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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES NOVAS FORMAS DE FINANCIAMENTO DE INTERVENÇÕES DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO Mecenato, Patrocínio e Crowdfunding Ana Isabel de Sousa Martins Guerin de Sousa Dissertação Mestrado em Ciências da Conservação, Restauro e Produção de Arte Contemporânea Dissertação orientada pelo Prof.ª Doutora Ana Bailão e pela Prof.ª Doutora Elsa Garrett Pinho 2017

NOVAS FORMAS DE FINANCIAMENTO DE …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33907/2/ULFBA_TES... · CHSOS-Cultural Heritage Science Open Source CMP-Câmara Municipal do Porto ... Figura

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

NOVAS FORMAS DE FINANCIAMENTO DE INTERVENÇÕES DE CONSERVAÇÃO E

RESTAURO

Mecenato, Patrocínio e Crowdfunding

Ana Isabel de Sousa Martins Guerin de Sousa

Dissertação

Mestrado em Ciências da Conservação, Restauro e Produção de Arte Contemporânea

Dissertação orientada pelo Prof.ª Doutora Ana Bailão e pela Prof.ª Doutora Elsa Garrett Pinho

2017

2

DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu, Ana Isabel de Sousa Martins Guerin de Sousa, declaro que a presente dissertação de

mestrado intitulada “Novas Formas de Financiamento de Intervenções de Conservação e

Restauro – Mecenato, Patrocínio, Crowdfunding”, é o resultado da minha investigação

pessoal e independente. O conteúdo é original, e todas as fontes consultadas estão

devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tal

como todas as citações diretas ou indiretas têm devida indicação ao longo do trabalho

segundo as normas académicas.

O Candidato

[assinatura]

Lisboa, 28 de dezembro de 2017

3

RESUMO

A presente dissertação pretende estudar os modelos de mecenato, patrocínio e crowdfunding,

como uma alternativa ao financiamento de intervenções de conservação e restauro de bens

culturais móveis e integrados, existentes em território nacional, que tradicionalmente

estariam a cargo do Estado e das suas instituições. A pesquisa começa por definir o que são

bens culturais móveis, a partir da Lei de Bases do Património Cultural (Lei n.º 107/2001, de

8 de setembro), e quais as suas disposições legais de forma a contextualizá-los neste estudo.

Dada a escassez de informação acerca do estado de conservação destes bens culturais móveis,

foi elaborado um questionário, intitulado “O papel da conservação e restauro nos museus

portugueses”, de forma a compreender as carências nos acervos nacionais. Este

levantamento, feito por amostragem, veio corroborar as deficiências de conservação e

restauro nas coleções museológicas, bem como a falta de recursos humanos especializados

na área. Foi ainda averiguado o interesse da população portuguesa no uso destes modelos de

financiamento, a fim de compreender a sua viabilidade e possível utilidade na resolução do

problema. Recorrendo uma vez mais à indagação pública por amostragem, elaborou-se um

novo questionário de respostas múltiplas, intitulado “Novas formas de financiamento em

intervenções de conservação e restauro de bens culturais”. Após a análise de todos os dados

recolhidos, quer do ponto de vista das carências museológicas, quer relativamente à

participação do público, foi proposta a criação de uma plataforma exclusiva ao financiamento

de intervenções de conservação e restauro de bens culturais móveis e integrados em território

português. Pretende-se assim colmatar a falta de investimento na área, que tem vindo a

contribuir para a constante deterioração dos bens culturais. Este projeto, que chamamos de

Plataforma de Apoio ao Património (PAP), apresenta duas fases distintas de implementação:

a primeira é através de crowdfunding, que tem mais alcance mediático, e a segunda, com a

implementação de projetos de patrocínio e mecenato que criam um elo de ligação entre

pessoas/empresas e as instituições detentoras de bens culturais móveis. A PAP pretende ser

o primeiro canal português de crowdfunding que se dedica exclusivamente ao apoio de projetos

de conservação e restauro do património móvel e integrado, e que simultaneamente apela à

consciencialização da população portuguesa para a necessidade de conservar e proteger o seu

património cultural.

Palavras-Chave:

Conservação-restauro; Património Cultural; Crowdfunding; Mecenato; Patrocínio

4

ABSTRACT

The present dissertation aims to study patronage, sponsorship and crowdfunding models as

means for alternative financing of conservation and restoration interventions of national

mobile and integrated cultural assets, which would traditionally be supported by the State

and its institutions. The research begins by defining what is cultural assets, based on the base

Law of Cultural Heritage (Law no. 107/2001, of September 8), and its legal provisions in

order to contextualize them in this study. Given the scarcity of information on the

conservation status of these cultural assets, a questionnaire was prepared, entitled "The role

of conservation and restoration in Portuguese museums", in order to understand the

necessities of national collections. This survey corroborated the deficiencies of conservation

and restoration in museological collections, as well as the lack of human resources specialized

in this field. The Portuguese population in the use of these financing models was also

verified, in order to understand their viability and possible utility in solving the problem.

Once again resorting to public inquiry, a new questionnaire of multiple responses was

executed, entitled "New forms of financing for interventions for the conservation and

restoration of cultural assets". After analyzing all the data collected, both from the point of

view of museum deficiencies and public participation, the creation an exclusive platform to

finance conservation and restoration interventions of mobile and integrated cultural assets

in Portuguese territory, was proposed. The aim is to overcome the lack of investment in the

area, which has contributed to the constant deterioration of cultural assets. This project,

which we call the Heritage Support Platform (HSP), presents two distinct phases of

implementation: the first is through crowdfunding, which has more media coverage, and the

second, through the implementation of sponsorship and patronage projects that create a link

between people / companies and institutions which hold cultural assets. HSP intends to be

the first Portuguese crowdfunding channel which is exclusively dedicated to supporting

conservation and restoration projects of mobile and integrated heritage, which

simultaneously appeals to the Portuguese population's awareness of the need to preserve and

protect their heritage.

Key words:

Conservation-restoration; Cultural Heritage; Crowdfunding; Patronage; Sponsorship

5

AGRADECIMENTOS

Às minhas orientadoras, a Professora Doutora Ana Bailão e a Professora Doutora Elsa

Pinho, por toda a ajuda, orientação, bons conselhos e acompanhamento ao longo deste

último ano.

À minha família, em especial ao meu marido, filhos e pais e irmão, pois sem eles não

teria sido possível a concretização desta “aventura”.

Às minhas colegas, Liliana Cardeira, Ana Alvarez e Flávia Ferreira que estiveram

sempre presentes e prontas a ajudar e animar, tornando assim o caminho mais fácil.

Ao Professor Doutor Fernando António Baptista Pereira, que sempre acreditou em mim.

Ao Doutor Frederico Henriques, à Professora Doutora Alice Nogueira Alves e à

Professora Mestre Marta Frade, pela ajuda na divulgação do questionário e pelo apoio

demonstrado.

Às minhas amigas, Inês Pires e Ana Martinho, que me ajudaram e apoiaram.

A todos os que colaboraram na recolha de dados, nomeadamente à equipa da PPL, à

Drª Isabel Cruz de Almeida enquanto Vice-Presidente da Associação WMF Portugal, ao

Padre Edgar Clara responsável pela Arte por São Cristóvão, à Ana Ferreira da

Signinum®, ao Museu Nacional de Arte Antiga, nomeadamente ao Dr. Rui Mestre, à Drª.

Paula Brito Medori e à Conservadora Maria João Vilhena de Carvalho, ao Dr. Paulo

Valença da APOR e à Dra. Maria Augusta Martins da Divisão Municipal de Museus e

Património Cultural da Câmara Municipal do Porto.

A todas as instituições museológicas que contribuíram no questionário “O papel da

Conservação e restauro nos museus portugueses”.

6

ACRÓNIMOS

AAM- American Alliance of Museums

APOR- Agência para a Modernização do Porto

C&R- Conservação e Restauro

CCAHA- Conservation Center for Art and Historic Artifacts

CEE- Comissão Económica Europeia

CHSOS- Cultural Heritage Science Open Source

CMP- Câmara Municipal do Porto

DGPC- Direção Geral do Património Cultural

DSRPDA- Direção de Serviços de Relações Públicas, Documentação e Arquivo

FBAUL- Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa

FFC- Fundo de Fomento Cultural

FSPC- Fundo de Salvaguarda do Património Cultural

GEPAC- Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais

ICCROM- Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens

Culturais

ICOM- International Council of Museums

ICOMOS- International Council of Monuments and Sites

IJF- Instituto José de Figueiredo

IMUS- Inquérito aos Museus

INE- Instituto Nacional de Estatística

IPM- Instituto Português de Museus

MNAA- Museu Nacional de Arte Antiga

OAC- Observatório das Atividades Culturais

PAP- Plataforma de Apoio ao Património

PAQM- Programa de Apoio à Qualificação de Museus

PIAP- Plano de Investimentos de Administração Pública

PIDDAC- Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da

Administração Central

RPM- Rede Portuguesa de Museus

SCML- Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

SEC- Secretaria de Estado da Cultura

UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

VIF- Venice International Foundation

WMF- World Monuments Fund

7

ÍNDICE

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 15

1. CONCEITOS, CARATERIZAÇÃO E PROTEÇÃO .......................................................... 21

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DOS VÁRIOS TIPOS DE FINANCIAMENTO CULTURAL .. 25

2.1 O MECENATO CULTURAL ......................................................................................... 28

2.3 O PATROCÍNIO CULTURAL ....................................................................................... 34

2.3 O CROWDFUNDING CULTURAL ............................................................................... 42

3. O ATUAL PAPEL DA CONSERVAÇÃO E RESTAURO NOS MUSEUS

PORTUGUESES .................................................................................................................. 57

4. AS NOVAS FORMAS DE FINANCIAMENTO DE INTERVENÇÕES DE

CONSERVAÇÃO E RESTAURO – LEVANTAMENTO DO PÚBLICO ALVO ..................... 75

5. ESTUDO DE CASO – CRIAÇÃO DA PLATAFORMA DE APOIO AO PATRIMÓNIO

EXCLUSIVA AO FINANCIAMENTO DE INTERVENÇÕES DE CONSERVAÇÃO E

RESTAURO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS .................................................................... 90

CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 102

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 106

APÊNDICES ....................................................................................................................... 113

ANEXOS ............................................................................................................................. 123

8

ÍNDICE DE APÊNDICES

Apêndice 1: Questionário "O papel da conservação e restauro nos museus portugueses" . 114

Apêndice 2: Lista de museus contatados ............................................................................... 116

Apêndice 3: Questionário “Novas formas de financiamento em intervenções de conservação e

restauro de bens culturais” ........................................................................................................ 119

ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo 1: Carta de Atenas ........................................................................................ 123

Anexo 2: Convenção de Haia, 1954 ......................................................................... 128

Anexo 3: Carta de Veneza ....................................................................................... 143

Anexo 4: Convenção para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural .... 146

Anexo 5: Documento de Copenhaga ....................................................................... 154

Anexo 6: Carta de Cracóvia, 2000 ........................................................................... 156

Anexo 7: Declaração de Budapeste ......................................................................... 161

Anexo 8: Convenção de Faro .................................................................................. 162

Anexo 9: Lei n.º 107/2001 de 8 de setembro ........................................................... 167

Anexo 10: Lei n.º 155/92 de 28 de junho ................................................................. 189

Anexo 11: Resolução do Conselho de Ministros n.º 14/2001 ................................... 197

Anexo 12: Decreto Lei n.º 138/2009 de 15 de junho ................................................ 198

Anexo 13: Decreto-Lei n.º 258/86 de 28 de agosto .................................................. 200

Anexo 14: Lei n.º 102/2015 de 24 de agosto ............................................................ 202

Anexo 15: Capítulo destinado à conservação e restauro no Inquérito aos Museus em

Portugal .................................................................................................................... 206

9

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Diversas expressões do Património Cultural. .............................................. 23

Figura 2: Imagem do programa Uma Obra um Mecenas, realizada pelo Museu Nacional

de Arte Antiga, em 2016 (MNAA, 2016, vídeo, ver tipo de ficheiro) ............................. 33

Figura 3: Intervenção de conservação e restauro do Painel de Azulejos “Ribeira Negra”

do artista plástico Júlio Resende, realizada em 2003/4 com o patrocínio do Banco BPI.

Imagem cedida pela CMP ........................................................................................... 38

Figura 4: Segunda intervenção de conservação e restauro no Painel de Azulejos

“Ribeira Negra”, realizada em 2012 sob o patrocínio da SCML. Imagem cedida pela CMP

................................................................................................................................... 38

Figura 5: Fachada da Igreja dos Congregados, em Braga, durante a intervenção de

C&R, com a publicidade colocada nos andaimes. Créditos Signinum® ...................... 39

Figura 6: Fachada da Igreja Nossa Senhora do Terço, em Barcelos, com a publicidade

colocada nos andaimes. Créditos Signinum® ............................................................. 40

Figura 7: Ativação de arte urbana na fachada da Livraria Lello. Créditos Frederico

Henriques ................................................................................................................... 41

Figura 8: Imagem elucidativa de uma ação de crowdfunding para uma intervenção de

conservação e restauro. Ana Guerin© ........................................................................ 42

Figura 9: Imagem ilustrativa das contrapartidas dos investidores de ações de

crowdfunding. Ana Guerin© ........................................................................................ 43

Figura 10: Imagem do website da “Arte por São Cristóvão” (Cristóvão, 2015) ........... 48

Figura 11: Intervenção de Conservação e Restauro do painel de moisaicos “A Criação”

na Basílica de São Marcos em Veneza. (VIF, S/D) ..................................................... 54

Figura 12: Website “Save the soul of Savoca“, onde decorre a ação de crowdfunding

para a angariação de verbas para a intervenção de C&R das 14 (catorze) pinturas

pertencentes à Igreja de San Michele (Save the Soul of Savoca, S/D) ....................... 55

10

Figura 13: Sapatos da personagem Dorothy do filme Feiticeiro de Oz, pertencentes ao

acervo do Smithsonian Institution. Esta peça encontra-se atualmente em ação de

crowdfunding na plataforma Kickstarter® para angariar financiamento para a

intervenção de C&R. ................................................................................................... 57

Figura 14: Imagem ilustrativa do questionário “O papel da conservação e restauro nos

museus portugueses” enviado para 88 museus portugueses. Ana Guerin© ............... 64

Figura 15: Mapa de Portugal e ilhas com marcações das entidades museológicas que

responderam ao questionário “O papel da conservação e restauro nos museus

portugueses” enviado para 88 museus portugueses. Ana Guerin© ............................ 65

Figura 16: Imagem ilustrativa do questionário “Novas Formas de Financiamento de

Intervenções de Conservação e Restauro”. Ana Guerin© ........................................... 76

Figura 17: Propostas de logotipo para a Plataforma de Apoio ao Património. Ana

Guerin© ...................................................................................................................... 91

Figura 18: Imagem ilustrativa da adaptação da Plataforma de Apoio ao Património a um

canal da PPL. Ana Guerin© ........................................................................................ 94

Figura 19: Imagem ilustrativa de um blog ou website adaptado à Plataforma de Apoio

ao Património. Ana Guerin© ....................................................................................... 94

Figura 20: Imagem ilustrativa de uma ação de crowdfunding com filme no blog ou

website da Plataforma de Apoio ao Património. Ana Guerin© .................................... 95

Figura 21: Processo de candidatura à uma ação de crowdfunding na Plataforma de

Apoio ao Património. Ana Guerin© ............................................................................. 97

Figura 22: Imagem do Ano Europeu do Património Cultural (NEMO,S/D) .................. 99

Figura 23: Características base dos três modelos de financiamento. Ana Guerin© Numa

só ação, poderá utilizar-se uma ou mais formas de financiamento, consoante o tipo de

intervenção necessária à preservação do bem cultural. ............................................ 100

11

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Deduções concedidas através de mecenato cultural. (Matoso, 2015) ........ 29

Tabela 2: Motivações empresariais para o mecenato cultural segundo Lima dos Santos

in Mecenato cultural de empresa em Portugal. .......................................................... 32

Tabela 3: Comparação das campanhas de crowdfunding cultural, realizadas na

plataforma PPL. Ana Guerin© ..................................................................................... 49

Tabela 4: Tabela demonstrativa da campanha de crowdfunding realizada pelo Governo

francês para intervenções de C&R . Créditos de edição Ana Guerin© ........................ 52

Tabela 5: Tabela demonstrativa das recompensas da campanha de crowdfunding para

a intervenção de C&R do Panthéon, realizada pelo Governo francês. (Chiapparelli, 2012:

84) .............................................................................................................................. 53

Tabela 6: Tipo de conservação realizado pelos museus. Respostas obtidas no âmbito

do Inquérito aos Museus realizado pelo OAC em 1999. (Silva, 2014: 208) ................. 60

Tabela 7: Condições ambientais de conservação nos museus portugueses. Respostas

obtidas no âmbito do Inquérito aos Museus realizado pelo OAC em 1999. (Silva, 2014:

208) ............................................................................................................................ 60

Tabela 8: Número de ações de restauro nas peças dos museus portugueses. Respostas

obtidas no âmbito do Inquérito aos Museus realizado pelo OAC em 1999. (Silva, 2014:

208) ............................................................................................................................ 61

Tabela 9: Local das intervenções de conservação e restauro levadas a cabo pelos

museus portugueses. Respostas obtidas no âmbito do Inquérito aos Museus realizado

pelo OAC em 1999. (Silva, 2014: 209) ........................................................................ 61

Tabela 10: Executantes das intervenções de conservação e restauro realizadas pelos

museus portugueses. Respostas obtidas no âmbito do Inquérito aos Museus realizado

pelo OAC em 1999. (Silva, 2014: 209) ........................................................................ 62

12

Tabela 11: Total de pessoas ao serviço por Grupo e por Área de formação (Santos,

2017: 35) .................................................................................................................... 72

Tabela 12: Representatividade dos Técnicos superiores por Área de formação e por

Tutela (Santos, 2017: 36) ........................................................................................... 73

Tabela 13: Procedimentos de conservação e restauro praticados para cada acervo

(Santos, 2017: 94) ...................................................................................................... 75

Tabela 14: Vantagens do desenvolvimento da PAP através de canal integrado em

plataforma original (hipótese A) e por intermédio de criação de plataforma própria

(hipótese B). Ana Guerin© .......................................................................................... 92

Tabela 15: Desvantagens do desenvolvimento da PAP através de canal integrado em

plataforma original (hipótese A) e por intermédio de criação de plataforma própria

(hipótese B). Ana Guerin© .......................................................................................... 92

Tabela 16: Modelo exemplificativo das contrapartidas obtidas pelos participantes, numa

ação de crowdfunding de Plataforma de Apoio ao Património. Ana Guerin© .............. 98

13

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Gráfico comparativo de objetivos nas campanhas de crowdfunding cultural,

realizadas na plataforma PPL. Ana Guerin© ............................................................... 49

Gráfico 2: Números de apoiantes nas campanhas de crowdfunding cultural, realizadas

na plataforma PPL. Ana Guerin© ................................................................................ 51

Gráfico 3: Caracterização tutelar dos museus que participaram no questionário “O papel

da conservação e restauro nos museus portugueses”. Ana Guerin© .......................... 66

Gráfico 4: Justificativo da falta de realização de intervenções de conservação e restauro

nos museus portugueses. Ana Guerin© ..................................................................... 67

Gráfico 5: Número de intervenções previstas pelos museus portugueses nos próximos

5 anos. Ana Guerin© .................................................................................................. 68

Gráfico 6: Número de intervenções de conservação e restauro externas solicitadas

pelos museus portugueses. Ana Guerin© ................................................................... 68

Gráfico 7: Número de museus que contêm conservadores-restauradores nos seus

quadros. Ana Guerin© ................................................................................................ 70

Gráfico 8: Necessidade de conservadores-restauradores nos museus portugueses.

Ana Guerin© ............................................................................................................... 70

Gráfico 9: Museus por Área do serviço externo a que recorreu (Santos, 2017: p.41) 73

Gráfico 10: Estado geral de conservação das instalações e das condições do acervo

museológico (Santos, 2017: 91) ................................................................................. 74

Gráfico 11: Enquadramento dos inquiridos relativamente ao seu grupo etário. Ana

Guerin© ...................................................................................................................... 77

Gráfico 12: Enquadramento dos inquiridos relativamente à sua nacionalidade. Ana

Guerin© ...................................................................................................................... 77

Gráfico 13: Localização geográfica dos inquiridos. Ana Guerin© ............................... 78

Gráfico 14: Estado civil e familiar. Ana Guerin© ........................................................ 78

14

Gráfico 15: Nível de escolaridade dos inquiridos. Ana Guerin© ................................. 79

Gráfico 16: Situação Profissional dos inquiridos. Ana Guerin© .................................. 80

Gráfico 17: Importância dos bens culturais português. Ana Guerin©. ........................ 81

Gráfico 18: Estado de conservação dos bens históricos e culturais portugueses. Ana

Guerin© ...................................................................................................................... 81

Gráfico 19: Importância da existência de novas formas de financiamento de

intervenções de conservação e restauro nos bens culturais. Ana Guerin© ................. 82

Gráfico 20: Conhecimento de crowdfunding. Ana Guerin© ........................................ 83

Gráfico 21: Participação em uma ação de crowdfunding para o financiamento de uma

intervenção de C&R. Ana Guerin© ............................................................................. 84

Gráfico 22: Montante de participação numa campanha de crowdfunding para C&R. Ana

Guerin© ...................................................................................................................... 85

Gráfico 23: Conhecimento de mecenato cultural. Ana Guerin© ................................. 85

Gráfico 24: Conhecimento que o mecenato cultural relativamente a benefícios fiscais.

Ana Guerin© ............................................................................................................... 86

Gráfico 25: Opinião sobre o mecenato cultural como forma de responsabilidade social

empresarial. Ana Guerin© .......................................................................................... 87

Gráfico 26: Resposta relativa à realização de mecenato cultural empresarial no âmbito

de uma intervenção de conservação e restauro. Ana Guerin© ................................... 87

Gráfico 27: Associação de marcas comercias a projetos culturais. Ana Guerin© ...... 88

Gráfico 28: Patrocínio de uma marca a uma intervenção de conservação e restauro.

