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O ALICERCE EDIÇÃO 5 - GRAMADO, DEZEMBRO DE 2015. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - CIRCULAÇÃO MENSAL FACEBOOK.COM/OALICERCEGRAMADO O s metalúrgicos possuem um histórico de lutas de grande relevância nos movimentos de traba- lhadores do país. Em nossa região, assim como em todos os cantos do Brasil, esta categoria teve de enfrentar os golpes do ajus- te fiscal dos governos, além da ga- nância dos patrões nas negociações salariais neste ano. O Sindicato dos Metalúrgicos de Canela, Gramado e Região angariou, em 2015, um au- mento com o repasse da inflação do período de 8,34% na metalurgia e de 10,34% na reparação de veícu- los. Uma das bandeiras da enda- de é luta contra o Projeto de Lei 4330/04, que liberaliza as terceiriza- ções e, atualmente, aguarda apre- ciação por parte do Senado Federal. “Entendemos que devemos avançar sempre nas conquistas e deixar cla- ro que o projeto de terceirização é uma pauta dos patrões. São eles que terão lucros ainda maiores quando demir um trabalhador e contratar uma empresa terceirizada pela me- tade do preço. Os patrões aumen- taram seus lucros nos úlmos anos e agora querem demir ou reduzir direitos com a desculpa de garanr empregos e isso foi a tônica do dis- curso durante toda a campanha sa- larial de 2015”, denunciou Francisco Pedroso, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da região. Conforme Francisco, o sindicato venceu causas contra duas empre- sas na Jusça do Trabalho neste ano. No caso da Famasl Taurus, a empresa teve que voltar a pagar o Auxílio Faculdade, após ter cortado o benecio pago aos funcionários que frequentam a universidade. Na Basim Máquinas, após intensa ba- talha judicial, os trabalhadores com acréscimo na jornada de trabalho venceram a causa e também ganha- ram a Ação de Insalubridade que es- tava na jusça há mais de 10 anos. “A economia da região teve um aporte de recursos em mais de R$ 2 milhões, que estavam no bolso do patrão e provavelmente iriam ser repassados como dividendos para o país de origem da empresa mul- nacional”, explicou o presidente do sindicato dos metalúrgicos. Um ataque dos patrões enfrenta- do pela endade representava foi a campanha de algumas empresas para que os funcionários deixassem de pagar a contribuição assistencial (à qual há a possibilidade de opor- -se). Francisco avalia que essa prá- ca é uma tentava de o empresaria- do enfraquecer o sindicato por meio de pressão e poder econômico. Ele vê o ajuste fiscal como com- ponente-chave para esse avanço do patronato contra os direitos do tra- balhador. “Os sinais dados pela eco- nomia no final de 2014 já nos apon- tavam que os dias que viriam seriam diceis. Dando uma guinada à direi- ta, o Governo Federal manda para o Congresso Nacional um pacote de medidas recessivas e neoliberais, restringindo o crédito, cortando benecios sociais. Além da econo- mia em crise, teríamos outra frente atuando contra os direitos dos tra- balhadores, capitaneada pela ala da direita no Congresso, levando adiante pontos como a terceiriza- ção e o financiamento privado nas eleições”, comentou Francisco. IGOR MALLMANN Metalúrgicos combatem terceirização e arrocho salarial em tempo de ajuste fiscal

O Alicerce - Edição 5

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Page 1: O Alicerce - Edição 5

O ALICERCEEDIÇÃO 5 - GRAMADO, DEZEMBRO DE 2015. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - CIRCULAÇÃO MENSAL

FACEBOOK.COM/OALICERCEGRAMADO

Os metalúrgicos possuem um histórico de lutas de grande relevância nos movimentos de traba-lhadores do país. Em

nossa região, assim como em todos os cantos do Brasil, esta categoria teve de enfrentar os golpes do ajus-te fiscal dos governos, além da ga-nância dos patrões nas negociações salariais neste ano. O Sindicato dos Metalúrgicos de Canela, Gramado e Região angariou, em 2015, um au-mento com o repasse da inflação do período de 8,34% na metalurgia e de 10,34% na reparação de veícu-los.

Uma das bandeiras da entida-de é luta contra o Projeto de Lei 4330/04, que liberaliza as terceiriza-ções e, atualmente, aguarda apre-

ciação por parte do Senado Federal. “Entendemos que devemos avançar sempre nas conquistas e deixar cla-ro que o projeto de terceirização é uma pauta dos patrões. São eles que terão lucros ainda maiores quando demitir um trabalhador e contratar uma empresa terceirizada pela me-tade do preço. Os patrões aumen-taram seus lucros nos últimos anos e agora querem demitir ou reduzir direitos com a desculpa de garantir empregos e isso foi a tônica do dis-curso durante toda a campanha sa-larial de 2015”, denunciou Francisco Pedroso, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da região.

Conforme Francisco, o sindicato venceu causas contra duas empre-sas na Justiça do Trabalho neste ano. No caso da Famastil Taurus, a empresa teve que voltar a pagar o Auxílio Faculdade, após ter cortado

o benefício pago aos funcionários que frequentam a universidade. Na Basim Máquinas, após intensa ba-talha judicial, os trabalhadores com acréscimo na jornada de trabalho venceram a causa e também ganha-ram a Ação de Insalubridade que es-tava na justiça há mais de 10 anos. “A economia da região teve um aporte de recursos em mais de R$ 2 milhões, que estavam no bolso do patrão e provavelmente iriam ser repassados como dividendos para o país de origem da empresa multi-nacional”, explicou o presidente do sindicato dos metalúrgicos.

