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O “CONCEITO”[1] DE JUSTIÇA EM KANT: A COAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE EFETIVAÇÃO DO JUSTO. THE "CONCEPT" OF JUSTICE IN KANT: THE COERCION AS AN INSTRUMENT TO ACCOMPLISH THE FAIR. David Barbosa de Oliveira RESUMO É inegável a influência de Kant na filosofia moderna, tendo realizado uma reviravolta copernicana, guinando definitivamente o pensamento moderno para novos caminhos. Este artigo passará por alguns pontos da “crítica da razão pura”, dada a sua importância para o entendimento da “lógica” kantiana, delimitando, por exemplo, a distinção entre númeno e fenômeno. Estabelecido os limites da razão, definir-se-á o termo idéia, distinguindo-o de conceito e de intuição e o colocará como elo entre a razão pura e a razão prática. Estabelecer-se-á a liberdade como ponto central do pensamento kantiano, sabendo que é a razão que gera essa liberdade. O Estado fornece o ordenamento jurídico para resguardar essa liberdade – único direito inato no homem – seu fundamento e objetivo. A Justiça para Kant é composta pela liberdade e pela igualdade, enquanto o injusto é todo obstáculo que se ponha frente a liberdade. É aqui que se estabelece a importância no pensamento kantiano da coação, pois esta é justamente o instrumento de efetivação do Justo como a desobstrução dos obstáculos colocados à liberdade. PALAVRAS-CHAVES: FILOSOFIA; DIREITO; JUSTIÇA; LIBERDADE; ESTADO; COAÇÃO. ABSTRACT There is no denying the influence of Kant in modern philosophy and made a copernic turnaround, leading definitively modern thought for the new paths. This article will have some points of the “critique of pure reason”, given its importance for understanding the “logic” Kantian, limiting, for example, the distinction between phenomenon and numenon. Established the limits of reason, will define the term idea, distinguishing it from concept and intuition and how to make the link between pure reason and practical reason. This will be free as a central point of Kantian thought, knowing that is why it generates such freedom. The state provides the legal system to protect that freedom - only law innate in man - its basis and purpose. The Justice for Kant is made for freedom and equality, while the unjust is all that is put forward obstacle to freedom. It is here that states the importance of coercion in Kantian thought, because this is precisely the instrument of execution of the Fair as the clearing of barriers to freedom. 5415

O “CONCEITO”[1] DE JUSTIÇA EM KANT: A COAÇÃO COMO ... · númeno e fenômeno. Estabelecido os limites da razão, ... Immanuel Kant: vida e ... é interrogando quais as possibilidades

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O “CONCEITO”[1] DE JUSTIÇA EM KANT: A COAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE EFETIVAÇÃO DO JUSTO.

THE "CONCEPT" OF JUSTICE IN KANT: THE COERCION AS AN INSTRUMENT TO ACCOMPLISH THE FAIR.

David Barbosa de Oliveira

RESUMO

É inegável a influência de Kant na filosofia moderna, tendo realizado uma reviravolta copernicana, guinando definitivamente o pensamento moderno para novos caminhos. Este artigo passará por alguns pontos da “crítica da razão pura”, dada a sua importância para o entendimento da “lógica” kantiana, delimitando, por exemplo, a distinção entre númeno e fenômeno. Estabelecido os limites da razão, definir-se-á o termo idéia, distinguindo-o de conceito e de intuição e o colocará como elo entre a razão pura e a razão prática. Estabelecer-se-á a liberdade como ponto central do pensamento kantiano, sabendo que é a razão que gera essa liberdade. O Estado fornece o ordenamento jurídico para resguardar essa liberdade – único direito inato no homem – seu fundamento e objetivo. A Justiça para Kant é composta pela liberdade e pela igualdade, enquanto o injusto é todo obstáculo que se ponha frente a liberdade. É aqui que se estabelece a importância no pensamento kantiano da coação, pois esta é justamente o instrumento de efetivação do Justo como a desobstrução dos obstáculos colocados à liberdade.

PALAVRAS-CHAVES: FILOSOFIA; DIREITO; JUSTIÇA; LIBERDADE; ESTADO; COAÇÃO.

ABSTRACT

There is no denying the influence of Kant in modern philosophy and made a copernic turnaround, leading definitively modern thought for the new paths. This article will have some points of the “critique of pure reason”, given its importance for understanding the “logic” Kantian, limiting, for example, the distinction between phenomenon and numenon. Established the limits of reason, will define the term idea, distinguishing it from concept and intuition and how to make the link between pure reason and practical reason. This will be free as a central point of Kantian thought, knowing that is why it generates such freedom. The state provides the legal system to protect that freedom - only law innate in man - its basis and purpose. The Justice for Kant is made for freedom and equality, while the unjust is all that is put forward obstacle to freedom. It is here that states the importance of coercion in Kantian thought, because this is precisely the instrument of execution of the Fair as the clearing of barriers to freedom.

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KEYWORDS: PHILOSOPHY; RIGHT; JUSTICE; FREEDOM; STATE; COERCION.

1. Introdução.

Como estabelecer a relação entre a ausência de vontade para a prática de um ato e a liberdade de praticar esse ato? Como a ausência de liberdade de praticar um ato pode ser o instrumento de efetivação dessa liberdade? O longo caminhar que percorreu Kant até chegar a idéia de coação como um instrumento de efetivação da liberdade é traçado neste artigo à “crítica” não foi a rejeição das conclusões metafísicas, mas a incerteza dessas conclusões, a fraqueza dos argumentos em que se assentavam. A crítica da razão pura é uma guinada surpreendente no estudo do conhecimento (gnoseologia), aferindo quais são os limites do pensamento racional e se este é confiável. O conhecimento então é uma deformação do real, sendo o objeto, em parte, tal como o conhecemos, obra nossa. Não conhecemos a priori nas coisas senão aquilo que nós mesmos nela colocamos.

