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O ALICERCE EDIÇÃO 4 - GRAMADO, OUTUBRO DE 2015. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - CIRCULAÇÃO MENSAL FACEBOOK.COM/OALICERCEGRAMADO E m abril deste ano, os servi- dores públicos municipais de Gramado se levantaram para lutar por suas reivindi- cações frente ao Executivo Muni- cipal com paralisação das ativida- des e protesto nas ruas da cidade. Foi concedida uma reposição sala- rial de apenas 6,5%, aprovada sem debates na Câmara de Vereadores dominada pelo partido de go- verno (PP) e aliados. Os servido- res seguem na luta por melhores condições de trabalho, principal- mente as faixas com salários mais baixos, expostos ao custo de vida elevado da cidade. Com indignação, um profis- sional do setor de jardinagem da prefeitura (categoria com uma das piores remunerações, junto com garis, serviçais etc.) estende o contracheque e mostra o que lhe sobrou do salário após descontos: R$ 634,00. Mesmo o salário bruto (R$ 1.111,21), é inadequado para sustentar uma família em Gramado. Além de baixos salários, o ser- vidor, que preferiu não ser identi- ficado, relata que há assédio mo- ral no trabalho. A cidade possui muitos canteiros e jardins para poucos trabalhadores no setor. Os chefes (CCs), esses, sim, em gran- de número, cobram ao máximo. “Eles querem ver o trabalho ren- der, render. Ficam pressionando, às vezes nem sobra tempo de ir ao banheiro”, contou. E o trabalho é pesado. O jardineiro começa a fazer cálculos sobre o preço da comida e outros artigos e chega à revol- tante concussão de que “no fim das contas, estamos pagando para trabalhar”. Ele também critica o sindicato da classe por ter ouvido as promessas do vice-prefeito Luia Barbacovi (PP), logo após a parali- sação da categoria, de atender os pedidos do quadro geral. Enquan- to deveria ter mantido a pressão sobre o Executivo. Se a prefeitura diz que falta di- nheiro para melhorar o ordena- do dos funcionários concursados, parece sobrar para os CCs. Eles são muitos e muito bem pagos. Para constatar que as secretarias têm excessos de chefes, pegamos o exemplo das Obras. Vejam alguns dos cargos de confiança instuí- dos ali. Há mais de uma pessoa para supervisionar coisas muito semelhantes: supervisor de manu- tenção das praças, supervisor dos parques, supervisor de limpeza ur- bana, supervisor de recolhimento de lixo, supervisor de manutenção das vias pavimentadas, supervisor do serviço de pavimentação super- visor de construção dos passeios públicos, supervisor de manuten- ção dos passeios públicos... Todos com salários nas faixa de 2, 3 e 4 mil reais. Atualmente, o Sindicato dos Servidores Municipais segue com reivindicações tais como vale-refei- ção e plano de saúde. A primeira, pode ser estudada, segundo a as- sessoria de comunicação da prefei- tura, enquanto a segundo não pos- sui perspecva de debate. “A única coisa que precisa é a boa vontade do prefeito em assinar”, afirmou o presidente do sindicato, Nairton Laucksen. O Plano de Carreira do Magisté- rio está sendo revisado no momen- to e deve ser seguido pelo plano do quadro geral. Daí decorre a impor- tância da mobilização da categoria para pressionar a prefeitura pelas reivindicações, principalmente em se tratando de melhorias salariais e reenquadramento das faixas com vencimentos mais baixos. IGOR MALLMANN IGOR MALLMANN IGOR MALLMANN Municipários seguem na luta por melhores condições de trabalho Manifestação dos servidores públicos de Gramado no dia 14 de abril (à direita). Municipários denunciam intransigência do Execuvo (à esquerda).

O Alicerce - edição 4

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O ALICERCEEDIÇÃO 4 - GRAMADO, OUTUBRO DE 2015. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - CIRCULAÇÃO MENSAL

FACEBOOK.COM/OALICERCEGRAMADO

Em abril deste ano, os servi-dores públicos municipais de Gramado se levantaram para lutar por suas reivindi-

cações frente ao Executivo Muni-cipal com paralisação das ativida-des e protesto nas ruas da cidade. Foi concedida uma reposição sala-rial de apenas 6,5%, aprovada sem debates na Câmara de Vereadores dominada pelo partido de go-verno (PP) e aliados. Os servido-res seguem na luta por melhores condições de trabalho, principal-mente as faixas com salários mais baixos, expostos ao custo de vida elevado da cidade.

Com indignação, um profis-sional do setor de jardinagem da prefeitura (categoria com uma das piores remunerações, junto com garis, serviçais etc.) estende o contracheque e mostra o que lhe

sobrou do salário após descontos: R$ 634,00. Mesmo o salário bruto (R$ 1.111,21), é inadequado para sustentar uma família em Gramado.

Além de baixos salários, o ser-vidor, que preferiu não ser identi-ficado, relata que há assédio mo-ral no trabalho. A cidade possui muitos canteiros e jardins para poucos trabalhadores no setor. Os chefes (CCs), esses, sim, em gran-de número, cobram ao máximo. “Eles querem ver o trabalho ren-der, render. Ficam pressionando, às vezes nem sobra tempo de ir ao banheiro”, contou. E o trabalho é pesado.

O jardineiro começa a fazer cálculos sobre o preço da comida e outros artigos e chega à revol-tante concussão de que “no fim das contas, estamos pagando para trabalhar”. Ele também critica o sindicato da classe por ter ouvido as promessas do vice-prefeito Luia

Barbacovi (PP), logo após a parali-sação da categoria, de atender os pedidos do quadro geral. Enquan-to deveria ter mantido a pressão sobre o Executivo.

Se a prefeitura diz que falta di-nheiro para melhorar o ordena-do dos funcionários concursados, parece sobrar para os CCs. Eles são muitos e muito bem pagos. Para constatar que as secretarias têm excessos de chefes, pegamos o exemplo das Obras. Vejam alguns dos cargos de confiança instituí-dos ali. Há mais de uma pessoa para supervisionar coisas muito semelhantes: supervisor de manu-tenção das praças, supervisor dos parques, supervisor de limpeza ur-bana, supervisor de recolhimento de lixo, supervisor de manutenção das vias pavimentadas, supervisor do serviço de pavimentação super-visor de construção dos passeios públicos, supervisor de manuten-

ção dos passeios públicos... Todos com salários nas faixa de 2, 3 e 4 mil reais.

Atualmente, o Sindicato dos Servidores Municipais segue com reivindicações tais como vale-refei-ção e plano de saúde. A primeira, pode ser estudada, segundo a as-sessoria de comunicação da prefei-tura, enquanto a segundo não pos-sui perspectiva de debate. “A única coisa que precisa é a boa vontade do prefeito em assinar”, afirmou o presidente do sindicato, Nairton Laucksen.

