de municípios que já é reconhecidopelo governo federal. Sendo assim, a esses municí-pios maranhenses, ou a quaisquer outros, emidênticas situações, devem ser dados os mesmostratamentos de políticas públicas, sob pena deserem cometidas injustiças e, pior do que isso, opróprio Estado continuar condenando, por omissão,um contingente de brasileiros a padrões de vida

indignos com a condição de seres humanos.

Metodologia

Para caracterizar os quinze (15) municípiosmaranhenses para os quais já existem fortesindícios de características de região semiáridadesenha-se uma metodologia que se desenvolveem algumas etapas. A primeira consiste naestimativa do Índice de Aridez (IA) para os quinzemunicípios. O IA baseia-se na metodologiadesenvolvida por Thornthwaite (1948),mundialmente reconhecida, que mede a relaçãoentre evapotranspiração potencial, tal como definidapor esse autor, e o total precipitado de chuvasnuma determinada localização.

O Índice de Aridez (IA), tal como definido pelaOrganização das Nações Unidas, citada pelaFUNCEME (2005), foi criado por THORNTHWAITE(1948) sendo estimado de acordo com a seguinteequação:

IA = 100 x (Pr / ETo)

na qual Pr é a precipitação de chuvas; e ETo é aEvapotranspiração potencial.

A partir dos resultados encontrados na equaçãode definição do IA, as Nações Unidas estabelecemas seguintes caracterizações para as regiões. Tudosendo baseado no trabalho original deTHORNTHWAITE (op. cit):

Caracterização social e econômica doSemiárido.

A metodologia do trabalho está segmentada emduas etapas. Na primeira estimam-se os índices dearidez (IA) dos quinze (15) municípiosmaranhenses para os quais havia informaçõesdisponíveis. Na segunda etapa do trabalhoestimam-se indicadores de exclusão de educação(PRIVEDUC = percentual da população dosmunicípios do semi-árido com taxa de analfabetosda população maior de quinze anos); exclusãoeconômica (PRIVREND) que é aferida pelopercentual da população que sobrevive em

Tabela 1: Definição dos Tipos de Clima de Acordo com o Índice de Aridez

Regiões de Acordo Com o Tipo de Clima Índice de Aridez (IA) Árido IA < 20

Semi-Árido 20 < IA < 50

Sub-Úmido Seco 50 < IA < 65

Sub-ümido e Úmido 65 <IA < 100

Úmido IA > 100

Fonte: FUNCEME, 2007.

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domicílios, cuja renda mensal total domiciliar percapita nominal, era de meio salário mínimo em2010, com valor domiciliar de no máximo R$255,00. Os outros indicadores sociais utilizados notrabalho são: exclusão no acesso ao serviço deágua encanada (PRIVAGUA=percentagem dapopulação vivendo em domicílios sem acesso àágua encanada em 2010); exclusão no acesso asaneamento minimamente adequado(PRIVSANE=percentagem da populaçãosobrevivendo em domicílios sem acesso aesgotamento sanitário ou ao menos fossa sépticaem 2010); e exclusão no serviço de coleta de lixo(PRIVLIXO=percentagem da população quesobrevive em domicílios sem acesso ao serviço decoleta sistemática de lixo, direta ou indiretamenteem 2010).

Os indicadores de privações são agregadospara a construção do índice de exclusão social(IES) cuja equação de definição é a seguinte:

Na equação acima P1, P2 e P3 são pesosassociados a cada um dos indicadores que foramestimados por Lemos (2012) com valores derespectivamente 0,35; 0,35 e 0,30. PASSAMBI é opassivo ambiental que é estimado de acordo com aequação:

Os pesos P4=P5=0,35 e P6=0,30 tambémforam estimados por Lemos (2012). As informaçõesusadas nesta etapa do estudo provém do CensoDemográfico do IBGE de 2010. O trabalho tambémcontabiliza o PIB agregado e o PIB per capita decada município do semi-árido em 2009, incluindoos quinze maranhenses. As informações provémda Diretoria de Pesquisas, Coordenação de ContasNacionais do IBGE.

Resultados

As estimativas dos Índices de Aridez dosmunicípios maranhenses foram realizadas peloLaboratório de Climatologia da UniversidadeEstadual do Maranhão (UEMA) em 2005. Osresultados encontrados na estimação do índice dearidez (IA) para os quinze municípios maranhensespara os quais se dispunha de informaçõesconfiáveis estão apresentados na Tabela 2.

Como se observa, através das evidênciasmostradas na Tabela 2, todos os municípios paraos quais se dispõe de informação, com exceção deBuriti Bravo e Colinas e Loreto, apresentam Índicesde Aridez que os colocam na definição de climasemiárido. Buriti Bravo e Colinas apresentamíndices de aridez que os colocam na faixa de climaárido, o que é muito mais grave, porque asdificuldades climáticas são bem maiores do quenaqueles de semiaridez. Loreto fica qualificado nolimite entre clima semi-árido e sub-úmido seco.Deste resultado depreende-se que a hipótese destaparte do estudo praticamente se confirma, aomenos para esses 15 municípios maranhenses(Tabela 2).

Indicadores econômicos e sociais dosmunicípios do semiárido brasileiro

Tendo apresentado uma breve justificativa doporque o Maranhão também deve ter ao menosquinze dos seus 217 municípios no semi-áridobrasileiro, passa-se a discutir os resultados quemostram como estão os indicadores econômicos esociais de todos os municípios já reconhecidospelo Ministério da Integração, mas incorporando osmunicípios maranhenses, objetivando confrontar osresultados desses com aqueles dos demaismunicípios já inseridos no semi-árido.

Na Tabela 3 apresenta-se a extensão atualizadado semiárido brasileiro, tal como definido peloMinistério da Integração Nacional. Nesta Tabela

IES = P1PRIVEDUC + P2PRIVREND + P3PASSAMBI

PASSAMBI = P4PRIVAGUA + P5PRIVSANE + P6PRIVLIXO

Tabela 2: Índices de aridez em quinze (15) municípios maranhenses em que as informações estão disponíveis

MUNICÍPIO ÍNDICE DE ARIDEZ (IA)

Barreirinhas 39

Benedito Leite 33

Brejo 32

Buriti Bravo 19

Caxias 34

Codó 37

Chapadinha 36

Colinas 15

Loreto 53

Matões 36

Santa Quitéria 41

Timbiras 39

Timon 31

Tutóia 44

Urbano Santos 34

Fonte: Laboratório de Climatologia da UEMA, 2005.

55 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

colocam os resultados dos quinze municípiosmaranhenses que, embora ainda não reconhecidosoficialmente, tem características de semiárido,como discutimos na seção anterior.

Das evidencias mostradas na Tabela 3depreende-se que Ceará, Rio Grande do Norte eParaíba são os três estados brasileiros queatualmente tem os maiores percentuais depopulações inseridas no semiárido. O Ceará tem55,9% da sua população vivendo naqueleecossistema. O Rio Grande Norte tem 55,7% e aParaíba tem 55,6% da sua população no semiárido.Em termos absolutos, Bahia, Ceará e Pernambucodetêm os maiores contingentes populacionais nosemiárido. Na Bahia são 6,74 milhões de pessoas.No Ceará são 4,72 milhões e em Pernambuco são3,67 milhões vivendo nos municípios inseridos nosemiárido. A população total do semiárido,incluindo as pessoas que sobrevivem nos quinzemunicípios maranhenses, é de aproximadamente24 milhões de pessoas, o que representa 33% dapopulação do Nordeste e de Minas Gerais em2010 (Tabela 3).

O PIB do semiárido representa apenas 18,2%do PIB agregado da região Nordeste, acrescido doPIB dos municípios de Minas Gerais, que foramincluídos no semiárido. Rio Grande do Norte(46,5%), Paraíba (41,5%) e Ceará (36,8%) são os

estados cujos PIB agregados do semi-árido temmaior participação nos PIB dos respectivosestados. Em Minas Gerais tem apenas 2,3% doseu PIB agregado gerado nos 85 municípios queestão inseridos no semiárido (Tabela 3).

Os PIB per capita de cada estado, bem comodas áreas semiáridas estão apresentados naTabela 4. Nesta Tabela também se mostram osvalores extremos (máximo e mínimo) em cadaestado dos valores do PIB médio. Observa-se queos semiáridos de todos os estados apresentamPIB médios muito baixos, bastante menores queas médias dos estados. Vale lembrar que noNordeste estão os menores PIB per capita doBrasil. É bom também lembrar que o saláriomínimo mensal em 2009 era de R$465,00 ou, oequivalente anual a R$5.580,00. Observa-se queapenas nos semiáridos do Rio Grande do Norte ede Sergipe, o PIB médio anual superou aquelevalor. Nos semiáridos do Piauí e do Maranhão,onde se observaram os menores PIB per capita de2009, o valor representou apenas 76,6 e 80,4%,respectivamente, do salário mínimo daquele ano(Tabela 4).

Tabela 3: Municípios, População, PIB Agregado e PIB do Estado e do Semiárido

Estado Total Muni- cípios

(1)

Municípios no

semiárido. (2)

População em

2010 (3)

População Semiárido em 2010

(4)

(4) / (3) =(5) (%)

PIB do Estado em 2009

(R$1.000,00) (6)

PIB do Semiárido em 2009

(R$1000,00) (7)

(7) / (6)

(%) (8)

MA* 217 15 6.574.789 839.038 12,8 39.854.676,63 3.463.481.47 8,7

PI 224 127 3.118.360 1.047.344 33,6 19.032.665,02 4.476.866,12 23,5

CE 184 150 8.452.381 4.724.705 55,9 65.703.760,57 24.169.937,79 36,8

RN 167 147 3.168.027 1.764.735 55,7 27.904.988,65 12.963.671,22 46,5

PB 223 170 3.766.528 2.092.400 55,6 28.718.598,47 11.947.034,26 41,6

PE 185 122 8.796.448 3.667.559 41,7 78.428.308,14 19.575.933,92 25,0

AL 102 38 3.120.494 900.549 28,9 21.234.950,63 4.170.585,49 19,6

SE 75 28 2.068.017 393.434 19,0 19.767.110,93 3.221.038,72 16,3

BA 417 266 14.016.906 6.740.697 48,1 137.074.670,70 38.673.720,07 28,2

MG 853 85 19.597..330 1.232.389 6,3 287.054.747,64 6.558.215,34 2,3

TOTAIS 2647 1179 72.679.280 23.992.233 33,0 724.774.477,38 132.162.799,51 18,2

Fontes dos Dados Originais: IBGE, Censo Demográfico de 2010. *O Maranhão ainda não tem municípios participando oficialmente no Semiárido brasileiro.

56informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

O PIB médio do semiárido em 2009, incluindo oMaranhão, foi de R$5.508,57, valor querepresentava apenas 98,7% do salário mínimodaquele ano. Dos 1.179 municípios do semiárido,em apenas 150 o PIB per capita superava o valorde R$5.508,57 (média do semiárido em 2009).Nesses municípios vivem 7.617.573 pessoas ou31,6 % da população do semiárido. O PIB percapita deste grupo é de R$8.745,25, o equivalentea 1,6 salários mínimos do ano de 2009.

Nos demais 1.029 municípios do semiárido, oPIB per capita é menor do que a média de todo ogrupo (R$5.508,57). Nesses municípios o PIB percapita era de R$3.676,06, o que representavaapenas 67,0% do PIB médio do semiárido, e 65,9%do salário mínimo do ano. Nesses municípiossobrevivem 16.484.950, ou 68,4% da população dosemiárido.

Estas constatações servem para fazer duasinferências muito ruins, de um ponto de vistaeconômico. O PIB da maioria dos municípios dosemiárido é muito baixo e se distribui de formamuito desigual. Ao ponto da amplitude de variaçãooscilar entre R$2.203,83 e R$90.233,45. Essesvalores gravitam, como se viu, em torno de umamédia de apenas R$5.508,57, portanto com umadistribuição fortemente assimétrica.

Os valores extremos estavam no Maranhão e noRio Grande do Norte. No Maranhão, o município deTutóia tinha o menor PIB médio dos municípios dosemiárido em 2009. Naquele município maranhenseo PIB per capita foi de R$2.203,83, ou apenas39% do valor anualizado do salário mínimo daqueleano no Brasil. O município de Guamaré, no RioGrande do Norte, tinha o maior PIB per capita, de

todos os 1.179 municípios que tem característicasde semiárido. Com efeito, para aquele município oIBGE estimou uma média de R$90.233,45 em2009. Este valor representa 16,7 salários mínimosanuais, 16,3 PIB per capita do semiárido e 39,2vezes o PIB médio de Tutóia do Maranhão. Óbvioque se trata de uma grande disparidade. Não sequestiona a inclusão de Guamaré no semiáridobrasileiro, mas a exclusão dos municípiosmaranhenses cujos PIB médios são bastanteinferiores.

Indicadores exclusão do semiárido brasileiro

Os indicadores de escolaridade média e deexclusões dos municípios que compõem o semi-árido brasileiro estão apresentados na Tabela 5.

Observa-se que a escolaridade média geral dosmunicípios que compõem o semi-árido brasileiro,incluindo os municípios mineiros (já reconhecidoscomo pertencentes ao semiárido e os maranhen-ses ainda não reconhecidos) é muito baixa, deapenas 6,6 anos. No semiárido a escolaridademédia é de apenas 4,2 anos. Observa-se que emtorno desta média gravitam valores entre 3,7 anosque são observados em Alagoas e Maranhão e 4,4anos observados na Bahia e em Minas Gerais.

A taxa de analfabetismo nos estados tem médiade 18,7%, no semiárido daqueles estados chega àtaxa de 24,6%. Alagoas tem taxa de 30,8% deanalfabetismo nos municípios que compõem o seusemiárido. Mas Sergipe (29,2%), Piauí (29,1%) eMaranhão (28,5%) também apresentam taxasmuito expressivas de analfabetismo nas suas áreassemiáridas.

Em relação ao indicador de exclusão de

Tabela 4: PIB Per Capita e Valores Extrem os no Geral e no Sem iárido de Cada Estado em 2009 (R$) G eral Sem iárido

Estado

PIB Per capita em

2009

Menor P IB Per capita em 2009

Maior P IB Per capita em

2009

P IB Per capita

em 2009

Menor P IB Per capita em 2009

Maior P IB Per capita em

2009 MA* 6.259,43 1.929,97 36.707,09 4.484,53 2.203,83 13.397,05

PI 6.051,10 2.358,24 28.383,04 4.274,49 2.358,24 14.319,49 CE 7.686,62 2.623,99 26.172,98 5.115,65 2.623,99 19.642,75 RN 8.893,90 3.314,72 90.233,45 7.345,96 3.314,72 90.233,45 PB 7.617,71 3.232,63 44.978,85 5.709,73 3.232,63 11.142,20 PE 8.901,93 2.950,82 93.791,75 5.337,59 2.950,82 16.513,18 AL 6.728,21 2.649,48 13.028,95 4.631,16 2.649,48 7.880,34 SE 9.787,25 4.278,65 56.196,05 8.186,99 4.484,70 39.456,09 BA 9.364,71 2.327,15 360.815,83 5.737,35 2.327,15 17.509,38 MG 14.328,62 3.173,39 187.402,18 5.321,55 3.173,39 13.528,63

TOTAIS 9.816,70 1.929,97 360815,83 5.508,57 2.203,83 90.233,45 Fonte dos dados orig inais: IBGE, 2009. *O Maranhão ainda não tem m unicípios participando ofic ia lm ente no Semiárido brasileiro.

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renda (PRIVREND), observa-se que é muitoelevado, tanto nos estados como nas respectivaszonas semiáridas. Com efeito, a média estimadapara os estados que compõem o semiárido era de58,5% em 2010. Este valor salta para 66,6% seforem computadas apenas as áreas semiáridas.Neste indicador, o Maranhão lidera, tanto no estadocomo todo, como na média dos seus municípioscom características de semiárido (Tabela 5). Noindicador de exclusão ao serviço de água encanada(PRIVAGUA), os municípios maranhenses comcaracterísticas de semiárido também lideram com39,9%. Neste indicador a média geral é de 29,1%contra uma média de 23,3% para os estadoslistados na Tabela 5.

Exclusão de saneamento (PRIVSANE) seconstitui noutro indicador complicado, tanto nosestados como um todo, como nas suas áreassemiáridas. De fato a média para os estados era de54,0%, enquanto o semiárido exibia uma média de60,9% em 2010. Alagoas, Piauí e Maranhão,lideram como os estados que apresentam osmaiores percentuais de população excluída desaneamento no semiárido dos seus municípios.

A exclusão do serviço de coleta sistemática delixo (PRIVLIXO) penaliza 24,9% da população totaldos estados que tem municípios comcaracterísticas de semiárido. Mas nessesmunicípios a média ascende para 36,0%%. Osemiárido maranhense lidera também este ranking.Nada menos do que 59,3% dos domicíliosinseridos naqueles ecossistemas privados desteserviço e essencial.

Das evidencias mostradas na Tabela 5,

depreende-se que dos indicadores de exclusãopara os semiáridos dos dez estados, o Maranhãolidera em três desses indicadores: PRIVREND,PRIVAGUA e PRIVLIXO, e praticamente empatacom o indicador PRIVSANE do Piauí que é o maiorde todos. A privação de acesso ao serviço desaneamento, minimamente adequado, atinge79,1% da população dos quinze municípios dosemiárido maranhense. Alem disso os indicadoresde privação ou de exclusão de educação dossemiárido maranhense são tão ruins como aquelesde todos os demais municípios já inseridos nesseecossistema (Tabela 5). Isto sugere que nessesmunicípios maranhenses concentram-se, emtermos relativos, os maiores bolsões de exclusãode serviços essenciais e de renda do semiáridobrasileiro. Como nessa região está o maior bolsãorelativo de pobreza do Brasil, segue-se que é osemiárido maranhense a região mais problemáticado Brasil, em termos de exclusão social e derenda. Pobreza entendida no sentido lato.

Conclusões

A região semiárida está atualmente definida por1.133 municípios que se situam nos estados doNordeste (excluindo o Maranhão) e incluem oestado de Minas Gerais. Nesses municípiossobrevivem 22,56 milhões de brasileiros. Noentanto, no Maranhão há pelos menos quinzemunicípios que apresentam índices de aridez queos caracterizam como semiárido se for utilizado oconceito mundialmente aceito, que é o das NaçõesUnidas. Nesses municípios maranhensessobreviviam 839.038 pessoas em 2010 segundo o

Tabela 5: Escolaridades médias e privações nos municípios do semiárido (S.A.) dos Estados em 2010 Escolaridade

Média (Anos) PRIVEDUC

(%) PRIVREND

(%) PRIVAGUA

(%) PRIVSANE

(%) PRIVLIXO

(%) Estado Geral S.A. Geral S.A. Geral S.A. Geral S.A. Geral S.A. Geral S.A.

MA 6,3 3,7 20,9 28,5 67,2 75,9 34,1 39,9 73,3 79,1 44,2 59,3

PI 6,1 3,8 22,9 29,1 61,8 69,2 27,8 38,6 70,9 80,8 38,4 50,5

CE 6,8 4,2 18,8 24,6 60,2 68,2 22,8 27,5 56,6 66,8 24,7 35,3

RN 6,8 4,3 18,5 24,0 52,4 60,5 13,6 19,6 54,8 62,1 15,5 23,5

PB 6,4 4,2 21,9 24,8 58,1 64,0 23,3 29,1 50,7 46,6 22,3 33,4

PE 6,9 4,1 18,0 25,3 56,9 64,5 24,0 32,4 44,9 39,4 18,4 31,3

AL 6,0 3,7 24,3 30,8 63,7 71,2 31,4 37,6 67,4 81,7 20,2 35,9

SE 7,0 3,8 18,4 29,2 56,4 69,5 16,5 21,5 49,8 59,3 17,0 29,8

BA 6,6 4,4 16,6 22,1 57,6 66,0 19,7 26,5 48,2 61,7 23,8 35,2

MG 7,7 4,4 8,3 22,5 33,4 65,2 13,7 28,5 20,4 67,3 12,4 42,4

TOTAIS 6,6 4,2 18,7 24,6 58,5 66,6 23,3 29,1 54,0 60,9 24,9 36,0

Fontes dos Dados Originais: Censo Demográfico do IBGE de 2010,

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IBGE. Assim, quando se agregam os municípiosmaranhenses ao semiárido passa-se a ter 1.179municípios onde vivem, em condições muitoprecárias, aproximadamente 24 milhões debrasileiros.

Por esta razão resolveu-se incluir os indicadoresdaqueles municípios maranhenses nas analisesque aferem os baixos desempenhos econômicos esociais do semiárido brasileiro. As evidenciasencontradas na pesquisa mostram que tanto o PIBagregado como o PIB per capita dos estados doNordeste são muito baixos, de tal sorte que aregião tem o menor PIB médio do Brasil. Asparticipações das riquezas geradas no semiáridoem relação àquelas dos estados é bastantereduzida. Incorporando os dados de Minas Gerais,observa-se que a situação não melhora. Fica piorainda quando é feita a segregação dos municípiosdo semiárido dos dez estados analisados. Aiobserva-se o quão baixo é o PIB per capita dessesmunicípios.

No entanto, além dos valores dos PIB médiosserem baixos, ainda apresenta grande amplitude.Tanto assim que os valores extremos oscilam deR$ 2.203,83 em Tutóia, Maranhão, a R$ 90.233,45em Guamaré, Rio Grande do Norte. Em apenas150 municípios do semiárido o PIB per capitasupera a média estimada para essa região.

Quando se buscam os indicadores sociais,observa-se o quão difícil está o padrão educacionaldo semiárido brasileiro. A escolaridade médiacoloca a região na condição de ter, na média, umapopulação com quatro anos ou menos deescolaridade média. Mesmo os valores superioresde escolaridade média são muito baixos. As taxasde analfabetismo também são muito elevadas. Asituação mais critica, em termos dos indicadoresde educação (escolaridade média e taxa deanalfabetismo), estão no Maranhão, Piauí, Alagoase Sergipe.

Os demais indicadores de exclusão nosserviços de água encanada, saneamento e coletasistemática de lixo, também se mostraram deelevada carência. Sempre comparando osresultados do semiárido com a situação geral dorespectivo estado, depreende-se que nas primeirasos indicadores são sempre piores. Os quinzemunicípios maranhenses, com características desemiárido, lideram também em dois dessesindicadores: Privagua e Privlixo. Na privação desaneamento, praticamente empatam com osmunicípios do semiárido do Piaui. A conclusão

deste trabalho é que ao menos quinze municípiosmaranhenses têm características de semiáridoquando aferido pelo índice de aridez. Justamentepor ainda não possuírem acesso aos benefíciosdas políticas públicas diferenciadas do GovernoFederal para o semiárido brasileiro, os municípiosmaranhenses exibem indicadores que são, noconjunto, piores do que aqueles observados nosoutros já inseridos naquele complexo ecossistemabrasileiro. Por estas razões é preciso que hajademandas políticas por parte dos parlamentares,governos, e políticos daquele estado, para que sejareparada essa injustiça que penaliza e segrega,aproximadamente. um milhão de brasileiros

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* Engenheiro Agrônomo, Professor Associado,Coordenador do Laboratório do Semiárido(LabSar) da Universidade Federal do Ceara. Doutorem Economia Aplicada pela Universidade Federalde Viçosa/UFV.

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PROSPECTO ECONÔMICO DA PRODUÇÃODE ACEROLA ORGÂNICA NO DISTRITO DEIRRIGAÇÃO TABULEIROS LITORÂNEOSDO PIAUÍ (DITALPI)Juliete Gomes de Araújo* e José Natanael Fontenele de Carvalho**

Resumo: O estudo mostra a importância do cultivo de acerola orgânica no Distrito de Irrigação TabuleirosLitorâneos do Piauí (DITALPI), na cidade de Parnaíba-PI. Nessa direção, analisa economicamente a produçãode acerola orgânica no Distrito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos do Piauí, determinando seus índices delucratividade e rentabilidade. Utiliza informações da Cooperativa dos Produtores Orgânicos dos TabuleirosLitorâneos do Piauí (BIOFRUTA), obtidas por meio de entrevista não estruturada aplicada junto aos gestores.Partindo da análise da receita mensal total; do custo mensal total; do lucro mensal médio e do investimentototal, foram obtidas a rentabilidade e a lucratividade de 16,25% e 6,55%, respectivamente, concluindo que ocultivo de acerola orgânica apresenta taxas que indicam a estabilidade econômica da atividade. Sugere quepolíticas públicas sejam direcionadas a fim de estimular a produção de outros insumos orgânicos no DITALPIcomo forma de garantir a expansão da agricultura orgânica na região.Palavras-chaves: Acerola orgânica. Custos de produção. Lucratividade/rentabilidade. Parnaíba-PI.

Abstract: The study shows the importance of the organic barbados cherry farming in the Tabuleiros LitorâneosIrrigated District of Piauí (DITALPI), in Parnaíba – PI. According to it, it analyzes economically the productionof organic Barbados cherry in the Tabuleiros Litorâneos Irrigated District of Piauí, determining its profitabilityand rentability rates. It utilizes informations from Cooperative of Organic Producers of the TabuleirosLitorâneos of Piauí (BIOFRUTA), which were obtained through unstructured interview applied to the managers.Based on the analysis of total monthly income, the total monthly cost, the average monthly profit and totalinvestment were obtained rentability and profitability of 16.25% and 6.55%, respectively, concluding that thecultivation of organic Barbados cherry has rates which indicate the economic stability of the activity. Itsuggests that public policies should be directed to stimulate the production of other organic inputs in DITALPIas a way to ensure the expansion of organic agriculture in the region.Key words: Organic barbados cherry. Production costs. Profitability / rentability. Parnaíba-PI.

