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O Centenário do Colégio Bittencourt

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O livro sobre os 100 anos do Colégio Bittencourt agora está disponível online.

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O Centenário do Colégio Bittencourt100 anos com DOM de EDUCAR

Publicado em Junho de 2014

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Equipe

Pesquisa: Cristiano Pluhar Goreti Maia Pluhar Maristela Abreu Dias

Revisão: Cristiano Pluhar Maristela Abreu Dias

Editoração: Goreti Maia Pluhar

Capa: Goreti Maia Pluhar

Texto: Cristiano Pluhar

Diretor-Presidente: Guilherme Augusto Bittencourt Guimarães

Diretora Pedagógica: Elizabeth da Silva Paes Bittencourt Guimarães

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Palavras do autor

Em Janeiro de 2009, quando cheguei a Campos dos Goytacazes, distribuí meu currículo por diversas instituições de ensino. Minha ama-da Goreti, recordo bem, ao pararmos em frente ao Colégio Bittencourt, me disse: “É um colégio importante na cidade.”

Por conta da proximidade do começo das aulas, o quadro funcio-nal se encontrava fechado. Passados quatro anos (2013), o amigo e estupendo professor Rafael Bruno me comunicou sobre um projeto preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que o Colégio idealizava. Sem pestanejar, enviei meu currículo novamente e, feliz, me convocaram para uma entrevista. Não me esquecerei daquela entrevista... cinco pessoas para um entrevistado. A conversa versou so-bre o ENEM, História, didática, História regional e, ao longo do encon-tro a elegante Elizabeth da Silva Paes Bittencourt Guimarães comentou que o Colégio, em 2014, comemoraria 100 anos. Breve, mencionei a necessidade de contar à sociedade campista o relevante acontecimento.

Enfim... passei na entrevista e iniciei minhas atividades no Colé-gio Bittencourt e criei, apesar do curto tempo de lida e sem explicação racional, um grande apreço pela instituição.

Este ano, o amigo e profissional competentíssimo David Coelho Rodrigues me disse que o Colégio Bittencourt desejava contar com minha lida à comemoração do seu centenário. Que entusiasmo!

Honrado, aceitei o convite do educado e simpático Guilherme Bit-tencourt, Diretor do centenário Colégio Bittencourt e, singelamente, apresento-lhes a trajetória desta importante instituição de ensino.

Cristiano Pluhar

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Apresentação

No dia 11 de junho de 1914, nascia o Colégio Bittencourt. Em Cam-pos dos Goytacazes, a instituição chegou em 1922 e se estabeleceu defi-nitivamente oito anos depois, e se fez imagem e semelhança à figura do meu avô, Professor Mario Bittencourt, um homem de caráter nobre, com espírito empreendedor e paixão pelo ensino.

Os ideais do meu avô e a dedicação intensa da minha mãe, Profª Ma-ria José Bittencourt Guimarães e do meu pai, Prof. Delamar de Moraes Guimarães, e dos meus tios, os professores Mario Bittencourt Júnior (Ma-riozinho), Clovis Costa Bittencourt e José Costa Bittencourt, moveram-nos rumo ao sucesso e fizeram-nos superar os dias difíceis.

Hoje, educação com qualidade, modernização, comprometimento da equipe e respeito aos nossos alunos e pais são pilares e a garantia do cami-nho seguro para o desenvolvimento pleno dos educandos.

Nossa grande satisfação é encontrar ex-alunos e ver que o Colégio marcou não somente conceitos intelectuais, mas também valores morais que produzem grandes profissionais e cidadãos da nossa sociedade.

No pátio da nossa escola, temos alunos cujos pais e avós estudaram conosco. Essa relação de confiança entre as gerações é nosso grande mé-rito e nossa responsabilidade com pais e alunos, que nos conduzem a um século de ensino. Nos dias de hoje, chegar a 100 anos para um ser humano já é uma vitória de longevidade, para uma instituição de ensino é um mar-co, pois são poucas as empresas que conseguem alcançar um século de existência pensando no futuro.

Como atual Diretor-Presidente deste grande Colégio, cuja construção só teve o dia de começar, minha principal meta é conduzi-lo com os ideais do Prof. Mario, a dedicação dos meus pais e tios aliada à constante intera-ção dos pais que nos confiam seus filhos.

Guilherme Augusto Bittencourt Guimarães

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LIÇÃO DE IDEAL E DISCIPLINAMÁRIO BITTENCOURT

¨Não há limites, Fernão!¨(Richard Back)

À distância, a figura pequenatrazia a impressão de fragilidadeque se modificava rapidamentequando se fazia presente na sala de aula.Doce, mas enérgico, fala simples e bela.Daquele peito brotaram, para mim,até meus quinze anos (quarto ano ginasial),vibrações do mais puro ideal de Educaçãoatravés de seus discursos no hasteamento da Bandeira Nacionalquando, enfileirados, éramos preparadospara os desfiles de sete de setembroe onze de junho (aniversário do colégio).Representar a escola diante da sociedade e das autoridadesde tal forma disciplinados e orgulhososera tarefa conquistada por ele;porque nos ensinou que defendemos o escudo que amamose, por isso, o respeitamos.Mario Bittencourt (pai)!O respeito e o amor de seus filhos nossos professores(Mariozinho, Dr. José, Clóvis, D. Maria José)levaram-me a perceber, desde cedo,a grandeza daquela pequena figura.Provou que não há idade para finalizar o ensinonem há limites para o aprendizadoquando existe vontade firme, disciplina e coragemaliadas à compreensão, à honestidade de propósitoe o amor à Educação.

