O COMPONENTE CURRICULAR FILOSOFIA E A … O COMPONENTE CURRI… · O COMPONENTE CURRICULAR FILOSOFIA E A FORMAÇÃO HUMANA NA ESCOLA BÁSICA. Ms. Livio dos Santos Wogel Pontifícia

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  • O COMPONENTE CURRICULAR FILOSOFIA E A FORMAO HUMANA NA

    ESCOLA BSICA.

    Ms. Livio dos Santos Wogel

    Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo - PUCSP

    RESUMO

    Esta reflexo tem como tema o ensino de Filosofia no Ensino Mdio como um componente

    curricular, refletido como uma formao significativa e criativa da vida do estudante.

    Versar sobre a contribuio formativa da Filosofia como necessria no Ensino Mdio, etapa

    final da Educao Bsica, algo fundamental para pensar sua introduo obrigatria nos

    currculos do Ensino Mdio, ou seja, preciso identificar quais contribuies formativas a

    Filosofia oferece aos jovens para que eles se formem no Ensino Mdio. Nesta anlise fez-se

    a opo de pensar a Filosofia como um contributo para a formao bsica do estudante,

    com o objetivo de que ele possa produzir significaes crticas e conceituais acerca de si

    mesmo e do mundo. A fim de que a identificao da expectativa formativa da Filosofia no

    Ensino Mdio seja investigada, parte-se da seguinte indagao: Em que medida o

    componente curricular Filosofia desenvolvido no Ensino Mdio favorece o reconhecimento

    e a criao de significaes de si e do mundo pelos estudantes? A trajetria de apresentao

    desta pesquisa acontece de forma a: identificar o currculo como um percurso de formao

    humana e a educao bsica como base tanto o alicerce quanto para o lanamento desta

    formao e apresentar a Filosofia frente a este percurso de formao na educao bsica.

    Baseia-se teoricamente em COELHO (2009), GIMENO (1998), LORIERI e RIOS (2004) e

    SEVERINO (2002, 2004, 2009, 2012). A presena formadora da Filosofia se prope como

    um sentido formativo, a fim de que os estudantes se vejam como produtores de

    conhecimento, de si mesmos e do mundo que os rodeia.

    Palavras-chave: Filosofia, Formao Humana, Educao bsica, Currculo.

    INTRODUO

    Esta reflexo tem como tema o ensino de Filosofia no Ensino Mdio como um

    componente curricular, refletido como uma formao significativa e criativa da vida do

    estudante. Versar sobre a contribuio formativa da Filosofia como necessria no Ensino

    Mdio, etapa final da Educao Bsica, algo fundamental para pensar sua introduo

    obrigatria nos currculos do Ensino Mdio, ou seja, preciso identificar quais

    contribuies formativas a Filosofia oferece aos jovens para que eles se formem no Ensino

    Mdio.

    Nesta anlise fez-se a opo de pensar a Filosofia como um contributo para a

    formao bsica do estudante, com o objetivo de que ele possa produzir significaes

    tericas e conceituais acerca de si mesmo e do mundo. Uma autocompreenso do ser

    humano no mundo um dos contributos que a Filosofia pode oferecer. A fim de que a

    Didtica e Prtica de Ensino na relao com a Escola

    EdUECE- Livro 102963

  • identificao da expectativa formativa da Filosofia no Ensino Mdio seja investigada,

    parte-se da seguinte indagao: Em que medida o componente curricular Filosofia

    desenvolvido no Ensino Mdio favorece o reconhecimento e a criao de significaes de

    si e do mundo pelos estudantes?

    Este texto faz parte da anlise terica da pesquisa em desenvolvimento e em fase

    de concluso: A pedagogia do cio e a formao filosfica no ensino mdio: possibilidades

    originrias de formao atravs do cio, com previso de defesa no segundo semestre de

    2014, no programa de Ps-Graduao em Educao: Currculo, da Pontifcia Universidade

    Catlica de So Paulo, da linha de pesquisa da linha de pesquisa Polticas Pblicas e

    Reformas Educacionais.

