26
NOV1219_REDVET NEUROTRANSMISSÃO DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO: ABORDAGEM FARMACOLÓGICA Neurotransmission autonomous nervous system: Pharmacological approach PALAVRAS-CHAVE: Sistema Nervoso Simpático | Sistema Nervoso Parassimpático | Neurotransmissão periférica. KEYWORDS: Sympathetic Nervous System | Parasympathetic Nervous System | Peripheral neurotransmission. Resumo O sistema nervoso autônomo (SNA) conduz as informações do sistema nervoso central para o a musculatura lisa (visceral e vascular), as secreções exócrinas (e algumas endócrinas), a freqüência e força de contração cardíaca e alguns processos metabólicos, como a utilização da glicose. A presente revisão de literatura visa descrever as drogas que conseguem mimetizar ou antagonizar os efeitos dos principais neurotransmissores do SNA, focando seu uso nas diferentes espécies dos animais domésticos. Summary The autonomic nervous system (ANS) leads the information to the central nervous system to smooth muscle (visceral and vascular), exocrine secretions (and some endocrine), the frequency and strength of cardiac contraction and some metabolic processes such as glucose utilization. The present review aims to describe drugs that can

NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

  • Upload
    buihanh

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

NOV1219_REDVET

NEUROTRANSMISSÃO DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO: ABORDAGEM FARMACOLÓGICA

Neurotransmission autonomous nervous system: Pharmacological approach

PALAVRAS-CHAVE: Sistema Nervoso Simpático | Sistema Nervoso Parassimpático |

Neurotransmissão periférica.

KEYWORDS: Sympathetic Nervous System | Parasympathetic Nervous System |

Peripheral neurotransmission.

Resumo

O sistema nervoso autônomo (SNA) conduz as informações do sistema nervoso central

para o a musculatura lisa (visceral e vascular), as secreções exócrinas (e algumas

endócrinas), a freqüência e força de contração cardíaca e alguns processos metabólicos,

como a utilização da glicose. A presente revisão de literatura visa descrever as drogas que

conseguem mimetizar ou antagonizar os efeitos dos principais neurotransmissores do SNA,

focando seu uso nas diferentes espécies dos animais domésticos.

Summary

The autonomic nervous system (ANS) leads the information to the central nervous system to

smooth muscle (visceral and vascular), exocrine secretions (and some endocrine), the

frequency and strength of cardiac contraction and some metabolic processes such as

glucose utilization. The present review aims to describe drugs that can mimic or antagonize

the effects of the main neurotransmitters of the ANS, focusing on their use in different

species of domestic animals.

NEUROTRANSMISSÃO NO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

O sistema nervoso autônomo (SNA) conduz as informações do sistema nervoso

central para o resto do corpo, exceto para inervação motora dos músculos esqueléticos. Ele

controla a musculatura lisa (visceral e vascular), as secreções exócrinas (e algumas

Page 2: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

endócrinas), a frequência e força de contração cardíaca e alguns processos metabólicos,

como a utilização de glicose (RANG; DALE, 2007).

O SNA é composto de três divisões anatômicas principais: a simpática, a

parassimpática e, o sistema nervoso entérico. O sistema nervoso simpático aumenta

durante o estresse (resposta de “luta ou fuga”), enquanto que a atividade parassimpática

predomina durante a saciedade e o repouso. Sob condições normais, ou seja, quando o

organismo não está em situações extremas, ambos os sistemas exercem um controle

fisiológico continuo. Já o sistema nervoso entérico recebe estímulos dos sistemas simpático

e parassimpático, mas é capaz de agir isoladamente, controlando as funções motoras e

secretoras do organismo (RANG; DALE, 2007).

Os dois principais neurotransmissores que operam no sistema autônomo são a

acetilcolina e a noradrenalina, contudo existem muitos outros mediadores químicos como o

óxido nítrico, a dopamina, 5-hidroxitriptamina, entre outros (RANG; DALE, 2007)

Em 1934 surgiu o principio de Dale, que afirma que “um neurônio maduro libera o

mesmo transmissor (ou transmissores) em todas suas sinapses”. Contudo, trabalhos

recentes sugerem que há situações nas quais diferentes transmissores são liberados de

diferentes terminações do mesmo neurônio. Afirmam ainda que a maioria dos neurônios

libera mais de um transmissor e pode mudar seu repertório de transmissores como, por

exemplo, durante o desenvolvimento ou em resposta a uma lesão (RANG; DALE, 2007)

A secreção dos neurotransmissores ocorre quando um potencial de ação se propaga

pelas fibras nervosas, despolarizando a membrana axonal, com aumento da permeabilidade

aos íons cálcio. Tanto nas terminações nervosas quanto nas varicosidades nervosas

(GANONG, 1999; GUYTON; HALL, 2002) há interação dos íons cálcio com as vesículas

sinápticas, que se fundem com a membrana e esvaziam seu conteúdo para o exterior

(BATISTA et al., 2012)

Depois que a acetilcolina é secretada, sua permanência na fenda sináptica é limitada

pela acetilcolinesterase, enzima que degrada este neurotransmissor em íon acetato e

colina. A colina recém-formada é transportada de volta para dentro da terminação nervosa,

em cujo axoplasma reage com acetil-CoA para síntese de nova acetilcolina, sendo

catalizada pela enzima colina acetil-transferase (BATISTA et al., 2012)

Diferente da acetilcolina, a noradarenalina tem síntese mais complexa, em que se

descrevem três etapas básicas: 1) hidroxilação de tirosina a DOPA; 2) descarboxilação da

DOPA em dopamina; 3) hidroxilação da dopamina em noradrenalina (GUYTON; HALL,

2002). Embora o processo de síntese tenha início no axoplasma da terminação nervosa

simpática, a última etapa descrita acorre já no interior das vesículas. Na medula da adrenal

2

Page 3: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

ocorre ainda uma quarta etapa, em que cerca de 80% da noradrenalina é metilada a

adrenalina (BATISTA et al., 2012)

A maior parte da noradrenalina liberada na fenda sináptica será recaptada ativamente

pela terminação adrenérgica. No entanto, esta remoção também pode ocorrer por difusão

para os líquidos corpóreos e, ainda, por ação enzimática, sendo a monoamidoxidase (MAO)

e a catecol-O-metil transferase (COMT) as principais enzimas responsáveis pelo

catabolismo das catecolaminas (LEHNINGER; NELSON; COX, 2002), embora apenas a

MAO seja particularmente abundante nas terminações nervosas. Como a COMT é

especialmente encontrada no fígado, rins e músculos lisos, ela metaboliza a maior parte na

noradrenalina e adrenalina circulantes (GANONG, 1999; GUYTON; HALL, 2002).

