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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, NOVEMBRO/2011 - ANO XIV - N o 178 O ESTAFETA Até algumas décadas atrás, as datas cívicas eram comemoradas com atenção especial por nossas autoridades e pela população. Os hinos pátrios, os feitos e personagens de nossa história eram reverenciados. Não sabemos porque, mas, hoje, lamentavelmente, não é mais assim. No último dia 15 de novembro, quando se comemorou a Proclamação da República, essa data histórica passou em branco para a maioria da população. Para muitos, exceto pelo fato de a data ser feriado nacional – um dia para se acordar mais tarde e não ir trabalhar, quem sabe com a perspectiva de uma esticada do fim-de-semana –, a data não teve importância. É preciso resgatar o espírito de patriotismo adormecido em muitos de nós. A palavra patriotismo, derivada de pátria, significa o amor e respeito que se tem pela terra natal. O patriotismo pode ser manifestado pela valorização da cultura do país, de suas belezas naturais e pelos símbolos nacionais. Dentre esses símbolos, a bandeira é o de maior significado. Admirando o quadro “A Pátria” (foto que ilustra este texto), pintado por Pedro Paulo Bruno, exposto no Museu da Repú- blica, no Rio de Janeiro, somos estimulados a pensar no 15 de Novembro de modo especial. A cena, que retrata um momento de elaboração da bandeira nacional por uma família, pode ser interpretada como uma alegoria da edificação da nação brasileira por seus filhos, sob o regime republicano, unidos no mesmo empenho, com o mesmo foco. De fato, nada parece perturbar a concentração das figuras reunidas na cena, as quais são movidas pelo objetivo comum de confeccionar o símbolo nacional mais poderoso – a bandeira. A bandeira nacional foi adotada pelo Decreto-Lei nº 4, de 19 de novembro de 1889. Foi projetada por Raimundo Teixeira Men- des e por Miguel Lemos, e desenhada por Décio Vilares, o qual se inspirou na bandeira do Império, que havia, por sua vez, sido desenhada pelo pintor francês Jean Baptiste Debret. A esfera azul, onde hoje aparece a divisa positivista “Ordem e Progresso”, substituiu a antiga coroa imperial. Dentro da esfera, estava representado o céu do Rio de Janeiro, com a constelação do Cruzeiro do Sul, tal como apareceu às 8h30min do dia 15 de novembro de 1889, dia da proclamação da república. Em 1992, uma lei modificou as estrelas da bandeira, para permitir que todos os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal fossem representados. Como símbolo da pátria, a bandeira nacional fica permanen- temente hasteada na Praça dos Três Pode- res, em Brasília. Mesmo quando é subs- tituída, o novo exemplar deve ser hasteado antes que o antigo seja arriado. Tradi- cionalmente, a bandeira é hasteada às 8h e arriada às 18h. Quando permanecer exposta durante à noite, deve ser iluminada. A primeira bandeira republicana foi bordada por Flora Simas de Carvalho, em pano de algodão. A segunda, pela mesma senhora, em seda, tendo sido hasteada, com solenidade, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, no dia de sua adoção oficial. A Bandeira Nacional Crescem por todo o país vários movimentos pela moralidade. As denúncias que se sucedem, os escândalos que se multiplicam e os casos ilícitos que ocorrem nos diversos níveis da administração pública exibem, de forma veemente, a profunda crise moral por que passa o país. O povo se afasta cada vez mais dos políticos, como se esses fossem símbolos de todos os males. As instituições normativas, que fundamentam o sistema democrático, caem em descrédito. Os governantes, eleitos pela expressão do voto, também engrossam a caldeira da descrença e, frágeis, acabam comprometendo seus programas de gestão. A corrupção se instalou em todos os níveis do governo e o povo quer dar um basta. Em várias cidades do país, manifestações populares vêm aconte- cendo para que a corrupção seja considerada crime hediondo. Pela in- ternet surgiu e vem aumentando o movimento “Todos juntos contra a corrupção”. Pela terceira vez, neste ano, internautas de todo o país saíram às ruas para protestar contra a corrupção. Nem a chuva fria e intermitente em todo o centro-sul do país no último 15 de novembro impediram as manifestações. Eram três as principais reivindicções: primeiro, o fim do foro privilegiado, que permite que autoridades sejam julgadas diretamente em instâncias superiores da justiça; segundo, que a corrupção seja considerada crime hediondo, tendo sua pena elevada; e, por último, que seja aprovada a Lei da Ficha Limpa, cuja constitucionalidade está sendo analisa- da pelo Supremo Tribunal Federal. Os protestos, iniciados nas capitais e grandes cidades, já alcançaram o interior. No dia 15, em Guaratinguetá, Lorena e outras cidades valeparaibanas, cidadãos foram às ruas. Outras manifes- tações estão sendo discutidas e orga- nizadas nas páginas do facebook. Esses movimentos não são partidários; visam a acabar com a atitude de apatia e inércia dos homens que têm responsabilidade pública. Apesar da corrupção e da sensação de impotência da população, é preciso manter acesa a chama da esperança. O Brasil dos grandes valores, das grandes ideias, da fé e da crença no futuro precisa, urgentemente, da ação solidária, tanto das autoridades quanto dos cidadãos comuns, para se restaurar a ética e a moral, e, juntos, acabarem com a corrupção e com os corruptos. Reprodução A primeira bandeira republicana foi bordada por Flora Simas de Carvalho, em pano de algodão. A segunda, pela mesma senhora, em seda, tendo sido hasteada, com solenidade, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, no dia de sua adoção oficial.

NOVEMBRO 2011

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ANO XIV - No. 178

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E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, NOVEMBRO/2011 - ANO XIV - No 178

O ESTAFETA

Até algumas décadas atrás, as datascívicas eram comemoradas com atençãoespecial por nossas autoridades e pelapopulação. Os hinos pátrios, os feitos epersonagens de nossa história eramreverenciados. Não sabemos porque, mas,hoje, lamentavelmente, não é mais assim.

No último dia 15 de novembro, quandose comemorou a Proclamação da República,essa data histórica passou em branco paraa maioria da população. Para muitos, excetopelo fato de a data ser feriado nacional – umdia para se acordar mais tarde e não irtrabalhar, quem sabe com a perspectiva deuma esticada do fim-de-semana –, a data nãoteve importância. É preciso resgatar oespírito de patriotismo adormecido emmuitos de nós.

