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´ Algebra Linear I - Aula 3 - 2005.2 Roteiro 1 odulo ou norma de um vetor A norma ou m´ odulo do vetor ¯ u =(u 1 ,u 2 ,u 3 ) de R 3 ´ e || ¯ u|| = q u 2 1 + u 2 2 + u 2 3 . Geometricamente a f´ ormula significa que o m´ odulo do vetor ¯ u ´ e o compri- mento do segmento OU , onde 0 ´ e a origem ´ e U ´ e o ponto de R 3 de coordenadas (u 1 ,u 2 ,u 3 ). O m´ odulo de um vetor do plano R 2 ´ e definida de forma an´ aloga e tem o mesmo significado geom´ etrico. Oberve que se verifica a seguinte rela¸ ao entre m´ odulo e produto escalar: || ¯ u|| 2 u · ¯ u. Temos as seguintes oropriedades do m´ odulo de um vetor: • ||u|| = 0 se, e somente se, u = 0, Desigualdade triangular: ||u+v || ≤ ||u||+||v ||, (interpreta¸ ao geom´ etrica: dado um triˆ angulo a soma dos comprimentos de dois lados do mesmo ´ e major que o comprimento do terceiro lado), λ R, ||λv || = |λ| ||v ||. A primeira e a terceira propriedade s˜ ao simples e ficam como exerc´ ıcio. Vejamos a desigualdade triangular no caso (simplificado) ¯ u =(u 1 , 0) e ¯ v = (v 1 ,v 2 ). Observe que a desigualdade triangular ´ e equivalente a (||u + v ||) 2 =(u + v ) · (u + v ) (||u|| + ||v ||) 2 = ||u|| 2 + ||v || 2 +2 ||u|| ||v ||. Desenvolvendo o primeiro termo da desigualdade temos: (u + v ) · (u + v )= u · u +2 u · v + v · v = ||u|| 2 + ||v || 2 +2 u · v. 1

Normas e Vetores

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Normas e vetores

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Algebra Linear I - Aula 3 - 2005.2

Roteiro

1 Modulo ou norma de um vetor

A norma ou modulo do vetor u = (u1, u2, u3) de R3 e

||u|| =√

u2

1+ u2

2+ u2

3.

Geometricamente a formula significa que o modulo do vetor u e o compri-mento do segmento OU , onde 0 e a origem e U e o ponto de R

3 de coordenadas(u1, u2, u3). O modulo de um vetor do plano R

2 e definida de forma analogae tem o mesmo significado geometrico.

Oberve que se verifica a seguinte relacao entre modulo e produto escalar:

||u||2 = u · u.

Temos as seguintes oropriedades do modulo de um vetor:

• ||u|| = 0 se, e somente se, u = 0,

• Desigualdade triangular: ||u+v|| ≤ ||u||+||v||, (interpretacao geometrica:dado um triangulo a soma dos comprimentos de dois lados do mesmoe major que o comprimento do terceiro lado),

• λ ∈ R, ||λ v|| = |λ| ||v||.

A primeira e a terceira propriedade sao simples e ficam como exercıcio.Vejamos a desigualdade triangular no caso (simplificado) u = (u1, 0) e v =(v1, v2). Observe que a desigualdade triangular e equivalente a

(||u + v||)2 = (u + v) · (u + v) ≤ (||u|| + ||v||)2 = ||u||2 + ||v||2 + 2 ||u|| ||v||.

Desenvolvendo o primeiro termo da desigualdade temos:

(u + v) · (u + v) = u · u + 2 u · v + v · v = ||u||2 + ||v||2 + 2 u · v.

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Page 2: Normas e Vetores

Desenvolvendo o segundo termo:

(||u||+ ||v||)2 = ||u||2 + ||v||2 + 2 ||u|| ||v||.

Portanto, a desigualdade triangular e equivalente a:

||u||2 + ||v||2 + 2 u · v ≤ ||u||2 + ||v||2 + 2 ||u|| ||v||,

ou seja,u · v ≤ ||u|| ||v||.

Usando que u = (u1, 0) e v = (v1, v2), temos que a desigualdade triangular eequivalente a

u1 v1 ≤√

u2

1

v2

1+ v2

2.

Mas esta desigualdade e sempre verdadeira pois

u2

1≥ |u1| e

v2

1+ v2

2≥ |v1|.

Nao faremos a prova da desigualdade triangular no caso geral, apenas jus-tificaremos a simplificacao com uma figura e um breve comentario. Considereos pontos U = (u1, u2), V = (v1, v2) e a origem 0 = (0, 0) que determinamum triangulo ∆. Queremos provar que o comprimento do lado UV e menorque a soma dos comprimentos dos lados 0U e 0V (este e exatamente o signifi-cado da desigualdade triangular). Para ver isto e suficiente girar o triangulo∆ obtendo um novo triangulo ∆′ de vertices 0, U ′ e V ′ cujos lados tem osmesmos comprimentos e de forma que o lado 0U ′ agora e paralelo ao eixo X,isto e, o vetor u e da forma (u1, 0).

