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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR Nota de aula n. 03 – PROCEDIMENTOS COMUM E ESPECIAIS Professor Delano Cruz – 9121.3527 – 8863.3527 [email protected] www.delanocruzadvocacia.com.br 1.1. – Considerações Gerais 1.1.1. O novo modelo de procedimento ditado pelas Lei 11.689/2008 e 11.719/2008 As Leis 11.689, de 9 de Junho de 2008 e 11.719, de 20 de junho de 2008, introduziram modificações na sistemática processual estabelecida no Código de Processo Penal e em leis especiais. Restaram alterados, portanto, a apuração dos crimes dolosos contra a vida, instituindo-se o procedimento comum como gênero, tendo como espécies o ordinário, sumário e sumaríssimo. A despeito da intenção legislativa de acelerar o processo, mencione-se que algumas impropriedades foram cometidas. Diante disso, é certo que ainda serão acirradamente discutidos vários pontos das citadas leis, a respeito dos temas que foram modificados. 1.1.2. O procedimento comum e o procedimento especial O art. 394 do CPP prevê que o procedimento será comum ou especial. Procedimento especial: Todo procedimento previsto no CPP ou em Leis Especiais, para determinadas hipóteses legais previstas, com regras próprias de tramitação processual. Ex.: Procedimento dos crimes de responsabilidades dos funcionários públicos (arts. 513 a 518); Procedimento dos crimes contra a honra (arts. 519 a 523); Lei de Drogas (Lei 11.343/2006). Procedimento comum: é o rito padrão ditado pelo Código de Processo Penal para ser aplicado de forma residual, ou seja, 1

Nota de aula n. 03 - UNIFOR - Procedimentos Criminais

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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR

Nota de aula n. 03 – PROCEDIMENTOS COMUM E ESPECIAIS

Professor Delano Cruz – 9121.3527 – 8863.3527

[email protected]

www.delanocruzadvocacia.com.br

1.1. – Considerações Gerais

1.1.1. – O novo modelo de procedimento ditado pelas Lei 11.689/2008 e 11.719/2008 As Leis 11.689, de 9 de Junho de 2008 e 11.719, de 20 de junho de 2008,

introduziram modificações na sistemática processual estabelecida no Código de Processo Penal e em leis especiais.

Restaram alterados, portanto, a apuração dos crimes dolosos contra a vida, instituindo-se o procedimento comum como gênero, tendo como espécies o ordinário, sumário e sumaríssimo.

A despeito da intenção legislativa de acelerar o processo, mencione-se que algumas impropriedades foram cometidas. Diante disso, é certo que ainda serão acirradamente discutidos vários pontos das citadas leis, a respeito dos temas que foram modificados.

1.1.2. – O procedimento comum e o procedimento especial O art. 394 do CPP prevê que o procedimento será comum ou especial.Procedimento especial: Todo procedimento previsto no CPP ou em Leis Especiais,

para determinadas hipóteses legais previstas, com regras próprias de tramitação processual. Ex.: Procedimento dos crimes de responsabilidades dos funcionários públicos (arts. 513 a 518); Procedimento dos crimes contra a honra (arts. 519 a 523); Lei de Drogas (Lei 11.343/2006).

Procedimento comum: é o rito padrão ditado pelo Código de Processo Penal para ser aplicado de forma residual, ou seja, na apuração de crimes para os quais não haja procedimento especial. Subdivide-se em três espécies, a saber:

Procedimento comum ordinário: para a apuração de crmes cuja sanção máxima seja igual ou superior a quatro anos. (art. 394, § 1º, I)

Procedimento comum sumário: destinado à apuração de crimes cuja sanção máxima seja inferior a quatro anos, excluídas as hipóteses das atinentes ao procedimento sumaríssimo. (art. 394, § 1º, II)

Procedimento comum sumaríssimo: cabível em relação às infrações de menor potencial ofensivo, definidas como contravenções penais ou aqueles os quais a lei comina pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa. (art.394 § 1º,III) Crimes de competência dos juizados especiais criminais, de acordo com o art. 6 da Lei 9.099/95.

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1.1.3 – Os arts. 395 a 397 do CPP e sua aplicação geral e irrestrita a qualquer procedimento do primeiro grau

O art. 394, § 4º estabelece que as disposições dos arts. 395 a 398 aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados no próprio CPP. Nota: Em verdade os artigos aos quais se refere são 395 a 397, uma vez que o 398 foi revogado.

Art. 395 – Rejeição da denúncia e da queixa-crimeTrata o artigo das hipóteses de rejeição da denúncia ou queixa-crime. São elas: Denúncia ou queixa-crime manifestamente inepta: É inepta sempre que lhe

faltarem os requisitos essenciais previstos no artigo 41 do CPP, a saber, exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias e a qualificação mínima do acusado ou elementos pelos quais se possa identificá-lo, endereçamento ao Juízo competente, assinatura do membro do Ministério Público ou do advogado do querelante e redação no idioma vernáculo.

Ausência de pressuposto processual ou condição da ação penal: Pressupostos processuais são a competência do juízo, imparcialidade do juiz, pares que possam estar validamente em juízo e originalidade da demanda (ausência de litispendência ou coisa julgada). Condições da ação penal são a legitimidade ad causam ativa e passiva, possibilidade jurídica do pedido de condenação e interesse de agir. Faltando qualquer desses elementos, a denúncia é rejeitada.

Ausência de justa causa para o exercício da ação penal: Deve haver uma substrato probatório mínimo que torne possível a imputação realizada na denúncia ou queixa. Deve haver prova da materialidade do crime e indícios de autoria.

Art. 396 – Citação do acusado e resposta à citaçãoPrevê o artigo supra que, uma vez que a denúncia não possua qualquer falha que

obrigue o juízo a rejeitá-la liminarmente (hipóteses do art. 395), este a receberá e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

Art. 396-A – Conteúdo da resposta do acusadoEsse artigo estabelece que, na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e

alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas que pretende produzir e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação. Substituiu a defesa prévia da legislação anterior, na medida em que é possível adentrar ao mérito já nesta fase processual.

Art. 397 – Julgamento antecipado do processo com absolvição sumária do réuOferecida a resposta do acusado, os autos deverão ser conclusos ao Juiz, quando este

verificará a possibilidade de antecipar o resultado final da demanda, absolvendo sumariamente o acusado, desde que reconheça a existência de causa excludente de ilicitude, existência manifesta de causa excludente de culpabilidade do agente (salvo a inimputabilidade), não constituir o fato infração penal ou encontrar-se extinta a punibilidade.

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Existência manifesta de excludente da ilicitude (art. 397, I do CPP)

Não constituir o fato infração penal (art. 397, III do CPP)

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1.2 – Procedimento Comum OrdinárioConforme já citado, o procedimento comum ordinário deve ser aplicado ao processo

criminal quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a quatro anos de pena privativa de liberdade. (Art. 394, § 1º, I do CPP).

Constitui-se das seguintes etapas:a) Oferecimento da denúncia ou queixa-crime. A inicial deve conter os requisitos

do art. 41 do CPP, instruída, ainda, com o mínimo substrato probatório, quanto à autoria e materialidade do fato. Deverão ser arroladas as testemunhas da acusação, até o máximo de oito por crime imputado, o ofendido e eventuais peritos que tenham atuado no feito. Em se tratando de acusado preso, a inicial deverá ser oferecida no prazo de 5 (cinco) dias e, se estiver solto, em quinze. (at. 46.)

b) Rejeição liminar ou recebimento. Uma vez conclusa a peça vestibular ao juiz, este poderá rejeitá-la liminarmente, caso constate a ocorrência de qualquer das situações previstas no art. 395 do CPP.

c) Recebimento pelo magistrado (art. 396). Marco interruptivo da prescrição.d) Citação do acusado para resposta (art. 396). Uma vez recebida, ordenará o

magistrado a citação pessoal do acusado para responder a acusação, por escrito, no prazo de dez dias. Não sendo possível sua citação pessoal, determinará o Juiz:

Citação por Edital: (Arts. 361 e 363, § 1º), com prazo de 15 dias, caso o réu não seja encontrado no endereço fornecido. O prazo começará a fluir do comparecimento pessoal do acusado ou de seu defensor. Se não comparecer, nem constituir defensor, o processo ficará suspenso, bem como o prazo prescricional, até que o acusado se faça presente.Citação por hora certa. Ocorrerá quando verificar-se que o acusado oculta-se para não ser citado. Obedece ao disposto nos artigos 227 a 229 do CPC.

e) Resposta do acusado (art. 396-A). Conforme já mencionado, o acusado poderá argüir em sua defesa preliminares e tudo o mais que entender pertinente, oferecer documentos e justificações, especificar provas pretendidas e arrolar testemunhas, requerendo sua intimação. Também poderão ser arroladas até oito testemunhas por fato e por réu. Caso não apresente resposta no prazo

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Juízo de Admissão da Acusação

Absolvição sumária do acusado

Extinção da Punibilidade. (art. 397, IV do CPP)

Prosseguimento do rito na forma da lei

Existência manifesta de excludente da culpabilidade, salvo a inimputabilidade (art. 397, II do CPP)

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designado, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vistas aos autos no prazo de dez dias. (art. 396, § 2º).

f) Julgamento antecipado do processo e absolvição sumária do acusado (art. 397). Após a resposta do acusado, o magistrado tem agora a possibilidade de proceder ao julgamento antecipado da demanda penal, absolvendo sumariamente o réu, desde que reconheça qualquer das hipóteses elencadas no já citado art. 397 – CPP.

g) Audiência de instrução, interrogatório e julgamento (art. 399). O art. 399 dispõe que recebida a denúncia ou a queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. Mencione-se que, sempre será necessário notificar o ofendido, haja vista ser direito seu ser comunicado da data da audiência de instrução.Estando todos os notificados presentes, no curso da instrução o juiz procederá, então a oitiva , na seguinte ordem: 1) Tomada das declarações do ofendido. O ofendido será qualificado e perguntado acerca das circunstâncias da infração. Se for intimado a comparecer e não o fizer, poderá ser conduzido. 2) Inquirição das testemunhas de acusação e da defesa, nessa ordem. Em caso de testemunha ouvida por precatória, essa ordem não precisa ser obedecida. De acordo com o art. 400 § 2º, as partes poderão desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas. As perguntas serão feitas diretamente às testemunhas e o juiz poderá complementar a inquirição destas, sobre os pontos não esclarecidos. 3) Esclarecimentos dos peritos. É preciso que qualquer das partes tenha requerido notificação de peritos, com o objetivo de fazer prova junto ao juízo. 4) Acareações. A incomunicabilidade entre as pessoas que serão acareadas é fundamental. Dessa forma, notando o juiz que será necessária a acareação designará espaço separado para a vítima e as testemunhas antes da audiência. 5) Reconhecimento de pessoas e coisas. Deverá ser feito em observância ao disposto nos arts. 226 e 228 do CPP. 6) Interrogatório do acusado. Por fim, será o próprio acusado interrogado.

h) Requerimento de diligências e alegações finais orais. Encerrada a instrução, o juiz facultará ao Ministério Público, ao querelante e seu assistente e ao acusado, a requisição de diligências que julgarem necessárias, cuja necessidade se origina das circunstâncias ou fatos apurados na instrução, que poderão ser indeferidas caso o juiz as considere irrelevantes.

i) Sentença. Realizadas as alegações finais orais, poderá o juiz proferir a sentença na própria solenidade judicial. Contudo, caso o magistrado entenda substituir as alegações finais orais por memoriais escritos, em face da complexidade do caso ou número de acusado, ou ainda haja a necessidade de serem realizadas diligências, terá o juiz prazo de dez dias, após a conclusão dos autos, para prolatar a sentença. Importante notar o princípio da identidade física do juiz, que ensina que o juiz que presidiu a instrução deverá, obrigatoriamente, proferir a sentença.