Para que os neurotransmissores liberados por neurônios estimulem o órgão-alvo,

deve primeiramente fixar-se a receptores específicos localizados na membrana celular das

células efetoras. Estes receptores podem ser entendidos, de modo simplista, como

proteínas integrais que têm configuração espacial modificada quando há fixação do

neurotransmissor. Tais modificações podem resultar em alterações da permeabilidade da

membrana celular a íons ou, ainda, em ativação ou desativação de sistemas enzimáticos

intracelulares específicos relacionados ao receptor estimulado (AIRES, 1999; GUYTON;

HALL, 2002).

A acetilcolina é capaz de ativar dois tipos de receptores: os muscarínicos (M1, M2,

M3, M4 e M5), encontrados em todas as células efetoras estimuladas pelos neurônios pós-

ganglionares do sistema nervoso parassimpático e pelos neurônios colinérgicos do sistema

nervoso simpático; e os nicotínicos, encontrados nas sinapses dos neurônios pré e pós-

ganglionares do sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático e também na

junção neuromuscular (GUYTON; HALL, 2002).

Existem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores

alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL, 2002). Tanto os receptores α-adrenérgicos quanto os β-

adrenérgicos são receptores sepentínicos (LEHNINGER; NELSON; COX, 2002) acoplados

à proteína G. Existe a subdivisão em receptores α1, α2, β1, β2, β3. Os receptores α1 têm

localização pós-sináptica e os receptores α2 podem ser pré-sinápticos (auto-receptores,

acoplados a proteína G, que inibem a liberação do neurotransmissor) ou pós-sinápticos. Os

efeitos de receptores α1 são mediados pela enzima fosfolipase C, com ativação do sistema

de segundo mensageiro inositol-1,4,5- trifosfato (IP3)/ diacilglicerol (DAG) (LEHNINGER;

NELSON; COX, 2002); enquanto os receptores α2 diminuem a síntese de monofosfato

cíclico de adenosina (cAMP), por inibir a enzima intracelular adenil ciclase (GANONG, 1999;

GUYTON; HALL, 2002).

3

Page 4: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

Os receptores β1, β2 e β3 são compostos por proteínas com sete regiões que

atravessam a membrana para apresentar domínios intracelulares e extracelulares. Uma vez

ativados, os receptores β ativam uma proteína Gs que estimula a adenil ciclase,

aumentando a concentração intracelular de cAMP (BATISTA et al., 2012).

É difícil definir uma regra uniforme que estabeleça qual a estimulação - simpática ou

parassimpática - causará excitação ou inibição de um determinado órgão; para tanto, a

tabela 1, simplificadamente, tenta mostrar as funções desses dois sistemas sobre cada

órgão.

Efeitos dos fármacos sobre a transmissão colinérgicaAlguns fármacos são capazes de influenciar a transmissão colinérgica, quer agindo

como agonistas ou antagonistas sobre os receptores pós-sinápticos da acetilcolina (ACh),

quer afetando a liberação ou destruição da ACh endógena (RANG; DALE, 2007).

Agonistas muscarínicosTambém denominados como parassimpatomiméticos, os agonistas muscarínicos

produzem efeitos no animal que se assemelham àqueles resultantes da estimulação

parassimpática. Os principais fármacos são a acetilcolina, o carbacol, a metacolina, o

betanecol, a muscarina, a pilocarpina e a oxitremorina (RANG; DALE, 2007). Sendo que

desses os únicos com uso na clínica veterinária são o betanecol e a pilocarpina.

O betanecol é um parassimpaticomimético seletivo para os receptores muscarínicos

M3, que tem sido indicado em casos de hipotonia de bexiga e do trato gastrintestinal

(RANG; DALE, 2007). Estudos recentes com o betanecol indicaram aumento da

contratilidade dose-dependente em preparados de músculos lisos da região do antro, corpo

e fundo do abomaso de vacas normais (BUEHLER et al., 2008). Estudos in vivo com o

betanecol (0,07mg/kg; via subcutânea [SC]) promoveu aumento da atividade mioelétrica e

picos de propagação na região íleo-ceco-cólica de vacas normais, sendo ainda observado

Tabela 1. Principais efeitos do sistema nervoso autônomo

4

Page 5: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

Fonte: MACHADO, 2003.

5

Page 6: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

aumento da contratilidade na região antro-duodenal quando associada a metoclopramina

(0,1mg/kg; SC) (MICHEL et al., 2003).

Murray (1991) comparou o betanecol com a metoclopramida, uma antagonista da

dopamina, na prevenção de refluxo gastro-esofágico e para acelerar o tempo de

esvaziamento gástrico em potros e concluiu que além de apresentar melhores efeitos, o

betanecol também demonstrou menos efeitos colaterais.

Viana (2007) indica o betanecol para tratamento de retenção urinária funcional não

obstrutiva. Contra indica o fármaco a gestantes, portadores de obstrução urinária,

hipertireoidismo, inflamações ou ulcerações gastrointestinais, obstrução intestinal, peritonite,

epilepsia, asma, hipotensão e bradicardia severa.

Seus principais efeitos adversos são o vômito, a diarréia, salivação, anorexia,

arritmias, hipotensão e asma; sendo que os equinos podem apresentar dor abdominal

aguda (VIANA, 2007).

A pilocarpina é outro parassimpaticomimético de uso na medicina veterinária.