É inegável a influência de Kant na filosofia moderna, tendo realizado uma reviravolta copernicana, guinando definitivamente o pensamento moderno para novos caminhos. A crítica da razão pura estabelece os limites da razão, explicando porque a metafísica não consegue se desenvolver como a física e a matemática. Uma vez encontrado o verdadeiro lugar que a razão possui no processo de conhecimento, estabelecido a distinção entre númeno e fenômeno e se a razão pode ou não prescindir da realidade no processo cognitivo, parte Kant para uma nova crítica: a da razão prática. Nesta Kant vai responder a uma de suas importantes perguntas: “Que devo fazer?” É a idéia em Kant que vai realizar o elo entre essas duas críticas.

O homem tem uma dupla natureza: uma sensível e outra inteligível. A razão é o que separa o homem do estritamente sensível, do determinismo da natureza. A linha mestra do pensamento Kantiano é a liberdade e é a razão que gera essa liberdade. A liberdade é o único direito inato do homem. O Estado fornece o ordenamento jurídico para resguardar a liberdade, criando uma esfera de segurança para o exercício da liberdade. A liberdade pressupõe a igualdade, pois todos devem ser iguais em liberdade.

Justiça também é um termo extremamente ligado à liberdade. O Justo para Kant é composto pela liberdade e pela igualdade. O injusto é todo obstáculo que se ponha frente a liberdade. É aqui que se estabelece a importância no pensamento kantiano da coação, pois esta será justamente o instrumento de efetivação do Justo. Posto que Justo para Kant é tudo o que promove a liberdade, o governo de si mesmo para si mesmo e injusto é tudo o que impede a liberdade que se realiza segundo leis universais, então o afastamento desses obstáculos é uma realização da justiça. Destarte essa desobstrução dos obstáculos colocados à liberdade é realizado pela coação e é sobre este instrumento, sob a ótica do pensamento kantiano, que será realizado este artigo.

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2. Immanuel Kant: vida e obra.

A modernidade é marcada pelo subjetivismo. Herança dos humanistas da época do Renascimento, que, ao fazerem uma nova releitura da realidade, saem do teocentrismo da Idade Média e entram no antropocentrismo, que orientará o caminhar da Idade Moderna, contexto histórico, cultural e filosófico ao qual se encontra inserido Immanuel Kant. “A transição do mercantilismo para o liberalismo assinala o apogeu do individualismo e a elevação da liberdade individual a alturas nunca dantes conhecidas”. Alemão do século XVIII, Kant compartilha dos ideais iluministas de sua época, cujas forças se dão na primazia da razão.

Immanuel Kant nasceu em Koenisberg em 1724, era o quarto irmão mais velho de uma família de onze filhos. Sua família era pobre e sua mãe era uma mulher profundamente religiosa, impondo ao filho uma sólida educação moral. Sua mãe antes de morrer internou-lhe no colégio Fridericianum, dirigido por Francisco Alberto Shultz, um fervoroso adepto do Pietismo de Spener. Esse traço biográfico explica parte da austeridade de sua doutrina moral e a solidez de sua fé. Como havia se destacado no colégio, o diretor o encaminha para a faculdade de Koenisberg vindo nela a cursar filosofia que à época compreendia filosofia propriamente dita e ciências. O filósofo que mais lhe influenciou na faculdade foi Martin Knutzen, pietista e discípulo de Cristiano Wolf (este, por sua vez, com forte influência de Leibniz).

A obra de Kant pode ser dividida em 3 fases: a primeira vai de 1755 a 1770 – nela, suas idéias ainda não tomaram forma. Kant segue de perto o racionalismo dogmático de Leibniz desenvolvido e divulgado por Wolf, entretanto a leitura de David Hume o faz despertar de seu “sono dogmático”. No decurso desses anos, Kant também lê Jean-Jacques Rousseau, de quem também sofre profunda influência. Na segunda fase de sua obra – a partir de 1770 – começa a surgir um primeiro esboço de sua filosofia com a dissertação “A forma e os princípios do mundo sensível e do mundo inteligível”. Até 1780, sua filosofia amadurece e entre 1780 e 1790 vêm a lume suas obras primas: “Crítica da razão pura”; “Prolegômenos a toda metafísica futura que possa apresentar-se como ciência”; “Fundamentação da metafísica dos costumes”; “Crítica da razão prática” e; “Crítica do juízo”. Com a publicação da última crítica a filosofia kantiana pode considerar-se completa. Na terceira fase, o filósofo irá apenas publicar duas obras que não mudaram as linhas gerais do seu pensamento: “A religião dentro dos limites da simples razão” e “Metafísica dos costumes”.

