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O ALICERCE EDIÇÃO 3 - GRAMADO, SETEMBRO DE 2015. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - CIRCULAÇÃO MENSAL FACEBOOK.COM/OALICERCEGRAMADO A crise econômica vem en- chendo a boca das clas- ses patronais para nego- ciar salários bem abaixo do pedido pelos trabalhadores – enquanto que as contas che- gam com valores maiores a cada mês. Na região, observa-se a re - cusa do Sindilojas (entidade pa- tronal) a pagar o piso regional aos comerciários. As entidades vêm se reunin- do, sem sucesso, para negociar a convenção coletiva deste ano. O Sindicato dos Comerciários de Canela, Gramado e Região não acha justo fechar com sa - lário abaixo do piso regional da categoria, atualmente em R$ 1.053,42, que é um direito. Hoje os funcionários do comércio re - cebem uma base de R$ 918,00. No início do mês passado, a assessoria de comunicação do Sindilojas enviou um texto à im- prensa exprimindo sua visão so - bre a crise, afirmando que a ne - gociação da convenção coletiva deveria acompanhar a situação da economia. Sobre a justificativa patronal, o presidente do Sindicomerciá- rios, Clério Sander, contrapõe: “Por que a patronal não senta com os proprietários dos imó- veis para pedir que baixem um pouco o preço dos aluguéis? Um pequeno desconto já basta- ria para que se pagasse o piso dos funcionários. Mas não: eles sempre preferem tirar do traba - lhador”. Clério também frisou que, conforme reportes dos fun - cionários, o comércio não tem sido abalado na região. O setor turístico registra movimento comparável ou até superior ao ano anterior. Outro sindicato em negocia- ção com a patronal é o dos Me - talúrgicos de Canela, Gramado e região. A entidade pede rea - juste de 11,34% - inflação anual calculada até maio (data-base) + 3% de ganho real. O sindicato patronal estadual oferece ape - nas 5% de imediato e mais 3,34% em novembro. “Não é aceitável a perda no valor real dos salá- rios. Não vemos que a conjun - tura esteja a ponto de justificar isso”, sentenciou Francisco Pe- droso, presidente do Sindimetal da região. FUNCIONALISMO ESTADUAL NA MIRA DAS POLÍTICAS DE AUSTERIDADE DE SARTORI No setor público também se cor - ta na carne dos que menos têm, caso dos parcelamentos salariais do funcionalismo estadual e cortes em serviços essenciais à população. Os funcionários, notadamente os professores, levantam-se contra as polícas de austeridade levadas a cabo por José Sartori. Acompanhan- do a mobilização estadual, quatro escolas registraram adesão à greve no úlmo mês. “Atrasar os salários do funciona- lismo é um contraponto de um go- vernador que sanciona aumento de deputados e secretários - o que não é determinante para as finanças pú- blicas, mas indigna professores e a sociedade como um todo”, consta- tou Nelson Szynwelski, professor na rede estadual de Gramado Durante visita às escolas estadu- ais da cidade, Luiz Veronezi, 2º vice-presidente do Centro de Pro- fessores do RS (CPERS) afirmou que a condução da crise é arbitrá- ria e seletiva. Cortar na carne dos trabalhadores, afirma, é uma op- ção. Para justificar, elenca alguns pontos: os auditores estaduais – em número insuficiente para ta- manha demanda – apontam que o Estado perde cerca de 7 bilhões por ano com sonegações de em- presas; outros valores importan- tes são preteridos com incentivos fiscais a grandes empreendimen- tos; o governo do PMDB poderia articular junto a sua numerosa bancada no Congresso, além do vice-presidente da República, a antecipação da aplicação do novo indexador da dívida pública, favo- rável ao Estado, e regulamentar a lei dos royalties do petróleo. O que Veronezi chama de “des- governo”, porém, prefere não mexer com os grandes agentes econômicos, aplicando, então, austeridade à população. Concomitante ao quadro de ar- rocho salarial, o setor financeiro vê seu capital fictício se multipli - car com as altas taxas de juros. Se faltam verbas para serviços públi - cos, sobram nada menos do que 45% de recursos do orçamento da União para o pagamento da dívida pública – uma bolsa-ban- queiro e tanto. Assim, vemos que quem suporta o peso da crise são os trabalhadores. IGOR MALLMANN Crise para quem? Patrões e governos sacrificam trabalhador para sustentar lucros em momento de recessão

O alicerce - edição 3

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Page 1: O alicerce - edição 3

O ALICERCEEDIÇÃO 3 - GRAMADO, SETEMBRO DE 2015. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - CIRCULAÇÃO MENSAL

FACEBOOK.COM/OALICERCEGRAMADO

A crise econômica vem en-chendo a boca das clas-ses patronais para nego-ciar salários bem abaixo

do pedido pelos trabalhadores – enquanto que as contas che-gam com valores maiores a cada mês. Na região, observa-se a re-cusa do Sindilojas (entidade pa-tronal) a pagar o piso regional aos comerciários.

As entidades vêm se reunin-do, sem sucesso, para negociar a convenção coletiva deste ano. O Sindicato dos Comerciários de Canela, Gramado e Região não acha justo fechar com sa-lário abaixo do piso regional da categoria, atualmente em R$ 1.053,42, que é um direito. Hoje os funcionários do comércio re-cebem uma base de R$ 918,00.

No início do mês passado, a assessoria de comunicação do Sindilojas enviou um texto à im-prensa exprimindo sua visão so-bre a crise, afirmando que a ne-gociação da convenção coletiva deveria acompanhar a situação da economia.

Sobre a justificativa patronal, o presidente do Sindicomerciá-rios, Clério Sander, contrapõe: “Por que a patronal não senta com os proprietários dos imó-veis para pedir que baixem um pouco o preço dos aluguéis? Um pequeno desconto já basta-ria para que se pagasse o piso dos funcionários. Mas não: eles sempre preferem tirar do traba-lhador”. Clério também frisou que, conforme reportes dos fun-cionários, o comércio não tem sido abalado na região. O setor turístico registra movimento comparável ou até superior ao ano anterior.

Outro sindicato em negocia-ção com a patronal é o dos Me-talúrgicos de Canela, Gramado

e região. A entidade pede rea-juste de 11,34% - inflação anual calculada até maio (data-base) + 3% de ganho real. O sindicato patronal estadual oferece ape-nas 5% de imediato e mais 3,34% em novembro. “Não é aceitável a perda no valor real dos salá-rios. Não vemos que a conjun-tura esteja a ponto de justificar isso”, sentenciou Francisco Pe-droso, presidente do Sindimetal da região.