Ana Guerin© ............................................................................................................... 89

15

INTRODUÇÃO

A presente dissertação pretende estudar os modelos de mecenato, patrocínio e

crowdfunding, como uma alternativa ao financiamento de intervenções de

conservação e restauro de bens culturais móveis e integrados. Este estudo foi

desenvolvido entre os anos 2015 e 2017 para a obtenção de grau de mestre em

Ciências da Conservação e Restauro e Produção de Arte Contemporânea

subordinado ao tema “Novas formas de financiamento de intervenções de

conservação e restauro, Mecenato, Patrocínio e Crowdfunding”.

Foram analisadas questões como o enquadramento legal dos critérios de

proteção e valorização do património cultural português, os conceitos e o

panorama atual do financiamento cultural. A fase final do trabalho desenvolve

uma proposta de ação que visa o auxílio ao custeamento de intervenção de

conservação e restauro de bens culturais móveis e integrados.

Portugal é um país de grande riqueza patrimonial, sendo por isso indispensável

a conservação dos seus bens culturais, não só pela preservação das nossas

memórias enquanto povo, como também pelo turismo cultural que nos últimos

anos tem representado uma fonte inquestionável de rendimentos ao país.

Tradicionalmente cabe aos detentores de bens culturais o estudo, a divulgação

e a conservação dos testemunhos materiais que detêm à sua responsabilidade,

de forma a preservar a nossa identidade.

A maioria das intervenções de C&R de bens culturais móveis e integrados

encontra-se dependente de financiamentos públicos saídos dos orçamentos da

Administração Central e Local, ou indiretamente através de subvenções

atribuídas pelo Estado a entidades semipúblicas ou privadas. Um montante

insuficiente face à realidade das carências existentes, resultado de anos de

desinteresse pelo património cultural do nosso país. Ainda que, no triénio de

1977-1980, a instalação de oficinas de conservação e restauro nos museus

tenha sido elencada como uma das prioridades do Plano de Investimentos da

Administração Pública (Pinho, 2013: 20), esta é uma realidade inexistente no

atual panorama museológico, pois a maioria dos conservadores-restauradores

16

está desempregada, entregue a estágios profissionais precários ou não

remunerados e dependente de bolsas de estudo ou de investigação (Remígio,

2016: 18). As sucessivas restruturações dos serviços do Estado e do modelo de

gestão do património cultural, refletem-se em planos de gestão baseados em

fatores externos como: o controlo financeiro, a racionalização de recursos e

orgânicas, a reorganização e redistribuição de “poderes”, e nas compensações

e equilíbrios políticos (Ramalho et al., 2017: 2). Uma política cultural sem base

sólida, sustentada pelas contingências económicas do país. Foi esta ausência

de gestão de recursos que motivou o presente estudo dos modelos de

financiamento.

Objetivos

Esta investigação teve como objetivo primordial compreender a utilidade dos

modelos de mecenato, patrocínio e crowdfunding como formas alternativas de

auxiliar o financiamento de intervenções de conservação e restauro. Pretendeu-

se entender as características e a utilidade de cada um dos tipos de

financiamento abordados, culminando com exemplos da sua aplicabilidade. Um

outro propósito deste estudo prendeu-se com o levantamento das necessidades

das instituições relativamente a ações de conservação e restauro. Era

necessário confirmar as carências reais dos acervos nacionais, quer ao nível das

intervenções efetuadas ou por efetuar, quer no que respeita aos recursos

humanos especializados na área. No que se refere à aplicabilidade dos três

modelos aqui considerados, foi crucial aferir a abertura da população portuguesa

na participação em ações deste tipo. Pois o sucesso destas medidas, dependerá

sempre, de forma direta ou indireta, da recetividade do público. Com o propósito

de solucionar o problema levantado, e com base na análise do estudo até então

executado, criou-se uma plataforma de apoio ao financiamento de intervenções

de conservação e restauro de bens culturais móveis e integrados. Pretende-se,

que a Plataforma de Apoio ao Património (PAP) venha colmatar a ausência de

financiamento na área.

17

Metodologia

A essência desta dissertação obrigou a uma abordagem interdisciplinar, uma vez

que correlacionou áreas tão díspares como a conservação e restauro, a

legislação, o marketing cultural e o financiamento. Estas ligações obrigaram à

consulta de especialistas em financiamento cultural e advocacia, de forma a

compreender e a agregar toda a informação adquirida.

Numa fase inicial pretendeu-se compreender as disposições legais dos bens

culturais em estudo, pois sem conhecimento das formas de proteção legal não

seria possível desenvolver um estudo preciso. Esta foi a base que permitiu o

prosseguimento deste estudo. Paralelamente, procurou-se entender as políticas

de gestão de património e o incremento legal dos modelos de financiamento aqui

estudados.

Cada um dos modelos de financiamento aqui estudados foi contextualizado

legalmente (benefícios) e na perspetiva da sua aplicabilidade (vantagens e

desvantagens) através de estudos de caso exemplificativos.

O mecenato cultural, o modelo com mais tradição em Portugal e que se traduz

num ato filantrópico, está associado a ações de responsabilidade social de

grandes grupos empresariais. No âmbito desta dissertação foram contatadas

duas instituições, a World Monuments Fund Portugal, enquanto associação que

trabalha o mecenato exclusivo para a preservação e a salvaguarda do

património, e o Museu Nacional de Arte Antiga, na qualidade de museu público

que recorre ao mecenato como forma de preencher as lacunas financeiras para

realização de intervenções de C&R.

Através de dois exemplos de patrocínio cultural sob a forma de publicidade, que

auxiliaram o financiamento de intervenções de conservação e restauro,

procuramos obter informações junto dos seus promotores. Para a intervenção

do painel de azulejos “Ribeira Negra”, contactou-se a Divisão Municipal de

Museus e Património Cultura da Câmara Municipal do Porto e a Agência de

Modernização do Porto. Também a empresa comercial Signinum® foi

consultada, pois desenvolveu duas intervenções cujos montantes foram

angariados através de publicidade. Apenas deste modo os projetos foram

18

financeiramente exequíveis. O patrocínio cultural, que tem objetivos

exclusivamente comerciais, ainda não tem grande expressão na preservação do

património do país.

O modelo de financiamento coletivo tem como característica principal a

angariação de verbas mediante pequenas doações. É o mais recente dos três

tipos de financiamento aqui apresentados e está a ganhar seguidores em

Portugal. De forma a conhecer o seu modo de processamento, reunimo-nos com

a empresa PPL®, responsável pela maior plataforma de crowdfunding do país.

Quanto à sua aplicação a intervenções de conservação e restauro, consultámos

o Padre Edgar Clara, criador de movimento “Arte por São Cristóvão”, que

financiou o restauro de uma tela do Bento Coelho da Silveira (1617-1708)

pertencente à igreja de São Cristóvão.

Conhecidas as utilidades destes modelos de financiamento foi necessário

entender as reais dificuldades das entidades culturais, relativamente às

carências de intervenções de conservação e restauro. Em virtude da falta de

conteúdos relativos à gestão de coleções nesta área, procurou-se obter dados,

junto de instituições museológicas, de forma a compreender as carências

existentes.

Esse contacto foi realizado através de um questionário, intitulado “O papel da

conservação e restauro nos museus portugueses”, que veio corroborar as

amplas necessidades respeitantes a intervenções de C&R nas coleções

museológicas, bem como a falta de recursos humanos especializados na área.

Em consequência dos resultados obtidos no questionário, tornou-se essencial

compreender estes três tipos de financiamento e a sua aplicação real em

intervenções de conservação e restauro. De forma a averiguar e compreender a

abertura da população para a resolução deste problema, optou-se por questionar

o público português, por amostragem, relativamente às formas de financiamento

cultural aqui abordadas.

Foi também proposta a criação de uma plataforma de apoio à conservação e

restauro de bens culturais móveis e integrados. Os principais objetivos consistem

no apoio financeiro a intervenções de C&R e na sensibilização da população

para o problema em questão. Esta proposta pretende colmatar a falta de

19

investimento na área, pois é indispensável que haja uma consciência dos

cidadãos relativamente às responsabilidades quanto ao Património Cultural.

(Martins, 2017)

Estrutura da tese

Esta dissertação encontra-se dividida em 5 capítulos. No primeiro capitulo

pretendemos abordar os conceitos, a caracterização e a proteção dos bens

culturais móveis e integrados, uma vez que todo o estudo assenta nestas duas

tipologias. Foram consideradas as definições de património cultural das

organizações internacionais de maior referência no mundo cultural (a UNESCO,

o ICOMOS, o ICOM e o ICCROM), contudo a base jurídica tomada em

consideração para o estudo, foi a Lei de Bases do Património Cultural (Lei n.º

107/2001, de 8 de setembro).

O segundo capítulo inicia-se com a contextualização das políticas nacionais

relativamente à gestão do património cultural e aos fundos, promovidas pelo

governo central. Este capítulo é constituído por três subcapítulos.

O primeiro subcapítulo analisa e desenvolve o mecenato cultural enquanto forma

de financiamento cultural, contextualizando-o historicamente e enquadrando-o

no panorama nacional. São referidos os benefícios fiscais aplicados bem como

o processamento de enquadramento no regime do mecenato cultural e de

interesse cultural das atividades ou das ações desenvolvidas. São referidos dois

estudos de caso que aplicaram o mecenato cultural como forma de financiar

intervenções de conservação e restauro.

O subcapítulo seguinte aborda o patrocínio cultural, definindo-o e enquadrando-

o enquanto exemplo de financiamento cultural. É referida a sua ligação ao

marketing cultural e a sua vertente comercial. Para terminar, são dados dois

exemplos de patrocínio cultural aplicados em ações de restauro.

O terceiro subcapítulo fala sobre o terceiro e último modelo estudado nesta

dissertação, o crowdfunding. Após a sua contextualização histórica expõem-se

as várias tipologias existentes, aprofundado a tipologia aplicada a este tipo de

ações. É realizado o seu enquadramento legal e são apresentados vários

20

exemplos, nacionais e internacionais, da sua aplicabilidade em intervenções de

conservação e restauro.

O terceiro capítulo desta dissertação diz respeito ao levantamento das carências

das entidades culturais relativas a ações de conservação e restauro. São

apresentados resultados de um inquérito a museus respeitante ao ano de 1999

(o primeiro desenvolvido para museus), seguido de um questionário também

realizado a museus que decorreu no âmbito do desenvolvimento deste estudo.

A concluir refere-se um outro estudo também realizado em 2017 por um grupo

de trabalho da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e

Documentalistas.

No quarto capítulo faz-se o levantamento do público-alvo, relativamente ao

interesse pelo património cultural e à participação nos modelos de financiamento

aqui apresentados.

O quinto capítulo é dedicado à criação de uma plataforma que visa auxiliar

financeiramente intervenções de conservação e restauro, através dos modelos

mencionados.

A terminar, são apresentadas as conclusões, bibliografia e os anexos. A referir

que, as referências bibliografias seguem o sistema de Harvard®.

21

1. CONCEITOS, CARATERIZAÇÃO E PROTEÇÃO

Antes de iniciar o levantamento e estudo sobre a tradição e a evolução do

financiamento cultural português, houve a necessidade de conhecer e

aprofundar conceitos relativos ao património cultural, de forma a identificar

efetivamente os objetos em análise nesta dissertação. Assim sendo, este estudo

assenta unicamente sobre o património cultural móvel e muito especialmente

sobre os acervos museológicos integrados. Para compreender este tipo bens

culturais, bem como as suas disposições legais, é essencial contextualizar o

património cultural de uma forma geral.

Existem várias definições para património cultural. Contudo, nesta investigação

tivemos em consideração a atual Lei de Bases do Património Cultural (Lei n.º

107/2001, de 8 de setembro) e as definições promovidas pelas organizações

internacionais de maior referência no mundo cultural, a UNESCO1, o ICOMOS2,

o ICOM3 e o ICCROM4. A opção da seleção destas instituições é sustentada pela

sua participação no desenvolvimento das orientações técnicas e deontológicas

através da contribuição na produção de Cartas e Convenções 5 que vieram

sustentar as legislações culturais de vários países. Foi através deste

internacionalismo cultural que nasceu a necessidade de proteger o património.

1 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, foi fundada em 1946 com o objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo através da educação, da ciência, da cultura e das comunicações. Dentro dos seus programas destaca-se o World Heritage Centre que tem como finalidade coordenar a preservação e salvaguarda de locais definidos como património histórico da humanidade. 2 O ICOMOS é o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, uma organização não governamental associada à UNESCO uma vez que é um dos três consultores do Comité do Património Mundial. A sua missão assenta na promoção, valorização e conservação de monumentos, centros urbanos e sítios. 3 O ICOM, ou Comité Internacional de Museus é uma organização internacional constituída por museus e seus profissionais, destinada à preservação e divulgação do património natural e cultural mundial 4 O Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais (ICCROM), é uma organização intergovernamental que se dedica à preservação do património cultural mundial, através da consciencialização da importância da conservação e restauro do património cultural. 5 Carta de Atenas (1931), Convenção de Haia (1954), Carta de Veneza (1964), Convenção do Património Mundial (1972), Documento de Copenhaga (1984), Carta de Cracóvia (2000), Declaração de Budapeste (2002). (ver anexo 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7)

22

Desde então, estas instituições têm trabalhado no sentido de valorizar, proteger

e salvaguardar o património mundial.

Segundo a Carta de Cracóvia (2000) o «Património é o conjunto das obras do

homem nas quais uma comunidade reconhece os seus valores específicos e

particulares e com os quais se identifica. A identificação e valorização do

património é, assim, um processo relacionado com a seleção de valores6».

Valores esses que podem ser materiais ou imateriais desde que reconheçam a

importância específica de uma comunidade. Neste estudo em concreto, o

interesse recai sobre o património cultural, conceito que tem vindo a ser discutido

desde que a UNESCO o definiu na Convenção de Haia para a Proteção dos

Bens Culturais em caso de conflito armado, em 1954.

Segundo a Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro, integram o património cultural

«(…) todos os bens que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de

cultura portadores de interesse cultural relevante, devam ser objeto de especial

proteção e valorização 7 ». Contudo, a definição resultante do Conselho da

Europa Relativa ao Valor do Património Cultural para a Sociedade, em 2005,

descrita na Convenção de Faro é mais precisa: «O património cultural constitui

um conjunto de recursos herdados do passado que as pessoas identificam,

independentemente do regime de propriedade dos bens, como reflexo e

expressão dos seus valores, crenças, saberes e tradições em permanente

evolução. Inclui todos os aspetos do meio ambiente resultantes da interação

entre as pessoas e os lugares, através do tempo8». Assim, o património cultural

pode ser divido em três principais áreas: o património construído ou imóvel, o

móvel e o imaterial, sendo que o património cultural imóvel divide-se em 6 tipos

diferentes como se pode observar na figura 1. Das referidas áreas destacaremos

o património cultural móvel e integrado, ou seja, «(…) as peças que poderiam

ser transportadas/ movidas sem prejuízo do objeto imóvel em que estão

contidos». (European Heritage Network, S/D)

6 Carta de Cracóvia 2000: Princípios para a Conservação e o Restauro do Património Construído (anexo 6) 7 Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro, artigo 55.º (anexo 9) 8 Convenção de Faro, 2005 (anexo 8)

23

Segundo a lei portuguesa, são considerados «(…) bens culturais móveis

integrantes do património cultural aqueles que (…) constituam obra de autor

português ou que sejam atribuídos a autor português, hajam sido criados ou

produzidos em território nacional, provenham do desmembramento de bens

imóveis aí situados, tenham sido encomendados ou distribuídos por entidades

nacionais ou hajam sido propriedade sua, representem ou testemunhem

vivências ou factos nacionais relevantes a que tenham sido agregados

elementos naturais da realidade cultural portuguesa, se encontrem em território

português há mais de 50 anos ou que, por motivo diferente dos referidos,

apresentem especial interesse para o estudo e compreensão da civilização e

cultura portuguesa9». Ao abrigo da mesma lei encontram-se ainda os «(…) bens

culturais móveis integrantes do património cultural (…) que não sendo de origem

ou de autoria portuguesa, se encontrem em território nacional ou que constituem

espécies artísticas, etnográficas, científicas e técnicas, bem como espécies

arqueológicas, arquivísticas, audiovisuais, bibliográficas, fotográficas,

fonográficas (…)».

Figura 1: Diversas expressões do Património Cultural.

9 Artigo 55º, Secção IV da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro. (anexo 9)

24

Independentemente da proteção legal, estes bens culturais não deixam de

possuir valores estéticos e históricos que devem ser preservados como forma de

testemunho às gerações futuras (UNESCO, 2001).

O património cultural móvel classificado ou em vias de classificação, ao abrigo

da legislação vigente, encontra-se sob tutela do Estado. Os bens culturais podem

ser classificados de interesse nacional (“tesouros nacionais”), de interesse

público ou de interesse municipal, consoante o seu valor artístico e cultural, e

após análise pela administração patrimonial competente, nos termos do artigo

2.º do Decreto-Lei n.º 148/2015, de 4 de agosto.

Conforme previsto pela supracitada Lei N.º 107/2001, de 8 de setembro, o

regime patrimonial de classificação abre, aos proprietários dos bens, acesso a

apoios, incentivos fiscais, financiamentos, contudo também se encontram

sujeitos a outras disposições legais10.

a. Dever, da parte do detentor, de comunicar a alienação ou outra

forma de transmissão da propriedade ou de outro direito real de

gozo, para efeitos de atualização de registo;

b. Sujeição à prévia autorização do desmembramento ou dispersão

das partes integrantes do bem ou coleção;

c. Sujeição a prévia autorização do serviço competente de quaisquer

intervenções que visem alteração, conservação ou restauro, as

quais só poderão ser efetuadas por técnicos especializados, nos

termos da legislação de desenvolvimento;

d. Existência de regras próprias sobre a transferência ou cedência de

espécies de uma instituição para outra ou entre serviços públicos;

e. Sujeição da exportação a prévia autorização ou licença;

f. Identificação do bem através de sinalética própria, especialmente

no caso dos imóveis;

g. Obrigação de existência de um documento para registos e

anotações na posse do respetivo detentor.

10 Artigo 21º da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro. (anexo 9)

25

Contudo, não são só os bens culturais classificados que usufruem de proteção

legal, os bens culturais móveis inventariados também se encontram ao abrigo de

proteção legal, por fazerem parte do conceito e âmbito do património cultural

português. A inventariação consiste no levantamento, identificação,

sistematização e registo atualizado dos bens (Barranha, 2016: 54). Pode ser

realizada sobre bens públicos ou de proveniência privada, desde que

devidamente solicitada a classificação. Segundo a lei portuguesa, todos os bens

de interesse cultural (classificados ou inventariados) devem ser objeto de

especial proteção e valorização. Embora cada vez mais seja evidente a

importância da conservação dos bens móveis culturais, as estratégias políticas

não têm acompanhado este desafio cultural.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DOS VÁRIOS TIPOS DE FINANCIAMENTO

CULTURAL

O financiamento cultural português encontra-se na sua maioria centralizado no

Estado, que além de gerir a atividade cultural define as suas políticas,

contribuindo assim para a difusão do conhecimento através do acesso

democrático à cultura.

Os apoios externos monetários à Cultura existem há muitos séculos sob a forma

de mecenato, e tiveram especial enfase em alturas de fulgor cultural, como na

Antiguidade Clássica (Grécia e Roma), no Renascimento ou no Barroco italiano

(Santos, 1990: 375). Porém, é no contexto europeu dos finais da década de 1970

que se assiste a um movimento de convergência entre o setor cultural e o setor

empresarial. Em Portugal, este movimento refletiu-se na década seguinte, de

1980, quando se reconhece de forma muito concreta a iniciativa privada como a

fonte autêntica e insubstituível do desenvolvimento económico e social (Aleixo,

2013: 30), através da Lei n.º 127-B/97, de 20 de dezembro, que aprovou o

Orçamento de Estado para 1998. Esta lei, veio colocar o setor empresarial como

potencial financiador da cultura, seja através de donativos ou de outro tipo de

26

apoio monetário, complementando desse modo o orçamento público para a

cultura. Contudo, só em 1999 através do Decreto-lei n.º 74/99, de 16 de março,

é que se enquadra devidamente o Estatuto do Mecenato no regime de donativos.

O mesmo Decreto-lei, define as percentagens de majorações e limites de

dedução dos donativos, situação que só se altera com o Decreto-lei n.º

108/2008, de 26 de junho. Nesta legislação são concedidos os donativos a

cooperativas culturais, a institutos, a fundações e a outras entidades sem fins

lucrativos que desenvolvam ações no âmbito da cultura, dos museus, das

bibliotecas, dos arquivos históricos e documentais e dos organismos públicos de

produção artística.

Paralelamente, encontra-se o Fundo de Fomento Cultural (FFC11), que é um

fundo autónomo criado em 1973 pela então Direção-Geral dos Assuntos

Culturais (Decreto-lei n.º 582/73, de 5 de novembro 12 ). Este fundo atribui

subsídios a áreas como a promoção, a divulgação e a difusão cultural, quer em

ações executadas em Portugal quer no estrangeiro, em atividades de defesa, na

conservação e valorização de bens culturais e ainda no apoio a estudos de

investigação, a bolsas e conferências de caráter cultural13 (Andrade, 2016). A

gestão administrativa e financeira do Fundo de Fomento Cultural (FFC) é

assegurada pelo Gabinete de Estratégia, mais precisamente pelo Planeamento

e Avaliação Culturais, regendo-se financeiramente pelas disposições legais

aplicáveis aos Fundos Autónomos14. Em 2011, o FFC sofreu uma alteração

através do aumento de 2,2% para 3,5% do valor dos resultados líquidos da

exploração dos jogos sociais.

