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VII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio Claro - SP, 07 a 10 de Julho de 2013 Realização: Unesp campus Rio Claro e campus Botucatu, USP Ribeirão Preto e UFSCar 1 O cenário da educação ambiental nas escolas de ensino fundamental de Ubá-MG Gláucia Soares Barbosa Pedagogia / Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Unicamp / FE-Unicamp [email protected] Danuza do Carmo Quintão Ciências Biológicas / Centro Estadual de Educação Continuada de Ubá Professor José Carneiro de Castro/ / Universidade do Estado de Minas Gerais - Campus Ubá [email protected] Resumo: As questões ambientais estão sendo tratadas em diversos segmentos que as discutem. Geralmente o enfoque está apenas nas questões naturais e ecológicas, deixando de tratar as relações que se estabelecem entre as esferas naturais e as sociais, econômicas, políticas e culturais. A Educação Ambiental (EA) surge como um processo voltado para o entendimento e posicionamento sobre o ambiente em suas diversas esferas. Assim, este trabalho buscou entender o cenário da EA das escolas fundamentais de Ubá-MG, especificamente sobre as atividades realizadas, o conceito de EA e os problemas ambientais identificados. Para isso foram aplicados questionários abertos em 29 escolas do município. Observamos que, por um lado, as escolas têm adotado estratégias que se aproximam mais da EA crítica, como projetos e atividades interdisciplinares. Por outro lado, os sujeitos investigados têm um conceito fragmentado e reducionista sobre ambiente e a EA, apresentando uma prática voltada para uma EA conservacionista. Palavras-Chave: Educação Ambiental, Escola, Ambiente Abstract: Environmental issues are being addressed in several segments that discuss them. Usually the focus is only on natural and ecological issues, leaving to address the relationship established between the natural element and the social, economic, political and cultural elements. The Environmental Education (EE) emerges as a process aimed at understanding and positioning on the environment in their various areas. This study aimed to understand the scenario of EE fundamental schools of Uba-MG, specifically on your activities, concept of EE and environmental problems identified. To this subject, questionnaires were applied to 29 schools in the city. We note that, on the one hand, schools have adopted strategies that are closer to the critical EE, as projects and interdisciplinary activities. On the other hand, the subjects investigated have a concept fragmented and reductionist about environment and EE, with a practice focused on an EE conservationist. Keywords: Environmental Education, School, Environment

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VII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio Claro - SP, 07 a 10 de Julho de 2013

Realização: Unesp campus Rio Claro e campus Botucatu, USP Ribeirão Preto e UFSCar

1

O cenário da educação ambiental nas escolas de ensino

fundamental de Ubá-MG

Gláucia Soares Barbosa Pedagogia / Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da

Unicamp / FE-Unicamp

[email protected]

Danuza do Carmo Quintão Ciências Biológicas / Centro Estadual de Educação Continuada de Ubá Professor José Carneiro de

Castro/ / Universidade do Estado de Minas Gerais - Campus Ubá

[email protected]

Resumo:

As questões ambientais estão sendo tratadas em diversos segmentos que as discutem.

Geralmente o enfoque está apenas nas questões naturais e ecológicas, deixando de tratar

as relações que se estabelecem entre as esferas naturais e as sociais, econômicas,

políticas e culturais. A Educação Ambiental (EA) surge como um processo voltado para

o entendimento e posicionamento sobre o ambiente em suas diversas esferas. Assim,

este trabalho buscou entender o cenário da EA das escolas fundamentais de Ubá-MG,

especificamente sobre as atividades realizadas, o conceito de EA e os problemas

ambientais identificados. Para isso foram aplicados questionários abertos em 29 escolas

do município. Observamos que, por um lado, as escolas têm adotado estratégias que se

aproximam mais da EA crítica, como projetos e atividades interdisciplinares. Por outro

lado, os sujeitos investigados têm um conceito fragmentado e reducionista sobre

ambiente e a EA, apresentando uma prática voltada para uma EA conservacionista.

Palavras-Chave: Educação Ambiental, Escola, Ambiente

Abstract: Environmental issues are being addressed in several segments that discuss

them. Usually the focus is only on natural and ecological issues, leaving to address the

relationship established between the natural element and the social, economic, political

and cultural elements. The Environmental Education (EE) emerges as a process aimed

at understanding and positioning on the environment in their various areas. This study

aimed to understand the scenario of EE fundamental schools of Uba-MG, specifically

on your activities, concept of EE and environmental problems identified. To this

subject, questionnaires were applied to 29 schools in the city. We note that, on the one

hand, schools have adopted strategies that are closer to the critical EE, as projects and

interdisciplinary activities. On the other hand, the subjects investigated have a concept

fragmented and reductionist about environment and EE, with a practice focused on an

EE conservationist.

Keywords: Environmental Education, School, Environment

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Introdução

A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, houve um grande

crescimento e desenvolvimento do setor econômico, que tiveram, como consequência,

desequilíbrio e devastação do ambiente. Tal desenvolvimento nos moldes capitalistas é

responsável pelo aumento de produção em busca de lucro, que gera o consumismo,

utilizando para isto a natureza de forma abusiva e sem consciência (DIAS, 2003).