FUNCIONALISMO ESTADUAL NA MIRA DAS POLÍTICAS DE AUSTERIDADE DE SARTORI

No setor público também se cor-ta na carne dos que menos têm, caso dos parcelamentos salariais do funcionalismo estadual e cortes em serviços essenciais à população. Os funcionários, notadamente os professores, levantam-se contra as políticas de austeridade levadas a cabo por José Sartori. Acompanhan-

do a mobilização estadual, quatro escolas registraram adesão à greve no último mês.

“Atrasar os salários do funciona-lismo é um contraponto de um go-vernador que sanciona aumento de deputados e secretários - o que não é determinante para as finanças pú-blicas, mas indigna professores e a sociedade como um todo”, consta-tou Nelson Szynwelski, professor na rede estadual de Gramado

Durante visita às escolas estadu-ais da cidade, Luiz Veronezi, 2º vice-presidente do Centro de Pro-fessores do RS (CPERS) afirmou que a condução da crise é arbitrá-ria e seletiva. Cortar na carne dos trabalhadores, afirma, é uma op-ção. Para justificar, elenca alguns pontos: os auditores estaduais – em número insuficiente para ta-manha demanda – apontam que o Estado perde cerca de 7 bilhões por ano com sonegações de em-presas; outros valores importan-tes são preteridos com incentivos fiscais a grandes empreendimen-tos; o governo do PMDB poderia articular junto a sua numerosa bancada no Congresso, além do vice-presidente da República, a antecipação da aplicação do novo indexador da dívida pública, favo-rável ao Estado, e regulamentar a lei dos royalties do petróleo.

O que Veronezi chama de “des-governo”, porém, prefere não mexer com os grandes agentes econômicos, aplicando, então, austeridade à população.

Concomitante ao quadro de ar-rocho salarial, o setor financeiro vê seu capital fictício se multipli-car com as altas taxas de juros. Se faltam verbas para serviços públi-cos, sobram nada menos do que 45% de recursos do orçamento da União para o pagamento da dívida pública – uma bolsa-ban-queiro e tanto. Assim, vemos que quem suporta o peso da crise são os trabalhadores.

IGOR MALLMANN

Crise para quem?Patrões e governos sacrificam trabalhador para sustentar lucros em momento de recessão

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O TRABALHO

“A emancipação dos trabalhado-res será obra dos próprios traba-

lhadores.”Karl Marx

A HORA E A VEZ DO TRABALHADOR

Neste mês de setembro, terceira edi-ção do jornal O Alicerce, instrumento de informação classista e revolucio-nária da classe trabalhadora, peço li-cença aos leitores para usar o espaço da coluna O Trabalho para me dirigir a uma categoria especifica.No cargo de diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares, Res-taurantes e Similares de Gramado, convoco os empregados dessa ca-tegoria que possui inúmeros traba-lhadores e famílias vinculadas, que é responsável por um dos setores mais importantes da nossa cidade, o turismo, que venham participar da Assembleia Geral da categoria no dia 24/09/2015, às 15h30, na sede do sindicato.Se você que está lendo essa coluna trabalha ou conhece alguém que trabalha nessa categoria, não deixe

de divulgar. Esta é a data e o momen-to mais importante para nós, pois é quando, juntos, iremos discutir as demandas e as reivindicações para, em outubro, levarmos às negocia-ções com a classe patronal.É a hora e o momento de fazer par-te da sua própria história laboral e ajudar tantos outros trabalhadores por melhores condições de vida e de trabalho. Devemos entender que o imobilismo do trabalhador acaba

servindo para fortalecer quem man-da e enfraquecer quem defende a sua classe.Você, trabalhador, é a parte mais im-portante na sua empresa e no seu sindicato, por isso deve fazer parte

das lutas por melhorias para todos os trabalhadores e consequente-mente para toda a sociedade.Leve suas ideias, os seus anseios, o que ocorre no seu local de trabalho e quais as bandeiras de luta que de-vemos priorizar, para que tenhamos avanços significativos nos nossos salários, nas condições de trabalho

assim como conquistar cláusulas so-ciais que venham melhorar a vida de todos os trabalhadores e seus fami-liares.Lembre-se: o poder do sindicato consiste em seu poder de mobiliza-ção.Nos encontramos lá. Juntos somos fortes.

“Os nossos eleitos representam

efetivamente o povo ou estão, tão somente, na defesa de

seus partidos e dos interesses particulares e dos que lhes

acompanham?”

“O poder de um sindicato consiste em

seu poder de mobilização”

H oje verificamos em nos-sos representantes legis-ladores um imobilismo e conforto que é inadmis-

sível e irresponsável. Falamos isso devido ao fato de que se discutem em casas legislativas municipais, estaduais e federais somente os lados dos partidos políticos, o que está no poder e os de que querem a qualquer custo chegar no poder.

Infelizmente, estas casas que deveriam zelar pelo patrimônio público, hoje, quando são forma-das por maioria de quem está no poder, apenas dizem “amém”. E quando quem está no poder não tem esta maioria, sofre dura-mente para conseguir promover algum avanço em sua gestão.

Isto ocorre pelo fato de que a maior parte de nossos legisla-dores (deputados, senadores e vereadores) são instrumentos de seus partidos políticos e es-quecem que na verdade são re-presentantes da sociedade, pela qual foram eleitos e devem lutar.

Assim, quando tentam ter algu-ma liberdade para agirem da for-ma como creem ser a correta ou mais de acordo com as suas res-ponsabilidades, acabam isolados ou afastados por seus “superio-res”.

Este fato infe-lizmente é culpa também de mui-tos de nós, tra-balhadores, que acabam às vezes sendo iludidos pela ideia de que “esse deputado/senador mandou dinheiro para nós” ou por um favor que o vere-ador conseguiu no posto de saú-de ou com algum material de cons-trução.

Pare e se per-gunte: os nossos eleitos representam efetivamen-te o povo ou estão, tão somente, em defesa de seus partidos e dos interesses particulares e dos que

lhes acompanham?Hoje verificamos em muitas ca-

sas legislativas a falta de efetivos representantes dos trabalhado-res originários de categorias pro-fissionais de grande apelo social,

pois, infeliz-mente, a ilu-são de dever um favor ou que um ou outro foi bon-zinho leva a eleição de representan-tes que efeti-vamente não estão lá para defender a maioria da p o p u l a ç ã o , que é a classe trabalhadora.

Bem como os legislado-res acabam reféns do

executivo para o envio de ver-bas para suas bases eleitorais, os governadores e prefeitos fi-cam reféns dos deputados ou

senadores, os vereadores ficam reféns de seus partidos e dos in-teressados que lhes dão suporte financeiro e político e assim vi-vemos um vício de quem tem o dinheiro é quem manda. Quan-do na verdade os legisladores são a representação do povo na repartição de poderes para a criação de leis e para fiscaliza-ção do dinheiro, e da coisa pú-blica e não meros repassadores de verbas.

Muitas vezes, alguns se utili-zam do legislativo para uma boa complementação de renda em decorrência dos altos salários quando na verdade deveriam re-ceber no máximo o salário médio do trabalhador de sua região.

