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Texto: AEROPORTO
Carlos Drummond de Andrade
Esta situação de aprendizagem foi elaborada a partir de algumas
deficiências constatadas nos alunos do 9º. ano fundamental, conforme
segue:
ORGANIZAR EM SEQUÊNCIA LÓGICA ITENS DE INFORMAÇÃO
EXPLÍCITA, DISTRIBUÍDOS AO LONGO DE UM TEXTO.
INFERIR INFORMAÇÃO PRESSUPOSTA OU SUBENTENDIDA EM
UM TEXTO LITERÁRIO, COM BASE NA SUA COMPREENSÃO
GLOBAL.
Os procedimentos de leitura especificados abaixo estão
embasados, principalmente, no texto de Roxane Rojo: Letramento e
capacidades de leitura para a cidadania.
Segundo ROJO, “... ser letrado e ler na vida e na cidadania é muito
mais que isso: é escapar da literalidade dos textos e interpretá-los,
colocando-os em relação com outros textos e discursos, de maneira
situada na realidade social, é discutir com textos, replicando e avaliando
posições e ideologias que constituem seus sentidos; é enfim, trazer o teto
para a vida e colocá-lo em relação com ela. Mais que isso, as práticas de
leitura, na vida são muito variadas e dependentes do contexto, cada um
deles exigindo certas capacidades leitoras e não outras.”
Algumas capacidades de compreensão ou estratégias indicadas por
ROJO, também foram seguidas, como:
a) “Ativação de conhecimentos de mundo: previamente à leitura ou
durante o ato de ler, o leitor está constantemente colocando em
relação seu conhecimento amplo de mundo com aquele exigido e
utilizado pelo autor no texto”;
b) “Antecipação ou predição de conteúdos ou propriedades de
textos: o leitor não aborda o texto como uma folha em branco. A
partir da situação de leitura, de suas finalidades, da esfera de
comunicação em que ele se dá; do suporte do texto (livro, jornal,
revista, out-door etc); de sua disposição na página; de seu título, de
fotos. legendas e ilustrações, o leitor levanta hipóteses tanto sobre
o conteúdo como sobre a forma do texto ou da porção seguinte de
texto que estará lendo. Esta estratégia opera durante toda a leitura
e é também responsável por uma velocidade maior de
processamento do texto, pois o leitor não precisará estar preso a
cada palavra do texto, podendo antecipar muito de seu conteúdo.
[...].”
PROCEDIMENTOS DE LEITURA:
A primeira coisa a fazer é situar tipificação do gênero textual, no
caso, gênero literário; o subgênero: narrativo, e dentro do
narrativo, o subgênero “crônica”:
1. GÊNERO NARRATIVO: subgênero: CRÔNICA – escritura sobre
fatos do cotidiano, do banal, do comum, situalização de um
acontecimento flash.
No texto lido, o uso da palavra literária, da variedade padrão,
eleva a narração da banalidade, do corriqueiro, construindo a
literariedade textual.
Essa palavra literária é confirmada pelo efeito de ‘poetização’,
uma espécie de sublimação do fato comum; ou transmutação do
conteúdo ordinário em Beleza estética.
2. A LINGUAGEM: literária, que vira estilo, marca drummondiana
Uso da norma-padrão
Exemplos: “quadrimotor”/ “vã”/ “parco”/ “plausível”/
“hóspede ameno”/ “ostensivo”/ “abonar”/ “importuno”/
“apraz”/ “ritos sacros”/ “pupilas”/ “puído”
Ação: decodificação da linguagem, auxílio vocabular ao aluno;
a palavra contextualizada.
3. LEITURA DE SUPERFÍCIE: o ato de ler e compreender o que se
lê:
Um narrador vai acompanhar o amigo ao aeroporto Galeão, no
Rio de Janeiro, e no tempo de espera começa a refletir sobre
aquele momento de despedida sem muitas palavras de Pedro, e
a reflexão se expande para os acontecimentos que ocorreram
durante os dois meses e meio em que o amigo Pedro esteve
hospedado em sua casa, destacando aos poucos o perfil do
amigo.
Depois da partida do avião, o narrador sente o aeroporto vazio.
Pedro, agora, está no azul do céu, voando para outro destino.
Tudo fica vazio. A vida esvazia-se sem Pedro.
4. LEITURA DE PROFUNDIDADE (pinçar elementos significativos
para a CONSTRUÇÃO DO AMIGO PEDRO:
5. O sistema linguístico: emissão de sílabas, não pronuncia palavras,
sua comunicação é por gestos e expressões - mesmo assim se faz
comunicar admiravelmente.