3. Crítica da razão pura: os limites da razão.

O que conduziu Kant à “crítica” não foi a rejeição das conclusões metafísicas, mas a incerteza dessas conclusões, a fraqueza dos argumentos em que se assentavam. E é aqui que se encontra a influência do empirismo de Hume que, para Kant, provou de maneira irrefutável que a razão não é capaz de pensar a priori, de forma universal e independente, abalando o edifício racionalista de Descartes, Leibniz e Wolf que

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pretendiam atingir verdades absolutas e constituir uma metafísica. Ao contrário das demais disciplinas (lógica, matemática e física), a metafísica continua a tatear e os metafísicos não conseguem se entender. Destarte, é interrogando quais as possibilidades da razão e a fim de responder por que a metafísica não apresenta o mesmo grau de certeza da matemática ou da física que ele propõe uma crítica da razão pura. Essa crítica se proclama pura por envergar-se sobre os valores do pensamento puramente racionais, sobre a faculdade da razão como tal, independente da experiência e consequentemente sobre a possibilidade de existência da metafísica em si. A crítica da razão pura é uma guinada surpreendente no estudo do conhecimento (gnoseologia), aferindo quais são os limites do pensamento racional e se este é confiável.

O primeiro ponto determinante na “Crítica da razão pura” é a revolução impetrada sobre o método. Deve-se determinar o objeto segundo as exigências da razão em lugar de por o objeto como uma realidade em si, perante a qual a razão não tem outra alternativa senão inclinar-se. É a utilização do método racional. O conhecimento então é uma deformação do real, sendo o objeto, em parte, tal como o conhecemos, obra nossa. Conhecemos a priori nas coisas aquilo que nós mesmos nela colocamos. “A realidade, enquanto por nós é conhecida, sofre as modificações impostas pelas leis da nossa mente. A realidade por nós apreendida apresenta-se-nos nas formas da nossa apreensão. O modo de apreensão imprime o seu cunho ao objeto conhecido”. Georges Pascal, sintetiza o pensamento kantiano: “Kant não duvida, absolutamente, da existência das coisas fora de nós; entende apenas que tais coisas não são conhecidas senão através das formas que lhe impõe a nossa faculdade de conhecer”.

Para melhor esclarecer essas idéias faz-se necessário estabelecer a diferença entre númeno e fenômeno proposta por Kant. Os fenômenos são as coisas assim como nós as conhecemos, nossas percepções sobre o mundo que nos rodeia, já o númeno é a coisa em si, em sua realidade ôntica, independente do conhecimento que possuímos delas. O conhecimento existe apenas no mundo fenomênico e só nele há alguma certeza e segurança. O que é da esfera numênica não é possível conhecer em essência, no conteúdo. “A 'coisa em si', o absoluto ou 'noumeno', é incognoscível. Nós conhecemos o ser, só enquanto nos aparece, isto é, enquanto fenomeno (que significa precisamente a aparição)”.

Há dois tipos de conhecimento: a priori e a posteriori. Aqui, importa-nos o conhecimento a priori que é toda proposição necessária e universal e esta não pode ser encontrada senão na razão. Assim o conhecimento a priori é inevitavelmente racional. Logo, a razão é fonte de conhecimento. Como a grande novidade introduzida por Kant é o estudo de juízos sintéticos a priori e a indagação se esse tipo de conhecimento existe na metafísica, faz-se importante a distinção entre juízo analítico e sintético: o primeiro é o juízo que apenas explana um conceito sem lhe acrescentar qualquer elemento novo, já o sintético acrescenta alguma coisa ao conceito de sujeito. Todo juízo de experiência, a posteriori, é sintético e o a priori é analítico.

Distingue ainda Kant as formas (subjetivas) da matéria do conhecimento: as formas que tornam possível as percepções dos sentidos são as formas da intuição; as que tornam possível as operações lógicas, os juízos são as formas do intelecto. “As formas que tornam possível a intuição sensível são o espaço e o tempo, que não são objetos existentes fora de nós, mas apenas condições do pensamento”. O espaço e o tempo não decorrem da experiência, mas são pressupostos dessa.

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Entretanto, essas formas a priori da intuição sensível não nos dão a conhecer o mundo. Todo conhecimento das coisas proveniente só do entendimento puro ou da razão pura não passa de erro, ilusão, posto só haver verdade na experiência. Kant entende que o conhecimento vem da experiência, mas ela por si só não nos dá a conhecer, deve-se somar à experiência a razão. A metafísica, no sentido de ciência das coisas em si, é impossível, não lhe podendo ser atribuído um papel constitutivo, mas apenas um papel regulador. “A função da razão é, justamente, a de obrigar o entendimento a procurar uma perfeição sempre maior dos seus conceitos”. Para além da experiência, nada podemos conhecer, não podemos nem afirmar a existência nem a não existência.

É Impossível negar que a metafísica é uma disposição natural da razão, porém as idéias da razão são simplesmente reguladoras e não constitutivas. As idéias da razão não nos dão a conhecer, elas apenas orientam o nosso ato de conhecer. Neste sentido, é muito importante entender o significado em Kant de “idéias da razão” ou ainda, mais precisamente, o significado do termo idéia.

4. A Idéia para Kant.

A idéia distingue-se do conceito e da intuição. A idéia é criada pela faculdade da razão; o conceito é produto da faculdade do entendimento; e a intuição é criação da sensibilidade. A idéia como elemento ambientado nas paragens da razão deve por inferência lógica observar seus limites. A idéia decorre da exigência de uma síntese total e incondicionada, que só pode ser conseguida pela razão, já que as sínteses do entendimento são parciais. A razão exige a totalidade dos condicionados ou um membro incondicionado. A razão por sua própria natureza aspira, portanto, ao incondicionado.

Ao aspirar um uso constritivo, isto é, quando a razão ultrapassa a região de toda a experiência possível para buscar um conhecimento totalmente independente da experiência, o resultado é a criação da idéia, uma realidade aparente (shein) embora se mostre a razão como coisa em si.