Assim, veja o tamanho da im-portância de seu voto que pode orientar e dirigir todo o futuro da sociedade em que você está inserido. Por isso, você deve ve-rificar e buscar se conscientizar da necessidade de analisar bem seu candidato e se ele efetiva-mente lhe representa ou repre-senta apenas interesses de par-tidos ou apoiadores.

RODRIGO CALLAIS

O tamanho de seu voto

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Mesmo sem impeachment, vitória é conservadora no terceiro turno

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IGOR MALLMANN

JUNIOR RIBEIRO

Há uma desinformação estru-tural sobre o que está em jogo na situação turbulenta que o país atravessa. As re-

des sociais inundam-se de “uma ex-plosão de senso comum elevado à al-tura de debate político”, nas palavras do professor Bruno Lima Rocha*. Precisamos entender, primeiro, que, declarada a eleição petista à presi-dência no ano passo, principia uma espécie de terceiro turno, a extensão da disputa pelo projeto político-eco-nômico a seguir. Advêm os domin-gões da direita que perdeu nas urnas, com transmissão ao vivo pela Globo. O desejado impeachment, ao menos até agora, não vingou, mas a direita acumula vitórias por dentro de um governo cujo projeto se metamor-foseou desde a campanha, asseme-lhando-se cada vez mais ao proposto pelo senador Aécio Neves.

Dilma continua sentada na sua cadeira, mas praticamente já não governa. Diria que a feroz direita ide-ológica das ruas reclama de barriga cheia. O segundo mandato da pre-sidenta se delineou quando da esco-lha de Joaquim Levy para a Fazenda, cabeça do Bradesco, próximo de Ar-mínio Fraga, que seria o ministro de Aécio.

E sobreveio o ajuste fiscal, auste-ridade para todos que sobrevivem como assalariados. A taxa básica de

juros atinge agora 14,25%, para a farra do setor financeiro, que aboca-nha em torno de 45% dos recursos da União com a dívida pública – uma bolsa-banqueiro e tanto. E mais: se-gundo dados da Receita Federal, os cidadãos mais ricos a declararem renda no país ganharam, em 2013, 200 bilhões livres de tributação. Isen-ção aos lucros e dividendos distribuí-dos a donos e sócios implementada pela invasão neoliberal da Era FHC.

Frente a esses dados, soa absurdo o discurso de que programas sociais e políticas públicas comprometem o orçamento e são culpados pela crise. Tais investimentos, aliás, deveriam ser bastante ampliados.

A direita faz uso de um discurso contraditório. Fala em corrupção e má gestão pública como causadoras da crise. Problemas, afirmam, de um governo de “esquerda” – que não existe! A direita, assim, critica suas próprias práticas, listadas an-teriormente. Querem o avanço do “livre-mercado”, o desmonte dos di-reitos sociais e trabalhistas. Mas são justamente estas práticas que vêm minando a condição social do traba-lhador.

Na Câmara dos Deputados, a en-carnação da pior tradição da política profissional, coronelista, clientelista, Eduardo Cunha (PMDB), ataca ga-rantias da CLT e da Constituição com todo tipo de manobras. O outro oli-garca-presidente. Renan Calheiros,

na outra casa legislativa, articula um plano para “salvar” o país, a Agenda Brasil. Salve-se quem puder, isso sim. Pois trata-se de um tratado de rendi-ção ao neoliberalismo.

O fato de o grupo hegemônico de comunicação no país – as Organi-zações Globo – terem, a princípio, abandonado o barco do impeach-ment é sintomático. Para o professor Bruno, o PT é um partido do em-presariado nacional, que olha com temor para o fervor da direita ideo-lógica que, apesar de vestir verde e amarelo, preconiza a entrega do país ao guloso capital internacional.

Obviamente que a quebra da continuidade do governo demo-craticamente eleito com o impe-achment é nociva. Mas evitar a queda da presidente a troco de concessões irrestritas não é nem um pouco melhor. A crítica do go-verno pela esquerda é muito rele-vante, ao contrário do que dizem aqueles que pregam a sua defesa cega. Só alguém completamente entorpecido pode ainda enxergar algum resquício de esquerda em um governo que tem Levy capi-taneando a Fazenda. As classes oprimidas só conseguirão resis-tir aos ataques conservadores se houver organização pela base.

*Declaração do professor e cien-tista político Bruno Lima Rocha em entrevista à Rádio Unisinos FM, no mês passado.

EJA EM REAÇÃO

Busco neste texto refletir sobre a inter-relação entre a escolariza-ção e as práticas educativas que nós jovens e adultos buscamos. O objetivo dessa reflexão é discutir as questões da diversidade em re-lação ao nosso ensino frente aos jovens principalmente. Podemos começar pela noção de que tal-vez não pensamos em uma forma de como utilizar o aprender em nossas vidas. O curto espaço de tempo que temos para concluir os estudos na EJA muitas vezes não nos permite uma reflexão mais profunda da importância desta modalidade de ensino. Somos to-dos iguais sem distinção de idade, mas na corrida do mesmo propó-sito, muitas vezes os alunos não tem motivação, assim como os professores, que buscam na sua vocação a força necessária para continuar.

Em uma discussão teórica so-bre a solução dos problemas de como melhorar a EJA, questão do foco nas aulas, estas devem par-tir dos alunos, para que em con-junto com os professores nossas aulas se tornem mais prazerosas e produtivas. Depois de um dia de trabalho cansativo, ainda temos uma visão romantizada, que este tempo na EJA deve ser de liber-dade e prazer, em momentos que podemos expressar tudo o que pensamos e buscamos para nosso futuro como pessoas.

Podemos notar momentos de crise, algumas vezes permeados por conflitos entre alunos que não querem aprender e professo-res desmotivados, pela estrutura que não tem, pelo abandono das políticas públicas do atual go-verno estadual, mas que querem ensinar, interagir e articular o co-nhecimento. Que não é só aca-dêmico, mas de vida, assim como com certeza aprendem muito com os alunos, e crescem juntos no fortalecimento da EJA, que no Ramos Pacheco tem uma história enraizada na comunidade.

A escola como instituição socia-lizadora, deve junto com alunos e professores fortalecer as relações na busca do coletivo, da valoriza-ção das experiências, da constru-ção permanente do ideal cidadão. * Aluno da Turma T9B EJA da Escola Estadual Boaventua Ramos Pacheco - Gramado (colaboração especial)

VOZ DA COMUNIDADE

Ministro Joaquim Levy e o presidente do Senado, Renan Calheiros, cabeças da “Agenda Brasil”

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Se há um conceito que encheu a boca dos mais variados agen-tes históricos, que inflou os mais generosos ideais, mas

também foi distorcido, usado por di-taduras, é a liberdade. Das salas de pré-escola até a pesquisa acadêmica se discute o que significa ser livre. Da direita à esquerda, as ideologias advogam o conceito para si, moldan-do-o à sua maneira. Conceitos se-melhantes confundem facilmente a mente de muita gente.