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j) Lavratura do termo de audiência. Por fim, o art. 405 do CPP prevê que do ocorrido em audiência, será lavrado termo assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos no curso da solenidade.

1.2.1 – Suspensão Condicional do Processo

Após o advento da Lei 11.719/2008, três são as alternativas que se afiguram para o correto momento de efetivação da proposta de suspensão condicional do processo. São as seguintes:

a) Por ocasião da audiência, depois da produção de prova oral requerida (ofendido, testemunhas, esclarecimentos dos peritos, etc.) e logo antes de se realizar o interrogatório. Aceitando a proposta, não será o réu interrogado. Caso não a aceite, realiza-se, então, o ato.

b) Por ocasião da audiência, como primeira providência a ser realizada nesta solenidade, antes da oitiva do ofendido, das testemunhas, dos peritos e do próprio interrogatório. Esse momento harmoniza-se com a agilidade processual proposta pela lei em comento.

c) Após a citação e previamente à audiência de instrução, designando-se data extraordinária para a qual o acusado será intimado a comparecer com o fim único de realizar-se a ele a proposta de suspensão. Certamente, a solução que mais se aproxima da normatização que vigorava na oportunidade em que foi editado o art. 89 da Lei 9.099/95.

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Esquema dos atos que compõem o procedimento ordinário

1.3. – Procedimento Sumário6

Procedimento Comum Ordinário

Denúncia ou queixa (art. 396) com rol de até 8 testemunhas, salvo as

que não prestam compromisso.

Rejeição Liminar com base no art. 395 do

CPP

Reconhecimento e citação do réu (art.

396)

Extinção do procedimento Citação pessoal, por

hora certa ou por edital atendidas pelo réu.

Citação por edital. Réu não comparece nem constitui defensor.

Citação por edital. Réu não comparece nem constitui defensor.

Suspensão do processo e da prescrição. (art.

366)

Apresentação de resposta. (art. 396-A)

Juízo de admissão

Absolvição Sumária do Réu (Art. 397)

Não absolvição sumária. Realização de audiência em, no

máximo 60 dias. (arts. 399 e 400)

Extinção do Procedimento Na audiência, inquirição das

vítimas, testemunhas, peritos e demais provas orais (art. 400)

Ainda em audiência, o juiz facultará às partes o

requerimento de diligências.(art. 402)

Partes requerem diligências e estas não são deferidas pelo juiz

Partes requerem diligências e estas são

deferidas pelo juiz

Partes não requerem diligências

Alegações orais pelas partes e sentença em audiência. (art. 403)

Fato complexo ou muitos acusados. Juiz possibilita memoriais

(art. 403 § 3º)

Apresentação de memoriais em 5 dias

sucessivos. (art. 404 § único)

Sentença em 10 dias. (art. 404 § único)

Apresentação de memoriais em 5 dias sucessivos (art. 404 §

único)

Sentença em 10 dias (art. 404 § único)

Page 7: Nota de aula n. 03 - UNIFOR - Procedimentos Criminais

Como já foi mencionado, o Procedimento Sumário deverá ser aplicado quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a quatro anos de pena privativa de liberdade, seja ela detenção ou reclusão.Contudo, se faz necessário excluir do rito sumário as infrações de menor potencial ofensivo, uma vez que estas seguem o rito sumaríssimo.Assim sendo, estas são as etapas que constituem o procedimento sumário:a) Oferecimento da denúncia ou queixa-crime: Observados os requisitos contidos no

art. 41 do CPP. No rito sumário o número máximo de testemunhas a ser arrolado é cinco, não computadas as que não prestam compromisso.

b) Observância, pelo juiz, das regras contidas nos artigos 395 a 397, aplicáveis a todo e qualquer rito, por força do art. 394 §4º: Dessa forma, poderá o juiz 1) rejeitar liminarmente a inicial; 2) recebê-la e citar o réu, determinando-o a apresentar resposta no prazo de 10 dias; e 3) apresentada a resposta, serão os autos conclusos ao juiz que poderá absolver sumariamente o acusado caso haja alguns dos motivos previstos no art. 397 ou dar seguimento ao processo.

c) Audiência de instrução, interrogatório e julgamento (art. 531): Sendo dado prosseguimento ao processo, segue-se a audiência para a colheita de prova oral, que deverá ser aprazada para, no máximo, 30 dias. Nessa audiência, o juiz tomará as declarações do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como aos eventuasi esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se, finalmente, ao debate oral pelas partes. É importante frisar que, no procedimento sumaríssimo, de acordo com o que dispõe o art. 536 do CPP que a “testemunha que comparecer será inquirida, independentemente da suspensão da audiência, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no art. 531 deste Código”.

d) Alegações orais: Uma vez produzidas em audiências as provas orais, o juiz concederá as partes, em seguida, a palavra para alegações finais orais. Nesse momento, acusação e defesa terão vinte minutos, prorrogáveis por mais dez, para sustentação oral. Havendo mais de um acusado, o prazo para a defesa de cada um será individual. (Art. 534 § 1º). Caso haja assistente de acusação, este poderá se manifestar por dez minutos após a manifestação do Ministério Público, caso em que o tempo à este concedido será acrescido à defesa, por força do previsto no art. 534 § 2º.

e) Sentença: Uma vez que a sentença é proferida em audiência, o princípio da identidade física do juiz é aplicado natural e logicamente. Ainda que, porventura a sentença venha a ser proferida em momento posterior à audiência, este princípio deverá ser observado.

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Observação (1): Como já dissemos antes, em se tratando de infração de menor potencial ofensivo, de competência do JECRIM (Juizados Especiais Criminais) e, logo, sujeita ao rito sumaríssimo (art. 394 § 1º, III) dispõe o art. 538 do CPP que, se houver a necessidade de encaminhamento pelo juizado especial ao juízo comum das peças lá existentes observar-se-á o rito sumário. Isto ocorrerá na hipótese em que se fizer a necessária a citação por edital, o que, nos termos do art. 66 da Lei 9.099/1995, não é admitido no procedimento dos juizados especiais criminais, devendo os autos serem encaminhados ao juízo comum (art. 66 § único). Outra situação que também autoriza essa remessa é a complexidade do caso, conforme previsto no art. 77 § 2º da Lei 9.099/1995. Por fim, a hipótese de concurso de crimes, quando a soma das penas máximas superar o patamar de dois anos, conforme entendimento jurisprudencial consolidado.

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1.4 – Juizados Especiais Criminais – Fase preliminar e procedimento sumaríssimo (art. 394, § 1º, III,do CPP e arts. 77 a 81 da Lei 9.099/95)

Os Juizados Especiais Criminais estão regulamentados, em nível de Justiça Estadual, pela Lei 9.099/95, destinados à conciliação, julgamento e execução das infrações de menor potencial ofensivo (art. 60), como tais consideradas, de acordo com o art. 61 “as convenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.”

A maior abrangência do que venham a ser infrações de menor potencial ofensivo teve por objetivo, primeiramente a simetria entre os procedimentos dos Juizados Especiais Estaduais e Federais.

1.4.1. – Princípios e objetivos

O art. 62 da Lei 9.099/95 prevê os princípios que devem informar os Juizados Especiais Criminais, bem como os objetivos da aplicação do rito. São eles: oralidade, informalidade, economia processual e celeridade.

No tocante aos objetivos, consistem na reparação dos danos civis causados com a infração penal e na substituição da pena privativa de liberdade por outra que não tenha essa natureza.

1.4.2. - Competência

De acordo com o que dispõe o art. 63 da Lei 9.099/95, a competência do Juizado Especial Criminal será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal, adotando-se a teoria da atividade.

Insta mencionar que, por força do disposto no art. 90-A da Lei 9.099/95, as regras atinentes aos Juizados Especiais Criminais não se aplicam a crimes militares.

Da mesma forma, não se aplicam também aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independente de qual seja a pena prevista (art. 41 da Lei 11.340/2006).

1.4.3. – Atos Chamatórios

Os atos chamatórios realizados no âmbito dos Juizados Especiais Criminais seguem normas específicas, previstas expressamente na lei.

Nos termos do art. 66 da Lei 9.099/95, havendo ação penal, as citações serão realizadas pessoalmente, não se admitindo a citação por edital. Por conseqüência lógica, entende-se não ser possível a citação por hora certa. Contudo, em qualquer hipótese que não for localizado o acusado para sua citação pessoal, os autos serão encaminhados ao juízo comum, onde será adotado o procedimento sumário.

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Com relação às intimações, admite-se que sejam feitas por correspondência, com aviso de recebimento pessoal.

1.4.4. – Fase Preliminar

Uma vez comunicada à autoridade policial a ocorrência de infração de menos potencial ofensivo, deverá esta providenciar a lavratura do competente termo circunstanciado, com posterior encaminhamento ao Juizado.

De acordo com o disposto no art. 69 da Lei 9.099/95, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança ao autor do fato que, após lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer na data aprazada.

Uma vez encaminhado o termo ao Juizado, a próxima fase será a realização de audiência preliminar (art. 70). Neste ato, presentes o Ministério Público, o autor do fato, a vítima e, se for possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o juiz indagará das partes acerca da existência de dano civil a ser composto e a possibilidade de acordo. (art. 72).

Uma vez compostos os danos, o juiz reduzirá o acordo realizada a termo e o homologará por meio de sentença irrecorrível, a qual terá eficácia de título executivo. (art. 74).

Mencione-se o fato de que, tratando-se de crime de ação penal pública condicionada à representação do ofendido, a composição dos danos civis acarreta renúncia automática do direito de representação.

Esquema dos atos que compõem a fase preliminar nos Juizados Especiais Criminais

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Juizados especiais Criminais = Procedimento Anterior ao oferecimento de denúncia ou queixa

Lavratura do Termo Circunstanciado pela autoridade competente

Page 10: Nota de aula n. 03 - UNIFOR - Procedimentos Criminais

1.4.5. – Procedimento Sumaríssimo (arts. 77 a 81 da Lei 9.099/95)

No tocante à aplicação do art. 396 do CPP, existem duas hipóteses, a saber:10

Encaminhamento do Termo Circunstanciado a juízo, que aprazará audiência preliminar, intimando o MP, o autor do fato, a vítima e o responsável civil

Em audiência, juiz indagará das partes quanto à possibilidade de composição dos danos civis

Partes compõem o dano cível

Partes não compõem o dano cível

Sendo crime de ação penal pública incondicionada

Sendo crime de ação penal pública condicionada

Sendo crime de ação privada

Crime de ação privada ou pública cond./incond.

Extingue-se o direito de representação ou queixa e encerra-se o procedimento

Faculta-se ao MP propor transação penal

Faculta-se proposta de transação penal

Não é proposta transação penal (art. 76 , § 2º)

É proposta a transação penal

Não é proposta transação penal (art. 76 , § 2º)

É proposta a transação penal

Segue-se o procedimento sumaríssimo (art. 77 a 81)

Autor do Fato aceita a proposta

Autor do fato não aceita a proposta

Segue-se o procedimento sumaríssimo (art. 77 a 81)

Cumpridos os termos, extingue-se o processo

Segue-se o procedimento sumaríssimo (art. 77 a 81)

Autor do Fato aceita a proposta

Autor do fato não aceita a proposta

Segue-se o procedimento sumaríssimo (art. 77 a 81)

Cumpridos os termos, extingue-se o processo

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Aplica-se ao procedimento sumaríssimo tanto o art. 81 da Lei 9.099/95 como o art. 396 do CPP. É necessário entender que, na audiência a que alude o citado art. 81 da Lei 9.099/95, o juiz, antes de receber a inicial, possibilitará ao acusado apresentar a resposta prevista em tal artigo, oportunidade na qual poderá, inclusive, alegar qualquer das vertentes contempladas no art. 395 do CPP comvistas à rejeição preliminar da inicial.