Caracteriza-se como uma amina terciária, capaz de atravessar a membrana conjuntival, por

isso é utilizada principalmente no tratamento do glaucoma, por meio da instilação local na

forma de colírio. É um composto estável cuja ação dura cerca de um dia (RANG; DALE,

2007). A substância é capaz de reduzir a pressão intra-ocular por sua ação colinérgica,

estimulando receptores muscarínicos do músculo ciliar da íris e promovendo miose. A miose

enseja abertura do ângulo iridocorneal, aumentando o fluxo de drenagem do humor aquoso

(WILLIS, 2004). A pilocarpina é indicada como adjuvante no controle do glaucoma primário

em cães, cujo efeito parece ser limitado naqueles casos associados à goniodisgenesia

(displasia dos ligamentos pectíneos) (WILLIS, 2004). Na concentração a 2%, este fármaco

foi capaz de reduzir em 44% os valores da pressão intra-ocular em cães glaucomatosos

(GWIN et al., 1997).

Assim como o betanecol, a pilocarpina é contra indicada a pacientes gestantes,

portadores de obstrução intestinal ou urinária, asma brônquica e ulcerações

gastrointestinais (VIANA, 2007).

Antagonistas muscarínicosOs antagonistas dos receptores muscarínicos (fármacos parassimpatolíticos) são

antagonistas competitivos cujas estruturas químicas geralmente contêm grupos éster e

grupos básicos na mesma proporção encontrada na ACh, porém apresentam um grupo

aromático volumoso no lugar do acetil. Os principais compostos são a atropina, a

escopolamina, o metonitrato de atropina, o ipratrópio, a tropicamida, o ciclopentolato, a

6

Page 7: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

pirenzepina e a darifenacina (RANG; DALE, 2007). Suas indicações clínicas estão descritas

no quadro 1.

Quadro 1. Antagonistas muscarínicos

Composto Usos clínicos

Atropina Adjuvante na anestesia (redução da secreções, broncodilatação)

Envenenamento por anticolinesterásicos

Bradicardia

Hipermotilidade gastrintestinal

Escopolamina Semelhante à atropina

Cinetose

Metonitrato de atropina

Principalmente na hipermotilidade gastrintestinal

Ipratrópio Para asma e bronquite (inalatório)

Tropicamida Produzir midriase e cicloplegia

Ciclopentolato Semelhante à tropicamida, porém com ação prolongada

Pirenzepina Úlcera péptica

Darifenacina Incontinência urinária

FONTE: RANG; DALE, 2007 – MODIFICADO.

Pimenta (2009) relatou que é comum o uso de anticolinérgicos como analgésicos,

espasmolíticos e na prevenção ou tratamento de bradicardia observada durante a anestesia

geral em equinos com detomidina, contudo ressaltou que por se tratarem de antagonistas

não específicos de receptores muscarínicos, exercem efeito em vários órgãos distintos,

sendo alguns desses indesejáveis. Destacou que a principal limitação ao uso de

anticolinérgicos no tratamento/prevenção da bradicardia em equinos é o prolongado período

de estase da motilidade gastrointestinal nesta espécie.

Ao comparar a hioscina (escopolamina) com a atropina, Pimenta (2009) concluiu que

ambos foram eficientes na reversão da bradicardia, porém a hioscina demonstrou ser um

agente cronotrópico positivo menos potente e de menor duração de ação que a atropina.

Com emprego de escores de auscultação intestinal, foi possível demonstrar que a hioscina

não produz efeitos sinérgico ou aditivo de depressão da motilidade intestinal em equinos

sedados pela detomidina. Por sua vez, a atropina prolongou e intensificou os efeitos

inibitórios da motilidade intestinal causados pela detomidina.

7

Page 8: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

É justamente por provocar a constipação, que a atropina é contra indicada em casos

de doenças intestinais obstrutivas, íleo paralítico, colite ulcerativa (VIANA, 2007). Caso

ocorra um envenenamento pela atropina ocorre a excitação e a irritabilidade acentuada

provocando a hiperatividade e a elevação considerável da temperatura corporal. Esses

efeitos centrais são o resultado do bloqueio dos receptores muscarínicos do cérebro e são

revertidos por um anticolinesterásico, a fisostigmina (RANG; DALE, 2007).

Fármacos que afetam os gânglios autônomosPodem ser classificados como estimulantes ou bloqueadores ganglionares. Como

estimulantes, destacam-se a nicotina, a lobelina e o dimetilfenilpiperazínico (RANG; DALE,

2007); destes fármacos apenas a nicotina possui uso clínico, que se restringe à medicina

humana, motivo pelo qual não será descrita nessa revisão.

Os bloqueadores glanglionares englobam o hexametônio, o trimetafano e a

tubocurarina. Seus principais efeitos são a hipotensão e perda dos reflexos

cardiovasculares, inibição das secreções, paralisia gastrintestinal e comprometimento da

micção. São clinicamente obsoletos (RANG; DALE, 2007).

Fármacos bloqueadores neuromuscularesOs fármacos capazes de bloquear a transmissão neuromuscular agem ou na região

pré-sináptica, inibindo a síntese ou a liberação de ACh, ou na região pós-sináptica. Sendo

que os fármacos que atuam na região pós sináptica são classificados em duas categorias,

os não despolarizantes que bloqueiam os receptores da ACh, e os despolarizantes, que são

agonistas dos receptores da ACh (RANG; DALE, 2007).

Agentes bloqueadores não despolarizantes Todos os agentes bloqueadores não-despolarizantes atuam como antagonistas

competitivos dos receptores da ACh situados na placa terminal, sendo que para um efetivo

bloqueio é importante que o fármaco iniba de 70 a 80% dos receptores. Parece que alguns

agentes bloqueadores não-despolarizantes também bloqueiam auto-receptores pré-

sinápticos, inibindo, dessa forma, a liberação de ACh durante a estimulação repetitiva do

nervo motor. São utilizados principalmente em anestesia para promover relaxamento

muscular (RANG; DALE, 2007).

O emprego destes fármacos têm se tornado rotineiro em inúmeras situações clínicas.

Nas cirurgias oftalmológicas, sobretudo, o uso destes agentes favorece grandemente as

condições operatórias uma vez que permite o perfeito posicionamento do globo ocular, sem

8

Page 9: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

a necessidade de plano profundo de anestesia, além da ausência de reflexos oculares

(YOUNG et al., 1991).