Deve-se entender a crise ambiental numa esfera mais ampla, em que não são só

os aspectos naturais estão ameaçados, mas a nossa própria forma de viver em sociedade.

Leff (2003) defende que vivemos numa crise da razão, crise do conhecimento e de

como produzimos a organização da sociedade (dominante). Chegamos ao limite do

crescimento econômico e populacional, ao limite dos desequilíbrios ecológicos e das

capacidades de sustentação da vida e ao limite da pobreza e da desigualdade social.

Nosso modelo de sociedade é insustentável, o que nos leva a pensar sobre o ser nesse

mundo complexo e a refletir sobre sua reconstrução (LEFF, 2003).

Como uma resposta a esse momento de crise e uma estratégia para busca da

sustentabilidade é que se pensou em um novo tipo de educação: a Educação Ambiental

(EA). Essa educação visa a compreender o ambiente em sua totalidade, englobando os

aspectos sociais, ambientais, políticos, econômicos e culturais, para assim fazer os

educandos conseguir compreender e enfrentar os problemas ambientais (TOZONI-

REIS, 2007).

Segundo Santos (2007), a educação apresenta-se como uma atividade própria do

ser humano, por esse motivo ela deve ser conceituada para fundamentar e orientar os

caminhos da sociedade. As tendências filosóficas da educação são constituídas de

acordo com o padrão histórico de determinadas práticas educacionais.

Barbosa (2008) afirma que existem diversos conceitos que buscam definir a EA,

formados por diferentes olhares. Além disso, a EA é um campo do saber que ainda não

se consolidou e está mergulhado em variados interesses e relações de poderes que

buscam definir a área. Portanto, a EA é um tema em construção e nesse trabalho

discutimos a EA Conservadora e a EA Crítica.

A concepção conservadora se apoia na teoria não crítica da educação. Segundo

Tozoni-Reis (2007), este tipo de educação é baseada na transmissão de conhecimentos

de forma mecânica, em que o professor passa a ser um mero transmissor de seus

conhecimentos e valores e o aluno, um receptor, sem que ocorram o questionamento e a

transformação social, o que viria contribuir para uma sociedade mais justa e

ecologicamente equilibrada.

Já a abordagem crítica da EA defende a transformação do indivíduo, para que

ele seja capaz de buscar soluções sustentáveis e se posicionar em relação às questões

socioambientais (GUIMARÃES, 2004).

Nessa mesma linha, Carvalho (2001) descreve uma educação comprometida

com a formação de sujeitos políticos capazes de agir criticamente na sociedade. São

levadas em consideração tanto a dimensão subjetiva, quanto a sua intercessão com a

cultura e a história, em que o indivíduo é sempre um ser social. Entendemos que, nessa

vertente, a EA é processual, coletiva e interdisciplinar.

Tal educação também é compreendida na visão de Bertolucci et al. (2005, p.41),

destacando que a:

EA Crítica nega intensamente a ruptura sociedade-natureza e propõe

compreender os problemas socioambientais que nossa sociedade gera. Para

isto, aposta na formação de um indivíduo que seja capaz de transformar a

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realidade que está inserido, fazendo fortes reivindicações sociais e

ambientais. Suas ações pedagógicas estão vinculadas à contextualização da

realidade, recusa à educação tecnicista e a simples transmissão do

conhecimento.

A partir da discussão sobre a crise ambiental e os conceitos da EA, pergunta-se:

como a escola entende a EA? O trabalho com esse tipo de educação na instituição

escolar tem sido amplamente debatido em eventos científicos que abordam o tema, já

que a escola é em si um espaço complexo no qual circulam pessoas com diversas

percepções de mundo e ambiente.

Esta é uma pesquisa que buscou compreender o cenário da EA das escolas de

ensino fundamental da cidade de Ubá-MG, especificamente no que se refere às

atividades desenvolvidas por tais instituições, às concepções de EA e aos problemas

ambientais identificados pelos dirigentes ou coordenadores escolares. A partir dessa

discussão, seria viável um direcionamento de projetos e pesquisas em EA nas

instituições de ensino deste município, já que o trabalho desse tema é cada vez mais

recorrente nesses estabelecimentos. Também poderia subsidiar dados para as atividades

do Núcleo de Educação Socioambiental da Universidade do Estado de Minas Gerais em

Ubá, já que este núcleo tem trabalhado com EA nas escolas ubaenses.

Perspectivas da Educação Ambiental Existem muitos estudos que buscam definir a Educação Ambiental (EA), sendo

este um tema em que transitam interesses e relações de poderes que buscam definir a

área (BARBOSA, 2008). Nesta ótica, a EA é um tema em construção e aqui

apresentamos uma breve discussão sobre a EA Conservadora e a EA Crítica.