Contudo, uma vez recebida a denúncia ou a queixa, mais uma vez possibilitará o juiz ao advogado do acusado a possibilidade de manifestar-se, dessa vez para apresentara resposta prevista no art. 396 do CPP, abordando eventual ocorrência das situações previstas no art. 397, cujo acolhimento pelo juiz acarretará na absolvição sumária do acusado.

Não se aplica ao procedimento sumaríssimo o disposto no art. 396 do CPP. Por outro lado, esta linha de raciocínio, compreende-se que, na audiência mencionada no art. 81 da Lei dos Juizados especiais, antes de recebida a inicial, o juiz facultará ao advogado do acusado apresentar a resposta prevista neste dispositivo, momento em que deverá abordar toda a matéria que interessa a defesa. Recebida a denúncia e não absolvido sumariamente o réu, seguir-se-ão outros atos instrutórios.

Prosseguindo, independente da postura que se venha a adotar quanto à aplicação ou não do disposto no art. 396 ao procedimento sumaríssimo, em face do que dispõe o art. 395 § 4º do CPP, o rito de apuração das infrações de menor potencial ofensivo deverá ter a seguinte seqüência de atos:

a) Oferecimento da denúncia ou queixa-crime oral: Vencida a fase prevista nos arts. 69 a 75 da Lei 9.099/95 sem que tenha sido possível a efetivação de transação penal, será oferecida, na própria audiência preliminar, denúncia ou queixa-crime oral. Mencione-se que é desnecessário, nesse momento, exame de corpo de delito, bastando que eventual vestígio da infração esteja atestado por boletim médico ou prova equivalente (art. 77, § 1º). Nessa fase, deverão ser arroladas testemunhas, as quais, por simetria ao disposto relativamente ao rito sumário, devem ser até cinco, sem serem computadas aquelas que não prestam compromisso.

b) Citação do Acusado: Estando presente o acusado a solenidade em que deduzida a inicial acusatória, será ele imediatamente citado e cientificado da data para a audiência de instrução e julgamento, bem assim o Ministério Público, a vítima, o responsável civil e seus advogados (art. 78 da Lei 9.099/95). Caso ausente, será ordenada pelo magistrado sua citação pessoal, comunicando, nessa oportunidade quanto à data da audiência de instrução. Não é possível a citação por edital ou por hora certa. Com relação ao ofendido e às testemunhas que venham a ser arroladas, as intimações serão realizadas na forma prevista no art. 67 da Lei 9.099/95, ou seja, por correspondência, com aviso de recebimento pessoal.

c) Audiência de instrução e julgamento: 1) Facultará a defesa responder à acusação: É a defesa prevista no art. 81 da Lei 9.099/95. Quanto ao teor dessa resposta, voltamos as duas posições, já citadas acerca da aplicabilidade, ou não do art. 396 do CPP ao rito sumaríssimo. 2) Decisão quanto à rejeição ou recebimento da inicial: Oferecida a resposta, o juiz, na mesma solenidade, poderá rejeitar liminarmente a peça acusatória, fundamentando sua decisão em qualquer das hipóteses previstas no art. 395 do CPP. Não sendo este o caso, será recebida a denúncia ou queixa. 3) Julgamento antecipado da lide com absolvição sumária: Após o recebimento da peça inicial, deverá o magistrado proceder ao juízo de valor que se refere o art. 397

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do CPP, ou seja, verificar eventual ocorrência de qualquer das hipóteses que permitem o julgamento antecipado da lide (Presença manifesta de excludentes da ilicitude ou de culpabilidade, atipicidade da conduta ou extinção da punibilidade). 4) Inquirição da vítima e testemunhas, e interrogatório do acusado: O magistrado inquirirá a vítima, as testemunhas de acusação e defesa (nesta ordem) e, ao acusado. 5) Debates orais: Finalizada o colheita de provas orais, o magistrado abrirá a oportunidade de realização de debates (art. 81). Na prática, é comum a substituição desses debates orais por memoriais escritos. 6) Sentença: A sentença será proferida em audiência. Mencione-se que a decisão dispensa relatório (art. 81 § 3º). Contudo, a fundamentação é sempre necessária.

Esquema dos atos que compõem o procedimento sumaríssimo:

12Procedimento Comum Sumaríssimo

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1.4.6. – Recursos 13

Inviabilizada a transação penal, serão oferecidas denúncia ou queixa orais (art. 77)

Sendo complexo o fato, pode o juiz encaminhar o feito ao juízo comum. Lá, serão oferecidas denúncia ou queixa por escrito

Rito Sumário (art. 538 – CPP)

Ordem judicial de citação pessoal do réu para ciência da acusação e comparecimento à audiência (art. 78)

Na audiência, serão realizados os seguintes atos:

Advogado do réu responderá a acusação

O juiz poderá rejeitar a inicial acusatória (art. 395 – CPP)

Não sendo caso de rejeição, prossegue-se a audiência:

Juiz decidirá quanto à absolvição sumária do acusado, atentando às causas do art. 397 - CPP

Inquirição da vítima e das testemunhas arroladas ou trazidas

Interrogatório do réu

Debates orais entre as partes:

Sentença, ao final da audiência.

Encerra-se o procedimento

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Há a possibilidade de interposição de apelação (art. 82) contra a decisão de rejeição da denúncia ou queixa, bem como da sentença final. Esta apelação deverá ser interposta em dez dias, unicamente por petição e já acompanhada das devidas razões recursais.

Possível também é a oposição de embargos declaratórios (art. 83) quando a sentença ou o acórdão mostrarem-se obscuros, contraditórios, omissos ou duvidosos. Deverão ser opostos dentro de cinco dias e, quando opostos contra sentença, suspendem o prazo da apelação.

Também tem sido admitida a interposição de recurso extraordinário, contra decisões das Turmas Recursais, mas não o recurso especial, de acordo com a sabedoria das Súmulas 640 do STF e 203 do STJ.

1.5. – Procedimento de Apuração dos Crimes Falimentares (arts. 503 a 512 do CPP)Insta mencionar, de início que todos os crimes falimentares são de ação penal de pública

incondicionada.

1.5.1. – Aspectos relativos ao novo procedimento de apuração dos crimes falimentares introduzido pela Lei 11.101/05

Cabe ressaltar a previsão dos institutos da recuperação extrajudicial e da recuperação judicial, estatuídas em substituição à concordata. Por meio da recuperação extrajudicial a empresa apresenta a seus credores plano de recuperação homologado judicialmente, abrangendo o universo de dívidas, à exceção de débitos trabalhistas e fiscais. Noutro giro, mediante a recuperação judicial,a empresa negocia o plano de recuperação com todos os seus credores, inclusive com os trabalhistas e com o fisco, podendo ocorrer a convolação em falência, caso ocorrentes as causas que a autorizam.

É preciso considerar, também que não foi prevista a figura do inquérito judicial, cuja conclusão, nos termos da lei antiga, marcava o início do prazo para o oferecimento da denúncia por crime falimentar pelo Ministério Público.

Existem, de início, algumas questões procedimentais que devem ser analisadas, são as seguintes:

a) Condições de punibilidade: Condição efetiva de punibilidade poderá ser tanto a sentença que decreta a falência quanto aquela que concede a recuperação judicial ou extrajudicial.

b) Prazo para oferecimento da denúncia pelo Ministério Público: Uma vez abolido o inquérito judicial, a lei estabeleceu dias possibilidades quanto ao prazo para oferecimento da denúncia. 1) O art. 187 menciona que, uma vez decretada a falência, o Ministério Público será intimado e deverá promover imediatamente a abertura de inquérito policial, com vistas à apuração da ocorrência de crime falimentar. Dessa forma, conclui-se que o Ministério Público dispõe de 5 ou 15 dias, estando o acusado preso ou solto, respectivamente, para o oferecimento da denúncia; 2) Uma vez em liberdade a pessoa a ser denunciada, pode ocorrer que o MP entenda necessário aguardar a apresentação, pelo administrador judicial, do relatório previsto no art. 22, III, e, da Lei 11.101/05, onde conterão as causas da falência, o procedimento do devedor e de outros responsáveis por eventuais fatos

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que constituam crime. Somente munido deste relatório, o MP terá 15 dias, após intimação, para oferecer denúncia.

c) Ação penal privada subsidiária da pública: Estabelece o art. 184 § único que uma vez decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1º, sem que o representante do Ministério Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá oferecer ação penal privada subsidiária da pública, observando o prazo decadencial de 6 meses.

d) Juízo competente: Compete ao juiz criminal da jurisdição onde tenha sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou extrajudicial conhecer da ação penal pelos crimes falimentares.

e) Prescrição: Regem-se pelas disposições contidas no Código Penal, e contam-se a partir da decretação da falência, da concessão da recuperação judicial ou da homologação do plano de recuperação extrajudicial.

1.5.2. – Procedimento de apuração dos crimes falimentares (art. 185 da Lei 11.101/05)

O art. 185 do diploma legal citado é claro ao mencionar que, uma vez recebida a denúncia ou a queixa subsidiária, deverá ser observado o rito previsto nos art. 531 a 40 do CPP.

Dessa forma, deverão seguir o rito sumário, já explicado alhures.

1.6. – Procedimento dos crimes praticados por funcionários públicos contra a administração pública.

Os crimes funcionais podem ser próprios (praticados exclusivamente por funcionários públicos, ou a estes equiparados) ou impróprios (praticados por qualquer pessoa contra a administração pública).

Ambos serão processados de acordo com o rito especial previsto no Còdigo De Processo Penal, desde que o agente seja funcionário público, ou a este equiparado, e que o sujeito passivo do crime seja a Administração Pública.

1.6.1 – Atos que compõem o procedimento

Necessário diferenciar, nesta oportunidade, se o crime em questão é afiançável ou inafiançável.

Afiançável. Nesse caso, o procedimento é praticamente igual ao rito comum ordinário. A única diferença consiste na regra prevista no art. 513 da Lei Adjetiva,no sentido de que a queixa ou denúncia deverá ser instruída com documento ou justificação que façam presumir a existência do delito, o que sugere a necessidade de prova pré-constituída nestes casos.

Inafiançável. Observará a seguinte ordem:a) Oferecimento da denúncia ou queixa-crime: Deverá observar os

requisitos do art. 41 do CPP. Deverá ser instruída com documento ou justificação que façam presumir a existência do delito. Poderão ser arroladas até oito testemunhas, por paridade com o rito comum ordinário, descontadas as que não prestam compromisso.

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b) Autuação e notificação para resposta preliminar em 15 dias (art 514): Não sendo caso de rejeição preliminar, com fundamento no art. 395 do CPP, o juízo determinará a notificação do acusado para responder à acusação. De acordo com o art. 514, esta notificação deverá ser pessoal ao acusado e, não sendo este localizado ou mesmo residente em comarca distinta, deve-se proceder à nomeação de defensor dativo.

c) Deliberação quanto ao recebimento ou rejeição da inicial: Apresentada a defesa preliminar, os autos serão conclusos ao magistrado que poderá: 1) Rejeitar a denúncia ou a queixa. Se verificar a ocorrência das hipóteses, do art. 395 do CPP, não detectadas preliminarmente. 2) Receber a inicial acusatória. Quando deverá ordenar a citação do acusado, para, em dez dias, responder a acusação, com base no art. 396 e 396-A do CPP.

d) Prosseguimento de acordo com o rito ordinário.