    METODOLOGIA

    A escolha da abordagem interpretativa da pesquisa se deu no intuito de

    compreender, ou seja, de elaborar um sentido para o currculo escolar ao apresentar o

    componente curricular Filosofia como um conhecimento valoroso na educao escolar,

    especificamente como uma formao filosfica que se d no Ensino Mdio.

    O tipo de pesquisa bibliogrfica foi julgado como o mais acertado, pois ela

    constitui um mtodo de pesquisa coerente com o objetivo de apresentar a Filosofia e o valor

    educativo desta quando se torna um componente curricular obrigatrio. Conjuntamente

    pesquisa bibliogrfica foi demandada uma pesquisa documental, nos documentos oficiais

    do Estado brasileiro acerca do Ensino Mdio e do componente curricular Filosofia neste

    nvel de ensino, adequando-se ao tipo de investigao coerente com a da linha de pesquisa

    Polticas Pblicas e Reformas Educacionais e Curriculares, do Programa de Ps-graduao

    em Educao: Currculo, da PUCSP.

    Entre os diversos procedimentos de anlise textual, foi utilizada a Anlise Textual

    Discursiva como meio para a organizao da pesquisa. Este mtodo coaduna-se com a

    metodologia da Anlise de Contedo que, segundo Chizzotti (2003, p.98), uma tcnica

    que se aplica a anlise de textos escritos a fim de alcanar o significado profundo contido

    neles. O objetivo da anlise de contedo compreender criticamente o sentido das

    comunicaes, seu contedo manifesto ou latente, as significaes explcitas ou ocultas.

    (Idem).

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  • O encontro com a Anlise Textual Discursiva aconteceu a partir das proposies

    de MORAES (2003), que apresenta essa abordagem de anlise que circula as finalidades

    tanto da anlise de contedo quanto da anlise de discurso. A anlise textual qualitativa

    pode ser caracterizada como uma metodologia na qual, a partir de um conjunto de textos ou

    documentos, produz-se um metatexto, descrevendo e interpretando sentidos e significados

    que o analista constri ou elabora a partir do referido corpus. (MORAES, 2003, p. 202).

    Este tipo de anlise opera com os significados construdos a partir de um conjunto de textos

    no qual o analista precisa atribuir sentidos e significados sua anlise.

    OS CAMINHOS PERCORRIDOS

    A trajetria de apresentao da pesquisa acontece de forma a: identificar o

    currculo como um percurso de formao humana e a educao bsica como base tanto o

    alicerce quanto para o lanamento desta formao e apresentar a Filosofia frente a este

    percurso de formao na educao bsica.

    1. A Formao Humana na Educao Bsica

    Um dos primeiros aspectos que conduzem a reflexo desta pesquisa definir o que

    bsico em uma formao humana a ser desenvolvida pela escola. A partir de uma

    definio de formao, se faz necessrio demandar: qual trajetria curricular, que inclui

    conhecimentos, habilidades e competncias, pode afirmar que a pessoa desenvolveu uma

    educao bsica, ou seja, seu pleno desenvolvimento? Primeiramente, faz-se necessrio

    formular um entendimento do que se espera de uma formao bsica.

    Sabendo ser esta uma questo no s curricular mas, antes, de concepo humana,

    de uma antropologia filosfica e sociocultural, preciso identificar o que, humanamente

    falando, bsico, e que se pode desenvolver na escola atravs da educao formal.

    Identificar o humano, atravs da sua natureza, sua racionalidade, sensibilidades e

    relacionalidades, uma tarefa que os homens tomam para si mesmos desde os primrdios, e

    vo construindo a sua identidade atravs dos tempos e das filosofias s quais vo se

    vinculando ou criando. tambm uma afirmao poltica, visto que no espao da polis,

    da sociedade humana organizada, que os homens se formam e so formados. Esta reflexo

    no se prope a acrescentar ou afirmar somente um destes aspectos da humanizao, mas

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  • est a um dos contributos que a Filosofia oferece aos estudantes da educao bsica e aos

    profissionais que nela atuam: refletir acerca de uma viso humana que se prope formar,

    ou, como afirmam Lorieri e Rios, influenciar na forma de ser gente.

