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DIRECTOR JOR JOR JOR JOR JORGE CASTILHO GE CASTILHO GE CASTILHO GE CASTILHO GE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO I N.º 22 (II série) De 7 a 20 de Março de 2007 1 euro (iva incluído) Ofereça uma assinatura do “Centro” e ganhe uma obra de arte PÁG. 3 UMA PRENDA ORIGINAL A crónica de Francisco Amaral Foca-bebé tem “alta” 50 ANOS DE TV EM QUIAIOS Jantar Dia da Mulher 8 de Março de 2007 Em quinta reservada (Zona de Coimbra) com animação até às 2h00 da manhã e algumas surpresas Marcações através do telef. 239 704 593 / Telem. 964 745 189 / 967 121 921 / 966 011 923 O mistério do 16 de Março de 1974 PÁG. 4 e 5 Poucos dias antes da Revolução de Abril de 1974 saiu das Caldas da Rainha uma coluna militar com o intuito de depor o Governo em Lisboa. Os revoltosos depressa viram que tinham fracassado e regressaram ao quartel, onde seriam detidos (como a imagem documenta). Ainda hoje se discute o que foi, de facto, esse movimento – sobre o qual publicamos reportagem nesta edição. Para tentar esclarecer o mistério, vai decorrer em Coimbra um debate, onde participam alguns dos protagonistas do golpe militar. da Mulher Dia Internacional Celebra-se amanhã (quinta-feira, 8 de Março), o Dia Internacional da Mulher. O “Centro” dedica espaço alargado à efeméride, e simbolicamente publica esta imagem de Naide Gomes, como homenagem a todas as Mulheres PÁG. 6 PÁG. 24 PÁG. 10 a 13

O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

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Versão integral da edição n.º 22 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 07.03.2007. Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

DIRECTOR JORJORJORJORJORGE CASTILHOGE CASTILHOGE CASTILHOGE CASTILHOGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO I N.º 22 (II série) De 7 a 20 de Março de 2007 1 euro (iva incluído)

Ofereçauma assinaturado “Centro”e ganhe umaobra de arte

PÁG. 3

UMA PRENDA ORIGINAL

A crónicadeFranciscoAmaral Foca-bebé

tem “alta”

50 ANOS DE TV EM QUIAIOS

Jantar Dia da Mulher8 de Março de 2007

Em quinta reservada (Zona de Coimbra)com animação até às 2h00 da manhãe algumas surpresas

Marcações através do telef. 239 704 593 / Telem. 964 745 189 / 967 121 921 / 966 011 923

O mistériodo 16 de Marçode 1974

PÁG. 4 e 5

Poucos dias antes da Revoluçãode Abril de 1974 saiu das Caldasda Rainha uma coluna militar com ointuito de depor o Governo em Lisboa.Os revoltosos depressa viram quetinham fracassado e regressaram aoquartel, onde seriam detidos(como a imagem documenta). Aindahoje se discute o que foi, de facto, essemovimento – sobre o qual publicamosreportagem nesta edição.Para tentar esclarecer o mistério, vaidecorrer em Coimbra um debate, ondeparticipam alguns dos protagonistasdo golpe militar.

da Mulher

DiaInternacional

Celebra-se amanhã (quinta-feira, 8 de Março), o Dia Internacional da Mulher.O “Centro” dedica espaço alargado à efeméride, e simbolicamente publica estaimagem de Naide Gomes, como homenagem a todas as Mulheres

PÁG. 6PÁG. 24

PÁG. 10 a 13

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2 DE 07 A 20 DE MARÇO DE 2007

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Varela Pècurto lança livroe é considerado“Autor do Mês” em Avis

O nosso colaborador Varela Pècurto,um dos mais reputados fotógrafos por-tugueses, acaba de ver publicado maisum livro de sua autoria, que lhe mereceuter sido considerado como “O Autor doMês” pela Biblioteca Municipal de Avis..

Intitulado “Ervedal”, trata-se de umaluxuosa publicação sobre aquela fregue-sia alentejana onde Varela Pècurto nas-ceu, ilustrada com magníficas imagensde sua autoria.

O lançamento do livro decorreu napassada semana no Ervedal, na sede daFundação-Arquivo Paes Teles, e nelaestiveram presentes diversas individua-lidades.

Entre elas o Presidente da Càmara deAvis, Manuel Libério Coelho e o Presi-dente da Junta de Freguesia de Ervedal,Paulo Guedes Freixo.

De Coimbra foi uma representação doClube da Comunicação Social (de queVarela Pècurto foi um dos fundadores ede cujos corpos gerentes faz parte), cons-tituída por Braga da Cruz, Américo San-tos e Rui Almeida.

No decorrer da cerimónia usaram dapalavra o Presidente da Junta de Fre-guesia do Ervedal e o Presidente da Câ-

mara de Avis, que tiveram palavras mui-to elogiosas para o livro e para VarelaPècurto. Falou ainda Braga da Cruz, naqualidade de Presidente do Clube daComuniocação Social de Coimbra, queigualmente teceu considerações de mui-to apreço pelo autor.

Varela Pècurto agradeceu, recordan-do o seu percurso de vida numa inter-venção muito interessante (a que aludi-remos na próxima edição).

De seguida, a poetisa Rita Margaridadeclamou alguns poemas, tendo aindaactuado o Grupo de Cantares de Erve-dal, dirigido por Maria do Amparo (quehá anos fez grande sucesso na dupla comCarlos Alberto Moniz).

A cerimónia terminou com uma ses-são de autógrafos.

Registe-se que o livro vai ser em bre-ve apresentado em Coimbra, em sessãoa decorrer nas instalações do Clube daCoumicação Social.

Sobre o livro e o seu autor publicaremosregisto mais detalhado na próxima ediçãodo “Centro”. Mas desde já felicitamosVarela Pècurto por mais esta obra e peladistinção que lhe foi concedida, ao ser con-siderado o “Autor do Mês” em Avis.

Braga da Cruz, Varela Pècurto, Paulo Freixo e Libério Coelhono decorrer da cerimónia de lançamento do livro

Qualidade do arem Coimbra(ainda) não épreocupante

REVELA O PROVEDOR DO AMBIENTE

O Provedor do Ambiente e Qualida-de de Vida do Município de Coimbra,Massano Cardoso, divulgou ontem (ter-ça-feira) os resultados preliminares deum estudo pioneiro feito à qualidade doar que se respira em Coimbra.

De acordo com o Professor da Fa-culdade de Medicina, estes resultadosmostram que há pontos da cidade queapresentam níveis de poluição prejudici-ais à saúde, mas que, de uma forma ge-ral, Coimbra não é (pelos menos nestemomento), uma das cidades onde o arque se respira está mais poluído.

Este estudo baseou-se na análise dediversos parâmetros, medidos em dife-

rentes pontos da cidade, mas através deuma observação indirecta. Isto é, nãohouve recolha de amostras de ar, masantes a observação de diversos aspec-tos, constituindo um modelo original emuito fiável, que poderá vir a ser utiliza-do, por exemplo, por autarquias cujosrecursos parcos não permitiram, até ago-ra, analisar a qualidade do ar que respi-ram os seus cidadãos.

Massano Cardoso sublinhou que o quemais contribui para a poluição do ar é otráfego automóvel, pelo que se impõeestimular o recurso aos transportes pú-blicos para diminuiir o número de viatu-ras no centro das cidades

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3DE 07 A 20 DE MARÇO DE 2007 COIMBRA

O jornal “Centro” tem uma alician-te proposta para si.

De facto, basta subscrever uma as-sinatura anual, por apenas 20 euros,para automaticamente ganhar uma va-liosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalhoda autoria de Zé Penicheiro, expressa-mente concebido para o jornal “Cen-tro”, com o cunho bem característicodeste artista plástico – um dos maisprestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível inter-nacional, estando representado em co-lecções espalhadas por vários pontosdo Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, como seu traço peculiar e a inconfundívelutilização de uma invulgar paleta decores, criou uma obra que alia grandequalidade artística a um profundo sim-bolismo.

De facto, o artista, para representara Região Centro, concebeu uma flor,composta pelos seis distritos que inte-gram esta zona do País: Aveiro, Caste-lo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria eViseu.

Cada um destes distritos é represen-tado por um elemento (remetendo pararespectivo património histórico, arqui-tectónico ou natural).

A flor, assim composta desta formatão original, está a desabrochar, sim-bolizando o crescente desenvolvimen-

to desta Região Centro de Portugal, tãorica de potencialidades, de História, deCultura, de património arquitectónico, dedeslumbrantes paisagens (desde as prai-as magníficas até às serras verdejantes)e, ainda, de gente hospitaleira e traba-lhadora.

Não perca, pois, a oportunidade dereceber já, GRATUITAMENTE, estamagnífica obra de arte, que está repro-duzida na primeira página, mas que temdimensões bem maiores do que aquelasque ali apresenta (mais exactamente 50cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a rece-

ber directamente em sua casa (ou no localque nos indicar), o jornal “Centro”, que omanterá sempre bem informado sobre oque de mais importante vai acontecendonesta Região, no País e no Mundo.

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Para tanto, basta cortar e preencher ocupão que abaixo publicamos, e enviá-lo, acompanhado do valor de 20 euros(de preferência em cheque passado emnome de AUDIMPRENSA), para a se-guinte morada:

Jornal “Centro”Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pe-dido de assinatura através de:

telefone 239 854 156 fax 239 854 154 ou para o seguinte endereçode e-mail:

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NO ROTARY CLUB DE COIMBRA / OLIVAIS

Santos Cabral abordou questões de segurança

O juiz conselheiro Santos Cabral pro-feriu, na passada semana, uma palestrasobre questões de segurança, no decor-rer de uma reunião do Rotary Club deCoimbra / Olivais.

A globalização do terrorismo e da cri-minalidade organizada, com recursos ameios muito poderosos e sofisticados, fo-ram algumas das áreas focadas pelo anti-go Director Nacional da Polícia Judiciá-

ria no âmbito desta palestra (no seio deum clube rotário de que ele próprio émembro, desde há vários anos).

Sem quere entrar em questões con-cretas, Santos Cabral sempre foi dizen-

do ser essencial que a globalização seestenda também, de forma de cada vezmais intensa, às entidades policiais, demolde a poder fazer frente, com eficá-cia, às actividadse ilícitas.

A assistência seguiu com muito interesse a palestra do magistrado Santos Cabral e Mariano Pego, Presidente do Rotary Club Coimbra/ Olivais

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4 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007REPORTAGEM

A revolta militar de 16 de Março de1974, conhecida por «Revolta das Cal-das da Rainha», continua, ainda hoje,envolta em muitas dúvidas.

O “Centro” foi ouvir, sobre este tema,o major-general Augusto Monteiro Va-lente (actual Presidente da Delegação daAssociação 25 de Abril na Região Cen-tro e activo elemento no golpe militar quederrubou a ditadura em 1974).

“Subsistem omissões, contradições eincoerências por esclarecer entre as vá-rias narrativas que têm vindo a público”– começou por nos referir Augisto Va-lente, acrescentando:

“E há silêncios teimosamente manti-dos por alguns dos seus intervenientes,apesar dos já trinta e três anos decorri-dos desde aquele acontecimento”.

Afinal, o que foi de facto o «16 deMarço»?

– Uma primeira tentativa fracassadado Movimento das Forças Armadas?

– Um ensaio para o 25 de Abril?– Uma disputa de liderança entre os

grupos militares que coexistiam no Mo-vimento?

– O resultado da exaltação dos âni-mos e do descontrolo de alguns oficiaisdo Movimento?

– Uma provocação para fazer abor-tar o Movimento das Forças Armadas?

– Uma armadilha para anular a cor-rente «spinolista»?

DEBATE PÚBLICOEM COIMBRAPARA TENTARESCLARECER DÚVIDAS

Ora é exactamente para procurar es-clarecer estas dúvidas, aprofundando an-teriores discussões em torno do tema, queo Centro de Documentação 25 de Abril,da Universidade de Coimbra, e a Dele-gação do Centro da Associação 25 deAbril organizam, exactamente no próxi-mo dia 16 de Março (sexta-feira), pelas14H30, na Casa Municipal de Cultura deCoimbra, um debate público com algunsdos seus protagonistas ou intervenientesindirectos.

Segundo Monteiro Valente, “o objec-tivo é procurar esclarecer algumas ques-tões que permanecem sem resposta”. Eacrescenta:

“O que se pretende com a iniciativaé recolher novos dados sobre as ra-zões e motivações que conduziramaquela que foi a última revolta fracas-sada antes da Revolução de 25 de Abrilde 1974, com vista a uma sua mais ri-gorosa e objectiva compreensão e in-terpretação histórica.

O QUE FOI A “ANTE-REVOLUÇÃO” DE 16 DE MARÇO DE 1974?

O mistério da “Revolta – DEBATE EM COIMBRA VAI TENTAR FAZER LUZ SOBRE O GOLPE FALHADO

REVOLTA DAS CALDASCOM FERIDAS POR SARAR

O general Augusto Valente reconhe-ce que “passadas mais de três dezenasde anos, nem todas as feridas abertasem 16 de Março de 1974 se encontramainda saradas”. E dá um exemplo:

“Um dos oficiais convidado recusou-se a participar no debate por não desejar

voltar a confrontar-se com a memóriado que foi para ele o dia mais triste dasua vida”.

Mas Monteiro Valente sublinha aspec-tos positivos do golpe:

“Apesar de haver fracassado, a re-volta das «Caldas da Rainha» teve omérito de fazer acelerar o «25 de Abril».A partir de então, às motivações dos ofi-ciais Movimento das Forças Armadasacrescentou-se uma outra não menos de-

terminante: a solidariedade para com oscamaradas presos. Libertá-los passou aser uma exigência da ética corporativa.

A partir de 16 de Março de 1974 aRevolução era imparável. Por outro lado,na sua sequência, as várias transferên-cias de oficiais do Movimento, determi-nadas pelo poder, viriam a facilitar emmuito o plano das operações em 25 deAbril”.

O QUE ACONTECEUEM MARÇO DE 1974?

O “Centro” pediu ao general Montei-ro Valente que nos fizesse um breve re-sumo dos acontecimentos, ao que eleacedeu, com o relato que segue:

“A 14 de Março de 1974, perante arecusa dos generais Costa Gomes e Spí-nola de participarem na manifestação de

apoio das Forças Armadas à «políticaultramarina do Governo» – conhecidapela manifestação da «brigada do reu-mático» – aqueles dois generais são de-mitidos.

As primeiras reacções militares par-tem das unidades do Norte. Em Lame-go, os capitães do Centro de Instruçãode Operações Especiais rebelam-se con-tra o comando da Região Militar, consi-derando-se desligados da cadeia hierár-quica, assumem o controlo da unidade eameaçam sair com forças militares. EmViseu, os capitães protestam tambémcontra as demissões e colocam o Regi-mento de Infantaria 14 às ordens doMovimento. No Porto, o comandante doRegimento de Cavalaria 6 manifesta aocomandante da Região Militar a sua so-lidariedade para os generais demitidos, eé exonerado de imediato. O mesmo su-cede com o comandante do Regimentode Engenharia de Espinho. O estado-maior do Movimento no Norte activaentretanto o plano de operações. A ten-são alarga-se a outras unidades.

A troca de informações entre os ofi-cias do Movimento torna-se intensa. Es-tabelecem-se rapidamente contactos. ORegimento de Infantaria 5, das Caldasda Rainha, está pronto a sair desde o dia12. Alguns membros da comissão mili-tar, incluindo Otelo, estão reunidos quan-do começam a ser recebidos telefone-mas dando conta da crescente exalta-ção de ânimos nas unidades”.

REVOLUÇÃOESTAVA PREVISTAPARA 14 DE MARÇO

E o general Augusto Valente continuao seu relato:

“Havia um plano de operações paraum golpe militar em 14 de Março, porantecipação à exoneração de Costa Go-mes e Spínola, mas que fora entretantoabandonado. Retoma-se esse plano eprepara-se o accionamento urgente dasunidades, através de ordens parcelares,que os elementos presentes distribuementre si.

Armando Ramos foi o primeiro a sair.Levava a ordem de operações para oRegimento de Infantaria 5. Otelo deve-ria contactar as Escolas Práticas de In-fantaria e Artilharia, e Casanova Ferrei-ra a Escola Prática de Cavalaria e ospára-quedistas.

Afinal, nenhuma força militar chega-rá a Lisboa. E só o Regimento das Cal-das da Rainha acabará por sair, quedan-do, contudo, a sua marcha a poucos qui-lómetros da capital, perante a ausência

Jornais noticiaram o fracasso da tentativa de golpe militar

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5DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 REPORTAGEM

das Caldas da Rainha”de apoios. Todas as outras unidades con-tactadas se recusam a participar, invo-cando falta de preparação das acções”.

GOVERNO SOSSEGACOM FRACASSO DO GOLPE

O general Monteiro Valente alude de-pois às consequências imediatas do gol-pe fracassado:

“O Governo sossegou, julgando a si-tuação militar controlada. Enganou-se!Apesar do fracasso, a rebelião permitiraaos oficiais do Movimento perceber a fra-gilidade das defesas do regime. E Otelo

Saraiva de Carvalho retiraria dela ensi-namentos de grande utilidade, que muitoviriam a facilitar o êxito seguinte no 25de Abril”.

E Augusto Valente sublinha:“Mas o que parece aparentemente tão

fácil de explicar, continua ainda a susci-tar dúvidas no plano da compreensão dealguns aspectos de pormenor. Como su-cede, aliás, em relação a vários outrosacontecimentos que se lhe seguiram.Algumas dessas dúvidas serão certamen-te esclarecidas no debate a realizar em16 de Março próximo, quando se comple-tam trinta e três anos sobre a revolta”.

O general Monteiro Valente concluicom um apelo ao público para que parti-cipe nesse debate que deverá contribuirpara que fiquem a conhecer-se melhoralguns dos meandros da Revolução queinstaurou a Democracia em Portugal.

O RELATO DE UMDOS PROTAGONISTAS

Como contributo para esse debate, e

para melhor compreensão do que foi ogolpe fracassado de 16 de Março, o“Centro” transcreve a seguir algumaspassagens do relato redigido por um dosprotagonistas, o então capitão VirgílioVarela, em carta dirigida a uma das fi-lhas de Casanova Ferreira, outro oficial queteve papel preponderante nesta acção.