Glenda Marta Fonseca Rezende(do livro Sementes Plantadas)

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O centenário do Colégio BittencourtCem anos com DOM de EDUCAR

Na segunda metade do século IX, escandinavos ocuparam a Normandia (Norte da França). Nessa região, em 1362, nasceu Jean de Bettencourt, no Castelo de Grainville (construído em 1098 e destruído por conflitos religiosos em 1580).

Homem de extrema valentia, em nome do Reino de Castela, futuro território da Espanha, Jean de Bettencourt iniciou, no ano de 1402, a conquista das Ilhas Canárias e impôs o Cristianismo aos Guanches – nativos que, apesar da resistência, foram exterminados.

Pelo êxito da empreitada, no ano seguinte Jean de Bettencourt1 foi proclamado Rei da Canária.

1 Em 1425, faleceu Jean de Bettencourt

Desenho do Castelo de Grainville

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A partir desse fato histórico, a família Bittencourt se espalhou para a Ilha da Madeira, Portugal e, em seguida, Açores.

Em constante expansão, no final do século XVIII, em busca de ouro, alguns Bittencourt se estabeleceram no Brasil (na Província de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro). Mais tarde, com a chegada da Corte Real portuguesa, 1808, mais membros da família escolheram o Brasil como destino.

Jean de Bettencourt

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Ainda na primeira metade do século XIX, a partir de notícias sobre grande quantidade de ouro, o casal Francisco José de Oliveira e Maria Genoveva da Purificação Bittencourt chegou à cidade de Cantagalo, Rio de Janeiro (instalou-se na propriedade chamada Barra do Ribeirão Dourado, originando assim, a Fazenda Maravilha). Nessa fazenda, em 27 de setembro de 1895, nasceu o Professor Mario Bittencourt.

Brasão da Família Bittencourt

Sede da Fazenda Maravilha

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A chegada ao século XX mostrou a dedicação da família com a formação educacional de crianças e jovens. Em 1914, dia 11 de junho2, o Professor João Bittencourt (Jãojão), no Distrito de Cordeiro, Canta-galo, fundou o Colégio Bittencourt.

Passados quatro anos, a instituição foi transferida para São Fidélis, que vivia grande atividade comercial e política.

Por conta do grande número de alunos, o colégio ruma em 1922, para os Campos dos Goytacazes e instala-se no Solar Saturnino Braga3 (edificação da primeira metade do século XIX), extinta Escola Estadu-al XV de Novembro.

2 A Primeira Guerra Mundial iniciaria 17 dias depois, com o assassinato de Fran-cisco Ferdinando, líder do Império Austro-Húngaro.3 O empresário Francisco Saturnino Braga fundou, em 12 de Março de 1885, a Companhia de Fiação e Tecelagem Campista – primeira fábrica de tecidos da região.

Solar Saturnino Braga

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Na década de 1920, Campos dos Goytacazes passava por profundas mudanças urbanas. A partir do projeto de ur-banização do campista Saturnino de Brito (ide-alizado em 1901), ruas foram alargadas (veja imagem abaixo) em cla-ra demonstração da re-levância econômica do Norte Fluminense.

Outro acontecimento marcante do ano da chegada do Colégio Bit-tencourt aos Campos dos Goytacazes foi a inauguração da nova Praça do Mercado Municipal.

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ProfessorMarioBittencourt

Após quatro anos (1926), por conta de questões financeiras, o Co-légio foi vendido à Diocese local. Contudo, quatro anos depois, man-tendo a tradição da família Bittencourt, “uma família de educadores”, os professores Julio, José e Mario Bittencourt readquiriram a institui-ção e fundaram um novo Colégio Bittencourt.

A sede também era nova: comprada do Dr. Atilano Chrisóstomo de Oliveira, a antiga propriedade localizada na rua Gil de Góis, 299 onde permanece até hoje.

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O objetivo do Colégio Bittencourt, naquele recomeço, era – e é – educar, cultivar a inteligência, aperfeiçoar o físico e formar o caráter dos alunos. A sociedade abraçou o Colégio e, em 1931, por conta do aumento significativo de alunos, iniciam-se as obras do Pavilhão Alice Bittencourt, inaugurado em 11 de Junho de 1934.

No ano seguinte4, em 1935, Campos dos Goytacazes completou o primeiro centenário da elevação à categoria de Cidade da antiga Villa de São Salvador dos Campos (28 de março de 1835). Comemorando o fato, inaugurou-se o Fórum Nilo Peçanha que serviu de cenário aos alunos do Colégio Bittencourt que participaram naquele ano do desfile cívico de 7 de setembro.

4 No dia 18 de Março de 1935, a jovem Nina Arueira, importante militante do movimento Comunista na Cidade, morre precocemente.

Diretores e professores do Colégio Bittencourt na década de 1930

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Na década de 1940, precisamente em 1943, o Colégio Bittencourt propagandeou no Guia de Horários da Estrada de Ferro Leopoldina Railway (página 146), meio de transporte de extrema importância que sofreu processo de privatização5 no Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

5 Entre os anos de 1996 e 1999.

Fórum Nilo Peçanha (atual Câmara Municipal)

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Em 1953, o Professor Mario Bittencourt, vivendo na Fazenda Vis-ta Alegre em Santa Maria Madalena, recebeu saudosa e carinhosa car-ta6 (sem remetente) que evidencia seu entusiasmo com a educação.

“27 - 10 - 1953

Prof. Mario Bittencourt

Mestre dos mestres. Sumidade comprovada e laureada através dos tempos. Insigne professor de matemática que soube elevar bem alto o conceito do seu estabelecimento de ensino, o tradicional Colégio Bittencourt, uma tradição de quase meio século à serviço da Pátria no preparo da juventude.