Um ataque dos patrões enfrenta-do pela entidade representativa foi a campanha de algumas empresas para que os funcionários deixassem de pagar a contribuição assistencial (à qual há a possibilidade de opor--se). Francisco avalia que essa práti-

ca é uma tentativa de o empresaria-do enfraquecer o sindicato por meio de pressão e poder econômico.

Ele vê o ajuste fiscal como com-ponente-chave para esse avanço do patronato contra os direitos do tra-balhador. “Os sinais dados pela eco-nomia no final de 2014 já nos apon-tavam que os dias que viriam seriam difíceis. Dando uma guinada à direi-ta, o Governo Federal manda para o Congresso Nacional um pacote de medidas recessivas e neoliberais, restringindo o crédito, cortando benefícios sociais. Além da econo-mia em crise, teríamos outra frente atuando contra os direitos dos tra-balhadores, capitaneada pela ala da direita no Congresso, levando adiante pontos como a terceiriza-ção e o financiamento privado nas eleições”, comentou Francisco.

IGOR MALLMANN

Metalúrgicos combatem terceirização e arrocho salarial em tempo de ajuste fiscal

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O TRABALHO

A VOZ DA COMUNIDADE

Reajuste Salarial dos Trabalhadores da Hotelaria e Gastronomia de Gramado

Grêmio Estudantil: Representação Democrática

1º de novembro é a data-base, mês do reajuste salarial dos trabalhadores em hotéis, bares e restau-

rantes da cidade de Gramado, traba-lhadores estes que são a força pro-dutiva, que constrói a riqueza desta cidade.

Neste ano, inserido em um con-texto de pessimismo gerado por uma crise que afeta nosso pais, e to-dos os outros por ser mais uma crise do sistema capitalista global, onde os primeiros prejudicados são jus-tamente os trabalhadores, conquis-tamos avanços importantes para a categoria.

Depois de algumas rodadas de negociação e de muito ouvir a pa-lavra ¨crise¨ conseguimos fechar a convenção coletiva 2015/2016. Analisando as demais categorias que fecharam acordos com índices iguais ou até inferiores à inflação, te-mos a certeza que tivemos um bom acordo.

O fato de nossa região ser um referencial no país como destino turístico nos coloca em um patamar diferenciado, comparado com ou-tras regiões. Com isso temos a pos-sibilidade de avançar nas conquistas dos trabalhadores mesmo em um quadro geral de instabilidade econô-mica, por conta de uma crise, muito mais política do que financeira.

A partir de primeiro de novem-bro de 2015, os trabalhadores que

recebem acima do piso terão um reajuste de 10,7%. O piso da cate-goria para novembro e dezembro passa para R$ 1.030,00, e a partir de janeiro de 2016 , R$ 1.055,00, total de 14,7% de reajuste no piso.

Conquistamos também 1% de quinquênio (5 anos de trabalho na mesma empresa, sobre o salário do empregado), mantendo o adicional por tempo de serviço de 1% que já havíamos conquistado no ano passa-do (a cada ano completo na mesma empresa sobre o salário do empre-gado), ampliamos o auxilio creche para quem tem filhos com idade até 4 anos e 11 meses (tendo filho nes-ta idade tem direito, não precisa a

criança estar frequentando a creche) além do reajuste no valor que passa para R$ 80,00, auxilio material esco-lar para quem tem filho no ensino fundamental, no valor de R$ 80,00.

A pauta de reivindicações é extensa e temos muito para con-quistar, mais isto somente será possível com a participação do tra-balhador nas assembleias, apoiando o seu sindicato. A união da classe e o apoio à entidade sindical que os representa é peça fundamental para que possamos ampliar nossos direitos e sermos reconhecidos por nosso trabalho, função esta que faz nossa cidade ser o destaque que é, pois somos nós que atendemos nos-

sos turistas, estando sempre com o sorriso no rosto, aqueles que têm uma função direta com o turista, e com a dedicação e esforço daqueles que prestam o serviço nos bastido-res. Mais isto só será possível com reconhecimento por parte dos em-presários, e isto se faz com melho-res salários e melhores condições de trabalho.

Contamos com o apoio de todos e todas, companheiros e compa-nheiras, o futuro se faz agora, seja-mos nós sujeitos, protagonistas, de nossa história, compareçam no sin-dicato, associe-se, se informe.

Trabalhador bem informado não tem seus direitos violados.

As agremiações estudantis têm um papel muito relevante na esco-la em si. Desta forma, representam os alunos de toda a escola, assim como o povo da nação brasileira tem seus representantes escolhi-dos de forma democrática.

O Grêmio estudantil é a voz e a representação dos alunos. E como

tal deve ser um órgão independen-te, com autonomia e competência para representar os estudantes na instituição. Jamais se esquecendo do estatuto no qual as agremiações devem reger-se.

O Grêmio Estudantil é historica-mente um berço de grandes líderes, que tiveram o início de sua cami-

nhada política liderando uma asso-ciação de estudantes, lutando por ideais e objetivos, para melhorar a instituição da qual fazem parte. Para que então depois de melhorar a sociedade em que convive (esco-la) possa melhorar uma cidade, um estado a até mesmo um país!

“A pauta de reivindicações é extensa e temos

muito para conquistar, mais

isto somente será possível com a participação do trabalhador nas

assembleias, apoiando o seu

sindicato”

RODRIGO CALLAIS

VINICIUS DOS SANTOS E JOÃO ANTÔNIO DUARTE DIAS

Presidente e Vice-Presidente do

Grêmio Estudantil Castro Alves - Escola Ramos Pacheco

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O ataque conservador e a resposta das mulheres

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No final de novembro, a timeli-ne do Facebook foi conquista-da pela campanha #meuami-gosecreto, com as mulheres externando os mais variados

casos de machismo sofridos. Foi um momento para reflexão de todos os ho-mens. Para a sociedade como um todo. Ou deveria ser. Pois a luta das mulheres, dos coletivos feministas, por igualdade entre os gêneros tem estado no centro dos debates das demandas sociais. O cotidiano está cheio de opressões que se naturalizam.