Observe que||u + v|| = ||u|| + ||v||

se, e somente se, v = k u onde k e um numero real positivo. Em vista doscomentarios anteriores e como u1 v1 ≤ |u1| |v1| a igualdade se tem quando

u2

1= |u1| e

v2

1+ v2

2= |v1| (ou seja v2 = 0)

e u1 v1 = |u1| |v1|, (ou seja u1 e v1 tem o mesmo sinal).

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Page 3: Normas e Vetores

PSfrag replacements

U

V ∆

U ′

V ′

∆′

Figura 1: Desigualdade triangular

1.1 Vetores unitarios

Um vetor v e unitario quando seu modulo e igual a 1.A cada vetor u nao nulo associamos o vetor 1

||u||u que, por definicao tem

modulo 1, e tem a mesma direcao e sentido que o vetor u.

Exemplo: Vetores unitarios na circunferencia trigonometrica de R2: sao os

vetores da forma (cos t, sin t) onde t ∈ [0, 2π]. De fato, em R2 todos os vetores

unitarios sao da forma (cos t, sin t).

2 Produto escalar

Considere dois vetores u = (u1, u2, u3) e v = (v1, v2, v3) de R3. O produto

escalar de u e v e definido da seguinte forma:

u · v = u1 v1 + u2 v2 + u3 v3.

A definicao para vetores do plano e similar.

As principais propriedades do produto escalar (todas de simples verificacao)sao:

• comutativo: u · v = v · u,

• distributivo: (u + w) · v = u · v + w · v,

• λ ∈ R, (λ u) · v = λ (u · v).

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Page 4: Normas e Vetores

PSfrag replacements

u

v

u

||u||

v

||v||

x2 + y2 = 1

Figura 2: Vetores unitarios associados (no plano)

• u · u = 0 se, e somente se, u = 0.

Observe que |u|2 = u · u.

2.1 Produto escalar e angulos

Os vetores u e v (nao nulos) sao ortogonais se verificam u · v = 0.Veremos a seguir que a nocao de vetores ortogonais corresponde a nocao

de perpendicularidade. Suponha que u = (u1, u2) e v = (v1, v2). Considereos pontos A = (u1, u2) e B = (v1, v2).

Afirmacao: os vetores u e v sao ortogonais (u · v = 0) se, e somente se, otriangulo de vertices 0 (a origem), A e B e retangulo. (Veja a figura).

O triangulo OAB e retangulo se, e somente se, (pelo teorema de dePitagoras)

d(A, B)2 = d(0, A)2 + d(0, B)2.

Observe que

d(A, B) = |u − v|, d(0, A) = |u|, d(0, B) = |v|.

Como

|u − v|2 = (u − v) · (u − v), |u|2 = u · u, |v|2 = v · v,

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Page 5: Normas e Vetores

PSfrag replacementscos θ

sin θ

r = 1

θ

Figura 3: Vetores unitarios na circunferencia trigonometrica

PSfrag replacements

AB

Lv

u

Figura 4: Ortogonalidade

a igualdade anterior e equivalente a:

(u − v) · (u − v) = u · u + v · v.

Usando as propriedades do produto escalar e simplificando, obtemos,

2 (u · v) = 0.

Ou seja, o triangulo e retangulo se, e somente se, u · v = 0, como queremosprovar.

A seguir veremos uma formula que relaciona produto escalar e angulos eque imediatamente implica o resultado anterior.

O produto escalar de u e v tambem e dado pela formula

u · v = |u| |v| cos α,

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Page 6: Normas e Vetores

onde α e o angulo formado por u e v.Provaremos a afirmacao para vetores do plano. Suponhamos primeiro

que os vetores sao unitarios. Pelos comentarios acima, temos

u = (cos φ, sin φ), v = (cos θ, sin θ).

Logou · v = cos φ cos θ + sin φ sin θ = cos(φ − θ) = cos α.

O que termina o caso em que os vetores sao unitarios.No caso geral, escrevemos u = |u| e e v = |v| f , onde e e f sao vetores

unitarios. Aplicando as propriedades do produto escalar,

u · v = (|u| e) · (|v| f) = (|u| |v|) (e · f).

Agora e suficiente observar que e · f e o coseno do angulo entre e e f que eigual ao angulo entre u e v.

Os argumentos acima fornecem o seguinte: o angulo α entre dois vetorese dado pela formula

cos α =u · v|u||v| .