O componente mais importante é a tubocurarina cujo principal efeito colateral é a

queda da pressão arterial, resultante sobretudo do bloqueio ganglionar. Outro efeito é a

liberação da histamina dos mastócitos, que também pode provocar broncoespamo em

indivíduos sensíveis. Atualmente a tubocurarina é pouco utilizada na clínica, pois foi

substituída por fármacos sintéticos com melhores propriedades, sendo os mais importantes

o pancurônio, o vecurônio e a atracúrio, que diferem principalmente quanto à duração de

ação (RANG; DALE, 2007).

O pancurônio possui algumas características que o torna agente de escolha em

diversas situações clínicas. Sua duração varia entre 30 e 40 minutos e não promove

bloqueio ganglionar e tampouco liberação de histamina, durante seu emprego (BOOIJ et al.,

1980). Devido a propensão em causar estimulação simpática e por possuir ação vagolítica,

a presença de taquicardia intensa após a sua administração é frequentemente apontada na

literatura (REITAN; WARPINSKE, 1975). Cerca de 30% do pancurônio administrado é

biotransformado no fígado, sendo o restante excretado de maneira inalterada. Somente

10% são excretados pela bile e o restante pelos rins (GÓRNIAK, 1996). Portanto nos

pacientes portadores de nefropatia, o emprego do pancurônio deve ser feita de forma

criteriosa, já que sua meia-vida pode até dobrar (BROUWER, 1990).

O vecurônio possui eliminação renal de apenas 10 a 20% (JONES; YOUNG, 1991).

Em pacientes com função renal deprimida ou ausente não se observa efeito cumulativo

significativo após administração de doses repetidas. A reversão do bloqueio ocorre

prontamente após a administração de neostigmina (HUNTER et al., 1984). O vecurônio

também não libera histamina, e não possui ação a nível ganglionar, simpático ou de

bloqueio vagal, dessa forma, com ações mínimas no sistema cardiovascular (JONES,

1992).

Cortopassi et al. (1997) compararam o pancurônio e o vecurônio em cães submetidos

à facectomia extracapsular e concluíram que ambos os agentes mostraram-se satisfatórios

para o procedimento proposto. Os dois agentes apresentam adequado período de latência,

não interferem no sistema cardiovascular, avaliado através da frequência, ritmo cardíaco e

analise da pressão arterial.

Agentes bloqueadores despolarizantesOs agentes bloqueadores despolarizantes provocam a perda da excitabilidade

elétrica. Destacam-se nessa classe o decametônio, que apresenta a desvantagem de ter

9

Page 10: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

uma ação longa demais e o suxametônio (succinilcolina) que apresenta uma duração de

aproximadamente 10 minutos. Apenas o suxametônio ainda apresenta uso clínico, porém

com diversos efeitos colaterais, como a bradicardia (efeito agonista muscarínico) que pode

ser evitada pelo uso de atropina, arritmias cardíacas (perda de K+ dos músculos que

provoca um aumento da concentração de K+ no plasma), aumento da pressão intra-ocular

(efeito agonista nicotínico sobre os músculos extra-oculares) e dor muscular no pós-

operatório (RANG; DALE, 2007).

Sabe-se que a ação do suxametônio administrado por via intravenosa dura menos

que 5 minutos, isso porque o fármaco é rapidamente hidrolisado pela colinesterase

plasmática. Dessa forma, qualquer alteração enzimática pode provocar uma paralisia

prolongada (RANG; DALE, 2007). Nas populações européias, cerca de 1 em 3.000

indivíduos falha em inativar o suxametônio. Nestes indivíduos se observa um

prolongamento da paralisia muscular induzida pelo fármaco e consequente aumento do

risco de apnéia. Nos judeus ocidentais, a incidência desta resposta é bem maior (9-11%)

sendo esta falha de metabolização devido à presença de um gene recessivo, o qual origina

um tipo anormal da enzima butirilcolinesterase (KALOW & GUNN, 1957).

FÁRMACOS QUE AGEM EM NÍVEL PRÉ-SINÁPTICOFármacos que inibem a síntese de acetilcolina

Para ser sintetizada é necessário que a colina seja transportada para o interior da

terminação nervosa. O hemicolínio inibe esse transporte, consequentemente inibe a síntese

da acetilcolina. Contudo este fármaco ainda não possui uso clínico, se restringindo a

estudos experimentais. Outro fármaco com efeito semelhante é o vesamicol, que interfere

no transporte da ACh para o interior das vesículas sinápticas. Fora das vesículas, a ACh

não é liberada na sinapse (RANG; DALE, 2007).

Oliveira (2007) através de marcador fluorescente comprovou que o Vesamicol não

interferia de maneira significativa na exocitose das vesículas sinápticas. Sugeriu que as

vesículas com conteúdo reduzido de neurotransmissor são endocitadas, recicladas e

exocitadas de maneira indistinguível daquelas com conteúdo preservado.

Fármacos que inibem a liberação de acetilcolinaA liberação da ACh por um impulso nervoso depende do aumento na concentração

de CA2+ na terminação nervosa. Agentes que inibem a entrada do cálcio podem produzir a

paralisia muscular. Alguns desses agentes são o Mg2+ e os antibióticos aminoglicosídeos

(RANG; DALE, 2007).

10

Page 11: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

A toxina botulínica também inibe a liberação de acetilcolina, com potência

extraordinária, sendo que dose menor de 10-12 gramas é letal a camundongos. A toxina

botulínica contem peptidases que clivam proteínas específicas envolvidas na exocitose,

produzindo dessa forma, um bloqueio de longa duração da função sináptica. A intoxicação

causa paralisia parassimpática e motora progressiva, com boca seca, visão turva,

dificuldade para deglutir e posterior paralisia respiratória. O tratamento com a antitoxina só

funciona antes do aparecimento dos sintomas, sendo que depois que a toxina ligou-se aos

seus receptores, sua ação não pode mais ser revertida (RANG; DALE, 2007).

