10
Revista PIBIC, v. 2, p. 133-141, 2005 133 M ATEMÁTICA Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise dos três níveis de conhecimento esperados dos estudantes em análise combinatória e cálculo de probabilidades Kelly Mitie Kamiya Pesquisador Marlene Alves Dias Orientador Resumo Neste trabalho apresentaremos de forma sucinta o quadro teórico de nossa pesquisa sobre os três níveis de conhecimento esperados dos estudantes segundo a definição de Aline Robert. Em seguida, apresentaremos a metodologia da pesquisa, assim como a grade de análise construída para avaliar como são tratados estes três níveis de conhecimento em um curso introdutório de análise combinatória e cálculo de probabilidades. Finalmente, apresentaremos exemplos sobre a análise dos livros didáticos e algumas conclusões globais que pudemos retirar deste trabalho. Palavras- chave : Níveis de conhecimento. Análise combinatória. Probabilidade. Ensino. Aprendizagem. Abstract First, we will present in a brief way the theoretical picture of our research on students expected knowledge levels according to Aline Robert’s definition. Then, we will present the research methodology, as well as a built analysis grating to evaluate how these three knowledge levels are trated in an introductory course of combinatory analysis and probabilities calculation. Finally, we will present examples on the analysis of the text books and some global conclusions. Key-words : Knowledge levels. Combinatory analysis. Probability. Teaching. Learning.

Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão

Revista PIBIC, v. 2, p. 133-141, 2005

133

MATEMÁTICANíveis de conhecimento esperados dosestudantes: análise dos três níveis deconhecimento esperados dos estudantes emanálise combinatória e cálculo deprobabilidades

Kelly Mitie KamiyaPesquisador

Marlene Alves DiasOrientador

Resumo

Neste trabalho apresentaremos de forma sucinta o quadro teórico de nossa pesquisa sobre os três níveis de conhecimento

esperados dos estudantes segundo a definição de Aline Robert. Em seguida, apresentaremos a metodologia da pesquisa,

assim como a grade de análise construída para avaliar como são tratados estes três níveis de conhecimento em um curso

introdutório de análise combinatória e cálculo de probabilidades. Finalmente, apresentaremos exemplos sobre a análise

dos livros didáticos e algumas conclusões globais que pudemos retirar deste trabalho.

Palavras-chave: Níveis de conhecimento. Análise combinatória. Probabilidade. Ensino. Aprendizagem.

Abstract

First, we will present in a brief way the theoretical picture of our research on students expected knowledge levels according

to Aline Robert’s definition. Then, we will present the research methodology, as well as a built analysis grating to evaluate

how these three knowledge levels are trated in an introductory course of combinatory analysis and probabilities calculation.

Finally, we will present examples on the analysis of the text books and some global conclusions.

Key-words: Knowledge levels. Combinatory analysis. Probability. Teaching. Learning.

Page 2: Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão

134

Revista PIBIC, v. 2, p. 133-141, 2005

Kelly Mitie Kamiya

1 Introdução

Neste trabalho apresentamos de forma sucinta nossa

análise sobre os três níveis de conhecimento esperados

dos estudantes em análise combinatória e probabilidade.

Iniciamos com o seguinte questionamento:

1) Quais os questi onamentos matemáticos

necessários em análise combinatória e probabilidade e

como eles aparecem na história?

2) Sobre que níveis de conhecimento fundamentar

estas necessidades: técnicos, mobilizáveis e disponíveis

(segundo A. Robert)?

3) Em que sistema de tarefas e práticas podemos

desenvolver estes três níveis de conhecimento?

4) Como estão sendo trabalhados institucionalmente

estes diferentes níveis de conhecimento?

Para abordar as questões acima fizemos um estudo

de alguns trabalhos didáticos e epistemológicos nos

quais os três níveis de conhecimento têm um papel

central.

Analisamos ainda o funcionamento institucional dos

três níveis de conhecimento em análise combinatória e

probabilidade conforme definição proposta por A.

Robert (ROBERT, 1997).

Esta análise institucional foi feita através da pesquisa

de um conjunto de livros didáticos e sites com proposta

para o ensino médio e superior.

A partir dos dados recolhidos, identificamos um

conjunto de tarefas e práticas que permitem ao estudante

trabalhar de forma autônoma em qualquer um dos três

níveis.