6 Respeitando a grafia original.

Comercial do Colégio na Guia de Horários da Estrada de Ferro da Leopoldina Railway, 1943

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Ilustre professor que tive a honra e a felicidade de ser um dos seus discípulos.

Desprendeu-se vitorioso e merecidamente dêsse seu labôr, de lon-gos anos, entregando a direção do Colégio aos seus filhos, todos mestres de reconhecido grau de intelectualidade.

Mario Bittencourt, atualmente vive na sua fazenda Vista Alegre, município de Santa Maria Madalena, afastado do borborinho da cidade e dos seus alunos, dedicando também parte de sua vida ao plantio e criação de gado. Hoje o professor Mario não ouve mais aquele vozerio de seus discípulos, que faziam parte de sua alma e de seu coração.

Em lugar das vozes estudantis que soavam aos seus ouvidos, numa sinfonia de gratas recordações surgiram os cânticos da passarada nas suas alvoradas alegres.

Agora no aconchego de seu novo lar, na sua bem cuidada fazenda, ele ensina aos homens do campo e da lavoura como multiplicar, sempre relembrando a matemática, a produção de uma fazenda que prospéra e mais engrandece o seu proprietário.

Que Deus lhe dê muitos anos de vida e forças suficientes para administrar a fazenda Vista Alegre, agora seu recanto de paz e sossêgo, ao lado de sua querida amada e fiel esposa dona Dóca que o acompanha nessa trajetória brilhante de sua vida...

Bom dia para você, Mario Bittencourt!”

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No mesmo período, Mario Bittencourt Júnior, o Mariozinho, pres-tou relevantes serviços ao Colégio Bittencourt. Abaixo, as palavras de Guilherme Bittencourt sobre Mariozinho:

“A morte não extingue; transforma, não aniquila, renova, não di-vorcia, aproxima’. O trecho de um poema de Ruy Barbosa define o grande Professor Mariozinho. Amado pelos alunos pela sua ma-neira simples e amável, dedicou sua vida ao Colégio Bittencourt como Professor e Diretor.

Nas horas mais duras, nas quais o educador necessita de rigor, seus olhos transpareciam carinho, meiguice e respeito com os alunos.

Formado em Direito, foi na sala de aula que encontrou sua voca-ção. Apaixonado por Geografia, fascinava seus alunos com des-crições detalhadas dos rios, mares e relevos.

O Mariozinho fazia questão de desfilar com seus estudantes no 7 de setembro! Além de apoiar todas as atividades pedagógicas, desportivas e culturais do Colégio. Sua popularidade entre os alu-nos era impressionante! Queridíssimo!”

Professor Mario Bittencourt Júnior em desfile cívico

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A Professora Maria José Bittencourt Guimarães, que viveu a edu-cação do Colégio Bittencourt por mais de 50 anos, é assim descrita por seu filho Guilherme Bittencourt:

O casal que tanto honrou a História do Colégio Bittencourt: Professora Maria José Bittencourt Guimarães e Delamar de Moraes Guimarães

“Difícil enumerar as qualidades da Professora Maria José. A una-nimidade aponta sua invejável inteligência, acentuada liderança, reconhecida firmeza de caráter e personalidade marcante. Uma educadora que se fazia entender pelo olhar. Vivia a educação no dia a dia e passava essa vibração positiva a todos. Integridade e dignidade alicerçaram sua vida.

Nunca fechou as portas e o acesso à educação a ninguém, inde-pendente do credo, da cor, da posição social.

Mais que transformar seus alunos em profissionais do futuro, pro-curou formar cidadãos que percebessem criteriosamente a reali-dade social, cientes dos seus direitos e responsabilidades, prepa-rando-os para enfrentar e vencer os desafios da vida.

Um exemplo a ser seguido”.

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Em 19737, por questões burocráticas, criou-se o Centro Educacio-nal Norte Fluminense, entidade mantenedora do Colégio Bittencourt. Presidido pelo Professor Delamar de Moraes Guimarães, contou com a participação e enorme ajuda do Dr. Braz de Paula Nicolau - que dedica, há mais de 50 anos, sua vida ao colégio -, Mario Bittencourt Júnior e demais filhos.

Seu filho Guilherme Bittencourt tece as seguintes palavras sobre seu pai Delamar:

“Equilíbrio, humildade, retidão de caráter, esposo dedicado e amoroso, pai digno e amigo, espirito conciliador, ótimo piadista sempre atento aos aspectos mais cômicos do cotidiano. Foram a sua grande liderança e a sua capacidade conciliadora que permi-tiram que a instituição, ao longo de 1/4 do século, se mantivesse firme na sua trajetória e nos seus princípios”.

7 Um ano depois – 1974 – descobrem-se poços de petróleo na Bacia de Campos dos Goytacazes, a maior do Brasil.

Professor Delamar de Moraes Guimarães

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Ao lado de seu esposo, a Professora Maria José Bittencourt Gui-marães, filha de Mario Bittencourt, que dedicou mais de 50 anos de sua vida ao Colégio, mantendo a alta qualidade educacional, teve sua dedicação também reconhecida com homenagem8 da comunidade do Colégio Bittencourt, em 1997.

COLÉGIO BITTENCOURT ANO DE 1997

O Colégio Bittencourt está em festa, pois escolhermos hoje para homenagear a todas as Mães, que fazem parte desta grande família.

Temos a felicidade de vivermos rodeada de Mães nesta escola.

Mães diretoras, Mães coordenadoras, Mães professoras, Mães funcionárias e Mães.

Iniciamos esta homenagem a uma Mãe muito especial.