O Plano de Carreira do Magisté-rio está sendo revisado no momen-to e deve ser seguido pelo plano do quadro geral. Daí decorre a impor-tância da mobilização da categoria para pressionar a prefeitura pelas reivindicações, principalmente em se tratando de melhorias salariais e reenquadramento das faixas com vencimentos mais baixos.

IGOR MALLMANN

IGO

R MALLM

ANN

IGO

R MALLM

ANN

Municipários seguem na luta por melhores condições de trabalho

Manifestação dos servidores públicos de Gramado no dia 14 de abril (à direita). Municipários denunciam intransigência do Executivo (à esquerda).

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EXPEDIENTE

EDUCAÇÃO EM TRANSFORMAÇÃO

Por outras histórias, desconstruindo para verdade

A História, a ciência que co-move, constrói e direciona para a formação das men-tes, e se isso já não fosse

importante, ainda está nas mãos dos homens, seus agentes. O his-toriador francês Jacques Le Goff argumenta: “Pertence à própria natureza da ciência histórica estar estritamente ligada à história vivida de que faz parte e os povos oprimi-dos lutam pela sua história como pela sua vida”.

A história é coletiva e abraça a todos. Desta forma, as pretensões de alguns intelectuais de serem do-nos da verdade também fazem par-te desse mundo, e por isso podem e devem dizer o que é bom para to-dos. Ora, o que os intelectuais des-cobriram recentemente é que as massas não necessitam deles para saber; elas sabem perfeitamente, claramente, muito melhor do que eles, e elas o dizem muito bem. Mas existe um sistema de poder que barra, proíbe, invalida o dis-curso da verdade e o saber. Poder que não se encontra somente nas instâncias superiores da censura, mas que penetra muito profunda-mente, sutilmente em toda a trama da sociedade.

Os próprios intelectuais fazem parte deste sistema de poder, a idéia de que eles são agentes da “consciência” e do discurso tam-bém faz parte desse sistema. O papel do intelectual não é mais o de se colocar um pouco na frente ou um pouco de lado para dizer a muda verdade de todos. É antes o de lutar contra as formas de poder exatamente onde ele é, ao mesmo tempo, o objeto e o instrumento.

O que se ensina quando se tenta ensinar história? Na verdade, mes-mo com a carga horária cada vez mais reduzida nos currículos esco-

lares, ensina-se muito pouco, mas o que se pretende é nada mais nada menos do que construir a verdade, uma verdade que diga respeito a todos, apesar da pobreza de seus pressupostos.

O estudo da participação popu-lar nos livros didáticos de história deve ser transformador, principal-mente através dos professores. Embora o estudo das revoltas po-pulares (o Quilombo dos Palmares é o exemplo mais evidente), das condições de vida e trabalho dos d o m i n a d o s venham cres-cendo, pouco impacto tive-ram nos livros. E n t r e t a n t o , convém ressal-tar que tal ten-dência muitas vezes apresen-ta uma visão parcial da par-ticipação popu-lar, enfatizando as resistências populares à dominação e buscando en-contrar heróis populares, até para se contra-por aos heróis dos grupos do-minantes.

Em que sentido a compreensão da participação popular na história pode ajudar as camadas populares a atuarem no sentido da transfor-mação social? Tradicionalmente, nas pouquíssimas páginas que os livros didáticos dedicam a essa questão na história (assim como ao estudo das revoluções na América Latina) as camadas populares apa-recem como passivas, obedientes ou então supersticiosas, irracionais, como a Revolta de Canudos.

Obviamente, tal representação no passado tem importância para a atuação do povo no presente. O aluno, que na escola e também fora dela, recebe esta representação, fortalecida pela atuação de profes-sores manipulados pela ideologia burguesa, tenderá a se ver e a se comportar de acordo com os este-reótipos difundidos pelos grupos dominantes.

Naturalmente, não é apenas a representação do passado que determina o comportamento ou a

visão das cama-das populares acerca de si no presente. Se a ideologia fosse mais poderosa do que as for-ças materiais, a realidade mu-daria. Entre-tanto, mesmo a ideologia não sendo a deter-minante, ainda exerce efeito ponderável nas mudanças so-ciais. O aluno que entender a participação popular no passado, com todas as suas características

e contradições, estará mais apto a atuar criticamente, sem idealização ingênua (heroização), nem auto--depreciação (a história do ponto de vista conservador) da transfor-mação social.

Ao negar a participação popu-lar na história, muitos livros didáti-cos induzem o aluno a pensar que sua história não tem valor, que sua história não é História, que só as iniciativas dos grupos dominantes são dignas de registro e de estu-

do. Sendo induzido a desvalorizar o seu passado, o aluno também tenderá a subestimar seu papel na manutenção e transformação do presente, o que conduz ao fatalis-mo, ao sentimento de impotência de transformação do mundo, e a aceitação das elites para a direção da sociedade.

No Rio Grande do Sul, é flagran-te o conservadorismo em relação a sua história rebelde, assim como também as perspectivas em que estão inseridas as simbologias. Ova-cionar feitos “heróicos” das classes dominantes estancieiras é um claro intento em enterrar a oposição das classes oprimidas. E ensinar para os alunos a desvirtuação histórica é no mínimo engendrar um projeto excludente e de clara manutenção de uma ideologia que não tem mais espaço em nosso tempo, tirando toda a importância da participação das minorias em qualquer processo histórico sulino.

A história da rebelião estancieira denominada Guerra dos Farrapos, em uma terminologia correta, foi uma história infame que só arras-tou as populações de determinadas regiões para um projeto latifundiá-rio. Os “empresários guerreiros”, como bem definiu o nosso historia-dor gaúcho Décio Freitas, tinham na sua estrutura o uso de poucas camadas populares, em torno de uma ação que “presenteou” as co-lunas cooptadas com o desprezo e a traição.

A essência de Porongos per-meou, mesmo antes do aconteci-do, toda a revolta em uma articu-lação que não é nova, utilizada em todos os estamentos da sociedade. E na educação toma rumos intrín-secos preocupantes, em que pseu-dolideranças usam os soldados fiéis em causas transformadoras, mas que viram as costas, deixando-os de peito aberto no front do inimigo.