1.7. – Procedimento dos crimes contra a honra (arts. 519 e 523 do CPP)Específicos aos crimes de calúnia e injúria.O procedimento a seguir descrito aplica-se unicamente aos delitos contra a honra de

ação penal privada.

1.7.1. – Atos que compõem o ritoSão idênticos ao previsto no procedimento ordinário, com duas modificações:

previsão de audiência de conciliação e admissão de exceção da verdade.

a) Ajuizamento da ação penal e audiência de reconciliação: oferecida a queixa-crime, deverá o magistrado, antes de recebê-la, ordenar a notificação do querelante e do querelado para comparecerem a uma audiência de reconciliação (art. 520 CPP), a ser realizada sem a presença de advogados. Havendo conciliação, será assinado termo de desistência da ação penal, arquivando-se o feito.

b) Recebimento da queixa-crime, citação e resposta à acusação: não havendo possibilidade de reconciliação, o magistrado, verificando não ser caso de rejeição da inicial com fundamento no art. 395 do CPP, deverá receber a queixa, determinando a citação do querelado para responder à acusação em dez dias, com fundamento no art. 396 e 396-A do CPP.

c) Exceção da verdade (art. 523): Na mesma ocasião da apresentação da defesa, mas em petição distinta desta, poderá o querelado apresentar exceção da verdade (relativo ao crime de calúnia) ou exceção de notoriedade do fato (pertinente ao crime de difamação praticado contra funcionário público no exercício de sua função). Deve ser apresentada até o prazo final da resposta, sendo este prazo preclusivo. Uma vez rejeitada, a decisão é irrecorrível, cabendo ao querelado, caso condenado, insurgir-se em preliminares de eventual apelação (art. 593, I – CPP). Posição contrária a esta ensina que cabe apelação desta decisão, com base no art. 593, II.

d) Prosseguimento no rito ordinário.

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1.8. – Procedimento nos crimes contra a propriedade imaterial (arts. 524 a 530 do CPP)

O procedimento se diferenciará se o crime em questão for de ação penal privada ou de ação penal pública (condicionada ou incondiciondada).

1.8.1. – Peculiaridades pré-processuais do rito de apuração dos crimes de ação penal privada (art, 524 a 530-A do CPP).

O procedimento judicial seguirá o rito ordinário. Contudo, os artigos supra citados prevêem as seguinte modificações pré-processuais:

a) Obrigatoriedade de perícia: É indispensável que a queixa seja devidamente instruída com a perícia realizada nos objetos que constituem corpo de delito, conforme sabedoria do art. 525 do CPP. A prova pericial é condição de procedibilidade para a ação penal, sem a qual não será possível o ajuizamento correto.

b) Providências preliminares à ação penal: Tratando-se de crime de ação penal privada, o requerimento das diligencias pré-processuais ao juiz deverá ser acompanhado da legitimidade, ou seja, da prova do direito de ação da quem requer.

c) Busca e apreensão: Provada a legitimidade do requerente e deferida a busca e apreensão, nos termos do art. 527 do CPP, esta será cumprida por dois peritos nomeados, os quais verificarão a existência de fundamento para a apreensão. Realizada ou não a apreensão, os peritos apresentarão ao juízo laudo no prazo de três dias, com suas conclusões. Mencione-se que, antes da perícia, tanto o Ministério Público como a eventual parte prejudicada poderão formular quesitos. O acusado não formula quesitos, uma vez que não há contraditório na fase pré-processual.

d) Homologação judicial: Encerradas as diligências e apresentado o laudo, os autos serão conclusos aos juiz para homologação. Da decisão que homologa o laudo é cabível recurso de apelação, nos moldes do art. 593, II.

e) Prazo decadencial (art. 529 – CPP): Homologado o laudo, correrá prazo de 30 dias para o ajuizamento da queixa, caso em liberdade o imputado. Ocorrendo prisão em flagrante, o lapso para o ingresso da ação penal é de apenas 8 dias. (arts. 539 e 530)

f) Ajuizamento da ação penal: Ajuizada tempestivamente a ação penal, esta seguira o rito ordinário.

1.8.2. – Peculiaridades pré-processuais do rito de apuração dos crimes de ação penal pública (art. 30-Ba 530-I do CPP)

O procedimento judicial também seguirá o rito ordinário. Os artigos acima citados introduziram modificações na fase pré-processual.

Sendo crime de ação penal pública e deixando vestígios a infração, a autoridade policial, poderá realizar ex officio a apreensão dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos juntamente com os equipamentos que possibilitaram a existência de tais bens, lavrando-se o devido auto de apreensão assinado por, no mínimo, duas testemunhas.

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Os bens apreendidos serão então periciados por perito oficial, produzindo-se laudo que deverá integrar o inquérito ou o processo, sendo depositados juntos aos titulares dos direitos autorais violados. O juiz poderá determinar, a requerimento da vítima, a destruição da produção ou reprodução apreendida, desde que não haja impugnação quanto à sua ilicitude.

Materializada a produção ou reprodução ilícita, seguir-se-á o rito ordinário.

1.9 – Procedimento do crime de abuso de autoridade (Lei 4.898/65)O crime é de ação penal pública incondicionada e também se enquadra na

competência do Juizado Especial Criminal.Contudo, dependendo da complexidade do fato, e se o processo for remetido ao

juízo comum, deverá ser observado o procedimento previsto na Lei 4.898/65.

1.9.1. – Atos que compõem o procedimento da Lei 4.898/65

Adaptando as disposições do CPP aos dispositivos contidos pelos arts 12 a 27 da Lei específica, a seqüência de atos é a seguinte:

a) Oferecimento da denúncia: Deve-se atender aos requisitos do art. 41 do CPP. O prazo é de 48 horas (art. 13), havendo a possibilidade de ação penal privada subsidiária da pública (art. 16) O número de testemunhas não pode ultrapassar três.

b) Rejeição liminar da inicial ou recebimento (art. 395 – CPP): Constatando a existência de qualquer das hipóteses previstas no art. 395 – CPP, o juiz poderá rejeitar liminarmente a inicial.

c) Recebimento da inicial: Não sendo caso de rejeição liminar, o juiz a receberá.d) Citação (art. 396 – CPP): Determinará o juiz a citação do acusado,m para resposta

(art. 396 – CPP), que deverá ser, por mandado, acompanhada da segunda via da denúncia (art. 17 § 2º da lei específica).Não localizado o réu, admite-se citação por edital ou por hora certa.

e) Apresentação de resposta à acusação (art. 396-A): Poderá o acusado argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à defesa, podendo arrolar até três testemunhas.

f) Possibilidade de absolvição sumária (art. 397): Julgando antecipadamente a lide, poderá absolver sumariamente o acusado, com fulcro no art. 397 do CPP.

g) Audiência de interrogatório, instrução e julgamento: Não sendo hipótese de absolvição sumária o juiz marcará data para audiência de interrogatório, instrução e julgamento, a qual deverá realizar-se dentro de cinco dias (art. 17 da lei específica). Aberta a audiência, o juiz procederá o interrogatório do acusado, ouvindo as testemunhas de acusação e defesa (art. 22). Finalizada a instrução, seguem-se debates orais, facultando o magistrado 1 minutos para cada uma das partes. A seguir, proferirá sentença.

1.10. – Procedimento de apuração dos crimes de imprensa (Lei 5.250/67)

1.10.1. – Atos que compõem o rito da Lei 5.240/67

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As fases do rito especial da Lei de Imprensa encontram-se em seus artigos 42 a 48. Estes, conciliados com a atual normativa do Código de Processo Penal, resultam no seguinte procedimento:

a) Oferecimento de denúncia ou queixa-crime: No prazo de dez dias (art. 40 § 1º da Lei de Imprensa), instruída a inicial com o exemplar do jornal ou periódico que publicou o escrito incriminado, ou sendo a infração perpetrada através de audiodifusão, com anotificação a que serefere o art. 57 da Lei de Imprensa.

b) Citação do réu para defesa prévia: Antes que o magistrado decida se recebe ou não a peça inicia acusatória, ordenará a citação do acusado para, em cinco dias, apresentar defesa prévia. Nesta oportunidade, poderá argüir as preliminares que entender cabíveis, suscitar exceção da verdade e indicar quais provas pretende produzir.

c) Interrogatório e testemunhas: Uma vez recebida a inicial, oferecida a resposta, nos moldes do art. 396 e não sendo caso de absolvição sumária, o magistrado designará data para apresentação do réu afim de que seja qualificado e, se desejar, interrogado, seguindo-se, após, a inquirição das testemunhas (art. 45 da Lei de Imprensa)

d) Alegações finais: Encerrada a instrução, será aberto a cada parte o prazo de três dias para alegações finais (art. 45, IV da Lei de Imprensa)

e) Sentença: Proferida após as alegações.

1.11. – Procedimento de apuração nos crimes relacionados à drogas (Lei 11.343/06)

1.11.1. – A prova da materialidade

O art. 50 da Lei de Drogas prevê que, para lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do crime é suficiente auto de constatação firmado por perito oficial, ou na falta deste, de pessoa idônea (perito leigo).

1.11.2. – Colaboração do criminoso e delação premiada

O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação criminal dos demais co-autores ou participes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços. (art. 41 da Lei 11.343/06)

1.11.3. – Procedimento judicial previsto na Lei 11.343/06

Previsto nos arts 48 a 59 da legislação acima citada, compreende as seguintes etapas:a) Oferecimento da Denúncia (art. 54): No prazo de 10 dias, a contar do

recebimento do inquérito policial. É prazo único, estando o acusado preso ou em liberdade. Contudo, estando o acusado preso e ultrapassado esse prazo, estará configurado o constrangimento ilegal, o que possibilitará a libertação do mesmo.

b) Notificação do acusado (art. 55): Não sendo caso de rejeição liminar, será providenciada pelo magistrado a notificação do acusado para oferecer resposta,

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no prazo de 10 dias, podendo alegar preliminares, invocar as razões que julgar pertinentes e arrolar até cinco testemunhas.

c) Decisão do juiz (art. 55 §§ 4º e 5º): Apresentada a defesa o juiz, em cinco dias, deverá decidir se rejeita a denúncia, caso entenda ocorrentes algumas das hipóteses previstas no art. 395 do CPP.

d) Citação do acusado e designação de dia e hora para audiência (art. 56): Dispõe o mencionado artigo que , recebida a inicial, designará o juiz data e hora para a audiência de interrogatório, instrução, debates e julgamento, determinando, também, a citação do réu e a notificação do MP, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais necessários. Nessa oportunidade, o acusado poderá apresentar defesa, com base no art. 396 e 396-A do CPP.

e) Audiência de interrogatório, instrução, debates e julgamento (art. 57): Essa audiência deverá ser marcada em, no máximo, 30 dias após o recebimento da denúncia, salvo se determinada perícia para atestar dependência de drogas, ocasião em que o prazo é aumentado para 90 dias. Na solenidade, o juiz interrogará o acusado e, após, a oitiva de todas as testemunhas arroladas. Ao final, abrem-se os debates orais, onde o MP e a defesa disporá, cada um, de 20 minutos, prorrogáveis por mais dez, para sustentação oral.

f) Sentença: O juiz proferirá a sentença imediatamente ou poderáoptar por determinar a conclusão dos autos para proferir a sentença em momento posterior, em dez dias.