Sobre a primeira definição, Ramos (2006) destaca apenas os fatores biológicos

como parte da compreensão do que seja meio ambiente, desconsiderando a relação

existente entre homem e natureza. Neste paradigma, o homem é colocado como

depredador do meio ambiente, e a natureza é considerada como algo que deve ser

preservado e intocável. Dessa maneira, deixa-se de lado a intenção da EA, que vai

muito além da conscientização e preservação, para buscar a sensibilização e o

posicionamento do sujeito para os problemas ambientais, entendendo-se que o ambiente

inclui, além do aspecto natural, os aspectos sociais, econômicos, políticos, éticos e

culturais (RAMOS, 2006).

Além disso, segundo Tozoni-Reis (2007, p. 10), neste tipo de educação são

incorporadas características da educação tradicional, que

(...) se manifesta pela ideia de que a transmissão de conhecimentos e valores

ambientais seja realizada acriticamente, tendo como objetivo a formação de

indivíduos ecologicamente responsáveis, compreendido como indivíduos que

considerem os aspectos ambientais em suas ações sociais sem questionar o

contexto histórico-concreto de suas determinações. Essa tendência na

educação ambiental tem caráter moralista e disciplinatório.

Nessa perspectiva da EA, Amaral (2003) nos traz algumas categorias, como

antropocentrismo, utilitarismo e fragmentação, afirmando que os currículos escolares

ainda apresentam fortemente esses elementos.

O antropocentrismo coloca o homem acima de todas as coisas, desvalorizando

assim as demais espécies do planeta, visto que a natureza deveria ser algo dominado

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pelo homem. Em outras palavras, a natureza seria um sistema mecânico em que o

homem seria capaz de controlar para seu único benefício (AMARAL, 2003).

Figueiredo (2006) explica ainda que o antropocentrismo se fundamenta no

crescimento capitalista, em que a natureza é um recurso que está disponível ao homem,

que tem o poder de transformá-la, o que leva ao utilitarismo e à fragmentação.

Na perspectiva utilitarista, a natureza é considerada quanto ao seu valor de uso e

vista como algo inesgotável. Na perspectiva fragmentada, o ambiente não é definido em

sua totalidade, ou seja, considera-se que ele seja composto apenas por aspectos

biológicos, esquecendo-se dos aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos,

promovendo uma desarticulação entre as várias formas de conhecimento da realidade

(AMARAL, 2003).

Essas categorias acabam sendo frequentes no âmbito escolar, pois os conteúdos

são ensinados teoricamente e muitas vezes não são assimilados com a realidade, sendo

apenas uma transmissão de conhecimentos fragmentados sobre o ambiente (AMARAL,

2003).

Já a EA Crítica nega intensamente a ruptura sociedade-natureza e propõe

compreender os problemas socioambientais que nossa sociedade gera. Para isto, aposta

na formação de um indivíduo capaz de transformar a realidade em que está inserido,

fazendo fortes reivindicações sociais e ambientais. Suas ações pedagógicas estão

vinculadas à contextualização da realidade. Recusa a educação tecnicista e a simples

transmissão do conhecimento (BERTOLUCCI et al., 2005).

Esta educação visa à formação do indivíduo político, para que seja um cidadão

consciente de seus direitos, sabendo reivindicá-los perante a sociedade. Essa formação

deve ser no sentido individual e coletivo, já que as pessoas se constituem em relação ao

mundo em que vivem, pelo qual são responsáveis juntamente com os outros

(BERTOLUCCI et al., 2005).

Nesse sentido, a EA deve formar sujeitos políticos que entendam que a

transformação das relações do homem com o ambiente está inserida no contexto da

transformação da sociedade (CARVALHO, 2001). Acredita-se que as pessoas poderiam

ser sensibilizadas para o entendimento da realidade por meio do movimento de reflexão

e ação, adotando práticas dialogadas e coletivas.

Aqui foram apresentadas duas concepções sobre EA, o que não quer dizer que

existam outros entendimentos sobre o tema. Tais concepções podem se sobrepor ou até

mesmo prevalecer sobre a outra. Nesta pesquisa, foram selecionadas essas duas

interpretações por serem as mais afinadas com nossas perspectivas.

A Educação Ambiental e o Contexto Escolar

Para analisar a EA interpretada pelos sujeitos das escolas fundamentais de Ubá,

é necessário entender esse tema no contexto escolar.

Segundo Travassos (2006), para a implantação de práticas da EA nas escolas, o

Governo Federal emitiu o Parecer nº 226/87, de 11 de março de 1987, que definiu que a

EA fosse trabalhada em todos os níveis de ensino, de forma interdisciplinar. Isso foi

reforçado com a Lei Federal nº 9.795, de 1999, que institui a Política Nacional da

Educação Ambiental. Ela define a EA como direito de todos, sendo uma prática a ser

aplicada a todos os níveis e modalidades do ensino formal e não formal, de forma

contínua e permanente. A lei recomenda que a prática de EA deva ser trabalhada de

forma interdisciplinar e não apenas em matérias específicas que abordam este tema.