Hoje temos uma composição do Congresso Nacional superconservado-ra, que propõem coisas absurdas como o “modelo de família” ou o Projeto de Lei 5069 de 2013, de autoria de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que dificulta o aces-so à pílula do dia seguinte para os casos de estupro. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou essa proposta de mudança, uma afronta ao direito da mulher, dando margem à violência de gênero.

Essa proposta gerou protestos, mo-bilizando as mulheres a saírem às ruas com cartazes tais como “Pílula fica, Cunha saí!”. Outro ataque às mulheres, também gerando manifestações de re-púdio, foi desferido pela Brigada Militar, no início de novembro, com repressão a mulheres que participavam da Feira do Livro Feminista de Porto Alegre.

O debate sobre a violência contra a mulher é premente. O sistema capitalis-ta quer fazer crer que as lutas feministas são ultrapassadas, mas o próprio siste-ma é profundamente patriarcal. Ao pau-tar a redação do ENEM, vimos o tema despertar inúmeras manifestações ma-chistas de aberrações como o apresen-tador Danilo Gentili, mostrando que a igualdade de gênero ainda enfrentará muita resistência.

LUTA DOS POVOS ORIGINÁRIOS

Outra luta popular premente é a dos indígenas – os legítimos habitantes das terras – contra o avanço do latifúndio monocultor-exportador. No Mato Gros-so do Sul, a população Guarani-Kaiowá luta para garantir a demarcação de suas terras. Apesar de viverem há décadas na aldeia de Pyelito Kuen, uma área de 2 hectares (20 mil metros quadrados), os Kaiowás foram condenados pela Justiça Federal a deixar a área em benefício de um único fazendeiro, dono de uma pro-priedade de 700 hectares.

Contribuem para o ataque aos indí-genas o misticismo e a desinformação que reinam em relação aos povos ances-

trais. Muita gente acredita que o índio é um selvagem, preguiçoso, retrógrado, que não pode dominar os códigos do homem branco, entre outras ignóbeis ideias. E isso não é somente uma defi-ciência do sistema educacional em si, ao tratar do tema, mas, muito amiúde, uma prática das elites para dominação e logro.

Na época colonial, questionava-se a humanidade dos índios, para ter jus-tificativa para escraviza-los. Hoje, os fa-zendeiros – que adoram ser chamados de “produtores” – acusam os índios de preguiça e “improdutividade”. O obje-tivo, claro, é ter respaldo para tomar, criminosamente, as terras ocupadas há séculos pelos povos que são removidos à bala. Tudo em prol do latifúndio.

A poderosa bancada ruralista do Congresso Nacional já está fazendo an-dar um projeto que tira do Executivo Federal o controle sobre demarcações de terras indígenas. E a naturalização do racismo, infelizmente, deve continuar, conclamado por vozes tais como a do deputado federal pelo PP-RS, Luís Car-los Heinze, que afirmou serem os índios “tudo o que não presta”.

Frente a essas situações de ataques aos direitos básicos das populações, seja no caso de índios, mulheres, trabalha-dores, estudantes etc., não temos dú-vida sobre qual lado do cabo de guerra devemos segurar. As lutas populares, os movimentos sociais e organizações de esquerda são pintados pela ideologia

dominante como danosos, incabíveis ou ilegítimos. Um jogo sujo. Frente a isso, devemos marcar posição e estar junto aos de baixo e contra os que detêm o poder e querem impor seus privilégios sobre os demais. Reproduzo a seguir o famoso comunicado do subcomandan-te Marcos, do Movimento Zapatista me-xicano, emitido em 1994, explicando a origem e o porquê do nome “Marcos”:

“Marcos é gay em São Francisco, ne-gro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, roqueiro na cidade universitária, judeu na Alema-nha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem traba-lho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México. En-fim, Marcos é um ser humano qual-quer neste mundo. Marcos é todas as minorias intoleradas, oprimidas, resis-tindo, exploradas, dizendo ¡Ya basta! Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e aguen-tar. Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciên-cias, este é Marcos.”

GU

ILHERM

E SANTO

S/SUL 21

IGOR MALLMANN

Cultura Dissidente

Perguntas de um operário letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?

Nos livros vem o nome dos reis, mas foram os reis que transportaram as pedras?

Babilônia, tantas vezes destruída.

Quem outras tantas a re-construiu?

Em que casas da Lima Dou-rada moravam seus obreiros?

No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde

foram os seus pedreiros?

A grande Roma está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu?

Sobre quemTriunfaram os Césares?

A tão cantada Bizâncio só tinha palácios.

Para os seus habitantes?

Até a legendária Atlântida na noite em que o mar a engoliu

viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquis-tou as Índias.

Sozinho?

César venceu os gauleses.Nem sequer tinha um cozi-nheiro ao seu serviço?

Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha

chorou. E ninguém mais?

Frederico II ganhou a guerra dos sete anos.

Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.Quem cozinhava os festins?

Em cada década um grande homem.

Quem pagava as despesas?

Tantas histórias,Quantas perguntas.