Refere, a dado passo:“Cerca das 23 horas do dia 15, o Ar-

mando Ramos foi introduzido clandesti-namente, pelo Victor Carvalho, no RI5.Fizemos uma reunião na 4ª Companhia,em que o Armando deu conhecimentode que havia ordem da Comissão Ope-

racional do Movimento para avançar coma sublevação e leu a ordem de opera-ções – “Avançar para Lisboa e ocupar oaeroporto da Portela...”.

Perante isto, cerca da meia-noite, coma ajuda dos Tenentes Victor Carvalho eRocha Neves, prendi o Comandante e o2° Comandante, assumi o comando e ini-ciámos os procedimentos para cumprira missão.

A coluna militar saiu cerca das 4 horasdo dia 16 de Março, rumo ao aeroporto.

Era comandada pelo Armando Ramos,que tinha como adjunto o Silva Carva-lho. Cerca das 6 horas encontraram oteu pai e o Monge, na auto-estrada, acerca de 3 ou 4 quilómetros da porta-gem. Estes deram-lhes ordem para re-gressar ao regimento, porque não tinhamconseguido pôr o resto das Unidades emmovimento.

Cerca das seis e trinta, o Victor tele-fonou-me pelo rádio, dizendo que osMajores Monge e Casanova iam para oRegimento, para se solidarizarem con-nosco, visto que eram os responsáveis

pela ordem que o Armando trouxera. Acoluna chegaria mais tarde.

Não te esqueças de que estávamos emditadura e que as carreiras deles e até aspróprias vidas estavam em jogo. Ao con-trário de outros camaradas, que se de-viam ter empenhado na acção, o teu paie o Monge optaram por dar a cara, com adignidade que os caracterizou sempre.

Conto-te o exemplo dos três Majoresque pertenciam ao Regimento e quando,na execução do Plano de Recolha doPessoal da Unidade, se me foram apre-sentando, preferiram ficar detidos, jun-tamente com os Comandantes, a assu-mirem o comando que eu lhes ofereci.Pelo menos um deles tinha estado nareunião de Cascais.

Chegaram às nove e pouco. Era a se-gunda vez que via o teu pai. Fiz-lhe assaudações militares e expus-lhes a situa-ção que se vivia”.

CERCO E PRISÃO

Mais à frente, Virgílio Varela narra ocerco ao quartel das Caldas:

“Cerca das 14 horas começou o cercoao Regimento e, quando nos vieram dizerque o Brigadeiro Pedro Serrano, 2° Co-mandante da Região Militar de Tomar, quecomandava o cerco, estava de pé numjeep, à porta de armas, o teu pai disse-melogo: “Este, como é Brigadeiro, deixa co-migo!” E foi para a porta. O Brigadeiroordenou que nos rendêssemos e o teu pairespondeu que só recebíamos ordens dosGenerais Spínola ou Costa Gomes.

Regressou pouco depois, dizendo queo Brigadeiro dava meia hora para nosrendermos, se não atacava o Quartel eacrescentou: “Ele deve estar a fazer“bluff”. Depois de analisarmos a situa-ção, acordámos que devíamos fazer es-ticar ao máximo possível o tempo, comduas finalidades, uma, para ver se maisalguma Unidade resolvia reagir, a outraera que, quanto mais tempo durasse aoperação, maiores eram os reflexos, quera nível nacional, quer internacional.

Contudo, não convinha começarmoscom um banho de sangue, apesar de es-tarmos em melhores condições para ocombate”.

(...)Quando estávamos todos na bibliote-

ca, teu pai e o Manel vieram ter comigoe o teu pai disse-me: “Olha Varela, paraque o Movimento não seja comprometi-do, tens que dizer a todo o pessoal que,quando forem ouvidos, devem dizer queo que nós fizemos foi só uma manifesta-ção de desagravo pela demissão dosGenerais.”

Fiz logo o aviso ao pessoal, tendo oteu pai reforçado a ideia, dizendo que erao melhor para todos.

Esta ideia do teu pai, que infelizmentenem todos respeitaram, quando foramouvidos em processos disciplinares, aca-bou por beneficiar o Movimento das For-ças Armadas: no dia 17 de Março, quan-do já estávamos presos na Trafaria, ou-vimos na televisão a comunicação deMarcelo Caetano ao país, sobre o 16 deMarço, que terminava afirmando: “Rei-na a ordem em todo o pais”.

A desvalorização do 16 de Março porparte do Poder instituído deu algumamargem de manobra aos camaradas doMFA que continuaram cá fora a traba-lhar acabando por facilitar o 25 de Abril.

Como rescaldo do 16 de Março:Às 20 horas, o Brigadeiro Serrano

entrou na biblioteca, acompanhado doscomandantes e Majores que tinham es-tado detidos por nós, e disse: “Os Se-nhores Oficiais acabam de cometer umacto de extrema gravidade e seguramen-te conhecem a sua responsabilidade dis-ciplinar. Contudo congratulo-me pelamaneira como se renderam, pois se as-sim não tem acontecido, não teria qual-quer hesitação em bombardear o Quar-tel. Lamento que numa Unidade pela qualtenho um apreço especial se tenha passa-do um caso destes. Espero que os senho-res Oficiais reflictam na insensatez do actoe saibam suportar as consequências”.

Às 22 horas, um a um, conduzidos oupelos comandantes ou pelos Majores esob apertadíssima vigilância, fomos le-vados para um autocarro que nos espe-rava junto ao átrio do Comando.

Cerca das 23 chegámos ao RAL1,onde foram mandados sair a maior partedos Oficiais – os que foram considera-dos menos responsáveis e menos influ-entes na acção.

Só à 1h05 do dia 17 é que nós, os “ca-becilhas” – Majores Casanova Ferreirae Monge, Capitão Armando Ramos (ostrês não pertencentes ao Regimento) eos Capitães Virgílio Varela e Ivo Garciae o Tenente Silva Carvalho, do RI5 – fi-nalmente soubemos o nosso destino, aCasa de Reclusão Militar da Trafaria

Encontrámos na prisão o Tenente-co-ronel Almeida Bruno, da Academia Mili-tar e os Capitães Farinha Ferreira doEME e Pitta Alves..

A 19 de Março, à tarde, foram trans-feridos do RAL1 para a Trafaria os Ca-pitães Domingos Gil e Piedade Faria e,posteriormente, o Capitão Fortunato deFreitas” (...).

Quarenta dias depois eram todos li-bertados, porque a Revolução triunfara.

O brigadeiro Serrano ameaçando bombardear o quartel das Caldasse os revoltosos se não rendessem

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6 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007MUNDO ANIMAL

No passado dia 25 de Fevereiro (do-mingo), cerca das 17 horas, a SPVS (So-ciedade Portuguesa de Vida Selvagem)recebeu um alerta, através da Rede Abri-gos, sobre o arrojamento de um golfinhoa Norte da Praia da Vieira.

Fomos contactados pela bióloga Ma-risa Ferreira, da SPVS, que já estava acaminho do local com outros elementosda equipa da SPVS de Quiaios. Imedia-tamente saímos de Condeixa ao seu en-contro. Pelo caminho foram-nos forne-cendo indicações sobre o cetáceo, no-meadamente do seu estado de agitação,da sua frequência respiratória, reflexos,ferimentos, etc. A partir daí recomendá-

mos a administração de diazepam,para tranquilizá-lo, e fluidos por viaoral de modo a combater a desidrata-ção, visto tratar-se de um espéciemuito stressada quando em cativeiro,existindo mesmo um protocolo de tran-quilização permanente durante o pe-ríodo de recuperação.

Quando chegámos, um vasto disposi-

SalvadorMascarenhasMédico Veterinário

APESAR DOS ESFORÇOS, DESTA VEZ O FINAL NÃO FOI FELIZ

Golfinho recolhido em Quiaiosnão sobreviveutivo estava montado e uma carrinha daGNR já se preparava para transportar oanimal arrojado para o centro de recu-peração em Quiaios.

Verificou-se que se tratava de um gol-finho riscado (Stenella coeruleoalba),uma jovem fêmea com cerca de doismetros, a que foi dado o nome de “Lucy”(por ser esse o nome da senhora que aencontrou na praia)

Procedemos de imediato à recolha desangue para análises no local e a poste-riori, mas não sem antes avaliar o ani-mal, que parecia mais tranquilo, em bomestado de carnes e com uma respiraçãoquase normal, não se detectando nenhu-

ma doença respiratória. Mas a tempera-tura estava muito elevada, o que é con-siderado um risco imediato para a vidado animal, por isso foram colocadas maistoalhas molhadas a nível das barbatanase com um aspersor a água era perma-nentemente aspergida por cima da suapele e das barbatanas de modo a reduzira hipertermia que se sabe fatal. O trans-

porte decorreu sem incidentes de maior,a não ser uma paragem que teve de serfeita porque a água que era utilizada pararefrigerar a “Lucy” tinha esgotado.

Ao ser colocadao na piscina do cen-

tro de recuperação, a Lucy nadou quaseque normalmente, demonstrando equilí-brio que se foi normalizando até apre-sentar uma natação que considerámosnormal.

Tentou-se fazer a alimentação natu-ral, o que não funcionou, e então optou-se por alimentação forçada com peixe,aos quais adicionámos antibióticos e vi-taminas. Apesar da administração regu-lar de diazepam, a “Lucy” apresentavauma hiperactividade constante. As aná-lises indicaram lesões do foro hepático epor volta das 5 horas da manhã fomosalertados para que a Lucy teria sangueno estômago, pelo que se procedeu àadministração de medicamentos gastro-protectores. Durante mais de 24 horasela manteve-se relativamente estável,

mas ao fim do segundo dia, depois deuma tremenda agitação, a “Lucy” paroude respirar e apesar de todas as mano-bras para trazê-la de volta ela acaboupor sucumbir.

No dia seguinte procedeu-se à ne-crópsia e verificámos que tinha umagrande lesão hepática, embora as cau-sas imediatas da morte também, possamestar ligadas ao stress – uma situaçãoque é sobejamente conhecida como cau-sa de morte desta espécie de golfinhosque normalmente vive nas zonas maisprofundas e que são muito nervosos, sen-do difícil existirem em cativeiro por cau-sa disso.

Apesar do desfecho não ter sido feliz,ao contrário do que tem acontecido emanteriores situações, pensamos que todaos procedimentos executados demons-traram a melhoria da capacidade da uni-dade de recuperação da SPVS, apesarde todas as constrições de ordem eco-nómica existentes.

O golfinho a ser conduzido para Quiaios, envolto em toalhas molhadas

Apesar das primeiras reacções positivas quando colocada no Centroda SVP emQuiaios (na imagem) a “Lucy” acabaria por sucumbir um dia depois

Ao contrário do caso do golfinho que acima referimos,outros há que correm bem, tudo indicando que terão um des-fecho feliz. É o caso de uma foca cinzenta bebé, a que foidado o nome de Renato, recolhida em meados do passadomês de Janeiro, quando arrojou junto ao Porto de Leixões (comoo “Centro” então noticiou), tendo sido conduzida para Quiaios.

Pois a verdade é que “Renato” está a recuperar a toda avelocidade, chegando a atingir um peso que caminhava parao excesso, pelo que os biólogos da SPVS em Quiaios acha-ram por bem reduzir-lhe a dieta.

Perante esta notável recuperação, já está próximo o seuregresso ao habitat natural, como fora planeado.

Devido à escassez de meios, “Renato” deverá apanhar “bo-leia” num cargueiro ou pesqueiro espanhol que demande aságuas da Irlanda ou Inglaterra onde será solto para se juntaraos da sua espécie.

Mais um resultado estimulante para quem se empenhaneste trabalho de recuperação dos animais.

Foca “Renato” prepara-se para ter “alta” de Quiaios

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7DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 COIMBRA

A LUZE PORTUGUESA (LEILOEIRA) tem ao seu dispor na sua sede social, na Rua daPalmeira, Lote 3, 3040-792 Cernache, mobiliário diverso com salas de jantar, quartoscompletos, candeeiros, mesas, cadeiras, credenciais e outros. Electrodomésticosdiversos, televisões, máquinas de lavar, máquinas de secar, frigoríficos e fogões,artigos de restauração, computadores, máquinas fotocopiadoras, expositores, servi-ços de jantar completos e muitos outros artigos. Lotes de material escolar, papelariae livraria.Estamos abertos de segunda a sexta das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h00 e aossábados das 9h00 às 13h00. Na sua filial em Santana - Santiago do Litém, a 8 Km dePombal, poderá encontrar roupas, calçado de senhora, homem, criança e bebé, emestado semi-novo a partir de 50 cêntimos a peça.Temos também todo o tipo de velharias, sofás, máquinas de lavar, carrinhos de bebé,camas articuladas, bancos, estantes, entre muitos outros artigos.Aberto todos os sábados e domingos das 9h00 às 13h00 e brevemente leilõeson-line.

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VENDAS DIRECTAS TODOS OS DIAS

O Conselho da Cidade de Coimbra(CCC) tomou há dias uma posiçãopública relativa às condições dehigiene e limpeza da cidade- um tema que, aliás, tem merecidoqueixas, nos últim,os tempos,por parte de diversos munícipes.É o seguinte o teor do textodivulgado pela ComissãoExecutiva do CCC:

“O Conselho da Cidade de Coimbratemvindo a seguir de perto, e com natural preo-cupação, a circunstância de se estarem a de-gradar alguns aspectos relacionados com alimpeza e salubridade, com todas as conse-quências negativas que daí decorrem para oambiente e a qualidade de vida dos cidadãos.

Antes de tomar posição pública, entendeua Comissão Executiva do CCC questionaras entidades responsáveis por este sector.

Assim, reuniu com o Presidente da ER-SUC (Resíduos Sólidos do Centro SA), Al-berto Santos, com o Vereador que detémeste pelouro na Câmara Municipal de Co-imbra (CMC), Luís Providência, e com oProvedor do Ambiente, Massano Cardoso.

Na sequência destas reuniões, apurou-se que na Baixa e parte da Alta da cidade arecolha do lixo é da responsabilidade daCâmara Municipal, cabendo à ERSUC,nessas áreas, apenas a varredura e lava-gem das ruas.

Portanto, os problemas que se têm veri-ficado na recolha do lixo nas citadas zonas,nomeadamente a utilização, para o efeito,de viaturas de caixa aberta (com as amea-ças para a saúde pública daí resultantes),são imputáveis à autarquia. O Presidenteda ERSUC referiu ter já manifestado àCMC disponibilidade para a cedência deviaturas de substituição – o que, até ao mo-mento, não foi aceite.

O Vereador Luís Providência assumiuque as anomalias que se têm verificado de-correm de problemas mecânicos surgidossimultaneamente em várias das viaturas dosSUH (Serviços Urbanos de Higiene) daCMC utilizadas na recolha de lixo (viaturasque têm, em média, mais de 10 anos de ser-viço e mais de 400 mil km percorridos), peloque as oficinas municipais não têm tido ca-pacidade de resposta – e daí o recurso es-porádico às viaturas de caixa aberta, quereconheceu ser indesejável. Esclareceu queos serviços de substituição de viaturas pro-postos pela ERSUC teriam custos muito ele-vados, pelo que estão a ser equacionadasoutras medidas, embora sem descartar essahipótese.

Assim, anunciou que a CMC vai adquirirainda este anos duas novas viaturas para arecolha de lixo (uma grande e uma peque-na) e que recorrerá a oficinas externas quan-do as municipais não conseguirem dar res-posta a todas as avarias.

Confrontado com o rumor de que a Câ-mara Municipal iria deixar de fazer a distri-buição dos sacos de plástico para lixo amoradores e comerciantes do Centro His-tórico, Luís Providência afirmou que isso não

Conselho da Cidade quer Coimbra mais saudáveltinha qualquer fundamento, aproveitandopara anunciar que vai mesmo entrar em fun-cionamento um posto de distribuição dosreferidos sacos nas instalações onde até hápouco esteve o comando da PSP.

Relativamente aos ecopontos, foi escla-recido que eles são fornecidos pela ERSUC,a quem cabe também recolher os materiais

neles depositados. Contudo, a quantidade elocalização é da responsabilidade da Câma-ra Municipal. Neste momento existem, noMunicípio de Coimbra, 440 “vidrões”, 290“papelões” e 290 “embalões”. Muitos delestêm sido alvo de actos de vandalismo (so-bretudo incendiados), o que acarreta custoselevados de substituição. E se há quem sequeixe de que existem poucos, também sur-gem casos de moradores que protestam poreles estarem próximos das suas residênci-as. Por outro lado, nas zonas onde as ruassão estreitas não é possível a instalação deecopontos, porque são inacessíveis às via-turas de recolha.

Alberto Santos referiu que embora a re-colha seja feita regularmente, sempre quesurja um caso em que o ecoponto esteja cheiobastará entrar em contacto com a ERSUC(telef. 239 851 910) para se proceder à re-colha (sendo que esta, sobretudo a dos vi-dros, é feita durante o dia por causa do ba-rulho que provoca).

A Comissão Executiva do CCC confron-tou o Vereador Luís Providência com ou-tras questões, tendo obtido os seguintes es-clarecimentos: têm sido feitas desratizaçõescom regularidade, com recurso a uma em-presa especializada; os serviços municipaisde veterinária estão a estudar a forma dereduzir a colónia de pombas que cresce so-bretudo na Baixa da cidade, bem como mi-nimizar o problema dos cães vadios, recor-rendo à esterilização; vão ser feitas obrasno Centro Municipal de Recolha de Ani-mais, mas este já tem capacidade de res-posta para recolha de animais mortos ou fe-ridos (por exemplo, por atropelamento), comviatura adequada; a limpeza e manutençãodos espaços verdes de Coimbra tem mere-cido grande atenção da autarquia, de que éexemplo a intervenção em curso no Parquede Santa Cruz (Jardim da Sereia).

No encontro com o Provedor do Ambi-ente (a ocupar já as novas instalações noParque Dr. Manuel Braga), Massano Car-doso partilhou a grande preocupação pelasanomalias que têm afectado a recolha delixo, considerando-as inaceitáveis e suscep-tíveis de ameaçar a saúde pública.

Manifestou igualmente apreensão pela

qualidade do ar que se respira na cidade,anunciando que no início do mês de Marçoirá divulgar um estudo pormenorizado sobreesta matéria, identificando as zonas de Co-imbra onde a atmosfera está mais poluída.

Relativamente aos parques de estacio-namento subterrâneos, revelou que vai serfeito um estudo da qualidade do ar nos quefuncionam em Coimbra (dezena e meia),mas avançando desde já que as inalaçõesdos gases dos escapes são perniciosas aténas paragens que os veículos fazem juntoaos semáforos, pelo que nos parques sub-terrâneos essa inalação pode ser gravíssi-ma, nomeadamente para pessoas com pa-tologias respiratórias e cardíacas.