2 Quadro teórico da pesquisa

Nos apoiamos principalmente no seguinte:

* Nas abordagens teóricas de A. Robert (1997), R. Douady

(1992), R. Duval (1995), J. Robinet (1984), M. Rogalski

(1995).

* Nas diferentes pesquisas em probabilidade e estatística,

em particular, nos trabalhos de Henry M. e Rousset-

Bert S. (1996) e Pichard J. F. (1997).

2.1 Os três níveis de conhecimento esperados dos

estudantes

A abordagem teórica dos três níveis de conhecimento

esperados dos estudantes será fundamentada na definição

de A. Robert, a saber:

O nível técnico corresponde a um trabalho isolado,

local e concreto. Está relacionado principalmente às

ferramentas e definições utilizadas em uma determinada

tarefa.

Exemplo:

Usando o diagrama da árvore, obter todos os

arranjos dos elementos de M={ a,b,c,d} tomados dois a

dois. (HAZZAN, 1985).

O nível mobilizável corresponde a um início de

justaposição de saberes de um certo domínio, podendo

até corresponder a uma organização, vários métodos

podem ser mobilizados. O caráter ferramenta e objeto

do conceito estão em jogo, mas o que se questiona é

explicitamente pedido. Se um saber é identificado, ele é

considerado mobilizado se ele é acessível, isto é, se o

estudante o utiliza corretamente.

Page 3: Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão

Revista PIBIC, v. 2, p. 133-141, 2005

135

Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análisedos três níveis de conhecimento esperados dos estudantesem análise combinatória e cálculo de probabilidades

Exemplo:

Lançamos dois dados honestos, um vermelho e um azul.

Determine:

a) O universo desta prova.

b) Descreva o evento A: “Nos dois dados saem os

mesmos números”. E calcule a sua probabilidade.

O nível disponível corresponde a saber responder

corretamente o que é proposto sem indicações de poder,

por exemplo, dar contra-exemplos (encontrar ou criar),

mudar de quadro (fazer relações), aplicar métodos não

previstos.

Este nível de conhecimento está associado à

famil iaridade, ao conhecimento de situações de

referência variadas que o estudante sabe que as conhece

(servem de terreno de experimentação), ao fato de dispor

de referências, de questionamentos, de uma organização.

Podendo funcionar para um único problema ou

possibilitando fazer resumos.

Exemplo:

* Sobre um quadriculado, consideramos os dois pontos

O (0,0) e A (n,m). Enumerar trajetórias (caminhos) de O

até A. (XUONG, 1992)

3 Metodologias da pesquisa

Nesta pesquisa cruzamos as abordagens

seguintes:

1) Uma análise preliminar das diferentes tarefas que

intervêm num curso de análise combinatória e

probabilidade e os diferentes níveis de conhecimento

em jogo nestas tarefas. Com base nesta análise,

estudamos o funcionamento institucional, relacionado

à articulação dos três níveis de conhecimento (técnico,

disponível e mobilizável).

2) Uma análise da forma como estes três níveis são

gerados institucionalmente, através da pesquisa de livros

didáticos e sites. Observamos as regularidades e

diferenças existentes entre os autores e entre alguns

livros e sites de nível médio e superior.

4 A grade de análise

O propósito desta grade é de servir como um

instrumento que permita analisar os diferentes níveis

de conhecimento exigido dos estudantes num curso de

introdução de análise combinatória e cálculo de

probabilidade para o ensino médio e superior.

Esta grade permite analisar os três níveis de

conhecimento (técnico, mobil izável e disponível)

exigido dos estudantes:

· Em função das noções de análise combinatória e cálculo

de probabilidade em jogo, em um curso de introdução;

· Em função das tarefas encontradas neste nível;

· Em função das variáveis destas tarefas, daremos ênfase

ao nível de conhecimento pedido explicitamente no

enunciado e os diferentes níveis de conhecimento de

outras noções que devem ser utilizados para a solução

da tarefa;

· Em relação às noções de análise combinatória,

agrupamos em quatro classes:

a noção de Princípio Fundamental da Contagem

a noção de Permutação com e sem repetição

a noção de arranjo com e sem repetição

Page 4: Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão

136

Revista PIBIC, v. 2, p. 133-141, 2005

Kelly Mitie Kamiya

a noção de combinação com e sem repetição;

· Em relação às noções de cálculo de

probabilidade, agrupamos em cinco classes:

a noção de probabilidade e suas propriedades

a noção de variáveis aleatórias discretas

a noção de lei (distribuição ou modelo) discreta

e suas propriedades

a noção de variáveis aleatórias contínuas

a noção de lei(distribuição ou modelo) contínua

e suas propriedades.