De um lado, temos a liberdade como a preconiza a sociedade sob a hegemonia capitalista e estatal, fa-lando de maneira genérica. Com a ascensão da burguesia, começam a surgir, já no Renascimento, as noções do liberalismo econômico. Este foi desenvolvido em oposição à inter-venção do Estado absolutista. Teóri-cos como o icônico Adam Smith, no século XVIII, defendiam que o merca-do se autorregularia pelo balanço da demanda e oferta – a “mão invisível”. O ideal de liberdade era que cada um poderia, supostamente, ascender na pirâmide social com seu trabalho, in-dependente da condição inicial.

Essa liberdade, porém, se mostrou totalmente ilusória na prática. Sem controle social da produção, a acu-mulação dos que detinham os meios de produção crescia assentada na exploração do trabalho alheio, prá-tica fundamental deste sistema. Na segunda metade do século passado veio o neoliberalismo, pregando a globalização econômica, o fim das barreiras para a circulação de capital e sua acumulação. Análises de casos de diferentes países feitas por Tho-mas Piketty (O Capital no Século XXI) demonstram que a riqueza advinda de herança progride em um ritmo bastante superior àquela conquista-da pelo trabalho. Assim, a desigual-dade se perpetua sob os preceitos do liberalismo.

Em suma, a liberdade pregada pelo atual sistema é negativa, restritiva. As professoras falam às crianças na pré-escola: “a tua liberdade termi-na onde começa a do coleguinha”. O Outro é sempre visto como um concorrente, um inimigo, alguém que está disputando a liberdade com nós. É pregada a mesquinharia, a bri-ga entre membros da mesma classe por migalhas. O ideal desta socieda-de constituída é ser explorador ao invés de ser livre.

O socialismo nasce com uma leitu-ra e uma proposta diametralmente oposta do que vem a ser liberdade. Em dado momento, o movimento racha irreconciliavelmente em duas grandes correntes: a autoritária, na figura dos marxistas, e a libertária, representada pelos anarquistas. Esta segunda corrente é a que interessa e que guia este articulista. Detenhamo--nos nela.

Os anarquistas preconizam a gestão coletiva e direta da economia e polí-tica pela população, com o fim das estruturas capitalistas e do Estado. A noção de liberdade aqui é a seguinte: a liberdade de cada um não é limitada pela do outro, mas sim ampliada. Não é possível ser livre enquanto há cama-radas ao nosso lado que sofrem das mais variadas limitações de liberdade.

A sociedade capitalista tenta de to-

das as formas difundir o isolamento, a liberdade entre muros. Difundem-se conceitos de ódio e medo do Outro, a insegurança de que tanto se fala.

Os libertários, por seu lado, defen-dem o máximo de liberdade para cada indivíduo. É completamente inócua a acusação de que esta ideologia busca tornar todos iguais, homogeneizar a sociedade. Quer-se, na verdade, am-pliar a criatividade de cada por meio da igualdade de condições e o fim da exploração.

Ser libertário é rechaçar tanto o egoísmo capitalista, que redunda em mesquinhez e isolamento, quanto o ascetismo religioso, que incita o in-divíduo a sacrificar sua vontade pró-pria. A liberdade, para os libertários, é conquistada com a emancipação de todas as classes que sofrem opressão, seja por condição econômica, gênero, opção sexual, etnia etc.

A LIBERDADE NÃO ESTÁ NO MERCADO,

TAMPOUCO NO ESTADO

Normalmente, associa-se o concei-to de esquerda, em política, à defesa de um Estado centralizado e senhor supremo da gestão econômica em oposição à direita, que preconiza o desmantelamento das políticas so-ciais até o chamado Estado mínimo. Essa visão, porém, é limitada. Os anarquistas, a esquerda libertária, que também combatem o poder es-tatal, onde entram?

Um neoliberal diria “O Estado é mau porque tolhe a liberdade do funcionamento do mercado”, ao que um anarquista devolveria “o Estado é mau porque, através de repressão e legislação, justifica a exploração dos de baixo pelas elites”.

Quando a direita clama por menos Estado, ela quer a diminuição de gas-tos com políticas sociais e serviços à comunidade. Quer a privatização, a exploração dos bens públicos pelo mercado, e o fim das leis trabalhistas. Falar em “livre-mercado” é um dispa-rate. O mercado não tem nada de de-mocrático. Destaque-se que apenas 80 pessoas detêm a mesma riqueza que metade da população mundial, ou 3,5 bilhões de pessoas, conforme relatório da ONG britânica Oxfam.

Os anarquistas, na outra ponta do espectro ideológico, creem que só a supressão do Estado enquanto agen-te repressor, junto com as práticas capitalistas, poderá gerar uma socie-dade socialmente justa. Apostam na organização autônoma das pessoas. Luta-se por mais direitos, contra pri-vatizações, mas sempre por fora da instituição estatal. A acumulação de forças e conquistas sociais devem chegar ao ponto de romper com a or-dem estabelecida, incluindo o Estado e a propriedade privada.

A experiência histórica deixa claro que o Estado não é ferramenta de mudança social, mas, sim, de conser-vação da ordem vigente. Revoluções com ideias generosos acabaram de-sandando para ditaduras com a cen-tralização estatal. Partidos que apos-taram na via eleitoral acabam sempre por trair a classe dos de baixo. Temos o exemplo mais notável com o PT, oriundo de uma base genuinamente trabalhadora, mas que acabou entre-gando praticamente tudo de sua ide-ologia pela “governabilidade”.

A proposta de liberdade da direita é enxugar o Estado em favor do rei-nado do mercado, mas sem descui-dar das funções repressivas, como a polícia, e as regalias para os poderes econômicos. A proposta da esquerda institucional é suprimir ou atenuar o mercado, buscar reformas por dentro Estado, mas sem subverter de fato a estrutura da opressão. O projeto li-bertário, por seu lado, nega tanto a centralização artificial do poder pelo Estado quanto a dominação dos agen-tes econômicos privados. Prima-se pela organização de baixo para cima, com democracia direta e propriedade coletiva de meios produtivos.

CONSCIÊNCIA LIBERTÁRIA

IGOR MALLMANN

A liberdade segundo os libertários

“A sociedade capitalista tenta

de todas as formas difundir o isolamento, a liberdade

entre muros. Difundem-se

conceitos de ódio e medo do Outro,

a insegurança de que tanto se

fala”

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Baluarte das manifestações de rua, a faixa rubro-negra repousa estendida em uma parede nesta noite. Em letras brancas, lê-se a frase “20 anos de luta e organi-zação”. Com o manto anarquista ao fundo, militantes relembram a fundação da Federação Anar-quista Gaúcha (FAG), ocorrida em 1995.