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Além disto, garante que os professores de todas as áreas devam receber um preparo

sobre o tema (BRASIL, 1999).

Além desta Lei, muitos outros fatores incitaram o reforço de se trabalhar a EA

na escola na década de 90, como a II Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento Humano (Rio 92), os Parâmetros Curriculares Nacionais

e o Programa Nacional de EA, não cabendo aqui alongar a discutir cada um desses

elementos.

Neste cenário, muitos estudos acadêmicos vêm investigando a introdução da EA

na escola. Sendo assim, abordaremos algumas recomendações para o trabalho com a EA

na escola, sendo elas: trabalho coletivo, formação docente, interdisciplinaridade e

entendimento do ambiente em sua totalidade.

Segundo Travassos (2006), a escola é um ambiente ideal para a implantação da

EA. E para que de fato esta implantação alcance êxito, ela deve estar integrada ao

projeto político-pedagógico escolar, sendo este projeto coerente com a sua realidade,

comunidade e objetivos educacionais O mesmo autor recomenda que seja um trabalho

desenvolvido em conjunto com a comunidade escolar, tendo assim um caráter coletivo.

A participação de todos nos projetos de EA é de fundamental importância, pois a

inserção de todos os membros da escola e a convivência com os projetos desenvolvidos

darão motivação para que eles continuem empenhados nas atividades, além da riqueza

da troca de conhecimentos com os colegas que uma atividade coletiva promove (LEME,

2006). A autora afirma ainda que, quando realizamos algum tipo de prática, a

aprendizagem que o aluno adquire é mais significativa do que se ele só estivesse dentro

da sala de aula apenas escutando o que o professor transmite. Não se quer aqui priorizar

atividades pragmáticas, mas sim valorizar o movimento da práxis educativa.

Além disso, argumenta-se que o trabalho coletivo envolve o diálogo e de acordo

com Freire (2005), devemos respeitar uma relação dialógica entre as pessoas para uma

possível libertação pedagógica, ou seja, o entendimento de sua própria realidade,

afirmando “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam

entre si...” (FREIRE, 2005, p.79).

A socialização e a troca de conhecimentos entre os docentes no trabalho coletivo

são um ótimo meio de formação continuada para os professores. Na vida, estamos em

constante aprendizado. Na medida em que compreendemos e aprendemos sobre as

questões ambientais, nos sensibilizamos para estes fatos e conseguimos socializar isso

com os alunos, de modo que eles também se sintam sensibilizados (LEME, 2006).

O trabalho com a EA no âmbito escolar deveria ser de longo prazo,

principalmente quando o grupo não consegue alcançar seus objetivos, seja por falha nas

práticas pedagógicas ou até mesmo por despreparo dos professores. Muitos professores

não são devidamente preparados para educar seus alunos quando se trata do tema

ambiental por não terem tido essa formação específica (LEME, 2006).

A Política Nacional de Educação Ambiental recomenda que a EA deve fazer

parte dos currículos que tratem da formação dos docentes em todos os níveis e

modalidades de ensino. Essa lei garante que o professor deve receber formação

complementar de modo a ser capaz de cumprir os objetivos e finalidades da EA

impostos por essa política (BRASIL, 1999). Além disso, a Lei do Estado de Minas

Gerais nº 10.889, de 1992, também recomenda a especialização de professores em EA

nas escolas de nível fundamental e médio e sua capacitação. De fato, as leis têm boas

intenções em suas linhas gerais, mas o governo não oferece suporte para o corpo

docente quando se trata de sua formação (LEME, 2006).

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É recomendado na Lei Federal 9.795, de 1999, na Lei Estadual de Minas Gerais

nº 15.441, de 2005, e por diversos estudos sobre o tema, que a EA seja feita de maneira

interdisciplinar, mas devido à estrutura disciplinar da escola e ao despreparo dos

professores, observam-se dificuldades que as escolas têm ao tentar implantar a EA de

maneira interdisciplinar. Na prática, os conteúdos programáticos são trabalhados de

forma disciplinar e acabam fragmentando e distorcendo a real imagem ambiental

(AMARAL, 2003).

A estrutura disciplinar é muito usada no ensino básico, em que os conteúdos

específicos ficam a cargo de cada disciplina, não havendo uma intercomunicação entre

elas. Sendo assim, quando se trata da questão ambiental, apenas as Ciências Físicas e

Naturais abordam o tema, muitas vezes de maneira errônea, por trabalhá-lo somente de

forma teórica e não fazerem uma relação entre o meio natural e os demais aspectos

sociais (AMARAL, 2003).

A escola, de forma geral, não consegue compreender que o ambiente deve ser

entendido de maneira holística, como recomendado na lei e por autores que estudam a

EA. Atualmente, as atividades das escolas estão muito restringidas à preservação do

ambiente, como se a EA fosse voltada apenas para coleta de lixo, reciclagem,

desmatamento. Mas é preciso entender que a escola tem um papel além desse - o

entendimento sobre as questões ambientais e a construção do cidadão (TRAVASSOS,

2006).