A palavra patriotismo, derivada depátria, significa o amor e respeito que setem pela terra natal. O patriotismo pode sermanifestado pela valorização da cultura dopaís, de suas belezas naturais e pelossímbolos nacionais. Dentre esses símbolos,a bandeira é o de maior significado.

Admirando o quadro “A Pátria” (fotoque ilustra este texto), pintado por PedroPaulo Bruno, exposto no Museu da Repú-blica, no Rio de Janeiro, somos estimuladosa pensar no 15 de Novembro de modoespecial. A cena, que retrata um momentode elaboração da bandeira nacional por umafamília, pode ser interpretada como umaalegoria da edificação da nação brasileirapor seus filhos, sob o regime republicano,unidos no mesmo empenho, com o mesmofoco. De fato, nada parece perturbar a

concentração das figuras reunidas na cena,as quais são movidas pelo objetivo comumde confeccionar o símbolo nacional maispoderoso – a bandeira.

A bandeira nacional foi adotada peloDecreto-Lei nº 4, de 19 de novembro de 1889.Foi projetada por Raimundo Teixeira Men-des e por Miguel Lemos, e desenhada porDécio Vilares, o qual se inspirou na bandeirado Império, que havia, por sua vez, sidodesenhada pelo pintor francês Jean BaptisteDebret. A esfera azul, onde hoje aparece adivisa positivista “Ordem e Progresso”,substituiu a antiga coroa imperial. Dentroda esfera, estava representado o céu do Riode Janeiro, com a constelação do Cruzeirodo Sul, tal como apareceu às 8h30min do dia15 de novembro de 1889, dia da proclamaçãoda república.

Em 1992, uma lei modificou as estrelasda bandeira, para permitir que todos os 26estados brasileiros e o Distrito Federalfossem representados. Como símbolo dapátria, a bandeira nacional fica permanen-temente hasteada na Praça dos Três Pode-res, em Brasília. Mesmo quando é subs-tituída, o novo exemplar deve ser hasteadoantes que o antigo seja arriado. Tradi-cionalmente, a bandeira é hasteada às 8h earriada às 18h. Quando permanecer expostadurante à noite, deve ser iluminada.

A primeira bandeira republicana foibordada por Flora Simas de Carvalho, empano de algodão. A segunda, pela mesmasenhora, em seda, tendo sido hasteada, comsolenidade, na Câmara Municipal do Rio deJaneiro, no dia de sua adoção oficial.

A Bandeira Nacional

Crescem por todo o país váriosmovimentos pela moralidade.

As denúncias que se sucedem, osescândalos que se multiplicam e oscasos ilícitos que ocorrem nos diversosníveis da administração pública exibem,de forma veemente, a profunda crisemoral por que passa o país. O povo seafasta cada vez mais dos políticos, comose esses fossem símbolos de todos osmales. As instituições normativas, quefundamentam o sistema democrático,caem em descrédito. Os governantes,eleitos pela expressão do voto, tambémengrossam a caldeira da descrença e,frágeis, acabam comprometendo seusprogramas de gestão.

A corrupção se instalou em todosos níveis do governo e o povo quer darum basta. Em várias cidades do país,manifestações populares vêm aconte-cendo para que a corrupção sejaconsiderada crime hediondo. Pela in-ternet surgiu e vem aumentando omovimento “Todos juntos contra acorrupção”. Pela terceira vez, neste ano,internautas de todo o país saíram às ruaspara protestar contra a corrupção. Nema chuva fria e intermitente em todo ocentro-sul do país no último 15 denovembro impediram as manifestações.Eram três as principais reivindicções:primeiro, o fim do foro privilegiado, quepermite que autoridades sejam julgadasdiretamente em instâncias superiores dajustiça; segundo, que a corrupção sejaconsiderada crime hediondo, tendo suapena elevada; e, por último, que sejaaprovada a Lei da Ficha Limpa, cujaconstitucionalidade está sendo analisa-da pelo Supremo Tribunal Federal.

Os protestos, iniciados nas capitaise grandes cidades, já alcançaram ointerior. No dia 15, em Guaratinguetá,Lorena e outras cidades valeparaibanas,cidadãos foram às ruas. Outras manifes-tações estão sendo discutidas e orga-nizadas nas páginas do facebook. Essesmovimentos não são partidários; visama acabar com a atitude de apatia e inérciados homens que têm responsabilidadepública. Apesar da corrupção e dasensação de impotência da população,é preciso manter acesa a chama daesperança. O Brasil dos grandes valores,das grandes ideias, da fé e da crença nofuturo precisa, urgentemente, da açãosolidária, tanto das autoridades quantodos cidadãos comuns, para se restaurara ética e a moral, e, juntos, acabarem coma corrupção e com os corruptos.

Reprodução

A primeira bandeira republicana foi bordada por Flora Simas de Carvalho, em pano de algodão. Asegunda, pela mesma senhora, em seda, tendo sido hasteada, com solenidade, na Câmara Municipal doRio de Janeiro, no dia de sua adoção oficial.

Página 2 Piquete, novembro de 2011

Foto Arquivo Pro-MemóriaImagem - Memória

Desde os primórdios das civilizaçõesa atividade comercial tem alcançadopessoas distantes e levado soluções paravelhas e novas necessidades. Tem colo-cado em contato as mais variadas culturase encantado diferentes povos e públicos.Por isso, a atividade de comércio eserviços tem sido, marcadamente, ino-vadora em todos os tempos e lugares domundo. É uma atividade que, por suaprópria natureza, se antecipa, precede eestimula, empreende e toma iniciativa,interfere e invade, modifica hábitos emodos de vida, cria novos costumes enovas relações com a vida e as pessoas,sopra os ventos da novidade, carrega eexpande as descobertas e as técnicas.

No Brasil, depois de ocupar a orlamarítima, as trocas comerciais traçaram rotasno desenvolvimento do interior criandocostumes e tradições e alargando fronteiras.

No Vale do Paraíba paulista, corredornatural de passagem em direção às minasgerais, a atividade comercial e de serviçosespalhou-se pelos caminhos e descaminhosdo ouro implantando comunidades ao longodas estradas.

Falar na história do comércio é falar derelações humanas. É contar a trajetória deuma das mais antigas atividades sociais,das afinidades entre comerciantes eclientes, dos livros de borrões e dascadernetas. Encontramos histórias deamizades, de compreensão, de iniciativas,dificuldades e vitórias que traduzem amagia dos balcões simples ou sofisticadospresentes em nosso cotidiano e noimaginário.