1.12. – Procedimento de apuração das infrações de competência originária dos Tribunais (Leis 8.038/90 e 9.658/93)

Nas ações penais originárias cujo processo e julgamento sejam de incumbência dos Tribunais de Justiça dos estados, Tribunais Regionais Federais, Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, o procedimento a ser observado é o seguinte:

a) Ajuizamento da ação penal ou pedido de arquivamento: o MP deverá oferecer denúncia ou promover o respectivo arquivamento no prazo de 15 dias, se o investigado estiver solto. Encontrando-se preso, o prazo para oferecimento da denuncia ou pedido de arquivamento é de somente 5 dias.

b) Resposta: apresentada denúncia ou queixa no Tribunal competente, será o acusado notificado para oferecer resposta no prazo de 15 dias, entregando à ele cópia da inicial, do despacho do relator e dos documentos que este indicar. Uma vez desconhecido o paradeiro ou criando este óbices para sua localização, será notificado por edital para que compareça ao Tribunal em 5 dias, quando terá 15 dias de vistas aos autos, para formular resposta.

c) Notificação do autor da ação: Caso sejam apresentados novos documentos pelo acusado, o autor da ação será notificado para se manifestar sobreestes, no prazo de 5 dias.

d) Pedido de pauta pelo relator: o Relator então pedirá que o órgão colegiado delibere acerca do recebimento da inicial, ou sua rejeição. Nessa ocasião será facultada sustentação oral à acusação e depois à defesa, nesta ordem, para posterior deliberação do Tribunal.

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e) Recebimento da inicial acusatória: recebida a denúncia ou a queixa, o Relator designará dia e hora para o interrogatório, determinando a citação do acusado e intimação do MP, querelante ou assistente, se houver.

f) Interrogatório do acusado: Procederá o relator, então, com o interrogatório do réu. No interrogatório, já será intimado o acusado e seu advogado para apresentarem defesa prévia, no prazo de 5 dias. Nota: Em virtude da legislação específica ser silente em relação à revelia, aplica-se, subsidiariamente, o CPP. Não comparecendo o acusado ao interrogatório, nem constituindo este advogado, suspende-se o curso do processo e o prazo prescricional, nos termos do art. 366 do CPP.

g) Defesa prévia: Prazo de 5 dias. h) Instrução: Entrará o processo na fase instrutória, nos termos do procedimento

comum ordinário.i) Diligências: encerrada a inquirição das testemunhas, a acusação e a defesa serão

intimadas para, querendo, requerem diligências que julgarem necessárias, dentro do prazo de 5 dias.

j) Alegações escritas: Após a fase de diligencias, ou se estas não forem requisitadas, o relator determinará que sejam acusação e defesa intimadas para apresentação de alegações finasi escritas, no prazo de 15 dias.

k) Saneamento: Havendo necessidade, o relator poderá determinar, de ofício, a realização de provas que entender pertinentes e imprescindíveis ao julgamento do processo.

l) Julgamento: Na ocasião do julgamento, tanto acusação como defesa disporão de uma hora, cada um, para sustentação oral. Por fim, o julgamento será feito de acordo com o regimento interno da casa.

1.13. – Prefeitos Municipais: O Procedimento do Decreto-Lei 201/1967 frente às regras da Lei 8.038/90

Necessário se faz dividir duas modalidades de condutas que podem ser tipificadas como crimes praticados por prefeitos.

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Observação 1: nos termos da Lei, o Relator não poderá decidir sozinho, impondo-se ao Tribunal, de forma, colegiada, deliberar a respeito do recebimento ou não da exordial.

Observação 2: o entendimento firmado no âmbito do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça é de que a competência dos Tribunais para o julgamento de ações penais originárias não se restringe ao pleno ou órgão especial previsto no art. 93, XI, da CF, podendo, ao contrário, ser atribuída por lei ou regimento interno, a competência a órgão fracionário. O argumento é deque os tribunais tem autonomia para se organizarem. Tal, por exemplo, ocorre no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, onde restou delegada pelo Órgão Especial à 4ª Câmara Cível o processo e julgamento de prefeitos.

Observação 3: a decisão que rejeita a denúncia ou a queixa enseja recurso especial ou extraordinário. Jamais será cabível, nesses casos, o recurso em sentido estrito, pois este é interposto somente contra decisões de juiz singular; e tampouco agravo regimental, já que este, quando previsto nos regimentos internos dos Tribunais é adequado contra as decisões monocráticas (proferidas pelo Presidente do Tribunal ou pelo Relator), o que não é o caso ora tratado, em que, como se viu, a decisão é de órgão colegiado.

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Crimes de responsabilidade ou funcionais. Os crimes comuns, de ação penal pública incondicionada, puníveis com pena de reclusão de dois a doze anos e de detenção de três meses a três anos. Figuras típicas arroladas no art. 1º do Decreto-Lei 201/67.

Infrações político-administrativas. Sujeitas ao julgamento pela Câmara dos Vereadores e sancionadas com a perda do mandato. No Decreto-Le i 201/67 estão tipificadas no art. 4º.

Estando o prefeito ainda no exercício de cargo quando do recebimento da denúncia. Cometendo infração tipificada no Decreto-Lei, o rito a ser aplicado para a apuração de seu crime será o previsto na Lei 8.038/90, em decorrência do foro privilegiado. Contudo, uma vez que não esteja mais no exercício do cargo de chefe do executivo municipal no momento do recebimento da denúncia, o procedimento será o comum ordinário, com as seguintes modificações:

Antes de receber a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para apresentar defesa prévia, no prazo de cinco dias. Se o acusado não for encontrado para notificação, será nomeado defensor, a quem caberá a defesa, no mesmo prazo. (art. 2º, I do Decreto-Lei 201/67).

Ao receber a denúncia, o juiz deverá obrigatoriamente se manifestar sobre a prisão preventiva do acusado, e de seu afastamento do cargo durante a instrução criminal. (art. 2º, II, do Decreto-Lei 201/67).

Do despacho, concessivo ou denegatório da prisão preventiva, ou de afastamento, conforme dito acima, caberá recurso em sentido estrito, no prazo de cinco dias, em autos apartados.

Tratando-se, porém, de crimes comuns, existem três situações distintas, a saber:

Encontra-se o acusado ainda na condição de Prefeito. Deverá ser processado junto ao Tribunal competente, na forma estatuída nos arts. 1º a 12 da Lei 8.038/90.

Não se encontra mais o acusado no exercício do cargo de Prefeito. Serão aplicadas as regras procedimentais ordinárias previstas para a apuração de crimes praticados por funcionários públicos, ou legislação especial própria, se for o caso.

Se iniciado o processo segundo o rito da Lei 8.038/90, como término ou o afastamento do cargo. O ex-Prefeito passará ao responder perante o juízo comum, e o processo será redistribuído para uma das varascriminais competentes.

1.14. – Procedimento relativo aos processos da competência do Tribunal do Júri (arts. 406 a 496 do CPP).

A forma procedimental utilizada para a apuração dos crimes dolosos contra a vida.Doutrinariamente, divide-se em duas fases distintas. Judicium acusationes e judicium causae.

1.14.1. – Judicium acusationes

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Está disciplinado nos arts. 406 a 421 do CPP, e constituem-se dos seguintes atos processuais:a) Oferecimento da denúncia ou queixa-crime subsidiária: Obedecendo aos requisitos

do art. 41 do CPP. Número de testemunhas não superior a oito (art. 406 §2º)b) Rejeição liminar ou recebimento da inicial.c) Citação do acusado: Poderá ser realizada por qualquer dos critérios previstos em lei.

A regra é que seja citado pessoalmente. Não localizado, caberá citação por edital ou por hora certa.

d) Resposta do acusado: Prazo de dez dias para responder à acusação, contados a partir do efetivo cumprimento do mandato ou do comparecimento em juízo do acusado.

e) Oitiva da acusação: Uma vez apresentada a defesa,o juiz notificará o MP ou o querelante para se manifestarem sobre eventuais preliminares argüidas na resposta do réu ou sobre documentos juntados por este, no prazo de cinco dias. Essa manifestação possui caráter de réplica.

f) Aprazamento de audiência de instrução, interrogatório, debates e decisão: Após a manifestação da acusação, o juiz designará, dentro de um prazo máximo de dez dias data para audiência visando inquirição de testemunhas arroladas no processo e realização de das diligências que tenham sido requeridas pelas partes (art. 410). Em virtude da necessidade de concentração dos atos processuais, ficou estabelecido que todas as provas orais sejam produzidas em uma só audiência. Em audiência, a prova oral será produzida na seguinte ordem: 1.°) declarações do ofendido, se possível; 2.°) declarações das testemunhas; 3.°) interrogatório do acusado; 4.°) esclarecimentos dos peritos, acareações e reconhecimento de pessoas ou coisas. Encerrados, pois, os debates orais, o juiz proferirá sua decisão quanto à admissibilidade da acusação inserta à denúncia ou à queixa, ou, então, o fará em dez dias, ordenando, para tanto, que os autos lhe sejam conclusos (art. 411, § 9.0). Neste momento, faculta-se ao magistrado: a) Pronunciar o acusado (art. 413); b) Impronunciar o acusado (art. 414); c) Absolver sumariamente o acusado (art. 415); d) Desclassificar a infração penal (art. 419).

1.14.2. – Decisão de Pronúncia

Generalidades: A pronúncia é a única das decisões que permite o prosseguimento do processo criminal na vara onde tramita e o conseqüente julgamento do réu perante o Tribunal do Júri. No momento em que pronuncia, está o magistrado entendendo admissível a acusação incorporada à denúncia ou à queixa.A pronúncia está condicionada à existência de indícios de autoria e prova da material idade do fato. Na ausência destes elementos, a hipótese será de impronúncia (art. 414 do CPP). Também deverá estar configurado o dolo de matar.Não se depreendendo esta intenção da prova coligida aos autos, deverá o juiz proceder à desclassificação (art. 419 do CPP) para infração penal não dolosa contra a vida que entender configurado no caso concreto (homicídio culposo, lesões corporais seguidas de morte ou latrocínio, por exemplo), quando os autos serão remetidos ao juízo comum.

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Observação: a ausência de provas quanto à existência do fato e a ausência de indícios de autoria ou participação do réu conduzem à impronúncia (art. 414). Entretanto, a certeza de que o fato não existiu e a certeza de que o réu não foi i autor e nem participe do fato levam à absolvição sumária (art. 415, I e 11). Trata-se, portanto, de situações distintas.

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Natureza: Declaratória, como se vê do disposto no art. 413, caput e § I.", do CPP. O magistrado, em síntese, limita-se a proclamar a admissibilidade da acusação, para que seja o réu julgado pelo júri popular.Coisa julgada: Faz coisa julgada formal, já que, preclusos os meios de impugnar, torna-se imodificável. Conteúdo: Como qualquer decisão judicial, a pronúncia deve ser fundamentada, mas não de forma muito profunda, pois incorrerá em excesso de linguagem, sendo nula. Neste sentido, estabelece o art. 413, § 1.°, que a fundamentação da pronúncia deverá limitar-se à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação. Alteração na classificação do crime. Dispõe o art. 418 do CPP que o juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado possa sujeitar-se à pena mais grave. É preciso, neste caso, diferenciar duas situações distintas:

Primeira, a desclassificação para infração penal não-dolosa contra a vida. Nesse caso, a regra a ser aplicável é a do art. 419 do CPP, encaminhando-se o processo ao juizo comum.