A toxina botulínica tem sido usada no tratamento de espasmo palpebral persistente e

incapacitante. Cunha et al. (1998) relataram o tratamento de espasmo facial unilateral com

toxina botulínica tipo A. Foram 19 pacientes submetidos a 71 aplicações, com índice de

sucesso de 94,4%, com duração média do efeito de 17,7 semanas. A incidência de

complicações foi de 35,2% e dose dependente, todas elas locais, transitórias e de grau leve

a moderado. Já Góes et al. (2010) descreveram um caso de uma paciente com 52 anos,

com espasmos palpebrais progressivos em dois anos de evolução que recebeu cinco

aplicações de toxina botulínica, com resposta apenas as primeiras infiltrações.

Alguns estudos também demonstram o uso da toxina botulínica em glândulas

salivares de pacientes com diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica. A aplicação foi

guiada por ultra-sonografia para as glândulas submandibulares e a dose administrada foi de

30U em um ponto, e 20U em cada glândula parótida distribuída em dois pontos. Dos 5

pacientes observados, 4 relataram melhora intensa e nenhum paciente apresentou efeitos

colaterais locais ou sistêmicos (MANRIQUE, 2005).

FÁRMACOS QUE INTENSIFICAM A TRANSMISSÃO COLINÉRGICAFármacos que inibem a colinesterase

Os agentes anticolinesterásicos de ação periférica podem ser divididos em três

grupos principais de acordo com a natureza de sua interação com o sítio ativo, que

determina a duração da sua ação. São classificados como anticolinesterásicos de ação

curta, média e irreversíveis (RANG; DALE, 2007).

Representando os anticolinesterásicos de ação curta, tem-se o edrofônio, que é uma

amônia quaternária colinérgica com ação parassimpatomimética, usada para diagnóstico da

miastenia grave, reversão dos efeitos de agentes bloqueadores não despolarizantes

(vencurônio, pancurônio, atracúrio, galamina e tubocurarina) e, possivelmente para

tratamento de arritmias supraventriculares. É contra indicado em animais com asma

brônquica e obstruções intestinais ou uretrais. Deve ser usado com cautela nas bradicardias

11

Page 12: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

e bloqueios atrioventriculares, sendo seus principais efeitos adversos o vômito, a diarréia,

sialorréia, broncoespasmo, edema pulmonar, miose, epífora, bradicardia, hipotensão e

tremores musculares (VIANA, 2007).

Os anticolinesterásicos de ação média englobam a neostigmina, a piridostigmina e a

fisostigmina. A neostigmina, na medicina veterinária tem sido usada para diagnóstico da

miastenia, tratamento de atonia (rúmem, intestino e bexiga) e como reversor dos efeitos dos

bloqueadores neuromusculares não-despolarizantes. Não deve ser indicado em portadores

de peritonite e obstruções mecânicas do trato gastrointestinal ou urinário.

Andrade et al. (2007) relatou o caso de uma cadela da raça pastor alemão com

histórico de fraqueza nos membros torácicos e vômitos frequentes há três meses. Com

base no exame clínico, radiografias e exames laboratoriais, suspeitou-se de miastenia grave

com megaesôfago secundário. Para diagnóstico de miastenia grave foi usado o sulfato de

atropina (0,2mg/Kg, IM) para prevenir efeitos muscarínicos, e após 15 minutos, foi

administrado a neostigmina (2mg, IM). Dez minutos após a administração o animal

apresentou melhora evidente ao caminhar e conseguiu subir os degraus da escada sem

relutância. Efeito que durou cerca de duas horas e quarenta minutos, confirmando a

suspeita de mistenia grave. Foi receitado brometo de piridostigmina 2mg/ Kg a cada 12

horas, associado a prednisona, metoclopramina e omeprazol, todos por via oral. O animal

apresentou melhora para andar, mas os vômitos se intensificaram, e a cadela passou a

apresentar tosse. A proprietária optou pela eutanásia do animal e ao exame necroscópico

revelou severa pneumonia e a dilatação caudal do esôfago.

Existem também os anticolinesterásicos irreversíveis, caracterizados por fosforilar a

colinesterase, inativando-a. Os principais compostos são os organofosforados, o ecotiopato

e o paration (RANG; DALE, 2007).

Os efeitos dos fármacos anticolinesterásicos são resultantes principalmente da

intensificação da transmissão colinérgica nas sinapses colinérgicas autonômicas e na

junção neuromuscular. Os anticolinesterásicos que atravessam a barreira hematoencefálica

(fisiostigmina e organofosforados) também causam efeito sobre o sistema nervoso central.

Os efeitos autonômicos incluem bradicardia, hipotensão, excesso de secreções,

broncoconstrição, hipermotilidade gastrintestinal e redução da pressão intra-ocular.

O tratamento das intoxicações por organofosforados baseia-se principalmente no uso

da atropina, antídoto sintomático e, com menor frequência, das oximas, antídotos

específicos que reativam as colinesterases (CAVALIERE et al. 1996).

Em um experimento com ratos albinos, Cavaliere et al. (1996) utilizaram-se grupos de

ratos albinos (Wistar) intoxicados com o organofosforado paraoxon, com e sem antídotos

12

Page 13: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

(atropina ou pralidoxima). Verificaram-se nos grupos tratados com paraoxon e paraoxon

mais atropina, necrose de fibras musculares no diafragma, que atingia em determinadas

áreas até 15% das fibras. No grupo tratado com paraoxon mais pralidoxima, a necrose foi

mínima, evidenciando o papel mioprotetor deste último antídoto.

Fármacos que agem sobre a transmissão noradrenérgicaSabe-se que baseado na ordem de potência dos agonistas e, posteriormente, em

antagonistas seletivos, os receptores adrenérgicos foram classificados em β1, β2, β3 e em,

α1 e α2 (RANG; DALE, 2007). Observe no quadro 2, os principais efeitos da ativação dos

receptores adrenérgicos.

