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Novas Técnicas, Medicina do Trabalho e Saúde Hans-Ulrich Deppe* *Prof. Dr. Deppe, chefe do De- partamento de Sociologia Médi- ca da Uniklinikum, J. W. Goethe Universitãt Alemanha. Tradução: Marcelo F. de Souza Porto-Cesteh/Fiocruz Birgit Seyfarth de Souza Porto O artigo comenta os efeitos para a saúde e aspectos sociais relacionados à introdução das modernas tecnologias microeletrônicas no interior dos processos de trabalho, particularmente na República Federal da Alemanha. O autor faz considerações sobre alguns limites teóricos da Medicina do Trabalho para analisar e prevenir os problemas decorrentes desse processo. INTRODUÇÃO Novas técnicas, trabalho humano e saúde formam um contexto que está sendo, atualmente, discutido sob palavras de ordem tais como: crise econômica, desemprego, racionalização do trabalho, qualificação da força de trabalho e doenças provocadas pelo tra- balho. Como questão central deste trabalho, encontra-se a aplicação das novas técnicas. Por novas técnicas entendem-se os meios de trabalho que são autocontro- láveis ou autoprogramáveis. Alguns exemplos são as máquinas dirigidas por CNC (Controle Numérico Cen- tral), a automação de máquinas e processos, os compu- tadores, impressoras e caixas eletrônicas para bancos e supermercados (BIBB/IAB, p.8)*. Mas, sob a in- fluência destas técnicas, esse desenvolvimento não de- ve ser visto somente do ponto de vista tecnológico, pois traz consigo novas estratégias de acumulação do capital. Um movimento central dessas estratégias é a intensificação crescente do trabalho. Até agora, a discussão mais avançada refere-se ao significado desse desenvolvimento para a qualifica- ção, conhecimento e capacitação dos trabalhadores in- dustriais. Até o momento vêm-se negligenciando as *Nota do tradutor: Essa biblio- grafia refere-se a um estudo de- senvolvido na RFA nos anos 1985/86 pelo Bundesinstitut fur Berufsbildung.

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Novas Técnicas, Medicina do Trabalho e Saúde

Hans-Ulrich Deppe**Prof. Dr. Deppe, chefe do De-partamento de Sociologia Médi-ca da Uniklinikum, J. W. GoetheUniversitãt — Alemanha.

Tradução: Marcelo F. de Souza Porto-Cesteh/FiocruzBirgit Seyfarth de Souza Porto

O artigo comenta os efeitos para a saúde e aspectossociais relacionados à introdução das modernastecnologias microeletrônicas no interior dos processosde trabalho, particularmente na República Federal daAlemanha.O autor faz considerações sobre alguns limites teóricosda Medicina do Trabalho para analisar e preveniros problemas decorrentes desse processo.

INTRODUÇÃO

Novas técnicas, trabalho humano e saúde formamum contexto que está sendo, atualmente, discutidosob palavras de ordem tais como: crise econômica,desemprego, racionalização do trabalho, qualificaçãoda força de trabalho e doenças provocadas pelo tra-balho.

Como questão central deste trabalho, encontra-sea aplicação das novas técnicas. Por novas técnicasentendem-se os meios de trabalho que são autocontro-láveis ou autoprogramáveis. Alguns exemplos são asmáquinas dirigidas por CNC (Controle Numérico Cen-tral), a automação de máquinas e processos, os compu-tadores, impressoras e caixas eletrônicas para bancose supermercados (BIBB/IAB, p.8)*. Mas, sob a in-fluência destas técnicas, esse desenvolvimento não de-ve ser visto somente do ponto de vista tecnológico,pois traz consigo novas estratégias de acumulação docapital. Um movimento central dessas estratégias éa intensificação crescente do trabalho.

Até agora, a discussão mais avançada refere-seao significado desse desenvolvimento para a qualifica-ção, conhecimento e capacitação dos trabalhadores in-dustriais. Até o momento vêm-se negligenciando as

*Nota do tradutor: Essa biblio-grafia refere-se a um estudo de-senvolvido na RFA nos anos1985/86 pelo Bundesinstitut furBerufsbildung.

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implicações das novas cargas sobre a saúde decorrentesdesse processo. A discussão científica sobre esses pro-blemas está, ainda, se iniciando; ela surgiu no interiordo debate sobre doenças provocadas pelo trabalho esobre os efeitos para a saúde relacionados ao stress.A seguir, comentarei mais detalhadamente esse últimotema.

MUDANÇAS NA ESTRUTURA DE PRODUÇÃO

Geralmente, as condições de trabalho não são umfenômeno estático, pois transformam-se sob a influên-cia do desenvolvimento das forças produtivas. Por for-ças produtivas compreendo a técnica, a organizaçãodo trabalho e a força de trabalho humana. A transfor-mação das forças produtivas nas sociedades industriali-zadas é, evidentemente, caracterizada, desde o iníciodos anos 70, por um amplo surto de "cientifização"*.A implantação e aperfeiçoamento das técnicas dirigidaspor computadores levaram a uma alteração aceleradada estrutura da economia como um todo. A microele-trônica teve, inicialmente, uma ampla entrada no setorde prestação de serviços, que, de um modo geral,vinha se expandindo. O número de empregados ocupa-dos na produção vem decaindo, enquanto que o númerode empregados de serviços administrativos e sociaisvem aumentando. Isto tem grandes conseqüências paraa saúde da população trabalhadora. É conhecido que,na análise da diminuição dos acidentes de trabalho,deve ser dada grande importância à modificação daestrutura econômica, além da própria evolução da es-trutura legal relacionada à segurança do trabalho (Dep-pe, 1980, pp. 268-269).

De forma diferente dos anos 70, quando a introdu-ção de novas técnicas concentrou-se, quase que exclu-sivamente, nos setores de escritório e administração,com a chegada dos anos 80 a microeletrônica, também,alcançou os setores centrais do processo produtivoindustrial. A produção e a mobilização de meios detrabalho "computadorizados", tais como robôs indus-triais e máquinas-ferramenta CNC (de controle numéri-co) apresentam, desde há alguns anos, altas taxas decrescimento (Dolata, p.651). Este processo, porém,desenvolve-se de forma bastante lenta. De uma formageral, o emprego de técnicas de base computadorizadana produção ainda é baixo em meados dos anos 80.Até agora só podemos constatar uma realmente amplautilização das novas técnicas nos setores administra-tivos e burocráticos das empresas. A utilização dessastécnicas diminui à medida em que estas se aproximamda produção direta, restringindo-se, basicamente, aalguns setores de fabricação e montagem. A construçãode sistemas de produção mais complexos e integrados,

*Nota dos tradutores: Embora apalavra "cientifização" não façaparte do dicionário Aurélio, pre-ferimos adotar esse neologismo,que significa a utilização de co-nhecimentos científicos aplica-dos.