O ambiente no Ateneu Liber-tário A Batalha da Várzea, em Porto Alegre, é de companhei-rismo. Casa cheia. O evento ocorrido no dia 22 de agosto, parte de uma série de atos em alusão aos 20 anos da FAG, transcorre em forma de roda de conversa descontraída. O assun-to, porém, é sério: o contexto da consolidação de uma militância anarquista organizada e com in-serção social no Estado.

Em suas narrativas, os militan-tes mais experientes tentaram dar uma dimensão da complexi-dade do processo de fundamen-tação da organização política. O anarquismo orgânico havia re-cuado no país após as primeiras décadas do século passado. As-sim, a militância estava, à época, até certo ponto órfã de paradig-mas de atuação locais.

A FAG é resultado de uma ar-ticulação de grupos e indivíduos que objetivaram quebrar a no-ção de anarquismo comporta-mentalista, de estilo de vida e de manifestações esporádicas. Tendo como modelo e parceira

a Federação Anarquista Uru-guaia, alçou-se a militância a um nível de engajamento sério com a constituição de uma organi-zação política com princípios e intenções de câmbio social. A coirmã uruguaia carregava um histórico de lutas muito signifi-cativo, fundada em 1956, resis-tindo e sobrevivendo à ditadura no país vizinho.

Adotou-se o modelo de anar-quismo especifista da FAU. Isto implica uma organização pura-mente anarquista no nível políti-co, com produção de teoria, pro-paganda e estratégias decididas coletivamente parra balizar o trabalho. Seus integrantes bus-cam a inserção em movimentos sociais, sindicatos, comunidades carentes etc. para fermentar a luta protagonizada por setores oprimidos com os princípios da democracia de base. Entende--se necessária uma organização para a militância mais ativa no nível político para que a ideolo-gia não seja diluída no trabalho cotidiano das lutas em movi-mentos amplos.

Isso quebra a noção do senso comum de que anarquismo é caos. A contrário: negar a coer-ção e autoridade injustificada não significa que não se possa traçar diretrizes para um traba-lho coletivo.

Uma atuação de muita rele-vância recordada pelos mili-tantes foi a levada a cabo com os catadores de materiais reci-cláveis em Gravataí, classe que

mais tarde viria a constituir um movimento de âmbito nacional. Trabalhando ombro a ombro com um setor bastante precari-zado, conseguiu-se conferir ao movimento um respeito muito grande, inclusive frente ao po-der público. As pessoas mais simples, contam os anarquis-tas, incorporaram os princípios e discursos de cunho libertário, provando estarem estes em sin-tonia com os problemas e an-seios dos de baixo.

Assim como ainda ocorre, o pensamento de dissidência em relação ao sistema institucional rendeu muita incompreensão por parte da sociedade. Em uma época de polarização entre Olívio Dutra e Antônio Brito na política eleitoreira no Estado, os anar-quistas, que trilhavam o caminho da democracia de base em opo-sição à representação burguesa, eram bombardeados com toda sorte de impropérios. Avaliou-se, porém, que o anarquismo vem ganhando terreno nos diferentes campos, como no acadêmico.

Encerrada a atividade, sobe o burburinho das conversas amis-tosas e calorosas de indivíduos que compartilham os mesmos ideais. Sentia-se o espirito des-crito por George Orwell referin-do-se à sua estada na Barcelo-na revolucionária de 1936: ali “ninguém dizia mais ‘Señor’, ou ‘Don’, ou mesmo ‘Usted’, e to-dos se chamavam ‘Camarada’ e ‘Tu’, dizendo ‘Salud!’ ao invés de ‘Buenos dias’”.

Há alguns meses atrás, quatro organizações seculares lançaram uma campanha chamada “Abertamente Secular” no intuito de eliminar a discriminação com ateus e aumentar a acei-tação diante da não-crença. Secularismo é uma postura filosófica (alternativamente co-nhecido por alguns adeptos como “Humanis-mo”, especificamente com H maiúsculo para distingui-la de outras formas de humanismo) que abraça a razão humana, a ética, a justiça social e o naturalismo filosófico. Rejeita es-pecificamente dogmas religiosos, o sobrena-tural, pseudociência ou superstições como a base da moralidade e de tomada de decisão. Ele postula que os seres humanos são capa-zes de ser éticos e morais sem religião ou sem um deus.

Mas afinal, existe discriminação com essas pessoas? Para termos idéia, recentemente a Fundação Perseu Abramo fez pesquisa para descobrir que grupos os brasileiros mais tem ódio/aversão e constatou que, das pessoas consultadas, 17% afirmaram ter repulsa/ódio aos descrentes em Deus, 25% declararam anti-patia e 29%, indiferença. No item antipatia, os usuários de drogas aparecem com um ponto percentual a menos (24%). Pessoas que não tem crença lideram a pesquisa.

Então paramos para pensar: o discurso das religiões não é que elas são feitas de “amor”? Que tipo de amor é esse? Grandes guerras, chacinas e atentados terroristas são praticados em nome da religião. O preconceito com ho-mossexuais é em nome da religião. A atitude de inferiorizar a mulher, também é feito em nome da religião. A escravidão no Velho Tes-tamento é a justificativa original para a escravi-dão. O genocídio no Velho Testamento é a jus-tificativa original para o genocídio. Essas duas desculpas que têm sido usadas há muitos anos não teriam o crédito de pessoas inteligentes se não parecessem originar-se de uma autorida-de divina. Infelizmente, a crença deu voz para o ódio, para a intolerância. Islâmicos recente-mente aprovaram o estupro como parte da re-ligião. Mentir para as crianças sobre o inferno, aterrorizar criancinhas com imagens de tortura eterna é exclusivamente um pecado religioso. Pastores ficam cada vez mais ricos, nas costas de fiéis pobres que são obrigados a destinar certa porcentagem do que recebem para so-breviver porque do contrário, não serão salvos. Padres abusam de crianças. Pai ou Mãe “não--sei-do-quê” cobram para fazer trabalhos que cometa maldades contra os desafetos de seus “clientes”, jogam comida fora e matam cruel-mente animais para sacrifício.

Fazer o bem por recompensa divina, para ga-rantir um “terreno no céu”, não é bondade. É hipocrisia.

Devemos parar e pensar no próximo, ajudar com o que pudermos, aqui e agora. Essa é a única vida que temos. Não vivemos sozinhos, vivemos em sociedade. Um precisa do outro, afinal, somos tudo que temos.