1. Introdução

Sabe-se que dado o atual contexto econômico,de crescente procura por competitividade e acessoa novos mercados, o conceito de sustentabilidadetorna-se fundamental para que objetivos básicos dedesenvolvimento sejam alcançados. Na verdade,faz-se necessário a adoção de uma posturaecologicamente responsável, que minimize asagressões ao meio ambiente.

Sustentabilidade é, basicamente, encontrar umaforma de desenvolvimento que atenda às necessi-dades do presente sem comprometer a capacidadedas próximas gerações de suprir as própriasnecessidades. Logo, como este processo ocorrenos âmbitos culturais, econômicos, sociais eambientais, mais que um conceito, é uma ferra-menta de mudança que pode definir como será aqualidade de vida da sociedade nos próximos anos.

Nessa direção, um dos meios pelos quais sepode desenvolver sustentavelmente uma região é

através da cultura de alimentos orgânicos.Os alimentos orgânicos são cultivados sem ouso de agrotóxicos, adubos químicos e outrassubstâncias tóxicas e sintéticas. Com isso,evita-se a contaminação dos alimentos e do meioambiente.

Seguindo esta tendência, o município deParnaíba – PI tem desenvolvido atividades ligadas àagricultura orgânica através do Distrito de IrrigaçãoTabuleiros Litorâneos do Piauí (DITALPI).

Com a execução da atividade, o município tornapossível uma maior conscientização a respeitotanto dos benefícios econômicos, que atraeminvestimentos públicos para a aplicação no projeto,como dos sociais e ambientais que, respectiva-mente, relacionam-se à formação de uma socieda-de consciente e ecologicamente responsável e napreservação dos recursos naturais locais. Ademais,o DITALPI fomenta o processo de conscientizaçãodos produtores de que lucratividade e qualidade de

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vida não são conceitos excludentes entre si, massim complementares.

A escolha da produção de acerola orgânica,Malpighia glabra, como objeto de estudo, deve-seao fato de que a mesma é uma fruta tipicamentetropical cujas propriedades cítricas são apreciadase extensamente aproveitadas pela indústriafarmacêutica para a extração e comercialização doácido ascórbico (vitamina C), encontrado emgrande concentração nesse tipo de fruta. Essascaracterísticas têm atraído uma maior demandapela fruta, motivando a superioridade de suaexploração no DITALPI, em relação às demaisfrutas.

Assim, o objetivo geral da pesquisa é analisareconomicamente a produção de acerola orgânicano Distrito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos doPiauí, determinando seus índices de lucratividade erentabilidade.

Especificamente, pretende-se conhecer oprocesso de produção da acerola orgânica; realizaro levantamento dos custos de produção, índice delucratividade e de rentabilidade da produção deacerola orgânica e; identificar os canais decomercialização dessa produção.

O artigo está organizado em seis capítulos. Oprimeiro é a introdução corrente, onde éapresentado a justificativa e os objetivos. Nosegundo capítulo expõe-se o referencial teórico dapesquisa, o terceiro detalha os procedimentosmetodológicos, o quarto capítulo contempla aanálise dos resultados obtidos na pesquisa decampo, o quinto disserta sobre as consideraçõesfinais e; o sexto capítulo mostra as referênciasteóricas.

2. Referencial teórico

2.1 Da agricultura convencional à agriculturaorgânica

A atividade agrícola sempre teve um papelfundamental desde os primórdios da história dasociedade humana. O desenvolvimento dacapacidade de cultivar vegetais foi um fatordeterminante para que aos seres humanoscomeçassem a produzir tecnologia quepossibilitasse sua permanência em um localdurante um intervalo maior de tempo numa épocaem que o nomadismo era uma das principaiscaracterísticas do estilo de vida dos sereshumanos.

A princípio, o modo de produção capitalistavisava um vultoso volume de produção de alimentos

baseado na ideia de produzir com umaminimização total de custos. É óbvio que este é oobjetivo de todos os empresários, uma vez queessa máxima resultará em uma porcentagem maiorde lucros no fim. Assim, os sistemas de mono epoliculturas conquistaram importância na economiaagrária global.

Desde o início da formação de seu sistemaeconômico, o Brasil tem sido um paíscaracteristicamente monocultor. Isso reflete anatureza de sua colonização e o seu processo detransição para um Estado Nacional. Isso éobservado com a transição do cultivo da cana-de-açúcar, do cacau, do café e, em períodos maisrecentes, da soja. A produção e comercialização decommodities agrícolas é uma parte fundamental daformação do PIB brasileiro, posto que o Brasil éuma nação emergente cuja economia aindapermanece fortemente dependente de suaprodução agrícola.

O agronegócio é hoje a principal locomotiva daeconomia brasileira e responde por um em cadatrês reais gerados no país. Também éresponsável por 33% do Produto Interno Bruto(PIB), 42% das exportações totais e 37% dosempregos brasileiros (MINISTÉRIO DAAGRICULTURA, 2006 apud SILVA, CESARIO eCAVALCANTI, 2006 p. 01)

Basicamente, o agronegócio envolve asatividades voltadas para “produção, processamento,armazenamento e distribuição dos produtosagrícolas. No entanto, o novo conceito deagronegócio acrescenta o aspecto da pecuária”(SILVA, CESARIO e CAVALCANTI, 2006 p. 01).Relacionadas ao aspecto da pecuária estãoatividades de produção, beneficiamento edistribuição de lacticínios e carne bovina, suína,ovina ou caprina. Dada a natureza de exploraçãodeste trabalho científico, as discussões estarãovoltadas apenas ao aspecto agrícola doagronegócio.

Além da questão da dependência, a monocul-tura também contribui para uma maior degradaçãoambiental em decorrência de sua maiornecessidade de espaço para o plantio. Então, oquestionamento sobre como produzir e não agrediro meio ambiente fica enfatizado.

Ora, em meio a inúmeras discussões a respeitode degradação ambiental, desenvolvimentosustentável e medidas para reverter ou pelo menosamenizar a situação do meio ambiente, é óbvio quesurgiram idéias de como tornar a produção agrícolamenos agressiva a este. Dentre todas as alternati-vas, uma das mais difundidas atualmente é a

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agricultura familiar.A chamada agricultura familiar constituída porpequenos e médios produtores representa aimensa maioria de produtores rurais no Brasil.São cerca de 4,5 milhões de estabelecimentos,dos quais 50% no Nordeste. O segmento detém20% das terras e responde por 30% da produçãoglobal. Em alguns produtos básicos da dieta dobrasileiro como o feijão, arroz, milho, hortaliças,mandioca e pequenos animais chega a serresponsável por 60% da produção. Em geral, sãoagricultores com baixo nível de escolaridade ediversificam os produtos cultivados para diluircustos, aumentar a renda e aproveitar asoportunidades de oferta ambiental edisponibilidade de mão-de-obra (PORTUGAL,2004, p. 01).

Esse tipo de prática agrícola não énecessariamente uma prática sustentável, mas, nodecorrer do tempo adaptou-se às necessidades damão-de-obra que a exerce, pois a mesma ésuscetível às mudanças tecnológicas. Umfenômeno comprobatório disto é o êxodo rural1,resultante em grande parte da mecanização daagricultura e da grande concentração de terras paramonoculturas. Logo, pode-se dizer que aagricultura familiar é uma forma de reassegurar aoscamponeses sua fundamental atuação no setorprimário.

Entretanto, ao inserir-se o conceito desustentabilidade no âmbito da agricultura familiar,surge a alternativa da agricultura orgânica, que pornão utilizar agrotóxicos, não tem o mesmo impactoambiental que a monocultura e além de contribuirpara um estilo de vida mais saudável devido àqualidade dos produtos gerados, há também ageração de empregos para pequenos produtores.

Segundo o ITC apud Oliveira (2007 p. 37), ocomércio de alimentos orgânicos tem se convertidoem um dos melhores negócios no mercado mundialde alimentos. Isso porque a comercializaçãodesses produtos apresenta uma taxa decrescimento raramente encontrada no mercado dealimentos. Isso explica porque no primeiroquinquênio dos anos 2000, dada a conjunturafavorável ao mercado externo de orgânicos que60% da produção orgânica nacional foi exportadapara Japão, Estados Unidos e Europa (IBGE,2006).

No Brasil, o manejo de produtos orgânicosenvolve principalmente o setor exportador. Emboratenha havido um relativo aumento no consumodesses produtos no mercado interno, esseacréscimo não foi suficiente para atender àsexpectativas dos produtores. Dessa forma, grandeparte dos envolvidos no cultivo desses alimentosvoltou-se para a produção voltada para a

exportação. Ainda assim, havia o problema deatender à demanda do mercado internacional, poisa produção nacional deveria adequar-se aospadrões exigidos por seus mercadosconsumidores, além de atingir a quantidaderequerida pelos mesmos. Como uma dascaracterísticas do cultivo orgânico é a prática daagricultura familiar, vê-se que caso não houvesseuma cooperação entre os produtores, a exportaçãodos insumos poderia ser prejudicada.

Assim, pode-se deduzir que entre os produtoresorgânicos é recorrente a formação de cooperativase associações como uma forma de unir e organizara classe em prol de alcançar a quantidadenecessária para a realização da meta produtiva.

Tem-se, então que a agricultura orgânica é umaopção viável pelos seguintes aspectos sintetizados:ser ecologicamente correta; socialmente justa e;economicamente sustentável.

Por outro lado, há um problema: o fato de oBrasil ser um país agroexportador não torna viável aadoção da agricultura orgânica como o principalmeio de produção, visto que o setor agrário do paísdemanda “uma safra de 52 milhões de toneladas euma área plantada de 18,4 milhões de hectares emmédia por ano” (TAJES RUAS et al, 2008), issorelacionado apenas ao grão da soja, principalinsumo agrícola negociado pelo país.

Logo, devido à grande importância do setoragrário na formação do PIB nacional, a opçãoorgânica torna-se uma alternativa a ser aplicadasimultaneamente de modo que, não implicará emperdas econômicas e acabará por expandir aspossibilidades do mercado de orgânicos no país.Dessa forma, será possível fazer com que asociedade conscientize-se cada vez mais daimportância dos orgânicos, tanto para uma políticaambiental mais eficiente no quesito de preservação,tanto para a adoção de hábitos alimentares maissaudáveis.

Consequentemente, devido à necessidadecrescente de garantir uma melhor qualidade de vidada população e estimular o consumo de alimentosmais saudáveis, é cada vez maior o incentivo daprática da agricultura irrigada e, dentre os váriosramos que esta agrega, a fruticultura irrigada é amais disseminada por causa da cultura brasileira.A seguir abordaremos de forma mais abrangente oconceito da fruticultura irrigada.2.2 Fruticultura irrigada

Sabe-se que os produtos que se destacam nocultivo orgânico no Brasil são: banana, melancia,

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goiaba, acerola, coco e outras frutas cítricas,dentre as quais as mais demandadas pelo mercadointernacional são laranja (suco), acerola e banana(BORGES et al 2003). Observa-se aqui oprevalecimento do cultivo de frutas. Isso quer dizerque provavelmente é mais proveitoso para osagricultores locais a prática da fruticultura irrigada.E o motivo dessa opção é especulado.

Primeiro, é necessário esclarecer o conceito defruticultura irrigada. Inserida na vasta área daagricultura orgânica, encontra-se esta modalidadeque cultiva uma variedade de frutas, principalmentetropicais, sob o sistema irrigado de modo que aprodução se estenda durante o ano inteiro. OBrasil, por ser um país de clima predominante-mente tropical, possui uma extensa áreaapropriada para o cultivo agrícola. Um dos únicosentraves à produção permanente diz respeito àinconstância das chuvas em algumas regiões e atémesmo devido à sazonalidade das estações doano. Se toda a produção agrícola for adepta damodalidade convencional, seria possível somente ocultivo de espécies vegetais apropriadas apenaspara aquele específico tipo de clima, o que poderiaocasionar uma possível frustração do produtorquanto a objetivos de comercialização dedeterminada espécie de vegetal.

Dada esta consideração, é perceptível arelevância da permacultura em todo o processoenvolvido da fruticultura irrigada. A permacultura foium preceito adotado como forma de integrar ohomem ao seu habitat e àqueles envolvidos pelomesmo e às consequências do vínculoestabelecido nessa relação.

[...] a permacultura (uma contração das palavraspermanente e cultura) que propõe a garantia daqualidade de vida, através de um sistema deprojeto inovador para a criação de ambienteshumanos sustentáveis, formando ecossistemasplanejados. Através de estratégias simples, estaoferece um sistema de vida benigno, onde sepode conviver com a natureza, sugerindo:ambiente físico limpo e seguro; ecossistemadiversificado e sustentável; alto suporte social, altograu de participação social; satisfação dasnecessidades básicas; acesso a experiências,recursos, contatos e interações; economia localdiversificada e inovadora; e respeito pela herançabiológica e cultural.O estudo do Planejamento Ambiental [...] consisteem estudar que critérios devem ser elaboradospara o planejamento do futuro sustentável dacomunidade, estabelecendo metas de longo prazoe visando o desenvolvimento integral nosaspectos físicos, sociais, econômicos, ambientaise humanos. Este Planejamento Ambiental é umaexpressão da comunidade adotando metas eobjetivos para dirigir seu futuro crescimento e seudesenvolvimento de uma forma sustentável.(DELGADO, 2004, p. 06).

Diante do exposto, nota-se que a permaculturaé a agricultura familiar transformada em sua formaideal, onde estão conciliadas as noções de justiçasocial, sustentabilidade e identidade cultural, pois apreservação do ambiente é mais facilmente atingidaquando a comunidade entende que os seus valoresculturais são ampliados quando seu espaço naturalé bem cuidado e utilizado apropriadamente. Dessaforma, a história local é transmitida não apenaspela tradição oral, mas também na forma como aprópria comunidade porta-se perante astransformações socioeconômicas do mundo.

E atendo o raciocínio a estas pontuações, ficafácil entender o motivo da escolha da fruticultura.Os brasileiros conhecem, ainda quesuperficialmente, as condições adequadas para ocultivo de fruteiras. Isso se deve ao fato de quetradicionalmente há árvores deste tipo cultivadasem quintais, sítios, chácaras e pomares.Significando que, mesmo intuitivamente, apopulação traz consigo o conhecimento necessáriopara a atividade e uma vez que a necessidadesurja, resta ao produtor buscar os conhecimentosespecíficos indispensáveis para a melhor práticapossível da atividade. É neste ponto que se tornaevidente a importância de órgãos especializadosem atividades agrárias como a Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pois amesma é formada por inúmeros profissionaisdispostos a auxiliar os agricultores no desempenhode suas funções e a Companhia Nacional deAbastecimento (CONAB) que disponibiliza dadospara melhor informar os praticantes da atividade arespeito de volume de produção, renda, legislaçãoe distribuição nacional da atividade. Além do fatoque este tipo de atividade atrai vários investimentospúblicos, principalmente quando há uma enormedemanda por frutas orgânicas no mercado externo,tornando a fruticultura uma atividade atraente emvirtude da possibilidade de comercialização certada produção e aproveitamento da mão-de-obralocal.

E para que a comercialização correta seja feita,é necessário que a produção orgânica sejacertificada como tal. Assim, seguindo asexigências do Ministério da Agricultura e daCompanhia Nacional de Abastecimento, Santos eMonteiro (2004, p.82- 83) descreveram de modoconciso a certificação dos produtos orgânicos:

As certificadoras devem possuir diretrizes própriasdevendo exercer controle apropriado sobre o usode suas licenças, certificados e marcas decertificação. As entidades certificadoras podem

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emitir um certificado declarando que um produtorou comerciante está autorizado a usar a marca decertificação em produtos especificados. Essamarca de certificação é um selo de certificação,símbolo ou logotipo que identifica que um oudiversos produtos estão em conformidade com asnormas oficiais de produção orgânica. No Brasilusam-se “Selos de Qualidade” (selo decertificação) juntamente à marca específica decada produtor para indicar a concordância com asdiretrizes, que são atestadas por certificadorascredenciadas junto ao Colegiado Nacional para aProdução Orgânica (CNPOrg). O selo decertificação de um alimento orgânico fornece aoconsumidor a garantia de um produto isento decontaminação química e resultante de umaagricultura capaz de assegurar uma boaqualidade ao alimento, ao homem e ao ambiente.O CNPOrg, vinculado à Secretaria de DefesaAgropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento, tem por finalidade básica oassessoramento e acompanhamento daimplementação das normas para produção deprodutos orgânicos vegetais e animais, avaliandoe emitindo parecer conclusivo sobre os processosde credenciamento de entidades certificadoras, efornecendo subsídios a atividades e projetosnecessários ao desenvolvimento do setor.

Conforme foi descrito, a certificação é a garantiada procedência e qualidade dos produtosnegociados e ainda a adequação aos padrõesgovernamentais. E mesmo seguindo todas asexigências, os produtores ainda precisam passarpor inspeções periódicas que avaliarão a evolução eadequação do sistema até ser considerado um“sistema produtivo viável e sustentável, econômico,ecológico e socialmente correto” (SANTOS;MONTEIRO, 2004, p.82- 83).

Mesmo com todos os conhecimentosagropecuários a seu dispor, os agroprodutoresdevem buscar também conhecimentos técnicoseconômicos sobre produção e seus custos, umavez que estes são fundamentais não apenas paraobter o lucro desejado com a produção, mastambém para melhor atender seus clientes. Assim,entram em vigência os conhecimentos econômicosdispostos na Microeconomia, tratados a seguir.2.3 Teorias da produção e de custos

A ciência econômica é um campo do saber que,como poucos, abrange uma vasta área deconhecimentos de história, matemática, filosofia esociologia. Como não poderia deixar de ser, influiem toda e qualquer atividade social que envolvauma relação entre partes.

Então, mesmo na produção agrícola, osprincípios econômicos são primordiais para que oagricultor obtenha um bom resultado. Na práticaagrícola, as teorias econômicas mais utilizadassão a da produção e a de custos.

A teoria da produção trata da transformação dosfatores adquiridos pela empresa em produtos que

serão consumidos no mercado, levando emconsideração todos os processos envolvidos até aexposição do produto para o consumo. Ou, comoexpõe Ferguson (2003, p.144-145), “consiste deuma análise de como o empresário combina osvários insumos para obter determinado volume deprodução de modo economicamente eficiente”.

A teoria da produção trabalha, fundamental-mente, em três passos:

Primeiro, a definição da tecnologia de produção,onde há a descrição de como os insumos(trabalho, capital, matérias-primas) podem sertransformados em produção através da combinaçãodos fatores durante o processo (PINDYCK;RUBINFELD, 2006, p. 159-160).

Segundo passo diz respeito às restrições decusto, ou melhor, ao preço dos fatores. Afinal, osprodutores precisam considerar as variações nospreços de seus insumos para que não hajaproblemas para seguir um orçamento restrito demodo que isto não denote no aumento dos custosde produção já previstos. Dessa forma, evita-se quehaja um aumento no preço final do produto a serentregue ao consumidor.

Terceiro, a escolha dos insumos que se basearána tecnologia empregada e no preço do trabalho eoutros insumos, pois o produtor deverá decidirquanto de cada insumo utilizará na produção(PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p.160). Assimhaverá uma otimização dos insumos utilizados semque isto signifique a ocorrência de deseconomiasde escala2 caso seja necessário o aumento daprodução.

Considerando os três passos mencionados,observa-se que o estudo dos fatores de produção ea sua correta alocação durante o processoprodutivo acarreta na análise de como acombinação dos insumos refletirá na formação dospreços e que há ainda o fator imprescindível doscustos de produção, que acabam sendo definitivospara tornar viável ou não a atividade econômica emquestão.

Já a teoria dos custos de produção analisa aquantidade física de produtos com os preços dosfatores de produção, tomando como base oscustos fixos e variáveis para poder encontrar oscustos totais.

Os custos fixos são os custos inerentes àprodução “que não variam com o nível de produçãoe só podem ser eliminados se a empresa deixar deoperar” (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p.183). Ouseja, mesmo que a empresa não produza durante

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certo intervalo de tempo, ainda assim pagará porseus custos fixos que só são eliminadosabsolutamente caso a empresa pare de funcionardefinitivamente.

Os custos variáveis são aqueles “que variamquando o nível de produção varia” (PINDYCK;RUBINFELD, 2006, p.183). Logo, são os custoscom os quais o produtor mais se preocupa, poisqualquer alteração nos custos pode afetar osresultados esperados por aquele.

É preciso considerar também a existência doscustos no curto e longo prazo para um melhorentendimento do que ocorre na produção:

Os custos no curto prazo são aqueles queocorrem quando os insumos são fixos, pois nãohá tempo de mudar a capacidade produtiva. Nolongo prazo, por outro lado, as possibilidades damelhor adequação dos fatores de produção sãomaiores, pois a empresa pode optar por reduzirsua produção, pode reduzir o número deempregados, comprar menos matérias-primas eaté mesmo vender parte de seu capital.(PINDYCK; RUBINFELD, 2006).

O exposto anteriormente demonstra que oscustos no curto prazo são mais apropriados paraconseguir uma perspectiva superficial da produçãoque ajudará o empresário a planejar melhoresações para a função no longo prazo. Em outraspalavras, dá-lhe o poder de avaliar seusinvestimentos e propor novas estratégias queotimizem sua produção no futuro. Por conseguinte,a visão dos custos no longo prazo proporciona aoinvestidor maior flexibilidade, uma vez que este játeve tempo suficiente para traçar novos planos deação baseados na perspectiva obtida anteriormenteno curto prazo.

É preciso considerar também o conceito decusto de oportunidade que na ótica de Ferguson(2003, p.231) é:

[...] custo social de produção, isto é, o custo queuma sociedade suporta quando seus recursossão usados para produzir uma dada mercadoria.Em qualquer tempo, uma sociedade possui umareserva de riquezas apropriada privada oucoletivamente, dependendo da organizaçãopolítica da sociedade em questão. Do ponto devista social, o objetivo da atividade econômica éobter o máximo possível deste conjunto dereservas existentes. Naturalmente, o que é“possível” depende não somente da eficiência eda plena utilização dos recursos, mas, tambémdos tipos de bens a produzir.

Isso quer dizer que o custo de oportunidadeenvolve não apenas os ganhos financeiros, mastambém os ganhos sociais que beneficiarão asociedade, de acordo com a execução ou não dedeterminada atividade econômica. Ainda sobre oscustos de oportunidade, Pindyck e Rubinfeld (2006,p. 182) dizem que “são os custos associados às

oportunidades que serão deixadas de lado, casonão empregue seus recursos da melhor maneirapossível”. Tendo em mente tais conceitos, já épossível seguir adiante com o estudo.

3 Metodologia

Este capítulo objetiva expor a metodologiautilizada na realização deste estudo, apresentandoo caminho percorrido para sua realização.3.1 Área de estudo

O município de Parnaíba situa-se no litoral doestado do Piauí, na região setentrional do Brasil. Éo segundo maior município do estado e como tal,tem uma importância econômica fundamental parao crescimento e desenvolvimento do mesmo. Logo,as atividades realizadas na cidade têm impactodireto na situação econômica do Piauí. O setor deserviços é o que mais produz riqueza, pois atraipara o comércio local consumidores provenientesdas cidades próximas. Isso pode ser verificado nosdados quantitativos do PIB da cidade, que de umtotal de R$ 757.989,00 o setor de serviçosresponde por 72 %, cerca de R$ 545.727,00.(IBGE, 2009)

Entretanto, a cidade de Parnaíba também temse destacado com a produção de frutas orgânicasno Distrito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos(DITALPI), cuja produção tem beneficiado inúmerasfamílias, fomentando o desenvolvimento local.

Assim, tendo em vista a importância econômicado DITALPI para a economia local e a partir destefato, define-se que a área de estudo estárestringida à produção de acerola orgânica noDistrito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos deParnaíba, Piauí.3.2 Levantamento dos dados

Para embasar cientificamente este estudo,procedeu-se a um levantamento de dados,buscando discutir diferentes autores a respeito datemática em foco. Para isso, buscou-se auxílio emlivros, artigos científicos, dissertações, monografiase sites especializados sobre o tema.3.3 Pesquisa de campo

Para a obtenção dos dados relacionados àprodução da acerola orgânica, utilizou-se apesquisa de campo, através de visita à Cooperativados Produtores Orgânicos dos TabuleirosLitorâneos do Piauí (BIOFRUTA).

Também foi utilizada a entrevista nãoestruturada conforme definida por Richardson(1999) apud Brigatti et al (2009, p.05), “por

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possibilitar uma análise qualitativa, por meio dacaptação das impressões, opiniões e comentáriosque o entrevistado emite acerca das questõesapresentadas pelo entrevistador”.

Essa escolha pela entrevista considerou ointuito da pesquisa: calcular os custos de produçãoe os índices de rentabilidade e lucratividade daprodução de acerola. Portanto, por necessitar dedetalhamento de informações, optou-se pelocontato direto com os gestores da cooperativa.3.4 Cálculo dos custos de produção, rentabilidadee lucratividade

O cálculo dos custos totais da produção deacerola envolveu os custos fixos e os custosvariáveis. Os custos fixos, conforme já foi dito, sãoos custos inerentes à produção que não variamcom o nível de produção e só acabam quando aempresa deixa de funcionar (PINDYCK;RUBINFELD, 2006, p. 103). Já os variáveis,alteram-se de acordo com o nível produtivo vigente.É preciso ressaltar que este trabalho vai realizarum estudo econômico baseado nos valores decustos, receitas e lucros mensais.