Após estas reuniões, a Comissão Exe-cutiva do CCC vem publicamente reiterar asua preocupação por anomalias, como asverificadas na recolha de lixo e nos parquesde estacionamento, que afectam a saúdepública e a qualidade de vida dos cidadãos.

Embora se congratule com a receptivi-dade das entidades acima referidas, e com

algumas medidas que nos foram anuncia-das, o Conselho da Cidade entende ser ne-cessário maior empenhamento e afectaçãode recursos para a resolução dos proble-mas que põem em causa o ambiente da ci-dade e a qualidade de vida dos cidadãos.

Entendemos ainda que seria desejáveluma melhor articulação entre as entidadesreferenciadas, resposta mais pronta aos aler-tas que vão sendo dados e maior respeitopelas solicitações e pelos pareceres da Pro-vedoria do Ambiente.

Paralelamente, consideramos que cabetambém aos munícipes zelar melhor pela suacidade. Contribuindo para que ela se con-serve mais limpa, usando de forma correc-ta os recipientes do lixo. Prevenindo os ac-tos de vandalismo, que não raro acontecempela passividade de quem os testemunha.Evitando o aumento da poluição da cidade,para o que bastará recorrer mais aos trans-portes públicos.

Coimbra, reconhecida em todo o Paíscomo “Cidade da Saúde”, não pode reivin-dicar apenas o prestígio que tal designaçãolhe confere. As suas diversas entidades pú-blicas e privadas, tal como cada um dos seuscidadãos, têm de assumir um comportamen-to que faça de Coimbra, também, uma ci-dade mais saudável”.

ENCONTROCOM O VEREADORLUÍS PROVIDÊNCIA

Entretanto, na última sessão plenáriado CCC, realizada na Casa Municipal daCultura na passada semana, decorreu umencontro como Vereador Luís Providên-cia, que é responsável, entre outros, pe-los pelouros da Saúde Pública e Espa-ços Verdes, Higiene e Limpeza.

Na reunião ficou a saber-se que, em-bora lutando com dificuldades orçamen-tais, a autarquia tem vindo a conseguirmelhorar o seu desempenho neste sec-tor. Foi também revelado que a CâmaraMunicipal está a analisar se vai ou nãorenovar o contrato de prestação de ser-viços celebrado com a ERSUC, que ex-pirará em breve, ou se encontrará alter-nativas.

Luís Providência, José Dias e Veiga Simão

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8 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007OPINIÃO

OU MATA OU MORRE

(…) O eleitorado de direita, o eleitora-do do CDS-PP, tem uma atracção naturalpelo PSD. Sempre que há instabilidadeno partido da direita, grande número demilitantes acolhe-se no PSD e sente-sebem aí. A primeira batalha de Portas vaiassim travar-se contra Marques Mendes,um líder fraco, mas que é formalmente olíder da oposição. Portas vai, sem o dizer,tentar ser a voz da alternativa à direita doPS. Marques Mendes e o PSD vão natu-ralmente sentir a pressão de Portas que,para tocar a reunir e ganhar novos eleito-res, precisa de afrontar o PSD. É umaguerra decisiva. Se o CDS não conseguirisso Portas vai de novo partir.

O PSD vai ter muito que pensar edecidir nos próximos tempos. Se deixarPortas à solta e prosseguir sem escolherum novo líder, com mais carisma, é evi-dente que Portas vai roubar muitos vo-tos ao PSD, que pode cair para posiçõesmais frágeis nas sondagens. Como querque seja, é claro que Portas faz aqui umajogada de tudo ou nada. Ou mata oumorre e vai jogar sem ases no baralho.

Emídio RangelCM 03/03/07

URGÊNCIAS

(…) São muitas urgências que hoje secolocam ao Governo. Não basta umaComunicação Social em grande medidadomesticada e servil, uma estratégia depropaganda meticulosamente trabalhada.A gravidade da situação é cada vez mai-or e pesem os louvores, muitos delesporque não se vê alternativa à vista, éurgente a tomada de decisões que ga-rantam que os sacrifícios de hoje têm umarecompensa amanhã. Não é possívelpedir tanto a tantos em troca de coisanenhuma. É que a tolerância tem limitese aquilo que agora se passou com asUrgências hospitalares é a prova prova-da de que não é possível fazer o que sequer. Nem as maiorias absolutas salvamum governo quando a injustiça emerge.

Estamos na véspera de um novo Qua-dro de Apoio da União Europeia. É o últi-mo e, possivelmente, a última oportuni-dade de Portugal poder arrancar defini-tivamente para patamares de desenvol-vimento de maior competitividade. Temde ser agora ou, então, não existem in-dignações que nos valham. Já não restamuito tempo para a propaganda e para o

tacticismo político. Para a mediocridadeinstitucionalizada e para a ignorância en-gravatada. Começa a ser urgente saberque existe um futuro de confiança para oPaís. Afinal de contas, para todos nós.

Francisco Moita FloresCM 26/02/07

NADA É PARA SEMPRE

Na política internacional, nada é parasempre. Veja-se o coronel Khaddafy,entrevistado pela BBC, a falar “do meubom amigo, Tony Blair” (e a prometer,apesar de desiludido com as “compen-sações” ocidentais, que não voltará nemao terror nem à pesquisa nuclear), veja-se o processo de paz irlandês, veja-se,há duas décadas, a reunificação alemã,e olhe-se agora, com olhos de ver, a visi-ta do vice-presidente da Coreia do Nor-te a Washington. Os EUA, como braço-armado da ONU (dos anos 50) continu-am num estado de guerra suspensa comPyongyang, mas a amizade está mesmoao dobrar da esquina. Se...

Nuno RogeiroCM 04/03/07

GRANDE ENTREVISTA/RTP

A entrevista, que Judite de Sousa fezao procurador-geral da República, foiuma enorme desilusão, em termos jor-nalísticos e em expectativas goradas. Oflop da entrevista não ocorreu por culpade Pinto Monteiro, antes pelo contrário,ficou a dever-se ao estilo justiceiro deJudite de Sousa. É pena que assim tenhasido e que a justiça tenha ficado à porta.Judite de Sousa, como excelente jorna-lista, sabe quais são as regras éticas edeontológicas da profissão. E porquesabe, não pode ser tendenciosa, nem as-sumir um papel parcial, citando e esma-gando, publicamente, até à exaustão,nomes de pessoas públicas, como se jáestivessem condenadas no chamado pro-cesso ‘Apito Dourado’. Ali não se pro-curou apurar a verdade, mas acusar, jul-gar e condenar na praça pública.

Felizmente, o PGR fugiu dessa tenta-ção de um quase assassinato público.Judite de Sousa tem a obrigação de sa-ber duas coisas essenciais para a suaprofissão: a primeira é que o estatuto dearguido, nada significa quanto à culpa dosvisados, sendo a única forma de melhorse defenderem e serem sujeitos de direi-tos e obrigações processuais; e a segun-da é que também se faz justiça arqui-vando processos por falta de provas.

Rui RangelCM 25/02/07

SERVIÇOS DE URGÊNCIA

(…) Quando o Sistema Nacional deSaúde foi criado - há muitas décadas -os portugueses tinham uma longevidadeinferior em talvez 15 anos, relativamen-te ao que têm hoje. E, sendo esses últi-mos 15 anos de vida de grande consumo

em termos de cuidados de saúde, os en-cargos subiram enormemente e Portu-gal não suporta o sistema tal como temfuncionado.

Por isso, é imperioso reformular e ra-cionalizar, evitando desperdícios e pro-curando a melhor aplicação dos recur-sos. Para uma maternidade funcionarcom elevados níveis de qualidade tem deter um razoável número de partos porano. Com as mulheres portuguesas a te-rem menos filhos e com as boas acessi-bilidades hoje existentes no país, é de-fensável que se procure ter menos emelhores maternidades.

Com a indisciplinada utilização de al-guns dos serviços de saúde, faz sentidoo pagamento de taxas moderadoras nosserviços de Urgência e mesmo em al-guns serviços de Consulta ou de Inter-namento, procurando-se assim uma mai-or racionalização da sua utilização. O quepoderá ser mais discutível na maioria dasintervenções cirúrgicas, pois, aparente-mente, só se submete a uma cirurgiaquem dela necessita.(...)

Luís PortelaJN 28/02/07

OS PROBLEMAS COM JARDIM

Portugal tem um problema com Alber-to João Jardim. Sou insuspeito para o di-zer, porque andei em bolandas com ohomem, de tribunal para recurso e derecurso para prescrição - um tribunal (doFunchal, claro) mandou-me pagar-lheuma indemnização choruda por ter ditoque o presidente do governo regional daMadeira era “um dos candidatos a pa-lhaço da política portuguesa”. Foi háanos, e entretanto já se lhe chamou coi-sa pior. E ele também abusou da língua.Outra instância mandou repetir o meu jul-gamento, por achar que o tribunal (doFunchal, claro) tinha exorbitado e errado.Ficámos por aí. Esta é a minha declara-ção de interesses andei em guerra com ohomem mas não sou de ressentimentos.

Isto não me impede de reconhecer queé suspeita a quase unanimidade nacionalcontra Jardim e a sua figura. A políticaportuguesa, que é classista e cheia decastas (ou de iluminados, ou de proprie-tários da República, ou de velhos terra-tenentes do carreirismo), odeia Jardim.Sinceramente, odeia Jardim não pelo queele tem feito na Madeira, mas pela suafigura. Enfim, é-lhe antipática aquela fi-gura de homem que come carapaus ebebe copos de ponche nas festas do Chãoda Lagoa. Também não lhe apreciam ostrajes em que o homem se passeava naAvenida Arriaga durante o Carnaval. Emúltima instância, invocam o défice, o or-çamento, a dívida e o orçamento. Masem primeiro lugar detestam Jardim porele ser como é.

(…)O facto é que Jardim incendiou a pe-

quena política portuguesa. O que a opo-sição queria que ele fizesse há muito, elefez voluntariamente - demitiu-se. Ele éum homem sem tempo para minudênci-

as, e devemos agradecer-lhe essa provade honestidade. Outros teriam feito con-tas mais complexas e calculado perdase danos. Certamente que Jardim o fez,mas o resultado seria o mesmo se a con-tabilidade lhe saísse furada. Não constaque tenha enriquecido com a política.Não consta que ande a fazer acordospara dormir com o inimigo.

Eu, que não gosto dele, reconheço-lhea rara coragem que anda a faltar há muitona política portuguesa a de afrontar osadversários. Na política doméstica, cheiade ademanes e salamaleques, todos têmde gostar de todos. Jardim não gosta detodos e não faz segredo disso. Elege ini-migos, adversários - e, estranhamente,até amigos. A unanimidade nacional dospensadores confortáveis em redor deJardim (atacando-o e escolhendo bem osadjectivos) faz-se espécie. Eles tambémconstruíram a figura de Jardim, tambéma desenharam. Se é para caírem, Jardimarrasta-os consigo. É bom que saibamque o homem não os deixa a rir pelascostas.

Francisco José ViegasJN 26/02/07

PAIS EM DIFICULDADE

(…) Alturas houve em que bastava umcurso superior, fosse ele qual fosse, paraque a sociedade respondesse oferecen-do um lugar e, com ele, uma posição ra-zoavelmente remunerada e socialmenteprestigiada correspondendo, frequente-mente, a uma oportunidade de carreiraprofissional duradoura. Entre uma diver-sidade de empresas (têxteis, de madei-ras ou de material eléctrico e electrome-cânico), algumas entidades de serviçospúblicos, a administração pública e o en-sino, tudo parecia compor-se para a cons-trução de uma vida estável, financeira-mente equilibrada e sem grandes riscosnem mudanças. Esta era uma vida com-patível com a aquisição da casa ou doandar que iria servir de base para quasetoda a vida, num quadro familiar relati-vamente previsível. A tarefa dos paisestava simplificada estudar muito e bem,de forma “certinha”, era a receita parao sucesso.

Hoje já não é assim. O mercado estácheio de jovens com licenciaturas e quesó a muito custo encontram um posto detrabalho. As empresas, grandes e peque-nas, multinacionais e nacionais, ofere-cem-lhes estágios não remunerados ouremunerados a preços inferiores aos dostrabalhadores domésticos não qualifica-dos, sem horário nem garantia de futuracontratação. O problema está longe deser português, o que não serve de gran-de consolo; ainda recentemente fui con-tactada por um grupo de jovens estagiá-rios em diversos países europeus queconstituiu uma rede internacional tentan-do identificar e combater de forma or-ganizada os abusos das empresas que oscontratam. E, de estágio em estágio, nãoé invulgar nos dias que correm ser-se“jovem” e financeiramente dependente

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9DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 OPINIÃO

até aos trinta e tal anos, deixando os paisnuma posição dificílima face às suasmelhores e mais fundadas expectativas.O Estado dispensa pessoal e paga malaos que ficam, as grandes empresas“emagrecem” e libertam mão-de-obra,muitas sociedades fecham e a seguran-ça social sobrevive arduamente comcada dia menos contribuintes e mais be-neficiários. (…)

Elisa FerreiraJN 25/02/07

CHOVE CHUVA

Já chegámos à Madeira? Não que nãochove tanto como em Santiago, nos Aço-res, ou no nosso penico do céu, vulgoBraga. Mas o que chove, e ainda bem,chove são lágrimas do céu, de amoresperdidos e abraços e beijos trocados. Seum dia os nossos corpos estiverem se-cos e esquálidos, quais vitelas desmama-das, isso não será bom sinal.

Viremos a ser julgados por esconderfontes, por atacar ribeiros e drenar rios.Teremos de andar a pé se não se apro-veitar a energia do fundo dos ventos eda crista dos mares; os nossos livros se-rão repetidos, que são folhas caídas dasárvores. Bastará um escândalo por pá-gina, uma vitória colorida por número, asnossas facturas serão enviadas pelo cor-reio, presas na rede, na Net. O dólar, parapoupar, deixará de ser papel moeda e nós,os de cá, gastaremos mais trocos, ficarátudo mais caro.(…)

Rui ReininhoJN 24/02/07

A VIRAGEM

(…) Convém, pois, recordar que há15 anos era em solo europeu que se re-gistava um conflito sangrento que cons-tituía uma ameaça à estabilidade de todoo continente. E que a cessação das hos-tilidades e a estabilização dos Balcãsocidentais só foram possíveis graças àintervenção e empenhamento dos Esta-dos Unidos da América, então lideradospor Bill Clinton, quer negociando com aspartes em confronto os Acordos deDayton, quer organizando a missão daNATO que foi desenvolvida na Bósnia.Esta seria, assim, a primeira “missãoreal” da NATO, ou seja, a primeira oca-sião de efectivo empenhamento de for-ças da Aliança Atlântica, no quadro deuma missão de paz e humanitária e forada sua área de intervenção, ou seja, forado quadro de defesa do território dosseus Estados membros.

Portugal, enquanto país fundador daAliança Atlântica, não poderia ficar àmargem desta missão, tanto por ra-zões políticas como por razões morais.Mas as motivações de fundo da deci-são de participar nesta missão daNATO não foram apenas as que re-sultam da natural solidariedade quedeve caracterizar as relações entrepaíses aliados. Com efeito, a decisãode integrar a IFOR representou, tam-bém, o retorno de Portugal ao cenário

europeu donde estava ausente em ter-mos de presença militar desde a Pri-meira Guerra Mundial e nessa precisamedida constituiu um poderoso e ine-gável impulso modernizador do Exér-cito Português.

Em certa medida pode-se dizer que,com a decisão de participar na missãode paz na Bósnia, se deu uma viragemimportante no nosso posicionamento in-ternacional. Do mesmo modo estabele-ceu-se uma linha de demarcação claraentre uma visão conservadora do papele da estrutura das Forças Armadas, an-corada na defesa do território nacional ena realização de missões externas ape-nas no con- texto africano historicamen-te bem conhecido dos portugueses (asex-colónias) e uma visão transformado-ra e modernizadora da instituição militar,baseada na projecção de forças, na in-tervenção em teatros de operações eu-ropeus ou limítrofes e cada vez mais vo-cacionada para acções conjuntas e com-binadas. (…)

António VitorinoDN 01/03/07

A INTELIGÊNCIA E O CORAÇÃO

(…) Há muito adoptei a categoriados inteligentes do coração para en-contrar e definir os melhores. Não meespantou nada quando a questão foi,por fim, cientificamente tratada a par-tir dos Estados Unidos (como não po-dia deixar de ser!...), acabando com omito da dicotomia sentimentos/pensa-mentos, razão/coração, intelectual/emocional.

QI e QE tornam-se, assim, as duascomponentes mesuráveis e dois elemen-tos essenciais de caracterização de qual-quer ser humano.

A inteligência emocional - ou seja, acapacidade para expressar e manejar ossentimentos - passa a ser tão importantee tão indispensável como a inteligênciaacadémica.

(…)Na política, a aplicação desta nova

onda vai ser no mínimo surpreendente.Aos políticos vai ser exigido que gostem- de verdade - das pessoas. Que falem -de verdade - com as pessoas. Que inter-venham - com verdade - em nome daspessoas. Que agreguem e não separem.Que sejam firmes mas não violentos. Quesejam fortes mas vulneráveis. Que te-nham inteligência com sentimentos. E odemonstrem.

Talvez que em breve todo o esforçocénico em que tantos políticos se des-gastam se revele inútil. E a excessivamediatização, contraproducente. E sejapreciso rever tudo de novo.

Deve ser por isso que se reconhecehoje, de forma mais explícita, a utilidadedas mulheres na política.

Sobretudo das mulheres que sobre-viveram sem conter o riso ou as lá-grimas.

Maria José Nogueira PintoDN 02/03/07

REINVENTAR O PRESENTE

Aqui entre nós, onde ninguém nosouve: anda muito chata a esquerda porestes dias. Do outro lado do mar, Fidel eChávez trocam risadas e very wells, masa anedota não tem graça nem ao longe.A ditadura cubana é o que é e o chavis-mo venezuelano não é nada de muito di-ferente: no mínimo, um folclorismo peri-gosíssimo de óbvios contornos autocrá-ticos. Ali perto, no Brasil democrático,Lula da Silva, reconduzido mas desen-cantado, declara-se “centrista” e diz quea es- querda é só para a juventude...

