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O Berro número 8

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O BERROO BERROO BERROO BERROO BERROANO1 - N°8 JUNHO/2009

1,00R$

Page 2: O Berro número 8

Alexandre

EDITORIAL:

Para nos acompanhar e pedir númerosanteriores:

Preço do zine 1,00 + despesas postais(1zine: acrescentar 1,00 ao valor do zine)

A partir de 2 zines: acrescentarapenas 1,50 (ao valor total) Ex: 10 fanzines= 10,00 + despesa postais (1,50) = 11,50

Dados da conta: Winter Bastos - Banco Itaú- ag:6002 conta: 30592-5

Aí é só mandar a cópia do comprovantepara a cx postal: 100050, Niterói,RJ,24020971 e receberá os exemplaressolicitados.

Além de poder acompanhar o trabalho,vocêirá apoiar a imprensa alternativa/independente.

[email protected]

INDIFERENÇAMais uma cena rotineira dacidade grande

Pag.1 JUNHO/2009 O BERRO

Quando pensamos em retomar aidéia de fazer um fanzine, tivemos umaanimada discussão quanto ao nome. OBerro nos pareceu bem apropriado e nãonos lembramos, naquele momento, denenhum veículo de comunicação quetivesse este nome. Atualmente nosesbarramos a cada esquina com umveículo que carrega esta nomenclatura.Alguns, mais antigos que o nosso, comoé o caso da revista de caprinocultura “OBerro”. Outros, mais recentes, como oblog “O Berro Fanzine Eletrônico”.

E agora José?Agora nada. Mas para não have-

rem mal entendidos, vamos apenaslembrar que nosso veículo é um fanzineimpresso de Niterói, que tem a frente daquadrilha, ou melhor, da publicação, comorealizadores e idealizadores, AlexandreMendes, Fabio da Silva Barbosa e WinterBastos. Na internet nosso trabalho se dá

principalmente através dos blogsWWW.rebococaido. blogspot.com eWWW.comunidadeeditoria.blogspot.com.

Outras característica nas quais nosdestacamos, nos orgulhamos e fazemosquestão de manter assim, é nosso caráterartesanal, que visa, entre outras coisas,marcar a postura “faça você mesmo” enosso foco experimental, onde não nospreocupamos em esbarrar no inusitado,indo além de barreiras impostas ealimentando discussões, ao invés de sermais um guru apresentando caminhospercorridos e respostas prontas.

Esse é o Berro. É o desenho feitopelas mãos inconformadas de AlexandreMendes, o conflito constante de Fabio daSilva Barbosa e a postura política eideológica de Winter Bastos. Além, éclaro, da participação enriquecedora devários colaboradores e da crítica dosmíopes de plantão.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Foto da capa tirada por Alexandre Mendesna subida de uma comunidade de Niterói.

Foto da entrevista com Glauco Mattosoretirada do site do escritor.http://glaucomattoso.sites.uol.com.br

Foto de divulgação do jornal ComunidadeEditoria por Fabio da Silva Barbosa

Diagramação e textos: Fabio da SilvaBarbosa

Revisão e textos: Winter Bastos

Ilustração e textos: Alexandre Mendes

Agradecimentos: A todos que contribuem paraa existência e divulgação de O Berro.

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CARTOON

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JUNHO/2009 O BERRO Pag9

Sua gaiola foi feita sob medida para você

Respirar na sociedade, pode sercomo cantar em uma gaiola em que você opássaro capturado na natureza, primitivuset ingennus, se encontra aprisionado em umespaço limitado e toda vez que tenta bateras asas, acaba batendo nas artificiais gradesque te ferem e perturbam.A barreira entre agrade e a liberdade, não é longa, porem suagaiola foi feita sob medida para você.Todavez que ousar fugir do destino que aqueleque te capturou destinou a ti, perceberá queseu instinto está em um processo deadestramento.Uma quantidade acumulada de excitação eo sentimento de repressão, vão estarpresentes a cada sensação.O entretenimentoé você na gaiola, seu dono coloca água,comida, limpa a sujeira do dia a dia e vocêpaga a estadia cantando.Olhares esperamque os entretenha e divirta.Seu canto é alembrança da liberdade, a forma que muitasvezes se desliga da angústia, seu canto ésua liberdade de expressão.