A rentabilidade é o grau de rendimento adquiridopor determinada atividade proporcionado pordeterminado investimento e pode ser expresso pelaporcentagem de lucro em relação ao investimento,conforme SANTOS et al (2006) apud QUARESMA(2009, p. 17).

Já a lucratividade é tida como “um indicador quemede o lucro líquido em relação às vendas. É umdos principais indicadores econômicos dasempresas, pois está relacionado diretamente àcompetitividade” (ROSA, 2004, p. 61).

Os dados coletados para o cálculo dessesíndices serão feitos a partir dos custos, receitas elucros auferidos no período de um mês.

Assim, tem-se a seguir, as fórmulas utilizadaspara determinar a rentabilidade e a lucratividade,respectivamente (ROSA, 2004, p. 61).

Rentabilidade =(lucro líquido ÷ investimento total) × 100

Lucratividade =(lucro líquido ÷ receita total) × 100

Onde:Receita Total = Quatidade produzida (Q) × Preço(P)Custo Total = Custos Fixos (CF) + CustosVariáveis (CV)Lucro = Receita – Custo

No capítulo a seguir, será feita a análise dosdados coletados e sua explanação econômica apartir das informações elucidadas até aqui.

4 Análise e discussão dos resultados

Esse capítulo visa apresentar e discutir osdados coletados da produção de acerola orgânicano DITALPI.4.1 Caracterização do processo de produção

A produção de acerola orgânica tem sidodesenvolvida pelos membros da Cooperativa dosProdutores Orgânicos dos Tabuleiros Litorâneos doPiauí – BIOFRUTA, localizada na BR 343, km 12na zona rural de Parnaíba. Foi fundada no dia 29 dejaneiro de 2009 com o intuito de unir os produtoresno processo de comercialização da produção deorgânicos do DITALPI, contando atualmente com26 (vinte e seis) produtores cadastrados(PESQUISA DIRETA, 2012). Como os produtoresuniram-se por meio da cooperativa para vender aprodução, constata-se que a própria cooperativa é ocanal de comercialização da produção de acerolaorgânica.

O Distrito Irrigado dos Tabuleiros Litorâneos deParnaíba, Piauí é um empreendimentoagroindustrial que impulsiona a produção irrigadagerando trabalho e renda, dentro dos princípios dedesenvolvimento local, integrado e sustentável(DNOCS, 2012). Está localizado na BR 343, poronde é feito o acesso ao local cultivado.

De acordo com a pesquisa de campo efetuada,a produção é certificada desde o mês de janeiro de2006 pelo Instituto Biodinâmico com o selo IBD,cujas exigências principais envolvem:a) A não utilização de agrotóxicos e agroquímicos;b) A não utilização de queimadas como método dedesmatamento da área de cultivo;c) A concretização de um trabalho social queacarrete na melhor qualidade de vida de seusprodutores;d) Proibição categórica do trabalho infantil emqualquer parte da cadeia produtiva;e) Um rígido controle de qualidade sob padrãoexportação, onde a certificadora envia avaliadoresduas vezes ao ano para assegurar a manutençãoda qualidade dos produtos. (PESQUISA DIRETA,2012).

A Cooperativa Biofruta trabalha com a produçãoe comercialização das seguintes frutas: acerola,goiaba, coco, mamão, caju, melancia e melãonuma área explorada de 267,5 hectares doDITALPI. Dessa área total, os produtores

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associados à Biofruta cultivam uma área cujo maiorespaço destina-se ao cultivo da acerola, totalizando98,4 hectares (devido ao relevante volumenegociado), seguida pelo coco, caju e goiaba, cadatipo de fruta correspondendo respectivamente a 45,31 e 15,5 hectares. Não há espaço fixo de cultivode melancia e melão devido ao fato do plantio ecolheita dessas frutas serem apenas durante overão, quando sua demanda é maior.

Os produtores orgânicos da cooperativa Biofrutatrabalham com as seguintes espécies de acerola:13/2, 69, FP19, 26/4, Okinawa e 71, sob umregime de colheita diária da produção. (PESQUISADIRETA, 2012).

Quanto a forma de produção, a acerola écomercializada de duas formas: verde e madura.Isso acontece porque a acerola verde é a variedadedemandada pelas empresas importadoras. Essasempresas são do ramo farmacêutico e preferem aacerola verde por causa da alta concentração davitamina C nesse estágio de maturação da fruta. Jáa acerola madura e as outras frutas cultivadas têmo mesmo destino: o mercado interno para suprir ademanda pelas polpas das mesmas. Enquanto osconsumidores da fruta madura pertencem aomercado local e seus arredores, a compradora detoda a produção de acerola verde é a empresafarmacêutica americana Nutrilite Amway do Brasil,que possui uma base no município de Ubajara,Ceará e utiliza a acerola orgânica como insumopara a produção de suplementos vitamínicosalimentares.4.2 Formação do preço

A formação do preço de venda da acerolaorgânica é baseada nos custos de produção com oacréscimo de uma taxa Mark up3 de 10% sobre ovalor resultante dos custos totais por quilograma deacerola. A composição dos custos que norteiam aformação do preço é formada basicamente pordespesas com fatores fixos (manejo da produção,mão-de-obra, certificação, taxa de comercializaçãode 4%, energia e remuneração do capital) e pordespesas com fatores variáveis (processosinerentes à manutenção da produção como podas,compra e aplicação de composto, bagana decarnaúba, calcário, MB4, fosfato natural e cinzas).Juntando essas despesas para a elaboração dopreço mínimo de um quilograma de acerolaorgânica, o resultante é R$ 1,40/kg (valoraproximado).

Assim, é possível observar que os produtoresacrescentam um percentual de 10% para que os

mesmos consigam auferir o lucro proveniente daatividade. Assim, o preço resultante de uma análisedos custos é de R$1,54/Kg (valor aproximado).Obviamente que este é o valor base para a vendados dois tipos da fruta.

A acerola orgânica verde, tipo exportação, évendida a um preço médio de R$1,60/kg devido àqualidade dos produtos negociados. Essaqualidade é decorrente das inúmeras exigênciasatendidas pelos produtores para o cumprimento dorigoroso padrão de qualidade do mercado exterior,conforme informações coletadas na pesquisadireta.

Já a acerola madura é vendida a um preçomédio de R$1,00/Kg, portanto, abaixo do preçobase. Isso acontece porque ao se destinar parte daprodução para suprir a demanda do mercado local,os produtores deixam de ganhar R$0,60 porquilograma vendido. No entanto, essa perda énecessária, pois caso deixem de atender omercado local os produtores correm o risco de criaroportunidades para que fornecedores de outrasregiões preencham esta lacuna, podendo prejudicara longo prazo os lucros obtidos pela Cooperativa.Logo, o custo de oportunidade da não venda daacerola madura é maior do que a venda de seuquilograma a um preço ligeiramente menor que opreço base, pois ao ofertar essas frutas madurasao mercado, os produtores diminuem risco deperder espaço neste mercado.

Além disso, é preciso ressaltar que osprodutores da cooperativa Biofruta e a empresaNutrilite tem uma relação comercial monopsionista,pois a Nutrilite apresenta-se como o únicoconsumidor da acerola orgânica verde produzidapelos produtores. Porém, também se pode observarque o processo de negociação do preço de vendatem características de monopólio bilateral, postoque ambos têm uma grande capacidade debarganha. De acordo com os dados obtidos,constatou-se que normalmente o preço de venda daacerola orgânica verde firmado em contrato favoreceos membros da cooperativa, pois o preço de vendaestipulado por eles é baseado no custos deprodução e devido à complexidade tanto deprodução de acerola verde orgânica, como doatendimento às exigências da agênciacertificadora, a empresa consumidora acabaconcordando com o preço.

A produção média mensal de ambos os tipos deacerola é de 160 t, onde 130 t são do tipo verde e30 t, do tipo madura. Esse fato demonstra a

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importância crucial da acerola verde em relação aomontante produzido, que compõe a maior parte daprodução mensal total de acerola dos membros daBiofruta.4.3 Análise econômica dos índices de lucratividadee rentabilidade

Com base nestes dados, é possível estimar areceita total mensal auferida pelos produtores. Se 1kg de acerola verde é vendido a R$ 1,60 e aprodução mensal é de 130 t, a receita total mensalé de R$ 208.000,00. A acerola madura, então,resulta numa receita de R$ 30.000,00/mês; essevalor, claro, baseado num preço de R$1,00/kg deacerola madura e uma produção mensal de 30 t.Calculando o custo total mensal baseado nosvalores da tabela 1, tem-se R$ 1,39/kgtransformando o valor de acordo com a produçãomensal de 160 t, o resultado é de um custo total deR$ 222.400,00/mês. Assim sendo, podemoscalcular a lucratividade da produção total mensal deacerola orgânica no Ditalpi.

Primeiro, calcular o lucro (R$) a partir dosvalores referentes aos custos e receitas totaismensais:

Lucro = 238.000 – 222.400Lucro = 15.600,00/mês

Agora, seguimos para o cálculo do índice delucratividade:

Lucratividade = (lucro ÷ receita total) × 100Lucratividade = (15.600 ÷238.00) × 100

Lucratividade = 6,55%

Esse valor indica que o cultivo de acerolaorgânica possibilita uma taxa de lucratividade de6,55% em relação à receita total auferida pelaprodução mensal disponibilizada à autora,ressaltando que os valores utilizados são referentesà produção mensal dos associados à CooperativaBiofruta.

Seguindo adiante com análise, o foco agoraestá sobre os valores investidos na produção. Ovalor total investido para a produção anual de umhectare é de R$ 23.510,93. Esse valor estásubdivido em insumos inerentes à produção (fosfatonatural, MB4, composto orgânico, etc.), emoperações de cultivo e colheita (preparo de covas,distribuição de insumos, mão-de-obra utilizada noprocesso, etc.) e em amortização, depreciação eremuneração do capital; tais fatores juntos formamos custos totais diretos, no valor de R$ 20.515,79.Os custos totais indiretos foram de R$ 2.995,14,que somados aos custos totais diretos formam o

valor total investido. Os custos totais indiretos nãoforam explicitados aos pesquisadores.

Agora antes de voltar o raciocínio para o cálculodo índice de rentabilidade, é preciso fazer algumasadaptações de valores. Conforme Quaresma(2009), um hectare cultivado produz cerca de 3.333kg de acerola. Então, retirando o valor anualinvestido em um hectare em um ano etransformando-o, seu valor mensal/kg é R$ 0,60(valor aproximado). Logo, o valor investido para umaprodução mensal de 160 t é R$ 96.000,00.

Utilizando a fórmula da rentabilidade:

Rentabilidade = (lucro líquido ÷ investimento total) ×100

E já conhecendo o valor do lucro líquido mensal deR$ 15.600,00, o índice de rentabilidade é dado por:

Rentabilidade = (15.600 ÷ 96.000) × 100Rentabilidade = 16, 25%

Com a definição desse valor, é possível observarque o cultivo de acerola orgânica no Distrito deIrrigação dos Tabuleiros Litorâneos em Parnaíba,Piauí proporciona a seus produtores umarentabilidade de 16,25%.

Quaresma (2009), em estudos similaresdesenvolvidos no DITALPI, mostrou que o preçobaseado nos custos totais de produção no ano de2009 foi de R$ 0,96/kg. Já o preço de venda foiestabelecido em R$ 1,36/kg para a acerola verde eo preço de venda da acerola madura foimencionado apenas como sujeito às flutuações domercado, variando entre R$ 0,60 a R$ 1,00 oquilograma.

Deve-se ressaltar, porém, que Quaresma (2009)propôs-se a abordar em seu estudo os dados daCooperativa Biofruta e, também, da Associação dosProdutores Orgânicos do Norte do Piauí, no ano de2009. Então, embora haja dispersões de valoresresultantes do tempo decorrido desde omencionado estudo, tem-se que considerar que opresente estudo trabalha apenas com dados daCooperativa Biofruta, por esta ter tido umcrescimento significativo no mercado de orgânicose porque seu trabalho resultou na inserção doDITALPI como importante zona produtora deorgânicos.

Com relação ao índice de rentabilidade,Quaresma (2009) aponta uma rentabilidade de7,34%. Enquanto que na presente pesquisa, oreferido índice atingiu 16,25%.Já o índice de lucrati-vidade de Quaresma (2009) foi de 21,88%; a lucrati-vidade obtida por este estudo, todavia, é de 6,58%.

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Quando esses índices são comparados aosobtidos por Quaresma (2009), lucratividade 21,88%e rentabilidade 7,34%, embora demonstrandodiminuição em um e elevação no outro, é precisorefletir a sua natureza econômica.

Em relação ao índice de lucratividade, houve umdecréscimo de 21,88% para 6,55%. Isso aconteceporque é uma característica inerente a qualquer“empresa” que atue no mercado, e esteja sujeita àssuas flutuações, a diminuição de seus lucros eestabilização a certo nível de produção. Emboraseja desejável a elevação dos níveis dos lucros, amanutenção destes a níveis estáveis garante umretorno seguro dos investimentos realizados.

Já quando o valor do lucro é relacionado ao valordo investimento mensal total de R$ 96.000,00, arentabilidade obtida é de 16,25%. Portanto, essevalor pode ser considerado um resultadosatisfatório.

5 Considerações finais

O cultivo de acerola orgânica pelos membros daCooperativa Biofruta é resultado de trabalho queacontece desde 2006, tendo sido oficializada emjaneiro de 2008 com a fundação da cooperativa. Nodecorrer dos anos a produção avultou-se e setornou a principal fruta orgânica exportada cultivadano Distrito de Irrigação dos Tabuleiros Litorâneosem Parnaíba, Piauí.

Atualmente, o cultivo de acerola orgânica ocupa98,4 hectares da área total cultivada pelosmembros da cooperativa. Da produção resultantedessa área, a média mensal é de 160 toneladas,onde 130 t são de acerola verde tipo exportação e30 t são de acerola madura, voltada para satisfaçãodo mercado interno. Toda a produção de acerolaverde é vendida para a empresa Nutrilite Amway doBrasil, onde é beneficiada e utilizada como insumona produção de suplementos vitamínicosalimentares.

Esse volume de produção (160 t) gera umareceita total mensal de R$ 238.000,00 e custo totalmensal de R$ 222.400,00 que resultam num lucrolíquido mensal de R$ 15.600,00. Assim, de acordocom esses valores, a produção mensal total resultaem uma lucratividade de 6,55%.

Com o aumento do índice de rentabilidade de7,34% para 16,25%, a produção de acerolaorgânica se mostrou um investimento estável nodecorrer do tempo, por apresentar um melhorrendimento dos investimentos efetuados.

Dessa forma, pode-se dizer que a produção deacerola orgânica da Cooperativa Biofruta no DistritoIrrigado Tabuleiros Litorâneos em Parnaíba-Piauígarante a seus produtores não apenas umaatividade econômica fixa e rentável, mas tambémpropicia uma melhor qualidade de vida devido àsnormas ambientais seguidas pelos cooperadospara garantir que a produção esteja conforme asexigências de seus consumidores.

Logo, ao conseguir inserir os conceitos dedesenvolvimento sustentável e consciênciaambiental no cotidiano de seus membros, aCooperativa Biofruta estimula um processo detransformação cultural. Essa mudança poderá serefetuada ao longo do tempo, através de políticasgovernamentais de conscientização da sociedadeque, em um futuro próximo, tornarão a cidade deParnaíba um local economicamente viável,socialmente justo e ecologicamente correto.

Sugere-se que o poder público direcionepolíticas para estimular a produção não apenas deacerola orgânica, mas também de outros insumosorgânicos no DITALPI como forma de garantir aexpansão da agricultura orgânica na região. Umaopção seria através de políticas de incentivos ficaispara atrair empresas para a região, possibilitando oaumento da capacidade produtiva já existente

Notas:1 Abandono do campo por seus habitantes em busca demelhores condições de vida nos centros urbanos2 Quando a duplicação da produção corresponde a mais queo dobro dos custos. (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 201)3 O Mark-up é um método utilizado para calcular o preço devenda, tendo como base o custo. Dada a sua fácilimplantação, este método se tornou um dos mais difundidosno mundo dos negócios e hoje é uma das práticas maiscomuns de política de preços. (BRAGA, 2008). O Mark-up éum índice aplicado sobre o custo de um bem ou serviço paraa formação do preço. (SANTOS, 2005).

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70informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

DELGADO, B. C. C. Identidade e Sustentabilidade:Critérios De Planejamento Ambiental Para O Distrito DeCachoeira, Maranguape – CE. Dissertação (Mestrado) –Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2004.DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS CONTRA AS SECAS- DNOCS. Perímetros Irrigados. Disponível em :<www.dnocs.gov.br>. Acesso em: 25 set 2012 às 17h23.FERGUSON, C. E. Microeconomia. Rio de Janeiro: ForenseUniversitária, 2003.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA -IBGE. Censo Agropecuário 2006. Rio de Janeiro: IBGE,2006.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA -IBGE. Produto Interno Bruto dos municípios 2009. Riode Janeiro: IBGE, 2009.

*Graduada em Ciências Econômicas (UFPI/CMRV)**Economista. Professor do Departamento deCiências Econômicas e Quantitativas da UFPI/CMRV,Mestre e Doutorando em Desenvolvimento e MeioAmbiente.

OLIVEIRA, A. F. S. A sustentabilidade da agriculturaorgânica familiar dos produtores associados à APOI(Associação dos Produtores Orgânicos da Ibiapaba,CE. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal doCeará, Fortaleza, 2007.PINDYCK, R. S. RUBINFELD, D. N. Microeconomia. SãoPaulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

71 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

DENDÊ DE VALENÇA, BAHIA: INDICAÇÃODE PROCEDÊNCIALivia Liberato de Matos Reis*, Luana Santa Inês Cunha** e Vitor de Athayde Couto***

1 Introdução

O objetivo deste artigo é verificar a viabilidadede se fazer um pedido de registro de Indicação deProcedência (IP) para o azeite de dendê deValença e municípios vizinhos. Juntos, elesintegram o território Costa do Dendê, no Baixo Sulda Bahia. O produto é popularmente conhecido

como “azeite de dendê da região de Valença”. Opedido, que pode vir a ser feito ao Instituto Nacionalde Propriedade Industrial (INPI), deve cumprirquatro pré-requisitos regulamentares: 1) existênciade mercado consumidor para o produto; 2)elementos específicos de produção e

Resumo: Indicação Geográfica (IG) é um tipo de propriedade intelectual. O reconhecimento de um produtoregistrado impede ou dificulta a aplicação de restrições sociais, etnoculturais, ambientais, e outras barreirasnão tarifárias sobre exportação de mercadorias. No Brasil, pode-se registrar uma IG no Instituto Nacional dePropriedade Industrial (INPI), sob dois diferentes conceitos: Indicação de Procedência (IP) e Denominação deOrigem (DO). O registro valoriza e protege produtos e serviços, reconhecidos na escala nacional,macrorregional ou mundial. As IG podem diferenciar e proteger produtos no mercado globalizado, não só pelaqualidade, mas por um saber-fazer particular, relacionado com a história e a cultura locais. Um produtoreconhecido pode conquistar consumidores que buscam qualidade e diferenciação, num ambiente demercados cada vez mais homogêneos. O dendê (Elaeis guineensis) gera muitos sub-produtos. Neste artigo,considera-se um tipo especial, para fins gastronômicos, conhecido no mercado como azeite de dendê deValença. O seu processo produtivo situa-se entre artesanal e manufatureiro. Pouco mecanizado, ocupamuitas pessoas. Após o corte, o dendê é transportado por animais, retirado dos cachos, depois, cozido porum dia. Leva-se a polpa obtida para uma máquina de extração do azeite. Conclui-se com lavagem eacondicionamento. O processo dura até oito dias. O azeite é vendido na região e em Salvador, onde éconsiderado ingrediente fundamental da culinária local, sobretudo os pratos conhecidos como moqueca,vatapá, caruru, acarajé, e abará. Neste artigo procura-se demonstrar a viabilidade de um pedido de IP para oazeite de dendê de Valença. Conclui-se que o território preenche os quatro pré-requisitos regulamentares:existência de mercado consumidor para o produto; elementos específicos de produção e reconhecimentolocal da qualidade; organização dos produtores (cooperativa ou associação); e uma rede de suporte estatal eprivado, de apoio à iniciativa.Palavras-chave: Indicação de Procedência. Azeite de dendê. Valença, Bahia.

Abstract: The Geographical Indication (GI) is an intellectual property type. The recognition of registeredproducts prevents or hinders the application of social constraints, ethno cultural, environmental and other non-tariff barriers on goods exported. In Brazil, you can register a GI in the National Institute of Industrial Property(INPI), under two different concepts: Indication of Origin (IP) and Denomination of Origin (DO). The registryvalues and protects products and services, recognized on a national scale, or macro-world. The IG candifferentiate and protect products in the global market, not only for quality, but for a particular know-howrelated to the history and culture. A recognized product can conquer consumers seeking quality anddifferentiation in a market environment increasingly homogeneous. The palm oil (Elaeis guineensis) generatesmany by-products. This article shows a special type, for culinary purposes, known in the market as palm oil ofValença. The production process is between craftsmanship and manufacturing. Shortly mechanized, occupiesmany people. After cutting, palm oil fruit is transported by animals, removed the clusters, and then cooked fora day. Take the pulp obtained for a machine extraction of oil. It is concluded with washing and conditioning.The process takes up to eight days. The oil is sold in the region and in Salvador, where it is considered afundamental ingredient of the local cuisine, especially the well-known dishes such as moqueca, vatapá,pigweed, acarajé and abará. This article seeks to demonstrate the feasibility of an application IP to palm oil ofValença. We conclude that the region meets the four prerequisites: the existence of the consumer market forthe product; specific elements of production and local recognition of the quality, organization of producers(cooperative or association), and a network of state and private supporting the initiative.Key words: Indication of Origin. Palm oil. Valença, Bahia.

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reconhecimento local da qualidade; 3) organizaçãodos produtores em cooperativa ou associação; e 4)uma rede de suporte estatal e privado, de apoio àiniciativa. Todos esses pré-requisitos sãoanalisados ao longo do artigo.

Da palmeira, ou dendezeiro (Elaeis guineensis),colhem-se frutos que dão em cachos. Do seuaproveitamento obtêm-se muitos sub-produtos.Todavia, neste artigo, trata-se apenas de um sub-produto especial, vendido no mercado como azeitede dendê de Valença, bastante procurado para finsgastronômicos, como se fosse uma marca. Naregião de Valença (ou território Costa do Dendê), oprocesso produtivo situa-se entre artesanal emanufatureiro. Por ser pouco mecanizado, ocupamuitas pessoas. O corte (coleta dos cachos) émanual. Realiza-se quase exclusivamente porhomens, tanto em palmeiras espontâneas quantoem cultivos racionais. No primeiro caso, pode-seconsiderar extrativismo. Após o corte, os cachossão transportados por animais, até as unidades debeneficiamento (rodões). Os frutos são retirados ecozidos durante todo o dia. A polpa obtida é levadapara um equipamento de extração do azeite. Oprocesso, que dura oito dias, é concluído comlavagem, filtragem e acondicionamento. O produtofinal é vendido na região e em Salvador, onde éconsiderado ingrediente fundamental da culináriaafro-baiana, sobretudo nos pratos conhecidos comomoqueca, vatapá, caruru, acarajé, e abará. Além dagastronomia, o palm oil não se restringe apenas aomercado regional ou nacional. Considerados osdiversos usos, o seu consumo tornou-se universal,desde que países da Ásia tornaram-se os maioresprodutores mundiais.

Como em quase todos os mercados, o mercadode palm oil também é objeto de restrições,particularmente quando o produto é usado comoalimento. Maia (2004, p.155) lembra que o IPEA,ao pesquisar 400 empresas, chegou ao seguinteresultado: “não só na Europa e América do Norte,mas também no Mercosul, as barreiras nãotarifárias são os principais obstáculos enfrentadospor exportadores brasileiros”. Todavia, com oregistro de uma IG, boa parte dessas barreirasdeixaria de existir para os municípios abrangidospelo território Costa do Dendê. Lemos et al. (2005,p.360) advertem que “a política industrial foca afirma e/ou setor produtivo, enquanto a unidade deplanejamento da política regional é o território.”Sabe-se que é difícil e caro obter umreconhecimento internacional. Não menos difícil é

combater barreiras criadas por razões sociais,étnico-culturais, e ambientais. No mercado global,a qualidade deixou de ser exclusivamente “técnica”.Assim, espera-se que este artigo venha a ser umprimeiro passo para o diagnóstico que poderácompor um futuro processo de requerimento de IPpara o azeite de dendê de Valença.

Além desta introdução, o artigo contém trêsseções e considerações finais. Na primeira seção,faz-se uma revisão histórica e se define IndicaçãoGeográfica (IG), Indicação de Procedência (IP), eDenominação de Origem (DO). Na segunda, trata-se do produto azeite de dendê. A terceira contémuma análise dos quatro pré-requisitos. Nasconsiderações finais, os resultados da análiseconfirmam a existência desses pré-requisitos naregião de Valença, o que torna viável a iniciativa derequerimento de um registro de IP para o territórioCosta do Dendê.

2 Indicação geográfica

Indicação Geográfica (IG) consiste em umamodalidade de certificação para produtos eserviços. Mais especificamente, trata-se de umreconhecimento, de um registro. Para melhorcompreensão do conceito, importa conhecer suaorigem histórica, as razões que determinaram asua utilização, e sua disseminação no mundo.2.1 Breve histórico da indicação geográfica nomundo

A IG surge da necessidade de validar aqualidade diferenciada que os produtos apresentama partir de características específicas de seuterritório, seja no modo de produzir ou até mesmona geografia da região. Os produtores de umdeterminado território buscam, assim, evitar quegrupos ou pessoas de outras localidades utilizemindevidamente o nome de uma região.