Do lado de cá do mar, a terceira viade Blair vai tentando sair de mansinho,mas tudo indica que a despedida final há-de ser pela porta pequena. O grande errofoi a guerra do Iraque - um pecado “di-reitista”, digamos -, no entanto o que ficaé o “saldo negativo” do conjunto. EmEspanha, Zapatero tem revelado forçaquanto baste, mas um ideário baseadoem “causas fracturantes” configura, con-venhamos, uma desilusão. Em Itália, Pro-di vê-se em apuros para manter unida acoligação que segura o Governo. E, emFrança, Ségolène Royal - que Edu- ardoLourenço vê como a imagem de “umaoutra versão, menos automática da ‘re-presentação’ popular, menos funcionáriae centralista” - revelou já algumas hesi-tações e parece ainda não ter acertadobem o discurso.

Por cá, a esquerda também dá mostrasde estar um pouco perdida (ou demasiadoconfortável?) entre a demagogia fácil e acassete passadista, por um lado, e o cin-zentismo modernaço, por outro. (…)

Jacinto Lucas PiresDN 02/03/07

JARDIM ZOOLÓGICO

Jardim não é um animal político. Étodo um zoológico. O maior dinocama-leão da nossa praça. As suas estratégi-as vão da intimidação à vitimização. Numápice, passam das exigências ao conti-nente à insinuação da independência. AMadeira tanto é bem sucedida quanto écarenciada. Para Jardim, basta juntarágua. Instantâneo. Quando lhe convém,exibe o PIB e brada que a Madeira é umêxito. Só não diz que esse PIB é um ba-lão cujo ar sopra do offshore. Quandolhe dá jeito, garante que a Madeira pre-cisa de investimento e que os cubanos aasfixiam. A ilha tem dos concelhos maispobres de Portugal, apresenta 18% dedesemprego e gravíssimas assimetri-as. Este jogo do gato e do rato foi re-sultando. Agora, a Europa e a Repú-blica decidiram-se por um dos papéise assumiram que a Madeira é abasta-da. Alto e pára o baile. Jardim, quesempre gastou como se não houvesseamanhã, demite-se. Procura benefici-ar do nó duplo por si criado e aindamata vários coelhos de uma cajadadasó. (…)

Joana Amaral DiasDN 26/02/07

:DEPOIS DO REFERENDO,O QUÊ?

(…) Já em debate publicado neste jor-nal em 2 de Janeiro, disse que não que-ria ver a mulher em tribunal nem sujeitaa punição penal. Mas acrescentei que,se o “sim” vencesse, o Estado deveriadar um sinal de estar a favor da vida, elembrei a lei alemã. Na noite dos resul-tados, o primeiro-ministro declarou, lou-vavelmente, que, na feitura da lei, se aten-deria às boas práticas de outros países,e, ao longo da campanha, muitos lem-braram precisamente o ordenamento ale-mão. Na Alemanha, para poder abortarlegalmente, na situação de necessidadee conflito, a mulher, sem prejuízo da suaautonomia, terá de apresentar um com-provativo de que passou por um centrode aconselhamento (Beratungsstelle).Evidentemente, estes centros devem serplurais e reconhecidos. A não ser queprove que os seus rendimentos não che-gam a certo limite, as custas do aborta-mento ficam a cargo da utente.

Relembro o penalista Jorge Figueire-do Dias: “O Estado (...) não pode exi-mir-se à obrigação de não abandonar asgrávidas que pensem em interromper agravidez à sua própria sorte e à sua de-cisão solitária (porventura na maioria doscasos pouco informada); antes deve as-segurar-lhes as melhores condições pos-síveis de esclarecimento, de auxílio e desolidariedade com a situação de conflitoem que se encontrem. Sendo de anotarneste contexto a possibilidade de vir aser considerada inconstitucional a omis-são do legislador ordinário de proporcio-nar às grávidas em crise ou em dificul-dades meios que as possam desincenti-var de levar a cabo a interrupção.”

Ao longo da campanha houve consen-so em reconhecer que todos são a favorda vida e que objectivamente o aborta-mento é um mal. De facto, se, por umlado, dificilmente alguém poderá dizer queaté às dez semanas o abortamento é umhomicídio, por outro, não se pode negarque destrói um ser vivo da espécie hu-mana.

É, pois, obrigação do Estado ajudar naprevenção, atacando as causas que le-vam ao abortamento, sendo igualmenteda sua responsabilidade fiscalizar even-tuais clínicas privadas e os seus negóci-os. Impõe-se a educação sexual, consul-tas de planeamento familiar, apoio às grá-vidas, políticas coerentes a favor da na-talidade e da família.

Anselmo BorgesDN 25/02/07

Page 10: O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

10 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007LIVROS

LANÇAMENTO AMANHÃ EM COIMBRA

“Memórias” de Edmundo Pedro“Memórias - Um Combate pela Liber-

dade”, é o título do livro da autoria deEdmundo Pedro que vai ser lançadoamanhã (quinta-feira, dia 8), pelas 18,30horas, na Casa Municipal da Cultura deCoimbra.

A apresetanção será feita por Antó-nio Arnaut e António Campos.

Edmundo Pedro, que estará presenteno lançamento, tem 88 anos e é o únicosobrevivente do Campo de Concentra-ção do Tarrafal (em Cabo verde), ondeesteve preso vários anos apenas por lu-tar pela liberdade.

O livro agora lançado, editado pelaArcádia, é um notável testemunho histó-rico do que foi o duro combate de muitoshomens e mulheres contra a Ditadura edas suas consequências.

Uma obra a não perder, e uma apre-sentação a não faltar.

“… nascido em Coimbra, apesar demuitas vezes ser obrigado a ter outrosdocumentos que me davam nascido emoutros lados. Mas sempre português,sempre ligado ao meu país e com muitoamor pela minha terra, Coimbra…”

Esta uma das afirmações de ÁlvaroCunhal que podem ler-se em livro recen-temente editado, com a transcrição deuma entrevista concedida a Maria Va-lentina Paiva, nos estúdios da Rádio Bra-gança (RBA), a 21 de Fevereiro de 1997.

O livro intitula-se “Álvaro Cunhal - aocanto do espelho”, já que era essa a de-signação genérica do programa de en-trevistas da responsabilidade de MariaValentina Paiva. A obra, de excelentequalidade gráfica e acompanhada por umCD com a gravação da entrevista, foieditada pela “Calendário”, uma editoracriada há pouco tempo, mas que surgeauspiciosa, atendendo à originalidade eao cuidado notório nas obras que já pu-blicou.

Quanto à entrevista que dá corpo a estelivro (ilustrado com diversas imagens sim-bólicas, desde brinquedos artesanais atéícones comunistas), é de registar que elafoi distinguida, em 1997, com o “1º Pré-mio da Associação de Rádios de Inspira-ção Cristã (ARIC)”.

QUANDO MATARUMA ANDORINHAFOI UMA DAS GRANDESLIÇÕES DA VIDA

Mas voltemos, então, à conversa fran-ca de Álvaro Cunhal agora fixada nestelivro, e onde o carismático líder comunis-ta faz algumas revelações inéditas sobresi mesmo – coisa rara, pois é conhecidoo secretismo que sempre caracterizou asua vida pessoal.

REVELAÇÕES NA PRIMEIRA PESSOA EM LIVRO DE NOVA EDITORA

Álvaro Cunhal “ao canto do espelho”Data de nascimento?“10 de Novembro de 1913, na Estra-

da da Beira, Coimbra, Freguesia da SéNova”.

Recorda que foi para Seia ainda pe-queno, e ali esteve até aos 11 anos, comas brincadeiras na neve e as outros quehavia na altura, o berlinde, o jogo dosbotões..

“(…) lembro-me que os moços mui-tas vezes iam aos pássaros com fisgas,e eu tinha um tio que era caçador e tinhauns primos que eram da minha idade. Eele arranjou uma fisga para irmos aospássaros. Eu cometi o erro de experi-mentar a fisga mandando uma pedradapara as andorinhas que andavam no ar.Calhou matar uma andorinha. (…) Umadas grandes lições da minha vida. O meupai – que era um homem muito íntegro,muito sério, muito honesto, compreen-dendo o seu papel educativo de uma for-ma que nucna esqueci ao longo dos anose que sempre me auxiliou – chamou-mea atenção para o erro que tinha cometi-do. E portanto na minha memória ficousempre, em termos de brincadeiras in-fantis, de jogos de caça aos pássaros, derespeito pela vida animal, ficou sempreessa grande lição que eu tive. E tambémuma outra ideia importante para a minhavida: é que se deve reconhecer os errose corrigir. Talvez devesse recordar coi-sas mais alegres: o jogo da bilharda, asamoras comidas em excesso nas silvei-ras, toda aquela vida que têm as crian-ças numa serra”.

LISBOA-PORTO EM BICICLETA

Mais adiante, quando questionado so-bre os companheiros de infância ou ju-ventude que mais o marcaram, Cunhalresponde, a dado passo:

“(…) Tenho ainda hojee amigos dejuventude de há mais de meio século.Por exemplo, Óscar Lopes, que é umescritor e crítico conhecido, foi meu com-panheiro de escola, de universidade, e foisempre um amigo e companheiro a atéum camarada meu, durante mais de 50anos. (…) Mas tenho tantos amigos , etão grandes amigos de muitos anos, quereferir um ou outro seria uma grande in-justiça em relação a outros”.

Sobre os desportos que praticou:“(…) Pratiquei muitos. Atletismo –

corrida, saltos, lançamentos. Patinagem,futebol… Praticava desporto e muita gi-nástica. E até posso dizer que pratiqueioutros ‘desportos’, que ponho entre co-mas – e parece que é a brincar chamar-lhes desportos. Tive épocas na minhavida – e na de outros camaradas meus,que lutámos na clandestinidade, no tem-

po da ditadura – em que fazíamos gran-des marchas a pé, dezenas e dezenas dequilómetros. (…) Houve, por exemplo,uma época em que os militantes clan-destinos utilizavam as bicicletas. E hou-ve militantes – eu fui um deles – quecorreram o país de bicicleta. Fazer Lis-boa-Porto de bicicleta, eu fiz e outros fi-zeram. Era um desporto forçado, é cer-to, mas sempre se dava às pernas, comose dizia. Desporto sim. Faz muita falta àjuventude e não só à juventude. O des-porto é uma grande prática. Refiro des-porto. Não refiro a comercialização dodesporto, que hoje se observa em algunssectores e desportos magníficos, comoé o exemplo do futebol”.

Estas são apenas algumas passagensdo início deste interessante livro, que re-vela facetas desconhecidas de ÁlvaroCunhal.

Dois livros de poesia e um de re-flexões críticas da autoria do direc-tor regional da Cultura do Centro, An-tónio Pedro Pita, foram lançados napassada semana em Coimbra.

Na obra em prosa, intitulada “Oaprendiz do mundo e outros fantas-mas”, o professor da Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra(FLUC) divulga “um conjunto de re-flexões críticas e ensaísticas sobre asgrandes questões do Homem e dacultura contemporânea”, abordandotemáticas como a sociedade mediá-tica e as políticas culturais.

“Melancolia dupla” e “Quem dasombra nada sabe” são os títulos das

Lançados três livrosde António Pedro Pita

obras de poesia que, segundo o autor,reúnem poemas “já bastante antigos”.

O escritor publicara já dois livrosde poemas, em 1983 e em 1985.

Professor do Instituto de EstudosFilosóficos da FLUC, António Pe-dro Pita é o Director Regional daCultura do Centro desde Julho de2005.

Os três livros, editados pela Pé dePágina Editores, foram lançados emsessão muito concorrida, no TeatroAcadémico de Gil Vicente. A apre-sentação esteve a cargo das profes-soras Clara Rocha (UniversidadeNova de Lisboa) e Rosa Alice Bran-co (da Universidade do Porto).

POESIA E REFLEXÕES CRÍTICAS

A mesma editora do livro sobre Cu-nhal a que acima fazemos referência, a“Calendário”, vai lançar no próximo sá-bado (dia 10), em Coimbra, a obra de JorgeSeabra intitulada “O Cão Andaluz”.

O lançamento decorrerá na Cantinado Pólo II da Universidade, pelas 16,30horas-

estando a apresentação a cargo deAntónio Pedro Pita, Director Regionalda Cultura do Centro e Professor daFaculdade de Letras, e de Manuela Cru-zeiro, investigadora do Centro de Docu-mentação 25 de Abril da Universidadede Coimbra.

Ao lado o autor e a capa do livro queagora vai ser lançado.

JORGE SEABRA LANÇA LIVRO EM COIMBRA

“O cão andaluz”

Page 11: O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

11DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 DIA DA MULHER

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8 DE MARÇO - DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Nesta data tão especial(e recordando a Mãe que não conheci),desejo a todas as Mulheresum dia feliz!

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8 de MarçoDia Internacional

da Mulher

A lenda do Dia Internacional daMulher como tendo surgido na se-quência de uma greve, realizadaem 8 de Março de 1857, por tra-balhadoras de uma fábrica de fi-ação ou por costureiras de calça-do - e que tem sido veiculada pormuitos órgãos de informação - nãotem qualquer rigor histórico, em-bora seja uma história de sacrifí-cio e morte que cai bem comomito.

Em 1982, duas investigadoras,Liliane Kandel e Françoise Picq,demonstraram que a famosa gre-ve feminina de 1857, que estariana origem do 8 de Março, pura esimplesmente não aconteceu (1),

não vem noticiada nem mencionadaem qualquer jornal norte-americano,mas todos os anos milhares de orgãosde comunicação social contam a his-tória como sendo verdadeira («Umamentira constantemente repetidaacaba por se tornar verdade»).

Verdade é que em 1909, um grupode mulheres socialistas norte-ameri-canas se reuniu num “party’, numajornada pela igualdade dos direitoscívicos, que estabeleceu criar um diaespecial para a mulher, que nesse anoaconteceu a 28 de Fevereiro. Ficouentão acordado comemorar-se estedia no último domingo de Fevereirode cada ano, o que nem sempre foicumprido.

A fixação do dia 8 de Março ape-nas ocorreu depois da 3ª Internacio-nal Comunista, com mulheres comoAlexandra Kollontai e Clara Zetkin.A data escolhida foi a do dia da ma-nifestação das mulheres de São Pe-tersburgo, que reclamaram pão e oregresso dos soldados. Esta manifes-tação ocorreu no dia 23 de Fevereirode 1917, que, no Calendário Gregori-ano (o nosso), é o dia 8 de Março.Só a partir daqui, se pode falar em 8de Março, embora apenas depois daII Guerra Mundial esse dia tenha to-mado a dimensão que foi crescendoaté à importância que hoje lhe damos.

A partir de 1960, essa tradição re-começou como grande acontecimen-

to internacional, desprovido, poucoe pouco, da sua origem socialista.

(1) Se consultarmos o calendá-rio perpétuo e digitarmos o ano de1857, poderemos verificar que o 8de Março calhou a um domingo,pelo que nunca poderia ter ocorri-do uma greve nesse dia de descan-so semanal.

Pesquisa efectuada por Maria LuísaV. Paiva Boléo

Uma data com origem polémicaLENDA OU REALIDADE?

Apesar destas dúvidas, a verdadeé que se convencionou que 8de Mar-ço fosse o Dia Internacional da Mu-lher. E é justo que haja ao menos umdia no ano que lhe seja dedicado.

Page 12: O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

12 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007DIA DA MULHER

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“Pobres mulheres! Elas são-nosbem inferiores [...] pela anatomia dosossos e dos músculos e pela consti-tuição do cérebro. Elas têm a cabeçamais pequena, como as raças inferio-res, têm os movimentos centrípetos,abotoam os vestidos para a direita, nãosabem compor óperas, e nunca che-gam a entender a matemática”.

Assim escrevia Ramalho Ortigão,convictamente, sem pretender ser iró-nico, no último quartel do séc. XIX!...

Mas estas “farpas” machistas nãoeram monopólio de Ramalho.

Também Oliveira Martins reclama-va, pela mesma altura:

“Em vez de se fazerem doutoras,neste nosso modo de ver fóssil e bár-baro, era melhor fazerem-se caixei-ras, fazerem-se compositoras, faze-rem-se boticárias, fazerem-se tudo,menos essa ridícula contrafacção dehomens”

A verdade é que se espanta a ru-deza destas afirmações, igualmentesurpreende o que Maria Amália Vazde Carvalho sustentava, já quase nofinal desse século:

“A mulher, graças à sua inferiori-dade social, graças à tradição que atem posto fora da esfera em que setrabalha e se versam os altos proble-mas da ciência, graças à sua depen-dência da casa familiar, tem-se con-servado longe da tortura, cada vezmais requintada, que a instrução mo-derna impõe ao indivíduo do sexo mas-culino”.

Perante tudo isto, não é estranhoque nessa época (mais concretamen-te em 1891) tenha sido encaradacomo quase escandalosa ousadia amatrícula da primeira mulher na Uni-versidade de Coimbra. A pioneira cha-mava-se Domitília Hormezinda de

a maioritárias na UniversidadeDe “pobres mulheres inferiores

Carvalho, que viria a notabilizar-se nãosó pelos três cursos que frequentouna Universidade de Coimbra, mastambém pelo seu trabalho em prol daeducação das mulheres, na defesa dacriação do primeiro Liceu feminino, eainda pela actividade política, tendopertencido ao grupo das três primei-ras deputadas do Estado Novo. De-pois das licenciaturas em Matemáti-ca (1894) e Filosofia (1895), concor-re ao lugar de astrónoma no Obser-vatório D. Luís I. O lugar não lhe éatribuído por ser mulher, apesar de ter

ficado em primeiro lugar. Decide en-tão seguir Medicina (1904) aprovei-tando as cadeiras comuns dos primei-ros anos dos outros cursos.

O exemplo de Domitília de Carva-lho é tanto mais meritório quanto écerto que a própria legislação entãovigente condicionava os direitos dasmulheres. O Código Civil Português(de 1867), atribuía ao marido a obri-gação de protecção e defesa, caben-do à mulher o dever de obediência, eretirando-lhe toda a autonomia na ad-ministração dos bens familiares. Mui-

to curioso, e elucidativo, é o artigo1.187 do referido Código, segundo oqual “A mulher autora não pode pu-blicar os seus escritos sem o consen-timento de marido, mas pode recorrerà autoridade judicial em caso de in-justa recusa dele”…

A seguir a Domitília de Carvalho,outras mulheres decidiram matricular-se na Universidade.

E hoje elas estão em maioria emquase todos os cursos de quase todasas Universidades do País, numa tendên-cia sempre crescente.