No Caminho de Minas, ao longo do qualPiquete nasceu, além dos inúmeros ranchose pousos, foram erguidas, no século 19,algumas vendas e promovido um incipientecomércio de beira de estrada ligado aoprincipal meio de transporte da época – atropa de muares. Com o crescimento dobairro do Piquete e a expansão da culturado café surge a figura do mascate, mercadorque trazia novidades da metrópole, indonegociar seus produtos de maneira ambu-lante de porta em porta. Especializaram-seno comércio de armarinhos, miudezas etecidos, procurados pela população dacidade e da zona rural. Esses árabesvisitavam as fazendas sob sol e chuva,levando suas mercadorias em lombo deburros, em canastras. Sua chegada era umacontecimento. Recebidos com amabilidadepelas famílias, a cena da abertura dascanastras consistia em uma festa para osolhos. Tecidos finos, sedas, linho, fitas,botões, rendas, meias finas, perfumes...

O nome mascate sempre ficou associadoà imigração árabe no Brasil, resultante dogrande contingente de imigrantes proveni-entes do Líbano e da Síria que se dedicarama essa atividade. Em menor número che-garam, também, principalmente após aProclamação da República, imigrantes deoutros pontos do antigo Império Otomano,como Turquia, Palestina, Egito e Jordânia.Como tinham sotaque, eram nomeados“turcos da prestação”, pois naquela épocao Império Turco-Otomano controlava boaparte do Oriente Médio. Como os imigrantesdesses países vinham com a nacionalidadeturca em seus documentos, ficaram conhe-

cidos principalmente por este nome.Com a instalação da fábrica de pólvora

em 1909 e o aumento do poder aquisitivo dapopulação, muitos desses comerciantes sefixaram em Piquete. A melhoria da economialocal fez crescer, a cada ano, seu comércio esuas visitas às fazendas e bairros distantes.Muitos fixaram-se aqui. Constituíram famíliapassando a contribuir para o crescimentoda cidade. É sempre bom lembrar as famíliasSalomão (Anacleto, José e Jorge), Seraphim(Luiz, Thomé e Alfredo), Raphoul (Nadras eJoão), Abrahão (Maria da Mala), Simão (Josée Maria), Gosn (Michel, Elias e Nágila),Bufarah (Ana), Hankis (Elias), Curi, Atié(Mounir), Marraoui (Georgette), Balady(Antoine e Francisca)...

Essas famílias árabes predominaram nasatividades comerciais de Piquete e ajudaramno engrandecimento da cidade.

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:

Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

Mascates e cometas: os árabes em Piquete

Loja e armazém do senhor Anacleto Salomão, localizada à rua Dr. Américo Brasiliense. Na foto, de 1927, aparecem: Augusta, Flauzino, Benedito Jorge daSilva, ?, Salomão José Neto, Ricardo, Álvaro Beraldo, ?, Anacleto Salomão, Humberto Montano e Antônio Lucas.

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, novembro de 2011

Wanderley Sardinha

Já está em vigor a lei estadual queaperta o cerco para evitar a venda debebidas alcoólicas para para menores de18 anos, bem como o seu consumo pelosmesmos.

Bares, restaurantes, lojas de conve-niência e “baladas”, entre outros locais,terão a fiscalização redobrada para nãovender, oferecer, nem permitir a presençade menores de idade consumindo bebidasalcoólicas.

A venda já era proibida, mas agora oscomerciantes podem ser responsabilizadose multados. Atualmente, estão em anda-mento várias campanhas educativas paraorientar comerciantes e consumidores.Quem vender, entregar ou permitir oconsumo de bebidas alcoólicas a menorespoderá receber multas de até R$ 87,2 mil,além da interdição do estabelecimento portrinta dias e perda da inscrição no cadastrode contribuintes do ICMS. A partir de 19de novembro, a Vigilância Sanitáriaestadual e o PROCON passaram a fiscalizare exigir o cumprimento da Lei em todo oestado, com apoio da Polícia Militar.

Pesquisa do Instituto IBOPE apontaque 18% dos adolescentes entre 12 e 17anos bebem regularmente e 4 entre 10menores compram, livremente, bebidasalcoólicas no comércio. O consumocomeça, em média, aos 13 anos. O alcoo-lismo é a segunda causa de morte evitávelem todo o mundo, atrás apenas dotabagismo.

Bebida alcoólica paramenores

A Fundação Christiano Rosa pro-moveu, no dia 19 de novembro, umapalestra sobre “O Terceiro Setor”. Durantea apresentação, o professor Mário, asses-sor da deputada Ana Perugini, monstrouquais os procedimentos para se escolhercorretamente o tipo de associação paracada finalidade, os meios para se iniciar eagilizar o processo de criação, além depossíveis fontes de recursos. Máriotambém se colocou à disposição dacomunidade para orientar em futurascriações de entidades.

Direcionada aos membros de entidadesda sociedade civil, a palestra atraiu diversaspessoas de Piquete e da região ao EspaçoCultural “Célia Ap. Rosa”, onde foi reali-zada. Teca Gouvêa, que propôs e orga-nizou a vinda do palestrante a Piquete,abriu os trabalhos, exemplificando aimportância das informações com ostrabalhos da Fundação Christiano Rosa,criada há 14 anos.

Foram convidadas todas as entidadese instituições de Piquete possivelmenteinteressadas, além de pessoas físicas quepretendem se organizar formalmente.Compareceram ao evento 14 entidades,das cidades de Piquete, Lorena, Taubaté,Cruzeiro e Ubatuba.