Esse tema ganhou maior relevância no séculoXIX quando se iniciou um processo dedeterminação de meios de garantir umaregulamentação no âmbito internacional para a IG.A Convenção da União de Paris (CUP) em 1883, oAcordo de Madri (1891), o Acordo de Lisboa (1958)e o Acordo sobre os Aspectos dos Direitos daPropriedade Intelectual referente ao Comércio(ADPIC), de 1994, representam a evolução daproteção jurídica internacional dos direitos dapropriedade intelectual, de que as IG fazem parte.

Tratando-se de propriedade intelectual, a IGtambém se insere no acordo sobre Aspectos dosDireitos de Propriedade Intelectual relacionados a

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Comércio (acordo TRIPS ou acordo ADPIC, 1994),que surge com o intuito de reduzir as distorções nocomércio internacional e proteger o direito dapropriedade intelectual. A partir de 1994, período deadoção do acordo, a IG se insere num espaço deproteção mais amplo já que houve uma adesãomaior de países no acordo TRIPS, inclusive oBrasil. O acordo TRIPS, executado pelaOrganização Mundial do Comércio (OMC),diferentemente dos outros tratados, passa aenglobar também os serviços em seu conceito, enão apenas produtos tradables. A ADPIC trata deDireito do Autor e Direitos Conexos; Marcas;Indicações Geográficas; Desenhos Industriais;Patentes; Topografias de Circuitos Integrados;Proteção de Informação Confidencial; e Controle dePráticas de Concorrência Desleal em Contratos deLicenças. Dentro do que interessa para este artigo,transcreve-se a seguir o conceito para o acordoTRIPS de IG:

Indicações geográficas são, para os efeitos desteAcordo, indicações que identifiquem um produtocomo originário do território de um Membro, ouregião ou localidade deste território, quandodeterminada qualidade, reputação ou outracaracterística do produto seja essencialmenteatribuída à sua origem geográfica. Com relaçãoàs indicações geográficas, os Membrosestabelecerão os meios legais para que as partesinteressadas possam impedir: (a) a utilização dequalquer meio que, na designação ouapresentação do produto, indique ou sugira que oproduto em questão provém de uma áreageográfica distinta do verdadeiro lugar de origem,de uma maneira que conduza o público a erroquanto à origem geográfica do produto; (b)qualquer uso que constitua um ato deconcorrência desleal, no sentido do disposto noArtigo 10bis da Convenção de Paris de 1967.(ADPIC, 2013).

A Europa destaca-se tanto na representativi-dade como no pioneirismo da IG. Quando o produtoapresenta uma IG, independentemente da suamodalidade, 43% dos consumidores europeusestão dispostos a pagar até 10% a mais do valordo produto, e, aproximadamente, 11% dosconsumidores europeus apresentam-se dispostos apagar mais 20% a 30% pelo produto que tem a suacertificação garantida. (CALLIARI et al, 2007).

O país europeu de maior tradição noestabelecimento de relação da qualidade no modode produção local e valorização do território deorigem é a França. Desde o século XVIII osfranceses vivem essa experiência. Desde oreconhecimento dos territórios produtores, em1970, a Europa destaca-se pela produção de vinhosde qualidade registrada com IG. Por exemplo, osvinhos do Porto (Portugal); Bordeaux, Provence e

Champagne (França – appellation d’originecontroleé); Rioja, Ribera Del Douro, Ribeiro(Espanha – denominación de orígen); Sarre,Mosela e Franken (Alemanha – Gebiet); da Sicília,Puglia, Toscana (Itália – denominazione controllata)entre outros. No México, a tequila ilustra a IG deuma bebida alcoólica obtida de uma espécieagrícola produzida numa limitada zona no México,a agave azul (tequiliana variedad Weber). Essaproteção ocorre desde 1974. (CALLIARI et al,2007).

Com o intuito de manter no campo suapopulação rural menos favorecida, e tambérmincentivar o seu desenvolvimento produtivo econquistar o novo mercado consumidor cada vezmais exigente, a Europa passou a estabelecerregras comuns de qualidade. Atualmente são trêsos tipos de certificação europeus mundialmenteaceitos: as denominações de origem protegida, asindicações geográficas, e as especialidadestradicionais garantidas. Para dar visibilidadeinternacional e ao mesmo tempo proteger osprodutos de uma concorrência desleal, a IndicaçãoGeográfica Protegida (IGP) é a garantia de que, emdeterminada região, existe alguma singularidade noseu processo produtivo, além da reputação egarantia da relação entre um know-how especial eo território. Especialidade Tradicional Garantida(ETG) indica a origem do produto, mas nãodetermina a origem geográfica. O que importa é oprocesso produtivo, de alguma forma, diferenciado,tradicional, independentemente do local geográfico.Já a Denominação de Origem Protegida (DOP)relaciona o produto ao local geográfico. A qualidadedo produto está diretamente relacionada ao saber-fazer local, tradicional, como também ao tipo dosolo específico, clima, vegetação e característicaspróprias do território, podendo assim levar o próprionome da região.

Dado o crescente aumento da consciênciaambiental do mercado consumidor, tanto na Europacomo no Brasil criam-se atualmente diversos tiposde selos de qualidade socioambiental. Na Europa,o selo de agricultura biológica assegura quanto aouso de agrotóxicos e produtos geneticamentemodificados; a Apelação de Origem Controlada(AOC) certifica a produção desde a matéria-primaao produto final, abrangendo os agroalimentares;lacticínios; os vinhos e outras bebidas fermentadas.No Brasil existe o certificado orgânico que seassemelha ao Europeu, de agricultura biológica; oselo combustível social, do governo federal, que

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envolve a produção do biodiesel, e muitos outrosselos que demonstram a tendência do mercado devalorização de produção local, especializada econsciente. (REIS 2008)

Seguindo a tendência mundial de valorizaçãodas IG, faz-se necessário um estudo das duasmodalidades brasileiras: a Indicação deProcedência (IP) e a Denominação de Origem(DO). Calliari et al (2007) apontam ainda a procurapela IG em países de diferentes continentes:

A Europa, em sua história antiga e atual, temutilizado as IG como uma importante ferramentade valorização de seus produtos tradicionais. Maisrecentemente é nas economias de naçõesemergentes, como Índia e China, por exemplo,que está o reconhecimento expressivo de novasindicações, apresentando ao mundo um conjuntode produtos tradicionais, sob a égide da garantiada procedência, à qual se associa uma“qualidade original” (CALLIARI et al, 2007, p.1).

A tendência atual é aproveitar o sucesso daexperiência europeia, região de origem da IG eonde ainda se concentra o maior número decertificações, e incorporação desta prática comodiferencial competitivo, aproveitado, sobretudo porpaíses emergentes.2.2 Indicação geográfica no Brasil

No Brasil, o primeiro produto e territórioregistrado enquanto IG do tipo IP foi o vinhoproduzido no Vale dos Vinhedos, RS, em 2002.Uma IG apresenta-se na forma de IP e DO. Aprimeira busca proteger algum aspecto cultural outecnológico, como o processo produtivo, asferramentas ou outras características próprias deum território. Uma IP contribui para a afirmação deum processo de desenvolvimento local, permitindounir elementos de identidade coletiva e fatoresdiferenciais a produtos, agregando-lhes valor ediferenciando-os através do aproveitamento dastipicidades locais-territoriais e dos patrimôniosculturais e sociais específicos, potencializandoassim os agentes econômicos locais erevalorizando o território. A DO é uma certificaçãomais ampla pois, além dos aspectos já citados,deve observar características próprias na geografiada região, como particularidades do terreno ousolo.

Desde a experiência do Vale dos Vinhedos, jáforam registradas 31 IG, sendo 22 do tipo IP e 07do tipo DO. São elas: Café Região do CerradoMineiro, Vinhos Vale dos Vinhedos (IP e DO),Carne bovina e seus derivados Pampa Gaúcho,Aguardentes Paraty, Uvas de mesa e manga Valedo Submédio São Francisco, Couro acabado Vale

dos Sinos, Vinhos Pinto Bandeira, Arroz LitoralNorte Gaúcho (DO), Café Região da Serra daMantiqueira do Estado de Minas Gerais, camarõesCosta Negra (DO), Artesanato em Capim DouradoRegião do Jalapão do Estado do Tocantins, Docesfinos tradicionais e de confeitaria Pelotas, Panelasde barro Goiabeiras, Queijo Serro Minas Gerais,Peças artesanais em estanho São João Del Rei,Calçados Franca São Paulo, Vinhos de Uva GoetheVale de Uvas Goethe, Queijo Canastra MinasGerais, Opalas preciosas de Pedro II Piauí,Gnaisse Região Pedra Carijó Rio de Janeiro (DO),Gnaisse Região Pedra Madeira Rio de Janeiro(DO), Gnaisse Região Pedra Cinza Rio de Janeiro(DO), Mármore Cachoeiro de Itapemirim, Própolisvermelha Manguezais de Alagoas (DO), Cacau emamêndoas Linhares, café verde em grão NortePioneiro de Paraná, Têxteis em algodão coloridoParaíba, Aguardente de cana tipo cachaça Salinas,Serviços de Tecnologia da Informação Porto Digital,Vinhos Altos Montes.

Inicialmente restrita a produtos agrícolas e seusderivados, a IG e suas classificações tem-seexpandido também para o setor de serviços.

Mesmo se a intenção for requerer o benefício daproteção da espécie denominação de origem,podemos imaginar o vínculo com os fatoresnaturais e humanos em serviços de hotelaria emuma região no Amazonas na qual seja construídoum hotel cuja arquitetura seja essencialmenteassociada ao meio ambiente, que preserve suascaracterísticas naturais e proporcione aoshóspedes uma visão privilegiada deste ambientea partir de todas as habitações; tudo issoassociado a um notório saber fazer da redehoteleira. No caso de um SPA seria possível umadenominação de origem, por exemplo, supondoque os serviços prestados neste SPA oferecemtratamentos com lama ou pedras de procedênciada região, que seriam os fatores geográficosassociados (CALLIARI et al, 2007, p.7)

No caso dos serviços, portanto, devem-sepreservar os elementos essenciais de uma IG: ascaracterísticas próprias de uma região eassociação com características geográficassingulares.

Dentre as experiências já realizadas no Brasil,Calliari et al (2007) apontam alguns elementosimportantes como a existência de uma organizaçãode produtores locais comprometida com acertificação; o apoio e auxílio técnico de órgãosestatais e da sociedade civil, e a presença doselementos próprios de uma IG, comocaracterísticas singulares reconhecidas.

Destacam-se alguns casos bem sucedidos. Umdeles é o vinho do Vale dos Vinhedos, RS. Osprodutores se organizam em associações locais,

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incentivando a pesquisa, buscando a preservaçãodo espaço físico, o estímulo ao turismo e aprofissionalização da produção e comercialização,além da preservação das características própriasde uma IG. Com essas ações, obtiveram-seresultados expressivos dentre eles a valorizaçãodas propriedades rurais da área geográfica. Odesenvolvimento regional é representado pela maioroferta de empregos no campo, na indústria, noturismo, na construção civil e nos serviços, aelaboração de um plano diretor para a região, coma participação de comunidades locais visandoordenar o desenvolvimento da zona rural,preservando a vocação local. (CALLIARI et al, 2007)

Dentre alguns dos benefícios encontrados emexperiências brasileiras, Valente et al (2012)destacam os importantes ganhossocioeconômicos. Detecta-se uma melhordistribuição do valor agregado ao longo da cadeiade produção, do produtor da matéria-prima até ofabricante, promovendo-se também a valorização deterritórios pouco favorecidos, com odesenvolvimento da produção local e uma melhordistribuição de renda.2.3 Aspectos conceituais

Para conceituar Indicação Geográfica énecessário compreender os elementos motivadoresque determinaram o seu surgimento. Calliari (2007)aponta a IG como uma resposta ao problema da“assimetria de informação”:

O conceito de indicações geográficasdesenvolveu-se lentamente no transcurso dahistória, e de modo natural, quando produtores,comerciantes e consumidores comprovaram quealguns produtos, advindos de determinadoslugares, apresentavam qualidades particulares,atribuíveis a sua origem geográfica, e passaram adenominá-los com o nome geográfico deprocedência. Foi uma resposta ao que oseconomistas, séculos depois, chamariam deproblema de assimetria de informação. No caso,a indicação geográfica era uma garantia, paracomerciantes e consumidores, de que o produtotinha certa qualidade, o que facilitava a realizaçãode transações sem a presença física do produto(CALLIARI et al, 2007, p.1).

A IG objetiva garantir segurança nas transaçõeseconômicas, promovendo a mediação entre umproduto com características singulares e osconsumidores e fornecedores que buscam taisatributos. Assim torna-se possível proteger oproduto de barreiras não tarifárias, política indiretade proteção à entrada de produtos nacionais nomercado internacional praticada por muitos paísesimportadores que visam bloquear a entrada doproduto concorrente no mercado interno do país.

Um produto certificado que engloba requisitosbásicos de saneamento, segurança e qualidade deprodução fica protegido desse tipo de políticainternacional.

Além de reunir características de umacertificação, a IG é definida, por alguns autores,como exemplificam Valente et al (2012), como umdireito de propriedade intelectual autônomo decaráter coletivo, distinguindo-se, assim, daspatentes e marcas. Isso quer dizer que ela não éuma garantia a um agente privado específico, masa qualquer produtor que respeite as característicastipificadas, circunscritas a uma determinada região.A segurança efetiva, tanto para consumidores,quanto para produtores e fornecedores, demandaum aparato técnico jurídico associado àcertificação.

Com vistas a garantir a autenticidade e origem deseus produtos, os produtores passaram a utilizarselos distintivos naqueles. Notam-se aí aspectosda concorrência desleal, e a necessidade doestabelecimento de normas legislativas capazesde proteger eficazmente os direitos dosprodutores que se delineavam na época(CALLIARI et al, 2007, p.2).

A IG delimita a área de produção, restringindoseu uso aos produtores da região (em geral,reunidos em entidades representativas). Ao manteros padrões locais, ela impede que outras pessoasutilizem indevidamente o nome da localidade emprodutos ou serviços. No Brasil o registro de IG foiestabelecido pela Lei 9279/96 – LPI/96 e consideraIG a IP e a DO, dando ao INPI a competência paraestabelecer as condições de registro das IG (INPI,2013).

A IP reporta-se ao nome do local ou região quese tornaram conhecidos, de onde se extrai ou ondese produz determinado produto (ou serviço). A DOrefere-se ao nome do local, que passou a designarprodutos ou serviços, cujas características sãoatribuídas à sua origem geográfica, devem-seexclusiva ou essencialmente ao meio geográfico,incluídos fatores naturais e humanos. Uma IPassegura que o produto ou serviço temcaracterísticas próprias de produção que odiferencia dos demais. A diferenciação pode secaracterizar pela tradição da técnica de produção,por sua reputação no mercado local e nacional.

As características do clima, espaço ou técnicaasseguram qualidade diferenciada do produtoprotegido pela IP. Por ser mais específica, a DO émais difícil de ser obtida. Neste caso, tem quehaver a associação de características próprias deprodução com o caráter geográfico da região, ou

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seja, a DO é a garantia de que o produto comaquela denominação não pode ser encontrado emnenhum outro local. As características geográficasdo local (solo, clima, relevo), associadas àstécnicas tradicionalmente estabelecidas no localgeográfico determinam que nenhum outro produtode outra região poderá ter o nome associado aoproduto protegido.

A IP é uma garantia legal de que um produto éoriginário de determinada região. Após a obtençãoda IP, a identificação do produto pode ser feita porgrupos organizados, a exemplo de uma associa-ção, que demonstra ao produtor interessado asetapas de produção a serem seguidas conforme oRegulamento Técnico de Produção. A associaçãodeve também auxiliar e valorizar a participação detodos os membros da produção.

Dentre os dois conceitos utilizados no Brasil, oazeite de dendê da região de Valença pode sermelhor representado por uma IP. O que se verificano dendê de Valença é o reconhecimento da suaqualidade, inclusive nos municípios vizinhos, e noprincipal mercado, a cidade de Salvador. A suareputação e qualidade o diferencia dos demaisproduzidos em outras regiões.2.4 Condições gerais para a certificação

Com base nas informações levantadas, nasexperiências exitosas e nos aspectos conceituaise técnicos, podem-se sinalizar, sinteticamente,quatro condições para a efetivação de uma IP:1) existência de um mercado de consumo quedemande produtos com especificidades;2) características específicas de produção e desolo, matéria-prima, técnicas de manejo ebeneficiamento, que ocasionem o reconhecimento,ao menos local, da qualidade do produto;3) existência de organização local capaz deorganizar e mobilizar os produtores locais para apesquisa, busca de apoio e acesso a mercados, eassegure a obediência a padrões de produção;4) A existência de suporte estatal ou privado àprodução e à iniciativa pela certificação.

3. O azeite de dendê

Para uma possível IG do azeite de dendêconsideram-se alguns elementos associados:significado do produto, suas especificidades equalidades particulares em uma região (Valença),além dos elementos culturais associados aocultivo, beneficiamento e consumo.

O dendê é uma espécie vegetal originária dacosta africana e foi inicialmente encontrado em

povoamentos subespontâneos. O seu óleo passoua ser produzido no Brasil, a partir do século XVI,pelos escravos que trouxeram as primeirassementes. O azeite de dendê é um óleo valorizadoe amplamente comercializado no mercado mundial,principalmente pelo seu baixo nível de acidez,maior rendimento por área, e processo de extraçãocom da prensa, ao contrário dos demais óleosvegetais, a exemplo do óleo de soja que, em suamaior parte, depende do uso de solventes químicos(SEAGRI, 2002).

O fruto é classificado conforme a espessura doendocarpo. Destacam-se as variedades Dura(endocarpo com espessura entre 2 a 6mm); Psífera(frutos sem endocarpo separando polpa daamêndoa); Tenera (híbrido do cruzamento Psifera eDura, endocarpo entre 0,5mm e 2,5mm). A híbrida,que tem vida econômica mais curta (20 a 30 anos),é tecnicamente recomendada para plantioscomerciais, mas há controvérsia. A variedade Dura,embora mais resistente a doenças, não apresentao mesmo rendimento físico que a Tenera.(CEPLAC, 2000).

A produção começa no final do terceiro anoapós o plantio, com 6 a 8 toneladas por hectare. Omáximo ocorre no oitavo ano, quando pode atingir25 toneladas. Dos frutos do dendezeiro, podem serextraídos dois tipos de óleo: óleo de polpa,internacionalmente conhecido como óleo de palma(azeite de dendê), e o óleo de palmiste (extraído docoquilho). Estimam-se 22% do peso dos cachospara o óleo de polpa, e 2% para o óleo de palmiste.(CEPLAC, 2000).

A Bahia possui grande diversidade de solos eclima para a cultura do dendezeiro. Destacam-sefatores climáticos como regime pluviométrico idealde precipitação média anual entre 1.800 e 2.000mm, altos níveis de radiação solar e pequenasvariações de temperatura. A maior parte do óleobaiano provém de dendezeiros subespontâneos queocupam pouco mais de 19 mil ha.3.1 Produtos do dendezeiro

O dendê é matéria-prima para uma série deprodutos, não se restringindo ao azeite, popular naculinária baiana. É no ramo alimentício que seencontra a qualidade merecedora de registro. Alémdas características distintivas dos seus produtos, acultura do dendê possui como diferencial o baixoimpacto ambiental e a possibilidade de cultivo emsolos pobres, conforme sinaliza relatório daCompanhia Nacional de Abastecimento - CONAB:

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É considerada uma cultura com forte apeloecológico, por apresentar baixos níveis deagressão ambiental, adaptar-se a solos pobres,protegendo-o contra a lixiviação e erosão e “imitar”a floresta tropical. A dendeicultura tem ainda, acapacidade de ajudar na restauração do balançohídrico e climatológico, contribuindo de formaexpressiva na reciclagem e “seqüestro decarbono” e na liberação de O2, contribuindo assimno combate da elevação excessiva dastemperaturas médias do Planeta. (CONAB, 2006,p.4).

Diante desses fatores, há a previsão deprogressão da demanda podendo o óleo de dendêse tornar o principal produto do seu gênero,conforme sinaliza Semedo:

O dendezeiro é a oleaginosa que apresenta amaior produtividade de óleo por área cultivada,chegando a 8 toneladas por hectare, equivalente a10 vezes mais do que a soja [...]. O preço do óleode dendê tem se mantido estáveis em torno deUS$450,00 a tonelada. Esse nicho de mercadomovimento anualmente US$30 bilhões e asprevisões indicam que o consumo desse óleodeve superar o da soja nos próximos três anos(SEMEDO, 2006, p.36).

Em resumo, observam-se dois grandes usosdistintos: matéria prima para produtos medicinais,industriais e oleoquímicos; e gêneros alimentícios.Entre os primeiros, destacam-se sabões,detergentes, amaciantes, combustíveis, e uso nasiderurgia. Entre os alimentos, Souza (2000)aponta a fabricação de pães, bolos, tortas,biscoitos finos e cremes e, no caso específico doazeite de dendê, há o diferencial de conservarimportantes características nutritivas, como apresença de vitaminas e antioxidantes. Tudo issoimporta, para além da cozinha regional.3.2 A commodity azeite de dendê

O azeite ou óleo de dendê é uma importantecommodity (mercadoria), conhecida no mercadointernacional como palm oil (óleo de palma). Alémda sua dimensão econômica, a expectativa é deum mercado potencial promissor.

Curvelo (2010) aponta as propriedadesnutricionais do óleo de dendê: trata-se de umalimento riquíssimo em vitamina A, E e B; atuacomo antioxidante, rico em betacaroteno e niacina;apresenta alta concentração de ácidos graxos eestabilidade térmica. Possui variabilidade nas suascaracterísticas físicas, de acordo comespecificidades na produção e beneficiamento.

O azeite de dendê é percebido como o maispromissor dos óleos vegetais no mercado mundial.O baixo impacto ambiental, a adaptabilidade doplantio a solos pobres, a alta produtividade e aqualidade do produto final são apontados comovantagens competitivas:

Substitui a gordura animal na culinária comvantagens para a saúde humana; Suaprodutividade é maior do que a de produtosconcorrentes (3.500 a 6.000 kg/ha de óleo depalma, contra 400 a 600 kg/ha do óleo de soja,800 a 1.100 kg/ha do óleo de colza e 600 a 1.000kg/há do óleo de girassol); a dendeicultura exigepouca mecanização e reduzido emprego dedefensivos agrícolas. (CURVELO, 2010, p.18).

Conclui-se que o óleo de dendê possuicaracterísticas determinantes para seuaproveitamento econômico. Primeiramente, pelasua expansão no mercado internacional, tendendoa liderar óleos vegetais. Segundo, porqueproporciona maior lucratividade. Terceiro, porqueassocia maior produtividade com baixo impactoambiental.3.3 Aspectos sociais e econômicos da produçãodo azeite de dendê

Primitivamente, o dendê era beneficiado empilões manuais, apenas para autoconsumodoméstico. Algum excedente começou a serproduzido nos rodões. Rodão é o tradicional nomeque se dá ao local onde ocorre o processo deprodução do azeite. Após o corte, os cachos sãotransportados por animais. O produto é cozido emum tacho, por um dia, e depois ele é levado parauma prensa artesanal, onde é feita a extração doazeite.

O crescimento dos mercados exigeabastecimento regular. Alguns rodões passaram aser parcialmente mecanizado ou semi-industrializado. Os frutos são cozidos emcaldeirões, em seguida macerados, e levados àprensa, que separa o óleo dos resíduos. Asubstituição do rodão pelo macerador a dieselcomeçou nos anos 1960. Essa inovação combinaaumento de produtividade com redução de mão-de-obra. As inovações (radical e incremental) estãoassociado às idades tecnológicas, conformesinaliza Couto Filho et al (2004):

É de se esperar que uma inovação radical surja[...] como uma inovação significativa na base doconhecimento científico e tecnológico, provocandoruptura no velho paradigma. Já pequenasinovações que fazem num mesmo paradigma, aolongo de uma trajetória, são inovaçõesincrementais. Elas são importantes para arentabilidade da empresa, mas não tem osignificado de uma inovação radical (COUTOFILHO et al apud DIAS, 2007, p.35).

Na história da produção observam-se diferentesidades tecnológicas. Com a chegada da energiaelétrica, em 1975, substituíram-se motores adiesel, sem mudança significativa na estruturaprodutiva, caracterizando-se uma inovaçãoincremental. A simples troca de motores não

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modificou a base tecnológica da produção. O seuuso (diesel e elétrico) fez aumentar em 86% aprodução comparativamente à tração animal. Maisuma vez, aumenta o volume de produção comdiminuição da mão-de-obra, particularmentefeminina, responsável pela lavagem do óleo, quepassou a ser feita pela máquina. (DIAS 2007). Oquadro 1 apresenta as inovações tecnológicas nobeneficiamento do dendê e seus respectivosresultados, em Cajaíba, município de Valença,Bahia.

Observe-se o significativo aumento na eficiênciatécnica. Do pilão à prensa, último estágiotecnológico da produção do azeite comestível, aprodução diária passou de 2,5 a 504 litros.