Além disso, como já afirmou Amaral (2003), os professores de disciplinas

específicas, como o de ciências e geografia, têm trabalhado com a questão ambiental

somente do ponto de vista biológico, esquecendo-se dos demais aspectos que abordam o

tema. Quando as atividades de EA são trabalhadas somente sob o aspecto natural, elas

são feitas de maneira fragmentada, fazendo com que o aluno entenda somente uma parte

da realidade. Portanto, é necessário trabalhar com uma perspectiva holística da questão

ambiental, como recomendam vários autores que estudam o tema e a Política Nacional

de Educação Ambiental, em que o meio ambiente deve ser entendido:

(...) em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural,

o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade (...) em suas

múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos,

psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e

éticos (BRASIL, 1999).

A partir da apresentação desse cenário, buscamos entender como é a EA nas

escolas de ensino fundamental da cidade de Ubá-MG.

Desenho da pesquisa

Este trabalho se apoia numa pesquisa qualitativa, que tem por finalidade

entender os fenômenos sociais, compreendendo as atitudes, os valores, as

representações e ideologias que os compõem (ALVES-MAZZOTTI e

GEWANDSZNAJDER, 1999).

As autoras do presente artigo participaram de uma pesquisa de Iniciação

Científica da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) intitulada Educação

Ambiental como estratégia do desenvolvimento sustentável nas escolas de ensino

fundamental de Ubá – MG, no período de 2011 e 2012, financiada pela FAPEMIG. Tal

pesquisa buscou analisar em qual EA as escolas de ensino fundamental da cidade de

Ubá se apoiam e implementar uma EA problematizadora em duas dessas instituições,

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buscando a sensibilização da comunidade escolar para as questões socioambientais. A

partir dessa investigação foi pensado um recorte mais aprofundado, resultando um

Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências Biológicas da UEMG, realizado no

período de 2011 a 2012. Neste artigo apresenta-se uma síntese do TCC, em que se

buscou compreender o cenário da EA nas escolas de ensino fundamental da cidade de

Ubá-MG, baseado na interpretação de seus sujeitos.

Foi feita uma visita à Secretaria de Educação de Ubá e à Superintendência de

Ensino com o intuito de saber se esses órgãos tinham algum setor responsável pela EA

e, caso tivessem, se havia algum levantamento sobre atividades de EA nas escolas

ubaenses. Foi informado que não havia nenhum setor ou departamento na área, e nos

foram repassadas informações sobre as escolas contendo endereços, telefones e número

de alunos. Além disso, obtivemos a informação que nos últimos cinco anos não houve

oferta de formação em educação ambiental para os professores e representantes destas

escolas.

Para coletar os dados, utilizou-se um questionário com questões abertas cujo

conteúdo das respostas foi analisado qualitativamente. Foram aplicados questionários a

30 escolas fundamentais de Ubá. Destas escolas, catorze eram estaduais, sete eram

municipais e nove particulares. Apenas uma escola particular não se dispôs a responder

ao questionário, sendo então a nossa amostra de 29 escolas. Os participantes foram

diretores ou, na ausência deles, algum responsável pela escola, como os coordenadores.

Para a aplicação dos questionários, dividimos as escolas em duas regiões - área

central de Ubá e periferia - mas todas na área urbana da cidade. Não foram aplicados

questionários nos distritos e nem na área rural devido ao difícil acesso a estas

localidades. Trabalhamos com doze escolas na área central de Ubá e dezessete na

periferia.

Foram coletados dados sobre as atividades de EA realizadas pelas escolas e

sobre o conceito de EA dos sujeitos pesquisados. Além disso, procurou-se entender qual

a percepção desses sujeitos quanto aos problemas ambientais das escolas e da cidade de

Ubá. Neste artigo, apresentaremos alguns resultados desta pesquisa.

Resultados

De acordo com Guimarães e Sánchez (2011), existem diferentes meios de se

trabalhar a EA no âmbito escolar. Não existe uma receita pronta para tal, mas sim a

possibilidade de se partir de uma questão problema que se relacione com o cotidiano do

aluno, sensibilizando-o para a compreensão e o enfrentamento da crise ambiental. Neste

sentido, segundo os autores, por meio de práticas interdisciplinares, o professor deve

propor novas metodologias para a efetivação da EA, sendo importante relacionar os

diversos problemas ambientais de forma contextualizada.

Diversas foram as atividades citadas pelas escolas ao serem questionadas se

faziam EA. Podemos observar, a seguir, alguns exemplos nos trechos extraídos das

respostas:

“São realizados projetos desenvolvidos pelos alunos, professores, equipe pedagógica,

comunidade escolar. A culminância dos projetos acontece durante mostra de trabalhos,

feiras de culturas e hora cívica”. (Escola Estadual 2).