“O que os intelectuais descobriram

recentemente é que as massas não necessitam

deles para saber; elas sabem

perfeitamente, claramente, muito

melhor do que eles”

LUCIUS FABIANO MARTINS DA SILVA

EDIÇÃO/ REDAÇÃO:REDAÇÃO:PROJETO GRÁFICO/ DIAGRAMAÇÃO:COLABORAÇÃO:

IGOR MALLMANN

LUCIUS FABIANO MARTINS /

LILIANE CASTRO

RODRIGO CALLAIS ANDREI MENDES DE ANDRADES /

BRUNO LIMA ROCHA / GABRIELE MENEZES

O ataque dos agiotas e a tesoura dos neoliberais

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As medidas anunciadas (no último mês) pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nel-son Barbosa (Planejamento)

anunciam a tesoura geral no Planalto para assegurar a maldita meta de su-perávit (desejáveis 0.7% para 2016) e o vergonhoso e imoral volume de R$ 35 bilhões de reais de juros para o espólio da rolagem da dívida interna. Não con-tentes em cortar R$ 26 bilhões de um orçamento apertado, cujo montante alocado para os gastos com o espólio rentista equivalem a cerca de 40% a 45% do orçamento da União, na tarde de 14 de setembro de 2014, a pauta bomba circulando no Congresso con-figurava óbvia ameaça de impeach-ment. A disputa por facções de poder por vezes se mostram irrelevantes do ponto de vista ideológico. Para que impeachment se a direita já governa? Bem, talvez para assegurar a rendição total, o que inclui o retorno ao modelo de concessões do Pré-Sal e a posterior venda da Petrobrás.

Este parece um mundo apartado das tabelas de finanças da equipe eco-nômica que está realizando as políticas da chapa que fora derrotada em 2014. Quando começa a falar o Chicago Boy do Bradesco, temos uma pequena via-gem no tempo, um pesadelo neolibe-ral que recorda o mesmo tom de voz e as piadas sem graça de Pedro Malan. Definitivamente, essa gente sai de uma fábrica de lobotomia monetarista e nos governa de fato através dos me-canismos de controle mais vis.

O ATAQUE DOS AGIOTAS E CHANTAGISTAS INTERNACIONAIS

Nosso pesadelo societário no tem-po presente começa na manhã de 09 de setembro, quando a mídia eletrô-nica brasileira anunciava a catástrofe advinda com a nota atribuída por uma agência de rating. Obviamente que nenhum lide de um mísero jornal bra-sileiro estampou em sua capa ou tela, e menos ainda em escalada de telejor-nal ou chamada de síntese radiofônica a vida pregressa desta mesma empre-sa. Bastava retornar no tempo, para o ano de 2008 e a reputação dos emis-sores da nota cairia por terra.

Em debates no espaço público vir-tual, tive a felicidade de receber o se-guinte comentário de Miguel Gouveia, um consultor financeiro profissional radicado no Rio de Janeiro e conhe-cedor do mundo concreto dos merca-dos. Me disse Miguel:

“Um downgrading (rebaixamento

da nota) dessas agencias, hoje muito questionadas devido a manipulação de ratings em 2008 pela qual foram TODAS condenadas a multas milioná-rias, implica no aumento do custo de dinheiro externo. Isto significa que o país não é bom devedor e portanto os bancos vão aumentar juros e riscos para emprestar dinheiro por aqui, e é a esses bancos que essas agencias ser-vem. Isso (a nota) é muito importante para países como Grécia e Indonésia, etc. que precisam pedir dinheiro em-prestado e devem ao FMI, por exem-plo. Já o Brasil está com um nível muito alto de reservas, é credor do FMI (em-presta dinheiro ao Fundo) e as grandes empresas tem lastro para seus em-préstimos internacionais e nenhum banco está cobrando nenhuma delas. O Brasil é o 3° credor em títulos dos EUA, 7ª economia do mundo e temos mais de US$450 bilhões de dólares de reservas. Para o brasil, significa econo-micamente nada de coisa alguma ter uma agencia como a S&P rebaixar ou elevar qualquer rating”

Eu agrego que os impactos são de ordem política e de confiança, como numa espécie de profecia auto-rea-lizada. Especificamente a agência de “análise” de risco Standard & Poor’s (S&P), tão festejada pela mídia aberta brasileira, foi condenada pelas autori-dades dos EUA a pagar uma multa de Usd 1,37 bilhão de dólares pelas frau-des cometidas na chamada crise da bolha imobiliária e falência de bancos de investimentos. A saber, no maior escândalo destes analistas, a agência classificou como triplo a (AAA) ao fa-limentar banco Lehman Brothers me-ses antes da quebra. E, até a manhã da falência do Lehman (em setembro de 2008), recebia a nota A. Outro escân-dalo se deu com a “avaliação” da em-presa de energia Enron, que recebeu grau de investimento até cinco dias antes de sua quebra, em dezembro de 2001. O caso da Enron formaliza o primeiro grande escândalo do século XXI e é magistralmente registrado no documentário “The smartest guys in the room” (Enron: os caras mais espertos da sala, 2005, dirigido por Alex Gibney).

A fraude da Enron envolve todas as pontas do negócio de venda de ações e apreciação de valor de algo que perdera seu lastro. Na jogada es-tavam os altos executivos desta em-presa de energia, pois maquiavam balanços através da criação de em-presas fantasmas em paraísos fiscais (como Bahamas e Cayman), onde su-postamente estas empresas inexis-tentes comparavam ações da Enron.

Com o lucro no azul, estes mesmos executivos aumentavam seus bônus por “produtividade”. As empresas de auditoria Arthur Andersen, Price Wa-terhouse e KPMG abalizavam as ope-rações, afirmando que tudo ia bem. Já a mega corretora Merril Lynch, fez uma operação e compra e venda de investimentos da Enron na Nigéria e com isso movimentou as ações da empresa quase falida, inflando o valor de suas ações. E, para fechar o esquema, a S&P deu grau de investi-mento para a picaretagem empresa-rial promovida pelos “espertalhões” que comandavam a Enron. Resulta-do: uma falência fraudulenta, mais de cinco mil demitidos e outros vinte mil empregados quebraram juntos, pois foram incentivados a comprar ações da própria empresa.

Ao observarmos ambos os casos, e ao constatarmos o absurdo da re-baixa da nota brasileira em 09 de setembro de 2015, nos damos conta de que o país está sob um forte ata-que especulativo. O Brasil perdeu, literalmente, o grau de investimento atribuído pela S&P - que em conjun-to com a agência Moody’s e a Fitch, detêm 70% deste “mercado” de ava-listas – sendo re-baixado de BBB- para BB+. Além do governo cen-tral e o seu orça-mento, também foram rebaixados mais de quarenta empresas brasi-leiras, a começar pela Petrobrás, um dos alvos permanentes de cobiça interna-cional.