4. Viabilidade de uma IP para o azeite dedendê de Valença

Importa agora verificar a possibilidade de seatribuir uma IP ao azeite de dendê produzido naregião de Valença. Após análise dos elementosconceituais e técnicos, realizada nas seçõesanteriores, observou-se o produto em relação a:existência de nicho ou segmento de mercado;características da produção e reconhecimento localda qualidade do produto; existência de umaorganização local; e existência de apoiogovernamental e privado.4.1 Características do mercado

O mercado mundial de palm oil é liderado pelaIndonésia e Malásia. Juntos, produzem 46,5milhões de toneladas, e dominam a quasetotalidade das exportações mundiais. Na produção,a participação do Brasil ainda é muito pequena(275 mil de toneladas), ocupando a nona colocaçãono ranking de países produtores, segundo relatórioanual Oil World, de 2010. No Pará, maior estadoprodutor, encontram-se mais de 80 % da áreaplantada com dendezeiros.

Apesar do vínculo com a sua culinária, a Bahiaé apenas o quarto produtor brasileiro, depois doPará, Amazonas e Amapá. A produção baianaconcentra-se na região do Baixo Sul, em torno domunicípio de Valença. Os dendezeiros são em sua

maioria subespontâneos, do tipo comum ou dura.Todavia, um trabalho de incentivo ao cultivo daqualidade tenera vem sendo realizado porcooperativas como a Cooperativa de FomentoAgrícola de Valença (Coofava). O estado possuicaracterísticas favoráveis, conforme sinalizarelatório governamental:

A Bahia possui uma diversidade edafoclimáticaexcepcional para o cultivo do dendezeiro, comuma disponibilidade de área da ordem de 854 milha, em áreas litorâneas que se estendem desde oRecôncavo Baiano até os tabuleiros do Sul daBahia, porém apenas 41.486 hectares estãosendo cultivados. (CONAB, 2006, p.5).

Percebe-se, assim, um potencial ainda nãoexplorado na região estudada, uma vez que o palmoil vem ganhando espaço no mercado mundial.4.2 Bahia: cultura e especificidades regionais

O azeite de dendê, na Bahia, é matéria-primapara uma série de alimentos da culinária regional.Esses gêneros alimentícios compõem umambiente identitário da população, sendo, inclusive,objeto de esforços de preservação e valorização.

Frente a estas considerações, o acarajé foioficializado como Patrimônio Cultural ImaterialBrasileiro através do Ofício da Baiana emdezembro de 2004. Esse bolinho, dentre os outrospratos de herança africana, é tradicional na vendade comida de rua de Salvador e tem significadoimportante tanto no espaço social quanto noreligioso (SILVA et al., 2011, p.2).

A Bahia possui um dos maiores contingentespopulacionais negros do Brasil e a identidade racialé um importante componente da cultura local. Acapoeira, as religiões e os alimentos de origemafricana compõem o referencial simbólico doestado. O candomblé, religião de matriz africana,está relacionado a rituais que envolvem animais ealimentos, dentre os quais muitos utilizam o dendêcomo ingrediente.

Uma das maiores evidências documentadas dapresença do dendê na cultura da Bahia é a obra doescritor Jorge Amado. Segundo Abbade (2013), oabará, o acarajé e a farofa de dendê têm presençagarantida nas principais obras do romancista. Osalimentos à base de dendê descritos por JorgeAmado pertencem, na maior parte dos casos, àesfera do sagrado nos rituais do candomblé, ondeas iguarias se constituem como oferendas àsdivindades. Para essa religião, a cozinha é umlocal importante. Ali começa a formação de muitasmães-de-santo, principal autoridade religiosa dosterreiros de candomblé.

Na culinária afro-baiana, o dendê aparece naquase totalidade dos pratos. Sua presençaextrapola a dimensão religiosa, sendo amplamente

Quadro 1 - TECNOLOGIAS UTILIZADAS NO BENEFICIAMENTO DO DENDÊ

Tecnologia Tipo V. Prod./ Semana

Produtividade/ ton

UTF média

Litros/dia

Pilão - 1 tonelada 6 a 7 latas 1 2,5 Rodão Radical 7 toneladas 6 a 7 latas 4 18 Mac. Diesel Radical 42 toneladas 6 a 7 latas 5 108 Mac. Elet Increm. 49 toneladas 6 a 7 latas 3 126 Prensa Increm. 98 toneladas 9 latas 5 504

Fonte: DIAS, 2007

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consumido pela população local. Segundo Barroco(2013), a culinária à base de dendê atua como umaespécie de “relações públicas” da região,estimulando o turismo no estado, e fortalecendo omercado consumidor local.

Cultura e produção não estão dissociados. Acultura do dendê foi trazida à Bahia pelos escravosafricanos, no século XVI. Conforme observado naseção 3.3, a produção permaneceu, por séculos,como resultado de um esforço de base familiar,com emprego de técnicas artesanais, a exemplodo pilão. Apenas no século XX ocorreram inovaçõessignificativas na base tecnológica, particularmentedo beneficiamento do dendê: do pilão aos rodões(diesel e elétrico), em seguida a prensa, semprecom aumento de produtividade. Até os dias de hojeverifica-se a presença simultânea de todas astécnicas já utilizadas, sendo que entre osagricultores familiares o mais comum é o empregodo rodão a diesel e elétrico. Instalar uma prensaindividual e privada requer um montante de recursosque extrapolam a expectativa de ganhos nasunidades familiares. Esse salto tecnológico só seviabiliza coletivamente, por grupos de produtores,em associações ou cooperativas.4.3 COOFAVA

As cooperativas são fruto de lutas sociais dostrabalhadores pela própria sobrevivência.Impossibilitados de competir sozinhos no mercado,pequenos produtores são obrigados a se unir emgrupos para elevar a sua competitividade. Entre asdiversas formas de organização, destaca-se acooperativa. Em Valença, o que se busca é aredução dos problemas próprios dos pequenosagricultores locais, como: baixo uso de tecnologiasapropriadas (análise, correção e manejo de solos,adubos, genética apropriada, controle de pragas,adensamento, controle da sombra, etc.); baixospreços; falta de capacitação e ausência deprogramas apropriados.

A Coofava existe desde 1996, mas só ganhouforça em 2008, ao contratar o fornecimento deguaraná natural para a Companhia de Bebidas dasAméricas (AMBEV). O preço do guaraná mais doque dobrou. Valorizou-se também o cravo-da-índia,e, a partir de 2012, elevaram-se os preços dodendê e seus derivados. Uma das ações dacooperativa consiste em estimular o plantio davariedade Tenera, que produz até 30 toneladas porha. Cada tonelada rende 220kg de azeite e 30kg deóleo de palmiste ( Coofava, 2012).

4.4 Ações governamentais e privadasAs iniciativas de preservação do patrimônio

cultural foram acompanhadas de açõesgovernamentais de incentivo e modernização daprodução, através do Governo do Estado.

Com a finalidade de orientar tecnicamente osrodões, o Governo do Estado da Bahia, através daSecretaria. de Agricultura... (Seagri), e daSecretaria da Indústria, Comércio e Mineração(SICM), criou o Programa de Desenvolvimento daDendeicultura Baiana e o Programa deDesenvolvimento da Cadeia Agro-industrial doDendê, que tem como participantes a Ceplac,EBDA, Banco do Nordeste, Banco do Brasil, asempresas Opalma, Oldesa, Jaguaripe eMutupiranga, assim como cooperativas deprodutores rurais, associações dos municípios daregião do Baixo Sul, associação dos proprietáriosde “roldões” e o Instituto de DesenvolvimentoRegional Sustentável do Baixo Sul – IDES(CONAB, 2006, p.7).

Pode-se admitir a existência de uma importanterede ativa de suporte à cultura do dendê na Bahia,envolvendo o Governo do Estado da Bahia, órgãosfederais, empresas de economia mista, empresasprivadas, e associações locais.

A própria Coofava é protagonista na articulaçãode uma rede complementar de parceiros que dãosuporte à produção, para fomentar a agriculturaprofissionalizada na região. Construiu relações deconfiança com instituições como: Banco do Brasil(Desenvolvimento Regional Sustentável-DRS);CONAB, através do Programa de Aquisição deAlimentos (PAA). Estoque para o Cravo da Índia epara o Guaraná; Prefeitura Municipal de Valença;Criação, apoio e gestão do Conselho deDesenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS);Articulação com a Comissão Executiva dePlanejamento da Lavoura Cacaueira (Ceplac),Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola(EBDA) para emissões da Declaração de Aptidãodo Produtor (DAP) que consiste como instrumentode identificação do agricultor familiar para teracesso a programas do governo; elaboração deprojetos para o Programa de Fortalecimento daAgricultura Familiar (Pronaf); Associação dosMunicípios da Região do Baixo Sul da Bahia(AMUBS) em Articulações Institucionais diversas;parceria com a Cooperativa de Crédito (Ascoob)para estruturação do escritório e articulação para ocrédito.

Dentre essas parcerias destacam-se a DRS,através do Banco do Brasil, e o PAA, através daCONAB. Esses programas acima de tudo buscamdar condições e estímulos à manutenção dopequeno produtor na atividade agrícola. Os órgãos

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governamentais e privados tentam evitar o êxododesses agricultores familiares que muitas vezesnão conseguem obter, de forma isolada, rendasuficiente para uma subsistência baseadaexclusivamente na agricultura familiar.

Ao divulgar o DRS, o Banco do Brasil informaque aquele programa de desenvolvimentosustentável consiste na mobilização de agenteseconômicos, sociais e políticos para o apoio aatividades produtivas economicamente viáveis,observada e respeitada a diversidade cultural. Temcomo parte de seus objetivos a promoção dainclusão social, por meio da geração de trabalho erenda, a democratização do acesso ao crédito, oreforço do associativismo e do cooperativismo, acontribuição para a melhora dos indicadores dequalidade de vida e solidificação dos negócios commicro e pequenos empreendedores rurais eurbanos, formais ou informais.

No PAA, executado pela CONAB, empresaoficial do Governo Federal, encarregada de gerir aspolíticas agrícolas e de abastecimento, propõe-se ageração de renda e sustentação de preços aosagricultores familiares, o fortalecimento doassociativismo e do cooperativismo. O programavaloriza a produção e a cultura alimentar daspopulações, dinamizando a economia local, aformação de estoques estratégicos, a melhoria daqualidade dos produtos da agricultura familiar, oincentivo ao manejo agroecológico dos sistemasprodutivos e ao resgate e preservação dabiodiversidade (CONAB, 2013).

Através dos programas como: Compra Direta daAgricultura Familiar (CDAF), Compra da AgriculturaFamiliar com Doação Simultânea (CPR-Doação), eFormação de Estoque pela Agricultura Familiar(CPR-Estoque), a CONAB adquire produtos dospequenos agricultores. O PAA é voltado paraagricultores familiares enquadrados no Pronaf,inclusive povos e comunidades tradicionais comoquilombolas, famílias atingidas por barragens,trabalhadores rurais sem terra acampados,comunidades indígenas e pescadores artesanais.(CONAB, 2013)

As associações contribuem nessas parceriasdando informação e força aos pequenos produtoresque muitas vezes não têm acesso ao crédito e aosprogramas de incentivo, quando isolados dessesgrupos organizados. Além disso, a cooperativatambém contribui fornecendo suporte técnico comrelação aos métodos de produção.

5. Considerações finais

A IG e suas categorias específicas IP e DO vêmsendo utilizadas para diferenciar produtos,atestando suas características peculiares do pontode vista da produção, do suporte tecnológico e darelação com elementos históricos regionais. Emum mercado de consumo de massa, comtendência à homogeneização de produtos, essetipo de certificação protege produtores econsumidores, além de se constituir em importantediferencial que pode conferir acesso a mercadosespecíficos e clientes exigentes.

Os casos de maior destaque no mundo são osvinhos europeus, a exemplo das regiões deBourdeaux, Porto e Champagne. No Brasil,existem experiências exitosas, dentre as quais sedestaca a do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha.O seu reconhecimento contribuiu para aprofissionalização da produção e conferiu maiorlucratividade aos produtores, valorizando o seupatrimônio, tanto familiar quanto empresarial.Trata-se de uma estratégia importante paraenfrentar barreiras não-tarifárias e dar acesso anovos mercados. No Brasil, essa estratégia aindavem sendo empregada de forma muito tímida, emcomparação, por exemplo, com outros países emdesenvolvimento, como a China.

Para que um registro de IP seja assegurado etraga benefícios aos produtores, é necessário ocumprimento dos seguintes pré-requisitosregulamentares:1) existência de um mercado de consumorelacionado ao produto;2) elementos específicos de produção ereconhecimento local da qualidade;3) organização local dos produtores em torno deuma cooperativa ou associação; e4) uma rede de suporte estatal e privada, que dêapoio à iniciativa.

Será possível afirmar que há viabilidade naoutorga de uma IP para o azeite de dendê da regiãode Valença, Bahia? Partindo desta pergunta,buscaram-se compreender as característicasdesse produto e de sua produção. O azeite dedendê, ou palm oil, como é conhecido no mercadointernacional, tem potencial para vir a se consolidarcomo o óleo vegetal mais consumido no mundo.Possui características alimentícias benéficas,sendo rico em nutrientes. Além disso, trata-se deuma cultura própria de regiões tropicais e combaixo impacto ambiental, comparada a outrasculturas. Apesar de se constituir como matéria-

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prima para uma série de itens, como insumosindustriais e até substituto energético, estudosapontam que, em Valença, é no aproveitamentoalimentício que o dendê encontra o seu mercadomais amplo e maior lucratividade para osprodutores.

O Brasil ocupa ainda uma posição tímida nocenário global de produção do dendê, voltado quaseexclusivamente ao mercado doméstico. No rankingmundial, liderado por países asiáticos, o paísocupa apenas a nona colocação entre osprodutores. No mercado nacional, o Pará éresponsável por mais da metade da produção. ABahia, apesar de ter clima e solo favoráveis, ocupauma parcela muito reduzida desse mercado,existindo, portanto espaço para expansão. O dendêtambém está associado a importantes elementosculturais baianos, particularmente na culinária. Oacarajé, por exemplo, um dos alimentos que utilizao azeite como ingrediente, já está registrado comopatrimônio imaterial, com proteção estatal. Nomercado baiano, o azeite de dendê produzido emValença é reconhecido pela população como o demelhor qualidade.

Cumprem-se, assim, dois dos requisitosnecessários para se fazer um pedido de registro deIG: existe um mercado global em expansão deconsumo de palm oil e o azeite de dendê deValença possui características peculiares cujaqualidade é reconhecida localmente. Faz-senecessário, no entanto, a realização de estudostécnicos para detalhar essas especificidades doproduto da região. Além disso, verifica-se que aindaocorre em muitas propriedades, conforme relatosde estudos e balanços governamentais, o empregode técnicas de baixa produtividade na cultura dodendê. Seria necessária uma ampliação na difusãodo emprego da prensa, inclusive de uso coletivo,em substituição aos rodões, em função da suamaior efetividade e baixo impacto ambiental.

A Cooperativa de Fomento Agrícola de Valençatem o potencial de cumprir o outro elementoindispensável para o sucesso de uma IG noconceito de IP: a existência de uma organizaçãolocal de produtores, capaz de articular os esforçosem torno para requerimento de um registro junto aoINPI. A Coofava possui experiência exitosa noestímulo à produção de outras matérias-primas,como o guaraná e o cravo-da-índia, mas suasiniciativas em relação ao azeite de dendê ainda sãoincipientes, tendo-se iniciado em 2012. Faz-senecessário, portanto, uma ampliação da

experiência, já em andamento, com o estímulo dautilização da prensa e a realização de novaspesquisas associadas ao palm oil.

De forma complementar à atuação da Coofava,verifica-se a existência do quarto requisito para umpedido de registro, que é a constituição de umarede de apoio à iniciativa, com parceiros públicos eprivados. A dendeicultura é objeto de políticaspúblicas específicas, com apoio do Governo doEstado da Bahia e de órgãos do Governo Federal, aexemplo da Ceplac. A cooperativa também possuisuporte de bancos de economia mista para aobtenção de crédito para a produção.

Com base nas análises realizadas, pode-seconcluir que a produção do azeite de dendê naregião de Valença reúne, potencialmente, osrequisitos para se requerer uma IP. No entanto,fazem-se necessários estudos complementares,detalhando a demanda por esse tipo de produtodiferenciado e as características específicas doazeite de dendê de Valença

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* Analista Internacional, Mestra em EconomiaRegional e Urbana, Doutoranda em Geografia pelaUFBA, Bolsista da FAPESB.**Economista, graduada pela UFBA***Professor Titular da UFBA, Doutor em EconomiaRural pela Univ. Toulouse Le Mirail, França.

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RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTALNA CONCESSÃO DO CRÉDITO RURAL DOPRONAF: um estudo de caso no Banco doNordeste do Brasil do PiauíMariane Goretti de Sá Bezerra Leal* e Jaíra Maria Alcobaça Gomes**

Resumo: Os problemas socioambientais contemporâneos impeliram as organizações bancárias a adotaruma postura de responsabilidade socioambiental, por meio de critérios socioambientais no financiamento deprojetos. O estudo tem como objetivo geral analisar as práticas de Responsabilidade Socioambiental do BNBna concessão de crédito rural do PRONAF no Piauí e, especificamente, verificar, por meio da análise do totalde operações e valores financiados pelo PRONAF se a sua operacionalização o reforça como uma prática deRSA; identificar práticas de RSA na metodologia utilizada pelo BNB na concessão do PRONAF; e apreender,junto à FETAG, sua percepção sobre as práticas do BNB na operacionalização do PRONAF. Para tanto,foram utilizados dados do BACEN e BNB, de 2002 a 2008, e realizadas entrevistas com representantes doBNB e FETAG. Os resultados demonstram que o BNB, no âmbito do Piauí, foi o maior agente financiador noPRONAF, apresentando maior número de contratações. O Agroamigo foi sua principal linha creditícia,seguido do PRONAF A e C.Palavras-chaves: Responsabilidade Socioambiental. Agricultura Familiar. Crédito.

Abstract: The contemporary environmental problems propelled the banking organizations to adopt an attitudeof environmental responsibility, through the improvement of social and environmental criteria in projectfinancing. The study aims at analyzing the practices of the BNB Social and Environmental Responsibility inlending in rural PRONAF in Piauí and especificaly, verify, through the analysis of total operations and amountsfinanced by PRONAF its operation reinforces it as RSA practices, identify practices in the methodology usedby the BNB in granting PRONAF, and capture, with the FETAG, their perception of the practices of the BNB inoperationalizing PRONAF. To this aim, we used data from Central Bank and BNB, from 2002 to 2008, andconducted interviews with representatives of the BNB and FETAG. The results demonstrate that the BNBunder the Piauí was the largest funder in PRONAF, with higher number of contracts. The Agroamigo was itsmain credit line, followed Pronaf A and C.Key words: Social and Environmental Responsability. Family Agriculture. Credit.

1. Introdução

A complexidade dos problemas socioambientaismundiais contemporâneos, traduzidos na crescentedesigualdade social e degradação ambiental,decorrente do modelo de desenvolvimento vigente,levou a sociedade civil a pressionar e cobrar dosetor bancário programas e projetos voltados para odesenvolvimento sustentável.

Almeida (2007) salienta que, em resposta aessa nova realidade, nos últimos anos, empresaslíderes de mercado adotaram uma série demedidas de Responsabilidade Socioambiental1

contribuindo para o enfrentamento da questão.No panorama apresentado, surgiram os

seguintes questionamentos: o Banco atua comResponsabilidade Socioambiental na concessão decrédito do PRONAF? De que forma auxilia noalcance dos objetivos e metas do Programa? Tais

questionamentos motivaram a realização dessapesquisa, cuja relevância justifica-se pelanecessidade identificada de que os bancosassumam seu papel na construção dasustentabilidade, atuando como agentes detransformação social e indutores de mudanças,pela sua influência junto a tomadores e aplicadoresde recursos para a adoção de posturassocioambientais.

A escolha do BNB como objeto de estudo foimotivada por tratar-se da principal instituiçãofinanciadora do desenvolvimento regional doNordeste e por ter grande representatividade naregião.

A opção pela análise da ResponsabilidadeSocioambiental direcionada ao créditodisponibilizado pelo BNB para o PRONAF no Piauíse deve à importância da agricultura familiar como

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segmento estratégico da economia estadual, emrazão de suas funções ambiental, social,econômica e de segurança alimentar.

O objetivo geral do presente estudo é analisaras práticas de RSA do BNB na concessão decrédito do PRONAF no Piauí e os objetivosespecíficos visam verificar, por meio da análise dototal de operações e valores financiados peloPRONAF no Piauí por suas diversas linhas, se aoperacionalização do PRONAF reforça-o como umaprática de RSA; identificar práticas de RSA nametodologia utilizada pelo Banco na concessão doPRONAF; e apreender, junto à FETAG, suapercepção sobre as práticas do Banco naoperacionalização do Programa.

2. Responsabilidade socioambiental emcrédito

Discute-se, nesta seção, sobre a importânciada agricultura familiar para o desenvolvimentosustentável do meio rural e a contribuição doPRONAF como crédito fundamental de apoio aesse segmento da economia.2.1 Pronaf: Crédito para o fortalecimento daagricultura familiar

De acordo com Schneider (2006), amodernização agrícola, instaurada até o início dadécada de 1990 do século XX, resultou tanto emincremento de produtividade, mas trouxedesequilíbrios sociais, econômicos, ambientais eculturais.

Na busca de alternativas para reverter taisdesequilíbrios, o Projeto de Cooperação TécnicaFAO/Incra, realizou estudo sobre o perfilsocioeconômico da agricultura familiar brasileirautilizando dados do Censo Agropecuário do IBGE,de 1995/1996, que deu origem ao relatório NovoRetrato da Agricultura Familiar: o Brasilredescoberto. (BRASIL, 2012). Seus resultadosmostraram que a agricultura brasileira apresentagrande diversidade em relação ao seu meioambiente, à situação dos produtores, à aptidão dasterras, à disponibilidade de infraestrutura entre asregiões e ainda dentro de cada região.

Tal realidade também foi constatada porBuainain; Sabatto e Guanziroli (2011), os quaisafirmam que as duas características mais relevan-tes da agricultura familiar estão relacionadas àdispersão espacial e diferenciação socioeconômi-ca, e influenciam diretamente no planejamento daspolíticas públicas para a promoção do desenvolvi-mento da agricultura familiar.

Para Bianchini (2012), os resultadosapresentados pela FAO/Incra priorizam a essênciado conceito de agricultura familiar adotado porpesquisadores no mundo todo ao longo dostempos, a saber:

Predomínio do trabalho familiar noestabelecimento agropecuário, identificando umacorrelação forte entre gestão, trabalho e possetotal ou parcial dos meios de produção. Apresença de sistemas de produção maisdiversificados, de renda agrícola monetária, deautoconsumo, e a pluriatividade sãocaracterísticas complementares à agriculturafamiliar. (BIANCHINI, 2012).

Mattei (2007) destaca que os estudosrealizados pelo Projeto FAO/Incra definiram commaior precisão a agricultura familiar eestabeleceram um conjunto de diretrizes quedeveriam nortear a formulação de políticas públicasdirecionadas a esse segmento, servindo de basepara as primeiras formulações do PRONAF.

Em síntese, a partir de então, a categoriapassou a ser melhor conhecida, o que subsidiou aposterior definição de políticas adequadas aos seusinteresses e necessidades.2.1.1 Multifuncionalidade da agricultura familiar

Segundo Wanderley (2003), o conceito demultifuncionalidade da agricultura familiar foiformalmente elaborado tendo em vista o recentecontexto social da agricultura e do meio rural daUnião Europeia e, particularmente, da França. Paraa autora, é importante pensar como esse enfoqueda agricultura pode ser incorporado às pesquisassobre o Brasil de forma a melhor compreender arealidade brasileira, considerando suasparticularidades.

Maluf (2003) destacou quatro funçõesassociadas ao exercício da atividade agrícola: areprodução socioeconômica das famílias rurais; apromoção da segurança alimentar das própriasfamílias e da sociedade; a manutenção do tecidosocial e cultural; e a preservação dos recursosnaturais e da paisagem rural.

Confirma-se assim a concepção de que osagricultores assumem responsabilidades sociaisque mereceriam o reconhecimento da sociedade.No Brasil, a legitimação da concepção demultifuncionalidade poderá auxiliar a fazer emergir aconsciência sobre a ampla e diversificadacontribuição dos agricultores para o dinamismo dasociedade (WANDERLEY, 2003), o que levaria àvalorização das funções não diretamente mercantisda atividade agrícola.

Wanderley (2003) e Maluf (2003) concordam

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com o fato de que a agricultura familiar apresentafunções múltiplas que extrapolam a funçãocomercial propriamente dita, o que auxilia napromoção do desenvolvimento sustentável.2.1.2 Histórico, objetivos e regras do Pronaf

Consoante Souza e Caume (2008), até meadosda década de 1990, o financiamento do pequenoprodutor restringia-se quase que exclusivamenteaos recursos administrados pelo Programa deCrédito Especial para Reforma Agrária(PROCERA), cujo alcance era específico e limitadoem função de atender somente aos beneficiários doPrograma de Reforma Agrária. Segundo as normasdo Manual do Crédito Rural do Banco Central, ospequenos agricultores eram enquadrados comomini produtores que disputavam recursos com osgrandes proprietários e principais tomadores decrédito agrícola.

No entanto, num contexto de pressões demovimentos sociais rurais, o governo federalinstituiu o PRONAF em 24 de agosto de 1995, pormeio da resolução nº 22.191, do ConselhoMonetário Nacional, com o objetivo de proporcionaro aumento da produção agrícola, a geração deocupações produtivas e a melhoria da renda e daqualidade de vida dos agricultores familiares.Segundo Schneider (2006), essa lei representou aafirmação da agricultura familiar no cenário social epolítico brasileiro.