A idéia representa na filosofia kantiana o ponto de passagem da filosofia teórica para a prática, é portanto “produto” da razão, que se manifesta como teórica ou prática. Demonstrado através da dialética da razão pura a impossibilidade dela alcançar um conhecimento por puras idéias, o caminho certo da razão surge na esfera do agir, quando a razão opera um retorno em si mesma e não mais como intelecto que se volta para o sensível para conhecer, mas como vontade – razão prática – que se desdobra sobre si mesma para agir. Se a Crítica conclui que a razão especulativa nada pode afirmar, com certeza, no concernente a metafísica, ela o faz para deixar campo livre à razão prática.

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Ao passo que é impossível o conhecimento teorético absoluto, em contrapartida, no campo da prática, o ser subjetivo já se encontra em melhores condições e tem aí uma certeza absoluta que o conhecimento teórico não lhe poderia dar. No mundo prático somos como que iluminados; temos a consciência de um dado a priori (...) que nos ensina imperiosamente o que devemos e o que não devemos fazer. Este princípio é a lei do dever.

Ao perceber, a razão, que ela mesma é o seu objeto e o seu único e definitivo interesse, já que na ordem prática a razão recobra o seu mais alto valor. A razão prática é a que não se preocupa em simplesmente traduzir as leis, segundo as quais os fenômenos da natureza se comportam, mas em representar as leis, segundo as quais um ser racional dotado de liberdade deve agir. Vale dizer, a razão prática é faculdade que temos de agir por princípios ou máximas, as quais somente tornam possível uma ação entendida como acontecimento que tem origem na vontade.

Dizer que o homem tem vontade é dizer que ele pode representar uma lei e agir de acordo com ela. “Porque a razão teórica é também prática, 'na medida em que é razão' a idéia é, no plano teórico, a mesma que no plano prático”. Essa faculdade de determinar-se na ação segundo a representação de certas leis, ou seja, segundo máximas é a que Kant chama de razão prática ou vontade. A idéia de uma razão prática, o refletir sobre uma razão que age, tem seu compromisso inquebrantável com a idéia de liberdade.

Uma vez estabelecido o que Kant entende por idéia – uma exigência de uma síntese total e incondicionada decorrente da razão – podemos estudar os elementos centrais da idéia de Direito, a saber: liberdade e justiça.

5. Liberdade e igualdade: elementos do Justo

Kant acredita que tudo que esta ligado a natureza é determinado. A razão é justamente o elemento libertador do homem diante deste mundo limitador e aprisionador. A razão estabelece a liberdade humana, dado que nada a não ser o próprio homem é seu limite. O homem deve ser respeitado em sua liberdade, sendo a liberdade o valor supremo que coloca o homem acima do mundo fenomênico. Se o homem fosse apenas fenômeno, seria determinado como tudo quanto à natureza pertence. A liberdade não é anterior ao dever, é na verdade consequência deste, pois não é a lei moral que induz um certo jeito de atuar livremente, mas só por nos julgarmos livres podemos cumprir o dever. A liberdade é a expressão da identidade entre o pensamento e a vontade, sendo o conteúdo do ideal de justiça kantiano.

Indissoluvelmente ligadas à idéia de justiça estão a idéia de liberdade e de igualdade. O exercício da liberdade de cada um deve se compatibilizar com a liberdade de todos os demais, segundo um princípio de igualdade. Esse princípio se impõe tanto como direito de liberdade inato e igual para todo ser racional, bem como limitação igual para todos

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no sentido de possibilitar a sociedade civil ou a vida em comum de seres que são fins em si mesmos.

Importante, aqui, estabelecermos a relação existente entre justiça e liberdade. Justo é para Kant tudo o que promove a liberdade, o governo de si mesmo para si mesmo e injusto é o que impede a liberdade de se realizar segundo leis universais.

A liberdade, no sistema filosófico kantiano, é o único direito inato, natural. Entretanto, em Kant, esse direito natural não é um conjunto de princípios acima do direito positivo, mas princípios a priori da razão, que justifica a existência do direito positivo. Kant é jusnaturalista somente no sentido de que o direito positivo, para ele, não encontra seu fundamento de validade último em si mesmo ou no arbítrio do legislador, mas na razão.

Direito e Justiça não são termos que possam ser pensados separadamente, pois o Direito deve trazer em si o conceito de liberdade e de igualdade, que são elementos constitutivos da idéia de Justiça. Assim “a idéia de justiça aparece como critério de aferição de validade de toda legislação jurídica”. O Direito para Kant “é o conjunto das condições segundo as quais o arbítrio de cada um pode coexistir com o arbítrio dos restantes, de harmonia com uma lei universal de liberdade”. O que se põe aqui, então, não é a limitação da liberdade de um pela liberdade do outro, mas segundo Joaquim Carlos Salgado:

de limitação do arbítrio de cada um segundo uma lei universal da liberdade, que tem procedência na razão, de modo a compatibilizar esses arbítrios e fazer resplender a liberdade. (...) O direito procura realizar a liberdade na plenitude, na medida em que torna possível seu exercício externo, limitando o arbítrio dos indivíduos de forma igual, no sentido de tornar possível o pleno exercício, em sociedade, do maior dos bens do homem: a liberdade (p. 273).

Destarte, é notório que a liberdade ocupa um ponto central na filosofia kantiana, sendo não só a matriz da sua razão prática, mas também o pressuposto para entendermos o seu pensamento sobre o Direito, sobre o Justo, sobre o Estado e, por fim como a frente se verá, sobre a coação.