O país é alvo dos ataques in-ternacionais – de ordem especu-lativa – e das direitas político-ide-ológica-financeiras, dentro e fora tanto do governo de turno (o do 3º turno, o real e concreto), como com e sem legenda, a exemplo da mana-da de entreguistas a sair às ruas em nome de um moralismo lacerdista. É óbvio que a meta de curto prazo é a reversão da melhora material das condições de vida – promovidas pelo pacto conservador e policlassista do lulismo – e uma inflexão na política econômica para assegurar os ganhos das hienas sedentas do mundo finan-ceiro e, se possível, não avançar na quebradeira das indústrias aqui instaladas.

A RENDIÇÃO TOTAL É A META PERMANENTE

A conta do orçamento não fecha, o governo quer bater meta de superávit primário e o Chicago Boy do Brades-co anuncia tentar atingir os 0,7%. Na manhã de 2ª, 14 de setembro, até o telejornal matutino Bom Dia Brasil (da Globo) reconheceu a necessidade de corte em função de R$ 35 bilhões ne-cessários para pagar os juros da dívida pública! Como sempre, o óbvio entra como factual secundário, invertendo a causalidade. Manipulação de quin-ta categoria, pois é uma obviedade que evidencia a roubalheira rentista. A taxa de juros está estável, dizem eles. Sim, na última reunião do Copom não aumenta-ram os juros, e estes batem 14,25% ao mês como base da Selic! Depois obvia-mente algum gênio das finanças recla-ma que não temos poupança interna e os volumes de retirada da poupança ba-tem tristes recordes, um depois do ou-tro. Basta verificar o quanto rende o CDB e quanto rende a poupança!

E agora já se anuncia a profecia da fa-mília Frias quando em editorial, de 13 de setembro, o Grupo Folha da Manhã re-corda seus tempos de colaboradora da

ditadura militar e edita a versão pós--moderna do Fora! e Basta!. A Folha anuncia: “A última chance”, dando um ultimato para a presidente eleita, só altando amea-çar alguma Opera-ção Brother Sam para reforçar seu ponto de vista. No dia seguinte, o Pla-nalto de joelhos, cede a pressão dos agiotas externos e dos senhores de engenho e

café daqui. Anunciam o congela-mento ou cortes no Pronatec, FIES, ProUni, Minha Casa Minha Vida. O “enxugamento” será progressivo até atingirem o Bolsa Família, em período não muito distante daqui. Enquanto isso, a recessão maluca e a inflação de preços administrados retroalimentada pela alta do dólar (influenciada por compras sem fim por parte do Banco Central) eleva os custos da indústria brasileira e a pre-visão de demissões na construção civil é de 500 mil para este ano. Para-béns aos monetaristas e neoliberais de sempre. Perderam nas urnas mas levaram o Planalto de brinde!

BRUNO LIMA ROCHA

“O país é alvo dos ataques

internacionais – de ordem

especulativa – e das direitas

político-ideológica-financeiras”

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No artigo que reproduzimos na página 3, o professor Bruno Lima Rocha comen-ta o caso da quebra, em

2001, da empresa de energia nor-te-americana Enron. Esse, como citado por Bruno, é bom exemplo para raciocinarmos sobre as maze-las, as falcatruas e o espólio do sis-tema financeiro e do modelo de so-ciedade que hoje reina soberano. Esse caso não é exceção; é o ideal dos operadores da banca, que ape-nas enxergam a sociedade como um mercado, medem indivíduos e relações humanas estritamente de forma objetiva, calculando como podem “fazer mais dinheiro”.

A saga nefasta da Enron, retrata-da no documentário “Os caras mais inteligentes da sala”, foi uma trama entre altos executivos, empresas de faixada, maiores bancos da terra do Tio Sam, agências de “análise” de risco, empresas de auditoria e corretoras. Com todo tipo de ma-labarismo e manipulação de balan-ços, fizeram com que os preços das ações subissem indefinidamente. Todos os envolvidos lucraram cifras bilionárias com o esquema. Quan-do a bolha explodiu, milhares de empregados ficaram no olho da rua – e quebrados também, pois eram incentivados a investir suas economias nas “sólidas” ações da Enron. As falcatruas incluíram es-peculação de energia elétrica no Estado da Califórnia inflamando uma grave crise energética.

Nas imagens e conversas gra-vadas que o documentário nos apresenta, vemos negociadores da Enron tratando a desgraça das pessoas sem luz como um simples negócio, uma “jogada”, brincando com os preços da eletricidade a seu bel-prazer. Os espertalhões da Enron, como todos que rodam a roleta financeira, acreditavam fer-vorosamente nas teorias neolibe-rais, no livre-mercado. Defendem eles que o ser humano é movido unicamente por seu egoísmo, seu autointeresse, como um leão que disputa presas e territórios na sel-va.

Os agentes econômicos – a ide-ologia conservadora – praguejam contra a intervenção estatal, que-rem o “Estado mínimo”. Mas não dispensam os aparelhos represso-res, como as polícias (lembrando que a ditadura chilena foi laborató-

rio do neoliberalismo da chamada Escola de Chicago). Querem, sim, a extinção de direitos trabalhistas, garantias sociais e barreiras, visan-do à acumulação sem fim.

Condenam as ideologias de es-querda por, supostamente, preco-nizarem a dissolução do indivíduo sob um Estado todo-poderoso (o que de fato ocorreu em algumas experiências totalitárias de inspi-ração marxista-leninista). Mas ne-gligenciam que existe a expressiva vertente do socialismo libertário, que nega tanto a opressão do Es-tado como a do mercado, como o anarquismo.

Esse conceito de egoísmo que pregam os arautos do livre-merca-do simplesmente não nos diz nada sobre as relações sociais.

A PROPRIEDADE É UM ROUBO

Famosa é essa afirmação feita por Pierre-Joseph Proudhon em “O que é a propriedade?”: A proprie-dade é um roubo. Mais tarde, o te-órico Kropotkin viria a desenvolver essa temática. Para ele, é impos-sível medir a contribuição de cada um na produção da riqueza social. Ora, os instrumentos de trabalhos, as máquinas, tudo é fruto de um la-bor de incontáveis gerações. Quan-do alguém se apropria de tecnolo-gias, conhecimentos e trabalho de outrem. está, em maior ou menor medida, subtraindo à sociedade e a cada um de seus componentes.

Kropotkin afirma que o egoísmo é contrário ao desenvolvimento da sociedade. Esta necessita da soli-dariedade. O egoísmo se manifes-ta na mesquinharia, no roubo, no “tirar vantagem”, na corrupção, e outros crimes pecuniários. Esse egoísmo nada tem a ver com “mé-rito”, pois seus resultados não tem nenhuma utilidade pra a socieda-de. Pelo contrário.