Mais ligado a intervenções de preservação, conservação e de restauro (C&R) do

património cultural encontra-se o Fundo de Salvaguarda do Património Cultural

(FSPC), que é um fundo público constituído no âmbito do Ministério da Cultura,

em 2009, e responde à determinação da Lei N.º 107/2001, de 8 de setembro,

que estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do

11 Decreto-Lei nº102/80, de 9 de maio, com alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 114/87, de 13 de março 12 Atualmente regendo-se Decreto–Lei n.º 102/80, de 9 de maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto–Lei n.º 114/87, de 13 de março. 13 No orçamento de estado para 2017, o FFC teve um aumento de 0,9% face ao ano anterior, encontrando-se o valor atual do fundo em 30ME. 14 Decreto-Lei nº115/92, de 28 de julho. (Anexo 10)

27

património cultural através da criação de um fundo público para acudir aos bens

culturais com especial proteção jurídica15. O FSPC destina-se ao financiamento

de ações de preservação e salvaguarda dos bens integrados na lista do

Património Mundial, de bens culturais classificados, ou em vias de classificação

que se encontrem em risco. Suporta ainda a aquisição de bens culturais

classificados ou em vias de classificação, para as coleções públicas. A gestão

do FSPC permite a articulação com outros fundos, públicos ou privados, desde

que o objetivo da ação seja a conservação e restauro de bens imóveis, ficando

desse modo os bens móveis excluídos da valorização do FSPC.

No ano de 2011 (XIX Governo Constitucional), quando Portugal se encontra em

plena crise financeira, o Ministério da Cultura deixa de existir, passando a Cultura

a ser tutelada por um Secretário de Estado, dependente do Primeiro-Ministro,

encerrando assim com alguns projetos (entidades coletivas), como o

Observatório das Atividades Culturais (OAC) (GEPAC, 2013) e, por conseguinte,

a BdMuseus 16 (Santos et al., 2017: 14) que tanto poderia ser útil no

desenvolvimento deste estudo. Também com a crise veio a primeira fase da

descentralização da Cultura, permitindo assim às regiões gerirem os seus

próprios equipamentos sem que deixem de ter apoio qualificado das estruturas

centrais como a Direção-Geral do Património Cultural (Carvalho, 2013).

Contudo, este apoio da administração central insere-se mais na área da gestão

e proteção do património cultural, uma vez que o escasso orçamento da cultura

não permite grandes apoios financeiros.

Apesar de em 2015 ter voltado a existir Ministério da Cultura, o seu orçamento

continua sem melhoramento, seguindo a tendência acentuada de decréscimo do

orçamento para a cultura, que vem desde 2002 (Matoso, 2016).

Com o orçamento de Estado para a Cultura a diminuir (em 2017, apenas 0.3%

do OE), é necessário procurar novas formas de financiamento para as

15 Decreto-Lei nº 138/2009, de 15 de junho. (Anexo 12) 16 A BdMuseus (Base de dados Museus) resultou de um protocolo assinado a 5 de abril de 2000, entre o antigo Instituto Português de Museus, o Instituto Nacional de Estatística e o Observatório das Atividades Culturais. O projeto tinha como objetivos a atualização permanente do recenseamento dos museus; manutenção dos dados atualizados; a articulação entre a BdMuseus com o Inquérito aos Museus (IMUS) do INE; a promoção e a publicação regular de estudos específicos sobre o panorama museológico em Portugal utilizando como base a BdMuseus e o IMUS. Estes objetivos foram cumpridos até 2012 uma vez que o OAC foi extinto em 2013, tendo os dados recolhidos até então ficado a cargo da atual Direção‐Geral do Património Cultural (DGPC).

28

instituições culturais e estruturas artísticas (Carvalho, 2014a), como o

financiamento coletivo, que surge como uma alternativa viável ao investimento

público e privado.

2.1 O MECENATO CULTURAL

A propensão em conservar e preservar bens culturais é uma tendência que tem

acompanhado a história e o desenvolvimento da humanidade, tal como o

mecenato, que nasce na figura de Caio Cílnio Mecenas (70 a.C.- 8 a.C.). Como

a posse de objetos de alto valor artístico constituía em Roma um sinal de poder

e alto nível social (Macarrón, 1995: 21), Caio Mecenas geriu as ligações entre o

mundo das artes e o Estado romano de forma a este obter a aceitação da

população através do prestígio fornecido pelos artistas. Até aos finais do séc.

XV, com o movimento renascentista em Itália, o clero e a nobreza, a par dos

emergentes banqueiros burgueses, incentivam e apoiam a criação artística como

forma de expressão do seu poder e transmissão ideológica. Ao longo do tempo

observam-se várias fases mecenáticas que se alteram consoante o momento

histórico, umas com maior apoio do clero, outras da nobreza. O mecenato

aristocrático e religioso só termina com a implantação dos estados modernos e

republicanos, onde os organismos públicos passam a assumir as ações

mecenáticas, promovendo assim a «democratização da cultura» (Santos, 1988:

698).

Na década de 1980, com a entrada na Comunidade Económica Europeia (CEE),

Portugal acompanha a tendência de outros países na procura de esforços para

regulamentar a aproximação do setor empresarial e cultural. Assim, durante a

vigência do X Governo Constitucional, sob a Secretaria de Estado da Cultura

(SEC), é promulgada a primeira lei do Mecenato Cultural17. Este diploma visava

«estimular, facilitar e desenvolver o apoio à criação, ação e difusão cultural

destacam-se os incentivos de natureza tributária». Apesar de o Estado recuar no

17 Decreto-Lei n.º 258/86, de 28 de agosto. (Anexo 13)

29

seu papel interventivo, face à Lei n. º 13/85, de 6 de julho, a SEC continuou a

intervir no assunto, visto desempenhar funções de mediador entre os agentes

culturais e os possíveis mecenas. Também para se usufruir dos benefícios fiscais

as entidades beneficiárias tinham de recorrer à SEC, através da Direção de

Serviços de Relações Públicas, Documentação e Arquivo (DSRPDA) da

Secretaria de Estado do Ministério da Cultura, que ao deter a tutela do mecenato,

era o departamento responsável pela obtenção do enquadramento no regime do

mecenato cultural e de interesse cultural das atividades ou das ações

desenvolvidas, previsto no artigo 62.º-B do Decreto-lei n.º 215/89, de 1 de julho.

Todavia, é um ano mais tarde que o estatuto de mecenato (nas suas várias

dimensões) é integrado nos Estatutos de benefícios fiscais, aprovado pelo

Decreto-lei n.º 74/99, de 16 de março, enquadrando assim o regime de donativos

sobre os rendimentos de pessoas singulares e pessoas coletivas. Os benefícios

fiscais atuais regem-se pelo artigo 62º B da Lei n.º 82-B/2014, de 31 de

dezembro, conforme demonstrado na tabela 1.

MECENATO CULTURAL

Entidades

Beneficiárias

Valores dedutíveis

Majoração

Limite de custos fiscais

IRC

Reconhecimento

prévio/ Despacho

Entidades

públicas

130%- anual

140%-contratos

plurianuais

Sem limite Não

Entidades

privadas sem

fins lucrativos

130%- anual

140%-contratos

plurianuais

Até 0,8%. 8/1000 do

volume de vendas ou

de serviços prestados

Sim

Tabela 1: Deduções concedidas através de mecenato cultural. (Matoso, 2015)

Todavia, a política de mecenato mantém-se face ao reconhecimento dos

beneficiários. Estes deverão primeiramente solicitar ao Gabinete de Estratégia,

Planeamento e Avaliação Culturais (GEPAC) o seu reconhecimento de

instituição de interesse cultural, para que, posteriormente, possam ter acesso ao

estatuto de benefícios fiscais.

30

Os organismos que se encontram sob a tutela do Ministério da Cultura ou

serviços públicos com atividade cultural não necessitam de requerer qualquer

reconhecimento para usufruírem de mecenato cultural.

Atualmente são exercidos em Portugal dois tipos de mecenato cultural, o privado

e o de empresa. O mecenato, enquanto ato pessoal e privado, é uma ação

filantrópica, de generosidade e de solidariedade social, além de um direito social

aberto a todos. Já o mecenato de empresa, apesar de ter a mesma base

filantrópica, encontra-se associado à responsabilidade social de forma a

melhorar a imagem corporativa da empresa e tem sido amplamente estudado ao

longo dos anos. Segundo Maria de Lourdes Lima dos Santos (Santos, 1990: 376)

desde os anos de 1970 que no contexto europeu se assiste a uma convergência

entre o sector cultural e empresarial, numa diversidade de formas de atuação

mecenática que variam entre a simples dádiva e a instrumentalização do

mecenato como patrocínio em prol da imagem comercial. O mecenato, enquanto

dádiva, é habitualmente protagonizado por instituições de interesse público,

como é o caso da Fundação Calouste Gulbenkian que em 1987 contribuía com

cerca de 27% dos gastos com cultura (Santos, 1990: 378). Esta forma de

atuação é muito bem aceite do ponto de vista social, situação que, muitas vezes

não sucede com o mecenato de empresa, onde na maioria das vezes dominam

jogos de interesse. Esta dicotomia entre os valores humanistas de generosidade

social e os interesses publicitários nem sempre foi bem aceite, pois normalmente

é acompanhada de conotações políticas.

«Movidos por interesses de ordem pessoal e institucional, argumentos de

altruísmo e generosidade social nunca deixaram, entre os mecenas, de ser

acompanhados de convicção de que a arte e a cultura constituíam meios

excelentes para representação política e do poder». (ibidem)

Porém, o Estado apoiou o financiamento cultural privado, desde que dentro das

regras do poder central, uma vez que não tinha capacidade de suportar as

necessidades culturais existentes. Prova disso são os benefícios fiscais

concedidos aos mecenas que, contrariamente ao esperado, não foram o fator

prioritário à tomada de decisão dos benfeitores, segundo o estudo realizado às

empresas portuguesas por Lima dos Santos (ibidem). Estes inquéritos entre

31

1987-88, tinham como função conhecer as expetativas, práticas e interesses do

mecenato de empresa em Portugal. Para tal, foi enviada uma centena de

questionários, mas só obtiveram 41 respostas devidamente devolvidas. Através

destas repostas, o estudo revela qual a motivação das empresas portuguesas

face ao recém-criado Decreto-Lei n.º 258/86, de 28 de agosto. Verificou-se então

que as empresas aderiam ao mecenato cultural como forma de melhorar a sua

imagem externa, como se verifica na tabela 2. Um outro dado, retirado deste

inquérito e bastante relevante para este estudo, são as intenções e práticas

relativas ao tipo de mecenato cultural. Das empresas inquiridas 21% revelam a

intenção de realizar mecenato cultural através da recuperação do património.

Das práticas de mecenato cultural realizadas, 15,6% das empresas revelam que

o praticam na área do património e 9,1% na área dos museus e bibliotecas

(Santos,1990: 399). Estes valores revelam que a área do património cultural se

encontra entre as mais influentes do mecenato, sendo desse modo bastante

ambicionada pelas empresas que pretendem melhorar a sua imagem

institucional. Segundo Duarte Pimentel, «(…) a cultura se constitui como factor

de diferenciação entre as empresas bem sucedidas e as restantes». (Pimentel,

1988: 133-146)

Na última década houve um enorme esforço de democratização cultural, muito

graças à crescente atração turística de algumas zonas do país. Esta tendência

tem resultado em novas estratégias de captação de mecenato (ibidem). No séc.

XXI não é raro ver empresas de caráter comercial a apoiarem espetáculos,

exposições e eventos, chegando mesmo à alteração do nome do evento para o

nome do patrocionador, como é o caso do festival musical “NOS® Alive”.

32

MOTIVAÇÕES RESPOSTAS POR % PRIORIDADES

Melhorar imagem da empresa 30,7% 1ª prioridade

Assumir responsabilidade social 22,7% 1ª prioridade

Agregar pessoal de empresa em

torno de valores

21,9% 2ª prioridade

Deduzir impostos 18,8% 2ª prioridade

Promover produtos ou serviços 14,8% 1ª prioridade

Valorizar culturalmente os

trabalhadores

10,9% 2ª prioridade

Alargar relações sociais e

empresariais

15,6% 2ª prioridade

Tabela 2: Motivações empresariais para o mecenato cultural segundo Lima dos Santos in Mecenato cultural de empresa em Portugal. (Santos, 1990: 394)

A trabalhar em mecenato cultural exclusivo para a preservação e salvaguarda

do património construído e dos sítios arqueológicos temos a organização World

Monuments Fund (WMF) que dispõe de uma filial em Portugal. A WMF é uma

organização privada sem fins lucrativos, fundada em 1965 por um grupo de

pessoas preocupadas com a destruição de importantes tesouros artísticos

mundiais. Esta organização já conta com mais de 600 projetos de conservação

e restauro, distribuídos por cerca de 90 países. Em Portugal, a WMF tem vindo

a apoiar várias intervenções de conservação e restauro desde a década de 1990,

data em que financiou e coordenou a intervenção de conservação e restauro do

exterior da Torre de Belém (1994-1999), intervenção premiada pelo Prémio

Europa Nostra 1999 (Neto, 2014: 2). Outras intervenções, como o Claustro do

Mosteiro dos Jerónimos, a Igreja Nossa Senhora da Encarnação, a Igreja de São

Nicolau, os Jardins do Palácio Nacional de Queluz, a Charola do Convento de

Cristo, ou ainda mais recentemente o retábulo da Sé do Funchal, também

contaram com o apoio mecenático da WMF. Contudo, esta organização não tem

por hábito financiar a totalidade das intervenções, contando sempre com a

comparticipação do Estado ou da instituição detentora (dona) da obra em

questão. A sua política mecenática obriga a um exaustivo levantamento prévio

do estado de conservação da obra, de forma a garantir rigor orçamental.

Posteriormente, procuram mecenas que financiem a intervenção, que será

33

suportada em 1/3 pela WMF, 1/3 pela WMF Portugal e o restante pela tutela da

obra. Apesar desta organização já ter apoiado inúmeras intervenções de

conservação e restauro no país, tem conhecido pouca divulgação do seu

trabalho por canalizar todas as verbas para intervenções, não investindo no

crescimento da associação em Portugal. Essa falta de divulgação causa fraca

adesão do público ou mesmo desconhecimento da causa18.

Outras ações são promovidas localmente por instituições que, por iniciativa

própria, organizam atividades de angariação de fundos, como é o caso do projeto

“Uma obra | Um mecenas” (ver figura 2), lançado em 2016 pelo Museu Nacional

de Arte Antiga19. Este é um programa de continuidade na instituição, uma vez

que as necessidades do museu relativas ao financiamento de intervenções de

conservação e restauro são inesgotáveis. Ao longo de 2 anos de existência esta

iniciativa financiou 17 intervenções de conservação e restauro de obras

escultóricas, no decurso da angariação de cerca de dezassete mil euros,

alcançados através do contributo de 14 mecenas.

Figura 2: Imagem do programa Uma Obra um Mecenas, realizada pelo Museu Nacional de Arte Antiga, em 2016 (MNAA, 2016)

18 Dados recolhidos em reunião com a Dr.ª Isabel Almeida, Vice-Presidente da WMF Portugal, a 3 de Maio de 2017. 19 Informação obtida por email com o Museu Nacional de Arte Antiga, sem autorização de publicação.

34

2.3 O PATROCÍNIO CULTURAL

O patrocínio cultural ainda é uma forma de financiamento pouco explorada em

Portugal, quer seja pela má conotação do próprio termo em si20, quer seja pela

errada interpretação do seu sentido, pois é muitas vezes confundido com o

mecenato21. Assim sendo, convém antes de mais compreender a diferença entre

estes dois modelos de financiamento. Do ponto de vista jurídico, o mecenato

cultural, enquanto ato filantrópico, beneficia no seu enquadramento legal de

benefícios fiscais, tal como foi referido anteriormente, o patrocínio cultural não

usufrui de nenhum benefício fiscal, uma vez que se insere numa ação de

marketing cultural, associado à comunicação de uma empresa ou marca.

Similarmente, também no modo de ação existem distinções entre eles. Um

mecenas pode estar ligado a uma instituição durante toda a sua vida, enquanto

o patrocinador cultural está associado a um evento/ação num curto espaço de

tempo. Relativamente aos objetivos, um mecenas procura notoriedade, reforçar

e melhorar a imagem ou estabelecer e manter relações institucionais mais ou

menos duradouras; o patrocinador procura atingir objetivos de marketing através

do aumento de tempo de exposição mediática da empresa ou marca à

comunidade. A finalidade dos termos também é distinta, ainda que similar. O

mecenato empresarial (o mais revelante a este estudo) tem como finalidade a

responsabilidade social, estando assim associado à imagem corporativa da

empresa, enquanto o patrocínio pretende criar valor a uma marca de forma a

esta aumentar o seu posicionamento no mercado. Na realidade, as duas formas

de financiamento permitem o melhoramento da imagem da empresa ou marca,

convergindo no aumento de resultados. Contudo, o patrocínio cultural abrange

outros objetivos para além do aumento de vendas, pois consegue alavancar

vários valores únicos através da criação de uma parceria com o patrocinado. É

por isso necessário que a seleção do patrocínio se encontre em conformidade

20 Na obra Marketing y Cultura Dos Campos Aprendiendo a Convivir, Ximena Varela revela que os gestores culturais encontram-se divididos em dois grandes grupos, os que aprovam e os que não aprovam o patrocínio cultural, gerando intransigências relativamente ao marketing cultural. A fação que não aprova este tipo de financiamento argumenta que este modelo não passa de uma tentativa de colocar preço nas expressões culturais e artísticas (Varela, 2003: 83-97). 21 Segundo Maria de Lourdes Limas dos Santos em 10 Anos de Mecenato Cultural em Portugal, no inquérito realizado às empresas em 1987, houve uma grande dificuldade por parte dos inquiridos em distinguir as palavras: mecenato, patrocínio, sponsorship (Santos, 1998: 151-153)

35

com a estratégia delineada pela marca, de forma a poder criar uma simbiose de

interesses.

O patrocínio cultural ganha ainda mais interesse uma vez que nos últimos anos

houve um crescimento significativo do estudo e da gestão de marca. Através

dele, as empresas pretendem projetar os seus produtos em programas de

comunicação, criando assim valores como a lealdade e notoriedade, que além

de fornecerem confiança ao consumidor, geram satisfação através da criação de

uma relação quase familiar. A criação de uma marca de sucesso, envolve a

criação de associações fortes, favoráveis e únicas com essa marca (Barreto,

2010: 17). Segundo o mesmo estudo, existem várias formas de criar essas

associações, como por exemplo a publicidade. Contudo, o aumento da atividade

de patrocínio é justificado pelas seguintes razões:

1. O público-alvo é captado de forma mais direta, logo com um custo mais

eficiente;

2. A mensagem da marca é fortalecida pelas associações emocionais ao

patrocinado;

3. Pela diferenciação da imagem do produto face aos seus concorrentes;

4. Pelo aumento da exposição da empresa na comunidade;

5. Pela criação de valores através de gestos de apoio.

Na realidade, o patrocínio cultural consegue abarcar as quatro características

fundamentais ao bom desempenho de uma marca: a identidade psicológica, o

caráter, o território e os valores culturais (Sarmento, 2006: 16). Sem identidade

psicológica, uma marca ficaria reduzia apenas às suas caraterísticas físicas, não

tinha personalidade ou valores culturais, valias essas facilmente colmatadas por

um parceiro de patrocínio adequado.

O caráter ou personalidade da marca são os traços emocionais que mais se

destacam, como a irreverência, serenidade, amigo do ambiente entre tantas

outras. Todas as ações de comunicação contribuem para a conceção da sua

personalidade, logo, uma empresa que tenha a “portugalidade” como traço

emocional de carater pode muito bem associar-se ao patrocínio de uma

36

intervenção de conservação e restauro, visto que esta daria ênfase às suas

ligações com o país através da preservação do seu património cultural.

O território de uma marca é o seu espaço de ação ou o seu espaço futuro de

ação através de planos de expansão. Uma empresa de comunicação e produção

cultural pode patrocinar uma intervenção de conservação e restauro, pois faz

parte da sua zona de ação. Igualmente, um grupo hoteleiro, que tenha ambições

de turismo cultural, pode posicionar-se territorialmente através do patrocínio.

Por último, ficam os valores culturais de uma marca, habitualmente mais

associados à institucionalidade que a produtos; são eles que fornecem a cultura

de empresa. Esta será certamente a caraterística mais explorada no mundo do

patrocínio cultural, pois existem inúmeras empresas associadas a eventos

culturais, especialmente aos de música.

Os agentes culturais dividem-se relativamente ao uso desta modalidade (Varela,

2003: 83-97). Se para alguns dos responsáveis culturais este género de

financiamento é muito bem aceite pois significa entrada de verbas no organismo

cultural, para os outros a comercialização da cultura é uma questão inaceitável.

O receio de um aproveitamento comercial face aos interesses culturais é um dos

pontos mais debatidos pelos dirigentes culturais, pois poderá comprometer

valores de expressão artística e de conservação patrimonial. Será que foi o que

se passou no Convento de Cristo em Tomar em 2017 durante as filmagens da

obra “O Homem que Matou D. Quixote” de Terry Gilliam? Uma cedência de

espaço que não respeitou e fez perigar o valor artístico e cultural de um edifício

classificado como património da Humanidade? Segundo o inquérito da DGPC os

danos no monumento, provenientes das filmagens da produtora Ukbar Filmes,

não são significativos (Marques, 2017), porém a associação de património ao

setor empresarial não ficou imune ao acontecimento. As organizações culturais

possuem funções/ obrigações sociais de atualizar, preservar e divulgar a sua

coleção/monumento pelo que não se deveriam colocar os interesses

empresariais face à natureza original do patrocinado.