    Quando nos envolvemos em um trabalho educativo na escola, temos intenes

    explcitas: queremos, com os currculos que apresentamos, produzir certos

    efeitos em nossos alunos, para que se tornem seres humanos de algum modo. Um

    currculo um curso de ao educativa, o prprio movimento da vida da

    escola realiza-se por meio dos componentes curriculares que envolvem as

    disciplinas e todas as demais atividades programadas e desenvolvidas no interior

    do contexto escolar e em suas relaes com o contexto social amplo. (LORIERI;

    RIOS, 2004, p.38).

    O currculo escolar, como uma forma elaborada do conhecimento socialmente

    desenvolvido, escolhido e traduzido na forma de linguagem, do tempo e das condies da

    escola bsica, o que transmite os conhecimentos queles que nele percorrem ou nele

    transitam, que entendam e usem seus cdigos tanto internamente na instituio tanto

    quando dela se distanciarem. Segundo Gimeno Sacristn (1998, p. 137), O currculo, ao

    querer modelar um projeto educativo complexo, sempre um veculo de pressupostos,

    concepes, valores e vises da realidade. A escola, incluindo todos os seus atores,

    formula e apresenta esse veculo que conduz um processo formativo em vista de um ser

    humano imaginado, ou seja, numa ideia elaborada a partir de suas concepes,

    conhecimentos e crenas, e de uma sociedade que se quer alcanar. Gimeno (idem) afirma

    que o currculo o processo de conduo da escola, do seu projeto educativo. Os meios

    pelos quais a escola projeta, elabora, implementa e faz o projeto educativo so o currculo.

    No somente uma idealizao, mas sim o seu processo de ao. Assim sendo,

    idealizao enquanto projeto, e tambm implementao enquanto ao. O currculo

    prxis.

    A instituio escola desenvolve o conhecimento escolar para que os estudantes

    possam percorrer uma trajetria formativa a fim de, um dia, viverem num mundo ps ou

    alm da escola. Conhecimentos aqui no so entendidos como contedos, mas como

    conhecimento mesmo, ou seja, os saberes desenvolvidos pelos homens, tanto utilizados

    para identificar o mundo quanto para interpret-lo e transform-lo.

    A marca da escola ser uma instituio de conhecimento e apresentar o

    conhecimento s pessoas de modo que possam se desenvolver com ele e a partir dele.

    Didtica e Prtica de Ensino na relao com a Escola

    EdUECE- Livro 102966

  • Assim, a escola forma a pessoa pelo conhecimento, e basicamente com e para este que h

    uma formao bsica.

    Antes necessrio lembrar que o conhecimento se manifesta de diversas formas,

    tanto formalmente como informalmente. Possibilitar acesso ao conhecimento que faz com

    que a escola cumpra sua funo social. Porm, no expor somente o conhecimento

    cientfico, mas tambm outras formas de compreenso e significao da vida, do mundo e

    de si mesmo como a filosofia, as artes, a religiosidade e o senso comum, etc. prprio da

    escola ajudar os estudantes a significar tantos conhecimentos segundo uma forma e/ ou

    formalidades.

    Nesse sentido, a formao humana recupera o sentido da paideia, na qual o

    humano formado na sua interdimensionalidade. A busca da paideia grega foi a de formar

    o cidado desenvolvendo-se numa interdimensionalidade, que considerava os aspectos

    essenciais do ser humano, como o logos, a razo, o pathos, o sentimento ou a sensibilidade,

    o eros, a dimenso corporal e do desejo e o mythos, a dimenso do mistrio. Na skhol o

    cio -, o ser humano era formado e se formava nos seus aspectos essenciais para a

    compreenso de si mesmo, na cultura, aperfeioando seu ethos para atuao social, isto ,

    ser cidado na polis.

    Severino (2012, p. 15) corrobora com o sentido da formao como paideia ao

    apresentar que o compromisso do conhecimento com a construo da cidadania,

    entendida como uma forma adequada de existncia no mbito da polis, adequada porque

    realizando uma necessria qualidade de vida, que o prprio conhecimento, ferramenta

    privilegiada da espcie, lhe permite configurar historicamente.