A formula anterior implica que se u·v = 0 entao os vetores sao ortogonais:|u| |v| cosθ = 0, onde θ e o angulo formado por u e v, logo, como |u| 6= 0 6= |v|,cos θ = 0, e, portanto, θ = π/2 ou 3π/2.

Exemplo: Considere os vetores u = (2, k) e v = (3, 5). Determine k paraque os vetores sejam ortogonais e para que formem um angulo de π/4.

Para que os vetores sejam ortogonais devemos ter a relacao u · v = 0 =6 + 5 k = 0, logo k = −(6/5).

Para que os vetores formem um angulo de π/4 devemos ter a relacao

u · v = 6 + 5 k =√

24√

4 + k2 (√

2/2).

Agora e suficiente resolver a equacao de segundo grau.

Exemplo: Calcule o angulo entre a diagonal de um cubo e suas arestas.Consideraremos o cubo com arestas paralelas aos eixos coordenados. Se-

jam a origem (0, 0, 0) e os pontos (k, 0, 0), (0, k, 0) e (0, 0, k) quatro verticesdo cubo (faca um desenho). Considere agora o vetor diagonal, isto e, o vetord obtido considerando a origem e o vertice oposto (k, k, k). Entao, o angulo

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Page 7: Normas e Vetores

θ entre o vetor diagonal e a aresta (por exemplo) ux = (k, 0, 0) e obtido comosegue:

d · ux = (k, k, k) · (k, 0, 0) = |d| · |ux| cos θ, k2 =√

3 k2 k cos θ,

Logo, cos θ = 1/√

3, e θ = arccos(1/√

3), onde escolhemos a determinacaodo arccos em (0, π). Os angulos com as outras arestas sao iguais.

3 A desigualdade triangular (novamente)

Usando as formulas do produto escalar podemos obter novamente a a de-sigualdade triangular:

|u + v| ≤ |u| + |v|.Observe que e suficiente provar

(|u + v|)2 ≤ (|u| + |v|)2.

Temos

(|u + v|)2 = (u + v) · (u + v) = |u|2 + 2 u · v + |v|2,(|u| + |v|)2 = |u|2 + 2 |u| |v| + |v|2.

Portanto, para provar a desigualdade e suficiente observar que

u · v = |u| |v| cos α ≤ |u| |v|,onde α e o angulo entre os vetores.

Observe que se verifica |u + v| = |u| + |v| se, e somente se,

u · v = |u| |v| cos α = |u| |v|,ou seja, α = 0. Logo u = λ v para λ ≥ 0.

Exemplo: Mostre a identidade:

|u + v|2 + |u − v|2 = 2 (|u|2 + |v|2).E suficiente observar que:

|u + v|2 = (u + v) · (u + v) = |u|2 + |v|2 + 2 u · v,|u − v|2 = (u − v) · (u − v) = |u|2 + |v|2 − 2 u · v.

Somando as duas expressoes obtemos,

|u + v|2 + |u − v|2 = 2 |u|2 + 2 |v|2,obtendo o resultado pretendido.

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4 Projecao ortogonal em um vetor

A projecao ortogonal do vetor v no vetor u e um novo vetor (paralelo aovetor v) definido como:

πu(v) =( u · v

u · u)

u.

Interpretacao geometrica da projecao ortogonal: o vetor πu(v) e a compo-nente vetorial do vetor u na direcao u. Dito de outra forma, o vetor v e asoma da sua projecao ortogunal no vetor u e um vetor ortogonal a u (veja ocomentario a seguir).

PSfrag replacementsv

vu

u

πu(v)

πu(v)

Figura 5: Projecao ortogonal

Comentario: O vetor (v − πu(v)) e ortogonal a u. Para comprovar isto esuficiente calcular o produto escalar u · (v − πu(v)) e ver que e nulo:

u · (v − πu(v)) = u · v − u · vu · u u · u = u · v − u · v = 0.

Exemplo: Estude se e possıvel ter dois vetores diferentes u e v tai queπu(v) = πv(u).

Observe primeiro que se os vetores sao ortogonais, isto e, u · v = 0, entaoπu(v) = πv(u) = 0, e a resposta e afirmativa.

Vejamos agora que se os vetores nao sao ortogonais a resposta e negativa.Em primeiro lugar, os vetores devem ser paralelos (justifique!). Logo v = λ upara algum λ. Portanto, usando as formulas das projecoes, temos,

πu(v) =u · vu · u u =

λ |u|2|u|2 u = λ u = v.

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Analogamente,

πv(u) =u · vv · v v =

λ |u|2λ2|u|2 λ u = u.

Logo a unica possibilidade e u = v, logo a resposta e negativa.Em resumo, πu(v) = πv(u) se e somente u · v = 0 ou u = v.

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