Segundo Ximena Varela (Varela, 2003: 83-97), deveríamos falar em marketing

social ou de serviços em vez de marketing cultural, pois esta atividade assenta

na transmissão de ideias e valores, caraterística de grande parte da oferta

cultural, que tem por base assegurar a sustentabilidade da instituição.

37

O marketing empresarial apresenta funções semelhantes ao cultural, como a

planificação, a estratégia e as tecnologias de informação. Ambos podem e

devem coexistir, pois auxiliam-se mutuamente. «A cultura e o marketing estão

cada vez mais justapostos num novo campo de prática e estudo que é o

marketing cultural». (ibidem) Contudo, e apesar do apoio que a cultura tem tido

por parte das estratégias de marketing, existem poucas ações de patrocínio

cultural para intervenções de conservação e restauro de bens móveis e

integrados de forma abundante. Um bom exemplo de implementação de

patrocínio cultural em intervenções de conservação e restauro foi o painel de

azulejos “Ribeira Negra” do artista Júlio Resende, na cidade do Porto. Este

patrocínio foi um trabalho conjunto entre a Agência para a Modernização do

Porto (APOR 22 ) e Câmara Municipal do Porto, que ao funcionarem em

cooperação permitiram benefícios ao nível das taxas de licenciamento, de

ocupação da via pública, e da instalação de publicidade. Este enorme painel com

41 metros de comprimento e 4,8 metros de altura, é realizado em placas de grés

vidrado assentes sobre uma estrutura de betão com cerca de 200m2. Sofreu

duas intervenções financiadas por patrocínio, a primeira realizada entre o ano de

2003/04, patrocinada pelo BPI (ver figura 3), e a segunda em 2012, financiada

pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa23 (ver figura 4).

22 A APOR - Agência para a Modernização do Porto SA, é uma parceria público-privada detida na sua maioria pela Câmara Municipal do Porto, que gere um projeto de iniciativa municipal que se designa por Porto com Pinta, e que se assume como um programa para a valorização da paisagem urbana através da requalificação de fachadas de edifícios, arquitetura corrente ou monumentos, e de estatuária ou outros elementos de arte urbana. As suas atividades centram-se em: identificar edifício ou peças a intervir (sejam de propriedade pública ou privada); contratualização do mandato entre a APOR e o proprietário para a realização da intervenção; procura de apoio financeiro através de publicidade; desenvolvimento do projeto de intervenção; licenciamento de ocupação da via pública e de instalação de publicidade dos andaimes de obra; contratualização de empreiteiro; e fiscalização da obra. 23 Dados obtidos através de email com a APOR e a Câmara Municipal do Porto, sem autorização de publicação.

38

Figura 3: Intervenção de conservação e restauro do Painel de Azulejos “Ribeira Negra” do artista plástico Júlio Resende, realizada em 2003/4 com o patrocínio do Banco BPI. Imagem cedida pela CMP

Figura 4: Segunda intervenção de conservação e restauro no Painel de Azulejos “Ribeira Negra”, realizada em 2012 sob o patrocínio da SCML. Imagem cedida pela CMP

Outras duas ações de patrocínio que visavam a preservação do património

cultural, foram realizadas pela empresa Signinum®24 no ano de 2007. A primeira

atividade foi realizada através do movimento cívico “Mais Congregados” que

angariou patrocínios para a recuperação da fachada da Basílica dos

Congregados em Braga, através da venda de publicidade (ver figura 5). O

24 Signinum® é uma empresa de gestão de património cultural que tem vindo a desenvolver ações de angariação de fundos para possibilitar intervenções de conservação e restauro. Além de se encontrar envolvida nestas ações de patrocínio cultural, também participou na ação de crowdfunding para o projeto Arte por São Cristóvão.

39

envolvimento de entidades locais, permitiu a venda de telões montados nos

andaimes da fachada da igreja, patrocinando assim mais de 50% do valor

orçamentado. Paralelamente à comercialização de publicidade, foi desenvolvido

um projeto de marketing que visava a comunicação do projeto prevendo outras

atividades como visitas à obra, exposições de fotografia e colóquios.

Figura 5: Fachada da Igreja dos Congregados, em Braga, durante a intervenção de C&R, com a publicidade colocada nos andaimes. Créditos Signinum®

Uma outra ação de patrocínio bastante similar e também desenvolvida pela

mesma empresa, visava a intervenção de conservação e restauro da Igreja

Nossa Senhora do Terço, em Barcelos. Aqui, foi desenvolvido um movimento

cívico “Terço com Vida”, que auxiliados por diversas atividades culturais,

angariavam fundos que permitiam ao cliente financiar os trabalhos de

recuperação. Também neste movimento a venda de publicidade no exterior

40

(como é visível na figura 6) da obra permitiu a realização da recuperação deste

bem25.

Figura 6: Fachada da Igreja Nossa Senhora do Terço, em Barcelos, com a publicidade colocada nos andaimes. Créditos Signinum®

A publicidade nas fachadas dos bens culturais, é habitualmente muito apreciada

pelo sector empresarial, por possibilitar a realização de publicidade em locais

que por norma se encontram inacessíveis e que se apresentam em pontos

estratégicos das cidades. Outro bom exemplo deu-se no centro da cidade do

Porto. Em comemoração dos seus 110 anos, a Livraria Lello recuperou a fachada

do seu edifício (Cardoso, 2016). De forma a aproveitar o telão colocado nos

andaimes, a direção da livraria decidiu promover uma intervenção artística de

arte urbana, realizada pelos grafiters Mr. Dheo e Pariz One (figura 7). Esta

ativação contou ainda com uma parceria entre a livraria e as tintas CIN®, que

conjuntamente lançaram um desafio aos visitantes de enviarem uma palavra que

descrevesse a sua passagem pela livraria. Com essas palavras desenvolveram

25 A informação sobre as intervenções de C&R realizadas pela empresa Signinum®, foram fornecidos pela Ana Ferreira em conversas telefónicas e por email, sem autorização de publicação.

41

uma passadeira de palavras, que atravessou de um lado ao outro o passeio e a

Rua das Carmelitas (Pires, 2016).

Figura 7: Ativação de arte urbana na fachada da Livraria Lello. Créditos Frederico Henriques

42

2.3 O CROWDFUNDING CULTURAL

Praticado pelas instituições socias sob a forma de fundraising26, essencialmente

por instituições de caráter religioso, o crowdfunding desenvolve-se através de

um conjunto de ações que visam a angariação de recursos financeiros e bens,

de forma a permitir a sustentabilidade de projetos humanitários. A principal

motivação deste tipo de ações é a ajuda de instituições. É através do fundraising

que nasce o crowdfunding (Costa, 2016: 12). Segundo Catarina Pereira da Costa

não existe uma definição universalmente aceite para crowdfunding. Este

financiamento coletivo consiste em contribuições ou doações monetárias

realizadas por apoiantes online com o propósito de financiar iniciativas ou

entidades com ou sem fins lucrativos, como exemplifica a figura 8. (ibidem).

Figura 8: Imagem elucidativa de uma ação de crowdfunding para uma intervenção de conservação e restauro. Ana Guerin©

Este modelo de financiamento permite ainda uma outra ação para além da

angariação de fundos, pois possibilita a criação de uma campanha de

publicidade, chamando assim à atenção do projeto (Canadian Media Fund, 2012:

4). Desta forma, cria-se uma ligação forte entre o promotor e o público (futuros

investidores). Ao contrário do mecenato tradicional, o crowdfunding tem como

objetivo atingir o montante necessário à causa em questão, através da obtenção

de pequenos contributos realizados por um elevado número de pessoas. O

sucesso destas ações depende do número de participantes angariados e da

26 Entende-se por fundraising a captação de recursos financeiros efetuada por organizações sem fins lucrativos que promovam a sua sustentabilidade institucional.

43

quantia média doada. Todavia, existem outros fatores para o sucesso de uma

campanha de crowdfunding. Segundo Mollick, as redes sociais pessoais, quando

utilizadas pelo promotor, e um vídeo de descrição da ação são fatores

determinantes para o sucesso do projeto (Mollick, 2013: 1-16).

Contraditoriamente, e segundo a mesma fonte, encontram-se fatores como a

duração e o objetivo proposto. A forma que habitualmente encontramos de

promover estas campanhas de financiamento coletivo assume a forma de

recompensas, sejam elas materiais, financeiras, ou até mesmo de

reconhecimento pessoal (figura 9).

Figura 9: Imagem ilustrativa das contrapartidas dos investidores de ações de crowdfunding. Ana Guerin©

A criação de ligações com o investidor traz benefícios a longo prazo, mas para

tal, o promotor deverá atualizar sistematicamente a informação relativa ao

projeto em ação, de forma a estreitar os laços de confiança com os seus

apoiantes. Um estudo elaborado com a plataforma Kickstarter®27 refere que as

ações que realizam frequentemente atualizações apresentam maior taxa de

sucesso (Xu et al, 2014: 591). Também como forma de sucesso é referido o

conceito de “less is more” (Carr, 2012 apud Costa, 2016: 17), ou seja, o êxito da

campanha assenta na solicitação de pequenas quantias em detrimento das

maiores.

27 A Kickstarter® foi criada em 2008 e é atualmente considerada a maior plataforma de financiamento coletivo do mundo.

44

O crowdfunding pode apresentar-se sob diversas formas, sendo mais

frequentemente através de 3 (três) modelos distintos (Canadian Media Fund,

2012: 9): a doação; a modalidade de empréstimo e modelo de investimento.

O modelo de financiamento sob a forma de doação, ao contrário dos restantes,

não envolve recompensas monetárias, mas sim, recompensas materiais ou

intangíveis, como o reconhecimento. Para este estudo, apenas interessa abordar

o modelo de doação, pois é o único que se adequa à questão em causa.

As plataformas de crowdfunding são as intermediárias no processo de

angariação de fundos, pois são elas que fazem a ligação entre o promotor e os

investidores.

Existem três principais tipos de plataformas:

• Plataformas especializadas;

• Plataformas de atividades específicas;

• Plataformas de propósitos gerais.

As plataformas especializadas são aquelas que, tal como o nome indica, são

exclusivas a uma área específica, seja ela a da música, a da televisão ou mesmo

a do património, designadamente para intervenções de conservação e restauro.

Como exemplo na área da conservação e restauro temos a plataforma da

organização LoveItaly28 que se dedica à preservação e promoção do património

cultural italiano, financiando aquele tipo de intervenções.

As plataformas de atividades específicas, por sua vez, acolhem várias indústrias

e focalizam-se numa só causa, como é o caso da plataforma BoaBoa29 que é

específica para a cidade de Lisboa, mas abrange todo o tipo de ações. O tipo de

plataforma mais usual é, no entanto, o de propósitos gerais, onde não existem

restrições a temas, aceitando projetos e realizando ações de todo o tipo. Em

Portugal, a plataforma de propósitos gerais mais reconhecida é a PPL 30

integrando mais de 70 000 membros e quase 2 000 000€ angariados desde

2012. O fluxo de doações tem aumentado todos os anos, apresentado em 2016

28 Loveitaly é uma associação sem fins lucrativos que se dedica divulgação e preservação do património italiano. O seu site possui uma plataforma de crowdfunding. 29 A plataforma portuguesa BoaBoa foi criada para apoiar, através de crowdfunding, ações na cidade de Lisboa. 30 A PPL é a plataforma de crowdfunding mais conhecida e utilizada em Portugal. t

45

uma taxa de 45% de sucesso as suas ações (PPL, S/D). No entanto, a PPL

também alberga plataformas especializadas através de canais que criou dentro

do seu próprio site. Esta solução permite criar um canal próprio para uma causa

específica sem sair do universo geral da plataforma PPL®.

Uma outra questão inerente às plataformas de crowdfunding é a alocação de

fundos, que normalmente é realizada de duas formas distintas: o “tudo ou nada”

ou o “fica-se com o que se ganha”. A primeira forma, tal como o nome indica, só

permite que o promotor do projeto receba a sua parte caso seja cumprido ou

ultrapassado o objetivo dentro do prazo inicialmente estipulado, contrariamente

à segunda forma, que permite a angariação das verbas doadas

independentemente de se ter ou não cumprido o objetivo.

Sendo a plataforma o meio para se conseguir a doação, é cobrada uma taxa pelo

serviço, geralmente 5%31 do montante angariado (caso a ação seja concluída

com sucesso). Existem ainda outras plataformas (normalmente as mais

específicas) que funcionam com uma taxa de inscrição obrigatória que opera

como um depósito32.

O financiamento coletivo em Portugal ainda se encontra a dar os primeiros

passos quando comparado ao resto da Europa. Porém, tem-se verificado um

aumento do número de pessoas, grupos e organizações a recorrerem ao

crowdfunding. Em agosto de 201533 preencheu-se uma lacuna na legislação

portuguesa, referente ao financiamento coletivo e ao enquadramento legal do

crowdfunding, com a promulgação da Lei N.º 102/2015, de 24 de agosto. Com

esta lei passa a existir uma definição legal do conceito de financiamento

colaborativo, das suas modalidades e limites, tornando desse modo esta

atividade mais segura aos investidores. Contudo, esta lei ainda carece de

desenvolvimento regulamentar.

«O financiamento colaborativo é o tipo de financiamento de entidades, ou das

suas atividades e projetos, através do seu registo em plataformas eletrónicas

acessíveis através da Internet, a partir das quais procedem à angariação de

31 Com base no modo de funcionamento da Plataforma PPL, a comissão dos 5% é dividida pela empresa detentora da plataforma, que fica com 3%, sendo que os restantes 2% dizem respeito à comissão do banco que realiza a transação. 32 Como a plataforma IndieGoGo. 33 Lei N.º 102/2015, de 24 de agosto. (Anexo 14)

46

parcelas de investimento proveniente de um ou vários investidores

individuais.34»

A lei portuguesa prevê quatro modalidades de financiamento: o de donativo; o

de recompensa; o de capital; e o de empréstimo, e define ainda os deveres e

obrigações das plataformas portuguesas de forma a assegurar a transparência

das campanhas.

No que se refere ao financiamento colaborativo, através de doação (o que mais

interessa neste estudo), a Lei n.º 102/2015, de 24 de agosto, prevê no seu artigo

13.º que o donativo está sujeito a «(…) um limite máximo de angariação que não

pode exercer 10 (dez) vezes o valor global da atividade a financiar.» Devem

ainda os promotores de financiamento colaborativo, através de doação, informar

a plataforma selecionada do montante, prazo da ação, preço e valores de cada

unidade, juntamente a uma descrição detalhada do serviço/produto a financiar.

Após a aprovação do regime jurídico do financiamento colaborativo, foram

lançadas diversas ações de crowdfunding cultural. O caso mais conhecido foi o

da campanha lançada pelo MNAA “Vamos pôr o Sequeira no lugar certo”, que

foi fortemente comentada na comunicação social. Apesar de esta ação visar a

aquisição de uma obra, e não de uma intervenção de conservação e/ou restauro,

ficou evidente a adesão da população portuguesa a este tipo de campanhas

(Direção Editorial, 2016).

O recurso ao crowdfunding para intervenções de conservação e restauro não é

inédito em Portugal. O Museu do Caramulo lançou recentemente a campanha

“Salvem o Messi” a fim de angariar €5.000 para a intervenção de conservação e

restauro de um automóvel Messserschmitt KR200 pertencente ao seu acervo

(Caramulo, 2015).

Esta iniciativa foi lançada online através da plataforma PPL® e offline com

donativos executados no museu. As contrapartidas aos financiadores passavam

pelo mero reconhecimento, pela oferta de edições do Museu do Caramulo e à

possibilidade de subir a rampa do Caramulo no Messerschmitt KR200 (após a

intervenção) no lugar de copiloto num dia de prova oficial. Esta campanha, com

34 Lei n.º 102/2015 de 24 de agosto de 2015. (Anexo 14)

47

duração de 2 meses, foi lançada a 21 de outubro de 2015 e atingiu 112% de

execução, num total de €5.601 angariados através de 130 apoiantes.

Também a plataforma “Arte por São Cristóvão”, que tinha como parceiros,

entidades como a Câmara Municipal de Lisboa e a Junta de Freguesia de Santa

Maria Maior, entre outras, solicitou através de crowdfunding €5.000 para a

intervenção de conservação e restauro da desaparecida tela de Bento Coelho

da Silveira (1617-1708) que se encontrava por trás do altar-mor da Igreja de São

Cristóvão (Arte por São Cristóvão, 2015). Esta ação ultrapassou em 10% o

objetivo, através da ajuda de 141 apoiantes, que podiam beneficiar desde o

reconhecimento pela doação, a um jantar com o movimento “Arte por São

Cristóvão” (figura 10). Segundo o Padre Edgar Clara, mentor do movimento, a

campanha de crowdfunding lançada na PPL® foi apenas uma das várias ações

que o movimento “Arte por São Cristóvão” realizou. Paralelamente ao

crowdfunding têm sido executadas outras ações que visam angariação de

fundos, como a venda de “Biscoito de São Cristóvão”, a venda de telhas35,

concertos, noites de fado, exposições de arte contemporânea, seminários de

Conservação e Valorização do Património Religioso e intervenções de

conservação e restauro ao vivo. Apesar não ter sido a ação que mais dinheiro

angariou36, foi sem dúvida a que mais publicitou e deu visibilidade à causa, pois

mereceu a atenção dos meios de comunicação social, desde jornais à televisão.

Um outro aspeto importante a reter deste caso foi a análise dos apoiantes, tal

como refere Mollick, cerca de 85% dos apoiantes desta causa faziam parte da

rede social pessoal do promotor.

Em 2015, o movimento “Arte por São Cristóvão” angariou os €144.000

necessários para as obras do telhado e das paredes da igreja. Porém, este valor

ainda se encontra muito aquém do necessário, mas através da visibilidade obtida

35 A compra da telha, além de ajudar na causa em questão, permite ao comprador assinar ou deixar mensagem pessoal que ficará desse modo eternizada no telhado da igreja, pois são essas telhas que serão colocadas no futuro telhado. 36 Segundo o Padre Edgar Clara, a venda dos biscoitos angariou mais de €10.000 e a venda das telhas ultrapassou os €50.000.

48

até então, em outubro do mesmo ano, a World Monuments Fund (WMF) incluiu

a igreja de São Cristóvão no seu programa Watch37 201638.

Figura 10: Imagem do website da “Arte por São Cristóvão” (Cristóvão, 2015)

Estes dois exemplos de ações de crowdfunding foram executados através da

plataforma PPL® 39 , onde podemos ainda encontrar outras campanhas de

crowdfunding cultural, como o “Paleomuseu” (primeiro museu virtual português

de fósseis), “A Caminho do Museu: vamos transportar o Drewry” (para

transportar o último exemplar dos locotratores Drewry, de Guifões para o Museu

Nacional Ferroviário), “100 Notáveis Calipolenses” (edição de 250 exemplares

de um livro com as personalidades nascidas em Vila Viçosa), ou ainda “Os alter

egos de Bordalo” (Tour com almoço, degustação de vinho, Teatro, Fado e

Passeio pela cidade, numa descoberta dos egos do artista). Todas estas

campanhas alcançaram os objetivos propostos e serviram como base para uma

pequena comparação de crowdfunding cultural português, como se vê na tabela

3 e nos gráficos 1 e 2.

Através desta pequena análise verificamos que todas as campanhas

ultrapassam, mesmo que ligeiramente, o objetivo proposto. Outro dado

37 O programa Watch do WMF consiste numa lista de 50 monumentos de todo o mundo que se encontram em risco. 38 Os dados apresentados sobre a ação “Arte por São Cristóvão” foram disponibilizados pelo Padre Edgar Clara em conversa telefónica. 39 Dados recolhidos da página da PPL®.

49

interessante verifica-se com o número de apoiantes, pois apenas duas das ações

não alcançam os 60 apoiantes40 (gráfico 2).

A CAMINHO DO MUSEU: VAMOS TRANSPORTAR

O DREWRY

VAMOS SALVAR O MESSI

ARTE POR SÃO

CRISTÓVÃO

100 NOTÁVEIS CALIPOLENSES DO SÉCULO XIV AOS NOSSOS

DIAS

OS ALTER EGOS DE BORDALO

PALEOMUSEU

PROMOTOR

Fundação Museu Nacional

Ferroviário

Museu do Caramulo

Edgar Correia Clara

Tiago Salgueiro Mariana Calaça Baptista

Pedro Fialho

OBJETIVO PROPOSTO 5 000,00 € 5 000,00 € 5 000,00 € 1 500,00 € 550,00 € 1 700,00 €

OBJETIVO ALCANÇADO

5 050,00 € 5 601,00 € 5 512,00 € 1 655,00 € 609,00 € 1 780,00 €

OBJETIVO ALCANÇADO

% 101% 112% 110% 110% 111% 105%

NUMERO DE APOIANTES

65 127 141 76 8 15 Tabela 3: Comparação das campanhas de crowdfunding cultural, realizadas na plataforma PPL. Ana Guerin©

Gráfico 1: Gráfico comparativo de objetivos nas campanhas de crowdfunding cultural, realizadas na plataforma PPL. Ana Guerin©

40 Segundo reunião com Dr. Pedro Pires, da Plataforma PPL, são considerados casos de sucesso de crowdfunding em Portugal ações que ultrapassem os 69 apoiantes e que consigam angariar entre 5.000,00€ e 6.000,00€.

A CAMINHO DO MUSEU: VAMOS TRANSPORTAR ODREWRY

VAMOS SALVAR O MESSI

ARTE POR SÃO CRISTÓVÃO

100 NOTÁVEIS CALIPOLENSES - DO SÉCULO XIVAOS NOSSOS DIAS

OS ALTER EGOS DE BORDALO

PALEOMUSEU

OBJETIVO ALCANÇADO OBJETIVO PROPOSTO

50

Também a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL, 2017)

lançou em 2016, no âmbito das comemorações dos 180 anos da instituição, a

primeira edição do projeto de crowdfunding “Apoie o Restauro”. Esta ação contou

com 7 obras pertencentes à coleção da FBAUL, selecionadas pelos

responsáveis dos respetivos acervos, segundo importância e degradação da

obra. Através de 15 doações conseguiu-se financiar, com cerca de €3.300, a

intervenção de conservação e restauro de 3 das 7 obras propostas. No ano

seguinte houve continuidade do projeto com a 2ª edição (a decorrer), onde foram

selecionadas mais três obras pertencentes à coleção da Faculdade de Belas

Artes da Universidade de Lisboa. O desenvolvimento deste projeto levou à

criação de uma plataforma própria dentro do website da FBAUL. A contrapartida

escolhida foi o reconhecimento.