Segunda, a desclassificação para infração penal dolosa contra a vida diversa da que foi descrita na denúncia ou na queixa. Se esta mudança de capitulação importar em reconhecimento de circunstância elementar não atribuída expressa ou implicitamente na inicial acusatória (exemplo: homicídio para infanticídio, reconhecendo-se na pronúncia o estado puerperal que não foi descrito na peça inaugural), faz-se necessária a aplicação prévia do art. 384 do CPP, conforme preceitua o art. 411, § 3.°, com a adoção das seguintes providências:

Vista ao Ministério Público para aditamento, em cinco dias. Notificação do advogado do acusado, para manifestar-se em cinco

dias. Designação de audiência para inquirição de eventuais

testemunhas arroladas, novo interrogatório do réu e debates.Efeitos da decisão de pronúncia. Em resumo, são os seguintes:

Submete o acusado a júri popular. Trata-se da única das quatro decisões possíveis nesta fase, que importa em julgamento do réu pelo Tribunal do Júri.

Limita as teses acusatórias a serem apresentadas aos jurados. Por exemplo, ainda que tenha sido o acusado denunciado por homicídio qualificado, caso venha a ser pronunciado por homicídio simples, em sessão de julgamento o promotor de justiça não poderá fazer menção à qualificadora afastada pelo juiz e tampouco poderá esta ser objeto de quesitação aos jurados.

Interrompe a prescrição. Dispõe o art. 117, II, do CP que a decisão de pronúncia é causa interruptiva da prescrição, não importando a circunstância de o Tribunal do Júri, eventualmente, desclassificar a infração penal pela qual foi pronunciado o réu para outra (Súmula 191 do STJ).

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Pronúncia e crimes conexos não-dolosos contra a vida. Na hipótese em que tenha o réu sido denunciado por um crime doloso contra a vida e outro, conexo a este, de natureza diferente. Por exemplo, homicídio e estupro contra a mesma vítima. Neste caso, entendendo o magistrado ser hipótese que autoriza a pronúncia do réu, deverá proferir decisão limitando-se a examinar as questões afetas ao homicídio, sem adentrar, em qualquer aspecto de mérito em relação ao estupro conexo. Quanto ao estupro, o pronunciamento do juiz será limitado à sua remessa a julgamento popular em conseqüência da conexão estabelecida com o crime que de homicídio.Intimação da pronúncia. A intimação da pronúncia deverá, via de regra, ser realizada ao réu pessoalmente. Não localizado ele para intimação pessoal, será, em qualquer caso, intimado por edital (art. 420, e parágrafo único). Contudo, além do réu, também deverá ser intimado também o seu defensor. Tratando-se de defensor nomeado, a intimação será pessoal (art. 420, I). Sendo hipótese de defensor constituído, a intimação será feita por meio de publicação no órgão oficial (art. 420, lI). Quanto ao advogado do querelante e ao advogado do assistente de acusação, a intimação da pronúncia será feita, mediante publicação no órgão oficial de imprensa (art. 420, lI). Por fim, em relação ao Ministério Público, a intimação deve ser pessoal, não apenas em atenção ao que dispõe o art. 420, I, do CPP, como também em face da regra geral determinada pelo art. 370, § 4.", desse diploma c da prerrogativa assegurada no art. 41, IV, da Lei 8.625/1993.A pronúncia e a prisão do réu solto. O regramento adotado pelo Código em relação à possibilidade de prisão do pronunciado é aquele constante no art. 413, § 3.°, do CPP, o qual estabelece que, na pronúncia, o juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada. Em virtude disso sustenta-se não existir mais a prisão decorrente da pronúncia.A pronúncia e a liberdade provisória mediante fiança. o art. 413. § 2º, do CPP dispõe que, por ocasião da pronúncia, se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para a concessão ou manutenção da liberdade provisória. Recurso. O recurso cabível é o recurso em sentido estrito, com fulcro no art. 581, IV do CPP.

1.14.2. – Decisão de impronúncia

Generalidades. A impronúncia está prevista no art. 414 do CPP, dispondo que, "não se convencendo da material idade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado". Como se vê, fundamenta-se esta decisão na inexistência de indícios suficientes de autoria ou na ausência de prova da materialidade do fato. Trata-se de decisão interlocutória mista terminativa, pois acarreta a extinção do processo.Renovação do processo. O parágrafo Único do art. 414 do CPP ensina que, a decisão de impronúncia não impede novo ajuizamento da ação penal na hipótese de novas provas surgirem antes que ocorra a extinção da punibilidade, por exemplo, pela prescrição ou pela morte do réu. Não se trata de prosseguimento da mesma ação penal, pois, uma vez transitada em julgado a impronúncia, a conseqüência é a imutabilidade da decisão

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dentro do processo em que exarada e a extinção do feito. Dessa forma, uma nova denúncia ou queixa deverá ser oferecida, inaugurando-se outra ação penal.Impronúncia e crimes conexos não dolosos contra a vida. Proferindo o magistrado decisão de impronúncia em relação ao crime doloso contra a vida, não pode se manifestar relativamente ao crime conexo que não possua a mesma natureza. Relativamente a este, deverá aguardar o trânsito em julgado da sentença de impronúncia para somente depois julgá-Io, se for competente, ou, então remetê-io à apreciação do juiz que o seja. Nessa hipótese, o delito conexo não será julgado pelo Tribunal Popular, mas sim pelo juiz singular.Recurso Contra a decisão de impronúncia é cabível apelação, conforme dispõe o art. 416 do CPP. Impronúncia e despronúncia. Não se confundem, uma vez que a impronúncia é a decisão do juiz de direito que determina a extinção do processo em virtude da ausência de indicativos de autoria e prova da material idade do fato, e a despronúncia ocorre quando o tribunal, julgando recurso de apelação interposto contra a pronúncia, revoga esta decisão.

1.14.3. - DesclassificaçãoCabimento e conseqüências. É a decisão de desclassifica o delito para outro que não seja doloso contra a vida.Recurso. N existe previsão expressa de via impugnativa contra a decisão de desclassificação. Contudo, entende-se cabível o recurso em sentido estrito com base no art. 581, ll, do CPP.

1.13.4. – Absolvição sumáriaGeneralidades. Cabível quando, de forma inequívoca constatar o juiz qualquer das seguintes situações:

Estar provada a inexistência do fato (art. 415, I); Estar provado que o réu não concorreu para o crime como autor ou participe (art.

415, III); Não constituir o fato infração penal (art. 415, 111); Existir circunstância que isente o réu de pena, exceto a inimputabilidade quando

não for esta a única tese defensiva (art. 415, IV, 1." parte e parágrafo único); Existir circunstância que exclua o crime (art. 415, IV, 2." parte).

Recurso. Contra a decisão de absolvição sumária, é cabível apelação, conforme dispõe o art. 416 do CPP.

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Observação (1): A semi-imputabilidade (art. 26, § único, do CP), isoIadamente considerada, jamais poderá conduzir a absolvição do réu, já que não isenta de pena, tão-somente importando na redução da pena imposta de um a dois terços.

Observação (2): Reitere-se que, vigorando, nesta fase processual, o principio in dubio pro societate, somente a prova estreme de dúvidas quanto à efetiva ocorrência das situações mencionadas no caput do art. 415 poderá conduzir à absolvição sumária. Havendo qualquer dúvida, a solução deverá ser a pronúncia, submetendo-se o acusado a julgamento pelo Tribunal Popular.

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Absolvição sumária e crimes conexos. Deverá o juiz absolver sumariamente apenas o crime doloso contra a vida, não se pronunciando em relação ao conexo.

1.13.5. – Inclusão de pessoas e cisão facultativa.

O art. 417 do CPP prevê que, havendo indícios de autoria ou de participação de outras pessoas não incluídas na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, determinará o retomo dos autos ao Ministério Público, por 15 dias, aplicável, no que couber, o art. 80 do CPP, que trata da cisão facultativa.Como refere Nucci (Código de processo penal comentado, p. 696), tal postura - aditamento pelo Ministério Público com pedido de cisão - não impede a pronúncia, ao contrário. aconselha, não se atrasando a instrução. E continua: o mesmo se dá se houver impronúncia quanto a um réu, descobrindo-se a existência de co-autores ou participes.

1.13.6. – O judicium causae – procedimento da segunda fase

Nos termos do art. 421 do CPP, uma vez preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão encaminhados ao juiz-presidente do Tribunal do Júri objetivando preparação do processo para o julgamento perante o Conselho de Sentença, seguindo-se, a partir daí, o disposto nos arts. 422 a 424.Ao receber os autos do processo, caberá ao magistrado notificar o Ministério Público ou o querelante (no caso da ação penal privada subsidiária), o advogado, do réu, para que, no prazo de cinco dias, apresentem, querendo, o rol de testemunhas que deverão prestar depoimento em plenário (até o máximo de cinco), quando poderão também juntar documentos e requerer diligências (art. 422).Após deliberar sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas em plenário de julgamento, e depois de realizadas as diligências eventual¬mente deferidas, o juiz ordenará as providências necessárias para sanar eventuais nulidades ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da causa. Em seguida, fará relatório sucinto do processo, aprazando data para sessão (art. 423).Observe-se, ademais, que, conforme dispõe o art. 479 do CPP, eventuais documentos que desejem as partes ler em plenário, ou objetos que pretendam exibir, deverão ser juntados ao processo com antecedência mínima de três dias úteis, dando-se ciência à outra parte.

1.13.7. - Desaforamento

Consiste no deslocamento do julgamento pelo júri para outra Comarca, distinta daquela onde tramitou o processo criminal, podendo ser determinado pelo Tribunal competente, a partir de requerimento de qualquer das partes (MP, querelante, assistente de acusação ou defesa) e, inclusive pelo próprio juiz, mediante representação àquele Colegiado.De acordo com os arts. 427 e 428 do CPP, o desaforamento poderá ser autorizado nas seguintes hipóteses:- Interesse da ordem pública: é a intranqüilidade social e os distúrbios locais que poderão ocorrer com a realização do julgamento na Comarca onde o processo tramitou; - Dúvida sobe a imparcialidade dos jurados: hipótese na qual a comoção existente na Comarca, pela gravidade do crime ou sua autoria, é de proporção tal que acarreta a dedução no sentido da existência de uma tendência prévia da sociedade local para

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absolver ou condenar o réu, independentemente do que vier a ser debatido no plenário do júri;- Segurança pessoal do réu;- Não-aprazamento de data para o júri após decorrido o prazo de seis meses contados do trânsito em julgado da pronúncia, quando comprovado o excesso de serviço (art. 428).

1.13.8. – Habilitação do assistente de acusação

O assistente somente será admitido se tiver requerido sua habilitação até 5 (cinco) dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar, de acordo com o que dispõe ao art. 430 do CPP.

1.13.9. – A sessão de julgamento

Os aspectos principais da nova sistemática da sessão de julgamento são os seguintes:

Número de jurados sorteados para cada reunião (mês) periódica ou extraordinária (art. 433): foi ampliado de vinte e um para vinte c cinco, sendo que o respectivo sorteio ocorrerá entre o 15º e o 10º dia anterior à reunião.

Possibilidade de realização do julgamento sem a presença do réu (art. 457): o julgamento não será adiado pelo não-comparecimento do acusado solto, do assistente de acusação ou do advogado do querelante, quando tiverem sido regularmente notificados a comparecer..