Mas se egoísmo for entendido como a vontade de cada ser hu-mano desenvolver ao máximo suas habilidades e saciar necessidades, então Kropotkin consente que de-vemos ser egoístas. Ele inclusive re-pele o ascetismo anti-humano das religiões que pregam o sacrifício, a doença e a imbecilidade. Mas esse último sentido para “egoísmo” não justifica desigualdade e opressão: para satisfazermos nossas reais necessidades com seres humanos precisamos cooperar. E a ilusória “meritocracia” que é pregada atu-

almente, baseada em privilégios e privações, nada tem de natu-ral. Distorce as relações humanas, criando abismos ilógicos.

Não é preciso citar nenhum te-órico de esquerda para realçar o quão absurdo é o sistema monetá-rio como um poder avassalador em si mesmo. Já Aristóteles, no século IV a.C., dispara: “O que há de mais

odioso, sobretudo, do que o tráfico de dinheiro, que consiste em dar para ter mais e com isso desvia a moeda de sua destinação primiti-va? Ela foi inventada para facilitar as trocas; a usura, pelo contrário, faz com que o dinheiro sirva para aumentar-se a si mesmo; [...] gêne-ro de ganho totalmente contrário à natureza.”

CONSCIÊNCIA LIBERTÁRIA “Nós trazemos um mundo novo em nossos corações” Buenaventura Durruti

IGOR MALLMANN

Relações humanas reduzidas a cálculos monetários

Viemos abordando a questão da dívida pública brasileira, que consome mais de 40% do orçamento anual da União em prol da agiotagem de instituições financeiras. Um verdadeiro assalto ao dinheiro público. Para que fique claro, aqui vai a lista de credores do Estado brasileiro, os quais consomem toda essa grana do povo que contribui:

1)Bancos Nacionais e estrangeiros: 47,24%2)Fundos de Investimentos: 17,77%3)Investidores estrangeiros: 11,32%4)Fundos de Pensão: 12,84%5)Segradoras: 3,13%6)Fundos adminitrados pelo governo: 4,58%7)Outros: 2,12%

Alerta Total, 02/04/2015, artigo do economista Hélio Duque

VOCÊ SABIA?

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Quando pensamos em pos-síveis situações geradas a partir do termo contradição, o quê nos vem a mente?! Aquele(a) colega de trabalho ou estudo que se diz amigo mas vive querendo compe-tir conosco?! O patrão que diz se importar com nosso bem-estar, mas nos paga um salário miserável?! Nosso companheiro(a) que diz nos amar, mas tem várias atitu-des que nos machucam?! ...Enfim, há várias situações cotidianas que podemos mencionar pensando os sig-nificados atribuídos ao ter-mo. Porém, além das - con-traditórias- relações sociais que permeiam a nossa vida, muitas são as contradições que regem a economia do país, assim como as medidas adotadas pelo governo, que acabam por impactar direta-mente em nossa qualidade de vida. Para continuar o ra-ciocínio, pensemos na Edu-cação.

Em 2015 o governo, que ostenta o slogan de ‘’Pátria Educadora’’, cortou 9,4 bi-lhões da educação. Essa ati-tude se mostra, descarada-mente, contraditória. Ainda mais se pensarmos que, com a adesão cada vez maior das Universidades públicas ao SISU, maior é o número de

estudantes das clas-ses populares que

estão ingressando no Ensi-no Superior, e o orçamento para Assistência Estudan-til não está acompanhando essa realidade, o que acaba resultando no alto índice de evasão.

A realidade posta aos es-tudantes, filhos de trabalha-dores (as), atualmente é de precarização do ensino e da vida. Faltam verbas para o pagamento de auxílios per-manência, creches, faltam vagas nas casas de estudan-tes universitários (CEU’s) e verbas para subsidiar a ali-mentação, transporte e cus-teio do material. A resposta imediata à essa precarização do ensino se dá através dos movimentos que, organiza-dos em diversos setores, e independentes de partidos políticos, lutam para comba-ter as ofensivas do governo.

Desde o início de 2015, mais de 50 Universidades deflagraram greves e ocupa-ções de Reitorias, em todo país, reivindicando direi-tos conquistados e lutando pela não retirada destes. No Rio Grande do Sul, além das greves, Reitorias foram ocupadas pelo Movimen-to Estudantil, dentre elas, a Universidade Federal do Rio Grande - FURG, em Maio, que realizou uma ocupação

de 8 dias, contando com mais de 200 estudantes mo-bilizados, e a da Universida-de Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, protagonizada pelo Movimento de Casas do Estudante (MCE), que ocupou a Reitoria durante 14 dias do mês de Setembro, alcançando conquistas referentes a pau-tas históricas pelas quais o ME lutava, dentre elas a queda da contrapartida no Auxílio Per-manência e a construção de no-vas CEU’s. Tais movimentos sur-giram através da necessidade material posta em cada local de estudo, da organização espon-tânea das e dos estudantes e da disposição de luta que estes demonstraram. Por isso, dada a conjuntura de contradições que expressam, cada vez mais, a inconciliável relação entre o governo e o povo, podemos concluir que apenas a organiza-ção e a luta dos de baixo pode combater as incessantes polí-ticas de precarização da nossa vida.

Quando @s de baixo se mo-vem, os de cima tremem.

Só a luta muda a vida.Para conhecer mais sobre as

pautas do movimento estudan-til das Universidades citadas no texto, acesse: www.facebook.com/Ocupa-Reitoria-UFRGS--2015-Perman%C3%AAncia-Es-tudantil-481343165359849/ti-meline/?ref=ts www.facebook.com/mcefurg

IGOR MALLMANNLILIANE CASTRO

A contradição e o espelho da inconciliação entre as classes

Feministas defendem autonomia da mulher

sobre seu corpo

Das redações de vestibular aos programas televisivos, o tema “aborto” é garantia de conteúdo para longos debates. Geralmente, aborda-se a questão filosoficamente: quando começa a vida? Abortar é assassinar? Grupos feministas, por seu lado, lutam para trazer a discussão da descriminalização ao campo do direito da mulher decidir sobre seu corpo e do aborto como pauta de saúde pública.

“O maior consenso ente as feministas é a necessidade de se debater o controle da mu-lher sobre seu corpo, o que ela quer para si”, afirmou a estudante de Relações Internacio-nais Florencia Guarch, militante do coletivo Li-vraElas, de Santana do Livramento/RS.

Atualmente, a legislação brasileira prevê re-clusão de um a três anos para a mulher que pratica o aborto, exceto em casos de risco à gestante, de estupro ou de feto anencefálico. Esta criminalização da prática, para Florencia, está enraizada em uma sociedade profunda-mente patriarcal, ainda que seus traços se fle-xibilizem no decorrer dos anos.

“A pressão com a precaução da concepção recai toda sobre a mulher. Na gestação, a res-ponsabilização, a punição, pelo aborto é joga-da para a mulher também. Para o homem é muito fácil dizer não quero mais. O cara some, mas a mulher não pode sumir”, sentenciou a feminista. E se o parceiro apoia o aborto, diz ela, quem assume todo o peso do ato ainda é mulher.

