notas sobre FC

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/9/2019 notas sobre FC

    1/3

    Sesses do imaginrio Cinema Cibercult ura Tecnologias da Imagem42

    cinema: dossi fico cientfica

    NOTAS SOBRE FICO CIENTFICA:

    K. DICK, GIBSON E ASIMOVFlvia Pihtan*****

    A fico cientfica a soma da evoluotecnolgica com a imaginao de escritores vistoscomo visionrios, homens que conseguem unirtecnologia com comportamentos e transformaessociais, e pr-vem o futuro.

    A cincia, a tecnologia de redes, a robtica,a bioqumica, as tcnicas de inteligncia artificial

    e a ciberntica, a manipulao gentica, osambientes de realidade virtual so elementos-chavepara a fico cientfica.

    Isaac Asimov, russo nascido em 1920,cientista e escritor, inventou a palavra rob em1942. Ele via nos computadores e nas mquinas apossibilidade de libertar os homens para poderemse dedicar a tarefas mais criativas. Ele cunhoutrs leis, talvez na tentativa de regular a relaoentre robs e humanos, garantindo o poder aoshomens para controlar os robs. As leis darobtica, criadas por ele diziam o seguinte(ASIMOV E SILVERBERG, 1998):

    1) Nenhum rob pode lesionar a um serhumano ou, atravs de sua omisso, permitir queum ser humano seja lesionado.

    2) Todo rob deve acatar as ordens que osseres humanos lhes do, exceto se estas entramem conflito com a primeira lei.

    3) Todo rob deve sempre proteger sua

    existncia desde que essa proteo no entre emconflito com a primeira ou a segunda lei.

    No filme O Homem Bicentenrio, originadopor uma obra de Isaac Asimov e Robert Silveberg,O Rob Humano, pode-se perceber um perfilpositivo dos robs, que em nenhum momentotomam o controle de suas prprias aes e sevoltam contra seus criadores, ou seja, passam ater livre arbtrio. Este perfil o oposto nas obrasde outros escritores, que passam a expressar aspossveis conseqncias da mistura homem-

    mquina, ou seja, o impacto das novas tecnologiasna sociedade.

    O escritor norte-americano, Philip KrendedDick, nascido em Chicago, em 1928, expressaem suas obras as transformaes morais e sociaisde sua poca e suas angstias frente a essas

    situaes. Em seus contos aparecem elementoscomo a psicodelia, a promiscuidade tecnolgica,o descrdito no governo e nas autoridades,problemas religiosos e sociais, experinciasgenticas, falsas realidades, o humano versus amquina.

    A juventude norte-americana e internacionaldos anos 60 tinha o desejo de mudar a sociedadecriando uma sociedade alternativa. As drogas eramvistas como uma experincia, que ampliava ascapacidades cognitivas das pessoas e estimulavaum processo de libertao mental das

    convenes repressivas do sistema. Usava-se nestafase o LSD (Lysergic Acid Diethylamide), que

    O homem bicentenrio

  • 8/9/2019 notas sobre FC

    2/3

    43Porto Alegre no 11 julho 2004 Famecos/PU CRS

    vinha sendo experimentada por psiquiatras emtratamento de distrbios mentais.

    O psiclogo norte-americano ThimotyLeary, doutor de Harvard, divulgou a droga,acreditando ter descoberto a chave para abrir aconscincia humana. Foi preso em 1966 quandoa droga foi proibida. O coquetel de cido eraconsiderado como a passagem para uma novadimenso, uma nova tribo, uma nova maneira deestar no mundo. Esse carter alucingeno dasdrogas encontrado nas obras de fico cientfica,que misturam o imaginrio dos autores com arealidade.

    Na obra Do Androids Dreams of ElectricSheep?, de Philip K. Dick, o autor evidencia suapreocupao com a conseqncia da fuso entre

    o homem e a mquina, ou seja, a mistura deelementos animais ou humanos com elementosartificiais, caractersticos das mquinas, ou vice-versa.

    O filme originado por este livro oconhecido Blade Runner, filme que mistura arealidade com o imaginrio e as evoluestecnolgicas. As pessoas so manipuladas, oumelhor, j no se sabe mais quem humano equem andride. Implantes de memria,simulaes, tecnologia de ponta, problemassociais,..., so os elementos misturados que

    originaram os seres do futuro apresentados nofilme, que tenta evidenciar como a vida ou serinfluenciada por esta exploso de evolues quemarcam e caracterizam a cibercultura.

    (...) podemos compreender a Ciberculturacomo a forma scio-cultural que emergeda relao simbitica entre a sociedade, acultura e as novas tecnologias de basemicro-eletrnica que surgiram com aconvergncia das telecomunicaes com ainformao na dcada de 70 (LEMOS in:

    LEMOS E CUNHA, 2003, p. 12).

    De acordo com Lemos in: Lemos e Cunha,parte desta idia da mistura homem-mquinaremete ao corpo como objeto de interveno, ouseja, a relao entre aphysis e a techne:

    O corpo sempre foi um constructo culturale est imbricado no desenvolvimento dacultura. Nesse sentido, o corpo daCibercultura um corpo ampliado,transformado e refuncionalizado a partir das

    possibilidades tcnicas de introduo de

    micro-mquinas que podem auxiliar asdiversas funes do organismo (2003,p.19).