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*Nota dos tradutores: "Sistemasde fluxo de material" é a tradu-ção literal de Material Flussyste-me. No Brasil, profissionais deengenharia constumam usar a si-gla MRP (Material Require-ment Planning), que é uma téc-nica de otimização de fluxos dematérias-primas na produção.

tais como sistemas flexíveis de manufatura ou "siste-mas de fluxo de material"* encontram-se, na maioriadas vezes, em fase de teste e experimentação. E, nasgrandes empresas, o desenvolvimento encontra-se con-sideravelmente mais avançado do que nas pequenase médias (Nuber et al., pp. 7 e seguintes).

No que se refere à estrutura profissional, as novastécnicas vêm gerando poucas atividades profissionaistotalmente novas. Entretanto, vêm afetando marginal-mente as estruturas tradicionais das profissões. As no-vas técnicas vêm sendo implementadas nas profissões,cada vez mais, como um instrumento de trabalho ecomo acessório de outros, sem, contudo, modificar,até agora, o núcleo estrutural das atividades e tarefasinerentes às profissões. A implementação, em quasetodos os setores do escritório, do processamento mi-croeletrônico de dados — PMD —cumpre o mais impor-tante papel nesse processo. Em 1987, trabalhavam como PMD cerca de 3 vezes mais assalariados (16%) doque em 1979 (5%) (BIBB/IAB, p. 310).

Com o estabelecimento dessa profunda transfor-mação da produção industrial no início dos anos 80,cujo objetivo era o da renovação da técnica e remode-lação da organização do trabalho do sistema de fábrica,tendo por base as técnicas de computação e informáti-ca, as exigências de saúde e de qualificação profissio-nal relacionadas à força de trabalho vêm se modifi-cando. Surgem de forma acentuada atividades tais co-mo controle, supervisão, operação e planejamento. Oalto custo das instalações microeletrônicas e o inte-resse de uma acelerada circulação de capital levama uma enorme intensificação do trabalho. O ritmo detrabalho cresce, e o próprio trabalho fica mais concen-trado. O tempo de trabalho é prolongado. Máquinasfuncionam com mais freqüência, dia e noite. O ritmode trabalho e a estrutura de comunicação tradicionaismodificam-se. Como resultado de tudo isso, surgemnovas exigências para os trabalhadores. Estas podemser resumidas da seguinte forma: onde estão aconte-cendo transformações nas condições de trabalho, de-correntes das novas tecnologias, tem-se como conse-qüência, de uma forma geral, a diminuição de traba-lhos, tais como levantamento e carregamento de cargaspesadas; trabalhos diretos com óleos, lubrificantes etrabalhos "sujos"em geral; posições e posturas corpo-rais forçadas e cansativas. Em contraposição, os traba-lhadores que permanecem na produção estão expostos,com mais freqüência, a riscos de acidentes e riscospara a saúde. Também, as condições de iluminaçãonos locais de trabalho tornam-se, geralmente, maisdesfavoráveis que em outros locais. No que se refereao ruído, as melhorias e pioras tendem a se equilibrar.

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Em relação à organização do trabalho, os prejuí-zos superam as melhorias. Aqueles que trabalham comas tecnologias modernas têm o seu campo de açãomais limitado e precisam realizar trabalhos noturnose em turnos com mais freqüência. Eles devem enfren-tar, ao mesmo tempo, novas tarefas e controlar váriostrabalhos, simultaneamente. Isto está relacionado aesforços de concentração mais freqüentes e a umamaior responsabilidade. Além disso, tem de se traba-lhar, com mais freqüência do que antes, sob uma fortecobrança de rendimento e prazos de execução. Adicio-nalmente, as dificuldades geradas pelas máquinas epela organização do trabalho aumentam as exigênciasdo sistema nervoso (BIBB/IAB, pp. 330, 374, 377).

A "cientifização" da produção, a automação eas novas técnicas exigem do trabalho vivo elevadascargas mentais e psíquicas. Em conseqüência disto,o nível de qualificação profissional vem apresentando,durante as últimas décadas, uma tendência de maiordesenvolvimento. Isso ocorre, principalmente, naque-les ramos onde a alta tecnologia é produzida e utiliza-da. Exigências mais complexas de conhecimento e umaresponsabilidade mais elevada se manifestam subjetiva-mente nos trabalhadores, através de uma maior identifi-cação com a atividade de trabalho. Situações de traba-lho diversificadas, uma ligação mais estreita com oconteúdo do trabalho, um maior interesse no domíniodas técnicas modernas de produção, a possibilidadede influenciar ativamente as modificações no processode trabalho, a percepção subjetiva da importância doseu próprio trabalho individual, todos esses fatoreslevam a uma motivação positiva na atitude diante dotrabalho. Aqueles que encaram o seu trabalho nãoapenas como uma obrigação alienadora para sua sobre-vivência material podem vivenciar uma certa satisfaçãoem sua atividade profissional. Entretanto, as expe-riências de trabalho subjetivas podem se tornar fontesde distúrbios de saúde psicossociais, e isso acontecequando essas experiências geram cargas excessivas ouinadequadas de trabalho. Tem uma influência decisivanesse caso a discrepância entre as exigências de rendi-mento e as possibilidades reais ou subjetivas percebi-das pelo indivíduo de corresponder a estas exigências.As motivações, inicialmente positivas, são vividas,então, como aborrecimento, medo, agitação, impasse,exigências excessivas, exaustão — ou seja, alteraçãodo equilíbrio emocional —, e são, não raramente, oponto de partida para enfermidades orgânicas e, deum modo geral, resistentes à terapia, caso permaneçamdurante anos no indivíduo.

Sob a influência das novas técnicas, as estratégiasde flexibilização — que se adequam parcialmente àsnecessidades da formação de um trabalho autônomo,

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com maior autodeterminação sobre o tempo e ativida-des mais criativas — dissolveram formas tradicionaisde cooperação e comunicação presentes nas empresas.Amplia-se a disposição ao trabalho individual e dimi-nuem as experiências coletivas de trabalho. Esta ten-dência de individualização das tarefas é acompanhadade um desenvolvimento geral da sociedade, voltadopara um maior consumo e estilo de vida individual.Este desenvolvimento, por sua vez, é utilizado pelasestratégias políticas conservadoras como elemento demobilização contra movimentos de defesa dos direitoscoletivos e sociais. Dessa forma, é reforçado, também,o modo individual e privado de ver as doenças e serelacionar com elas. O paradigma tradicional da doen-ça, orientado para disfunções de órgãos individuaise o comportamento individual inadequado, e que serve,até hoje, de fundamento da Medicina, é, até certoponto, reafirmado publicamente, embora a relação en-tre as doenças coletivas da população com as condiçõesde trabalho, do meio ambiente e de vida não possamais ser negada cientificamente. Torna-se especial-mente clara essa relação, ao mesmo tempo em quese aceitam "práticas" preventivas. Quando muito, es-tas se referem a diagnósticos preliminares, mudançasde comportamento, falhas humanas, ou seja, coloca-seem evidência a culpa individual. O processo de discus-são público e coletivo da doença como um fenômenosocial — e aqui especialmente relacionado ao trabalho—, doença que também só poderá ser transformadase levarmos em consideração as situações específicasda sociedade e as relações sociais, vem se dando,entretanto, de forma extremamente lenta.