Figura 11: Website da FBAUL com o a 2ª edição de projeto de crowdfunding

51

Uma vez que o financiamento colaborativo ainda se encontra ainda a dar os

primeiros passos em Portugal, foi essencial compreender como se situa o

crowdfunding de apoio à conservação de arte em outros países mais

familiarizados com este modelo, de forma a compreender a evolução da

aceitação deste modelo de financiamento.

Gráfico 2: Números de apoiantes nas campanhas de crowdfunding cultural, realizadas na plataforma PPL. Ana Guerin©

Assim, verificou-se que em 1988 surgiu uma campanha de angariação de fundos

online, lançada pelo Museu do Louvre, com o intuito de angariar os fundos

necessários à aquisição de uma pintura que representava St. Thomas de George

de la Tour. Porém, esta campanha não teve o sucesso esperado, muito

possivelmente porque à época a internet encontrava-se ainda muito pouco

desenvolvida (Chiapparelli, 2012: 58).

No século XXI, França revelou-se como uma referência no que se refere ao

crowdfunding. Em 2013, quando o governo se viu obrigado a cortar as verbas

para a cultura devido à crise económica e financeira da Europa, o Ministério da

Cultura e Comunicação lançou uma campanha com vários atos de crowdfunding

com o intuito de conservar e de restaurar o seu património (ver tabela 4). Para

intervenção selecionaram as seguintes obras: o Panthéon em Paris, a escultura

Dame Carcas, a ponte de Mont Saint Michel e, finalmente, a escultura de

0

20

40

60

80

100

120

140

160

A CAMINHO DOMUSEU: VAMOSTRANSPORTAR

O DREWRY

VAMOS SALVARO MESSI

ARTE POR SÃOCRISTÓVÃO

100 NOTÁVEISCALIPOLENSES

- DO SÉCULOXIV AOS

NOSSOS DIAS

OS ALTER EGOSDE BORDALO

PALEOMUSEU

NÚMERO DE APOIANTES

52

Hipomenes e Atalanta Hipomenes e Atalanta de Saint Cloud (ibidem). Estas

ações foram lançadas através da plataforma francesa de propósitos gerais a My

Major Company41 . Foi utilizado o modelo de recompensa, com o intuito de

angariar as verbas necessárias às intervenções, como se pode ver o exemplo

do caso do Panthéon na tabela 5.

PROJETO VALOR SOLICITADO VALOR CONSEGUIDO

Panthéon 5 000,00€ 55 698,00€ (1114%)

Dame Carcas 5 000,00€ 17 608,00€ (352%)

Mont Saint Michel 20 000,00€ 13 167,00€ (66%)

Hipomenes e Atalanta 10 000,00€ 3 183,00€ (32%)

Tabela 4: Tabela demonstrativa da campanha de crowdfunding realizada pelo Governo f rancês para intervenções de C&R. Créditos de edição Ana Guerin©

O Governo francês, com esta iniciativa, apenas seguiu o exemplo do Louvre, que

começara com esta prática 25 anos antes. A atividade “Tous Mécènes”42, dos

amigos do Louvre, tem vindo a angariar verbas não só para a aquisição de novas

obras43 (Louvre, 2010), como também para intervenções de conservação e

restauro. Em 2013 o museu angariou 1 milhão de euros, para juntar aos 3

milhões garantidos por patrocinadores, para a intervenção de conservação e

restauro da emblemática escultura Vitória de Samotrácia (Carvalho, 2014b).

41 A My Major Company é a plataforma francesa mais reconhecida. Mais informações em: https://www.mymajorcompany.com/ 42TousMécènes é uma plataforma de crowdfunding desenvolvida pelos amigos do Museu do Louvre, que visa a angariação de fundos para a recuperação de diversas obras pertencentes ao museu. Atualmente a campanha em vigor visa a intervenção de conservação e restauro da Mastaba de Akhethétep, pertencente à coleção do Antigo Egipto. 43 Em 2010, a Tous Mécènes angariou 1 milhão de euros para a aquisição da obra Les Trois Grâces de Lucas Cranach, também para o Louvre.

53

Tabela 5: Tabela demonstrativa das recompensas da campanha de crowdfunding para a intervenção de C&R do Panthéon, realizada pelo Governo francês. (Chiapparelli, 2012: 84)

Um país mediterrânico com alguma história no financiamento colaborativo é a

Itália, mais precisamente a cidade de Veneza, onde em 1996 nasce a Venice

International Foundation (VIF) 44 (Chiapparelli, 2012: 63-65). Esta fundação

recorre ao “micromecenato” que mais não é do que um financiamento coletivo.

Através do apoio da população, de empresas e de algumas instituições, a VIF

tem conseguido financiar várias e importantes intervenções de conservação e

restauro, como é o caso do painel de mosaicos da cúpula da Criação, da Basílica

de São Marcos em Veneza (figura 11). Outras fundações italianas, como a

Fondazione CittàItalia, têm seguido o exemplo da VIF. A CittàItalia financiou,

através de crowdfunding, a intervenção de conservação e restauro da pintura Nu

44 Venice International Foundation é uma associação que visa a salvaguarda da cidade de Veneza.

CONTRIBUTOS

PANTHÉON

RECOMPENSA PANTHÉON

1€ Agradecimento personalizado nas redes socias Facebook®

e Twitter®

5€ Recompensa anterior mais a publicação do seu nome num

quadro na entrada do monumento durante a intervenção de

C&R

30€

(dedução de 10€ em

impostos)

Recompensas anteriores mais um certificado oficial de

"Mecenas de Monumentos Nacionais”

75€

(dedução de 25€ em

impostos)

Recompensas anteriores e duas visitas ao Panthéon

150€

(dedução de 50€ em

impostos)

Recompensas anteriores e publicação da sua fotografia num

quadro na entrada do monumento durante a intervenção de

C&R

300€

(dedução de 100€ em

impostos)

Recompensas anteriores e convite para duas pessoas para

a noite

inauguração do Panthéon após intervenção de C&R

54

Feminino de Costas de Pierre Subleyras, pertencente à Galeria Nacional de Arte

Antiga de Roma.

Em 2014, foi criada a LoveItaly que consiste numa associação sem fins lucrativos

dedicada à preservação, promoção e valorização do património cultural italiano,

como referido anteriormente. Esta associação, além de plataforma de

crowdfunding, tem vindo a intervir junto do Governo italiano com o propósito de

alertar para a necessidade da existência de benefícios fiscais para quem utiliza

estes meios de financiamento coletivo na preservação patrimonial.

Um ano mais tarde, foi lançada pelos Patron of the Arts a aplicação Patrum45,

que permite à comunidade seguidora dos museus do Vaticano acompanhar

diariamente a vida das suas obras. Entre outras funções, esta

aplicação/plataforma também possibilita que os utilizadores participem e

acompanhem as ações de crowdfunding para intervenções de conservação

restauro (Patrons of the Arts in the Vatican Museums, 2015).

Figura 12: Intervenção de Conservação e Restauro do painel de moisaicos “A Criação” n a Basílica de São Marcos em Veneza. (VIF, S/D)

Outro caso italiano de referência na área foi desenvolvido pelo físico Antonino

Cosentino, através da organização por ele criada, a Cultural Heritage Science

Open Source46 (CHSOS). Esta organização visa analisar e estudar obras de arte

45 Patrum foi o nome dado a uma aplicação desenvolvida pelo grupo Patron of the Arts, que visava a criação de uma comunidade online dos seguidores dos museus do Vaticano. Entretanto a aplicação foi desativada devido a problemas técnicos e, até então, não voltou a estar disponível. 46 Cultural Heritage Science Open Source é uma organização que tem como objetivo partilhar e aprender sobre os exames científicos em arte.

55

através de exames científicos, oferecendo ações de formação destinadas a

auxiliar físicos culturais e conservadores-restauradores de todo o mundo. Como

a Cultural Heritage Science Open Source não aufere de qualquer ajuda

financeira externa, recorre ao crowdfunding para a aquisição de material de

exame, como um multiespectral. Mais recentemente, Antonino Cosentino voltou

a apelar ao crowdfunding para uma ação intitulada “Salvar a alma de Savoca”

(figura 13). Esta campanha visava o financiamento da intervenção de

conservação e restauro de um ciclo de pinturas do século XVIII, pertencentes à

Igreja de San Michele (Pascale et al, 2016: 12-15). Foi a primeira campanha de

crowdfunding para a preservação do património realizada na Sicília, e que, muito

inteligentemente, utilizou o facto de ser um forte destino turístico internacional

para direcionar a campanha para o turismo. Contudo o website apenas se

encontra escrito em italiano. Esta ação visa angariar €60.000 para a intervenção

de 14 pinturas. Até dezembro de 2016 foram angariados cerca de €10.127

continuando a decorrer a sensibilização.

Figura 13: Website “Save the soul of Savoca“, onde decorre a ação de crowdfunding para a angariação de verbas para a intervenção de C&R das 14 (catorze) pinturas pertencentes à Igreja de

San Michele (Save the Soul of Savoca, S/D)

Nos Estados Unidos da América, o financiamento coletivo só começou a ser

utilizado com frequência pelos museus em 2008 (Bump, 2014: 14-21). Um dos

pioneiros foi o Neversink Valley Area Museum que conseguiu angariar $11.000

(€10.490) em menos de 90 dias através da plataforma Kickstarter® (Ibidem).

56

Em 2011, a American Alliance of Museums veio alertar para a importância de

seguir a tendência do crowdfunding47. Contudo, a primeira iniciativa americana

de crowdfunding para a preservação cultural realizou-se em 2013 através do

Conservation Center for Art and Historic Artifacts 48 , em Filadelfia. Esta

campanha, intitulada “Pennsylvania’s Top 10 Endangered Artifacts” visava a

conservação de dez objetos históricos da região da Pensilvânia. Em novembro

de 2013 a angariação terminou com $16.000 (€15.260,00), apenas 3% do valor

inicial proposto (Bump, 2014, 32-42). Foi também durante o ano de 2013 que a

Smithsonian Institution lançou a sua primeira atividade de crowdfunding, com a

ação “Together We’re One: Crowdfunding our Yoga Exhibit”, uma exposição

sobre a história do yoga e sua arte. Com toda a comunidade praticante de yoga

a apoiar e a promover, a campanha foi um sucesso, superando os $125.000

(€118.760,00) inicialmente solicitados (Ibidem). Porém, só em 2015 é que a

Smithsonian Institution, através do Museu Nacional do Ar e do Espaço, lançou a

sua primeira ação de financiamento colaborativo com o intuito de angariar verbas

para uma intervenção de conservação e restauro (Mitchell et al., 2015). Esta

campanha, intitulada RebootTheSuit, foi lançada com intuito de custear a

intervenção de conservação e restauro do fato do astronauta Neil Armstrong e

de assegurar a sua conservação através da aquisição de uma vitrina climatizada.

Para tal, solicitaram $500.000 (€475.041,00) através da plataforma Kickstarter®,

que poucas horas após o lançamento já contava com $77.200 (€73.346,00)

doados. Apesar de já ter atingido o objetivo, o Museu Nacional do Ar e do Espaço

resolveu prolongar a ação de modo inserir o fato Mercury Shepard na

intervenção, aumentando assim o valor total para $700.000 (€665.058,00).

Simultaneamente, e na mesma plataforma, a Smithsonian Institution promoveu

uma outra ação de financiamento coletivo para conservação e restauro dos

famosos sapatos da personagem Dorothy do filme Feiticeiro de Oz (figura 13).

Esta ação, intitulada “Conserve Dorothy's Ruby Slippers”, solicitava $300.000

47 Através do seu blog, podemos ver que a AAM se encontra atenta à questão do financiamento coletivo e à sua utilização como forma de financiar ações museológicas. Mais informações em: http://futureofmuseums.blogspot.pt/2011/06/future-of-development-crowdsourced.html 48 O Conservation Center for Art and Historic Artifacts continua atualmente com uma outra ação intitulada Save Pennsylvania's Past que visa a conservação e restauro de objetos históricos de toda a Pensilvânia. Para mais informações consultar: http://www.ccaha.org/save-pennsylvania-s-past

57

(€285.025,00) em 30 dias, numa campanha “tudo ou nada” (Press, 2016). Em

apenas três dias foram alcançados $200.000 (€190.017,00) e a solicitação final

alcançou tanto sucesso que prolongaram a angariação para restaurar o chapéu

do espantalho do mesmo filme (Domonoske, 2016).

Figura 14: Sapatos da personagem Dorothy do filme Feiticeiro de Oz, pertencentes ao acervo do Smithsonian Institution. Esta peça encontra-se atualmente em ação de crowdfunding na

plataforma Kickstarter® para angariar financiamento para a intervenção de C&R.

3. O ATUAL PAPEL DA CONSERVAÇÃO E RESTAURO NOS

MUSEUS PORTUGUESES

Analisados e contextualizados os três modelos de financiamento aqui

abordados, passamos ao levantamento das necessidades das coleções

portuguesas, relativamente a intervenções de conservação e restauro.

À cerca do estado de conservação dos bens móveis e integrados apenas

encontramos alguns estudos específicos, na sua maioria são levantamentos

relacionados com intervenções de conservação e restauro ou cadernos de

encargos solicitados por as entidades detentoras dos bens culturais. São poucas

as investigações gerais de inventários artísticos que têm a real consideração na

avaliação do estado de conservação das coleções. Essa realidade deve-se, na

maioria das vezes à inexistência de recursos humanos especializados na área.

Um exemplo desta evidência é o Inventário Artístico da Arquidiocese de Évora,

58

que segundo o que se encontra disponível online, não apresenta dados relativos

ao estado de conservação do acervo em questão49.

Segundo a Lei N. º107/2001, de 8 de setembro, que estabelece as bases da

política e do regime de proteção e valorização do património cultural, cabe aos

detentores do património os deveres de «Conservar, cuidar e proteger

devidamente o bem, de forma a assegurar a sua integridade e a evitar a sua

perda, destruição ou deterioração (…)», bem como «Adequar o destino, o

aproveitamento e a utilização do bem à garantia da respectiva conservação

(…)». Fica a cargo do detentor do bem cultural o dever de «Executar os trabalhos

ou as obras que o serviço competente, após o devido procedimento, considerar

necessários para assegurar a salvaguarda do bem (…)»50. Assim conclui-se que

para assegurar a salvaguarda terá de existir preservação e conservação do

património, responsabilidade que a lei atribui, em primeiro lugar, aos

proprietários e/ou detentores do património cultural. Também os sucessivos

Governos têm revelado imprudência no que concerne à preservação dos bens

móveis e integrados, pois embora a atual lei base reconheça o registo de

inventário como a primeira forma de salvaguarda do património cultural, este

ainda não se encontra integralmente realizado (Pinho, 2013: 226). Mas como é

possível existir preservação do património, e definir prioridades, quando não

existe um levantamento do estado de conservação do mesmo?! Como e quem

define os critérios de atuação? Efetivamente, não existe uma politica estruturada

e coesa na área da C&R.

Pelo facto de o património ser tutelado por diversos tipos de organismos

(incluindo entidades privadas, singulares e coletivas), dispersa as tomadas de

decisão e atuação, apesar de, no artigo 4 da mesma Lei, prever acordos entre

organismos estatais e particulares detentores de bens culturais «(…) para fins

de identificação, reconhecimento, conservação, segurança, restauro,

valorização e divulgação (…)». O Estado tem responsabilidade na preservação

do património, mas essa responsabilidade maior resume-se ao universo dos

bens com especial proteção legal, nomeadamente os classificados. Porém, tem-

49 Para mais informações: http://www.inventarioaevora.com.pt/inicio.asp 50 N.º 1 do artigo 21º da Lei n. º107/2001 de 8 de setembro, respetivamente as alíneas b) e c). N. º2 do artigo 21º da Lei n. º107/2001 de 8 de setembro, alínea b). (Anexo 9)

59

se vindo a assistir exatamente ao contrário, dado que o orçamento para a cultura,

em 2016, apenas representava 0,1% do Orçamento Geral do Estado51, distante

do 1% que seria o mínimo exigido (Matoso, 2016). Coloca-se a questão sobre

quem tem financiado as intervenções de conservação e o restauro do património

móvel e integrado. Pretende-se responder a esta questão ao longo deste

capítulo.

Em 1998, o Instituto Português de Museus (IPM), que tinha o objetivo de obter o

conhecimento rigoroso da realidade museológica nacional, decidiu criar um

inquérito aos museus. Desse modo, nasce um ano mais tarde, e em parceria

com o Observatório da Atividades Culturais (OAC), o Inquérito aos Museus em

Portugal, que analisou 530 museus portugueses. Como não existia uma base de

dados, este inquérito reuniu informações das instituições museológicas

conseguidas através de ficheiros do Instituto Nacional de Estatística (INE), do

projeto GeiRA52 e dos roteiros Caminuis53. Contudo, muitas das informações

recolhidas estavam desatualizadas, obrigando à realização de contactos diretos

com diversas tutelas de forma a conseguir uma base de trabalho mais precisa

(Silva et al, 2014: 19). Paralelamente à criação da base de dados das instituições

museológicas foi desenvolvido um inquérito estruturado em 6 grupos distintos:

1. Identificação e dados técnicos da estrutura/organização

2. Recursos

3. Análise da atividade da estrutura / organização

4. Relações com o exterior / comunicação

5. Enquadramento

6. Perspetivas globais e principais dificuldades

Neste inquérito foi dedicado todo um capítulo à conservação e restauro dos

museus portugueses54, que pretendia apurar as condições ambientais do acervo,

51 O Orçamento de Estado para a Cultura tem vindo aumentar, ainda que ligeiramente. No OE 2017 sofreu um aumento de 5,2% e para 2018 está previsto um aumento de 7,4%. 52 O GeiRA é um projeto de desenvolvimento de serviços de informação e multimédia relativos ao património português. 53 A Caminus - Atividades Culturais é uma associação que se dedica ao estudo e investigação da cultura e tradição portuguesa. 54 O capítulo dedicado à conservação e restauro no Inquérito aos Museus em Portugal encontra-se em anexo 15.

60

tipologia de conservação, existência de intervenções de conservação e restauro

e a entidade que as realizou (ibidem).

Relativamente ao tipo de conservação efetuada nos museus, 35,7% dos

inquiridos afirma realizar ambos os tipos apresentados, a preventiva e a ativa

(ver tabela 6).

TIPO DE CONSERVAÇÃO N %

É preventiva 142 26,8

É ativa 50 9,4

Ambas 189 35,7

Não existe 96 18,1

Não respostas 53 10

TOTAL 530 100

Tabela 6: Tipo de conservação realizado pelos museus. Respostas obtidas no âmbito do Inquérito aos Museus realizado pelo OAC em 1999. (Silva, 2014: 208)

Quanto às condições ambientais das coleções 55,7% respondeu que são

razoáveis. No entanto, cerca de 20% dos museus afirma que têm condições

relativamente más (ver tabela 7).

CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE CONSERVAÇÃO N %

Boas 82 15,5

Razoáveis 303 57,2

Relativamente más 71 13,4

Más 32 6,0

Não respostas 42 7,9

TOTAL 530 100

Tabela 7: Condições ambientais de conservação nos museus portugueses. Respostas obtidas no âmbito do Inquérito aos Museus realizado pelo OAC em 1999. (Silva, 2014: 208)

Relativamente às ações de conservação e restauro efetivas, a maioria dos

museus afirma que realizam intervenções apesar de serem insuficientes face à

situação do acervo, com 30,8% das respostas, como se verifica na tabela 8.

61

AÇÕES DE RESTAURO DAS PEÇAS N %

Sim 161 30,4

Sim, mas insuficientes 163 30,8

Não 122 23,0

Não, mas também não tem sido necessário 53 10,0

Não respostas 31 5,8

TOTAL 530 100

Tabela 8: Número de ações de restauro nas peças dos museus portugueses. Respostas obtidas no âmbito do Inquérito aos Museus realizado pelo OAC em 1999. (Silva, 2014: 208)

Com base nas respostas “sim” e “sim, mas insuficientes” da tabela 8, foram

solicitadas informações relativas à execução das intervenções de conservação

e restauro, nomeadamente quanto ao local de realização das mesmas. Neste

ponto foram obtidas 324 respostas como se verifica na tabela 9.

AÇÕES DE RESTAURO N %

Na Instituição 106 32,7

Fora da Instituição 93 28,7

Ambas 125 38,6

TOTAL com base nas respostas “sim” e “sim,

mas insuficientes”

324 100

Tabela 9: Local das intervenções de conservação e restauro levadas a cabo pelos museus portugueses. Respostas obtidas no âmbito do Inquérito aos Museus realizado pelo OAC em 1999.

(Silva, 2014: 209)

De acordo com as respostas obtidas na tabela anterior, solicitaram a

especificação da instituição que realizou as intervenções de conservação e

restauro. Através de 218 respostas (tabela 10) verificou-se que 18,8% das ações

realizadas têm a participação do Instituto José de Figueiredo (IJF)55.

55 Organismo do Estado que trabalha para entidades do Estado, como os museus, de modo

gratuito.