Denardi (2001) afirma que o Pronaf se constituiucomo a primeira política pública diferenciada emfavor dos agricultores familiares brasileiros, sendoconceituado pelo Banco Central como

O crédito rural que se destina ao apoio financeirodas atividades agropecuárias e não-agropecuárias exploradas mediante empregodireto da força de trabalho do produtor rural e desua família. Entenda-se por serviços, atividadesou renda não-agropecuários aquelesrelacionados ao turismo rural, à produçãoartesanal, ao agronegócio familiar e à prestaçãode serviços no meio rural, que sejam compatíveiscom a natureza da exploração rural e com omelhor emprego da mão-de-obra familiar.(BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2010a).Denardi (2001) concorda que o Pronaf tem

permitido a socialização do acesso ao crédito decusteio para agricultores familiares. Porém, ocrédito tradicional representa aumento quantitativono acesso ao crédito, no entanto, não avança emtermos qualitativos.

Essa mesma realidade foi constatada peloIBASE (2010), ao afirmar que o Pronaf épredominantemente um crédito de custeio.Torna-se, pois, necessário priorizar o aumento daoferta de crédito de investimento para capitalizar a

agricultura familiar e fazê-la alcançar rentabilidade,sustentabilidade e competitividade, o que trarámais qualidade a esse crédito.

O Pronaf segundo Brasil (2010), obedece anovas regras desde 1º de julho de 2008 visandofacilitar o acesso dos agricultores familiares aoPrograma. Além das formas convencionais decrédito para as linhas A, A/C, B, C, Comum, quevariam de acordo com o limite financiado e a taxade juros praticada, o programa ainda dispõe deoutras específicas.

Para dar cobertura à atividade, sujeita aimprevistos que podem inviabilizar a produção e acapacidade de pagamento do agricultor familiar,existe o Seguro da Agricultura Familiar (SEAF), oPrograma de Garantia da Atividade Agropecuária(PROAGROMAIS), e ainda o Programa Garantia deSafra que atendem a distintos públicos do Pronaf.2.1.3 Microcrédito rural: Agroamigo comoaperfeiçoamento do Pronaf B

O Pronaf B compreende o microcrédito ruraldestinado aos agricultores e trabalhadores rurais,pescadores, extrativistas, ribeirinhos, quilombolas eindígenas, parceiros, meeiros, posseiros,geralmente descapitalizados ou em processo dedescapitalização, que desenvolvam atividadesprodutivas no meio rural. (BRASIL, 2010).

De acordo com o BNB (2012), o Agroamigo foicriado em 2004, em conjunto com o Ministério doDesenvolvimento Agrário (MDA), como medida deaperfeiçoamento e simplificação do Pronaf B, comoum programa de microcrédito produtivo orientado,pioneiro no Brasil, com o objetivo de melhorar operfil socioeconômico do agricultor familiar na áreade atuação do Banco.

Esse tipo de crédito não é uma ideia original,visto já existir desde os anos 1960. A diferençaentre o Agroamigo e demais instituições quetrabalham com microcrédito parece residir naatuação no próprio meio rural, dos agentes decrédito e técnicos agrícolas qualificados, queorientam os clientes no desenvolvimento dospequenos negócios, identificando oportunidades eelaborando soluções claras e lógicas.

Para operacionalizar o Programa de créditorural, o BNB firmou parceria com o InstitutoNordeste Cidadania (INEC) que atua na mesmaárea geográfica do Banco e possui experiênciaanterior adquirida na operacionalização doCrediamigo, maior programa de microcrédito urbanoorientado do BNB no Brasil.

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Consoante o Manual para formação emmicrocrédito rural (INEC, 2009), essa parceriasegue as orientações do Programa Nacional deMicrocrédito Produtivo e Orientado (PNMPO) eestão em estreita consonância com o Manual decrédito rural.

Nessa parceria, o Instituto disponibilizaassessores de microcrédito rural para a execuçãodas atividades de concessão de crédito, elaboraçãode cadastro de clientes, propostas, planos denegócios, acompanhamento e renovação decrédito. Paralelamente, as atividades referentes aodeferimento do processo de concessão de crédito,cadastramento, contabilização, liberação dasparcelas realizadas diretamente aos clientes sãode responsabilidade de cada Agência do Banco.

Segundo Alencar Júnior et al. (2009), nesseprograma, o assessor de crédito deve residir, depreferência, próximo às comunidades locais e terexperiência na área rural, habilidades emcomunicação, relações interpessoais e visãoempreendedora. Para tanto, recebe capacitação afim de assumir suas principais atribuições parareuniões com lideranças locais; identificação dosagricultores familiares na sua área de atuação;promoção de palestras informativas sobre oPrograma; montagem de propostas de crédito;análise de projetos; e fornecimento de parecertécnico.

O Pronaf B diferencia-se do Agroamigo namedida em que aquele é uma conquista domovimento sindical e dos agricultores familiares,enquanto este é uma iniciativa do BNB. Ademais, oPronaf B pode ser contratado pelos bancospúblicos, o Agroamigo, no entanto, éoperacionalizado apenas pelo BNB.

3. Metodologia

Na busca de respostas sobre a RSA do BNB naconcessão de crédito do PRONAF no Piauí, o tipode metodologia adotado foi o Estudo de Caso(GOLDEMBERG, 2001), realizado no BNB, bancomúltiplo, que opera como órgão executor depolíticas públicas destinadas a reduzir asdesigualdades socioeconômicas entre sua áreabásica de atuação e as regiões mais desenvolvidasdo país. Cabe-lhe a operacionalização deprogramas de forte cunho social, como o Pronaf e oCrediamigo.

A presente pesquisa foi realizada no Piauí, ondeo BNB atende os 227 municípios do estado pormeio de suas dezesseis agências distribuídas em

municípios estratégicos, a fim de possibilitar acobertura total do Banco a todo o estado.

Para definição do objeto de estudo, foram feitasvisitas à Superintendência do BNB em Teresina/Piauí, entre julho de 2008 a março de 2009. Nomesmo período, também se fizeram contatos por e-mail e telefone com o gabinete da presidência doBanco, em Fortaleza/Ceará, a fim de definir o setorprodutivo a ser analisado.

Na oportunidade, foi solicitado levantamentoinicial do número de operações e valoresfinanciados pelo BNB meio das diversas linhas doPronaf (A, A/C, B, C, Comum, Agroindústria,Mulher, Jovem, Semiárido, Agrinf, Agroecologia,Floresta, Eco, Mais Alimentos).3.1 Fonte das Informações

Para a consecução da pesquisa, o BNBdisponibilizou relatórios detalhados dasquantidades de contratações do Banco para oPRONAF no Piauí, de 2003 a 2008. Assim tambémcom os dados referentes às contratações doPrograma por linhas de crédito, no período de 2003a 2007.

Os dados do crédito rural destinado ao Piauíforam obtidos no Anuário Estatístico do CréditoRural do Banco Central do Brasil, considerado operíodo de 2003 a 2008, em virtude de suadisponibilidade no site do Banco Central até esseúltimo ano.

As práticas de RSA na metodologia utilizadapelo BNB na concessão de crédito do Pronaf foramidentificadas por meio de fontes orais, com arealização de duas entrevistas semiestruturadas,seguindo um roteiro com questões elaboradas apartir dos objetivos da pesquisa. Para tanto,utilizou-se a abordagem qualitativa não-probabilística ou intencional (SORIANO, 2004).

Foram realizadas entrevistas com osuperintendente de Agricultura Familiar,Microfinanças Rurais e Crédito Fundiário do BNBem Fortaleza e com o secretário de PolíticasAgrícolas da FETAG em Teresina, entidaderepresentante dos agricultores familiares no Piauí.Coletaram-se informações relativas àinadimplência, emissão de Declaração de Aptidãoao Pronaf (DAP) e licenciamento ambiental,estrutura física e de pessoal, serviços financeirosadicionais, acompanhamento periódico dosfinanciamentos, assistência técnica e capacitaçãodos agricultores familiares, critérios, exigências econdições de financiamento do Pronaf, tempo de

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liberação dos créditos e seguro da agriculturafamiliar.3.2 Procedimentos de Análise

Para mensurar a atuação do Banco foiobservada a participação do Pronaf na média dascontratações totais do Banco, no Piauí, de 2003 a2008.

Com vistas a destacar os indicadoreseconômicos do Pronaf, verificou-se a participaçãorelativa do BNB no total de operações e valoresfinanciados para o estado no período de 2003 a2008. Observou-se ainda a média de financiamentoconcedido para o Pronaf e o setor rural por meio daanálise do total de operações e valores financiadospara os dois segmentos. Pela via da análise dasvariáveis por linhas de crédito, no período de 2003 a2007, foram identificados os indicadoressocioambientais do Pronaf.

O tratamento dos dados se deu por análisetabular. Para eliminar o viés causado pelo efeitoinflacionário sobre os valores financiados ao longodo período em análise, fez-se a aplicação dacorreção monetária transformando-se os valoresnominais em valores reais. Para tanto, foi utilizadoo Índice Geral de Preços”Disponibilidade Interna(IGP”DI), disponibilizado pelo IPEADATA (2011).

Nas entrevistas realizadas junto ao BNB e àFETAG, foi utilizada a análise de conteúdo(MINAYO, 1994).

4. A Responsabilidade socioambiental do BNB

Nessa seção, são apresentados os resultadossobre a atuação do BNB no âmbito da RSA emcrédito, analisando-se-lhe os indicadoreseconômicos e socioambientais do PRONAFoperacionalizado pelo Banco no Estado.4.1 Indicadores Econômicos do Pronaf no Piauí

Para mensurar a importância do Pronaf sobre ototal do crédito ofertado pelo Banco, mostra-se, naTabela 1, o comparativo entre o valor médioconcedido pelo BNB ao PRONAF e aos outrossetores produtivos (comércio/serviços, indústria,rural), no período de 2002 a 2008.

De 2002 a 2008, o número de operações decrédito do BNB no Piauí cresceu em média 24,0%ao ano. A taxa de crescimento médio anual doPRONAF foi de 14,5% ao ano, enquanto as demaiscontratações ficaram em torno de 26,6%. Emrelação ao montante total financiado, foi observadocrescimento médio anual de 36,3% no valor dasoperações do BNB. Novamente, foi observado

crescimento abaixo da média geral para omontante destinado ao PRONAF (23,5% ao ano),ao passo que as demais contrataçõesapresentaram crescimento acima da média geral(38,3% ao ano).

Para identificar a representatividade do BNB novolume de crédito destinado pelo PRONAF para oPiauí, foi elaborada a Tabelas 2 destacando o totalde contratações do Programa direcionadas a todo oestado em paralelo ao total de operações e valoresfinanciados pelo BNB no período de 2003 a 2008.

No período de 2003 a 2008, o número deoperações de crédito do Pronaf no Piauí cresceuem média 13,3% ao ano. O Pronafoperacionalizadopelo BNB cresceu em média 7,1% ao ano,enquanto aquele operacionalizado pelos demaisbancos evoluiu 19,4% ao ano. Em termos domontante total financiado, foi observadocrescimento médio anual de 9,1% no valor dasoperações do BNB, crescimento acima da médiageral de 7,4% ao ano. As operações do Pronaffeitas pelos outros bancos apresentaramcrescimento anual médio de 19,0%. Essesnúmeros demonstram que o BNB ficou abaixo damédia de crescimento anual quanto ao número deoperações (7,1%) e acima da média decrescimento anual quanto ao montante totalfinanciado (9,1%) em relação às demaisinstituições financiadoras do Pronaf no Estado.

Ressalte-se o fato de que o período de 2003 a2006 corresponde ao primeiro governo doPresidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto operíodo de 2007 a 2010, ao segundo. No primeiroperíodo, os recursos destinados ao Pronaf foramcrescentes, enquanto, no segundo, foramdecrescentes, indicando uma mudança de rumospara as políticas de financiamento da agriculturafamiliar.

Na estrutura interna do BNB, o Pronaf éadministrado pelo setor denominado Ambiente deAgricultura Familiar, Crédito Fundiário eMicrofinanças Rurais, que, no Piauí, em 2010,contava com 15 gerentes e 65 técnicos agrícolasqualificados, a fim de atender com qualidade asnecessidades de sua clientela e do Programa.

A assessoria técnica do Agroamigo orienta osagricultores familiares sobre educação financeira,importância da poupança e controle de fluxo decaixa em face das obrigações assumidas e aoelaborar plano de negócios do agricultor familiarconsidera o comprometimento anual da sua receitaem até 60%.

88informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

Para o Secretário de Políticas Agrícolas daFETAG, a agricultura familiar se baseia no tripécrédito, trabalho e assistência técnica. No seuentendimento, o secretário considera que o Bancotem dado mais ênfase ao acompanhamento daexecução do crédito que à assistência técnicapropriamente dita, não conseguindo ainda atenderas necessidades do agricultor familiar.

Para o êxito do Programa, o superintendente deAgricultura Familiar, Crédito Fundiário eMicrofinanças Rurais do BNB destaca que omonitoramento periódico da carteira de crédito éfeito pelo Escritório Técnico de EstudosEconômicos do Nordeste (ETENE), com aelaboração semestral de relatórios analíticos sobrequantidade de operações por municípios,subprogramas e atividades produtivas, comperiodicidade diária, semanal, quinzenal ou mensal.Também se realizam pesquisas específicas,sempre que necessário, para aferir o alcance dos

objetivos e metas sociais e os impactossocioeconômicos do PRONAF. No entanto, taisrelatórios de acompanhamento não foramdisponibilizados para esta pesquisa, o que limitou oestudo.

Esse acompanhamento objetiva controlar osindicadores de desempenho do Programa,cumprimento de metas globais e individuais deaplicação, adimplência, custos e produtividade,para garantir a qualidade das ações e dos efetivosresultados. Para o monitoramento dosinvestimentos concedidos, é selecionada umaamostra de 30% dos beneficiários, pelo que seacompanha a execução dos créditos e se evitamdesvios de aplicação dos recursos. A Central deOperações (CENOP) também participa desseprocesso, fazendo vistorias em 10% dosassentamentos e fiscalizando as ocorrências dedenúncia por supostas irregularidades.

Tabela 1 - Número de operações contratadas e valores financiados¹ (em R$ Mil de 2008) pelo BNB no Estado do Piauí, segundo a origem dos recursos do Pronaf e demais linhas de crédito para outros setores produtivos, no período de 2002 a 2008 Ano Crédito Total Pronaf Crédito para Outros setores produtivos Crédito Total BNB

Operações Valor total (R$ mil)

Valor médio (R$) Operações Valor total

(R$ mil) Valor médio (R$) Operações Valor total

(R$ mil) Valor médio (R$)

2002 15.460 20.851 1.349 36.557 85.696 2.344 52.017 106.548 2.048 2003 16.576 40.265 2.429 43.257 105.593 2.441 59.833 145.858 2.438 2004 40.775 90.469 2.219 49.410 427.155 8.645 90.185 517.624 5.740 2005 50.725 127.431 2.512 62.228 268.859 4.321 112.953 397.069 3.515 2006 67.789 156.529 2.309 79.438 381.959 4.808 147.227 538.488 3.658 2007 42.939 116.157 2.705 108.082 418.662 3.874 151.021 534.819 3.541 2008 24.508 61.268 2.500 153.274 734.483 4.792 177.782 795.751 4.476 Fonte: Banco do Nordeste do Brasil (2008); IPEADATA (2011). Notas: 1. Valores nominais deflacionados pelo (IGP-DI). – (% a.a) – Fundação Getúlio Vargas, Conjuntura Econômica – IGP (FGV/Conj. Econ. – IGP) – IGP_IGPDIG (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). Obs.: compreende o período entre o primeiro e o último dia do mês de referência. Reflete a evolução dos preços captada pelo Índice de Preços por Atacado (Ipea), Índice de Preços ao Consumidor (IPC- FGV) e Índice Nacional de Preços da Construção Civil (INCC).

Tabela 2 - Número de Operações Contratadas e Valores Financiados¹ (em R$ mil de 2008) pelo Pronaf para o Estado do Piauí, no período de 2003 a 2008

Ano Total Pronaf Piauí Pronaf BNB Pronaf Piauí - Outros

Operações Valor (R$ mil)

Operações

Valor (R$ mil) Operações Valor

(R$ mil)

2003 33.917 65.940 16.576 40.265 17.341 25.675 2004 69.321 92.110 40.775 90.469 28.546 1.641 2005 180.688 210.226 50.725 127.431 129.963 82.795 2006 186.170 188.819 67.789 156.529 118.381 32.290 2007 102.547 129.905 42.939 116.157 59.608 13.748 2008 63.871 90.457 24.508 61.268 39.363 29.189

Fonte: Banco do Nordeste (2008); Banco Central do Brasil (2010c) e IPEADATA (2011). Notas: 1. Valores nominais deflacionados pelo (IGP-DI). – (% a.a) – Fundação Getúlio Vargas, Conjuntura Econômica – IGP (FGV/Conj. Econ. – IGP) – IGP_IGPDIG (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). Obs.: compreende o período entre o primeiro e o último dia

do mês de referência. Reflete a evolução dos preços captada pelo Índice de Preços por Atacado (Ipea), Índice de Preços ao Consumidor (IPC- FGV) e Índice Nacional de Preços da Construção Civil (INCC).

89 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

Nos depoimentos do secretário de PolíticasAgrícolas da FETAG, a inadimplência é apontadacomo um problema na concessão de crédito doPRONAF no estado, cujos números podem servisualizados pela Tabela 3.

Os números apresentados na Tabela 3 apontamque, em setembro de 2009, o PRONAF apresentouíndice médio de inadimplência de 14,4%, sendoque o Agroamigo (38,4%), PRONAF A/C (28,8%) ePRONAF E (19,7%) tiveram os maiores índices deinadimplência, enquanto as demais linhasmantiveram um grau de inadimplência dentro dafaixa limite aceitável pelo BNB, em torno de 6%.Nesse sentido, o MDA possui um mecanismo decontrole de inadimplência para o município queultrapassar 10%, quando, então, os financiamentossão suspensos até a regularização desse nível.

Sob o ponto de vista do secretário de PolíticasAgrícolas da FETAG, a principal causa dainadimplência é o desvio de finalidade e a aplicaçãoindevida do crédito por falta de acompanhamento,orientação e assistência técnica. Segundo ele,

existe uma insatisfação da categoria pela demorana liberação dos financiamentos do Agroamigo,advertindo que o Banco não tem atendido de prontoa essas demandas, em razão de a quantidade depropostas elaboradas superar a sua capacidade deatendimento.

A destinação de recursos, pelo BNB, para oPRONAF e o setor rural foi outro fator avaliado emnosso estudo. (Tabelas 4). O PRONAF teve, em2004, 2007 e 2008, menor volume de recursos,enquanto se viu mais bem aquinhoado em 2005 e2006, ao passo que, em 2003, os dois setoresreceberam o mesmo montante. Em todo o períodoanalisado, o PRONAF excedeu o setor rural naquantidade de operações contratadas,demonstrando a sua característica de microcrédito.

Após a análise dos dados da Tabela 4, emrelação ao montante total financiado, foi observadocrescimento médio anual de 20,6% no valor dasoperações do BNB. O setor que proporcionou maiortaxa de crescimento para os recursos foi o rural(26,7% ao ano), enquanto o PRONAF apresentou

Tabela 3 – Adimplência e Inadimplência da Carteira de Crédito do Pronaf por Linhas e Geral (em R$ Mil de 2009) Posição Setembro/2009

Total Saldo Nr. Opera

ções Saldo Nr. Opera

ções Saldo Grupo

Nr. Operações Total Atraso Atraso Normal Normal

Adim plência

Inadim plência

Agroindústria 20 237,62 3 7,8 17 228,82 96,7 3,3 Jovem 37 216,8 - - 37 216,8 - - Mulher 2 018 10 186,28 315 302,19 1 703 9 884,09 97,0 3,0 A 11 193 135 696,59 3 678 8 090,19 7 515 127 606,40 94,0 6,0 A/C 2 436 6 221,70 1 226 1 790,24 1 210 4 431,45 71,2 28,8 Agroamigo 85 482 103 535,65 28 571 39 729,71 56 911 63 805,94 61,6 38,4 C 17 087 92 721,32 4 240 4 677.15 12 847 88 044,17 95,0 5,0 Comum 617 4 710,56 4 15,01 613 4 695,55 99,7 0,3 D 4 019 43 977,89 1 946 4 088,63 2 073 39 889,26 90,7 9,3 E 19 437,22 13 85,97 6 351,25 80,3 19,7 Emergencial 6 11,39 - - 6 11,39 - - Mais Alimento 69 1 036,57 - - 69 1 036,57 - - Sem Grupo 255 2 036,57 84 189,91 171 1 846,66 90,7 9,3 Semiárido 1 962 10 358,49 176 143,96 1 786 10 214,53 98,6 1,4 Total Geral 125 220 411 383,65 40 256 59 120,78 84 964 352 262,87 85,6 14,4 Fonte: Banco do Nordeste do Brasil S/A (2009). Nota: 1. Sinal Convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não-resultante de arredondamento.

Tabela 4 - Total de Operações Contratadas e Valores Financiados¹ (em R$ Mil de 2008) pelo BNB para o PRONAF e setor Rural, no período de 2003 a 2008

Ano

BNB TOTAL PRONAF BNB RURAL BNB Operações Valor

(R$ mil) Operações Valor (R$ mil) Operações Valor

(R$ mil) 2003 18.250 81.301 16.576 40.265 1.674 41.036 2004 41.549 215.080 40.775 90.469 774 124.611 2005 51.540 233.860 50.725 127.431 815 106.429 2006 68.770 250.999 67.789 156.529 981 94.470 2007 43.896 252.712 42.939 116.157 957 136.555 2008 26.010 269.587 24.508 61.268 1.502 208.319

Fonte: Banco do Nordeste do Brasil (2008)1; IPEADATA (2011). Notas: 1. Valores nominais deflacionados pelo (IGP-DI). – (% a.a) – Fundação Getúlio Vargas, Conjuntura Econômica – IGP (FGV/Conj. Econ. – IGP) – IGP_IGPDIG (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). Obs.: compreende o período entre o primeiro e o último dia do mês de referência. Reflete a evolução dos preços captada pelo Índice de Preços por Atacado (Ipea), Índice de Preços ao Consumidor (IPC- FGV) e Índice Nacional de Preços da Construção Civil (INCC).

90informe econômicoAno 16, n. 32, outubro 2014

taxa de crescimento de 9,1% ao ano, abaixo damédia geral para o montante total destinado aosetor agrícola.

O número de operações de crédito do BNBcresceu em média 6,6% ao ano. Este crescimentofoi puxado pelo Pronaf (7,1% ao ano). O setor ruralobteve crescimento médio anual abaixo da médiageral (apenas 0,8% ao ano).

Em 2008, a média de financiamento do Pronaffoi de R$ 2.108,74 e o setor rural, de R$116.993,56. Enquanto o Pronaf resultou maissignificativo no total de operações (94,2%), o setorrural recebeu o maior volume de crédito (77,3%).4.2 Indicadores Socioambientais do PRONAF noPiauí

Com base nos dados disponibilizados peloBNB, restritos ao Piauí, referentes aos valoresfinanciados por linhas do Pronaf, procedeu-se àanálise do desempenho socioambiental doPrograma no período de 2003 a 2007. (Tabela 5).

As 14 atuais linhas do Pronaf objetivam atendernecessidades específicas do agricultor familiar. Naanálise feita no presente estudo não constamcontratações das linhas Agroecologia, Floresta,Eco e Mais Alimentos, criadas posteriormente aoperíodo analisado.

A análise socioambiental sofreu limitações emrazão do não acesso aos dados referentes àscontratações do Pronaf pelo BNB por linhas para oNordeste e Brasil, bem como por não estaremdisponíveis tais variáveis no banco de dados doMDA e do BACEN. Sendo assim, tomando porbase os dados da Tabela 5, fazemos as seguintesinferências:i. o Agroamigo é uma linha indutora desustentabilidade por viabilizar o acesso ao crédito,

à inclusão bancária e social de parcela mais pobreda população rural, os agricultores e trabalhadoresrurais, parceiros, meeiros e posseiros. Constitui-sena principal linha creditícia do Pronaf e, quanto aomontante financiado, apresentou média decrescimento de 48,4% no período de 2003 a 2007;ii. considerado uma linha socioambiental por apoiara fixação do agricultor no campo e possibilitar ageração de emprego e renda, o Pronaf A apontoucrescimento médio de 29,0% no período de 2003 a2007;iii. o Pronaf A/C, como crédito de custeio para osassentados da reforma agrária, sinalizoucrescimento médio de 61,3% dos recursos noperíodo analisado;iv. o Pronaf C apresentou aumento de 85,6% nosvalores das contratações realizadas de 2003 a2007 para os agricultores familiares, sendo umaimportante linha de crédito de custeio, modalidadeque, a partir de 2008, passou a englobar as linhasD e E, que incidiram acréscimo dos financiamentosem 48,5% e 58,8%, respectivamente.v. linha fundamental para a região do Semiárido,que se configura como indicador de sustentabili-dade ambiental, o Pronaf Semiárido cresceu emmédia 47,2%, entre 2003 e 2007, sobre o total dosvalores financiados;vi. o Pronaf Mulher teve 47,3% de aumento novolume total dos recursos, traduzindo-se em forteindicador de sustentabilidade social por gerarempoderamento feminino. Pela sua importância,necessita de maior volume de contratações, a fimde efetivar seu objetivo socioambiental;vii. foi observado crescimento médio de 57,8%quanto ao volume dos créditos concedidos peloPronaf A/I (Agroindústria) no período de 2003 a

Tabela 5 - Total de valores financiados¹ (em R$ Mil de 2007) pelo Pronaf por linhas de crédito, no período de 2003 a 2007

Ano Total Agroamigo

A C Semiárido

D Mulher A/C E A/I Jovem

Agrinf 2003 36.906 16.432 16.664 2.840 - 652 - 318 - - - - 2004 82.923 41.330 32.129 5.643 - 2.048 - 1.773 - - - - 2005 116.802 48.049 34.068 21.880 3.569 4.226 2.938 1.749 193 73 57 - 2006 143.472 65.207 19.656 36.461 10.547 4.690 4.724 1.768 268 81 54 16 2007 106.470 49.296 25.219 21.194 3.913 2.439 2.457 1.496 312 98 46 -

Fonte: Banco do Nordeste do Brasil (2007); IPEADATA (2011). Notas: 1. Valores nominais deflacionados pelo (IGP-DI). – (% a.a) – Fundação Getúlio Vargas, Conjuntura Econômica – IGP (FGV/Conj. Econ. – IGP) – IGP_IGPDIG (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). Obs.: compreende o período entre o primeiro e o último dia do mês de referência. Reflete a evolução dos preços captada pelo Índice de Preços por Atacado (Ipea), Índice de Preços ao Consumidor (IPC- FGV) e Índice Nacional de Preços da Construção Civil (INCC). 2. Sinal Convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não-resultante de arredondamento.