Com a introdução da moderna tecnologia microe-letrônica e sua intensa racionalização, tendo como pa-no de fundo a crise estrutural e conjuntural da socieda-de, surge em toda a Europa Ocidental, a partir dosanos 70, um claro aumento do desempenho. Na Ingla-terra, França e na República Federal da Alemanha,o nível de desemprego registrado, atualmente, é de10%, e, em alguns países, superior a esse valor. Apesarde os países da Europa Ocidental possuírem seguro-de-semprego e os desempregados desses países receberemdinheiro do Estado, deve se entender o desempregoinvoluntário como uma pesada carga para a saúde.Também as famílias, cuja estrutura tradicional de apoiovinha sofrendo uma forte transformação, não podemmais ser de grande ajuda. Doenças tais como as corona-rianas, a hipertensão e as artrites são reforçadas, oalcoolismo, abuso de drogas e suicídio aumentam e,em média, a expectativa de vida daquelas faixas commaior nível de desemprego é nitidamente menor (Wac-ker, Thomann, Weltgesundheitsorganisation, p. 9 eseguintes). A massa dos desempregados, o exército

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industrial de reserva, tem um efeito, também, dentrodas fábricas e influencia o comportamento dos quetêm um lugar de trabalho. O exército industrial dereserva achata os salários, favorece atitudes perigosasno trabalho, reforça o medo de se perder o empregoe estimula o aumento de produção.

Por fim, sob o aspecto "Mudança na Estruturade Produção e Saúde", deve ser acentuada uma evolu-ção internacional. Hoje em dia, a transferência deprocessos de produção para países em desenvolvimentonão se dá, apenas, em função da força de trabalhomais barata. Pelo contrário, cada vez mais, processosde trabalho degradantes para a saúde, que nas naçõesindustrializadas não podem mais existir em função daluta dos trabalhadores, são exportados para países doterceiro mundo. O mais conhecido exemplo e o asbes-to. Tem-se, então, um deslocamento de riscos e cargasem escala internacional (Ives).

Já os aspectos: desenvolvimento da estrutura eco-nômica, desenvolvimento tecnológico, crise e desem-prego e a exportação de riscos para a saúde mostramque o problema "trabalho e saúde" não pode ser redu-zido somente ao nível da empresa, mas possui umadimensão social e política que vai além do espaçoda empresa. Antes de voltar a falar dessas questões,vamos aprofundar a discussão sobre a transformaçãoda estrutura de cargas para a saúde e a maneira comque se vem lidando com isso.

AS DIVERSAS FORMAS DE CARGA E SEUSDISTÚRBIOS PARA A SAÚDE

Cargas Tradicionais e Corporais

Apesar da mecanização e automação dos proces-sos de trabalho estarem progredindo, os trabalhos físi-cos pesados vêm apenas lentamente perdendo impor-tância no processo de produção. Na Alemanha Federal,cerca de 23% dos assalariados são obrigados a traba-lhar com ferramentas pesadas e a movimentar cargaspesadas, principalmente nas minas, construção civile siderurgia. Eles estão expostos a esforços físicospesados. Adicionam-se a esses os trabalhos de linhade montagem e outros similares, onde o ritmo de traba-lho é fortemente condicionado pela produção, totali-zando cerca de 700.000 pessoas. Típicos aqui são ostrabalhos monótonos e estáticos.

Os danos à saúde, que têm sua origem nos traba-lhos físicos pesados, manifestam-se como fenômenode desgaste do aparelho esquelético, principalmentesobre a coluna e articulações das pessoas. Além disso,os acidentes de trabalho mais graves e freqüentes acon-tecem onde se realiza o trabalho físico pesado.

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Outras cargas e prejuízos à saúde decorrem doambiente de trabalho. Ao lado do projeto das máqui-nas, exercem um importante papel como fator de cargaas influências climáticas, visuais e auditivas dos am-bientes de trabalho. De grande importância são o ruí-do, temperatura, ventilação, poeira, umidade, ilumina-ção vibração e os gases tóxicos. Assim como nos traba-lhos físicos pesados, essas cargas são parcialmentereduzidas à medida em que os homens se afastam doprocesso de trabalho direto.

Entretanto, cresceram as doenças de pele, princi-palmente as alergias. Isso se deve à crescente introdu-ção de substâncias químicas não-analisadas ou fiscali-zadas nos processos de trabalho.

Deve ser mencionado, especialmente, sob o as-pecto ambiente de trabalho e danos à saúde, o casodo câncer ocupacional. Levantamentos realizados naAlemanha Federal mostram que o percentual de mortespor câncer em trabalhadores do setor químico é signifi-cantemente maior do que a média da sociedade, princi-palmente nos casos dos trabalhadores em atividadehá muitos anos nesse ramo. Já está provado que osamino-aromáticos causam câncer de bexiga, asbestoe ácido sulfúrico causam tumor de pulmão e nitritosprovocam câncer de estômago (Horbacher, Loskant,pp. 23, 160 e 161).

Embora as cargas ambientais e as relacionadasao trabalho físico pesado tenham diminuído levemente,devemos supor que as condições de trabalho com des-gaste físico ainda permanecem freqüentes. Dessa for-ma, dos assalariados alemães, trabalham sempre oufreqüentemente:

- 25% (5,2 milhões) sob ruído;- 23% (4,8 milhões) com levantamento ou carrega-

mento de cargas pesadas;- 21% (4,3 milhões) sob a influência do frio, umida-

de, calor e correnteza;- 20% (4,1 milhões) com óleos, graxas e sujeiras;- 15% (3,1 milhões) em posições curvadas, agacha-

das, ajoelhadas ou deitadas.(Bundesinstitut, P. 315)

Se levássemos em consideração os estrangeiros,esses percentuais seriam bastante mais elevados.

Vale dizer que o emprego das técnicas modernasleva pouco em consideração esses problemas de cargaà saúde, mas, pelo contrário, atendem aos interessesdo capital (por ex., a racionalização). A aplicaçãodestas técnicas ocorre onde as cargas físicas são relati-vamente pouco freqüentes (Bundesinstitut, pp.323-324, 375).