Testemunhas faltosas (arts. 458 e 461): o não-comparecimento injustificado da testemunha que tiver sido regularmente notificada importa em crime de desobediência, sem prejuízo da aplicação da multa de um a dez salários mínimos. O julgamento não será adiado se a testemunha deixar de comparecer, salvo se uma das partes tiver requerido a sua intimação por mandado. Se, intimada, a testemunha arrolada em caráter imprescindível fizer-se ausente, o juiz presidente suspenderá os trabalhos e mandará conduzi-Ia ou adiará o julgamento para o primeiro dia desimpedido.

Recusa de jurado sorteado pelas partes c cisão do julgamento (arts. 467 a 469): Instalada a sessão de julgamento, procederá o juiz presidente ao sorteio dos sete jurados que formarão o Conselho de Sentença (art. 467). À medida que as cédulas contendo o nome dos sorteados forem sendo retiradas das umas, o magistrado fará a leitura e facultará, inicialmente aos defensores dos réus A e B, e, depois deles, à acusação, manifestarem-se sobre a aceitação ou recusa do jurado (art. 468, caput). Cada uma das partes poderá recusar, imotivadamente, até três jurados, sendo que o jurado recusado por qualquer delas será imediatamente excluído da sessão de julgamento, prosseguindo-se, então, o sorteio para formação do Conselho de Sentença com os jurados remanescentes (art. 468, parágrafo único).

Aspectos relativos à instrução em plenário de julgamento (arts. 473 a 475): em sessão de julgamento pelo júri, os atos instnttórios observarão as seguintes regras:

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a) Testemunhas arroladas para prestarem depoimento em plenário serão perguntadas diretamente pelo Ministério Público e pela defesa. Questiona-mentos dos jurados, porém, serão feitos pelos mesmos por meio do juiz.b) As partes e os jurados poderão requerer ao juiz acareações, reconhecimentos de pessoas ou coisas e esclarecimentos dos peritos.c) Não há, na atual regulamentação, a possibilidade anteriormente conferida às partes de requererem ao juiz, previamente aos debates, a leitura irrestrita de peças do processo. Agora, nos termos do art. 473, § 3.°, partes e jurados poderão requerer, unicamente, que sejam lidas por servidor as peças que se refiram exclusivamente às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis.d) Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do júri, salvo se esta providência for absolutamente necessária à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas e dos presentes.

Debates (arts. 476 a 479): Uma vez encerrada a instrução, o juiz concederá ao Ministério Público a palavra para exposição da tese de acusação, que o fará sempre nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que a tenham modificado, sustentando as agravantes que entender adequadas ao caso. O assistente de acusação eventualmente habilitado terá a palavra após o Ministério Público. Quanto ao tempo destinado à acusação e à defesa, será de uma hora e meia para cada, e de uma hora para a réplica e outro tanto para a tréplica (art. 477). Havendo mais de um acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de uma hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica (art. 477, § 2.°). Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, estes combinarão entre si a distribuição do tempo, de acordo como art. 477 § 1º.

Quesitação. Encerrados os debates, os jurados serão indagados, sucessivamente, sobre:

I. Materialidade do fato lato sensu: trata-se, aqui, de questionar os jurados sobre a efetiva ocorrência do fato principal descrito na inicial. Assim, tomando-se como exemplo a hipótese de um homicídio, o primeiro quesito, segundo a redação do art. 483, I, deverá indagar os jurados acerca da materialidade lato sensu, o que abrange tanto a materialidade stricto sensu (ocorrência das lesões na vítima em decorrência do agir imputado ao réu) como a letalidade (nexo de causalidade entre essas lesões e a morte do ofendido).

1.ª CORRENTE: 1º QUESITO: MATERIALIDADE E LETALIDADE

2.' CORRENTE; 1º QUESITO: MATERIALIDADE 2º QUESITO: LETALIDADE

1.° Quesito;"No dia 13 de janeiro de 2005, por volta das 14 horas, na Rua Brasil interior da residência de n. o 400, Bairro Navegantes, em Porto Alegre. Alguém, desferindo tiros de revólver, produziu na vítima Beltrano da Tal as lesões descritas no auto de necropsia de fls. 30, que lhe causaram a morte?' RESPOSTA:

SIM Prossegue-se a quesitação.NÃO O réu está absolvido, pois

1.º Quesito:No dia 13 de janeiro de 2005, por volta das 14 horas, na Rua Brasil, interior da residência de n. o 400, Bairro Navegantes, em Porto Alegre, Alguém, desferindo tiros de revólver, produziu na vitima Beltrano de Tal as lesões descritas no auto de necropsia de fls. 30?RESPOSTA:

SIM Prossegue-se a quesitaçãoNÃO O réu está absolvido, pois negada a materialidade stricto sensu do fato

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negado o fato principal (art, 483, § 1.").

principal (art. 483, § 1º).

2ª Quesito

Estas lesões causaram a morte da vitima? RESPOSTA

SIM Prossegue-se a quesitação, pois afirmada a existência do fato e das lesões.NÃO Opera-se a desclassificação do crime para lesões corporais, de competência do juiz singular, pois negado o nexo de causalidade entre as lesões e a morte.

II. Autoria ou participação: neste segundo quesito, buscar-se-á obter dos jurados a afirmação quanto a ter o acusado, efetivamente, concorrido para a prática da infração penal da qual acusado e pela qual foi pronunciado: SIM Prossegue-se a quesitação – NÃO O réu está absolvido, pois negado seu envolvimento no crime. (art. 483, § 1º)

III. Se o acusado deve ser absolvido: respondidos, por mais de três jurados, afirmativamente aos quesitos anteriores, passa-se à terceira pergunta, se o acusado deve ou não ser absolvido. (art. 483, § 2º): SIM O réu está absolvido, encerrando-se a votação. – NÃO O réu está condenado, prosseguindo-se com indagação sobre causas de eventualmente alegadas pela defesa em plenário e sobre qualificadoras ou causas de aumento de pena reconhecidas na pronúncia. (art. 483, § 3.°).

IV. Se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa: encontrando-se condenado o acusado (pela afirmação dos dois primeiros

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Na hipótese em que a defesa tenha alegado aos jurados mais de uma tese defensiva, o modelo de quesitação ora em exame não permite a verificação de qual delas valeram-se os jurados para responder afirmativamente ou negativamente ao terceiro quesito. Tal circunstância, a nosso ver, pode conduzir ao paradoxo. Imagine¬se, por exemplo, que tenha o advogado em plenário sustentado as teses de legitima defesa real, legitima defesa putativa e inimputabilidade. Quesitados genericamente na forma prevista no art. 483, § 3º, considere-se que os jurados, por maioria, respondam "sim", absolvendo o réu. Restaria, nesse caso, a dúvida sobre qual das teses foi agasalhada pelo Conselho de Sentença para absolver o acusado, o que releva em face das conseqüências do acolhimento de uma ou outra não apenas no que se refere à eventual necessidade de imposição de medida de segurança como também em relação aos reflexos civis da absolvição. Veja-se:

- Legitima defesa real absolvição sem medida de segurança faz coisa julgada no cível

- Legítima defesa putativa absolvição sem medida de segurança não faz coisa julgada no cível

- Inimputabilidade (art. 26 CP) absolvição com medida de segurança não faz coisa julgada no cível

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quesitos e negativa do quesito previsto no art. 483, III), o juiz-presidente formulará, logo após, quesito sobre causa de diminuição de pena que tenha a defesa, eventualmente, sustentado em plenário. O quesito não poderá ser genérico, tal significando que cada uma das causas sustentadas pelo advogado deverá ser objeto de um questionamento próprio.

V. Se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecida na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação: constitui-se, em tese, a última etapa da quesitação submetida aos jurados. Para que possam ser objeto de quesitação, as qualificadoras e causas de aumento de pena devem ter sido reconhecidas na pronúncia (art. 413, § 1.°). Também aqui compreendemos que não será pos¬sível a formulação de um quesito genérico sobre tais questões, impondo-se o questionamento de cada uma delas em separado.

1.13.10. – Breve roteiro dos atos que compõem a sessão d julgamentoI. Verificação das cédulas:Na sessão de julgamento, antes de declará-Ia instalada, deverá o juiz realizar a conferência da urna que contém o nome dos jurados sorteados para a respectiva reunião, ou seja, verificar se estão presentes as cédulas pertinentes aos vinte e cinco jurados sorteados em conformidade com o art. 433. Logo após, determinará ao escrivão que proceda à chamada para confirmação dos presentes (art. 462).

2. Instalação da sessi'oSe, na sessão de julgamento, tiverem comparecido pelo menos quinze jurados, o juiz deverá declarar instalados os trabalhos (art. 463), não importando, para fins deste cômputo, que, entre os presentes, hajam jurados que não possam participar do conselho de sentença por motivos de suspeição ou impedimento (art. 466 c/c o art. 463, § 2º). Não havendo o número mínimo, procederá o magistrado ao sorteio de jurados suplentes em número correspondente aos que faltaram, e designará nova data para a sessão (art. 464). Observe-se que a ausência injustificada do jurado à sessão de julgamento acarreta-lhe a imposição de multa, que será fixada pelo juiz entre um a dez salários mínimos, de acordo com sua condição econômica (art. 442).

3. Esclarecimentos do juizInstalada a sessão, o magistrado esclarecerá aos jurados sobre os impedimentos, suspeições e incompatibilidades, advertindo, também, acerca da incomunicabilidade dos membros do Conselho de Sentença (arts. 448, 449 e 466).

4. Formação do Conselho de SentençaAto contínuo, será realizado o sorteio de sete jurados para a composição do Conselho de Sentença, podendo a defesa e o Ministério Público efetuar até três recusas imotivadas (arts. 467 e 468).

. 5. Exortação e compromisso

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Conforme reza o art. 472, formado o Conselho de Sentença, o juiz-presidente fará aos jurados a seguinte exortação: "Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça". Os jurados, neste momento, serão chamados individualmente pelo nome e deverão responder, como forma de compromisso: "Assim o prometo".

6. Entrega de cópia de peçasEm seguida, cada membro do Conselho de Sentença receberá cópias da pronúncia ou, se for o caso, das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo. Reitera-se, contudo, que, a despeito da entrega destas cópias aos jurados, não poderão as partes, sob pena de nulidade, fazer-lhes menção por ocasião dos debates (art. 478, I).

7. Instrução em plenárioPrestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando o juiz-presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação (art. 473). Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o defensor do acusado formulará as perguntas antes do Ministério Público e do assistente, mantidos, no mais, a ordem e os critérios estabelecidos neste artigo (§ 1.°).

8. Interrogatório do réuA seguir será o acusado interrogado (art. 474). O Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado (§ 1.°). Os jurados, assim como ocorre em relação à inquirição da vítima e das testemunhas, formularão perguntas por intermédio do juiz presidente (§ 2.°). Visando a evitar interferência no ânimo dos jurados, vedou o legislador o uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes (§ 3.°).

9. DebatesTempo. Superada a fase instrutória, iniciam-se os debates, ocasião em que acusação e defesa argüirão suas teses perante o Conselho de Sentença. O prazo para a acusação e para a defesa será de uma hora e meia para cada um, facultando-se, após, mais uma hora a título de réplica e uma hora para tréplica (art. 477). Havendo mais de um acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido de uma hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica.Apartes. Com o fim de evitar interferências excessivas de qualquer dos pólos no curso da exposição que estiver sendo realizada pela parte adversa, dispôs a lei que compete ao juiz regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada aparte. Os apartes, então, deverão ser requeridos ao magistrado e, se por ele permitidos, serão acrescidos ao tempo de quem tiver sido aparteado (art. 497, XII).