Por Renata Machado Sorria, você é mais um na concentração docontrole das consciências humanas,sociedade unidimensional dairracionalidade racional.Ela administra seusprazeres e necessidades, fabrica sua fomede consumo, enquanto tua autonomia éassassinada e tua mente violentada.Dominado e doutrinado é o olharamordaçado que agora olha as estrelas,olhar insaciável, que ao mesmo tempo quebusca sente medo de ser livre, se prende aconceitos e preconceitos.

O retorno a liberdade é osonho daquele que um dia foi capturado emseu estado primitivus et ingennus, ondeveritas habitat in interiore homine e a vidaflui como uma forte chama na consciência,que se auto descobre na catarse.

*Primitivus et ingennus – Primitivo enascido livre

*Veritas habitat in interiore homine –Verdade habita no interior do homem

A influência da mídia na cultura. Por Fabio da Silva BarbosaA mídia e seus paradigmas impostos

vão alterando a cultura e os costumes dos povosatravés de sua constante lavagem cerebral. Issofaz o belo e o correto serem únicos em todaparte, independente da cultura local ou opiniãopessoal. Pegando um jovem americano, japonêsou brasileiro, podemos averiguar os mesmoshábitos e inclinações. Estarão de boné, tênis eóculos escuros. Essa é a roupa de quem é jovem,segundo a mídia .

O americanismo, implantado atravésdas superproduções hollywodianas, vaiuniformi-zando a tudo e a todos. Quantasbrasileiras abusaram do implante de siliconepara ficar como americanas esteriotipadas,apresentadas nas telas como loiras fatais? Issonos lembra os cabelos loiros nas cabeças denossas morenas. Sem falar na questão: Será quetodas as americanas são assim? Todas clonesda Marilin Monmro? É obvio que não. Mas é

assim que são apresentadas. Uma nação clonadado que é tido como perfeição pelos donos daverdade e do bom gosto.

E a rebeldia? Se dado a ela, usa jaquetasde couro e causas jeans, se contrapondo aomodeloimposto. Permanece o tênis. A diferençaé que o rebelde adere à velha moda do All Star,enquanto aplayboizada compra a última moda.É fácil ser rebelde hoje em dia. Basta compraruma camisa do Che no shopping.

A fruta típica da região não faz um sucotão vendido quanto a Coca-Cola, assim como amenina da escola nunca será tão bela quanto acapa da Play Boy. A Playboy é um tipo diferentede imposição midiática. Mulheres que não teme nunca terão rugas ou celulites. Imagina umapessoa normal vendo aquilo. Irá se punir atéconseguir ser como alguém que não existe. Sóassim atingirá o que é tido como beleza pelamídia capitalista e seus terríveis manipuladores.

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Pag.2JUNHO/2009O BERRO

Introdução

Muita gente se pergunta porque o Rio deJaneiro é conhecido em seus cartõespostais, belas praias e pontos turísticos. Narealidade, o que repercute com maisfrequência na imprensa internacional sobrea cidade, são os morros e comunidades,vistos como impérios do crime. Essa visãopoderia ser facilmente contestada, se oscuriosos fossem mais a fundo nasinvestigações. Toda comunidade sempretem aquele morador simpático e agradável,que te recebe sorrindo com um copinho decafé na mão. Quem habita nossascomunidades? A maior parte é constituidade trabalhadores e estudantes; pessoasvivendo em condições precárias, buscandose adaptar a sociedade sob as condições queo Estado lhes oferece.

CLASSES PERIGOSAS

Falemos agora do passado. Antes deexistirem os estereotipados morros do Rio,haviam os cortiços. Eram pequenas ouenormes instalações, espalhadas pelasprincipais ruas da cidade. Lá, habitavamalgumas famílias de imigrantes europeus;ex-escravos, seus descendentes e umgrande contingente de trabalhadores,identificados como “classes perigosas” ou“classes pobres”. Esses termos, um tantopejorativos, eram utilizados pelo governoda época (final do século XIX) e, sepensarmos bem, ainda existe uma herançadesses termos circulando na mentalidadeda sociedade em geral.