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2007, programa este fundamental para que osagricultores familiares possam valorizar seusprodutos e a eles agregarem valor;viii. o Pronaf Jovem sinalizou crescimento médiode 96,9% nos financiamentos. Essa linha tem suacontratação vinculada à formação técnica na áreaagropecuária, com pré-requisitos para que o públicojovem tenha o acesso a esse crédito, não atingindoos objetivos a que se propõe;ix. o Pronaf Agrinf apontou poucas contratações,apenas em 2006, demonstrando ínfima articulaçãodos créditos para os agricultores familiares por viade cooperativas agrícolas.

Em termos de volume de operações contratadase valores financiados, observa-se que oAgroamigo, o Pronaf A e C destacaram-se.Nesse sentido, o microcrédito rural se configuracomo a principal linha de crédito do PRONAF,seguido do PRONAF C e do PRONAF A,demonstrando que o maior volume de contrataçãodessas linhas revela maior atuação do PRONAF naárea socioeconômica.

O desempenho das linhas A/C, Semiárido eMulher, não menos importantes, tiveram menorvolume de crédito para projetos ambientais esociais femininos. Verifica-se, portanto, anecessidade de aumento do nível de contrataçõesdesses subprogramas, a fim de que atenda à suasfinalidades sociais e ambientais.

As linhas E, AI, AGRINF e Jovem contaram comrepresentatividade mínima, com volume incipientede contratações e pouco contribuíram para oatendimento dos objetivos propostos.

5. Conclusão

O Pronaf se configura como uma prática de RSAdirecionada aos agricultores familiares, visto que,em sua atuação, o Banco considerou objetivos emetas socioambientais que visam promover ainclusão bancária e social do agricultor familiar, suainserção produtiva no mercado local, a fim defomentar o desenvolvimento rural sustentável e amelhoria na sua qualidade de vida. Em síntese, pormeio dos indicadores econômicos do Pronaf noPiauí, de 2003 a 2007, identificamos o BNB como omaior agente financiador do estado, sendoconstatado que o Programa foi responsável pelomaior número de crédito pulverizado do BNB.

Os indicadores socioeconômicos evidenciaramque as linhas que tiveram maior crescimento, noperíodo de 2003 a 2007, foram o Pronaf Jovem,Pronaf C, Pronaf A/C, seguidas do Pronaf E,

Pronaf A/I, Pronaf D, Agroamigo, Pronaf Mulher,Pronaf Semiárido e Pronaf A.

Quanto ao volume de recursos financiados, taisindicadores socioeconômicos evidenciaram aindaque o microcrédito rural, ou melhor, o Agroamigo seconfigura como a principal linha de crédito doBanco, cujas contratações se destinam ao créditopara agricultores familiares em geral e assentadosda reforma agrária, respectivamente. Por meiodessas linhas de crédito e microcrédito, o BNBcontribuiu para que o Programa atingisse os seusobjetivos socioeconômicos.

A linha Semiárido, por ser a única com focoambiental, necessita incremento no volume definanciamento, assim como o Pronaf A/C, o PronafMulher e Pronaf D. Já as linhas E e AI, AGRINF eJovem apresentaram uma dimensão socioeconô-mica considerada incipiente.

A pesquisa apontou dificuldades relativas àinadimplência, confirmada por meio dos dadosapresentados pelo BNB relativos a setembro de2009, causada, no entendimento do secretário dePolíticas Agrícolas da FETAG pelo desvio definalidade e a aplicação indevida do crédito emrazão de falta de acompanhamento, orientação eassistência técnica. Esse indicador éacompanhado pelo BNB, que tem como limite deinadimplência, no máximo 6% e, por ele,administra suas contratações e renegociações,enquanto o MDA possui um mecanismo de controlede inadimplência para o município que ultrapassar10%, com suspensão dos financiamentos até aregularização desse nível.

Quanto à estrutura física há um número aindainsuficiente de agências para facilitar o acesso dosagricultores familiares do estado à instituiçãofinanceira e, no que concerne à assistênciatécnica, o BNB deu maior ênfase aoacompanhamento na execução do crédito e, poressa razão, não atingiu a expectativa do agricultorfamiliar nesse quesito. Isto igualmente quanto àdemora na liberação dos créditos, o que gerainsatisfação da categoria em razão da quantidadede propostas elaboradas superior à capacidade deatendimento do Banco, resultando em fila deespera por não se dar vazão aos pedidos.

Mesmo com as dificuldades identificadas, aimplantação e operacionalização do PRONAFestão contribuindo para a indução dodesenvolvimento rural sustentável, colaborandodiretamente para as inclusões bancária e social doagricultor familiar e indiretamente para a geração de

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emprego e renda no campo. Nesse sentido,conclui-se que o BNB tem desenvolvido práticas deRSA gerais, além de práticas específicas, com asua postura na operacionalização do Pronaf,reforçada pelo Agroamigo

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* Administradora. Mestra em Desenvolvimento eMeio Ambiente pela UFPI/PRODEMA/TROPEN.Professora do Curso de Administração do CampusAmilcar Ferreira Sobral (CAFS) – Floriano/PI** Economista. Doutora em Economia Aplicada pelaESALQ. Professora do PRODEMA/TROPEN e doDECON da UFPI.

Notas:1 Optamos por utilizar a expressão “ResponsabilidadeSocioambiental” em vez de “Responsabilidade Social” porser mais abrangente, incorporando os aspectos sociais eambientais e, principalmente, por ser o termo adotado peloProtocolo de Intenções pela ResponsabilidadeSocioambiental.² Sobre a autonomia do BNB e sua participação noprocesso de decisão sobre a destinação dos recursos parao PRONAF ou para outras finalidades, torna-se necessárioesclarecer que o montante dos recursos destinados aoPRONAF tem origem dispersa e segue um complexo fluxode decisões sob a responsabilidade do governo federal.Portanto, o BNB possui autonomia para agregar recursos aoPRONAF, mas pode sofrer restrições dadas pela políticaagrícola do governo federal

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CAMPO OU CIDADE? um estudo qualitativosobre as pretensões migratórias de jovens de umassentamento em Mossoró-RNRosa Adeyse Silva* Pedro Arthur Rodrigues Figueiredo**Karla Kallyana Filqueira Feliz*** Ana Beatriz Bernardes Oliveira****e Elisabete Stradiotto Siqueira*****

Resumo: O presente artigo tem o objetivo investigar a percepção da juventude agrária de um assentamentorural do município de Mossoró-RN, sobre suas esperanças, sonhos, perspectivas e posicionamento comrelação à educação, saúde e lazer oferecidos no campo, buscando entender o que os move em direção aomundo urbano ou ao rural. Pretende-se ainda verificar se a ida do jovem para o meio urbano é uma rupturacom o rural ou uma determinação estrutural que não lhe deixa alternativas. Na pesquisa de campo denatureza descritiva e qualitativa, utilizou-se de entrevistas semiestruturadas e foram realizadas entrevistascom 30 jovens em cinco agrovilas. Percebeu-se que a educação, a saúde e o lazer são fatores relevantespara os jovens, mas que as questões de oportunidades de trabalho e capacitação para o mercado detrabalho também são essenciais para a permanência no campo. Considerando os dados foi possívelidentificar que as pretensões dos jovens em migrar para a cidade é em grande parte para a realização desuas aspirações profissionais, e que muitos pretendem voltar ao campo.Palavras-chave: Juventude; rural; urbano; pretensões migratórias.

Abstract: This paper aims to investigate the perception of agrarian youth on a rural settlement in themunicipality of Mossoró-RN, about their hopes, dreams, prospects and positioning regarding education,health and recreation offered in the countryside, trying to understand what drives them towards the rural or theurban world. Another objective is to check if the departure of the young to urban areas is a break with the ruralor structural determination which does not provide them alternatives. In field research of nature qualitative anddescriptive, we used semi-structured interviews conducted with 30 young people and in five rural villages. Itwas felt that education, health and leisure are factors relevant to young people, but that the issues of jobopportunities and training for the labor market are also essential for remaining in the countryside. Consideringthe data, we found that the pretensions of young people to migrate to the city are largely for fulfilling theirprofessional aspirations, and many intend to return to the field.Keywords: Youth, rural, urban, migratory intentions.

1. Introdução

No contexto campo/cidade, existemparticularidades em relação ao estilo de vida doshabitantes das comunidades rural e urbana. Deacordo com Gonçalves (2004), o conceito deEstilos de Vida pode, numa acepção globalizante,ser traduzido pelo currículo existencial do sujeitoem adaptação ao meio e à cultura onde atua.

Tratar a questão estilo de vida levando em contaos jovens do meio urbano e do meio rural retratauma notória diferença entre eles, desde asoportunidades oferecidas até o comportamentodesses com relação às perspectivas que elesencontram em seus meios distintos. Sposito (1999)considera que, a construção da identidade dojovem se dá através da compreensão que esse temdele mesmo e do reconhecimento externo dessapercepção na construção de bases de identificaçãodos jovens com seu meio social.

Pode-se afirmar, então, que o meio onde seencontra o jovem vai contribuir para definir suaforma de se ver como cidadão, o que leva a umquestionamento sobre a situação dos jovens quetem que revezar, por questões de estudo, o local demoradia entre o campo e a cidade. O conceito delocal refere-se, “à escala das inter-relaçõespessoais da vida cotidiana, que sobre uma baseterritorial constroem sua identidade” (MARTINS,2002, p. 54).

Existem diferenças nas motivações dos jovensentre migrar para cidade ou permanecer naagricultura, segundo Abramovay et al. (2007), nasúltimas décadas ocorreu no Brasil um intensoesvaziamento no campo, principalmente de jovensem busca de melhores oportunidades de trabalho.As aspirações profissionais são destaque deAbramovay (2007), que afirma ser uma dasmissões fundamentais da extensão rural favorecer

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a criação e as oportunidades de emprego egeração de renda, ao menos para atender a maiorparte dos jovens da área rural, cuja possibilidade derealização profissional na agricultura é cada vezmenos provável.

O autor continua: “o processo deenvelhecimento da população economicamenteativa na agricultura é uma expressão clara danatureza não agrícola da pobreza rural: os jovensmigram em busca de oportunidades de trabalhofora das regiões em que estão seus familiares comimensa frequência” (ABRAMOVAY, 2007, p. 03).Portanto, algumas evidências indicam que a zonarural não possui um índice de desenvolvimento queoportunize a juventude se desenvolver econômica esocialmente e realizar suas expectativas de vida.

Assim, este estudo pretende investigar aspretensões que o jovem do meio rural tem, empermanecer ou não em seu lugar de origem, a partirda ideia de que ele pode buscar novos caminhos nomeio urbano, visando outras formas deconhecimento e maiores oportunidades, bemcomo, investigar se a ida do jovem para o meiourbano é uma ruptura com o rural ou umadeterminação estrutural que não lhe deixaalternativas.

Evidenciando o contexto Jovem Rural, opresente artigo tem por objetivo, investigar apercepção da juventude agrária, sobre suasesperanças, sonhos, perspectivas eposicionamento com relação à educação, saúde elazer oferecidos no campo, buscando entender oque os move em direção ao mundo urbano ou aorural.

2. Referencial teórico

2.1 Relação Campo/CidadeSegundo Corrêa (1989), as relações campo-

cidade ao longo da história, têm sido estudadas porhistoriadores, antropólogos, sociólogos,economistas e geógrafos, porém, cada área daciência com o seu objetivo. Pode-se verificar que adiversidade de contribuições direcionadas aoestudo da relação campo-cidade, rural-urbano nãose esgotou e tampouco há um consenso entre ospesquisadores do tema. Neste sentido, um apoiopara abordar a problemática das relações campo-cidade, encontra-se no estudo de Marx e Engels(1998). Em A ideologia alemã, os autores analisamesta questão a partir da relação social de produçãoexistente, tomando como referencia a divisão socialdo trabalho, caracterizada pela separação do

trabalho industrial e comercial de um lado (nacidade) e do outro, o trabalho agrícola (no campo),portanto demarcando uma oposição de interessesdas classes sociais que vivem no campo com asque vivem na cidade.

Marx (1996) entende que nas relações campo-cidade, o primeiro se torna fonte de matéria-primapara indústria, em geral localizada na cidade (cita ocaso da lã de ovelha usada na indústria têxtil naInglaterra), além de liberar grandes contingentes decamponeses que, ao serem separados da terra edos seus instrumentos de trabalho, são lançadosàs cidades para constituírem a mão-de-obra, a“força de trabalho” utilizada na indústria. Assim, aideia de uma oposição entre campo e cidade édemonstrada na análise feita por Marx. Nestaperspectiva, foram colocadas como distintas essasduas realidades, a fim de explicar as diferentesclasses sociais e as contradições no interiordestas. De acordo com Corrêa (1989), a oposiçãoentre o rural e o urbano representava nesse períodoas classes sociais que contribuíam ou se opunhamao capitalismo.

As análises realizadas nas primeiras obras deMarx apresentam o que Araújo e Soares (2011)chamam de “uma visão urbanocêntrica”, na qual acidade possui primazia em relação ao campo,corroborando para uma imagem que o constituicomo sendo o oposto da cidade. Pode-se perceberque nessa concepção o rural representa o espaçoperiférico, atrasado e dominado pelo urbano, esteultimo considerado central e dominante, talperspectiva possui certa predominância nos dias dehoje.

Silva (1998) defende que o campo e a cidadesão territórios econômicos-políticos,interdependentes e articulados. Parece redundante,mas, no período contemporâneo não se podeconsiderar o campo e a cidade dois mundosseparados, antagônicos, já que estamos em ummundo de relações de complexidade e diversidade,assim, é difícil delimitar com precisão ondecomeça o campo e termina a cidade e vice-versa.Como afirma Bagli (2004), o campo e a cidade nãosão dois pólos extremos, mas construçõeshumanas permeadas de contradições eespecificidades, vinculadas ao seu uso, a suaapropriação e dominação.

Deste modo, cabe a reflexão de que a cidade eo campo são construções socioespaciais, quedevem ser analisadas e fortalecidas por suaspeculiaridades e singularidades. Alentejano (2003)

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relata que no campo a relação com a terra é umadas principais características. A partir disso,consideramos o campo e a cidade comoconstruções socioespaciais distintas, mas nãodicotômicas.

Sendo assim, na caracterização do rural e dourbano, é necessário atentar às condiçõessocioespaciais peculiares ao período histórico deanálise, ou seja, a contextualização que valorizeos elementos espaciais e temporais. Essaafirmação é melhor compreendida nas palavras deEndlich (2006, p.13):

[...] o debate sobre o que caracteriza o rural e ourbano percorre a história e inclui elementos queoscilam no decorrer da mesma. Asconsiderações teóricas alteram-se conforme asdimensões espaço-temporais, por isso deve-seconsiderar o período histórico.

Santos (1993) considera cidade e campocomo formas no espaço e defende que urbano erural evidenciariam o conteúdo social de taisformas. Assim, na definição de rural e urbano há anecessidade de se considerar as dimensõessociais e culturais de cada espacialidade, umavez que são relacionados à sua respectivacategoria (campo/rural e cidade/urbano). Isso ficaclaro nas palavras de Lefebvre (1991, p. 49), poispara o autor,

[...] a cidade pode ser lida como uma morfologiamaterial, uma realidade presente, imediata, umdado prático-sensível, arquitetônico. O urbanocorresponde à morfologia social, uma realidadesocial composta de relações presentes erelações a serem concebidas, construídas oureconstruídas pelo pensamento. Nesse sentido,as relações entre cidade e urbano são estreitas,já que é impossível para a vida urbanadispensar uma base prático-sensível, que seconstitui em produto e condição da dinâmicasocial.

Nessa perspectiva, o campo e a cidade nãopodem ser utilizados como sinônimos de rural eurbano, pois, apesar da dependência que seestabelece entre eles pelo fato de, teoricamente,o campo ser a base prática de manifestação dorural e, de forma semelhante, a cidade ser à basede manifestação do urbano, podemos incorrer emum erro ao realizarmos tal associação simplista.Dada à intensidade de relações que seestabelecem entre o campo e a cidade, arealidade social manifestada e associada a cadaespaço (rural e urbana) ultrapassa os limites decada um, existindo uma influência mútua entreeles.

O campo e a cidade devem ser compreendidoscomo espaços que expressam os mesmosmovimentos, isto é, a reprodução da sociedade

sobre e com uma base material. Assim, campo ecidade representam a materialização dos modos devida e de reprodução dos homens e mulheres quevivem do/no campo da/na cidade.

Dessa maneira, compreender as relações campo-cidade é uma forma de analisar a complexidade daatividade social sobre o espaço geográfico. É umadas maneiras de se apreender como os atoressociais produzem suas ideias, materializam seusinteresses no espaço, produzindo e sendoproduzidos pela moradia, trabalho, lazer e consumo.São espaços que transformam homens e mulheresem constante movimento, demonstram a mutaçãoentre o homem e suas realizações materializadasem formas-conteúdos, no campo e na cidade, entreo campo-cidade.2.2 A fixação do homem no campo e asexpectativas da juventude

Entre os principais motivos que são apontadospara a emigração rural estão, de um lado, osatrativos da vida urbana, principalmente em opçõesde trabalho remunerado (fatores de atração); e deoutro lado, as dificuldades da vida no meio rural e daatividade agrícola (fatores de expulsão). Singer(1973) esclareceu que os fatores de expulsão quelevam às migrações são de duas ordens: fatores demudança (em grande parte associada àmodernização), decorrentes da introdução derelações capitalistas nas áreas rurais, queacarretam a expropriação dos camponeses, aexpulsão de agregados, parceiros e outrosagricultores não proprietários, tendo como objetivo oaumento da produtividade do trabalho e aconsequente redução no nível de emprego; e fatoresde estagnação, “que se manifestam sob a forma deuma crescente pressão populacional sobre umadisponibilidade de áreas cultiváveis que pode serlimitada tanto pela insuficiência física de terraaproveitável como pela monopolização de grandeparte da mesma pelos grandes proprietários”(SINGER, 1973, p. 38). Resumidamente, “os fatoresde mudança fazem parte do próprio processo deindustrialização, na medida em que este atinge aagricultura, trazendo mudança de técnica e, emconsequência, o aumento da produtividade dotrabalho”. “Os fatores de estagnação resultam daincapacidade dos produtores em economia desubsistência de elevarem a produtividade da terra”.(SINGER, 1973, p. 38)

Segundo Damiani (2006, p. 61), “Os estudosgeográficos sobre migrações envolvem uma

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perspectiva histórica ampla e acompanham ofenômeno desde a antiguidade até nossos dias”.Para esse autor, o êxodo rural pode ser entendidocomo uma migração espontânea (aparentementeespontânea), consequência de motivações políticase econômicas conjunturais ou causas econômicasestruturais, não elucidando as condições históricasdo processo de expropriação (DAMIANI, 2006). Nocaso específico das migrações ocorridas no Brasil,em especial, de nordestinos para outras regiõesbrasileiras, devem ser consideradas questõesclimáticas (a seca), políticas (Coronelismo eoligarquias), econômicas (ausência de empregossuficientes), entre outras.

Durante longo período, o êxodo rural foiconsiderado como inevitável e resultado lógico deum processo de modernização das atividadesagrícolas. Logo, persiste no país “[...] a crença deque milhares de brasileiros continuariam deixandoos campos em direção, em um primeiro momento,às pequenas cidades, para depois migrarem paragrandes cidades e periferias das metrópoles”(DEL GROSSI et al., 1997).

Na análise de Speyer (1983, p. 69), a fixação dohomem no campo respondia a interesses dasesferas de poder no campo e na cidade, isto é, nocampo permanecia a mão-de-obra e “curral”eleitoral para a manutenção da hegemonia dosgrandes proprietários rurais; na cidade, por sua vez,continha-se o fluxo migratório e os transtornoscausados por essa mobilidade.

Assim, pode-se perceber que por questão depoder, evitava-se ao máximo o fluxo migratório.Contudo, mesmo diante da contensão dessamobilidade, por vazes se tornou inevitável,especialmente pela escassez de politicas públicasque atendessem a quesitos básicos como saúde eeducação. Neste contexto, o principal fluxomigratório que deveria ser contido era aquelecomposto pelos jovens, e a educação escolar foium dos fatos da questão:

Surge assim o ruralismo pedagógico, movimentoque teve como finalidade ruralizar o ensinoprimário, fazendo que este se transformasse eminstrumento de fixação do homem no campo, nabusca de esvaziar as correntes migratórias. [...] Noentanto, a motivação dos ruralistas estava voltadapara a fixação do homem no campo mais pormotivos econômicos e políticos que humanistas eculturais (SPEYER, 1983, p. 69, grifos da autora).

O que na verdade havia era um conflito entre ocapitalismo industrial e a economia agrícola. Apretensão de fixar o homem na terra nesse período,visava atender os interesses da elite dominante na

manutenção da ordem social e econômica.Mediante tais objetivos, o Ruralismo Pedagógicodefende a reforma da escola rural e a propostaconforme afirma Abrão (1986, p. 147), é “aruralização no sentido de desurbanizar o ambienteescolar da roça para assim se transformar eminstrumento eficiente de fixação do homem nocampo”.

O discurso de “fixar o homem no campo” foioriginado no seio da burguesia, num momento dedesenvolvimento do Estado capitalista burocrático.Ela estava preocupada não apenas com o êxodorural, mas com a construção de um sistemanacional de educação sob responsabilidade doEstado. Hoje, a “reedição” do Ruralismopedagógico pelos movimentos da Via Campesinaintegra um contexto de reformas e de diminuiçãodas responsabilidades do Estado para com aeducação, mediante políticas públicas localistasque atendam às necessidades de um capitalismoem crise (LOVATO, 2009, p. 06).

À burguesia agrária também interessa que partedos camponeses continue no campo, para servir deforça de trabalho semiservil nos latifúndios de novotipo.

É a base material que vai determinar apermanência do trabalhador e nortear seu rumo. Amobilidade espacial é um fator muito intenso nosdias de hoje, próprio do movimento que o capitalperfaz para sua acumulação na atualidade,caracterizado pela flexibilidade e vulnerabilidadedo mercado (LOVATO, 2009, p. 06).A mobilidade espacial é algo inerente ao próprio

movimento do capital, que em cada momentohistórico determina as condições e os espaços aserem ocupados. A defesa do Ruralismopedagógico está vinculada às políticas compensa-tórias, focalizadas, existentes no campo. É maisuma forma de segmentação da sociedade, “é umanecessidade que o capitalismo contemporâneocriou, como forma de segmentar a sociedade paraimplementar políticas públicas para amenizar osconflitos sociais” (LOVATO, 2009, p. 10).

Atualmente, a defesa de uma educação quefavoreça a fixação do homem no campo demonstraum certo rejuvenescimento de uma tendênciaruralista, que as políticas públicas educacionaistêm direcionado para resolver os problemasgerados pelo capital. Nesse cenário, a Educaçãodo Campo, em sua proposta representada pelossetores populares da sociedade, Igreja Católicaprogressista, partidos ditos de esquerda eintelectuais comprometidos com a transformaçãosocial, termina por adotar uma postura

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ultrapassada ao defender a fixação do homem nocampo, pois conforme ressalta Abrão (1986, p.127), “não estaria enganado se afirmasse que areedição traz subentendida a mensagem segundo aqual as ideias defendidas na década de trintacontinuam válidas, são verdadeiras, a despeito dasmudanças ocorridas durante essas décadas”.

Mas a fixação dos camponeses no campodepende de diversos fatores. Não é a pedagogiaque fixará os camponeses no campo, mas suascondições de existência. Os movimentos da ViaCampesina atribuem à pedagogia um poder que elanão tem. As condições de vida no campo não sealteraram muito do início do século XX até os diasde hoje, mesmo com toda a tecnologia, com luzelétrica, asfaltamento das principais rodovias,telefonia rural e outros instrumentos reivindicadoshistoricamente pelo movimento do Ruralismopedagógico. A maioria dos camponeses ainda nãopossui esses bens e o êxodo rural só temaumentado, inchando as periferias das cidades. Aeducação do campo não passou por mudanças queelevassem sua qualidade e acesso a toda apopulação (BEZERRA NETO e BEZERRA, 2007, p.139), o que demonstra que, se não houvertransformação na estrutura semifeudal do campo,não será possível sair desse atraso histórico a queessas populações estão submetidas. A pequenapropriedade não é suficiente para toda a famíliaquando os filhos ficam adultos. Ou eles seguempara a ocupação de latifúndios ou vão trabalhar nacidade. Portanto, sem a posse da terra e ascondições materiais de permanência, o êxodo ruralé inevitável.