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Cargas Psicossociais e Novas Técnicas

O espectro das doenças cresceu nas décadas pas-sadas. As doenças crônico-degenerativas aumentaram.Além da maior duração de vida, estão sendo responsa-bilizados por isso fatores relacionados ao trabalho,ambiente e estilo de vida. Dá-se uma maior importânciaao componente psicossocial na determinação da origeme evolução das doenças.

No local de trabalho, o ritmo de trabalho aumen-tou, as pausas foram eliminadas, o trabalho sob pressãoe o estresse se difundiram. Um grande número deassalariados sente-se com os "nervos sobrecarregados"e "estressados". Mais comuns e com uma tendênciade aumento encontram-se, atualmente, os trabalhoscom:- elevada concentração (48% ou 9,9 milhões de assa-

lariados);- processos de trabalho monótonos (47% ou 9,7 mi-

lhões);- forte pressão de tempo e eficiência (44% ou 9,1

milhões).(Bundesinstitut, pp. 317-318)

As relações entre estresse provocado pelo traba-lho e doenças cárdio-vasculares esclarecem-se, cientifi-camente, cada vez mais. Não somente observa-se queas doenças cárdio-vasculares são o "assassino númerol" — com uma tendência de aumento —, como tambémlevantamentos empíricos de cargas nas empresas con-firmam essa correlação (Maschewsky, Friezewsky,Scharf).

Mas, também, outras novas cargas trazem conse-qüências tais como: responsabilidade elevada, pontua-lidade e o lidar com máquinas caras e interrelacionadas,onde cresce um medo não-expresso de falhas. A issoacrescentamos que a cooperação e a comunicação nolocal de trabalho tornam-se cada vez mais difíceis,em conseqüência de um crescente isolamento. Isso levaa um sentimento de indisposição, desinteresse, irrita-ção e fadiga. Ao mesmo tempo, é exigida, não rara-mente, uma elevada e constante atenção.

No contexto das cargas psicossociais é conferidagrande importância aos distúrbios neuro-vegetativos.Diferentes levantamentos concluem que certas ativida-des estão relacionadas com distúrbios do bem-estar*,tais como mudanças de paladar, falta de apetite, verti-gem, dor de cabeça, cansaço contínuo e, simultanea-mente, insônia e um sentimento contínuo de intranqüi-lidade interior. As pessoas afetadas são, geralmente,consideradas "saudáveis" pelos exames médicos, ape-sar de se sentirem subjetivamente mal. É notável quetais distúrbios de bem-estar, em se reconhecendo as

*Nota dos tradutores: Distúrbiosdo bem-estar é a tradução literalde "Stõrungen des Wohlbefin-dens". Entretanto, essa expres-são não é tradicionalmente utili-zada, no Brasil, pela categoriamédica, que adota a expressão"queixas vagas" para se referira sintomas genéricos que nãochegam a formar quadros clínicosespecíficos. Preferimos manter atradução.

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cargas, podem perfeitamente ser explicados por hipóte-ses plausíveis. Apenas, nesses casos, não se trata de"conhecimentos científicos oficialmente comprova-dos".

Distúrbios de bem-estar podem ter causas bastan-te diversas; assim, a dor de cabeça pode ser causadatanto pelo ruído, como por tintas e solventes, pelotrabalho sob pressão de tempo, onde o salário é pagopor produção, ou por exigências contraditórias noslocais de trabalho. A mesma coisa pode acontecer comos distúrbios de estômago e doenças reumáticas.

Além disso, discute-se se os distúrbios de bem--estar não poderiam ser o ponto de partida para poste-riores "doenças clássicas". Assim, temos de perguntarse a dor de cabeça crônica não contribuiria para ahipertensão e se os distúrbios gástricos, posteriormen-te, não poderiam levar a uma úlcera estomacal.

Por isso, defende-se a tese de que os distúrbiosde bem-estar têm de ser considerados como sensoresdas cargas presentes nas empresas. Estes distúrbiossão muito mais sensíveis do que as doenças que semanifestam a posteriori e podem captá-las ainda nu-ma fase inicial de desenvolvimento. Ganham, então,uma especial importância no diagnóstico prévio dasdoenças.

As normas de organização do trabalho tambémcontribuem para o aumento das cargas. Nesse contex-to, devem ser lembrados os sistemas de avaliação dotrabalho e de pagamento por produção (prêmios). Espe-cialmente consideráveis são as modificações nos escri-tórios e setores de serviços. Aí pode ser observadauma contínua transição do pagamento por tempo detrabalho para diversas formas de pagamento por produ-ção. O trabalho é intensificado por meio de estímuloseconômicos. Assim, os fatores de carga são aumenta-dos e concentrados, as exposições ficam mais extensase contínuas e aceleram o surgimento de prejuízos àsaúde. É aproveitada nesses casos a situação de confli-to entre duas necessidades elementares dos assalaria-dos: as de curto prazo, relacionadas ao aumento dosrendimentos, e as de longo prazo, relacionadas à manu-tenção da saúde.

O tempo de trabalho, nas nações industrializadas,é discutido, nos últimos anos, cada vez mais comofator de carga. Do ponto de vista da saúde, dois aspec-tos desempenham um papel especial: primeiro, a dura-ção do tempo de trabalho (por dia, por semana), e,segundo, a característica do tempo de trabalho (diurnoou noturno).

Em função não só da forte racionalização tecnoló-gica, acompanhada de desemprego, mas também dacrescente intensificação do trabalho que resulta emcargas para a saúde, vem sendo levada pelos sindicatos

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da Europa Ocidental (porém com diferentes forças)uma luta pela diminuição do tempo de trabalho, Atual-mente aspira-se, na RFA, à semana de 35 horas. Atéo final de 1988, 14,6 milhões de assalariados (64,3%)alemães possuíam contratos coletivos de trabalho commenos de 40 horas semanais. Porém, uma parte dessescontratos entravam em vigor somente entre 1989 e1990. No final, a média de horas trabalhadas entreos que participavam de contratos coletivos de trabalhoera de 38,97 horas (Clasen, p. 19).

Em relação ao segundo aspecto, sob o tema tempode trabalho e cargas para a saúde, vem sendo discutidoo trabalho noturno e em turnos. Com o aumento doemprego de máquinas caras, o capital — para cumprirseus objetivos de acumulação — está interessado emque as máquinas não parem, e funcionem dia e noite.Isto tem como conseqüência que, nos últimos 20 anos,o trabalho noturno e em turnos se expandiu nitida-mente. Atualmente, na RFA, cerca de 18% dos assala-riados trabalham em turnos e 15% durante a noite,no horário das 22:00 às 6:00 horas. O ponto finalda expansão do trabalho noturno e em turnos parece,ainda, não ter sido alcançado.