Quem aqui presente, alunos, funcionários e pais que nun-ca encostou a cabeça naquele ombro amigo, que ao entrar naquela sala sombria de cortinas escuras achando que seu problema não tinha solução.

Entrava muitas vezes chorando, saia sorrindo com grande expressão de esperança.

Quem que aqui presente nunca ouviu estas palavras ‘O mal não vence o bem’, ‘Quem está no caminho do bem, a solução sempre aparece’.

Quem dos alunos principalmente aqueles com notas bai-xas, recebeu aquele puxão de orelhas de um modo espe-cial. ‘O seu rendimento só melhora se você estudar 2 horas todos os dias’.

8 Respeitando a grafia original.

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Ah! São tantas coisas para falar dessa Mãe, que levaría-mos muito tempo.

Nós que temos o privilégio de trabalhar mais diretamente com ela, ficamos sugando os seus ensinamentos, sua ex-periência, a sua vivência e quando acharmos que sabemos muito, ainda não aprendemos nada.

Sentimos que a sua maior preocupação é o segmento de sua obra e por isso ela nos presenteou com mais três Mães, que temos certeza que foi uma determinação do Alto, pois em suas veias correm o mesmo sangue.

Mas, a você Mãe Maria José Bittencourt Guimarães, sabe-mos que não saímos de suas entranhas,

Mas temos a certeza que fomos geradas em seu coração.

Alunos, Professores e todos os seus funcionários.”

Filhos que também prestaram relevantes serviços ao merecem menção.

A figura do professor Clovis Bittencourt é assim recordada pelo seu filho Clóvis Costa Bittencourt e seu sobrinho Guilherme Bitten-court:

Introvertido, calmo, dócil, sorriso afável, olhos de galã, espirito desprendido, encontrou na música grande inspiração e aliada por toda a vida.

Teve uma vida dedicada ao educandário; trabalhou desde jovem no Colégio.

Foi, sem dúvida, um Professor dedicado, um secretário de gran-de competência, responsável por toda a documentação do colégio por décadas.

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O Professor Clovis Costa Bittencourt9, lecionou matemática por décadas no Colégio Bittencourt. Além do amor pela educação, era apaixonado pela música e só não ingressou no Conservatório de Músi-ca Brasileira, no Rio de Janeiro, por impedimento de sua mãe que não desejava distanciar-se do filho mais novo. Assim, de modo informal, Clovis presenteava os mais próximos com mãos flutuantes no teclado do piano.

9 Filho mais novo do casal Mario Bittencourt e Deolinda Costa Bittencourt, nasceu em Bom Jesus do Itabapoana, RJ, no dia 8 de Fevereiro de 1927. Homem humilde e bondoso, faleceu em 6 de Setembro de 1987.

Casamento de Arlete Alexandre Gazal Bittencourt e Clovis Costa Bittencourt

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O Dr. José Bitten-court, também auxiliou na solidificação do Colé-gio Bittencourt, estando sempre ao lado da famí-lia.

José Costa Bitten-court10 – Tio Zezé, como seus sobrinhos o chama-va –, médico presente na trajetória do Colégio Bittencourt avaliando alunos às atividades es-portivas e Professor de Ciências Humanas.

10 José Costa Bittencourt, filho de Mario Bittencourt e Deolinda Costa Bitten-court, nasceu em Bom Jesus do Itabapoana, RJ, no dia 10 de Outubro de 1923. Formado em Medicina pela Universidade Federal Fluminense, trabalhou em res-peitadas instituições da Cidade e ministrou aulas na Universidade de Filosofia de Campos. Além da profissão, estudou fervorosamente as duas Guerras Mundiais e Teoria Política até seu falecimento em 24 de Maio de 1990.

Já na década de 1990, passados 61 anos do retor-no da posse do Colégio Bit-tencourt à família, faleceu o grande Professor Mario Bittencourt, no dia 27 de dezembro de 1991, aos 96 anos.

Professor Mario e sua esposa Deolinda Costa Bittencourt em frente ao Catetinho, onde ficava o Presidente Juscelino Kubitschek no período da construção de Brasília

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Honrando a tradição, o Colégio Bittencourt manteve seus ideais e, no ano de comemoração dos 85 anos (1999), a instituição passou a ser dirigida pelo engenheiro e empresário Guilherme Augusto Bittencourt Guimarães, que permanece no cargo até os dias atuais com o mesmo en-tusiasmo de Mario Bittencourt, seus filhos e seu pai, Delamar de Moraes Guimarães, falecido em 2007, e assim homenageado11 por sua irmã:

“DELAMAR DE MORAES GUIMARÃESDelamar de Moraes Guimarães nasceu em Itaperuna, na Fazen-da do Paraíso, fundada por seu trisavô, o Bandeirante Cel. José Antônio Machado Santiago, um dos fundadores daquela cidade. Quando estava com 9 anos, seus pais se mudaram, para outra fa-zenda, perto de Natividade, ali permanecendo apenas 4 anos, pas-sando a residir em Natividade. Um ano depois, Delamar perdeu o pai, e, sua mãe, sem recursos suficientes, voltou com os seus filhos a viver na Fazenda Paraíso. Aos 14 anos, foi para o Distrito de Retiro, onde fez preparatórios para o exame de admissão ao giná-sio, no Colégio Bittencourt de Itaperuna. Logo após a conclusão do curso, começou a trabalhar em um banco particular.