Assim, a estudante de RI não considera jus-to condenar uma mulher pela prática. “O abor-to não tem nada de simples. É um processo violento, que deixa marcas físicas, psicológicas e emocionais na mulher. Quem faz é porque realmente está decidida, geralmente em uma situação muito delicada, desamparada”, escla-receu. Ademais, Florencia frisa que o número de mulheres que se enquadram na criminali-zação é absurdamente alto, não se trata de um desvio moral. Cerca de 850 mil casos ao ano, segundo estudo de pesquisadores do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e da ONG Ações Afirmativas em Direitos e Saúde.

Muito mais do que tema filosófico ou reli-gioso, ela classifica o aborto como questão de saúde pública. Nesse sentido, o Estado deve, segundo ela, prover assistência e amparo às mulheres que optarem por abortar. Florência, porém, não vê a descriminalização no horizon-te de um Congresso Nacional majoritariamen-te conservador (e masculino), reflexo, avalia, de um retrocesso no senso comum quanto às liberdade individuais e garantias sociais nos úl-timos anos.

Como possibilidade para reverter esse qua-dro, a ativista crê na organização das mulheres em coletivos e outros tipos de grupos feminis-tas. Este movimento, aliás, é visto como ascen-dente por ela de alguns anos para cá. Inspira-ção nesta luta não falta a Florência: a pesquisa de seu Trabalho de Conclusão de Curso na Uni-versidade Federal do Pampa é sobre a revolu-ção social em marcha no Curdistão Sírio, prota-gonizada pelas mulheres.

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“A luta de classes é a base e a força motriz de todo o desenvolvimento”

Vladimir Lenin

Estamos prestes a completar cem anos da primeira grande experiên-cia socialista no mundo, em 1917 na União Soviética – URSS. A classe trabalhadora, liderada por Vladmir Lenin, levava “os de baixo” a derrubar o Czar e implantar o primeiro Estado Proletário no mundo contemporâ-neo, colocando em prática as teorias de Karl Marx e Friedrich Engles.

Muitas das teorias marxistas foram elaboradas ao estudarem com gran-de atenção a experiência de apenas 72 dias da Comuna de Paris de 1871, corrigindo e desenvolvendo a partir dela a sua teoria sobre o socialismo, especialmente quanto a forma que deveria assumir o Estado Proletário.

A Comuna de Paris foi logo esmaga-da devido a “grande ameaça” à bur-guesia da época que temia a expan-

são da revolução por toda a Europa e com isso a perda de seus privilégios, mas a Comuna serviu como um cami-nho aberto para aqueles que sonham com a sociedade justa e sem explo-ração, e graças a ela pode-se trilhar novos rumos (dizia-se que a Comuna era como homens que caminhavam na escuridão com lanternas amarra-das nas costas, não viam o caminho a sua frente mais clareavam para os que vinham logo atrás).

Seja em decorrência dos erros co-metidos, seja em consequência do agressivo cerco Imperialista e da acir-rada luta de classes em nível interna-cional a União Soviética sofreu com a estagnação e a seguir houve a rever-são de seu processo de transição para o socialismo, culminando com o des-moronamento do estado e a volta do regime capitalista.

Mas também muitos foram os êxi-tos conquistados, principalmente nos campos social e tecnológico, um país que até então era miserável se tor-nou uma das principais potências do mundo.

De todas as conquistas, a mais im-portante e que beneficia ainda hoje quase cem anos depois é exatamente a questão do trabalho. Pela primeira vez, os trabalhadores passaram de “objeto para sujeitos da ação”, graças à revolução de outubro de 1917, to-dos os países do mundo incluindo o Brasil passaram a reconhecer direitos para os trabalhadores, por isso na dé-cada de 30, Getúlio Vargas, começou a sinalizar nesse sentido e em 1942 cria-se a CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas.

O verdadeiro motivo era o medo, como em 1871 com a Comuna de Paris, de que a revolução socialista se espalhasse pelo mundo, então “da-mos a mão para não perder o braço”. Tinha-se medo, pois os que abraça-ram os trabalhadores na luta pelo que hoje são direitos básicos como limite de jornada de trabalho, horas--extras, direito à folga e férias e que levantaram estas bandeiras foram os comunistas, socialistas e anarquistas.

E saiba que infelizmente qualquer governo tem medo que estes pen-

samentos políticos se sobressaiam já que as ascensões destas formas de pensar representam o fim de muitos privilégios dos que estão no poder ou vivem do mesmo.

Se hoje temos uma legislação am-pla que ampara os direitos dos tra-balhadores, deve-se, a Revolução de Outubro, aos ideais socialistas e aos marxistas que deram o caminho para a classe trabalhadora da União Sovié-tica naquele ano de 1917 que mudou o destino de todos os trabalhadores do mundo.

Devido à aproximação do seu cen-tenário muitos intelectuais estão se dedicando aos estudos deste período e desta experiência para que possa-mos aprender com nossos erros e acertos e continuarmos desbravando os caminhos iniciados com a Comuna de Paris, com a Revolução de Outu-bro e tantas outras experiências no mundo, para que no futuro chegue-mos à tão sonhada sociedade justa, igualitária, sem exploração, em busca da bandeira maior da classe trabalha-dora, a bandeira do socialismo.

O TRABALHO

Conquista dos trabalhadores e a revolução de outubro de 1917

RODRIGO CALLAIS

América Latina: uma reflexão depois de Che Guevara

HISTÓRIA IMEDIATA

Após várias décadas da morte de Ernesto Che Guevara, as políticas revolucionárias se manifestaram, expressaram e

refletiram as variações regionais que têm lugar em diferentes momentos históricos, seguindo diversas estraté-gias e originárias de bases sociais distin-tas. A figura e as idéias de Che Guevara tiveram influência e presença, dando forma aos debates revolucionários e contribuindo para a compreensão das potencialidades de transformação.

Muitos observadores e comenta-ristas adotaram um ponto de vista es-treito na avaliação crítica das idéias de Che e de suas projeções. Por exemplo, a decisão de Che de dedicar-se a um pro-jeto guerrilheiro no Congo (Zaire) tem sido descrita como um fracasso ou um equívoco.

Entretanto, depois de muitas vicis-situdes na luta, o regime de Mobutu, títere dos Estados Unidos e França, foi derrotado precisamente por um exér-cito guerrilheiro liderado por um dos homens com quem Che havia colabo-rado. Os julgamentos prematuros dos experts foram refutados pelas experi-ências históricas. Por isso, um dos pon-tos a considerar quando se analisam a teoria e prática de Che Guevara sobre a revolução é o marco temporal assim como a determinação espacial e o con-texto político e econômico nos níveis internacional, nacional e regional.