Em relação ao significado do trabalho noturnopara a medicina do trabalho, hoje sabemos, atravésde levantamentos empíricos, que não se pode invertero ritmo circadiano de funções fisiológicas, tais comoa regulação de temperatura, o trabalho do sistema cár-dio-circulatório e dos sistemas neuro-vegetativo e hor-monal das pessoas com trabalho noturno. As causasdesses problemas costumam ser associadas às condi-ções sociais de vida. Dessa forma, o trabalho noturnorepresenta uma carga especial para os trabalhadores.É uma atividade que vai de encontro à natureza huma-na. Sob tais condições, trabalhadores e funcionáriossão obrigados a aumentarem sua disposição de produ-zir, recorrendo às suas reservas de energia para satisfa-zer às exigências do trabalho noturno. Por isso, pode-se dizer que este é um fator de risco para os assalaria-dos, constituindo-se, sempre, um trabalho patológicoe desumano.

Através de numerosos levantamentos,são conheci-dos os seguintes distúrbios de saúde decorrentes dostrabalhos noturnos e em turnos:— nos trabalhadores noturnos, o tempo de sono é bas-

tante reduzido; ele se limita, em média, a de 4a 6 horas por dia;

— são sempre mencionados distúrbios de bem-estartais como: dor de cabeça, irritabilidade, intranqüi-lidade e fadiga, falta de apetite e aumento da neces-sidade de fumar;

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— os trabalhadores com turnos combinados com turnonoturno sofrem de 2 a 3 vezes mais distúrbios gas-trointestinais do que os trabalhadores diurnos.

CARGAS SINERGÉTICAS E CARGA TOTAL

Normalmente, as cargas atuam raramente de for-ma isolada. Como regra, podem ser encontrados dife-rentes tipos de carga atuando de forma combinada.Trata-se, principalmente, de cargas sinergéticas, co-mo, por exemplo, quando se tem de trabalhar à noite,com ruído e sob pressão. Disso resultam dificuldadespara a medicina — principalmente quando ela tentadescobrir a causa da doença a partir dos seus sintomasespecíficos. A carga que desencadeia a doença nãoprecisa ser a carga causadora. Pode acontecer que elanão tenha como conseqüência distúrbios para a saúde,a não ser somada a cargas suplementares.

Um exemplo: considerando a pressão de tempono local de trabalho como uma contínua sobrecarga,cargas específicas — possivelmente até pequenas —podem ser suficientes para levar a doenças ou distúr-bios de bem-estar não-específico. Certas doenças oudistúrbios de bem-estar seriam, nesse caso, definidos,então, por cargas suplementares, talvez causais, oupela forma como aqueles que possuem certas caracte-rísticas constitucionais processam estas cargas. Con-cretamente, isso quer dizer que, numa situação comumde constante sobrecarga por pressão de tempo, umtrabalhador, sob a ação de carga adicional com gasese vapores, pode facilmente ser levado a ter bronquite,e outro, sob a ação de carga adicional com posturasforçadas, a ter distúrbios reumáticos. Outro exemplo:na situação comum de constante sobrecarga por pres-são de tempo, um ruído suplementar ou uma elevadaresponsabilidade pode levar num caso, à hipertensãoe, no outro, à insônia, dependendo do processamentoespecífico ou da constituição de cada pessoa. Torna-seóbvio, assim, que, para uma afirmação confiável daetiologia e patogênese da doença, é necessário umconjunto de conhecimentos, e que relacionar direta-mente o sintoma com a causa pode ser uma simplifi-cação.

O reconhecimento dessa relação fez com que adiscussão sobre carga, nos últimos anos, cada vez maisse defrontasse com a noção de carga total. O caminhopara a investigação de todas as cargas parciais mos-trou-se infrutífero. Por isso, desde a metade dos anos70, questionários estão sendo submetidos aos assalaria-dos. Nesse contexto, as pessoas têm se ocupado emresponder quais são os fatores de carga que aparecemcom mais freqüência, sozinhos ou de forma combinada.

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O resultado foi o seguinte:— 60% dos assalariados estão expostos regularmente

a um ou mais tipos de carga;— dessas pessoas, 21% sofrem o efeito de duas ou

três cargas, simultaneamente;— outros 11% trabalham sob até 4 ou 5 cargas e;— 9% recebem o efeito de 6 ou mais (máximo de

10) cargas, simultaneamente (BIBB/IAB, p.317).Como cargas mais freqüentes podem ser mencio-

nadas: estresse, monotonia, concentração, trabalho emturnos e ruído. Os trabalhadores são fortemente atingi-dos, possuindo, ainda hoje, as condições de trabalhoas mais difíceis. Atualmente, um entre dois trabalha-dores está exposto a três ou mais cargas, simulta-neamente.

QUAIS AS DOENÇAS OCUPACIONAISRECONHECIDAS?

A partir desse pano de fundo, é útil e razoávelobservar com atenção as doenças ocupacionais reco-nhecidas na República Federal da Alemanha. Comoreconhecidas entende-se que tais doenças são indeniza-das pelo seguro-acidente e pagos seus tratamentos mé-dicos. Segundo essa definição, as doenças ocupacio-nais são claramente delimitadas e estabelecidas pelaportaria para doenças ocupacionais do governo alemão,podendo ocorrer em certas atividades. O caminho for-mal para o reconhecimento legal de uma doença ocupa-cional é determinado da seguinte forma: caso um médi-co ou dentista tenha suspeita fundamentada de queo segurado tenha uma doença ocupacional, ele deverá,então, avisar o seguro-acidente sobre o fato. Em segui-da, o seguro-acidente recolherá o parecer (Berufs-krankheiten-Verordnung, pp. 334-337). O relato deuma doença representa, então, principalmente, um fatojurídico relacionado ao seguro, e não um fato médicosistemático. Atualmente, segundo a portaria alemã,55 grupos de doenças estão sendo chamadas de doençasocupacionais, as quais são causadas por substânciasquímicas, efeitos físicos, agentes infecciosos ou fenô-menos de desgaste. As mais freqüentes doenças ocupa-cionais reconhecidas são surdez por ruído, silicose,doenças infecciosas, danos do menisco, tendinites edoenças de pele. Assim, já se pode observar queesse modelo das doenças ocupacionais exclui uma gran-de parte dos distúrbios de saúde provocados pelo traba-lho. Por isso, diz-se, com razão, que se trata de umfenômeno tipo iceberg. Isto significa que, quandomuito, somente a ponta do fenômeno é observável.Um dos "principais motivos" apontados para explicareste fator é o regulamento que obriga o pagamentointegral por parte das empresas dos custos dos aciden-

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tes de trabalho e doenças ocupacionais — o seguro-aci-dente legal —, enquanto que o pagamento do seguro--saúde é pago pelos empresários apenas pela metade.Com isso, as empresas diminuem seus custos globais,livrando-se das doenças ocupacionais, que são assumi-das pelo seguro-saúde comum.