“São feitas distribuição de mudas (doados pelo IEF), plantio de árvore,

reaproveitamento do óleo de cozinha para fabricação de sabão (depois são doados a

entidades)” (Escola Particular 2).

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Foram apontados trabalhos realizados por meio de projetos e também diversas

atividades pedagógicas. Sobre esta última, a visita técnica foi citada por 27 das escolas,

sendo declarado que elas são destinadas: ao sistema de tratamento de água; à nascente

do rio Ubá; ao lixão; à usina de reciclagem; ao Parque Estadual do Ibitipoca; às áreas de

reflorestamento; ao Instituto Estadual de Florestas; e ao Parque da Ciência da

Universidade Federal de Viçosa, entre outros.

As visitas técnicas têm uma grande importância quando se trata da EA nas

escolas, por se tratar de uma forma contextualizada, podendo contribuir muito para a

sensibilização dos sujeitos. É na fase escolar que as crianças e os adolescentes formam

seus valores, podendo se tornar cidadãos críticos. Ter um contato direto com o campo

facilita a ligação entre alguns conceitos, como educação, ambiente e sociedade. Embora

seja recomendado certo cuidado com essas visitas, devem ser feitas as devidas

contextualizações para não se tornarem apenas um passeio sem significado

(TRAVASSOS, 2006). Nas respostas dos sujeitos escolares, não foi possível identificar

se tais visitas são contextualizadas. Destaca-se que o enfoque foi entender o cenário da

EA de 29 escolas pela aplicação de questionários respondidos por sujeitos que relataram

livremente suas experiências, sendo que alguns aspectos não foram perceptíveis.

Além dessas visitas, cerca de 58,6% das escolas investigadas afirmam que

realizam aulas de campo no seu entorno. É interessante trabalhar a EA nesses arredores,

pois nem sempre a escola tem oportunidade e condições estruturais/financeiras de fazer

uma visita a outras localidades. Além disso, não é preciso ir muito longe para se deparar

com um problema ambiental que desencadeie uma série de questões a serem

trabalhadas. Outro ponto importante é a sensibilização dos alunos, pois ao entrar em

contato direto com uma dada questão ambiental o aluno pode vir a realizar observações

e sínteses, vivenciando essa experiência com um olhar crítico.

Ao serem questionados sobre as atividades de EA que desenvolvem, 86,2% das

escolas afirmaram que fazem trabalhos em datas comemorativas, como no dia da água,

do meio ambiente e da árvore. Pode-se perceber por meio das respostas que nas datas

comemorativas geralmente são trabalhadas palestras, feiras de cultura, sendo muitas

vezes atividades isoladas, não havendo continuidade do tema após a comemoração da

data. Assim, o trabalho realizado nessas datas, que poderia ser utilizado para a

sensibilização dos envolvidos, acaba ficando sem significado para os alunos por ser

realizado de maneira pontual e fragmentada (TRAVASSOS, 2006).

Quando questionados se as escolas realizam projeto de EA, cerca de 93% dos

respondentes afirmam que trabalham com projetos. A partir da breve descrição que os

sujeitos fizeram, pode-se perceber que os projetos estão ligados a questões naturais e

ecológicas, tais como preservação, plantio de árvore, horta, uso consciente dos recursos

naturais, reciclagem de lixo e coleta seletiva. Não foi possível identificar como tais

temas são trabalhados, já que se tratou de um questionário e nem todos responderam

objetivamente de acordo com a pergunta.

Alguns dos responsáveis pela instituição escolar (10,3%) declararam que os

projetos são realizados de forma interdisciplinar. Atribuímos que alguns projetos

(41,3%) também são interdisciplinares quando os entrevistados declararam que mais de

um professor de áreas específicas diferentes trabalha com projeto. Entre as respostas

dadas que confirmam tais afirmações, apresentamos algumas delas a título de ilustração:

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“A Educação Ambiental é de forma multidisciplinar, distribuída nos vários conteúdos.

Não há o conteúdo específico, mas o assunto é tratado de forma constante, associado

às outras disciplinas, como Língua Portuguesa (textos), Matemática (cálculos de dados

e gráficos) e principalmente associados aos conteúdos de Geografia, História e

Ciências” (Escola Particular 1).

“Realiza projetos como reciclagem de lixo e horta na escola... As professoras

envolvidas neste projeto são de Geografia e Ciências (6º ao 9º ano) e também

professores regentes (1º ao 5º ano)” (Escola Estadual 13).

Esse trabalho interdisciplinar constitui um grande avanço para a promoção da

EA. Por envolver professores de diferentes disciplinas, possibilita uma troca de

conhecimento entre eles. Assim, permite desenvolver uma concepção mais holística

sobre a EA, além de ser uma estratégia para suprir a falta de amparo do governo quanto

à formação do docente, já que são feitas trocas de experiências e de conhecimentos

entre os professores (TRAVASSOS, 2006).