Bertold Brecht

CONJUNTURA

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CONSCIÊNCIA LIBERTÁRIA

IGOR MALLMANN

Duas décadas de anarquia no RSFederação Anarquista Gaúcha completa 20 anos de militância alternativa à política eleitoral

“Arriba los que lu-chan, compañe-ros!”, conclama-vam os oradores ao final de suas

falas. A frase em espanhol era respondida com palmas e gritos de aprovação por parte do públi-co presente no Teatro Companhia de Arte, em Porto Alegre. Os que não chegaram a tempo de garan-tir lugar nas fileiras de acentos fi-caram de pé no corredor lateral, sob bandeiras rubro-negras com inscrições em branco. Na entrada do auditório, um cartaz tão grande quanto a porta anunciava a oca-sião: 20 anos da Federação Anar-quista Gaúcha (FAG).

O anarquismo ganhou certa no-toriedade junto ao grande público nas Jornadas de Junho e Julho de 2013, com o símbolo “A” tendo lugar de destaque entre a popula-ção que protestava nas ruas. Nos dicionários e no senso comum, a

palavra “anarquia” costuma ser sinônimo de confusão, desordem, baderna. Fundada em 18 de no-vembro de 1995, a FAG, pelo con-trário, reivindica um trabalho orga-nizado para mudanças profundas na sociedade, junto a movimentos sociais, comunidades e sindicatos.

As atividades comemorativas pelas duas décadas de história cul-minaram com um fim de semana de feira libertária na Praça Júlio Mesquita (Praça do Aeromóvel), no Centro da capital gaúcha, nos dias 21 e 22 de novembro, e um ato público com participação de militantes anarquistas de várias partes do país e do mundo. A fei-ra contou com comercialização de livros, camisetas e outros artigos. As grandes atrações foram as ro-das de conversa, que versaram so-bre temas como a conjuntura das lutas sociais na Europa e a impren-sa libertária no Brasil. Além de um bate-papo com um militante da Federação Anarquista que passou vários meses na região do Curdis-

tão, observando o processo revo-lucionário levado a cabo pelo povo curdo e sua luta contra o Estado Islâmico.

RESSURGIMENTO DO ANARQUISMO

O anarquismo orgânico havia recuado no país após as primeiras décadas do século passado, quan-do mobilizara maciças greves por meio do sindicalismo revolucioná-rio. Assim, a militância estava, na década de 90, até certo ponto órfã de paradigmas de atuação locais.

A FAG é resultado de uma ar-ticulação de grupos e indivíduos que objetivaram quebrar a noção de anarquismo comportamentalis-ta, de estilo de vida e de manifes-tações esporádicas. Como modelo e parceira, os anarquistas gaúchos tiveram a Federação Anarquista Uruguaia (FAU), fundada em 1956, resistindo e sobrevivendo à dita-dura civil-militar no país vizinho.

Adotou-se o modelo de anar-

quismo especifista da FAU. Isto sig-nifica uma organização puramente anarquista no nível político, com produção de teoria, propaganda e estratégias decididas coletivamen-te para balizar o trabalho. Seus in-tegrantes buscam a inserção em movimentos sociais, sindicatos, comunidades carentes etc. para fermentar a luta protagonizada por setores oprimidos com os princípios da democracia de base.

O DESPERTAR DAS LUTAS E A CRIMINALIZAÇÃO

O clima abafado no interior do Teatro Companhia de Arte no 21º dia de novembro fazia com que alguns deixassem o auditório por um momento para respirar ar fres-co. Pela vidraça junto à escada que levava ao segundo andar do pré-dio, era possível observar o fim de tarde dar lugar ao início de noite em Porto Alegre. Algumas crian-ças, que ainda não compreendiam bem o que tanto instigava os mais

Chito de Mello trouxe a música libertária ao ato dos 20 anos da FAG

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“É mais importante, para nós, criar um povo forte do que um partido forte” Federação Anarquista Gaúcha

IGOR MALLMANN

Antena telefônica atormenta comunidade

da Vila do Sol

Uma luta que perdura há alguns anos em Gramado é a da comunidade da Vila do Sol em relação à antena de telefonia móvel instalada em meio às residências do bairro. Esta vem causando inúmeros danos aos moradores pró-ximos. A estação rádio base atrai raios duran-te as tempestades, provocando a queima de eletroeletrônicos. Também se suspeita que a radiação emitida pela antena possa ter impac-tado diversos casos de câncer observados em pessoas que moram no seu entorno.

“A antena foi instalada em 1999, em uma zona com mais de 600 casas, em um morro, tendo 75 metros de altura. É um local em que venta muito. Como ela está em um terreno bal-dio, teve uma época que roubaram os fios de cobre. Então os raios atraídos pela antena co-meçaram a queimar aparelhos eletrônicos dos vizinhos, situação que durou até o início deste ano”, contou Sidinei Zamberlan, presidente da associação de moradores da Vila do Sol.

A associação de moradores tem estado em contato há um bom tempo com o Ministério Público para buscar uma solução. O órgão vem notificando a prefeitura sobre o licenciamen-to da antena. A última resposta do Executivo, datada de 4 de novembro, afirma já ter sido contratada uma empresa para fazer medições de padrões visando à elaboração de legislação específica para as antenas na cidade. O prazo é de 180 dias para tal ação.

Apesar da questão de danos à saúde em função da radiação de antenas ser controver-sa, diversos estudos já apontam malefícios. O resultado de um estudo retrospectivo na cida-de alemã de Naila, por exemplo, mostra que o risco de novos casos de câncer foi três vezes maior entre os pacientes que tinham vivido durante os dez últimos anos (1994-2004) a uma distância inferior a 400 metros da ante-na transmissora da estação de telefonia celu-lar, em comparação com os que tinham vivido a distâncias maiores. (Os dados deste estudo são apresentados em artigo de Horst Eger, Klaus Uwe Hagen, Birgitt Lucas, Peter Vogel, Helmut Voit, disponível em português no link: http://www.mreengenharia.com.br/pdf/arti-go_06_mastro_transmissao.pdf).

velhos lá dentro, também vinham até a escada para fa-zer o seu próprio encontro.