62

AÇÕES DE RESTAURO REALIZARAM-SE EM N %

Ateliers de restauro/Oficinas/Empresas particulares 30 13,8

Centros de Formação e Restauro/Escolas Profissionais 7 3,2

Câmaras Municipais 3 1,4

Restauradores particulares/privados 35 16,1

Museus e respetivos gabinetes de restauro 18 8,3

Faculdades/Institutos Politécnicos 5 2,3

Ateliers + Outros restauradores 8 3,7

Instituto José de Figueiredo 26 11,9

Instituto José de Figueiredo + Outros restauradores 15 6,9

Outros 35 16,1

Não respostas 36 16,5

TOTAL com base nas respostas “Fora da instituição” e

“Ambas”

218 100

Tabela 10: Executantes das intervenções de conservação e restauro realizadas pelos m useus portugueses. Respostas obtidas no âmbito do Inquérito aos Museus realizado pel o OAC em 1999.

(Silva, 2014: 209)

Este inquérito de 1999, serviu como a base à criação do IMUS56, que visa

articular a investigação, as estatísticas oficiais e as políticas públicas (Neves et

al, 2013: 16) através de um inquérito anual realizado pelo INE. Esta indagação

aos museus tem como principal objetivo obter dados relativos à atividade do

museu; à sua forma jurídica; aos núcleos museológicos; aos recursos humanos;

ao acervo, às coleções e inventário; às atividades; aos visitantes (total anual,

grupos escolares, estrangeiros, entrada gratuita e entrada em exposições

temporárias); aos recursos financeiros (receitas e despesas); ao funcionamento

e instalações (de recolha trienal); aos espaços destinados ao público (de recolha

trienal); publicações (recolha trienal); aos recursos informáticos e

comunicação57. Porém, os dados atuais do IMUS, têm vindo a sofrer ajustes ao

longo dos anos58, apenas mantêm a sua função primordial de obter um parecer

sobre os museus e o património móvel, excluindo assim o capítulo da

56 IMUS foi o nome dado ao inquérito anual realizado aos museus, que nasce de um protocolo entre o IPM, o OAC e o INE. 57 Instituto Nacional de Estatística; Inquérito aos Museus. 58 O IMUS sofreu duas modificações, em 2004 e posteriormente 2007. Estas alterações tiveram como base alterações legislativas (entrada em vigor da Lei Quadros de Museus) e modificações ao nível da metodologia de trabalho.

63

conservação e restauro inicialmente previsto. Um outro pilar que auxiliou a

evolução do IMUS, foi o sistema de informação museológica BdMuseus, que

consistia numa base de dados desenvolvida e gerida pela OAC, até à sua

extinção em 2013. Esta base de dados foi um interessante instrumento de

trabalho, pois permitia a realização de pesquisas nas mais diversas áreas

museológicas, dando visibilidade a determinados problemas através da recolha

de dados. Foi a BdMuseus que permitiu a realização do arrolamento dos museus

que serviu como base ao mecanismo de recolha de informação das

necessidades museológicas portuguesas.

Uma vez que os dados anteriormente apresentados remontam ao ano de 1998,

optou-se por realizar um novo questionário, focalizado na conservação em

restauro dos acervos, aos museus portugueses. Assim, foi realizado um

pequeno questionário intitulado “O papel da conservação e restauro nos museus

portugueses 59 ” (figura 15) e foi enviado para 88 60 museus distribuídos por

Portugal continental e ilhas. O intuito primordial deste questionário foi de

compreender as necessidades existentes nos museus nacionais ao nível da

conservação e restauro.

A seleção dos museus foi realizada de forma casual61, de modo a obter museus

de várias tipologias e com tutelas de diferentes tipos. Para a sua construção

definiu-se um conjunto de indicadores de análise, utilizando a técnica do funil a

qual implica «(…) iniciar o questionário com perguntas gerais, chegando pouco

a pouco às específicas (…)» (Lakatos et al., 1985: 186). As perguntas foram

desenvolvidas com base na obtenção de respostas concretas e diretas de modo

a garantir os objetivos propostos. Finalizado o questionário selecionou-se o

programa a utilizar. Pretendia-se que fosse online e gratuito. Optou-se pelo

Google Forms® pois permite criar e analisar os dados de modo intuitivo. A

facilidade de envio e de obter notificações por cada resposta recebida também

se revelaram fatores importantes na tomada de decisão. Este aplicativo

59 Questionário em apêndice na pág. 114. 60 A lista dos museus contactados encontra-se em apêndice na pág. 116. 61 Foi desenvolvida uma base de dados através de contatos retirados da internet, sem procurar tipologias de museus em concreto. Todos esses endereços foram contactados telefonicamente de forma a garantir a participação no questionário.

64

possibilita várias opções de perguntas e formulários, fáceis de editar e

responder.

Figura 15: Imagem ilustrativa do questionário “O papel da conservação e restauro nos museus portugueses” enviado para 88 museus portugueses. Ana Guerin©

As respostas obtidas foram recolhidas de forma automática, possibilitando

informações e gráficos de resposta em tempo real, além de serem facilmente

transformados em folhas de cálculo.

A taxa de resposta ao inquérito foi de 61,36%, através de um total de 55

respostas, que serviram de ponto de partida para a compreensão das

necessidades do nosso património (figura 16).

65

Figura 16: Mapa de Portugal e ilhas com marcações das ent idades museológicas que responderam ao questionário “O papel da conservação e restauro nos museus portugueses” enviado para 88

museus portugueses. Ana Guerin©

Os museus que participaram neste inquérito apresentam várias e diferentes

tutelas (público gerido pela administração central; público gerido pela

administração local; público com gestão privada e privados) sendo que, a maioria

dos participantes, 47%, são organismos públicos geridos pela administração

local, ou seja, são museus municipais. Os museus públicos geridos pela

administração local representam assim a maior fatia de instituições que

responderam ao questionário em questão (gráfico 3).

66

Gráfico 3: Caracterização tutelar dos museus que participaram no questionário “O papel da conservação e restauro nos museus portugueses”. Ana Guerin©

Uma análise mais aprofundada a este grupo revela que 57,1% destas instituições

museológicas não apresenta um conservador-restaurador nos seus quadros

técnicos, apesar de 52,3% afirmar que precisa de pelo menos um conservador-

restaurador para garantir o bom funcionamento da sua instituição.

As respostas fornecidas revelam que os acervos destes museus não se

encontram em excelente estado de conservação, pois 28% afirmam que têm

mais de 50 obras de arte para serem intervencionadas nos próximos 5 anos e a

mesma percentagem afirma que tem mais de 100 obras a necessitarem de

intervenções de conservação e restauro (C&R). Porém, 61,9% revela que

adjudicam este tipo de ações menos de uma vez por ano, um número que não

coincide com as necessidades reveladas nas respostas anteriores. A falta de

verbas aparenta ser a base do problema, pois neste grupo, 66,6% dos inquiridos

alega a falta de verbas para a não realização de intervenções de conservação e

restauro. Um valor não muito diferente do resultado total do questionário (ver

gráfico 4), onde se verifica que 67% dos inquiridos refere a falta de verbas como

resposta à diminuta de realização de intervenções de conservação e restauro.

0

5

10

15

20

25

Público, geridopela

administraçãocentral

Público, geridopela

administraçãolocal

Publico geridopela

administraçãoregional

Público, comgestão privada

Privado Outro Sem resposta

CARACTERIZAÇÃO MUSEOLÓGICA

67

Gráfico 4: Justificativo da falta de realização de intervenções de conservação e restauro nos museus portugueses. Ana Guerin©

Assim, 22% dos museus inquiridos diz apresentar um acervo em excelente

estado de conservação e 60% deste grupo são instituições privadas ou com

gestão privada. Estes valores ganham relevância quando comparados às

necessidades curativas dos acervos inquiridos (ver gráfico 5). A falta de verbas

confirma-se quando analisamos as respostas à pergunta «O Museu em questão

costuma recorrer a serviços externos de conservação e restauro com que

frequência?» e verificamos que, 44% das respostas referem que os museus

apenas recorrem a serviços externos de conservação e restauro menos de uma

vez por ano (ver gráfico 6).

67%

22%

11%

PORQUE NÃO REALIZAM MAIS INTERVENÇÕES DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO

Faltam verbas para as intervenções de conservação e restauro

Porque o acervo encontra-se em excelente estado de conservação

Sem resposta

68

Gráfico 5: Número de intervenções previstas pelos museus portugueses nos próximos 5 anos. Ana Guerin©

Gráfico 6: Número de intervenções de conservação e restauro externas solicitadas pelos museus portugueses. Ana Guerin©

8

2

16

11

17

1

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Menos de 10obras

10 obras Mais de 10obras

Mais de 50obras

Mais de 100obras

Sem resposta

QUANTAS INTERVENÇÕES DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO SÃO NECESSÁRIAS NO ACERVO DO

MUSEU NOS PRÓXIMOS 5 ANOS

0

5

10

15

20

25

Uma vezpor mês

Uma vezpor

trimestre

Uma vezsemestre

Uma vez aoano

Menos deuma vez por

ano

Nunca Semresposta

O MUSEU COSTUMA RECORRER A SERVIÇOS EXTERNOS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO COM

QUE FREQUÊNCIA

69

Conclui-se assim que os acervos dos museus portugueses encontram-se num

estado de conservação precário, sobretudo por falta de verbas. Caso se

mantenham as mesmas condições nos próximos anos, a situação agravar-se-á.

Analisando o grupo de museus públicos de tutela e gestão central, que

representam 24% das respostas, verificamos que 92,3% não realizam mais

intervenções de conservação e restauro por falta de verbas, mantendo-se a

tendência, de 53,8% das instituições realizarem intervenções externas menos de

uma vez ao ano. O número de conservadores-restauradores nos quadros dos

museus com gestão central é ainda mais diminuto comparativamente aos outros

grupos, pois 84,6% destes museus não têm nenhum profissional de conservação

e restauro nos seus quadros. Contudo, apenas 46% afirma necessitar de um

conservador-restaurador para garantir um bom funcionamento museológico,

tendo 30,7% dos inquiridos não respondido a esta questão. Na realidade, mais

de metade dos museus inquiridos afirma não possuir nenhum conservador-

restaurador nos seus quadros (ver gráfico 7) e apenas 6% afirma conter mais

que um profissional a exercer estas funções62. Quando se questiona sobre a

necessidade da existência de um conservador-restaurador nos quadros do

museu, 51% dos museus respondem afirmativamente perante apenas 15% que

afirmam não ter essa necessidade (ver gráfico 8).

62 O mais importante museu nacional, o MNAA, tem apenas um conservador-restaurador de pintura no seu quadro de pessoal.

70

Gráfico 7: Número de museus que contêm conservadores-restauradores nos seus quadros. Ana Guerin©

Gráfico 8: Necessidade de conservadores-restauradores nos museus portugueses. Ana Guerin©

24%

71%

5%

MUSEUS QUE POSSUEM CONSERVADOR-RESTAURADOR NOS SEUS QUADROS

Sim Não Contem mais que um conservador-restaurador nos seus quadros

53%

14%

4%

29%

O MUSEU NECESSITA DE UM CONSERVADOR-RESTAURADOR NOS SEUS QUADROS

Sim

Não

Seria necessário contratar mais que um conservador-restaurador

Sem resposta

71

Com este estudo, torna-se clara a falta existente de conservadores-

restauradores nos museus portugueses, bem como a escassez de verbas para

adjudicar intervenções a empresas externas. Estes dados, divulgam assim a

precariedade da conservação dos acervos63, revelando um agravamento desta

condição caso não haja nenhuma alteração nas políticas culturais. Contudo,

estes resultados não são de todo alheios aos dirigentes culturais, uma vez que

o próprio MNAA no projeto MNAA2020 – O Futuro do Primeiro Museu de

Portugal, refere-se aos seus recursos humanos como altamente deficitários em

todos os domínios, situação essa agravada por elevado índice etário em

eminência de aposentação e pela impossibilidade total na contratação (MNAA,

2017: 16-47). Tal situação, transversal a todos os museus geridos pela

administração central, fez com que o MNAA disponha de menos 30% de

recursos humanos face ao ano de 1980.

Mais recentemente, um diagnóstico aos sistemas de informação nos museus

portugueses, executado por um grupo de trabalho de sistemas de informação

em museus da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e

Documentalistas, revela a falta de recursos humanos especialistas em

conservação e restauro. Este estudo foi realizado em 2016, através dos dados

da BdMuseus arquivados na DGPC, reportando aos dados de 2015 (Santos et

al., 2017: 13-36). O levantamento foi realizado através de um websurvey, o

SurveyMonkey®, a 710 entidades autodesignadas museus, independentemente

da sua situação de abertura ao público. Obtiveram 222 respostas válidas o que

equivaleu a 31% de taxa de resposta. Neste projeto foram solicitadas às

instituições museológicas informações relativas aos recursos humanos,

nomeadamente ao pessoal de serviço por grupo, o que totalizou um número de

2.320 pessoas ao serviço das instituições museológicas portuguesas. Quando

solicitado o enquadramento do pessoal face às áreas de formação profissional

e/ou académica, verificou-se que cerca de 7% dos profissionais com formação

em conservação e restauro são técnicos superiores e, praticamente na mesma

percentagem, são assistentes técnicos (ver tabela 11). Contudo, o volume de

63 Situação que tendencialmente se agravará com o natural passar do tempo, se não forem tomadas medidas céleres que permitam dar resposta a esta necessidade básica, que corresponde a uma das funções museológicas vitais.

72

técnicos de conservação e restauro nos museus portugueses, encontra-se

abaixo dos 10%, o que revela um baixo número de profissionais da área a

exercerem funções em museus. Esse dado é corroborado na tabela seguinte

quando cruzam a área de formação com a tutela museológica, e se verifica que

apenas 2,2% dos técnicos superiores nos museus portugueses detêm formação

em conservação e restauro. Verifica-se ainda que o maior défice de

conservadores-restauradores se encontra em museus tutelados por Governos

Regionais, revelando apenas 0,6% de técnicos superiores da área (ver tabela

12). No mesmo estudo foi também abordado, tal como no inquérito realizado

nesta dissertação, o recurso aos serviços externos, nomeadamente a serviços

de conservação e restauro. Foram avaliadas todas as instituições museológicas

que levaram cabo serviços externos durante o ano de 2015, evidenciando que

um quarto dos museus recorreu a pelo menos um serviço externo durante o

período analisado (gráfico 9) e que 43,4% desses serviços foram de conservação

e restauro.

Tabela 11: Total de pessoas ao serviço por Grupo e por Área de formação (Santos, 2017: 35)

73

Tabela 12: Representatividade dos Técnicos superiores por Área de formação e por Tutela (Santos, 2017: 36)

Gráfico 9: Museus por Área do serviço externo a que recorreu (Santos, 2017: 41)

74

Um outro assunto abordado por este levantamento foi o estado de conservação

dos acervos dos museus portugueses. No gráfico 10 é possível verificar que

45,9% dos museus inquiridos revela ter o seu acervo em bom estado de

conservação.

Gráfico 10: Estado geral de conservação das instalações e das condições do acervo museológico (Santos, 2017: 91)

Este diagnóstico aos Sistemas de Informação nos Museus Portugueses vai

ainda mais longe no que concerne às intervenções de conservação e restauro,

pois analisa os procedimentos de conservação e restauro adotados pelos

museus consoante o tipo de acervo, como se vê na tabela 13. Não obstante das

ações de conservação preventiva, que apresentam um maior número de

procedimentos praticados, as intervenções de conservação e efetiva juntamente

com as de restauro perfazem 22% das ações efetuadas.

75

Tabela 13: Procedimentos de conservação e restauro praticados para cada acervo (Santos, 2017:

94)

4. AS NOVAS FORMAS DE FINANCIAMENTO DE INTERVENÇÕES

DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO – LEVANTAMENTO DO PÚBLICO

ALVO

Realizada a recolha de dados relativos ao papel da conservação e restauro nos

museus portugueses, e comprovada a falta de verbas e de recursos humanos

para a realização das intervenções necessárias à salvaguarda das coleções,

tornou-se essencial compreender como os modelos de financiamento analisados

neste estudo podem auxiliar na resolução deste problema.

Na continuidade do estudo e pesquisa de alternativas que solucionem o

problema da salvaguarda dos bens culturais, optou-se por questionar o público

português, por amostragem, relativamente às outras formas de financiamento

cultural aqui abordadas, o mecenato, o patrocínio e o crowdfunding. Era

necessário compreender se existia ou não abertura da população portuguesa

para introdução destes modelos de financiamento.

76

Assim, através do formulário online Google Forms®, criou-se um novo

questionário de respostas múltiplas, intitulado “Novas formas de financiamento

em intervenções de conservação e restauro de bens culturais”64 (figura 17). Este,

foi divulgado durante três semanas na rede social pessoal Facebook® e por

correio eletrónico65, na tentativa de atingir um maior e diversificado número de

pessoas. Ao fim de três semanas, e com 281 respostas obtidas, deu-se o

questionário por encerrado uma vez que houve um decréscimo acentuado no

número de repostas obtidas diariamente, sucedendo-se então à análise dos

resultados através do programa Microsoft Excel®.

Para compreender o perfil dos participantes do inquérito, solicitaram-se dados

genéricos como a nacionalidade, idade, género, estado civil, situação

profissional, escolaridade e local de residência. Em todo o caso, deve-se ter em

consideração que a base de divulgação deste estudo partiu de um círculo

relativamente fechado de inquiridos, com relações de proximidade, o que

potencialmente influenciará os resultados finais.

Figura 17: Imagem ilustrativa do questionário “Novas Formas de Financiamento de Intervenções de Conservação e Restauro”. Ana Guerin©

64 Ver questionário em apêndice pág. 119. 65 O questionário foi enviado a todos os meus contactos, pessoais e profissionais, onde foi solicitada a divulgação e partilha. O facto de não existir uma base de dados diversificada para o envio do questionário poderá comprometer os resultados, uma vez que estes podem ficar muito ligados ao perfil dos meus conhecidos.

77

A maioria dos inquiridos são de nacionalidade portuguesa, como demonstra o

gráfico 12, e a faixa etária que mais aderiu ao inquérito situa-se entre 31 e os 40

anos (ver gráfico 11). Geograficamente o maior número de respostas encontra-

se na zona da grande Lisboa (ver gráfico 13).

Gráfico 11: Enquadramento dos inquiridos relativamente ao seu grupo etár io. Ana Guerin©

Gráfico 12: Enquadramento dos inquiridos relativamente à sua nacionalidade. Ana Guerin©

GRUPO ETÁRIO

18 - 20 21 - 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 + 61 Sem resposta

NACIONALIDADE

Portuguesa Outra Sem resposta

78

Gráfico 13: Localização geográfica dos inquiridos. Ana Guerin©

Quanto ao estado civil e familiar dos inquiridos, o grupo com maior expressão é

solteiro ou divorciado, seguido pelo grupo dos casados/unidos de facto com

filho/os (ver gráfico 14), em conformidade com os resultados obtidos nos no

gráfico da faixa etária.

Gráfico 14: Estado civil e familiar. Ana Guerin©

ZONA DE RESIDÊNCIA

Litoral Centro Interior norte/centro Alentejo Grande Lisboa

Algarve Grande Porto Sem resposta Litoral Norte

Ilhas Fora de Portugal

ESTADO CIVIL E FAMILIAR

Casado/unidos de facto Casado/unidos de facto com filho/os

Solteiro/divorciado Solteiro/divorciado com filho/os

Viúvo Viúvo com filho/os

Sem resposta

79

Relativamente ao nível de escolaridade, a maioria dos questionados apresentam

estudos superiores, com 122 respostas em bacharelato/licenciatura, 86 em

mestrado e 37 em doutoramento (ver gráfico 15)66.

No que respeita à situação profissional dos inquiridos, o grupo com maior

expressão é o dos empregados por conta de outrem, com 126 respostas (ver

gráfico 16).

Gráfico 15: Nível de escolaridade dos inquiridos. Ana Guerin©

66 254 dos inquiridos possui formação superior, sendo que a maioria detém o nível de Bacharelato/Licenciatura, seguido dos detentores de mestrado e subsequentemente doutoramento.

NÍVEL DE ESCOLARIDADE

Ensino Secundário/Profissional Bacharelato/Licenciatura

Mestrado Doutoramento

Outro Sem resposta

80

Gráfico 16: Situação Profissional dos inquiridos. Ana Guerin©

Interpretados os dados recolhidos relativos ao perfil dos participantes, sucedeu-

se a análise das respostas às três primeiras perguntas do questionário. De

carácter generalista, tinham como função compreender a relação dos inquiridos

com os bens culturais. A primeira questão visava saber o grau de importância

que o Património Cultural tinha para cada indagado, sendo que como opção

existiam 3 repostas com graus de importância diferentes. Com resultado

unanime, 100% dos inquiridos afirmam dar importância ao tema (ver gráfico 17).

Constatada a importância dos bens culturais, neste universo de repostas,

solicitou-se a opinião dos indagados relativamente ao estado de conservação

desses mesmos bens.

SITUAÇÃO PROFISSIONAL

Estudante Desempregado

Trabalhador por conta de outrém Trabalhador por conta própria

Sem resposta Reformado

81

Gráfico 17: Importância dos bens culturais português. Ana Guerin©

Verificou-se que 65% dos participantes considera que os bens culturais se

encontram num razoável estado de conservação, como se verifica no gráfico 18,

e apenas 25% acredita que os bens culturais se encontram em muito mau estado

de conservação em contraposição a 1% que crê que o Património cultural

português se encontra em muito bom estado de conservação.

Gráfico 18: Estado de conservação dos bens históricos e culturais portugueses. Ana Guerin©

13%

87%

0% 0%

QUAL A IMPORTÂNCIA DOS BENS HISTÓRICOS E CULTURAIS PORTUGUESES

Importante

Muito importante

Pouco importante

Sem resposta

25%

65%

9%

0% 1%

QUAL O ESTADO DE CONSERVAÇÃO DOS BENS

HISTÓRICOS E CULTURAIS PORTUGUESES

Encontram-se em mauestado de conservação

Encontram-se em razoávelestado de conservação

Encontram-se em bomestado de conservação

Encontram-se em muito bomestado de conservação

Sem resposta

82

Estas duas primeiras perguntas ajudam a compreender o que os 281

portugueses pensam acerca dos bens culturais e do seu estado de conservação.