Palestra no EspaçoCultural “Célia Ap. Rosa”

Nascido num lugar conhecido como“Viveiro Velho”, na Vila da Estrela, emPiquete, a 15 de outubro de 1938, WanderleyGomes Sardinha é filho de Júlio GomesSardinha e Benedita Ramos da Silva Sar-dinha. Cresceu no vale do ribeirão Sertão,onde teve uma infância tranquila e despreo-cupada. Foi aluno do Departamento Educa-cional, tendo cursado o Grupo Escolar e oGinásio da FPV. Amante dos esportes,dividia seu tempo entre os afazeres escolarese o Flamenguinho, time dirigido por Salvadorde Souza. Ocupava a posição de goleiro, queexercia com maestria. Morador em uma áreaquase que exclusivamente militar, cresceusonhando com a vida na caserna. Em 1956,sentou praça no Exército brasileiro. Apósos estudos preparatórios, ingressou naAcademia Militar das Agulhas Negras,tendo sido declarado aspirante a oficial deInfantaria em 30 de dezembro de 1961.Integrou a Força de Paz das Nações Unidas,no Oriente Médio, em 1964, servindo noEgito, no deserto do Sinai, como parte dastropas internacionais que mediavam oconflito árabe-israelense. De volta ao Brasil,permaneceu durante sete anos no 5ºRegimento de Infantaria, em Lorena. Cursoua Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e aEscola de Comando e Estado Maior doExército. Comandou o 61º Batalhão deInfantaria Motorizada, em Santo Ângelo, noRio Grande do Sul.

Após brilhante carreira militar, durante aqual percorreu o Brasil de norte a sul erecebeu inúmeras condecorações, encerrousuas atividades em 1993, com a patente decoronel.

Reformado e de volta ao Vale do Paraíba,passou a escrever crônicas memorialísticas.

O menino que cresceu no vale do ribeirãodo Sertão, sempre atento às pessoas e fatosde sua infância, passou a registrar suas me-mórias... Suas primeiras incursões literáriasaconteceram no período em que residiu emSanto Ângelo, onde escreveu “O Combateda Ponte do Ijuí Grande” e “O Combate doArroio Conceição”, nos quais descreve asbatalhas ocorridas naqueles locais. A paixãopor Piquete levou-o a se voltar para temasde seu torrão natal. Para a surpresa de seusadmiradores, parece que sua capacidadecriativa não tem fim: numa linguagemcoloquial, vem conseguindo transferir parao papel histórias que vivenciou e que ouviucontar. Parece inesgotável seu baú dememórias, as quais permaneceram ador-mecidas por muitos anos! Assim, publicou“Narrativas Piquetenses”, “MemóriasPiquetenses”, “Evocações Piquetenses”,“Diário de um Soldado Constitucionalista”,

“Estórias Centenárias” e, recen-temente, “LembrançasPiquetenses”. É mem-bro fundador da Aca-demia de Lorena deLetras, ocupando aCadeira no 25, cujopatrono é o tambémpiquetense Paulo Pe-reira dos Reis.

Wanderley Sar-dinha é casado comMaria Olga GiffoniSardinha, tem duasfilhas, Ana Lúcia eRosângela, e qua-tro netos.

Sardinha autografa seu “Lembranças Piquetenses”

O ESTAFETA Piquete, novembro de 2011Página 4

Aos cronistas interessa comentar aorigem das coisas e explicá-las no recortetemporal no qual estão incluídas. Saber oporquê dos atos, das escolhas e dasmotivações são apanágio dos curiosos, dospesquisadores e dos que se comprazem embuscar informações e divulgá-las. Privilégiodos humanos é a memória do imediato e doprolongado, por saber pensar, isto é, terracionalidade, saber arquivar para ter opassado como razão do presente e projeçãoao futuro. É selecionar e construir lugaresde memória onde se diferenciam dos demaisanimais, e, com criatividade, revolucionar oconhecimento.

Por nascer com a consciência de morte,o que o diferencia de outras criaturas, o serhumano lida com arquétipos para fixar traçosculturais, divulgá-los, enriquecê-los e oscolocar em prática para comemorações comomarcas cronológicas e heranças patri-moniais. Assim, os batizados, as cerimôniasde mudança como ritos de passagem deestágio de tempo: infância, adolescência,fase adulta e velhice, aniversários, diplo-mação, casamentos e... mortes. Além do usoda linguagem hoje física, a natural, pela qualarticulamos palavras e usamos diferentesidiomas, e a virtual, das mídias digitais e de

Sabe de onde veio o canto do pic-pic? Ou será pique-pique?computadores.

Além disso, o uso das fotografias paracongelar na temporalidade a imagem de umpresente em estado de mudança. Paradocumentar entre ricos e pobres o valor daimagem como código de representação, emque os ricos dão o tom com a ajuda doestúdio do fotógrafo, com roupas, objetose móveis, mostrando simbolicamente suasposses. Veja-se a foto do casal que O

Estafeta publicou na edição anterior emmatéria sobre a fotografia tirada de um álbumfamiliar e as que, em outros momentos eoutras fontes, pessoas de classe hierár-quicas inferiores vestem-se e propõem-seaos cenários para também parecerem bo-nitos, saudáveis, felizes e ricos. Nas ceno-grafias fotográficas, os bebês valorizadoscomo símbolos de inocência, nem sempresorridentes e, às vezes, assustados.

Chegamos, enfim, ao pic-pic ou pique-pique para cantar e saudar após o “Parabénsa você”, pois, para muitos é necessária nacronologia a retenção da história domomento como brado ritmado. E aí, após océlebre e traduzido “Happy Birthday”, ogrito da evocação “Para o Fulano, ou Fulana,nada! Tudo! Então como é que é? É pic, épic, é pic, é pic, é pic! É hora, é hora, é hora,

é hora, é hora! Rá tim bum! Fulano(a),Fulano(a), Fulano(a)!”

Contam estudantes de direito da USP queem seu prédio, no Largo de São Francisco,São Paulo, o das Arcadas, seus colegas doinício do século passado saudavam compilhérias um dos lideres das estudantadas(Ubirajara Martins de Souza, bachareladoem 1927). Vaidoso, consta que este aparavacaprichosamente os bigodes com umatesourinha que fazia “pic, pic”. Daí o apelidopelo qual era saudado: É o pic. É o pic! Acervejada comemorativa do aniversário docitado líder, de grande consumo, exigia aespera da refrigeração, quando esgotadasas disponíveis – o que poderia durar meiahora. Enquanto o relógio avançava e odesejo do consumo também, alvoroçavam-se os jovens e o grito explodia: Meia hora!Meia hora! É hora! É hora! É hora! É pic. Épic. É pic! Rá-tim-bum.

Convidados para festas de aniversáriosde moças casadouras de bom lastro e dote àvista, levavam seu retumbante apelo nasaudação às aniversariantes. Difundiu-se eexpandiu-se o costume. Hoje não há quemnão o conheça. Variantes costumam serincorporadas.