O ato público foi o ápice das comemorações dos 20 anos. Estiveram presentes delega-dos de organizações anarquis-tas de vários Estados do Bra-sil e de países como Uruguai, Chile, Argentina, Colômbia, Estados Unidos, França, Itália, África do Sul. Uma das falas mais ovacionadas foi de Juan Carlos Mechoso, que carrega na mala décadas de militân-cia na Federação Anarquista Uruguaia. As intervenções, porém, não se restringiram à oratória: o músico fronteiriço Chito de Mello trouxe versos libertários cantados, que em-balaram o público.

A parte final do ato teve a fala conjunta de uma militan-te e um militante da FAG. Fo-ram abordados temas da con-juntura dos últimos anos de lutas da organização. Um dos pontos frisados foi a repres-são sob os últimos governos estaduais, por meio das polí-cias Civil e Militar. A Federa-ção Anarquista teve sua sede pública invadida pela polícia primeiramente no governo

Ieda (PSDB). Mais tarde, o fato se repete na gestão Tarso Genro (PT), durante os pro-testos de 2013, com aplicação de processos judiciais contra militantes.

“Quem não se lembra das balas de borracha? Das pau-ladas? Da violência psicológi-ca? Da nova invasão de nossa sede pública, assim como da casa de outros lutadores so-ciais nas Jornadas de 2013?”, proferiu a militante da FAG.

Também entrou na fala dos anarquistas a repressão da Brigada Militar nos protes-tos do funcionalismo público estadual nesse ano, além da crítica à burocracia sindical do CPERS (Centro dos Profes-sores do RS), que, nas pala-vras dos militantes, “puxou o freio de mão” da luta contra os ataques do governo Sarto-ri (PMDB) ao abdicar da greve por tempo indeterminado.

VIZINHOS DE UM MESMO CONDOMÍNIO

“Como votam os anar-quistas?”, provocava uma campanha da FAG durante as eleições do ano passado.

A resposta dada é que o voto na urna é nulo, mas ativo nas ruas. “É mais importante, para nós, criar um povo forte do que um partido forte”, pro-clamou o texto da FAG lido no encontro dos 20 anos. A

As críticas foram dispara-das tanto contra a oposição ao Governo Federal que pede im-peachment quanto às gestões do PT, que, para a FAG, rene-gou todo o discurso esquerdis-ta que possuía, priorizando a permanência no Executivo Fe-deral, agradando as elites, em detrimento de investimentos voltados às classes mais neces-sitadas. A analogia usada foi a de que o PT e a oposição são “vizinhos de um mesmo con-domínio particular”.

Findadas as intervenções de militantes no ato público, acenderam-se as luzes do au-ditório, abraços fraternos fo-ram trocados. Dos alto-falan-tes brotou “A Internacional”, canção que serve, historica-mente e em todas as línguas, como hino de anarquistas, so-cialistas e comunistas. Dizia o refrão: “Bem unidos façamos / Nesta luta final / Uma terra sem amos / A Internacional”.

IGO

R MALLM

ANN

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P aulo Freire, ícone libertário da nossa educação, sempre balizou sua ação na condição demo-

crática e independente das opiniões. Estas estiveram na construção do seu pro-jeto de uma escola em que todos tivessem participa-ção viva, sobretudo os ex-cluídos, os marginalizados e os que não tinham acesso à escola.

Paulo Freire não é o pre-ferido dos modismos, ele humaniza o ensino e não o torna “bancário”, e sua úni-ca estratégia é a condição, a predisposição e o propó-sito de aprender e ensinar.

Em uma escola viva e de-mocrática convivem as mais variadas correntes ideoló-gicas, mani-f e s t a n d o - s e no ativismo latente e natu-ral de alunos e professores. Ideologias que foram cons-truídas no p r o t a g o n i s -mo histórico e nas tensões d e c o r r e n t e s dos sistemas opressores, e que ainda en-contram representações na nossa comunidade.

A Escola é base e polo irradiador dos referenciais teóricos e sociais, assim como é responsável pelo legado humanístico, mas ao mesmo tempo é a que con-duzirá a sociedade para um presente e futuro possível, a partir da superação das experiências fracassadas na comunidade. Geralmente experiências que foram co-optadas pelo sistema domi-nante.

Mas como isso será pos-sível se o exemplo indivi-dualista neoliberal usado fora da escola está sendo

usado na escola? Temos que reverter o processo

urgentemente, dentro de uma perspectiva e refe-renciais humanísticos, com a vivência das ideologias, estudando e aplicando por um único viés, o solidário, descartando o reacionário.

Definir o que é ensina-do ou não nas escolas, sob uma perspectiva ditatorial é acabar com a liberdade e dar carta branca à submis-são. A Escola deve se opor a qualquer forma de cerce-amento em relação ao co-nhecimento, principalmen-te quando tal demonstra preocupação com a busca de uma sociedade mais jus-ta, com o combate ao pre-conceito, à xenofobia, com o respeito à diversidade e à identidade.

Os valores éticos fun-d a m e nta i s partem da escola, as ações par-tem da es-cola, assim alunos e p r o f e s s o -res são os construto-res e fis-c a l i z a d o -res dessas ações, por-tanto é daí que parte

toda e qualquer experiên-cia de liberdade ideológica, cultural, política e repre-sentativa.