Quadro 2. Principais efeitos da ativação dos receptores adrenérgicos

Receptores Efeitos

α1 Vasoconstrição, relaxamento do músculo liso gastrintestinal, secreção salivar

e glicogenólise hepática

α2 Inibição as liberação de transmissores (incluindo a liberação de

noradrenalina e acetilcolina pelos nervos autônomos), agregação

plaquetária, contração do músculo liso vascular, inibição da liberação de

insulina

β1 Aumento da freqüência e força de contração cardíacas

β2 Broncodilatação, vasodilatação, relaxamento da musculatura lisa visceral,

glicogenólise hepática e tremor muscular

β3 Lipólise

FONTE: RANG; DALE, 2007 - MODIFICADO

Agonistas de receptores adrenérgicosA adrenalina, também denominada de epinefrina é uma catecolamina agonista α e β-

adrenérgica indicada como vasoconstritora, broncodilatadora, hemostática, para

ressucitação cardíaca e tratamento da anafilaxia (VIANA, 2007). Pode ser indicada ainda

em associação com anestésicos locais para prolongar sua ação (RANG; DALE, 2007). É

contra-indicada em gestantes, portadores de choque não anafilactóide, diabetes,

hipertensão e em fêmeas em trabalho de parto (VIANA, 2007).

A fenilefrina é um simpatomimético α-adrenérgico usado como vasoconstritor,

hipertensor e cardioestimulante, não devendo ser administrado em animais portadores de

hipertensão e taquicardia (VIANA, 2007).

13

Page 14: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

A clonidina, α2-adrenérgico tem sido indicada para diagnóstico da deficiência de

hormônio do crescimento em cães e tratamento adjuvante de doenças inflamatórias

intestinais refratárias (VIANA, 2207). Indicada ainda para reduzir a pressão sanguínea e a

intra-ocular (RANG; DALE, 2007).

A dobutamina é um agente ionotrópico análago da dopamina, com ação cardiotônica

para tratamento da insuficiência cardíaca aguda (VIANA, 2007) e choque cardiogênico

(RANG; DALE, 2007).

O salbutamol, a terbutralina, o salmeterol são agonistas β2-adrenérgicos usados

como broncodilatadores no tratamento de asma (RANG; DALE, 2007). Outro fármaco da

classe é o clembuterol, um broncodilatador, relaxante uterino e preventivo de cólicas

abdominais (VIANA, 2007) que tem sido empregado de maneira ilícita, tanto na espécie

humana como na equina. Promove ação anabólica quando administrado cronicamente e em

doses elevadas. Observa-se sua utilização intensa nas academias de fisiculturismo por

indivíduos da espécie humana (KEARNS et al., 2006). Em um estudo com equinos da raça

puro sangue árabe submetidos a atividade física intensa e à administração de clembuterol,

notou-se que o clembuterol não melhorou a capacidade aeróbica dos animais e aumentou

significativamente a frequencia cardíaca e isulinemia (FERRAZ, 2006).

Antagonistas de receptores α-adrenérgicosOs principais antagonistas dos receptores α-adrenérgicos são a fenoxibenzamina,

fentolamina, prazosina, doxazosina, terazosina, ioimbina, idazoxano e os derivados do

esporão do centeio (ergot), que são a ergotamina e a diidroergotamina.

A fenoxibenzamina é um bloqueador α-adrenérgico indicado para tratamento de

retenção urinária, laminite em estágios iniciais e diarréias secretórias (VIANA, 2007). Foi o

primeiro bloqueador α-adrenérgico empregado em obstruções prostáticas humanas, com

eficiência comprovada em vários estudos. Esta droga age tanto sobre os receptores α1

como α2, e esta ação sobre os receptores α2 aumenta a incidência de efeitos colaterais

vasculares, observados em 10% a 30% dos pacientes (hipotensão, cansaço,

palpitações). Por outro lado, a meia-vida prolongada deste agente permite sua

administração em doses mais espaçadas, ou seja, 10 mg em uma só tomada diária ou a

cada 48 horas. Outra vantagem potencial da fenoxibenzamina é que, em função do bloqueio

α2, alguns pacientes apresentam melhora significativa dos sintomas irritativos vesicais,

onde predominam estes receptores. Os agentes seletivos α1 exercem sua ação sobre o

músculo liso prostático, interferindo pouco com os receptores adrenérgicos vesicais, que

14

Page 15: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

são responsáveis pelas manifestações irritativas urinárias nos casos de hiperplasia benigna

prostática (SROUGI, 2012)

A prazozina constitui um bloqueador α-1 seletivo indicado para redução da

resistência uretral em felinos (VIANA, 2007). Chapple et al. (1990) afirmam que por ser um

fármaco sua ação curta, seu uso em humanos deve ser indicado de duas a três vezes ao

dia, o que dificulta sua aceitação clínica. Diferente da prazozina, a terazosina, também

classificada como bloqueador α-1 seletivo, possui ação prolongada, com meia-vida de 12

horas, reduzindo sua administração para apenas uma tomada diária (KAPLAN et al., 1994)

Antagonistas de receptores β-adrenérgicosO primeiro composto descoberto foi o dicloroisoprenalina, que apresentava potência

reduzida e era um agonista parcial. Em seguida descobriram o propanolol, fármaco mais

potente e puro, que bloqueia β1 e β2. Em seguida desenvolveram o practolol (seletivo para

receptores β-1, porém, devido sua toxicidade, atualmente não é usado), o oxprenolol e

alprenolol (não seletivos e com considerável atividade agonista). Dois fármacos mais

recentes são o carvedilol (não seletivo) e o nebivolol (β1-seletivo), esses últimos eficazes

para o tratamento da insuficiência cardíaca (RANG; DALE, 2007)

Dentre os principais usos clínicos dos antagonistas dos receptores β-adrenérgicos

destacam-se suas indicações cardiovasculares, para tratamento de angina de peito, infarto

do miocárdio, arritmias, insuficiência cardíarca e ainda, para hipertensão (RANG; DALE,

2007).

O timolol, um β bloqueador não seletivo, indicado para tratamento de glaucoma

(RANG; DALE, 2007). Seus efeitos advêm da inibição de receptores β ou da ativação de

receptores α-adrenérgicos no músculo esfíncter da íris. Após instilação tópica sua ação

máxima manifesta-se decorridas de duas a seis horas (WILKIE; LATIMER, 1991). O timolol

é apresentado nas concentrações de 0,25 e 0,5%, devendo ser administrados a intervalos

regulares de oito ou 12 horas. Efeitos colaterais reportados apontam decréscimo

significativo na freqüência cardíaca e na pressão sanguínea em cães (MAEHARA et al.,

2004).