Através de um sobrinho do Banco do Brasil, no Rio, sua mãe con-seguiu-lhe uma vaga de contínuo no Banco do Brasil em Campos, para onde veio, ainda jovem e sem prática do serviço; lutou muito e quase desistiu, mas sua mãe o incentivou a permanecer no ser-viço e estudar para o primeiro concurso. Luta árdua, trabalhando e estudando para prestar concurso, o que aconteceu em Mimoso do Sul. Uma vez aprovado, passou a funcionário efetivo em 27 de setembro de 1945, com 21 anos. Continuou estudando e formou-se em Contador. Lecionou Contabilidade e Matemática. Trabalhou em diversos setores do Banco e, em janeiro de 1976, após 30 anos de serviços, aposentou-se como chefe do Cadastro Geral do Ban-co, com 51 anos de idade.

Foi casado com Maria José Bittencourt Guimarães, durante 48 anos, tiveram 5 filhos e 4 netos. Delamar era uma pessoa bem humorada, extrovertida e sempre de bem com a vida. Foi um cul-tivador de amizades, um homem de uma integridade moral abso-luta, de uma correção profissional impecável, de uma capacidade

11 Respeitando a grafia original.

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de procurar sempre o caminho da verdade e da Justiça, herança esta fundamentada nos princípios rígidos de sua família. Além de ter sido um grande chefe de família, um pai exemplar, procurou transmitir aos filhos os valores morais de respeito e honestidade, legado de valor inestimável que deixou aos seus descendentes – 5 filhos e 4 netos.

Lutou com bravura contra a doença de Parkinson. Não recla-mava nunca. Foi um doente que soube aceitar com resignação os desígnios de Deus. Tenho certeza de que você, Delamar, está em paz, pois sempre tentou seguir os ensinamentos do seu pai que di-zia: ‘É melhor chorar do que fazer os outros chorarem’, lembran-do os ensinamentos de São Francisco de Assis: na humildade, na solidariedade e na responsabilidade.

Maria da Glória M. Guimarães 01/12/2007”

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Família Guilherme Augusto Bittencourt Guimarães (Bruno Paes Guimarães, Elizabeth da Silva Paes Bittencourt Guimarães,

Guilherme Augusto Bittencourt Guimarães e Rachel Paes Guimarães

A trajetória do Colégio Bittencourt no século XXI acompanha as modernidades educacionais. Desde 1999, o método de ensino Dom Bosco se encaixa ao pensamento oriundo da família Bittencourt: pre-parar o educando aos desafios da sociedade, desenvolvendo o respeito à diversidade e a formação intelectual ao mercado profissional.

Parabéns, Colégio Bittencourt!

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A comunidade conta a Históriado Colégio Bittencourt

O senhor Ernane Galvêas que estudou no Colégio Bittencourt en-tre 1936 e 1940, prestou belíssimo depoimento:

“Rio de Janeiro, 1 de junho de 2014.

Estimado primo Guilherme,

Foi com profunda emoção de fé e de orgulho que recebi a co-municação de que nosso Colégio Bittencourt está completando, em junho, 100 anos de ininterruptas atividades. Por isso, quero lhe dizer, antes de mais nada, que minha passagem pelo Colégio, gravada em minha memória, é a lembrança mais feliz e alegre de toda a minha vida.

Quando o meu pai faleceu, no inicio de 1934, eu saí de Itaperuna e fui morar em Mimoso do Sul, com os meus tios Isolina e José

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Barbosa Martins. Naquela época, não havia bons colégios no Es-pírito Santo e, para sorte minha, meus tios decidiram que eu fosse estudar em Campos. Em março de 1936, com 13 anos de idade, fui matriculado no Internato do Colégio Bittencourt, onde também estudavam vários colegas do meu Estado. Talvez tenha sido este o acontecimento mais importante ao longo dos 92 anos que estou prestes a completar. Como você vê, eu e o Colégio temos quase a mesma idade.

Minha sorte maior foi, sem duvida, o grande apoio e carinho que recebi dos professores e dos dirigentes do Colégio: José Bitten-court, o mais velho dos irmãos, era o Diretor do Colégio e profes-sor de Português. Mario Bittencourt excelente e paciente profes-sor de Matemática e Julio Bittencourt era o amigo e professor de História e Geografia.

E lá estavam outros bons professores, dedicados e competentes: Professor Manoel Ferreira, de Inglês, José Coutinho, de Francês, o extraordinário José Landim, de Latim, Albano Seixas, de Ciên-cias e a professora Isa, de Desenho.

Modéstia a parte, e contendo minha justificada vaidade, fui sem-pre um bom aluno, com as melhores notas. No final de meu segun-do ano no Internato, fui designado professor dos primeiros alunos que iniciavam o curso primário no Colégio.

O Colégio Bitencourt não era apenas um marcante destaque na área de ensino. Também nos destacamos nos esportes, principal-mente no futebol. Nossa equipe de futebol, contava com a presen-ça de algumas verdadeiras estrelas, entre as quais me recordo bem do “Titio”, assistente de segurança do Colégio e também titular do melhor time da cidade, o Americano.

Nossa equipe de futebol, liderada pelo Professor Júlio, era tão boa que sempre recebia convites, e disputava jogos em outras ci-dades, como Itaperuna, São Fidelis e Cantagalo. Além de jogador, junto com o Julinho, filho do professor Júlio, eu fui eleito o orador do grupo. E sempre que chegávamos à cidade, ainda na Estação do trem, era eu o encarregado de fazer o discurso protocolar de saudação.

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Assim se passaram meus felizes cinco anos no Colégio, de 1936 a 1940. Em 1940, estando para completar 18 anos, tive que “fazer” o Tiro de Guerra, em Campos. Naquela altura, contei com o deci-sivo apoio do Professor Manoel Ferreira, que havia se desligado do Colégio Bittencourt para fundar o Colégio São Salvador. E lá fui eu para o novo colégio, onde custeava o meu internato dando aulas de reforço aos alunos do ginasial.