    De um lado rgos artificiais substituemrgos verdadeiros, seqncias de DNAdefeituosas so detectados e podem ser trocadaspor outra...; por outro lado, tcnicas de intelignciaartificial permitem s mquinas comportamentostpicos de seres vivos: as redes neurais detectamcomportamentos e aprendem, com o passar dotempo, que animais eletrnicos tambm possuema capacidade de adaptao ao seu ambiente. Essas

    evolues tecnolgicas esto ocorrendo em umavelocidade frentica. Como exemplo, pode-se citarque em dez anos de pesquisas, pesquisadoresconseguiram desenvolver robs bpedes, o queera um desafio at ento. Esses robs, equipadoscom as tcnicas de Inteligncia Artificial,identificam obstculos, objetos encontrados noambiente onde se encontram ou por onde semovimentam. Alm de terem a capacidade dereconhecer seu dono, obedecer comandos de voz,identificar de onde vm os sons,...

    Pode-se perceber que a viso de Philip K.

    Dick, apresentada no filmeBlade Runner, umaviso pessimista sobre o impacto das novastecnologias na sociedade, o que resultaria numavida catica. Chuvas ininterruptas, dominaotecnolgica, extermnio de animais e quase oextermnio do homem, emigrao em massa,manipulao religiosa ou por drogas,...

    Outro escritor americano, William Gibson,comNeuromancer, escrito em 1984, definiu umanova forma de fico cientfica que depois ficouconhecida como cyberpunk, movimento ao qualtambm pertenciam Bruce Sterling, John Shirley,

    Rudy Rucker e Lewis Shiner. Eles acreditam que

    Rob ASIMO

  • 8/9/2019 notas sobre FC

    3/3

    Sesses do imaginrio Cinema Cibercult ura Tecnologias da Imagem44

    a maior parte da produo da fico cientficaestava atrelada a frmulas concebidas no passado,quando a alta tecnologia ainda no moldavadiretamente o cerne da experincia humana(ANTUNES In: GIBSON, 2003, p. 5).

    Foi neste livro de Gibson que nasceu oconceito de ciberespao na dcada de 70:

    Conforme a popularizao dacomunicao mediada por computador,tornava mais conhecida a noo de (e aexperincia do) ciberespao, mais comunse freqentes passaram a ser as menesa determinados elementos das difusasdescries do ciberespao e do universodistpico retratado em Neuromancer

    (FRAGOSO. In: LEMOS e CUNHA,2003, p.212).

    De acordo com Lemos (2002), o imaginriocyberpunk marca toda a cibercultura. O termosurgiu no movimento de fico cientfica queassocia tecnologias digitais, psicodelismo, tecno-marginais, ciberespao, cyborgs e poder miditico,poltico e econmico dos grandes conglomeradosmultinacionais.

    Autores desse gnero de fico cientficaso pessimistas em relao ao futuro, mostramos efeitos negativos das novas tecnologias nasociedade e perceberam a ligao com a visomstica disseminada nos anos 60 e 70, o infinitovisto como instncia simultaneamente exterior einterior ao ser humano (ANTUNES. In: GIBSON,2003, p. 5). Da a subjetividade envolvida noconceito de ciberespao. Escritores dessatendncia viram que a revoluo da cincia est

    na computao e nas telecomunicaes. A

    possibilidade de uma rede mundial eletrnica deinformao e a preocupao com - onde estatecnologia ir nos levar -, so explicitadas em seustextos.

    O filme Matrix, escrito e dirigido pelosirmos Wachowski, pode ser considerado comoo esboo da adaptao deNeuromancerpara ocinema (ANTUNES, in: GIBSON, 2003, p. 7).

    Hoje o ciberespao o habitat das novastecnologias. Levy (1999) define o ciberespaocomo sendo o espao de comunicao abertopela interconexo mundial dos computadores edas memrias dos computadores.

    O mundo encontra-se num emaranhado dedescobertas e avanos tecnolgicos... muito doque fazia parte apenas do imaginrio de alguns

    escritores de sci-fi, hoje j virou realidade, enfim,a fico cientfica de Philip K. Dick, WilliamGibson, Isaac Asimov, est cada vez mais prximada realidade. E o que importante lembrar queum dos veculos que torna tudo isso mais pblicoe evidente o cinema.

    NOTAS

    * Mestranda do PPGCOM/PUCRS

    REFERNCIAS

    ANTUNES, Alex. Prefcio edio brasileira .In: GIBSON, William. Neuromancer. 3. ed. SoPaulo: Aleph, 2003.

    ASIMOV, Isaac e SILVERBERG, Robe rt. El RobotHumano. Barcelona: Plaza & Jans,1998.

    DICK, Philip Kendred. Suean los androides conovejas elctricas? 10. ed. Barcelona: Romany,2001.

    FRAGOSO, Suely. Um e Muitos Ciberespaos. In :LEMOS, Andr e CUNHA, Paulo. Olhares sobre aCibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003.

    LEMOS, Andr. Cibercultura. Alguns pontos paracompreender a nossa poca. In: _______ e CU-NHA, Paulo.Olhares sobre a Cibercultura. PortoAlegre: Sulina, 2003.

    LEMOS, Andr. Cibercultura, tecnologia e vidasocial na cultura contempornea. Porto Alegre:Sulina, 2002.

    LVY, Pierre. Cibercultura. So Paulo: Ed. 34,1999.

    O homem bicentenrio