De maneira similar, os críticos têm insistido sobre o erro de Che de tentar uma guerra de guerrilhas na Bolívia, em meados dos anos 60. A decisão de Che se baseou, nesse momento, em sua premissa de que a Guerra do Vietnã era um momento favorável para lançar “dois, três, muitos Vietnã”. Acertada-mente, Che analisou que os Estados Unidos não poderiam ganhar a Guerra do Vietnã, que estavam demasiada-mente comprometidos nessa guerra e que o povo estadunidense começava a sentir-se desencantado com esse com-promisso.

Além disso, Che compreendeu que a heróica vitória no Vietnã era inspira-dora para os povos oprimidos de todas as partes, mostrando-lhes que as forças “subjetivas” (organização, consciência, etc.) podiam superar os fatores objeti-vos (armas e tecnologia superiores).

Che também sabia que a Bolívia ti-nha uma tradição revolucionária, uma classe trabalhadora na vanguarda das lutas e uma ditadura impopular. Por isso, a compreensão de Che da favora-bilidade do movimento internacional e sua análise sobre a realidade (geográfi-ca) e o estilo particular de implementar políticas revolucionárias (em uma re-gião subpovoada, afastada das classes

revolucionárias, dependente de grupos não confiáveis), posteriormente ao as-sassinato de Che, os acontecimentos confirmaram sua análise global, assim como sua compreensão da maturida-de das condições subjetivas. A Guerra do Vietnã havia debilitado momenta-neamente a capacidade dos Estados Unidos de desenvolver intervenções militares e isto facilitou a derrota de regimes favoráveis aos estadunidenses no Irã, Etiópia, Nicará-gua e Granada.

Como consequên-cia imediata da mor-te de Che, surgiu na América Latina uma nova subjetividade revolucionária que esteve centrada prin-cipalmente no Cone sul e que apresentou diferentes expressões políticas.

A prática e o pensa-mento revolucionário de Che Guevara evo-luíram numa relação muito próxima com os grandes processos históricos da América Latina. Ele foi parte da geração dos anos 50, que testemunhou os fracassos e derro-tas dos movimentos políticos reformistas eleitoreiros desses tempos.

Che estava na Guatemala quando a CIA derrotou o governo reformista de Jacobo Arbenz. Ele sabia da queda do governo populista de Perón e o mesmo se deu no Peru e Colômbia, que haviam experimentado o fracasso da “esquer-da democrática” (Haya de La Torre no Peru, Grau em Cuba, Gaitán na Colôm-bia), ao confrontar-se com regimes di-tatoriais e com o imperialismo estadu-nidense.

Duas “coordenadas” marcaram a geração dos anos 50, da qual Che foi um membro importante: a subesti-mação da natureza hegemônica dos Estados Unidos (a dominação políti-ca e militar, assim como a exploração econômica) e os fracasso histórico das estratégias e movimentos políticos re-formistas e eleitoreiros para confron-tar a ordem liberal emergente impul-sionada por Washington. Sem obter êxito no desafio do modelo estaduni-dense, alguns membros da “esquerda democrática” começaram a adaptar--se e a aceitar a hegemonia dos Esta-dos Unidos.

A geração dos anos 50 deveria en-tão criar novas organizações, novos métodos para lutar, assim como pro-

gramas inovadores para enfrentar a nova ordem liberal. Assim começou o que seriam quatro ondas revolu-cionárias: 1959-1967, da Revolução Cubana ao assassinato de Guevara; 1968-1976, período dos levantes po-pulares massivos no Cone Sul da Amé-rica Latina e nos países andinos, que culminaram na instauração de regi-mes militares; 1977-1990, período do crescimento dos movimentos revolu-

cionários da América Central e a instalação do regime sandinis-ta, que termina com os Acordos de Paz e a derrota eleitoral da frente Sandinista de Libertação Nacional; 1991 até hoje, perí-odo dos novos mo-vimentos sociopolí-ticos revolucionários de camponeses e índios nos territórios da América Latina.

Uma das conclu-sões importantes a qual todos esses movimentos revolu-cionários chegaram foi a importância a uma urgente edu-cação política para preparar as classes exploradas para sua autolibertação. Che Guevara acreditava que “não se pode construir o socia-lismo com pessoas

tendo o signo do dólar nos olhos”.O legado revolucionário de Che

vive em diferentes formas de organi-zação e numa geração de líderes. O sa-que imperialista que adota a forma de privatizações das empresas públicas, a apropriação dos recursos naturais, o emprego de mão-de-obra barata e a expulsão dos camponeses geraram resistências massivas.

Das províncias da Argentina aos campos do Brasil, Bolívia e Paraguai, das montanhas do Equador às comu-nidades camponesas e indígenas do México, Che está presente na mente e no espírito, corporificado no pensa-mento e na prática dos novos líderes revolucionários que compartilham com seus companheiros os perigos e as privações.

O espírito de Che aparece em to-dos os lugares onde a injustiça social prevalece, a CIA pode ter matado o homem, porém suas ideias estão mais presentes que nunca na ética, na política, na prática, na cultura de uma nova onda de movimentos revo-lucionários e na juventude, na urgência transformadora.

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LUCIUS FABIANO MARTINS DA SILVA

“Uma das conclusões

importantes a qual todos esses

movimentos revolucionários chegaram foi a importância a uma urgente

educação política para

preparar as classes

exploradas para sua

autolibertação.”

Professor

Cultura DissidenteA Resistência:

“Apesar de Você”Hoje você é quem manda

Falou tá faladoNão tem discussão

A minha gente hoje andaFalando de lado

E olhando pro chão, viuVocê que inventou esse

estadoInventou de inventar

Toda a escuridãoVocê que inventou o pecado

Esqueceu-se de inventarO perdão

Apesar de vocêAmanhã há de ser

Outro diaEu pergunto a você

Onde vai se esconderDa enorme euforiaComo vai proibir

Quando o galo insistirEm cantar

Água nova brotando E a gente se amando

Sem pararQuando chegar o momento

Esse meu sofrimentoVou cobrar com juros, juroTodo esse amor reprimido

Esse grito contidoEsse samba no escuro

Você que inventou a tristezaOra tenha a fineza

De desiventarVocê vai pagar é dobrado

Cada lágrima roladaNesse meu penarApesar de você

Amanhã há de ser Outro dia

Inda pago pra verO jardim florescer

Qual você não queriaVocê vai se amargar

Vendo o dia raiarSem lhe pedir licençaE eu vou morrer de rirQue esse dia há de vir

Antes do que você pensaApesar de você

Amanhã há de serOutro dia

Você vai ter que verA manhã renascerE esbanjar poesia

Como vai se explicarVendo o céu clarear

De repente, impunementeComo vai abafar

Nosso coro a cantar nasua frente

Apesar de vocêAmanhã há de ser

Outro diaVocê vai se dar mal

Etc. e tal (...)