6. Liberdade: fundamento e fim do Estado.

Por fim há que se falar do Estado em Kant. A liberdade é o fundamento e o próprio fim supremo do Estado. Assim, por consequência, o fundamento do Estado é, também, a Justiça. Tem este Estado o objetivo de estabelecer e manter a ordem jurídica. Para Márcio Augusto de Vasconcelos Diniz “o bem público supremo, que constitui a finalidade do Estado, enquanto Estado de Direito, consiste na garantia da liberdade de todos segundo leis jurídicas universais. Quanto mais esse objetivo for promovido e

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alcançado, mais racionais serão o Direito e o Estado”. Assim, essa ordem será mais completa e adequada quanto mais larga for a liberdade de iniciativa permitida ao indivíduo num círculo de ampla segurança jurídica.

Kant era contratualista e sofreu forte influência rouseauniana, em verdade, cabe a Kant o mérito de sistematizar e desenvolver o contratualismo de Rousseau. Para Kant os homens nunca se uniram por contrato e a sociedade é independente das deliberações humanas. “O contrato social de Kant, ao contrário do de Hobbes e Rousseau, não refere fato histórico, mas exprime tão-somente uma idéia racional”. O contrato social é uma idéia da razão e é a explicação essencial do Estado. Sobre isso firma muito precisamente Joaquim Carlos Salgado:

A liberdade é o α e o ω da filosofia do direito de kant; o contrato social é obra da vontade dos homens e tem uma finalidade: criar a ordem jurídica. A ordem jurídica, por sua vez, como fruto da vontade dos homens, tem uma finalidade: cuidar da sua liberdade. O contrato nasce da liberdade para a liberdade. Disso resulta a importante consequência: o direito não existe para si, mas para a liberdade. Superar a “liberdade selvagem” - “o que não é renunciar a liberdade inata externa” - por uma liberdade dependente da lei que decorre da própria vontade de quem a ela se submete é constituir um Estado, cuja finalidade é guardar o direito.

Como contratualista Kant entende que o Direito no estado de natureza é um direito provisório, pois nesse estado ninguém comete injustiça um com o outro, mas tão só se defende cada um do outro pela força em um verdadeiro estado de necessidade. Na sociedade civil, a igualdade não significa a igualdade de direitos, que continuam desiguais tanto com relação as coisas, como com relação as pessoas (patrão-empregado). Nela consiste a igualdade segundo o Direito, no sentido de que uma norma jurídica seja válida para todos, porque posta para todos, em suma: uma igualdade formal. A fraqueza do estado de natureza está em que a liberdade, assim como todo direito, é apenas provisória, daí se exigir uma nova situação para a sociedade, mais estável, cuja porta de entrada é o pacto social livre.

O Estado não foi, mas deve ser constituído em harmonia com a idéia do contrato social, sendo este seu fundamento jurídico. O Estado deve proteger o indivíduo contra a violência interna e externa, assegurando-lhe liberdade num círculo de ampla segurança jurídica, devendo se organizar baseado no reconhecimento dos direitos da pessoa como síntese da liberdade humana, sendo, portanto, um Estado liberal. A finalidade do Estado “é tão só a tutela do direito. O Estado deverá assegurar aos cidadãos o gozo dos seus direitos, mas não deve ingerir-se nas atividades nem cuidar dos interesses individuais”.

Quanto a forma de governo Kant defende a República e também aceita a doutrina dos filósofos constitucionalistas (Locke, Montesquieu e Rousseau) sobre a divisão dos poderes. O Poder Legislativo não deverá se confundir com o Poder Executivo. O poder Executivo submete-se às suas leis, como, de resto, o Judiciário. Somente o Poder Legislativo que pertence ao povo é soberano, porque soberana é a vontade geral e isto é decisivo na caracterização da república. Destarte, o Poder Legislativo compete ao povo

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e é por ele que se forma um Estado Republicano. Só com esses pressupostos a constituição é legítima. Estado Republicano é aquele em que o poder soberano, o que tem o poder de criar as leis, é exercido pelo povo através de representação, observada a divisão dos poderes. A República é a forma de governo que realiza o “estado na idéia”, ou seja, um grupo de seres humanos unidos por leis do direito, cuja origem é a vontade geral, constituída como poder legiferante, que é o soberano ou o povo.

Entretanto, transparece em sua doutrina um certo autoritarismo percebido por Bobbio e relembrado por Souza Filho, pois Kant não admite qualquer direito de resistência do povo frente ao Poder Legislativo, sendo o maior e o mais execrável delito que pode ser realizado em um Estado, destruindo seus fundamentos. Contra o supremo legislador do Estado não pode existir nenhuma aquisição legítima por parte do povo.

Devemos abrir aqui um breve parenteses para falar um pouco sobre a teoria filosófica da força e sua relação com o Direito. Para esta teoria “a vida social tem necessariamente de ser disciplinada duma maneira uniforme por uma força que se ache acima dos indivíduos. (...) O Direito não obriga só porque consegue impor-se eficazmente, o consegue porque garante a segurança e a ordem”. Se a justiça é a primeira preocupação do Direito, a segunda é a ordem, a segurança. Essa teoria esta muito presente, nesse particular, no pensamento do filósofo de Koenisberg, pois Kant nega a possibilidade do direito de resistência a um estado despótico, pois este eticamente é algo mais do que o estado de guerra de natureza. Joaquim Carlos Salgado afirma que:

Opor-se a situação constitucional, qualquer que seja, é agir contra o dever fundamental decorrente do imperativo categórico, que impõe o dever de passagem do estado de natureza para o da sociedade civil. Admitir a revolução, como forma de resistência ao poder despótico, é sancionar o estado de guerra negado pelo dever de constituir a sociedade civil dos indivíduos e a paz perpétua entre os povos. (...) o direito de resistência os de revolução é a destruição do estado como tal e por isso do mínimo de eticidade necessária para a caminhada na direção do Estado republicano ou estado regido por uma constituição parlamentar.