Dóli de Castro Ferreira

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A Fundação Christiano Rosa promoveu,no dia 7 de novembro, o primeiro encontrode uma oficina de fotografia, com o reno-mado fotógrafo e artista plástico Paulo CésarNeves, de Guaratinguetá.

A oficina é uma das atividades previstasno Ponto de Cultura “Jongo de Piquete, UmNovo Olhar”.

Direcionada especialmente à comu-nidade piquetense do Jongo, a Oficina,nesta primeira etapa, contou com vinteparticipantes.

Estão previstos três encontros. Oprimeiro, acontecido no dia 7, constou dabase teórica sobre a arte de fotografar, estilosde fotografia e equipamentos disponíveisno mercado. Cada participante pôde co-nhecer melhor sua máquina e recebeuatenção especial do instrutor, que esclareceu

dúvidas e orientou sobre formas de se obtero melhor desempenho de cada equipamento.Para os membros do Jongo de Piquete aatenção foi especial, já que a Oficina visa agarantir capacitação mínima para a utilizaçãodos equipamentos e ferramentas adquiridospor meio do Ponto de Cultura. Uma dasmetas é possibilitar o registro das atividadesdo Grupo, contribuindo, assim, para amanutenção desse patrimônio cultural dePiquete e da região.

O segundo encontro constará de traba-lho de campo no município de Piquete. Oterceiro e último dia servirá para avaliaçãodas imagens produzidas durante o trabalhode campo e também para o ensino de técnicasde fotografia em estúdio. Tendo o grupo semostrado bem motivado, está prevista arealização de uma exposição com as melhores

fotos de cada participante da oficina.A Fundação Christiano Rosa enxerga

nessa oficina uma possibilidade de iniciar acapacitação de futuros profissionais,garantindo, assim, uma opção de geraçãode renda para os participantes da Oficina deFotografia – o mercado é promissor!

Paulo César Neves

O fotógrafo e artista plástico Paulo CésarNeves, que já realizou trabalhos fotográficosem Piquete, é detentor de diversos prêmiosde fotografia no Brasil e no exterior. Éformado em Fotografia pelo SENAC, de SãoPaulo, e em Artes Plásticas pela FATEA, deLorena, pós-graduado pelo SENAC e pelaPhotograph Society of America, além demembro da Federação de Arte Portuguesa(Portugal) e da Academia Nacional de BelasArtes.

Ponto de Cultura “Jongo de Piquete, um novo olhar” inicia Oficina de Fotografia

O ESTAFETA Página 5Piquete, novembro de 2011

Plano da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul

Fotos Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Dando continuidade ao projeto deelaboração do Plano da Bacia Hidrográficado Paraíba do Sul, coordenado pela Funda-ção Christiano Rosa, foi realizada, em 18 denovembro, em Taubaté, num salão deeventos do Clube de Campo Abaeté, a últimareunião pública de apresentação do Planoda Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul,trecho paulista (UGRHI 2) 2011-2014.

Abrindo a reunião, depois de brevehistórico do processo da  elaboração doPlano de Bacias e contextualização do tema,a Arquiteta  Ana Maria de Gouvêa, daFundação Christiano Rosa, passou acoordenação dos trabalhos ao presidentedo Comitê da Bacia Hidrográfica do RioParaíba do Sul (CBH-PS), Luiz RobertoBarreti, que compunha a mesa diretorajuntamente com o presidente da FCR, PauloNoia de Miranda, e o Secretário Executivo

do CBH-PS, Nazareno Mostarda Filho.Após os cumprimentos e considerações 

iniciais dos senhores Barreti e NazarenoMostarda, passou-se à apresentação, pelo hidrogeólogo, Dr. José Luiz AlbuquerqueFilho, da Síntese do  Plano, atualizada comas observações da reunião pública anterior,realizada em São Luiz do Paraitinga, em 17de outubro.

Em seguida, Rogério Thomé, daFUNCATE (Fundação da Ciência, Apli-cações e Tecnologia Espaciais), apresentouo Sistema de Informações Gerencias.

Na sequência, foi disponibilizada apalavra aos presentes.

Ana Maria de Gouvêa fez uma síntesedo processo de elaboração do Plano.Ressaltou que foi um processo rico deconstrução participativa e um trabalho doqual a Fundação Christiano Rosa fica

honrada por ter sido a responsável pelacoordenação. Ana Maria agradeceu a todosque colaboraram nas diferentes fases doprocesso e apontou alguns ganhos noprocesso de planejamento da gestão dosrecursos hídricos. Enfatizou, também, que ofato de a Fundação estar, no mesmo período,participando do processo de Revisão ePactuação das ações do Plano Estadual deRecursos Hídricos, como entidade pres-tadora dos serviços, contratada pelaSecretaria de Estado, enriqueceu ainda maiso processo.

No dia 25/11/2011 a Câmara Técnica dePlanejamento do CBH-PS deverá apreciar aversão final do Plano para encaminhamentoe aprovação da Plenária do Comitê deBacias, em reunião convocada para o dia08/12/2011.

Rogério Thomé, da FUNCATE Dr. José Luiz, do IPTPúblico presente

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A Fundação Christiano Rosa (FCR) vem,nos últimos anos, trabalhando e desen-volvendo projetos voltados para a recupe-ração de matas ciliares e nascentes. Essestrabalhos são importantes, pois é sabido quepreservação das nascentes ajuda a garantira qualidade e quantidade da água de rios,córregos e outros cursos d’água, em especialos que contribuem para o abastecimento deágua das cidades. Já foram efetivadas, porexemplo, ações que possibilitaram a reve-getação, com espécies nativas, de trechosda bacia do Ribeirão Benfica e de uma áreapróxima à represa que abastece o municípiode Piquete.

A Fundação desenvolveu e vem acompa-nhando, ainda, o plantio de uma extensa área

na bacia hidrográfica do Ribeirão da Limeira.Nessa bacia, recuperou uma extensa área derecarga e diversas nascentes, que tiveramseu entorno cercado e plantado. Essetrabalho precisa ser multiplicado por todo omunicípio.

O Estado de São Paulo desenvolve oprograma “Adote uma Nascente”. Criadopela Secretaria do Meio Ambiente doEstado, tem como objetivo incentivar aproteção de nossos recursos hídricos pormeio da identificação, cadastro e com-promisso de proteção das nascentes.Aqueles que tiverem nascentes em suapropriedade, mas não tiverem recursos parapreservá-las, poderão disponibilizar a áreaa ser adotada por outra pessoa ou entidade.