CABEÇA DE PORCO

Dentre os cortiços, o mais badalado era o

Apoiam e divulgam O Berro:

UM POUCO DE HISTÓRIAPor Alexandre Mendes Cabeça de porco, na Rua Barão de São

Félix, nº154. Havia quem dissesse que onúmero de moradores chegou a quatro mil,em tempos áureos. No dia 26 de janeiro de1893, se concretizou o desejo do prefeitoBarata Ribeiro e empresários do ramo daconstrução: a demolição do Cabeça dePorco. Nesse dia, estipula-se que havia dequatrocentos a dois mil moradores no local.As pessoas foram brutalmente expulsas docortiço e, com seus apetrechos nas costas,provavelmente passaram a noite no relento(pois a operação iniciou às seis horas datarde). Esse episódio marca a história daurbanização carioca, como o fim dos“cortiços” e o “início” das “favelas”. Oprefeito Barata Ribeiro, em uma atitudecontraditória a sua primeira conduta,permitiu que os moradores levassem osdestroços de suas casas, para que pudessemreconstruí-las (bem longe dalí). Entretanto,há fortes indícios que grande parte dasfamílias expulsas subiu o morro, situadoatrás do extinto cortiço, e lá se instalaram.Mais tarde, em 1897, os soldadossobreviventes do massacre de Canudosforam contemplados com pequenos lotesno dito morro. O local então passou a sechamar “Morro da Favela”, atual Morro daProvidência.

Comunidade Editoria -

comunidadeeditoria.blogspot.com

REBOCO CAÍDO - rebococaido.blogspot.com

MISTER N LANCHES -Visconde do Rio Branco, 161, Centro,Niterói

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O BERROJUNHO/2009 Pag.3 - CONTO

Foto cedidapelo

entrevistado

A hora da macaca mancaPor Fabio da Silva Barbosa

Já fazia mais de uma hora queestava ali. O suor escorria pelo pescoço.O ventilador de teto espalhava o ar quentepelo lugar. Seu rô olhava Gonzaga comdesconfiança.

- Tá olhando o que, português?Não tô agradando avisa. Se não fosse pormim essa porcaria tava vazia.

Seu Rô estalou os lábios e foiarrumar o freezer. Preferia estar só a teraquele tipo como único freguês. Massegunda-feira era um dia fraco e as contasnão paravam de chegar.

- Pensei que não viesse.- GruniuGonzaga ao ver Zinda entrar no botequim.

- Só consegui chegar agora. O quevocê quer?- Perguntou Zinda sentando. -Ô puguês, sai aquela gelada e um copopara a moça aqui.

Seu Rô, com ar contrariado, pôs acerveja e o copo em cima do balcão. Zindalevantou-se e foi buscar. Pegou a cervejaencheu o copo e já veio bebendo.Gonzaga apreciou o trajeto dela comincontido interesse e admiração. Ela aindaera uma menina. Dezesseis? Dezessete?Quem sabe? Nem ela, sabia ao certo.Todos os documentos que tinha, foi elequem arrumou com um amigo. Do nomeele não gostou. Nome feio aquele. Podiaescolher o nome que quisesse. Mas essaera a única recordação que tinha. O únicopedaço de história pessoal que possuía.Não sabia de mais nada. Pai...mãe...nada...

-Não posso demorar. SeCarboniere descobre que me encontreicom você, vai se aborrecer. Prometi quenunca mais nos veríamos.

- Então é ele? É por causa dessesujeito que você me abandonou?

-Ele tem sido bom para mim. Querme tirar da rua. Me pediu em casamento.

- Tudo que você tem fui eu que dei.Sabe o que é estar agarrado naquele buraco,sem dinheiro e sem pertencer a nenhumafacção? Sabe o que acontece com um homemnessas condições? Ele deixa de ser homem.Ele vira um escravo. Vira um...