Para finalizar o questionário de perguntas generalistas, foi colocada uma

questão relativa ao financiamento, mais precisamente sobre a necessidade de

existência de novas formas de financiamento para intervenções de conservação

e restauro nos bens culturais. O resultado desta pergunta não deixou grandes

dúvidas sobre este assunto uma vez que 98% dos inquiridos considera

importante a existência de novas formas de financiamento de intervenções de

conservação e restauro nos bens culturais (ver gráfico 19). Esta tendência é

corroborada quando o grupo é questionado sobre o modelo de financiamento

coletivo, vulgarmente conhecido por crowdfunding: 85% diz conhecer este

modelo de financiamento (ver gráfico 20). Apesar de a maioria do grupo social

de trabalho se situar entre os 31 e os 40 anos, não era expectável um tão elevado

número de respostas positivas ao tema em questão, pois esta ainda é uma área

que se encontra a dar os primeiros passos em Portugal.

Gráfico 19: Importância da existência de novas formas de financiamento de intervenções de conservação e restauro nos bens culturais. Ana Guerin©

98%

1% 1%

CONSIDERA IMPORTANTE A EXISTÊNCIA DE NOVAS FORMAS DE FINANCIAMENTO DE INTERVENÇÕES DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO NOS BENS CULTURAIS

Sim Não Sem resposta

83

Gráfico 20: Conhecimento de crowdfunding. Ana Guerin©

Acerca do modelo de financiamento coletivo foram realizadas mais duas

perguntas, para compreender se os inquiridos se encontravam dispostos a

participar nestas ações. Quando questionados se participariam numa campanha

de crowdfunding que visasse uma intervenção de conservação e restauro de

bens culturais, a maioria respondeu que a sua cooperação dependeria da

causa67 em questão; seguidamente, um outro grupo com 99 repostas, que afirma

que colaboraria numa ação de financiamento coletivo que visasse uma

intervenção de conservação e restauro (ver gráfico 21). O crowdfunding é uma

prática de angariação de verbas através de doações feitas por um número

alargado de pessoas. Como o valor despendido pode variar de pessoa para

pessoa, os inquiridos foram questionados sobre o montante que estariam

dispostos a ofertar. Foram disponibilizados, para seleção, vários montantes. O

mais votado, com 122 respostas, foi “entre 6€ e 20€” (ver gráfico 22). Outro dado

relevante a retirar deste gráfico diz respeito aos inquiridos que não pretendem

participar em qualquer ação de financiamento coletivo, grupo que conta apenas

com 29 respostas.

67 A causa remete para a intervenção de conservação e restauro. Ou seja, a participação dependia da intervenção em causa.

85%

14%

1%

SABE O QUE É CROWDFUNDING?

Sim Não Sem resposta

84

Gráfico 21: Participação em uma ação de crowdfunding para o financiamento de uma intervenção de C&R. Ana Guerin©

De uma forma geral, pelos resultados fornecidos no questionário, o crowdfunding

cultural, e especificamente de C&R, poderá ter bastante aceitação como forma

de financiamento alternativo às intervenções de conservação e restauro de bens

culturais, pois a maioria das respostas demonstra abertura para este tipo de

campanhas, sendo que, apenas 21 elementos inquiridos negaram à partida a

sua participação. Demonstra-se assim que 253 dos 281 inquiridos estão

dispostos a colaborar no financiamento de uma intervenção de conservação e

restauro através do financiamento coletivo. Contudo, ficou por compreender a

razão efetiva desta adesão, sendo que poderá ser por razões de transparência

do modelo em si, pela parca quantia exigida por participação ou mesmo por

questões de cidadania que se encontram associadas ao ato filantrópico.

Conhecida a posição dos inquiridos quanto a uma nova forma de financiamento

cultural, propusemo-nos a conhecer a posição do mesmo grupo de trabalho face

a uma forma mais antiga de financiamento, o mecenato cultural. Quando

questionados a respeito do seu conhecimento sobre mecenato, 89% dos

inquiridos respondeu que conhecia este modelo de financiamento (ver gráfico

23), bem como 74% tinha conhecimento que o mecenato cultural conferia

benefícios fiscais (ver gráfico 24).

99

21

154

7

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Sim Não Dependia da obra emquestão

Sem resposta

PARTICIPARIA NUMA AÇÃO DE CROWDFUNDING QUE

VISASSE UMA INTERVENÇÃO DE CONSERVAÇÃO E

RESTAURO?

85

Gráfico 22: Montante de participação numa campanha de crowdfunding para C&R. Ana Guerin©

Gráfico 23: Conhecimento de mecenato cultural. Ana Guerin©

Derivado ao facto de o mecenato cultural ser um modelo utilizado em ações

empresariais de responsabilidade social, decidiu-se inserir no questionário duas

43

122

49

189

29

11

0

20

40

60

80

100

120

140

-5€ Entre 6€ e 20€

Entre 20€ e 50€

Entre 50€ e 100€

+ 100€ não participo Semresposta

COM QUE VALOR ESTARIA DISPOSTO A PARTICIPAR

NUMA AÇÃO DE CROWDFUNDING PARA CONSERVAÇÃO

E RESTAURO

89%

10%1%

TEM CONHECIMENTO DO QUE É O MECENATO

CULTURAL?

Sim Não Sem resposta

86

perguntas relativas ao assunto, de forma a verificar se existe aceitação deste

modelo de responsabilidade social empresarial. A maioria dos inquiridos, com

146 respostas, declarou que o mecenato cultural é uma excelente forma de

responsabilidade social (ver gráfico 25). Quando questionados sobre a

possibilidade de realizarem mecenato cultural empresarial associado a uma

intervenção de conservação e restauro, a maioria do grupo encontra-se disposta

a realizar uma campanha com esse fim (ver gráfico 26).

Gráfico 24: Conhecimento que o mecenato cultural relativamente a benefícios fiscais. Ana Guerin©

74%

24%

2%

SABIA QUE O MECENATO CULTURAL CONFERE

BENEFÍCIOS FISCAIS?

Sim Não Sem resposta

87

Gráfico 25: Opinião sobre o mecenato cultural como forma de responsabilidade social empresarial. Ana Guerin©

Gráfico 26: Resposta relativa à realização de mecenato cultural empresarial no âmbito de uma intervenção de conservação e restauro. Ana Guerin©

146

109

18

8

0

20

40

60

80

100

120

140

160

É uma excelente formade exercer

responsabilidade social

É só mais uma forma deexercer responsabilidade

social

Existem melhoresformas de exercer

responsabilidade social

Sem resposta

O QUE PENSA SOBRE O MECENATO CULTURAL COMO

FORMA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL?

151

5

120

5

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Sim Não Dependia da ação emquestão

Sem resposta

CASO DEPENDESSE DE SI O DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL DE UMA EMPRESA, ESTARIA DISPOSTO A

REALIZAR MECENATO NO ÂMBITO DE UMA

INTERVENÇÃO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO?

88

No âmbito empresarial é utilizado o patrocínio cultural. Esta foi a última forma de

financiamento abordada no questionário. Como referido no ponto 2.2 deste

estudo, o patrocínio cultural origina alguma relutância entre o público. Por este

motivo optou-se por saber junto dos participantes, se consideravam adequado a

associação de marcas comerciais a projetos culturais. Apesar da maioria dos

inquiridos ter respondido que considerava apropriado a associação de marcas

comerciais à cultura, esta maioria é pouco acentuado, pois apenas 11 respostas,

compõem o diferencial para o grupo que afirma depender da ação a causa

(gráfico 27).

Gráfico 27: Associação de marcas comercias a projetos culturais. Ana Guerin©

Sobre a possibilidade de uma marca comercial patrocinar uma intervenção de

conservação e restauro, 183 pessoas concordaram com essa possibilidade e

apenas 93 pessoas afirmam que a sua concordância dependia da ação em

questão (ver gráfico 28).

139

11

128

3

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Sim Não Depende da ação emquestão

Sem resposta

CONSIDERA ADEQUADO A ASSOCIAÇÃO DE MARCAS

COMERCIAIS A PROJETOS CULTURAIS?

89

Gráfico 28: Patrocínio de uma marca a uma intervenção de conservação e restauro. Ana Guerin©

Apesar deste modelo de financiamento ser o menos utilizado na subvenção de

intervenções de conservação e restauro, entre os três modelos aqui

apresentados, os dados obtidos neste questionário revelam uma satisfatória

aceitação do público.

183

3

93

20

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Sim Não Dependia da ação emquestão

Sem resposta

SE FOSSE RESPONSÁVEL POR UMA MARCA

CONSIDERAVA PATROCINAR UMA INTERVENÇÃO DE

CONSERVAÇÃO E RESTAURO?

90

5. ESTUDO DE CASO – CRIAÇÃO DA PLATAFORMA DE APOIO AO

PATRIMÓNIO EXCLUSIVA AO FINANCIAMENTO DE INTERVENÇÕES

DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS

São diminutos os exemplos de financiamento cultural destinados a intervenções

de conservação e restauro, como o demonstrado no capítulo 2 deste estudo. Por

este motivo, propõe-se aqui delinear um projeto para angariação financeira com

esse fim. Com base nos levantamentos realizados ao longo deste estudo, quer

sobre as carências museológicas, quer sobre o público-alvo, consideramos

importante a existência de uma plataforma que se dedique em exclusivo a este

tema. Com deficiências ao nível da preservação das coleções, as instituições

museológicas carecem prementemente de apoio para a realização das

intervenções necessárias à salvaguarda dos seus acervos. Assim, e perante a

urgência em obter novas formas de financiamento cultural, optamos por propor

um projeto que angarie verbas através dos modelos aqui estudados. Tendo-se

como ponto de partida o crowdfunding, por ser o modelo que apresenta maior

alcance mediático imprescindível ao início de qualquer projeto deste género,

passando seguidamente para o patrocínio e mecenato.

Os objetivos primordiais são dar apoio financeiro a projetos de conservação e

restauro e, simultaneamente alertar as pessoas para a importância da

preservação do património cultural móvel português. Pretende-se ainda colmatar

a falta de investimento na área, que tem vindo a contribuir para a constante

deterioração dos bens culturais e, acreditamos que através da divulgação e do

impacto que o crowdfunding tem nos meios de comunicação social, vamos

apelar à consciencialização da população portuguesa para o problema da

conservação e proteção do património que é de todos nós.

Este projeto, que chamamos de Plataforma de Apoio ao Património (PAP),

apresenta duas fases distintas de implementação, a primeira através de

crowdfunding e a segunda com a implementação de projetos de patrocínio e

mecenato, pretendendo assim criar um elo de ligação entre pessoas/empresas

e as instituições detentoras de bens culturais através da plataforma. Para o

91

progresso deste projeto desenvolveram-se propostas de logotipos (figura 18) de

forma a consolidar visualmente uma imagem de marca.

A Plataforma de Apoio ao Património pretende ser o primeiro canal português

de crowdfunding que se dedica exclusivamente ao apoio de projetos de

conservação e restauro do património cultural móvel e integrado. Para tal, a

plataforma deverá ser associada a uma instituição idónea, de caráter cultural ou

social, para ter uma base sólida de enquadramento como também fornecer a

confiança necessária à sua implementação68 ao público a que se dirige.

Figura 18: Propostas de logotipo para a Plataforma de Apoio ao Património. Ana Guerin©

Poderia ainda ser criada uma associação sem fins lucrativos que se dedicasse

à gestão da Plataforma de Apoio ao Património. Contudo, esta opção obrigava

a iniciar um trabalho de sensibilização e divulgação que demoraria bastante mais

tempo e mais dificilmente alcançaria a confiança do público comparativamente a

uma situação em que a plataforma estivesse associada a uma outra instituição,

pública ou privada, previamente implantada e reconhecida pela população. Logo,

a implementação da PAP será mais simples e efetiva se beneficiar de uma

parceria. Este último ponto é de extrema importância, uma vez que se pretende

atingir pequenas doações do público, que naturalmente terá mais confiança em

68Os exemplos fornecidos no ponto 2.3 desta dissertação, relativos às ações de crowdfunding efetuadas pelo Smithsonian Institution, demonstram como a existência de uma instituição de referência são essenciais para o sucesso deste tipo de ações.

92

realizá-las se conhecer a entidade gestora do projeto. Em compensação, a

entidade que viabilizar este projeto, obterá um programa de responsabilidade

social de continuidade, que promoverá a instituição através do seu elevado

alcance mediático. Por razões associadas à confiabilidade da plataforma, será

essencial também conseguir que personalidades do meio cultural fiquem

vinculadas ao projeto através da sua participação na comissão científica de apoio

ao desenvolvimento das ações desenvolvidas.

Para a implementação da PAP é necessário recorrer a uma plataforma de

crowdfunding como a PPL®, que é a empresa de referência em

Portugal. Existem duas formas de desenvolver a Plataforma de Apoio ao

Património por intermédio da PPL®: uma através de um canal integrado na

plataforma original e outra por meio de uma plataforma própria criada pela PPL®

(ver figura 19 que ilustra um canal da PPL® adaptado à imagem da PAP)

propositadamente para o projeto. Ambas apresentam vantagens e

desvantagens. Para as enumerar chamemos à criação de canal a hipótese A e

à criação de plataforma a hipótese B.

VANTAGENS

A

Apresenta mais visibilidade pois utiliza os meios de divulgação (redes sociais e

plataforma online) da PPL®

Está isenta de custos de criação por parte da PPL®

B Permite criar uma plataforma de raiz e exclusiva à imagem do projeto

Tabela 14: Vantagens do desenvolvimento da PAP através de canal integrado em p lataforma original (hipótese A) e por intermédio de criação de plataforma própria (hipótese B). Ana Guerin©

DESVANTAGENS

A

Apresenta limitações ao nível do design de imagem e funcionalidades,

necessitando de outros meios como um blog, para garantir o acompanhamento

de ações

B

Apresenta custos de criação e manutenção mensal por parte de uma equipa da

PPL®69

Carece de acompanhamento na divulgação e comunicação

Tabela 15: Desvantagens do desenvolvimento da PAP através de canal integrado em plataforma original (hipótese A) e por intermédio de criação de plataforma própria (hipótese B). Ana Guerin©

69 O custo base de criação de uma plataforma independente é cerca de 15 mil euros com um mínimo de 500€ mensais de manutenção. Informação fornecida pela equipa da PPL em reunião a 11 de janeiro de 2017.

93

De realçar que, apesar da criação de um canal não apresentar custos iniciais e

de manutenção (custos relativos à PPL®), deverá, por razões de divulgação, ser

auxiliado por um blog ou um website que apresentam custos de elaboração e

manutenção, embora que inferiores aos valores apresentados para o

desenvolvimento de uma plataforma própria através da PPL®. O blog ou

website 70 permitem ao canal ter a autonomia necessária no seu

acompanhamento e divulgação das informações relativas às ações

desenvolvidas, como se vê na figura 20, que exemplifica um website adaptado à

PAP. Para a conceção de um blog específico para a Plataforma de Apoio ao

Património é imprescindível um investimento inicial. Contudo não existe

provisão mensal, e permite uma supervisão diária das ações, fazendo com que

haja uma grande proximidade com o público que se envolve assim nas atividades

da PAP. Como referido no ponto 2.3 desta dissertação, é fundamental criar

ligações com o investidor através da atualização sistemática da informação

relativa à atividade promovida; dessa forma podem ser criados benefícios a

longo prazo que estreitam os laços de confiança com os seus apoiantes. A

edição de um pequeno filme descritivo do projeto em financiamento é também

referido como fator determinante para o sucesso da campanha. Um blog, permite

gerir e importar os filmes, tal como partilhá-los com as redes socias, sem

requerer um trabalho técnico específico.

70 O website, ao contrário do blog, necessita de manutenção mensal técnica. O valor desta manutenção dependerá do número de atualizações necessárias por mês.

94

Figura 19: Imagem ilustrativa da adaptação da Plataforma de Apoio ao Património a um canal da PPL. Ana Guerin©

Figura 20: Imagem ilustrativa de um blog ou website adaptado à Plataforma de Apoio ao Património. Ana Guerin©

Outra componente que aumenta a confiança do público-alvo é a criação de uma

comissão científica constituída por personagens idóneas e em número ímpar.

Para esta comissão será necessário o apoio de um historiador de arte, um

conservador-restaurador e de uma individualidade de referência do mundo

cultural português. Cabe a este comité analisar e selecionar as propostas de

intervenção de conservação e restauro candidatas à Plataforma de Apoio ao

Património, bem como dar visibilidade e credibilidade ao projeto. No que

respeita aos recursos humanos, a plataforma terá que integrar um gestor de

95

projeto para divulgar, angariar e acompanhar todos os projetos. Deverá ainda

potenciar a criação de parcerias com instituições empresariais de forma a criar

laços que permitam preparar a implementação dos modelos de patrocínio e

mecenato. A acompanhar esse trabalho será necessário um recurso de vídeo

para cada uma das ações, que poderá ser obtido através de apoio externo ao

projeto (ver figura 21 que exemplifica a utilização de um filme no website da

PAP).

Figura 21: Imagem ilustrativa de uma ação de crowdfunding com filme no blog ou website da Plataforma de Apoio ao Património. Ana Guerin©

O processamento das candidaturas é um outro fator de grande relevância, pois

além de transparente terá de ser um processo eficaz em todos os seus aspetos.

Ou seja, não só devem ser tomados em consideração os fatores da importância

histórico-artística e o estado de conservação da obra, mas também o montante

necessário à intervenção de conservação e restauro, pois esse poderá não

viabilizar a ação.

Uma vez que o crowdfunding pretende angariar pequenos montantes financeiros

através de muitas doações, não se devem arriscar, especialmente no início do

projeto, em ações que envolvam montantes elevados para garantir o sucesso do

projeto. Os valores solicitados poderão e deverão aumentar à medida que a

plataforma for ganhando mais adeptos e confiança pública.

96

Assim, para o início da seleção de projetos, devem ser tomados em

consideração os seguintes fatores por ordem decrescente:

• Montante da Intervenção (não deverá ultrapassar os €5.000)

• Estado de conservação da obra (caso se encontre num estado

considerado ruinoso)

• Valor histórico-artístico da obra (quanto maior valor tiver a obra, mais

publicidade fará à plataforma)

• Localização (uma boa localização possibilita ativações comerciais)

De forma a garantir a o sucesso das ações, não se deve solicitar montantes

muito elevados, especialmente na fase de implementação da plataforma, pois o

seu êxito depende do sucesso das primeiras ações. Segundo a PPL®, a

angariação de um valor de 5 000.00€ é considerado um caso de sucesso. O

estado de conservação das obras que participarem no projeto será uma questão

fundamental na seleção pois, caso a integridade da obra se encontre ameaçada

por um estado de conservação ruinoso, a intervenção torna-se urgente de forma

a garantir a sua sobrevivência. Contudo, em fase inicial do projeto existem

limitações na solicitação de verbas que levará (caso seja necessário) a optar por

tratamentos faseados, salvaguardando assim a obra e o desenvolvimento da

plataforma. O valor histórico-artístico da obra não só permite mais publicidade

(tão necessária ao arranque do projeto) como permite a preservação das obras

de maior importância histórica e cultural do país. Também uma boa localização

da obra proposta a intervenção possibilita a utilização em simultaneamente de

outros modelos de financiamento, como o patrocínio e o mecenato cultural, que

requerem um certo mediatismo. É ainda relevante para o sucesso do projeto o

número de ações desenvolvidas em simultâneo pois, um elevado número destas

aumenta o risco de insucesso. Por conseguinte, o número de intervenções

deverá aumentar à medida do desenvolvimento da plataforma.

As candidaturas serão realizadas através de um endereço de correio eletrónico

disponível na plataforma e devem ser realizadas pelo detentor do bem cultural

em questão. Para a candidatura é necessário um levantamento prévio do estado

de conservação da obra (de preferência auxiliados por métodos de exame e

97

análise), a proposta de tratamento acompanhado por um relatório fotográfico e

gráfico, por um orçamento detalhado e pela descrição da equipa responsável

pela intervenção 71 . Deverá ainda ser apresentado pelos candidatos um

documento, sob compromisso de honra, de que se comprometem no

cumprimento do tratamento proposto, dos prazos estipulados e da proposta

orçamental. Compete à Plataforma de Apoio ao Património acompanhar e

controlar toda a evolução da intervenção, de forma a garantir o êxito da mesma,

bem como manter os patrocinadores ao corrente do seu desenvolvimento72.

Depois de entregues as propostas estas serão analisadas e selecionadas pela

comissão cientifica (figura 22).

Aprovada a candidatura, a Plataforma de Apoio ao Património prepara a

campanha de crowdfunding, com imagens, vídeos e opiniões sobre a obra e o

71 A equipa de conservação e restauro deverá conter pelo menos um conservador-restaurador, mediante o código de ética aprovado pela E.C.C.O. em Bruxelas em 2003 e em conformidade com o Decreto-Lei N. º140/2009, de 15 de julho, que coordenará a intervenção de conservação e restauro. 72 A proposta selecionada deverá apresentar um documento, sob compromisso de honra, de como realizam o tratamento proposta no prazo previsto e dentro do orçamento aceite.

Figura 22: Processo de candidatura à uma ação de crowdfunding na Plataforma de Apoio ao Património. Ana Guerin©

PROPOSTA

COMISSÃO CIENTÍFICA

APROVAÇÃO

RECEÇÃO

ANÁLISE

APROVAÇÃO

98

seu estado de conservação, divulgando e promovendo a adesão através da

publicidade em redes sociais e parceiros. Em termo de comunicação, seria

bastante revelante que uma das parcerias da plataforma fosse estabelecida com

um grupo de comunicação social, de forma a garantir a visibilidade desejada.