Chico Buarque de Holanda

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ANDREI MENDES DE ANDRADES

O ALICERCEEDIÇÃO 4 - GRAMADO, OUTUBRO DE 2015. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.

PENSAR COLETIVO

“O progresso é impos-sível sem mudança. Aqueles que não conseguem mudar

suas mentes, não conseguem mudar nada”

Bernard Shaw

TRABALHAR PARA SOBREVIVER OU VIVER PARA TRABALHAR

Infelizmente, nossa realidade regional em nossa sociedade não dá as mesmas chances para todos de terem um cresci-mento financeiro e pessoal para se de-senvolverem e assim o trabalhador ter uma evolução como pessoa instruída e com maiores oportunidades de cresci-mento.

Assim como a maioria de nossos tra-balhadores não consegue sequer convi-ver em nossa sociedade nos centros de lazer, de cultura e até mesmo de ensino por terem que se dedicar muitas vezes exclusivamente ao trabalho para tentar dar uma melhor condição de vida à sua família e conseguir sobreviver em nossa região devido ao elevado custo de vida.

Faz-se necessário que sejam criados mecanismos públicos que possibilitem ao trabalhador viver e conviver em so-ciedade e com suas famílias, pois viver só para trabalhar não traz resultado ao trabalhador, tão somente traz cansaço e uma sensação de tempo perdido.

Quantos trabalhadores param e olham para seus filhos e observam que não viram eles crescerem, não puderam acompanhar uma formatura ou um jogo de futebol. Pequenas coisas que infeliz-mente não voltam mais.

É necessário acabar com as históricas injustiças sociais e que todos tenham os direitos básicos efetivados e com plenas condições de desenvolvimento acaban-do com a pobreza não só financeira como também a pobreza de oportunidades de qualidade de vida.

Chega-se ao absurdo de muitas ve-zes o trabalhador não saber o que é um domingo e frequentemente ficar até três meses sem folgar em defesa de um em-prego que no final do mês lhe renderá uma remuneração capaz apenas de lhe manter, mas não lhe possibilita sequer

acesso à casa própria devido ao elevadís-simo custo de vida de nossa região, onde muito se dá ao turista e pouco tem se oportunizado ao cidadão local.

Assim, deve-se dar meios para que nossos trabalhadores tenham seus direi-tos de folga, férias, de convívio familiar e de acesso ao lazer garantido pelo poder público e pelos patrões, pois é urgente que haja a conscientização deles e dos próprios trabalhadores de que é necessá-rio trabalhar para viverem todos os mo-mentos bons da vida e não só para tentar sobreviver e dar lucro à poucos.

MENSALÃO LEGALIZADO

Uma certeza as eleições tem deixado bem claro: é melhor ser secretário do que vereador, ou ser ministro ao invés de deputado.

O povo nas últimas eleições tem elei-to secretários/ministros e não vereado-res/deputados.

Os ocupantes de cadeiras junto ao executivo conseguem transmitir uma imagem de pessoas que efetivamente desempenharam seu papel, pois estão diretamente junto ao povo, aos seus pro-blemas e ao seu cotidiano.

Assim se cria a ilusão de que um se-cretário é quem faz as coisas quando na verdade é um conjunto de todo o apara-to do executivo que viabiliza a efetivação

de bons desempenhos, porém somente com a ajuda de todos os servidores que são as pessoas que efetivam as necessi-dades da população.

Deve se atentar que nosso país ado-tou a tripartição de poderes:

Poder legislativo; Poder executivo e Poder judiciário.

Porém, os políticos idealistas e lega-listas que querem mudar algo ou defen-der de verdade categorias ou setores da sociedade são esmagados nas urnas em locais onde as pessoas preferem transmi-tir seu poder supremo que é o voto a can-didatos que simplesmente irão deixar de lado a “vontade” do eleitor para atender o “chamado” do prefeito/governador/presidente.

O vereador, deputado e senador são eleitos para ocuparem cadeiras no poder legislativo e não no poder executivo. Se a população tomar consciência desta no-ção de organização política possivelmen-te diminuiria em muito a corrupção em nosso país. Pois o prefeito, governador ou presidente ao trazer para o executivo um titular de cargo no legislativo concretiza um verdadeiro “mensalão” legalizado aos suplentes.

Há a necessidade de obrigatorieda-de do cumprimento de mandato eletivo pelo representante eleito para que as casas legislativas não fiquem minadas de candidatos que ao não atingirem o coe-

ficiente necessário junto ao eleitor serão alçados na posição a qual almejavam por intermédio do detentor do poder execu-tivo que segundo a Constituição Federal deveria ser fiscalizado pelos integrantes destas casas.

Como vamos esperar de um suplente uma atuação correta em seu mandato se ele somente chegou lá graças ao titular do poder executivo?

Se houvesse a obrigatoriedade de cumprimento do mandato muitos não deixariam de exercer o que o eleitor real-mente ordenou que o fizesse.

Deveria haver renúncia ao mandato para que quando ocorresse saída de um poder para o outro o candidato eleito fi-casse inelegível para os próximos pleitos eleitorais e, assim, o titular do mandato estará realmente indo de encontro às ne-cessidades dos cidadãos.

Seria importante introduzirmos esta ideia na bendita e interminável reforma política, oferecendo uma grande evolu-ção política para o nosso país semeando e compartilhando deste ideal o maior nú-mero de pessoas, cidadãos que queiram uma política sem corrupção e políticos realmente interessados em promoverem a boa política e não tão somente jogos de politicagem.

Como um vereador/deputado que só está na câmara legislativa graças a um prefeito/governador/presidente ao assu-mir por ter sido nomeado no lugar de um candidato que foi efetivamente eleito irá ter liberdade para exercer um mandato?

Isso não existirá, pois hoje o que ve-mos são os legisladores que deveriam fis-calizar o poder executivo apenas defen-dem seu partido político, os que estão no poder lá querem ficar e os que não estão lá querem chegar e acabam esquecen-do que estão lá para a defesa do povo que o alçou no cargo.

Nossos atuais políticos simples-mente atuam em proveito próprio, de seus partidos ou de seus apoiadore$ e doadore$ de campanha e deixam de lado o seu dever como represen-tante do povo.

Assim, creio que devemos passar a cuidar mais das pretensões dos candidatos que se apresentam nos pleitos. Eles estão para defender uma categoria profissional, um gru-po social ou apenas as pretensões do próprio ego?