- Tentei levar o dinheiro, mas ele nãodeixava. Disse que teria de escolher. Queriame transformar numa mulher séria. Nãopodia continuar sendo a prostituta protegidapor um preso sem nenhum tipo de poder aquifora. Estavam tomando tudo que ganhava.Ninguém respeitava mais seu nome.

- Torpedo prometeu que cuidaria demeus negócios.

- Na primeira semana em que estevepreso ele me quebrou três costelas e disseque se te falasse me mataria e botava a culpana polícia.

Gonzaga era um baiano baixinho etroncudo. Tinha quarenta e dois anos. Aossete era engraxate. Aos nove vendia doce noônibus. Dos onze aos dezoito saiu pelo Brasila fora e conheceu os horrores das instituiçõespara menores, ao ser pego roubando umabolsa em São Paulo. Participou de uma fugaaos quinze, mas em menos de seis mesesestava de volta. Aos vinte veio para o Rio deJaneiro começar carreira de rufião. Ao ouviressas palavras, tomou conhecimento datraição do colega de profissão, tornando orosto rígido e trincando os dentes.

- Ele me paga.- Paga nada. Isso é besteira. Se fizer

qualquer coisa te trancam de novo.-Volta a colar comigo e esqueço tudo

isso. Te perdôo. Prometo. Vai ter vida derainha.

-Não posso.-Claro que pode. Deixa o maldito

gringo comigo.-Você não entende. Pela primeira vez

alguém quer realmente melhorar minha vida.

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O BERRO JUNHO/2009 Pag. 8

A especificidade anarquistaPor Winter Bastos

O anarquismo é um sistema depensamento profundamente atidogmático.Não tem um criador único. Nasceu das lutaspopulares e tem vários sistematizadores,diferente do que ocorre, por exemplo, como bolchevismo, que segue os escritos doautoritário Karl Marx como uma bíblia.

O anarquismo traz em si a exigênciade uma ética libertária: é preciso buscarviver o anarquismo desde já em nossasrelações cotidianas. O socialismo libertáriorejeita também a atuação parlamentar (aorganização em partidos), pregando aatividade política apartidária em sindicatos,associações de moradores, estudantis etc.

Porém essas características doanarquismo podem levar algumas pessoasa certos equívocos. Há quem ache que, pelofato de o anarquismo ser antidogmático enão ter uma rigidez teórica absoluta,qualquer pessoa que se diga anarquista o éde fato. Isso é errado. Como o anarquismose originou de noções das classes oprimidasem revolta contra a opressão, construçõesteóricas alheias à questão da emancipaçãoda classe trabalhadora não podem serchamadas anarquistas, por mais que seusformuladores se autointitulem como tais.

Outro equívoco mais ou menosfreqüente é considerar que basta a cada umtentar mudar a si próprio, de forma isolada,para que estejamos contribuindoefetivamente para a anarquia, promovendoa ética libertária. Ora, apesar de buscaraprimoramento individual já ser algobenéfico, é justamente a associação que nosfaz fortes e não há por que renunciarmos aela, nos isolando e dando força a nossosopressores. O anarquismo não pode serentendido apenas como um

que aproveita o máximo asliberdades possíveis hoje. Ele tem queconstituir também uma luta efetiva contratodos os opressores, visando à destruiçãodo capitalismo e a construção de uma novasociedade. Esta luta só tem realpossibilidade de êxito se travada pelo povoassociado.

Porém não devemos apenas nosassociar em sindicatos, grêmios estudantis,associações de moradores etc. A atuaçãoem todos esses âmbitos é necessária, poistemos que estar sempre presentes nas lutaspopulares concretas por melhorias sociais.Mas é preciso também que existamorganizações especificamente anarquistas.É nelas que podemos, em conjunto, traçarplanos de ação que conduzam à obtençãode nossos objetivos, evitando a dispersãode esforços que uma atuação desarticuladapoderia acarretar.

Os coletivos de estudos anarquistassão imprescindíveis. É através deles quemuitos tomam conhecimento doanarquismo e permitem que muitosdescubram no socialismo libertário umaferramenta de luta por uma sociedade maisjusta.