Se se trata de uma constituição em que o poder Legislativo está separado do Executivo a resistência ao arbitrário uso do poder pelo poder Executivo pode ser realizado pelo povo. Se, entretanto, o executivo concentra também em suas mãos o poder legislativo então representa ele o poder soberano, não podendo ser abalado. Certo, então, é que o poder soberano, o legislativo, não pode ser atacado pela revolução. O povo conserva tão só o direito de resistência que se resume no direito de opor-se pela manifestação livre do pensamento. A injustiça do usurpador não dá ao povo qualquer direito coativo contra ele, entendendo Kant que um poder plebeu sem direito é pior que o direito injusto, pois este ao menos ainda é um direito e conserva o germe do progresso para o direito justo. O único caminho, por ele aceito, de mudança é a reforma.

Entendido o que é Justiça e porque a liberdade é o fim e o objetivo do Estado para Kant, resta apenas situar como a coação pode servir de instrumento para a efetivação da liberdade e é, por fim, isso o que se passa a fazer.

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7. A coação como instrumento de efetivação do justo.

Como já foi dito, o Justo para Kant é tudo o que promove a liberdade, o governo de si mesmo para si mesmo, e injusto é o que impede a liberdade de se realizar segundo leis universais. Também já foi dito que o Estado tem o objetivo de estabelecer e manter a ordem jurídica, garantindo a liberdade de todos segundo leis jurídicas universais. É o Estado, então, que deve assegurar as liberdades dos indivíduos se abstendo da esfera das liberdades políticas e civis, mas deve intervir para coibir os abusos dessa mesma liberdade por meio da coação.

A compatibilização das liberdades destes seres – humanos – que estão sujeitos às influências da sua natureza, ou do sensível se falarmos numa linguagem kantiana, dentro de uma sociedade que se propõe harmônica, só é possível se seus comportamentos, seus arbítrios, forem limitados. A prevalência de uma vontade suprema em detrimento das demais não é justa, devendo este arbítrio ser limitado pela coação. Arnaldo Vasconcelos a esse respeito diz que “a revolução de Kant, neste particular, reside em que, até o advento de sua teoria, a coação era exterior ao Direito, estava fora dele, sendo puro elemento da atividade estatal; Kant conduz a coação para dentro do Direito, aí lhe preservando lugar intra-sistemático. Passa a constituir-lhe nota essencial, necessária, e não acidental, prescindível. Torna-se a coação critério do jurídico”.

É muito interessante a relação estabelecida por Kant entre justiça e coação. Tudo que constitui um obstáculo a liberdade é injusto e o afastamento desse obstáculo é pela mesma forma justo. Justiça é o andar livre e seguro da liberdade, sem obstáculos. A coação que alguém exerce contra a ação justa de um outro é um obstáculo a liberdade. Assim, o obstáculo ao obstáculo à liberdade, exatamente porque restaura o bem maior do homem - a liberdade - é critério definidor do justo.

A coação que é um “salvo conduto” para a liberdade vai necessariamente andar de mãos dadas com a igualdade, pois a justiça aparece como distribuição dessa limitação da coação igualitariamente e desta forma assegura uma liberdade igual. A coação só vai atingir seu fim se limitar os obstáculos à liberdade de todos, se limitar só de alguns vai estar diferenciando e destarte não estará sendo justa. Então para a coação ser justa terá que atingir todos na mesma proporção, será igual para todos, posto que todos devem ser iguais em liberdade. Para Joaquim Carlos Salgado “ao dizer que faculdade de coagir está ligada ao Direito, Kant não tira o Direito do mundo ético, mas nele insere a coação”.

Deve-se deixar bem claro, entretanto, que a coação é apenas um instrumento da liberdade, auxiliando a liberdade. No máximo, a coação é a condição de existência do Direito e não de sua essência. Dá ela eficácia ao direito e não validade, que é buscada na sua última instância: a justiça como ideal de realização igual da liberdade. A efetividade do Direito dada pela coação tem seu fundamento no poder, enquanto força a serviço da razão. Sem a coação a liberdade não aparece na sociedade civil. Daí Kant mais uma vez

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se utiliza da anteriormente falada teoria filosófica da força, afirmando que não pode criar o Direito quem não tem força para impô-lo.

Kant utiliza o imperativo categórico para sustentar o Direito como ordem coativa. O imperativo categórico só é possível porque o homem pertence a dois mundos (o sensível e o inteligível). Se o homem fosse apenas do mundo inteligível não haveria o que ordenar. E se fosse apenas do mundo sensível não conseguiria optar, pois faltaria-lhe a liberdade, seguindo apenas seus instintos da natureza. Pertence o Homem concomitantemente a esses dois mundos nem sempre harmônicos. O mundo sensível lhe impõe condutas, inclinações e instintos que o homem entra em contato, tendo, no transcorrer de sua vida, que dar significado. É por isso que há o imperativo categórico. Esses obstáculos do mundo sensível para uma ação livre do homem (puramente racional) não podem para Kant ficar ao desígnio apenas de quem a eles está sob influência, surgindo aí a sanção – elemento do mundo sensível que atua no sensível do homem. A coação só surge quando surge um outro e este tem sua liberdade limitada.