“Só sou verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens e mulheres, são igualmente livres”

Mikhail Bakunin

IGOR MALLMANN

DIEGO “BRANCO” GAULER

20 anos de luta pelo anarquismo como alternativa de sociedade

Nós Somos Tudo que

Temos

IGO

R MALLM

ANN

Militantes ativos desde a fundação da FAG relataram experiências da articulação do anarquismo na década de 90

Page 6: O alicerce - edição 3

6

Educação em transformação, dilema a ser discutido e a reflexão é constante. Pare-ce que sobre o papel da

educação ainda pairam dúvidas para alguns educadores, enquan-to o referencial teórico destes estiver embasado em convicções nebulosas, feitas ao vento, ao sa-bor de circunstâncias individuais e como instrumento do preen-chimento de um vazio existen-cial cognitivo. Vazio que deveria ser preenchido coletivamente, a partir das descobertas libertárias e do conhecimento construído interativamente, e não para sus-tentar uma baixa auto-estima do professor não vocacionado, que somente quer ser o centro das atenções, porta-voz da hipocrisia e escriba de conceitos inócuos em cadernos de chamada.

Essas são questões fundamen-tais, deixadas de lado por políti-cas públicas excludentes, exem-plo que temos visto no governo Sartori, que nos últimos meses tem demonstrado ações de ca-ráter neoliberal e voltada para o sucateamento total da educação, em prol de um projeto que inclui a privatização do sistema, o terro-rismo salarial, o curral eleitoral e ideológico, a parceria cruel com uma mídia fascista, a política do Estado mínimo, as ameaças subli-minares (e até diretas) a profes-sores contratados ou em estágio probatório, as mentiras quanto ao direito de greve, o “desco-nhecimento” induzido quanto à história das conquistas sociais no nosso país, a questão distor-cida do papel da esquerda ativa na formação dos movimentos sociais, a obscuridade sobre as informações sobre a verdadeira rede opressora do capital interna-cional aliada à burguesia nacional no papel do saque aos recursos soberanos no país e no Estado.

Tantas constatações não levam a outra conclusão senão o cami-nho da ação como a mudança do currículo, do combate a um cur-rículo oficial, temporário, parcial, engessado, para um currículo li-bertador, que privilegie os anseios de alunos e professores quanto aos questionamentos mais prio-ritários, como o de transformar nosso contexto mais solidário, cooperativo e humano. Como o

de transformar nossa escola no pólo irradiador das mudanças de

valores para toda a comunidade, e não o contrário.

É da escola que parte o cami-nho para o olhar revolucionário para todos os aspectos, o da visão de vanguarda para a solução dos problemas, para projetos perma-nentes e não temporários, para buscar recursos, para captar lide-ranças, para fortalecer a política, o diálogo coerente, para valorizar a história, a união de todas as áre-as do conhecimento a serviço da comunidade e não das empresas privadas, já que elas devem servir à escola, e não o contrário.

Qualquer ação deve partir da escola, tendo com os professores a interlocução pertinente com

os alunos em um currículo real, voltado para a essência da trans-formação já, em um presente e futuro possível agora. O Currículo de Hollywood, com que muitos professores gostam de trabalhar, através de filmes, em que há a transformação das turmas, não passa de efeito vitrine de reali-dades consumistas, vivenciadas no período de exibição do filme, onde não se desafia o sistema, não se desafia a estrutura, não se propõe mudança permanente, não se engaja comunidade, ape-nas busca a responsabilidade do professor em relação a “melhores aulas’, numa notória alusão à cul-pa do professor.

O professor assume condição de docente quando entende seu contexto, quando analisa as condições da sua inserção social como primordial na mudança, da mesma forma que vivencia a própria aprendizagem signifi-cativa, compreendendo a ação do sujeito no processo de “ex-propriação” cognitiva do conhe-cimento, mas essa assimilação não faz sentido sem direciona-

mento humanista, cooperativo, sem um olhar prático.

As experiências educacionais percebidas na escola, na sua maioria, não estão modificando o meio social, e só encontrarão resultados pela intervenção do professor engajado, que tem em si todo o referencial importante para isso, ou seja, a ideologia li-bertária, que transcende a área específica do conhecimento, que até o momento só teve finalida-de acadêmica, já que não vem acompanhada de um viés da re-flexão da sociedade capitalista, para a análise do sistema opres-sor, buscando a resistência e a mudança.

Todos os professores, indepen-dente da área do conhecimen-to, devem trabalhar com esta perspectiva, a da transformação da comunidade, vivendo de ma-neira igualitária, diminuindo as mazelas que o capitalismo trás, e essa é uma luta constante que não se direciona a um único foco, sendo cotidianamente tra-vada em diferentes e múltiplos espaços sociais.

Assim, quando falamos em co-munidade unida, também fala-mos na compreensão da greve, pois é uma conquista das lutas de classe, dos movimentos so-ciais nascidos das ideologias de esquerda, quando da constru-ção das reivindicações de classe, criando assim leis trabalhistas, fruto de uma sociedade que mostrou suas tensões e possibi-lidades do diálogo, mesmo sob a tutela das classes dominantes no passado, e agora com a flexi-bilidade “forçada” encontramos como comunidade um palco mais propício a mais conquistas e mais apoio para a causa traba-lhadora.

Justificar para a comunidade a questão da greve é mera comuni-cação, pois comunidade e escola devem estar juntas e solidárias, portanto é hora da ação, é hora da paralisação, é hora de exercer nosso direito pelo que fizemos pela nossa comunidade, pelo que fizemos pela nossa pátria, o que trabalhamos todos os dias, que é o que é ser cidadão, ser huma-nista, solidário, cooperativo, e na hora da dificuldade podemos contar uns com os outros.

Basta a esse governo autoritá-rio e fascista! GREVE GERAL JÁ!

EDUCAÇÃO EM TRANSFORMAÇÃO

O Currículo da MudançaLUCIUS FABIANO DA SILVA

“É da escola que parte o caminho

para o olhar revolucionário para todos os

aspectos”

OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO

(....)

Mas ele desconheciaEsse fato extraordinário;

Que o operário faz a coisaA coisa faz o operário.

De forma que, certo diaÀ mesa ao cortar o pãoO operário foi tomadoDe uma súbita emoção

Ao constatar assombradoQue tudo naquela mesa

-Garrafa,prato,facãoEra ele quem fazia

Ele, um humilde operárioUm operário em construção.

Olhou em torno:gamelaBanco, enxerga, caldeirão

Vidro,parede,janelaCasa,cidade nação!Tudo o que existia

Era ele quem o faziaEle,um humilde operárioUm operário que sabia

Exercer a profissão.

(....)

E um fato novo se viuQue a todos admirava:O que o operário dizia

Outro operário escutava.E foi assim que o operárioDo edifício em construção

Que sempre dizia sim Começou a dizer não.

E aprendeu a notar coisasA que não dava atenção;Notou que sua marmita

Era o prato do patrãoQue a sua cerveja pretaEra o uísque do patrão

Que seu macacão de zuarteEra o terno do patrão

Que o casebre onde moravaEra a mansão do patrãoQue a dureza do seu dia

Era a noite do patrãoQue sua imensa fadigaEra amiga do patrão.