Não basta, no entanto, a existênciade círculos de estudo para que os ácratasse considerem organizados construti-vamente em prol da anarquia. Éimprescindível o engajamento em federa-ções anarquistas, ou outro nome que queirase dar a tais organizações especificamentelibertárias. O que é preciso ter claro é quetais grupos tenham métodos de atuaçãocompatíveis com a ética libertária,respeitando todos os demais indivíduos eorganizações anarquistas, mesmo as queoptarem por adotar outros pressupostosteóricos, métodos deliberativos e formasde intervenção social.

estilo de vida

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JUNHO/2009 O BERRO Pag7

PARA LER:Diretas jáDiretas já, 1984Editora Record, RJSe você conseguir ter acesso a este livro, vaientender o humor negro dos anos 80. Henfilretrata o fim da ditadura, trazendo aquela cargapositiva pela qual o povo brasileiro passava coma possibilidade de um novo Brasil.

Aí vai uma palhina:EPÍSTOLA AOS EMPRESÁRIOS PÁG.67, 68E aconteceu que, ouvindo o clamor de fome dopovo, decidiu o Senhor voltar à terra brasileira.E viu duas barcas que estavam à borda da lagoa.E, entrando numa destas barcas, que era a deDelfim(ministro da economia na ditadura),rogou-lhe que se afastasse um pouco da terra.E, respondendo, Delfim disse-lhe: Mestre, estabarca não mais nos pertence, pois amaxidesvalorização transformou em sucata osbarcos nacionais, tendo sido todos eles vendidosa preço de banana para as multinacionais,conforme previam as escrituras do FMI. Osenhor ordenou então a Delfim: Faze-te ao largoa pé e lançai as vossas redes para pescar. E,respondendo Delfim disse-lhe: Mestre, mesmotrabalhando toda a noite, não apanharemosnada; as águas brasileiras estão envenenadaspela poluição industrial e pelos defensivosagrícolas. O Senhor disse-lhe: Homem de poucafé, faça como te ordenei; lançai as vossas redespara pescar. E, respondendo, Delfim disse-lhe:Mestre, ainda que confie em Tua palavra, nãopoderemos lançar o que não temos; aplicamostodas as nossas redes no black, todas asa nossasvaras no ORTNs, LTNs e CDBs, todas as nossalinhas em ouro e todos os nossos anzóis no open.O Senhor então tomou Delfim em suas mãos elançou-o de isca no meio do lago. E, tendo feitoisto, os brasileiros colheram tão grandequantidade de peixes que fizeram sinal aoscompanheiros uruguaios e argentinos para queviessem ajudar. E vieram e encheram tantoambas as nações,que quase afundavam de tantopeixe, pão, leite, arroz, feijão... AMÉM

Por Alexandre MendesRECOMENDAÇÕES: DESMASCARANDO

Por: Alexandre MendesVivemos na sociedade do medo e da

incerteza. Com isso, quem tem trabalhosempre aceita as imposições do empre-gador. As frases de efeito são comuns:“Segura seu emprego que está difícil láfora!” ou “Tem até gente formada fazendoconcurso para gari”. O grande causadordeste mal estar psicológico é a mídia .

O controle da opinião pública épraticada desde a antiguidade. Na Grécia(séc.VI), professores de arte retórica, ousofistas, inicialmente, induziam o povo aovoto com seus discursos. Eram aristocratase viviam no ócio, diferente do povo, com ofardo pesado do trabalho, não tendo tempode organizar seu raciocínio mediante aosdiscursos bombásticos da elite.

Na Revolução Francesa (1789), aburguesia revoltada pelo custo dosimpostos, articula a queda da monarquiabaseando-se no Iluminismo, idéia precurso-ra do Liberalismo capitalista. Usaram opovo, dizendo-se iguais. Quandoconseguiram to-mar o poder, demonstramseu verdadeiro pensamento: Igualdadejurídica, não social.

Dois acontecimentos observados emdistintos momentos. Possuem apenas umaspecto comum: A dominação através dapropaganda da idéia que antes de seraprovada pela maioria, parece perfeita.