Qualquer pessoa física ou jurídica poderáadotar uma nascente e garantir a proteção,manutenção e/ou recuperação da vegetaçãoem seu entorno. Um agricultor familiar, umfazendeiro, um empresário, uma escola ouuniversidade, uma ONG, ou a própriaPrefeitura podem fazer a adoção.

A Secretaria de Meio Ambiente tem opapel de aproximar dos interessados emfinanciar a recuperação de uma área osproprietários que não possuem recursospróprios para recuperar suas nascentes.

A adoção de uma nascente é um com-promisso com a qualidade da água e apreservação de córregos e rios. É umcompromisso com o futuro!

Adote uma nascente

Área antes do plantioÁrea em 2011 Área em 2011

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O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, novembro de 2011

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroReformas...

Os fujões

Acesse na internet, leia e

divulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

www.issuu.com/oestafeta

www. fundacaochristianorosa.cjb.netou

Certa manhã, Tantã e Doidinho burlarama vigilância de um manicômio e fugiram.Andavam por uma estrada quando, de

repente, Tantã se dirigiu ao companheiro:– Doidinho, veja só o que encontrei!

Agachou-se e pegou, jogado no acos-tamento, um volante de carro. Continuou:

– Doidinho, agora estamos motorizados!

Suba aí!Doidinho, como a um reboque, agarrou-

se à cintura do amigo. Saíram imitando um

carro em movimento. Bem lá na frente, Tantãvolta a chamar a atenção do companheiro:

– Doidinho, a gasolina do carro está no

osso... Temos que parar para abastecer.– Tudo bem, Tantã. Você tem dinheiro?– Doidinho, hoje em dia não precisamos

de dinheiro. Tenho cartão de crédito...Agarrados, andaram alguns quilômetros

até adentrarem um posto de gasolina. Tantã,que trazia o volante, dirigiu-se ao frentista:

– Moço, pode encher o tanque; coloca

álcool, pois este carro é flex.O frentista sorriu, olhou para o dono do

posto, fez gesto de que ambos estavam

loucos e falou em voz alta:– Patrão, deve estar faltando algum

parafuso nesses caras.

Tantã, ouvindo aquilo, cutucou o amigoe disse:

– Não falei para você, Doidinho...?

Estamos sendo reconhecidos como carro.Ao saírem do posto, Tantã, com as mãos

esticadas, movimentava o volante emsemicírculo pra cá e pra lá. Antes dealcançarem a estrada, para desespero do

frentista, imitaram a troca da primeira parasegunda marcha...

O assunto, pela sua profundidade,necessitaria de uma pesquisa muito séria.Entretanto, devido à escassez de literaturae de documentação específica a respeito,vamos mandar nossa versão, fruto de altareflexão sobre a gênese do evento, parafundamentar o que nos propomos.

Um construtor de barcos, havia muitose muitos anos, estava trabalhando umacanoa quando apareceu um seu desafeto ecomeçou a quebrar o que fazia. Enraivecido,o operário apanhou um lenho e saiu cor-rendo atrás de seu antagonista brandindo-o no ar aos berros de “vou te mostrar comquantos paus se faz uma canoa!”. Algunsturistas, talvez tivesse até um argentino nomeio, presenciaram a cena e, assim, sem maisnem menos, sem pagar qualquer direitoautoral ao homem do pau, a partir daí, todasas vezes que queriam botar pra quebrar comalguém, mandavam lá: “vou mostra a ele(a)com quantos paus se faz uma canoa!”.Gerações se foram, ancestrais esquecidos,todos usaram e abusaram do palavreado dohomem e é bem provável que o ministroMantega venha se utilizando do desabafopara brigar com a inflação...

Também, se não foi assim, não temnenhuma importância... Não vai mudar a rotado Halley por causa disso... Serve apenaspara mostrar nossa posição. Esta baseia-seno que consideramos um desrespeito aocidadão primeiro, fabricante de canoas, quese utilizou daquilo que era de seu labor paramostrar sua verdade, razão pela qual se tornafalta de personalidade, por exemplo, umaviador dizer isso para um acerto de contas...Cada um deve ficar na sua! Diante doexposto, propusemos umas reformas...Exemplificaremos com algumas profissõesque servirão como modelo para outras nãocitadas, quando o nego pode pôr pra quebrarcitando aquilo que lhe diz respeito.

Por razões econômicas, daremos aprofissão e o final da frase conveniente,senão para todos, pelo menos para alguns...Nada de generalizações que não sou besta

nem nada para confirmar coisa alguma...Pedreiro: com quantos tijolos se enrola

na construção de uma casa!Marceneiro: com quantos sarrafos de 3ª

se constrói um estrado!Padeiro: com quanto bromato se estufa

um pão!Feirante: com quantos gramas se faz um

quilo de oitocentos!Açougueiro: com quanto corante se

deixa uma carne fresca!Empregada doméstica: com quantos

pratos quebrados se domestica uma patroa!Bombeiro: com quanta água se apaga um

fogo!Caixa de banco: com quanta grana na

mão se permanece duro!Banqueiro: com quanto de capital se

participa do governo!Dono de supermercados: com quantas

remarcações se entra pelo cano!Médico: com quantas receitas se faz um

nome!Engenheiro civil: com quantos cálculos

se derruba um prédio!Organizadores de concursos públicos:

com quanta inutilidade se reprova umcandidato!

Jornalista: com quantas mudanças deopinião se permanece no emprego!

Policial (vivo): com quanto chumbo nocorpo se aposenta!

Críticos: com quanta imbecilidade setorna um intelectual!

Artista de teatro: com quantos palavrõesse adquire talento!

Prefeito: com quantas lâmpadas seacende um voto!

Legisladores: com quantos “permaneçamcomo estão” se aprova uma lei!

Senador: com quantos nadas se entranos anais!

Presidente: com quantos reais senocauteia a inflação!

Leitor: com quanto de indulgência seganha lendo uma baboseira dessa!

19 de Novembro, Dia da Bandeira

Salve, lindo pendão da esperança,Salve, símbolo augusto da paz!Tua nobre presença à lembrançaA grandeza da Pátria nos traz.

Recebe o afeto que se encerraEm nosso peito juvenil,Querido símbolo da terra,Da amada terra do Brasil! (...)”