    A escola mdia tem servido muitas vezes para negar a interdimensionalidade do

    homem, negando mesmo a prpria LDB, em seu art. 35, inciso III do 1, que versa que o

    Ensino Mdio tem, entre suas finalidades: O aprimoramento do educando como pessoa

    humana, incluindo a formao tica e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do

    pensamento crtico.

    Com efeito, a escola se faz plena de sentido medida que efetivamente amplie e

    aprofunde os horizontes de vida e de cultura para o todos os homens, sem

    discriminao; participe efetivamente do trabalho e do esforo da humanidade, da

    sociedade e dos indivduos de rompimento e superao de tudo o que limitado,

    pobre, repetitivo, operacional, funcional, coisificante, desumanizante; de

    transcender a esfera do particular, das partes, do privado rumo ao universal, ao

    todo, totalidade aberta, viva e em permanente inveno de si mesma; de pr em

    Didtica e Prtica de Ensino na relao com a Escola

    EdUECE- Livro 102967

  • primeiro lugar o que pblico, o que de todos, o direito, a autonomia, a

    liberdade, a igualdade, a justia, a dignidade dos humanos. Em tudo isso

    fundamental que a educao e a escola se faam partes do trabalho de apreenso

    do mundo da linguagem, no como mero instrumento de comunicao e

    expresso, mas como esfera de sentido, de significao. (COELHO, 2009, p.22).

    A contribuio bsica para a formao humana que a escola deveria propor a de

    ajudar os estudantes a conhecerem o mundo e conhecerem o prprio conhecimento. Isso

    quer dizer, alm de eles serem instrudos em alguns saberes bsicos, cabe escola estimular

    a identificao das diversas formas de conhecimento, de ser instrumento de produo e

    inovao de conhecimentos, de avaliar a validade destes e, especialmente, os processos de

    produo dos conhecimentos, junto com sua histria, economia, poltica e ideologia.

    Identificar, analisar, avaliar e propor os cdigos e os saberes que leem e interpretam o

    mundo e a si mesmo uma formao bsica pelo conhecimento, visto que este algo

    existencial para o humano. Uma leitura de mundo e de si mesmo e a perseguio da

    verdade enquanto validade do conhecimento que deve estar na base da formao humana.

    O que vem a ser essa formao? o amadurecimento, o desenvolvimento dos

    estudantes como pessoas humanas. Ns nos formamos quando ns nos damos

    conta do sentido de nossa existncia, quando tornamos conscincia do que

    viemos fazer no planeta, do porque vivemos. E claro que ns no nascemos

    sabendo disso e nem chegamos aos sete anos, na escola, na estaca zero. Embora

    as pessoas j venham aprendendo coisas e se formando desde o nascimento, no

    ambiente familiar e no ambiente social, s nas instituies formais de ensino,

    tornadas necessrias em decorrncia da complexidade das sociedades

    contemporneas, essa aprendizagem e essa formao passam a ser trabalhadas de

    forma intencional e sistemtica. O trabalho pedaggico quer dizer isso: pedagogia

    como pratica educativa significa exatamente conduzir a criana, o adolescente, o

    jovem ou o adulto, quando nos ambientes escolares, no caminho da aprendizagem

    e da formao. (SEVERINO, 2002, p. 185).

    Assim, a formao humana bsica esta que oferece fundamentos aos saberes que

    a pessoa desenvolve, como tambm uma base de lanamento dessa pessoa enquanto

    projeto de vida. O conhecimento e o conhecer so o fundamento, firmamento e sustento da

    pessoa, de modo a serem usados como base de lanamento de si para alm da vida escolar.

    O propsito do conhecimento que a pessoa, no uso de sua inteligibilidade, sensibilidade,

    corporeidade, sociabilidade, moralidade, integralmente, possa buscar desenvolver projetos

    para si e de interveno no mundo enquanto cidado. Trata de ser uma conscincia da

    pulso da vida e da busca de razo de ser da prpria existncia, inserindo-se e construindo

    um mundo.