Esse poder se desenvolveu. Atual-mente é utilizado pelos grandesempresários e políticos (latifundiários ecorruptos) que se interligam formando umconluio explora-dor. A Imprensa,com suasmatérias sensacionalistas e dinâmicas,impedem ao trabalhador de raciocinar sobresi próprio. A Imprensa apoia a elite e perten-ce a ela. Se faz necessário o desenvol-vimento de uma Imprensa desligada doaparelho Estatal e da classe empresarial.

“A Imprensa deve ser livre para conscientizar o povo de sua situação.” Alexandre Mendes

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O BERRO JUNHO/2009 Pag.4

Ele realmente está cuidando de mim. Temum professor me ensinando a ler.

- Ensinando a ler? Eu te dei muitomais que isso. Eu te ensinei a viver porvocê. Sem precisar de nada nem deninguém. O que vai conseguir sabendo ler?Oque importa é ter uma viração.-Argumentou Gonzaga atordoado.

- Não, baiano. Não quero mais isso.-Zinda pegou algumas notas e depositousobre a mesa.- Isso deve dar para pagar acerveja.

-E nós?- Suplicou Gonzaga.-Sempre fizemos uma dupla infernal. Sabeque ninguém vai conseguir dar oque te dou.Juntos podemos tudo.

-Não me procure mais. Não querocontrariar Carboniere.

-E você pensa que é assim?-Gonzaga levantou-se agarrando Zinda pelobraço. Sacou rapidamente da faca e a enfioucom ferocidade na barriga da mulher, quede olhos arregalados escorreu pelo ar, atécair sentada de volta na cadeira.

-Parado, se não eu atiro. -Abaixa essa arma, português.Com um movimento rápido,

Gonzaga desarmou o comerciante passandoa faca pela sua garganta.Foi até a porta.Conferiu se não vinha ninguém. Metendona cintura o trinta e oito que acabara deadquirir, deu a volta por trás do balcão epegou todo dinheiro do caixa. Ao sairesvaziou os bolsos do velho português epegou a bolsa de Zinda que foi esvaziandopelo caminho.

Ao passar por uma esquina, leu nomuro uma pixação que dizia:

“Agorameu chapa,é a hora da

macacamanca”.

Analisando o regime escravista emépocas e lugares diferentes,chegaremos aconclusão de que não há um modelo universalpara a aplicação deste.

Na Grécia Homérica,enquanto algunsescravos não eram dignos da menor confiança,outros possuiam terras doadas pelo seusdonos,constituiam família e até adquiriam seuspróprios escravos.Ser escravo na Grécia,aindaera melhor do que não participar de nenhumafamília (Oikos), ser livre sem uma família (teta)era a pior posição social.

Em roma,os escravos ocupavamdiversos cargos dentro das famílias: os ruraisviviam em piores condições, havia osespecializados em alguma função (vinhateiros,porqueiros,etc) O Vilicus obtinha a melhorposição:administrava a terra e os demaisescravos de seu senhor. No Brasil colônia,oescravo trabalhava nas plantações de forma sub-humana,uma tentativa de fuga era seguida dediversas chibatadas no tronco,ou até a mutilaçãocomo castigo.

Atualmente,o regime escravocrata éconsiderado extinto.Porém reflita:

*Você é livre para ir onde quiser amanhã?*O que acontece se você ficar desempregado?*Você já engoliu algum sapo do seu patrão, paranão perder o emprego?*O que acontece se não pagar todas as suasdívidas e impostos?*E se você agredir verbalmente uma autoridade?*E se ela te agredir verbalmente?*O que acontece se você parar de votar?

Essas e outras questões nos mostram comoestamos presos a uma teia social* ,na qual umconjunto de leis,regras e costumes impostos peloEstado e Elite, nos prende ao regime capitalistade forma covarde. Portanto a escravidão nãoacabou, ela apenas foi adaptada para o modo depodução capitalista atual.