Aqui ainda são caloiras, iniciando um curso superior. Mas dentro de poucos anos elas estarão na vida activaa dar o seu inestimável contributo para o desenvolvimento da sociedade em que vivemos

Page 13: O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

13DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 DIA DA MULHER

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1867- Primeiro Código Civil, que melhorou a situação das mulheres em relação aosdireitos dos cônjuges, aos filhos, aos bens e sua administração.

1910- É admitido o divórcio (Decreto de 3 de Novembro de 1910), com igualacesso para ambos os cônjuges. Novas leis de casamento e filiação assentes naigualdade entre homens e mulheres. A mulher deixa de dever obediência ao marido.

O crime de adultério passa a ter o mesmo tratamento quando cometido por mulhe-res ou homens.

1911- As mulheres adquirem o direito de trabalhar na função pública.1913– 1ª mulher licenciada em Direito.1918– O Decreto nº4876, de 17 de Julho de 1918, autoriza o exercício da advoca-

cia às mulheres1931– Reconhecimento do direito de voto às mulheres diplomadas com cursos

superiores ou secundários (Decreto com força de lei nº19 694, de 5 de Maio de 1931).1933- Constituição do “Estado Novo”, que estabelece a igualdade dos cidadãos

perante a lei, “salvas, quanto à mulher, as diferenças resultantes da sua natureza e dobem da família” (artigo 5º).

1935- Primeiras deputadas à Assembleia Nacional: Domitila de Carvalho, MariaGuardiola e Maria Cândida Parreira.

1966– Ratificação Convenção nº100 da OIT, relativa à igualdade de remuneraçãoentre mão-de-obra feminina e masculina para trabalho de valor igual.

1967- Entrada em vigor do novo Código Civil.1968 – lei nº2137, de 26 de Dezembro de 1968, proclama a igualdade de direitos

políticos do homem e da mulher.1969 – introdução na legislação nacional do princípio “salário igual para trabalho

igual” ( DL n.º 49 408, nº2, de 24 de Novembro).1974- Diplomas que permitem o acesso das mulheres à magistratura e à carreira

diplomática (Decreto-Lei n.º 251/74, de 12 de Junho, e Decreto- Lei n.º 308/74, de 6de Julho, respectivamente).

O Decreto-Lei n.º 621/A/74, de 15 de Novembro, definiu a capacidade eleitoralactiva para a Assembleia Constituinte, sem distinguir quanto ao sexo.

Primeira mulher ministra: Engª Maria de Lourdes Pintassilgo.1975– Ano Internacional da Mulher. Elaboração de um levantamento e denúncia

das discriminações contra as mulheres e consequentes propostas de legislação. 1976

Datas e factos importantes para a Mulher portuguesa– Entrada em vigor da nova Constituição, que estabelece a igualdade entre homens emulheres em todos os domínios.

1977- Institucionalização da Comissão da Condição Feminina.1978– Entrada em vigor da revisão do Código Civil ( DL n.º 496/77, de 25 de

Novembro). A mulher deixa de ter estatuto de dependência para ter estatuto de igual-dade com o homem.

1979- Entrada em vigor do DL nº392/79, de 20 de Setembro, que visa garantir àsmulheres a igualdade com os homens em oportunidades e tratamento no trabalho e noemprego. Primeira mulher nomeada para o cargo de Primeiro-Ministro: Engª Maria deLourdes Pintassilgo.

1980– Portugal ratifica a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas deDiscriminação contra as Mulheres – II Conferência da ONU para a Década da Mulher.

1983– Entrada em vigor do Código Penal (DL nº400/82, de 23 de Setembro). Sãointroduzidas importantes alterações, nomeadamente, no que diz respeito a maus-tratosentre cônjuges, subtracção de menores.

1984- Lei da Protecção da Maternidade e da Paternidade (Lei 4/84, de 5 de Abril).Exclusão da ilicitude em alguns casos de interrupção voluntária da gravidez (Lei nº6/84, de 11 de Maio).

1986 – Aprovação do II Programa Comunitário sobre a Igualdade.1988 - Garantia dos direitos das Associações de Mulheres (Lei n.º 95/88, de 17 de

Agosto).1990 - DL n.º 330/90, de 23 de Outubro aprova o novo Código da Publicidade. É

proibida a publicidade que contenha qualquer discriminação em virtude do sexo.1991 - Entrada em execução do III Programa de Acção Comunitário sobre a Igual-

dade de Oportunidades entre Mulheres e Homens.1993 - Uniformização da idade de reforma para as mulheres aos 65 anos ( DL n.º

329/93, de 25 de Setembro).1994 - Resolução do Conselho de Ministros n.º 32/94, de 17 de Maio, sobre a

promoção da igualdade de oportunidades para as mulheres.1995 - Revisão do Código Penal ( DL n.º 48/95, de 15 de Março) - agravação das

penas dos crimes de maus tratos do cônjuge, violação.1996 - Criação do Alto Comissário para as Questões da Promoção da Igualdade e

da Família ( DL n.º 3-B/96, de 26 de Janeiro).- Aprovação do IV Programa Comunitário sobre Igualdade de Oportunidades entre

Mulheres e Homens (1996-2000) - Decisão do Conselho de 22 de Dezembro de 1995.1997 - Resolução do Conselho de Ministros n.º 49/97, de 24 de Março, que aprova

o I Plano Global para a Igualdade.- Reforço dos direitos das Associações de Mulheres (Lei n.º 10/97, de 12 de Maio).- Lei Constitucional n.º 1/97, de 20 de Setembro, que considera como tarefa funda-

mental do Estado a promoção da igualdade entre homens e mulheres, e estabelece oprincípio da não discriminação em função do sexo no acesso a cargos políticos.

- Alargamento dos prazos de exclusão da ilicitude nos caos de interrupção voluntá-ria da gravidez (Lei n.º 90/97, de 30 de Julho).

- Lei n.º 105/97, de 13 de Setembro, que prevê um regime, aplicável a entidadespúblicas e privadas, que visa garantir a efectivação do direito dos indivíduos de ambosos sexos à igualdade de tratamento no trabalho e no emprego. Este diploma contém adefinição de “discriminação indirecta”.

- Decreto Legislativo Regional n.º 18/97/A, de 4 de Novembro ( Região Autónomados Açores), cria a Comissão Consultiva Regional para a Defesa dos Direitos dasMulheres.

1999 - Criação do Ministério da Igualdade.

Page 14: O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

14 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007EDUCAÇÃO / ENSINO

Celeste Duarte *

Cada vez mais afinada, “a máquinadestruidora da Administração Pública”,menina dos olhos do governo de Sócra-tes, prossegue o desmantelamento dosServiços Públicos, ignorando tudo e to-dos. Fecha Centros de Saúde, Urgênci-as, Postos da GNR e Esquadras de Polí-cia, Tribunais, Escolas e, já se fala por aí,algumas freguesias. Sobreviverão, talvez,alguns poucos serviços assistencialistaspara os mais “pobrezinhos”, conformetradição dos “velhos tempos”.

É o País a “fechar” a um ritmo assus-tador, antevendo-se facilmente para bre-ve o aumento dramático de mais umasdezenas de milhar de desempregados eo agravamento da qualidade de vida dosportugueses de mais fracos recursos.

A Saúde, a Justiça, a Segurança e aEducação serão privilégios de quem pu-der pagar.

Iniciado já no ano lectivo passado, oencerramento de Escolas do 1.º Ciclo,

discrimina de forma evidente as crian-ças e as famílias que vivem e trabalhamfora dos centros urbanos e em especialas das regiões do interior que sofrem jáuma notória desertificação e, deste modo,caminham aceleradamente para o seufim.

É com alguma amargura que estaspopulações vêem o seu dia-a-dia cadavez mais difícil e as condições de acessodos seus filhos à educação cada dia maisdeterioradas.

A deslocação quotidiana das criançasobrigadas a viagens longas, muitas ve-zes sem o cumprimento das regras míni-mas de segurança, provoca inevitavel-mente o seu desenraizamento das comu-nidades em que vivem, prejudicando deforma clara a qualidade da sua educa-ção e do seu sucesso educativo.

Sócrates e o Ministério da Educação,deslumbrados com a sua “missão”, avan-çam com o encerramento de mais esco-las, escudando-se em critérios meramen-te administrativos, ignorando por comple-to as Cartas Educativas, recentementeaprovadas pelos Municípios, e, sem que-rer ouvir os argumentos e anseios dascomunidades educativas, preparam-seagora para encerrar todas as escolas commenos de vinte alunos, sem se preocu-parem, minimamente, com as condições

necessárias, nomeadamente de desloca-ção, acolhimento, refeições...

A prova do total desrespeito pelos alu-nos, pais, autarcas e comunidade educa-tiva, em geral, é o facto de algumas es-colas a encerrar serem frequentadas poralunos já deslocados de outros estabele-cimentos que verão agravado o seu tem-po de deslocação e serão submetidos anovo processo de integração em mais umcontexto escolar.

Até ao final deste ano lectivo, acres-cendo à 1500 encerradas em ano anteri-or, este governo pretende encerrar mais900 escolas do 1.º Ciclo, 600 das quaisna Região Centro. Em apenas dois anosesta região vê desaparecer 50% das es-colas do 1.º Ciclo, sem que isso tenhatrazido vantagens para as crianças queviram a sua escola fechar. Bem pelocontrário.

Naturalmente que se reconhece a ne-cessidade de um verdadeiro ordenamen-to da rede escolar, mas nunca por esteprocesso que, de forma cega, obedecendomeramente a “números”, é feito com odesprezo total pelas opiniões e anseiosdas entidades locais e das populações.

Assim não! É tempo de dizer BASTA!

O Exterminador Implacável…e o encerramento de escolas!

* Professora do 1.º Ciclo do Ensino Básicoe Dirigente do SPRC/FENPROF

Tomaram posse na passada semanaos primeiros corpos gerentes da Associ-ação de Antigos Alunos, Professores eFuncionários do Liceu D. João III / Es-cola Secundária José Falcão, recente-mente eleitos.

A cerimónia decorreu num dos anfi-teatros da referida Escola, tendo come-çado por assumir funções o Presidenteda Mesa da Assembleia Geral, Rui Alar-cão, que depois empossou os restanteselementos.

A composição dos corpos gerentes éa seguinte:

Mesa da Assembleia Geral: Presi-dente – Rui Alarcão; Vice-Presidente– Jorge Veiga; Secretário – Jorge Cas-tilho; Suplente – Maria Augusta Reis.

Direcção: Presidente – PalmiraAlbuquerque; Vice-Presidente – Vic-toriano Nazareth; Secretário – JoãoCarlos Ramos de Carvalho; Tesourei-ra – Maria Fernanda Fonseca; Vogal –Reinaldo Eloi Oliveira; 1.º Suplente –Nuno Manso Ribeiro; 2.º Suplente –Maria Judite Seabra

Conselho Fiscal: Presidente – Al-fredo Castalheira Neves; Vice-Presi-dente – José Esteves de Campos; Se-cretário – Manuel Augusto Valente;

ESCOLA SECUNDÁRIA JOSÉ FALCÃO

Associação de antigos elementospretende conseguir muitas adesões

Suplente – Jorge Corte-Real.Logo após a tomada de posse efec-

tuou-se a primeira Assembleia Geral,que analisou o Plano de Actividades,apresentado pela Presidente da Di-recção, Palmira Albuquerque (queera já a Presidente da Comissão Ins-taladora da Associação, e que foi agrande dinamizadora da respectivaconstituição).

Trata-se de um programa muito variadoe ambicioso, que prevê múltiplas realiza-ções em termos culturais e de convívio.

A principal preocupação, contudo –manifestada pela generalidade dos par-ticipantes – é a de que se consiga a ade-

são de muitos mais antigos alunos, pro-fessores e funcionários, das várias gera-ções que foram passando por este pres-tigiado estabelecimento de ensino, demolde a que a Associação possa ser umlocal de reencontro intergeracional, mastambém de cooperação com os actuaiselementos da Escola.

Os antigos alunos, professores e fun-cionários, espalhados por todo o País epelo estrangeiro, poderão solicitar a suaadesão dirigindo-se à Direcção da As-sociação, que tem a sua sede em espaçocedido na própria Escola José Falcão, oucontactando a Presidente da Direcção,através do telemóvel 919 333 281.

Palmira Albuquerqueapresentando o Planode Actividades e parteda assistência

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15DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 SAÚDE

MassanoCardoso

As descobertas científicas têm invaria-velmente consequências a diferentes níveis.Mesmo as mais controversas, que inicial-mente são objecto de preocupação, aca-bam, mais tarde ou mais cedo, por seremintegradas na rotina ou serem alvo de aten-ção especial com fins não previstos.

Saber como funciona o cérebro é umadas áreas mais deliciosas, que digam osneurocientistas na sua procura incessan-te em esclarecer os mistérios do órgãopensante.

Hoje, com as novas tecnologias, casoda ressonância magnética funcional, é

“Os cérebros dos políticos”…possível ver onde se processam certospensamentos e emoções com uma pre-cisão que até assusta.

Já foram efectuadas várias experiên-cias para localizar e conhecer a dinâmi-ca do pensamento em inúmeras situa-ções, desde o cálculo mental à excita-ção sexual, passando pela identificação dezonas de tristeza, entre outras, mas tentaraplicá-las a cérebros de políticos é que énovidade. E que novidade! Parece que aspredilecções dos cérebros dos ditos sãofrutos de vieses inconscientes!

Vejamos como tudo se processa. Cer-tas zonas do cérebro foram identifica-das com o raciocínio, com as emoções,com a resolução dos conflitos, com osjuízos morais e com a satisfação emoci-onal, entre muitas outras, localizadas, nasua grande maioria, no córtex pré fron-tal e frontal.

Colocar republicanos e democratasconvictos face às contradições de Bushe de Kerry permitiu aos investigadores,através das leituras das imagens dos seuscérebros, concluir que ambos os gruposcriticavam a conduta dos seus líderes.Mas, curiosamente, quando se passoupara a análise das políticas de cada umdeles, apenas uma zona se manteve“fria”, a zona do raciocínio! As outrasforam activadas terminando na estimu-lação de uma que está relacionada coma recompensa e prazer.

A partir daqui, ou seja, quando a zonade satisfação emocional foi activada, asoutras zonas responsáveis pela resolu-ção de conflitos, juízos morais e emoçõesforam, também, estimuladas de forma areforçar a zona de recompensa e pra-zer. Entretanto, a zona do raciocínio nãosofreu qualquer “ignição”. Desta forma,

o “verdadeiro” adepto político pensa deuma forma enviesada. O estímulo docentro de prazer é uma recompensa quelhe permite accionar determinados cir-cuitos que poderíamos catalogar como“políticos”, e dos quais está excluído azona do raciocínio.

Aqui está uma boa maneira de selec-cionar candidatos políticos, verdadeira-mente fiéis. “Bastaria” fazer-lhes umaressonância magnética funcional aoscérebros enquanto aplicassem certasperguntas. Um bom discurso e boas res-postas acompanhadas de emoções, daestimulação da zona de conflitos e dazona de recompensas desde que mante-nham “fria” a zona do raciocínio é maisdo que uma garantia de um leal subordi-nado. Quantos ao que dispararem o cen-tro do raciocínio, nada feito! São perigo-sos e imprevisíveis….

A obesidade é uma “epidemia global”que pode destruir os sistemas de saúdepública, defendeu um especialista espa-nhol no âmbito das Conferências sobre“Novas Patologias”, que decorrem emLisboa.

Professor de Medicina da Faculdadede Santiago de Compostela (Espanha),Felipe Casanueva afirmou, durante a con-ferência intitulada “Obesidade: O GrandeDesafio”, que esta condição “afecta cer-ca de mil milhões de pessoas em todo omundo e representa um dos mais gravesproblemas de saúde pública”.

A obesidade “tem finalmente de serpercebida como um problema gravíssi-mo, que num futuro próximo pode vir adestruir o sistema de saúde pública”, su-blinhou.

Segundo o especialista, o aumento drás-tico da obesidade na população mundial,especialmente em jovens e crianças,“deve-se as mudanças sócio-económicas”registadas nas últimas décadas.

“O aumento da obesidade resultade uma redução dramática na activi-dade física, da ingestão exagerada dealimentos e bebidas altamente ener-géticos”, ou seja, “de mudanças noscomportamentos alimentares e esti-los de vida”, afirmou o especialistaespanhol.

Segundo o investigador, “o fenó-meno – generalizado na Europa e nomundo – tende a agravar-se”, sendoque em Espanha mais de metade dapopulação (cerca de 53 por cento daspessoas) “sofre de excesso de peso”.

“A obesidade deve ser consideradauma epidemia global”, frisou Filipe Ca-sanueva, acrescentando que “dados re-centes demonstram que na maioria dosestados norte-americanos, uma em cadaquatro pessoas sofre de obesidade”.

Obesidade e stress são ameaças globaisMIL MORTES POR SEMANASÓ NA EUROPA

Na Europa, acrescentou o especialis-ta espanhol, “morrem semanalmente cer-ca de mil pessoas devido a doenças liga-das à obesidade”.

“A obesidade não é simplesmente umproblema cosmético, é um risco gravepara a saúde, porque se encontra clara-mente associada a doenças cardiovas-culares, à diabetes, à hipertensão, a do-enças pulmonares e cancerígenas”, fri-sou.

Este problema é, segundo Casanue-va, agravado através dos “resultadosdesanimadores das terapêuticas” desti-nadas aos obesos e à “deficiência dosmedicamentos”.

“Para mais de 90 por cento das pes-soas com obesidade, o exercício físico,as dietas, as mudanças nos hábitos devida e os medicamentos existentes nãosão eficazes” disse.

“Tudo isto demonstra o pouco conhe-cimento que temos acerca dos mecanis-mos complexos que controlam a inges-tão de alimentos no organismo”, afirmouo espanhol.

Para este especialista, “a única for-ma” de controlar a futura epidemia daobesidade “passa por compreender osmecanismos básicos que regulam a in-gestão de alimentos” no organismo, no-meadamente através do desenvolvimentode substâncias que controlem a hormo-na que estimula o apetite.

Também o investigador George Chrou-sos, presidente do Departamento de Pe-diatria de Atenas, na Grécia, defendeuque há novas patologias que não podemser ignoradas, como é o caso da obesi-dade, mas também do stress.

“O progresso das últimas décadas le-

vou a modificações sociais e à emergên-cia de hábitos de consumo individuais”,um novo contexto que deu origem a no-vas patologias (nomeadamente a obesi-dade e o stress), “que não podem conti-nuar a ser ignoradas”, disse.