As escolas da rede pública de ensino contam com um programa desenvolvido

pelo Estado de Minas Gerais, chamado Programa Semeando, em que a cada ano se

trabalha algum tema relacionado ao meio ambiente. Consiste de um conjunto de ações

educativas desenvolvidas nas escolas, como um instrumento a mais de que os

professores dispõem para enriquecer a abordagem curricular. A escola que adere ao

Programa recebe gratuitamente Livros de História, a Revista Semeando, o Livro do

Professor, Roteiro para o Professor e o DVD sobre o tema ambiental anual

(PROGRAMA SEMEANDO, 2012). Apenas 20% das escolas entrevistadas afirmam

que trabalham com este Programa. Infere-se que o Programa representa uma

oportunidade de se trabalhar o tema oferecendo alguns recursos. É possível fazer uma

EA crítica se o professor fizer uma contextualização e adaptação do material para sua

realidade. Sendo assim, houve pouco interesse das escolas em adotá-lo.

Quando os entrevistados foram questionados sobre o que é EA, pudemos

analisar que esta concepção ainda está muito restrita ao termo “preservação e

conscientização sobre a natureza”. Cerca de 65,5% dos entrevistados apresentaram em

suas respostas traços da concepção da EA Conservadora, entendendo o ambiente de

forma fragmentada, em que apenas os aspectos natural e ecológico são levados em

conta. Algumas das respostas em que se pode notar tal afirmação estão no exemplo

abaixo:

“Educação Ambiental é a forma de conscientização a respeito das questões ambientais,

poluição, desmatamento, extinção de animais” (Escola Estadual 4).

“É preservar, consumir menos, reciclar e aproveitar antes de virar lixo” (Escola

Estadual 2).

Apesar de a maioria ter uma visão conservacionista da EA, podem-se notar

algumas falas em que conseguimos identificar que 34,4% citaram traços da EA Crítica.

Alguns exemplos dessa educação podem ser observados nos trechos abaixo:

“É conscientizar as pessoas da importância da conservação do meio ambiente para a

garantia de uma vida saudável e que o ser humano faz parte do meio ambiente e é o

grande responsável pelo seu futuro” (Escola Municipal 4).

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“Para mim é uma grande revolução ética na qual os indivíduos devem ser preparados

para respeitarem todas as formas de vida” (Escola Particular 8).

“Se considerarmos o ambiente como o espaço de vivência do homem, então Educação

Ambiental é todo processo de relação humana com o espaço. A Educação Ambiental

permite a melhoria desse relacionamento no sentido de preservar o espaço” (Escola

Particular 1).

Tal EA crítica é voltada para formação do sujeito ecológico capaz de tomar

decisões com relação às questões socioambientais, mas caminhando lado a lado com a

ética e a justiça ambiental. Seria uma educação que problematiza as questões que

precisam ser resolvidas no âmbito da prática social. Neste processo, para a formação do

indivíduo social, é necessário trabalhar no coletivo e não se centrar apenas no indivíduo.

O propósito é haver uma relação indivíduo-sociedade para que, juntos, possam pensar

global e localmente, se responsabilizando pelo mundo, consigo próprio, com o outro e

com o ambiente (VELASCO, 1999; CARVALHO, 2004).

Quando perguntamos sobre os problemas ambientais da escola identificados

pelos participantes, podemos relacioná-los à EA Conservadora, que é voltada somente

para os valores ecológicos e aspectos naturais. Ou seja, não se considera o ambiente em

sua dimensão total, mas entendido apenas como um fragmento da realidade (AMARAL,

2003). Este tipo de educação está presente nas respostas dos participantes, quando

abordamos os problemas ambientais enfrentados na escola, como é possível observar

nos trechos abaixo:

“Pouca arborização; muita produção de lixo; desperdício de água (quando o aluno

deixa a torneira aberta); desperdício de energia elétrica (quando o ventilador fica

ligado sem necessidade)” (Escola Municipal 4).

“Excesso de lixo nos arredores e pouco plantio de árvores” (Escola Estadual 8).

O mesmo acontece sobre os problemas ambientais identificados na cidade de

Ubá, prevalecendo uma visão conservadora do ambiente, em que os participantes

citaram:

“Poluição ambiental, cidade muito suja, reciclagem é pequena, lixão, lixo hospitalar

para onde vai? Não existe aterro sanitário, esgoto não tratado, não existe programa de

reflorestamento” (Escola Municipal 1).

“Poluição do rio Ubá; queimadas” (Escola Municipal 2).

“Poluição do rio Ubá; falta de uma usina de reciclagem, maior arborização das vias

públicas” (Escola Particular 8).

Pensando nos problemas ambientais da escola e da cidade de Ubá, na

perspectiva crítica da educação para o ambiente, nenhum entrevistado falou sobre

questões que não se relacionassem apenas ao aspecto natural, como, por exemplo, sobre

a falta de educação no que concerne às questões ambientais e à interligação com os

problemas sociais.

Pode-se notar que a concepção da EA conservadora é predominante tanto nas

atividades de EA desenvolvidas pelas escolas quando na interpretação sobre o que é o

tema e sobre os problemas ambientais.