    Didtica e Prtica de Ensino na relao com a Escola

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  • A crtica que hoje se faz a de que a formao desenvolvida na escola est, muitas

    vezes, em descompasso com uma formao humana, no sentido da busca de uma dignidade

    pessoal que se atualiza pelo processo de conhecimento tanto de si, enquanto personalidade,

    quanto do mundo, como local do existir, a fim de realizar-se como pessoa, tanto

    individualmente quanto socialmente situada. Muitas vezes, as escolas seguem sendo um

    espao somente de socializao dos saberes acumulados ao longo da Histria, como um

    acervo de conhecimentos, que j vm selecionados e prontos para serem apresentados

    segundo critrios oficiais, ou dos imperativos do mercado, tanto para o exerccio de uma

    profisso quanto do consumo, em forma de texto, discurso ou prticas. So saberes com os

    quais os estudantes pouco se identificam, como se estivessem parte dessa histria

    contada.

    Uma ressignificao de si e da realidade produz uma ontologia e uma antropologia

    de modo que a pessoa entenda que o mundo o sentido que se d a ele e formule sentidos

    para a realidade. o que Severino (2009, p. 15) prope para o ensino de Filosofia:

    Subsidiar o jovem aprendiz a ler o seu mundo para se ler nele. uma hermenutica

    crtica e criativa, como forma de conhecimento do mundo e de si mesmo, apreendendo os

    sentidos j dados, os contextos e as razes expressas e a serem elucidadas, e os sentidos a

    se elaborar.

    2. O componente curricular Filosofia e a Formao para o reconhecimento e a criao

    de significaes de si e do mundo pelo estudo do Ensino Mdio.

    A insero da Filosofia no estgio final da educao bsica o Ensino Mdio -

    tem como propsito contribuir com o processo de formao e de humanizao que se d na

    educao bsica. A contribuio da Filosofia e do filosofar, enquanto conhecimento que se

    desenvolve no Ocidente h mais de dois mil anos, suscitar, exemplificar e promover o

    processo de reflexo sistemtica, crtica e conceitual, prprios da sua identidade, que se

    movimentam em vista desta formao.

    Alio-me a Paiva (2008, p.140), ao acreditar que a Filosofia - conhecimento que, no

    Ensino Mdio, apresentado na forma de componente curricular obrigatrio que se

    formaliza enquanto disciplina escolar - pode se tornar um espao privilegiado para que os

    Didtica e Prtica de Ensino na relao com a Escola

    EdUECE- Livro 102969

  • alunos se envolvam no conhecimento de seu contexto de vida e interaes, e que seus

    conceitos sejam trabalhados para a compreenso, interpretao e que possam auxiliar para

    tomar decises na vida, escolar e social.

    Reitera-se que o propsito da escola de humanizar e formar intencionalmente

    atravs do conhecimento formal. Tambm seria injusto no possibilitar aos estudantes que

    conheam a Filosofia, conhecimento milenar da humanidade na busca da verdade racional e

    conceitual. Desde os seus primrdios, na antiguidade grega, a Filosofia tem como princpio

    o questionamento das realidades a fim de constitu-las com um sentido racional.

    O conhecimento filosfico, neste intento de humanizao, contribui com os

    estudantes de modo que eles, ao conhecerem-no possam aprender e apreender um modo de

    significao do mundo, atravs dos conceitos crticos, radicais e totalizantes, que a

    Filosofia produziu e continua produzindo, atravs da sua caracterstica inquieta,

    questionadora, persistente, dialgica e criativa. Conforme apresenta Lorieri e Rios (2004,

    p.24), A Filosofia busca a compreenso, que diz respeito ao sentido, ao significado, ao

    valor. Ela se apresenta, assim, como uma maneira de pensar que tem um contedo

    prprio: os aspectos fundamentais da realidade e da existncia humana.

    Constituir o sentido (na dupla acepo de direo e de significado) uma tarefa

    fundamental ao que o ser humano no pode se recusar, sob pena de perder a si

    mesmo e ao seu mundo, pois a produo do mundo e a produo do sentido dessa

    produo so uma tarefa nica: o mundo no seria mundo humano se no tivesse

    o seu sentido e, por outra, no haveria lugar para o sentido se no houvesse

    mundo humano. (LORIERI; RIOS, 2004, p. 25).