E o operário disse: NÃO!E o operário fez-se forte

Na sua resolução.

Vinicius de Moraes

CULTURA DISSIDENTE

Page 7: O alicerce - edição 3

A legitimidade latina versus tio Sam

HISTÓRIA IMEDIATA

As forças que prevaleceram na Independência estaduniden-se, as classes proprietárias, determinaram um perfil ide-

ológico conservador e dominante no século XIX, fornecendo uma auto-ima-gem positiva: os EUA como a terra da liberdade e da oportunidade, o esta-dunidense como pioneiro, empreen-dedor e racionalista. Branco, anglo-sa-xão, protestante, aliado de Deus e com os heróis nacionais referenciais.

A ideologia paranoica e maniqueísta (os EUA são sempre o “bem”, eterna-mente perseguidos por algum “mal” a espreita), inaugurada com John Adams, ganhou na revolução indus-trial pós-guerra civil um reforço consi-derável, quando começou a se formar um movimento operário (com partici-pação de imigrantes) em resposta às mazelas do capitalismo liberal. Índios, negros e latino-americanos foram as primeiras vítimas preferenciais do ex-pansionismo capitalista e da ideologia individualista, agregada ao mito do “destino manifesto” (conceito intitula-do ideário segundo Voltaire Schilling, dentro da lista das “idéias base” da dominação estadunidense, que ainda incluem corolários,doutrinas e enun-ciados, temática que abordarei em outro momento).

Todo esse turbilhão ideológico, sustentado por uma política externa agressiva e oportunista, em parceria com as classes dominantes latinas, em variados momentos históricos, se-dimentou a formação de uma cultura transplantada, quer dizer, introduziu--se a cultura yanque na cultura latina, especificamente na brasileira, de tal maneira que, vários aspectos da nossa cultura ficaram em segundo plano, ge-rando um colonialismo cultural.

Assim, a cultura resultante da misci-genação das nossas etnias formadoras foi modificada pela introdução força-da de elementos que corromperam sua originalidade, já que descaracte-rizaram a criatividade, a harmonia, a paixão, a contextualidade da sua cria-ção, elevando a cultura estadunidense como principal.

A metáfora “O Espelho do Prós-pero” pode ilustrar um pouco mais essa estrutura da necessidade da submissão cultural latina. Cultura e Ideia nas Américas é uma obra do autor Richard Morse (1988), teóri-co estadunidense que afirma que a América Latina apropria-se de uma visão anglo-saxônica, que, segundo ele, é um “modelo a ser seguido”, e é vista como superior e faz parte de um requisito básico para o desenvol-vimento, enfoque que tenta explicar o modelo neoliberal.

Morse baseou-se na obra do uru-guaio José Enrique Rodó, que pro-

duziu uma expressiva quantidade de ensaios sobre a história hispano--americana e a maioria está reunida no volume “El mirador Del Próspero”. Essa metáfora é uma crítica ao hábi-to latino de se espelhar nos Estados Unidos, pois o país é “próspero” e construtor de uma ideologia influen-te, capitalista e materialista.

O historiador brasileiro Octávio Ian-ni afirma que “A metáfora espelho de Próspero alude a Próspero, con-quistador e colonizador, europeu ou estadunidense, no contraponto com o canibal, nativo, con-quistado e coloniza-do.”

A ideologia estadu-nidense, que germi-nou na América Lati-na e inspirou escritas clássicas do pensa-mento social latino está fortemente co-nectada com uma disposição sintoniza-da com os anseios de uma elite local. Uma cultura marcada por tantas limitações e mazelas recebia o selo do interessante, do novo, do promis-sor, capaz de dar voz aos nativos com a metáfora do espelho, na qual os latino-a-mericanos só se viam pelas lentes refleti-das dos outros.

Reação contra essa cultura dominadora deve partir de todos os aspectos, inclusive lingüísticos. A apropriação evasiva do designativo “americano” pelos habitantes esta-dunidenses é tão imprópria quanto seria a pretensão dos habitantes da Espanha à exclusividade da designa-ção de “ibéricos”, lançando os portu-gueses ao mar. Ou, dos cidadãos da África do Sul exigirem o uso exclusivo do qualificativo “africano”, por porta-rem o nome do continente no da na-ção. A designação dos estaduniden-ses como americanos não é neutra e anônima, desprovida de decorrências políticas, culturais e ideológicas. Ela obriga naturalmente os demais ame-ricanos a assumirem apelativos restri-tivos para definirem o pertencimento à América, como centro-americanos, sul-americanos, latino-americanos.

A definição estadunidenses consti-tui a única nominação pátria correta, lingüística e sociologicamente. Ela carrega uma restauração lingüística, desprovida de julgamento de valor, do sentido inicial do termo “america-no”, habitante da América, que sofre deslocamento semântico impróprio devido ao poder material e cultural

do imperialismo estadunidense.Todas as resistências devem ser ar-

ticuladas pelo princípio da nossa ca-pacidade originária em restabelecer a cultura como arma e defesa da nossa identidade, assim como o sentimen-to de pertencimento. Ações de valo-rização e afirmação das nossas condi-ções como nação são prioridade para a construção de uma nova ideologia autóctone. E as condições para isso foram criadas no momento em que as políticas públicas nos últimos anos tomassem como caminho reformas

sociais profundas, fazendo com que a auto-estima do nos-so povo crescesse, aliada a um progres-so real, e mais ainda, a uma participação das mudanças, que foi essencial para o descortinamen-to das capacidades críticas e do prota-gonismo ativista, provocando uma vi-são da estrutura do sistema opressor, seus mecanismos de manutenção e as maneiras de neutra-lizá-lo.

Eduardo Galea-no ilustra “o Direito dos Povos, direito solidário, abre uma brecha através do direito autoritário e do direito egoís-ta; e assim rende homenagem ao

protagonismo popular que marca a fogo, com selo indelével, a época contemporânea. “O povo se faz su-jeito do direito, na medida em que se nega a seguir sendo objeto e re-conhece a si mesmo como fonte de história; farto de sofrer a história, decidiu fazê-la. Este é o som e esta é a fúria do vento de nosso tempo.”

A nossa cultura aos poucos está retomando o lugar de direito, com ações combativas, apesar da inge-rência da cultura yanque em pros-seguir impondo, para descaracte-rizar e desconstruir nossa cultura, primando pelo consumo, prejudi-cando nossa identidade

Ação como a criação do dia do Saci-Pererê, em 31 de outubro, em contraponto ao Hallowen, festa alienígena e de aculturação consu-mista, mas apreciada pela classe média alta subserviente, é uma das formas de manter nossa identidade e o espírito combativo que sem-pre fizeram parte da nossa história de reação às classes dominantes e agora, temos as condições de traçar nosso destino.