A inclusão de novas doenças na lista oficial dedoenças ocupacionais depende não apenas de conheci-mentos médicos, mas, também, de influências jurídi-cas, econômicas e políticas. Assim, a discussão públicasobre condições de trabalho prejudiciais, o desenvolvi-mento econômico ou o poder de grupos de interessetêm uma influência considerável. Isso parece ser umaexplicação, numa comparação internacional, do porquêde tantas diferenças nas listas oficiais de doenças ocu-pacionais.

COMO ESTÁ ORGANIZADO O PAPELPREVENTIVO DA MEDICINA EMRELAÇÃO AO TRABALHO?

Na maioria dos países da Europa Ocidental exis-tem leis que regem a prevenção no trabalho. Essasleis são o resultado da luta dos trabalhadores e repre-sentantes, não raramente, um compromisso entre aclasse trabalhadora e o capital. O capital obtém produ-ção e acumulação "pacíficas", concedendo saláriosmais elevados. A efetivação de tais leis na realidadedas empresas não ocorre por si mesma, mas sim comoresultado da pressão massiva dos trabalhadores direta-mente atingidos e seus sindicatos. Essas leis determi-nam, em princípio, que as empresas devem empregarespecialistas em segurança e medicina do trabalho,os quais podem executar seus trabalhos de forma maisou menos independente — isso depende de muitas con-dições. A formação profissional dos especialistas emsegurança do trabalho é muito diversa. Atualmente,vem se formando um quadro nos sindicatos europeusno sentido de reivindicar critérios comuns.

Na RFA, são tarefas do médico da empresa: cola-boração, apoio e aconselhamento para a gerência daempresa e para a comissão de fábrica, exames e aconse-lhamentos aos empregados, bem como inspeções geraise nos postos de trabalho, para supervisionar as condi-ções de trabalho e segurança. Ele deve contribuir paraa melhoria das condições de trabalho e para a lutacontra os acidentes de trabalho. O poder decisório— por exemplo, a respeito de uma situação de riscoiminente — ele não possui. A maior parte do seu tempode trabalho é gasta em exames para admissão e primei-ros socorros. A orientação desses profissionais e forte-mente direcionada para as doenças ocupacionais ofi-

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cialmemte reconhecidas. O campo das cargas de traba-lho — já detalhadamente comentadas nesse texto eque, no momento, tomam-se cada vez mais importan-tes nas industrias modernas — é bastante desprezado.Essa orientação tem a ver, de um lado, com o fatode que os aspectos financeiros e de direito previden-ciário tornam relevantes somente as doenças ocupacio-nais reconhecidas, mas, por outro lado, está relaciona-da, também, ao fato de que a medicina do trabalhoé, ainda, fortemente orientada pelas ciências naturaisbaseadas numa única dimensão.

MEDICINA DO TRABALHO E SEUS LIMITES

Nesse contexto, parece-nos razoável fazer algu-mas considerações teóricas sobre a medicina do traba-lho enquanto ciência. Os fundamentos da medicinado trabalho que atualmente predominam são decorren-tes da patologia do trabalho, fisiologia do trabalhoe toxicologia do trabalho. Esses fundamentos corres-pondem a uma concepção de doenças causadas pelotrabalho, que se cristalizou, principalmente, durantea fase de mecanização dos processos industriais detrabalho.

A patologia do trabalho está ligada à clínica mé-dica. Ela se localiza no final da evolução da doença— quando já existe, então, o dano à saúde manifesto— e conclui, a partir daí, as respectivas causas poten-ciais. Ela é rigidamente orientada por uma perspectivaorganicista e tem como fundamento um conhecimentomonocausal do tipo causa-efeito. A patologia do traba-lho tem grande importância no reconhecimento dasdoenças ocupacionais.

A fisiologia do trabalho, da qual surgiu a medi-cina do trabalho nos anos 20, — uma época onde tam-bém surgiram a sociologia do trabaho e a psicologiado trabalho — se ocupa basicamente da capacidadeda força de trabalho humana. Ela está fortemente liga-da a conhecimentos de engenharia, tal como a ergono-mia. Aqui se vê mais nitidamente a relação com amecanização industrial. No centro, encontra-se o mo-delo fisiológico de estímulo-resposta, que limita o tra-balho humano às características mensuráveis do siste-ma homem-máquina. A concepção hoje em dia maisconhecida é a do modelo de exigência de cargas. Comocarga entende-se aqui o conjunto de todas as influên-cias relacionadas às tarefas e ao ambiente de trabalhoe que afetam o homem trabalhando. Essas influênciassão captadas pelo sistema sensitivo e estabelecem exi-gências ao sistema efetor (músculos, órgãos). A fisio-logia do trabalho tende a desenvolver seus conheci-mentos em situações de laboratório isoladas. Dela pro-

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vieram conhecimentos importantes para o projeto doposto de trabalho e ela contribuiu essencialmente paraa taylorização do trabalho.

A toxicologia do trabalho se ocupa das atividadesbiológicas das substâncias no organismo humano. Elabusca analisar experimentalmente a relação entre dosee resposta de substâncias no organismo humano. Noseu centro encontram-se a investigação sobre os valo-res limites e considerações sobre a concentração máxi-ma para substâncias perigosas no posto de trabalho.Na RFA existe, atualmente, uma lista com valoresmáximos permissíveis de cerca de 400 substâncias,embora no processo de trabalho industrial sejam utili-zadas cerca de 60.000 (Milles, Myller, p. 209). Tam-bém, nesse contexto, vale a pena mencionar que adeterminação oficial e o reconhecimento dos valores--limites não se dão somente a partir de conhecimentoscientíficos. Exemplos impressionantes a serem lembra-dos, embora fora da área trabalhista, são o debatepúblico sobre a catástrofe de Chernobyl, e a decisãosobre os valores-limites, várias vezes reformulada pormotivos políticos. Além disso, infelizmente, nada evi-dencia que os valores-limites reconhecidos de formamais severa em outros países semelhantes à RFA sejamassumidos da mesma forma pela Alemanha Federal.Sem dúvida, nas últimas décadas, a patologia, a fisio-logia e a toxicologia do trabalho trouxeram importan-tes contribuições para a medicina do trabalho. Masas insuficiências e deficiências desses fundamentosteóricos da medicina do trabalho na resolução dos pro-blemas relacionados ao fenômeno "doença e trabalho"levaram, nos últimos 15 anos, a um processo de profun-da crítica. Isso se deve, em grande parte, ao fatode a medicina do trabalho não corresponder ao quedela se esperava com relação à modernização do pro-cesso de produção e aos efeitos para a saúde dos assa-lariados.