    Compreender liga-se ao desejo e constituio de estabelecer sentidos e

    significados tanto para si quanto para o mundo. Para isso, faz-se um duplo movimento: um

    de entendimento, ou seja, de posicionar-se e de se fazer presente conscientemente nas

    ideias que so formuladas para significar o mundo e a si mesmo, e o segundo, da

    valorizao, escolha e utilizao dessas ideias para seguir ou no na mesma trajetria

    ideria. um reconhecimento do j pensado e agido, e com, ou a partir desse, o que e como

    pensar e agir. H tanto um trabalho intelectual, pelo exerccio do pensamento, do

    entendimento e da conscincia, bem como afetivo, pelo exerccio do posicionamento, da

    opo e das aes. Com o conhecimento filosfico, o compreender situar-se no conjunto

    de ideias que do norte existncia humana e orientar-se para que rumo tomar.

    Didtica e Prtica de Ensino na relao com a Escola

    EdUECE- Livro 102970

  • O conceito de compreenso guarda em seu interior uma referncia a uma

    dimenso intelectual e a uma dimenso afetiva. H uma capacidade de

    conhecimento, uma argcia da inteligncia, que l dentro (intus legere) ou nas

    entrelinhas da realidade. A esse aspecto cognoscitivo se conjuga uma

    perspectiva de afeto, j anunciada na prpria denominao da filosofia, na qual se

    guarda uma referncia philia, amizade, impulsionadora do desejo de ir ao

    encontro da sophia, saber amplo e profundo. (RIOS, 2005, p. 44).

    Tambm nesse sentido, Severino (2004, p. 103) aborda a questo da necessidade

    do conhecimento filosfico como relevante e indispensvel para pensar e promover o

    processo formativo da humanizao.

    Por sinal, este carter formativo da Filosofia que a vincula ntima e

    necessariamente com a educao, se esta for entendida como investimento na

    universalizao dos significados, na universalizao dos benefcios do

    conhecimento. Se a educao for concebida como processo, por excelncia, da

    humanizao, investimento coletivo para construir o prprio homem,

    subsidiando-o na necessria superao de sua pura naturalidade fsico-biolgica.

    a necessidade da formao integral do homem que legitima a prpria educao

    e a presena, nela, da Filosofia.

    Para o estudante em formao no Ensino Mdio - em que suas capacidades de

    abstrao e de escolha se encontram em processo de incio de maturao, que j passou

    pelas fases da fundamentao elementar da formao escolar, e que agora est no processo

    final da formao bsica, - a Filosofia aparece como um contributo para a formao

    humanstica. Assim, o estudante nesse nvel, pode perceber-se e compreender-se como um

    sujeito de conhecimento e de ao transformadora, tendo o conhecimento filosfico como

    aliado que suscita a reflexo consciente de si mesmo, ao aprimorar sua capacidade crtica e

    criativa e a compreenso de si em relao ao mundo. Estas compreenses formam-lhe a

    identidade de pessoa humana, capaz de se desenvolver, a fim de buscar realizar os projetos

    que idealiza para si mesma e para a conquista do mundo que capaz de idealizar e

    produzir.

    Severino (2012, p. 16) categrico ao apresentar a contribuio formativa da

    Filosofia nessa perspectiva:

    [...] no caso do ensino mdio, pouco importa se o adolescente vai ter a

    terminalidade de seus estudos nesse nvel, inserindo-se j no mundo do trabalho

    ou se ele vai para a universidade, sua formao filosfica absolutamente

    necessria para que o adolescente, possa se dar conta do significado da sua

    existncia histrica, do significado da insero dele seja onde for, no mundo do

    trabalho, no mundo da profisso, no mundo da cultura.

    Didtica e Prtica de Ensino na relao com a Escola

    EdUECE- Livro 102971

  • Na mesma direo, Deina (2009, p.132) reflete sobre a contribuio que a

    presena da Filosofia no caso especfico do Ensino Mdio pode oferecer ao jovem:

    Colaborar para o aprimoramento de sujeitos, em pleno processo de formao, numa fase

    crucial para a definio do sentido da existncia.

    Os estudantes do Ensino Mdio, com a colaborao da escola e do conhecimento

    filosfico, e tambm com a presena do(a) professor(a) de Filosofia manifestao mais

    visvel que a Filosofia ter na escola -, so convidados e convocados a darem respostas s

    leituras de mundo, percebendo-se como autores das prprias histrias, dos processos e

    condues existenciais, do processo de produo das razes para si, e das responsabilidades

    que tm para consigo mesmos.