*Max weber

Por Alexandre Mendes

A EVOLUÇÃO DAESCRAVIDÃO

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Pag.5 JUNHO/O BERRO

Entrevistando o poeta Por FabSilva Ba

“a merda na latrina daquele bar dade botina de rotina de oficina ga

bosta com vitamina cocô com copropina de hemorró

Ele é poeta , f icc ionis ta ,ensa ís ta , co laborou comdiversos veículos de infor-mações, como a inesquecívelrevista em quadrinhos Chicletecom Banana e tirou seu nomear t í s t ico da doença que ocegou. Sabem quem é? Nãopoderia ser outro, se não ogrande Glauco Mattoso.

Como foi o despertar para aarte?

Fallando em despertar, façologo um alerta: só escrevopela antiga orthographia equero que minha escripta nãoseja mexida, certo? Accordeipara a ar te porque desdecreança vi que minha janellapara a vida commum seriafechada pe la cegueiraprogressiva. Foi uma sahidaexistencial, uma escapatoria.

Qual o principal papel daarte em sua vida?

Antes de mais nada, evitar osuicidio, ou o alcoholismo, ouas drogas mais le taes . Dequebra, a arte rendeu algumtesão... (risos)

O que é o underground paravocê?

Para quem ja cresceu na p e -ripheria e desde cedo foi sacco

de pancada da moleca-da, ser “underdog” navida ou “underground”na ar te faz poucadif ferença. . . A margi-nal idade , soc ia l oulitteraria, veiu a ser meuproprio habitat.

Como foi trabalharcom o alternativo naépoca da ditadura?

Por ser a unica via livreda censura, a imprensanannica o f ferec ia umi l l imi tado universocreat ivo . Meu z ineanarchopoetico, “JornalDobrabil”, fez coisa quenenhum grande orgamimpresso podia fazer emtermos de l inguagem,d i a g r a m m a - ç ã o ,conteudo, emfim, foi umvehiculo de commu-nicação de facto.

Glauco, careta emrelação às suas obras?

Minha philosophia devida é o paradoxo. Achoque todos somos poçosde contradicção, moci-nhos e bandidos aomesmo tempo. Portanto,nada de ex tranho nofac to de eu ser maislouco como personagem

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Pag.6ENTREVISTAO/2009

Fabio da Barbosa Entrevistando o poeta

da esquina tem cheiro de batina gasolina sabatina e serpentina cocaína merda de mordomia derróida e purpurina”

que como pessoa.

Você se venderiapara ter uma vidamais confortável?

Através da historia, eem muitas regiões domundo, os deficientesforam escravizados outiveram que se pros-tituir para sobrevive-rem. Si eu vivesse naIndia, provavelmenteser ia massagis ta echupador para ga-nhar o pão. Aquiposso me dar ao luxode ser massagista echupador para ga-nhar inspiração nossonetos ou nos con-tos... (risos) Mas issonão significa que euassignaria contractocom uma edi toracommercia l que mepagasse bem mas meexig isse radicaesmudanças de estylo.

O atual panoramapolítico brasileiro emundial segundo opoeta:

Ja verse je i demaissobre o scenar iopol i t ico , par t icu-larmente no livro

“Poetica na poli t ica”, e tenhocommentado a respeito em minhacolumna na “Caros Amigos”. Nãoha o que accrescentar: fallar demerda sempre fo i minhaespecialidade.

A tese de que trocamos aditadura militar pela capital éreal?

Sim, mas na verdade nunca atrocamos. A dictadura economicaé permanente. Apenas a militar foiaddicionada a ella durante aquelleperiodo.

O ser humano se entregou àalienação?

Pode ser, mas ha varios typos dealienação, umas damnosas, outrasgozosas . Phantas ias sexuaes ,mesmo as minhas , que sãosadomasochistas, podem ser boaes tra tegia para compensar asdi f f icu ldades pract icas . Ja adesinformação é a peor forma dealienação, da qual fujo como oDiabo da cruz.

Seu epitáfio.

Epitaphio? Vira essa bocca parala! Não pensei ainda.Talvez na hora de morrer eudecida.Mas seria algo como “Aqui jazalguem que jamais soube o quedizer da morte e só fallou mal davida”... (risos)

Page 12: O Berro número 8

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