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Discussão

Apesar de o termo EA já ser discutido e incentivado a ser implantado no âmbito

escolar nas últimas décadas, considerando também que a mídia vem destacando muito a

questão do desenvolvimento sustentável, podemos perceber pelas análises dos

questionários que a EA Conservacionista ainda está muito presente nas concepções dos

sujeitos escolares. Bertolucci et al. (2005) percebem a EA Conservadora como uma

prática voltada para o pensamento ecologicamente correto, preservação e conservação

da natureza, ou seja, manutenção de áreas protegidas e defesa da biodiversidade.

Destaca-se o dualismo entre sociedade e natureza, não estando o homem inserido no

ambiente, desse modo, não enxergando que o seu papel na sociedade é entender a crise

ambiental e buscar meios para sua superação.

Como podemos notar pelas declarações extraídas dos questionários, as escolas

abordam a EA superficialmente, não tecendo relações entre o ambiente e o homem e

entre as complexas relações que compõem esse cenário. Seria necessário fazer com que

o sujeito pensasse nos aspectos social, ambiental, econômico, político, cultural e ético a

partir de situações problematizadoras. Esta seria a EA Crítica, que busca fazer com que

o homem se torne sujeito de sua própria história e a sociedade deve ser sensibilizada por

uma educação de autorreflexão, que levaria o indivíduo a entender o mundo em que

vive (FIGUEIREDO, 2006; CARVALHO, 2004).

Como meio de promoção da EA Crítica, Guimarães (2004) sugere a realização

de programas educativos que abordem questões ambientais contextualizadas com a

realidade em que vivemos, para que educandos e educadores troquem conhecimentos

para contribuir para a transformação da sociedade, exercendo sua cidadania.

Algumas considerações

O que podemos observar no referente trabalho é que, apesar do incentivo das leis

federais e estaduais para inserir a EA no âmbito escolar e de várias pesquisas debaterem

o tema, a maioria dos sujeitos das escolas de ensino fundamental de Ubá-MG têm uma

visão mais voltada para a perspectiva conservadora da EA, não compreendem o

ambiente em sua totalidade e acabam socializando tal entendimento com os alunos.

Além disso, os problemas ambientais mais destacados estão relacionados apenas aos

aspectos ecológicos, como a questão do lixo, das queimadas e da poluição, deixando de

se preocupar com as inter-relações que se estabelecem no ambiente.

Em direção a uma EA conservadora, as escolas dão importância para algumas

datas comemorativas, como, por exemplo, o dia da água e da árvore. Identificamos que

o problema está na forma como estas datas são celebradas, e além de serem tratadas

apenas na concepção ecológica, são lembradas somente no seu dia. Sendo assim, os

conhecimentos dos alunos ficam muito restritos aos aspectos ecológicos e, por não

darem continuidade ao tema, acabam sendo esquecidos.

Apesar de a maioria das escolas fundamentais de Ubá não ter uma visão crítica

da EA, elas apresentam algumas estratégias interessantes quanto ao tema, como as

visitas técnicas e aulas de campo, que possibilitam a sensibilização por meio da

experimentação e observação de dadas situações; e o desenvolvimento de projetos, que

possibilitam o trabalho coletivo e interdisciplinar, em que há participação de mais de

um professor de áreas diferentes.

Com base nas informações coletadas na Secretaria de Educação de Ubá e na

Superintendência de Ensino, sabe-se que não houve, nos últimos cinco anos, uma

formação em EA para o professor e representantes de escola no município. Infere-se que

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esta hipótese pode explicar o fato de os sujeitos escolares pesquisados apresentarem

uma concepção mais conservadora da EA e do ambiente. Ressalta-se que nosso objetivo

nesse artigo não foi responder por que os sujeitos escolares têm uma visão conservadora

ou crítica da EA, mas apenas identificar que perspectiva eles têm.

A EA no âmbito escolar da cidade de Ubá deixa a desejar, pois promove o

entendimento do ambiente de forma fragmentada, dificultando ao aluno a compreensão

sobre a complexidade de sua realidade e seu posicionamento crítico sobre ela.

Sugerimos, com a intenção de reverter esse quadro, que se promovam cursos de

formação continuada nesta área para os professores e equipe pedagógica das escolas da

cidade de Ubá, para aperfeiçoarem suas estratégias e também entenderem e se

posicionarem sobre as complexas relações entre sociedade e natureza.

Vale ainda ressaltar que recomendamos trabalhos que dialoguem com a EA

Crítica, pois ela busca trabalhar o ambiente como um todo, abordando seus aspectos

sociais, naturais, políticos, econômicos e culturais. E ainda, acredita-se que as práticas

educativas, nessa perspectiva, devam contribuir para as mudanças da realidade que

compõem o mundo, tornando as pessoas cidadãos ativos na transformação da crise

ambiental. A educação sozinha não consegue transformar uma sociedade, sendo que a

educação não é o único meio para a transformação, mas é um dos meios sem o qual não

há mudança.

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