STRESS É OUTRAENORME AMEAÇA

Para George Chrousos, investigadorna área do stress, esta patologia – talcomo a obesidade – “constituirá numfuturo próximo um dos maiores proble-mas de saúde pública”.

“Actualmente vivemos em cidadesonde estamos expostos a ambientes cadavez mais complicados, comemos comi-da pré-confeccionada e temos estilos ehábitos de vida pouco saudáveis”, recor-dou o especialista grego.

“Tudo isto pode levar a que os nossosmecanismos de defesa não respondamde forma eficaz, aumentando a possibili-dade de doenças”, acrescentou.

Segundo Chrousos, a vida existe atra-vés da “manutenção de uma complexadinâmica de equilíbrio”, que constante-mente “é desafiada e posta à prova porforças exteriores adversas”.

Embora o organismo tenha capacida-de de restabelecer o equilíbrio, “atravésde um complexo sistema situado no sis-tema nervoso central e na periferia”,quando a exposição ao stress é muitoelevada ou contínua “pode criar-se umaruptura”.

Os “factores causadores de stress”,segundo George Chrousos, podem ser osmais variados, como “os problemas diá-rios, as transições de vida – como a me-nopausa ou a puberdade – ou ameaçassúbitas”.

Ao ser activado, o sistema que o corpo

humano tem para restabelecer o equilíbrioprovoca “mudanças comportamentais efísicas de adaptação” no organismo.

Estas mudanças melhoram as hipóte-ses de sobrevivência do indivíduo, umavez que aumentam a sua vigilância ecapacidade de atenção” mas, ao mesmotempo, a adaptação ao stress “inibe fun-ções essenciais”, como as digestivas, ocrescimento, a reprodução e o sistemaimunitário.

O stress também tem uma consequên-cia mais “visível”: torna as pessoas maisirritáveis.

O especialista afirmou que se as alte-rações adaptativas do organismo se tor-narem “excessivas, prolongadas ou de-sajustadas” (resposta inapropriada aosfactores stressantes), estas podem con-tribuir para o “desenvolvimento de do-enças e desordens metabólicas, auto-imunes e psicológicas”.

Segundo George Chrousos, o stresstambém limita a resposta inflamatória doorganismo, “o que pode provocar umaresistência a insulina, a hipercoagulaçãodo sangue, hipertensão, diabetes e oste-oporose”.

“Todas estas alterações do sistemaimunitário e do metabolismo, causadaspelo stress, aumentam a mortalidade,relacionada com doenças cardiovascu-lares, cancerígenas ou provocadas porinfecção”, concluiu.

PREOCUPANTE ALERTA DE ESPECIALISTAS

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16 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007UNIVERSIDADE

Fernando Seabra Santos, docente daFCTUC (Faculdade de Ciências e Tec-

nologia da Universidade de Coimbra) foiempossado na passada semana (dia 28

de Fevereiro) como Reitor da Universi-dade de Coimbra. Um cargo para o qualfoi recentemente reeleito, para mais ummandato de quatro anos, com uma muitoexpressiva percentagem dos votantes(cerca de 80 % dos votos expressos).

A cerimónia decorreu na Sala dosCapelos da Universidade de Coimbra,tendo a posse sido conferida por Jorgede Figueiredo Dias, da Faculdade de Di-reito, o docente em funções Decano daUniversidade, por se encontrar doenteVíitor Graveto, que é efectivamente omais antigo dos professores ainda emactividade.

Depois de um belo discurso de Figuei-redo Dias, que não poupou elogios a Se-abra Santos, e de uma sóbria interven-ção do Presidente da Associação Aca-démica de Coimbra (que parece signifi-car o reatamento de relações normais dosestudantes com o Reitor), foi a vez de

REELEIÇÃO EM COIMBRA E ESTREIA COMO LÍDER DO CONSELHO DE REITORES

Seabra Santos empossado como Reitor Seabra Santos proferir um excelente dis-curso, onde não poupou críticas às políti-

cas de educação e à falta de investimentopúblico neste sector de decisiva impor-

tância para o futuro do País.

POSSE DOS VICE-REITORES

Após a tomada de posse do Reitor,efectuou-se, na Sala do Senado, a toma-da de posse dos quatro Vice-Reitores,que ficam responsáveis pelas áreas quea seguir se indicam:

- Cristina Robalo Cordeiro: AssuntosPedagógicos; Acreditação e AvaliaçãoPedagógicas; Relações Internacionais;Cultura;

- António Avelãs Nunes: Acreditaçãoe Avaliação Institucionais; Relações In-tra-institucionais; Reforma Institucional;Acção Social;

- António Gomes Martins: AssuntosAcadémicos; Recursos Humanos e Fi-nanceiros; Património, Infra-estrutura eEquipamento; Investigação Científica;

- Pedro Andrade Saraiva: Qualidade

e Inovação; Transferências do Saber; Co-municação e Identidade; Novos Públicos.

No mesmo dia, após o almoço no Pa-lácio de S. Marcos, Seabra Santos assu-miu também as funções de presidente doConselho de Reitores das UniversidadePortuguesas (CRUP), numa reunião emque recebeu o testemunho de Lopes daSilva, antigo Reitor da Universidade Téc-nica de Lisboa. O mandato como Presi-dente do CRUP terá a duração de 3 anos.

MÚSICA, HIDRÁULICAE REITORIA

Fernando Seabra Santos nasceu emCoimbra, em 10 de Outubro de 1955.Enquanto estudante desenvolveu diver-

sas actividades, de carácter associativomas também musical, tendo sido um dosfundadores da Brigada Vítor Jara. Licen-ciou-se em Engenharia Civil em Novem-

Figueiredo Dias e Seabra Santos

Aspecto da assistência que encheu a Sala os Capelos

A equipa reitoral: Gomes Martins, Avelãs Nunes, Seabra Santos, Cristina RobaloCordeiro e Pedro Saraiva

bro de 1977. Em 1985, defendeu a dis-sertação de Doutoramento no domínio da

Engenharia Hidráulica, no Institut Nati-onal Polytechnique de Grenoble.

Docente desde 1977, desempenhouessas funções na Faculdade de Ciênciase Tecnologia da Universidade de Coim-bra, na Université Scientifique et Médi-cale de Grenoble, na Faculdade de Ci-ências da Universidade de Lisboa e noInstitut National Polytechnique de Gre-noble. É, actualmente, Professor Cate-drático da Faculdade de Ciências e Tec-nologia da Universidade de Coimbra(Departamento de Engenharia Civil).

Está há cerca de nove anos na Reito-ria da Universidade de Coimbra, uma vezque foi Vice-Reitor entre 1998 e 2003,

com responsabilidade nas áreas da Ges-tão Financeira, Gestão dos RecursosHumanos, Modernização Administrativa,Instalações e Equipamento.

O Reitor quando proferia o seu discurso após a tomada de posse

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17DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 UNIVERSIDADE

e como Presidente do CRUP

Seabra Santos, Cristina Robalo Cordeiro e Figueiredo Dias

Rui Alarcão à conversa com Seabra Santos Embaixadores de diversos países estiveram presentes na cerimónia

O cordial abraço de Agostinho Almeida Santos ao Reitor reeleito Do Brasil veio o Presidente da mais importante Federação de Universidades

A boa disposição da equipa reitoral

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18 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007UNIVERSIDADE

O “Prémio Universidade de Coimbra”,uma das mais importantes distinções dePortugal nas áreas da Ciência e da Cul-tura, foi entregue ao matemático luso-brasileiro Marcelo Viana, um dos gran-des especialistas mundiais no sdomíniodos Sistemas Dinâmicos.

Na cerimónia da entrega do Prémio,que se integrou na sessão solene come-morativa do 717.º aniversário da Univer-sidade de Coimbra, Marcelo Viana afir-mou ter ficado surpreendido com o ga-lardão, pois esperava que ele tivesse sidoatribuído “a um candidato de uma áreamais próxima da vista e do coração dasociedade”. E justificou: “A Matemáticanão é uma disciplina bem compreendidanem popular. É a única área que as pes-soas se orgulham de não conhecer”.

O matemático considerou depois queo insucesso dos alunos portugueses nes-ta área é “um problema de cariz univer-sal, que só poderá ser resolvido se vári-os actores colaborarem: os professores,os pais e a Comunicação Social”. Mar-celo Viana enalteceu ainda a evoluçãoda Matemática, enquanto ciência, emPortugal, nos últimos 20 anos, falandomesmo numa “revolução que permitiupassar da irrelevância no cenário mun-dial para integrar o grupo de nações deexcelência”.

Viana fora anunciado como vencedorda edição 2007 do Prémio Universidadede Coimbra em Janeiro deste ano, peloelevado prestígio mundial do seu traba-lho de investigação, particularmente nocampo dos Sistemas Dinâmicos, uma dasmais importantes áreas da Matemática

- MARCELO VIANA CONVOCA PROFESSORES, PAIS E MEDIA PARA COMBATER O INSUCESSO NA MATEMÁTICA

Pura e Aplicada: modelos matemáticosdescritivos da evolução da realidade aolongo do tempo, com aplicação a con-textos variados – como a turbulência defluidos, a biologia, a medicina e a econo-mia – e particularmente sensíveis ao vul-

garmente denominado “efeito-borboleta”(o bater de asas de uma borboleta podeprovocar uma tempestade no outro ladodo mundo).

Marcelo Viana mantém estreitos con-tactos com a matemática portuguesa,tendo já orientado diversos doutoramen-tos de portugueses e participado no pro-grama Novos Talentos em Matemática.

UMA DAS MAIS PRESTIGIADAS DISTINÇÕES NACIONAIS

Matemático luso-brasileiro recebeuPrémio Universidade de Coimbra

Um estudo científico sobre o can-cro da próstata, da autoria do investi-gador Rui Manuel Ferreira Henrique,foi distinguido com o Prémio Bluephar-ma/Universidade de Coimbra (UC) –que foi também entregue na cerimó-nia comemorativa do Dia da Univer-sidade.

O investigador galardoado é directordo Serviço de Anatomia Patológica doInstituto Português de Oncologia do Por-to, e professor do Departamento de Pa-tologia e Imunologia Molecular, do Insti-tuto de Ciências Biomédicas de AbelSalazar, Universidade do Porto.

Foi distinguido pela sua tese de douto-ramento, intitulada “A Heterogeneidadedo Cancro da Próstata: Impacto das Al-terações Genéticas e Epigenéticas no

Nasceu no Brasil, em 1962, filho de paisportugueses, tendo vindo para Portugalcom três meses e aqui passado os pri-meiros 24 anos de vida. Tem dupla naci-onalidade (portuguesa e brasileira) e élicenciado em Matemática pela Univer-

sidade do Porto e doutorado em Siste-mas Dinâmicos pelo Instituto de Mate-mática Pura e Aplicada (IMPA), no Riode Janeiro. Actualmente, é PesquisadorTitular e Director Adjunto do IMPA,Bolsista de Produtividade do CNPq, Co-ordenador Cientifico da União Matemá-tica da América Latina e Membro doComité Executivo da União Matemática

Prémio Bluepharma/UCdistingue trabalho sobre cancro da próstata

Diagnóstico e Prognóstico”.O Prémio Bluepharma/Universidade

de Coimbra foi entregue na sessão sole-ne comemorativa dos 717 anos da UCpelo Presidente do Conselho de Admi-nistração da Bluepharma, Paulo Barra-das Rebelo.

O júri foi presidido pelo cirurgião car-diotorácico e professor catedrático daFaculdade de Medicina da Universidadede Coimbra, Manuel Antunes.

Segundo uma nota divulgada a propó-sito deste galardão científico, este ano,para além da publicação da tese vence-dora em edição exclusiva e da distribui-ção gratuita a profissionais e entidadesde saúde, públicas e privadas, universi-dades e bibliotecas, o premiado recebe10 mil euros em dinheiro.

Internacional. Dedica-se à investigaçãoem Matemática, com ênfase em Siste-mas Dinâmicos, Teoria Ergódica e Teo-ria das Bifurcações.

Distinguido com a Grã-Cruz da Or-dem Nacional do Mérito Científico, noBrasil, Marcelo Viana havia já sido ga-lardoado com o Prémio TWAS, em 1998,o Prémio UMALCA, em 2000 e o Pré-mio Ramanujan, na sua primeira edição,em 2005.

O Prémio Universidade de Coimbra,patrocinado pelo Banco Santander-Tot-ta e que conta com o apoio do Jornal deNotícias, é atribuído anualmente a umapessoa de nacionalidade portuguesa quese tenha destacado por uma intervençãoparticularmente relevante e inovadoranas áreas da cultura ou da ciência. Ovencedor do Prémio receberá uma do-tação em dinheiro no valor de 25 000euros.

Em anos anteriores, o Prémio Uni-versidade de Coimbra distinguiu qua-tro áreas muito distintas: as neuroci-ências, a história das instituições e asartes do palco, e os estudos clássicos.Na primeira edição, relativa a 2004, foidistinguido o neurocientista FernandoLopes da Silva, considerado um dos 100cientistas mais influentes do mundo.Em 2005, o Prémio Universidade deCoimbra foi atribuído, ex-aequo, ao his-toriador António M. Hespanha e aoactor e encenador Luís Miguel Cintra.No ano passado, a premiada foi MariaHelena da Rocha Pereira, a mais re-putada especialista portuguesa em es-tudos clássicos.

O Reitor entrega o Prémio Universidade de Coimbra a Marcelo Viana

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19DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 UNIVERSIDADE

Termina no próximo sábado (dia 10) aIX Semana Cultural da Universidade deCoimbra, que com cerca de um centena

de eventos em dez dias pode conside-rar-se como a mais importante “marato-na cultural” do País, não só pela quanti-dade, mas sobretudo pela qualidade epela diversidade.

Iniciada no passado dia 1, com a pre-sença da Ministra da Cultura, esta iniciati-va tem como título genérico “Estou Vivo eEscrevo Sol – O Ambiente e os DireitosHumanos no Ano Internacional do Sol”.

Assim, o seu mote central tem sido oSol, discutido e invocado nas suas acep-ções mais directas – de luz, imagem,energia, calor ou ambiente – mas tam-bém através do seu forte valor simbólico:calor humano, voluntariado, cidadania.

A escolha deste tema não foi fruto do

acaso, antes teve o propósito de assina-lar o Ano Heliofisico Internacional. E, talcomo nas anterirores edições, a IX Se-mana Cultural da Universidade de Co-

IX SEMANA CULTURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA TERMINA SÁBADO

A mais importante “maratona cultural” do Paísdespede-se com música

imbra estendeu-se a outros locais, nome-adamente Aveiro, Ílhavo, Cantanhe eAl-cobaça.

RESÍDUOS E DIREITOSHUMANOS HOJE EM DEBATE

Do extenso programa que ainda faltacumprir, destacamos as seguintes reali-zações:

Hoje (quarta-feira, dia 7 de Março)- 10H30 | Mesa-redonda “Os resídu-

os como fonte de valor e energia”, noAuditório do Departamento de Engenha-ria Mecânica: Com a participação doSecretário de Estado do Ambiente, Hum-berto Rosa, e de Alcides Pereira (“Resí-duos radioactivos: o que fazer comeles?”), Raimundo Mendes Silva (“Co-nhecimento e gestão dos resíduos na

UC”) e Teresa Vieira (“Resíduos sólidosindustriais: poder-se-á exterminá-los?”).

- 14H00 | Colóquio sobre DireitosHumanos “Para quem brilha o Sol” |

Anfiteatro da Faculdade de Psicologia eCiências da Educação (FPCE): Com aparticipação de Luísa Marroni, (Volun-tária Cooperante), Mónica Rafael (Nú-cleo de Estudos para a Paz do Centro deEstudos Sociais), Álvaro Miranda San-tos (FPCE), Mª Rosário Moura Pinheiro(FPCE), Cristina Albuquerque (FPCE)e Luís Alcoforado (FPCE).

ALIMENTAÇÃOE DIREITOS DA MULHER

Do programa de amanhã (quinta-fei-ra, dia 8 de Março), salientamos:

- 11H00 | Acção de Divulgação “Ali-mentação Saudável e Rendimento Inte-lectual” | Nova Cantina Universitária doPólo das Ciências da Saúde: Com a par-ticipação de Manuel Santos Rosa e He-lena Saldanha, docentes da Faculdade deMedicina da Universidade de Coimbra.

- 16H30 | Exposição sobre “Direitosda Mulher e da Criança”, no Dia Inter-nacional da Mulher | Sala D. João III do

Arquivo da Universidade de Coimbra.

SABERES, SABORESE MÚSICA

Até dia 9 de Março, 15H30 – 18H00 |“Festas de Sons, Saberes e Sabores III”| Largo Dom Dinis: Partilha festiva e in-teractiva de conhecimento, de tradiçõese de diferentes formas de ser e de estar.Actividades: oficinas de dança, música,teatro, artes plásticas, encontro com es-critores, artesanato e jogos. Apresenta-ção bibliográfica das publicações relati-vas aos países da Lusofonia existentesna Universidade de Coimbra.

Dia 10 de Março, 9H30 | ColóquioPeninsular “Sob o Signo do Sol. Os di-reitos do património: ambiente e conser-vação” | Anfiteatro IV da Faculdade de

Letras: As comunicações serão efectu-adas por José Delgado Rodrigues, Fran-cisco Gil, Cristina Castel-Branco, Joa-

quim Inácio Caetano, Rocio BruquetasGalán, Paulo Henriques e Maria JoséGonzález Lopez. Está ainda prevista umavisita à intervenção de recuperação daPorta Especiosa (Sé Velha) com Mariade Lurdes Craveiro.

Dia 10 de Março, 21H30 | “O Solquando nasce é para todos” – Espectá-culo de encerramento da Semana Cultu-ral, pelo Orfeon Académico | TeatroAcadémico de Gil Vicente: Com um re-portório adequado, o Orfeon aborda osvários tipos de flagelos que assolam omundo de hoje, tais como o trabalho in-fantil, a poluição sonora e ambiental, aescravatura, a fome, entre outros.

O Programa completo da IX SemanaCultura da Universidade de Coimbrapode ser consultado em http://www.uc.pt/semanacult/.

Ministra da Cultura teceu rasgadoselogios à iniciativa da Universidade

O Presidente da AAC, dois dos Vice-Reitores e a Ministra da Cultura

Reitor aplaude o discurso de Isabel Pires de Lima

Centenas de pessoas encheram o Auditório da Reitoria

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20 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

Há 20 anos, conhecida a notícia damorte de Zeca Afonso, sentei-me ao com-putador e escrevi um pequeno texto dehomenagem, no qual lembrava um es-pectáculo no jardim da AAC depois do“25 de Abril” e o livro de capas verme-lhas que existia em minha casa, no fun-do de uma gaveta, com poemas do Zeca.