A luta para que o trabalhador rural permaneça nocampo, mais do que um problema pedagógico,deve ser vista como um problema econômico,pois há grandes dificuldades de se permanecerna roça para aqueles que não têm terra suficientepara produzir de acordo com as necessidades domercado, mesmo que ainda existam aqueles queinsistem em se manter como meeiros,arrendatários ou parceiros, praticamenteinviabilizados pelas condições de vida oferecidasnaquele ambiente (BEZERRA NETO e BEZERRA,2007, p. 140).

Assim, o retorno ao ideário do Ruralismopedagógico é mais uma forma de reforçar o carátersemifeudal do campo brasileiro, com todas as suascontradições produzidas e reproduzidas nocontexto do capitalismo burocrático.2.3 Campo ou cidade: a decisão do jovem

No meio de todo esse impasse entre ficar nocampo, trabalhando em prol da produção ruralvisando à própria subsistência, ou migrar para a

cidade em busca de outras oportunidades,encontra-se a juventude. A faixa etária consideradacomo juventude é questão a ser discutida, limiteesse diferenciando meio urbano e meio rural.

Os jovens brasileiros na faixa etária de 15 a 24anos, somam 34,1 milhões de pessoas,correspondendo a 20,1% do total da população; emáreas rurais vivem 5,9 milhões de jovens, (IBGE,2000). Esses dados mostram que apenas 17,3%dos jovens brasileiros moram na zona rural. Háindicadores que mostram que muitos deles trocamo campo pela cidade, este fato evidencia umproblema, assim como uma preocupação quecomeça a se fazer presente no meio acadêmicoem relação ao futuro da juventude rural, tais como,a sobrecarga do mercado de trabalho na zonaurbana, o desaparecimento da agricultura familiar, afalta de mão-de-obra no campo, entre outras.

Nessa fase do desenvolvimento do ciclo vital,cada pessoa passa por transformações de formadiferenciada. Devem ser levadas em conta asdiferenças de idade, pensamentos, sentimentos ede ações entre os jovens e, principalmente,conflitos gerados pelas desigualdades sociais eeconômicas que podem ser traduzidos pela falta deoportunidades, o que impossibilita a realização desuas expectativas. Expectativas podem sertraduzidas na esperança de realizar o que sedeseja, tanto no tempo presente quanto no tempofuturo (OLIVEIRA, 2007). Para um direcionamentode políticas públicas, a fim de que sejam eficazesCarneiro (2005, p. 247) afirma que “uma dasquestões que tem recebido atenção especial é odesejo dos jovens de permanecerem ou não nocampo e as condições de realização dessesdesejos e de suas aspirações profissionais”.

Pelo menos três hipóteses definem a falta deinteresse dos jovens em permanecer no campo,uma vez que a cidade poderia proporcionarmelhores condições e perspectivas de vida: asaúde, a educação e o lazer.

O lazer é aspecto importante para aconstituição da identidade do jovem. Para Barral(2004) a identidade do jovem é construída social esimbolicamente, através das diversas práticas delazer. O autor continua comentando, articulando olazer e a educação, ao afirmar que o lazer e asmanifestações culturais estão assumindo, cada vezmais, o papel antes destinado à família, por outrolado o trabalho e a escola ocupam um papelrelevante na formação da identidade do jovem,principalmente pela identificação com o grupo.

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A saúde, outro aspecto de base para odesenvolvimento, esta intimamente ligada aSegurança alimentar. Os autores Belik, Silva eTakagi (2001) lembram que a força de uma naçãodepende da força do seu povo. Quando as pessoassão saudáveis, fortes e bem alimentadas, temenergia, criatividade, segurança, coragem e valornecessários para solucionar problemas, criargrandes obras artísticas, contribuir para os avançoscientíficos e levar uma vida digna e alegre, ou seja,colaborar para a evolução da civilização para níveismais altos de desenvolvimento. Portanto, a saúdeé, também, consequência da segurança alimentare da educação.

A educação e a formação, também sãoessenciais para que o jovem se identifique comocidadão do campo, auxiliando na luta por melhoriasno lugar, permitindo uma,

[...] “coesão solidária”, que deve serconstantemente educável, no sentido que acomunidade se atualize e impregne,ininterruptamente, do hábito cultural da incessantepesquisa e discussão de nova forma para se unir,cooperar e agir em direção à consecução de seuspróprios rumos de desenvolvimento econcernentes meios de viabilização (ÁVILA, 2003,p.35-36).Como mostra Castro (2005, p.322), “a imagem

de um jovem desinteressado pelo campo e atraídopela cidade não é nova, faz parte da literaturaclássica sobre o campesinato”, que, juntamentecom estudos mais recentes, tratam a questãocomo “intrínseca ao processo de reprodução socialdo campesinato”. Um dos autores que adotam esteponto de vista é Patrick Champagne (1986), paraquem a migração pode ser explicada pela rejeiçãoà atividade agrícola. Segundo este autor, “a recusados filhos de suceder aos pais é, em primeiro lugar,recusa do modo de vida dos pais”; a crise dereprodução é então uma crise de identidade social(CHAMPAGNE 1986 apud BRUMER 2004, p.03). Oautor constatou que, ao fazer a sua avaliação domodo de vida rural, os jovens comparam-no com omodo de vida urbano, o que os leva a considerar aagricultura de maneira mais negativa do quepositiva. Entre os aspectos negativos, elesdestacam a ausência de férias, de fins de semanalivres e de horários regulares de trabalho. Elesmencionam ainda a atividade agrícola penosa, durae difícil, que submete os trabalhadores ao calor eao frio e a posições de trabalho pouco confortáveis,assim como os rendimentos baixos, irregulares ealeatórios. Como aspecto positivo os jovenssalientam a relativa autonomia do agricultor, quenão depende de um patrão.

As representações dos jovens resultam dasocialização e refletem a visão de mundo e aconcepção da profissão dos pais, bem como suapercepção mais ou menos pessimista dasperspectivas futuras. Ao fazer essasconsiderações, os jovens comparam suascondições de vida e aquelas dos trabalhadoresurbanos, levando em conta principalmente asalternativas de lazer, o tempo livre e o volume depreocupações (CHAMPAGNE 1986 apud BRUMER2004, p.03).

Vale ainda salientar que a rejeição à atividadeagrícola não significa necessariamente rejeição àvida no meio rural. Neste sentido, Wanderley(2000), participa do debate com a ideia sobre o “fimdo rural”, posicionando-se contra ela, ao mostrarque o rural representa um modo particular deutilização do espaço e de vida social. A autoraconsidera o meio rural como um espaço de vidasingular, constituído historicamente a partir dedinâmicas sociais internas e externas, as primeirasrepresentadas pelas formas e a intensidade da vidasocial local e as segundas expressas pelaintegração aos espaços sociais mais amplos,principalmente através de complexas relaçõesassociadas ao mercado e à vida urbana(WANDERLEY, 2000).

Outro aspecto apontado pelas pesquisas sobreos jovens rurais é a predominância de moças entreos que saem das áreas rurais, levando à relativamasculinização do campo. Assim como existemdiferenças nos processos de socialização e nasoportunidades de inserção na atividade agrícolapara rapazes e moças (FREIRE et al., 1984), elese elas diferenciam-se também nas representaçõessobre a vida no meio rural, sendo as moças maiscríticas e com posições mais negativas do que osrapazes. A posição mais crítica das mulheresdecorre da desvalorização das atividades quedesempenham na agricultura familiar e pelainvisibilidade de seu trabalho, mas também pelopouco espaço a elas destinado na atividadeagrícola comercial, onde atuam apenas comoauxiliares (PAULILO, 2004).

Quando o jovem passa a ter maioresresponsabilidades dentro da propriedade rural, emrelação aos deveres como agricultor seja eleprodutivo, econômico ou social, ele sente asdificuldades que a agricultura familiar temencontrado ao longo dos anos, em relação aocrédito, assistência técnica, etc. A partir domomento que se envolve com esses problemas

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seu desenvolvimento pessoal se torna mais difícil,pois é nessa fase da vida que estão planejando arealização de seus projetos pessoais que muitasvezes são interrompidos pelas condições que onúcleo familiar se encontra (SPANEVELLO eVELA, 2003).

O histórico de ausência de políticas públicas noBrasil, da dificuldade e insuficiência aos serviçosde saúde e educação de boa qualidade, bem comoo acesso ao lazer tem reduzido a vontade dosjovens permanecerem vivendo na zona rural. A faltade apoio para a criação de alternativas de trabalhoe meios diversificados para a composição da rendaaumenta ainda mais essa tendência dos jovens emdeixarem o campo, que muitas vezes sãoincentivados até pelos próprios pais poracreditarem que na cidade terão todas asoportunidades para a concretização dos seussonhos (SILVA et al., 2006).

Com as dificuldades que os jovens encontramno acesso a terra há um desestimulo para acontinuidade da vida no campo, pois existe umaansiedade em busca da independência financeiraatravés do trabalho remunerado o que, na maioriados casos, não acontece quando ele trabalha napropriedade com seus pais. Em alguns casos ospais disponibilizam uma parte da propriedade parao filho “colocar o roçado”1 e tentar obter algum lucronaquela terra. Em outros casos a terra é muitopequena e qualquer concessão do pai para o filhocompromete a subsistência da família. Acrescente-se a dificuldade de obtenção da terra à falta deconhecimento técnico, insuficiência de escolasagropecuárias e finalmente para muitos sair decasa para estudar não é permitido, e, muitasvezes, todo seu conhecimento advém do queaprendeu com seus pais. O conteúdo da escola,em geral, é direcionado apenas para a realidadeurbana, além disso, a falta de assistência técnicapara orientação dos mesmos, falta de crédito paraele iniciar alguma atividade, entre outros fatoresinterferem fortemente no interesse em permanecerno campo. Já as filhas ainda sofrem um poucomais na dependência dos pais e acabamemigrando para a cidade em busca de trabalhoremunerado e sua independência (CARVALHO etal., 2009).

Deste modo a baixa educação e a insuficiênciade políticas públicas têm gerado vários problemas,entre os quais se pode fazer referência aoanalfabetismo; grande número de crianças e jovensfora da escola; a carência de ensino médio rural;

não valorização e formação de docentes; docentesalheios à realidade rural; abandono da escola rural;ausência de infraestrutura adequada; carência derenovação pedagógica; currículo e calendárioescolar alheios à realidade rural; escolasdeslocadas das necessidades e das questões domundo rural e alheia aos interesses dostrabalhadores rurais, de seus movimentos eorganizações, e assim estimuladora do abandonodo campo (QUEIROZ, 2001).

É importante ressaltar que para cursar o ensinomédio, em geral, o jovem rural precisa ir para assedes dos seus municípios regularmente, ondeterão acesso à outra forma de vida e diferentesmodos de relacionamento social ao qualcomeçarão a confrontar os valores da vida nocampo e na cidade e despertarão o desejo de vivertal modo de vida diferente do qual foram criados(SIQUEIRA, 2004). No entanto, há uma visãopositiva nessa circulação entre o campo e acidade, pois os jovens poderão tirar suas própriasconclusões quanto ao melhor modo de vida, terãouma melhor visão quanto a diferentes culturas eaprenderão a se socializar em outros grupos.

Conhecendo-se as tendências migratórias, asvisões e perspectivas dos jovens quanto à atividadeagrícola, surge à necessidade de inverter a questãoe procurar pesquisar aspectos positivos quefavoreçam a sua permanência. O estudo dos jovensrurais também apresenta sua importância para acriação e desenvolvimento das políticas públicas, afim de torná-las mais eficientes. Nos estudos queabordam essa temática, Carneiro (2005, p. 247)mostra que “uma das questões que tem recebidoatenção especial é o desejo dos jovens depermanecerem ou não no campo e as condiçõesde realização desses desejos e de suasaspirações profissionais”.

Assim, procurando visar os seus reais desejose aparições, os jovens passam por esse processode discernimento e decisão entre permanecer nocampo, usufruindo somente do que as atividades eas vivencias rurais lhes podem oferecer, ou migrarpara a cidade em busca de novas oportunidadesque lhes proporcionem um estilo de vida diferente etalvez mais promissor.

3. Procedimentos metodológicos

O delineamento da pesquisa é teórico-empírico.Assim, com base em fundamentação teórica, apesquisa será realizada por meio de revisão deliteratura e de pesquisa de campo no contexto da

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agricultura familiar. Para tanto, a pesquisa serádescritiva, com método qualitativo. Pesquisasdescritivas, como o nome indica, são aquelas quedescrevem os fatos encontrados com maiorfrequência em um dado ambiente de pesquisa.

A pesquisa exploratória foi utilizada paralocalizar as associações das agrovilas viabilizandoo contato com os jovens. Na pesquisa de campo foipossível obter informações sobre a dinâmicasocioeconômica do jovem do campo frente asperspectiva do meio urbano.

A pesquisa foi realizada em assentamento ruraldo munícipio de Mossoró-RN, mais precisamenteem cinco agrovilas, que denominamos como:Agrovila A, Agrovila B, Agrovila C, Agrovila D eAgrovila E, onde em visitas prévias detectou-semaior acessibilidade aos jovens. Foram realizadasentrevistas com 30 jovens com faixa etária de 18 a25 anos. A seguir a tabela com os respectivospseudônimos utilizados na pesquisa. O critério deseleção dos sujeitos ocorreu com base naacessibilidade.

Abordou-se nessa pesquisa organizaçõessociais em que predominam a participação dejovens, e ainda jovens das agrovilas citadas nafaixa etária entre 18 a 25 anos, sem distinção desexo. O número de entrevistas foi d eterminadopelo critério de exaustão, ou seja, quando em cadaagrovila as entrevistas deixarem de acrescentarnovos dados. Foram entrevistados um total de 30jovens.

Foram utilizados roteiros de entrevistasemiestruturado que trataram de questões como: aexpectativas que o jovem do campo possui comrelação à educação e a formação acadêmica;expectativas com relação ao futuro e se hápretensão em deixar o assentamento; sobre comoé inserido no assentamento o acesso ao lazer,saúde e educação; motivação para permanecer oupara deixar o campo, entre outras questões.

De acordo com a disponibilidade de respostados entrevistados, foram formuladas novasperguntas que trouxeram maior detalhamento eaprofundamento dos pontos em questão, a fim deenriquecer a pesquisa exploratória.

4. Análise e discussão dos resultados

Os jovens do assentamento, objeto destapesquisa, pretendem buscar novas oportunidadesde estudo e trabalho no meio urbano. Pelo menos67% dos entrevistados consideram-se insatisfeitoscom o acesso a educação e as oportunidades detrabalho do campo. Na entrevista, um dos jovensrelatou ser “impossível viver em um local onde nãose tem acesso a uma boa escola e muito menos aum emprego digno”. Este relato remete aimportância dada por Abramovay (2007) ao lembrarque uma das missões fundamentais da extensãorural é favorecer a criação e as oportunidades deemprego e geração de renda, que seja capaz deatender a maior parte dos jovens da área rural, cujapossibilidade de realização profissional naagricultura é cada vez menos provável.

De acordo com alguns entrevistados a“qualificação dos professores das escolas doassentamento é inferior a dos professores dasescolas da cidade”, 60% dos jovens consideramque a educação oferecida no campo é diferenciadada que é oferecida na cidade, alguns entrevistadosconsideram que a educação se torna maisdiferenciada no campo pela “falta de incentivo dosprofessores” e pelo desinteresse dessesprofissionais em “pelo menos tentar fornecer umensino de qualidade”. Por outro lado, 40%afirmaram que “quando se trata do ensino ofertadona rede pública de educação não há distinção deconteúdos ou de qualidade no ensino”.

Para 77% dos entrevistados a vida noassentamento não oferece nenhuma outra atividadereferente à educação que não seja nos horários deaula, mas 23% disseram que participam de umprograma do Governo do Estado chamado “MaisEducação”, de acordo com eles o programa ofereceoficinas de teatro e aulas de reforço, no entanto,não acontece com frequência. De todos osentrevistados, somente 20% disseram já terparticipado de algum curso de capacitação para omercado de trabalho, 50% nunca participaram denenhum tipo de curso e 30% disseram só terparticipado de cursos ofertados pelo projeto do PETe PROEXT da UFERSA.

Uma das entrevistadas alega que os jovens do

Tabela 1 – Agrovilas do Assentamento de Mossoró-RN. Local investigado No de entrevistas No total de famílias

Agrovila A 4 183

Agrovila B 8 100

Agrovila C 4 110

Agrovila D 6 83

Agrovila E 8 80

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

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assentamento não têm acesso à capacitaçãoprofissional no campo e que “raramente somosbeneficiados com algum programa gratuito que nosdê formação para o mercado de trabalho”. Nessecontexto Carneiro (2005, p. 247) lembra que paraum direcionamento de políticas públicas, a fim deque sejam eficazes, “uma das questões que temrecebido atenção especial é o desejo dos jovens depermanecerem ou não no campo e as condiçõesde realização desses desejos e de suasaspirações profissionais”. O ingresso em umauniversidade faz parte dos sonhos dos jovensassentados, considerando que 80% deles, mesmoaqueles que pararam de estudar, pretendemingressar nessa instituição em algum momento desua trajetória. Esses números vão ao encontro daafirmação de Ávila (2003), que define a educação ea formação são essenciais para que o jovem seidentifique como cidadão do campo, auxiliando naluta por melhorias no lugar.

Dos que pretendem deixar o assentamento,60% correspondem a jovens do sexo feminino, oque confirma as pesquisas de Freire et al. (1984),que afirma que dos jovens rurais é a predominânciade moças entre os que saem das áreas rurais,levando à relativa masculinização do campo. Apesquisa também permitiu observar que 27% dosjovens do sexo masculino sentem-se maisresponsáveis pela manutenção e sucessão dasatividades agrícolas iniciadas por seus pais, issoexplica a afirmação de Oliveira (2006), em que dizque, o jovem rural começa a trabalhar no campopor volta dos 10 a 12 anos, realizando algumasatividades mais simples e por volta dos 16 ou 17anos muitas vezes já assume o papel de adulto napropriedade.

Outro fator determinante para a permanênciadesses jovens no campo está ligada as relaçõesafetivas e a dependência financeira, 69% dessesjovens disseram que as relações afetivas com seusamigos e familiares o impediriam de deixar ocampo, e 57% disseram que a dependênciafinanceira os impediam de sair, mas segundodepoimento de um dos jovens, esses dois fatoresnão irão o impedir quando ele decidir sair docampo, pois “a condição de vida no campo estácada vez mais difícil e monótona, eu não possoviver a minha vida toda dependendo dos meus paise esperando que um emprego caia do céu. Essefato reafirma o que diz Silva et al. (2006), a falta deapoio para a criação de alternativas de trabalho emeios diversificados para a composição da renda

aumenta ainda mais essa tendência dos jovens emdeixarem o campo, que muitas vezes sãoincentivados até pelos próprios pais poracreditarem que na cidade terão todas asoportunidades para a concretização dos seussonhos.

Mas as oportunidades de trabalho e de umaformação digna não são as únicas pretensõesdesses jovens que moram no campo, eles tambémsentem falta de um espaço destinado ao lazer,50% dos jovens disseram que o assentamento nãooferece nenhuma opção de lazer, um dos jovensfalou que “o lazer do assentamento é apanharacerola”. Os outros 50% se dividiram entre ir àcasa dos amigos, ir à igreja e jogar bola. Carneiro(1998, p.257), lembra que “a ausência de espaçosde lazer é responsável, entre outros fatores, pelaavaliação negativa do campo em relação à cidade epelo desejo de migração”.

No que diz respeito à dimensão da saúde nomeio rural os jovens foram unânimes em responderque o acesso a saúde básica aconteciasemanalmente nas 5 agrovilas, no entanto,avaliaram o serviço como precário e insuficientepara todos moradores. Os autores Belik, Silva eTakagi (2001) ressaltam que quando as pessoassão saudáveis, fortes e bem alimentadas, temenergia, criatividade, segurança, coragem e valornecessários para solucionar problemas, ou seja,colaborar para a evolução da civilização para níveismais altos de desenvolvimento.

Apesar das criticas foi possível perceber que amaioria dos jovens, o que corresponde a 77%,gostam da vida no assentamento pelatranquilidade, pelas questões climáticas e pelasamizades. Desses jovens, 20% não querem nuncater que deixar o assentamento, pois já se sentemparte daquele lugar, 67% só deixariam oassentamento para estudar ou trabalhar, e 13%pretendem deixar por questões de insatisfação comas lideranças das agrovilas, 13 jovens responderamque se saírem do assentamento pretendem voltarfuturamente.

5 Considerações finais

Essa pesquisa se propôs a investigar aspretensões que o jovem do meio rural tem, empermanecer ou não em seu lugar de origem,objetivando analisar a percepção da juventudeagrária, sobre suas esperanças, sonhos,perspectivas e posicionamento com relação àeducação, saúde e lazer oferecidos no campo,

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buscando entender o que os move em direção aomundo urbano ou ao rural. Assim, percebeu-se queos jovens do assentamento gostam de morar nocampo, mas que pretendem buscar novasoportunidades de estudos e de trabalho no meiourbano, pois consideram que a educação oferecidano meio rural é inferior aquela oferecida na cidade.

A pesquisa permitiu observar que a educação, asaúde e o lazer são fatores relevantes para osjovens, mas que as questões de oportunidades detrabalho e capacitação para o mercado de trabalhotambém são essenciais para a permanência nocampo, pois esses jovens sentem-se incomodadosem depender financeiramente de seus pais.

Observou-se que os jovens assentados têm apretensão de sair do assentamento para estudar outrabalhar e só pretendem voltar ao assentamentose tiverem alguma atividade que proporcione renda.Mas entre esses jovens há aqueles que querembuscar uma formação que possa ser desenvolvidano campo. Esses consideram que com uma boaformação é possível conseguir um emprego naagroindústria e concomitantemente administrar suapropriedade rural.

Percebeu-se que a vida tranquila do campo e oclima são fatores que motivam os jovens a ficaremno assentamento, mas a monotonia os deixaentediados. As relações afetivas e financeirastambém influenciam muito na decisão de deixar ocampo, mas a necessidade de estudar ou trabalharos fariam ir para cidade em busca de seusobjetivos. Por outro lado, notou-se uma certarejeição desses jovens sobre as questões queenvolvem as associações rurais e as lideranças doassentamento, alguns relataram que os conflitosentre os moradores e os lideres também osmotivam a deixar o assentamento.

A pesquisa mostrou que as mulheres anseiammais pela vida na cidade do que os homens, essesnúmeros podem estar relacionados ao fato de queo trabalho desenvolvido no campo pelas mulheres émenos valorizado do que o trabalho desenvolvidopelos homens. Frente a isso, essa pesquisasugere estudos futuros relacionados ao trabalhodesenvolvido no campo pela mulher, que muitasvezes acabam atuando como auxiliares, sobrandoassim pouco espaço para o desenvolvimento deatividades agrícolas comerciais por parte delas.

Por fim, atenta-se ainda para as limitaçõesdeste estudo, visto que, as entrevistas foramrealizadas apenas com uma parcela dos jovensassentados, não podendo assim evidenciar as

pretensões de todos os jovens do assentamentoem questão.

Assim, é possível concluir que as pretensõesdos jovens em migrar para a cidade é em grandeparte para a realização de suas aspiraçõesprofissionais, e que muitos pretendem voltar aocampo, o que, em alguma medida, questiona aspossibilidades de esvaziamento do campo eenvelhecimento da população rural

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Notas:Clarear/roçar o mato ou terreno para ser cultivado

103 Ano 16, n. 32, outubro 2014informe econômico

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*Graduanda em Administração pela UniversidadeFederal Rural do Semi-Árido – UFERSA. Bolsista doPrograma Institucional de Bolsas de IniciaçãoCientífica - PIBIC/CNPq. [email protected]**Graduando em Administração pela UniversidadeFederal Rural do Semi-Árido – UFERSA.Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET/Gestão Social. [email protected]***Graduanda em Administração pela UniversidadeFederal Rural do Semi-Árido – UFERSA.Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET/Gestão Social. [email protected]****Graduanda em Administração pela UniversidadeFederal Rural do Semi-Árido – UFERSA.Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET/Gestão Social. [email protected]*****Doutora em Ciências Sociais pela PontifíciaUniversidade Católica – PUC-SP.Professora adjunta da Universidade Federal doSemi-Árido – UFERSA. [email protected]

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DICAS DE LIVROS da professora Socorro Lira/UFPI

Título: Globalização edesenvolvimentoAutor: Fernando AlcoforadoEditora Nobel

Título: O imperialismo: fasesuperior do capitalsimoAutor: LêninEditora Global

Título: A crise de 1929Autor: Bernard GazierEditora L&PM

Título: Os antecedentes datormenta. Origens da criseglobalAutor: Luiz Gonzaga BelluzzoEditora Unesp

Título: Os anos de chumbo.Economia e políticainternacional no entreguerrasAutor: Frederico MazzucchelliEditora Unesp

Título: Meio ambiente edesenvolvimento econômico.Tensões estruturais.Org.: Gilberto DupasEditora Unesp

Título: Poder e dinheiro: umaeconomia política globalizadaOrgs.: Maria da ConceiçãoTavares e José Luiz FioriEditora Vozes

Título: Por uma outraglobalização: do pensamentoúnico à consciência universalAutor: Milton SantosEditora Record

Título: Globalização dos capitaise os Estados nacionaisAutor: Davidson MagalhãesEditora Anita Garibaldi