Em 1942, me desloquei para o Rio de Janeiro, com ajuda do meu cunhado Celso de Lima e Silva, graduado funcionário do Banco do Brasil. Matriculei-me no Curso de Direito, no Colégio Univer-sitário, mas logo desisti para dedicar-me, a partir de setembro, a um curso preparatório intensivo, para Concurso do Banco do Brasil, marcado para fevereiro de 1942. Era um desafio quase im-possível de ser vencido, dada a complexidade das matérias além, de Português e Matemática. Dediquei-me de corpo e alma aos estudos e, em meio a quase 20 mil concorrentes, consegui aprova-ção. E comecei a trabalhar no Banco, em março de 1942, quando ainda não havia completado 20 anos.

Foi um surpreendente sucesso. E esse sucesso tinha o nome do Co-légio Bittencourt, de Campos, onde eu havia me preparado para a vida, para o mercado de trabalho, para a carreira profissional. Do Banco do Brasil fui transferido para a SUMOC – Superin-tendência da Moeda e do Crédito, onde cheguei a Chefe do De-partamento Econômico, depois de graduar-me em Contabilidade, Economia e Direito. E ainda consegui fazer um curso de extensão universitária no México e o mestrado em Economia, na Universi-dade de Yale, nos Estados Unidos.

Como você sabe, Guilherme, em minha carreira profissional eu fui membro do Conselho Di retor da Sudene, Diretor da Comissão da Marinha Mercante, Diretor do Banco do Brasil, Presidente do Banco Central do Brasil, duas vezes, e , finalmente, Ministro da Fazenda. No setor privado também colhi muitas vitórias, como presidente da Aracruz Celulose, durante cinco anos.

Por tudo isso, creio que, sem falsa modéstia, posso dizer que tive uma carreira profissional de sucesso. Devo isso, como já disse antes, a um acontecimento auspicioso, na minha vida, nos primór-dios da minha juventude: o Colégio Bittencourt de Campos.

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Obrigado, meu querido Colégio Bittencourt.

É com a maior emoção e agradecimento que venho juntar-me à comemoração de seu centenário. Que Deus o abençoe e aos seus dirigentes, professores e alunos.

Boa sorte e continuado sucesso é o que lhe desejo, Guilherme.”

Ernane Galvêas

A professora, historiadora e escritora Sylvia Paes, relata acon-tecido entre seu avô Orbílio, seu pai Dr. Wilson Paes e o Professor Mario Bittencourt:

“UM EDUCADOR SALVA-VIDAS

Não saberei precisar para vocês o ano da ocorrência desse fato que irei narrar, mas chegou até nós seus filhos, sobretudo, como um legado de amizade e competência de um educador.

Muito provavelmente esse fato aconteceu na década de 1940. Meu avô Orbílio, um comerciante de Murundu - distrito de Campos dos Goytacazes mudou-se com a família para a cidade pensando em dar aos filhos a oportunidade de estudo que não teve. Assim ma-triculou os filhos no Liceu de Humanidades, escola pública bem conceituada e se instalou comercialmente com um Café, o Lord, no Boulevard Francisco de Paula Carneiro no coração da cidade.

Contudo, meu pai muito jovem e deslumbrado com as coisas daqui que não tinha por Murundu, já nessa época vivenciando a deca-dência da estrada de ferro, se deixou levar pelas horas de dis-tração e lazer no campo de futebol e acabou perdendo o ano na escola.

Meu avô, homem de poucas palavras, mas de muita atitude, man-dou que meu pai fosse com ele para o Café. Lá ele seria o res-ponsável por limpar as mesas e os banheiros e ainda varrer o chão antes que os fregueses chegassem, e depois, além de atender, também iria para o caixa se fosse preciso. Meu pai aceitou bem o castigo, reconhecendo sua “bobeada”. Mas passaram os meses de

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dezembro, janeiro e fevereiro e meu avô não falava em sua volta para a escola e ele foi ficando no Café já muito preocupado com sua vida futura. Não era isso que havia planejado para si.

Um dia aparece pelo Café “seu” Mário (o Professor Mário Bit-tencourt) amigo do meu avô e dono do renomado Colégio Bitten-court, e vendo meu pai servindo às mesas interroga meu avô o porquê de ele ainda não ter voltado à escola uma vez que o mês de março já estava por finalizar. Como resposta Sr. Orbílio disse que o filho não queria estudar não, que não dava para isso, uma vez que havia perdido de ano no Liceu, e que assim ele deveria segui-lo trabalhando no Café. O professor muito sério manda que meu avô encaminhe o filho na manhã seguinte para a escola, que ele estaria esperando por ele lá.

Meu pai contava que não dormiu a noite de tamanha ansiedade - iria ele ou não retomar os estudos? E na manhã seguinte meu avô o acordou e o mandou que se apresentasse ao professor Mário.

Nem seria preciso terminar dizendo que meu pai nunca mais per-deu uma oportunidade se quer de estudar, tendo se transformado em um médico querido e admirado pela sua dedicação e compe-tência, inclusive tendo passado pela vida pública como Secretário de Saúde, Vice-Prefeito e depois Prefeito, fundador da Faculdade de Medicina de Campos, do Lions Club e envolvido em movimen-tos religiosos e muitas ações comunitárias sociais.

Esse é um exemplo de como deve ser um educador, muito mais que simples professor, é aquele que se envolve na vida dos educandos e os prepara para a vida. Esse foi o Professor Mario Bittencourt a quem eu também reverencio.”

Sylvia Paes

Aluna a partir de 1940, a Senhora Déa Soares Faria recorda com carinho o tempo vivido no Colégio Bittencourt:

“O Colégio Bittencourt foi muito importante na minha vida. Eu não estudei em outro lugar... Entre idas e vindas foram 33 anos.