Finalizando a coação kantiana, urge que se diga que existem duas exceções, segundo Noberto Bobbio, ao princípio que liga o Direito a coação: no primeiro caso temos um direito sem coação (e é este o caso do direito fundado na equidade), “no segundo caso temos uma coação sem direito (e é este o caso de quem comete um delito agindo em estado de necessidade)”.

8. Considerações finais.

O pensamento filosófico de Kant rompeu com as tradicionais estruturas do pensamento ocidental, trazendo para o centro da discussão a razão. Kant nega, de certa forma, a história do pensamento grego neste ponto e secciona os limites da metafísica, afirmando que, até então, os metafísicos estavam tateando enquanto as demais ciências caminham com passos seguros – referência a física e a matemática. Com a crítica da razão pura Kant estabelece os limites da razão e lhe propõe seu correto lugar – como instrumento regulador.

O pensamento kantiano tem como linha mestra a liberdade. A liberdade para Kant decorre da razão e é esta que afasta o determinismo da natureza, possibilitando ao homem o arbítrio – o livre arbítrio. A liberdade é o fim e o fundamento do Direito e do Estado. O Estado assegura as liberdades dos particulares por meio do ordenamento jurídico. O Direito há que ser justo. A Justiça é apoiada na liberdade e por consequência na igualdade, pois os homens tem que ser igualmente livres.

Aqui, encontramos a razão e a importância da coação na Filosofia do Direito de Kant. Se o Direito há de ser justo e o Justo é não opor obstáculos a liberdade, então a coação aparece como o instrumento que retira os obstáculos a liberdade. É a coação então que efetiva a liberdade, auxiliando e instrumentalizando a Justiça.

Kant é responsável por ter trazido a coação para dentro do Direito e influenciado várias gerações de pensadores posteriores a ele. É o exemplo de Rudolf von Ihering. Ihering

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influenciado por Kant entende o Direito como essencialmente coativo, criando a imagem que Direito sem coação é fogo que não queima, chama que não alumia. Kelsen foi outro que sob influência das idéias kantianas trouxe a coação para o Direito, entretanto este teve o cuidado de colocá-la como consequência do ato violado e desta forma fora do Direito. Para o austríaco a coação incide sobre a conduta que é contrária ao Direito, a conduta proibida.

Sobre a doutrina da coação, de certo que, o pensamento kantiano sofre inúmeras críticas que afirmam, por exemplo, que Kant não soube solucionar a contradição existente entre liberdade e coação, não soube explicar o que resulta da liberdade no momento do uso da coação, posto que a coação (da força ou da necessidade) afasta a liberdade conforme Hanna Arendt. Contudo, mesmo assim não resta qualquer dúvidas de sua importantíssima e “essencial” – se ele assim nos permitisse – contribuição para o desenvolvimento filosófico como um todo é especificamente para a Filosofia do Direito.

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O termo conceito esta escrito entre aspas porque em Kant conceito distingue-se de idéia e de intuição. A idéia é criada pela faculdade da razão; o conceito é produto da faculdade do entendimento; e a intuição é criação da sensibilidade. Como Justiça não decorre do entendimento, mas da razão mais técnico seria falar de idéia e não de conceito. A escolha da utilização do termo conceito foi com o fim de facilitar o acesso ao tema. No decorrer do trabalho, essa distinção é feita de forma mais clara e precisa.

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SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de Justiça em Kant: seu fundamento na liberdade e na igualdade. 2ª ed. Belo Horizonte: UFMG, 1995, p. 134.

Autonomia em Kant é a identificação da liberdade com a lei.

Arnaldo Vasconcelos afirma que “se não se compartir a liberdade, não haverá exercício possível da liberdade. Esta só existe com a condição de ser limitada para cada um, em proveito de todos. A liberdade absoluta é também a absoluta impossibilidade de seu exercício. Donde resulta que, sendo a liberdade um termo relacional, ninguém pode ser livre sozinho. O tirano, o monarca absoluto, o ditador, nenhum destes é livre, cada um sendo escravo a seu modo. Eles sabem, e se não sabem por saber intelectual, com certeza sentem, que subjugar os outros não envolvem o uso da liberdade, mas desprezo e temor da convivência entre iguais” in VASCONCELOS, Arnaldo. Direito e força: uma visão pluridimensional da coação jurídica. São Paulo: Dialética, 2001. p. 54.

Kant designa sua moral de imperativo categórico, formulando-a assim: “atua de tal modo que a máxima de teus atos possa valer como princípio de uma legislação universal” in DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de Filosofia do Direito. 5.ª ed. port. Coimbra: Arménio Amado, 1979, p. 133.

SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de Justiça em Kant: seu fundamento na liberdade e na igualdade. 2ª ed. Belo Horizonte: UFMG, 1995, p. 272.

DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de Filosofia do Direito. 5.ª ed. port. Coimbra: Arménio Amado, 1979, p. 137.

SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de Justiça em Kant: seu fundamento na liberdade e na igualdade. 2ª ed. Belo Horizonte: UFMG, 1995, p. 273.