Enviei o texto para o Porto, mas elenão foi publicado. O “editor de serviço”no Jornal de Notícias optou por outrosdepoimentos - possivelmente mais “poli-ticamente correctos”.

Vinte anos depois, neste blogue, nãohaverá editor que me impeça de recor-dar Zeca Afonso e o espectáculo quenunca mais esqueci, no jardim da Asso-ciação Académica de Coimbra, numatarde quente do Verão de 1975 (ou de1976?).

Cheguei já depois das 10 da noite.Quis entrar mas o recinto estava reple-to. O recinto e as imediações. Não ca-bia uma agulha.

Comecei a andar e acabei por ficar ameio da Rua Padre António Vieira, alipelas traseiras do quartel dos Bombei-ros Municipais, não vendo nada do quese passava nos jardins da AAC mas ou-vindo com razoável qualidade.

Naquele tempo, o “fado de Coimbra”

era fascista. A capa-e-batina também.Alguns (muitos) queriam ferir de mortea tradição académica coimbrã.

Zeca Afonso era apresentado comoum cantor de intervenção, o baladeiroque ajudara a fazer cair o regime do “24de Abril”. Justamente. Mas esquecia-se(ainda hoje, nas rádios, isso parece estara acontecer) o Zeca Afonso cultor do“fado de Coimbra”.

Nessa noite, nesses tempos em quequiseram mutilar a alma coimbrã, ZecaAfonso subiu ao palco, fez-se silêncio,ouviram-se as guitarras e a voz do can-tor soou potente, cristalina.

“O meu menino é d’oiro / É d’oiro fino/ Não façam caso que é pequenino”.

As lágrimas rolaram-me pelo rosto.O grande Zeca não traíra a sua Co-

imbra.Foi naquela noite que se começou ga-

nhar a “guerra do fado”, que teve outras“batalhas” importantes nos anos seguin-tes, na “Praça Vermelha”, que era onome que naquele tempo se dava ao Lar-go da Sé Velha.

Estive nalgumas.

* * *

“O meu menino é d’oiro / É d’oiro fino /Não façam caso que é pequenino. / Omeu menino é d’oiro / D’oiro fagueiro /Hei-de levá-lo no meu veleiro.

Venham aves do céu / Pousar de mansi-nho / Por sobre os ombros do meu meni-no. / Venham comigo venham / Que eunão vou só / Levo o menino no meu trenó.

Quantos sonhos ligeiros / p’ra teu sosse-go / Menino avaro não tenhas medo. /Onde fores no teu sonho / Quero ir con-tigo / Menino de oiro sou teu amigo

Venham altas montanhas / Ventos do mar/ Que o meu meninoNasceu p’r’amar. / Venham comigo ve-nham / Que eu não vou só / Levo o me-nino no meu trenó”.

(publicado no blogue em 23/02)

ZECA AFONSO (*)Na passada sexta-feira, fez 20 anos

que morreu Zeca Afonso.20 anos! Como é possível?! Estou a vê-

lo entrar no palco, para o seu último con-certo, e arrancar, já sem o fulgor de outrostempos, “Do Choupal até à Lapa / FoiCoimbra os meus amores / A sombrada minha capa / Deu no chão, abriu emflores”; para, pouco depois, ter a cora-gem de cantar, voz embargada pela como-ção, a premonitória “Balada de Outono”:“Águas das fontes calai / Ó ribeiraschorai / Que eu não volto a cantar”.

Zeca era, foi, o maior. Todos os ou-tros procuraram imitá-lo, segui-lo, masde cada vez que o tentavam agarrar elejá não estava no mesmo sítio. A sua in-crível intuição musical – Zeca Afonsosabia da música apenas os rudimentos –e o seu apurado sentido poético logo oatiravam mais para a frente.

Quando a moda era a canção de Co-imbra acompanhada à viola e à guitarra,ele surgiu acompanhado apenas pela vi-ola do Rui Pato; quando os demais imi-taram as suas baladas acompanhadas àviola, ele surgiu com “Maio, maduroMaio”, acompanhado pela mini-orques-tra do Zé Mário Branco, no mesmo dis-co em que arriscou lançar uma cançãosem acompanhamento algum: “Grândo-la Vila Morena”.

Não conheci pessoalmente o Zeca.Ele era da geração de 50, enquanto eupertenci à de 60. Mas fui colega de mú-sicos que o acompanharam: Rui Pato,“Bóris”, Phil Colaço, 15 anos mais no-vos do que ele, o que dá bem a ideia dasua juventude de espírito.

Zeca Afonso não era de modas. Masele acabava por fazer a moda, com o seuestilo anti-vedeta. Como não era capazde decorar as letras – nos tempos emque cantava fado de Coimbra era a mal-ta que lhe fazia de ponto – começou acantar com a letra escarrapachada numtripé à sua frente… e a moda pegou.

Sobre o Zeca Afonso muito foi dito eescrito nestes dias. Mas não vi referidaa sua ligação à Briosa. Zeca Afonso jo-gou um ou dois anos na equipa B dosjuniores da Académica, nos finais da dé-cada de 40, a extremo-direito e a interi-or-esquerdo. Como ele próprio confes-sou numa entrevista que deu poucos anosantes de morrer, “fui sempre extrema-mente irregular: sem saber népia me-tia assim um golo… mas no desafio se-guinte jogava pouco. Não aguentavamais que 20 minutos de jogo”.

Pergunta o jornalista: – E se a Aca-démica ia jogar fora, também ias? –É claro. – E se havia porrada no cam-po? – Considerava uma obrigação,um dever, quase um autêntico jura-mento, uma autêntica profissão de fé

defender a chamada Briosa. E, quan-do o entrevistador lhe pergunta: – Maso que te marcou em Coimbra? Respon-de o mesmo que eu e muitos outros gos-taríamos de ter respondido: – Essa at-mosfera romântica e irreverente aomesmo tempo.

Depois de Abril, Zeca Afonso passoua património nacional e bandeira de mui-tas causas. O seu espírito desprendido,ingénuo, anarquista, deu azo a que mui-tos se apropriassem da sua imagem; emuitos são aqueles que hoje reclamamZeca Afonso para o seu lado.

Mas é bom não esquecer que Zecafoi, antes de mais, um produto de Coim-bra e da sua Academia. Mais importan-te do que lembrar que Zeca Afonso ves-tiu, ainda que episodicamente, a camiso-la da Briosa, é não deixar esquecer queele é vinho da mesma cepa que produziua Briosa, tal como eu o sou e muitos ou-tros que naquela Academia forjaram asua personalidade; e, até, – porque não?– outros ainda que sentem saudades delasem nunca nela terem vivido.

O Zeca não o esqueceu. Por isso, aodar no Coliseu de Lisboa o seu últimoespectáculo, o concerto em que revisi-tou toda a sua vida artística, fez questãode abri-lo com uma guitarrada de Coim-bra, tocada por antigos estudantes deCoimbra, capas negras pelos ombros,numa época em que nem todos tinhamcoragem de assumir esse passado.

(*) texto de JOSÉ VELOSO, divulgadona “mailing list” [email protected] eaqui publicado com autorização do autor

(publicado no blogue em 28/02)

“A ZECA AFONSO” (*)

Dos tempos da alegriajá partimos

somos agora outro tempooutro lugar.Sabemos existirsem existirmos na alegriaque foi de começar.

O tempo de ficardói nos ouvidos.Ele voa, como olhospercorridos pelo castigode um vento sem saberonde parar.

Dos tempos da alegriajá partimos...

só nos restao sonho onde dormimose acordados havemos de voltar.

(*) poema inédito de Carlos Carranca(publicado no blogue em 28/02)

Zeca Afonso(de Coimbra)

Page 21: O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

21DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 OPINIÃO

A corrupção está na ordem do dia.Com apitos, furacões, névoas, gebalis...e o mais que se verá.

Anda tudo numa fona à cata das ma-roscas e das falcatruas dia a dia engen-dradas nos mais diversos bastidores danossa vida colectiva.

Futebol, autarquias, alta finança, em-presariado... tudo parece feder a mala-barismos de fuga aos impostos, a aboto-amentos, a jogos de influências... na mirade benesses e morgadios, de lucro fácile chorudo à margem da lei e do interes-se comum.

Para o leigo na matéria, esta cruzadaintempestivamente voluntariosa, parecetrazer água no bico.

É que todos sabemos, por continuadaexperiência, que a fuga à lei e aos impos-

Renato Ávila

Névoastos, a golpada e o chico-espertismo seforam enraizando na sociedade portugue-sa no decurso de muitas décadas. Débitoeducativo, sem dúvida, num sistema polí-tico renitente à formação cívica do cida-dão, associado a uma natural resistênciaà observância das leis, por uma justiçaesotérica e inacessível e por um fisco an-tipático, tido como injusto e autoritário.

Ao abrir as portas da democracia,Abril, na sua romântica e ingénua gene-rosidade, franqueou a montagem de todaa sorte de malévolos expedientes e es-tratégias de gente que se alcandorou,mais inclinada a servir -se a si própria doque a prosseguir o bem de todos.

O estado conviveu durante todo estetempo com a corrupção. Deixou que elapenetrasse fundo nas suas entranhas, osubvertesse e o anquilosasse. Os parti-dos do poder dele fizeram coutada naconcessão de estranhas e obscuras be-nesses cujos contornos parecem querer

esboçar-se nas névoas que, a muito cus-to, se vão dissipando.

Ao cidadão mais atento não passamdespercebidas as vicissitudes que ciclica-mente avassalam as instituições devota-das à investigação criminal e à defesa dasleis da república, o estranho desenrolar eencerrar de processos que os media fo-ram trazendo ao conhecimento público, osilencioso afastamento de quem honestae corajosamente se propõe lutar contraessa chaga degradante e anti-social.

É por isso mesmo que o cidadão des-confia, que o cidadão ainda vê muitas som-bras em todo este aparatoso frenesim.

Mais que credibilizar a justiça, é for-çoso e urgente credibilizar o estado, sub-traindo-o às maléficas influências dosque dele indevidamente se assenhorarame converteram o poder democraticamen-te manifestado pelo voto num poder au-tocrático e capelista de cujos subterrâ-neos emergem dúbias manifestações,

Luís de [email protected]

Dois artistas dos mais conhecidos,cotados e reconhecidos (no mercado quehá) da Região Centro têm sido ultima-mente notícia nos jornais locais-regionais(os que se interessam por estas coisas,porque há muitos aos quais estas coisasdeixam mais ou menos indiferentes).

Um deles é Zé Penicheiro, o outro éMário Silva.

Zé Penicheiro, por dois pretextos, li-gados a aniversários de vida e trabalhoartistico: um, a publicação de um livro,outro a elaboração de um catálogo compedido a coleccionadores que colaboremdando conta do que têm para eventualpresença no catálogo.

Mário Silva, por uma exposição, umaRetrospectivsa, no Museu da Vinho daBairrada, em Anadia, uma Retrospecti-va, a pretexto de 77 anos de vida e 55 deprática artística, que abriu em 2 de De-zembro do ano passado, e fica até 30 deAbril deste ano, podendo, portanto, ser vis-ta ainda por mais dois meses.

Veremos depois o caso de Zé Penichei-ro. Veríamos agora o caso de Mário Silva,que aqui se impõe com alguma urgência.

Uma retrospectiva, a exposição deMário Silva no Museu do Vinho da Bair-rada, Anadia, apresenta-se com um mo-tivo de interesse fundamental: o de mos-trar o que o autor fez nos anos 50 e 60,nos seus primeiros dez, vinte, trinta anosde carreira, num confronto que semprese faz com as produções mais recentes,à procura do histórico e do que nele sesugere de evolução e mudanças.

REFERÊNCIAS Mário Silva, uma retrospectivaÉ a parte menos vista da sua obra, hoje,

e, no entanto até será a mais importante,numa retrospectiva, desde logo porque éa mais forte e de maior peso em termosde balanço, e consubstancia a ligação ea pertença do autor a um território maisvasto do que o da Região Centro, o pro-cesso da pintura portuguesa nas déca-das de 50, 60 e 70, neo-realismo e surre-alismo, principalmente.

Distinguem a pintura de Mário Silvanessa fase a grande dimensão dos qua-dros, a presença humana, neles, numaassumpção do trágico para o dramático,entre a afirmação individual e a interven-ção e participação na cena, um croma-tismo escuro, um tanto sombrio, mas so-bretudo a grande dimensão dos quadros,permitindo ao autor a revelação das suasmaiores e melhores capacidades, nummais amplo e fundo domínio de recursose meios.

Na fase mais recente reduzem-se umtanto as dimensões, a força, a capaci-dade de impacto, o poder impressionantedesta pintura, mas compreende-se (ne-cessidade de adaptação ao mercado ede ir ao encontro, pelo menos em parte,das expectativas de recepção), e nempor isso a pintura de Mário Silva deixade patentear qualidades genuínas, como,por exemplo, o desenho da figura hu-mana (rostos, mãos) em expressões ob-sessivas de desencontro e perdição, umacerta (mas propositada) teatralidade, (ouapenas exuberância) nas suas assump-ções em cena, a supremacia disso so-bre os cenários paisagens de fundo, umcromatismo de bom gosto, ainda quemais ligeiro (ou apenas mais claro, me-nos carregados de tensões), ou mesmoquando excessivo ou de ruptura com otradicional.

Ou seja, a fidelidade a uma radicalorientação humanista (que contribui mui-

to para que se veja a obra do autor dolado dos grandes valores e das grandescausas), e um amadurecimento de téc-nicas (porventura ainda mais expeditas)e procedimentos (agilizados até espon-taneidades ou automatismos muitas ve-zes menos produtivos, mas é preciso terem conta que nem quanto um pintor faze depois mostra é o que se possa dizerrazoavelmente conseguido, e nem sem-pre funcionam bem os critérios com queele faz a sua própria selecção. A crítica,não, mas o público que vai ver tambémperdoa deslizes, dos quais, aliás, nemsempre se apercebe.

O humanismo (a representação dahumanidade) era um dos alcances destapintura. E continua a sê-lo, ainda que di-mensões mais reduzidas, ou menos im-ponentes.

Não é, isto do humanismo, algo à mar-gem do artístico, ao contrário ou diversodo que poderá parecer. É estratégico eestruturante de todo um projecto, de todauma poética, digamos assim, de todo umprograma de produção. Por isso deve serespecialmente tido em conta como fac-tor de valorização.

Na produção mais recente mantém-se vivo este aspecto, quando se verificaa presença figurativa da humanidade.

Quando não, ressaltam a agilidade dogesto, a imaginação do figurativo emer-gente em novas formas, dum cromatis-mo muito criterioso mas também exces-sivo, e por vezes ousado nas incursõesà procura da luz diurna das paisagens,de preferência urbanas, mas tambémrústicas.

Há aqui muito de certo cosmopolitis-mo que Mário Silva cultivou, desde logoem Coimbra, mas também noutros es-paços por onde passou antes de fixar-sena Figueira da Foz, melhor, nos arredo-res, e lembre-se que nessas passagens

entram não somente Lisboa, mas tam-bém França, Itália e Espanha, onde eleviveu e trabalhou e viu a sua pintura ga-nhar alguma projecção.

Mas gera-se aqui também muito daidentificação de Mário Silva e da sua obracom a região a que pertence, de raiz (sefaz sentido falar nestes termos a propó-sito dos percursos de vida que começamno nascimento e passam pela formação;faz, decerto, porque de algum modo elenão chegou a sair daqui e é aqui que temproduzido a maior parte da sua obra).

Mais do que isso, Mário Silva tem de-dicado grande parte das suas energias ainiciativas no campo das artes plásticasna região. É, há muito, na região, umareferência, não só para o público, mastambém para artistas mais novos.

E só mais duas anotações:– Uma para dizer que, à data em

que se escreve isto aqui, meados deFevereiro, ainda não vimos a Retros-pectiva de Mário Silva em Anadia. Oque aqui se diz das obras mais anti-gas do pintor liga-se ao que vimosnuma retrospectiva anterior, aqui háanos, no Museu da Figueira, e o quefica dito sobre as obras mais recen-tes é impressão do que vimos, dele,em exposições individuais e colecti-vas, em diversos lugares da região.

– Outra, para lembrar que o Museudo Vinho da Bairrada, em Anadia, é(juntamente com o da Pedra, em Can-tanhede, o Marítimo, de Ílhavo, e quemais?) dos museus mais interessantes,na região, e que merece uma visita (mo-tivo acrescido ao da Retrospectiva deMário Silva).

– Outra ainda, para dar conta de umaideia que ocorre: – A Retrospectiva deMário Silva, que está em Anadia, pode-ria fazer-se também em Coimbra. Por-que não?

quantas vezes, denunciando sintomaspróximos dos quadros da corrupção.

Domesticado o poder fiscalizador doParlamento por uma maioria sobrancei-ra e uma oposição sem classe e semchama, enfraquecido o poder interventi-vo da sociedade civil por uma demagó-gica política de subalternização e ames-quinhamento das organizações de clas-se e outras manifestações colectivas,subrepticiamente amaciada uma comu-nicação social cada vez mais incapaz dedar voz ao descontentamento e de des-mascarar o ilícito, só nos resta, de facto,o aparelho judicial.

Até onde poderá chegar o seu braço,a grande questão.

É que ninguém pode garantir que os“névoas” e quejandos não continuem avaguear pelos estatais e para-estataiscorredores e que tamanho zelo da PGRchegue para dissipar as névoas que tei-mam em pairar por aí.

Page 22: O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

22 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Estão aí mais algumas propostas deconcertos para este ano de 2007. Emprimeiro lugar com a confirmação daactuação dos australianos Wolfmother a24 de Maio no Paradise Garage (Lisboa)e, também, do regresso dos Metallica edos Arcade Fire e, ainda, da estreia empalcos portugueses, quer dos Klaxons,quer dos Magic Numbers, tudo isto na13.ª edição do Festival Super Bock Su-per Rock.

Para o próximo dia 19 de Março estámarcado o lançamento do novo disco dosBlasted Mechanism, “Sound In Light” e,mais uma vez, num formato no mínimosurpreendente. Já com o anterior registode originais, esta banda lisboeta, tinhaoferecido o ingresso a um dos seus con-certos de apresentação a quem fizessea pré-compra de “Avatara”. Mas, ago-ra, a banda vai mais longe e além de ofe-

recer um ingresso para um dos concer-tos, oferece, também, uma palavra deacesso para fazer o “download” dos te-mas de um segundo cd. Basta fazer apré compra nas Lojas FNAC.