Alguns beta-bloqueadores, como o propanolol e o atenolol tem sido usado para

tratamento em humanos de fobia social, para controle da sintomatologia física em situações

de exposição, porém esses fármacos apenas aliviam os sintomas, mas não mantêm a

doença sobre controle (PINOTTI; FONAI, 2012).

Os principais efeitos adversos dos antagonistas de receptores β-adrenérgicos

resultam da sua capacidade de bloquear esses receptores, são eles: a boncoconstrição

15

Page 16: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

(pouco importante quando há ausência de doenças nas vias aéreas), depressão cardíaca,

bradicardia, hipoglicemia, fadiga e extremidades frias (RANG; DALE, 2007).

Fármacos que atuam nas terminações nervosas noradrenérgicasAlguns fármacos conseguem afetar a síntese, o armazenamento e a liberação de

noradrenalina. A α-metiltirosina e a carbidopa, inibem a tirosina hidroxilase e a dopa

descarboxilase respectivamente. A metildopa origina um falso transmissor

(metilnoradrenalina) que provoca uma retroalimentação inibitória pré sináptica, sendo esses

os principais agentes que afetam a síntese da noradrenalina (RANG; DALE, 2007)

A reserpina, por sua vez, não inibe a síntese, porém bloqueia o transporte da

noradrenalina para o interior das vesículas sinápticas. Atualmente, a utilização como anti-

hipertensivo se restringe aos países pobres. O fármaco atua bloqueando a capacidade de

captação e armazenamento de aminas nas vesículas transmissoras aminérgicas,

interferindo no mecanismo de captação que depende de magnésio (Mg++) e adenosina

trifosfato. Este efeito ocorre em todo o corpo, levando à depleção de noradrenalina,

dopamina e serotonina em neurônios tanto centrais quanto periféricos. Essa depleção de

neurotransmissores pode causar desde sedação à depressão grave e sintomas

parkinsonianos, estes últimos pela depleção de dopamina. Já o efeito inibidor sobre o

sistema nervoso simpático, causado pela redução da liberação de noradrenalina, promove

vasodilatação, com um efeito anti-hipertensivo e sintomas colinérgicos pela atuação do

sistema nervoso parassimpático, como diarreia, congestão nasal, bradicardia, hipotensão

postural, entre outros (CRAIG; STITZEL, 2005).

Dentre os fármacos que afetam a liberação de noradrenalina, existem aqueles que

bloqueiam os neurônios noradrenérgicos, como a guanetidina , o bretílio, a betanidina e

debrisoquina. Sua atividade bloqueadora inicial é devida ao bloqueio da condução dos

impulsos nas terminações nervosas que seletivamente acumulam o fármaco. Em altas

doses pode causar dano estrutural aos neurônios noradrenérgicos, podendo dessa forma

ser usada experimentalmente como uma neurotoxina seletiva (RANG; DALE, 2007). Mattos

(2005) avaliou o papel do sistema nervoso autônomo sobre a regulação da formação óssea,

para isso usou a guanitidina, com sucesso, para promover a desnervação do sistema

nervoso simpático (simpatectomia).

Aminas simpatomiméticas de ação indiretaOs fármacos mais importantes na categoria de simpatomiméticas são a tiramina,

anfetamina e efedrina. São fármacos estruturalmente relacionados à noradrenalina, que são

16

Page 17: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

acumulados pela captura 1 e deslocam a noradrenalina das vesículas, permitindo seu

escape, atuam ainda inibindo a MAO. Provocam, perifericamente, a broncodilatação,

pressão arterial aumentada, vasoconstrição periférica, aumento da freqüência cardíaca, da

força de contração do miocárdio, e inibição da motilidade intestinal. Com exceção da

efedrina, que ainda é algumas vezes usada como descongestionante nasal, esses fármacos

não são mais usados por causa dos seus efeitos simpatomiméticos periféricos (RANG;

DALE, 2007).

Os inibidores da captura de noradrenalina inibem a captura 1 da noradrenalina,

aumentando dessa forma os efeitos da noradrenalina circulante, os principais fármacos

dessa classe são os anti-depressivos tricíclicos, que exercem principal efeito no sistema

nervoso central (RANG; DALE, 2007).

ReferênciasAndrade, S.F.; Nogueira, R.M.B.; Melchert, A. et al. Megaesôfago secundário a miastenia grave em uma cadela da raça pastor alemão. Semina: Ciências agrárias, Londrina, v. 28, n.3, p.477-482, 2007.

Aires, M.M. Fisiologia. 2a ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1999. p.291-300.

Batista, S.R.; Albuquerque, A.K.A.C.; Antônio, V.E.; Gomes, A.P.; Quintas, L.E.M. O sistema Nervoso Autônomo. Disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?id_materia=2829&fase=imprime Acesso em 24 de abril de 2012.

Booij, L.H.; Edwards, R.R.; Sohn, Y.I. et al. Cardiovascular and neuromuscular effects of Org NC 45, pancuronium, metocurine and d-tubocurarine in dogs. Anesthesia end Analgesia, v.59, p.26, 1980.

Brouwer, G.J. Clinical of neuromuscular blocking agents in dog and cats. In Practice, p.112-119, 1990.

Buehler, M.; Steiner, A.; Meylan, M.; Portier, C.J.; Mevissen, M. In vitro effects of bethanechol on smooth muscle preparations from abomasal fundus, corpus, and antrum of dairy cows. Res. Vet. Sci. v.84, n.3, p.444-451, 2008.

Cavaliere, M.J.; Calore, E.E.; Perez, N.M.; Puga, F.R. Miotoxicidade por organofosforados. Rev. Saúde pública, v.30, n. 3, p.267-272, 1996.

Chapple, C.R.; Christmas, T.J.; Milroy, E.J. A twelve week placebo-controlled study of prazocin in the treatment of prostatic obstruction. Urol Int, suppl n.1, p.47-55, 1990.

Cortopassi, S.R.G; Fantoni, D.T; Safatle, A.M.V.; Barros, P.S.M.; Quinzani, M. Estudo comparativo entre pancurônio e vecurônio em cães submetidos a facectomia extracapsular. Ciência Rural, v.27, n.4, p. 595-599, 1997.