    So convidados a serem autores, atores e narradores da prpria histria, mesmo na

    imprevisibilidade da vida. A metfora da atuao, como um ator, leva a pensar na

    improvisao, ou seja, na ao em prol da viso, do latim im pro vis -, daquilo que

    tambm se vislumbra, que se projeta. o desejo de alcanar o que se vislumbrou que pe

    em marcha a ao educativa. o investimento de intencionalizao na construo de uma

    histria. Uma educao formadora exatamente o que os estudantes podem vislumbrar e

    improvisar para si. Estabelecer a forma que eles desejam, que entendem, que vislumbram,

    que qualificam, com as razes que estabeleceram para isso. Por isso o pensamento crtico,

    especialmente o que desnaturaliza as vises de mundo, to significativo no encontro com

    a Filosofia no currculo escolar.

    A fora formativa da Filosofia de promover a superao dos pensamentos

    limitadores e enganadores para que eles no sejam vistos como totalizantes ou sistemas

    fechados. E sem considerar a experincia concreta dos estudantes, o propsito formativo da

    Filosofia se torna muito pouco interessante e, mesmo, desimportante, no sentido de no ser

    incorporado pelos estudantes.

    por isso que me inclino a ver o ensino de Filosofia como um investimento

    pedaggico que visa contribuir para que os adolescentes desencadeiem um

    processo de ressignificao de sua experincia existencial, pois eles vivem

    fazendo uma contnua experincia de mundo, em todas as suas dimenses. Eles

    vo retirando dessa experincia e de seu contexto as significaes conceituais e

    valorativas de que precisam para dar continuidade a sua prpria existncia

    histrica. O que se espera da formao filosfica que essas significaes sejam

    mais condizentes com uma existncia digna, no degradada, no opressiva e no

    alienada, de acordo com o que a Filosofia, como saber cultural acumulado e em

    devir, assim as construiu e continua construindo. (SEVERINO, 2004, p. 108).

    Didtica e Prtica de Ensino na relao com a Escola

    EdUECE- Livro 102972

  • Enquanto conhecimento formativo, a Filosofia s ser interessante se os jovens

    estudantes puderem ver-se nele, ou seja, se buscarem um sentido pessoal da vida e das

    coisas.

    CONSIDERAES FINAIS

    O propsito da educao bsica ao finalizar o Ensino Mdio possibilitar que o

    jovem, atravs dos conhecimentos desenvolvidos, possa lanar-se em busca de realizar-se

    como pessoa humana. Fazer-se projeto uma das possibilidades do sujeito autnomo e

    emancipado. Este um dos desejos da Filosofia, que os estudantes tenham o gosto pelo

    pensamento crtico de modo a se fazerem a si mesmos, como cidados autnomos e

    autnticos.

    Com os demais componentes da Educao Bsica, a Filosofia deve contribuir para

    uma das finalidades do Ensino Mdio, que a de aprimoramento como pessoa humana,

    incluindo a formao tica e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento

    crtico (Art. 35, inciso III, da LDB). As propostas curriculares precisam partir para este

    aprimoramento que se d pelo conhecimento crtico e criativo, no s das cincias

    modernas, mas tambm das artes, das religies, da cultura em geral e da Filosofia, que do

    significaes significativas para a vida.

    A presena formadora da Filosofia se prope como um sentido formativo, a fim de

    que os estudantes se vejam como produtores de conhecimento, de si mesmos e do mundo

    que os rodeia.

    preciso recorrer modalidade do conhecimento filosfico, que onde

    desenvolvemos nossa viso mais abrangente do sentido das coisas e da vida, que

    nos permite buscar, com a devida distncia crtica, a significao de nossa

    existncia, e o lugar de cada coisa nela. o que comumente expressamos ao nos

    referir ao pensar, ao refletir, ao argumentar, ao demonstrar, usando dos recursos

    naturais, comuns, da nossa subjetividade. (SEVERINO, 2002, p. 187).

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