Foi editado na semana passada o novoDVD ao vivo dos Nine Inch Nails, “Be-side You In Time”, que inclui uma série

de filmagens e reportagens à volta da“With Teeth Tour 2006”, sobretudo da

parte norte americana desta digressão.Temas como “Closer”, “Hurt”, “The

Hand That Feeds”, “Only”, etc. estãoneste DVD, que é uma pequena amos-tra do que foi a passagem da banda deTrent Reznor pelo nosso país no passa-do mês de Fevereiro.

Já há algum tempo que ando para es-crever sobre um dos maiores fenóme-nos da música portuguesa, sobretudo noque toca às pistas de dança. Alguém quecompôs com Rui da Silva (Doctor J), os

Underground Sound Of Lisbon, do qualsaiu o “hit” “So Get Up”. Após o fimdeste projecto, Dj Vibe, também conhe-cido como Tó Pereira apostou na suacarreira “a solo”, não só no tocante aactuações ao vivo, o que nunca deixoude fazer, nomeadamente enquanto dj re-sidente do Kremlin (Lisboa), mas, sobre-tudo no que toca à produção, tendo edi-tado nos últimos anos, um disco por ano.Do Canadá ao Japão, passando pelosEstados Unidos, Brasil, Espanha e Ma-lásia, este dj é conhecido um pouco portodo o lado, sendo por muitos considera-do o “Figo das Pistas de Dança”. Querse goste ou não do estilo de música porele praticado, é inquestionável que esta-mos perante um dos senhores da músicaportuguesa da actualidade.

PARA SABER MAIS:

www.musicanocoracao.ptwww.everythingisnew.ptwww.blastedmechanism.comwww.nin.comwww.djvibe.net

ouBlasted Mechanism “Sound In Light”(Universal)Nine Inch Nails “Beside You In Time”(Interscope)

Dj Vibe

Nine Inch Tails

O duo Black Diamond Heavies, doTennessee, estreia-se a 16 de Março emPortugal, num concerto integrado noquinto Festival Internacional de Blues deCoimbra.

Composto por John Wesley Myers,cuja voz tem sido comparada à de TomWaits, e por Van Campbell, o duo vaiapresentar o seu trabalho de estreia,“Every Damn Time” (2007), que “conquis-tou a atenção do público e da crítica”.

Do repertório dos Black DiamondHeavies fazem parte composições origi-nais e ainda versões de temas clássicos

Festival de Blues de Coimbracom reputados grupos internacionais

DECORRE ENTRE OS DIAS 15 E 17 NO TAGV

de músicos como Lou Reed, Tom Waits,Muddy Waters ou John Lee Hooker.

O programa do festival abre dia 15 deMarço com um espectáculo do trio oriun-do de Genebra Hell’s Kitchen BluesBand.

Para a mesma noite está também pre-vista a prestação de Son of Dave, desig-nação sob a qual se apresenta o canadi-ano Benjamin Darvill, residente no Rei-no Unido.

Um espectáculo de Bob Log III, queactua sempre em palco usando um ca-pacete com um microfone incorporado

no interior, sem nunca revelar a sua iden-tidade, é outra das propostas da noite de16 de Março.

O 5º Festival Internacional de Bluesde Coimbra culmina dia 17 de Março comconcertos de Scott H. Biram e dos Ala-bama3, a banda londrina que compôs“Woke up this morning”, o tema da sérienorte-americana “Sopranos”.

Tendo como produtor artístico PauloFurtado, o festival é organizado pelaDelegação Regional da Cultura do Cen-tro e pelo Teatro Académico de Gil Vi-cente, onde se realizam os concertos.

A cantora de jazz norte-americanaStacey Kent vai actuar a 30 de Maio noGrande Auditório do Centro Cultural deBelém (CCB) para interpretar, entreoutros, êxitos de Gershwin e Sinatra,anunciou a promotora do espectáculo.

De acordo com a IncubadoraD’Artes, a intérprete, uma das mais re-centes aquisições da conceituada edito-ra discográfica Blue Note, tem recebi-do elogios da crítica pela sua voz crista-lina, que a coloca entre as grandes re-velações do jazz da última década.

Cole Porter, Duke Ellington, GeorgeGershwin são alguns dos seus composi-tores favoritos, enquanto Nat King Cole

A cantora Sara Tavares, nomea-da este ano para os Prémios BBCRadio 3 World Music, iniciou no sá-bado, na Guarda, uma digressão na-cional para apresentação dos temasdo seu novo álbum, “Balancê”.

A vencedora do Festival RTP daCanção de 1994 com “Chamar a mú-sica” (Rosa Lobato Faria/João Car-los Campos de Sousa Mota Olivei-ra), que recentemente actuou no con-ceituado programa da televisão bri-tânica “Later with Jools Holland”,canta no dia 9 no Teatro José Lúcioda Silva, em Leiria, e no dia seguinteno Centro de Artes de Portalegre.

A artista tem vindo a apresentar oseu álbum “Balancê”, disco de Ouroem Portugal, em concertos esgota-dos em Inglaterra, Suécia e Japão,onde partilhou o palco com japonesaSadao Watanabe.

A cantora tem recebido entusiás-ticas críticas da imprensa estrangei-ra, nomeadamente da revista britâni-ca Taplas.

“Se a luz do sol tivesse um som,soaria provavelmente a Sara Tava-res”, lê-se na crítica da Taplas.

Para o jornal belga Le Soir, “Ba-lancê” é um álbum “cheio de char-me e personalidade e a sua autora édona de um sorriso capaz de conquis-tar os mais reticentes”.

Stacey Kent em Maio no CCB (Lisboa)

e Frank Sinatra se contam entre as suasmaiores influências.

Com formação superior em linguísti-

cas e literatura, a cantora, oriunda deNova Iorque, iniciou a sua carreira mu-sical em Oxford, onde conheceu o saxo-fonista Jim Tomlinson, com quem viria acasar-se mais tarde, e juntos apostaramnuma vida artística ligada ao jazz.

Stacey Kent fez formação na Escola deMúsica de Guildhall e entrou na cena dejazz londrina, destacando-se depois da in-terpretação de “Close Your Eyes”, em 1997.

A discografia da cantora inclui, entreoutros, os álbuns “The Tender Trap”,“The Boy Next Door”, “In Love Again”,The Lyric”, e “Let Yourself Go”.

O espectáculo de Stacey Kent no CCBestá previsto para dia 30 de Maio, às 21:00.

“Balancê”de SaraTavares

Page 23: O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

23DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

HOVR

BITTORRENT

COMEEKO

JYVE

CHELSEATV

A HOVR promove uma comunidade de utilizadoresinteressados em entretenimento para dispositivos mó-veis. A HOVR Mobile Space é uma rede social quepermite aos utilizadores fazerem downloads de jogospara plataformas móveis e comunicarem e competi-rem entre si. Os jogos disponíveis para serem descar-regados são gratuitos e alguns, da cerca de uma cente-na que já está no site, são até bastante conhecidos comoo “Texas Holdem” ou o “Alien Patrol”.

Os lucros da HOVR estão relacionados com a pu-blicidade direccionada: antes de começar o jogo surgesempre um pequeno anúncio e, nalguns casos, podeexistir product placement – isto é, anúncios no decor-rer do jogo. Os anúncios são dinâmicos e interactivos eos anunciantes têm a vantagem de poder consultar operfil dos utilizadores e direccionar a publicidade. É anova era da publicidade na rede. Com lucros, sem queo utilizador perca a noção da Internet como um espaçoimenso e gratuito…

HOVRendereço: http://hovr.com/ | categoria: jogos,comunidades

E em maré de downloads gratuitos, vale a pena re-ferenciar o BitTorrent. Esta empresa apresentou, hácinco anos, um protocolo peer-to-peer de partilha deficheiros online. Agora anunciou que vai concorrer di-rectamente com o iTunes e a Amazon, que vendemconteúdos na rede. Só que a BitTorrent vai disponibi-lizá-los gratuitamente… mas protegidos pela tecnolo-gia DRM do Windows Media Player. DRM significaDigital Rights Management e consiste em restringira difusão por cópia de conteúdos digitais, assegurandoao mesmo tempo os direitos de autor e as marcas re-gistadas.

O anúncio foi feito na noite dos Óscares e, até aomomento, registam-se já mais de três mil filmes, mil

jogos e mil vídeo-clips. Conteúdos inteiramente gratui-tos de cerca de 35 fornecedores, entre os quais se con-tam a Warner Bros., a Paramount Pictures, 20th Cen-tury Fox e a Metro-Goldwyn-Mayer. No entanto, ape-sar do portal ser legal e os seus conteúdos gratuitos, háum “senão”: os filmes (não os outros conteúdos) sãodescarregados numa espécie de regime de aluguer, jáque só estão disponíveis durante 24 horas.

BITTORRENTendereço: http://www.bittorrent.com/ | categoria:downloads

Os serviços de alojamento de fotografias multipli-cam-se e encontramos um em cada esquina dos bits darede. Mas a proposta do Comeeko é diferente. A ideiaé que os utilizadores possam transformar as suas foto-grafias e publicá-las na rede, como uma espécie debanda desenhada.

Com efeitos à mistura e adicionando balões de falasdo tipo da BD, os utilizadores do Comeeko podemcontar estórias em imagens, juntando sequências, pro-duzindo e disponibilizando na Internet a sua própriabanda desenhada. Ao vivo e a cores. Mediante um re-gisto no site é possível criar a sua tira de BD, fazendoupload das imagens, escolhendo o layout e as falas. Háainda a possibilidade de visitar uma galeria ou votarnas tiras mais originais e acompanhar na primeira pági-na, através de um destaque, qual a tira que vai à frenteda votação.

COMEEKOendereço: http://www.comeeko.com/ | categoria:fotografias

TEN MINUTE MAIL

O 10 Minute Mail é um serviço que se inspira nosfilmes da Missão Impossível. Trata-se de um email quedesaparece em 10 minutos. Serve, sobretudo, para evi-tar spam (lixo electrónico). O processo de registo ésimples e o endereço que é atribuído é automático. Oprazo de validade expira ao fim de 10 minutos, mas épossível renovar por mais 10 minutos, indefinidamente.

A grande vantagem do 10 Minute Mail é facilitarregistos em sites e serviços que solicitam um endereçode email mas que, não raras vezes, nos enchem a caixade correio electrónico com lixo e vírus. Assim, pararegistos em sites mais ou menos duvidosos ou em es-

paços em que a nossa experiência será garantidamen-te passageira, o 10 Minute Mail garante-nos o anoni-mato e/ou dores de cabeça a menos.

10 MINUTE MAILendereço: http://www.10minutemail.com/ | categoria:serviços

O Jyve é um novo motor de busca que tem comoobjectivo oferecer aos utilizadores respostas especiali-zadas. Este site apresenta um conceito inovador: obteruma resposta especializada e personalizada de especi-alistas dos mais diversos temas. Este serviço está as-sociado ao Skype, um software de VoIP – comunica-ção de voz e vídeo via rede de forma gratuita.

O novo sistema de pesquisa permite que cada ques-tão possa conduzir a chats, ligações ou troca de men-sagens em tempos real com especialistas do assuntopesquisado. Há membros autenticados que identifica-ram previamente os tópicos que dominam. Sempre queum utilizador coloca uma questão é reencaminhado paraum desses especialistas ou para anotações previamen-te colocadas por estes. Cada resposta pode ser classi-ficada para actualizar o serviço de mediação online,pelo qual os especialistas são pagos. À disposição doutilizador estão ainda tutoriais e dicas sobre assuntostão diversos como aprender línguas ou praticar um des-porto.

JYVEendereço: http://www.jyve.com/ | categoria:pesquisa

O clube de futebol londrino Chelsea assinou umcontrato com YouTube. O clube de José Mourinho temum canal no conhecido site de partilha de vídeo, ondevai divulgar conteúdos próprios, como últimas notíciase imagens de jogos. É a primeira equipa de futebol aentrar na Web 2.0

Na página do Chelsea no YouTube vai ainda ser pos-sível encontrar conteúdos de arquivo, entre os quaisreportagens e vídeos populares. Os adeptos do Chel-sea vão também ter um lugar de destaque no canal epodem enviar as suas opiniões, vídeos e imagens paraserem partilhadas no espaço a que se convencionouchamar Chelsea TV. A ideia é simples: alargar o públi-co do Chelsea para além da esfera europeia.

CHELSEATVendereço: http://www.youtube.com/chelseafc |categoria: futebol, vídeo

Page 24: O Centro - n.º 22 – 07.03.2007

24 DE 21 DE MARÇO A 3 DE ABRIL DE 2007TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco Amaral

[email protected]

50 ANOS DE TELEVISÃO

Há precisamente cinquenta anos,

quando passava meia hora das nove da

noite, Maria Helena Varela Santos sur-

gia nos pequenos écrans, a preto e bran-

co, para dizer: “Boa noite senhores te-

lespectadores”. A RTP iniciava assim as

suas emissões regulares e a televisão,

finalmente, deixava as experiências na

Feira Popular em Lisboa para chegar a

uma parte do País.

Talvez fosse uma boa altura para re-

flectir sobre a importância da televisão

em Portugal. Recapitular, analisar, ques-

tionar. Só que, e parece sempre haver

um “mas” neste Portugal do século XXI,

o olhar para trás revela-se, não digo inú-

til, mas desajustado no preciso momento

em que a televisão vive os seus últimos

dias enquanto meio tal como o conhece-

mos há cinquenta anos.

Eu sei bem o que se evoluiu nestes

cinquenta anos. Recordo a entrada do

registo vídeo que deixou, lentamente, a

película para trás. A passagem para a

televisão a cores. As alterações na pró-

pria linguagem televisiva. Mas nada dis-

to se pode comparar com a revolução

digital que se vem desenvolvendo nos

últimos tempos. A partir de agora (de

ontem!) a nossa relação com a televisão

vai ser completamente diferente.

Por isto, recordar os gloriosos tempos

da televisão em Portugal parece-me inú-

til, excepto para constatar que os meca-

nismos de controlo que os diversos po-

deres exercem sobre ela, deixaram de

ser claros e inequívocos (a censura, in-

felizmente, não fingia que não existia)

para passarem a ser muito complexos,

diversificados e dissimulados.

Neste ponto sim, vale a pena, diria, é

necessário tentar compreender qual o

“estado da arte”. E falar, sobretudo não

calar nem mandar calar.

50 ANOS – 10 PORTUGUESES

No ano do cinquentenário da RTP, a

empresa, os que produziram e produzem

televisão e os telespectadores que con-

tribuíram para o seu crescimento, pagan-

do taxa ou não, mereciam muito mais do

que uma Gala comemorativa, uma ex-

posição itinerante e uma administração

auto-satisfeita com um progressivo equi-

líbrio das contas.

Ao fim de cinquenta anos, num País

que tem de ser muito diferente do que

existia em 1957, merecíamos todos não

estar sujeitos a tanta mediocridade. O

serviço público de televisão, embora ine-

gavelmente mais equilibrado se o com-

pararmos com o que existia há cinco

anos, não sabe, ou não quer, contribuir

para reflectir o país no pequeno ecrã,

quer no que temos de grandioso, quer no

que temos de crítico (como a iliteracia).

Hoje, como afinal no passado, a RTP,

especialmente a RTP1, não respeita nem

legitima, com a sua programação e a sua

informação, o financiamento público que

os governos (ou melhor, os portugueses)

todos os anos lhe concedem.

O “concurso” – Os Grandes Portu-

gueses – não pode ser tido como um fait-

divers, uma casualidade, ou, como há

quem defenda, um desencadeador de um

debate necessário. Neste preciso mo-

mento histórico da televisão em Portu-

gal, este é o maior sinal de que na pro-

gramação oferecida pelo canal 1 da RTP,

não há grandes marcas diferenciadoras

das da concorrência privada.

Entretanto, corre um abaixo-assinado

no meio académico que denuncia «a de-

sinformação e a manipulação» da Histó-

ria por parte daquele programa da tele-

visão pública. Segundo Fernando Rosas,

Professor Catedrático da Universidade

Nova de Lisboa, o documento conta com

«mais de uma centena de assinaturas de

profissionais da investigação e do ensino

da História Contemporânea, Moderna e

Medieval».

A unir os académicos, entre os quais

se conta José Mattoso, Luís Reis

Torgal e António Reis, está o desa-

grado acerca da «manipulação» e do

«desmantelamento da memória» que di-

zem ser cometido pelo programa Gran-

des Portugueses, transmitido na RTP.

HORA H

Há muito tempo que Herman José se

passou para o outro lado. Isto é, saltou e

lá se acomodou ao mundo que lhe servia

de inspiração crítica. Com o final do

Herman SIC, um talk-show que se ar-

rastou muito para além do razoável, aten-

dendo à limitações de Herman como

entrevistador, este Hora H criou a ex-

pectativa da redenção, a melhor forma

de mostrar que Herman podia voltar a

fazer melhor, muito melhor.

Aquele que foi, sem dúvida, um dos

grandes marcos do humor na televisão

portuguesa, não consegue, ou não quer,

abandonar os “bonecos” que criou, em-

bora agora os tenha colocado num qual-

quer recipiente e tentado misturar com

varinha mágica. Sem efeito.

Era preciso que Herman saísse da sua

casa na Lapa, esquecesse as flutes de

champagne dos seus restaurantes, tivesse

os pés assentes na terra e não no seu

iate. O povo está triste e até sabe por

quê, mas Herman José está longe.

A Hora H regressou ao interior de um

canal de televisão, mas o Tal Canal en-

sombra o actual Canal Nacional de No-

tícias. Se os Oliveira Casca eram icono-

clastas que bastasse no Tal Canal, neste

CNN tudo se passa demasiadamente “lá

dentro”. Tirando a figura da jornalista

sénior (Ana Bola), que parecia destina-

da a um ajuste de contas de Herman

com Felícia Cabrita, tudo o resto é inó-

cuo. E, o que é pior, repetido.

A Hora H tem momentos em que che-

ga a ser confrangedor ver Herman José

repetir-se a si próprio, sem que daí re-

sulte nada mais do que um vazio, um ter-

rível vazio. O programa vê-se duas ve-

zes e à segunda já tudo é previsível.

Não fossem os Gatos Fedorentos e a

previsibilidade do humor na televisão

portuguesa não passaria, actualmente, do

estado da laracha.