Karl Doehring fala de um modelo de Estado que muito faz lembrar o Estado kantiano, é o “Estado como pura comunidade ou comunhão de risco”. Esse Estado estaria altura de sua função e esta seria a de conceder aos cidadãos a liberdade de se servirem de todos os outros valores em suas vidas, a fim de concretizarem o sentido de Estado. Aqui o estado deve exigir sacrifícios em termos de liberdade para manter-se aberto a todos os objetivos. Sua função seria tornar os objetivos possíveis de serem concretizados e sem ele, o Estado, nenhum, somente aquele determinado pelo mais forte, poderia ser alcançado. Assim sendo, seria o Estado que não se identifica com um determinado objetivo, garantidor da liberdade de todos, somente isso seria o seu fim precípuo in DOEHRING, Karl. Teoria do Estado. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.

DINIZ, Márcio Augusto de Vasconcelos. Constituição e hermenêutica constitucional. 2ª edição. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 75.

“É a liberdade (mais precisamente a liberdade externa, como ausência de impedimento) o valor que, segundo a concepção liberal teorizada por Kant, o Estado deve garantir através do ordenamento jurídico” in BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 140.

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BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 137.

SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de Justiça em Kant: seu fundamento na liberdade e na igualdade. 2ª ed. Belo Horizonte: UFMG, 1995, p. 286.

DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de Filosofia do Direito. 5.ª ed. port. Coimbra: Arménio Amado, 1979, p. 139.

A preocupação de Kant não é com relação ao equilíbrio, harmonia, constitucional dos poderes - o que notamos em por exemplo Montesquieu -, mas precisamente com o que o poder soberano (o poder de legislar) promane da vontade geral com um poder que pertence ao povo e deve ser por ele exercido representativamente.

SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de Justiça em Kant: seu fundamento na liberdade e na igualdade. 2ª ed. Belo Horizonte: UFMG, 1995, p. 315.

SOUZA FILHO, Oscar d'Alva e. A ideologia do direito natural: (crítica histórica dos fundamentos lógicos e axiológicos da filosofia do direito natural, da Grécia clássica à época contemporânea, na perspectiva demostrativa de seu caráter ideológico de justificação do direito positivo ocidental). Fortaleza: ABC Editora, 2002, p. 170.

RADBRUCH, Gustav. Filosofia do Direito. 5ª edição. Coimbra: Arménio Amado, 1974, p. 178 - 180.

SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de Justiça em Kant: seu fundamento na liberdade e na igualdade. 2ª ed. Belo Horizonte: UFMG, 1995, p. 299.

Gustav Radbruch neste sentido afirma: “(...) a segurança fornecida pelo direito positivo já só por si justifica a obrigatoriedade de qualquer direito, mesmo se injusto e mal adaptado a um fim in RADBRUCH, Gustav. Filosofia do Direito. 5ª edição. Coimbra: Arménio Amado, 1974, p. 181).

No mesmo sentido se posiciona Ihering afirmando que Direito sem coação é fogo que não queima, chama que não alumia in VASCONCELOS, Arnaldo. Teoria geral do Direito. Vol. 1: Teoria da norma jurídica. 4ª edição. São Paulo: Malheiros, 1993, p.

VASCONCELOS, Arnaldo. Teoria geral do Direito. Vol. 1: Teoria da norma jurídica. 4ª edição. São Paulo: Malheiros, 1993, p. 71 e 72.

Del Vecchio firma a relação entre Direito e coercibilidade tendo estabelecido que o Direito se ocupa apenas do mundo físico, ou seja, do efeito extrínseco do operar, Kant afirma que o Direito, ao contrário da Moral, é essencialmente coercível, já que sobre as intenções não pode exercer-se violência, e a consciência é algo de inacessível. Livre, é, por natureza, o pensar, enquanto que direito e possibilidade de coagir são uma e a mesma coisa in DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de Filosofia do Direito. 5.ª ed. port. Coimbra: Arménio Amado, 1979, p. 137.

Segundo Noberto Bobbio, “a coação é uma não-liberdade (devida ao Estado), que repele a minha não liberdade. Esta é portanto uma negação da negação e, em consequência, uma afirmação (e precisamente é a reafirmação da liberdade do terceiro lesada pelo

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ilícito) in O positivismo jurídico: Lições de filosofia do Direito. São Paulo: Ícone, 2006, p. 152.

Arnaldo Vasconcelos afirma que “o que Kant não pode, ou não soube, foi resolver a antinomia entre liberdade e coação, tanto que preservou esta ao lado da liberdade, atribuindo-lhe, demais,a nota individualizadora da juridicidade. Talvez tenha pesado nisso seu desprezo para com a dialética, vista como mera lógica das aparências” in VASCONCELOS, Arnaldo. Direito e força: uma visão pluridimensional da coação jurídica. São Paulo: Dialética, 2001. p. 55.

SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de Justiça em Kant: seu fundamento na liberdade e na igualdade. 2ª ed. Belo Horizonte: UFMG, 1995, p. 275.

Arnaldo Vasconcelos entende de forma diferente de Joaquim Carlos Salgado, pois afirma que para Kant a coação é da essência do Direito, daí ele afirmar que “a explicação do que seja 'força do direito' contém, pelo menos, uma verdade, e é esta: a ocorrência da coerção só se dá de modo acidental, e não necessário, como deveria acontecer na posição kantiana” in VASCONCELOS, Arnaldo. Direito e força: uma visão pluridimensional da coação jurídica. São Paulo: Dialética, 2001. p. 73

BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: Lições de filosofia do Direito. São Paulo: Ícone, 2006, p. 152.

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