A deserção política na escola, pela falta do en-gajamento docente, que é alienada pelo sistema do-minante, ou muitas vezes quer fazer parte dele, deve ser substituído pela total li-berdade crítica e o estímulo de lideranças, assim como do espírito vanguardista da juventude na escola.

Manifestações legítimas e democráticas de alguns alunos da Escola Ramos Pa-checo, demonstrando o ca-ráter da liberdade de Freire.

A juventude sempre teve um pa-pel muito importante na política. Na história recente, podemos citar o movimento das “diretas Já” e do “Fora Collor”, ambos organizados por entidades juvenis. No Regime Militar foram os jovens que guerri-lharam e combateram contra a di-tadura.

Porém, atualmente é sentida cer-ta ausência dos jovens no meio polí-tico, talvez seja por desconfiança ou até mesmo por que se enojou das mesmas pessoas e da mesma forma de fazer política. Os jovens devem ser mais ativistas, não necessaria-mente em militância partidária ou em organizações como o MBL, UJS, entre outros.

Os jovens devem participar no Congresso Nacional, nas Câmaras Municipais, cobrando nossos repre-sentantes no Legislativo e no Execu-tivo, independente de partido. Sim, estamos passando por um momen-to de crise, e temos que nos unir para superá-lo.

O que não podemos fazer é cruzar os braços e deixar o futuro do país nas mãos daqueles que praticam a velha política. Nas eleições de 2014, vimos aumentar significantemente o número jovens candidatos e elei-tos, como exemplos de liderança, cada qual em seu campo ideológi-co, reforçando a cada dia o debate democrático e contribuindo para reforçar aquilo que eu já falei e que intitula esse texto, o papel do jovem na política.

Para finalizar, reforço o argumento que a juventude deve voltar a parti-cipar ativamente da vida política do país, como fez nos anos 80 e 90.

Devemos cobrar, nos manifestar pacificamente, sugerir, dialogar, mas acima de tudo, jamais deixar de fis-calizar.

O preço da liberdade é a eterna vigilância, o futuro somos nós que fazemos no presente, e o país que queremos deixar para as futuras ge-rações deve ser construído a partir de agora.

Estamos terminando mais um ano letivo, e o que me pre-ocupa é a qualidade do nosso ensino, que a cada ano que passa, perde mais o seu foco que é ensinar, e passa a edu-cação a tarefa que cabe aos pais e não aos professores e diretores das escolas. Tenho visto professores e diretores acuados com a violência e com ameaças em sala de aula.

O desrespeito é tanto que pais vão às escolas questio-nar os professores quando chamam a atenção dos filhos, como se os pais fossem a lei maior das escolas. Reflitam pais.

Não culpo professores e di-reção das escolas, pois a rea-lidade bate a porta de todos, escolas públicas e particula-res, escolas em má conserva-ção, com rachaduras, goteiras, algumas sem merenda para os alunos e banheiros em mau estado.

Além de salários defasados e parcelados, qual o incentivo que esses profissionais têm de levantar cedo e ir ensinar nossos filhos?

Os governantes falam que não há verbas para aplicar na educação, ora, é só pegar um pouco dos bilhões que são desviados pelo nosso congres-so dos nossos impostos e in-vestir em educação.

Vai resolver o problema? Talvez não, mas com certeza irá amenizar a situação con-duzindo mais pessoas para o caminho da inclusão.

Meu recado: Pais, sem edu-cação o país não têm legado nem cultura. E governantes, não investir em educação hoje se tornará inevitável investir em presídios amanhã.

EDUCAÇÃO EM TRANSFORMAÇÃO

Escola: a mater política e democrática!

O papel do jovem na política

Qual será o futuro da nossa educação?

LUCIUS FABIANO MARTINS DA SILVA

NILO SEEWALD JOSÉ MARIO F. DA SILVA Aluno - Turma 13 / Ensino Médio

Politécnico Ramos PachecoAluno - T8 /EJA Ramos Pacheco

“Em uma escola viva e democrática convivem as

mais variadas correntes

ideológicas”

Page 7: O Alicerce - Edição 5

O Pensamento Único e o Showrnalismo

HISTÓRIA IMEDIATA

“A função da História Imediata deve ser a de ligar o presente aberto, com todas as suas possibilida-

des, com o passado mais recente, sendo, para tanto, essencial partir das exigências da prática social e da luta política”

J. Chesneaux

Na nossa sociedade vivencia um profundo estado de superinforma-ção perpétua e subinformação crô-nica. A História Imediata precisa fazer o que a mídia, preocupada com o abastecimento da demanda (i)rracional de informação que ela mesma gerou, não consegue reali-zar: a função de dar inteligibilidade histórica a uma informação (análi-se objetiva, crítica).

Além da perspectiva de ação da História Imediata, existe o foco do Pensamento Único, que corres-ponde a uma ideologia da globa-lização neoliberal e dos Regimes Globalitários, enfatizado por Ra-monet. O Pensamento Único não nos faz pensar, não nos faz refletir, não nos faz ser humanos, somos apenas máquinas repetidoras, sem nenhum problema de consciência.

O Pensamento Único está di-retamente ligado às novas trans-formações da sociedade e à nova estruturação do capitalismo. A sua análise permite constatar que é a forma dominante do pensamen-to conservador ainda vigente no século XXI. Essa forma ditatorial absoluta de abrangência universa-lizante não encontrou forte oposi-ção até hoje,

Nesse sentido, ele assume uma caracterização tendencial de tota-litarismo que Ramonet identifica, ligando com o processo de Globa-lização Capitalista, como “pensa-mento globalitário”. É um pensa-mento que não admite alternativas e não há espaço para qualquer contraposição. Apresenta-se como expressão de uma realidade ine-lutável, frente a qual não se pode fazer nada. Essa realidade seria da natureza das coisas, da natureza da sociedade e da humanidade.