Craig, C.R.; Stitzel, R.E. Farmacologia Moderna com Aplicações Clínicas. 6ª Ed, Rio de Janeiro, GuanabaraKoogan, v. 20, p.217-218; 362-363, 2005.

Cunha, M.C.da; Aguirre, O.P.; Dias, Souza, C.R. Tratamento de espasmo facial unilateral com toxina botulínica tipo A. Arquivo Brasileira de Oftalmologia, v.61, n.1, p.54-60, 1998.

Ferraz, G.C. Respostas endócrinas, metabólicas, cardíacas e hematológicas de eqüinos submetidos ao exercício intenso e à administração de cafeína, aminofilina e clembuterol. Tese de doutorado apresentada a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2006, 111p., 2006.

Ganong, W.F. Fisiologia Médica, 17a ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1999. p. 87-94

Góes, C.H.F.S.; Rosique, M.J.F.; Destro, C.; Rosique, R.G. Técnica cirúrgica alternativa no tratamento do blefaroespasmo essencial. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica. vol.25, n.1, p.205-207, 2010.

Górniak, S.L. Transmissão neuromuscular e relaxantes musculares de ação periférica. In: SPINOSA, H.S;

17

Page 18: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

Górniak, S.L; Bernardi, M.M. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996, p.75-81.

Guyton, A.C., Hall, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 10a ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2002. p. 649-658.

Gwin, R.M. et al. The effect of topical pilocarpine on intraocular pressure and pupil size in the normotensive and glaucomatous beagle. Investigative Ophthalmology and Visual Science, St. Louis, v.16, n.12, p. 1143-48, 1997.

Hunter, J.M; Jones, R.S.; Utting, J.E. Comparison of vencuronium, atracurium and tubocurarine in normal patients and in patients with no renal function. British Journal of Anesthesia. v.56, p. 941-951, 1984.

Jones, R.S. Muscle relaxants in canine anaesthesia 2: Clinical Aplication. Journal of small animal practice . v.33, p. 423-429, 1992.

Jones, R.S.; Young, L.E. Vecuronium infusion in the dog. Journal of Small Animal Practice., v.32, p.509-512, 1991.

Kalow, W., Gunn, D.R. The relation between dose of succinylcholine and duration of apnea in man. J Pharmacol Exp Ther; v.120, p. 203-214, 1957.

Kaplan, S.A.; Soldo, K.A.; Olsson, C.A. Effect of dosing regimen on efficacy and safety of doxacin in normotensive men with symptomatic prostatism: a pilot study. Urology, v.44, p.348-352, 1994.

Kearns, C.F.; Mckeever, K.H.; Malinowski, K. Changes in adipopnectin, leptin, and fat mass after clenbuterol treatment in horses. Medicine and Science in Sports and Exercise, Indianápolis, v. 38, n. 2, p. 262-267, 2006.

Lehninger, A.L.; Nelson, D.L.; Cox, M.M. Princípios de bioquímica. 3a ed. São Paulo: Editora Sarvier, 2002. p. 348-356.

Machado, A. Neuroanatomia Funcional. 2a ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2003. p129-150.

Maehara, S. et al. Effects of topical nipridilol and timolol on intraocular pressure, facility outflow, arterial blood pressure and pulse rate in dogs. Veterinary Ophthalmology, Oxford,v.7, n.3, p.147-50, 2004.

Manrique, D. Aplicação de toxina botulínica tipo A para reduzir a saliva em pacientes com esclerose lateral amiotrófica. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v.71, n.5, p.566-569, 2005.

Mattos, V.G.A. Efeito da simpatectomia provocada pela guanetidina sobre fêmures de ratas castradas. Tese de mestrado apresentada ao programa de pós-graduação em ciências fisiológicas da Universidade de São Carlos, 77p. 2005.

Michel, M.; Mevissen, M.; Burkhardt, H.W.; Steiner, A. In vitro effects of cisapride, metoclopramide and bethanechol on smooth muscle preparations from abomasal antrum and duodenum of dairy cows. J. Vet. Pharmac. Therap. v.26, n.6, p.413-420, 2003.

Murray, M.J. Diagnosing and treating gastric ulcere in foals and horses. Vet Med, v. 86, p. 820-827, 1991.

Oliveira, D.L.C. Ciclo de vesículas sinápticas com conteúdo reduzido em junção neuromuscular. Tese de mestrado apresentada ao Instituto de Ciências Biológicas – Universidade Federal de Minas Gerais – Belo Horizonte, 76p., 2007.

Pimenta, E.L.M. Estudo comparativo entre a atropina e a hioscina na reversão da bradicardia induzida pela detomidina em equinos. Tese de mestrado apresentada à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – campus Botucatu, Universidade Estadual Paulista, 92p., 2009.

Pinotti, J.P.; Fonai, A.C. Revisão: Fobia Social. Disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=4795. Acesso em 04 de maio de 2012.

Rang, H.P.; Dale, M.M. et al. Farmacologia. Rio de janeiro: Elsevier, 2007, 829p.

Reitan, J.A.; Warpinske, M.A. Cardiovascular effects of pancuronium bromide in mongrel dogs. Americam Journal of Veterinary Research, v.36, p.1309, 1975.

Srougi, M. Tratamento farmacológico da hiperplasia benigna da próstata. Disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=2057. Acesso em 04 de maio de 2012.

Viana, F.A.B. Guia Terapêutico Veterinário. 2ªed. Lagoa santa: Gráfica e editora CEM, 2007, 444p.

Wilkie, D.A.; Latimer, C.A. Effects of topical administration of timolol maleate on intraocular pressure and pupil size in dogs. American Journal of Veterinary Research, Schaumburg, v.52, n.3, p. 432-435,1991.

Willis, A.M. Ocular hypotensive drugs. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, Philadelphia, v.34, n.3, p.755-76, 2004.

18

Page 19: NOV1219_REDVET - Veterinaria.org La comunidad … · Web viewExistem também dois receptores adrenérgicos principais, chamados de receptores alfa (α) e beta (β) (GUYTON; HALL,

Young, S.S.; Barnett, K.C.; Taylor, P.M. Anaesthetic regimes for cataract removal in dog. Journal of Small Practice, v.32, p.236-240, 1991.

19