Para cada uma destas noções, “evidenciamos” as

diferentes tarefas usualmente encontradas num curso

de introdução e quais diferentes níveis de conhecimento

são exigidos dos estudantes. Para especificar a tarefa

em relação aos diferentes níveis de conhecimento

exigidos, consideramos as variáveis das tarefas definidas

abaixo:

O nível de conhecimento pedido na tarefa;

Os regi stros e representações dadas no

enunciado;

O quadro em que a tarefa é enunciada;

Os tipos de representação exigidos na solução

da tarefa;

Os níveis de conhecimento necessários para a

execução da tarefa em relação às noções que serão

utilizadas.

4.1 Exemplo de funcionamento da grade em uma

tarefa

· Determinar o número de permutações com repetição

de n elementos.

Exemplo: Sobre um quadriculado, consideramos os

pontos O (0,0) e A (n,m). Enumerar as trajetórias

(caminhos) de O até A. (XUONG, 1992).

Nesta tarefa particular, as variáveis são as seguintes:

* Nível de conhecimento exigido na tarefa: disponível;

* Registros de representação dados no enunciado:

registro de representação simbólica intrínseca;

* Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro da análise

combinatória;

* Tipos de representação exigidos na solução da tarefa:

passagem ao registro gráfico que permite verificar a

necessidade de n caminhos horizontais e m verticais;

* Níveis de conhecimento necessários para a execução

da tarefa em relação às noções que serão utilizadas:

para a solução desta tarefa todas as noções que serão

utilizadas não são indicadas no problema, logo dependem

da familiaridade e do conhecimento de situações de

referência exigindo, desta forma, o nível disponível para

a sua solução.

5 A análise dos livros didáticos

Nossa análise foi estruturada em torno das seguintes

questões:

* Como são introduzidas as diferentes noções e como

elas se articulam?

Page 5: Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão

Revista PIBIC, v. 2, p. 133-141, 2005

137

Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análisedos três níveis de conhecimento esperados dos estudantesem análise combinatória e cálculo de probabilidades

* Que pesos respectivos ocupam os níveis: técnico,

disponível e mobilizável nas tarefas propostas aos

estudantes?

* Existe um discurso do tipo metamatemático no curso

e no tratamento dos exemplos que o acompanham que

auxilie os estudantes no desenvolvimento dos níveis

mobilizável e disponível?

5.1 Exemplos de análise dos livros didáticos

A) Análise da obra de S. Hazzan

O organograma seguinte mostra a progressão do

curso de S. Hazzan, concebido como um curso

introdutório de análise combinatória e cálculo de

probabilidades, para ser utilizado no ensino médio.

Comentários e análise:

O autor inicia seu trabalho no quadro da análise

combinatória com a noção de Princípio Fundamental

da Contagem. Ele desenvolve esta noção utilizando o

diagrama da árvore. Após esta introdução, o autor define

arranjo com e sem repetição, permutação com e sem

repetição, e introduz a noção de fatorial que permite

simplificar a notação utilizada.

O autor trata somente o caso da combinação sem

repetição e os exemplos dados, assim como os exercícios

propostos em todo o curso, estão sempre em uma ordem

que só exige dos estudantes a aplicação direta de uma

definição, isto é, os exemplos e os exercícios são tratados

em um nível técnico sendo os níveis mobilizável e

disponível associados a outras noções que estão em jogo

na tarefa proposta como mostra o exemplo abaixo:

Page 6: Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão

138

Revista PIBIC, v. 2, p. 133-141, 2005

Kelly Mitie Kamiya

Por outro lado cada função vai ser definida por uma

n’upla de imagens, onde todos os elementos da n’upla

devem ser distintos, pois a função é injetora.

Por exemplo, uma das funções é definida pela n’upla

de imagens.