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Trecho do Hino à Bandeira, com letra de Letra de Olavo Bilac e música de Francisco Braga

O ESTAFETAPiquete, novembro de 2011 Página 7

Wanderley Gomes Sardinha lançou, nodia 15 de novembro, seu nono livro: “Lem-branças Piquetenses”. É o sétimo livrolançado no Espaço Cultural “Célia Ap. Rosa”,da Fundação Christiano Rosa (FCR).

Baseado em lembranças próprias e nasconversas que teve com amigos e parentes,Wanderley aprimorou-se na linha memoria-lística, relatando casos e causos que

“Lembranças Piquetenses”remontam à sua infância nas ruas de Piquete.

Como sempre, o Espaço Cultural da FCRrecebeu muitos convidados do piquetense,militar e amante das letras. Compareceram afamília e amigos de Piquete, além de “pique-tenses ausentes”, aqueles que moram forahá anos, mas não perdem a chance de umavisita à terra natal.

Outro dia fui almoçar na casa de umparoquiano e ao sentar-me à mesa percebique o assento era um banco de igreja. Paramatar a curiosidade perguntei: Seu Tião,de onde veio esse banco? O homem, umpolicial aposentado conhecido por “CaboVeio,” disse-me que, certa vez, o Pastor deuma igreja evangélica, que alugara umpontinho próximo à sua residência, deixoude pagar o aluguel. O proprietário, enfure-cido, confiscou os bancos da igreja epassou a vendê-los por quarenta reais, afim de não sair no prejuízo. Foi assim que o“Cabo Veio” tornou-se o dono daquelebanco no qual eu estava sentado.

O velho policial contou-me que, tendosido pagos os quarenta reais, antes dereceber o banco, pediu àquele que lhevendera que jogasse um pouco de águabenta dada pelo vigário, para evitar quealgum diabo, que tivesse sido tirado nosexorcismos realizados pelo Pastor e queestivesse encalacrado naquele banco, fosseparar em sua casa. O fato é que ou a águaestava mal benta ou o homem que lhevendeu o banco não jogou a água antes delhe entregar a encomenda. Seu Tião disseque, mal o banco entrou em sua casa, o bichopegou no seu filho, um rapaz de mais oumenos quarenta anos. Disse que o rapazpulava como um corisco pelos cômodos dacasa e só parou quando sua devota mãe lhefez uma reza forte. O tinhoso, porém, só tinhadado uma trégua. Contou o velho Cabo quequando se deitou para dormir, o quartocomeçou a girar sem parar; o bicho danadoque saíra de seu filho não havia voltado parao inferno coisa alguma; estava escondidoesperando a hora certa de lhe dar o bote.Possuído pelo coisa-ruim o “Cabo Veio”ainda teve força para lembrar-se de uma rezaque aprendera de um benzedor nos temposde criança: “Sai, espírito imundo, e vai paraas areias das praias salgadas”. Depois dareza o capeta sumiu.

Um banco endiabradoPassados alguns dias, o velho disse

que surgiram barulhos por toda a casa. Adescarga disparava no banheiro, as panelasbatiam, luzes acendiam e apagavamsozinhas, as torneiras jorravam água noiteadentro. Todos estavam amedrontados.Até que o corajoso policial tomou umadecisão: subiu numa cadeira, puxou a malade couro que estava sobre o armário, pegouseu velho Smith inglês, carregou o tamborcom seis cartuchos, dirigiu-se até acozinha, de onde vinham os ruídos infer-nais naquele momento, e descarregou, semdó, o tambor de sua arma aposentadagritando: “Escafede pro inferno, laza-rento!!!” Depois daquela noite, nunca maiso demo deu as caras por lá.

Com o avanço do neo-pentecostalismoentre os evangélicos e entre os católicoscarismáticos, têm se tornado cada vez maiscomuns as supostas possessões diabó-licas, que, na maioria das vezes, não passamde comportamentos histéricos e surtospsicóticos. Essas pessoas que, segundo acrendice pentecostal de alguns católicos eevangélicos, estão na posse de satanás, aoinvés de serem tratadas por profissionaiscompetentes, ficam sujeitas aos cuidadosde fanáticos e ignorantes que, embora,muitas vezes, tenham boa vontade, maisacentuam as patologias psíquicas do quepromovem alguma libertação.

Lamento muito o fato de que esse tipode prática religiosa primitiva e muitas vezesirracional esteja se estabelecendo e setornando muito comum entre nós. Isso é umforte sintoma de que o cristianismo atualtem padecido de um perigoso funda-mentalismo e de certa inconcistênciadoutrinária que pode se tornar crônica.

Rezo a Deus para que o exorcismo feitopelo “Cabo Veio” não se torne moda entreos pentecostais católicos e evangélicos. Jáavisei por aqui: na minha igreja ninguémentra armado! Pe. Fabrício Beckmann

O prazer de ajudar alguém não tempreço. O bordão “...não tem preço”,aplicado a tudo que nos dá muita satis-fação, foi criado por uma importante marcade cartão de crédito. É uma grande sacadade marketing para uma coisa simples, dignados grandes profissionais...

O Globo Repórter de 11 de 11 de 2011(data marcante...) trouxe uma reportagemsobre doação de órgãos. Foram cenasemocionantes, em que crianças e adultospodiam ser vistos nas diversas filas deespera por órgãos que lhes salvassem avida. Foram mostradas ainda as diferentescondições em que se encontram algunsdos estados brasileiros no que se refere àpolítica e efetivação dos programas detransplantes. São Paulo é, de longe, o maisdesenvolvido. Surpreendem a condição deestados como Ceará, com bons resultadose avanços significativos, e o atraso do Riode Janeiro no caso de transplante decórneas: lá, a espera é de quase seis anos;vindo para São Paulo, mais especifica-mente para Sorocaba, o tempo da filadesaba para aproximadamente cincomeses. Não dá para entender...

Fiquei sabendo que o Brasil é o paíscom o maior programa de transplantes domundo e detém tecnologia de ponta nestesetor... Taí um dado que nos orgulha comobrasileiros... Certamente existem dedicadosexecutivos e médicos que conseguem sesobrepor à burocracia e à corrupção,obtendo resultados que salvam a vida demilhares de brasileiros. Mas nossospacientes ainda aguardam em longas filaspor órgãos como coração, fígado e rins...Isso tudo por falta de solidariedade!