Qualquer crítica ou alternativa são apresentadas, pelo Pensamen-to Único Globalitário, como conde-náveis desvios da linha natural e como uma regressão histórica que dever ser eliminada mais rapida-mente possível.

Constata-se que tal pensamento

é totalitário no seu núcleo central embora seja vendido como plura-lista. Expressa, de maneira cristali-na, as posições da nova direita que vem avassalando a sociedade con-temporânea, principalmente após a “queda do muro de Berlim”.

Ele procura legitimar-se “cien-tificamente”, através de teorias pseudocientíficas e de mecanis-mos de repetição que atuam como demonstração. Nessa tentativa, se dilui como um pensamento difuso, desorganizado e descentralizado, diferentemente do que parece ser.

Mas trata-se de um pensamen-to altamente organizado e siste-matizado, produto de análises e testes. É um pensamento que se origina em laboratórios (grandes fundações e grandes universida-des, por sua vez financiadas por grupos empresariais ou de milio-nários que deram origem, inclusi-ve, à chamada ideologia do Neoli-beralismo).

Aliás, tais grupos foram os “me-cenas” que difundiram, através dos meios acadêmicos e da imprensa, o Neoliberalismo, que vem a ser o núcleo do Pensamento Único Glo-balitário. Tais centros de pesquisas são ligados a fundações privadas, financiadas geralmente com recur-sos que deveriam ter destinação pública, mas que através de uma série de políticas neoliberais e “oti-mizadoras” são privatizadoras por essas instituições e por certos cen-tros de estudos instalados estra-tegicamente em universidades, e servem para desenvolver e difun-dir o Pensamento Único.

O Pensamento Único (na medi-da que defende o mercado como eixo definidor, e que não existem mais classes e grupos sociais mas apenas indivíduos possuidores de determinadas características pe-culiares, com determinados níveis de elan e de padrões de educação) postula que tais indivíduos são res-ponsáveis pela sua vida e seu des-tino. A partir daí ele articula a des-truição das estruturas coletivas de defesa do trabalho. Tornando-se assim, um instrumento fundamen-tal para a precarização do trabalho, transformando os trabalhadores em escravos da eventualidade, im-pedindo que o trabalho remunera-do, de maneira direta ou indireta, mantenha instrumentos eficazes para garantir os seus direitos dura-mente conquistados.

E quando se fala em trabalho, não é apenas o dos produtores di-retos das fábricas ou do campo, mas está se falando também dos

produtores indiretos como fun-cionários públicos, empregados de “colarinho branco’ nas empre-sas e naqueles que trabalham in-formalmente para o capital, como terceirizados.

O Pensamento Único propõe a precarização completa do tra-balho. E, ao precarizá-lo, procu-ra destruir as possibilidades e as ações de solidariedade entre os trabalhadores, destruindo todas as organizações como sindica-tos, associações políticas e cultu-rais, tendendo a aniquilar toda e qualquer forma de organização coletiva que os trabalhadores construíram ao longo dos séculos, substituindo-as pelo individualis-mo competitivo.

A escola interessa subsidiaria-mente ao Pensamento Único, pois é transformada em depósito de seres, que ainda não são conside-rados humanos, durante uma eta-pa da vida para a qual não existam outros depósitos ou utilização. Seu verdadeiro instrumento educati-vo são as mídias, principalmente eletrônicas, a televisão com suas grandes redes que hoje são mun-dializadas e padronizadas (basta pegarmos uma TV a cabo ou por assinatura que vamos ver que, na-quela diversidade de canais ofe-recidos, na realidade temos duas ou três empresas controladoras e que a pretensa diversidade de informações é programadamen-te organizada como um meio de doutrinação e educação.

Quanto ao showrnalismo pre-sente na mídia, o Pensamento Único se enlaça na sua construção e de longe passa por verificações da história da dominação e do imperialismo, levando a lacrime-jar seletivo dos fatos, o que vem acontecendo nos últimos tempos.

A visão contextual da tempora-lidade da notícia fica deturpada e banalizada, sem a reflexão históri-ca decorrente. O questionamento do sistema midiático e sua substi-tuição coletiva tornam-se torpori-ficados pela rotina do espetáculo, levando a interpretações detur-padas sobre a verdadeira face do horror que resulta da exploração do capitalismo.

As consequências do capitalis-mo selvagem são escolhidas, oti-mizadas, e algumas tratadas da maneira mais economicamente e ocidentalmente “corretas”, mas nunca da forma mais humanitária e muito menos solidária, o que com certeza resultaria na socieda-de da mais verrosímel comoção.

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LUCIUS FABIANO MARTINS DA SILVA

Professor

EDIÇÃO/ REDAÇÃO

REDAÇÃO

PROJETO GRÁFICO/ DIAGRAMAÇÃO

IGOR MALLMANN

LUCIUS FABIANO MARTINS

RODRIGO CALLAIS

ANDREI MENDES DE ANDRADES

GABRIELE MENEZES

Estudante de Jornalismo

Professor

Dirigente sindical

Advogado

Estudante de Publicidade e Propaganda

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EXPEDIENTE

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ANDREI MENDES DE ANDRADES

O ALICERCEEDIÇÃO 5 - GRAMADO, DEZEMBRO DE 2015. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.

PENSAR COLETIVO

“Haja ou não haja frutos, pelo sonho é que vamos.Basta a fé no que temos.

Basta a esperança naquilo que talvez não teremos.”Sebastião da Gama.