Outra função é definida pela n’upla

Logo, o número de funções é o número de arranjos

dos r elementos de B, tomados n a n, isto é,

)!(!rn

rArn . (HAZZAN, 1977).

O autor propõe como aplicações o binômio de

Newton, o triângulo de Pascal e uma série de exercícios

que exigem no máximo o nível mobilizável, mesmo

assim em relação a noções estudadas anteriormente.

Da mesma forma, o autor faz uma introdução ao

cálculo de probabilidades apresentando as definições e

os principais teoremas e propriedades que são

demonstrados utilizando os conceitos de teoria dos

conjuntos. Como observado acima, o exemplo e a tarefa

proposta exigem, no máximo, o nível mobilizável e

mesmo assim relativo às noções anteriormente estudadas.

Page 7: Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão

Revista PIBIC, v. 2, p. 133-141, 2005

139

Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análisedos três níveis de conhecimento esperados dos estudantesem análise combinatória e cálculo de probabilidades

Na realidade, trata-se de um curso introdutório para

os estudantes do ensino médio de análise combinatória

e cálculo de probabilidades.

B) Análise da obra de Magalhães M. N. e Pedroso

Lima A . C.

O organograma mostra a progressão do curso de

Magalhães e Lima, concebido como um curso

introdutório de Probabilidade e Estatística, podendo ser

utilizado por diferentes públicos científicos.

Comentários e análise:

Os autores iniciam com um capítulo de introdução à

análise exploratória dos dados no qual procuram dar

uma idéia geral do que é estatística e como se organizam

os dados com ou sem o uso do computador.

Em seguida, os autores fazem uma breve introdução

da álgebra dos eventos e definem espaço amostral. A

relação entre álgebra dos eventos e álgebra dos conjuntos

é feita implicitamente, portanto, fica a cargo dos

estudantes dispor dos conhecimentos em álgebra dos

conjuntos e associá-los à álgebra dos eventos.

Os autores definem probabilidade e utilizam também

implicitamente as propriedades dos conjuntos para o

caso do cálculo de probabilidades, o que lhes permite

def i ni r probabi l idade condicional e eventos

independentes.

Para tratar os exemplos, os autores utilizam a árvore

de probabilidade, o diagrama de Venn e um discurso

metamatemático que podemos caracterizar como em um

nível disponível porque, neste momento, os autores

justificam as diferentes passagens utilizando definições

e teoremas que não são pedidos no enunciado. O exemplo

abaixo permite compreender melhor a necessidade deste

apelo ao nível disponível.

Exemplo: Suponha que um fabricante de sorvetes

recebe 20% de todo o leite que utiliza da fazenda F1,

30% de uma outra fazenda F2 e 50% de F3. Um órgão de

fiscalização inspecionou as fazendas de surpresa e

observou que 20% do leite produzido por F1 estava

adulterado por adição de água, enquanto que para F2 e

F3 essa proporção era de 5% e 4%, respectivamente. Na

indústria de sorvetes os galões de leite são armazenados

em um refrigerador sem identificação das fazendas. Para

um galão escolhido ao acaso, vamos analisar o leite e

decidir sobre sua adulteração ou não.

Se denotamos por A o evento “o leite está

adulterado”, temos que P(A | F1) = 0,20, P(A | F2) = 0,05

e P(A | F3) = 0,02. Além disso, F1, F2 e F3 formam uma

partição do espaço amostral, pois uma dada amostra de

leite vem, necessariamente, de uma e apenas uma das

três fazendas. Desta forma, o evento A pode ser escrito

em termos de interseções de A com os eventos F1, F2 e

F3, conforme ilustra a figura a seguir:

Podemos ainda estar interessados em saber qual a

probabilidade de que a amostra adulterada tenha sido

obtida do leite fornecido pela fazenda F1, isto é, P(F1 |

A), o que implica em se inverter a probabilidade

conhecida P(A | F1). (MAGALHÃES; LIMA, p. 46 e 47).

Page 8: Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão

140

Revista PIBIC, v. 2, p. 133-141, 2005

Kelly Mitie Kamiya

Da mesma forma, os autores prosseguem definindo

as variáveis aleatórias contínuas e os modelos usuais a

elas associados. Para esses modelos, os exemplos dados

são sempre acompanhados de um discurso

metamatemático que se desenvolve em um nível

mobilizável e disponível em relação às noções em jogo,

assim como em relação aos diferentes registros de

representações utilizados e às mudanças de quadro e

pontos de vista que se mostram necessários para o

desenvolvimento das tarefas apresentadas.