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LUCIUS FABIANO MARTINS DA SILVA

“Todas as resistências devem ser articuladas

pelo princípio da nossa

capacidade originária em restabelecer a cultura como arma e defesa

da nossa identidade,

assim como o sentimento de

pertencimento”

EDIÇÃO/ REDAÇÃO

REDAÇÃO

PROJETO GRÁFICO/ DIAGRAMAÇÃO

COLABORAÇÃO

IGOR MALLMANN

LUCIUS FABIANO MARTINS

RODRIGO CALLAIS

ANDREI MENDES DE ANDRADES

GABRIELE MENEZES

DIEGO “BRANCO” GAULER

JUNIOR RIBERIO

Estudante de jornalismo

Professor

Dirigente sindical

Advogado

Estudante de publicidade e propaganda

[email protected]

Professor

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

[email protected]

EXPEDIENTE

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ANDREI MENDES DE ANDRADES

O ALICERCEEDIÇÃO 3 - GRAMADO, SETEMBRO DE 2015. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.

PENSAR COLETIVO

QUE TAL PROTESTAR CONTRA TODA E QUALQUER

CORRUPÇÃO, SEJA DE QUEM OU QUAL PARTIDO FOR?

Com o combate à corrupção que vemos hoje tenho muita espe-rança que semeamos uma nova sociedade, mais justa e com

maior visão e senso ético.Nossos jovens deixarão de ver aquela

imagem de que quem rouba o dinhei-ro público se dá bem e não acontece nada, saberão que os ricos também irão para a cadeia, que megaempresá-rios que queiram corromper alguém responderão por seus atos e o corrupto pensará muito bem antes de tentar se utilizar da coisa pública.

Ainda bem que chegou o dia em que a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, a Procuradoria Geral da Re-pública e tantos outros órgãos tem a li-berdade para agirem e buscarem punir com rigor, sem a influência de políticos ou partidos políticos como acontecia há pouco mais de 15 anos.

Porém, no dia 16 de agosto milhares de brasileiros em todos os estados do Brasil foram às ruas protestar. Nada de errado, principalmente para nós decla-radamente de esquerda e dos movi-mentos sociais que fomos forjados nas lutas de massa, nas ruas de todo o país,

porém infelizmente as pretensas “rei-vindicações” tornam-se absurdas, com discursos de ódio beirando um fascis-mo que parecia ter acabado, mas que na verdade estava apenas escondido.

Faixas pedindo intervenção militar, outros com bandeiras do Brasil no tem-po do império, talvez pedindo o retor-no da monarquia (quem sabe também defendam o retorno da escravidão), cartazes pedindo a morte da presiden-te e do ex-presidente Lula, morte aos comunistas, pedindo a volta do Sarney (logo agora que o povo do Maranhão comemora ter se visto livre dele), frases de baixo calão, pessoas tirando a roupa, e os mais variados discursos de ódio e preconceito que somente o fascismo sabe desempenhar.

Assim como, o que mais se viu fo-ram frases pedindo o impeachment da presidente, como se tivesse algum embasamento legal e algum senso de responsabilidade política.

Uma parcela dos que lá estavam se-quer sabiam o porquê estavam lá, mas, como vários vão, eles vão também. Pois este ato está na moda e nas redes so-ciais como sendo o legítimo programa de domingo de quem jamais se preo-cupou em estudar e entender a política ou de quem entende e perdeu a vergo-nha de se declarar da extrema direita e ir para a rua flertar com o golpe e pedir intervenção militar.

O que também chama atenção é a

cobertura dada pela imprensa, princi-palmente a Globo, que fez como das outras vezes, uma cobertura ao vivo durante sua programação, como se implorasse para quem ainda não foi, ir para as manifestações.

Constata-se que um dos principais pedidos dos manifestantes pretensa-mente seria pelo fim da corrupção. Pro-curei e não encontrei nenhum cartaz ci-tando os envolvidos na Operação Lava Jato dos partidos ou filiados de partidos políticos que não são filiados ao partido da presidente. Assim, acaba parecendo que a corrupção se tornou patrimônio somente de um partido e os demais acusados de corrupção estariam into-cáveis e perdoados pelas manifesta-ções que se viram por não estarem no partido errado.

Ao invés de quererem bater em um partido, o mínimo que deveria ter ocor-rido é que as pessoas se revoltassem com a pequena punição que crimes de corrupção tem em nosso país e o ta-manho da pena aplicada e prevista no Código Penal de 2 à 12 anos, quando deveria ser bem maior em face do mal que a corrupção faz ao país. Que tal ir à rua por isso?

Chegou-se ao absurdo de que algu-mas pessoas de vestes vermelhas ou opiniões contrárias serem hostilizadas e até agredidas, tamanha a intolerância de alguns que estavam nos protestos do dia 16.

Se viu que a aproximação de partidos políticos como o PSDB e seus tentácu-los como DEM, e outros “lambe botas do imperialismo” assumiram nestas manifestações a bandeira do golpismo descaradamente e tomaram para si as manifestações teoricamente originárias de parte da sociedade.

Aqueles que não admitiram a derrota nas urnas tentam agora criar uma crise política e institucional, o que faz mal para todo o país, gerando um clima de pessimismo e intolerância, querendo apenas jogar o país para baixo, tentan-do não deixar o governo fazer o que tem que ser feito, governar.

Se a intenção é derrubar a demo-cracia no Brasil, implantar um governo neoliberal entreguista e refém do FMI, uma ditadura militar para caçar comu-nista (seres que pensam no coletivo e não no individual, isso assusta muita gente), ou um regime fascista, ou para aqueles que apostam em terceiro tur-no, vos digo, a tendência é o fracasso.

Por óbvio que não concordo com medidas adotadas pelo governo que vão contra o trabalhador e os que mais necessitam, pois defendemos o traba-lhador.

Mas os que hoje se vendem como donos da verdade e da ética não me enganarão com discursos vazios e sem qualquer ideia para melhorar o Brasil. Pois estes que hoje atacam não apre-sentaram e não apresentam nenhuma outra proposta senão a tentativa de chegar ao poder atacando pessoas que pensam diferente do que aqueles que eles acham merecer maior proteção do Estado Brasileiro, o grande capital financeiro.

Acredito que a democracia não será derrubada e a vontade das urnas tem e deve ser respeitada, pois devemos sem-pre estar dispostos a lutar pela demo-cracia quando nosso país estiver ame-açado, seja por seus inimigos internos, externos ou por aqueles que servem de massa de manobra para quem quer na verdade saquear nossas riquezas.

E é mais do que hora de todos nós lutarmos contra toda e qualquer forma de corrupção, seja ela no município, no estado ou país. Doa em que doer e no partido que for, pois hoje o que vemos são apenas lobos se vestindo de cordei-ros por todos os lados.