Imagino a situação de quem esperapor qualquer órgão... Como fica a cabeçade uma pessoa que espera a morte de outrapara se salvar? Não deve ser fácil... Masse não há como evitar a morte de um entequerido, existe a possibilidade de propor-cionar a possibilidade de prolongar a vidade alguém. É assim que devemos pensar...Solidariedade e altruísmo é de quenecessitamos!

Existem diversas maneiras de se regis-trar a vontade de doação de nossosórgãos... Façamos isso! Informemo-nos!Afinal, dependemos de quem fica parafazer valer nossa vontade.

São muitas as crenças sobre o queacontece após a morte. Acreditemos noque for, sabemos que a sensação dos queficam é de saudades... Sendo assim, porque não acreditar que, se endossarmos avontade de quem se foi, estaremos fazendocom que ele se sinta melhor onde quer queesteja? Doar vida, doar o pulsar docoração, doar a beleza da luz e das cores, oalívio de um andar sem cansaço... Isso sim,não tem preço!

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Poder ajudar alguémnão tem preço!

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O ESTAFETA Piquete, novembro de 2011Página 8

Podemos dizer que os filhos da ÁfricaSubsaariana viraram mercadoria?

De maneira alguma!A escravidão negra nas Américas não

transformou o africano em mercadoria.O africano não estabeleceu um preço

para si. Não se vendeu.O homem vira mercadoria por livre e

espontânea vontade.Quando estabelece um preço para o

próprio corpo, para o próprio voto, para aprópria vontade, para as próprias idéias, aísim, o homem é mercadoria.

Em tempo recente, os brasileiros estamosmatriculados, à revelia, em um curso defalcatruas a distância.

Estamos aprendendo como é dis-tribuído aquele montante assustador queo impostômetro registra sem interrupção,com uma avidez que desorienta a cabeçado cidadão comum.

O processo de compra e venda não é onosso simples toma lá dá cá.

“– Meu voto é seu, se você garantir oemprego para o meu filho.

– Se você contratar minha empresa, vãopara a sua conta bancária quinze por centodo valor da obra (e os quinze por cento jáforam incluídos no preço pago peloscidadãos).

– Se o seu partido apoia a nossa emenda,

Diz a literatura exemplar que tudo o queo rei Midas tocava virava ouro.

Pois existem pessoas que transformamem mercadoria tudo o que tocam.

Houve um homem chamado Iscariotesque estabeleceu um preço para um serhumano. Afirmou que valia trinta dinheiros.E o vendeu pela quantia estabelecida.

Alguém julga possível que o Cristo, oUngido, virasse mercadoria pela vontadede um ser humano desqualificado, dese-quilibrado pela ambição?

A história nos dá notícia de vencidosem guerras que se tornaram escravos esubmetidos a trabalhos forçados.

Na construção da ferrovia da Birmânia(Mianmar), obra dos japoneses, morreram105.000 operários. No canal do Báltico,construído pelos soviéticos, sucumbiram100.000 prisioneiros de guerra.

Estes seres humanos viravam mer-cadoria? De maneira alguma.

Ninguém tem o poder de transformaralguém em mercadoria.

O ser humano só vira mercadoriaquando ele próprio estabelece um valorpara si. Quando ele próprio se vende.

Nossos livros escolares trazem figurasde homens e mulheres praceados. Sereshumanos exibidos em praça pública, obser-vados, medidos, avaliados e comprados.

nós apoiaremos a emenda do seu partido.– Se o seu partido faz coligação

conosco, nós repartiremos fraternalmenteos cargos.”

Quanta mercadoria existe por trás doscargos em comissão!

Estamos comemorando o dia da Cons-ciência Negra.

Se algum brasileiro de cor preta aindapensa que seus antepassados forammercadoria, faça um exercício de passar alimpo esta página da história.

O negro africano não foi mercadoria,assim como Cristo também não foi.

O negro africano não se vendeu, assimcomo Cristo também não se vendeu.

Aproveito a oportunidade para fazerlembrar que:

1- A Constituição Brasileira já come-morou vinte e três anos.

2- O Art. 68 do Ato das DisposiçõesTransitórias determina

– “Aos remanescentes das comuni-dades dos quilombos que estiveremocupando suas terras é reconhecida apropriedade definitiva, devendo o Estadoemitir-lhes os títulos respectivos”.

Até quando os quilombolas vãoesperar?

Abigayl Lea da Silva

Interpretação capenga

Ao longo do século XX, as comunidadesjongueiras estiveram envolvidas em com-plexos e dinâmicos processos sócio-culturais que condicionaram diferenças eespecificidades. Em muitas das comuni-dades com descendentes de escravos nosudeste brasileiro o Jongo desapareceu,tanto pela dispersão de seus praticantes,em consequência da migração e de proces-sos de urbanização, quanto pelo obscu-rantismo dessas práticas por outras expres-sões de maior apelo junto ao crescentemercado de bens simbólicos. Também avergonha motivada pelo preconceito,expresso pelos segmentos da sociedadeabrangente, relativo as práticas culturais

afro-brasileiras foi motivo do desapa-recimento do Jongo.

Em Piquete, desde sempre a comunidadenegra dança o Jongo. Em algumas datasespecíficas, os jongueiros tradicionalmentese juntavam em roda para cantar e dançar.Mas, como ocorreu em outros lugares, aospoucos essa manifestação cultural foifenecendo, de maneira que, com a morte deTerezinha Generoso – grande estimuladorado jongo em Piquete –, e de outros jon-gueiros, deixamos de ouvir os sons dotambu, das palmas e dos cantos. Mas,graças à perseverança, incentivo e força deGilberto Augusto, o Professor Gil, estimu-lado por pesquisadores e estudiosos de

universidades de São Paulo e Rio de Janeiro,o jongo renasceu. E nos últimos dez anosganhou grande visibilidade. Chama aatenção no grupo Jongo de Piquete o grandenúmero de jovens, a maioria filhos ou netosde jongueiros. Eles mantêm grande inte-gração, em que se fazem presentes aconstrução da identidade e a reafirmaçãode valores comuns. Muito alegre, o Jongode Piquete vem se apresentando em várioslocais, tornando-se conhecido em váriaspartes do Brasil. Registrado no IPHAN comopatrimônio cultural imaterial do país, vemrecebendo da Fundação Christiano Rosa,desde 1997, apoio e reconhecimento.

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O jongo de Piquete: Patrimônio Imaterial do Brasil

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