As tarefas propostas também exigem os níveis

mobilizável e disponível e assim como os exercícios

resolvidos, em geral, tratam de questões nas quais a

modelagem matemática assume um papel fundamental.

Nos exemplos dos livros considerados acima, fica

evidente a importância dos níveis mobil izável e

disponível tanto para a análise combinatória quanto

para o cálculo de probabilidades. Nos dois casos, os

exemplos e exercícios tratados estão sempre associados

a uma descrição da realidade exigindo um trabalho ainda

mais complexo que é o da solução de uma tarefa que

faz apelo a um modelo matemático.

Page 9: Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão

Revista PIBIC, v. 2, p. 133-141, 2005

141

Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análisedos três níveis de conhecimento esperados dos estudantesem análise combinatória e cálculo de probabilidades

Uma breve conclusão

A avaliação do funcionamento institucional através

dos livros didáticos de diferentes níveis do Brasil e da

França deixa evidente que a análise combinatória não é

considerada, de um ponto de vista mais generalizado,

nos livros brasileiros como nos livros franceses, onde

essas noções são retomadas no superior. Dessa forma,

podemos supor que esta escolha poderá conduzir a

dificuldades no tratamento de problemas onde os níveis

mobilizável e disponível sejam necessários.

O estudo do panorama matemático de análise

combinatória quando considerado de um ponto de vista

mais avançado do que o tratado no ensino médio, mostra-

se de grande interesse para as articulações de quadro,

registro e pontos de vista que permitem o acesso aos

três níveis de conhecimento (técnico, mobilizável e

disponível). Essas articulações são essenciais para o

tratamento de tarefas que ultrapassem uma abordagem

que se restringe ao nível técnico de aplicação da análise

combinatória.

Em relação ao cálculo de probabilidades, a avaliação

do funcionamento institucional tende a mostrar que os

diferentes livros didáticos propõem abordagens mais

ou menos profundas. A abordagem do assunto, com

menos profundidade, poderá di f icul tar o

desenvolvimento do nível disponível, essencial para o

trabalho com os diferentes modelos. Portanto, o

desempenho futuro nesse conteúdo depende da escolha

bibliográfica feita.

A análise das tarefas, tanto de análise combinatória

quanto de cálculo de probabilidades, permite identificar

uma forte tendência dos níveis mobilizável e disponível

e, portanto, uma necessidade de articulação entre

quadros, registros e pontos de vista fica cada vez mais

evidente. Neste caso, verifica-se uma forte integração

entre diferentes conteúdos e disciplinas.

Referências

DOUADY, R. Des apports de la didactique des mathématiques à l’enseignement. Repères IREM, n. 6.1992.

DUVAL, R. Sémiosis et pensée humaine. Peter Lang, Paris.1995.

HAZZAN, S. Fundamentos de matemática elementar. 5. ed. São Paulo: Atual, 1985. v. 5.

HENRY, M.; ROUSSET-BERT, S. Modélisation et registres de représentations. Actes de L’universite d’ete. 1996.

MAGALHÃES, M. N.; LIMA, A. C. P. Noções de probabilidade e estatística. 3. ed. São Paulo: IME-USP, 2001.

PICHARD, J. F. La théorie des probabilités au tournant du XVII siècle. Enseigner les probabilités au lycée. IREM.1997.

ROBERT, A. Quelques outils d’analyse épistemologique et didactique de connaissances mathématiques à enseigner

au lycée et à l’université. Actes de la IX école d’ete de didactique dês mathématiques. Houlgate. França.1997.

ROBINET, J. Ingénierie didactique de l’élémentaire au supérieur. 1984.

ROGALSKI, M. Notas du seminaire à São Paulo. Brasil. 1995.

XUONG, N. H. Mathématiques discrets et informatique. Masson. Paris.1992.

Page 10: Níveis de conhecimento esperados dos estudantes: análise ... · da tarefa; Os níveis de conhecimento necessários para a execução da tarefa em relação às noções que serão