Esses três campos — clínica, fisiologia e toxicolo-gia — são, freqüentemente, citados como críticos, poiseles se utilizam somente de métodos das ciências natu-rais, que analisam os órgãos humanos de forma isoladae dissociados uns dos outros. E, quando observamo homem na sua totalidade, o fazem, no máximo,dentro de uma concepção de um indivíduo biológicoabstrato. Isso contradiz o conhecimento fundamentalde que o homem, ao trabalhar, o faz dentro de relaçõessociais e, assim, desenvolve sentimentos, medos e ne-cessidades, que não devem ser negligenciados na ori-gem das doenças.

Outra crítica a esses três campos é a de que elespartem de uma relação monocausal do tipo causa-e-feito. Isso significa que uma carga é considerada acausa de distúrbios bem específicos de saúde. Isso

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acontece apenas raramente. Na realidade das empresas,normalmente, uma grande variedade de cargas afetao trabalhador simultaneamente. Elas se influenciamumas às outras. Assim, por exemplo, substâncias preju-diciais à saúde podem não causar nenhum efeito; maspodem, também, interagir com outras cargas e, comisso, terem um efeito mais forte — ou, ainda, agiremsimultaneamente com outras e se tornarem mais inofen-sivas. Todas essas possibilidades são conhecidas. Adeterminação de valores-limites para cargas específicasdeve ser, então, encarada como de caráter limitado.

Um aspecto que não vem sendo considerado éa utilização de outros métodos científicos, tais comoa Epidemiologia descritiva e analítica para a investiga-ção de questões centrais da medicina do trabalho. Issoimplica descobrir e definir situações de trabalho nasquais ocorra uma acumulação de cargas com efeitosprejudiciais à saúde. Outro ponto negligenciado sãoas experiências práticas e concretas dos sujeitos atingi-dos no posto de trabalho, ou seja, dos homens quelá trabalham. Eles são encarados, no máximo, comoobjetos de investigação da medicina do trabalho. Mas,nesse meio-tempo, ficou claro que, especialmente parao diagnóstico precoce e intervenção preventiva, esteproblema não deve ser negligenciado. Na prática damedicina do trabalho, critica-se que ela, partindo deum pensamento mecanizado homem-máquina, promovaa adaptação do homem ao posto de trabalho já previa-mente definido, através dos exames admissionais eperiódicos. Além disso, ela está direcionada para oatendimento de primeiros socorros na empresa, partin-do, assim, de uma perspectiva puramente curativa.Medidas de prevenção, por serem geralmente caras,são realizadas apenas sob pressão política e/ou finan-ceira.

A medicina do trabalho vigente, que reivindicaa tematização de todo o contexto das relações entresaúde e trabalho, é criticada por sua abordagem redu-cionista. Exige-se, assim, uma consideração integralda relação entre trabalho e saúde.

Por que se exibe aqui tão detalhadamente a críticada medicina do trabalho nos seus fundamentos teóricose na sua pratica? A intenção não é desvalorizarmosos conhecimentos e progressos das ciências naturais,nem negá-las como uma importante base da medicina.Isso seria um grave mal-entendido! Porém, é nossaintenção criticar a pretendida hegemonia da medicinabaseada exclusivamente nas ciências naturais, pois,dessa forma, a discussão sobre aspectos específicosda doença é assumida como totalidade, e atividadesenvolvendo aspectos não menos importantes são rele-gadas ou reprimidas. Que este reducionismo hegemô-nico não pode ser bem-sucedido demonstra diariamente

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*Nota dos tradutores: O autorse refere aqui ao que se poderiatraduzir literalmente por "doen-ças populares" (Volkskrankhei-ten, em alemão). Seriam algu-mas doenças freqüentes na popu-lação, embora sem gravidade —por ex; as gripes — e certossinais e sintomas específicos —por ex., dores de cabeça e in-sônia.

o aumento de certos problemas de saúde freqüentesna população*, muitas vezes condicionados pelo traba-lho e pelo ambiente. Hoje em dia, a arrogante medicinabaseada nas ciências naturais na Europa Ocidental de-fronta-se com essas doenças sem nada poder fazer paraexplicar suas causas e indicar terapias.

Nesse contexto, faz sentido chamar a atençãopara mais um aspecto fundamental da medicina dotrabalho, que vem sendo eventualmente esquecido: aatuação do homem e suas relações sociais. Isto signi-fica que o lidar com a doença não é um procedimentosocialmente neutro como a ação das ciências naturaisquer fazer crer. O trabalho e a sua organização nafábrica dependem de interesses sociais. E a medicinado trabalho — como a ciência médica como um todo— não deve per si ser considerada positiva e aclamadapor todos. A medicina do trabalho é, pelo contrário,um instrumento que pode ser utilizado de diferentesformas. Pode ser utilizada, por um lado, para reduziro desgaste de saúde dos trabalhadores, mas pode, poroutro lado, também — caso não controlada pelos seusbeneficiários — ser utilizada para a seleção da forçade trabalho — que é qualificada pelas suas condiçõesde saúde —, para a intensificação da produção ou paraa maximização da exploração voltada para a acumula-ção do capital. Ela até pode — como nos campos deconcentração do nazismo alemão — ser utilizada cons-cientemente para destruir vidas humanas no trabalho.

ESTRATÉGIAS DE SUPERAÇÃO

Para terminar, diante de correlações tão extensas,parece-nos razoável comentar que tipos de problemasdevem ser considerados com vistas à superação dosagravos à saúde que estão sujeitos os trabalhadoresnos locais de trabalho.1. Prevenção e compensação: A prevenção — princi-

palmente a primária — deve ser considerada comoo princípio mais importante e extenso. Trata-se deimpedir ou atenuar a formação de doenças ocupacio-nais e sofrimentos, promovendo a saúde. Tem deser dada importância especial à prevenção de doen-ças, porque muitas manifestações de desgaste pro-vocadas pelo trabalho são irreversíveis, e medidasterapêuticas têm, no máximo, o efeito de atenuaros sintomas. A priorização pela prevenção, porém,não deve negligenciar aqueles que já adoeceramem função do trabalho. Aqueles cuja saúde foi afeta-da em função do trabalho precisam de reforçadoapoio médico, social e financeiro. Não se deve criaruna rivalidade entre atendimento aos doentes e pre-venção.