Após se atingir o montante necessário à realização da intervenção de

conservação e restauro, termina-se a campanha de crowdfunding, mas a PAP

acompanha e divulga a intervenção até à sua total conclusão. Desse modo, o

público poderá acompanhar a intervenção de conservação e restauro,

sensibilizando-se assim as comunidades para as necessidades técnicas deste

tipo de ações e contribuindo pedagogicamente para responsabilidade cultural da

população. Quando terminada a intervenção, os conservadores-restauradores

envolvidos na ação deverão entregar um relatório de intervenção onde deverá

ser acrescentado o nome dos financiadores envolvidos e publicado73 (online).

O modelo de financiamento coletivo assenta num sistema de contrapartidas, que

deverá ser delineado de forma a aliciar os financiadores, sendo que as

contrapartidas dependem do valor doado. Como modelo exemplificativo, segue

a seguinte tabela.

Tabela 16: Modelo exemplificativo das contrapartidas obtidas pelos participantes, numa ação de crowdfunding de Plataforma de Apoio ao Património. Ana Guerin©

73 O financiador poderá ainda optar pelo anonimato. 74 A Plataforma de Apoio ao Património terá de desenvolver algumas peças de merchandising de forma a servirem de contrapartida às doações realizadas através de crowdfunding. 75 Todos os financiadores serão reconhecidos publicamente (com exceção dos anónimos) no blog e redes sociais e o seu nome ficará patente no relatório de intervenção de conservação e restauro da obra financiada. 76 Será acordado com o detentor da obra uma contrapartida para os financiadores. No caso de uma obra que pertença a um museu (por exemplo), a contrapartida poderá ser entrada gratuita durante um período de tempo.

CONTRAPARTIDAS

< 25€ Merchandising74 (ex. pin, lápis) + reconhecimento75

26€ - 50€ Merchandising (ex. saco de pano) + reconhecimento

51€ - 100€ Merchandising + algo fornecido por o tutor da peça em

intervenção76 + reconhecimento

> 100€ Merchandising + algo fornecido por o detentor da peça em

intervenção + reconhecimento + presença em evento anual

99

A Plataforma de Apoio ao Património é um projeto de baixo custo e transversal

a eixos como: cultura, educação e ação social. Além de permitir a angariação de

fundos, promove simultaneamente a sensibilização da comunidade para o

problema da falta de investimento na preservação do património cultural. Uma

vez que a União Europeia designou o ano de 2018 como o Ano Europeu do

Património, seria conveniente que este projeto fosse aplicado durante esse ano,

de forma a aproveitar o mediatismo que será gerado em torno do tema.

Figura 23: Imagem do Ano Europeu do Património Cultural (NEMO,S/D)

Após a implementação do canal de crowdfunding, iniciar-se-á a segunda fase

através da implementação dos outros dois modelos de financiamento, o

patrocínio e o mecenato cultural. Esta nova etapa requere a existência de um

bom relacionamento entre a PAP, os parceiros museológicos e os financiadores,

desenvolvida na primeira fase do projeto. Como foi referido nos pontos 2.1 e 2.2

desta dissertação, estes modelos apresentam formas distintas de ação e

intenção. Cabe à Plataforma de Apoio ao Património analisar individualmente

cada proposta apresentada e apurar qual o modelo de financiamento mais

adequado. Ao contrário do crowdfunding, estas propostas ficarão sob custódia

da plataforma até se encontrar o parceiro financeiro mais adequado. Visto que

durante a primeira fase do projeto foram analisadas as parcerias comerciais de

forma a angariar os financiadores, tornar-se-á mais acessível encontrar o

parceiro correto a cada ação. As entidades culturais poderão assim contar com

100

a Plataforma de Apoio ao Património como intermediária na procura de

financiamento para a preservação do património cultural português. A PAP ficará

assim com vários projetos sob custódia, comprometendo-se a apresentá-los aos

seus parceiros comerciais, podendo inclusivamente trabalhá-los de forma a

tornar mais viável o seu financiamento 77 . Inclusivamente, poderá utilizar os

vários modelos de financiamento numa só intervenção de conservação e

restauro (figura 24), i.e. no caso de não se ter angariado o montante suficiente

através de crowdfunding, poderá utilizar o patrocínio através de uma ação de

apresentação da intervenção, sendo que o montante dessa ativação será

utilizado para terminar o financiamento da intervenção.

Figura 24: Características base dos três modelos de financiamento. Ana Guerin© Numa só ação, poderá utilizar-se uma ou mais formas de financiamento, consoante o tipo de intervenção

necessária à preservação do bem cultural.

Tal como as ações de crowdfunding, as atividades de patrocínio e mecenato

cultural também serão divulgadas e acompanhadas no blog da PAP, bem como

nos sites e agentes de comunicação dos financiadores envolvidos. Isto porque

um dos objetivos destes modelos é a comunicação, seja esta institucional ou de

77 Adequar a intervenção de conservação e restauro, de forma a torná-la comercialmente atrativa e assim garantir o seu financiamento.

Comunicação corporativa (valores, cultura e

identidade)

Donativo com benefícios fiscais

Responsabilidade Social

Comunicação de marca ou produto

Posicionamento comercial

Conteúdo ímpar comunicação

Aumento de vendas

Financiamento de projetos de baixo valor monetário

Ação de elevado alcance

Excelente forma de sensibilização da

população para as necessidades do

património

101

marca. Esta característica ajuda na crescente e contínua divulgação da ação

sociocultural, através de novos meios de comunicação alheios à PAP, que

auxiliam na implementação desta nova modalidade humanística.

A Plataforma de Apoio ao Património, com estas três modalidades de

financiamento cultural, vai auxiliar museus e outras instituições detentoras de

bens culturais móveis e integrados, na sua preservação e conservação ao longo

do tempo. Vai ainda contribuir para a diminuição da falta de trabalho na área da

conservação e restauro, uma vez que incentivará a existência de mais

intervenções. Como tal, este projeto não se insere apenas na preservação do

património, pois contribui para a empregabilidade na área e para a divulgação

da importância da existência de técnicos especializados

em conservação e restauro de bens culturais.

Este projeto de financiamento cultural poderá ser o início de novos modelos de

contribuição tão necessários ao bom desempenamento cultural de um país com

tanta riqueza patrimonial como Portugal.

102

CONCLUSÃO

A pesquisa realizada ao longo desta dissertação veio demonstrar que existem

falhas no sistema de gestão patrimonial que não nos permitem garantir o futuro

dos nossos bens culturais. Esta situação, que se sucede há décadas, não

permite uma politica de gestão cultural adequada às reais necessidades das

coleções e dos bens culturais móveis, em geral. É impossível delinear um futuro

sem que antes seja realizado um levantamento detalhado sobre as suas efetivas

necessidades, de forma a estabelecer prioridades e definir modos de atuação

eficazes.

Apesar de os princípios basilares da salvaguarda e da valorização do património

cultural se encontrarem definidos na Lei de Bases do Património Cultural (Lei n.º

107/2001, de 8 de setembro), a falta de gestão, de organização e de verbas

levam a que os bens móveis e integrados fiquem à mercê do bom senso dos

gestores das instituições detentoras desses bens.

Dos três modelos abordados nesta dissertação, o mecenato cultural é o mais

utilizado no financiamento de intervenções de conservação e restauro através

do mecenato de empresa, que o utiliza como política de responsabilidade social.

A parceria entre a empresa mecenática e a entidade detentora dos bens culturais

cria, a longo prazo, laços estratégicos para ambas. Enquanto a empresa

beneficia de uma imagem corporativa altruísta, a instituição cultural vê as suas

carências monetárias a diminuir. Em virtude de serem os grandes grupos

empresariais os que mais utilizam esta simbiose, é necessário apelar ao

envolvimento do restante meio empresarial de forma a colmatar as carências

existentes.

Com os mesmos fins de melhoramento de imagem encontra-se o patrocínio

cultural, apesar de o seu intuito primordial ser o aumento de vendas. Esta

modalidade é muito pouco explorada e nem sempre é bem apreciada, pois

adquire por alguns a conexão de “comercialização” do património. Contudo, essa

transação pode ser fulcral no financiamento da intervenção necessária à

salvaguarda de um bem cultural. Ou seja, uma ação com um curto prazo de

atuação (como é o patrocínio) permite que o bem cultural em intervenção perdure

103

no tempo. Outra característica importante deste modelo de financiamento é o

facto de ser muito atrativo comercialmente pois, em regra, as instituições

culturais encontram-se em locais centrais e de difícil acesso a publicidade.

Contrariamente ao mecenato e ao patrocínio cultural, (que conseguem reunir

grande montantes monetários) encontra-se o crowdfunding, que tem como

objetivo atingir o montante necessário à causa através de pequenos contributos

realizados por um elevado número de pessoas. A utilidade do financiamento

coletivo na preservação do património cultural não é apenas o da angariação de

verbas, pois por enquanto, em Portugal, ainda não se consegue reunir grandes

montantes. A potenciação da promoção e divulgação da causa da preservação

do património será uma caraterística fundamental produzida por este modelo.

No que respeita às carências das coleções nacionais relativas à conservação e

restauro ainda há muito que trabalhar, pois as necessidades são múltiplas e o

plano de ação desconhecido. Além de ser essencial a definição de planos de

gestão cultural ao nível da conservação dos acervos, é indispensável a

regulamentação dos critérios de intervenção.

Um outro ponto relaciona-se com a falta de recursos humanos especializados

em conservação e restauro nas instituições culturais. A carência de

conservadores-restauradores nos museus prossegue com a degradação das

coleções, uma vez que torna impossível o levantamento rigoroso do estado de

conservação das peças, acarretando assim a inexistência de um plano de ação

e uma política eficaz e eficiente da gestão da preservação das coleções. Além

de que a existência de profissionais especializados, possibilitaria a execução de

algumas intervenções de conservação e restauro em espaço museológico,

evitando assim recorrer a serviços externos que pesam no orçamento anual das

instituições. Esta carência de recursos é comprovada no levantamento levado a

cabo, em 2016, pela da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e

Documentalistas, que revela que apenas 2,2% dos técnicos superiores que

exercem funções nos museus portugueses, apresentam formação em

conservação e restauro. Esta percentagem torna-se ainda mais baixa nos

museus tutelados pelos Governos Regionais, onde apenas 0,6% dos técnicos

superiores são conservadores-restauradores. Consequentemente, tornou-se

104

impreterível a contratação de conservadores-restauradores para os museus

portugueses. Porém os orçamentos para a Cultura continuam a não permitir esse

aumento de recursos. Encontramo-nos então perante um cenário onde a

inexistência de financiamento causa óbvias necessidades na conservação do

património e a precariedade de uma classe profissional.

A aplicação dos modelos de financiamento aqui abordados, como forma de

auxiliar ao custeamento de intervenções de conservação e restauro foi

corroborada pelo grupo de trabalho inquirido. A existência de novas formas de

financiamento para ações de conservação e restauro, foi considerada essencial

por 99% das respostas. Sem retirar ao Estado as suas obrigações na

preservação dos bens culturais do país, tornou-se óbvio que é necessário

recorrer a outros modelos, de forma a salvaguardar a nossa herança patrimonial.

Estas formas alternativas de financiamento, o mecenato, o patrocínio e o

crowdfunding, podem auxiliar o orçamento para a conservação dos bens móveis

e integrados pertencentes às mais diversas coleções do país. Para tal, é

necessário sensibilizar o mundo empresarial e a população em geral para a ação

social cultural, que é a base destes três modelos. A abertura que o público

inquirido demonstrou em participar neste tipo de ações de financiamento cultural,

causou o surgimento do projeto da Plataforma de Apoio ao Património (PAP).

Pretende-se que a PAP ajude a colmatar as necessidades na área cultural e

social, uma vez que promove a conservação dos bens culturais e

simultaneamente contribui para a empregabilidade no setor. Paralelamente, a

PAP irá apelar à consciencialização da população portuguesa para a

necessidade de conservar e proteger os seus bens culturais, contribuindo ainda

para a introdução da conservação do património como causa social. É

imprescindível sensibilizar a população portuguesa pois a nossa herança

artística encontra-se desprotegida face aos cortes orçamentais.

Segundo o antigo ministro Guilherme de Oliveira Martins, coordenador nacional

do Ano Europeu do Património Cultural 2018, este não deve ser um momento

que depois se esqueça… deve ser um momento especial de consciencialização

e de lançamento de iniciáticas com continuidade e futuro, essa é a grande

preocupação, e daí o lançamento do desafio para a sociedade civil e para os

diferentes protagonistas do mundo cultural (Martins, 2017).

105

Com a dissertação de mestrado pretendemos criar as bases estruturais que

servirão para um futuro estudo de doutoramento.

106

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Legislação

• Decreto-lei n. º 115/92, de 28 de julho- Regime Financeiro dos Serviços e Organismos da

Administração Pública

• Decreto-lei n. º 115/92, de28 de julho – Nova Lei do Enquadramento do Orçamento de Estado

• Decreto-lei n. º 138/2009, de 15 de junho – Criação do Fundo de Salvaguarda do Património

Cultural

• Decreto-lei n. º 140/2009, de 15 de julho - Regime jurídico dos estudos, projetos, relatórios,

obras ou intervenções sobre bens culturais classificados, ou em vias de classificação, de

interesse nacional, de interesse público ou de interesse municipal

• Decreto–lei n.º 102/80, de 9 de maio- Reestruturação do Fundo de Fomento Cultural.

• Decreto-lei n.º 108/2008, de 26 de junho – estatuto dos benéficos fiscais

• Decreto–lei n.º 114/87, de 13 de março- Adaptação e Estruturação do Fundo de Fomento

Cultural

• Decreto-lei n.º 148/2015, de 4 de agosto - Regulamentação da Lei de Bases do Património

Cultural - Bens Culturais Móveis

• Decreto-lei n.º 215/89, de 1 de julho- Estatuto dos Benefícios Fiscais

• Decreto-lei n.º 258/86, de 28 de agosto- Código da Contribuição Industrial

111

• Decreto-lei n.º 74/99, de 16 de março - Estatuto do Mecenato

• Decreto-lei n.º 582/73, de 5 de novembro - Aprovação a Organização da Direcção-Geral dos

Assuntos Culturais.

• Lei n. º 13/85, de 6 de julho- Património Cultural Português

• Lei n.º 102/2015 de 24 de agosto - Regime Jurídico do Financiamento Colaborativo

• Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro - Lei de Bases do Património Cultural

• Lei n.º 127-b/97, de 20 de dezembro- Aprovação do Orçamento do Estado para 1998

• Lei n.º 82-b/2014, de 31 de dezembro- Orçamento do Estado para 2015

Cartas e Convenções

• Carta de Atenas (1931). Disponível em:

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/media/uploads/cc/CartadeAtenas.pdf [consultado a 10

de maio de 2017]

• Carta de Cracóvia (2000). Disponível em:

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a 10 de maio de 2017]

• Carta de Veneza (1964). Disponível em:

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf [consultado a 10

de maio de 2017]

• Convenção de Faro (2005). Disponível em:

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/media/uploads/cc/ConvencaodeFaro.pdf [consultado a

10 de maio de 2017]

• Convenção de Haia (1954). Disponível em:

http://www.unesco.org/culture/natlaws/media/pdf/bresil/brazil_decreto_44851_11_11_1958_

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• Convenção do Património Mundial (1972). Disponível em:

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• Declaração de Budapeste (2002). Disponível em:

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/media/uploads/cc/declaracaoBudapestesobrepatrimonio

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• Documento de Copenhaga (1984). Disponível em: http://www.arp.org.pt/profissao/etica.html

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• UNESCO, (2001) Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural. Disponível em:

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112

Endereços Web

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• CCAHA. Disponível em: http://www.ccaha.org/save-pennsylvania-s-past [consultado a 10 de

novembro de 2016]

• DGPC. Disponível em: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/en/ [consultado a 9 de outubro

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• FBAUL. Disponível em:http://www.belasartes.ulisboa.pt/1o-edicao-do-projeto-crowdfunding-

apoie-o-restauro-das-belas-artes-foi-um-sucesso/ [consultado a 2 de dezembro de 2017]

• GEPAC. Disponível em: http://www.gepac.gov.pt/fundos-culturais/fundo-de-fomento

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• ICCROM. Disponível em: http://www.iccrom.org [consultado a 9 de outubro de 2017]

• ICOM. Disponível em: http://icom.museum/ [consultado a 9 de outubro de 2017]

• ICOMOS. Disponível em: http://www.icomos.org/fr/ [consultado a 9 de outubro de 2017]

• Inventário Artístico da Arquidiocese de Évora. Disponível em:

http://www.inventarioaevora.com.pt/inicio.asp [consultado a 5 de maio de 2017]

• LOVEITALY. Disponível em: http://loveitaly.org/ [consultado a 8 de novembro de 2016]

• NEMO. Disponível em: http://www.ne-mo.org/our-topics/eych2018.html [consultado a 23 de

novembro de 2017]

• PPL. Disponível em: http://ppl.com.pt/pt [consultado a 8 de novembro de 2016]

• PPL. Disponível em: http://ppl.com.pt/pt/infographic [consultado a 13 de dezembro de 2016]

• Save the Soul of Savoca. Disponível em: http://www.savethesoulofsavoca.com [consultado a

10 de novembro de 2016]

• UNESCO. Disponível em: http://en.unesco.org/ [consultado a 9 de outubro de 2017]

• VIF. Disponível em: http://www.venicefoundation.org/ [consultado a 8 de novembro de 2016]

113

APÊNDICES

114

Apêndice 1: Questionário "O papel da conservação e restauro nos museus portugueses"

115

116

Apêndice 2: Lista de museus contatados

MUSEUS CONTATADOS NO QUESTIONARIO “O PAPEL DA CONSERVAÇÃO E RESTAURO NOS MUSEUS PORTUGUES”

Museu Nacional do Traje

Museu Nacional de Arte Antiga

Museu Nacional de Arqueologia

Museu de Lisboa

Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado

Museu Nacional do Azulejo

Museu Nacional dos Coches

Palácio Nacional da Ajuda

Museu Nacional Machado de Castro

Museu Nacional Soares dos Reis

Arquivo-Museu da Santa Casa da Misericórdia da Vila da Ericeira

Casa-Museu da Fundação Medeiros e Almeida

Casa-Museu Irene Lisboa

Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva

Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas

Museu Arqueológico do Carmo

Museu Calouste Gulbenkian

Museu Colecção Berardo

Museu da Água

Museu da Carris

Museu da Farmácia

Museu da Marioneta

Museu da Presidência da República

Museu de Cerâmica de Sacavém

Museu de Marinha

Museu de São Roque

Museu do Oriente

Museu Militar de Lisboa

Museu Municipal de Arruda dos Vinhos

Museu Municipal de Loures

Palácio dos Marqueses de Fronteira

Palácio Nacional da Pena

MUSA

Casa do Corpo Santo - Museu do Barroco

Museu Municipal de Setúbal/Convento de Jesus

Museu de Arte Sacra

Museu Rainha D. Leonor/Museu Regional de Beja

Museu da Tapeçaria de Portalegre Guy Fino

Museu de Arte Contemporânea de Elvas

Museu Municipal de Portalegre

Museu do Vidro

117

Museu Dr. Joaquim Manso

Museu da Cerâmica

Museu Municipal de Óbidos

Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique

Museu de Arte Sacra de Alcoutim

Museu de Arte Sacra Monsenhor Manuel Francisco Pardal

Casa das Histórias Paula Rego

Museu da Fundação da Casa de Mateus

Museu da Região Flaviense

Museu do Douro

O Museu" da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

Museu de Arte Sacra da Confraria do Santíssimo Sacramento

Fundação de Serralves

Casa-Museu Teixeira Lopes

Casa-Museu Abel Salazar

Casa Museu José Régio

Casa Museu Fernando de Castro

Museu Abade Baçal

Museu de Arte e Arqueologia de Viana do Castelo

Mosteiro de S. Martinho de Tibães

Museu Bernardino Machado

Museu da Fundação Cupertino de Miranda

Museu de Alberto Sampaio

Casa Museu da Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Pinheiro

Casa-Museu Ferreira de Castro

Museu Convento dos Lóios

Museu da Vista Alegre

Casa Museu Bissaya-Barreto

Mosteiro de Santa Clara-a-Velha

Museu Municipal Dr. António Simões Saraiva

Fundação Aquilino Ribeiro - Casa Museu e Biblioteca

Mosteiro de S. João de Tarouca

Museu de Arte Sacra

Museu Francisco Tavares Proença Júnior

Museu Judaico de Belmonte

Casa-Museu Frederico de Freitas

Museu de Arte Sacra

Museu Monte Palace

Museu Carlos Machado

MUSEU DE ÉVORA

Quinta do Quetzal

Museu da Graciosa

Museu da Horta

Museu de Angra

118

Museu do Pico

Museu de Ponta Delgada

Direção da cultura Açores

119

Apêndice 3: Questionário “Novas formas de financiamento em intervenções de conservação e restauro de bens culturais”

120

121

122

123

ANEXOS

Anexo 1: Carta de Atenas

124

125

126

127

128

Anexo 2: Convenção de Haia, 1954

129

130

131

132

133

134

135

136

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138

139

140

141

142

143

Anexo 3: Carta de Veneza

144

145

146

Anexo 4: Convenção para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural

147

148

149

150

151

152

153

154

Anexo 5: Documento de Copenhaga

155

156

Anexo 6: Carta de Cracóvia, 2000

157

158

159

160

161

Anexo 7: Declaração de Budapeste

162

Anexo 8: Convenção de Faro

163

164

165

166

167

Anexo 9: Lei n.º 107/2001 de 8 de setembro

168

169

170

171

172

173

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184

185

186

187

188

189

Anexo 10: Lei n.º 155/92 de 28 de junho

190

191

192

193

194

195

196

197

Anexo 11: Resolução do Conselho de Ministros n.º 14/2001

198

Anexo 12: Decreto Lei n.º 138/2009 de 15 de junho

199

200

Anexo 13: Decreto-Lei n.º 258/86 de 28 de agosto

201

202

Anexo 14: Lei n.º 102/2015 de 24 de agosto

203

204

205

206

Anexo 15: Capítulo destinado à conservação e restauro no Inquérito aos Museus em Portugal

207