O MITO DA “MEIA FOLGA”

Chegamos ao período de maior movimento turístico em nossa cidade e de maior fluxo de dinheiro nos ser-viços prestados. Verificamos um uso maior ainda da mão de obra que é ainda mais cobrada por seu trabalho, mas, efetivamente é recompensada fi-nanceiramente por isso?

Não queremos que se ataque o trabalho, mas queremos que se ata-que o modo muitas vezes exploratório de algumas empresas de nossa região que acabam sugando o nível de tra-balho com jornadas exaustivas sem a devida resposta financeira e chegando ao ponto de não haver a concessão de folgas com o argumento de que há muito movimento.

Ora, nesta época do ano qualquer criança sabe que o movimento é maior e nosso empresariado não conseguiria enxergar a necessidade de ter uma equipe maior para poder possibilitar o devido descanso ao seu empregado.

Chega-se ao abuso de ser dada a chamada “meia folga”, como se tra-balhar um turno inteiro e não dois ou três como alguns querem que o tra-balhador faça fosse uma folga.

Não, não é folga.Folga é o descanso para o convívio

social e familiar em defesa da saúde do trabalhador e que deve coincidir uma vez a cada seis dias corridos de trabalho, ou seja, um repouso sema-nal remunerado, conforme previsto na Orientação Jurisprudencial nº 410 do Tribunal Superior do Trabalho.

“Meia folga” não existe. Ou você crê que seria viável uma “meia férias” onde o trabalhador ficaria metade do dia na praia e depois voltaria para cumprir seu meio turno de trabalho?

É responsabilidade do emprega-dor oportunizar um ambiente de tra-balho e condições de trabalho que

possibilitem ao trabalhador a chance de ter seus direitos respeitados e a chance de ter um convívio e uma vida fora do trabalho.

Tal irregularidade e desrespeito à Constituição Federal, à legislação trabalhista e às previsões jurídicas dos Tribunais é passível de punição e garante o direito do trabalhador em receber em dobro pela folga não con-cedida na semana em que tinha direi-to de usufruir de seu direito.

Saber seus direitos e buscar que eles sejam reconhecidos é de suma importância para um melhor desen-volvimento das condições laborais em favor de todos os trabalhadores e por isso deves sempre buscar se in-formar e aumentar seu conhecimen-to para ter como defender aquilo que lhe é de direito.

ONDE FICARÃO NOSSAS CRIANÇAS?

Nossas famílias são constituídas por trabalhadores que muitas vezes enfrentam jornadas de trabalho de manhã, à tarde e até à noite, porém o que ocorre em nossa região é uma grande falta de vagas em creches para nossas crianças.

Mais grave, nossas cidades são ex-tremamente voltadas ao turismo com jornadas em dias de semana, obvia-

mente, e principalmente nos finais de semana.

Apesar de ser historicamente co-nhecido este nosso destino e nosso cotidiano laboral não se criaram por nossos administradores políticas pú-blicas voltadas à educação infantil em horário compatíveis com a nossa rea-lidade de trabalho, veja-se, por exem-plo, que não temos creches que fun-cionem no horário noturno e sequer aos finais de semana.

Além de um custo de vida muito alto que temos em nossa região, o desamparo estatal para nossas crian-ças faz com que os trabalhadores se-jam obrigados a deixarem seus filhos aos cuidados de terceiros e que lhes geram mais uma despesa e reduz ain-da mais a renda familiar.

Outrossim, o que tem ocorrido é a terceirização deste serviço público de grande importância e o mais grave, de-vido à falta de espaço físico há a locação de prédios que não oferecem sequer espaço para recreação das crianças e sem transparência da origem de tais locações, muitas vezes colocadas em fabriquetas ou casas residenciais que não oferecem a dignidade que nossas crianças tanto precisam.

Deve ser observado que tais re-lações criam um custo elevado para nossos municípios, leia-se custo para

o povo, mas que efetivamente não correspondem com um resultado para o futuro, pois são soluções me-ramente imediatistas.

Infelizmente vemos que nos últi-mos anos quem tem cobrado nossos administradores quanto ao desres-peito com nossas crianças tem sido o Ministério Público e não os trabalha-dores e a população em si, por medo ou por esperança que alguém atue em seu favor para não correr o risco de perder uma vaga.

Assim como o Governo Federal criou programas voltados ao finan-ciamento de creches, apesar de legal-mente ser uma obrigação dos municí-pios, tais mecanismos foram criados para que os municípios pudessem construir espaços públicos adequa-dos, mas em nossa região vemos apenas uma creche na Várzea Grande e agora no Bairro Piratini com tais re-cursos que não irão suprir a necessi-dade de nossa população.

O que chega a ser engraçado é que os recursos vem do Governo Federal que tem sido demonizado exatamen-te pelos que mais se aproveitam dos mecanismos criados para ajudar os municípios, mas muitas vezes não ti-nham os projetos necessários ou não tinham interesse em tais oportunida-des, porém preferem o discurso fácil anti-governo para se promover sem dar o devido reconhecimento aos que criaram meios de ajudar a popu-lação que mais precisa o trabalhador.

É indispensável a necessidade de que nossos trabalhadores sejam res-peitados com a criação de vagas para nossas crianças em turnos e dias ne-cessários para todos, sendo respeitado o direito das crianças e os direitos dos pais e mães trabalhadores que devem fazer parte e erguer a bandeira dessa luta principalmente às vésperas de uma campanha de promessas eleitorais.

Somente com os trabalhadores unidos é que maiores e melhores conquistas chegarão. A união dos trabalhadores é o maior triunfo que nossas classes operárias poderão ter para criar os meios de sucesso nas relações de trabalho para todos os lados.

Então é unir e ir à luta, trabalhadores!