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2. A prevenção, porém, não deve se concentrar so-mente nas condições de trabaho. A maneira como,onde e com que se trabalha e se produz influenciao ambiente, os produtos do trabalho — aqui nosremetemos aos bens de consumo — e, não menosimportante, o estilo de vida. Quando se fala daorientação de políticas de saúde, costuma estar emjogo a criação de condições adequadas para a saúde(prevenção em relação às condições ), o apoio ea construção de um comportamento benéfico à saúde(promoção à saúde) e a promoção de um comporta-mento saudável (prevenção em relação ao compor-tamento). Quase todos os princípios de prevençãotêm em comum o fato de se concentrarem, diantede estruturas de interesse econômicas e de domina-ção, no campo da influência sobre o comportamen-to, através do apelo à educação para a saúde. Issoé politicamente flexível, porém pouco efetivo emrelação à saúde. Isso se confronta com os conheci-mentos científicos relacionados ao fato de que nãose pode influenciar de uma maneira radical o com-portamento e o estilo de vida sem se levar em consi-deração as reais condições que determinam essecomportamento. No que se refere à segurança pre-ventiva do trabalho, isso significa que ela, primeira-mente, deve ter como objetivo uma modificaçãodas condições de trabalho prejudiciais à saúde. Ape-nas quando isso ocorre os esforços para a mudançade comportamento dos trabalhadores ganham umsentido de promoção de saúde.

3. Como pode a segurança do trabalho ser levada acabo e mantida? Individualmente ou coletivamente.E conhecida a situação em que os assalariados, sobcargas de trabalho elevadas, faltam freqüentementeao trabalho por motivo de doença. Fala-se, nessecaso, de uma "fuga para a doença". Esta é umatípica reação individual e significa a medicalizaçãode um problema não-médico. Assim, pode ocorrer,com efeito, um alívio a curto prazo. Mas a origemda doença não é, dessa forma, efetivamente atingi-da. .A implementação de medidas de segurança dotrabalho acarreta, em geral, custos elevados, quenão são concedidos voluntariamente pelo capital,sendo necessária uma pressão coletiva — tal comona negociação salarial. Por isso, a exigência relacio-nada à segurança no trabalho é um dos pontos tradi-cionais dos programas do movimento sindical e detrabalhadores. Na luta contra as cargas psicosso-ciais, atualmente, só as chamadas "leis brandas"possibilitam a defesa dos interesses sindicais, e umaação profilática (como nos parágrafos 90 e 91 dosdireitos de reclamação da legislação de segurançado trabalho alemã), em uma área que, até agora,

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foi considerada secundária. Além disso, os contra-tos coletivos de trabalho abrem a possibilidade deneles serem incluídos regulamentos — principalmen-te no que se refere ao sistema salarial e aos limitesde produção e de tempo de trabalho —, bem comoos contratos gerais de trabalho (por ex., contratospara a proteção contra a racionalização), cujos as-suntos específicos envolvam certos conteúdos detrabalho, estrutura ocupacional e de atividades outrabalho em grupos (Helfert, pp. 74 e 75 BIBB/IABp. 438).

4. E finalmente, nesse contexto, tematiza-se cada vezmais a relação entre especialistas e leigos atingidos.Penso que se trata de uma relação desequilibrada— freqüentemente unidimensional —, pois geralmen-te os trabalhadores sabem formular com nitidezquais os locais de trabalho perigosos ou não. Oconhecimento dos especialistas e a experiência dosatingidos podem se complementar, de forma positi-va. Tanto a análise da carga psicossocial como fontede estresse, como também a aplicação de conheci-mentos científicos na política trabalhista não podemser feitas sem a participação dos sujeitos atingidose sem se levarem em consideração as experiênciasanteriores. Por isso, os "objetos" da medicina dotrabalho tradicional têm mais influência, do pontode vista metodológico, na investigação das cargasde trabalho — principalmente na implementação dasnovas técnicas. Deve ser lembrado, nesse contexto,o modelo italiano de "Medicina dos Trabalhadores"(Winterberger). As entrevistas do pessoal, na em-presa, são um instrumento que vem sendo utilizadodesde meados dos anos 70, na República Federalda Alemanha, mas que ainda deve ser melhor desen-volvido. Os trabalhadores participam ativa e coleti-vamente na avaliação dessas entrevistas (Arnold/Satzer).

5. Qual é o papel do governo central e das empresasna melhoria da segurança do trabalho? Uma orienta-ção mais forte voltada para a prevenção primáriae para a promoção da saúde, relacionada com asdoenças ocupacionais ou com a carga total no localde trabalho, não ocorrerá por si só. As metas aserem alcançadas, as prioridades e possibilidadesde controle dos resultados pelo Estado devem serdeterminadas, através de leis e portaria. Esta é umatarefa de total responsabilidade do Congresso eda administração pública. Por exemplo, não faz sen-tido o fato de se permitir o emprego de asbestoem uma fábrica e em outra este ser proibido. Omesmo vale para o trabalho noturno ou o ruído.Tais intervenções estatais não são, por si só, sufi-cientes; pode-se constatar que as regras que existem

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atualmente vêm sendo, freqüentemente, burladas ounegadas. Precisa-se, então, adicionalmente, de umaparticipação ativa e de controle local nas fábricas,e aqui, de novo, vejo uma tarefa para os diretamenteatingidos e seus sindicatos. Uma planificação esta-tal central, envolvendo uma participação descentra-lizada, pode ser útil para chegar a superação dosproblemas de saúde relacionados ao trabalho (Sch-midt et al.).

No geral, pode-se supor que a melhoria das condi-ções de trabalho é mais avançada nos locais onde ademocracia não acaba nas portas das fábricas, masse tornou um elemento autêntico do processo pro-dutivo.

Interesses individuais — principalmente aquelesque só têm por objetivo a otimização do lucro — devemser repelidos. Para que isto aconteça, é necessárioum forte movimento social por parte daqueles quesão especialmente afetados na sua existência humanapor condições de trabalho prejudiciais à saúde. Essaspessoas não são mais, hoje em dia, nas nações indus-trializadas, exclusivamente os trabalhadores com tra-balho físico pesado, mas, cada vez mais, os trabalha-dores indiretos, administrativos e a inteligência técni-co-científica. Pois são exatamente os locais de trabalhodesses últimos que vêm sendo submetidos a uma mu-dança radical, pela ampla implementação de técnicasmicroeletrônicas. Essa mudança leva não-somente auma polarização da qualificação da força de trabalhoe a um reforçado controle do trabalho, mas, também,a novas cargas para a saúde. As conseqüências dessascargas não são necessariamente percebidas imediatae diretamente, mas se tornam visíveis somente algunsanos depois. Nesse momento, porém, chega-se, geral-mente, a um estado irreversível e incurável. Devem,então, ser concebidas já as estratégias que impeçama evolução desse processo. Esta, naturalmente, é umaquestão que não se limita aos conteúdos tradicionaisda medicina do trabalho, mas exige idéias políticase sociais claras sobre a importância da doença e dasaúde em nossa sociedade.

The present article deals with the health effects andsocial aspects associated with the introduction ofmodern microelectronic technologies within workprocesses, particularly in the Federal Republic ofGermany.

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The author makes considerations on some theoreticallimitations of Occupational Medicine in order toanalyse and avert problems resulting from theseprocesses.

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