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Eu entrei para estudar no Bittencourt em 1940. Cursei todos os cursos que o Colégio tinha. O ginásio, o normal, o curso de Con-tabilidade, o adicional de Estudos Sociais... e se tivesse mais cur-sos eu faria! Quando eu comecei a estudar lá, não era interna. Com a morte do meu avô, passei a morar no Bittencourt.”

Déa Soares também relembra fatos engraçados e bonitos laços de amizade:

“Quando passei para o curso de admissão, as pessoas queriam muito saber quem era uma tal de Déa, porque Mariozinho namo-rava uma moça de mesmo nome, mas, não era eu.

Como a família Bittencourt é muito amorosa e pelo fato de eu ter o mesmo nome que a menina, tratavam-me muito bem. Seu Mario, sempre que se aproximava, passava a mão sobre minha cabeça e falava ‘Déa Maria’, em um gesto de carinho. Queriam saber sobre minha família, sobre mim... Nossas famílias se tornaram amigas. Dona Doca (Dinda) foi minha madrinha de crisma.

Maria José (Zequinha) e eu éramos muito próximas. Ela era muito boa. No meu casamento eu até coloquei o nome de Zequinha na barra do meu vestido!

Eu era tão bem quista que não dormia no alojamento, dormia com Zequinha, na casa de seu Mario. Lembro-me muito que, aos domingos, ficávamos ouvindo Clovis tocar piano (ele era ótimo pianista) e que quando sentíamos fome, tinha aquele lanche bem farto!”

Sobre o Professor Mario Bittencourt, a confirmação do carisma e dedicação com a educação é assim lembrada:

“Adorava as aulas de matemática e tive por honra estudar com o Senhor Mario Bittencourt. Um grande homem, uma pessoa fora de série! Seu Mario sempre exigia uma educação de excelência.”

Os bailes promovidos pelo Colégio Bittencourt permanecem na memória de Déa Soares:

“Os bailes feitos no dia 11 de junho e as festas de formatura eram muito bonitos. Tinha a eleição da Rainha do Baile – fui Rainha duas vezes.

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Tudo tinha muito requinte. Dona Doca não deixava passar nada. O nosso uniforme, por exemplo, era muito elegante: uma saia ver-de plissada e blusa de palha de ceda.

Se um dia eu tivesse que olhar para minha história e tivesse que escolher uma fase da minha vida, sem dúvidas escolheria reviver a época do internato no Bittencourt.”

A aluna Marilda Campinho Ribeiro que, em 1951 ingressou no Colégio Bittencourt, lembra com saudade da época:

“Como as coisas na nossa vida nos marcam! Apesar de ter entra-do no Colégio muito nova, em 1951, estudei pouco tempo lá, mas, mesmo assim, tenho tanto apreço pelo Bittencourt que é até difícil de mensurar. De todas as experiências vividas nessa época, algu-mas são muito valiosas pra mim, até hoje.

Seu Mario sempre foi muito gentil, carinhoso e Dona Doca muito zelosa e de pulso firme. Dona Maria José era como a mãe – cui-

Famoso Baile do Colégio Bittencourt

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dadosa, exigente, e uma inigualável professora de latim. Como ela não tinha igual. Recordo-me de um episódio com Dona Maria José que exemplifica muito bem suas exigências e cuidados – os alunos possuíam dois tipos de uniformes: um era uma blusa de palha de seda bege, saia plissada azul, meias beges e sapato preto que usávamos durante as aulas convencionais, o outro era uma blusa com uma águia no peito, uma bermuda, meias brancas e sa-pato preto para as aulas de educação física. Arrumando-me para ir ao colégio percebi que meu par de meias beges não estavam própria para o uso, então coloquei as meias brancas (das aulas de educação física). Quando Dona Maria José me viu com as meias erradas, me advertiu e colocou uma anotação na minha cartei-rinha, e me avisou que era para eu notificar o fato ao meu pai. Isso me marcou tanto... por causa de um par de meias levei adver-tência. Nunca mais cometi esse erro! Ela tinha muita atenção em tudo, era muito observadora.

Recordo-me ainda da minha turma. Os meninos eram muito tra-vessos. Teve um deles que arremessou uma bombinha da janela de nossa sala para o pátio. Fez um barulhão! Na mesma hora Dona Maria José veio e perguntou quem foi, mas ninguém respondeu. E como ela não deixava nada passar, avisou que a turma estaria suspensa se o autor da peraltice não aparecesse. Minha Nossa Se-nhora! Não precisou ela dizer duas vezes, apontamos quem tinha sido o menino. Como era época de prova, se fôssemos suspensos tiraríamos zero na matéria e estaríamos na segunda fase (de recu-peração). E isso, para nós, era inadmissível.

Sinto muita pena por não ter passado mais tempo no Colégio.”

Na mesma década, a aluna e funcionária mais antiga do Colégio

Bittencourt, Genilda Maria Cruz Viana, tece as seguintes palavras:

“Em 1959, prestei a prova admissional para estudar no Colégio e passei. Mas não fui interna, pois meus pais ficavam na preocupa-ção de me deixar no colégio. Entretanto minhas irmãs mais velhas eram internas e adoravam viver aqui.

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Recordo-me que no Bittencourt a educação era muito exigente e nada passava despercebido. No uniforme do ginásio havia deta-lhes costurados nas mangas indicando as séries, já no uniforme do normal era uma gravatinha com alfinetes de estrelas na ponta. Essas estrelas marcavam o ano que a aluna estava cursando. Mas sempre tinha alguém que gostava de burlar as normas e fazia al-guma alteração. Como Dona Doca era muito observadora, sem-pre via alguém com o uniforme adulterado (e olha que ela não ia às salas, ela ficava no pátio!).