6. O SORRISO: durante a estada na casa do narrador (dois meses
e meio), este pode constatar que o amigo Pedro sorri porque ver
o ser humano lhe dá prazer:
ri sem motivo
sorriso como “arma” para desarmar pessoas ao seu redor
Sorriso especial, “revelador de boas intenções”, tanto no
ocidente quanto no oriente ou em trechos da rua onde vive o
narrador
Sorriso sem malícia
Sorriso com falta de dentes
Todos (fornecedores, vizinhos e desconhecidos) ficavam
agradecidos pelo sorriso encantador
7. Os OLHOS:
Olhos azuis que encantam qualquer um
A pureza do azul afastava suspeitas intencionalidades de
seus atos
8. O COMPORTAMENTO DE PEDRO:
Pedro dá trabalho/ vai se formando uma identidade em si
mesmo e no outro
Pedro requeria exigências como: horários/
comida/sabonetes/criados/ tudo especial
Comportamento merecedor de distinções:
Não era egoísta.
Não era importuno
Não se zangava
Sempre sorria; seu sorriso e presença compensavam tudo:
providências, privilégios
Recebia tudo com naturalidade, porque sabia-se merecedor
9. O DORMIR
Dormia tanto à noite quanto durante o dia e isso acarretava o
respeito das pessoas a seu sono:
O dormir acarretou mudança de hábitos nas pessoas: falar
baixo, a família trocou os concertos de Bach pelo
aborrecimento ou tortura da TV; andava-se na ponta dos pés
ou descalço e no escuro, para não importuná-lo, nem
interromper os sonhos de Pedro
Essas horas de sono eram respeitadas como “rito sacro”
(como expressão do sagrado)
10. A INCONTINÊNCIA URINÁRIA – situação que jamais zangava o
narrador, mesmo que não respeitasse os cômodos e urinasse
em toda a parte (coisa perdoável)
11. Os OBJETOS E O ATO DE EXPLORAÇÃO
Pedro não podia ver objetos que imediatamente queria para
ele: óculos, relógio de pulso, copos, xícaras, vidros em geral,
artigos de escritório, botões de punho ou botões comuns
Pegava as coisas, olhava-as e depois as punha na boca – era
sua mania
Costumava destruir os objetos como o fez com a lâmpada do
escritório
Apesar de seu interesse por objetos, não era um
colecionador
PEDRO CONSTRUÍDO:
A textualidade cria suspense sobre Pedro; o grupo de elementos
significativos é que vai montar Pedro, confirmar Pedro: ele é um
bebê que modifica o comportamento de todos na casa, revelado no
último parágrafo:
“Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo
de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. [...]”
CORRELAÇÕES DE SENTIDO: A discursividade do texto revela o
relacionamento de um adulto vivido, na maturidade, com um bebê, e as
descobertas sobre o outro ser pequenino. Aponta como o eu do narrador
se correlaciona com o eu de Pedro e, ao mesmo tempo, como a família se
relaciona com a criança. Releva também o valor da amizade que
significava mais que tudo em relação a Pedro, uma amizade feita de
poesia e jogos do cotidiano. E, depois, o sentimento de ausência de
quando se despede da criança, o vazio da vida sem a criança.
Partindo do princípio de que todo texto está rodeado de intertextos que
com ele dialoga em vários tipos de gêneros, o procedimento de
correlação intertextual. Como a todo texto subjaz um discurso ou
discursos sociais, históricos, econômicos, filosóficos, psicanalíticos,
míticos, comportamentais, etc, todo discurso se expande a diálogos com
outros discursos, estabelecendo interdiscursos. Abaixo esta correlação:
INTERTEXTUALIDADE E INTERDISCURSIVIDADE
O texto dialoga com outros textos de qualquer gênero que apresente o
relacionamento de adultos com bebês: outras crônicas, contos, romances
(gênero literário); filmes (como Dois solteirões e um bebê), telenovelas,
publicidades, textos informativos (revistas especializadas em bebês),
publicidades, fotografias, são alguns exemplos – abrangentes do mesmo
tema (intertexto ou dom mesmo discurso ideológico (interdiscurso)
ÙLTIMA AÇÃO COM OS ALUNOS: Produção de Texto
A partir da leitura completa do texto com os alunos e também abarcando
os intertextos e interdiscursos, chegou a vez da criação de um texto. O
ato de redigir (redação) terá embasamento em tudo que foi analisado
sobre o texto “Aeroporto”, assim os alunos poderão fazer a interpretação
escrita sobre o texto, destacando ideologias textuais.
Conclusão: Acreditamos que o desenvolvimento desta situação de
aprendizagem em aulas auxiliará os alunos a refletir detalhadamente sobre um
texto, a fim de averiguar como se constroem passo a passo os sentidos do
texto e suas correlações com intertextos e interdiscursos.
Referências bibliográficas:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço.In: Poesia completa e
prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1973.
BAKHTIN, M. O discurso no romance. In: Questões de literatura e de estética
– A teoria do romance, p.71-210. São Paulo: Hucitec/EdUNESP, 1988.
ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São
Paulo:SEE:CENP, 2004.