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10. Consulta aos juradosFinalizados os debates, o Juiz indagará aos jurados se estes se encontram habilitados a julgar (art. 480, § 1.°).

11. Dissolução do Conselho de SentençaSe houver necessidade de diligência essencial que não puder ser realizada imediatamente, ou prova pericial, o juiz dissolverá o Conselho, para que estas sejam realizadas (art. 481). Aprazará nova sessão de julgamento, ocasião em que os trabalhos serão reiniciados, inclusive com o sorteio de novos jurados.

12. Leitura e explicação dos quesitosNada havendo a ser diligenciado, o juiz, em plenário, procederá à leitura dos quesitos e perguntará às partes se há qualquer reclamação ou impugnação, explicando aos jurados, outrossim, o significado de cada um dos questionamentos que lhes será submetido a votação (art. 484).

13. VotaçãoNão havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz-presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça irão à sala especial a fim de ser procedida a votação dos quesitos pelos jurados (art. 485), sendo, nessa oportunidade, as deliberações tomadas por maioria de votos (art. 489).

14. SentençaSentença condenatória ou absolutória. Em seguida à votação dos quesitos, o juiz-presidente prolatará sentença, atendendo aos critérios do art. 492.

1.15. – Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003)

1.15.1. – Considerações Gerais.O Estatuto do Idoso introduziu um conjunto de normas destinadas a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igualou superior a sessenta anos (art. 1.°). Em que pese a maior parte dos dispositivos refira-se a questões sociais, evidenciando a preocupação do legislador em garantir às pessoas mais ve¬lhas o direito à dignidade, é certo que assume especial importância o tema relativo ao procedimento de apuração das figuras penais instituídas pelo Estatuto, principalmente em face do que dispõe o seu art. 94 ao disciplinar que aos crimes previstos nesta lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.

1.15.2 – Procedimento de apuração dos crimes tipificados no Estatuto

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Crimes cuja pena máxima não ultrapasse quatro anos de prisão. A teor da redação do art. 94, aos crimes previstos no Estatuto com pena máxima de até quatro anos deve ser estabelecida a seguinte disciplina:Regra geral: aplica-se o procedimento sumaríssimo previsto na Lei 9.099/1995 (arts. 77 a 81).Exceção 1: possível aplicar às infrações penais tipificadas no Estatuto do Idoso o instituto da transação penal apenas quando a pena máxima cominada in abstrato não for superior a dois anos.Exceção 2: possível aplicar às infrações penais tipificadas no Estatuto do Idoso o instituto da suspensão condicional do processo apenas quando a pena mínima comi nada não for superior a um ano. Crimes cuja pena máxima ultrapasse os quatro anos de prisão. Para apuração dos crimes com pena máxima superior a quatro anos, o rito a ser aplicado é o comum ordinário (rito padrão), nos termos do art. 394, § 1.°, I, do CPP.

1.15.3. – Procedimento de apuração de crimes praticados contra idosos não tipificados no Estatuto do IdosoNa falta de proce¬dimento especial, deve-se utilizar a regra do art. 394, § 1.°, do CPP, que assim preceitua:

Procedimento comum ordinário: adequado para a apuração de crimes cuja sanção máxima cominada for igualou superior a quatro anos de pena privativa de liberdade (art. 394, § 1.°, I). Procedimento comum sumário: destinado à apuração de crimes cuja sanção máxima cominada seja inferior a quatro anos de pena privativa de liberdade(art. 394, § 1.°, Il), excluindo-se, porém, as que devam ser apuradas por meio do rito sumaríssimo.Procedimento comum sumaríssimo: cabível em relação às infrações de menor potencial ofensivo, como tais definidas as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxíma não superior a dois anos, cumulada ou não com multa (art. 394, § 1.°. III).

1.15.4. – Quadro analítico dos tipos penais definidos no Estatuto do Idoso

TIPO PENALINVESTIGAÇÃO BENEFÍCIOS JUÍZO DE RITO

POLICIAL PENAIS APURAÇÃO PROCfiSSUAL

ART. 98 SuspensãoPENA:

Inquérito Policialcondicional do Juizo Rito

6 MESES A 3 comum sumarissimo

ANOS Processo

ART. 99, Transação penalCAPUT Termo ou Juizado RitoPENA:

CircunstanciadoSuspensão especial

sumarissimo2 MESES A 1 condicional do criminalANO Processo

ART. 99. § 1,' Suspensão Juizo Rito

PENA: Inquérito Policial condicional do comum sumarissimo 1 A 4 ANOS Processo

ART. 99, § 2,° Não se facultam Juizo Rito

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PENA;Inquérito Policial

os beneficios da Comum

comum

4 A 12 ANOS Lei 9.099/1995 ordinário

ART. 100 Transação penal

TermoOu Juizado

Rito PENA: Suspensão especial

6 MESES A 1 Cir;::unstanciadocondicional do

criminal sumarissimo

ANO

Processo

ART. 101 Transação penal

PENA: Termo ou Juizado Rito 6 MESES A 1 Circunstanciado Suspensão especial sumarissimo ANO condicional do criminal

Processo

ART. 102 SuspensãoJuizo Rito

PENA:Inquérito Policial

condicional do

comum sumaríssimo

1 A 4 ANOS Processo

ART, 103 Transação penal

PENA: Termo ou Juizado Rito 6 MESES A 1 Circunstanciado Suspensão especial sumarlssimo ANO condicional do criminal

Processo

ART. 104 Transação penal

PENA: Termo Ou Juizado Rito 6 MESES A 2 Circunstanciado Suspensão especial sumarissimo ANOS condicional do criminal

Processo

ART. 105 SuspensãoJuizo Rito

PENA: Inquérito Policial condicional do

1 A 3 ANOS comum 5umaríssímo

Processo

ART. 106 Não se facultam Juizo Rito

PENA: Inquérito Policial os benefícios dasumarlssimo 2 A 4 ANOS Lei 9.099/1995 comum

ART. 107 Não se facultamJuizo

Rito

PENA: Inquérito Policial os beneficios da Comum

2 A 5 ANOS Lei 9.099/1995 comum Ordinário

ART. 1 08 Não se facultam Juizo Rito

PENA: Inquérito Policial os benefícios daSumaríssimo 2 A 4 ANOS

lei 9.099/1995 comum

1.16. – Violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei 11.340/2006)

1.16.1. – Considerações geraisA conhecida Lei Maria da Penha, entrou em vigor em 22 de setembro de 2006, com o objetivo de fornecer instrumentos eficazes no combate à violência doméstica e familiar praticada contra a mulher.1.16.2. – Conceito e formas de violência doméstica e familiar contra a mulherNos arts. 5.° e 7.°, estabeleceu a Lei 11.340/2006 a abrangência conceitual do que seja a violência doméstica e familiar, disciplinando, outrossim, as respectivas formas. Estas definições são importantes, pois delas depende o enquadramento do caso concreto na sistemática protetiva instituída no aludido diploma legal.

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Para ser sujeito passivo (ofendido), sujeito tutelado pela lei em exame, basta que se enquadre no conceito biológico de mulher.Por outro lado, em relação ao sujeito ativo (autor da infração) da violência, poderá ser qualquer pessoa coligada à ofendida por vínculo afetivo, familiar ou doméstico, independente de pertencer ao sexo masculino ou feminino. Aplica-se, assim, a lei à mulher que agride outra mulher com quem tenha relação afetiva, de marido contra esposa, de filho ou filha contra mãe, de neto contra avó, de travesti contra mulher, de companheiro contra companheira etc.1.16.3. – A não aplicação dos institutos despenalizadores da Lei 9.099/1995 (art. 41)Estabelece o art. 41 da Lei Maria da Penha que aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher não se aplica a Lei 9.099/1995, independentemente da quantidade e natureza da pena prevista no tipo penal incriminador (v.g., lesões corporais, ameaça, injúria etc.).1.16.4. – Proibição de aplicação de penas de multa e cestas básicas (art. 17)O art. 17 da Lei Maria da Penha proíbe, nas hipóteses de violência doméstica e familiar contra a mulher, a aplicação de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.O intuito do legislador, nesse caso, foi evitar que o resultado concreto do procedimento instituído pela Lei 11.340/2006 resultasse idêntico ao que decorreria da incidência da Lei 9.099/1995, cujos termos não se aplicam à espécie, conforme já foi visto. Cabe ressaltar, contudo, que a lei não proibiu a aplicação de penas restritivas de direito que, se descumpridas, ensejarão a conversão em prisão, nos termos do art. 44, § 4.°, do Código Penal.

1.16.5. - Competência Determina o art. 13 da Lei 11.340/2006 a aplicação subsidiária dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil, além da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso, naquilo que não for conflitante com suas regras.Partindo do disposto no art. 1.°, que prevê a criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, o art. 14 afirma que tais juizados, com competência cível e criminal, serão órgãos da justiça comum, podendo ser criados por cada ente federativo (Estado) segundo as suas realidades próprias, observadas a conveniência e a possibilidade orçamentária de sua instalação. Depreende-se que, na pendência da criação dos aludidos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, o juiz criminal, além de sua competência nessa própria esfera (penais), irá atender questões atinentes ao processo civil - evidentemente, apenas no que toca, neste enfoque, às medidas protetivas de urgência (art. 22), que têm, na maioria, evidente caráter cível -, assim procedendo em razão da delegação legal de competência que lhe é determinada pelo art. 33 e com o objetivo de garantir o atendimento imediato à mulher vítima de violência doméstica e familiar.

1.16.6. – Medidas protetivas (arts. 11, 22, 23 e 24)A Lei Maria da Penha diversas medidas de proteção à mulher:

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Page 37: Nota de aula n. 03 - UNIFOR - Procedimentos Criminais

a) Medidas a cargo da autoridade policial (art. 11): tratam-se de medidas de ordem administrativa, que serão adotadas por ocasião do atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar:

I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário; II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida;IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar;V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei c os serviços disponíveis.

b) Medidas protetivas de urgência: subdividem-se em duas ordens, e poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou da ofendida (conforme o caso, como veremos a seguir):

b.1) Medidas protetivas destinadas ao agressor (art. 22): uma vez constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação aoórgão competente, nos termos do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03);II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida.

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida aequipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

b.2) Medidas protetivas destinadas à ofendida (arts. 23 e 24): Podem ter caráter pessoal (art. 23) ou patrimonial (art. 24)Medidas de Caráter Pessoal:

I - encaminhar a ofendida c seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

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IV - determinar a separação de corpos.Medidas de Caráter Patrimonial:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.

1.16.7. – Possibilidade de prisão preventiva (art. 20)A Lei Maria da Penha dispõe no art. 20 que, em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de oficio, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.Nesta mesma linha, acrescentou, por meio do art. 42, uma quarta hipótese de prisão preventiva ao art. 313 do Código de Processo Penal, autorizando a custódia, além das situações já previstas, nos crimes que envolverem violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei especifica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência,Ora, até mesmo em razão da alteração introduzida à Lei Adjetiva Penal, resta evidente que a prisão preventiva autorizada pelo art. 20 da Lei 11.340/2006 pressupõe a presença de um dos motivos previstos no art, 312 do CPP - garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal ou segurança da aplicação da lei penal e indícios suficientes de autoria e prova da existência do crime.

1.16.8. – A retratação da representação nos crimes de ação penal pública condicionada (art. 16)De acordo com o art. 16 da Lei Maria da Penha, apenas poderá ser admitida a renúncia à representação quando tal for realizada perante o juiz, no curso de audiência especialmente designada para esse fim, e antes do rece¬bimento da denúncia e com prévia oitiva do Ministério Público.

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