Não só Dona Doca era exigente. Os professores também eram. Tínhamos um professor que era muito bravo, não gostava de con-versas em sala e nós tínhamos uma colega que tinha uns proble-mas de desmaios. Quando ela desmaiava nas aulas dele nós não podíamos ajudar... ela caia e ficava lá, e não podíamos fazer nada. Dona Maria José também foi minha professora, ela era excelente. Era nossa professora de latim. Não saíamos de sala sem saber a matéria.

Na época ginasial, eu fiz parte da equipe de ginástica rítmica. Fa-zíamos apresentações fora do colégio. Era tão bonito tudo... nossa roupa era de filó e usávamos bastões para fazer as performances. Ficávamos animadíssimas. Além disso, era o frisson também os desfiles de 7 de setembro. Todos os alunos do colégio participa-vam. Usávamos o uniforme de gala (uma saia plissada branca, cinto branco de fivela encapada e blusa com a águia no peito). As alunas do terceiro ano sempre carregavam as bandeiras. E ai de quem não desfilasse... era suspenso.

Todos os dias, quando chegávamos ao colégio, Dona Doca nos colocava em filas e cantávamos o hino nacional, da bandeira e da república antes de irmos para as salas. E todos em fila, sempre.

Assim que eu me formei, eu 1966, prestei prova para o magistério e passei, mas minha irmã trabalhava aqui. Em 69, ela teve que sair do Colégio e eu entrei em seu lugar. Eu comecei a trabalhar como auxiliar de Dona Maria José. E estou aqui até hoje. Eu não me sinto uma funcionária do Bittencourt, isso daqui é como uma família pra mim.”

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A educação primorosa é transmitida por gerações. A Senhora Vera Lúcia Alves Pessanha foi aluna do Colégio Bittencourt e sua filha, Ma-ria Fernanda Pessanha Chagas, também.

A Senhora Vera, em uma frase, explicita o amor pela instituição:

“Lá foram os melhores anos da minha vida! Não queria ir pra casa!”

Sua filha, Maria Fernanda, recorda:

“Minha mãe sempre me disse que o Colégio Bittencourt era sua segunda casa. Sempre ouvi dela histórias hilárias (de quando ela ouviu uma manga cair do pé e pediu ao professor para ir ao ba-nheiro; na verdade era para catar a manga e comer escondida para D. Maria José não brigar). Eu queria que isso acontecesse comigo.

Mesmo estudando por pouco tempo lá, percebi logo o clima fami-liar e acolhedor do Colégio.

Hoje sou professora e tento transmitir os mesmos ensinamentos que eu tive lá; principalmente a convivência respeitosa com o pró-ximo.”

O Senhor Jorge de Lima Faria ressalta a qualidade educacional combinada com laços fraternos:

“Além do ensino ser de qualidade primorosa, criei bons amigos e uma carreira que ainda tenho contato.

Dentro do Colégio Bittencourt, apesar de muitos alunos e profes-sores, todos éramos um só.”

A Professora Ademilde Gomes Barreto, a mais antiga do Colégio Bittencourt – 33 anos – mostra o orgulho em ser parte da família:

“Eu tenho muito amor pelo Colégio. Não consigo sentir outra coi-sa pelo Bittencourt. Tanto como funcionária, quanto como aluna, passei momentos memoráveis aqui. Ter sido aluna de professores

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tão notórios nos fazia sentir especiais. Até mesmo quando eles brigavam conosco, era para nos mostrar o melhor que nós pode-ríamos fazer. Lembro-me de uma colega que foi para o colégio de tamancos (por causa de um machucado nos pés) e quando uma professora solicitou que ela fosse à frente ler um trecho de um tex-to, ela levantou e foi arrastando os tamancos até o quadro. A pro-fessora olhou para ela e disse: ‘Em silêncio, você vai voltar para seu lugar e em silêncio você vai voltar para frente e lerá seu texto. Uma mocinha não deve ser tão deselegante ao dar seus passos.’ Nunca me esqueci daquilo. Marcou-me muito, pois era possível notar que nossos professores não apenas queriam nos transmitir conhecimento, mas queriam nos dar educação também.

E como professora, cada ano que passa, ao ver os filhos dos meus ex-alunos sendo meus alunos, renova em mim a certeza de que tudo o que eu aprendi e tudo o que eu fiz, faço e continuarei fazen-do valer muito a pena.”

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Ex-ALUNOS• Anthony Willian Matheus Garotinho de Oliveira, ex-prefeito de Campos dos Goytacazes e ex-governador do Estado do Rio de Janeiro e atual deputado federal;• Barbosa Lemos, ex-deputado estadual e ex-prefeito de São Francisco do Itabapoana ;• Beatriz Helena Gonçalves Moll, embaixatriz do Turismo do Brasil ;• Celso Peçanha, ex-governador do Estado do Rio de Janeiro • Ernane Galveas, ex-presidente do Banco Central do Brasil e ex-Ministro da Fazenda ;• Dr. Luiz Clóvis Bittencourt Guimarães, médico e professor universitário• Dr. Maron El Kik, médico e professor universitário• Rockfeller Felisberto de Lima, ex-prefeito de Campos dos Goytacazes ;• Theotonio Ferreira de Araujo, ex-governador do Estado do Rio de Janeiro ;• Tonico Pereira, ator• Dr. Wilson Paes, médico e ex-prefeito de Campos dos Goytacazes

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MARQUES, Adhemar. BERUTTI, Flávio. FARIA, Ricardo. História Moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2000.

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